SCMedia News | Revista | Outubro 2023
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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<strong>Outubro</strong> <strong>2023</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
46<br />
<br />
A LOGÍSTICA<br />
DA MEL PIRATA<br />
AUTOMATIZAÇÃO<br />
NA MANUEL PATRÍCIO<br />
MELHORA EFICIÊNCIA<br />
<br />
5G<br />
FUTURO CHEGA AO<br />
PORTO DE AVEIRO<br />
HISTÓRIAS DE QUEM<br />
ESCOLHEU FICAR
www.supplychainmagazine.pt/scmiberia<br />
1ª Conferência<br />
Ibérica de Supply Chain<br />
DISRUPÇÃO E<br />
TECNOLOGIA<br />
TRANSFORMAÇÕES<br />
NA CADEIADE<br />
ABASTECIMENTO<br />
PATROCINADORES<br />
PREMIUM<br />
GOLD<br />
SI LVER<br />
PARCEIRO
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
EDITORIAL<br />
DESTINO: PORTUGAL<br />
“(...)Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”<br />
Fernando Pessoa, Mensagem<br />
Uma sondagem feita a jovens a residir em<br />
Portugal revela que 54% admite viver fora<br />
do país e outros 19% está em dúvida sobre<br />
essa questão. Apesar de mais de metade<br />
considerarem emigrar, 53% acredita que<br />
Portugal é um bom país para viver e 43%<br />
refere que o país lhes oferece hoje melhores<br />
condições de vida do que aos seus pais.<br />
Entre as razões apontadas pelos jovens<br />
entre os 18 e 34 anos encontram-se a<br />
instabilidade financeira, apontada por 32%<br />
dos jovens, a habitação, que preocupa 28%,<br />
e a instabilidade no emprego, que preocupa<br />
16%.<br />
Relativamente ao trabalho, apenas 45%<br />
refere estar satisfeito com o seu trabalho<br />
e querer mantê-lo e não chega a metade<br />
(49%) a percentagem de inquiridos que<br />
considera que os seus rendimentos são<br />
suficientes para viver.<br />
Em sentido contrário, segundo o Expat<br />
Insider <strong>2023</strong>, Portugal é o 10.º melhor<br />
país do mundo para expatriados e<br />
nomeadamente em profissões ligadas<br />
à logística e à gestão da cadeia de<br />
abastecimento, a presença de profissionais<br />
estrangeiros é uma realidade consolidada e<br />
vista por todos com normalidade.<br />
Profissão, família ou mera oportunidade de<br />
carreira levam alguns destes profissionais a<br />
escolher Portugal como destino. O clima, a<br />
qualidade de vida e a facilidade de integração<br />
também têm um papel principal.<br />
Por isso, nesta edição fomos ouvir um<br />
conjunto de profissionais que num dado<br />
momento optaram por Portugal para dar<br />
seguimento às suas carreiras na supply chain.<br />
Trazemos-lhe um retrato daquilo que são as<br />
suas experiências, aspirações, motivações,<br />
mas também as dificuldades encontradas.<br />
Portugal está preparado para receber<br />
pessoas de fora, como forma de ganharmos<br />
e fortalecermos conhecimento. E, estes<br />
profissionais, estavam preparados para o<br />
Portugal logístico que encontraram?<br />
A resposta segue dentro de momentos.<br />
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4<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
#14 #20 #32<br />
ÍNDICE<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Top 25 de carga aérea 06<br />
LOGÍSTICA<br />
Portugal: as histórias de quem escolheu<br />
ficar 08<br />
Pharma Supply Chain <strong>2023</strong> 14<br />
Mel Pirata: o tesouro de ouro líquido 20<br />
Gestão de risco: conhecer desafios e<br />
aplicar soluções 24<br />
30 anos CHEP: “A Madeira continua<br />
a ser imbatível do ponto de vista<br />
ambiental” 28<br />
PROCUREMENT<br />
Top 10 empresas<br />
de procurement <strong>2023</strong> 32<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Automatização na Manuel Patrício<br />
melhora eficiência operacional 36<br />
Rotom Portugal: “A nossa ambição é<br />
crescer de forma sustentável” 42<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
6 dicas para empresas<br />
com propósito 46<br />
Centro logístico da Montepino em<br />
Castanheira do Ribatejo 52<br />
TECNOLOGIAS<br />
Porto de Aveiro: rumo ao futuro com o<br />
5G 56<br />
Engenharia de produção: que papel nas<br />
fábricas inteligentes? 60
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
#56<br />
TRANSPORTES<br />
A segurança no transporte de<br />
mercadorias termossensíveis 64<br />
Grupo BBL: “Este conjunto de parcerias<br />
estratégicas são fundamentais” 68<br />
CARREIRA<br />
8 dicas para garantir qualidade no<br />
momento de contratar 72<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Inteligência artificial e logística, por Sara Monte e<br />
Freitas 76<br />
PONTO DE VISTA<br />
O presente e o futuro responsável do setor do<br />
delivery, por Ricardo Amorim 78<br />
#68<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e<br />
Redação_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Diretora_<br />
Dora Assis<br />
Redação_<br />
Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />
Fábio Santos<br />
Projeto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
PAR Design<br />
Sales manager_<br />
Samantha Casas<br />
Marketing Digital_<br />
Margarida de Vasconcelos<br />
Events Support_<br />
Katline Costa<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
NPC_ 514 707 143<br />
E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
Estatuto Editorial _<br />
www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.
6<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
KUEHNE+NAGEL SUPERA<br />
DHL COMO LÍDER AÉREO<br />
AKuehne+Nagel (K+N) alcançou uma<br />
notável conquista ao superar a DHL Global<br />
Forwarding e consolidar a sua posição<br />
como o principal transitário aéreo de carga<br />
global em 2022, de acordo com a Air Cargo<br />
<strong>News</strong>.<br />
Os 25 principais transitários aéreos<br />
enfrentaram uma diminuição de 6,3% nos<br />
volumes totais de carga, atingindo um total<br />
de 16,9 milhões de toneladas. Este declínio<br />
foi influenciado por bloqueios persistentes<br />
na China, perturbações resultantes da guerra<br />
na Ucrânia e os efeitos da inflação sobre o<br />
consumo.<br />
No entanto, a K+N contrariou a tendência<br />
ao registar um aumento de 0,5% na procura,<br />
atingindo um recorde de 2,2 milhões de<br />
toneladas. A aquisição da Apex Logistics por<br />
parte do grupo impulsionou esses números<br />
durante os primeiros cinco meses do ano.<br />
À medida que o ano avançou, os volumes<br />
de carga aérea da K+N foram afetados pelo<br />
desempenho global do mercado, culminando<br />
numa queda de 15% na procura no quarto<br />
trimestre.<br />
A DHL Global Forwarding, que ocupa a<br />
segunda posição, enfrentou uma diminuição<br />
de 9,3% nos volumes de carga aérea em<br />
relação ao ano anterior, refletindo as<br />
adversas condições do mercado que afetaram<br />
negativamente o setor dos transitários aéreos.<br />
Por outro lado, a terceira colocada, DSV,<br />
beneficiou de aquisições estratégicas,<br />
registando um aumento de 3,1% nos volumes,<br />
totalizando 1,6 milhões de toneladas. Contudo,<br />
o destaque ficou por conta da CEVA Logistics,<br />
pertencente à CMA CGM, que liderou o<br />
Rank<br />
01<br />
02<br />
03<br />
04<br />
05<br />
06<br />
07<br />
08<br />
09<br />
10<br />
11<br />
12<br />
13<br />
14<br />
15<br />
16<br />
17<br />
18<br />
19<br />
20<br />
21<br />
22<br />
23<br />
24<br />
25<br />
Air metric tons<br />
Kuehne + Nagel<br />
DHL Supply Chain & Global<br />
DSV<br />
DB Schenker<br />
Expeditors<br />
Nippon Express<br />
UPS Supply Chain Solutions<br />
Sinotrans<br />
Bolloré Logistics<br />
Kintetsu World Express<br />
Hellmann Worldwide Logistics<br />
CEVA Logistics<br />
Kerry Logistics<br />
AWOT Global Logistics Group<br />
CTS International Logistics<br />
Crane Worldwide Logistics<br />
Yusen Logistics<br />
GEODIS<br />
C.H. Robinson<br />
NNR Global Logistics<br />
Dimerco Express Group<br />
DACHSER<br />
FedEx Logistics<br />
cargo-partner<br />
Maersk Logistics<br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
Top 25<br />
Carga aérea<br />
Air metric tons<br />
2,232,000<br />
1,902,000<br />
1,557,972<br />
1,326,000<br />
869,000<br />
867,039<br />
864,000<br />
781,000<br />
708,000<br />
688,822<br />
652,100<br />
520,000<br />
515,419<br />
495,000<br />
373,139<br />
337,300<br />
325,000<br />
293,984<br />
285,000<br />
261,701<br />
238,382<br />
236,865<br />
232,100<br />
218,607<br />
211,484<br />
Gross logistics<br />
revenues (Sm)<br />
46,864<br />
45,590<br />
34,883<br />
30,392<br />
17,071<br />
19,932<br />
14,294<br />
16,405<br />
7,466<br />
8,710<br />
5,504<br />
18,700<br />
10,483<br />
3,711<br />
3,274<br />
1,600<br />
6,886<br />
12,624<br />
23,874<br />
2,091<br />
1,474<br />
8,918<br />
2,550<br />
2,235<br />
14,423<br />
crescimento com um aumento de 9,7% nos<br />
volumes, atingindo 520.000 toneladas, graças<br />
a diversas aquisições estratégicas.<br />
Outra mudança significativa na lista foi a<br />
entrada da Maersk Logistics na 25ª posição,<br />
demonstrando o crescimento contínuo da<br />
empresa impulsionado também por aquisições<br />
estratégicas, incluindo a Senator International,<br />
a Pilot Freight Services e a LF Logistics. •
8<br />
<br />
LOGÍSTICA<br />
Carreira<br />
na Supply Chain<br />
<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
PORTUGAL: AS HISTÓRIAS<br />
DE QUEM ESCOLHEU FICAR<br />
Num cenário de emigração, um grupo de profissionais optou por Portugal como o lugar para<br />
prosperar nas respetivas áreas de trabalho. Neste artigo, mergulhamos nas suas experiências,<br />
revelando o que os motiva a permanecer num momento em que tantos optam por partir,<br />
e exploramos as razões que tornam Portugal um destino atrativo para o desenvolvimento<br />
profissional, especialmente no domínio da cadeia de abastecimento.<br />
Em Portugal, a emigração de talentos<br />
tornou-se uma preocupação crónica,<br />
à medida que muitos jovens procuram<br />
oportunidades mais vantajosas e uma<br />
qualidade de vida superior noutros países.<br />
No entanto, em meio a esta onda de saídas,<br />
um grupo de profissionais ousou desafiar a<br />
corrente e escolheu estabelecer-se no país.<br />
Num período em que a nação testemunha uma<br />
significativa debandada, é intrigante compreender<br />
o que leva alguns a optar por permanecer. As<br />
respostas a esta questão oferecem um vislumbre<br />
das oportunidades e desafios que Portugal<br />
proporciona como destino de eleição para aqueles<br />
que aspiram a uma progressão profissional no<br />
campo da cadeia de abastecimento.
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
SEBASTIAN CAZAJUS<br />
CEO & Co Founder na Cargofive<br />
“ESTILO DE VIDA<br />
GRATIFICANTE”<br />
Sebastian Cazajus, CEO & Co Founder na<br />
Cargofive, saiu da Argentina, a sua terra<br />
natal, para Portugal, devido a um convite<br />
da Universidade Nova de Lisboa, que estava<br />
a desenvolver um programa de aceleração<br />
de startups, do qual participava. “Fomos<br />
selecionados para a primeira turma de<br />
quatro empresas. Felizmente, consegui<br />
adaptar-me bem, uma vez que a rede da Nova<br />
nos forneceu apoio para uma aterragem<br />
suave, criação da empresa e início das<br />
operações no país”, explicou o executivo.<br />
Decidiu estabelecer-se em Portugal,<br />
pois “o equilíbrio entre trabalho e lazer<br />
é notavelmente louvável, e a rica cultura<br />
e o clima agradável contribuem para um<br />
estilo de vida gratificante”. No entanto,<br />
embora considere o país como um centro<br />
de inovação, não o perceciona como “um<br />
mercado de grande desenvolvimento<br />
extensivo. Em vez disso, considero-o como<br />
um local ideal para estabelecer uma base<br />
operacional a partir da qual se possa<br />
atender e envolver-se no mercado global”.<br />
Destacou ainda a necessidade de melhorias<br />
em processos como o registo de residência e<br />
admissão de funcionários, que muitas vezes<br />
se mostram sobrecarregados, atrasando<br />
o progresso de iniciativas promissoras<br />
do Estado. Não obstante, o responsável<br />
ressaltou os progressos que Portugal tem<br />
feito na adoção de novas tecnologias e na<br />
promoção da inovação no setor de logística,<br />
com uma cultura de startups em ascensão.<br />
Em relação ao futuro da logística no país,<br />
vê a tecnologia como o principal motor de<br />
transformação, destacando a importância<br />
da inteligência artificial e aprendizagem<br />
automática na gestão e otimização das<br />
cadeias de abastecimento. “Além disso, a<br />
sustentabilidade continuará a desempenhar<br />
um papel cada vez mais importante na<br />
logística. As empresas provavelmente<br />
procurarão alternativas mais ecológicas,<br />
como veículos elétricos, rotas otimizadas<br />
para eficiência energética e materiais de<br />
embalagem sustentáveis, com o objetivo<br />
de minimizar o impacto ambiental das<br />
operações”, antecipou Sebastian Cazajus.<br />
Já, os desafios “incluem a necessidade de<br />
formar uma força de trabalho especializada<br />
e lidar com a crescente concorrência global<br />
no setor”.<br />
KATYA IVANOVA SANTOS<br />
Co-founder e CEO na AssetFloow<br />
“OPORTUNIDADES<br />
PROFISSIONAIS”<br />
Katya Ivanova Santos, co-founder e CEO<br />
na AssetFloow, fundou aos 20 anos a sua<br />
primeira empresa em Macau, que se
10<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
especializou em consultoria e formação<br />
empresarial. Durante seis anos na Ásia, teve<br />
a oportunidade de colaborar com empresas<br />
como Savills, Melco Crown Entertainment<br />
e Banco Nacional Ultramarino. Essa<br />
experiência não só enriqueceu o seu<br />
currículo, mas também a fez compreender<br />
que "o sucesso de um negócio/empresa está<br />
diretamente ligado às pessoas envolvidas,<br />
à nossa habilidade em lidar com elas e<br />
cultivar relacionamentos sólidos". Em 2016,<br />
com essa visão e uma vasta experiência<br />
em consultoria empresarial, a responsável<br />
deixou Macau para trás e deu início a uma<br />
nova etapa em Portugal. A sua escolha, como<br />
muitos outros empreendedores, baseou-se<br />
na busca de uma melhor qualidade de vida,<br />
não apenas para si, mas também para o<br />
seu filho de três anos na época. As razões<br />
que atraíram a CEO para Portugal eram<br />
claras: "a combinação de qualidade de vida,<br />
oportunidades profissionais e um ambiente<br />
acolhedor tornaram Portugal a escolha ideal<br />
para a minha carreira".<br />
Atualmente, como co-fundadora e CEO<br />
da AssetFloow, a empreendedora enfrenta<br />
desafios e responsabilidades distintos<br />
em comparação com seu papel anterior<br />
como consultora independente, focado<br />
em fornecer consultoria especializada em<br />
projetos pontuais, pois “exige uma visão mais<br />
ampla, responsabilidades multifacetadas<br />
e a capacidade de liderar a empresa rumo<br />
ao sucesso a longo prazo”. De acordo<br />
com a responsável, a AssetFloow surgiu<br />
“com o intuito de desenvolver modelos de<br />
inteligência artificial que são capazes de<br />
perceber como as pessoas usam um espaço,<br />
baseando-se em análise comportamental,<br />
obtendo resultados mais precisos enquanto<br />
protegemos a privacidade do consumidor."<br />
No que diz respeito ao impacto da<br />
inteligência artificial na logística do<br />
setor de retalho, Katya Ivanova Santos<br />
aponta inúmeros benefícios, como a<br />
previsão de procura, gestão eficiente de<br />
inventário, otimização de rotas de entrega,<br />
personalização para o cliente, deteção de<br />
fraudes e segurança, e a capacidade de<br />
tomar decisões informadas com base em<br />
dados. Apesar dos desafios a enfrentar,<br />
incluindo questões de qualidade de dados,<br />
preocupações com a privacidade e a<br />
necessidade de uma abordagem ética, a<br />
empreendedora mantém-se otimista quanto<br />
ao futuro da logística no retalho e acredita<br />
que a inteligência artificial será uma força<br />
transformadora, remodelando a forma como<br />
as empresas operam e como os consumidores<br />
vivenciam as compras. À medida que o setor<br />
do retalho evolui, a inteligência artificial<br />
será um componente vital para a eficiência,<br />
personalização e sucesso a longo prazo.<br />
RAFFAELE CARPI<br />
Partner na McKinsey & Company<br />
“A MUDANÇA<br />
PARA PORTUGAL FOI PESSOAL”<br />
Raffaele Carpi, partner na McKinsey<br />
& Company, partilhou o seu percurso<br />
profissional desde os seus dias em<br />
Bruxelas, onde ingressou na Toyota em<br />
2003, até à sua mudança, quatro anos<br />
mais tarde, para a McKinsey & Company
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
em Portugal. No entanto, confessa à Supply<br />
Chain Magazine que “a principal razão<br />
para a minha mudança para Portugal foi<br />
pessoal, pois a minha esposa é portuguesa”.<br />
A transição para o mercado de trabalho<br />
português não foi imediata. O responsável<br />
partilhou que no início, a maior parte do<br />
seu trabalho continuava a ser internacional.<br />
A sua adaptação exigiu a aprendizagem da<br />
língua e a construção de uma rede local.<br />
Hoje, uma parte substancial do seu trabalho<br />
ocorre em solo português.<br />
Naturalmente, cada país tem as<br />
suas particularidades, e Portugal não<br />
é exceção. Raffaele destacou que o<br />
país “possui um peso relativo forte<br />
nas exportações, pois abriga várias<br />
empresas industriais de sucesso para as<br />
quais o mercado local é muito pequeno,<br />
e múltiplas unidades de produção de<br />
empresas internacionais. Além disso,<br />
há uma alta concentração da população<br />
em duas cidades, Lisboa e Porto, o que<br />
torna mais difícil chegar a áreas de baixa<br />
densidade populacional de forma eficaz<br />
em termos de custos."<br />
O responsável também repensou sobre a<br />
infraestrutura de Portugal, afirmando que<br />
“possui uma boa infraestrutura portuária<br />
e rodoviária que atende bem o país dadas<br />
o seu tamanho e forma. Acredito que a<br />
infraestrutura ferroviária poderia ser<br />
mais desenvolvida, especialmente para<br />
indústrias pesadas, como a química. No<br />
entanto, essas indústrias não representam<br />
uma parte importante da economia<br />
portuguesa, por isso, a estratégia pode<br />
fazer sentido."<br />
O gestor destacou ainda as recentes<br />
tendências no setor da cadeia de<br />
abastecimento, salientando a mudança<br />
nos hábitos de consumo e o aumento dos<br />
preços devido à inflação.<br />
Quando questionado sobre o futuro<br />
do setor em Portugal, Raffaele Carpi<br />
enfatizou a necessidade de adaptar as<br />
cadeias de abastecimento para incluir<br />
resiliência, agilidade e sustentabilidade,<br />
e identificou a sustentabilidade, a<br />
tecnologia e a modernização como<br />
fatores-chave que impulsionarão a<br />
transformação do setor nos próximos<br />
anos.<br />
BERNARDO CARTOLANO<br />
Logistic Director na Polisport<br />
“SEMPRE ALMEJEI<br />
UMA VAGA NO EXTERIOR”<br />
Conversámos com Bernardo Cartolano,<br />
logistic director na Polisport, um emigrante<br />
brasileiro com uma trajetória de 15 anos<br />
numa multinacional que decidiu fazer as<br />
malas e embarcar numa nova aventura em<br />
terras lusas. “Sempre viajei muito a trabalho<br />
e sempre almejei uma vaga no exterior para<br />
poder viver esta experiência, porém nunca<br />
aconteceu. Em um intervalo, entre uma<br />
troca e outra de empresa, motivado pelo<br />
nascimento da primeira filha, como era um<br />
desejo meu e da minha esposa, resolvemos<br />
nos desafiar e encarar essa experiência de<br />
'morar fora'. Ficámos em dúvida entre Estados<br />
Unidos e Portugal. Porquê Portugal?"<br />
- questiona Bernardo. Os motivos
12<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
que pesaram na escolha foram diversos e de<br />
caráter pessoal, incluindo a sua dupla cidadania<br />
luso-brasileira, a língua, a ligação com a família<br />
no Porto e a segurança que o país lhe oferece.<br />
Portugal venceu por 4x0 nessas questões.<br />
No âmbito profissional, Bernardo percebeu que<br />
Portugal oferecia oportunidades interessantes<br />
