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SCMedia News | Revista | Outubro 2020

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Out’ <strong>2020</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

15<br />

tbfiles :<br />

Em arquivar é que está<br />

o ganho<br />

Combater o<br />

desperdício alimentar<br />

BMW quer ser mais<br />

sustentável<br />

Estudo analisa a<br />

complexidade da<br />

supply chain<br />

Especialistas em<br />

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e impressão<br />

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Programa<br />

Alimentar Mundial<br />

“A melhor vacina<br />

contra o caos”<br />

Sociedade Central<br />

de Cervejas e Bebidas<br />

Um brinde à logística


Logística<br />

Compras<br />

Operações<br />

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estruturados e<br />

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Gerir com sucesso a sua frota<br />

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Gestão de Processos<br />

Gestão de projectos aplicada à Logística e Supply Chain<br />

Gestão de Rotas<br />

Gestão de Stocks<br />

Gestão do Armazém<br />

Gestão do Retalho<br />

Health, Risk and Safety: certificações e inspecções anuais de racking<br />

Lean Logistics<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

Logística inversa e o seu papel na economia circular<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Negociação na Logística através da liderança eficaz<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Procurement eficiente<br />

Qualidade em Supply Chain<br />

S&OP - Sales and Operations Planning<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

Sistemas de informação na Logística<br />

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Dora Assis<br />

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editorial<br />

SobreVIVER<br />

“Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira”<br />

Tolstói<br />

É estreita, muito estreita mesmo, esta<br />

estrada que trilhamos em conjunto, tentando<br />

preservar ao máximo as bases da nossa vida<br />

social e económica, ao mesmo tempo que<br />

procuramos controlar as infecções e os danos<br />

directos e indirectos desta pandemia.<br />

Ainda não estamos na fase do “Habemus<br />

Vacina”, mas o caminho para a resolução da<br />

maior crise sanitária do século XXI parece<br />

começar a ganhar agora contornos mais<br />

animadores e tudo se vai preparando no<br />

terreno para aquele que será seguramente<br />

o maior desafio logístico deste século: a<br />

distribuição da vacina a nível mundial. Embora<br />

não haja luz ao fundo do túnel, há alguns<br />

pequeninos pontos iluminados que nos vão<br />

indicando o caminho e onde a supply chain<br />

desempenha um papel fulcral.<br />

Esta pandemia é como um meteoro que<br />

caiu sobre o mundo e, como alguém já disse,<br />

continuamos todos no olho do vulcão. Tirou<br />

e continua a tirar milhares de vidas e atira a<br />

economia para uma crise que neste momento<br />

ainda ninguém consegue avaliar com precisão,<br />

pelo que os prognósticos virão apenas lá mais<br />

para o fim do jogo.<br />

Apesar de toda a imprevisibilidade, a supply<br />

chain tem-se reinventado e respondido com<br />

eficácia. Operações eficientes e eficazes<br />

requerem decisões precisas e em tempo útil.<br />

Rápidas. E haverá melhor exemplo disso<br />

do que o que nos é dado pelas operações<br />

humanitárias? Por isso o tema de capa<br />

desta edição é o World Food Programme,<br />

distinguido com o Nobel da Paz, e que<br />

desenvolve no terreno e nas condições mais<br />

adversas um trabalho notável e com uma<br />

rapidez extraordinária. Já durante a pandemia<br />

e quando quase todas as companhias aéreas<br />

comerciais estavam paradas, o WFP foi a maior<br />

companhia aérea do mundo.<br />

Mas não devemos confundir rapidez com<br />

pressa. Quem tem pressa atropela muitas<br />

vezes os factos, não ouve os outros, comete os<br />

mesmos erros repetidamente; já uma empresa<br />

rápida é aquela que sabe que a competição e<br />

a luta pela sobrevivência exigem decisões e<br />

acções, com agilidade e com a segurança de<br />

quem conhece a sua velocidade máxima e faz<br />

dela o uso adequado.<br />

Sabemos que nem todos vão resistir. Por<br />

isso o título deste editorial é sobreVIVER. Mas,<br />

contrariamente a outros momentos da história<br />

recente, desta vez não é o maior que vai<br />

engolir o mais pequeno. É, não tenha dúvidas,<br />

o mais rápido que vencerá o mais lento. E vai<br />

fazê-lo com rapidez… mas sem pressa.<br />

Já este número da Supply Chain Magazine é<br />

para ler onde quiser e à velocidade que quiser.<br />

Sendo que nunca é demais lembrar que deste<br />

lado a porta e o e-mail estão como sempre<br />

abertos às suas sugestões, opiniões e ideias,<br />

até porque, mais do que nunca, precisamos<br />

mesmo de nos ouvir uns aos outros.


4<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

#8 #24 #40<br />

índice<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

As empresas mais inovadoras<br />

de <strong>2020</strong> 6<br />

logística<br />

DHL aponta áreas que irão moldar a<br />

logística do futuro 8<br />

Em arquivar é que está o ganho 14<br />

Recuperação: a supply chain<br />

na linha da frente 24<br />

Prémio Nobel da Paz <strong>2020</strong>: “A melhor<br />

vacina contra o caos” 30<br />

Movimento quer combater<br />

desperdício alimentar 36<br />

procurement<br />

Londres partilha plataforma de<br />

aquisição de tecnologia 40<br />

BMW quer ter a cadeia de<br />

abastecimento mais sustentável 42<br />

Procura+ Awards <strong>2020</strong> 46<br />

intralogística<br />

Estudo “A complexidade da supply<br />

chain em <strong>2020</strong>” 50<br />

tecnologias<br />

O impacto do incremento do digital<br />

na logística 55


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

transportes<br />

O OE <strong>2020</strong> e o sector dos transportes 60<br />

Euroatla celebra 40.º aniversário 64<br />

carreira<br />

#64 #68<br />

Formação logística prepara os futuros<br />

profissionais 68<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Vânia Guerreiro - Produção em tempo real 76<br />

o mundo é redondo<br />

TED Ideas worth spreading 2017,<br />

“Porque não gostamos do som da nossa<br />

própria voz” 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao novo Acordo Ortográfico


6 outubro <strong>2020</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Texto: Fábio Santos<br />

TOP 50<br />

As empresas<br />

mais inovadoras<br />

de <strong>2020</strong><br />

O<br />

Boston Consulting Group (BCG) lançou o<br />

seu ranking anual “The Most Innovative<br />

Companies” de <strong>2020</strong>, e com ele revelou o<br />

seu top 50 das empresas mais inovadoras. No<br />

Top 10 deste ranking, apenas três empresas<br />

não são tecnológicas.<br />

Desde 2005 que este ranking é realizado e<br />

por ele já passaram 162 empresas, das quais<br />

30% só apareceram uma vez, e 57% surgiram<br />

três vezes ou menos. As únicas constantes<br />

foram oito: Alphabet, Amazon, Apple, Hewlett<br />

Packard, IBM, Microsoft, Samsung e Toyota.<br />

A receita de uma típica empresa pequena na<br />

lista das 50 mais inovadoras em <strong>2020</strong> é de 30<br />

mil milhões de dólares, um aumento de mais<br />

170% face aos 11 mil milhões realizados na<br />

primeira pesquisa em 2005.<br />

É de notar que quando o Boston Consulting<br />

Group iniciou a pesquisa para a edição de<br />

<strong>2020</strong> o mundo ainda não estava a enfrentar<br />

a pandemia de COVID-19, e conforme<br />

exploravam os dados e interagiam com os<br />

clientes, tornou-se claro que as principais<br />

conclusões deste ano sobre as vantagens em<br />

escala e a necessidade para a inovação em<br />

série podem ser mais relevantes hoje, pois os<br />

líderes de inovação precisam de se adaptar<br />

rapidamente aos padrões de mudança rápida<br />

de fornecimento, procura, comportamento do<br />

consumidor e formas de fazer negócios. •


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8 OUTUBRO <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: DHL<br />

Radar de Tendências<br />

Logísticas <strong>2020</strong><br />

DHL<br />

aponta<br />

áreas que<br />

irão moldar<br />

a logística<br />

do futuro<br />

A quinta edição do Radar de Tendências<br />

Logísticas, estudo realizado pela DHL com a<br />

finalidade de servir de ferramenta de previsão<br />

dinâmica e estratégica para acompanhar e<br />

identificar novas e futuras tendências, revela<br />

as principais tendências que irão afectar a<br />

indústria logística nos próximos anos.


SCM Supply Chain Magazine<br />

9


10<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

As principais conclusões apresentadas<br />

no estudo da DHL foram ao nível da<br />

aceleração e automatização causadas pela<br />

pandemia; o crescimento dinâmico da análise<br />

de dados, inteligência artificial, robótica,<br />

IoT, APIs e cloud computing que definem o<br />

“novo normal” da logística; os avanços na<br />

computação quântica, blockchain e logística<br />

espacial abrem caminhos para resolver<br />

problemas de grande escala e criar serviços;<br />

e a sustentabilidade impulsiona a inovação<br />

na embalagem, planeamento de rotas e<br />

optimização da cadeia de abastecimento e do<br />

armazém para reduzir as emissões de CO2.<br />

Katja Busch, directora comercial da DHL,<br />

comenta que “é importante para nós antecipar<br />

futuros desafios e visualizar antecipadamente<br />

possíveis soluções para melhor aconselhar<br />

os nossos clientes. As três megatendências<br />

predominantes que identificámos não são<br />

desconhecidas: novas tecnologias, crescimento<br />

exponencial do comércio electrónico e<br />

sustentabilidade. Mas algumas áreas irão<br />

evoluir mais rapidamente do que outras, pelo<br />

que há necessidade de compreender as microtendências<br />

subjacentes e o seu impacto na<br />

logística. Além do impacto da COVID-19 no<br />

comércio global e em toda a força de trabalho.<br />

Como líder global em logística, temos os<br />

conhecimentos, os meios e a experiência para<br />

avaliar a situação”.<br />

Ao longo dos últimos dois anos, mais<br />

de 20.000 profissionais de logística e<br />

especialistas em tecnologia partilharam as<br />

suas perspectivas de futuro da indústria,<br />

sendo estas reflectidas neste relatório de<br />

tendências.<br />

Matthias Heutger, vice-presidente sénior,<br />

chefe global de Inovação e Desenvolvimento<br />

Comercial da DHL, considera que “o próximo<br />

grande desafio será preparar a mão-de-obra<br />

logística para o futuro através de formação<br />

e melhor gestão de operações cada vez mais<br />

sofisticadas tecnologicamente”, e afirma que<br />

“nos próximos anos, isto estará no centro das<br />

agendas estratégicas de gestão da cadeia de<br />

fornecimento das organizações”.<br />

O responsável explica ainda que “o Radar<br />

de Tendências Logísticas <strong>2020</strong> serve como<br />

sismógrafo para tendências futuras. Com base<br />

em dados dos últimos sete anos, podemos<br />

fazer previsões a longo prazo e assim<br />

ajudar os nossos parceiros e clientes a criar<br />

roteiros para os seus negócios, bem como<br />

ajudar a estruturar e criar sinergias entre a<br />

investigação de ponta e as inovações líderes<br />

da indústria. Nesta edição do relatório, vemos<br />

que o impacto da COVID-19 é um poderoso<br />

acelerador de algumas das tendências já<br />

identificadas, tais como Big Data, robótica,<br />

automação ou IoT, todas suportadas pelo


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

avanço contínuo da inteligência artificial”.<br />

Ao nível da aceleração dos processos de<br />

transformação, o relatório mostra que a<br />

DHL está a experimentar uma estabilização<br />

global das tendências predominantes ao<br />

longo dos últimos quatro anos, e que os<br />

processos de transformação aceleraram<br />

com a resistência à pandemia de COVID-19.<br />

Este impulso levou a mudanças na inovação<br />

logística, automatização e digitalização<br />

mais rapidamente do que a própria indústria<br />

tem feito em anos. Ao mesmo tempo,<br />

revela também o oposto: muitas tendências<br />

consideradas revolucionárias para a indústria<br />

logística, tais como veículos e drones<br />

autónomos, ainda não foram capazes de<br />

desdobrar todo o seu potencial disruptivo, em<br />

grande parte devido a lacunas legislativas,<br />

inconvenientes técnicos e aceitação social<br />

ainda limitada.<br />

As três megatendências<br />

predominantes que identificámos<br />

não são desconhecidas: novas<br />

tecnologias, crescimento<br />

exponencial do comércio<br />

electrónico e sustentabilidade.<br />

Mas algumas áreas irão evoluir<br />

mais rapidamente do que outras,<br />

pelo que há necessidade de<br />

compreender as micro-tendências<br />

subjacentes e o seu impacto na<br />

logística<br />

Katja Busch


12<br />

OUTUBRO <strong>2020</strong><br />

Mercados logístico,<br />

comércio electrónico e<br />

sustentabilidade<br />

O Radar de Tendências Logísticas nota que<br />

os mercados logísticos se estão a consolidar<br />

nalgumas plataformas líderes, e que tem<br />

existido um movimento significativo do sector<br />

dos transportes para entrar no mercado online<br />

com as suas próprias propostas, apoiado por<br />

fortes redes logísticas globais, e aponta que<br />

os profissionais deverão estar familiarizados<br />

com tecnologias altamente inovadoras, desde<br />

computação em nuvem, robótica colaborativa,<br />

análise de grandes dados, inteligência artificial<br />

ou IoT, e saber como gerir e aplicar essas<br />

A modernização de<br />

todos os pontos de<br />

contacto da cadeia<br />

de abastecimento,<br />

do princípio ao fim, é<br />

um imperativo para<br />

o sucesso a longo<br />

prazo<br />

ferramentas ao seu dia-a-dia empresarial. “A<br />

modernização de todos os pontos de contacto<br />

da cadeia de abastecimento, do princípio ao<br />

fim, é um imperativo para o sucesso a longo<br />

prazo”, pode ainda ler-se no comunicado,<br />

justificando que “aqueles que adoptam e<br />

escalam novas tecnologias e melhoram as<br />

competências da sua força de trabalho, mais<br />

rapidamente terão uma maior vantagem<br />

competitiva no mercado”.<br />

Relativamente ao comércio electrónico,<br />

o estudo destaca o seu forte crescimento<br />

contínuo, mas que este representa uma<br />

pequena porção do mercado retalhista.<br />

Espera-se que o B2B acompanhe esse<br />

crescimento, que já é três vezes maior do<br />

que o mercado de consumo. A esse nível, a<br />

pandemia não só aumentou o crescimento<br />

do comércio electrónico, mas também a<br />

aceleração da inovação na supply chain,<br />

adoptando novas tecnologias como automação<br />

física inteligente, ferramentas de visibilidade<br />

alimentadas por IoT ou capacidades preditivas<br />

de inteligência artificial para determinar a<br />

capacidade de satisfazer a procura crescente<br />

dos clientes e de assegurar posições de<br />

liderança na indústria no futuro.<br />

A sustentabilidade foi outro ponto de<br />

interesse para as empresas, sendo que à<br />

medida que governos, cidades e fornecedores<br />

de soluções se comprometem cada vez mais<br />

a reduzir as emissões de CO2 e a geração de<br />

resíduos, este tema tornou-se cada vez mais<br />

imperativo para a indústria da logística. A<br />

implementação de novas iniciativas e modelos<br />

para responder à procura crescente de<br />

soluções sustentáveis para reduzir os resíduos,<br />

tirar partido de novas técnicas de propulsão<br />

e optimizar as instalações ficaram no topo da<br />

agenda da cadeia de abastecimento. •


13


14<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

TBFiles<br />

Em arquivar<br />

é que está o<br />

ganho<br />

Nem sempre se aplica a famosa frase “o<br />

saber não ocupa lugar”, pois no que toca a<br />

documentos físicos ele realmente ocupa, e<br />

bastante. Num mundo cada vez mais digital<br />

e paperless é importante encarar o futuro<br />

dessa forma e tornar virtuais todos aqueles<br />

documentos que continuamos a manter dentro<br />

da empresa, ficando sempre disponíveis<br />

24/7 numa plataforma cloud de fácil acesso,<br />

evitando todas aquelas deslocações e tempo<br />

perdido à procura de um arquivo específico.<br />

Como também se diz: “tempo é dinheiro”.


15<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Daniela Moço<br />

Por vezes as empresas não têm noção de<br />

quanto estão a perder por simplesmente<br />

armazenarem os seus próprios ficheiros,<br />

tanto a nível de tempo como de espaço, e que<br />

poderiam estar a investir no core dos seus<br />

negócios. Todas as empresas têm ficheiros em<br />

arquivo que não consultam regularmente, e<br />

que em alguns casos chegam mesmo a ficar<br />

anos sem serem consultados, até que quando<br />

são necessários não sabem onde os colocaram,<br />

e levam algum tempo até os encontrarem.<br />

Uma solução chegou há cerca de 18 anos<br />

através de Tiago Borges, CEO da TBFiles,<br />

que explica que a ideia de criar uma empresa<br />

que suportasse essas tarefas secundárias das<br />

empresas surgiu quando estava a viver nos<br />

Estados Unidos, em busca de novas soluções,<br />

e que o objectivo da TBFiles foi replicar o<br />

modelo de negócio, que lá se encontrava<br />

bastante maduro, para os standards europeus,<br />

e hoje está presente em Portugal (no Porto<br />

e em Lisboa), Angola e Moçambique, conta<br />

com mais de 2 milhões de dossiers de arquivo<br />

de gestão diária, 10 mil utilizadores e 55<br />

mil acessos de portais online, 40 milhões de<br />

imagens digitalizadas por ano, e uma grande<br />

quantidade de SMS e e-mails de notificação. O<br />

CEO da TBFiles explica que as consultas físicas<br />

estão a decrescer devido ao aumento dos<br />

acessos online, que hoje encontram-se entre<br />

os 250 e os 300 pedidos de consultas físicas,<br />

mas revela que já chegaram a ter mais de<br />

400 diários. “A nossa oferta de valor agrega o<br />

mundo físico e o mundo digital, e eu acho que<br />

isso é uma grande mais-valia que temos no<br />

mercado”, diz o responsável, destacando que<br />

também passa por “carregar a experiência do<br />

dia-a-dia dos processos físicos”.<br />

A nossa oferta de valor agrega o<br />

mundo físico e o mundo digital, e eu<br />

acho que isso é uma grande mais-<br />

-valia que temos no mercado<br />

Tiago Borges<br />

Nos Estados Unidos o modelo “era muito<br />

baseado em custódia de arquivo”, ou seja,<br />

libertar espaço ocupado por documentos que<br />

não eram utilizados diariamente para ocupar<br />

nos armazéns da empresa, localizados na<br />

periferia, mas com a TBFiles “conseguimos<br />

montar um plano de negócio muito focado<br />

à unidade, portanto no preço por caixa/mês,<br />

um preço por serviço quando requisitado”,<br />

revela, podendo assim trabalhar com facturas<br />

mínimas desde 25 euros por mês, e como tal<br />

não se restringem nem a um sector específico,<br />

nem a grandes empresas: “o que nos aliciou<br />

foi poder trabalhar com todos os sectores<br />

de negócio, área de mercado e dimensão”,<br />

indo desde as micro-empresas às de grande<br />

dimensão.


