O anticristo
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2 – Frase de sentido duplo: segundo a óptica de Espinoza e sob a forma de aranha. Trata-se de um jogo
de palavras baseado no próprio de Espinoza – spinne significa aranha em alemão. (Pietro Nasseti)
XVIII
A concepção cristã de Deus – Deus o como protetor dos doentes, o Deus que tece teias de aranha, o Deus
na forma de espírito – é uma das concepções mais corruptas que jamais apareceram no mundo:
provavelmente representa o nível mais ínfero da declinante evolução do tipo divino. Um Deus que se
degenerou em uma contradição da vida. Em vez de ser sua própria glória e eterna afirmação! Nele
declara-se guerra à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus transforma-se na fórmula para todas
calúnias contra o “aqui e agora” e para cada mentira sobre “além”! Nele o nada é divinizado e a vontade
do nada se faz sagrada!...
XIX
O fato de as raças fortes do Norte da Europa não terem repudiado esse Deus cristão não dá qualquer
crédito aos seus dotes religiosos – para não mencionar seus gostos. Deveriam ter sido capazes de
sobrepujar tal moribundo e decrépito produto da décadence. Uma maldição paira sobre eles porque não o
repeliram; absorveram em seus instintos a enfermidade, a senilidade e a contradição – e a partir de então
não criaram mais nenhum Deus. Dois mil anos se passaram – e nem um único Deus novo! Em vez disso,
ainda existe como que por algum direito intrínseco – como se fosse um ultimatum(1) e maximum(2) da
força criadora de divindades, do creator spiritus(3) da humanidade –, esse deplorável Deus do monótonoteísmo
cristão! Essa imagem híbrida da decadência, destilada do nada, da contradição e da imaginação
estéril, na qual todos os instintos da décadence, todas as covardias e cansaços da alma encontram sua
sanção! –
1 – Última palavra.
2 – Máximo.