na área da logística. Reconhece que há sete<br />
anos, quando chegou, o mercado de trabalho<br />
português enfrentava escassez de mão de obra<br />
qualificada em vários setores, incluindo a logística.<br />
"Obviamente com poucos cargos executivos,<br />
por conta da dimensão do país, mas ainda assim<br />
importantes, e grandes empresas, nacionais ou<br />
internacionais, estão cá", diz Bernardo.<br />
No entanto, a adaptação ao ritmo de trabalho<br />
em Portugal foi um desafio inicial. Notou que<br />
as empresas em Portugal tinham um ritmo de<br />
trabalho mais "desacelerado" em comparação com<br />
o Brasil. Em relação à logística, a transição foi<br />
tranquila, pois percebeu que, apesar de algumas<br />
particularidades, a área era muito semelhante em<br />
todas as empresas e países.<br />
Uma das principais diferenças que destaca,<br />
entre o setor da logística em Portugal e no<br />
Brasil, é a dimensão territorial. O Brasil, um<br />
país continental, apresenta desafios logísticos<br />
significativos devido à sua vasta extensão<br />
territorial. Portugal, por outro lado, sendo um<br />
país menor e parte da União Europeia, possui<br />
uma infraestrutura logística mais favorável, com<br />
boas estradas e portos acessíveis.<br />
Outra diferença notável, segundo o nosso<br />
interlocutor, é o ritmo de trabalho, com o Brasil<br />
a operar num ambiente e ritmo mais acelerados.<br />
"Isso, embora gere stress, oferece uma<br />
velocidade de execução maior em comparação<br />
com Portugal”.<br />
Mas Portugal também tem os seus próprios<br />
pontos fortes, como a sua infraestrutura de<br />
transporte bem estabelecida e a sua posição<br />
estratégica como um hub logístico europeu. A<br />
burocracia é um ponto de atenção, pois, apesar<br />
de estar na União Europeia, Portugal ainda<br />
enfrenta desafios burocráticos que podem<br />
retardar os processos.<br />
Em relação às tendências e inovações em<br />
logística, Bernardo Cartolano observa que a<br />
pandemia e as questões geopolíticas, como<br />
a guerra na Ucrânia e agora os conflitos em<br />
Israel e na faixa de Gaza, têm impulsionado<br />
a busca por alternativas à dependência<br />
excessiva da Ásia. Isso reflete-se na diminuição<br />
da dependência de produtos asiáticos e no<br />
aumento da demanda por produtos "made<br />
in Europe". A necessidade de reduzir custos<br />
e aumentar a eficiência está a impulsionar<br />
a adoção de tecnologia, como robôs<br />
colaborativos, e a busca por soluções internas.<br />
Quando questionado sobre o futuro da<br />
logística em Portugal, Bernardo acredita<br />
que a tecnologia desempenhará um papel<br />
fundamental. À medida que os custos<br />
aumentam, as empresas estão à procura de<br />
soluções tecnológicas para otimizar processos<br />
e reduzir gastos. A inovação e a adaptação às<br />
mudanças são cruciais para o sucesso no setor<br />
logístico em constante evolução. •
Outsourcing Logístico<br />
Serviços<br />
Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />
Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />
Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />
Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />
Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />
Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />
Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />
www.gesgrup.pt
14<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Pharma<br />
Supply Chain <strong>2023</strong><br />
Texto: Ana Paiva<br />
A LOGÍSTICA<br />
ESTÁ NO CENTRO<br />
DA MUDANÇA<br />
O Pharma Supply Chain <strong>2023</strong>, organizado<br />
pela Supply Chain Magazine, reuniu 139<br />
participantes no Auditório CUF Descobertas,<br />
em Lisboa. Através do mote “Tempos de<br />
Transformação”, abordaram-se os principais<br />
desafios logísticos ligados à indústria<br />
farmacêutica e healthcare no pós-covid,<br />
a importância de colocar os pacientes no<br />
centro da equação, bem como a necessidade<br />
crítica da adoção de tecnologia e a<br />
importância de nos focarmos nas pessoas.<br />
Ficou claro que se a logística não é panaceia<br />
para todos os males, com processos afinados<br />
e comunicação, consegue eliminar muitas<br />
dores de cabeça aos gestores destas cadeias<br />
de abastecimento.<br />
"Da unidade de saúde ao paciente:<br />
que logística”, este foi o tema de<br />
abertura levado a cabo pelo professor<br />
Crespo de Carvalho, coordenador da Pós-<br />
-graduação em Logística e Gestão da Cadeia<br />
de Abastecimento, do ISCTE Executive<br />
Education, que falou sobre logística na<br />
área da saúde. A importância de integrar o<br />
paciente na equação da eficiência e eficácia<br />
logística foi a principal mensagem da sessão.<br />
Começou por apontar as tarefas que visam<br />
atingir a eficiência e eficácia logística na<br />
área hospitalar, como desenhar processos,<br />
identificar eventuais bottlenecks no sistema,<br />
fazer inventários e focar na redução de custos.<br />
“Tudo isto se passa como se o hospital não<br />
tivesse pacientes!”, exclamou. José Crespo de<br />
Carvalho salientou também a necessidade<br />
de criar uma experiência ao paciente, e não<br />
apenas fornecer-lhe um serviço, dando como<br />
exemplo o longo tempo de espera que se<br />
vive, por norma, num hospital. “Não ligamos<br />
grande importância à logística da fila de<br />
espera. O tempo de espera tem tudo que ver<br />
com logística”, garante, acrescentando ainda<br />
que já há formulações para se lidar com esse<br />
constrangimento. Termina assumindo que<br />
“estamos muito orientados para a eficiência e<br />
eficácia organizacionais, e não para a eficiência<br />
e eficácia para o paciente nos sistemas<br />
organizacionais”, concluiu.<br />
Por sua vez, Cátia Gouveia, market analysis<br />
manager da GS1 Portugal, apresentou o<br />
trabalho que a associação tem vindo a<br />
desenvolver, desde 2016, com o seu estudo
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
“Benchmarking Saúde”, uma ferramenta<br />
para avaliar o nível de serviço logístico e a<br />
relação comercial ao longo da cadeia de valor,<br />
permitindo aos laboratórios farmacêuticos e de<br />
dermocosmética ficar a conhecer como é que<br />
os seus clientes (parafarmácias, armazenistas,<br />
grupos empresariais de farmácias ou farmácias<br />
comunitárias) percecionam e avaliam o seu<br />
desempenho no mercado, nomeadamente<br />
a qualidade do serviço do ponto de vista<br />
logístico e por comparação com os outros<br />
laboratórios. Como salientou Cátia Gouveia,<br />
a última edição do estudo contou com 24<br />
laboratórios, quatro parafarmácias, cinco<br />
armazenistas, 519 farmácias e 17 grupos de<br />
farmácias.<br />
O tema das pessoas não passou<br />
despercebido durante o evento. Nuno<br />
Figueiredo, national sales manager I&L da<br />
Adecco Outsourcing, abordou o tema dos<br />
desafios dos recursos humanos da cadeia de<br />
abastecimento na indústria farmacêutica em<br />
que concluiu que, de facto, “as pessoas devem<br />
estar no centro da equação e devem ser vistas<br />
como matéria fundamental”.<br />
A TECNOLOGIA<br />
AO SERVIÇO DA LOGÍSTICA<br />
Foi apresentado por Rui Oliveira, gestor<br />
de produto da XLOG, um caso de estudo<br />
destinado a uma parafarmácia, através da<br />
operação da DHL Healthcare focando-se no<br />
papel do WMS para o desafio da melhoria<br />
contínua. Neste caso, a operação consistia<br />
na preparação do abastecimento de lojas e<br />
diretamente para o cliente final, através da<br />
loja online. Entre as estratégias aplicadas<br />
destacou o agrupamento de caixas de picking<br />
à unidade, na qual um algoritmo agrupa os<br />
volumes de acordo com o maior número de<br />
posições em comum; a substituição de
16<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
reaprovisionamento clássico por<br />
bulk-picking; o controlo de peso incremental<br />
durante o processo de picking, através de<br />
carros de picking com balanças incorporadas;<br />
a reformulação do autómato de picking,<br />
na qual se incorporou um RF da XLOG no<br />
funcionamento do autómato; e, por último, a<br />
implementação de ligação por webservice com<br />
o cliente.<br />
Ainda nos casos de estudo, a colaboração<br />
entre a CEGID Primavera e a Luz Saúde foi<br />
apresentada através de um business case<br />
entre as duas entidades. Daniel Batista,<br />
business developer midmarket Portugal da<br />
CEGID Primavera começou por fazer uma<br />
pequena introdução sobre a empresa e a sua<br />
recente mudança de nome e, de seguida,<br />
passou a palavra a Sérgio Quinteiro, da direção<br />
de logística e suporte operacional da Luz<br />
Saúde, que foi apresentando em conjunto<br />
com André Magro, senior project manager<br />
& product owner da Luz Saúde o trabalho<br />
que têm vindo a desenvolver. A Luz Saúde<br />
solicitou os serviços da CEGID Primavera para<br />
três operações diferentes. A primeira foca-se<br />
na GLSMED Trade, empresa do grupo Luz<br />
Saúde que distribui produtos, equipamentos<br />
e dispositivos médicos. Foram apresentados<br />
alguns dos desafios, como os processos de<br />
compra internacionais, a visibilidade de stocks<br />
na cadeia logística ou a gestão de lotes e<br />
validades. A segunda é direcionada ao Hospital<br />
da Luz, em que os desafios já passavam por<br />
condições de compra do grupo, processos<br />
separados por tipologia de artigo (fármaco,<br />
DM, CC, Econ), rastreabilidade dos produtos<br />
e controlo de validades, gestão de pedidos<br />
internos, entre outros. Por último, a terceira<br />
operação diz respeito à GLSMED Center, cujos<br />
desafios se refletiam em processos de compra<br />
complexos, controlo de manutenção, gestão<br />
do ciclo de vida do equipamento, ou gestão de<br />
contratos de manutenção. A CEGID Primavera<br />
acabou por dar resposta às necessidades<br />
evidenciadas nas três operações.<br />
“Da Mentalidade Transformista à<br />
Tecnologia” foi o mote que trouxe Tiago<br />
Seguro, head of pharma da Rangel Logistics
SCM Supply Chain Magazine 17<br />
Solutions, ao Pharma Supply Chain. Iniciou<br />
a sua intervenção com uma frase de Marcus<br />
Ronsoni, “em tempos de transformação não<br />
podemos ser prisioneiros de ideias atrasadas”,<br />
referindo que é neste princípio que assenta<br />
a mentalidade transformista. “Inovar e<br />
transformar já deixou de ser opcional. É<br />
crítico e fundamental”, indicou. Destacou<br />
a importância do conceito de mentalidade<br />
inovadora, que consiste em abertura a<br />
novas ideias, oportunidades e soluções, ou<br />
resolução de problemas de forma criativa, e<br />
como incorporá-la na cultura organizacional,<br />
nomeadamente através do pensamento fora<br />
da caixa, investimento em ideias novas e<br />
inovadoras, e através do envolvimento de<br />
setores e colaboradores. Uma das ideias<br />
que transmitiu foi que as empresas não<br />
necessitam de tecnologia para inovar, pois<br />
podem fazê-lo através de marketing criativo,<br />
de formação, ou sustentabilidade. No entanto,<br />
apontou algumas razões para a adoção<br />
de tecnologia: aumento da produtividade<br />
e eficiência operacional, redução de<br />
custos e melhoria na tomada de decisão,<br />
sendo que a formação, o investimento, a<br />
resistência à mudança e a burocracia são<br />
alguns dos desafios adjacentes. “A inovação<br />
e transformação nas empresas está,<br />
efetivamente, dependente das pessoas, e não<br />
dos meios” sublinhou como mensagem final.<br />
Na mesa redonda que encerrou o evento<br />
participaram Marcos Marques, administrador<br />
do Grupo Nossa Farmácia, Nuno Flora,<br />
presidente executivo da ADIFA, Ricardo<br />
Bastos, head of procurement and supply
18<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
chain da CUF Serviços, e Rui Rocha, supply<br />
chain director da Unilabs Portugal. Rúben<br />
Loureiro, diretor de aprovisionamento e<br />
logística do Hospital Distrital de Santarém<br />
E.P.E. moderou a sessão que teve como mote<br />
para a conversa aquele que foi também<br />
escolhido como tema da conferência:<br />
“Tempos de Transformação”. Durante as várias<br />
intervenções, houve um assunto transversal:<br />
a pandemia de COVID-19. Rui Rocha começou<br />
por explicar como é que a Unilabs enfrentou<br />
este desafio, nomeadamente através da<br />
constante resposta às necessidades de<br />
testagem dos portugueses, e assegurando os<br />
materiais necessários para continuar no dia<br />
seguinte. Segundo o supply chain director,<br />
estes processos de disrupção são constituídos<br />
por três fases: a primeira é a do “bombeiro”,<br />
ou seja, lidar com todos os desafios<br />
momentaneamente e tentar solucioná-los o<br />
mais rápido possível; a segunda é melhorar<br />
as operações com medidas que a médio prazo<br />
garantam eficiência; e a terceira foca-se na<br />
resiliência da supply chain. Embora tenha<br />
sentido que não foram tomadas todas as<br />
medidas necessárias, refere que é preciso<br />
ir mais além para criar uma supply chain<br />
mais resiliente, e isso deverá passar pela<br />
antecipação ou previsão de problemas<br />
para ter “a capacidade de resistir a estes<br />
fenómenos inesperados”.<br />
Por sua vez, Marcos Marques, indica que<br />
neste momento estamos a viver o “síndrome<br />
pós-covid”, e ainda que algumas lições se<br />
tenham aprendido, outras perderam-se.<br />
Atualmente, as farmácias estão perante o<br />
desafio logístico de garantir medicamentos,<br />
uma vez que se está a sentir alguma falta<br />
de stock. “No pós-covid entendemos que é<br />
essencial trabalharmos em rede para tentar<br />
antecipar as necessidades do mercado”, indica.<br />
A Nuno Flora foi imposta a pergunta “como<br />
é que a logística pode ajudar a solucionar<br />
problemas da indústria farmacêutica?”, e o<br />
responsável da ADIFA ironizou: “o que é aqui<br />
pedido é uma volta ao mundo”. Começou<br />
por falar dos desafios logísticos durante a<br />
pandemia, que passaram muito por “arriscar”,<br />
pela compra de materiais de proteção<br />
individual, pela difícil gestão no que diz<br />
respeito aos motoristas que tinham de fazer<br />
as entregas, pois muitos tinham contraído o<br />
vírus. Ainda assim, refere que “não é tanto o<br />
que nós aprendemos, mas o que a sociedade<br />
aprendeu connosco”, uma vez que “a saúde<br />
não era vista como uma infraestrutura crítica,<br />
como é agora”. No entanto, refere que neste<br />
mercado é mais importante falar de otimização<br />
do que de inovação, e esse processo passa<br />
pela automação. Desta forma, não afasta a<br />
necessidade de “mecanismos de previsibilidade”<br />
para lidar com o risco que pode impactar as<br />
cadeias de abastecimento do medicamento.<br />
Já Ricardo Bastos, afirma gostar de colocar<br />
a tecnologia no fim. Indica que ainda que a<br />
tecnologia tenha esta característica “sexy”,<br />
é preciso “ter pessoas com skills, ter uma<br />
estrutura de processos. Se não tivermos<br />
processos uniformes em todo o lado, não<br />
há informática que resista”. A previsão foi<br />
um tópico que gerou alguma discórdia.<br />
Enquanto alguns a apontaram como uma<br />
estratégia de prevenção, Ricardo Bastos<br />
contrapôs a ideia, referindo que “os doentes<br />
não estão sempre a partir as mesmas partes<br />
do corpo”, e por esse motivo, a previsibilidade<br />
torna-se difícil. É preciso meios para<br />
assegurar todas as necessidades dos doentes.<br />
Quanto à pandemia, destacou o papel dos<br />
intervenientes da linha da frente (médicos e<br />
enfermeiros), e os que estavam mesmo atrás:<br />
a logística e a área das compras. •<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
+12<br />
+12.000m2<br />
TRANSPORTE<br />
TERRESTRE<br />
TRANSPORTE<br />
AÉREO<br />
TRANSPORTE<br />
MARÍTIMO<br />
SERVIÇOS<br />
ADUANEIROS<br />
LOGÍSTICA<br />
www
20<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Mel Pirata<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: Mel Pirata<br />
O TESOURO<br />
DE OURO LÍQUIDO<br />
Não é preciso irmos até às Caraíbas para<br />
encontrarmos verdadeiros piratas. Há uma<br />
família deles bem mais perto, no Alentejo,<br />
cujo valioso tesouro provém da natureza: o<br />
mel. São as abelhas de Montemor-o-Novo<br />
que trabalham arduamente para produzir<br />
o mel que dá nome à empresa familiar<br />
alentejana Mel Pirata, que tem a tarefa de<br />
assegurar a total integridade do produto<br />
até chegar ao consumidor final. Estamos<br />
perante um produto originado pela<br />
natureza e que, consequentemente, dela<br />
depende para garantir o stock necessário<br />
para abastecer os clientes.<br />
Afamília Pirata está ligada à atividade<br />
apícola há vários anos. Paulo Pirata,<br />
diretor da marca, explica que tudo<br />
começou como um hobby que passou de<br />
geração em geração na família, até chegar a<br />
si, que se dedica à atividade a tempo inteiro.<br />
Começaram com 20 colmeias, passaram para<br />
150 e agora têm 700. A Mel Pirata produz, em<br />
média, 10 toneladas de mel por ano. “Criámos<br />
a nossa marca por acreditarmos que o produto<br />
é genuíno, e tem um caráter local bem<br />
vincado”, afirma.<br />
A Mel Pirata quis o melhor dos dois mundos,<br />
ou seja, focar-se não só no trabalho de<br />
campo, diretamente com as abelhas, mas<br />
também na parte de preparação do produto<br />
desde a recolha até ao embalamento. As<br />
abelhas armazenam o mel nos favos, as<br />
típicas estruturas retangulares "de madeira,<br />
os quadros," que são depois transportadas<br />
para a melaria para a extração do mel através<br />
do efeito de centrifugação. “Aqui não há<br />
alteração de produto”, garante Paulo Pirata.<br />
Após a extração, o mel fica a decantar em
SCM Supply Chain Magazine 21<br />
depósitos de maturação durante cerca de um<br />
mês para permitir que algumas impurezas<br />
venham à superfície, mas na verdade é<br />
um produto que pode ser imediatamente<br />
consumido, e até diretamente do favo. “É um<br />
produto que, pela lei, temos que pôr um prazo<br />
de validade, que por norma é de dois anos,<br />
mas é dito na gíria popular que foi encontrado<br />
mel nas catacumbas do Faraó que tinha mais<br />
de dois mil anos, e que o mel aparentemente<br />
ainda estava bom para consumir porque tem<br />
açúcares naturais que o conservam”, conta.<br />
Apesar de já produzir em grandes<br />
quantidades, o diretor da marca ainda não<br />
quer optar por industrializar o processo<br />
de produção e embalamento. Desta forma,<br />
“todos os passos que damos na ordem do<br />
abastecimento aos clientes, têm de ser bem<br />
pensados e ao nosso ritmo para que as nossas<br />
reservas não falhem”. E tem resultado, uma<br />
vez que “felizmente, o consumo embalado<br />
que temos ainda não se cruzou com a nossa<br />
capacidade de produção, mas fazemos isso<br />
de propósito”. Quando se avizinha a próxima<br />
cresta (extração do mel) e ainda têm produto<br />
da campanha anterior, vendem a superfícies<br />
como pastelarias ou a alguém que queira<br />
comprar, pois já sabem que daí a pouco tempo<br />
vão ter mel fresco novamente.<br />
A Mel Pirata abastece hotéis, pequenas<br />
lojas de especialidade e lojas gourmet do<br />
distrito. Neste momento pretendem entrar no<br />
mercado em Lisboa, nomeadamente também<br />
em lojas gourmet que queiram representar<br />
o produto. Além disto, têm ainda a vertente<br />
B2C, em que enviam os produtos diretamente<br />
para o consumidor final. O site da empresa<br />
está operacional, mas Paulo Pirata ambiciona,<br />
até ao final do ano, fazer alguns ajustes para<br />
torná-lo numa plataforma de e-commerce. Os<br />
produtos seguem através de transportadora,<br />
que recolhe e entrega as encomendas uma<br />
vez por dia, dependendo do canal a que se<br />
destinam. No caso dos hotéis e pequenas<br />
lojas, o abastecimento é feito de duas em<br />
duas ou três em três semanas, e para o<br />
consumidor final a entrega é efetuada numa<br />
janela horária de 24 a 48 horas.