16<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Uma biblioteca de<br />

informação<br />

Ao contrário do habitual, quando entramos<br />

num armazém da TBFiles não vemos o comum<br />

cartão castanho, e sim um vasto manto<br />

branco. Tiago Borges conta que quiseram<br />

investir num modelo de caixa mais apelativo<br />

ao olhar, e que ficasse bem tanto em armazém<br />

como no próprio escritório, e o branco<br />

consegue-o e transmite limpeza.<br />

Álvaro Magalhães, director de operações<br />

da TBFiles, conta-nos a viagem de uma<br />

caixa ao chegar aos armazéns. “O processo<br />

começa com um pedido de cliente, e se for um<br />

cliente recorrente pode fazê-lo directamente<br />

através dos nossos portais. No caso de uma<br />

recolha, são emitidas as guias para se fazer<br />

essa recolha - e só os contactos autorizados<br />

é que podem fazer esse tipo de solicitações<br />

-, depois a nossa equipa faz o planeamento<br />

da logística, e dependendo do volume da<br />

recolha”, podendo esta ser inserida numa rota<br />

que já está pré-definida ou, caso a carga seja<br />

maior, programam uma recolha específica à<br />

porta do cliente. É feito um auto de entrega e<br />

o cliente valida que entregou a documentação,<br />

transportada para um dos armazéns da<br />

TBFiles, triada e classificada, e consoante o<br />

tipo de serviço que vai ser prestado ao cliente<br />

tem uma viagem interna diferente:<br />

- Extracção de metadados, podendo esta ser muito ou pouco detalhada, e “podemos<br />

extrair um conjunto de campos relevantes, imaginemos, num contrato financeiro pode ser<br />

o número do contrato, data, valor, a quem foi destinado, como pode ser só um número de<br />

um processo médico”, exemplifica o director de operações. Conta que por vezes existe ainda<br />

uma extracção feita através de leitura óptica de códigos de barras, “e é associado todo o<br />

documento, todo o ficheiro com a sua imagem”, e quando existe esta digitalização têm também<br />

uma ferramenta que oferecem aos seus clientes que é o arquivo digital, e o cliente que pede<br />

esse serviço passa a ter acesso à sua documentação em suporte digital, ficando disponível<br />

online e em tempo real para, consoante as permissões que lhe sejam atribuídas, consultar ou<br />

descarregar os ficheiros, e também pode pedir para consultar aquele documento físico.<br />

- Catalogada, o que chamam também de indexação, do conteúdo, e depois de estar<br />

indexada vai para uma zona específica do armazém para depois ser colocada na estante pela<br />

equipa de logística. “Cada cliente está codificado”, revela Álvaro Magalhães, e “à caixa são<br />

atribuídos um código específico e um código de barras”, sendo estas de seguida dispostas<br />

aleatoriamente pelo armazém, em localizações atribuídas pela ferramenta de gestão destes<br />

activos, como forma de garantir maior segurança para o cliente. A partir daí há um picking<br />

da localização e da caixa, para essa informação ir para a base de dados. “Nós não agrupamos<br />

clientes em determinadas áreas do armazém, vamos tentando rentabilizar o espaço”, explica, e<br />

acrescenta que quando percebem que determinado documento começa a ter maior actividade<br />

procuram mantê-lo num arquivo mais próximo do backoffice.


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

De modo a facilitar a logística e evitar<br />

deslocações desnecessárias dentro do<br />

armazém, contam com um pequeno espaço<br />

que simula áreas do armazém, onde os<br />

ficheiros que vão chegando ou que foi<br />

necessário digitalizar ficam temporariamente,<br />

e quando alguém tiver de ir buscar um<br />

ficheiro que fique próximo do local onde<br />

algum daqueles documentos deveriam estar<br />

armazenados, leva-os consigo e arquivaos<br />

directamente, tornando, desta forma,<br />

a movimentação de ficheiros físicos mais<br />

rentável. Álvaro Magalhães explica que esta<br />

área serve “para maximizar, ou rentabilizar,<br />

cada deslocação.<br />

Temos essa distribuição pré-feita aqui,<br />

dividida por sectores do armazém, e se<br />

um dos colegas tiver de ir a uma caixa na<br />

zona L5 chega aqui e leva já uma série de<br />

recolocações, porque o armazém ainda<br />

é grande e queremos evitar viagens ‘no<br />

vazio’”. Ao lado, e em oposição ao armazém,<br />

vemos o espaço físico do “arquivo activo”,<br />

ou seja, documentos que ainda possam ser<br />

necessários para o cliente, geralmente ao<br />

nível dos recursos humanos, encontram-se<br />

ali armazenados, próximos à sala de gestão.<br />

Estes ficheiros também são disponibilizados na<br />

plataforma da TBFiles para consulta online a<br />

qualquer momento.


18<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Arquivo digital<br />

Há mais de 10 anos que a TBFiles tem um<br />

foco muito virado para a tecnologia, e como<br />

tal, têm já alguma bagagem. “No fundo, nós<br />

sempre fomos muito sensíveis à informação e<br />

ao documento”, comenta Álvaro Magalhães.<br />

“Desde o dia um garantíamos processos que<br />

em cinco minutos tínhamos um documento<br />

na mão”, destaca o responsável, e conta que<br />

sobre a acessibilidade esta pode ser tanto ao<br />

nível da deslocação ao cliente para entregar<br />

um documento físico, quando necessário,<br />

“mas também o que nós chamamos ‘scan<br />

on demand’”, um serviço de digitalização e<br />

envio por e-mail para o cliente. “Este serviço<br />

chave-na-mão de backoffice administrativo<br />

acabou por ser algo que os clientes sempre<br />

valorizaram desde cedo”, revela.<br />

Contam com um software desenvolvido<br />

internamente, onde fazem diversos testes de<br />

vulnerabilidade e de segurança com o apoio<br />

de uma empresa subcontratada especializada,<br />

e também com firewalls próprias. Ao nível<br />

da cloud, trabalham com um prestador a<br />

nível nacional, e com os seus data centers<br />

estabelecidos em Carnaxide e em Matosinhos,<br />

próximos às suas instalações físicas. Através<br />

desta plataforma própria, conseguem garantir<br />

o acesso aos documentos de uma forma<br />

ágil e prática, podendo os clientes aceder<br />

aos ficheiros através de diversos tipos de<br />

dispositivos, e em qualquer lugar. Este ano<br />

contavam atingir os 100 mil acessos ao portal,<br />

mas a pandemia veio baixar um pouco esses<br />

valores.<br />

“Tipicamente o cliente define “N” campos<br />

que pretende colectar, e nós dentro desse<br />

documento extraímos”, explica Álvaro<br />

Este serviço chave-na-mão<br />

de backoffice administrativo<br />

acabou por ser algo que os<br />

clientes sempre valorizaram<br />

desde cedo<br />

Álvaro Magalhães<br />

Magalhães, “na prática podia ser uma factura,<br />

com número de contribuinte, valor líquido,<br />

quantidade, designação… e nós tratamos”.<br />

“Nós tentamos replicar num portal aquilo<br />

que é a realidade da empresa”, comenta o<br />

director de operações e revela que ao nível<br />

da informação “um grau de confiança muito<br />

grande”.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Segurança<br />

Os documentos que manuseiam vão desde<br />

processos de recursos humanos, clínicos,<br />

financeiros, de advogados, entre outros, e<br />

por isso é necessário conseguirem garantir<br />

a segurança destes ficheiros, e isso passa<br />

muito além da codificação das caixas. Álvaro<br />

Magalhães conta que por se tratarem de<br />

informações confidenciais têm um controlo<br />

bastante rigoroso de pessoas, tanto ao nível<br />

do acesso ao edifício como na movimentação<br />

dentro do mesmo, vigilância 24 horas, CCTV<br />

(circuito fechado de televisão) e controlo<br />

de acessos biométrico, para permitir que as<br />

pessoas tenham acesso a zonas específicas do<br />

armazém, contando ainda com zonas de uso<br />

mais reservado e exclusivo para apenas alguns<br />

colaboradores e clientes.<br />

“As pessoas que estão a fazer o serviço de<br />

digitalização não têm acesso à informação do<br />

cliente”, explica o responsável, e que apesar<br />

de poder ser interpretável com alguma análise,<br />

contam com um gráfico de desempenho dos<br />

colaboradores de modo a que estes consigam<br />

cumprir com os objectivos e com as métricas<br />

estabelecidas, e isso coloca alguma pressão<br />

nas pessoas. Para além disso, têm políticas<br />

restritivas quanto à utilização de telemóveis<br />

no espaço de trabalho, e zonas de uso proibido<br />

de telemóvel, para que não exista qualquer<br />

fuga de informação interna.<br />

Ao nível da infraestrutura em si, também<br />

têm alarmes de diversos tipos: detecção


20<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

de pessoas, de incêndio, de controlo de<br />

temperatura ou de humidade, que são algumas<br />

das fragilidades do papel. As estantes também<br />

foram pensadas para prevenir outro tipo de<br />

catástrofes, entre as quais a elevação entre<br />

a prateleira de baixo e o chão, de modo a<br />

resistir melhor a inundações por suportarem<br />

um caudal considerável de água, e o<br />

acabamento de metal que, apesar de serem<br />

um pouco mais caras, dá uma maior segurança<br />

aos documentos, por causa da combustão.<br />

O controlo de pragas também é uma das<br />

preocupações de armazém, pelo que também<br />

procuraram combater essa ameaça para os<br />

arquivos.<br />

De modo a evitar também possíveis<br />

curtos-circuitos, os pontos de electricidade<br />

encontram-se afastados das estantes.<br />

Tiago Borges explica que através da<br />

rentabilização em altura conseguem manter<br />

preços competitivos para a custódia dos<br />

documentos, mantendo a acessibilidade aos<br />

mesmos por parte do cliente. O desafio da<br />

TBFiles foi “tentar estar sempre à frente do<br />

que seriam as tendências de mercado”, e conta<br />

que desde que começou a pensar no negócio<br />

“já diziam que o papel ia acabar”, tendo a<br />

vontade de inovar no digital sido feita já com<br />

isso em conta. “Das duas uma: ou ajudávamos<br />

os clientes a acabar com o documento ou<br />

iríamos morrer com os documentos um dia”,<br />

explica, acrescentando que isso fez evoluir a<br />

ideia inicial para a vertente digital.<br />

Sustentabilidade<br />

Uma característica que se nota logo ao entrar<br />

no armazém de Lisboa é a sua luz natural,<br />

conseguida através de clarabóias no tecto do<br />

edifício. Durante o dia poupam em iluminação<br />

do espaço, aproveitando a luz natural que<br />

incide na infra-estrutura, e mesmo “às nove da<br />

noite ainda existe luz natural, que reflecte nas<br />

caixas brancas, e a visão é fantástica”, destaca<br />

Tiago Borges.<br />

Os empilhadores utilizados internamente<br />

são 100% eléctricos, um investimento que<br />

desde o início procuraram ter, existindo ainda<br />

o cuidado de deixar o ponto de carregamento<br />

dos equipamentos longe dos ficheiros<br />

armazenados, para evitar qualquer tipo de<br />

curto-circuito, à semelhança dos restantes<br />

pontos de electricidade.


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

No ano passado iniciaram a travessia na<br />

mobilidade eléctrica ao nível dos veículos para<br />

a área comercial, adquirindo Smarts 100%<br />

eléctricos, que ao mesmo tempo dão suporte<br />

à logística para distribuições mais urgentes<br />

no centro da cidade, visto encontrarem-se a<br />

poucos quilómetros dos centros das cidades.<br />

Tiago Borges anuncia ainda que até ao final<br />

do ano irão renovar também a frota de gama<br />

intermédia e que se encontram à procura de<br />

soluções 100% eléctricas capazes de aguentar<br />

carga e distribuições mais distantes. “Em<br />

2021 o nosso dia-a-dia no centro de Lisboa, a<br />

não ser para recolhas massificadas, mas para<br />

entrega de documentos e recolha de pequenas<br />

quantidades vai ser assegurada com veículos<br />

100% eléctricos”, avança o CEO da TBFiles,<br />

explicando que já contam com postos de<br />

carregamento eléctrico em ambos os centros<br />

logísticos de Portugal.<br />

Pandemia<br />

Durante a pandemia, Tiago Borges explica<br />

que a TBFiles nunca parou, e como tal, os<br />

seus clientes também não pararam devido<br />

a faltas da empresa: “Nunca termos parado<br />

significou que os nossos clientes nunca<br />

tiveram interrupção de serviço, por questões<br />

de TBFiles, e por outro lado, recorreram à<br />

TBFiles para resolver os seus problemas de<br />

confinamento”.<br />

“Os nossos clientes conseguiram ir para casa<br />

em teletrabalho e garantir uma gestão de<br />

correspondência, porque se já as tinham em<br />

parte, direccionaram a sua correspondência<br />

física toda para a TBFiles para ser<br />

desmaterializada e para serem lançados<br />

workflows para que eles em casa pudessem<br />

continuar a trabalhar, ou em termos de acesso<br />

a documentos”, explica o CEO, apresentando<br />

um serviço digital que também disponibilizam<br />

aos seus clientes.


22<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Caso prático: Olicargo<br />

A Olicargo é um dos clientes da TBFiles.<br />

Sentiu a necessidade de recorrer aos seus<br />

serviços devido a ter começado a enfrentar<br />

maiores volumes de informação, e isso<br />

potenciava eventuais perdas e dificuldade de<br />

rastreio, bem como aumentar a dificuldade<br />

em aceder rapidamente e com êxito à<br />

informação considerada mais pertinente. Ao<br />

mesmo tempo, estavam a sentir uma ruptura<br />

de espaço de armazenamento interno e um<br />

consumo excessivo de papel, resultando em<br />

implicações financeiras e ambientais.<br />

João Adérito, responsável do departamento<br />

de Procurement e Facilities da Olicargo,<br />

conta que esta situação fê-los compreender<br />

que seria “fundamental implementar um<br />

projecto de desmaterialização e follow up<br />

de documentos, prioritário para a eficiente<br />

gestão da organização, de forma a colmatar<br />

preocupações relacionadas com arquivo,<br />

classificação, avaliação, selecção e rastreio de<br />

documentos, além da segurança de acesso e<br />

preservação digital”.<br />

As expectativas iniciais eram apenas de<br />

desmaterialização “cega” dos documentos, sem<br />

que fosse avaliada ou classificada, fazendo<br />

este teste com uma pequena parte da empresa<br />

de modo a avaliar a adaptação a esta nova<br />

realidade. “A ideia seria que a nova ferramenta<br />

se implementasse praticamente sozinha, sem<br />

grandes alterações no trabalho da organização<br />

e que, naturalmente, fosse algo intrínseco ao<br />

trabalho de todos nós, mas sempre de uma<br />

forma gradual”, comenta João Adérito.<br />

Todos os gestores de decisões da<br />

empresa estiveram envolvidos desde o<br />

primeiro momento, e os ganhos foram<br />

desde logo visíveis em todo o tratamento<br />

documental, o que levou a que houvesse<br />

“um comprometimento de reformulação dos<br />

procedimentos e a que todo o processo fosse<br />

implementado de uma forma muito mais<br />

célere e abrangente a toda a organização, face<br />

à expectativa inicialmente criada”, conta o


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

Neste momento é muito mais fácil,<br />

rápido e intuitivo aceder a toda a<br />

documentação gerada e recebida<br />

na Olicargo<br />

João Adérito, Olicargo<br />

responsável da Olicargo.<br />

“Neste momento é muito mais fácil, rápido<br />

e intuitivo aceder a toda a documentação<br />

gerada e recebida na Olicargo”, revela João<br />

Adérito, concluindo que “mais importante para<br />

uma organização como a nossa, temos forma<br />

de controlar posteriormente o registo histórico<br />

de todos os acessos a qualquer documento”. •<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

things<br />

easier<br />

Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />

seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

A pallet is red, red is a pallet


24 outubro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

2.ª SCM Digital<br />

Conference<br />

Texto: Ana Paiva e Fábio Santos<br />

Fotos: SCM<br />

Recuperação:<br />

a supply chain<br />

na linha da<br />

frente<br />

Este é o momento das empresas colocarem<br />

os olhos no futuro para definir estratégias<br />

e implementar mecanismos que lhes<br />

permitam perspectivar a recuperação,<br />

sempre assente nas cadeias de<br />

abastecimento ou, como já se banalizou,<br />

adaptarem-se ao “novo normal”. A<br />

conferência dos profissionais de supply<br />

chain migrou para o online e a sua 2.ª edição<br />

aconteceu, mais uma vez, num palco virtual.<br />

Quem inaugurou o palco digital do evento<br />

foi Jörg Junghanns, vice-presidente<br />

Europe da Capgemini, que trouxe o tema<br />

‘Autonomus Supply Chains – Supporting the<br />

Frictionless Enterprise’.<br />

Durante a sua intervenção, Jörg Junghanns<br />

referiu que muitos ‘corporate decision makers’<br />

têm o objectivo de tornar as suas empresas,<br />

ou modelos globais de operação, sem fricções.<br />

Para isso é necessário que a supply chain<br />

também seja livre desses atritos, ou seja, é<br />

preciso uma supply chain autónoma.<br />

Apesar de muitos responsáveis de decisão da<br />

supply chain estarem satisfeitos com o estado<br />

actual das suas cadeias de abastecimento,<br />

a maioria é da opinião que daqui a um ou<br />

dois anos, o objectivo será alcançar uma<br />

supply chain mais integrada. Desta forma,<br />

estes responsáveis foram impulsionados<br />

por programas de transformação que,<br />

normalmente, envolvem iniciativas<br />

relacionados com o redesign de certas partes<br />

da supply chain, o que dá mais acesso a fontes


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

de dados disponíveis para permitir ambientes<br />

de trabalho mais eficientes, bem como a<br />

transição para uma supply chain mais holística<br />

e integrada. Envolve ainda uma melhoria nas<br />

tomadas de decisão através de, não só uma<br />

melhor conectividade ao longo de toda a<br />

supply chain, mas também ao longo de todo o<br />

ecossistema da mesma e dos stakeholders, e<br />

uma optimização do ecossistema, traduzindose<br />

numa maior consistência e simplificação na<br />

gestão em rede.<br />

Desta forma, a supply chain torna-se<br />

uma parte-chave na fiabilidade e um meio<br />

importante para atingir a satisfação do cliente.<br />

E, claro, gira tudo à volta da rapidez, no que<br />

diz respeito à troca de dados e informação.<br />

Sob o mote “Talent Development: How<br />

it helps companies to improve their global<br />

Supply Chains & Survive from Covid19<br />

impacts”, Miquel Serracanta, International<br />

Advisor Supply Chain Expert, falou da sua<br />

experiência pessoal e apresentou propostas<br />

para as empresas optimizarem as suas supply<br />

chains e sobreviverem aos impactos da<br />

pandemia.<br />

A transformação contínua<br />

Nesse sentido, os maiores desafios da<br />

cadeia de abastecimento, envolvendo<br />

também os recursos humanos, passam por<br />

gerir os impactos do COVID-19 em todos os<br />

mercados; trazer valor acrescentado para cada<br />

consumidor; mercados omnicanal; maiores<br />

requisitos de talento; e sustentabilidade<br />

global, sob risco.<br />

Na sua intervenção, este profissional<br />

relacionou as transformações na cadeia de<br />

abastecimento com um triângulo de trânsito,<br />

dobrado, em que uma ponta representa<br />

os processos e a outra as ferramentas<br />

tecnológicas e, no seu entender, por vezes,<br />

esquecemo-nos de abrir o triângulo, deixando<br />

de lado a ponta que representa as pessoas e<br />

as empresas. Na verdade, devíamos manter<br />

manter o triângulo aberto de modo a tê-las<br />

sempre em conta. “A diferença é feita por<br />

pessoas”, afirmou, pelo que “ o talento é muito<br />

importante”.<br />

Miquel Serracanta defende que as supply<br />

chains são transformação contínua, e como<br />

tal, a evolução interna tem de ser maior que<br />

a externa, ou seja, se a evolução estiver a<br />

acontecer a um ritmo maior do que o que<br />

conseguimos gerir, isso significa que estamos<br />

a ser ultrapassados pelo que está a ocorrer<br />

no exterior. A pandemia de COVID-19 veio<br />

acelerar o ritmo dos processos, especialmente<br />

ao nível do e-commerce de retalho, tendo<br />

no caso dos Estados Unidos a percentagem<br />

aumentado tanto em oito semanas desde<br />

o início da pandemia como nos 10 anos<br />

anteriores.


