Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
15<br />
FOTO RAFAEL WALLACE | ALERJ<br />
Mortanda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> peixes<br />
na Lagoa<br />
Rodrigo <strong>de</strong><br />
Freitas<br />
MEIO AMBIENTE<br />
Crise hídrica,<br />
o fruto do <strong>de</strong>scaso<br />
Os cortes bilionários no saneamento básico criam um drama contínuo<br />
POR JOÃO BENZ<br />
O ESTADO DO RIO DE JANEIRO sofre com um<br />
problema estrutural <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> água. Des<strong>de</strong><br />
1997, passou por quatro crises hídricas e a<br />
ausência <strong>de</strong> investimento em saneamento<br />
básico é consi<strong>de</strong>rada por especialistas a<br />
principal causa.<br />
No ano passado, o Movimento Baía Viva,<br />
em parceria com pesquisadores <strong>de</strong> diferentes<br />
universida<strong>de</strong>s públicas, monitorou a situação<br />
dos principais mananciais do Rio e constatou<br />
que o estado tem uma gran<strong>de</strong> insegurança<br />
hídrica. Em 1997 e em 2001, as crises <strong>de</strong> água<br />
foram causadas pela presença <strong>de</strong> cianobactérias<br />
em uma estação e um reservatório. Em<br />
2015, o tempo seco no su<strong>de</strong>ste, que em São<br />
Paulo levou o Sistema Cantareira ao volume<br />
morto, foi visto como motor da terceira crise.<br />
A geosmina, composto orgânico que em<br />
grego significa “perfume <strong>de</strong> terra”, já foi i<strong>de</strong>ntificada<br />
por técnicos da Cedae em 2004. Na<br />
época, avaliaram que não apresentava perigo<br />
e, portanto, não seria necessário adotar<br />
medidas para contê-la. Agora, a companhia<br />
busca diminuir a presença do composto com<br />
a aplicação <strong>de</strong> carvão ativado pulverizado.<br />
“Ao contrário do que dizem as<br />
autorida<strong>de</strong>s estaduais, não estamos diante<br />
<strong>de</strong> uma situação normal, nem trata-se <strong>de</strong> um<br />
inci<strong>de</strong>nte, mas sim <strong>de</strong> um problema estrutural.<br />
A principal causa das crises é a ausência <strong>de</strong><br />
investimento e <strong>de</strong> saneamento básico”,<br />
argumenta o fundador do Movimento<br />
Baía Viva, Sérgio Ricardo. O estudo “Crise<br />
das Águas do Rio <strong>de</strong> Janeiro”, feito pela<br />
organização e por pesquisadores <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s<br />
públicas e privadas, <strong>de</strong>monstra<br />
que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003, R$ 11 bilhões <strong>de</strong>stinados<br />
ao saneamento e proteção dos mananciais<br />
não foram investidos. Para piorar, no dia 19<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro o governador Wilson Witzel<br />
promulgou uma emenda constitucional<br />
que <strong>de</strong>ve retirar este ano mais <strong>de</strong> R$ 370<br />
milhões do investimento em saneamento<br />
básico e segurança hídrica.<br />
Para Sérgio Ricardo, o pior <strong>de</strong>sastre<br />
hídrico do estado po<strong>de</strong> acontecer em<br />
breve em Volta Redonda. Lá passa o Rio<br />
Paraíba do Sul, que abastece 75% da<br />
região metropolitana (9,75 milhões <strong>de</strong><br />
pessoas), e a cerca <strong>de</strong> 200 metros do leito<br />
há uma montanha <strong>de</strong> escória <strong>de</strong> aciaria,<br />
um subproduto da produção <strong>de</strong> aço.<br />
“Essa montanha tem mais <strong>de</strong> 30 metros<br />
<strong>de</strong> altura e 4 milhões <strong>de</strong> toneladas em<br />
uma área <strong>de</strong> 200 mil m 2 e, diariamente,<br />
a Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica Nacional (CSN)<br />
continua <strong>de</strong>spejando mais resíduos. No<br />
caso <strong>de</strong> uma tromba d'água forte, como<br />
ocorreu em Minas ou em São Paulo, o<br />
<strong>de</strong>smoronamento <strong>de</strong>ssa pilha <strong>de</strong> rejeitos<br />
industriais po<strong>de</strong> afetar diretamente o<br />
abastecimento da região metropolitana.”<br />
Procurada pela reportagem, a CSN<br />
informou que um laudo geológico atestou<br />
a estabilida<strong>de</strong> das pilhas <strong>de</strong> materiais<br />
e comentou que, segundo critérios<br />
da Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas<br />
Técnicas, esses resíduos não representam<br />
risco à saú<strong>de</strong> e ao meio ambiente.<br />
Ano passado, a Justiça Fe<strong>de</strong>ral<br />
aplicou multa <strong>de</strong> R$ 10 milhões à CSN e<br />
a empresa Harsco por <strong>de</strong>scumprirem a<br />
<strong>de</strong>cisão liminar para a redução do resíduo<br />
acumulado.