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SCMedia News | Revista | Junho 2023

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Junho</strong> <strong>2023</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

43<br />

METAVERSO E WEB 3.0<br />

Uma revolução em progresso<br />

CIVIPARTS OTIMIZA<br />

CADEIA LOGÍSTICA<br />

"CIDADES & LOGÍSTICA"<br />

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO<br />

SUSTENTABILIDADE:<br />

O PARADOXO DA CADEIA<br />

DE ABASTECIMENTO<br />

BOLUDA NAVEGA<br />

EM MARÉ ALTA<br />

METAVERSO<br />

AI<br />

D ISTIBUTED<br />

LEDGER<br />

WEB 3.0<br />

BLOCKCHAIN<br />

MACHINE<br />

LEARN ING<br />

CRIPTOGRAFIA


Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

EDITORIAL<br />

INTELIGÊNCIA COLABORATIVA<br />

“Nunca penso no futuro. Ele não tarda a chegar”.<br />

Albert Einstein<br />

Por estes dias, a nova buzzword é IA.<br />

Inteligência Artificial. É que a inteligência<br />

artificial está a tornar-se muito boa em<br />

“tarefas humanas" - diagnósticos, tradução de<br />

línguas, serviço ao cliente são apenas alguns<br />

exemplos disso - e será cada vez melhor.<br />

Este facto está a suscitar, em diferentes<br />

quadrantes, medo, em particular um maior:<br />

que acabe por substituir os trabalhadores em<br />

toda a economia. Mas esse não é o caminho<br />

nem o resultado inevitável, ou mesmo o mais<br />

provável.<br />

Nunca antes as ferramentas digitais foram tão<br />

reativas a nós, nem nós às nossas ferramentas.<br />

Embora a inteligência artificial vá alterar<br />

radicalmente a forma como o trabalho é<br />

feito e quem o faz, o maior impacto da<br />

tecnologia e o seu grande papel deve ser o<br />

de complementar, melhorar e aumentar as<br />

capacidades humanas, e não o de as substituir.<br />

É certo que muitas empresas têm utilizado<br />

a inteligência artificial para automatizar<br />

processos, mas as que a utilizam sobretudo<br />

para substituir empregados só verão ganhos<br />

de produtividade a curto prazo e vão ser<br />

apanhados e ultrapassados ao virar da<br />

esquina.<br />

Ganha e lidera este duelo “humanos vs.<br />

máquinas” quem souber abordar a inteligência<br />

artificial numa lógica colaborativa,<br />

transformando as suas operações, os seus<br />

mercados, as suas indústrias e, não menos<br />

importante, as suas pessoas.<br />

Noutros termos, o grande trunfo será seres<br />

humanos e máquinas trabalhando em<br />

conjunto, com um mesmo propósito, numa<br />

lógica de inteligência colaborativa. É através<br />

dessa inteligência colaborativa que seres<br />

humanos e inteligência artificial reforçam<br />

ativamente os respetivos pontos fortes<br />

complementares: a liderança, o trabalho<br />

em equipa, a criatividade e as competências<br />

sociais inigualáveis das pessoas e a<br />

velocidade, a escalabilidade e as capacidades<br />

matemáticas e quantitativas da segunda.<br />

O que é natural para as pessoas pode ser<br />

complicado para as máquinas e o que é<br />

simples para as máquinas vai continuar a ser<br />

muuuuito difícil para os seres humanos. Vale a<br />

pena pensar nisto!<br />

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4<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

#08 #24 #42<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Novo recorde de entrega de porta-<br />

-contentores 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Civiparts - Otimização da cadeia<br />

logística é fundamental 08<br />

DHL identifica tendências, mudanças e<br />

soluções nos setores de healthcare 12<br />

"Cidades & Logística" em busca do<br />

equilíbrio 16<br />

PROCUREMENT<br />

Sogrape Vinhos: Um pequeno<br />

departamento a nível gigante 24<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Descodificar a logística 30<br />

Palletways - “A nossa implantação aqui<br />

é estratégica para o desenvolvimento<br />

ibérico” 36<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

O paradoxo da cadeia<br />

de abastecimento 42<br />

TECNOLOGIAS<br />

Metaverso e web 3.0 - Uma revolução<br />

em progresso 48<br />

TechLogistics <strong>2023</strong> - Logística e<br />

tecnologia juntas pela supply chain 60


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

CARREIRA<br />

#60<br />

TRANSPORTES<br />

Chapman Ibéria: “Se garantimos que a<br />

carga vai voar, vai voar!” 66<br />

Boluda navega em maré alta 70<br />

Adecco apresenta estudo<br />

sobre o futuro da logística 74<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

Amy Edmondson, “Construindo um local de trabalho<br />

psicologicamente seguro” 78<br />

#70<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

PAR Design<br />

Sales manager_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Margarida de Vasconcelos<br />

Events Support_<br />

Katline Costa<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

NPC_ 514 707 143<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

Estatuto Editorial _<br />

www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />

Capital Social_<br />

100,00¤<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Carga marítima<br />

NOVO RECORDE DE ENTREGA<br />

DE PORTA-CONTENTORES<br />

REGISTADO EM JUNHO<br />

A<br />

frota mundial de navios porta-contentores<br />

aumentou 277.873 TEU no mês de junho,<br />

um novo recorde mensal. Com estes<br />

números, o primeiro semestre atingiu o valor<br />

de 975.344 TEU, relativos a 148 navios.<br />

Estima-se que este recorde venha a ser<br />

ultrapassado já no próximo ano.<br />

Para a segunda metade de <strong>2023</strong>, espera-se<br />

que os valores cheguem a cerca 1,2 milhões de<br />

TEU, o que significa um crescimento da frota<br />

mundial na ordem dos 2,2 milhões de TEU.<br />

Ainda assim, a Alphaliner prevê, para 2024,<br />

a entrada de 391 navios ao serviço, o que<br />

consiste em quase 3 milhões de TEU. Desta<br />

forma, estima-se que o ritmo da frota<br />

de porta-contentores se mantenha em<br />

crescimento, tendo em conta que, atualmente,<br />

a carteira de encomendas vale cerca de 8<br />

milhões de TEU.<br />

Por sua vez, registou-se no primeiro trimestre<br />

do ano o abatimento de 47 navios porta-<br />

-contentores, o que equivale a 84.685 TEU.