26<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

A nova realidade<br />

O primeiro painel de debate tinha como mote<br />

“Recuperação: A Supply Chain na Linha da<br />

Frente”, em que participaram Miguel Pinto,<br />

managing director da Continental Advanced<br />

Antenna Portugal, Hermano Sousa, executive<br />

director logistics da Altri Participaciones Y<br />

Trading, e, a moderar, Luís Miguel Ferreira,<br />

assistant professor da Universidade de<br />

Coimbra.<br />

Dando início ao debate, o Prof. Luís Miguel<br />

Ferreira começou por questionar ambos os<br />

oradores sobre o estado de recuperação<br />

das respectivas empresas. Hermano Sousa<br />

relatou as três fases por que passaram:<br />

um total desconhecimento numa primeira<br />

fase, a adaptação à nova realidade e, agora,<br />

já existem algumas certezas do modo de<br />

funcionamento do mercado. Inicialmente,<br />

tiveram dificuldades no transporte, pois não<br />

sabiam como iria funcionar o transporte<br />

marítimo de curta distância, uma parte<br />

essencial para a empresa. Após um período<br />

conturbado, conseguiram equilibrar o fluxo<br />

que corresponde a 60% das vendas, mas<br />

sentiu-se uma grande instabilidade no<br />

transporte contentorizado para o extremo<br />

oriente. No caso da Continental, aconteceu<br />

o mesmo, nomeadamente nos movimentos<br />

vindos do extremo Oriente; pois também<br />

tiveram dificuldades no transporte da indústria<br />

que vem do extremo oriente e, face a isto,<br />

criaram um maior rumo a nível global, no<br />

qual conseguiram fazer o follow-up dos<br />

componentes, como conta Miguel Pinto. De<br />

momento, o que se começa a notar é que<br />

os fornecedores estão a ter alguma pressão,<br />

uma vez que também estiveram parados.<br />

De um momento para o outro, a procura é<br />

superior ao que seriam os forecasts. Outro dos<br />

tópicos abordados foi a forma como ambas as<br />

empresas coordenaram as operações com os<br />

fornecedores para lidar com o problema do<br />

‘ramp-up’. Miguel Pinto contou que fizeram<br />

uma gestão dos componentes que estavam em<br />

alocação e distribuíram-nos de acordo com as<br />

necessidades das fábricas para, juntamente<br />

com os fornecedores, tentar reduzir o lead<br />

time de entrega. Por sua vez, Hermano referiu<br />

uma melhor comunicação com todos os elos<br />

da cadeia, bem como uma maior flexibilidade.<br />

No caso da Altri, a pandemia acabou por<br />

impulsionar um novo canal de transporte<br />

de entregas para o extremo-Oriente que<br />

se pode vir a revelar muito interessante<br />

para o futuro: “testámos um modelo muito<br />

flexível que era enviar a pasta de papel até<br />

à Polónia, e embarcar em comboio, numa<br />

estação na Polónia, com 12 dias de tempo<br />

de trânsito para a China e isso revelou-se<br />

não só competitivo, mas também muito mais<br />

rápido. Dá-nos uma capacidade de reacção ao<br />

mercado muito mais interessante do que a que<br />

tínhamos antes”, finaliza Hermano Sousa.<br />

Ana Cristina Barros, senior researcher do<br />

INESC TEC, comandou a conversa com Jorge<br />

Franco, head of procurement and supply<br />

chain da QuantuMDx Group Ltd, sobre o<br />

tema “Global Supply Chains – o que já está


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

a mudar”. Neste momento de incerteza, “as<br />

empresas ou estão a ver como é que vão<br />

receber ou estão num negócio em que a<br />

pandemia é necessária e não têm mãos a<br />

medir”, o que é uma realidade na QuantuMDx,<br />

como explica Jorge Franco, pois esta encontrase<br />

“a trabalhar a 100% para lidar com esta<br />

pandemia”, desenvolvendo produtos para<br />

diagnosticar SARS-COV-2, bem como gripes<br />

A e B, um foco que foi logo redireccionado<br />

no início da pandemia, e que se encontrava<br />

em doenças como a tuberculose, DST e<br />

epidemias ligadas a países do terceiro mundo.<br />

“A actual situação pandémica obrigou-nos a<br />

redireccionar todo o focus do negócio, bem<br />

como a montante redescobrir e refazer todo o<br />

produto”, comenta ainda o orador.<br />

Há dois anos a trabalhar no Reino<br />

Unido, conta que sente que as cadeias de<br />

abastecimento são mais ágeis e adaptáveis<br />

do que em Portugal, porque “utilizam poucos<br />

clichés, poucas frases-feitas” e actuam perante<br />

objectivos e resultados: “há planos e uma<br />

forte interdependência. A maior dificuldade<br />

de adaptação foi despir os traumas herdados<br />

da cultura lusitana, em termos de gestão de<br />

cadeias de abastecimento e da supply chain”,<br />

considera.<br />

Sobre o que está a mudar nesta segunda<br />

vaga, Jorge Franco conta que “estamos a<br />

lutar contra o tempo, em termos técnicos”.<br />

Relativamente à vacina, o responsável da<br />

QuantuMDx acredita que a vacina só chegará<br />

“num horizonte temporal superior a dois anos”,<br />

e que apesar de já existirem algumas em<br />

O desafio durante a pandemia<br />

consistiu em implementar operações<br />

logísticas em tempo recorde, pois<br />

em Portugal a externalização<br />

intensificou-se bastante<br />

fase final, o que toda a comunidade científica<br />

e produtora de dispositivos médicos está a<br />

tentar encontrar neste momento são soluções<br />

duradouras para testes fiáveis”.<br />

a imprevisibilidade<br />

O último painel do evento foi composto por<br />

Andrea Nunes, country manager do Grupo<br />

Constant, José Miranda, supply chain director<br />

da Leroy Merlin, Nuno Rodrigues, supply chain<br />

director do Lidl e, a moderar, Pedro Caldeira,<br />

professor na NOVA School of Business &<br />

Economics.<br />

O desafio durante a pandemia consistiu em<br />

implementar operações logísticas em tempo<br />

recorde, pois em Portugal a externalização<br />

intensificou-se bastante. Da parte do Lidl,<br />

Nuno Rodrigues afirma que a área do retalho<br />

foi das mais afectadas, não pela retracção,<br />

mas pelo comportamento do consumidor que<br />

se traduziu no aumento das vendas. O Lidl<br />

adoptou uma estratégia de simplificação que<br />

facilitou as suas reacções após os primeiros<br />

dias da pandemia, mas nada seria possível<br />

sem as pessoas, apontando dois aspectos<br />

importantes em relação à supply chain: a


28<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

relação com os fornecedores deverá ser<br />

mais do que contratos, ou seja, relações<br />

de parceria que, em situações como a que<br />

vivemos, permitem uma maior facilidade de<br />

actuação; e o alinhamento da estratégia, pois<br />

não há plano de actuação que funcione sem<br />

ser aquele que é traçado em paralelo. Em<br />

circunstâncias anormais como a que vivemos,<br />

a supply chain tem que traçar uma estratégia<br />

conjunta com as compras e com a logística<br />

que deriva nas operações.<br />

Os desafios da incerteza<br />

A terminar, Joana Vasques, regional air<br />

hub operations coordinator do World Food<br />

Programme (WFP), das Nações Unidas, com<br />

o tema “Os desafios da incerteza”. Juntouse<br />

ainda Miguel Nuno Silva, que devido a<br />

problemas técnicos não se conseguiu juntar<br />

anteriormente, e que graças à sua experiência<br />

em África conseguiu adaptar-se perfeitamente<br />

ao tema.<br />

Joana Vasques está na Etiópia e começa<br />

por explicar que as circunstâncias sentidas ao<br />

nível do sector humanitário foram diferentes<br />

das do sector privado. A engenheira de<br />

gestão industrial do World Food Programme<br />

conta que devido à presença em mais de<br />

88 países existe uma extensa rede logística<br />

“que permite entregar por dia mais de 15 mil<br />

milhões de rações alimentares a um custo de<br />

61 cêntimos de dólar”. Ao nível logístico, os<br />

maiores problemas que têm são as faltas de<br />

estruturas dos governos, economias paralelas,<br />

populações deslocadas, o crescente número<br />

de emergências - não só a nível de conflito,<br />

mas também de desastres naturais -, e cuja<br />

complexidade tem vindo a aumentar.<br />

A pandemia colocou alguns entraves<br />

ao transporte de bens, pois 50% da carga<br />

transportada era enviada através de voos de<br />

passageiros, e estes foram parados no início<br />

do ano. “Houve uma competição imensa pela<br />

restante capacidade do sector”, comenta Joana<br />

Vasques, “onde se verificou um preço altíssimo,<br />

bem como um aumento das taxas”.<br />

Perante este cenário, o WFP activou a sua<br />

rede de distribuição logística e alguns hubs<br />

internacionais foram criados, com a função de<br />

consolidar o international procurement e fazer<br />

o despacho para os países seleccionados pela<br />

Organização Mundial de Saúde. “Actualmente,<br />

cerca de 80 mil metros cúbicos de carga foram<br />

enviados para cerca de 169 países, o que<br />

cobre cerca de 86% de toda a área global”,<br />

acrescenta.<br />

Miguel Nuno Silva traz consigo experiência<br />

de vários PALOP. “Logística em África é um<br />

contra-senso, se pensarmos em Moçambique<br />

que depende do abastecimento a 99%”, revela<br />

o responsável, e isso significa que “qualquer<br />

disrupção na cadeia de abastecimento tem um<br />

impacto brutal”.<br />

O responsável conta que se encontra a<br />

trabalhar na área da logística há mais de 20<br />

anos, e tem como certeza que “fazer melhor<br />

que os outros é o único segredo da logística”.<br />

Questionada sobre quais as maiores<br />

dificuldades sentidas no terreno, Joana<br />

Vasques explica que o principal é o facto de


SCM Supply Chain Magazine<br />

29<br />

trabalharem para pessoas, e “quando as coisas<br />

correm mal as vidas estão em jogo”. Conta<br />

que é um desafio e que todos os desafios têm<br />

os seus riscos, mas que em África a cadeia<br />

humanitária está sempre sujeita a imprevistos<br />

como guerras, incidentes políticos, desastres<br />

naturais, pelo que é preciso ter uma cadeia<br />

logística activa e pronta a dar resposta<br />

imediata. “É preciso pensar no contexto social<br />

e económico do país em que estamos, como<br />

é que vamos agir e quais as possibilidades”,<br />

explica a responsável da WFP.<br />

Miguel Nuno Silva, por seu turno, defende<br />

a importância das pessoas para melhorar a<br />

supply chain, e que “neste momento não é<br />

necessária mais tecnologia, porque a supply<br />

chain está muito bem apetrechada. Eu acho<br />

que se devem transformar os chefes em<br />

( a wfp) permite entregar por dia<br />

mais de 15 mil milhões de rações<br />

alimentares a um custo de 61<br />

cêntimos de dólar<br />

Joana Vasques, WFP<br />

líderes”, considera, “os gestores têm de ir ao<br />

chão de fábrica e têm de conhecer aquilo que<br />

são os desafios da cadeia de abastecimento”.<br />

Relativamente a estes últimos, refere que<br />

“tudo o que eram previsões em Fevereiro<br />

caíram por terra, completamente. Neste<br />

momento são precisas ferramentas que<br />

meçam a cada momento a volatilidade da<br />

procura”. •<br />

CONNOSCO


30<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Prémio Nobel da Paz<br />

<strong>2020</strong><br />

“A melhor<br />

vacina contra o caos”<br />

O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (WFP<br />

na sigla em inglês) foi este ano distinguido com o Nobel da<br />

Paz. É o reconhecimento da sua importância no combate<br />

à fome mundial e também um prémio para a cadeia de<br />

abastecimento, enquanto espinha dorsal de qualquer<br />

operação humanitária, especialmente em contexto de<br />

pandemia. Na impossibilidade, para já, de travar a doença,<br />

esta é a “a melhor vacina contra o caos” como referiu o<br />

presidente do Comité Norueguês do Nobel.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: WWF-UN<br />

Berit Reiss-Andersen, presidente do Comité<br />

Norueguês do Nobel, justificou a entrega<br />

do 101.º Prémio Nobel da Paz ao WFP<br />

das Nações Unidas por este ser “uma força<br />

impulsionadora nos esforços para prevenir<br />

a utilização da fome como uma arma de<br />

guerra e conflito”. Na ocasião, Reiss-Andersen<br />

salientou que a pandemia veio “contribuir para<br />

um aumento do número de vítimas de fome<br />

em todo o mundo” e defendeu que, “enquanto<br />

não chega o dia em que teremos uma vacina<br />

médica” para travar a doença, “a alimentação é<br />

a melhor vacina contra o caos”.<br />

Segundo os dados da ONU, há 690 milhões<br />

de pessoas (cerca de 8,9% da população<br />

mundial) em situação de fome. Devido ao<br />

impacto económico da crise provocada pelo<br />

vírus SARS-CoV-2, a organização mundial<br />

estima, porém, que mais de 130 milhões de<br />

pessoas estejam em risco de se juntar a esse<br />

grupo, durante este ano de <strong>2020</strong>.<br />

O World Food Programme é uma agência da<br />

Organização das Nações Unidas e é também<br />

a maior organização humanitária a nível<br />

mundial, prestando assistência a 97 milhões<br />

de pessoas, distribuídas por 88 países.<br />

Num dia normal, lê-se no site da agência,<br />

o WFP tem em movimento no mundo<br />

aproximadamente 5.600 camiões, 30 navios e<br />

100 aviões, que transportam alimentos e outro<br />

tipo de assistência humanitária a quem mais<br />

está a precisar.<br />

Durante os períodos mais críticos do<br />

confinamento, decretado por vários países<br />

como forma de conter a propagação do<br />

vírus, foi o WFP que tomou as rédeas e<br />

assumiu grande parte das responsabilidades<br />

humanitárias a nível mundial, procurando dar<br />

resposta às necessidades das populações mais<br />

isoladas.<br />

“As restrições globais e nacionais impostas<br />

por causa da COVID-19 encerraram tudo. Mas<br />

o PAM assumiu as suas responsabilidades<br />

e foi capaz de conectar as comunidades. A<br />

determinada altura, quando a maioria ou<br />

quase todas as companhias aéreas comerciais<br />

estavam paradas, nós fomos a maior<br />

companhia aérea do mundo”, lembrou Tomson<br />

Phiri, porta-voz do WFP, citado pela agência<br />

Reuters.<br />

Por estes dias, as situações de maior<br />

emergência alimentar identificadas pelo WFP<br />

localizam-se na República Democrática do<br />

Congo, na Nigéria, no Sudão do Sul, na região<br />

do Sahel, na Síria e no Iémen. Um outro país<br />

crítico apontado pela organização humanitária<br />

é o Afeganistão.<br />

Não obstante o contributo deste tipo<br />

organizações e agências para a promoção<br />

da segurança alimentar e do compromisso<br />

assumido por dezenas de países para se<br />

erradicar a fome até 2030, a ONU teme que,<br />

com os conflitos armados, as alterações<br />

climáticas e as crises económicas que têm<br />

vindo a desenrolar-se nos últimos anos, e<br />

agora a pandemia, o número de pessoas em<br />

situação de fome chegue aos 840 milhões já<br />

em 2025.<br />

[...] quando a maioria ou quase<br />

todas as companhias aéreas<br />

comerciais estavam paradas, nós<br />

fomos a maior companhia aérea do<br />

mundo<br />

Tomson Phiri, WFP


32<br />

15 mil milhões de refeições<br />

O trabalho desenvolvido no terreno<br />

rege-se pelo 2º objetivo Global Para o<br />

Desenvolvimento Sustentável (ODS) —<br />

erradicar a fome, promover a segurança<br />

alimentar e melhorar a nutrição da população<br />

global. As acções estão direccionadas<br />

primeiramente para comunidades vulneráveis<br />

— dois terços delas, em zonas de conflito<br />

e levantamentos da própria organização<br />

apontam que 15 mil milhões de refeições são<br />

distribuídas anualmente pelo programa.<br />

Além da situação crítica de muitas das<br />

regiões atendidas, a abrangência do programa<br />

por si só representa um desafio logístico.<br />

Em 2019, por exemplo, o WFP promoveu<br />

acções em 88 países, espalhados pelos cinco<br />

continentes. Este ano, a pandemia criou e<br />

ainda está a criar dificuldades acrescidas e vai<br />

exigir uma capacidade de acção adicional por<br />

parte do WFP. A situação que se vive a nível<br />

mundial contribuiu para um agravamento da<br />

situação e as novas estimativas apontam que o<br />

número de pessoas com fome nos países onde<br />

opera o WFP pode chegar a 270 milhões até<br />

ao final do ano, o que representa um aumento<br />

de 82% em relação ao período anterior à<br />

pandemia.<br />

Vale a pena salientar que a acção do WFP<br />

não se limita à entrega de alimentos, actuando<br />

noutros pilares estratégicos, como garantir<br />

infra-estruturas que permitam o escoamento<br />

da produção no contexto interno dos países,<br />

além de incentivar a produção sustentável<br />

e combater o desperdício alimentar. Por<br />

exemplo, o WFP começou a apoiar o programa<br />

nacional de protecção social do Gana, através<br />

da transferência de verbas para auxiliar<br />

75.000 trabalhadores e pequenos agricultores<br />

afectados pela pandemia, para que possam<br />

responder às suas necessidades de segurança<br />

alimentar e nutricional.<br />

Nos bastidores das<br />

operações<br />

Mas como se desencadeiam e põem a<br />

funcionar, na prática, todas estas operações<br />

humanitárias?<br />

São milhares os funcionários dedicados que<br />

diariamente canalizam os seus conhecimentos<br />

e usam todos os meios à sua disposição<br />

- camiões, aviões, navios, helicópteros -<br />

para garantir que grandes quantidades de<br />

alimentos e outros bens essenciais cheguem<br />

àqueles que mais precisam, onde quer que seja<br />

e por norma em contextos e territórios hostis.


