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RESPONSABILIDADE SOCIAL
penas para repensar ações e políticas públicas no
sentido de interromper problemas que vêm afetando
determinadas regiões do país sistematicamente.
“São lições que a gente poderia ter aprendido já há
um bom tempo em relação à necessidade de um bom
sistema de saneamento, informação às populações,
educação ambiental para mostrar o impacto que
podem ter determinadas ações à nossa própria
saúde. Mas, infelizmente, isso não tem acontecido.
Acredito que em relação às ações ambientais, à nossa
interação com o meio ambiente, essa pandemia não
vai deixar nenhuma lição, embora seja evidente”, diz.
Professor de universidades em Portugal, Argentina,
Chile e México, e coordenador da Rede Internacional
de Estudos Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade
(Rimas), que agrega pesquisadores de 23 universidades
em oito países, Cortez afirma que é preciso planejamento
estrutural para reduzir a incidência das doenças
zoonóticas, alertando que não está descartada
uma nova epidemia de Covid-19 nos próximos anos, já
que o vírus pode sofrer mutações.
Pedro Luis Cortez, chefe do departamento de
Informação e Cultura da ECA/USP
Os exemplos deixam claro que o hábito de domesticar e
de se alimentar de animais silvestres é apenas o reflexo
do principal motivo do surgimento e propagação das
zoonoses: a intervenção humana no meio ambiente.
Mas, afinal, como aliar o desenvolvimento econômico
com a preservação ambiental? Como deve ser pautada
a relação entre homem e natureza, após a traumática
experiência da pandemia do novo coronavírus?
Essas parecem ser, ou pelo menos deveriam ser, perguntas-chaves
para a humanidade a partir de agora.
Porém, a discussão restrita ao combate da pandemia
e sobre os conflitos decorrentes da polarização política
sobre o tema ocupam o noticiário todos os dias.
Enquanto isso, centenas de pessoas seguem morrendo
não só de Covid-19, mas de outras doenças zoonóticas
que até chegaram a ser extintas há algumas décadas,
como Dengue e Febre Amarela.
Chefe do departamento de Informação e Cultura da
Escola de Comunicações e Artes (ECA) e professor
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação da Universidade de São Paulo (USP),
Pedro Luis Cortez afirma que os governantes
deveriam aproveitar as lições aprendidas a duras
“
Não é uma questão de partido político ou
bandeira ideológica. O mosquito da Dengue e da
Febre Amarela não tem bandeira do partido A, B
ou C. Ele não tem ideologia X, Y ou Z. Mas, ele vem
se manifestando há vários anos, independente
de quem está de plantão no partido da cidade,
do governo do estado ou do governo federal.
Então, temos um problema sistêmico que tem
colocado várias populações em risco e a gente
não consegue atacar.
Pedro Luis Cortez, chefe do departamento
de Informação e Cultura da ECA/USP
“
Apesar de reconhecer o lobby ambiental sobre o
agronegócio, principalmente em relação ao avanço
das áreas cultiváveis e da pecuária no país, Cortez
afirma que o maior impacto das zoonoses não ocorre
na zona rural, mas em área urbana, onde há maior
densidade populacional. Nesse sentido, o crescimento
irregular das cidades sobre matas e zonas protegidas
é o principal motivo para o desequilíbrio, que ameaça
a saúde da população.
“Infelizmente, o que a gente tem visto ao longo da
história é que não há uma preocupação grande em
relação ao avanço do homem em áreas naturais.
A manutenção de reservas, de áreas protegidas,
tem uma função muito importante no sentido de
34 Edição 37 – JULHO/2020