+12<br />

+12.000m2<br />

TRANSPORTE<br />

TERRESTRE<br />

TRANSPORTE<br />

AÉREO<br />

TRANSPORTE<br />

MARÍTIMO<br />

SERVIÇOS<br />

ADUANEIROS<br />

LOGÍSTICA<br />

www


8<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Civiparts<br />

Texto: Ana Paiva<br />

OTIMIZAÇÃO DA<br />

CADEIA LOGÍSTICA É<br />

FUNDAMENTAL<br />

A Civiparts, empresa integrante do<br />

Grupo Nors, está a completar 40<br />

anos de atividade e, já com alguma<br />

experiência no setor das peças<br />

aftermarket, decidiu restruturar<br />

o negócio de forma a otimizar<br />

processos logísticos, gerar mais<br />

eficiência operacional e aumentar<br />

a satisfação do cliente. João Jervell,<br />

CEO da Nors Aftermarket Portugal,<br />

explicou à Supply Chain Magazine<br />

os motivos por trás desta decisão<br />

estratégica e em que se traduzem<br />

para o negócio da Civiparts.<br />

Fundada em 1982, na Bobadela, em Lisboa,<br />

a Civiparts é uma empresa especializada<br />

na distribuição aftermarket de peças para<br />

veículos pesados e autocarros. Faz parte do<br />

Grupo Nors, e está inserida num segmento<br />

de negócio específico: a Nors Aftermarket<br />

que se concentra na distribuição e retalho de<br />

peças multimarca para automóveis, camiões e<br />

autocarros.<br />

Portugal e Angola são os mercados onde<br />

está presente e, até há pouco tempo, também<br />

em Espanha, mas esta operação foi alienada<br />

em 2021, “pois percebemos que o negócio<br />

tinha variáveis que dificilmente se iam alterar<br />

e que impediam o crescimento de players<br />

como a Civiparts”, afirma João Jervell. Em<br />

Portugal, a empresa acabou por fechar<br />

algumas das lojas que tinha distribuídas pelo<br />

país, com o objetivo de criar uma operação<br />

mais forte, nomeadamente através da criação<br />

de “armazéns centrais mais robustos”, e<br />

reforçar “a capacidade de entrega”.<br />

Atualmente, a Civiparts tem um armazém<br />

em Lisboa, de 4.600 metros quadrados, e<br />

um no Porto de 5.847 metros quadrados.<br />

“Temos observado as tendências de<br />

mercado e acreditamos que o modelo que<br />

vingará no futuro se baseia em dois pilares<br />

fundamentais: capacidade de stock, e


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

disponibilidade e qualidade de serviço”, indica<br />

o CEO, acrescentando que, através desta<br />

reestruturação, o nível logístico, atualmente,<br />

já é superior ao que tinham anteriormente.<br />

“Provámos que, pelo facto de uma peça estar<br />

numa loja próxima, não significa que o cliente<br />

a receba mais rapidamente”, assegura.<br />

Desde o dia 4 de abril que foi criada uma<br />

única estrutura que providencia suporte a<br />

todas as áreas de aftermarket do grupo. No<br />

que diz respeito às peças de veículos ligeiros e<br />

pesados, o negócio passou a ser gerido apenas<br />

por uma única entidade: a NewOneDrive, que<br />

agrega a Civiparts, a ASParts e a OneDrive. No<br />

fundo porque não fazia sentido ter duplicação<br />

de stocks, de gestão de produto, que são<br />

operações muito semelhantes em todo o<br />

grupo. As marcas, apesar de se manterem<br />

independentes, as estruturas comerciais<br />

mantêm-se autónomas, uma vez que os<br />

setores são diferentes. “O que foi fundido foi<br />

apenas a componente que não é visível, por<br />

uma questão de simplificação operacional”,<br />

indica. Esta alteração no modelo de negócio<br />

já está a ter um impacto positivo na atividade<br />

da Civiparts. Através do novo modelo, nos<br />

primeiros três meses do ano, registou um<br />

aumento de vendas em relação a 2022.<br />

Para o Grupo Nors, a otimização da cadeia<br />

logística é fundamental, pelo que, nos últimos<br />

anos têm vindo a ser feitos investimentos<br />

nesta área do negócio, nomeadamente em<br />

digitalização. Atualmente, a empresa tem não<br />

só total visibilidade sobre o produto desde o<br />

momento em que sai da fábrica até chegar ao<br />

cliente final, como também consegue fazer<br />

esta tarefa de forma mais rápida. De momento,<br />

o sistema logístico da Civiparts assegura<br />

duas entradas diárias a nível nacional. Nos<br />

armazéns foi também feito um investimento<br />

em sistemas de informação, nomeadamente a<br />

implementação de SAP S/4HANA. “Tendo em<br />

conta que trabalhamos com milhares de SKUS<br />

ativos com stock, os sistemas de informação<br />

são cruciais para um desempenho alinhado<br />

com a exigência que este tipo de negócio<br />

exige”, explica João Jervell à SCM a propósito<br />

da importância deste investimento.<br />

O FUTURO<br />

DA INDÚSTRIA AUTOMÓVEL<br />

Quanto a desafios, o responsável confessa<br />

que “têm sido muitos”. Ainda assim, “os<br />

últimos anos têm sido exigentes, mas<br />

recompensadores”. Para o futuro, a mudança<br />

é inevitável e, consequentemente, deverá<br />

trazer consigo mais adversidades. O setor<br />

automóvel poderá estar perante uma


10<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

mudança de paradigma no que diz respeito<br />

à reconversão para veículos elétricos.<br />

A Civiparts encara este cenário “com<br />

naturalidade”, uma vez que “se há algo que<br />

existe neste setor é dinamismo e disrupção”,<br />

assume o CEO. “Claramente existe um<br />

desafio, sobretudo em tudo o que envolve<br />

a cadeia cinemática tradicional - motor,<br />

caixa de velocidades e embraiagem – e a<br />

expectativa é de uma menor necessidade<br />

de manutenção e respetivas peças. No<br />

entanto haverá uma transferência dessas<br />

necessidades de manutenção e respetivo<br />

valor para outras áreas – apoio à condução,<br />

segurança e comunicação”.<br />

Além deste, João Jervell aponta ainda<br />

mais dois desafios que são inevitáveis<br />

num setor em transformação. O primeiro<br />

diz respeito ao acesso à informação do<br />

veículo. O responsável indica que “passos<br />

importantes têm sido dados” no sentido<br />

de assegurar o livre acesso dos players de<br />

aftermarket aos dados, evitando o “lock-in”<br />

dos fabricantes dos veículos e “consequente<br />

discriminação e monopólio”. “O quadro<br />

regulatório proposto vai no sentido de<br />

garantir a competitividade do mercado, a<br />

inovação, mas sobretudo a livre escolha”,<br />

refere.<br />

Por sua vez, a sustentabilidade<br />

ambiental também pode apresentar-se<br />

como um desafio. João Jervell assume<br />

que “ainda temos de dar grandes passos”,<br />

especialmente no que respeita ao ciclo<br />

de vida dos produtos que comercializam,<br />

e ainda na forma como o fazem. “Dou


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

um exemplo: é comum existirem quatro<br />

entregas diárias no setor. Faz sentido?<br />

É ambientalmente sustentável? Estas<br />

questões terão de ser, mais cedo ou mais<br />

tarde, abordadas e, seguramente, terá de<br />

ser encontrada uma resposta abrangente e<br />

envolvendo toda a cadeia de valor”.<br />

Após uma pandemia, uma guerra da<br />

Europa e todas as disrupções a que o setor<br />

automóvel está sujeito, é importante<br />

considerar o risco e ter uma grande<br />

capacidade de adaptação. Assim, perante<br />

as adversidades, o CEO do Grupo Nors<br />

aponta a “agilidade” e a “capacidade de<br />

adaptação” às diferentes realidades como<br />

os principais pilares do sucesso de qualquer<br />

empresa. Estas “são igualmente o garante<br />

do seu futuro e dos desafios que nos são<br />

apresentados, quer seja no seu dia-a-dia,<br />

quer a longo prazo”. •


12<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Healthcare<br />

DHL IDENTIFICA<br />

TENDÊNCIAS,<br />

MUDANÇAS<br />

E SOLUÇÕES<br />

A DHL publicou o"Delivering Next-Level<br />

Healthcare", que lança luz sobre as seis<br />

principais tendências que estão a mudar<br />

o panorama do setor de healthcare:<br />

cuidados de saúde centrados no paciente,<br />

terapias avançadas, tecnologias digitais,<br />

novos ecossistemas industriais, soluções<br />

sustentáveis e resiliência. A transformação<br />

em curso vai implicar que as empresas<br />

do sector reavaliem as suas operações e<br />

conceção da cadeia de abastecimento.<br />

O<br />

documento analisa o impacto destas<br />

tendências nas cadeias de abastecimento<br />

e preconiza algumas soluções e melhores<br />

práticas para a prestação de serviços no setor<br />

crítico dos cuidados de saúde, bem como sobre<br />

a otimização da cadeia de abastecimento.<br />

Como explica Claudia Roa, presidente do<br />

setor da saúde da DHL customer solutions &<br />

innovation, "as terapias inovadoras refletem<br />

o ritmo acelerado do progresso médico<br />

e lançam as bases para uma mudança<br />

transformacional nas ciências da vida e na<br />

prestação de cuidados de saúde, com modelos<br />

centrados no doente, tecnologias digitais<br />

e práticas respeitadoras do ambiente. Isto<br />

está a impulsionar o aparecimento de novos<br />

ecossistemas empresariais. O futuro reservanos<br />

uma mudança de paradigma, uma vez<br />

que os cuidados de saúde de nível superior<br />

exigem igualmente a criação de cadeias de<br />

abastecimento de cuidados de saúde de nível<br />

superior”.<br />

NOVOS CONCEITOS,<br />

DIFERENTES RESPOSTAS<br />

Um olhar mais atento à tendência dos<br />

cuidados de saúde centrados no doente mostra<br />

que a ligação entre o fabrico de produtos<br />

farmacêuticos e os utilizadores finais exige<br />

relações mais estreitas e mais reativas.<br />

Por exemplo, a forma como as pessoas<br />

procuram, escolhem e acedem aos tratamentos<br />

está a mudar. Um número impressionante<br />

de 90% dos consumidores da Geração Z<br />

pesquisam os custos e as opções de cuidados<br />

de saúde online antes de visitarem um médico<br />

pessoalmente.<br />

Além disso, o desenvolvimento de ensaios<br />

clínicos sofreu uma mudança, com 89%<br />

dos promotores a utilizar a tecnologia para<br />

permitir um modelo descentralizado em<br />

pelo menos um dos seus ensaios clínicos,<br />

o que resulta numa maior retenção em<br />

comparação com os estudos que exigem a<br />

presença numa clínica. Noutros termos, isto<br />

significa que uma menor


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

"deslocação de pessoas" será substituída<br />

por uma maior expedição de produtos<br />

farmacêuticos para um número ainda mais<br />

diversificado de destinos.<br />

As tendências demográficas e industriais<br />

estão também a impulsionar a mudança<br />

no segmento da saúde dos consumidores.<br />

A pressão sobre as despesas públicas com<br />

os cuidados de saúde, o envelhecimento<br />

da população e o interesse crescente dos<br />

consumidores pela saúde e pelo bem-estar<br />

contribuem para um crescimento previsto de<br />

12% até 2025. Além disso, estão a surgir novos<br />

modelos de subscrição de serviços e produtos,<br />

aumentando o volume de negócios do comércio<br />

eletrónico e novas categorias de produtos.<br />

Este facto gera necessidades adicionais<br />

ao nível logístico e de gestão da cadeia de<br />

abastecimento.<br />

Outra tendência importante é o crescimento<br />

de novas abordagens terapêuticas, incluindo os<br />

produtos biofarmacêuticos e os medicamentos<br />

baseados em terapias genéticas. Prevê-se que<br />

o mercado para estas terapias aumente dos<br />

cerca de 5 mil milhões de dólares em 2012<br />

para quase 37 mil milhões de dólares em 2027.<br />

Além disso, os produtos biofarmacêuticos são<br />

sensíveis e dispendiosos, pelo que devem ser<br />

manuseados com cuidado em todas as fases da<br />

cadeia de abastecimento.<br />

Como resultado, a indústria farmacêutica<br />

investe mais de 17 mil milhões de dólares por<br />

ano na logística da cadeia de frio. Este facto deu<br />

origem a uma gama diversificada de serviços<br />

de logística de frio, abrangendo envios que<br />

requerem temperaturas tão baixas como -196º<br />

para produtos ultracongelados.<br />

DIFERENCIAR AS SOLUÇÕES<br />

De acordo com as tendências identificadas pela<br />

DHL no seu whitepaper são vários os setores<br />

na área dos cuidados de saúde que estão a<br />

atravessar processos de mudança, onde se<br />

inclui dispositivos médicos, cuidados de saúde<br />

propriamente ditos, produtos farmacêuticos,


14<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

ensaios clínicos, organizações governamentais<br />

e organizações não governamentais.<br />

Estas transformações colocam exigências<br />

novas e por vezes variáveis nas cadeias de<br />

abastecimento dos cuidados de saúde, quer<br />

introduzindo complexidade nos processos<br />

existentes, quer exigindo a adoção de modelos<br />

de gestão da cadeia de abastecimento<br />

inteiramente novos.<br />

As exigências vão desde uma melhor<br />

visibilidade e controlo da distribuição,<br />

passando por uma proteção rigorosa dos<br />

envios e uma monitorização em tempo real do<br />

seu estado, até à segmentação das cadeias de<br />

abastecimento e dos canais de distribuição.<br />

Tudo com o objetivo de garantir a integridade<br />

dos produtos.<br />

Em resultado de algumas situações vividas<br />

durante a pandemia de COVID-19, onde se<br />

inclui a a escassez de vacinas, os países estão<br />

a considerar uma revisão completa dos seus<br />

processos logísticos. Explorar a possibilidade<br />

de aumentar a produção interna de produtos<br />

de saúde críticos, armazenar fornecimentos e<br />

passar a transportar mais matérias-primas e<br />

ingredientes farmacêuticos ativos são alguns<br />

deles, de acordo com o documento.<br />

OITO QUESTÕES FUNDAMENTAIS<br />

O whitepaper da DHL revela oito questõeschave<br />

que as empresas devem considerar ao<br />

preparar a sua cadeia de abastecimento para o<br />

futuro.<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Exemplos que ilustram estas questões<br />

são o facto de as empresas terem de dar<br />

prioridade à escalabilidade, versatilidade e<br />

agilidade das suas redes de cadeia de frio<br />

para responderem eficazmente às exigências<br />

em constante mudança; ou o facto de os


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

doentes exigirem o mesmo nível de escolha<br />

e conveniência nos cuidados de saúde<br />

quando compram outros produtos e serviços,<br />

como encomendas online ou entregas<br />

diretas ao domicílio, o que exige capacidades<br />

logísticas que ofereçam elevados níveis de<br />

serviço e tenham a flexibilidade necessária<br />

para se adaptarem às exigências únicas dos<br />

utilizadores.<br />

Um desafio extremo neste contexto<br />

são as terapias autólogas, que se situam<br />

no domínio da medicina regenerativa das<br />

células estaminais e em que os tratamentos<br />

são derivados do sangue de um indivíduo,<br />

exigindo uma cadeia de abastecimento<br />

bidirecional rigorosamente controlada para<br />

cada doente.<br />

Garantir que os tratamentos<br />

personalizados chegam sempre ao doente<br />

certo exige controlos rigorosos da identidade<br />

e protocolos da cadeia de custódia. E<br />

como estes tratamentos continuam a ser<br />

relativamente raros em contextos clínicos, o<br />

serviço de última milha tem de ser contínuo,<br />

intuitivo e concebido em função das<br />

necessidades do doente e do seu médico.<br />

Para serem bem sucedidas na remodelação<br />

da sua cadeia de abastecimento, as<br />

empresas devem começar por estabelecer<br />

uma visão clara das suas prioridades<br />

emergentes. Compreender como as cadeias<br />

de abastecimento funcionarão no futuro<br />

permitir-lhes-á identificar as capacidades<br />

necessárias para concretizar essa visão. •<br />

SABER MAIS<br />

18SET’23<br />

AUDITÓRIO CUF<br />

DESCOBERTAS, LISBOA<br />

ORGANIZAÇÃO


16<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Conferência APLOG


SCM Supply Chain Magazine<br />

17<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

"CIDADES<br />

& LOGÍSTICA":<br />

EM BUSCA DO<br />

EQUILÍBRIO<br />

A Associação Portuguesa de Logística<br />

(APLOG) promoveu, em Lisboa, a quarta<br />

edição da conferência "Cidades & Logística",<br />

um encontro que reuniu especialistas,<br />

gestores e profissionais da cadeia de<br />

abastecimento com o propósito de discutir<br />

como tornar as cidades mais sustentáveis<br />

e eficientes. Com a crescente preocupação<br />

acerca dos impactos negativos no ambiente<br />

urbano e na qualidade de vida dos cidadãos,<br />

a busca pela neutralidade carbónica e a<br />

otimização de recursos teve destaque ao<br />

longo do dia.


18<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

A<br />

logística urbana apresenta-se como um dos<br />

maiores desafios para os profissionais da<br />

cadeia de abastecimento e gestores urbanos<br />

em Portugal. A contínua operação das cidades<br />

depende de uma extensa rede de veículos,<br />

viagens e quilómetros percorridos, mas essa<br />

complexidade acarreta custos e impacto, tanto<br />

no meio ambiente como na qualidade de vida<br />

dos seus habitantes.<br />

Filipe Melo Sampaio, partner da Deloitte<br />

na área de Customer Strategy e Marketing<br />

referiu na apresentação do estudo "O reinado<br />

do consumidor: a experiência digital” que "os<br />

consumidores estão cada vez mais exigentes,<br />

desejando receber as suas encomendas<br />

no mesmo dia". Este comportamento tem<br />

influenciado a preferência dos consumidores<br />

pelo canal online, no qual o tempo de entrega<br />

é um fator crucial. Contudo, a procura de<br />

entregas mais rápidas e eficientes tem sido<br />

um dos principais desafios enfrentados pelos<br />

operadores de retalho e logística. Os resultados<br />

mostram que apenas 19% das empresas<br />

analisadas têm a possibilidade de realizar<br />

entregas expresso, mas esse número representa<br />

uma melhoria significativa em relação ao ano<br />

passado. Em 2020, o tempo médio de entrega<br />

era de aproximadamente 2.8 dias, mas com a<br />

opção de encomendas expresso disponível,<br />

esse tempo foi reduzido significativamente<br />

para 1.2 dias. Esta pressão tem trazido desafios<br />

adicionais à logística urbana, especialmente<br />

com o aumento de encomendas que saem<br />

diretamente das lojas. Outro ponto relevante<br />

do estudo é a preferência dos consumidores<br />

por entregas gratuitas. Muitos retalhistas


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

oferecem essa opção, desde que o cliente<br />

alcance um valor mínimo de compra. No<br />

entanto, isso tem criado um desafio: a logística<br />

inversa. Apenas 32% das empresas analisadas<br />

têm a possibilidade de oferecer devoluções<br />

gratuitas, o que representa um custo adicional<br />

para o operador. Raúl Magalhães, diretor da<br />

APLOG, salientou que "a logística inversa<br />

não se restringe apenas às devoluções do<br />

consumidor final (B2C), mas também engloba<br />

as devoluções entre empresas (B2B)." Desta<br />

forma, ressalta a importância de encontrar<br />

soluções para o retorno de embalagens e<br />

produtos, especialmente nos setores HORECA<br />

e no comércio tradicional. O estudo também<br />

apurou que o aumento das entregas expresso<br />

tem sido notável, com uma redução de 44%<br />

no preço dessas entregas em comparação<br />

com as entregas padrão. Isso indica que as<br />

entregas expresso devem tornar-se ainda mais<br />

comuns no futuro. A integração dos canais<br />

de distribuição, incluindo a opção de recolha<br />

na loja, tem sido um fator positivo para os<br />

operadores. Além de melhorar a experiência<br />

do cliente, essa integração aumenta a<br />

probabilidade de o consumidor adquirir mais<br />

itens em loja física após a compra online.<br />

Diante dessas mudanças no comportamento do<br />

consumidor e da necessidade de entregas mais<br />

rápidas e eficientes, a transformação digital e a<br />

adoção de tecnologias têm sido essenciais para<br />

que as empresas de retalho e logística possam<br />

enfrentar os desafios e adaptar-se às novas<br />

expectativas do mercado.<br />

MOBILIDADE ELÉTRICA<br />

De acordo com Duarte Martins, responsável<br />

de Operações Técnicas de Mobilidade Elétrica<br />

para a Ibéria da GALP, “a eletrificação é<br />

garantidamente um dos melhores processos de<br />

descarbonização”, destacando o crescimento<br />

da Rede Mundial de Elétrica, que duplica<br />

de ano para ano. “Esta rede tem crescido<br />

muito à conta das posições próprias da Galp.<br />

A Galp está em todas as suas posições de<br />

combustível, empresas de retalho, parques<br />

de estacionamento, parceiros como IKEA,<br />

Sonae, NOS. Portanto, tem sido muito forte o<br />

crescimento, e muito em concessões municipais.<br />

O crescimento com base em domínio<br />

público tem sido um dos principais focos de<br />

crescimento”, explicou o responsável.