33<br />

Trabalham em estreita ligação com os<br />

governos e com ONG’s, com fornecedores<br />

e comunidades locais. Envolvem empresas<br />

e pequenos agricultores e investem em<br />

economias e mercados locais.<br />

Ao dar prioridade a empresas, entidades e<br />

OGN’s locais, tanto quanto possível, quer para<br />

seu suporte e apoio de emergência como para<br />

os outros projectos de desenvolvimento, o<br />

WFP está a contribuir para sistemas agrícolas<br />

e de produção mais sustentáveis, sectores<br />

de distribuição mais dinâmicos e redes de<br />

transporte mais robustas.<br />

Para a sua cadeia de abastecimento o<br />

WFP canaliza mais de dois mil milhões<br />

de dólares para poder estar e operar nas<br />

diferentes localizações espalhadas pelo<br />

mundo, preenchendo lacunas nas cadeias de<br />

abastecimento locais, sempre que necessário.<br />

Ajudam a optimizar as estratégias de<br />

transporte e compra a granel dos seus<br />

distribuidores contratados, para que possam<br />

cortar nos seus custos e no preço de venda,<br />

o que se traduz num aumento do poder de<br />

compra dos beneficiários do programa e das<br />

populações locais, permitindo-lhes comprar<br />

mais e melhores alimentos. As estratégias<br />

de planeamento, fornecimento e entrega<br />

aproveitam ao máximo os recursos existentes.<br />

Seis décadas de experiência<br />

O WFP também disponibiliza a sua capacidade<br />

instalada e a sua experiência global para<br />

agências da ONU, ONG’s e governos. A partilha<br />

de serviços e conhecimentos permite que<br />

esses parceiros alcancem mais facilmente<br />

quem precisa. Através do UNHAS (United<br />

Nations Humanitarian Air Service) fornece<br />

transporte seguro às equipas e voluntários;<br />

através do UNHRD (United Nations<br />

Humanitarian Response Depot) compra,<br />

armazena e despacha bens de primeira<br />

necessidade e de primeiros socorros para os<br />

parceiros dos seus centros globais; e o Cluster<br />

de Logística fornece toda a coordenação e<br />

gestão de informações durante as respostas de<br />

emergência e desencadeia o acesso a outros<br />

serviços de logística do WFP.<br />

Com quase seis décadas de experiência e<br />

especialização na cadeia de abastecimento<br />

humanitária, a supply chain do WFP tem um<br />

papel crítico e decisivo em todos os momentos<br />

das operações e intervenções programáticas<br />

desta organização e por detrás de tudo isto<br />

estão 4.000 pessoas, muitas vezes a operar em<br />

alguns dos ambientes mais remotos, perigosos<br />

e desafiadores do mundo.<br />

Dadas as complexidades de gerir uma


34<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

operação tão grande e com condicionantes tão<br />

distintas, um bom planeamento é essencial<br />

para garantir que conseguem ajudar ainda<br />

mais pessoas, com os mesmos recursos e gerir<br />

entregas dentro do prazo. A imprevisibilidade<br />

de desastres e crises - o que pode fazer com<br />

que as necessidades do WFP aumentem da<br />

noite para o dia - e a dificuldade de prever o<br />

fluxo das contribuições e das doações tornam<br />

o planeamento ainda mais importante.<br />

Por isso, o WFP tem vindo a introduzir uma<br />

série de mudanças na supply chain tendo em<br />

vista a flexibilidade, onde se inclui melhor<br />

informação e um tratamento mais apurado<br />

da mesma. A gestão de ponta a ponta da<br />

supply chain é decisiva e dita o sucesso<br />

em operações complexas: “Na Síria, fomos<br />

capazes de reduzir os prazos de entrega em<br />

40 dias desde o início da operação, utilizando<br />

mecanismos de financiamento antecipado que<br />

nos permitem mobilizar produtos alimentares<br />

de necessidade urgente”, explica o WFP.<br />

A imprevisibilidade de desastres,<br />

crises (...) e a dificuldade de prever<br />

o fluxo das contribuições e das<br />

doações tornam o planeamento<br />

ainda mais importante<br />

A abordagem do WFP ao planeamento da<br />

sua supply chain é baseada nos princípios<br />

de melhoria contínua e colaboração, tanto<br />

dentro da organização como fora dela,<br />

sendo que o planeamento começa e termina<br />

localmente. Procuram garantir que as pessoas<br />

que servem recebem mais por cada dólar<br />

gasto, identificando a forma mais adequada<br />

de prestar assistência; agregar a procura<br />

entre regiões e países; optimizar as escolhas<br />

(por exemplo, analisando a composição de<br />

um cabaz básico, o tempo e os custos para<br />

determinadas rotas de entrega). Transparência<br />

de ponta a ponta, coordenação eficaz,<br />

análise dos dados e diferentes indicadores<br />

melhoram a capacidade de planeamento da<br />

supply chain do WFP e conduzem à tomada de<br />

decisões informadas sobre os potenciais riscos<br />

associados, antevendo formas de os mitigar<br />

sempre que possível.<br />

“É um reconhecimento humilde e comovente<br />

do trabalho dos funcionários do WFP, que<br />

arriscam a vida todos os dias para levar<br />

comida e assistência a cerca de 100 milhões<br />

de crianças, mulheres e homens em todo o<br />

mundo”, afirmou David Beasley. E a logística<br />

está sempre lá, no comando das operações. •


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

Sistemas de Gestão ERP<br />

Sistemas de Gestão de Armazéns WMS<br />

Sistemas de Gestão Industrial SFC, APS<br />

Aquisição de dados de Produção MES<br />

Gestão de Transportes TMS<br />

Integração com plataformas B2C e B2B<br />

Mobilidade e Gestão de Equipas Comerciais MSS<br />

Portais colaborativos P2P e O2C<br />

Consultoria em Processos e Logística<br />

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36<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

logística<br />

Unidos contra o<br />

Desperdício<br />

Texto: Dora Assis<br />

Movimento quer combater<br />

desperdício alimentar<br />

O desperdício alimentar é uma realidade com valores tão elevados que<br />

surpreendem e chocam qualquer pessoa. Portugal quer combater o<br />

desperdício alimentar e a “vontade de juntar vontades” fez nascer o<br />

movimento “Unidos contra o Desperdício”.


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Todos os anos um terço da produção<br />

alimentar é desperdiçada no mundo,<br />

segundo os dados da Organização das<br />

Nações Unidas Para a Alimentação e a<br />

Agricultura (FAO). Para contrariar este<br />

problema mundial, com impactos a vários<br />

níveis, nasceu a 29 de Setembro o “Unidos<br />

Contra o Desperdício”, um movimento cívico<br />

e nacional, congregador e agregador, que une<br />

a sociedade num combate activo e positivo<br />

ao desperdício alimentar, reforçando a<br />

importância que todos e cada um podem ter<br />

nessa luta.<br />

Aproveitar excedentes<br />

Com o objectivo de facilitar o aproveitamento<br />

de excedentes, tornando habitual a luta contra<br />

o desperdício alimentar, incentivar e facilitar<br />

a doação das sobras, bem como promover um<br />

consumo responsável, o Movimento “Unidos<br />

Contra o Desperdício” foi fundado por várias<br />

entidades, congregadas pela Federação<br />

Portuguesa dos Bancos Alimentares, sendo um<br />

Movimento com várias vozes e diferentes tons,<br />

que une e congrega empresas, instituições,<br />

o público e o sector privado, além de várias<br />

gerações em torno do objectivo único de lutar<br />

contra o desperdício alimentar.<br />

Integram o Movimento como membros<br />

fundadores: a Associação da Hotelaria,<br />

Restauração e Similares de Portugal (AHRESP),<br />

a Associação Portuguesa de Empresas de<br />

Distribuição (APED), a Associação Portuguesa<br />

de Logística (APLOG), a Câmara Municipal<br />

de Lisboa no âmbito da Lisboa Capital<br />

Verde Europeia <strong>2020</strong> (CML), a Confederação<br />

dos Agricultores de Portugal (CAP), a<br />

Confederação Empresarial de Portugal<br />

(CIP), a Comissão Nacional de Combate ao<br />

Desperdício Alimentar (CNCDA), a Dariacordar/<br />

Zero Desperdício, a Federação Portuguesa dos<br />

Bancos Alimentares (FPBA) e a Refood.<br />

A realidade do desperdício é um<br />

contrassenso do ponto de vista económico,<br />

ambiental e social e tem merecido a atenção<br />

de muitos agentes dos mais diversos sectores<br />

e que agora se reúnem para de forma activa<br />

chamar a atenção para uma questão que só<br />

poderá ser minorada com a vontade de todos.<br />

Sensibilizar de forma<br />

construtiva<br />

Para Isabel Jonet, presidente da Federação<br />

Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra<br />

a Fome, uma das entidades fundadoras do<br />

Movimento, “esta pode vir a ser uma das<br />

principais lutas mundiais, a par de outras<br />

estruturantes como a fome ou a preservação<br />

do ambiente, até porque o desperdício<br />

alimentar acaba por convergir em ambas. No<br />

caso da destruição de comida que está em<br />

bom estado e pode ser consumida, trata-se<br />

até de uma injustiça, quando há pessoas que<br />

dela carecem para viver. O alimento é um<br />

bem de consumo diferente de todos os outros<br />

precisamente porque é essencial para a vida”.<br />

“Esta é uma boa oportunidade de se<br />

procurar apresentar a realidade dos números<br />

e sensibilizar de forma construtiva, através<br />

de instrumentos e informação, para que<br />

todos se unam neste Movimento e possam<br />

aceder a ideias e sugestões para contrariar o<br />

desperdício alimentar”, referiu ainda.


38 outubro <strong>2020</strong><br />

Os números da vergonha<br />

O desperdício alimentar é uma realidade<br />

chocante, com impactos a vários níveis<br />

(ambiental, económico e social) e a estratégia<br />

delineada para a Economia Circular pela União<br />

Europeia, inclui e olha para este objectivo<br />

numa perspectiva integrada. Um terço da<br />

comida que se produz está condenada ao<br />

desperdício e 17% da comida é deitada fora<br />

ainda antes de chegar aos consumidores.<br />

O desperdício de alimentos é responsável<br />

pela emissão de gases de efeito de estufa<br />

equivalente à rede global dos transportes<br />

terrestres, contribuindo para o aquecimento<br />

global. E, como se isto já fosse pouco,<br />

vale ainda a pena acrescentar que se este<br />

desperdício fosse aproveitado, seria suficiente<br />

para alimentar dois mil milhões de pessoas,<br />

ou seja, daria para dar de comer duas vezes<br />

a todos aqueles que passam fome em todo o<br />

mundo.<br />

Na Europa, cerca de 88 milhões de<br />

toneladas de alimentos são simplesmente<br />

desaproveitados anualmente, com um custo<br />

estimado de 143 mil milhões de euros. Em<br />

Portugal, embora não existam dados oficiais,<br />

estima-se que 1 milhão de toneladas de<br />

alimentos sejam deitados para o lixo. Ou seja,<br />

alimentos que dariam para alimentar as 360<br />

mil pessoas com carências alimentares no<br />

nosso país, o que levou aliás à publicação<br />

de um conjunto de medidas no âmbito da<br />

Comissão Nacional de Combate ao Desperdício<br />

Alimentar.<br />

Para sensibilizar a comunidade, as várias<br />

entidades que se associaram na fundação<br />

do Movimento propõem-se reunir e dar<br />

visibilidade às boas práticas já existentes<br />

através de uma plataforma online, www.<br />

unidoscontraodesperdicio.pt , convidar<br />

à adesão e participação todos os que<br />

queiram comprometer-se neste desafio,<br />

disseminar a mensagem aos mais jovens e<br />

solicitar contributos e ideias para diminuir o<br />

desperdício de alimentos.<br />

A tecnologia junta-se ao<br />

combate<br />

O Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ)<br />

participou no kickoff do projecto BIOMA –<br />

Soluções integradas de BIOeconomia para<br />

a Mobilização da cadeia Agroalimentar, que<br />

tem como objectivos promover a adopção<br />

de soluções tecnológicas na cadeia de<br />

valor agroalimentar, reduzir o desperdício<br />

alimentar, valorizar resíduos e subprodutos<br />

agroalimentares para o desenvolvimento<br />

de produtos de base biológica, apoiar as<br />

prioridades e aspirações do desenvolvimento<br />

sustentável global para 2030 (objectivos de<br />

desenvolvimento sustentável – ODS), suportar<br />

a estratégia nacional para a Bioeconomia<br />

e contribuir para a estratégia nacional e<br />

europeia de digitalização da indústria.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