22<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
A RESILIÊNCIA DA APICULTURA<br />
E DAS ABELHAS<br />
Tendo em conta que o mel é um produto<br />
proveniente da natureza, esta tem um papel<br />
fundamental na sua criação e permanência.<br />
As alterações climáticas é um dos fatores<br />
que influencia bastante a produção de mel<br />
e, consequentemente, o stock existente. É<br />
preciso haver uma grande gestão de produto<br />
para garantir que o abastecimento não<br />
falha. Segundo Paulo Pirata, este foi um<br />
ano “muito fraco” porque choveu pouco no<br />
Alentejo. “As abelhas dependem das chuvas<br />
da primavera para produzirem o mel. São<br />
elas que abastecem as flores que vão dar,<br />
posteriormente, o mel que elas armazenam<br />
e que nós colhemos”, explica. Ainda que<br />
tenha sido um ano que ficou “aquém das<br />
expectativas”, conseguiram manter o nível<br />
de vendas. “Temos sempre de agradecer o<br />
pouco que calha, e ter resiliência. Nós e as<br />
abelhas”, salienta.<br />
A marca comercializa três produtos<br />
distintos vindos destas abelhas. O pólen, que<br />
consiste nos grãos de pólen das flores, e é<br />
um produto muito procurado para introduzir<br />
na dieta alimentar, uma vez que é uma fonte<br />
de vitamina natural. Há ainda o favo de mel,<br />
que é mais consumido pela experiência, “as<br />
pessoas que estão mais ligadas ao campo e<br />
sabem que temos os favos, quando é altura<br />
de fazer a extração, pedem-nos sempre um<br />
pedaço porque evoca à memória antiga do<br />
que é provar o mel”, indica. Por último, o<br />
tesouro mais valioso: o mel, que é dividido<br />
em dois tipos. O “gold”, o mais apreciado, e a<br />
sua colheita é feita, por norma, entre junho e<br />
julho; e o “rubi”, cuja cresta é realizada mais<br />
tarde, finais de agosto e setembro.<br />
Paulo Pirata afasta, para já, o objetivo de<br />
exportar o produto a nível internacional<br />
porque “temos noção da nossa capacidade de<br />
produção, e sabemos que facilmente iríamos<br />
fazer com que o produto desaparecesse”.<br />
Além disso, tem o desejo de “dar mais<br />
relevância ao mercado nacional”, pois<br />
considera que não faz sentido optarmos, por<br />
vezes, por produtos mais baratos cuja origem<br />
de produção não é em Portugal, mas que<br />
nós temos em excesso e de boa qualidade.<br />
“Eu, do ponto de vista do produtor, acho<br />
descabido comprar produtos a outros países,<br />
que tiveram custos de logística e uma<br />
pegada ambiental brutal para chegarem cá,<br />
e depois estamos a vender o nosso produto,<br />
que é bem melhor, para outros sítios. Eu<br />
tenho a vontade de contornar essa situação”,<br />
refere. Há dois anos passou a ser obrigatório<br />
colocar na embalagem a origem real do
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
produto e, no caso do mel, muitas das<br />
marcas que se encontram nas prateleiras,<br />
não estão associadas diretamente a<br />
um produtor ou a uma empresa que se<br />
responsabiliza pela sua origem. Desta forma,<br />
importa ter atenção aos rótulos no momento<br />
de comprar um produto. “É importante<br />
fazermos ver aos cidadãos do nosso país que<br />
é bom comprar o que é nosso”, alerta.<br />
Os frascos da Mel Pirata são de vidro, as<br />
tampas são de metal e os rótulos são de<br />
papel, com o objetivo de dar uma nova vida<br />
às embalagens. No entanto, o compromisso<br />
com a sustentabilidade ambiental vai mais<br />
além, nomeadamente na forma de tratar as<br />
abelhas. “A apicultura é uma das atividades<br />
que não deixa pegada praticamente<br />
nenhuma, nem residual”, afirma o diretor,<br />
relevando a sua importância, “às vezes<br />
defende-se que os apicultores são os maus<br />
da fita porque estamos a roubar o mel às<br />
abelhas, ou a matá-las, mas é precisamente<br />
o contrário”. São os apicultores que investem<br />
mais em caixas de madeira para ter lá as<br />
abelhas e multiplicá-las. “Nós somos os<br />
principais interessados em que elas sejam<br />
sãs”, defende. Há um cuidado em permitir<br />
que as abelhas passem bem durante o<br />
inverno e, para isso, os apicultores colocam<br />
substâncias açucaradas nas caixas que, na<br />
grande maioria, é o próprio mel que elas<br />
produzem. “A abelha em modo selvagem<br />
não é capaz de existir em tanta quantidade.<br />
Portanto se dizem que há falta de abelhas<br />
é porque há falta de apicultores”, termina<br />
Paulo Pirata. •
24<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
Fonte: Alcott Global<br />
CONHECER DESAFIOS<br />
E APLICAR SOLUÇÕES<br />
LOGÍSTICA<br />
Gestão de risco<br />
No mundo da supply chain, a eficiência é importante, assim como a agilidade e capacidade<br />
de adaptação à mudança. Muitas vezes, a velocidade das interrupções e interdependências<br />
criam novas dinâmicas que exigem que líderes e equipas trabalhem em novas skills e<br />
cultivem uma mentalidade aberta para se manterem atualizados em relação a novas<br />
tendências e práticas. Com base num inquérito realizado a mais de 300 profissionais<br />
executivos da área da supply chain, A Alcott Global identificou os principais problemas que<br />
deverão surgir no setor da supply chain nos próximos 12 meses.<br />
DESAFIOS<br />
||| Geopolítica, políticas comerciais<br />
e regulamentação aduaneira<br />
57% dos inquiridos indicaram que<br />
mudanças geopolíticas, políticas comerciais<br />
e regulamentações aduaneiras representam<br />
a ameaça mais iminente nos próximos 12<br />
meses. Tensões geopolíticas podem levar a<br />
disputas comerciais e embargos, enquanto<br />
políticas comerciais e regulamentações<br />
aduaneiras afetam custos, rotas da<br />
cadeia de abastecimento e burocracia.<br />
Estes fatores podem causar incerteza e<br />
volatilidade na indústria, uma vez que<br />
podem perturbar os fluxos de comércio<br />
global, criar barreiras às empresas e afetar a<br />
dinâmica do mercado. Para os supply chain<br />
managers, estes imprevistos tornam mais
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
difíceis o planeamento a longo prazo e o<br />
relacionamento com fornecedores.<br />
||| Aumento da inflação e dos custos<br />
de mão de obra<br />
As mudanças geopolíticas e as incertezas<br />
económicas resultaram num aumento da<br />
inflação no que diz respeito aos custos das<br />
matérias-primas, transporte e mão de obra. As<br />
empresas enfrentaram grandes despesas nas<br />
suas operações. Fatores como a inflação salarial,<br />
regulamentação de trabalho, e a competição<br />
por funcionários qualificados contribuem<br />
para o aumento das despesas. Com base nas<br />
circunstâncias, previsões e dinâmicas económicas,<br />
os líderes precisam de ser o mais estratégicos<br />
possível na implementação de estratégias de<br />
redução de custos e/ou na aplicação de pressão<br />
nos preços a fim de reduzir o impacto dessas<br />
despesas nas margens de lucro. Estas decisões<br />
não são isentas de riscos. Tornar estes custos<br />
mais elevados para os clientes pode tornar os<br />
produtos ou serviços menos competitivos no<br />
mercado. Além disso, as estratégias de redução<br />
de custos podem levar a uma maior exposição a<br />
riscos num ambiente em constante mudança.<br />
||| Regulamentação de emissões e<br />
pegada de carbono<br />
A indústria da supply chain está a<br />
enfrentar uma crescente necessidade de<br />
se concentrar na regulamentação de<br />
bem-vindo a<br />
uma estreita colaboração<br />
em toda a Europa<br />
Descubra o caminho mais curto para uma experiência local,<br />
apoio ao cliente, garantia de disponibilidade e uma<br />
parceria dedicada, com a nossa cobertura Europeia.<br />
together towards a sustainable future
26<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
emissões e na pegada de carbono, devido ao<br />
aumento da consciencialização ambiental<br />
e regulamentações governamentais mais<br />
rigorosas. Clientes, stakeholders e governos<br />
estão a exigir mais responsabilidades e<br />
esforços de sustentabilidade das empresas.<br />
Como resultado, as operações da cadeia<br />
de abastecimento estão a ser afetadas<br />
pelas implementações de regulamentações<br />
sustentáveis. Isso pode tornar-se altamente<br />
desafiante para as empresas, uma vez que<br />
precisam de equilibrar essas responsabilidades<br />
com outras inovações que podem envolver<br />
custos e mudanças nas abordagens<br />
operacionais. Encontrar o equilíbrio é<br />
fundamental para atender às metas<br />
ambientais, enquanto se adaptam a avanços<br />
tecnológicos para se manterem competitivas<br />
no mercado.<br />
||| Restrições de capacidade<br />
Atrasos, bottlenecks e aumento dos custos<br />
são desafios comuns que surgem quando<br />
a capacidade é insuficiente para atender à<br />
procura. Capacidade insuficiente na produção,<br />
transporte ou armazenamento pode gerar<br />
prazos de entrega mais longos e atrasos,<br />
que podem interromper o ritmo de entrega<br />
de mercadoria, levanto a ruturas de stock e<br />
prazos de entrega não cumpridos. Os atrasos<br />
podem ter efeitos cascata em toda a cadeia<br />
de abastecimento, afetando as operações e,<br />
consequentemente, a satisfação do cliente.
SCM Supply Chain Magazine 27<br />
ESTRATÉGIAS<br />
Os profissionais de supply chain<br />
identificaram algumas estratégias para<br />
mitigar o risco que podem resultar destes<br />
desafios.<br />
||| Investir nas tecnologias certas<br />
na supply chain<br />
Investir em tecnologias adequadas à<br />
supply chain é fundamental para manter a<br />
competitividade num cenário empresarial<br />
em constante evolução. Adotar tecnologia<br />
adequada permite às empresas melhorar<br />
a visibilidade, eficiência, o desempenho<br />
geral da cadeia de abastecimento e otimizar<br />
processos, uma vez que oferece uma visão<br />
holística da supply chain revelando restrições<br />
de capacidade, fontes de otimização que<br />
economizariam custos ou indicadores ESG<br />
em tempo real. Desde a adoção de análises<br />
avançadas e Inteligência Artificial (IA) para a<br />
tomada de decisões baseadas em dados, até<br />
à implementação de dispositivos de IoT para<br />
rastreamento em tempo-real, as tecnologias<br />
certas podem revolucionar as operações<br />
da supply chain e levar a uma vantagem<br />
competitiva sustentável.<br />
||| Implementar medidas para<br />
reduzir custos<br />
Medidas de redução de custos são<br />
essenciais para manter a lucratividade<br />
e eficiência na supply chain. Negociar<br />
melhores contratos com fornecedores,<br />
explorar opções alternativas e otimizar<br />
rotas de transporte podem ajudar a<br />
reduzir as despesas. Consolidar entregas e<br />
aproveitar as economias de escala também<br />
podem gerar uma redução de custos<br />
significativa. Além disso, otimizar os níveis<br />
de stock, reduzir o desperdício e melhorar a<br />
eficiência operacional pode contribuir ainda<br />
mais para o objetivo final de diminuir os<br />
gastos.<br />
||| Aplicar estratégias de<br />
desenvolvimento de talentos<br />
Investir em formação permite com que<br />
os funcionários saibam enfrentar eventuais<br />
desafios que surjam na supply chain.<br />
Colaborar com instituições educacionais<br />
e associações do setor ajuda a atrair e<br />
desenvolver talentos, garantindo um fluxo<br />
contínuo de profissionais qualificados.<br />
Plataformas de partilha de conhecimento e<br />
programas de mentoria facilitam ainda mais<br />
o acesso a conhecimentos, fomentando uma<br />
cultura de aprendizagem contínua.<br />
||| Reduzir a pegada de carbono<br />
Estar atualizado sobre mudanças<br />
regulamentares respeitantes à pegada de<br />
carbono de empresas ou indústrias, como as<br />
soluções disponíveis, deverá ser o primeiro<br />
passo. Equipas, líderes e a organização<br />
como um todo, precisam de se adaptar a<br />
esses novos requisitos e incorporá-los nos<br />
negócios. Optando por transportes mais<br />
ecológicos, otimização de embalagens para<br />
reduzir o desperdício e a implementação<br />
de práticas eficientes do ponto de vista<br />
energético contribuem para operações<br />
mais responsáveis ambientalmente.<br />
Parcerias com fornecedores que adotem<br />
práticas sustentáveis reforçam ainda mais<br />
o compromisso com a sustentabilidade<br />
ambiental. •
28<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
30 anos CHEP
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Fotos: CHEP<br />
“A MADEIRA<br />
CONTINUA A SER<br />
IMBATÍVEL DO<br />
PONTO DE VISTA<br />
AMBIENTAL”<br />
Há 30 anos nascia a Chep em Portugal.<br />
Uma empresa de soluções logísticas<br />
que veio revolucionar as cadeias<br />
de abastecimento, através de um<br />
processo mais sustentável, eficiente e<br />
económico: o pooling. Este paradigma<br />
reflete-se na partilha e reutilização das<br />
paletes por produtores e distribuidores<br />
ao longo da cadeia, num modelo<br />
circular. 30 anos depois, a empresa<br />
continua a cumprir o seu propósito<br />
com sucesso, mas reforça o objetivo de<br />
chegar mais além.<br />
veio, há 30 anos, cobrir a<br />
necessidade de estandardizar e ter<br />
"AChep<br />
mais segurança nos equipamentos<br />
de transporte de mercadorias na cadeia de<br />
abastecimento”, afirma Ana Paula Sardinha,<br />
country general manager da Chep Portugal,<br />
num evento dedicado à celebração do<br />
trigésimo aniversário. “A nossa proposta de<br />
valor ao longo destes 30 anos junto dos nosso<br />
clientes, fabricantes e grandes empresas<br />
de retalho com logística organizada, foi<br />
evoluindo no sentido de inovação de produtos,<br />
equipamentos de transporte de mercadoria, de<br />
primeira e última milha, produtos de display<br />
para reposição em loja, e melhoria de todos<br />
os processos e serviço que oferecemos aos<br />
clientes”, acrescenta.<br />
Uma das características-chave do negócio<br />
da Chep é o modelo circular de partilha e<br />
reutilização de paletes, mas a empresa não quer<br />
ficar por aqui no que diz respeito ao seu papel<br />
perante a sustentabilidade ambiental. Um dos<br />
principais objetivos é ser regenerativa, numa<br />
lógica de devolver à natureza o que dela retira.<br />
Tendo em conta que algumas das paletes da<br />
empresa são de madeira, 100% recicláveis e<br />
reutilizáveis, têm o objetivo de, até 2025, ajudar<br />
a que cresçam duas árvores por cada uma que<br />
é utilizada para o fabrico dos produtos. “Hoje<br />
em dia, a madeira continua a ser imbatível do<br />
ponto de vista ambiental, e de rendimento na<br />
área da logística”, afirma Alejandro Tostado, EU<br />
sustainability and government affairs lead.<br />
Além disto, outra das metas a atingir até ao<br />
ano de 2025 é ter 30% de plástico upcycled,<br />
ou seja, recolher o plástico do pós-consumo<br />
e utilizá-lo para voltar a fabricar paletes de<br />
plástico. “Estamos a utilizar um desperdício,<br />
que tem valor zero, e a transformá-lo em<br />
algo valioso”, acrescenta Alejandro Tostado.<br />
Já a longo-prazo, ambicionam ser neutros em<br />
carbono até 2040.