20<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

No entanto, aponta os desafios que persistem<br />

em setores como o transporte logístico<br />

pesado e o transporte aéreo, onde ainda<br />

não há soluções tecnológicas adequadas.<br />

Assim, destaca a importância da literacia do<br />

cliente no campo tecnológico e das soluções<br />

disponíveis. Nesse contexto, a GALP atua como<br />

um consultor técnico, auxiliando na escolha<br />

dos veículos e na infraestrutura mais adequada<br />

para cada caso. Por outro lado, Rita Sousa,<br />

diretora do Departamento de Autoridades de<br />

Transportes do Município de Cascais, enfatiza<br />

que “para que essa estratégia funcione, temos<br />

que nos sentar todos a uma mesa, em conjunto,<br />

porque as necessidades dos municípios são<br />

diferentes das necessidades dos operadores de<br />

logística, portanto, temos que, todos juntos,<br />

tentar encontrar aqui uma solução, o que<br />

não vai ser fácil”. Já Rui Lopo, administrador<br />

da Transportes Metropolitanos de Lisboa<br />

(TML), que tem a tarefa de se articular com<br />

18 municípios, ressalta que a mobilidade<br />

abrange várias áreas e que o fundamental<br />

é pensar em processos que respeitem a<br />

heterogeneidade de cada território. Por sua<br />

vez, Francisca Ramalhosa, administradora<br />

da EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade<br />

e Estacionamento de Lisboa), mencionou os<br />

desafios na implementação do Regulamento<br />

de Estacionamento de Via Pública, apontando<br />

para a criação de uma plataforma tecnológica<br />

para gerir os lugares de carga e descarga,<br />

algo “complexo e difícil por uma questão<br />

tecnológica, porque temos que garantir que<br />

sensorizamos o lugar de estacionamento<br />

para garantir que há o check-in e o checkout.<br />

E, por outro lado, também teria aqui uma<br />

complexidade para o trabalho diário de um<br />

operador que em cada paragem teria que fazer<br />

o check-in e o check-out.” “Poderia haver aqui<br />

uma tecnologia que permitisse, como é feito<br />

em outras cidades, uma sensorização por


22<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

câmera nas ruas, mas a nossa legislação não o<br />

permite. A EMEL ainda está a digerir as questões<br />

legislativas, tecnológicas e operacionais.<br />

Entretanto, temos aumentado o número de<br />

lugares para cargas e descargas, na medida do<br />

possível”. Francisca Ramalhosa aproveitou ainda<br />

para falar sobre o projeto da EMEL para oferecer<br />

serviços e produtos adicionais nos seus parques<br />

de estacionamento, criando um ecossistema<br />

de colaboração com operadores logísticos. A<br />

ideia é disponibilizar parques com serviços<br />

como carregadores elétricos, estacionamento<br />

para bicicletas, cacifos para encomendas e até<br />

mesmo locais para logística urbana, buscando<br />

responder às necessidades dos utilizadores de<br />

forma eficiente e sustentável.<br />

A CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE<br />

De forma a garantir um futuro sustentável,<br />

empresas como a Leroy Merlin, DPD Portugal e<br />

EcoEmbalagens dão passos significativos<br />

para tornar as suas operações mais amigas do<br />

ambiente. Dalila Tavares, diretora de Transportes<br />

da Leroy Merlin, afirmou que necessitam de<br />

“entregar muito rápido, inclusive neste mundo<br />

da bricolage em que nós temos que entregar<br />

azulejo no próprio dia. Uma pessoa fica a pensar,<br />

mas quem vai construir um chão no próprio dia<br />

e precisa do azulejo entregue no próprio dia?<br />

Mas a verdade é que vivemos nesta sociedade<br />

em que há a pressão da velocidade, da rapidez,<br />

do, quero já e se não tenho já, tenho uma


SCM Supply Chain Magazine<br />

23<br />

alternativa, e temos que conseguir conciliar<br />

esta urgência em receber." A Leroy Merlin está<br />

comprometida em acelerar a transição para uma<br />

cadeia de abastecimento mais sustentável e já<br />

possui planos concretos em andamento. "Temos<br />

trabalhado em seis ou sete grandes linhas e o<br />

interessante é que já com métricas concretas<br />

até 2025 para poder acelerar esta transição",<br />

explicou. Para atingir esse objetivo, a empresa<br />

implementou uma política de procurement com<br />

diferenciação positiva na contratação de veículos<br />

mais eficientes e ambientalmente amigáveis.<br />

"Temos fatores de ponderação, quer para B2B,<br />

quer para B2C, para veículos ambientalmente<br />

mais eficientes, porque como se comentava há<br />

pouco, naturalmente é uma tecnologia que agora<br />

na entrada é mais cara, mas queremos forçar essa<br />

entrada." A empresa está também a trabalhar na<br />

otimização da sua rede de distribuição, buscando<br />

reduzir a distância percorrida e aumentar a taxa<br />

de ocupação dos veículos.<br />

Também a A DPD se destaca no compromisso<br />

com a sustentabilidade. Rui Nobre, COO da DPD<br />

Portugal, explicou que a empresa tem investido<br />

fortemente na descarbonização das suas<br />

operações, principalmente na distribuição de<br />

last mile em cidades. Desta forma, implementou<br />

um plano ambicioso para descarbonizar cidades<br />

europeias, incluindo Lisboa e Porto, através do<br />

uso de carrinhas elétricas. "Neste momento<br />

temos 127 carrinhas elétricas a operar, temos<br />

mais 80 para serem entregues este ano,<br />

portanto ficamos no final de <strong>2023</strong> com 207<br />

carrinhas elétricas." Além disso, a empresa está<br />

a explorar outras soluções sustentáveis, como<br />

o uso de biocombustíveis, como o HVO, “um<br />

biofuel que representa praticamente 90% de<br />

redução de emissões, estamos a testá-lo." A<br />

preocupação com a sustentabilidade também<br />

envolve a distribuição de last mile, onde a<br />

Your Order on Bike (YOOB) tem buscado a<br />

descentralização da logística urbana através<br />

do uso de meios de mobilidade suave, como<br />

bicicletas, motos elétricas e carros elétricos.<br />

"Acreditamos que tem que ser descentralizada<br />

a logística, porque todos os dias existem<br />

centenas de viaturas que entram dentro da<br />

cidade para fazer o abastecimento. Por meio dos<br />

pontos pick-up e dos lockers, nós conseguimos<br />

distribuir a carga de uma forma muito mais<br />

inteligente, utilizando bicicletas, motos elétricas<br />

e carros elétricos para fazer essa distribuição<br />

last mile." Rui Nobre sublinhou também que a<br />

colaboração e parcerias com outras empresas<br />

e entidades é fundamental para se alcançar o<br />

objetivo de uma cadeia de abastecimento mais<br />

sustentável. •


24<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Sogrape Vinhos<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Sogrape Vinhos<br />