No âmbito do BIOMA, “iremos desenvolver<br />

ferramentas para avaliar e promover a<br />

sustentabilidade e a maturidade bioeconómica<br />

da cadeia agroalimentar, recolhendo<br />

informação técnico-económica detalhada dos<br />

casos de estudo e classificando os diversos<br />

pilares de sustentabilidade, nomeadamente,<br />

vertente ambiental, económica, social e de<br />

governança. A maturidade bioeconómica<br />

estará focada essencialmente na avaliação<br />

da digitalização do sector e potencial<br />

implementação de soluções inovadoras, que<br />

adicionalmente contemplem as visões de<br />

economia circular e simbiose industrial e<br />

processual”, explica João Ribau, responsável<br />

de I&D do ISQ.<br />

Uma ferramenta essencial que surgirá do<br />

projecto é a plataforma que irá monitorizar<br />

e reduzir o desperdício alimentar, através<br />

da análise de dados recolhidos ao longo da<br />

cadeia agroalimentar, determinando quais<br />

as actividades e produtos que conduzem a<br />

maior desperdício, mas também identificando<br />

metodologias que visem reduzir os<br />

desperdícios ou transformá-los em subprodutos<br />

necessários para outros processos.<br />

“Igualmente importante, será o<br />

desenvolvimento de uma solução BIOtrace<br />

para rastreabilidade remota de produtos ao<br />

longo da cadeia alimentar, nomeadamente no<br />

seu transporte e conservação, promovendo<br />

a manutenção da qualidade dos produtos”,<br />

refere ainda o mesmo responsável do ISQ.<br />

Por fim, o ISQ irá também dinamizar o<br />

conceito BIOecosystem, nomeadamente com<br />

plataformas de “Marketplace” e “Test before<br />

invest”, onde será promovida a comunicação<br />

entre stakeholders ao longo da cadeia de<br />

valor, promoção de soluções e novos produtos<br />

e delineação de campos de teste bem como<br />

demonstração de soluções em ambiente real.<br />

De realçar que segundo dados da<br />

Organização das Nações Unidas Para a<br />

Alimentação e a Agricultura (FAO), “todos<br />

os anos um terço da produção alimentar é<br />

desperdiçada no mundo”. Para contrariar este<br />

problema mundial, com impactos a vários<br />

níveis, surgiu recentemente o “Unidos Contra o<br />

Desperdício”, um movimento cívico e nacional,<br />

congregador e agregador, que une a sociedade<br />

num combate activo e positivo ao desperdício<br />

alimentar, reforçando a importância de cada<br />

um de nós nesta luta.<br />

Também o ISQ aderiu ao Movimento Unidos<br />

Contra o Desperdício, comprometendo-se,<br />

deste modo a adoptar medidas que permitam<br />

a efectiva redução do desperdício alimentar<br />

nos vários estádios em que este é gerado. •


40 outubro <strong>2020</strong><br />

procurement<br />

Thirty3<br />

Londres partilha<br />

plataforma de aquisição de<br />

tecnologia<br />

Os 33 “local councils” de Londres contam agora com uma nova<br />

plataforma de compras para a área tecnológica, de modo a<br />

diversificar o seu portefólio de fornecedores de IT, que por<br />

sua vez também passam a ter acesso à mesma plataforma<br />

para colocar todos os contratos de IT em todos os bairros de<br />

Londres. A nova plataforma ajudará a licitar contratos e apoiar<br />

a vontade do governo local de utilizar um leque mais alargado<br />

de fornecedores.<br />

Texto: Fábio Santos<br />

A<br />

necessidade de diversificação de<br />

fornecedores deve-se a 90% dos contratos<br />

de IT do sector público serem detidos<br />

por apenas 15 fornecedores, pelo que a<br />

plataforma Thirty3, lançada na London Tech<br />

Week veio expandir as possibilidades das<br />

entidades governamentais da região e criar<br />

oportunidades para as Pequenas e Médias<br />

Empresas (PME) poderem também competir.<br />

A Thirty3 proporciona às PME uma<br />

visão agregada das oportunidades de<br />

aquisição e fornece informações mais<br />

claras às organizações do sector público da<br />

cidade sobre os produtos disponíveis, e as<br />

oportunidades são esclarecidas através da<br />

visualização de informações sobre processos<br />

de contratação pública, frequentemente<br />

intimidantes.<br />

A plataforma foi fundada pela London<br />

Economic Action Partnership e pelo London<br />

Growth Hub, e desenvolvida pelas Greater<br />

London Authority e London startup Nitrous em<br />

parceria com o London Office of Technology<br />

and Innovation (LOTI).<br />

Compromisso partilhado<br />

O chief digital officer de Londres, Theo<br />

Blackwell, afirmou que “a Thirty3 irá deixar<br />

Londres mais aberta para a inovação ao criar<br />

uma plataforma para toda a cidade para<br />

compreender as necessidades tecnológicas<br />

ao longo do sector público pela primeira


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

vez. Isto irá diversificar as infra-estruturas<br />

tecnológicas, melhorar os serviços para<br />

os londrinos e ajudar os órgãos públicos a<br />

poupar dinheiro”.<br />

De acordo com um comunicado do<br />

gabinete do presidente de Londres, Sadiq<br />

Khan, a plataforma “é um exemplo de um<br />

compromisso partilhado para apoiar as<br />

PME em Londres - e dar às organizações<br />

governamentais um maior poder de compra,<br />

maior personalização e escolha na procura<br />

de tecnologia para garantir que Londres<br />

continua a ser um centro de inovação”.<br />

A Thirty3 irá deixar Londres mais<br />

aberta para a inovação ao criar<br />

uma plataforma para toda a cidade<br />

para compreender as necessidades<br />

tecnológicas ao longo do sector<br />

público pela primeira vez<br />

Theo Blackwell<br />

“Sharing cities”<br />

De acordo com o autarca, também estão a<br />

preparar uma série de “playbooks”, guias<br />

destinados a ajudar o sector público a<br />

aproveitar a inovação tecnológica, resultado<br />

de um projecto financiado pela UE e liderado<br />

pelo próprio, chamado Sharing Cities, que<br />

analisa os desenvolvimentos das cidades<br />

inteligentes em Londres, Lisboa e Milão.<br />

Os primeiros playbooks documentam<br />

as experiências de implementação das<br />

iniciativas de cidades inteligentes existentes,<br />

e irão abranger a partilha de bicicletas<br />

electrónicas, o mercado social digital, a<br />

adaptação energética para edifícios, sistemas<br />

de gestão de energia sustentáveis e a<br />

internet das coisas.<br />

Theo Blackwell comenta que “este é o<br />

tipo de colaboração que nos ajudará a usar<br />

soluções inteligentes para encarar alguns<br />

dos problemas mais urgentes que Londres<br />

enfrenta - e ajudar a criar uma cidade mais<br />

inteligente, à prova de futuro e digitalmente<br />

inclusiva”.<br />

O LOTI, lançado em Junho do ano passado,<br />

está a liderar uma série de iniciativas digitais<br />

em Londres, tendo o chief digital officer<br />

considerado que este tem “um papel crucial<br />

na mobilização do sector da tecnologia da<br />

capital”. No seu lançamento, Theo Blackwell<br />

comentou mesmo que “o nosso trabalho em<br />

conjunto dá o próximo passo na colaboração<br />

em toda a cidade, apoiando os blocos comuns<br />

- de partilha de dados, liderança, talento,<br />

criação e partilha de serviços digitais em<br />

conjunto - de que Londres precisa à medida<br />

que passamos por um período de rápida<br />

mudança tecnológica”. •<br />

Este é o tipo de colaboração que<br />

nos ajudará a usar soluções<br />

inteligentes para enfrentar alguns<br />

dos problemas mais urgentes<br />

Theo Blackwell


42 outubro <strong>2020</strong><br />

procurement<br />

Compromisso<br />

com o planeta<br />

Texto: Ana Paiva<br />

BMW quer ter a cadeia de<br />

abastecimento mais sustentável<br />

A sustentabilidade está a começar a ganhar peso dentro de algumas empresas, e a BMW é<br />

uma delas. A empresa alemã estabeleceu a meta de reduzir as emissões de CO2 e uma das<br />

medidas passa por seleccionar os seus fornecedores com base na pegada carbónica. Uma<br />

decisão que pode fazer a diferença.<br />

Reduzir as emissões de carbono da<br />

produção e dos sites em 80% por veículo<br />

é uma das metas da BMW que acredita<br />

que, se conseguir alcançar esta meta,<br />

conseguirá ter a cadeia de abastecimento<br />

mais sustentável da indústria automóvel.<br />

Oliver Zipse, presidente do conselho de<br />

administração da BMW, refere que uma parte<br />

fundamental da estratégia da empresa era<br />

o desenvolvimento de veículos eléctricos.<br />

“A principal alavanca aqui é uma estratégia<br />

abrangente com expansão maciça da<br />

e-mobilidade: em 10 anos, a meta é ter mais<br />

de sete milhões de veículos electrificados do


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

grupo BMW nas estradas”, conta.<br />

Contudo, a empresa reconhece que, devido<br />

à intensidade energética da produção de<br />

baterias de alta tensão, seria impossível<br />

atingir as metas de emissões de CO2 sem<br />

uma intervenção na cadeia de abastecimento.<br />

Desta forma, a BMW decidiu definir a pegada<br />

carbónica de um fornecedor como um critério<br />

de decisão nos processos de concessão<br />

de contratos. A empresa acredita que esta<br />

medida a tornará a primeira fabricante de<br />

automóveis a estabelecer metas concretas de<br />

CO2 para a sua cadeia de abastecimento, que<br />

consiste em cerca de 12.000 fornecedores de<br />

primeiro nível, e com gastos de mais de 60<br />

mil milhões de euros por ano. Oliver Zipse<br />

salienta que “o nosso objectivo é garantir a<br />

cadeia de abastecimento mais sustentável de<br />

toda a indústria”.<br />

A marca alemã afirmou já ter acordado com<br />

os fabricantes de células que apenas podem<br />

utilizar energia verde para produzir células de<br />

bateria de quinta geração, economizando 10<br />

milhões de toneladas de CO2 nos próximos<br />

10 anos, “a empresa irá, nos próximos anos,<br />

trabalhar com os seus fornecedores de<br />

componentes e matérias-primas para fazer o<br />

mesmo em toda a cadeia de abastecimento”,<br />

conta o responsável. Desta forma, o grupo<br />

visa garantir que os seus parceiros lutam<br />

contra as mudanças climáticas com a mesma<br />

determinação.<br />

Com o crescimento da mobilidade eléctrica<br />

será necessário prestar mais atenção ao valor<br />

acrescido a fim de reduzir as emissões de<br />

CO2, por exemplo, considerando a produção<br />

intensiva de baterias de alta-tensão. Sem<br />

medidas correctivas, a parcela crescente<br />

de veículos electrificados significaria<br />

que as emissões por veículo da cadeia de<br />

abastecimento da BMW, aumentariam em<br />

A principal alavanca<br />

aqui é uma estratégia<br />

abrangente com expansão<br />

maciça da e-mobilidade: em<br />

10 anos, a meta é ter mais<br />

de 7 milhões de veículos<br />

electrificados do grupo<br />

BMW nas estradas<br />

Oliver Zipse<br />

mais de um terço até 2030. A empresa não<br />

só quer evitar esse aumento, como também<br />

reduzir as emissões por veículo em 20% em<br />

relação a 2019.<br />

Oliver Zipse refere que o conselho de<br />

administração e os executivos de gestão<br />

medem o seu próprio desempenho em<br />

relação às metas de sustentabilidade,<br />

“não estamos apenas a fazer declarações<br />

abstractas. Desenvolvemos um plano<br />

detalhado de 10 anos com metas anuais<br />

intermediárias para o período até 2030.<br />

A remuneração do nosso conselho de<br />

administração e da directoria executiva<br />

também estará vinculada a isso”. Acrescenta<br />

ainda que a empresa visa reduzir as emissões<br />

por veículo em, pelo menos, um terço em<br />

todo o espectro: “para uma frota de cerca<br />

de 2,5 milhões de veículos, conforme<br />

produzida pelo grupo BMW em 2019, isso<br />

corresponderia a uma redução de mais de 40<br />

milhões de toneladas de CO2 ao longo do<br />

ciclo de vida em 2030”, refere.


44<br />

O nosso objectivo é claro: queremos fechar ainda mais os ciclos<br />

materiais para proteger os recursos finitos da natureza e usá-los<br />

de forma ainda mais eficiente<br />

Economia circular<br />

Além de reduzir as emissões de CO2, a gestão<br />

de recursos também desempenha um papel<br />

central no modelo de negócios da BMW.<br />

A electromobilidade não pode depender<br />

apenas de materiais primários a longo prazo.<br />

O fluxo de recursos subjacente precisa de<br />

mudar. Ao tornar a cadeia de reciclagem mais<br />

transparente, a empresa visa criar material<br />

secundário de alta qualidade, e rastrear o uso<br />

real de matérias-primas no ciclo. “O nosso<br />

objectivo é claro: queremos fechar ainda mais<br />

os ciclos materiais para proteger os recursos<br />

finitos da natureza e usá-los de forma ainda<br />

mais eficiente”, afirma Oliver Zipse.<br />

Actualmente, já é necessário que os<br />

veículos sejam 95% recicláveis, mas a<br />

percentagem de material secundário em<br />

veículos novos ainda é relativamente baixa.<br />

É por isso que a BMW planeia aumentar<br />

significativamente a participação de material<br />

secundário nos seus veículos até 2030 - e<br />

também está a explorar outros cenários mais<br />

abrangentes. O material secundário reduz<br />

substancialmente as emissões de CO2 em<br />

comparação com os materiais primários.<br />

Minimizar a quantidade necessária de nova<br />

extração também é essencial para conservar<br />

Oliver Zipse<br />

recursos e reduzir o potencial de conflito,<br />

especialmente para matérias-primas críticas.<br />

A economia circular desempenha um papel<br />

particularmente importante quando se trata<br />

de baterias de alta tensão para veículos<br />

eléctricos que usam uma série de matériasprimas<br />

críticas. Embora a União Europeia<br />

exija actualmente uma taxa de reciclagem<br />

de apenas 50% para baterias de alta tensão,<br />

a empresa alemã realizou uma parceria<br />

com o especialista em reciclagem alemão<br />

Duesenfeld para desenvolver um método<br />

que pode atingir uma taxa de reciclagem<br />

de até 96%. A BMW já aceita de volta<br />

todas as baterias de alta tensão usadas da<br />

marca em todo o mundo - embora não haja<br />

nenhuma exigência legal para isso. Antes da<br />

reciclagem, dá-se uma segunda vida.<br />

A empresa está também a testar<br />

ferramentas digitais para rastrear e verificar<br />

fluxos globais de mercadorias, como a<br />

tecnologia blockchain. O projecto PartChain,<br />

por exemplo, permite a recolha de dados<br />

invioláveis e consistentemente verificável<br />

na cadeia de abastecimento. No futuro,<br />

as matérias-primas críticas, em particular,<br />

poderiam ser rastreadas desde a mina até à<br />

fundição. •


45


46<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: C. M. Torres Vedras<br />

procurement<br />

Procura+ Awards <strong>2020</strong><br />

Programa de<br />

Sustentabilidade na Alimentação<br />

Escolar entre os finalistas<br />

‘Programa de Sustentabilidade na Alimentação Escolar’. É este o projecto,<br />

desenvolvido pela Câmara Municipal de Torres Vedras, que se apurou entre<br />

os finalistas dos Prémios Procura+ Awards <strong>2020</strong>, um concurso que reconhece<br />

sistemas de compras públicas já implementados, que se distinguem pela inovação<br />

e sustentabilidade, e que resultam em melhorias significativas em bens e serviços<br />

públicos, processos e infra-estruturas. Com o foco na promoção das refeições<br />

escolares saudáveis, este programa apoia-se em produções biológicas locais não só<br />

para confeccionar refeições saudáveis, mas também para promover o emprego local.<br />

Apesar de não ter vencido a categoria de<br />

‘Sustainable Procurement’, para a qual<br />

estava nomeado finalista, este é, sem<br />

dúvida, um projecto vencedor. O ‘Programa<br />

de Sustentabilidade na Alimentação<br />

Escolar’ (PSAE), criado pelo município<br />

em 2014, distingue-se por uma causa<br />

importante: proporcionar refeições escolares<br />

saudáveis tendo em conta os princípios<br />

da sustentabilidade social, nutricional,<br />

ambiental e económica, traduzindo-se na<br />

frescura e sazonalidade dos produtos, no<br />

desenvolvimento territorial e na criação de<br />

emprego local.<br />

Paula Rodrigues, técnica superior na área<br />

de Alimentação e Refeitórios, da Divisão<br />

de Educação e Actividade Física, explica<br />

que este projecto se divide em quatro eixos


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

estratégicos: produção, aquisição, confecção<br />

e consumo e hábitos alimentares saudáveis.<br />

A produção realiza-se através do ‘Programa<br />

BioHorta Escolar’, que promove acções de<br />

sensibilização sobre a produção agroecológica,<br />

bem como o desenvolvimento de hortas<br />

em contexto escolar, segundo os princípios<br />

da agricultura biológica. Neste caso, “os<br />

produtos resultantes poderão ter vários fins<br />

perante a organização e decisão da escola<br />

em causa: consumo no refeitório, cabazes<br />

para comercialização às famílias, ofertas a<br />

Instituições Privadas de Solidariedade Social<br />

(IPSS)…”, refere a responsável. Além disso, são<br />

ainda realizadas visitas de estudo a quintas<br />

de produção biológica da região, permitindo,<br />

assim, o contacto directo com produtores<br />

locais, alguns dos quais são fornecedores dos<br />

refeitórios escolares. O ‘BioHorta’ abrangeu<br />

cerca de 1.200 alunos do ensino pré-escolar e<br />

1.º ciclo do ano lectivo 2019-<strong>2020</strong>.<br />

Menor pegada ecológica<br />

No que diz respeito ao segundo ponto, a<br />

aquisição, o município prefere dar preferência<br />

aos pequenos e médios produtores/<br />

/fornecedores da região na compra das<br />

matérias-primas, de forma a promover o<br />

desenvolvimento territorial e a criação de<br />

emprego local, priorizando-se os produtos<br />

frescos, sazonais e de elevada quantidade.<br />

Paula Rodrigues refere que, para o efeito,<br />

“as matérias-primas são divididas por lotes,<br />

com a atribuição de créditos de adjudicação<br />

específicos como sendo, por exemplo:<br />

a frescura, medida através do tempo de<br />

transporte do local de produção ao local de<br />

consumo; a entrega de produtos a granel<br />

(quando aplicável); e a reutilização dos<br />

materiais e a prevenção dos desperdícios, que<br />

se reflectem numa menor pegada ecológica”.<br />

Relativamente à confecção, o município<br />

faz a gestão directa das suas cozinhas<br />

que fornecem cerca de 1.300 refeições<br />

por dia às escolas da freguesia da cidade,<br />

nomeadamente jardins de infância e primeiro<br />

ciclo. Para as restantes desenvolveu-se uma<br />

estratégia de delegação de competências às<br />

restantes 12 juntas de freguesia do concelho,<br />

que através do trabalho em rede contratam<br />

o serviço de confecção e distribuição de<br />

IPSS locais, reflectindo-se na promoção da<br />

empregabilidade local. No ano lectivo 2019-<br />

<strong>2020</strong> atingiram-se cerca de 2.700 refeições<br />

diárias fornecidas por estas entidades.<br />

O último ponto, consumo e hábitos<br />

alimentares saudáveis, consiste no transporte<br />

das refeições até ao local de consumo,<br />

ou seja, o refeitório de cada escola, em<br />

contentores isotérmicos, e, paralelamente,<br />

em programas direccionados para as crianças,<br />

com o objectivo de fomentar bons hábitos<br />

alimentares e associá-los a questões de saúde.<br />

A aposta na educação alimentar<br />

é a visão para a garantia de<br />

uma geração mais informada e<br />

sensibilizada para as questões<br />

da importância da alimentação<br />

enquanto promotora da saúde<br />

e bem-estar, bem como do seu<br />

impacto ambiental da produção<br />

para o combate ao desperdício<br />

alimentar<br />

Paula Rodrigues


48<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

“Ganhos reais”<br />

“O programa foi criado tendo em conta a visão<br />

estratégica política em 2007, ano em que o<br />

município ficou responsável pela gestão das<br />

refeições dos níveis de pré-escolar e 1.º ciclo.<br />

Neste sentido, o município priorizou,<br />

desde logo, a qualidade das refeições e a<br />

promoção da economia social e local, duas<br />

áreas que se interligavam e que tinham<br />

aqui a oportunidade perfeita para serem<br />

promovidas”, explica Paula Rodrigues.<br />

Assim, desenvolveram-se duas estratégias<br />

paralelas para dar a melhor resposta ao<br />

serviço da gestão directa das refeições:<br />

a criação de duas cozinhas municipais<br />

responsáveis pelas refeições das escolas<br />

da freguesia da cidade que promovem a<br />

aquisição dos bens alimentares a pequenos<br />

e médios produtores da região através de<br />

critérios de qualidade e sustentabilidade,<br />

no caderno de encargos do sistema público<br />

concursal; e a delegação de competências<br />

às juntas de freguesia, resultando na criação<br />

de uma rede de parceiros locais. Por sua vez,<br />

as juntas, contratam o serviço de refeições,<br />

nomeadamente a confecção e distribuição, às<br />

Instituições Privadas de Solidariedade Social<br />

das suas localidades. De acordo com Paula<br />

Rodrigues, “este tipo de serviço promove,<br />

não só a economia local, uma vez que as<br />

IPSS adquirem as matérias-primas aos seus<br />

fornecedores locais, assim como a economia<br />

social através do aumento da empregabilidade<br />

aos seus habitantes”.<br />

Quando questionada sobre os ganhos que<br />

esperam obter a partir desta iniciativa, a<br />

responsável confirma que existem, de facto,<br />

“ganhos reais” ao nível do desenvolvimento<br />

do tecido económico e social do concelho<br />

refletindo-se, por exemplo, na criação de cerca<br />

de 60 postos de trabalho ao nível das IPSS<br />

para executar este serviço de refeições. Por<br />

sua vez, a qualidade das refeições também<br />

são um ganho directo, uma vez que são<br />

confeccionadas com alimentos frescos locais,<br />

tendo em conta a sazonalidade, e produtos<br />

biológicos. “A aposta na educação alimentar é<br />

a visão para a garantia de uma geração mais<br />

informada e sensibilizada para as questões<br />

da importância da alimentação enquanto<br />

promotora da saúde e bem-estar, bem como<br />

do seu impacto ambiental da produção<br />

para o combate ao desperdício alimentar”,


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

este tipo de serviço promove, não<br />

só a economia local, uma vez que<br />

as IPSS adquirem as matériasprimas<br />

aos seus fornecedores<br />

locais, assim como a economia<br />

social através do aumento<br />

da empregabilidade aos seus<br />

habitantes<br />

Paula Rodrigues<br />

refere Paula Rodrigues, apontando ainda<br />

a importância do “contacto directo com os<br />

ciclos naturais dos alimentos, as épocas de<br />

cultivo/consumo e as técnicas produtivas mais<br />

sustentáveis, através das hortas escolares e<br />

das visitas de estudo a quintas de produção<br />

biológica”.<br />

Em relação à classificação nos Prémios<br />

Procura+ Awards <strong>2020</strong>, a responsável<br />

confessa que esta distinção é um grande<br />

orgulho, pelo trabalho realizado diariamente<br />

em função dos mais jovens, de forma a<br />

garantir-lhes uma melhor qualidade nas<br />

refeições escolares, bem como a promoção<br />

para a literacia alimentar. “É um novo voto<br />

de confiança na estratégia prosseguida que,<br />

por outro lado, responsabiliza ainda mais o<br />

município na prossecução dos objectivos da<br />

sustentabilidade e da saúde dos mais jovens”,<br />

conclui. •


50<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

intralogística<br />

Beiersdorf e LPR<br />

Estudo Korber<br />

a complexidade<br />

da supply chain em <strong>2020</strong><br />

Para entender melhor quais os desafios que mais tiram o sono aos profissionais da supply chain, a<br />