30<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
Atingir estes objetivos sustentáveis é uma<br />
missão da Chep, mas a empresa não descarta<br />
os desafios que deverão surgir no caminho.<br />
Um deles é o transporte, nomeadamente a<br />
quantidade de quilómetros efetuados na estrada.<br />
“Somos afortunados por operar num modelo<br />
circular, mas obviamente esse modelo requer<br />
muito transporte envolvido”, assume Alejandro<br />
Tostado. Assim, realça a importância de trabalhar<br />
com os clientes no sentido de reduzir o número<br />
de quilómetros, e de colaboração com outros<br />
players para utilizar o mesmo transporte e evitar<br />
o retorno em vazio.<br />
Um dos grandes obstáculos que esperam<br />
enfrentar tem que ver com a infraestrutura<br />
europeia. Há uma grande pressão para transitar<br />
utilizando combustíveis alternativos ou veículos<br />
elétricos, mas se não houver infraestrutura,<br />
esta é uma ambição que cai por terra. “Estes<br />
objetivos têm de ser acompanhados de um<br />
esforço privado e um esforço público. De que<br />
vale comprar um camião elétrico se não tivermos<br />
pontos de carregamento?”, questiona. “Diria que<br />
o transporte é o principal desafio, e o objetivo<br />
é manter o ritmo de distribuição”, assume<br />
Alejandro Tostado.<br />
Outro dos pontos-chave mencionados pela<br />
Chep, e que impacta positivamente o seu<br />
negócio, é a digitalização. “Independentemente<br />
de ampliar a gama de serviços e produtos,<br />
queremos que a digitalização nos ajude na<br />
descarbonização do nosso negócio e dos<br />
nossos clientes”, indica Ana Paula Sardinha,<br />
acrescentado que a rastreabilidade permitida por<br />
ferramentas digitais ajuda a reduzir distâncias e<br />
perdas. “Para nós, o digital não é um objetivo. É<br />
um meio para atingir um objetivo”, assume.<br />
“Inovação, compromisso, igualdade e<br />
sustentabilidade são os pilares que espelham os<br />
últimos 30 anos da Chep em Portugal, e que vão<br />
orientar os próximos 30. O futuro das cadeias<br />
de abastecimento já está a ser construído e a<br />
fórmula de sucesso da Chep mantém-se baseada<br />
na eficiência, sustentabilidade e bem-estar dos<br />
colaboradores, clientes e parceiros”, afirma a<br />
empresa em comunicado. O caminho ainda é<br />
longo, e com vários desafios pelo meio,<br />
O caminho ainda é longo, mas “inovação,<br />
compromisso, igualdade e sustentabilidade”<br />
têm sido fatores-chave para o desempenho da<br />
Chep ao longo destes 30 anos, e, sendo esta uma<br />
receita vencedora, manter-se-á para o futuro. •
Uma logística integrada<br />
para um mundo interligado.<br />
Na DACHSER criamos soluções logísticas inteligentes<br />
para coordenar os seus fluxos globais de mercadorias e<br />
informação. Implementamos rotas de transporte integradas<br />
por terra, ar e mar, processos estandardizados e uma<br />
gestão da qualidade sem falhas, que contribuem para a<br />
otimização de toda a sua cadeia de abastecimento.<br />
dachser.pt
32<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Top 10 empresas<br />
de procurement <strong>2023</strong><br />
Fonte: Procurement Magazine<br />
TOP 10 EMPRESAS<br />
DE PROCUREMENT<br />
<strong>2023</strong><br />
Inovação e tecnologia são característicaschave<br />
para a sobrevivência de empresas<br />
de vários setores. Na área das compras,<br />
a tecnologia deve estar no centro da<br />
estratégia, pois vai ditar o sucesso do<br />
negócio. A Procurement Magazine fez uma<br />
seleção das 100 empresas de procurement<br />
que mais se destacaram este ano pelas suas<br />
soluções e serviços, das quais decidimos<br />
apresentar o top 10.<br />
.10<br />
ACCENTURE<br />
A Accenture é uma multinacional de<br />
consultoria de gestão, tecnologia de<br />
informação, especializada na área digital,<br />
cloud e segurança. Atua em mais de 40<br />
setores, incluindo o das compras. Ao ajudar<br />
os líderes nas áreas financeira, da cadeia de<br />
abastecimento e procurement, a Accenture tem<br />
um papel ativo em transformar as compras de<br />
um ativo estratégico inexplorado, numa fonte<br />
de vantagem competitiva. A Accenture ajuda<br />
as organizações a gerar economias de custo,<br />
mitigar riscos e tomar melhores decisões para<br />
o sucesso do negócio. Através das soluções<br />
source-to-pay (S2P), source-to-contract (S2C),<br />
procure-to-pay (P2P) e aquisições rápidas<br />
para impulsionar a transformação de ponta a<br />
ponta em gastos diretos e indiretos, o objetivo<br />
passa por agregar mais valor ao negócio, bem
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
como capacitar o talento com novas formas de<br />
trabalhar.<br />
.09<br />
AMAZON BUSINESS<br />
A Amazon Business trabalha com pequenas<br />
empresas, escolas, hospitais, organizações<br />
sem fins lucrativos, governos e grandes<br />
empresas no sentido de as ajudar a simplificar<br />
o processo de procurement, nomeadamente<br />
gerando economias de custos, aumentando a<br />
produtividade e obtendo análises de compras<br />
esclarecedoras. A empresa ajuda ainda os<br />
clientes a alcançar compromissos com a<br />
sustentabilidade ambiental, oferecendo<br />
a funcionalidade de filtrar a pesquisa por<br />
produtos com o selo “Climate Pledge Friendly”,<br />
que indica os produtos com certificações<br />
de sustentabilidade. As equipas de compras<br />
podem também ter acesso a informações<br />
sobre o que foi gasto em certificações de<br />
sustentabilidade.<br />
.08<br />
ZYCUS<br />
A Zycus é uma empresa pioneira em software<br />
de compras cognitivas, frequentemente<br />
reconhecida pela Gartner, Forrester e outros<br />
analistas, pela sua solução integrada de S2P.<br />
Através dela, impulsiona as suas soluções com<br />
a Merlin AI Suite, criada através da experiência<br />
da empresa em Inteligência Artificial (IA) para<br />
fornecer aos líderes de compras a possibilidade<br />
de trabalhar com inovações revolucionárias.<br />
O Merlin Experience Centre da Zycus oferece<br />
um espaço flexível para as organizações<br />
explorarem como a IA pode ser robusta<br />
quando combinada com uma plataforma<br />
segura, bem como a sua capacidade de<br />
fornecer insights e simplificar tarefas. Algumas<br />
das soluções-chave que podem apresentar<br />
vantagens à área de compras incluiem radar<br />
de risco de fornecedores, leitor de faturas, AP<br />
Smart Desk e Insta Review.<br />
.07<br />
IVALUA<br />
A Ivalua é uma empresa francesa que<br />
fornece um software de gestão de despesas<br />
baseado em cloud, e acredita no potencial<br />
da transformação digital para as empresas<br />
alcançarem a resiliência das cadeias de<br />
abastecimento e sustentabilidade. Ao longo<br />
de cerca de 25 anos, tem oferecido aos<br />
profissionais de compras e gestão da cadeia<br />
de abastecimento, uma plataforma unificada<br />
para capacitar a gestão eficaz de despesas e<br />
fornecedores. A plataforma ajuda as empresas<br />
a aumentar o lucro, melhorar o desempenho<br />
ESG, reduzir riscos e aumentar a produtividade<br />
dos funcionários.<br />
.06<br />
ORACLE<br />
A Oracle é uma empresa de tecnologia<br />
em cloud que fornece infraestrutura<br />
computacional e de software a organizações<br />
em todo o mundo. Através da sua tecnologia,<br />
a Oracle impulsiona a inovação e desbloqueia<br />
eficiências, otimizando cadeias de<br />
abastecimento, tornando os recursos humanos<br />
mais humanos, adaptando planos financeiros
34<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
e conectando dados e pessoas a nível global. A<br />
Oracle Fusion Cloud Procurement oferece aos<br />
profissionais uma solução de ponta a ponta<br />
que automatiza processos de negócio, permite<br />
compras estratégicas, melhora a gestão de<br />
relacionamento com fornecedores e simplifica<br />
o processo de compra.<br />
.05<br />
IBM<br />
A IBM é uma empresa internacional de<br />
serviços de Tecnologias de Informação (TI) e<br />
consultoria. Quando se trata de compras, ajuda<br />
a acelerar a transformação das operações de<br />
compras através de um acesso maior a dados<br />
importantes, insights e tecnologias emergentes.<br />
A IBM ajuda os profissionais de compras a<br />
aprimorar os processos e a desbloquear valor,<br />
colaborando com os clientes para criar fluxos de<br />
trabalho inteligentes que combinam expertise,<br />
tecnologias avançadas e fontes de dados<br />
internas e externas em cloud híbrida. Aliado<br />
a tudo isto, auxilia com automação em tempo<br />
real, modelos operacionais ágeis, IA, análises<br />
preditivas, parcerias estratégicas e sourcing com<br />
gestão de risco. Os principais serviços que a IBM<br />
oferece à área de compras é o S2P e o invoiceto-pay<br />
(I2P).<br />
.04<br />
GEP<br />
A GEP é uma das principais fornecedoras de<br />
S2P para compras diretas e indiretas. Além<br />
de soluções transformadoras para a cadeia<br />
de abastecimento para ajudar as empresas a<br />
tornarem-se mais ágeis, resistentes e eficientes,<br />
a empresa agrega ainda soluções e produtos<br />
inovadores para os clientes. Desenvolvido<br />
para profissionais de compras, o software GEP<br />
impulsiona uma maior eficiência e desempenho<br />
com uma solução abrangente para compras<br />
diretas e indiretas a fim de simplificar e<br />
automatizar todos os processos de S2P. As<br />
soluções da empresa unificam as operações<br />
de sourcing upstream e compras downstream<br />
numa plataforma em cloud.<br />
.03<br />
JAGGAER<br />
A Jaggaer, líder mundial em procurement direto,<br />
oferece uma solução unificada para os clientes<br />
gerirem 100% dos seus gastos através do Jaggaer<br />
One. Impulsionando a revolução autónoma<br />
para reduzir riscos, melhorar a resiliência,<br />
aumentar a eficiência operacional e obter ganhos<br />
financeiros significativos, a Jaggaer está a liderar<br />
a transformação de compras, passando da<br />
aquisição tática para uma experiência automática<br />
e autónoma de comércio B2B. Projetado para ser<br />
N.I.C.E. (Network, Intelligence, Comprehensive,<br />
Extensibility), o Jaggaer One oferece uma rede<br />
de compradores, fornecedores e parceiros<br />
empresariais; inteligência que utiliza IA e machine<br />
learning; soluções abrangentes para atender<br />
a necessidades específicas; e extensibilidade<br />
para explorar e implementar soluções<br />
complementares.<br />
.02<br />
COUPA<br />
A Coupa é uma das principais fornecedoras<br />
de plataformas cloud para a gestão de gastos
SCM Supply Chain Magazine 35<br />
empresariais. A tecnológica dedica-se a<br />
providenciar valor comercial aos seus clientes<br />
através de uma maior visibilidade e controlo<br />
para gastar de forma mais inteligente e segura.<br />
Adotando uma abordagem abrangente para a<br />
gestão de gastos, os clientes beneficiam de uma<br />
plataforma unificada onde todos os gastos podem<br />
ser consultados num só lugar. O software da<br />
Coupa permite com que os usuários beneficiem<br />
de oportunidades de economia, insights sobre<br />
fornecedores, gastos otimizados e transações<br />
rápidas para tomadas de decisão conscientes, e<br />
maior agilidade. A Coupa está a transformar a<br />
forma como as empresas gerem os seus gastos<br />
através da co-criação de novas capacidades que<br />
permitem a clientes, parceiros e fornecedores,<br />
uma maior visibilidade, insights e soluções.<br />
.01<br />
SAP<br />
A SAP é a plataforma de negócios de compras<br />
mais popular. A sua cultura de conformidade<br />
significa que apenas fornecedores aprovados se<br />
encontram na sua base de dados. Devido à sua<br />
facilidade de utilização, alto nível de segurança<br />
e integração das mais recentes tecnologias nos<br />
processos automatizados, destaca-se como líder<br />
na área dos sistemas de compras. A estratégia<br />
da SAP é ajudar todas as empresas a operar<br />
de forma inteligente e sustentável, através<br />
de tecnologias avançadas, machine learning<br />
e IoT. •
36<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Automatização<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
MELHORAR<br />
A EFICIÊNCIA<br />
OPERACIONAL<br />
Numa era de constante metamorfose<br />
no setor agroalimentar, a Manuel<br />
Patrício - Produtos Alimentares,<br />
com três décadas de atividade, quer<br />
acompanhar a evolução, e apostou<br />
numa parceria com a Körber Supply<br />
Chain para automatizar a sua logística.<br />
Esta decisão, além de otimizar o<br />
desempenho da empresa, desenha<br />
o contorno do futuro das soluções<br />
automatizadas para o armazenamento<br />
e transporte de hortofrutícolas.<br />
AManuel Patrício Produtos Alimentares<br />
apostou numa colaboração estratégica de<br />
alto impacto com a Körber Supply Chain,<br />
com o objetivo de implementar soluções de<br />
automação que vieram revolucionar a forma<br />
como lidam com o armazenamento e distribuição<br />
dos seus produtos.
SCM Supply Chain Magazine 37<br />
A empresa comercializa batata vermelha,<br />
batata branca, batata especial para cozer,<br />
batata especial para fritar, batata especial para<br />
assar, cebola e alho e enfrentava dificuldades<br />
significativas no que diz respeito ao espaço<br />
limitado para armazenar os palotes de madeira<br />
no seu sistema manual. Além disso, o acesso<br />
manual era uma tarefa exigente e arriscada, já<br />
que os palotes eram empilhados, tornando quase<br />
impossível a implementação de um sistema de<br />
rotação baseado no princípio “First In, First Out“<br />
(FIFO).<br />
No entanto, um novo horizonte surgiu quando<br />
a Körber Supply Chain entrou no panorama.