UM PEQUENO<br />

DEPARTAMENTO<br />

A NÍVEL GIGANTE<br />

Na 13ª edição dos prémios EIPM-Peter<br />

Kraljic, Portugal contou com três<br />

empresas nacionais entre as galardoadas.<br />

Conquistando o prémio Circular Ecosystems,<br />

a divisão de procurement da Sogrape<br />

Vinhos foi uma das distinguidas com o<br />

prémio internacional em Paris, no dia 15 de<br />

dezembro. Entre as principais preocupações<br />

da empresa estão as relações de parceria e<br />

de win-win, criando assim um ecossistema<br />

de entreajuda.<br />

A<br />

Sogrape Vinhos é uma empresa sediada no<br />

Porto, conhecida pela sua vasta gama de<br />

vinhos, que inclui tanto vinhos tranquilos<br />

quanto espumantes, e através de marcas como<br />

Mateus Rosé, Sandeman, Casa Ferreirinha e<br />

Offley. A empresa exporta os seus produtos<br />

para mais de 120 países, e além das suas vinhas<br />

e adegas em Portugal, conta com empresas de<br />

produção em Espanha, no Chile, Argentina e<br />

Nova Zelândia.<br />

Embora já o tivesse ponderado fazer mais cedo,<br />

esta foi a primeira participação da Sogrape nos<br />

prémios. Isabel Santos, diretora de compras da<br />

Sogrape Vinhos, conta que teve conhecimento da<br />

iniciativa através da Associação Portuguesa de<br />

Compras e Aprovisionamento (APCADEC), e que<br />

tinha ponderado fazer uma candidatura no ano<br />

passado. “Sou associada já há vários anos, e vou<br />

tendo uma participação bastante ativa junto da<br />

APCADEC, e tinha percebido que eles promovem<br />

este prémio”, explica Isabel Santos, revelando<br />

que o desafio partiu da própria associação, ao<br />

observar o nível de maturidade do departamento<br />

de compras da empresa.<br />

Um dos elogios tecidos pelo EIPM, ao nível<br />

de desenvolvimento do departamento, foi


Isabel Santos, diretora de compras da Sogrape Vinhos<br />

SCM Supply Chain Magazine 25<br />

que, apesar de ter vencido o prémio nesta<br />

categoria, uma empresa não ganha este<br />

destaque se tudo o resto também não estiver<br />

já num nível de maturidade bastante positivo.<br />

A concurso estavam empresas de grande<br />

dimensão, com departamentos de compras<br />

com dimensões muito maiores do que o da<br />

Sogrape Vinhos, e Isabel Santos destaca que<br />

apesar de “pequeninos”, foi muito positivo<br />

poderem perceber que os seus processos eram<br />

equiparáveis aos de grandes multinacionais.<br />

“É muito interessante percebermos que o<br />

departamento de compras da Sogrape conseguiu<br />

de facto implementar aqui práticas que nos<br />

permitem sermos considerados como líderes no<br />

setor”, destaca.<br />

PARTICIPAÇÃO NO PRÉMIO<br />

“O processo em si vale muito a pena”, comenta<br />

a diretora de compras, “nós temos de preencher<br />

um questionário bastante complexo e com<br />

muitas perguntas de várias temáticas que nos<br />

obriga a parar para pensar sobre os processos,<br />

e eles pedem muitas evidências para as várias<br />

perguntas que vão sendo respondidas, e isso<br />

implica esse pensamento de como estamos<br />

efetivamente em cada uma das categorias, e é<br />

importante fazer-se essa análise. Por fim, é feita<br />

uma auditoria com elementos do Peter Kraljic e<br />

do EIPM”.<br />

Adicionalmente aos prémios, é entregue um<br />

relatório à empresa que aponta os seus pontos<br />

fortes e oportunidades de melhoria, e podem<br />

inclusive comparar-se com empresas que já<br />

ganharam o prémio, com empresas do setor ou<br />

com empresas a nível mundial.<br />

Isabel Santos destaca ainda que a equipa<br />

de procurement da Sogrape é relativamente<br />

pequena, e que todos os elementos fazem<br />

“um pouco de tudo”, e, portanto, “a conquista<br />

do Prémio Peter Kraljic representa um marco<br />

importante para a Sogrape Vinhos e, em<br />

particular, para a equipa de Procurement. O<br />

processo de qualificação e auditoria foi rigoroso,<br />

avaliando critérios holísticos de excelência<br />

em Procurement, liderança, estratégia e<br />

resultados. Ao ser selecionada como vencedora,<br />

a Sogrape Vinhos recebeu um reconhecimento<br />

significativo pela suas práticas colaborativas<br />

com stakeholders e fornecedores. Essa distinção<br />

reforçou o reconhecimento interno e externo da<br />

área de Procurement, destacando-a como um


26<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

exemplo de gestão exemplar e criação de valor”,<br />

salienta Isabel Santos.<br />

UM PAPEL ALÉM<br />

DO MELHOR PREÇO<br />

Embora muitas vezes vista como uma forma<br />

de poupança através da redução de custos,<br />

a área de procurement tem conquistado um<br />

maior destaque dentro das organizações,<br />

especialmente desde a pandemia de COVID-19<br />

e a guerra na Ucrânia, momentos em que os<br />

departamentos de procurement foram uma<br />

parte vital ao nível da diferenciação e da<br />

criação de valor.<br />

“Eu sempre entendi que o departamento<br />

de compras tem de ter um papel que vá além<br />

daquela lógica mais corrente de que as compras<br />

apenas têm de comprar aquilo que é pedido ao<br />

melhor preço”, defende, “o departamento de<br />

compras tem de ter também um papel de tentar<br />

trazer para dentro de portas a inovação, as<br />

soluções mais sustentáveis, e toda esta dinâmica.<br />

Tem sido esta a nossa forma de trabalhar”.<br />

A diretora de compras refere que o facto de<br />

terem ganhado este prémio também potenciou<br />

o networking e a partilha de conhecimento,<br />

tanto ao nível da partilha como da absorção<br />

de conhecimento, mas também a visibilidade,<br />

não só externamente, mas também interna.<br />

“Os departamentos de compras, regra geral,<br />

são departamentos que passam um pouco<br />

despercebidos na organização. Termos recebido<br />

um prémio como este, que nos coloca na linha da<br />

frente comparativamente com grandes empresas<br />

mundiais, dá-nos uma maior visibilidade, e deunos<br />

uma motivação extra, mesmo internamente”.<br />

PROJETOS DENTRO<br />

DO ECOSSISTEMA<br />

Com especial foco na sustentabilidade, a Sogrape<br />

Vinhos tem vários projetos a decorrer com<br />

os seus parceiros, alguns já com vários anos,<br />

procurando soluções inovadoras e mais amigas<br />

do ambiente. Desde projetos de reutilização de<br />

materiais, utilização de materiais que seriam<br />

resíduos, e que poderão ser transformados<br />

noutros materiais, a ser utilizados novamente.<br />

Olhando para os seus processos internos,<br />

Isabel Santos destaca os seguintes projetos para<br />

a conquista do prémio:<br />

Alinhamento Estratégico<br />

e Valor Acrescentado:<br />

“Ao longo dos últimos anos, a área de<br />

Procurement da Sogrape Vinhos tem aprimorado<br />

a sua integração com o negócio, alinhando


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

estreitamente os seus objetivos e estratégias<br />

com as necessidades dos stakeholders e<br />

abordando os principais desafios do setor. Essa<br />

abordagem tem resultado no reconhecimento<br />

da área de Procurement da Sogrape Vinhos, pelo<br />

valor que entrega e pela contribuição da base<br />

de fornecedores para os resultados da empresa.<br />

A empresa mantém uma relação muito próxima<br />

com os seus parceiros, incentivando-os a<br />

compartilhar inovações que possam impulsionar<br />

o negócio e as vendas”.<br />

Projetos de Ecossistemas Circulares:<br />

“A área de Procurement da Sogrape Vinhos deu<br />

início a três projetos de grande escala focados<br />

em ecossistemas circulares, com a participação<br />

de diversos parceiros externos. Esses projetos<br />

visam enfrentar os desafios da descarbonização<br />

nos segmentos mais impactantes, identificados<br />

por meio de uma avaliação da pegada de<br />

carbono. Com estas iniciativas, a empresa<br />

procura promover a redução das emissões de<br />

carbono em toda a cadeia de abastecimento”.<br />

Gestão de Pessoas e<br />

Desenvolvimento de Competências<br />

da equipa de Procurement:<br />

“A área de Procurement da Sogrape Vinhos<br />

prioriza atividades específicas de gestão de<br />

pessoas e de desenvolvimento de competências.<br />

Através de reuniões diárias, semanais e<br />

trimestrais, a equipa de Procurement da<br />

Sogrape Vinhos planeia as suas atividades,<br />

discute melhorias e reflete sobre as estratégias<br />

adotadas. Além disso, a empresa tem vindo<br />

a implementar planos de desenvolvimento<br />

individuais que suportam o desenvolvimento<br />

individual dos colaboradores. São oferecidos<br />

programas de formação, incluindo cursos de<br />

negociação e liderança, que são integrados num<br />

plano de formação definido após avaliações de<br />

desempenho. A Sogrape Vinhos também valoriza<br />

a formação no decorrer do dia a dia, incentivando<br />

a transferência de conhecimento entre os<br />

membros da equipa”.<br />

Digitalização e Responsabilidade<br />

ESG:<br />

“A empresa adotou a digitalização como<br />

parte fundamental de seus processos, buscando<br />

garantir a capacidade e o comprometimento<br />

dos fornecedores com as práticas ambientais,<br />

sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).<br />

Através de um software de Procure-to-Pay e do<br />

Portal de Gestão de Fornecedores Supply4Wine,<br />

a Sogrape Vinhos digitalizou os seus processos<br />

de ponta a ponta, garantindo agilidade e<br />

controlo e gestão dos fornecedores. Além disso,<br />

a empresa tem vindo a implementar um plano<br />

estruturado de gestão de risco de abastecimento,<br />

que inclui avaliações financeiras ou técnicas dos<br />

fornecedores”.<br />

Colaboração com Fornecedores:<br />

“A área de Procurement da Sogrape Vinhos<br />

utiliza uma matriz de Kraljic para segmentar os<br />

seus fornecedores e estabelecer relacionamentos<br />

de longo prazo. A empresa promove diversos<br />

formatos de colaboração, abordando aspetos<br />

como custo, inovação e sustentabilidade. Por<br />

meio de workshops e discussões abertas com os<br />

fornecedores, a área de Procurement da Sogrape<br />

Vinhos procura identificar oportunidades de<br />

redução de custos e implementar planos de ação<br />

que gerem melhorias contínuas para ambas as<br />

partes. Além disso, a empresa promove dias de<br />

inovação, nos quais fornecedores apresentam<br />

novas ideias e soluções para as equipas de<br />

marketing e desenvolvimento de embalagens. A<br />

colaboração com fornecedores é vista como uma<br />

oportunidade para adotar materiais inovadores”.<br />

“Tem sido este tipo de projetos que temos<br />

vindo a desafiar os nossos fornecedores, no<br />

sentido de termos uma maior reciclagem,


28<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

circularidade, e todos esses tipos de ações que<br />

são tão importantes hoje para conseguirmos<br />

reduzir a pegada de carbono. Temos trabalhado<br />

também muito com os fornecedores para reduzir<br />

os consumos, como por exemplo em reduzir a<br />

quantidade e peso de embalagens, com menos<br />

componentes, ou não utilizar um determinado<br />

tipo de embalagem”, explica Isabel Santos.<br />

Um dos exemplos dados foi ao nível do<br />

transporte de garrafas para os clientes. Há umas<br />

décadas, utilizavam caixas de madeira com<br />

separadores. Depois, passaram ao cartão, aos<br />

poucos, foram-se adaptando, ao eliminarem os<br />

separadores, adaptarem a densidade do cartão…<br />

E conforme se foram adaptando, também<br />

desafiaram os seus fornecedores a fazer parte<br />

da mudança, apresentando-lhes propostas<br />

e sugestões para corresponderem aos seus<br />

objetivos.<br />

Outro caso é a reutilização do engaço da<br />

uva no pós-vinificação. O engaço da uva são<br />

os resíduos da fruta que ficam depois da<br />

extração do líquido, e aos quais os agricultores<br />

antigamente não davam uso e acabavam<br />

despejados em aterros. Isabel Santos conta<br />

que utilizam este engaço para adubar a vinha,<br />

mas não todo, caso contrário seria em excesso.<br />

“Sobram sempre materiais que há alguns anos<br />

iam para a terra, mas porque é que têm de ir<br />

para a terra? Será que não se podem reutilizar<br />

para outros tipos de finalidades?”, questiona a<br />

responsável, “já temos vários projetos em estudo<br />

e, de facto, há muita coisa que se pode fazer,<br />

havendo vontade e espírito inovador”.<br />

Recentemente o mercado passou por uma<br />

falta de abastecimento de garrafas de vidro, e<br />

a Sogrape não foi exceção, mas graças às suas<br />

parcerias duradouras conseguiram dar a volta ao<br />

sistema, e apesar de terem sentido essa falta, não<br />

falharam: “tivemos bastantes dificuldades em<br />

termos de abastecimento de garrafas. Felizmente<br />

nós contamos com parceiros estáveis, e que são<br />

verdadeiramente parceiros. No caso da Sogrape,<br />

não tivemos nenhuma falha de abastecimento,<br />

conseguimos ir gerindo com os nossos parceiros<br />

as nossas necessidades e capacidade de<br />

abastecimento também para nos fornecer, e não<br />

tivemos nenhuma situação dramática de falhas<br />

de abastecimento”, comenta.<br />

RELAÇÕES DE PARCERIA<br />

Isabel Santos conta que no departamento<br />

de compras tentam segmentar os seus<br />

fornecedores e perceber quais os estratégicos<br />

e quais os críticos, com os quais têm uma<br />

lógica de trabalhar a longo prazo. “Esses<br />

fornecedores para nós são parceiros, e com<br />

esses fornecedores tentamos ter uma ligação<br />

muito mais próxima, de partilha, e vamos<br />

tendo projetos, em que lhes pedimos para<br />

colaborarem connosco em projetos de inovação,<br />

que possam resultar em fornecimentos mais<br />

sustentáveis”.<br />

No lado inverso, também têm projetos virados<br />

para a sustentabilidade social em que ajudam<br />

os seus parceiros a crescer, fazendo workshops<br />

com o objetivo de identificar oportunidades<br />

para reduzir custos, ou para obter melhorias<br />

ao nível dos prazos de entrega, condições<br />

de fornecimento, etc. “Tudo isso é algo que<br />

estamos a sempre a trabalhar numa lógica de<br />

parceria, e para que isso aconteça, tentamos<br />

que haja uma boa relação entre as empresas e<br />

as várias equipas”, tanto operacionais, como de<br />

gestão e administração das empresas. “Acho<br />

que é importante haver esta relação pessoal<br />

entre as pessoas, para conseguirmos perceber<br />

quais as necessidades dos nossos parceiros,<br />

como pretendem evoluir e em que nós próprios<br />

os podemos ajudar e compartilhar o que são as<br />

nossas necessidades e perspetivas de futuro”,<br />

conclui. •


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30<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