Korber lançou o estudo ‘Supply Chain Complexity’, baseado nos testemunhos de vários profissionais<br />

da área, para determinar como cada um lida com a complexidade da cadeia de abastecimento.<br />

Abordaram ainda profissionais individuais para sentir a constante evolução do negócio.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Korber<br />

Actualmente pode-se resumir a cadeia<br />

de abastecimento através de uma só<br />

palavra: mais. Mais SKU’s, mais procura.<br />

Simultaneamente, os profissionais da supply<br />

chain estão a aprender a fazer mais com<br />

menos. Estão a aprender como automatizar<br />

o picking, a ‘labor pool’ e o espaço, já lotado,<br />

para maximizar a metragem quadrada.<br />

Cada um destes processos envolve novas<br />

tecnologias que têm de funcionar com<br />

os sistemas já existentes porque um<br />

pequeno contratempo pode interromper<br />

significativamente actividades na cadeia de<br />

abastecimento.<br />

Desta forma, a Korber tentou perceber,<br />

através de vários testemunhos, quais os<br />

principais desafios para os profissionais de<br />

supply chain, resultando num estudo do qual<br />

se retiram cinco insights importantes.<br />

A complexidade da supply chain é<br />

um desafio global a crescer<br />

Os profissionais da supply chain, em todo<br />

o mundo, estão a relatar um aumento em<br />

complexidade, trabalhando mais do que nunca<br />

para transportar mercadorias desde a fábrica<br />

para o armazém, até à última milha. Metade<br />

dos inquiridos referiu que a sua complexidade<br />

cresceu no ano passado.<br />

A maioria dos profissionais afirma que<br />

ainda estão a tentar actualizar-se e,<br />

surpreendentemente, 91% dos profissionais<br />

sentem que os seus negócios não conseguem<br />

acompanhar os grandes desafios da supply<br />

chain. Pouco mais de metade dize que podem<br />

gerir, no máximo, um desafio de cada vez.<br />

Dificuldades em integrar as supply<br />

chains<br />

Construir a melhor supply chain tem sido<br />

sempre um puzzle, mas nos últimos tempos<br />

esse puzzle aumentou de 50 peças para 500.<br />

Quase metade dos profissionais referiu<br />

que integrar diferentes componentes da sua<br />

supply chain está entre os maiores desafios.<br />

Por outro lado, 46% dizem que estão a gerir<br />

a complexidade em torno da integração de<br />

ponta-a-ponta, conectando as suas fábricas<br />

com a última milha. Para muitos profissionais


52 OUTUBRO <strong>2020</strong><br />

a integração não é só uma complexidade: é<br />

a maior de todas. Quando dada a opção de<br />

acenar uma varinha mágica para eliminar<br />

apenas um desafio da supply chain, um<br />

em cinco refere que terminaria com a<br />

complexidade em torno da integração de<br />

ponta-a-ponta.<br />

A procura do cliente não<br />

estabilizou, cresceu em<br />

complexidade<br />

Não há dúvida que as expectativas do<br />

consumidor têm aumentado, como se de uma<br />

corrida de negócios se tratasse, para obter as<br />

melhores vantagens de envio.<br />

Mas mesmo após a Amazon ter introduzido<br />

portes grátis de dois dias através da Prime,<br />

os profissionais da supply chain são agora<br />

desafiados a acompanhar.<br />

Quase um em dois referiu que estão<br />

preocupados com desafios como a velocidade<br />

(com que rapidez é possível colocar uma<br />

encomenda à porta do cliente), como<br />

pode chegar lá sem passar taxas, e como<br />

acompanhar os gostos inconstantes dos<br />

meus clientes. Para muitos profissionais estes<br />

desafios caminham para a logística inversa.<br />

Os negócios continuam a procurar formas<br />

de agilizar devoluções, recebendo produtos<br />

utilizáveis de volta e emitindo reembolsos<br />

rapidamente. Quase um em três respondeu<br />

que uma das grandes complexidades é lidar<br />

com devoluções.<br />

“A nossa empresa está alinhada com a<br />

missão mais importante: manter o cliente<br />

primeiro, conduzindo mais valor para eles.<br />

Encaramos a optimização dos processos da<br />

supply chain como absolutamente críticos para<br />

essa missão” – project manager na JYSK.


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

Aproximadamente um em<br />

cada quatro profissionais<br />

da supply chain ainda<br />

depende inteiramente do<br />

manual algures no seu<br />

armazém<br />

Processos manuais ainda<br />

predominam<br />

As tecnologias de automação estão a<br />

facilitar a vida aos armazéns, possibilitando<br />

recolher, embalar e enviar com eficiência,<br />

mas apenas se os profissionais da supply<br />

chain investirem neles. A grande maioria<br />

ainda não está totalmente interessada em<br />

robôs. Aproximadamente um em cada quatro<br />

profissionais da supply chain ainda depende<br />

inteiramente do manual algures no seu<br />

armazém.<br />

Embalar e enviar são as funções mais<br />

automatizadas. Ainda assim, menos de 1/3<br />

dos profissionais dizem que esses processos<br />

são totalmente automatizados. Os desafios do<br />

manual começam bem antes do embalamento:<br />

34% ainda dependem inteiramente de<br />

métodos manuais para a recepção; 28% para<br />

armazenar; e 24% para picking.<br />

‘The C-suite como suporte<br />

Em toda a complexidade que rodeia a cadeia<br />

de abastecimento actualmente, ainda existem<br />

boas notícias: os profissionais de logística<br />

podem contar com o apoio da liderança<br />

sénior. Isto também é um pouco crítico<br />

porque actualizar o armazém e a última milha<br />

através da tecnologia, este custo terá de<br />

estar integrado nos orçamentos dos próximos<br />

anos. 73% dos profissionais concordou com<br />

a afirmação ‘na sua organização, executivos<br />

seniores vêem a supply chain como uma<br />

missão crítica’.<br />

A supply chain está a ficar mais complexa<br />

para todos, mas não ao mesmo ritmo. Existe<br />

um acordo generalizado que as cadeias<br />

de abastecimento estão a aumentar a<br />

complexidade, mas essa complexidade<br />

apresenta-se de forma diferente entre os<br />

negócios. Na manufactura, 45% dos inquiridos


54<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

revelam que os desafios mais frequentes<br />

passam pela integração de funções na cadeia<br />

de abastecimento, 42% acredita que passa<br />

pela optimização de fluxos de trabalho e<br />

processos, e 40% refere que é ir ao encontro<br />

das expectativas do consumidor. Por sua vez,<br />

estas mesmas categorias foram apontadas<br />

por operadores logísticos, em 53%, 48% e<br />

39%, respectivamente. Por último, na área<br />

do retalho, 55% afirma que os desafios<br />

passam por integrar funções na cadeia de<br />

abastecimento, bem como ir ao encontro das<br />

expectativas do consumidor, 42% aponta<br />

a integração de softwares, hardwares e<br />

tecnologia, e 24% a optimização de fluxos de<br />

trabalho e processos.<br />

Em género de conclusão, a Korber explica<br />

que o grupo de profissionais da supply chain<br />

inquirido encontra-se em pontos distintos<br />

da sua jornada em direcção a uma maior<br />

eficiência: alguns ainda estão a escolher<br />

os artigos manualmente, enquanto outros<br />

dependem de robôs para realizar o trabalho.<br />

Uns têm problemas a lidar com devoluções,<br />

enquanto outros implementaram um sistema<br />

que oferece reembolsos rapidamente. •<br />

91%<br />

...dos seus negócios não<br />

conseguem ficar à frente<br />

das complexidades da cadeia<br />

de abastecimento


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Tecnologias<br />

Portugal Digital<br />

Summit’20<br />

O impacto do incremento<br />

do digital na logística<br />

A Associação da Economia Digital (ACEPI) promoveu e realizou, mais um<br />

ano, o Portugal Digital Summit’20, um evento que aborda a economia e a<br />

transformação digital em Portugal, que ocorreu do dia 19 a 23 de <strong>Outubro</strong>,<br />

integrado no Portugal Digital Week’20. O evento contou com transmissão<br />

directa através da internet, uma medida impulsionada pela pandemia de<br />

COVID-19. O e-commerce foi um tema recorrente entre as sessões, mas a<br />

logística também teve os seus momentos debaixo do holofote.


56<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: ACEPI<br />

Um dos tópicos abordados no evento<br />

focou-se no impacto que o digital teve<br />

na logística durante a pandemia. Pedro<br />

Santos, director de e-commerce da Sonae<br />

Modelo Continente, e Carla Pereira, directora<br />

de marketing da DPD, explicaram como a<br />

resiliência e a inovação permitem ultrapassar<br />

barreiras inesperadas nos negócios.<br />

Carla Pereira referiu que “tivemos de<br />

nos adaptar de uma forma muito rápida, o<br />

que envolveu desde a criação de soluções<br />

contactless à reformulação do posto de<br />

trabalho, e isso permitiu-nos ultrapassar as<br />

complicações que nos foram sendo criadas”.<br />

Por outro lado, gerou-se também algumas<br />

vantagens, como ganhar cinco a 10 anos<br />

de experiência, “ganhámos confiança e<br />

credibilidade junto dos portugueses, que<br />

se habituaram a fazer compras de forma<br />

ponderada e inteligente e, sobretudo, no made<br />

in Portugal, e muito preocupados também com<br />

a questão ecológica”, acrescentou.<br />

Por sua vez, no caso da Sonae MC, Pedro<br />

Santos afirma ter-se assistido a um pico muito<br />

significativo de tráfego e ainda a existência<br />

de “muitos clientes novos no e-commerce sem<br />

conhecimentos sobre o tema, o que nos fez<br />

reforçar o front-end e o back-end para darmos<br />

resposta a essa procura”.<br />

Durante os seis meses da pandemia, a Sonae


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

MC vendeu vários tipos de<br />

produtos e foi necessário<br />

gerir stocks, apesar de o<br />

fazerem há mais de 35<br />

anos no negócio offline.<br />

No caso concreto do<br />

digital, “assistimos numa<br />

primeira fase a uma<br />

incidência específica no<br />

sector alimentar. Já numa<br />

segunda fase houve um<br />

foco maior na casa, ou seja,<br />

electrodomésticos, jogos<br />

de família e tabuleiro,<br />

espreguiçadeiras e jardim,<br />

para tornar o espaço mais<br />

interessante”.<br />

O tema das devoluções<br />

também mereceu atenção,<br />

pois este é um assunto<br />

mais aceite por quem opta<br />

por comprar online. Pedro<br />

Santos referiu que “é hoje<br />

fácil comprar e também<br />

devolver directamente na<br />

recepção ou mais tarde<br />

numa loja, e isto ajuda a criar confiança<br />

e maior tolerância a eventuais falhas no<br />

processo”. Carla Pereira salientou que “há<br />

muitas soluções para o fazer, como o reverse<br />

logistics que permite um maior conforto para<br />

o cliente no momento da troca”.<br />

A humanização é um dos pontos que permite<br />

ultrapassar estas questões. No caso da DPD,<br />

“os nossos condutores estiveram sempre em<br />

permanente contacto com expedidores como<br />

a Sonae MC, sobretudo no que se refere às<br />

medidas que estávamos a accionar, e também<br />

com os destinatários”, apontou Carla Pereira.<br />

Quanto a novidades, a Sonae MC irá lançar<br />

algumas destinadas a tornar o processo de<br />

ganhámos confiança e<br />

credibilidade junto dos<br />

portugueses, que se habituaram<br />

a fazer compras de forma<br />

ponderada e inteligente e,<br />

sobretudo, no made in Portugal,<br />

e muito preocupados também com<br />

a questão ecológica<br />

Carla Pereira, DPD<br />

compra mais fácil e conveniente para os<br />

clientes, e a DPD está a lançar um serviço<br />

baseado numa rede de cacifos electrónicos,<br />

denominado Out of Home, que irá permitir<br />

aos clientes receber as encomendas de forma<br />

“tecnologicamente inovadora e quando<br />

quiserem”.<br />

Na altura do confinamento fez-se sentir um<br />

grande aumento nas vendas online, um grande<br />

desafio para os retalhistas online como é o<br />

caso da Decathlon e da Auchan.<br />

Francisco Dias, director de e-commerce da<br />

Decathlon, afirmou que sabiam “que ia haver<br />

um pico [nas compras online] e preparámonos<br />

para esse pico”. Ainda assim, o volume<br />

de procura e o crescimento acelerado<br />

surpreenderam.<br />

Deste modo, a crescente procura aliada<br />

à interrupção que existiu nas cadeias de<br />

abastecimento levou, inevitavelmente, a<br />

rupturas de stock e gerou-se a preocupação<br />

de abastecer com a maior velocidade<br />

possível, para ter o maior número de clientes<br />

satisfeitos.


58<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

estamos a falar de passar de uma média de 2000 a 3000 pessoas em<br />

simultâneo na nossa plataforma, para 100 mil ou 150 mil<br />

André Vieira, Auchan Portugal<br />

A sociedade digital em<br />

Portugal<br />

A grande preocupação da população em<br />

ter acesso aos bens de primeira necessidade,<br />

na primeira fase da pandemia, não deixou<br />

espaço para antecipações à Auchan Portugal.<br />

O primeiro desafio foi tecnológico, “estamos<br />

a falar de passar de uma média de 2.000<br />

a 3.000 pessoas em simultâneo na nossa<br />

plataforma, para 100 mil ou 150 mil” partilhou<br />

André Vieira, director de e-commerce e<br />

digital da Auchan Portugal. Colocou-se ainda<br />

o desafio humano de preparar equipas que<br />

conseguissem dar resposta ao volume de<br />

encomendas.<br />

Para Francisco Dias, a grande mudança de<br />

paradigma é passarmos a ver o digital mais<br />

como um serviço para o motor de toda a<br />

actividade do ecossistema. Por outro lado,<br />

o responsável considera que ainda há muito<br />

trabalho a fazer na área do big data, de<br />

automação na logística e na especialização<br />

das pessoas em várias áreas.<br />

A Associação da Economia Digital (ACEPI),<br />

anunciou ainda as principais conclusões da<br />

edição de <strong>2020</strong> do seu estudo ‘Economia e<br />

Sociedade Digital em Portugal’, no Portugal<br />

Digital Summit’20.<br />

Um dos resultados do estudo, que foi<br />

desenvolvido em parceria com a IDC desde<br />

2009, sobre a utilização da internet pelos<br />

consumidores, revela que a população<br />

portuguesa é, cada vez mais, digital. Ao longo<br />

dos últimos anos, a utilização da internet<br />

tem vindo a aumentar e, em 2019, atingiu ¾<br />

dos portugueses. Considerando o efeito da<br />

pandemia COVID-19, espera-se que este ano<br />

ainda chegue a 81% da população.<br />

Quando falamos em internet e pandemia,<br />

há um conceito que não escapa: e-commerce.<br />

O estudo avança que mais de metade dos<br />

utilizadores da internet (51%) já fez compras<br />

online durante o ano passado, e estima-se que<br />

este valor aumente para 57% este ano. Por sua<br />

vez, a intensidade de realizar compras online<br />

aumentou com 73% dos compradores, em<br />

média mais do que três a cinco vezes por mês.<br />

As lojas portuguesas tiveram mais procura<br />

do que os websites estrangeiros devido ao<br />

facto de terem aderido ao formato online.<br />

Esta experiência é determinante para as lojas<br />

online portuguesas, de forma a captarem<br />

mais consumidores, a nível nacional ou


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

internacional. As lojas demonstraram uma<br />

grande evolução nas áreas de eficácia das<br />

modalidades de pagamento, conteúdo e<br />

transparência da informação, métodos de<br />

entrega e carrinho de compras flexível e<br />

intuitivo.<br />

Este estudo estima que o valor do comércio<br />

electrónico B2C tenha ultrapassado os seis mil<br />

milhões de euros em 2019. Já em <strong>2020</strong> esperase<br />

que o valor ronde os oito mil milhões de<br />

euros.<br />

A utilização da internet pelas empresas<br />

também aumentou, uma vez que, no estudo<br />

anterior, apenas 40% das empresas registavam<br />

presença online e, agora, já são 60%. Este<br />

crescimento deve-se, sobretudo, ao aumento<br />

da presença das micro e pequenas empresas<br />

na internet, face ao ano anterior.<br />

Quando se trata de comércio electrónico,<br />

a taxa de empresas de grande dimensão<br />

que vende online situa-se nos 52%,<br />

aproximadamente e, quando questionadas<br />

sobre a perspectiva de evolução do comércio<br />

electrónico, cerca de metade refere que prevê<br />

um crescimento.<br />

As empresas que utilizam o comércio<br />

electrónico para exportar online os seus<br />

produtos e serviços, indicaram que os países<br />

que possuem um maior peso no volume do<br />

comércio electrónico são Espanha e França,<br />

seguidos do Reino Unido e PALOP.<br />

O estudo estima que o valor do comércio<br />

electrónico B2B/B2G ultrapasse os 103 mil<br />

milhões de euros em <strong>2020</strong>. •<br />

IMOVEIS PARA VENDA<br />

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60<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

transporte<br />

Orçamento de Estado<br />

Investimento previsto<br />

para os transportes de<br />

carga em 2021<br />

António Costa já apresentou o Orçamento<br />

de Estado previsto para 2021, e nele<br />

é possível ver quais os investimentos<br />

previstos para o próximo ano. O foco do<br />

artigo é ver quais os impactos na logística,<br />

nomeadamente ao nível dos transportes<br />

rodoviários, ferroviários, marítimos e<br />

fluviais.<br />

Texto: Fábio Santos<br />

É<br />

necessário investimento para avançar com<br />

o país, e também acompanhar a velocidade<br />

dos tempos em que vivemos, mas essa<br />

velocidade pode ser bastante relativa e<br />

dependente do veículo de transporte. Todos<br />

eles têm as suas vantagens perante os<br />

demais, e todos eles também trazem entraves.<br />

Os transportes rodoviários, ferroviários e<br />

marítimos são os principais envolvidos ao nível<br />

da logística no Orçamento de Estado (OE) para<br />

2021, e procurámos perceber e compilar as<br />

previsões esperadas para estes sectores.