38<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
ATIVIDADES<br />
DA MANUEL PATRÍCIO<br />
EMBALAMENTO<br />
BATATAS E CEBOLAS<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
BATATAS, CEBOLAS<br />
E ALHOS SECOS<br />
EXPORTAÇÃO<br />
BATATA NACIONAL PARA<br />
O MERCADO EUROPEU<br />
“A opção pela Körber na implementação deste<br />
projeto surgiu de forma natural por se tratar<br />
de uma empresa bem enraizada no mercado,<br />
com provas dadas ao nível da implementação<br />
de soluções deste género. Pauta-se pelo<br />
profissionalismo e esforço incansável de ir ao<br />
encontro dos requisitos do cliente”, diz Manuel<br />
Patrício, sócio-gerente da empresa. Foi desta<br />
forma que a Körber Supply Chain forneceu<br />
tecnologias de logística automatizada que<br />
aumentaram significativamente a capacidade de<br />
armazenamento e a produtividade da empresa<br />
em Portugal.<br />
Este projeto abrangeu diversas iniciativas<br />
essenciais para a modernização do armazém<br />
da Manuel Patrício. Entre elas, destaca-se a<br />
instalação de transelevadores e um Sistema de<br />
Gestão de Armazéns (SGA), que permitirá uma<br />
gestão mais eficiente dos produtos alimentares,<br />
com foco especial em legumes frescos,<br />
frequentemente acondicionados em palotes<br />
de madeira. Ademais, a iniciativa envolveu<br />
a coordenação técnica com fornecedores<br />
de sistemas de estantes e equipamentos de<br />
refrigeração, a fim de garantir um ambiente ideal<br />
para a preservação dos alimentos.<br />
Vítor Alves, gestor de vendas de Portugal<br />
da Körber, sublinha que “este é um projeto<br />
importante e significativo para nós no nosso<br />
mercado português, onde somos reconhecidos<br />
como uma empresa líder na automação da<br />
cadeia de abastecimento. É um prazer expandir<br />
o nosso negócio na indústria em ambiente de<br />
temperatura controlada com um cliente como a<br />
Manuel Patrício”.<br />
IMPORTAÇÃO<br />
BATATA DE CONSUMO<br />
E BATATA DE SEMENTE<br />
CERTIFICADA<br />
MOLDANDO O PRESENTE<br />
Antes da automatização, a tarefa de encontrar<br />
e ter acesso aos produtos armazenados era<br />
um desafio demorado e trabalhoso. Os palotes<br />
estavam empilhados numa câmara manual, e a
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
busca pelo contentor desejado consumia tempo<br />
precioso.<br />
“Para aceder a uma câmara manual era<br />
necessário abrir uma porta, que se mantinha<br />
aberta durante um tempo considerável, para<br />
que os produtos corretos fossem preparados".<br />
A abertura constante de portas nas câmaras<br />
manuais resultava em perda de energia<br />
significativa e flutuações de temperatura que<br />
comprometiam a qualidade dos produtos<br />
armazenados. Esse cenário não era apenas<br />
ineficiente, mas também representava um risco<br />
para a integridade dos alimentos.<br />
Segundo Manuel Patrício, “com a<br />
implementação do sistema automático da<br />
Körber, pretendemos tirar o máximo partido<br />
da câmara de frio, em termos de capacidade de<br />
arrumação, sem prejuízo do acesso a qualquer<br />
lote armazenado. Permite-nos ainda, ao<br />
automatizar as entradas e saídas de produtos,<br />
eliminar possíveis erros/acidentes resultantes do<br />
empilhamento dos palotes”.<br />
A inovação tecnológica não se limita à<br />
automação física. O software integrado<br />
desempenha um papel crucial no controlo e<br />
na identificação automatizada dos palotes,<br />
permitindo uma inventariação precisa do produto<br />
armazenado a qualquer momento. Isso elimina<br />
erros e reduz a necessidade de gestão manual,<br />
proporcionando uma eficiência operacional<br />
significativamente melhorada.<br />
“O software agregado a este sistema, ao<br />
controlar e identificar automaticamente os<br />
palotes, permite-nos, em qualquer momento,<br />
proceder à inventariação do produto<br />
armazenado<br />
CONNOSCO
40<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong>
SCM Supply Chain Magazine 41<br />
e diminuir erros resultantes de uma gestão<br />
manual de um armazém de frio. Recorrer a<br />
processos automatizados torna-se essencial<br />
para nos mantermos num mercado cada vez<br />
mais competitivo. Este projeto permitirá<br />
aumentar a nossa eficiência, quer em termos<br />
operacionais, quer ao nível da gestão”, explica.<br />
A automação não apenas simplificou<br />
o acesso aos produtos, eliminando a<br />
necessidade de abrir portas constantemente,<br />
mas também criou um ambiente de<br />
temperatura controlada que é essencial para<br />
a preservação da qualidade dos alimentos:<br />
“Com o sistema automático, não só os<br />
alimentos estão armazenados em palotes<br />
em ambiente de temperatura totalmente<br />
controlada, como deixou de ser necessário<br />
abrir e fechar portas; para nós, este<br />
investimento representou uma considerável<br />
redução do consumo de energia”.<br />
O resultado desta colaboração é um<br />
armazém automatizado de última geração.<br />
Com capacidade para armazenar cerca de<br />
3.500 toneladas de alimentos, o sistema é<br />
capaz de movimentar aproximadamente 57<br />
toneladas de entrada e 48 toneladas de saída<br />
por hora. Traduzido em números, isso significa<br />
uma movimentação diária estimada de 460<br />
toneladas de entrada e 384 toneladas de<br />
saída durante um período de 8 horas.<br />
Manuel Patrício não esconde a sua<br />
satisfação com este passo estratégico: “os<br />
resultados alcançados são notáveis e já<br />
estamos a colher os benefícios do nosso<br />
investimento. Além de aumentarmos<br />
substancialmente a nossa capacidade de<br />
armazenamento e tempo de resposta, demos<br />
também um passo importante em direção à<br />
sustentabilidade, o que abre oportunidades<br />
exponenciais para o crescimento e<br />
aprimoramento do nosso negócio”.<br />
Este não é apenas um marco na jornada<br />
da Manuel Patrício - Produtos Alimentares;<br />
é um indicativo claro de como as soluções<br />
tecnológicas estão a moldar o presente e a<br />
otimizar o futuro das operações. •
42<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
“A NOSSA<br />
AMBIÇÃO É<br />
CRESCER DE FORMA<br />
SUSTENTÁVEL”<br />
No passado mês de setembro, a<br />
Rotom Portugal reuniu a equipa e<br />
parceiros numa celebração do seu 15º<br />
aniversário no mercado português,<br />
no World Of Wine, em Vila Nova<br />
de Gaia. O momento ficou ainda<br />
marcado pela presença do CEO da<br />
Rotom Europe, Arjan Kuiper, que se<br />
deslocou a Portugal para participar<br />
nas comemorações. Em entrevista<br />
ao CEO da empresa-mãe e a Miguel<br />
Correia, managing director da Rotom<br />
Portugal, fomos conhecer a história<br />
por detrás da subsidiária, bem como<br />
as suas preocupações nacionais e<br />
internacionais.<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Rotom Portugal<br />
"Há quinze anos, quando abrimos a nossa<br />
sucursal, e desafiei o Grupo Rotom a<br />
investir em Portugal, sabia que havia<br />
espaço no mercado para uma empresa<br />
profissional no setor das paletes e produtos<br />
logísticos”, recorda Miguel Correia. No início da<br />
atividade da empresa, conta que encontraram<br />
algumas dificuldades, agravadas pela crise de<br />
2008, mas que “eram desafios típicos de um<br />
começo do zero”.<br />
Arjan Kuiper conta que “quando recebemos<br />
a proposta do Miguel Correia para nos<br />
expandirmos estávamos convencidos de que<br />
conseguiríamos vender os nossos produtos em<br />
Portugal, e que os nossos produtos e serviços<br />
também eram utilizados por toda a Europa. Foi<br />
um passo lógico para nós, visto que já tínhamos<br />
alguma atividade em Espanha, mas a razão para<br />
termos avançado para Portugal foi termos o<br />
Miguel Correia como managing director”.<br />
Reforça a ideia defendida pelo responsável<br />
nacional de que o início foi o processo mais<br />
complicado, pois “estávamos a começar do zero
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
e precisávamos de encontrar a nossa posição no<br />
mercado”, mas que “a estrada desenvolveu-se<br />
graças ao negócio de paletes usadas, e passo a<br />
passo estendemos outros grupos de produtos,<br />
como as paletes de plástico. Os passos seguintes<br />
foram adicionar serviços como aluguer, poolback<br />
e logística inversa”, revela o CEO, acrescentando<br />
que “o serviço de aluguer iniciou-se rapidamente,<br />
mas foi difícil encontrar clientes, porque cada<br />
mercado ainda tinha de se adaptar ao aluguer”.<br />
Para além disso, também implementaram a<br />
loja online, onde as pessoas podem comprar os<br />
seus produtos, “e agora somos um prestador de<br />
serviços completos de necessidades logísticas”.<br />
EVOLUÇÃO DA ROTOM PORTUGAL<br />
Olhando para o percurso da empresa, Miguel<br />
Correia nota que tiveram um crescimento<br />
constante em termos de faturação, e que se<br />
tornaram uma empresa sólida e financeiramente<br />
sustentável, tendo em 2022 alcançado o seu<br />
melhor resultado de sempre. “Fiquei admirado<br />
quando os visitei em 2008, na Bélgica e Holanda<br />
pelas operações tremendas que já tinham, e<br />
agora temos cá investimentos e estruturas<br />
similares, o que muito me orgulha, porque o<br />
mercado português era muito atrasado nesta<br />
área, muitas empresas eram ‘um descampado<br />
com um contentor e um empilhador’ ”.<br />
O managing director nota que “a evolução do<br />
mercado e da nossa quota ao longo dos anos<br />
tem sido notável. Desde a abertura do nosso<br />
armazém na Maia há seis anos e, posteriormente,<br />
da nossa moderna sede em Valado dos Frades<br />
em janeiro de 2019 com um total de 18 mil m2,<br />
testemunhámos um crescimento significativo no<br />
mercado”.<br />
Desde 2019, a Rotom tem conquistado “uma<br />
quota significativa no mercado das paletes<br />
usadas e novas em Portugal”, explica o managing<br />
director. Ao mesmo tempo, têm vindo a expandir<br />
a sua presença em produtos plásticos, como<br />
paletes, caixas e palotes, e nos serviços de<br />
aluguer e reparação de paletes de madeira,<br />
sendo os únicos com licença EPAL para reparar<br />
Europaletes homologadas em Portugal. Através<br />
destas expansões, a Rotom conseguiu aumentar<br />
a sua capacidade operacional, “proporcionando<br />
aos nossos clientes um salto quantitativo e<br />
qualitativo nos nossos serviços”, revela Miguel<br />
Correia.<br />
Ao nível do segmento de madeira usada, a<br />
Rotom Portugal afirma-se como líder nacional,<br />
mas reconhece que “ainda há muito trabalho a<br />
ser feito para crescermos nos produtos metálicos<br />
nos próximos anos, incluindo rol containers,<br />
gitterboxes e mobile racks”.<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
“A sustentabilidade é uma preocupação<br />
constante na Rotom”, afirma Miguel Correia, “já<br />
somos autossuficientes em energia elétrica em<br />
Valado dos Frades, graças a painéis solares. Além<br />
disso, todos os nossos empilhadores e a nossa<br />
frota automóvel são movidos a eletricidade”,<br />
revelando ainda que têm em curso um<br />
investimento na descarbonização.<br />
Fora das suas portas, a empresa também<br />
promove a sustentabilidade junto dos parceiros<br />
e futuros clientes, encorajando o aluguer, o uso<br />
de produtos reutilizáveis, através da promoção<br />
da reutilização e circularidade das paletes entre<br />
outros meios de carga, a utilização integral das<br />
paletes partidas e dos resíduos para a produção<br />
de biomassa, bem como a adesão aos seus<br />
serviços de reparação.<br />
Arjan Kuiper conta-nos que algo que tentam<br />
fazer, através destes serviços, é aumentar o<br />
tempo de vida das paletes através da reparação,<br />
sendo uma forma mais sustentável de abordar o
44<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
negócio. Por outro lado, através do sistema<br />
de aluguer, também conseguem rentabilizar<br />
a vida dos produtos, levando as paletes aos<br />
seus clientes apenas quando estes necessitam<br />
delas, ao invés de ficarem guardadas e a ocupar<br />
espaço até serem necessárias novamente. “É<br />
uma poupança. É uma otimização da cadeia<br />
de abastecimento, porque as empresas já não<br />
mantêm os produtos nos seus espaços quando<br />
não precisam deles, recebem-nos apenas quando<br />
forem necessários”.<br />
O CEO afirma ainda que “a nossa missão é<br />
cuidar da próxima geração. Precisamos fazer<br />
algo no mundo para o tornar mais sustentável<br />
para a próxima geração, e é também aqui que<br />
vamos colocar o foco: ajudar os nossos clientes,<br />
mas também a nossa própria organização, a<br />
tornarem-se mais sustentáveis”.<br />
ESTADO DO SETOR<br />
Em julho de 2022, o mercado das paletes passou<br />
por um período de escassez de produtos. “Houve<br />
uma grande procura no mercado”, explica<br />
Arjan Kuiper, “os preços das matérias-primas<br />
quase triplicaram face a 2020, e isso levou a<br />
uma escassez. Geralmente as empresas estão<br />
focadas nos preços, mas desta vez focaram-se<br />
em garantir a funcionalidade da supply chain”.<br />
Graças à sua rede europeia, a Rotom conseguiu<br />
ultrapassar as dificuldades e manter as suas<br />
entregas, mas o CEO também aponta que isto<br />
fez com que os clientes se questionassem e<br />
procurassem soluções alternativas, o que serviu<br />
como catalisador para a sustentabilidade, e<br />
para a circularidade. “Vimos uma alteração no<br />
comportamento dos clientes, que agora estavam<br />
mais abertos para soluções circulares, menos<br />
dependentes das matérias-primas”, nota.<br />
Olhando para os desafios do mercado das<br />
paletes a nível nacional, em <strong>2023</strong> “observámos<br />
uma quebra nalguns setores, o que levou a<br />
uma diminuição nos preços, tanto na compra<br />
quanto na venda”. Miguel Correia revela estarem<br />
empenhados em aumentar as quantidades,<br />
negociando com mais fornecedores na grande<br />
distribuição, de modo a aumentar os volumes<br />
e focarem-se nos setores mais resilientes,<br />
procurando assim manter um desempenho<br />
semelhante ao de 2022. “Estamos a adaptar<br />
a nossa estratégia para enfrentar as atuais<br />
condições do mercado e continuar a oferecer<br />
o melhor serviço possível aos nossos clientes”,<br />
afirma ainda.<br />
Apesar de os preços terem diminuído, e<br />
consequentemente também as margens, no<br />
primeiro semestre tiveram um balanço positivo<br />
e conseguiram manter a faturação face ao<br />
período homólogo. “Desde janeiro temos um<br />
comprador experiente dedicado à compra de<br />
paletes novas e usadas, que nos tem ajudado<br />
neste departamento”, explica Miguel Correia.<br />
No caso do aluguer de equipamentos, mantémse<br />
um segmento estável face ao ano anterior,<br />
e o managing director mostra-se confiante de<br />
que com a campanha das vindimas e com a<br />
preparação da campanha natalícia estes serviços<br />
ainda irão crescer até ao final do ano.<br />
Ao nível das tendências, para além da pressão<br />
dos preços, destaca a melhoria de qualidade,<br />
de modo a ir ao encontro das expectativas do<br />
cliente, e revela que o mercado procura cada vez<br />
mais projetos à medida, como caixas retornáveis<br />
com interiores, para colocarem peças, em<br />
substituição de cartão de um só uso. “Também<br />
estamos a ser solicitados para alugueres de<br />
produtos em setores mais diversificados.<br />
O aluguer pode ser uma alternativa ao<br />
investimento, e a Rotom tem capacidade para<br />
servir milhares de ativos, sendo uma alternativa<br />
sustentável”, destaca, referindo ainda que a<br />
empresa tem sido contactada para apresentar<br />
os seus serviços de recuperação de embalagens<br />
com a 2Return, e serviços de banco de paletes e
SCM Supply Chain Magazine 45<br />
logística inversa com a Poolback.<br />
A nível europeu, Arjan Kuiper aponta que<br />
nos últimos dois anos o mercado ficou muito<br />
fragmentado, e que muitas empresas de paletes<br />
tiveram grandes lucros graças aos preços<br />
altos do mercado, o que também se deveu às<br />
disrupções na supply chain. “O mercado está a<br />
mudar gradualmente desde o norte da Europa.<br />
Agora vê-se uma maior consolidação, muitas<br />
empresas à venda, e compradas por maiores.<br />
Acho que essa consolidação irá continuar”.<br />
CRESCIMENTO<br />
NOS DIFERENTES MERCADOS<br />
Tal como tem ocorrido nos outros mercados<br />
europeus, com a compra de várias empresas<br />
como as Go Plastic Pallets, All Pallets e<br />
Maxi Palettes, por parte da Rotom Europe,<br />
a subsidiária também pretende continuar<br />
a crescer em Portugal, e encontra-se à<br />
procura de empresas para adquirir. “Estamos<br />
atualmente em negociações com vários players<br />
do mercado e esperamos ter em breve notícias<br />
positivas, o que nos permitirá dar um salto<br />
significativo a nível nacional”, revela Miguel<br />
Correia.<br />
Arjan Kuiper nota que esta expansão recente<br />
a nível europeu deveu-se a um aumento de<br />
capital através de um parceiro, e que “eles<br />
ajudaram-nos com a nossa estratégia de<br />
compra de negócios para nos tornarmos líderes<br />
de mercado. Precisamos de uma rede densa, e<br />
de estar presentes em vários locais, de modo<br />
a reduzirmos os quilómetros de transporte na<br />
recolha de paletes e na entrega de volta às<br />
fábricas, apostando na curta distância”.<br />
“A nossa ambição é crescer de forma<br />
sustentável”, afirma Miguel Correia, “há quinze<br />
anos, quando desafiei o Grupo Rotom a investir<br />
em Portugal e abrimos a nossa sucursal,<br />
sabia que havia espaço no mercado para uma<br />
empresa profissional no setor das paletes e<br />
produtos logísticos. Hoje, a Rotom Portugal<br />
é uma empresa de sucesso reconhecido, que<br />
queremos manter sólida nos próximos anos”.<br />
Confiante no crescimento da empresa, após<br />
o seu discurso no evento, o CEO da Rotom<br />
Europe ofereceu uma estátua de uma tulipa<br />
à Rotom Portugal, simbolizando não só o<br />
crescimento da empresa nestes últimos 15<br />
anos, mas também enquanto um dos símbolos<br />
dos Países Baixos, onde se encontra sediada a<br />
Rotom Europe. •
46<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Práticas responsáveis<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
6 DICAS<br />
PARA EMPRESAS<br />
COM PROPÓSITO<br />
À medida que as empresas assumem<br />
um papel central na construção de<br />
um futuro mais equitativo, justo e<br />
sustentável, torna-se cada vez mais<br />
evidente a urgência de expandir<br />
práticas responsáveis para além das<br />
fronteiras das organizações. Nesse<br />