50 anos do código<br />

de barras<br />

Texto: Fábio Santos<br />

DESCODIFICAR<br />

A LOGÍSTICA<br />

Haverá certamente quem se lembre do<br />

tempo em que todo o processo logístico era<br />

puramente manual, e em que tudo tinha de<br />

ser escrito sem o beep de um scanner. Afinal,<br />

apesar de já existir há 50 anos, o código<br />

de barras chegou a Portugal há apenas 37,<br />

através da então Codipor, que esteve na<br />

génese da GS1 Portugal. Em entrevista à<br />

SCM, João de Castro Guimarães, presidente<br />

executivo da GS1 Portugal, recorda como<br />

foi esta evolução, como era, como é e onde<br />

pretendem chegar.<br />

F<br />

oi no dia 3 de abril de 1973 que chegou o<br />

código de barras à logística mundial. Com ele,<br />

a gestão de grandes superfícies comerciais<br />

torna-se muito mais facilitada, trazendo novas<br />

oportunidades de gestão de inventários para os<br />

super e hipermercados. “Sem isso não haveria a<br />

necessidade de vender tantas quantidades em<br />

tão pouco tempo, e manter-se-iam as pequenas<br />

mercearias, drogarias e lojas de bairro, que ainda<br />

existem”, aponta João de Castro Guimarães,<br />

“criámos uma linguagem própria, Eletronic<br />

Data Interchange (EDI), com umas sintaxes<br />

próprias que permitiram que as encomendas de<br />

grandes quantidades de referências pudessem<br />

ser feitas. E assim se criou aquilo que hoje pode<br />

ser chamada a distribuição moderna, a grande<br />

distribuição”.<br />

No caso nacional, “há 37 anos as coisas<br />

faziam-se de uma maneira que não era tão<br />

fluida, tão eficiente, com muito maior número<br />

de perdas, na busca, por acaso, de soluções<br />

mais locais, e não havia uma solução global de<br />

partilha que a codificação criou”, recorda.<br />

CÓDIGO DA DISTRIBUIÇÃO<br />

Os códigos de barras foram uma tecnologia<br />

revolucionária para a logística a nível mundial,<br />

trazendo rapidez e eficiência aos processos<br />

internos das empresas. À distância de um beep,<br />

toda a informação passava a ser gerida de forma<br />

automática, e as pessoas passavam a conseguir<br />

controlar todas as entradas e saídas de stock,<br />

com uma margem de erro muito mais reduzida.<br />

“Permitiu, com uma leitura numa saída de caixa,<br />

imediatamente saber que produto é que está


SCM Supply Chain Magazine 31


32<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

a sair e deduzi-lo do stock que temos. É uma<br />

maneira de, rapidamente, tornar mais eficiente a<br />

transação, o reaprovisionamento, o controlo e a<br />

gestão do produto”.<br />

Olhando para os níveis atuais de consumo,<br />

“imagino o que seria agora se não houvesse<br />

códigos num desses grandes centros, numa<br />

grande superfície. Ou tinham milhares de<br />

pessoas a fazer as encomendas por milhares de<br />

caixas, ou então não era possível esta rapidez e<br />

eficiência”.<br />

Após 37 anos em Portugal, hoje olhamos<br />

para uma evolução digital que em grande parte<br />

se deveu a este ponto de partida. “Os nossos<br />

códigos permitem identificar o que vai em cada<br />

palete, o que, ao automatizar estes processos<br />

que temos hoje em dia, reduz esta margem de<br />

erro, permitindo-nos ser mais sustentáveis”.<br />

CÓDIGO DE SUSTENTABILIDADE<br />

Nos últimos anos, a GS1 Portugal tem-se<br />

dedicado muito ao tema da sustentabilidade,<br />

e em levar às empresas maneiras de serem<br />

mais sustentáveis, e de reportar essa<br />

sustentabilidade aos seus associados, para<br />

que junto dos seus consumidores possam<br />

demonstrar a sua responsabilidade social.<br />

João de Castro Guimarães recorda que, para<br />

além de existir um maior erro humano, antes<br />

era necessário produzir mais, e manter stocks<br />

mais altos, para corresponder às necessidades<br />

que existiam no mercado. “Esta utilização do<br />

código de barras veio trazer sustentabilidade,<br />

porque veio evitar erros que aconteciam<br />

nas pequenas lojas, numa distribuição<br />

extremamente capilar, onde as pessoas<br />

tomavam notas manualmente, e havia muito<br />

mais possibilidade de erros”, aponta.<br />

Hoje, considera que os códigos estão mais<br />

direcionados para a possibilidade de ser o mais<br />

eficiente possível, quer no aprovisionamento<br />

das lojas, considerando as quantidades em falta,<br />

o que se reflete numa produção mais eficiente,<br />

quer na redução do número de erros, sejam de<br />

stock, de transporte, ou outros.<br />

CÓDIGO DA SAÚDE<br />

No caso da saúde, existem ainda questões<br />

adicionais ao nível da segurança, que embora<br />

também sejam importantes para o setor<br />

alimentar, têm um controlo ainda mais apertado<br />

ao nível do healthcare. “Se houver produtos<br />

com defeito no mercado, os nossos códigos<br />

são muito úteis e são quase indispensáveis na<br />

recolha dos produtos do mercado, para saber<br />

de onde vêm. Trabalhamos com tecnologia<br />

de blockchain, que permite reduzir o tempo<br />

de recolha de dias para minutos. Em média,<br />

o tempo de recolha tem sido reduzido em<br />

dois dias, para produtos fora do prazo ou que<br />

tenham anomalias, em Portugal”. Após alguns<br />

testes, utilizando a tecnologia blockchain,<br />

conseguem obter toda a informação e rastrear<br />

os produtos em 15 minutos.<br />

Estes códigos “vieram trazer informação de<br />

qualidade; uma grande e correta gestão de<br />

stocks, que evita a duplicação ou triplicação<br />

de produtos, ou o esquecimento em armazém;<br />

redução dos desperdícios; melhoria da<br />

segurança... Existem aqui inúmeras vantagens<br />

e acaba por ser uma linguagem comum que<br />

estas cadeias de valor têm, e que ultrapassa as<br />

barreiras linguísticas”, defende João de Castro<br />

Guimarães.<br />

CÓDIGO EM EVOLUÇÃO<br />

O que no início começou por ser um código<br />

identificador, passou a conter informações sobre<br />

a empresa, o país em que foi registado esse<br />

produto, e foi-se transformando e adaptando às<br />

necessidades. “Hoje, a base do nosso sistema<br />

são estes três pilares: identificar, capturar e<br />

partilhar a informação”.<br />

A identificação começa na fábrica, quando


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

os produtos saem das linhas, ou quando se<br />

faz uma operação de juntar embalagens. “Em<br />

qualquer fase do circuito podem implementarse<br />

os nossos códigos”, explica.<br />

O mais conhecido, utilizado nos pontos de<br />

venda nos produtos de retalho, é um código<br />

de 13 dígitos, o GTIN (Global Trade Item<br />

Number). Os três primeiros, representam que<br />

são empresas registadas na GS1 Portugal. Os<br />

restantes nove, permitem identificar a empresa<br />

e o produto, respetivamente, podendo ter<br />

uma quantidade variada de dígitos entre si,<br />

mas totalizando sempre nove. E depois existe<br />

um último dígito ao qual chamam “dígito de<br />

controlo”, e que confere a sequência.<br />

Depois, este produto vai ser embalado<br />

em caixas de várias unidades, destinadas ao<br />

transporte de produtos, e é-lhe atribuído um<br />

código identificativo diferente, com 14 dígitos:<br />

o ITF. Esta codificação tem um dígito adicional,<br />

uma variável logística definida pela própria<br />

empresa, e que segue um protocolo, em que<br />

sempre que se utilizar determinado dígito irá<br />

indicar a quantidade de produtos que aquela<br />

caixa contém.<br />

Essas caixas de transporte poderão depois<br />

formar uma palete, e a essa palete é atribuído<br />

um novo código, com 18 dígitos: o GS1-128.<br />

Este identifica as paletes de monoproduto e<br />

que ali se encontram X caixas, cada uma com Y<br />

unidade de venda, e com um determinado prazo<br />

de validade. Nessa etiqueta também há uma<br />

componente superior, que contém os chamados<br />

“caracteres humanamente legíveis”, que as<br />

pessoas podem ler, e uns códigos de barras<br />

abaixo que, ao chegar ou sair do armazém,<br />

é lida e transferida para o sítio onde ela vai.<br />

“com estas regras permite que haja aqui um<br />

acompanhamento do produto ao longo de toda<br />

a cadeia de valor, desde que ele é produzido até<br />

à casa do consumidor”.<br />

Ao longo do tempo, estes códigos têm<br />

evoluído de forma a serem uma solução de<br />

segurança, melhorando a rastreabilidade,<br />

permitindo a recolha do produto, evitando a<br />

contrafação e a utilização indevida, a fuga ao<br />

fisco, como são casos o tabaco, medicamentos<br />

ou alimentos. “Também por isso é que nós<br />

somos conhecidos como a linguagem universal<br />

dos negócios”, destaca João de Castro<br />

Guimarães.<br />

No segundo pilar, a captura, é a forma


34<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

como é feita a leitura do código, seja através de<br />

raios infravermelhos ou de radiofrequência. A<br />

partir dos riscos, o leitor transforma o código em<br />

números e identifica o objeto, seja ele produto,<br />

caixa de transporte ou palete.<br />

“Há 6 biliões de beeps por dia, em média,<br />

em todo o mundo, da passagem de vendas dos<br />

nossos códigos, e nós não ouvimos falar de<br />

muitos erros, e os que há muitas das vezes são<br />

humanos”, afirma o presidente-executivo.<br />

E por fim, no terceiro pilar, a partilha de<br />

informação, em que através da plataforma<br />

SyncPT publicam os “dados mestres” dos<br />

produtos, estando a fazer o “PIM” (Product<br />

Information Management) através dela, o<br />

que permite automatizar e dar respostas<br />

automaticamente. “No ano passado atingimos<br />

um milhão de produtos publicados na nossa<br />

plataforma, que é um número que já não é<br />

despiciente, é um número relevante. E neste<br />

momento temos desenvolvido diversíssimas<br />

categorias de produtos que estão a ser<br />

incorporados”, revela.<br />

CÓDIGO DE INOVAÇÃO,<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

E TRANSIÇÃO DIGITAL<br />

“Há três vertentes que nos atravessam<br />

completamente, que são a inovação, a<br />

sustentabilidade, e a transição digital”,<br />

nota o presidente-executivo. Ao nível da<br />

inovação, alguns códigos que já se encontram<br />

no mercado contam com uma tecnologia<br />

mais avançada, e que até 2027 deverá estar<br />

implementada por todo o mundo, com<br />

códigos bidimensionais muito mais precisos,<br />

e que mesmo que sejam destruídos até 40%,<br />

autorregeneram-se através dos pixéis. “Já há<br />

muitos destes códigos nas saídas de caixas<br />

de alguns supermercados, mas há sempre a<br />

leitura do infravermelho. Estamos a pensar em<br />

desenvolver ainda este ano alguns projetospiloto<br />

que nos permitam preparar os nossos<br />

retalhistas e os nossos fabricantes, para um<br />

futuro relativamente breve, para que estejam<br />

preparados para o lançamento em pleno dos<br />

códigos bidimensionais, e até no máximo 2027<br />

tê-los a funcionar no nosso mercado”.<br />

No caso da sustentabilidade, nos últimos<br />

anos, a GS1 Portugal tem-se dedicado muito<br />

ao tema da sustentabilidade, e em levar às<br />

empresas maneiras de serem mais sustentáveis,<br />

e de reportar essa sustentabilidade aos<br />

seus associados, para que junto dos seus<br />

consumidores possam demonstrar a sua<br />

responsabilidade social. Exemplo disso é o<br />

projeto Lean&Green, que mede as reduções<br />

de gases com efeito de estufa no transporte, e


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

que ajuda as empresas que consigam reduzir<br />

as suas pegadas, atribuindo-lhes prémios de<br />

sustentabilidade. “Neste momento, lançámos<br />

um serviço de apoio de apoio à elaboração de<br />

rotas de sustentabilidade, que é uma lei de 5<br />

de janeiro, uma diretiva europeia, que obriga<br />

a partir do próximo ano, ou daqui a dois anos,<br />

as empresas a reportem os seus níveis de<br />

sustentabilidade”, acrescenta.<br />

Ao nível digital, explica que existem<br />

várias regras a serem cumpridas para o<br />

comércio eletrónico, instauradas há cerca<br />

de 10 anos, e que regulam a forma como<br />

as transações comerciais devem ser feitas<br />

através da internet. “Nós ajustámos a nossa<br />

plataforma SyncPT a essas mesmas regras, o<br />

que possibilitou que as empresas nos vissem<br />

como uma entidade que lhes permitia cumprir<br />

esse regulamento, pois ao entrar na nossa<br />

plataforma eram obrigados a cumprir com essa<br />

regulamentação”, destaca.<br />

Adicionalmente à plataforma, contam com o<br />

serviço validata, que “nos dá uma garantia de<br />

que de facto as codificações estão bem feitas”.<br />

Este serviço procura combater as questões<br />

de fake news e informação falsa sobre os<br />

produtos que se encontram divulgados<br />

digitalmente, e nesse sentido, o responsável<br />

afirma que “queremos ser uma fonte de dados<br />

com qualidade, e estamos a fazer por isso”.<br />

“Tem sido um trabalho constante no<br />

desenvolvimento desses serviços, que<br />

considero fazerem parte da nossa missão, de<br />

poder fornecer dados com qualidade à cadeia<br />

de valor, aos consumidores e às empresas”,<br />

conclui João de Castro Guimarães. •


36<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

“A NOSSA<br />

IMPLANTAÇÃO AQUI<br />

É ESTRATÉGICA PARA<br />

O DESENVOLVIMENTO<br />

IBÉRICO”<br />

Há 15 anos que a Palletways marca<br />

presença em Portugal. De forma a<br />

celebrar este marco, procuramos<br />

saber junto de Gregorio Hernando,<br />

diretor-geral da Palletways Ibéria, qual<br />

o balanço da sua atividade no nosso<br />

país ao longo dos anos, os desafios<br />

enfrentados, as estratégias adotadas<br />

e os planos para o futuro. Uma coisa é<br />

certa: 15 anos depois, Portugal continua<br />

a ser um mercado estratégico para a<br />

empresa.<br />

Palletways<br />

SCM - Como evoluiu a empresa desde a<br />

entrada no mercado português e quais foram os<br />

principais marcos alcançados durante estes anos?<br />

> Gregorio Hernando - A chegada da<br />

Palletways Ibéria a Portugal representou um<br />

ponto de viragem no setor da distribuição<br />

expresso de mercadorias paletizadas no país,<br />

ao trazer uma abordagem inovadora e um<br />

compromisso inabalável com a qualidade<br />

e excelência no serviço, que não existia, no<br />

segmento das mercadorias paletizadas. Desde o<br />

início que foi bem recebida e empresas locais e<br />

de referência começaram a fazer parte da rede<br />

ibérica, conseguindo desenvolver uma rede sólida<br />

e eficiente.<br />

A Garland foi uma das primeiras empresas a<br />

juntar-se, tendo-se seguido a Moldtrans Portugal,<br />

TMB e Rangel, recentemente incorporada,<br />

formando assim uma rede muito sólida e<br />

profissional. Caracterizamo-nos por compor<br />

uma rede dinâmica e em pleno crescimento.<br />

Além disso, estes quatro membros mantêm os<br />

padrões mais altos de qualidade de serviço, em<br />

conformidade com os exigidos para o resto da<br />

rede, o que permite à PWI oferecer um serviço<br />

diferenciado no mercado, de 24 horas, desde


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

qualquer ponto de Espanha até qualquer zona de<br />

Portugal, e vice-versa.<br />

A evolução em Portugal tem sido magnífica<br />

e superou as expectativas. Apenas no ano<br />

passado foram movimentadas mais de 85.000<br />

paletes, com um crescimento superior a 10% em<br />

comparação com 2021. São excelentes resultados<br />

que se destacam na distribuição de mercadorias<br />

paletizadas nos setores da alimentação,<br />

automóvel, eletrodomésticos, construção, têxtil,<br />

acessórios plásticos, embalagens, produtos de<br />

papelaria, entre outros.<br />

Quais têm sido as principais estratégias<br />

adotadas pela empresa para se estabelecer no<br />

país no setor da cadeia de abastecimento?<br />

> Portugal é um território muito importante e<br />

estratégico para a Palletways Ibéria. Em primeiro<br />

lugar, foi crucial conhecer as necessidades<br />

do mercado de distribuição de mercadorias<br />

paletizadas em Portugal. Esse foi o ponto de<br />

partida que nos levou a adaptar alguns conceitos<br />

previamente estabelecidos no mercado espanhol<br />

e que nos permitiu conhecer de perto o caminho<br />

a seguir. Inicialmente selecionámos alguns<br />

membros muito importantes que nos permitiram<br />

entrar no mercado português com garantia.<br />

Posteriormente, certos critérios estratégicos<br />

exigiram procurar novos membros em áreas em<br />

desenvolvimento.<br />

Hoje, podemos dizer que contamos com quatro<br />

magníficos membros que têm demonstrado<br />

estar à altura das necessidades e expectativas<br />

do Grupo Palletways, tanto em termos de<br />

capacidade comercial, como de solidez<br />

económica e grande operacionalidade. Temos<br />

aprendido muito com esta experiência e<br />

Gregorio Hernando, diretor-geral da Palletways Ibéria


38<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

agradecemos o esforço dos nossos membros<br />

locais, que nos permitem oferecer um excelente<br />

serviço, praticamente em qualquer ponto de<br />

Portugal.<br />

A tecnologia desempenha um papel crucial<br />

na otimização das operações da cadeia de<br />

abastecimento. Quais as tecnologias que a<br />

Palletways implementou em Portugal para<br />

aumentar a eficiência e melhorar os serviços<br />

oferecidos aos clientes?<br />

> A inovação faz parte do ADN da Palletways<br />

Ibéria, uma vez que realizamos grandes<br />

investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento<br />

para oferecer ao mercado o melhor serviço<br />

de distribuição expresso de mercadorias<br />

paletizadas. Reduzimos os nossos prazos de<br />

entrega em quase todas as áreas onde operamos,<br />

oferecendo também novos serviços específicos.<br />

Por exemplo, temos diferentes serviços que<br />

se adaptam às necessidades de cada cliente,<br />

como o PalletwaysOnline, o portal para envios<br />

esporádicos de paletes para qualquer ponto da<br />

Ibéria e Europa; o Pallets to Consumers (P2C),<br />

para entregas de mercadorias paletizadas ao<br />

domicílio à parte de distribuidores; ou ainda o<br />

nosso sistema de Auto Book-In para definir os<br />

horários ideais de entrega, reduzindo custos<br />

adicionais e prazos.<br />

Além disso, temos trabalhado muito no<br />

acesso à informação da mercadoria em todos os<br />

momentos, e agora temos um portal onde, em<br />

tempo real, é possível saber o estado do envio e<br />

a documentação necessária para a sua entrega.<br />

É fundamental que os nossos clientes estejam<br />

sempre informados sobre a localização das suas<br />

mercadorias.<br />

Adicionalmente, implementámos o Palletways<br />

TEE (Tempo Estimado de Entrega), que é um<br />

serviço totalmente inovador no mercado de<br />

distribuição de mercadorias paletizadas, pois<br />

fornece aos clientes e consumidores tempos<br />

de entrega precisos e eficientes. Além disso,<br />

recebem notificações da entrega por SMS e<br />

e-mail, garantindo a total rastreabilidade do<br />

envio. Com estes sistemas conseguimos uma<br />

entrega eficiente de mercadorias paletizadas,<br />

pois proporcionamos flexibilidade, e eliminamos<br />

tempos de espera e custos adicionais. Ao<br />

assegurar a operação contribuímos também para<br />

a redução das emissões de CO2.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