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

Rodovia<br />

O investimento previsto para o sector<br />

rodoviário em 2021 é de 74 milhões de euros,<br />

parte de um total de 302 milhões de euros<br />

em investimentos estruturantes. De acordo<br />

com o documento, os principais investimentos<br />

mantêm-se no PETI+Rodoviário (Plano<br />

Estratégico dos Transportes e Infra-estruturas)<br />

e no Programa de Valorização das Áreas<br />

Empresariais, continuando a dar prioridade a<br />

áreas densamente populadas, intervindo de<br />

modo a garantir o descongestionamento do<br />

tráfego.<br />

Em destaque está a aprovação do<br />

investimento conexo à segunda fase da<br />

intervenção na EN14 (Maia), com um<br />

montante previsto de 32 milhões de euros, e<br />

a requalificação integral/duplicação do IP3<br />

entre Coimbra e Viseu, ”intervenção de grande<br />

relevância estrutural para a conectividade e<br />

coesão territorial, e promoção da economia<br />

regional e nacional”. Realça-se ainda o<br />

investimento de 30,4 milhões de euros,<br />

dos quais 20 milhões em 2021, dedicados à<br />

execução da empreitada de ligação rodoviária<br />

entre Escariz e a A32.<br />

“O ano de 2021 ficará ainda marcado como<br />

o ano de arranque de um período excepcional<br />

de investimento rodoviário ao abrigo do plano<br />

de Recuperação e Resiliência em preparação”,<br />

pode-se ainda ler no documento.<br />

Marítimo e fluvial<br />

O Orçamento de Estado tem previsto grandes<br />

investimentos para o transporte marítimo,<br />

sobretudo referentes ao Porto de Sines, que<br />

tem um grande destaque no OE, e onde as<br />

principais acções e medidas de política a<br />

desenvolver são sustentadas, na sua maioria,<br />

por projectos integrados na Estratégia para<br />

o Aumento da Competitividade da Rede de<br />

Portos Comerciais do Continente.<br />

O primeiro destaque do OE vai para a fase 3<br />

do Terminal XXI, um projecto iniciado em <strong>2020</strong><br />

que, em parte, é suportada pela componente<br />

privada, relativamente à realização de obras<br />

de expansão do cais, já em curso, e à aquisição<br />

de novos pórticos, e por outro lado, pela<br />

componente pública, no que toca à obra de<br />

ampliação do molhe leste do Porto de Sines, à<br />

obra de requalificação do ramal ferroviário do<br />

Porto de Sines e à ampliação da rede eléctrica<br />

para alta tensão (60kV), estando as duas<br />

primeiras já em execução.<br />

Está também prevista a construção do<br />

novo Terminal Vasco da Gama, dedicado<br />

aos contentores. O concurso foi lançado em<br />

<strong>Outubro</strong> de 2019 e prolongado até Abril de<br />

2021, seguindo-se os processos de análise de<br />

propostas e a selecção dos concorrentes para<br />

negociação.<br />

Relativamente ao porto de Portimão, está<br />

ainda prevista a melhoria das acessibilidades<br />

marítimas e infra-estruturas portuárias. A<br />

dragagem do canal do porto de primeiro<br />

estabelecimento prevê-se que tenha início em<br />

2021.<br />

Em Sines, a reconversão do Terminal<br />

Multipurpose que devido ao desaparecimento<br />

de tráfego de importação de carvão que<br />

lhe estava associado, se encontra a ser<br />

reestruturado, e está a ser estudada a eventual<br />

adaptação do mesmo para o tráfego de outros<br />

granéis sólidos, incluindo os agro-alimentares.<br />

Num plano mais ambientalista, também<br />

consta a aposta no abastecimento de gás<br />

natural liquefeito e no fornecimento de<br />

energia eléctrica a navios, estando a ser<br />

cumpridas as directivas da União Europeia,<br />

“inserindo-se num plano mais vasto de<br />

descarbonização e de adopção de fontes de


62 outubro <strong>2020</strong><br />

energia mais amigas do ambiente, conforme<br />

previsto no European Green Deal”.<br />

O projecto Janela Única Logística (JUL),<br />

promovido pela Associação dos Portos de<br />

Portugal, desenvolve um novo conceito<br />

de digitalização portuária e logística a<br />

nível nacional, estendendo o conceito da<br />

Janela Única Portuária (JUP) a toda a cadeia<br />

logística. Esta inovação é conseguida através<br />

da conectividade dos meios de transporte<br />

terrestres, os portos secos e as plataformas<br />

logísticas, numa lógica intermodal.<br />

No Porto de Lisboa está a ser desenvolvido<br />

o projecto de criação de uma via navegável<br />

no Rio Tejo para o transporte de carga através<br />

de barcaças. A ideia é que se consiga escoar<br />

produto por via fluvial através de Castanheira<br />

do Ribatejo, reduzindo a utilização do<br />

transporte rodoviário que para além de ser<br />

mais poluente também congestiona o tráfego<br />

da cidade.<br />

Por fim, relativamente aos portos de<br />

Setúbal e Sesimbra, através da conclusão<br />

do investimento público na melhoria<br />

das acessibilidades marítimas, de modo<br />

a permitir a chegada de navios de maior<br />

dimensão, mais modernos e com melhores<br />

condições de segurança, desde uma nova<br />

bacia de manobras, aprofundamento do<br />

canal de acesso. Para além disso, no OE está<br />

também incluído o projecto de melhoria<br />

das acessibilidades ferroviárias ao Porto de<br />

Setúbal, potenciando as condições naturais e a<br />

melhoria da competitividade deste porto.<br />

Ferrovia<br />

Em 2021 dar-se-á seguimento à requalificação<br />

e modernização da Rede Ferroviária Nacional,<br />

alicerçada no Programa de Investimentos<br />

Ferrovia <strong>2020</strong>, a realizar até 2023. No próximo<br />

ano todos os principais eixos ferroviários da<br />

rede nacional estarão com obras em curso,<br />

destacando-se a construção da nova Linha de<br />

Évora-Elvas, a modernização da Linha da Beira<br />

Alta e da Linha do Norte, entre Ovar e Gaia,<br />

e a electrificação das Linhas do Oeste e do<br />

Algarve.<br />

“Estes projectos ferroviários têm uma forte<br />

componente de co-financiamento europeu,<br />

através do Portugal <strong>2020</strong> e de outros<br />

mecanismos e instrumentos europeus, como o<br />

Mecanismo Interligar a Europa”, pode-se ainda<br />

ler no documento.<br />

APAT<br />

Por parte da Associação dos Transitários<br />

de Portugal (APAT), o presidente executivo,<br />

António Nabo Martins, comentou as medidas<br />

adoptadas pelo Estado para o sector dos<br />

transportes e da mobilidade, e que afecta<br />

directamente a actividade transitária.<br />

“É com algum agrado que notamos que<br />

há verbas relevantes que contemplam<br />

essencialmente os investimentos nas infraestruturas<br />

Portuárias, Ferroviárias e na<br />

conectividade entre a ligação do mar com a<br />

terra”, começa por abordar o responsável da<br />

APAT, que destaca ainda que “estamos perante<br />

uma aposta muito clara na recuperação da<br />

ferrovia após 30 anos de desinvestimento”,<br />

bem como na modernização e expansão dos<br />

Portos Marítimos com vista ao alargamento do<br />

seu hinterland.<br />

Relativamente à ferrovia, considera ser<br />

consensual a importância estratégica que esta<br />

tem, especialmente quando conectada com<br />

os principais portos. “Da mesma forma que<br />

não há transportes sem os respectivos meios,<br />

também é verdade que não haverá comboios<br />

sem locais de carga/descarga eficientes”,<br />

realça, salientando que “entendemos ser<br />

de extrema importância a definição de uma


63<br />

Quando se oferece alternativas logísticas capazes de diminuir o<br />

custo, aumenta-se a competitividade do país tanto internamente como<br />

internacionalmente<br />

António Nabo Martins, Apat<br />

rede de Portos Secos como apoio aos Portos<br />

Marítimos, coordenada e estruturada de forma<br />

a que dê uma resposta eficiente, eficaz e que<br />

contribua para um ordenamento logístico<br />

nacional igualmente eficiente, que permita<br />

aumentar a competitividade das empresas<br />

nacionais e da economia”.<br />

De acordo com o responsável, a APAT<br />

considera que a melhor estratégia a seguir<br />

“deverá visar a dinamização do sector e<br />

gerar valor, contribuindo para um país mais<br />

competitivo, mais concorrencial e com mais<br />

economia. Como? Promovendo Portos Secos,<br />

Plataformas Logísticas, Polos Logísticos<br />

em associação aos Portos Portugueses com<br />

excelentes ligações, o que determinará preços,<br />

condicionará as escolhas e possibilitará<br />

a criação de alternativas ao mercado.<br />

Quando se oferece alternativas logísticas<br />

capazes de diminuir o custo, aumenta-se a<br />

competitividade do país tanto internamente<br />

como internacionalmente”.<br />

De forma a criar esta conectividade,<br />

recomenda que devam ser encontradas<br />

“formas de promover a entrada de mais<br />

parceiros, criar condições para surgirem<br />

novos operadores capazes de apresentarem<br />

alternativas ao mercado, melhores ligações<br />

logísticas aos Portos, tanto na infra-estrutura<br />

como na info-estrutura, desburocratizar,<br />

agilizar e digitalizar o mais possível toda a<br />

actividade da logística”.<br />

“A apreciação da APAT é neste momento<br />

positiva, veremos o que vai acontecer, porque<br />

um posicionamento estratégico e privilegiado<br />

e com fáceis acessos conjuga volumes de<br />

cargas de diferentes naturezas, promovendo<br />

toda a cadeia. Este movimento sinérgico pode<br />

atrair a indústria, os serviços e a logística, para<br />

se instalarem nos Portos e nas sua imediações,<br />

beneficiar e criar dinâmicas e sinergias de<br />

excelência, assim como emprego e fixação de<br />

pessoas promovendo ainda a coesão nacional<br />

diminuindo as assimetrias regionais, para os<br />

quais, em nosso entendimento este OE poderá<br />

contribuir. A expectativa da APAT é boa, mas<br />

teremos de aguardar para ver o resultado da<br />

sua aplicação”, conclui António Nabo Martins. •


64 outubro <strong>Outubro</strong> <strong>2020</strong><br />

transporte<br />

Euroatla celebra<br />

40º aniversário<br />

“Em 1980 o mercado dos<br />

transportes internacionais era<br />

muito diferente do actual”<br />

A celebrar os seus 40 anos de existência, a Euroatla, Navegação e Trânsitos, especialista<br />

em fornecer soluções globais integradas de logística e transporte, conta-nos como foi o seu<br />

percurso até aos dias de hoje, como era antes e como é agora, a evolução tecnológica em que<br />

investiram e em que continuam a investir e o marco que foi a data de Setembro de 1980 para<br />

a empresa.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Euroatla<br />

Sandra Ayres, managing director, Euroatla<br />

Em Setembro, a Euroatla assinalou 40 anos,<br />

um marco que nos levou ao encontro das<br />

responsáveis da empresa numa incursão<br />

pela evolução que entretanto se fez sentir, no<br />

mercado e na empresa.<br />

Sandra Ayres, managing director da<br />

empresa, e Ana Gonçalves, business director,<br />

contam que “em 1980 o mercado dos<br />

transportes internacionais era muito diferente<br />

do actual”, e uma das diferenças é a forma<br />

como “as empresas do ramo tinham outro<br />

nível de autonomia para apresentar soluções<br />

aos clientes”, sendo que o conhecimento<br />

técnico e de mercado era centralizado e pouco<br />

partilhado. Alguns ainda hoje consideram<br />

que essa centralização de conhecimento era<br />

intencional, mas as responsáveis apontam<br />

para que fosse “o reflexo das necessidades dos<br />

clientes nessa altura”.<br />

Hoje, a realidade mudou, e apesar de<br />

continuar a haver muito poucas empresas a<br />

fazer actividade de agenciamento, existem<br />

mais de 100 transitários no mercado<br />

português, “e a intermediação do transporte<br />

evoluiu para dois modelos: 3PL e 4PL”. Os<br />

clientes actualmente são mais conhecedores<br />

das soluções disponíveis, e como tal, “são<br />

muito mais interventivos na definição dos<br />

requisitos e na escolha das soluções”, tendo<br />

também mudado uma mentalidade no<br />

processo: “as relações entre cliente e parceiro<br />

logístico, principalmente no 3PL, evoluíram de<br />

uma relação de exclusividade e confiança para<br />

uma constante corrida ao troféu de parceiro<br />

mais competitivo”.<br />

Uma relação de parceria<br />

A estratégia de diferenciação da Euroatla<br />

passa pelo investimento na proximidade, um<br />

dos pilares estruturais da cultura e estratégia<br />

da empresa, e isso envolve desde os clientes<br />

a fornecedores, agentes, associações e outros<br />

parceiros. “Baseamo-nos nessas parcerias<br />

sólidas para construir soluções adaptadas e<br />

competitivas”, comentam as responsáveis.<br />

A proximidade é uma questão importante<br />

para a empresa, pois uma das suas<br />

características principais é o facto de ter<br />

os seus clientes fora de Portugal, sem ter<br />

representação própria noutros países, pelo<br />

que é importante conseguir manter uma boa<br />

comunicação e um conhecimento aprofundado<br />

das operações destes.<br />

As responsáveis explicam que a operação<br />

dos clientes é alocada em modo Key Account<br />

Manager, ou seja, é-lhe atribuído um elemento<br />

da equipa que fica encarregue de ser o ponto<br />

de contacto entre as empresas, que conhece<br />

a organização e as necessidades do cliente,<br />

possibilitando assim uma gestão mais eficaz e<br />

comunicação mais fluida.


66 <strong>Outubro</strong> <strong>2020</strong><br />

Resposta à pandemia<br />

A Euroatla aplicou o seu plano de contingência<br />

no dia 17 de Março, véspera do decreto de<br />

estado de emergência em Portugal. Até Maio,<br />

90% da equipa estava em teletrabalho, e<br />

depois implementaram turnos quinzenais em<br />

espelho, mantendo alternadamente 50% dos<br />

colaboradores no escritório, o que vigora até<br />

hoje.<br />

Sandra Ayres e Ana Gonçalves contam que<br />

o primeiro impacto que a pandemia teve na<br />

Euroatla foi a diminuição de carga importada<br />

do Extremo Oriente. “O transporte marítimo<br />

contentorizado obedece a movimentos<br />

geográficos, e o equipamento (contentores)<br />

é gerido com base nesses movimentos”,<br />

explicam as responsáveis, “uma quebra num<br />

destes movimentos gera um duplo impacto: o<br />

imediato, no volume de carga, e em seguida<br />

a falta de equipamento para exportação”.<br />

O resultado, contam, foi a diminuição de<br />

capacidade do mercado, o que elevou os<br />

preços e inviabilizou alguns negócios.<br />

Como resultado positivo da actual situação<br />

contam que um dos mercados em que<br />

também se encontram, o alimentar e das<br />

bebidas, registou um aumento significativo.<br />

“As exportações neste sector tiveram grandes<br />

oscilações, com especial incidência no<br />

segundo e terceiro trimestres”, e como tal, têm<br />

apoiado os seus clientes do sector “da melhor<br />

forma possível, com grande flexibilidade e<br />

capacidade de resposta, dados os desafios<br />

operacionais que se têm sentido”.<br />

Ana Gonçalves, business director Euroatla<br />

Planos futuros<br />

A estratégia da Euroatla é de centralização<br />

do modelo de negócio nos clientes e na<br />

optimização da sua experiência. “Nos últimos<br />

anos temos investido em tecnologias de<br />

informação como meio de suporte à execução<br />

desta estratégia, e continuaremos esta<br />

tendência nos próximos anos” explicam,<br />

acrescentando que também têm investido<br />

no digital para interagir com os clientes,<br />

fornecedores e stakeholders em geral e<br />

reforçaram a presença nas redes sociais, uma<br />

estratégia que revelam ter sido importante<br />

para enfrentar o período de pandemia.<br />

“Continuamos a apostar nas relações de<br />

confiança com os nossos parceiros de negócio,<br />

sendo que a nossa expectativa é de continuar<br />

a crescer com eles”, concluem Sandra Ayres e<br />

Ana Gonçalves. •<br />

temos investido em tecnologias de informação como meio de suporte à<br />

execução desta estratégia [de centralização do modelo de negócio nos<br />

clientes], e continuaremos com esta tendência nos próximos anos


67<br />

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Formação em Supply Chain


68 outubro <strong>2020</strong><br />

carreira<br />

A oferta formativa<br />

das instituições de<br />

ensino<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Formação logística prepara<br />

os futuros profissionais<br />

São muitas as instituições de ensino superior que integram ofertas<br />

formativas na área da supply chain (ou que a complementam) desde<br />

mestrados, pós-graduações ou formações para executivos, como o<br />

Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), o Instituto Superior de Gestão (ISG),<br />

a NOVA SBE Executive Education ou a Universidade do Minho. Estas são<br />

apostas por parte das instituições com o objectivo de dotar os futuros<br />

profissionais com competências essenciais ao desempenho das funções.