contexto, o Pacto Global das Nações<br />
Unidas oferece um guia prático com<br />
seis dicas valiosas para fortalecer a<br />
sustentabilidade social nas empresas.<br />
Num mundo em constante transformação,<br />
as empresas desempenham um papel<br />
crucial na busca por um futuro mais justo,<br />
equitativo e sustentável. Não se limitam a<br />
gerar riqueza e emprego; são também agentes<br />
de mudança positiva, defensoras dos direitos<br />
humanos, guardiãs do ambiente e combatentes<br />
contra a corrupção. A responsabilidade<br />
corporativa não se restringe às operações<br />
internas das empresas. Hoje, mais do que<br />
nunca, as empresas reconhecem a imperiosa<br />
necessidade de estender essas práticas<br />
responsáveis e éticas a todas as fases das suas<br />
cadeias de abastecimento. É precisamente<br />
neste contexto que o Pacto Global das Nações<br />
Unidas oferece um conjunto de seis dicas<br />
essenciais para capacitar as empresas a reforçar<br />
a sustentabilidade social nas suas cadeias de<br />
abastecimento. Ao explorarmos como estas<br />
iniciativas podem ser aplicadas e os benefícios<br />
que podem proporcionar, não apenas para as<br />
empresas, mas para a sociedade como um todo,<br />
compreendemos melhor o papel fundamental
SCM Supply Chain Magazine 47<br />
que as empresas desempenham na construção<br />
de um futuro mais promissor.<br />
1. RASTREABILIDADE<br />
Já alguma vez questionou a origem dos<br />
produtos utilizados pela sua empresa?<br />
O Pacto Global das Nações Unidas, em<br />
colaboração com a BSR, desenvolveu um guia<br />
que ajuda empresas e partes interessadas a<br />
compreender e melhorar a rastreabilidade<br />
da sua cadeia de abastecimento. Este<br />
guia oferece insights sobre como seguir a<br />
jornada de um produto, desde a aquisição<br />
de matérias-primas até à produção final.<br />
Ao utilizá-lo, poderá descobrir as histórias<br />
por detrás dos seus produtos, permitindo<br />
escolhas mais informadas para um futuro<br />
transparente e sustentável.<br />
2. TRABALHO DIGNO<br />
As decisões de compra da sua empresa têm<br />
o poder de moldar salários justos, condições<br />
de trabalho seguras e garantir os direitos<br />
dos trabalhadores. Ao usar o “Decent Work<br />
Toolkit for Sustainable Procurement”, criado<br />
pelo Pacto Global das Nações Unidas, poderá<br />
integrar esses princípios nos seus processos.<br />
Isso permitirá que priorize práticas de<br />
trabalho digno, impactando positivamente o<br />
bem-estar dos trabalhadores e promovendo<br />
operações sustentáveis na sua cadeia de<br />
abastecimento.<br />
3. SALÁRIOS JUSTOS<br />
Combater os baixos salários é essencial para<br />
garantir o bem-estar dos trabalhadores e<br />
promover a produtividade e a retenção de<br />
talentos. O Pacto Global das Nações Unidas<br />
oferece ferramentas como o “Improving<br />
Wages to Advance Decent Work in Supply<br />
Chain” e o “Living Wage Analysis Tool” para<br />
auxiliar na promoção de salários justos e
48<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
dignos para todos os trabalhadores, famílias e<br />
comunidades.<br />
4. SAÚDE E BEM-ESTAR<br />
Garantir a proteção dos trabalhadores, a<br />
redução de riscos ocupacionais e a promoção<br />
do bem-estar geral são fundamentais para a<br />
sustentabilidade das operações na cadeia de<br />
abastecimento. O Pacto Global das Nações<br />
Unidas e a Organização Internacional do<br />
Trabalho (OIT) estabeleceram nove práticas<br />
empresariais para promover o trabalho decente<br />
e melhorar a segurança e a saúde ocupacional<br />
globalmente. Ao implementar essas práticas,<br />
contribuirá para a criação de cadeias de<br />
abastecimento seguras e saudáveis, com foco no<br />
bem-estar dos trabalhadores.<br />
5. POLÍTICAS AMIGAS DA FAMÍLIA<br />
Muitas vezes, os trabalhadores e as suas famílias<br />
nas cadeias de abastecimento globais enfrentam<br />
a falta de benefícios essenciais, como licença<br />
parental remunerada, salários justos, cuidados de<br />
saúde e serviços de cuidados infantis acessíveis.<br />
Esta situação afeta desproporcionalmente as<br />
mulheres e dificulta o progresso em direção<br />
à igualdade de género e aos Objetivos de<br />
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os<br />
empregadores podem fazer a diferença ao<br />
implementar políticas amigas da família para<br />
pais e cuidadores em todas as suas operações,<br />
parcerias comerciais e cadeias de abastecimento.<br />
6. ABORDAGEM SENSÍVEL AO<br />
GÉNERO<br />
Ao incorporar uma perspetiva de género<br />
na ferramenta de compras sustentáveis, os<br />
compradores ganham uma compreensão<br />
completa de como incorporar considerações<br />
de género nas suas estratégias de aquisição.<br />
O “Decent Work Toolkit for Sustainable<br />
Procurement” oferece um guia prático para<br />
promover ativamente a igualdade de género e<br />
a não discriminação nas decisões de compra,<br />
enfatizando os benefícios de adquirir produtos de<br />
empresas detidas por mulheres ou fornecedores<br />
sensíveis ao género. Ao implementar estas<br />
medidas, as empresas promovem a igualdade<br />
de género e desbloqueiam os benefícios de<br />
LEITURAS A REALIZAR<br />
RELATÓRIOS<br />
"A Guide to Traceability: A Practical Approach to Advance Sustainability in Global<br />
Supply Chains" - Escritório do Pacto Global da ONU, 2014.<br />
"Navigating Decent Work Challenges in Multi-Tiered Supply Chains: Leadership Brief"<br />
- Assent Compliance, Inc. e United Nations Global Compact, 2020<br />
"Nine Business Practices for Improving Safety and Health Through Supply Chains and<br />
Building a Culture of Prevention and Protection" - International Labour Organization e<br />
United Nations Global Compact, 2021<br />
"Family-Friendly Workplaces: Policies and Practices to Advance Decent Work in<br />
Global Supply Chains" - UNICEF e United Nations Global Compact, 2020
SCM Supply Chain Magazine 49
50<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
uma cadeia de abastecimento diversificada e<br />
inclusiva.<br />
A sustentabilidade da cadeia de<br />
abastecimento é uma questão multifacetada,<br />
abrangendo direitos humanos, condições<br />
de trabalho, meio ambiente e integridade<br />
empresarial. O Pacto Global das Nações<br />
Unidas reconhece a importância dessa<br />
abordagem abrangente e apoia as empresas<br />
na adoção de práticas responsáveis e éticas<br />
em toda a sua cadeia de abastecimento. Este<br />
compromisso não apenas promove um futuro<br />
mais sustentável, mas também estabelece<br />
um ambiente de negócios socialmente<br />
responsável e alinhado com os #GlobalGoals<br />
(Objetivos Globais). Portanto, é essencial que<br />
as empresas adotem essas diretrizes e tomem<br />
uma abordagem proativa para aprimorar<br />
a sustentabilidade social nas suas cadeias<br />
de abastecimento, contribuindo assim para<br />
a construção de um mundo mais justo e<br />
equitativo para todos. •
52<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Investimento imobiliário<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
O EPICENTRO DA<br />
LOGÍSTICA NACIONAL<br />
Um ambicioso projeto logístico em Portugal<br />
está a tomar forma, com a Montepino<br />
a liderar uma parceria estratégica<br />
juntamente com Valfondo Investment<br />
Management e Bankinter Investment.<br />
Este empreendimento, avaliado em mais<br />
de 120 milhões de euros, está a surgir em<br />
Castanheira do Ribatejo e tem como peça<br />
central o gigantesco complexo que será<br />
ocupado pela Leroy Merlin.<br />
A<br />
Montepino, em parceria com o Valfondo<br />
Investment Management e o Bankinter<br />
Investment, está a desenvolver um<br />
projeto logístico em Portugal, em que o<br />
maior lote será ocupado pela Leroy Merlin.<br />
Este empreendimento, com um investimento<br />
projetado que ultrapassa os 120 milhões de<br />
euros, está localizado em Castanheira do<br />
Ribatejo e compreende uma área bruta de<br />
construção de 108.000 m2. O cronograma<br />
de construção está a decorrer de acordo com<br />
o planeado, e a entrega está prevista para<br />
setembro de 2024.<br />
A plataforma logística em Castanheira do<br />
Ribatejo ocupa uma área urbanizada de 324.000<br />
m2 e mais de 147.000 m2 de área bruta de<br />
construção. Localizado estrategicamente<br />
no cruzamento das autoestradas A1 e A10,<br />
conhecido como o "quilómetro zero" da logística<br />
de distribuição em Portugal, este projeto<br />
concentra mais de 60% do parque logístico da<br />
Área Metropolitana de Lisboa, que, por sua vez,<br />
representa mais de 80% do parque logístico de<br />
Portugal. O destaque desta iniciativa é o centro<br />
logístico da Leroy Merlin, situado no Lote 1, que<br />
é reconhecido como o maior edifício logístico já<br />
construído em território português.<br />
Juan José Vera, diretor-geral da Valfondo<br />
Investment Management e Conselheiro da
SCM Supply Chain Magazine 53
54<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
Montepino, afirmou que “a Montepino concentra<br />
atualmente a sua carteira de clientes na zona<br />
centro de Espanha e pretende impulsionar a<br />
sua diversificação geográfica, aumentar a sua<br />
presença em áreas que apresentam grandes<br />
oportunidades, como é o caso de Castanheira<br />
do Ribatejo”.<br />
SUSTENTABILIDADE EM FOCO<br />
Este empreendimento não é apenas um<br />
marco em termos de dimensões, mas também<br />
exemplifica os princípios ESG (Ambiental,<br />
Social e Governança) que norteiam a<br />
Montepino. A empresa está empenhada em<br />
alcançar a certificação LEED de nível Gold, que<br />
avalia a sustentabilidade de edifícios ao longo<br />
de todo o seu ciclo de vida.<br />
Além dos armazéns logísticos, o complexo<br />
inclui os modernos escritórios da Montepino,<br />
que estão estrategicamente localizados<br />
para otimizar as operações logísticas. Esses<br />
escritórios contam com um design biofílico de<br />
interiores, utilizando uma estrutura de madeira<br />
altamente durável. Além disso, são totalmente<br />
autossuficientes em termos de energia, graças<br />
a um sistema fotovoltaico de 20 kW com<br />
armazenamento de energia, garantindo um<br />
ambiente de trabalho eficiente e sustentável.<br />
O projeto também contribui para a eficiência<br />
logística ao promover o desenvolvimento<br />
urbano sustentável. Isso é alcançado por<br />
meio da criação de extensas áreas verdes e de<br />
uma bacia de retenção com uma capacidade<br />
de 12.000 metros cúbicos. Essas iniciativas<br />
têm como objetivo melhorar o equilíbrio<br />
ecológico da região e a qualidade de vida dos<br />
trabalhadores, enquanto reduzem o impacto<br />
ambiental, incluindo a absorção de CO2. O<br />
projeto inclui a utilização de espécies vegetais
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
adaptadas às condições climáticas locais,<br />
garantindo conforto climático e proteção contra<br />
a erosão do solo, ruído e contaminação do ar.<br />
A iniciativa incorpora ainda medidas<br />
logísticas estratégicas, incluindo o uso de<br />
pavimento permeável em toda a área de<br />
estacionamento, favorecendo a infiltração<br />
natural de água no solo e limitando o<br />
escoamento superficial. Essas medidas<br />
contribuirão para reduzir o efeito de ilha de<br />
calor e minimizar a impermeabilização do solo,<br />
do piso da plataforma e das vias principais,<br />
aliviando a pressão sobre os sistemas de<br />
drenagem urbana.<br />
Com uma iluminação 100% LED, mínimo<br />
de 84,6% de luz natural, redução de mais de<br />
50% nos custos energéticos, entre outras<br />
medidas sustentáveis, este projeto exemplifica<br />
a crescente tendência de investimentos<br />
que combinam eficiência logística com<br />
responsabilidade ambiental. Atualmente, 45%<br />
da energia dos edifícios logísticos operacionais<br />
da Montepino provém de fontes renováveis.<br />
Joaquim Castro, diretor do Bankinter<br />
Investment, declarou que “desde o início<br />
da sua atividade em Portugal, o Bankinter<br />
mantém o compromisso de contribuir<br />
ativamente para o crescimento das empresas<br />
e da economia portuguesa. O Bankinter<br />
Investment, que tem como objetivo canalizar a<br />
poupança dos investidores para investimentos<br />
sustentáveis, produtivos e rentáveis,<br />
concretiza hoje através da sua participada<br />
Montepino, o início de um investimento<br />
ambicioso e inovador no âmbito dos critérios<br />
de sustentabilidade ESG e que promove<br />
o desenvolvimento do setor da logística<br />
em Portugal. Continuaremos atentos no<br />
futuro a novas oportunidades no âmbito do<br />
investimento alternativo”. •
56<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Porto de Aveiro
SCM Supply Chain Magazine 57<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
RUMO AO FUTURO<br />
COM O 5G<br />
O Porto de Aveiro entrou numa nova era<br />
graças à parceria "5G Cargo", estabelecida<br />
com a Vodafone e a Ericsson. Tendo por<br />
base as soluções 5G destas empresas, os<br />
operadores dos terminais Aveiport e PTM<br />
Ibérica serão beneficiados com recursos<br />
de última geração, como monitorização<br />
em tempo real, simulação digital e gestão<br />
logística. Esta colaboração promete elevar<br />
a eficiência e a sustentabilidade do porto a<br />
níveis nunca vistos, marcando um capítulo<br />
transformador na sua história.<br />
OPorto de Aveiro está a embarcar numa<br />
revolução tecnológica com base na rede<br />
5G, incorporando soluções de replicação<br />
digital, realidade virtual e realidade<br />
aumentada, com o objetivo de otimizar de<br />
forma significativa a eficiência, segurança e<br />
rentabilidade das suas operações portuárias.<br />
Segundo a empresa Ericsson, este projeto,<br />
batizado de "5G Cargo", teve início "após<br />
uma apresentação realizada pela Ericsson<br />
de vários casos de uso de 5G, numa<br />
conferência da APDC. Aí foi mencionado um<br />
piloto, conduzido no Porto de Livorno, Itália,<br />
que apontava para uma solução capaz de<br />
melhorar o armazenamento de carga, tanto<br />
em termos de eficiência operacional como<br />
de redução de emissões de CO2". A Vodafone<br />
Portugal, por sua vez, comprometeu-se<br />
como parceiro tecnológico, citando que<br />
o projeto está em sintonia com os seus<br />
objetivos de desenvolvimento da tecnologia<br />
5G, nomeadamente em redes privadas, e na<br />
transformação digital
58<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
das empresas. De acordo com Henrique<br />
Fonseca, administrador da Unidade de<br />
Negócios Empresariais da Vodafone<br />
Portugal, "a solução implementada no Porto<br />
de Aveiro permitirá àqueles que operam<br />
diariamente nas exportações portuguesas<br />
perceber as vantagens reais de uma rede<br />
5G robusta, confiável e flexível, como a<br />
da Vodafone. Ao agilizar as suas tarefas e<br />
permitir a expansão das suas atividades, a<br />
nossa rede contribui de forma clara para<br />
um dos pilares fundamentais da economia<br />
nacional, abrindo portas para outros<br />
operadores que desejem implementar<br />
soluções diferenciadas." Isabel Moura<br />
Ramos, vogal do Conselho de Administração<br />
do Porto de Aveiro com responsabilidade no<br />
desenvolvimento de negócios, manifestou<br />
o compromisso da Autoridade Portuária de<br />
Aveiro em relação a este projeto, afirmando<br />
que "a APA aceitou imediatamente o desafio<br />
lançado pela Vodafone e Ericsson, tendo<br />
a certeza de que esta prova de conceito<br />
será um catalisador para a modernização,<br />
eficiência e descarbonização do Porto de<br />
Aveiro. Este projeto pode tornar-se um<br />
exemplo a nível nacional, com resultados<br />
visíveis na otimização e eficiência da gestão<br />
das operações de cargas de dimensões<br />
variadas num armazém que é hoje da<br />
Autoridade Portuária, mas utilizado pelos<br />
dois operadores portuários, parceiros do
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
projeto." Segundo Gema Brea Ibáñez de<br />
Gauna, diretora de Vendas da Ericsson, "os<br />
portos e a navegação são vitais para o bom<br />
funcionamento de uma economia global.<br />
A transformação digital desta indústria<br />
representa uma oportunidade única para<br />
Portugal, e as redes 5G privadas vão permitir<br />
acelerar essa transformação. Graças às<br />
soluções inovadoras da Ericsson e à rede<br />
5G da Vodafone, o Porto de Aveiro está a<br />
caminho de se tornar um dos portos mais<br />
modernos do país, com conectividade<br />
móvel rápida, segura e fiável, abrindo<br />
novas possibilidades para liderar um futuro<br />
sustentável." Este projeto, que se baseia<br />
numa rede privada 5G, software logístico<br />
dedicado e câmaras de alta definição, foi<br />
implementado em maio num dos armazéns do<br />
Terminal Multiusos da Administração do Porto<br />
de Aveiro. A sua implementação promete<br />
trazer avanços substanciais na localização,<br />
movimentação e armazenamento de cargas,<br />
marcando significativamente o setor portuário<br />
e logístico nacional.<br />
AVANÇOS SIGNIFICATIVOS<br />
De acordo com as empresas envolvidas,<br />
"uma das principais funcionalidades<br />
desta aplicação é a capacidade dos<br />
operadores identificarem a posição exata<br />
das suas cargas em tempo real numa área<br />
designada do terminal. Utilizando tablets<br />
equipados com realidade aumentada, os<br />
trabalhadores têm a capacidade de orientar<br />
as operações de carga e armazenamento<br />
dos fretes de forma eficaz." Além disso,<br />
esta aplicação disponibiliza um "digital<br />
twin", que é "uma réplica em tempo real<br />
do terminal, construída com informações<br />
detalhadas recolhidas a partir das cargas,<br />
planos de carga, fretes e veículos." Esta<br />
funcionalidade, "tem por objetivo demonstrar<br />
a potencialidade dos gémeos digitais em<br />
aplicações industriais, portuárias e logísticas,<br />
constituindo um potencial considerável para<br />
reduzir custos, uma vez que torna possível<br />
testar ambientes ou cenários antes de os<br />
aplicar no terreno." Segundo as empresas<br />
envolvidas, a aplicação "5G Cargo" já<br />
demonstrou melhorias significativas nas<br />
operações portuárias, com "uma redução de<br />
cerca de 10% nos tempos de carga e descarga,<br />
além de fornecer informações adicionais<br />
sobre cada carga (+50%), contribuindo<br />
para uma melhor eficiência operacional do<br />
processo de cargas e descargas. "Durante<br />
a implementação deste projeto, foram<br />
enfrentados desafios significativos. Isso<br />
incluiu "a instalação de uma rede privada<br />