A nível operacional, as nossas instalações<br />

possuem os sistemas mais avançados para<br />

uma boa gestão de paletes, o que agiliza as<br />

operações. De facto, estamos a trabalhar com<br />

sistemas de visão e medição artificial que<br />

reduzirão os tempos e as incidências nos hubs<br />

da Palletways Ibéria. Esperamos tê-lo em<br />

funcionamento em breve.<br />

A sustentabilidade é uma preocupação<br />

crescente no setor logístico. Como é que a<br />

Palletways aborda esta questão nas suas<br />

operações em Portugal?<br />

> A nossa preocupação com a preservação<br />

do meio ambiente tem sido uma constante<br />

desde o início. Temos consciência do impacto<br />

que podemos ter na natureza, e é por isso<br />

que trabalhamos para implementar soluções<br />

que reduzam a pegada de carbono nas nossas<br />

operações. Especificamente, dentro da nossa<br />

estratégia de responsabilidade social corporativa,<br />

implementamos uma série de ações voltadas<br />

para a sustentabilidade.<br />

Nos últimos quatro anos, graças a essas<br />

iniciativas, a Palletways Ibéria conseguiu reduzir<br />

em 15% as emissões de CO2. Isso foi alcançado<br />

aplicando medidas tanto na rede, quanto nas<br />

próprias instalações. Optámos pela incorporação<br />

de veículos de grande capacidade que reduzem<br />

o número de viagens e, consequentemente, o<br />

impacto ambiental. Atualmente, na Palletways<br />

Ibéria, contamos com mais de 25 mega camiões e<br />

quatro duo trailers para cobrir rotas em Espanha<br />

e Portugal.<br />

Além disso, estamos em plena transformação<br />

da nossa frota de camiões para veículos<br />

movidos a hidrogénio, gás natural comprimido<br />

e elétricos. As energias verdes são o futuro, e já<br />

estamos a realizar uma distribuição sustentável,<br />

como comprovam as certificações oficiais<br />

ISO 14001:2015 e ISO 14064:2016, emitidas<br />

por entidades independentes que atestam os<br />

nossos processos ambientalmente responsáveis.<br />

Estimulamos ainda os nossos membros a adotar<br />

medidas de redução de consumo e a melhorar a<br />

eficiência, o que nos permitirá reduzir a pegada<br />

de carbono.<br />

Na sua opinião, quais têm sido as principais<br />

tendências no setor da cadeia de abastecimento<br />

ao longo destes anos e como é que a Palletways<br />

se adaptou a essas mudanças? Quais foram as


40<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

repercussões para a empresa?<br />

> A distribuição e a logística dentro da<br />

cadeia de abastecimento conquistaram<br />

reconhecimento e importância a nível social<br />

e empresarial. No entanto, tanto a pandemia<br />

como a crise de abastecimento de matérias-<br />

-primas e, mais recentemente, o aumento dos<br />

combustíveis, e outros fatores envolvidos, têm<br />

trazido certas mudanças que afetaram a nossa<br />

atividade. Uma das mudanças foi a redução dos<br />

prazos e a flexibilidade, afetando os volumes<br />

e, portanto, o planeamento operacional. Esse<br />

aspeto tem estado em paralelo com o enorme<br />

crescimento do comércio eletrónico que, desde<br />

então, tem sido imparável. A nossa atividade<br />

é fortemente afetada por isso, especialmente<br />

no mercado B2B, e tudo o que afeta o<br />

abastecimento dos distribuidores. Mesmo assim,<br />

apostamos em contribuir através de diferentes<br />

inovações nesses mercados em crescimento.<br />

Por exemplo, criámos o serviço Pallets to<br />

Consumers (P2C), especificamente projetado<br />

para clientes de comércio eletrónico<br />

que vendem mercadorias que podem ser<br />

transportadas em paletes, como fertilizantes,<br />

produtos de construção ou alimentos para<br />

animais, que está a crescer rapidamente graças<br />

à eficiência das entregas e máxima flexibilidade<br />

para o consumidor final. Esses bons resultados<br />

permitem-nos adicionar a cada envio P2C,<br />

realizado pelo serviço Economy, a opção de<br />

Auto Book-In, que possibilita que o cliente<br />

final agende o dia e a hora de entrega entre<br />

diferentes opções disponíveis.<br />

O nosso objetivo é analisar diariamente<br />

o mercado e antecipar as necessidades do<br />

setor. Esse é o grande diferenciador em<br />

relação à concorrência e torna-nos referências<br />

na distribuição expresso de mercadorias<br />

paletizadas.<br />

A pandemia e a situação atual na Ucrânia<br />

representaram desafios significativos para a<br />

cadeia de abastecimento. Como é que a empresa<br />

enfrentou essas adversidades e quais as medidas<br />

que foram adotadas para garantir a continuidade<br />

da atividade?<br />

> Desde 2020 que vivemos numa conjuntura<br />

de muita incerteza. Primeiro foi a pandemia,<br />

que paralisou o mundo de um dia para o outro,<br />

e tivemos de nos adaptar rapidamente, uma vez<br />

que fomos um dos setores que mais se destacou<br />

durante esse período. A nossa principal missão<br />

naquele momento era garantir o abastecimento<br />

de produtos essenciais, e assim fizemos.<br />

Agora que a pandemia foi dada como<br />

finalizada, a guerra na Ucrânia trouxe uma<br />

grande inflação. No entanto, não é a primeira<br />

vez que isso acontece. Já houve outras ocasiões<br />

em que o setor foi capaz de assumir certos<br />

aumentos de custos, melhorando e otimizando<br />

as suas operações. No nosso caso, aplicámos<br />

algumas mudanças e implementámos a cláusula<br />

de combustível nas operações entre os membros,<br />

incentivando a que esses custos fossem<br />

repassados de forma razoável para o mercado.<br />

A chave é reconhecer que vivemos momentos<br />

turbulentos por várias razões, como inflação ou<br />

crise energética, e é necessário adotar medidas<br />

adequadas às circunstâncias com a máxima<br />

naturalidade possível. De um modo geral, apesar<br />

de alguma escassez de produtos, ampliámos a<br />

nossa carteira de clientes e setores, tornando-<br />

-nos numa alternativa interessante em muitos<br />

casos.<br />

Soubemos atender às necessidades dos<br />

nossos clientes e membros, oferecendo-lhes a<br />

solução mais adequada, graças à nossa equipa<br />

de profissionais. Através da nossa rápida<br />

atuação e do trabalho de todos, obtivemos<br />

bons resultados e consolidámos o nosso ritmo<br />

de crescimento. Especificamente, a Palletways<br />

Ibéria movimentou mais de 1,3 milhões de<br />

paletes em 2022 (10 milhões no total no grupo),<br />

crescendo mais 10% em relação ao ano anterior.