SCM Supply Chain Magazine<br />

69<br />

Apesar de certas formações já estarem<br />

integradas há algum tempo, algumas<br />

instituições estão agora a expandir as<br />

suas ofertas formativas, como é o caso do IPS,<br />

que anunciou recentemente o novo curso de<br />

mestrado em Logística e Gestão da Cadeia<br />

de Abastecimento, em parceria com a Sonae<br />

MC. Tiago Pinho, professor coordenador e<br />

director do curso em questão, explica que esta<br />

é uma aposta formativa da Escola Superior<br />

de Ciências Empresariais, que evidencia a<br />

sua postura “proactiva e inovadora”, que<br />

pretende “proporcionar aos profissionais que<br />

já se encontram no mercado há alguns anos,<br />

a possibilidade de actualizarem/reciclarem os<br />

seus conhecimentos”, sendo essa a justificação<br />

para os candidatos incluírem o requisito<br />

de cinco anos de experiência profissional<br />

comprovada.<br />

Graças à parceria entre o IPS e a Sonae MC,<br />

este mestrado representa “uma junção inédita<br />

entre os mundos académicos e empresarial,<br />

proporcionando um contacto privilegiado com<br />

docentes especialistas e com profissionais de<br />

elevado reconhecimento na área da Logística<br />

e Gestão da Cadeia de Abastecimento”, refere<br />

Tiago Pinho. Desta forma, os candidatos<br />

encontrarão uma forte relação entre a<br />

instituição de ensino e a empresa no desenho<br />

dos conteúdos programáticos. O plano de<br />

estudos estende-se por quatro trimestres,<br />

sendo que os três primeiros correspondem<br />

à componente lectiva através da qual serão<br />

desenvolvidas competências nas áreas da<br />

Gestão da Cadeia de Abastecimento, Gestão<br />

de Recursos Humanos e Tecnologias de<br />

Informação. A componente de Estágio/<br />

Projecto realiza-se em paralelo com as<br />

unidades curriculares. Este é um formato<br />

uma junção inédita entre<br />

os mundos académicos e<br />

empresarial, proporcionando<br />

um contacto privilegiado<br />

com docentes especialistas e<br />

com profissionais de elevado<br />

reconhecimento na área da<br />

Logística e Gestão da Cadeia<br />

de Abastecimento<br />

Tiago Pinho, IPS<br />

que, segundo Tiago Pinho, “pretende aliar os<br />

conceitos teóricos e prácticos leccionados<br />

ao contexto real de trabalho, permitindo ao<br />

estudante uma aprendizagem mais eficaz e às<br />

organizações a melhoria dos seus processos,<br />

pela possibilidade de acolher e pôr em<br />

práctica novas ideias”.<br />

Ao concluir o mestrado espera-se<br />

que os estudantes tenham uma visão<br />

abrangente sobre o funcionamento da<br />

cadeia de abastecimento, sendo capazes de<br />

utilizar ferramentas de planeamento e de<br />

implementar métricas de acompanhamento,<br />

bem como aplicar os princípios lean para<br />

a redução dos desperdícios. Além disso,<br />

irão ainda desenvolver competências que<br />

permitirão colocar as pessoas no centro do<br />

sucesso de uma organização.<br />

O mestrado tem a duração de um ano, 25<br />

vagas, e as candidaturas irão decorrer, na<br />

primeira fase, entre os dias 19 de <strong>Outubro</strong> e


70 outubro <strong>2020</strong><br />

11 de Novembro, e, na segunda fase, de 24 de<br />

Novembro a 10 de Dezembro de <strong>2020</strong>, sendo<br />

que esta etapa só se realizará caso não se<br />

preencham todas as vagas na primeira fase. As<br />

aulas terão início em Janeiro de 2021.<br />

O ISG é outra instituição que aposta<br />

na formação na área da supply chain,<br />

nomeadamente através da pós-graduação em<br />

Gestão de Operações e Logística.<br />

“Para alguém que já é profissional da área<br />

de logística, esta pós-graduação oferece<br />

uma actualização de conceitos, ferramentas<br />

e processos de gestão na área da logística,<br />

complementados por aspectos relevantes<br />

para a função no seu sentido mais lato, com<br />

professores especializados, e com forte<br />

experiência profissional, em temas que vão<br />

desde os sistemas de informação até à gestão<br />

financeira, passando pelo planeamento<br />

estratégico ou pela gestão da produção e da<br />

manutenção”, explica Carlos Paz, docente e<br />

coordenador científico da pós-graduação.<br />

Por norma, a procura por este formato<br />

divide-se em dois perfis de profissionais: com<br />

formação superior, mas sem especialização<br />

na área, que foram, ou serão, nomeados<br />

responsáveis por áreas operacionais de<br />

empresas; ou jovens com formações superiores<br />

diversificadas que decidem apostar nesta<br />

área profissional para o futuro. Uma vez<br />

concluída a pós-graduação, espera-se que os<br />

estudantes desenvolvam várias competências<br />

relacionadas com planeamento, gestão,<br />

monitorização e melhoria de processos<br />

operacionais no seio de uma empresa,<br />

especialmente as que têm operações de<br />

produção, transporte, armazenamento e/ou<br />

manutenção.<br />

Devido à pandemia de COVID-19, também<br />

as instituições de ensino tiveram de repensar<br />

a forma de leccionar, pois foi necessário<br />

aplicar o ensino à distância. Actualmente,<br />

com escolas, universidades e politécnicos<br />

a funcionar a “meio-gás”, o ISG não sentiu<br />

dificuldades em se adaptar à nova realidade<br />

de ensino: o regime misto. Carlos Paz refere<br />

que “o ISG já vinha a desenvolver, antes<br />

da pandemia, um ambiente de ensino/<br />

aprendizagem que era uma “mistura” entre<br />

o ensino convencional em sala, com a<br />

investigação e a utilização de plataformas de<br />

comunicação assíncrona entre professores e<br />

alunos. Foi, por isso, para nós, relativamente<br />

fácil esta necessidade de também introduzir<br />

as ferramentas de comunicação síncrona”,<br />

acrescentando que “providenciámos formação<br />

específica para todos os nossos docentes e<br />

dotámos a escola de meios técnicos ímpares<br />

para podermos avançar para esta nova era de<br />

ensino. Neste contexto, foi mais um sentido<br />

de evolução do que um sentido de reinvenção,<br />

uma vez que era um caminho que a escola já<br />

vinha seguindo”.


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

o ISG já vinha a desenvolver, antes<br />

da pandemia, um ambiente de ensino/<br />

aprendizagem que era uma “mistura”<br />

entre o ensino convencional em sala,<br />

com a investigação e a utilização<br />

de plataformas de comunicação<br />

assíncrona entre professores e<br />

alunos. Foi, por isso, para nós,<br />

relativamente fácil esta necessidade<br />

de também introduzir as ferramentas<br />

de comunicação síncrona<br />

Carlos Paz, ISG<br />

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72<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

Por sua vez, a NOVA SBE Executive<br />

Education disponibiliza também uma pósgraduação<br />

em Gestão da Supply Chain.<br />

Pedro Caldeira, coordenador executivo da<br />

pós-graduação, explica o contexto em que<br />

esta se insere: “a pandemia COVID-19 trouxe,<br />

para além da desaceleração económica,<br />

uma forte pressão nas infraestruturas<br />

logísticas, colocando à prova as cadeias de<br />

abastecimento globais. Muitas organizações<br />

não resistiram, enquanto outras repensaram<br />

os seus sistemas de resiliência na cadeia de<br />

valor”. Neste contexto, a qualidade da gestão<br />

da supply chain dentro e fora da própria<br />

organização é um elemento determinante<br />

na construção da estratégia, na performance<br />

e sobrevivência de qualquer empresa. A<br />

gestão da supply chain de ‘amanhã’ será<br />

“caracterizada por uma abordagem ‘outsiderin’,<br />

mais customer-centric e que obrigará a<br />

uma continuada adaptação às novas variáveis”,<br />

e factores como a complexidade da supply<br />

chain, as multidisciplinariedades da função<br />

exigem novos skills aos profissionais. É desta<br />

forma que se apresenta esta pós-graduação,<br />

“oferecendo uma visão 360º, uma ‘big-picture’<br />

da moderna supply chain, capacitando os<br />

gestores com as ferramentas, conceitos<br />

e modelos de decisão necessários para o<br />

desenvolvimento e evolução qualitativa desta<br />

importante área da gestão”, conclui Pedro<br />

Caldeira.<br />

A NOVA SBE Executive Education também<br />

foi forçada a aderir ao regime de ensino misto,<br />

intercalando aulas online com presenciais.<br />

Susana Ferreira, directora de marketing e<br />

comunicação da instituição, explica que “a<br />

pandemia tornou evidente que é possível<br />

aprender e ensinar de forma remota, e<br />

nesse sentido, é inevitável que a formação à<br />

distância faça parte do novo normal. E, ainda<br />

que o contacto humano seja insubstituível,<br />

existem vantagens claras no ensino à<br />

distância que temos procurado capitalizar na<br />

nossa oferta: utilização de plataformas de<br />

ensino cada vez mais interactivas; sistemas<br />

de votação automática tornam a dinâmica de<br />

sala de aula mais interessante e tornam mais<br />

fácil convidar market leaders para fazer parte<br />

das sessões online, reforçando a ligação com o<br />

mundo empresarial”.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

a pandemia COVID-19 trouxe, para além<br />

da desaceleração económica, uma<br />

forte pressão nas infraestruturas<br />

logísticas, colocando à prova as cadeias<br />

de abastecimento globais. Muitas<br />

organizações não resistiram, enquanto<br />

outras repensaram os seus sistemas de<br />

resiliência na cadeia de valor<br />

Pedro Caldeira, Nova SBE<br />

A segunda edição desta pós-graduação<br />

é patrocinada pela Leroy Merlin, que a<br />

encara como uma forma de ajudar os seus<br />

colaboradores na área de operações e supply<br />

chain. Jorge Neves, líder de supply chain da<br />

empresa, afirma que esta oferta formativa<br />

por parte da Nova SBE Executive Education<br />

“parece-nos uma ferramenta fundamental<br />

neste desenvolvimento de competências pela<br />

sua visão 360º e pelo aprofundamento do<br />

conhecimento teórico, ligando-o sempre a<br />

uma vertente prática oferecida pelo estudo<br />

de casos reais e pela experiência do seu corpo<br />

docente”. Por sua vez, José Miranda, director<br />

de operações de supply chain da Leroy Merlin,<br />

refere que “a supply chain da Leroy Merlin está<br />

em constante evolução. Estamos a investir nas<br />

nossas pessoas, processos e infraestruturas.<br />

A oportunidade de participar numa pósgraduação<br />

em Gestão da Supply Chain vai<br />

ser excelente para o crescimento dos nossos<br />

activos, além da importância que esta área<br />

tem para a captação de novos talentos para a<br />

Leroy Merlin (…)”.


74<br />

outubro <strong>2020</strong><br />

A Universidade do Minho disponibiliza<br />

um mestrado em Engenharia Industrial, que<br />

no próximo ano se designará por Mestrado<br />

em Engenharia e Gestão de Operações, que<br />

existe há mais de 20 anos, com um ramo<br />

em Logística e Distribuição. Destina-se a<br />

licenciados de outras engenharias, com<br />

experiência profissional, que procuram<br />

desenvolver competências na concepção,<br />

modelação, análise e gestão de sistemas<br />

logísticos. É também procurado por<br />

profissionais, a título individual, que<br />

pretendem evoluir nas suas carreiras.<br />

Segundo Maria do Sameiro Carvalho,<br />

professora associada e directora do<br />

Departamento de Produção e Sistemas, uma<br />

das vantagens deste mestrado para um recém-<br />

-licenciado na área da logística é prepará-lo<br />

“para uma visão abrangente da logística<br />

e da gestão da cadeia de abastecimento,<br />

entendendo os desafios que se colocam na<br />

área, e das competências básicas para o<br />

desenvolvimento profissional”, e para um<br />

profissional, é não só o “aprofundamento<br />

dos conhecimentos na área”, mas também<br />

“ferramentas necessárias para uma progressão<br />

na carreira”.<br />

Numa primeira fase são abordados<br />

conhecimentos elementares sobre técnicas<br />

quantitativas, engenharia económica, gestão<br />

de operações, entre outros, e, posteriormente,<br />

é realizado um aprofundamento em função<br />

do ramo de especialização. No segundo<br />

semestre aprofundam-se ferramentas e<br />

conhecimentos práticos empresariais para<br />

um desenvolvimento profissional na área


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

da logística, abordando temas de natureza<br />

estratégica e operacional, onde se explora<br />

a utilização de modelos de software para<br />

resolver problemas e suportar a tomada<br />

de decisões em áreas como o transporte,<br />

armazenamento, gestão de inventários e<br />

previsão.<br />

Ao concluir este mestrado espera-se que os<br />

estudantes tenham “capacidade de modelar e<br />

analisar sistemas logísticos para uma efectiva<br />

tomada de decisão”, afirma Maria do Sameiro<br />

Carvalho. •<br />

para uma visão abrangente<br />

da logística e da gestão da<br />

cadeia de abastecimento,<br />

entendendo os desafios<br />

que se colocam na área, e<br />

das competências básicas<br />

para o desenvolvimento<br />

profissional<br />

Maria do Sameiro Carvalho,<br />

Universidade do Minho<br />

Food Service Logistics<br />

O seu parceiro de negócio<br />

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76<br />

diário de bordo<br />

Vânia Guerreiro<br />

Comunicação e Sustentabilidade, Volkswagen<br />

Autoeuropa<br />

Produção em<br />

tempo real<br />

O projeto, de iniciativa da área da<br />

montagem, envolveu as áreas da<br />

logística, finanças e tecnologias de<br />

informação, carroçarias e pintura e tinha<br />

como objetivo a melhoria dos processos<br />

de inventário, priorização e localização<br />

de carros sobre rodas.<br />

O<br />

FAF (fluxo automatizado do finish) é um<br />

sistema de visualização automatizada de<br />

carros ao longo do processo de montagem<br />

que disponibiliza informação sobre a condição<br />

e localização dos mesmos. Através da ligação<br />

ao FISeQS (software de gestão de qualidade<br />

nas fábricas Volkswagen) é disponibilizada,<br />

em tempo real, a informação detalhada para<br />

planear fluxos de carros sobre rodas. Com este<br />

sistema, a priorização dos veículos é objetiva,<br />

com base em dados reais e monitorizada<br />

online. Da mesma forma, este novo sistema,<br />

desenvolvido, em exclusivo, por colaboradores<br />

da empresa, permite antecipar problemas de<br />

qualidade na linha de produção, conduzindo à<br />

resolução dos mesmos de forma mais rápida<br />

e eficaz. A introdução do FAF resultou num<br />

aumento da produtividade e qualidade, na<br />

medida em que “foram otimizados recursos<br />

no trabalho diário e os colaboradores gerem<br />

atualmente o trabalho com maior eficiência”,<br />

explica João Mira, criador, mentor do projeto e<br />

chefe de departamento de produção.


77<br />

O FAF possibilita automatizar a gestão<br />

das várias áreas de reparação da montagem<br />

e engloba as componentes off-line e inline.<br />

“Através do FAF System Overview<br />

conseguimos ter uma visão pormenorizada de<br />

cada uma das áreas com múltipla informação,<br />

como a ocupação das áreas de reparação e os<br />

pontos críticos por resolver em cada um dos<br />

veículos. Na componente in-line, verificamos<br />

todos os pontos, através de um mapa<br />

dinâmico das posições dos carros em linha<br />

na montagem final, conseguimos localizar<br />

os críticos e, sempre que possível, solucionálos<br />

o mais a montante possível. Assim,<br />

conseguimos decidir e definir prioridades de<br />

intervenção e uma gestão mais eficiente dos<br />

recursos humanos”, explica Frederico Correia,<br />

líder de projeto e supervisor do finish na<br />

montagem.<br />

O sistema foi implementado em outubro<br />

de 2019 e neste momento já está em<br />

desenvolvimento a versão FAF 2.0, que irá<br />

focar-se na otimização da gestão de falhas<br />

em linha e do FRC (first run capability) com<br />

recurso a reparações dinâmicas. Está ainda a<br />

ser desenvolvida a integração do FAF com a<br />

futura carta viageira eletrónica, permitindo<br />

visualizar registos que sejam feitos em linha,<br />

antes destes chegarem às áreas de reparação<br />

– afirma Francisco Sousa, especialista de<br />

FISeQS.<br />

A implementação do FAF gerou uma<br />

poupança, no primeiro ano, superior ao dobro<br />

do investimento efetuado no novo sistema<br />

informático. •<br />

«Sendo esta uma ação do campo de produtividade do programa TRANSFORM.<br />

TOGETHER já foi reconhecida como uma medida relevante, com potencial para ser<br />

replicada noutras fábricas da marca e já recebemos vários contactos nesse sentido»,<br />

refere João Mira.


78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“Porque não gostamos do som da nossa<br />

própria voz”<br />

Rébecca Kleinberger, 3.7 milhões de visualizações, 2017<br />

Rébecca Kleinberger fala-nos do modelo da voz humana a que chama “a máscara”, em que cada um de nós<br />

possui três vozes: a nossa voz para o exterior (“outward voice”) - que resulta da modulação única do som<br />

produzido pela vibração da prega vocal, quando os pulmões contraem o diafragma - a nossa voz para o interior<br />

(“inward voice”) - a qual é conduzida pelos ossos até aos ouvidos e é aquela que realmente percepcionamos,<br />

uma vez que o cérebro cria diferentes filtros (mecânico, biológico e neurológico) que nos impedem de ouvir a voz<br />

que todos ouvem - e a nossa voz interior (“inner voice”) – uma descarga corolária, ou seja, uma cópia da ordem<br />

motora, que serve para informar outras regiões do cérebro do movimento iminente.<br />

Segundo a teoria evolucionista, tornámonos<br />

humanos quando começámos a andar de<br />

pé, libertando as mãos, quando o tamanho<br />

do nosso cérebro aumentou, permitindo<br />

processos cognitivos complexos, e quando<br />

surgiu a linguagem, possibilitando que nos<br />

desenvolvêssemos como espécie social. Estes<br />

três fenómenos estão interligados entre si porque<br />

todos dependem da existência dum pequeno osso<br />

na parte posterior do crânio, que mudou o ângulo<br />

entre a cabeça e o corpo e nos permitiu falar, ao<br />

provocar a descida da laringe, a chamada “caixa<br />

de voz”.<br />

Rébecca Kleinberger estuda, através duma<br />

abordagem holística e multidisciplinar, como<br />

nos relacionamos com a nossa voz e a voz dos<br />

outros. Ao compreender a voz podemos tornar-nos<br />

melhores ouvintes, criar relações mais saudáveis<br />

com os outros e reduzir os preconceitos. A voz<br />

que projectamos para o exterior (a parte de fora<br />

da máscara que na realidade nunca vemos) é uma<br />

prenda que oferecemos aos outros, que muda<br />

em função da pessoa com quem falamos e ao<br />

longo da vida. Através da análise da voz é possível<br />

diagnosticar a doença de Parkinson em estado<br />

inicial, doenças de coração e até a depressão.<br />

Uma vez que a voz é sensível a alterações<br />

hormonais, pode-se inclusivamente detectar<br />

se uma mulher está grávida mesmo antes de<br />

ela própria saber, o que tem implicações éticas<br />

importantes num mundo em que a nossa voz está<br />

continuamente a ser processada pela tecnologia.<br />

A nossa voz interior, por outro lado, é como que<br />

o elo perdido entre os nossos pensamentos e<br />

acções. Nos sonhos essa voz é libertada, e existe<br />

investigação científica no sentido de a conhecer<br />

melhor. Os esquizofrénicos com alucinações<br />

auditivas têm dificuldade em distinguir entre estas<br />

diferentes vozes.<br />

Com a voz humana partilhamos mais do que<br />

palavras e informações, ela define quem somos, é<br />

como uma máscara que usamos em sociedade e é<br />

indistinguível do modo como os outros nos vêem.<br />

Rébecca Kleinberger formou-se em Engenharia<br />

Mecânica em Paris, fez um mestrado em Ambientes<br />

Virtuais em Londres e é doutorada e investigadora<br />

da voz no MIT, tendo colaborado com a Microsoft e a<br />

Google em diferentes projectos.


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