5G de última geração, com ambas as<br />
componentes Core e de Radio totalmente<br />
localizadas nas instalações do Porto." Foram<br />
necessárias "afinações e ajustes na rede de<br />
rádio para otimizar o desempenho e garantir<br />
a melhor experiência possível durante o uso<br />
da aplicação pelos operadores de carga." No<br />
entanto, a rápida instalação da tecnologia 5G<br />
em ambientes industriais e portuários foi uma<br />
prova do seu amadurecimento e eficiência.<br />
Olhando para o futuro, este projeto ambicioso<br />
poderá evoluir para se tornar um produto<br />
comercial, abrindo novas possibilidades de<br />
uso, como a utilização de drones, segurança<br />
e deteção de intrusão, veículos autónomos<br />
e muito mais. A utilização contínua<br />
de redes privadas 5G continuará a ser<br />
fundamental para garantir um desempenho<br />
de comunicação elevado e segurança em<br />
todas estas aplicações. O Porto de Aveiro<br />
está a liderar a transformação digital e a<br />
definir o futuro das operações portuárias em<br />
Portugal. •
60<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Engenharia<br />
de produção<br />
QUE PAPEL<br />
NAS FÁBRICAS<br />
INTELIGENTES?<br />
A fábrica inteligente é o futuro da produção.<br />
Esta é já uma verdade incontornável e muito<br />
embora o conceito de Indústria 4.0 já se<br />
encontre enraizado, para muitas empresas<br />
a fábrica inteligente ainda é uma visão do<br />
futuro. Se o conceito de fábrica inteligente e<br />
a sua relação com a engenharia de produção<br />
lhe parecem um bicho de sete cabeças,<br />
neste artigo, Luísa Braga, Industrial Senior<br />
Consultant & Project Manager da Bosch<br />
Industry Consulting, torna tudo mais<br />
simples e acaba com o bicho papão.<br />
Aimportância estratégica das fábricas<br />
inteligentes é inegável e os primeiros<br />
a utilizarem esta tecnologia relataram<br />
aumentos na eficiência, bem como melhorias<br />
em termos de resultados financeiros. É nesse<br />
caminho para uma produção cada vez mais<br />
inteligente que entra também o conceito<br />
de Engenharia de Produção, um campo<br />
multidisciplinar que abrange diversas áreas de<br />
atuação, todas relacionadas à otimização de<br />
processos, recursos e sistemas para alcançar<br />
eficiência, qualidade e sustentabilidade.<br />
Comecemos por clarificar estes dois conceitos<br />
e posteriormente como se complementam.<br />
A Engenharia de Produção é o desenho<br />
e implementação de sistemas produtivos<br />
integrados para a produção de bens, o que<br />
engloba todas as etapas dos processos de<br />
produção, desde o design de layouts e linhas<br />
de montagem à produção dos bens, ajudando<br />
a identificar possíveis melhorias nos processos<br />
e operações nas fábricas. Além disso, inclui<br />
também, a gestão e o controlo de qualidade,<br />
o fluxo de materiais, as compras e a gestão<br />
da cadeia de fornecimento. Por sua vez, a<br />
Indústria 4.0 é mais do que digitalização<br />
dos processos industriais, é um processo<br />
que deve ser conduzido pelas pessoas, pelo<br />
seu conhecimento dos fluxos de trabalho e<br />
processos existentes. As pessoas estão no<br />
centro, são elas os agentes de transformação<br />
para a digitalização, sendo e fazendo parte<br />
integrante da solução. Nesse sentido, é
Luísa Braga, Industrial Senior Consultant & Project Manager, Bosch Industry Consulting<br />
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
necessário formar as pessoas para não só<br />
acompanharem este processo de digitalização,<br />
como também para se sentirem cada vez<br />
mais motivadas, o que consequentemente se<br />
traduzirá em maior produtividade e eficiência.<br />
Tendo em conta estes dois conceitos,<br />
colocam-se as seguintes questões: onde é que<br />
a engenharia de produção e a Era da indústria<br />
4.0 se complementam? Onde é que a indústria<br />
4.0 contribui para os processos da engenharia<br />
de produção? Vejamos vários exemplos.<br />
• Digitalização: A digitalização dos<br />
processos industriais permite-nos ter cada vez<br />
mais dados disponíveis on-line e em tempo real,<br />
que devidamente trabalhados vão gerar uma<br />
mais rápida resposta e reação. Ao dispormos de<br />
um maior volume de dados, isso possibilita, não<br />
só definir melhor os problemas, mas também<br />
estimar aqueles que podem vir a ocorrer,
62<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
prever o que vai acontecer num futuro curto<br />
e, assim, agir mais cedo evitando a sua<br />
ocorrência. Por exemplo, no caso das máquinas,<br />
analisando o comportamento dos dados e as<br />
suas tendências, é possível fazer uma previsão<br />
de quando poderá ocorrer uma avaria, agindo<br />
atempadamente e evitado assim a perda<br />
de produtividade. Em qualquer processo,<br />
a existência de dados possibilita avaliar<br />
tendências que mesmo estando dentro dos<br />
limites padrão podem indicar a existência de<br />
potenciais problemas, e assim ter a capacidade<br />
de atuar mais cedo de forma a garantir que<br />
o mesmo não tenha desvios e se mantenha<br />
dentro do padrão.<br />
• Robótica: Automatizar os processos<br />
significa conseguir ter os processos mais<br />
controlados, principalmente porque é possível<br />
que sejam trabalhados sempre da mesma<br />
forma (velocidade, força, sequência…). Por um<br />
lado, a robotização dos processos, permite<br />
eliminar tudo que é senso comum e emocional,<br />
e assim ter menos variação nos mesmos.<br />
Por outro, existe uma perda da influência<br />
positiva das pessoas nos processos (ex.:<br />
uma situação em que é necessário “dar um<br />
jeito” para encaixar uma peça nos limites da<br />
especificação, distinção entre tons de cores,<br />
entre outros). Um dos grandes desafios da<br />
robotização é a variação dos materiais e como<br />
evitar a sua rejeição durante o processo. Por<br />
exemplo, basta existir uma pequena alteração<br />
no material para que este possa ser rejeitado,<br />
levando a um maior nível de desperdício. Desta<br />
forma, os requisitos de material tendem a<br />
ser muito mais rígidos e, por isso, para evitar<br />
o aumento do custo da peça, é fundamental<br />
trabalhar em economias de escala e<br />
engenharia simultânea (standardização de<br />
peças entre plataformas). A robotização de<br />
tarefas simples e repetitivas permite libertar<br />
recursos humanos para atividades de maior<br />
valor.<br />
• Assistência Digital: Através da realidade<br />
virtual e aumentada é possível dar assistência<br />
ao cliente de forma on-line e virtual,<br />
mostrando e explicando à pessoa a tarefa
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
que se pretende que seja executada. Existem<br />
soluções que permitem o acesso à máquina à<br />
distância, tanto em termos de software como<br />
de mecânica. A realidade virtual é também<br />
uma boa opção para formação e coaching,<br />
uma vez que recorrendo a óculos de realidade<br />
aumentada, é possível realizar a simulação de<br />
mexer numa máquina.<br />
• Ergonomia e Saúde: Existem algumas<br />
ferramentas, em fase de desenvolvimento,<br />
que vão permitir minimizar alguns problemas<br />
físicos que as pessoas têm através da<br />
utilização de robôs. Uma das potencialidades<br />
passa pela utilização de fatos sensoriais,<br />
para identificar as limitações físicas de cada<br />
pessoa na execução das diferentes tarefas (ex.:<br />
alcance de materiais, limites de pesos, trabalho<br />
em pé, etc.), servindo como base à criação<br />
de um plano colaborativo pessoa a pessoa e<br />
com a colaboração do robô (o que é feito pela<br />
pessoa e aquilo que o robô complementa). Esta<br />
abordagem é uma forma de manter os postos<br />
de trabalho, tendo em conta as limitações<br />
físicas das pessoas, de uma forma saudável,<br />
garantindo a produtividade e reduzindo<br />
custos associados à redução de velocidade ou<br />
ausências não planeadas.<br />
• Sustentabilidade: A implementação<br />
de sensores em edifícios e máquinas permite<br />
a monitorização e controlo de tudo o que<br />
são temperaturas, humidades e desgaste de<br />
infraestruturas. Atuar rapidamente, sempre<br />
que são identificados desperdícios, possibilita<br />
ainda relacionar os gastos energéticos e os<br />
custos de faturação.<br />
• Gestão do chão de fábrica: A<br />
digitalização é um grande suporte à gestão<br />
do chão de fábrica. Tendo acesso mais cedo<br />
aos dados, é possível também atuar mais<br />
cedo, e gerir os recursos de uma forma mais<br />
eficaz. Estas ferramentas permitem rastrear<br />
o material desde o fornecedor à entrada da<br />
fábrica. Isto permite fazer uma programação<br />
de produção muito mais assertiva, uma vez que<br />
é possível prever quando o material vai entrar<br />
na linha de produção e não apenas ter por<br />
base as previsões dadas pelos fornecedores.<br />
• Digital Twins: As réplicas digitais da<br />
realidade permitem fazer simulação e análises<br />
sofisticadas de vários cenários, conseguindo<br />
escolher a melhor e mais eficiente opção,<br />
rápida comparação de diferentes níveis de<br />
escala e variantes, maior transparência na<br />
cadeia de processos, visualização da lógica<br />
dos mesmos e melhoria do desempenho dos<br />
equipamentos, e processos e validação de<br />
planos logísticos. É uma forma de facilitar<br />
a comunicação entre software, hardware e<br />
pessoas em processos produtivos altamente<br />
eficientes.<br />
A aplicação de conceitos da Indústria 4.0<br />
no âmbito da Engenharia de Produção cria<br />
modelos de negócio e potencia as fábricas<br />
do futuro, que por sua vez se baseiam na<br />
transformação da automação tradicional num<br />
sistema mais aberto, conectado e flexível. Com<br />
a incorporação de ativos físicos, operacionais<br />
e humanos em todo o sistema, que permitem<br />
às fábricas uma melhor gestão de todo o<br />
cenário de produção através de equipamentos,<br />
operações e instalações conectadas. … É<br />
fundamental que o tecido industrial invista<br />
em ferramentas e parcerias para fazer este<br />
caminho para a digitalização, de forma suave<br />
e segura, eliminando cada obstáculo de uma<br />
forma sistemática, implementando medidas<br />
que não só resolvam o presente, mas sejam<br />
sustentáveis no futuro. •
64<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
TRANSPORTE<br />
Cadeia de frio<br />
A SEGURANÇA NO<br />
TRANSPORTE DE<br />
MERCADORIAS<br />
TERMOSSENSÍVEIS<br />
Carlos Guerra, Country Manager, Eurowag Portugal<br />
Quando falamos de mercadorias<br />
termosenssíveis, em que a integridade dos<br />
produtos e a conformidade são essenciais,<br />
a monitorização em tempo real da cadeia<br />
de frio é, mais do que uma vantagem<br />
competitiva, uma necessidade inegável<br />
para o setor logístico. Carlos Guerra, country<br />
manager da Eurowag Portugal, explica<br />
neste artigo o papel que a tecnologia pode<br />
ter ao longo de todo o processo.<br />
Transportar mercadorias termossensíveis,<br />
como, por exemplo, produtos<br />
farmacêuticos, químicos, alimentos<br />
e produtos cosméticos, é um desafio<br />
logístico que exige uma atenção especial. A<br />
estabilidade da temperatura é crucial para<br />
garantir a qualidade e a segurança desses<br />
produtos durante o seu transporte e é uma<br />
prioridade reduzir os riscos associados a<br />
esse transporte através da monitorização
SCM Supply Chain Magazine 65<br />
VANTAGENS DA MONITORIZAÇÃO<br />
EM TEMPO REAL DA CADEIA DE<br />
FRIO<br />
A cadeia de frio foi desenvolvida para<br />
manter as temperaturas no ambiente<br />
de carga em conformidade com os<br />
regulamentos, essencial para preservar a<br />
qualidade dos produtos termossensíveis<br />
durante o transporte. Esse sistema<br />
oferece algumas vantagens especificas,<br />
nomeadamente:<br />
em tempo real da cadeia de frio.<br />
Quando se trata de transporte de carga,<br />
existem dois tipos de bens: aqueles<br />
que não requerem atenção especial no<br />
armazenamento e transporte, e aqueles<br />
que pedem um manuseamento mais<br />
cuidado e que apresentam diversos<br />
regulamentos associados. Este último tipo<br />
inclui mercadorias termossensíveis que,<br />
devido à sua sensibilidade à temperatura,<br />
exigem precauções especiais durante o seu<br />
transporte. Alimentos frescos e congelados,<br />
produtos farmacêuticos e cosméticos são<br />
exemplos de mercadorias sensíveis que<br />
requerem uma monitorização rigorosa da<br />
temperatura.<br />
O transporte inadequado desses produtos<br />
pode não apenas comprometer a sua<br />
qualidade, mas também representar sérios<br />
riscos à saúde humana. Enquanto algumas<br />
transportadoras se especializam no<br />
transporte de mercadorias termossensíveis,<br />
para outras, isso representa apenas uma<br />
parte adicional das suas operações.<br />
• Garantia da qualidade do produto:<br />
produtos sensíveis à temperatura exigem<br />
intervalos específicos para manter a sua<br />
qualidade e segurança. A monitorização<br />
em tempo real da cadeia de frio assegura<br />
que a temperatura seja mantida dentro<br />
desses limites, preservando a qualidade do<br />
produto;<br />
• Conformidade com os regulamentos:<br />
indústrias como, por exemplo, a saúde e<br />
a alimentar, estão sujeitas a requisitos<br />
legais de controlo de temperatura durante<br />
o transporte. A cadeia de frio ajuda a<br />
garantir a conformidade e evita multas por<br />
incumprimento desses requisitos;<br />
• Redução de desperdício: o mau<br />
armazenamento da carga pode levar a<br />
desperdício e perdas financeiras para<br />
a empresa. A cadeia de frio reduz esse<br />
desperdício garantindo que as mercadorias<br />
são transportadas nas condições adequadas;<br />
• Eficiência melhorada: a monitorização<br />
da cadeia de frio melhora a eficiência<br />
das operações de transporte, fornecendo<br />
informações em tempo real sobre a<br />
temperatura e localização dos produtos<br />
transportados, otimizando rotas e<br />
melhorando a precisão da entrega;
66<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
• Satisfação do cliente: a entrega de<br />
produtos em boas condições leva a uma maior<br />
satisfação do cliente, aumentando a confiança<br />
e a fidelização dos clientes;<br />
• Redução de riscos: a cadeia de frio ajuda<br />
a reduzir os riscos associados ao transporte<br />
de produtos termossensíveis, permitindo a<br />
identificação e resolução de problemas em<br />
tempo útil;<br />
• Maior transparência: proporciona uma<br />
maior transparência e responsabilidade ao<br />
processo de transporte, disponibilizando<br />
informações em tempo real sobre a localização<br />
e estado dos produtos transportados.<br />
Assim, investir em tecnologias e práticas<br />
que possibilitem a monitorização precisa<br />
e em tempo real da temperatura durante<br />
o transporte é crucial para garantir que as<br />
mercadorias termossensíveis cheguem ao<br />
seu destino final nas melhores condições,<br />
ajudando a empresa a fortalecer a sua<br />
reputação, promovendo a satisfação do<br />
cliente e contribuindo para o bem-estar dos<br />
consumidores finais.<br />
Num cenário em que a integridade dos<br />
produtos e a conformidade são essenciais, a<br />
monitorização em tempo real da cadeia de<br />
frio é mais do que uma vantagem competitiva<br />
– é uma necessidade inegável para o setor<br />
logístico. •
Se o propósito é armazenar, movimentar<br />
ou preparar pedidos dos seus produtos,<br />
não vai encontrar nenhum espaço no seu<br />
armazém, onde as nossas soluções não<br />
se adequarão.<br />
movu-robotics.com
68<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Grupo BBL<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: Grupo BBL<br />
“ESTE CONJUNTO<br />
DE PARCERIAS<br />
ESTRATÉGICAS SÃO<br />
FUNDAMENTAIS”<br />
A Lusocargo, um dos três maiores<br />
transitários a operar no país, integrou em<br />
2021 o Grupo BBL, um grupo francês da área<br />
da logística e dos transportes. A compra da<br />
Lusocargo e da Portocargo foi a primeira<br />
grande operação internacional do grupo, e<br />
desde então que este tem vindo a adquirir<br />
novas empresas e a complementar os seus<br />
serviços. Em entrevista com Ricardo Arroyo,<br />
diretor de Transporte Rodoviário do Grupo<br />
BBL, procurámos saber um pouco mais sobre<br />
as recentes expansões e complementaridade<br />
de serviços.<br />
Desde 2021 que o Grupo BBL tem vindo<br />
a crescer, e hoje reúne cerca de 20 PME,<br />
reconhecidas pelo seu know-how nas<br />
quatro principais atividades históricas do<br />
grupo: logística contratual, transporte aéreo e<br />
marítimo, transporte rodoviário e grupagem,<br />
bem como serviços aduaneiros. O responsável<br />
revela que, “de uma forma integrada e gradual,<br />
este processo tem permitido continuar a<br />
reforçar o enfoque nos colaboradores e a<br />
atenção que dedicamos a cada cliente, com<br />
uma oferta cada vez mais alargada de soluções<br />
logísticas”, visto as empresas partilharem<br />
os mesmos princípios na gestão dos seus<br />
negócios.<br />
O responsável destaca que apesar de o<br />
Grupo BBL possuir a maioria do capital das<br />
empresas que adquire, baseia a sua atividade<br />
em decisões conjuntas com cada uma das<br />
empresas, e que dessa forma “apoiamos as<br />
ambições das equipas, preservando a sua<br />
própria maneira de ser e de construir um<br />
relacionamento de confiança com os seus<br />
clientes e parceiros”.<br />
CRESCIMENTO CONJUNTO<br />
Ao nível europeu, o Grupo BBL tem vindo a
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
expandir a sua atividade em vários países.<br />
Alemanha, França, Polónia e Espanha foram<br />
os mais recentes exemplos desta expansão.<br />
No caso espanhol, “acabámos de retomar<br />
a parceria com a operadora espanhola<br />
Seitrans, com a qual passamos a efetuar os<br />
serviços de grupagem expresso que ligam<br />
diariamente as cidades do Porto e Lisboa a<br />
Barcelona e Madrid”, revela Ricardo Arroyo.<br />
Não obstante, para a Alemanha e para a<br />
Polónia também estabeleceram duas novas<br />
ligações de grupagem expresso diretas, com<br />
frequência diária, para a Alemanha e Polónia,<br />
através de uma parceria com a Raben, um<br />
dos principais operadores de transporte<br />
no mercado alemão e polaco”, revela,<br />
acrescentando que face ao sucesso destes<br />
serviços expresso, também decidiram lançar<br />
Ricardo Arroyo, diretor de Transporte Rodoviário do Grupo BBL<br />
este serviço em França, unindo forças com a<br />
BBL Transport, que conta com 12 sucursais<br />
no país.