Esses dados refletem a confiança e estabilidade<br />

que transmitimos ao mercado.<br />

Os nossos números ibéricos englobam Espanha<br />

e Portugal, e estamos orgulhosos de poder<br />

apresentar esses números tão importantes de<br />

crescimento. É importante destacar a qualidade<br />

excecional de serviço oferecida por Portugal,<br />

muito apreciada no mercado espanhol.<br />

Olhando para o futuro, quais são as<br />

perspetivas da Palletways para Portugal nos<br />

próximos anos? Há algum plano de expansão,<br />

novas parcerias ou iniciativas em curso que possa<br />

partilhar?<br />

> Estamos a trabalhar na melhoria das<br />

operações nos quatro hubs, reduzindo<br />

os tempos de manipulação das paletes e<br />

otimizando a sua informação, o que ajudará a<br />

melhorar ainda mais os índices de eficiência.<br />

Isso terá um impacto direto nos restantes<br />

membros. Como referi, estamos a implementar,<br />

progressivamente, um sistema baseado em<br />

tecnologia de visão artificial nos empilhadores.<br />

Essa nova tecnologia permitirá digitalizar,<br />

fotografar, pesar e dimensionar. É um avanço<br />

muito importante em termos de qualidade<br />

de informação e automação de processos,<br />

reduzindo os tempos operacionais.<br />

Em relação à nossa posição em Portugal,<br />

estamos muito interessados em continuar a<br />

crescer. Temos expectativas de crescimento<br />

acima da média ibérica e, para isso, estamos<br />

a trabalhar constantemente no apoio aos<br />

membros portugueses, tanto do ponto de<br />

vista operacional quanto comercial. Estamos<br />

ainda a avaliar a possibilidade de incorporação<br />

ou implantação em certas áreas onde ainda<br />

não temos a cobertura necessária, bem como<br />

novas oportunidades que possam surgir. Além<br />

disso, queremos continuar a apoiar a indústria<br />

portuguesa na sua expansão para a Europa e<br />

esperamos crescer de forma significativa nesse<br />

serviço. •<br />

SCM Supply Chain Magazine 41


42<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Estudo SAP/<br />

Oxford Economics


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

O PARADOXO<br />

DA CADEIA DE<br />

ABASTECIMENTO<br />

Ao longo da corrida pela<br />

sustentabilidade, muitas são as<br />

empresas que no caminho se deparam<br />

com um desafio de proporções épicas:<br />

como equilibrar a balança entre<br />

rentabilidade e responsabilidade<br />

ambiental? Para descobrir a resposta<br />

a esta questão, a SAP e a Oxford<br />

Economics realizaram o estudo<br />

"The Sustainable Supply Chain<br />

Paradox: Balancing the bottom line<br />

with the green line”, no qual foram<br />

entrevistados 1.000 executivos da<br />

cadeia de abastecimento.<br />

É<br />

cada vez mais uma prioridade para<br />

as empresas estabelecer metas de<br />

sustentabilidade em larga escala. No<br />

entanto, os executivos responsáveis pelas<br />

cadeias de abastecimento enfrentam o desafio<br />

de equilibrar a procura por sustentabilidade<br />

e eficiência, enquanto lidam com os impactos<br />

da pandemia, ambicionam o crescimento e<br />

preparam-se para um futuro incerto. Assim,<br />

através da pesquisa "The Sustainable Supply<br />

Chain Paradox: Balancing the bottom line<br />

with the green line”, realizada pela SAP<br />

e pela Oxford Economics, na qual foram<br />

entrevistados 1.000 executivos das cadeias<br />

de abastecimento de diferentes setores e<br />

regiões do mundo, foi possível desvendar as<br />

estratégias inovadoras que serão capazes de<br />

impulsionar a sustentabilidade, a resiliência<br />

e a competitividade das empresas, enquanto<br />

mantêm os consumidores satisfeitos.<br />

TENDÊNCIAS E DESAFIOS<br />

Quando questionados sobre as maiores<br />

influências nos esforços de sustentabilidade<br />

das suas organizações, os fatores orientados


44<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

para o mercado, como a inovação de produtos<br />

e serviços (43%) e a satisfação das exigências<br />

dos clientes (40%), emergiram como os<br />

principais impulsionadores, ligeiramente à<br />

frente de opções como regulamentação (36%)<br />

ou vantagem competitiva (34%).<br />

Embora as exigências dos clientes sejam<br />

sempre uma influência-chave na estratégia,<br />

as atitudes dos executivos em relação à<br />

sustentabilidade estão a amadurecer,<br />

muitos impulsionados por recompensas que<br />

vão além dos retornos financeiros imediatos.<br />

A maioria dos inquiridos concorda que ter um<br />

propósito e uma missão clara é necessário<br />

para o sucesso a longo prazo das suas<br />

empresas, que uma cadeia de fornecimento<br />

sustentável é um diferenciador competitivo,<br />

e que boas práticas de sustentabilidade<br />

reduzem o risco. No entanto, os fatores que<br />

impulsionam a sustentabilidade também<br />

representam os maiores obstáculos para a sua<br />

concretização. A complexidade dos processos<br />

(45%), o custo (43%) e a disponibilidade<br />

limitada de recursos necessários (37%)<br />

são as principais barreiras para o sucesso<br />

sustentável. A procura dos clientes por


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

rapidez e conveniência (38%) também<br />

representa um desafio, pois as empresas<br />

necessitam de equilibrar estes fatores com a<br />

necessidade de produzir produtos ecológicos.<br />

De facto, a maioria dos entrevistados reconhece<br />

a importância da sustentabilidade, mas<br />

apenas 42% estão dispostos a sacrificar a<br />

rentabilidade a curto prazo para atingir metas<br />

de sustentabilidade a longo prazo. Desta forma,<br />

a maturidade em relação à sustentabilidade<br />

varia por setor. Por exemplo, os executivos<br />

de alta tecnologia lideraram em termos de<br />

perspetiva madura e planos específicos para<br />

reduzir as emissões de carbono. Por outro lado,<br />

as empresas de bens de consumo enfrentam<br />

desafios significativos devido à carga pesada de<br />

manufatura. Contudo, reconhecer a importância<br />

da sustentabilidade não é o mesmo que<br />

incorporar práticas sustentáveis em todas<br />

as etapas do ciclo de vida do produto. Mais<br />

de dois terços dos inquiridos criaram uma<br />

declaração clara de propósito em relação à<br />

sustentabilidade (com mais 21% em processo<br />

de elaboração), enquanto bem menos afirmam<br />

estar a progredir em relação às suas metas.<br />

Apesar de algumas atitudes mais maduras,<br />

nenhum setor se destaca como líder claro em<br />

todas as áreas de sustentabilidade.<br />

AVANÇOS NA SUSTENTABILIDADE<br />

Os executivos que estão a começar a cumprir<br />

as suas promessas de forma concreta, estão<br />

a ver um retorno para os seus esforços. A<br />

maioria (63%) afirma ter reduzido o consumo<br />

total de energia, e mais de três quartos desses<br />

participantes afirmam que isso teve um<br />

impacto positivo na sustentabilidade. Já um<br />

terço deles afirma ter feito mais progressos<br />

nos últimos três anos, especialmente nos<br />

processos de planeamento e design da cadeia<br />

de abastecimento. Isso envolve ajustar os<br />

designs dos produtos para usar mais material<br />

reciclado, realizar avaliações do ciclo de vida<br />

e implementar mudanças no processo de<br />

fabricação, tal como reduzir o uso de materiais<br />

e obter visibilidade sobre os fornecedores.<br />

Porém, ainda há espaço para melhorias<br />

em áreas como energia limpa, disposição<br />

sustentável de produtos e auditoria de<br />

fornecedores. Os executivos afirmam ainda<br />

ter feito mais progressos em tornar as fases<br />

de design e planeamento mais sustentáveis,<br />

quando comparadas com outras partes da<br />

cadeia de abastecimento,


46<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

como a entrega e logística ou a manutenção<br />

do produto. O fabrico é visto como a maior<br />

oportunidade para melhorias futuras, mas a<br />

visibilidade sobre os processos de fabricação<br />

é limitada. A entrega e logística também têm<br />

potencial para reduzir emissões e aumentar<br />

a sustentabilidade, embora o progresso<br />

tenha sido lento, possivelmente devido<br />

às exigências dos clientes em termos de<br />

conveniência, velocidade e preços baixos.<br />

A expansão da rede de parceiros de entrega<br />

e o estabelecimento de padrões ambientais<br />

mais rigorosos são algumas das ações que<br />

ainda precisam de ser realizadas. Vale a<br />

pena referir que a manutenção do produto<br />

e os serviços pós-venda são cada vez mais<br />

importantes na economia circular, onde<br />

os produtos são projetados para serem<br />

reciclados ou reutilizados. Muitas empresas<br />

têm aumentado a sua sustentabilidade<br />

após a venda de um produto e têm planos<br />

detalhados a longo prazo nesse sentido.<br />

Algumas empresas já alteraram os seus<br />

modelos de negócio para incluir serviços e<br />

reparações no custo do produto, o que pode<br />

aumentar o ciclo de vida e a satisfação do<br />

cliente.<br />

SOLUÇÕES E TECNOLOGIA<br />

Os executivos devem conciliar as muitas<br />

complexidades e exigências dos seus<br />

processos de cadeia de abastecimento ao<br />

longo de todo o ciclo de vida do produto,<br />

desde o design até à desativação. Assim,<br />

para alcançarem metas de diversificação<br />

sustentável das linhas de produtos e redução<br />

de custos, devem aproveitar as novas<br />

tecnologias emergentes, além das tecnologias<br />

convencionais, como a nuvem e dispositivos<br />

móveis. A utilização da nuvem permite que<br />

as organizações agreguem dados de diversas<br />

fontes, incluindo processos habilitados para<br />

dispositivos móveis e Internet das Coisas<br />

(IoT), para obter maior visibilidade, identificar<br />

ineficiências e prevenir interrupções na<br />

cadeia de abastecimento. Os dispositivos<br />

móveis e IoT possibilitam o rastreamento e<br />

monitorização em tempo real de remessas,<br />

tornando o processo logístico mais eficiente e<br />

reduzindo as emissões. Os dados provenientes<br />

dessas fontes podem informar tecnologias<br />

de aprendizagem automática, centros de<br />

controlo ou avaliação do ciclo de vida,<br />

promovendo uma maior eficiência de toda<br />

a cadeia de abastecimento. Atualmente,<br />

poucos são os executivos que estão a utilizar<br />

tecnologias emergentes nos processos<br />

da cadeia de abastecimento, enquanto a<br />

nuvem, dispositivos móveis e IoT são as mais<br />

comuns. Os principais benefícios observados<br />

com o uso dessas tecnologias incluem o<br />

aumento da eficiência dos processos e uma<br />

maior visibilidade sobre os fornecedores.<br />

A complexidade dos processos é um<br />

obstáculo comum para alcançar objetivos<br />

estratégicos e aumentar a sustentabilidade,<br />

mas as tecnologias mencionadas<br />

podem ajudar a superar esses desafios,<br />

facilitando a melhoria da comunicação<br />

e colaboração com fornecedores e<br />

parceiros. A maioria dos entrevistados<br />

concorda que a tecnologia é uma grande<br />

ajuda para alcançarem os objetivos de<br />

sustentabilidade, principalmente através<br />

do aumento da eficiência dos processos e<br />

da obtenção de maior visibilidade sobre<br />

fornecedores. Em resumo, as tecnologias<br />

emergentes, juntamente com as tecnologias<br />

convencionais, têm o potencial de fortalecer<br />

as cadeias de abastecimento, possibilitando<br />

uma maior eficiência, sustentabilidade e<br />

visibilidade ao longo de todo o ciclo de vida<br />

do produto.


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

RECOMENDAÇÕES<br />

Crie uma estratégia de longo prazo para<br />

uma mudança fundamental que considere<br />

o papel da sustentabilidade em todos os<br />

processos da cadeia de abastecimento,<br />

desde o design até à desativação.<br />

Obtenha materiais de origem ética, de<br />

organizações que sigam práticas sociais e<br />

humanitárias.<br />

Certifique-se de ter práticas justas e<br />

padrões de trabalho em todos os pontos<br />

da cadeia de abastecimento. Começar<br />

com uma auditoria dos fornecedores e<br />

subfornecedores é um primeiro passo.<br />

Implemente uma fabricação sustentável<br />

na fase de design e engenharia, alimentada<br />

por dados relevantes para rastrear, medir<br />

e reduzir as emissões ao longo do ciclo de<br />

vida do produto.<br />

Realize a entrega com processos<br />

logísticos e parceiros que otimizem as<br />

cargas para reduzir a quilometragem, as<br />

emissões e a pegada de carbono.<br />

Opere ativos e equipamentos de<br />

maneira energeticamente eficiente,<br />

garantindo a segurança do meio ambiente e<br />

da força de trabalho. •


48<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

CRIPTOGRAFIA<br />

METAVERSO<br />

Metaverso e Web 3.0<br />

D ISTIBUTED LEDGER<br />

AI


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

BLOCKCHAIN<br />

UMA REVOLUÇÃO<br />

EM PROGRESSO<br />

WEB 3.0<br />

As inovações tecnológicas transformam<br />

setores e impulsionam mudanças sociais.<br />

Porém, nem sempre a invenção e a adoção<br />

dessas tecnologias estão em sincronia,<br />

resultando em interrupções fragmentadas.<br />

Neste artigo, vamos analisar as conclusões<br />

do estudo "Web 3.0 and the Metaverse,<br />

the Coming Logistics Revolution"<br />

realizado pelo Transport Intelligence,<br />

uma visão privilegiada da próxima onda<br />

tecnológica, que promete conciliar a<br />

invenção com a adoção e causar um<br />

impacto revolucionário. Também o diretor<br />

do CPLOT-Center for Production<br />

and Logistics Optimization<br />

Technologies, António Galrão<br />

Ramos, partilha as suas<br />

perspectivas sobre esta<br />

revolução iminente.<br />

MACHINE LEARN ING


50<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

A<br />

evolução da Web ocorreu até agora em<br />

duas principais etapas: a Web 1.0, em<br />

que os dados eram acessíveis apenas<br />

para leitura através de páginas estáticas, e<br />

a Web 2.0, que permitiu a interação direta<br />

dos utilizadores com os sites, possibilitando<br />

compras, armazenamento, partilha e<br />

publicação de dados sob demanda. A Web3<br />

representa a próxima etapa dessa evolução,<br />

centrada na confiança e propriedade<br />

dos dados. Ao contrário das plataformas<br />

tradicionais, que atuam como intermediários<br />

para serviços online, a Web3 proporciona<br />

aos utilizadores um maior controlo sobre os<br />

seus dados e a capacidade de participação<br />

direta, sem a necessidade de intermediários.<br />

Espera-se que transações comerciais possam<br />

ser realizadas sem terceiros e que os<br />

utilizadores tenham controlo sobre o uso<br />

das suas informações pessoais.<br />

A tecnologia Web3 está a emergir<br />

como uma forma revolucionária de<br />

identificar qualquer item numa cadeia de<br />

abastecimento global, independentemente<br />

da sua localização ou propriedade. Este<br />

avanço é possível graças aos Gráficos<br />

de Conhecimento Distribuídos (DKG),<br />

que tornam cada item exclusivamente<br />

identificável, refletindo os seus atributos,<br />

propriedades e conexões. Estes grafos<br />

estão a tornar-se a base para novos<br />

mecanismos de compreensão do mundo<br />

e condução do comércio. Assim, as<br />

blockchains desempenham um papel<br />

fundamental na Web3. Embora estejam<br />

numa fase inicial de desenvolvimento,<br />

estas redes descentralizadas oferecem a<br />

capacidade de criar sistemas confiáveis e<br />

seguros, já que utilizam o consenso para<br />

validar transações. Esta tecnologia tem<br />

implicações significativas nas cadeias<br />

de abastecimento, proporcionando<br />

confiabilidade, certificação e redução de<br />

custos operacionais. Algumas iniciativas<br />

baseadas em tecnologia blockchain já<br />

estão em operação. A Rede de Auditoria<br />

de Conformidade de Fornecedores (SCAN)<br />

utiliza um DKG para registar e partilhar<br />

certificações de fornecedores, evitando<br />

duplicações e acelerando os processos<br />

burocráticos. Além disso, o DKG possibilita<br />

a transformação de inventários físicos em<br />

ativos digitais imutáveis, proporcionando<br />

António Galrão Ramos, diretor do CPLOT


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necessidades dos nossos clientes<br />

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serviço completo.<br />

Promovemos a inovação e a<br />

sustentabilidade para<br />

desenvolver ativos logísticos<br />

modernos, eficientes e de alta<br />

qualidade, acompanhando os<br />

nossos clientes ao longo do seu<br />

desenvolvimento logístico.<br />

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52<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

