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PRA VOCÊ
menos impactos no comércio internacional, ao
mesmo tempo em que incentivaria setores, como o
tecnológico, o biomédico, o farmacêutico, o energético
e, claro, o agronegócio – até agora o menos impactado
pela crise no Brasil.
“Essa pandemia está servindo para todos os
povos perceberem que individualmente não há
sustentabilidade em termos sociais. Por quê? Percebese,
primeiro no âmbito interno dos países, que há
disparidade significativa dentro de suas sociedades
e, segundo, em relação a determinados países frente
aos demais. É uma situação desgastante, conflituosa
e aquela competição que não haveria no ambiente
do primeiro cenário, passa a ser de desigualdade
e pobreza, que vão se acentuando, agravando o
distanciamento econômico e social”, diz.
“Para superar a crise que caracteriza as economias
e muitas sociedades, o novo normal exige que seja
feito um plano intenso de investimento, em que os
países que negavam a importância do Estado devem
voltar atrás, porque é o Estado que vai ter condições
de realizar investimentos efetivos, principalmente
em infraestrutura – saneamento básico, mobilidade,
escoamento de safra, atuação na taxa de juros,
negociações nas diferentes arenas, etc. São
investimentos que não se fazem no curto prazo, nem
tampouco começam a gerar resultados imediatos,
mas é uma luz ao final do túnel. É, sem dúvida, uma
longa curva de expectativas”, afirma Rosalinda,
destacando que tais observações são pertinentes a
todos os países, em especial ao Brasil.
A terceira possibilidade tem como ponto principal
a reeleição do presidente norte-americano Donald
Trump, determinando o enfrentamento entre os
Estados Unidos e a China, criando dificuldades junto
à União Europeia e com uma postura de indiferença
em relação à África e à América Latina. Entre os
países europeus, independente do cenário que se
instale, deve haver uma convergência prioritária
para a economia interna daquelas nações.
“Nesse caso, teríamos os países olhando apenas para
si. Haveria um desconcerto no âmbito internacional
em que não haveria possibilidade alguma de um
processo de cooperação entre os países”, afirma
Rosalinda. “As economias vão se revestir de um
protecionismo tão intenso que, na verdade, tudo o que
se conquistou até agora, em termos de globalização
e de universalização, portas abertas para exportação
e importação, passarão a ser restritos”, completa.
No Brasil, a condução restritiva da economia junto às
inseguranças desestabilizadoras na gestão do país,
devem fazer com que as desigualdades se agravem
e as questões sociais aumentem os traumas que já
se encontram descortinados. Recuperação lenta
da economia e das relações externas, acrescidas
de elevado custo social, são as vertentes que se
delineiam nesse cenário.
Rosalinda Chedian Pimentel, economista
E, se a recuperação depende de vontade política, a
economista destaca a importância do que chama
de “revalorização do papel do Estado”. Isso significa
resgatar a importância do Estado como impulsionador
dos investimentos, mas com relativa conotação
privatista, ou seja, de participação público-privada,
em que o governo lidera, mas o setor privado também
é copartícipe, não apenas usufrutuário.
Rosalinda já atuou na área de planejamento e na
assessoria da diretoria da Petrobras e, atualmente, é
professora universitária. Sua extensa carreira como
educadora e pesquisadora lhe permitem afirmar
que a crise atual só pode ser comparada, em termos
de prejuízos, à quebra da Bolsa de Valores de Nova
Iorque, em 1929, e à Segunda Guerra Mundial, entre
1939 e 1945. Dessa forma, as medidas adotadas
pelos governos para superar as graves dificuldades
nesses dois períodos da história mundial podem
fundamentar as ações que devem ser tomadas agora,
com destaque para a solidariedade e a cooperação.
Edição 37 – JULHO/2020 23