70<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
No caso do novo serviço com destino à zona<br />
de influência de Paris, com a BBL Transport, “o<br />
nosso objetivo é dar resposta aos clientes que<br />
necessitam de tempos de trânsito mais curtos<br />
para as suas entregas de sexta-feira”.<br />
ATENTOS AOS PROBLEMAS E ÀS<br />
SOLUÇÕES<br />
“Vivemos um momento da história<br />
extremamente particular e único”, considera<br />
o responsável, “iniciámos este desafio com<br />
o espoletar da pandemia e testemunhámos<br />
o eclodir da guerra na Ucrânia, dois<br />
constrangimentos críticos e de impacto global,<br />
que se somam a todos os desafios conjunturais<br />
a que estamos habituados”.<br />
O diretor de Transporte Rodoviário do Grupo<br />
BBL considera que atualmente as empresas<br />
do setor têm de lidar com diversos desafios,<br />
e que têm o dever, enquanto parceiros, de<br />
procurar soluções para apoiar os seus clientes:<br />
“a estagnação económica que vivemos cada vez<br />
mais, a ameaça da desglobalização que pode<br />
levar a uma tendência inflacionista que porá em<br />
causa a estabilidade dos custos de produção,<br />
bem como a necessidade de os nossos clientes<br />
otimizarem cada vez mais os seus inventários<br />
devido ao aumento dos custos financeiros são<br />
desafios aos quais devemos estar atentos e<br />
procurar soluções competitivas e sustentáveis<br />
para podermos continuar a contar com a<br />
confiança e o apoio dos nossos clientes”.<br />
No setor do transporte rodoviário de<br />
mercadorias, aponta que “há um conjunto de<br />
obstáculos, desde toda a série de perturbações<br />
dos fenómenos elencados ao aumento do<br />
fenómeno de roubos de carga”, e que através<br />
destas parcerias e do suporte do Grupo BBL,<br />
procuram apoiar as ambições de cada uma<br />
das equipas locais de forma personalizada,<br />
“preservando a sua própria maneira de construir<br />
um relacionamento de confiança e sucesso com<br />
os seus clientes e parceiros”.<br />
Ricardo Arroyo acredita que “este conjunto<br />
de parcerias estratégicas são fundamentais<br />
e derivam de uma sólida rede de agentes<br />
internacionais, e derivam de uma sólida rede<br />
de agentes internacionais, localmente líderes<br />
na atividade logística e transitária, para que os<br />
processos decorram de forma cada vez mais<br />
fluída e organizada”.<br />
EVOLUÇÃO E ESTRATÉGIA<br />
Entre 2017 e 2022, o Grupo BBL cresceu de<br />
440 para 2.000 colaboradores, uma evolução<br />
extremamente positiva e que possibilita a<br />
troca de conhecimento, a aquisição de novas<br />
metodologias, e desenvolver parcerias internas<br />
em torno de objetivos comuns. “Partilhamos<br />
alguns serviços de backoffice, como finanças,<br />
RH, SI/TI, comunicação corporativa e<br />
iniciativas de SER, o que ajuda as subsidiárias<br />
a focarem-se num ponto primordial: ganhar e<br />
manter a confiança dos clientes e de todos os<br />
stakeholders”, destaca o responsável.<br />
Atualmente, o Grupo BBL está ativo<br />
em 20 países, principalmente na Europa,<br />
mas também no Brasil, EUA e México.<br />
Ricardo Arroyo aponta que o grupo<br />
está “permanentemente atento a novas<br />
oportunidades de desenvolvimento da sua<br />
atividade”, e que nos próximos meses, o foco<br />
irá concentrar-se no crescimento orgânico e<br />
no desenvolvimento sustentado das entidades<br />
que já fazem parte do grupo, sendo que a<br />
expectativa para <strong>2023</strong> é atingir uma faturação<br />
superior a 800 milhões de euros.<br />
“Acredito que, no futuro, deveremos<br />
trabalhar cada vez mais de forma conjunta<br />
e unida, porque só assim é que todo o setor<br />
poderá continuar a superar estes desafios”,<br />
conclui Ricardo Arroyo. •
Peçaa já umaa demo<br />
Noooooooottttttttiiiiiiiifcccicaaaaaaaaaçççõeeeeeeeessssssss ddddddddeeeeeeee sssssssseeeeeeeeeuuuuuguuiiiiiiiimmmimmmeeeeeeeennnnnenttttttttoooooooo<br />
AAttttttttrrrrrrrriiiiiiiibuuuuuguuiiiiiiiiaççããooooooooeeeeeeeemmmimmm aaaaaaaauuuuuguuttttttttoooooooommmimmmááttttttttiiiiiiiicccicaaaaaaaa<br />
mmmimmmaaaaaaaaiiiiiiiissssssss<br />
ddddddddeeeeeeee 35 ooooooooppppppppaçççõeeeeeeeessssssss ddddddddeeeeeeee ttttttttrrrrrrrraaaaaaaannnnnenssssssssppppppppoooooooorrrrrrrrtttttttteeeeeeee<br />
ppppppppeeeeeeeerrrrrrrrssssssssoooooooonnnnnenaaaaaaaallllliiiiiiiizzáávvveeeeeeeeiiiiiiiissssssss<br />
eeeeeeeennnnnenvvviiiiiiiiaaaaaaaaddddddddaaaaaaaassssssss ppppppppoooooooorrrrrrrr eeeeeeeemmmimmmaaaaaaaaiiiiiiiilllll, WhaaaaaaaattttttttssssssssAApppppppppppppppp oooooooouuuuuguu SSMSS<br />
Geeeeeeeessssssssttttttttããooooooooddddddddeeeeeeee ciceentttraacaaallliiiizaacaaadaacaaa<br />
ttttttttooooooooddddddddaaaaaaaassssssss aaaaaaaassssssss iiiiiiiinnnnnenccciciiiiiiiiddddddddênnnnnenccciciiiiiiiiaaaaaaaassssssss<br />
Poooooooorrrrrrrrttttttttaaaaaaaalllll ddddddddeeeeeeee ddddddddeeeeeeeevvvoooooooollllluuuuuguuaçççõeeeeeeeessssssss<br />
aaaaaaaauuuuuguuttttttttoooooooommmimmmaaaaaaaattttttttiiiiiiiizzaaaaaaaaddddddddoooooooo<br />
Ettttttttiiiiiiiiqqquuuuuguueeeeeeeettttttttaaaaaaaa ppppppppaaaaaaaaddddddddrrrrrrrrããoooooooo<br />
ppppppppaaaaaaaarrrrrrrraaaaaaaa qqquuuuuguuaaaaaaaalllllqqquuuuuguueeeeeeeerrrrrrrr ttttttttrrrrrrrraaaaaaaannnnnenssssssssppppppppoooooooorrrrrrrrttttttttaaaaaaaaddddddddoooooooorrrrrrrraaaaaaaa<br />
Annálliisssssssseeeeee ddddooooossssssss ddddaaaaaaddddooooossssssss<br />
rrrreeeeeellaaaaaatiivooooossssssss à<br />
ppeeeeeerrrrfooooorrrrmaaaaaannceeeeee ddddaaaaaassssssss ssssssssuaaaaaassssssss oooooppeeeeeerrrraaaaaaçõeeeeeessssssss<br />
Siiiiampllliiiifcicaacaaaamoomsso aacaaa ggeessotttãoom llloomggíssotttiiiicicaacaaa<br />
wwwwwwwww..ddddddddeeeeeeeellllliiiiiiiivvveeeeeeeerrrrrrrreeeeeeeeaaaaaaaa..cccicoooooooommmimmm/pppppppptttttttt
72<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
CARREIRA<br />
Grupo Adecco<br />
OGrupo Adecco reuniu oito dicas para<br />
assegurar qualidade no momento da<br />
contratação dos funcionários, que são o<br />
mais importante ativo de qualquer empresa.<br />
Por esse mesmo motivo, importa que este seja<br />
um processo gerido com o tempo e recursos<br />
necessários, tendo em vista o sucesso do<br />
negócio da empresa em questão.<br />
Texto: Dora Assis<br />
8 DICAS PARA<br />
GARANTIR<br />
QUALIDADE NO<br />
MOMENTO DE<br />
CONTRATAR<br />
A qualidade na contratação é um fator<br />
crucial para o sucesso de uma empresa.<br />
Envolve o processo de seleção e contratação<br />
de pessoas que possuem as habilidades,<br />
conhecimentos e experiências necessárias<br />
para desempenhar as suas funções de<br />
maneira eficaz. Conheça as métricas gerais<br />
a considerar, sugeridas pelo Grupo Adecco.<br />
dos funcionários<br />
A rotatividade analisa a percentagem<br />
1.Rotatividade<br />
de pessoas que se demitem ou têm<br />
de ser despedidas num determinado período.<br />
Analisar a rotatividade como um todo dá<br />
uma ideia geral da eficácia dos processos<br />
de contratação. Observar a evolução da<br />
rotatividade nos primeiros seis meses é uma<br />
ferramenta valiosa para avaliar a forma como a<br />
empresa contrata.<br />
profissional<br />
É possível avaliar a qualidade<br />
2.Desempenho<br />
da contratação pela rapidez<br />
e eficiência com que desempenha as suas<br />
funções. Sempre que a empresa efetua<br />
avaliações de desempenho, pode medir o<br />
sucesso das suas novas contratações. O<br />
desempenho é o esperado, ou está acima ou<br />
abaixo das expectativas? O padrão é diferente<br />
do verificado em novas contratações anteriores?<br />
criteriosa<br />
Durante o processo de seleção, é<br />
3.Avaliação<br />
importante conduzir avaliações<br />
criteriosas para identificar candidatos
SCM Supply Chain Magazine 73
74<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
qualificados. Isso pode incluir análise de<br />
currículos, entrevistas, testes técnicos,<br />
dinâmicas de grupo e verificação de referências.<br />
É de suma importância avaliar, também, as<br />
competências comportamentais dos candidatos,<br />
como habilidades de comunicação, trabalho em<br />
equipa, liderança e capacidade de adaptação.<br />
Esta é uma métrica de longo<br />
4.Promoções<br />
prazo, pois avalia o tempo que<br />
funcionário demora até ser promovido e o<br />
tempo da promoção de novas contratações no<br />
prazo de dois anos.<br />
5.<br />
Envolvimento dos<br />
funcionários<br />
É recomendado a realização de um<br />
inquérito de satisfação sobre o envolvimento<br />
das pessoas em relação à cultura da empresa,<br />
ao volume e especificidade do trabalho,<br />
ao salário entre outras. Tal, não só fornece<br />
informações sobre a eficácia e o tempo do<br />
programa de integração, como permite à
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
empresa identificar e corrigir os pontos em que<br />
os colaboradores se mostram mais insatisfeitos.<br />
de talentos<br />
Contratar com qualidade não<br />
6.Fidelização<br />
se limita apenas ao processo<br />
de seleção, mas também inclui estratégias<br />
para fidelizar talentos. Isso pode envolver<br />
o fornecimento de oportunidades de<br />
crescimento e desenvolvimento, um ambiente<br />
de trabalho positivo, benefícios competitivos e<br />
reconhecimento pelo desempenho.<br />
registos<br />
É importante manter os registos por<br />
7.Manter<br />
forma a entender, a posteriori, como<br />
as decisões de contratação foram tomadas e<br />
se há uma taxa de sucesso considerável ou<br />
residual.<br />
8.Não ter medo da mudança<br />
Não vale a pena manter as métricas<br />
se não forem feitas alterações com<br />
base nas conclusões. Se a empresa estiver a<br />
registar uma elevada rotatividade, reúna-se com<br />
a administração para discutir o problema e, se<br />
for o caso, alterar as métricas e o processo.<br />
Em conclusão, uma contratação de qualidade<br />
pode trazer maior produtividade, melhor<br />
desempenho, maior satisfação das pessoas<br />
e uma redução de custos relacionados à<br />
rotatividade de pessoal. Portanto, é essencial<br />
investir tempo e recursos adequados no<br />
processo de contratação para garantir a seleção<br />
dos melhores candidatos para as posições<br />
disponíveis. •
76<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Sara Monte e Freitas<br />
Partner | Expense Reduction Analysts<br />
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
E LOGÍSTICA<br />
O setor tecnológico, que hoje produz soluções para todas as facetas das nossas vidas<br />
(há uma app para tudo!), é ainda mais pródigo na criação de buzzwords, alimentandose<br />
do hype por elas gerado. Houve tempos em que não se falava de outra coisa que não<br />
cloud computing, blockchain, depois big data, machine learning e, atalhando, sob pena<br />
de gastar todos os carateres do artigo, agora, temos a omnipresente (e omnisciente?),<br />
inteligência artificial (IA), que vem, simplificando, agregar tudo.<br />
Mais uma buzzword da moda? É certo que<br />
sim. Que a salvação da humanidade está<br />
nas mão das IA, é o que parece. E o que<br />
ficará depois de todo este deslumbramento<br />
e frenesi? Não sei. Ninguém saberá, mas as<br />
potencialidades, para diversos setores, como<br />
o logístico, são enormes e entusiasmam-me.<br />
Afinal, confesso, até tenho uma app para as<br />
minhas corridas diárias!<br />
Mas, vamos à logística, que é o que nos<br />
interessa. A gestão da supply chain endto-end<br />
obriga a um processo integrado<br />
que inclui abastecimento, planeamento,<br />
produção e entrega do produto final ao<br />
cliente. A IA oferece autonomia, modelagem,<br />
capacidade preditiva e outras melhorias<br />
que podem reduzir atrasos, otimizar o<br />
planeamento de procura, bem como reduzir<br />
significativamente os custos.<br />
De acordo com um estudo da Statista, feito<br />
junto de empresas de retalho globais, 49%<br />
dos inquiridos acredita que a inteligência<br />
artificial reduzirá os custos da supply<br />
chain, 43% considera que aumentará as<br />
receitas e, 44%, que a IA gerará aumento de<br />
produtividade. 40% considera também que<br />
a melhoria do processo de decisão, por via<br />
de melhor informação, é uma das principais<br />
vantagens.<br />
O impacto final, dá-se nas contas. Segundo<br />
um relatório da Capgemini, o retalho poderia<br />
poupar até 340 mil milhões de dólares se a<br />
IA fosse usada em toda a cadeia de valor.<br />
Impressionante. Mas, de que forma a IA<br />
impacta a eficiência e eficácia logística,<br />
poupando tempo, dinheiro e recursos,<br />
melhorando, em simultâneo, a qualidade do<br />
serviço prestado ao cliente? Parece-lhe uma
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
quadratura do círculo? Na verdade, trata-se<br />
da integração de soluções tecnológicas já<br />
existentes, gerando ganhos em toda a cadeia.<br />
Vejamos. A IA é usada para otimização<br />
de rotas, considerando fatores como<br />
condições de trânsito, climáticas e<br />
restrições de entrega, o que reduz os<br />
custos e melhora a pontualidade das<br />
entregas. A montante, prevê a procura<br />
com a análise de dados em histórico e<br />
tendências de mercado, o que permite<br />
otimização de planeamento de stocks,<br />
evitando ruturas ou excesso, prevendo o<br />
reabastecimento.<br />
O GPS embarcado, de veículos de<br />
transporte e de mercadorias, evita perdas e<br />
roubos, a automação de tarefas repetitivas,<br />
como o processamento de pedidos,<br />
agendamento de entregas e verificação de<br />
documentos. A redução de erros humanos<br />
e tomadas de decisão baseadas em dados<br />
objetivos, a manutenção preventiva de<br />
veículos e equipamentos é aprimorada<br />
com a IA, que prevê a manutenção com<br />
base na análise de dados de sensores.<br />
Depois, redução de custos (mão-de-obra,<br />
combustível ou tempo de inatividade),<br />
proporcionada pela automação e<br />
otimização dadas pela IA podem reduzir<br />
significativamente os custos operacionais<br />
na logística.<br />
De acrescentar ainda a adaptabilidade<br />
a mudanças que, na logística, são<br />
sempre imprevisíveis, como acontece nas<br />
variações da procura. A IA permite uma<br />
resposta mais rápida e eficaz a essas<br />
mudanças. Finalmente, a sustentabilidade<br />
proporcionada pela otimização da IA na<br />
logística contribui para a redução da<br />
pegada de carbono.<br />
Um vasto conjunto de ganhos na supply<br />
chain end-to-end, através da integração de<br />
diversas tecnologias que a IA agora une e<br />
que começam a permitir previsibilidade,<br />
visibilidade e poupança em toda a cadeia<br />
de valor.<br />
É certo que estamos perante uma<br />
buzzword da moda. Contudo, desta<br />
feita, ainda que não seja a salvação<br />
da humanidade, é, seguramente, uma<br />
revolução nas cadeias de abastecimento<br />
globais, integrando, de forma ‘omnisciente’<br />
a informação que a logística já possui de<br />
forma mais esparsa. •
78<br />
OUTUBRO <strong>2023</strong><br />
PONTO DE VISTA<br />
RICARDO AMORIM, DIRETOR-GERAL DA STUART PARA PORTUGAL E ESPANHA<br />
O PRESENTE E O FUTURO<br />
RESPONSÁVEL DO SETOR DO DELIVERY<br />
O setor do delivery, em particular no que se refere ao segmento HORECA, está a provocar mudanças<br />
profundas na economia e nos hábitos sociais da população. E está a fazê-lo à escala mundial.<br />
Cada vez mais pessoas compram refeições<br />
ou outros bens alimentares através de<br />
plataformas digitais, o que, além de afetar<br />
os seus hábitos de consumo, tem um impacto<br />
no ambiente em termos de desenvolvimento<br />
urbano (especialmente em grandes cidades com<br />
elevada densidade populacional) e políticas de<br />
sustentabilidade. É importante ter em conta que<br />
estamos num contexto em que os Objetivos de<br />
Desenvolvimento de Sustentável estão na mira<br />
das organizações, como um indicador-chave do<br />
seu compromisso e reputação.<br />
A pandemia de Covid-19 e o subsequente<br />
confinamento foi o momento-chave em que o<br />
crescimento do número de utilizadores começou<br />
a acelerar exponencialmente. Conforme refletido<br />
no Relatório Global Digital <strong>2023</strong>, que afirma que o<br />
setor de aplicativos de entrega de refeições cresceu<br />
8,6% ao ano em todo o mundo em 2022.<br />
Mas passada a fase de pandemia, os nossos<br />
indicadores revelam que esta é uma tendência que<br />
veio para ficar, prevendo-se que os utilizadores de<br />
plataformas de encomenda de refeições online<br />
aumentem 53,7% até 2027. E Portugal, um mercado<br />
que conhecemos bem e onde operamos há dois<br />
anos, não é exceção. Se no período analisado pelo<br />
relatório, o aumento foi de 33,6%, as previsões<br />
apontam para um aumento de quase 50% até 2027.<br />
Segundo um estudo da Kantar, que analisou o<br />
comportamento dos consumidores em dez países<br />
de várias geografias, foi nos mercados europeus<br />
que o negócio da entrega de refeições mais cresceu.<br />
Em Portugal, o crescimento foi de 16%, passando<br />
de 57% para 73%. Também muito relevante, 44%<br />
do crescimento verificado em Portugal foi nos<br />
clientes que encomendam refeições uma ou mais<br />
vezes por semana, os heavy buyers.<br />
Para isso, o nosso setor apostou na digitalização<br />
e na análise de dados para obter mais resultados<br />
com menos recursos (otimização das rotas e<br />
redução da quilometragem, agrupamento de<br />
encomendas, etc.) e nos veículos ecológicos e na<br />
mobilidade partilhada, que reduzem a pegada de<br />
carbono e contribuem para tornar mais limpas as<br />
cidades onde operamos.<br />
Os novos modelos de cidade estão mais<br />
centrados nas necessidades dos consumidores<br />
e das próprias empresas – sejam grandes ou<br />
pequenas – e puderam desenvolver-se graças<br />
à flexibilidade e à adaptação constante dos<br />
intervenientes no setor das entregas, muitas vezes<br />
definidos pelo seu core business 100% tecnológico.<br />
As cidades do presente e do futuro já exigem<br />
responsabilidade a todos os players, e o setor<br />
do transporte de last mile tem de dar um passo<br />
em frente para liderar as fórmulas comerciais<br />
que permitirão a qualquer empresa manter a sua<br />
atividade, graças à reinvenção e ao compromisso<br />
com um ecossistema social e ecologicamente<br />
responsável. •