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O anticristo

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estavam, uma vez mais, graças a um ceticismo sutil e astucioso, se não demonstráveis, pelo menos

irrefutáveis... A razão, o direito da razão, não vai tão longe... A realidade foi relegada a uma “aparência”;

um mundo absolutamente falso – o da essência – foi transformado na realidade... O sucesso de Kant foi

um sucesso meramente teológico; assim como Lutero ou Leibniz, ele não foi senão um empecilho à já

pouco estável integridade alemã. –

1 – Pecado original.

2 – Hemiplegia designa paralisia de um dos lados do corpo.

3 – A Escola de Tübingen (fundada em 1477) possui uma famosa faculdade de teologia, na qual

estudaram Hegel e Johannes Kepler. (N. do T.)

XI

Agora uma palavra contra Kant como moralista. A virtude deve ser nossa invenção; deve surgir de nossa

necessidade pessoal e em nossa defesa. Em qualquer outro caso é fonte de perigo. Tudo que não pertence

à vida representa uma ameaça a ela; uma virtude nascida simplesmente do respeito ao conceito de

“virtude”, como Kant a desejava, é perniciosa. A “virtude”, o “dever”, o “bem em si”, a bondade

fundamentada na impessoalidade ou na noção de validez universal – são todas quimeras, e nelas apenas

encontra-se a expressão da decadência, o último colapso vital, o espírito chinês de Konigsberg(1).

Exatamente o contrário é exigido pelas mais profundas leis da autopreservação e do crescimento: que

cada homem crie sua própria virtude, seu próprio imperativo categórico(2). Uma nação se reduz a ruínas

quando confunde seu dever com o conceito universal de dever. Nada conduz a um desastre mais cabal e

pungente que todo dever “impessoal”, todo sacrifício ao Moloch(3) da abstração. – E imaginar que

ninguém pensou no imperativo categórico de Kant como algo perigoso à vida!... Somente o instinto

teológico tomou-o sob sua proteção! – Uma ação suscitada pelo instinto vital prova estar correta pela

quantidade de prazer que gera: e ainda assim esse niilista, com suas vísceras de dogmatismo cristão,

considerava o prazer como uma objeção... O que destrói um homem mais rapidamente que trabalhar,

pensar e sentir sem uma necessidade interna, sem um profundo desejo pessoal, sem prazer – como um

mero autômato do dever? Essa é tanto uma receita para a décadence(4) quanto para a idiotice... Kant

tornou-se um idiota. – E ele era contemporâneo de Goethe! Este calamitoso fiandeiro de teias de aranha

foi reputado o filósofo alemão par excellence(5) – e continua a sê-lo!... Abstenho-me de dizer o que penso

dos alemães... Kant não viu na Revolução Francesa a transformação do estado da forma inorgânica para a

orgânica? Não perguntou a si mesmo se havia algum evento que não poderia ser explicado exceto através

de uma disposição moral no homem, para que, fundamentada nisso, “a tendência da humanidade ao bem”

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