uma visibilidade mais precisa e fidedigna ao<br />

longo da cadeia de abastecimento. Embora<br />

algumas iniciativas baseadas em blockchain,<br />

como o TradeLens, tenham enfrentado<br />

desafios e até mesmo fracassado, é incorreto<br />

generalizar que todas as soluções baseadas<br />

nessa tecnologia são inúteis. É fundamental<br />

que as empresas e os empreendedores<br />

continuem a procurar soluções inovadoras e<br />

a esclarecer os casos de uso da tecnologia.<br />

Aliás, é necessário tornar essas soluções<br />

acessíveis no que concerne ao preço,<br />

para atrair a participação de operadores<br />

menores e criar massa crítica em torno<br />

delas. Projetos em menor escala, como a<br />

iniciativa AidTrust do British Standards<br />

Institution (BSI), demonstram o potencial<br />

do Gráfico de Conhecimento Distribuído na<br />

rastreabilidade e visibilidade da distribuição<br />

global de medicamentos e vacinas doados.<br />

Esses casos práticos destacam a capacidade<br />

da Web3 de trazer confiabilidade, eficiência<br />

e transparência em diversas áreas. Embora<br />

ainda esteja em desenvolvimento, a Web3<br />

tem o potencial de revolucionar a forma<br />

como identificamos e localizamos itens<br />

na cadeia de abastecimento global. No<br />

entanto, é crucial superar desafios técnicos,<br />

promover a colaboração entre as partes<br />

interessadas e estabelecer preços acessíveis<br />

para garantir o sucesso desta nova era da<br />

web. A implementação em larga escala<br />

levará tempo e exigirá melhorias contínuas<br />

na tecnologia subjacente. O futuro da web<br />

está a ser moldado pela Web3 e as suas<br />

aplicações práticas estão apenas agora a ser<br />

exploradas.<br />

Numa entrevista exclusiva, António<br />

Galrão Ramos, diretor do CPLOT-Center<br />

for Production and Logistics Optimization<br />

Technologies, partilha a sua visão sobre a<br />

Web3 e as suas implicações.<br />

SCM - A mudança da web 2.0 para a<br />

web 3.0 vem trazer novas questões de<br />

descentralização, confiança e tecnologias<br />

como IA e Machine Learning para a<br />

equação. No fundo, quais são os princípios<br />

fundamentais desta mudança e os seus<br />

possíveis benefícios para a cadeia de<br />

abastecimento?<br />

> António Galrão Ramos - A Web 2.0,<br />

também conhecida como a Web Social,<br />

representou uma grande mudança na<br />

forma como as pessoas usam a internet<br />

devido ao aparecimento das redes sociais,<br />

conteúdo gerado pelos utilizadores e<br />

METAVERSO<br />

WEB 3.0<br />

D ISTIBUTED LEDGER<br />

CRIPTOGRAFIA<br />

AI<br />

BLOCKCHAIN<br />

MACHINE LEARN ING


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

aplicações interativas. A Web 2.0 gerou<br />

uma maior participação e colaboração<br />

entre utilizadores, permitindo que as<br />

pessoas compartilhem informações, e<br />

se interconectem entre elas, criando e<br />

consumindo conteúdo em tempo real.<br />

O comércio eletrónico tornou-se mais<br />

sofisticado e o marketing online tornou-<br />

-se um componente crítico de qualquer<br />

estratégia de negócios.<br />

A Web 3.0 expande a versão anterior,<br />

integrando inteligência artificial, machine<br />

learning, blockchain e Internet of<br />

Things (IoT) para criar uma experiência<br />

na web mais inteligente, conectada e<br />

personalizada, que, ao mesmo tempo<br />

aumenta a descentralização da rede<br />

para dar aos utilizadores mais controlo<br />

sobre os seus próprios dados, focando na<br />

melhoria da privacidade e segurança. Além<br />

disso, a Web 3.0 aborda preocupações de<br />

confiança (autenticação e validação) usando<br />

criptografia e tecnologias de distibuted<br />

ledger.<br />

Os desafios para a transição da Web 2.0<br />

para a Web 3.0 são significativos. Um dos<br />

principais é a necessidade de as empresas<br />

desenvolverem novas competências e<br />

capacidades nessas áreas, mantendo a<br />

transparência e a responsabilidade no uso<br />

dessas tecnologias, para garantir que sejam<br />

usadas de maneiras que beneficiem tanto<br />

as empresas quanto os consumidores. Outro<br />

desafio é a necessidade de desenvolver novos<br />

modelos de negócios que possam aproveitar<br />

as novas oportunidades que emergem<br />

com a Web 3.0, como experiências<br />

personalizadas e imersivas.<br />

No contexto das cadeias de<br />

abastecimento, a Web 3.0 tem o potencial<br />

de revolucionar a forma como as empresas<br />

gerem e otimizam as suas operações, desde<br />

o procurement, a produção, a logística e a<br />

distribuição.<br />

Um dos benefícios derivados da transição<br />

para Web 3.0 é a melhoria de transparência<br />

e rastreabilidade derivadas da aplicação<br />

de tecnologias como a blockchain, que<br />

podem criar cadeias de abastecimento mais<br />

transparentes e rastreáveis, permitindo<br />

que as empresas acompanhem melhor<br />

o movimento das mercadorias ao longo<br />

de toda a cadeia de abastecimento e<br />

identifiquem possíveis problemas, como<br />

bottlenecks, equipamentos com mau<br />

funcionamento, identificação de lotes com<br />

produtos defeituosos, bem como encontrar<br />

áreas para melhoria, como armazenamento<br />

desnecessário, transporte ineficiente e<br />

tempo desperdiçado.<br />

Outro potencial benefício, proveniente<br />

da transição para tecnologias da Web 3.0,<br />

é um aumento da eficiência derivada da<br />

automação completa de muitos processos<br />

da cadeia de abastecimento pelo uso da<br />

Inteligência Artificial, que pode reduzir os<br />

requisitos de trabalho manual e permitir a<br />

otimização de operações, melhorando os<br />

processos operacionais das empresas. A<br />

aplicação da Inteligência Artificial também<br />

permite a melhoria de processos a nível<br />

tático e estratégico, fornecendo melhores<br />

indicadores que potenciam uma melhor<br />

tomada de decisão.<br />

Estes aspetos colocam grandes exigências<br />

nas capacidades das empresas para gerir


54<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

dados, os<br />

quais também<br />

expandiram<br />

significativamente.<br />

A Web 3.0 facilita o armazenamento<br />

descentralizado, partilha e controlo de<br />

acesso por parte dos parceiros colaborativos<br />

de uma cadeia de abastecimento, permitindo<br />

às empresas aceder, gerir e analisar uma<br />

grande quantidade de dados de forma<br />

mais eficaz, possibilitando análises de<br />

maior qualidade que permitam decisões<br />

mais informadas, levando a melhorias de<br />

desempenho e eficiência na sua cadeia de<br />

abastecimento. Utilizar uma decentralized<br />

ledger para manter registos de dados críticos<br />

também ajuda a melhorar a segurança<br />

dos dados e transações na cadeia de<br />

abastecimento, reduzindo o risco de fraude<br />

e outras formas de má conduta por parte de<br />

parceiros e entidades externas, aumentando<br />

a segurança e confiança no sistema.<br />

E quais as desvantagens e possíveis<br />

problemas que poderá trazer para a supply<br />

chain?<br />

> Embora a transição para a Web 3.0<br />

ofereça muitos benefícios para as empresas,<br />

ela também apresenta novas ameaças<br />

e desafios de segurança que podem ser<br />

explorados por agentes mal intencionados.<br />

Esses riscos aumentam com uma maior<br />

integração entre parceiros, considerando<br />

os requisitos de dados, controlo da<br />

infraestrutura, gastos de energia e fundos<br />

financeiros.<br />

Gerar e recolher uma maior quantidade de<br />

dados para melhorar a gestão de operações<br />

e tomar melhores decisões requer uma<br />

infraestrutura adequada (ou seja, mais<br />

complexa e sofisticada), que geralmente<br />

é mais difícil de manter e proteger. A<br />

infraestrutura<br />

precisa ser desenhada,<br />

construída e configurada corretamente<br />

para minimizar o tempo de inatividade,<br />

reduzir falhas do sistema e interrupções<br />

nas operações. Toda essa nova e complexa<br />

infraestrutura também aumenta as<br />

necessidades de manutenção, que, embora<br />

estejam a ser melhoradas pela aplicação<br />

de algoritmos de Inteligência Artificial e<br />

técnicas de machine learning combinadas<br />

com grandes quantidades de dados de<br />

monitorização, também requerem mais<br />

recursos financeiros e humanos.<br />

Adicionalmente, a infraestrutura da<br />

cadeia de abastecimento possui requisitos<br />

de interoperabilidade, dado que diferentes<br />

empresas podem desenvolver as suas<br />

soluções com protocolos particulares, para<br />

o seu caso específico, o que pode criar<br />

dificuldades ao tentar integrá-las com os<br />

sistemas existentes dos seus parceiros<br />

na cadeia de abastecimento. Isso pode<br />

produzir ineficiências e atrasos na partilha<br />

e processamento de dados. Além disso,<br />

os requisitos para grandes quantidades<br />

de dados podem apresentar problemas de<br />

escalabilidade, tornando os processos lentos<br />

e ineficientes quando o processamento de<br />

dados em tempo real é crítico.<br />

Todos esses sistemas dependem muito<br />

de trabalhadores especializados com<br />

competência técnica, que podem ser<br />

difíceis de conseguir recrutar. Embora um<br />

mundo globalizado facilite a mobilidade<br />

de trabalhadores, desenvolvimentos<br />

recentes na esfera política podem impedir<br />

a aquisição adequada de talento e a sua<br />

retenção no longo prazo. Por este motivo,<br />

as empresas podem ter de investir na<br />

formação e desenvolvimento dos seus


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

trabalhadores para garantir que eles tenham<br />

as competências adequadas e a experiência<br />

necessária para gerir implementações das<br />

tecnologias da Web 3.0.<br />

O aspeto mais desafiador de todos<br />

pode ser a adoção em massa. Várias<br />

tecnologias foram desenvolvidas no<br />

passado, que superaram a qualidade dos<br />

seus concorrentes, mas não foram adotadas<br />

pelo mercado. Nesta situação, sem a adoção<br />

de todos os parceiros no ecossistema da<br />

cadeia de abastecimento (fornecedores,<br />

fabricantes, distribuidores, clientes, etc.),<br />

essas tecnologias não serão implementadas<br />

e usadas.<br />

Qual poderá ser o impacto possível<br />

do metaverso no reposicionamento das<br />

empresas e numa melhor compreensão e<br />

resposta das empresas ao consumidor final?<br />

> O metaverso pode proporcionar uma<br />

experiência mais imersiva e interativa para o<br />

consumidor, especialmente se for estendida<br />

com dispositivos de realidade virtual ou<br />

aumentada. O metaverso fornece numa nova<br />

plataforma um ambiente personalizado<br />

para as empresas interagirem com os<br />

clientes, alinhando os serviços prestados<br />

às preferências e desejos dos mesmos,<br />

e assim melhorar a satisfação geral e a<br />

fidelização à marca. Um nível mais elevado<br />

de experiências personalizadas também<br />

possibilita a recolha de vastas quantidades<br />

de dados, que podem ser analisadas<br />

para fornecer padrões de<br />

comportamento e<br />

preferências do<br />

cliente,<br />

permitindo previsões da procura com maior<br />

qualidade e o fornecimento de produtos e<br />

serviços mais atrativos para o público-alvo.<br />

E nas cadeias de abastecimento?<br />

> Nas cadeias de abastecimento, o<br />

Metaverso tem o potencial de revolucionar<br />

a forma como as empresas gerem e<br />

otimizam as suas operações. Por exemplo, as<br />

simulações virtuais podem ser usadas para<br />

testar e otimizar os processos de produção<br />

antes que sejam implementados no mundo<br />

físico. Além disso, elas podem permitir<br />

processos logísticos e de distribuição mais<br />

eficientes e eficazes, já que as plataformas<br />

virtuais permitem a monitorização e<br />

otimização em tempo real das atividades<br />

da cadeia de abastecimento. Isso pode ser<br />

analisado através do uso de modelos virtuais<br />

derivados de dados recolhidos de várias<br />

fontes (sensores, dispositivos IoT, entre<br />

outros) para criar simulações virtuais que<br />

permitem a identificação de bottlenecks<br />

e ineficiências, assim como para serem<br />

utilizados para identificar padrões e extrair<br />

conhecimento dos dados que podem não<br />

ser imediatamente aparentes utilizando<br />

ferramentas tradicionais de análise. A<br />

realidade virtual pode fornecer<br />

uma compreensão mais<br />

intuitiva do


56<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

comportamento da cadeia de<br />

abastecimento, especialmente em<br />

comparação com a análise de indicadores<br />

de desempenho, facilitando identificar<br />

áreas problemáticas e abordá-<br />

-las, como em situações de acumulação<br />

excessiva de inventário, ou em causas<br />

de atrasos no transporte que podem ser<br />

resolvidas com o ajuste dos níveis de<br />

inventário, da capacidade de produção e<br />

escalonamento, melhoria do roteamento<br />

dos transportes ou simplificação<br />

das operações do armazém.<br />

A realidade virtual<br />

também pode ser<br />

usada para testar e<br />

refinar diferentes<br />

cenários das cadeias<br />

de abastecimento,<br />

permitindo que as<br />

empresas melhorem<br />

continuamente as suas<br />

operações e respondam<br />

mais rapidamente às condições<br />

de mercado em mudança.<br />

Quais os possíveis benefícios e riscos de<br />

transitar para a Web 3.0 neste momento?<br />

> Ser o primeiro no mercado na transição<br />

para a Web 3.0 pode oferecer vários<br />

benefícios potenciais para uma empresa<br />

integrada numa cadeia de abastecimento.<br />

Em primeiro lugar, pode fornecer uma<br />

vantagem competitiva ao permitir que a<br />

empresa seja um dos primeiros adotantes<br />

de novas tecnologias e consiga aproveitar<br />

os benefícios que isso oferece. Isso pode<br />

permitir que a empresa se diferencie<br />

dos concorrentes, atraia novos clientes<br />

e fortaleça as relações com os clientes<br />

existentes.<br />

Além disso, ser o primeiro a entrar no<br />

mercado também pode ajudar a empresa a<br />

estabelecer-se como líder de pensamento e<br />

influenciador na indústria. Ao demonstrar<br />

um compromisso com a inovação e a<br />

vontade para assumir riscos, a empresa<br />

pode construir uma reputação como uma<br />

organização inovadora e de foco no futuro.<br />

Isso pode levar a novas oportunidades de<br />

negócios, parcerias e colaborações com<br />

outras empresas.<br />

Outro benefício potencial de ser<br />

o primeiro no mercado é a<br />

capacidade de moldar o<br />

desenvolvimento das<br />

tecnologias da Web<br />

3.0 de maneiras que<br />

sejam vantajosas para<br />

a empresa e a cadeia<br />

de abastecimento.<br />

Ao trabalhar em<br />

estreita colaboração<br />

com fornecedores de<br />

tecnologia e outras partes<br />

interessadas, a empresa pode<br />

dar feedback valioso que pode ajudar<br />

a orientar o desenvolvimento de novas<br />

tecnologias e standards.<br />

No entanto, é importante observar que<br />

ser o primeiro no mercado também vem<br />

com riscos e desafios. Como referido<br />

anteriormente, a transição para a Web 3.0<br />

pode ser complexa e cara, e há o risco de<br />

má alocação de capital se os benefícios e<br />

riscos não forem cuidadosamente avaliados.<br />

Além disso, ser um dos primeiros a adotar<br />

esta tecnologia também pode significar<br />

que a empresa está mais vulnerável a<br />

ameaças de cibersegurança e outros riscos<br />

associados a tecnologias emergentes.<br />

Apesar desses riscos, os benefícios<br />

potenciais de ser o primeiro no mercado


58<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

na transição para a Web 3.0 são<br />

significativos, e as empresas que<br />

conseguirem navegar com sucesso pelos<br />

desafios podem colher recompensas<br />

substanciais. Ao avaliar cuidadosamente os<br />

benefícios e riscos potenciais, desenvolver<br />

um plano de implementação abrangente<br />

e trabalhar em próxima colaboração com<br />

outras partes interessadas na cadeia de<br />

abastecimento, as empresas podem-se<br />

posicionar para aproveitar as oportunidades<br />

oferecidas pela Web 3.0 e permanecer à<br />

frente da concorrência.<br />

O que ainda falta fazer?<br />

> Um dos principais desafios que<br />

as empresas enfrentam durante a<br />

transição para as tecnologias da Web 3.0<br />

é a complexidade técnica do processo<br />

de transição. Esse processo requer<br />

competências e conhecimentos altamente<br />

complexos e especializados para desenvolver<br />

e manter as tecnologias, o que pode exigir<br />

formação intensiva dos trabalhadores ou a<br />

contratação de novos trabalhadores com a<br />

experiência técnica necessária.<br />

Outro desafio significativo é a<br />

interoperabilidade das tecnologias utilizadas<br />

pela empresa e pelos seus parceiros. As<br />

tecnologias da Web 3.0 muitas vezes<br />

dependem de diferentes protocolos<br />

e standards em comparação com as<br />

tecnologias da Web tradicionais, o que pode<br />

criar problemas de interoperabilidade entre<br />

diferentes sistemas. As empresas podem<br />

precisar de desenvolver novos padrões<br />

ou protocolos para garantir que os<br />

seus sistemas possam comunicar<br />

efetivamente com outros sistemas<br />

da Web 3.0.<br />

Outros desafios da transição<br />

são os desafios regulatórios,<br />

especialmente em setores altamente<br />

regulamentados, onde os dados dos clientes<br />

devem ser mantidos seguros e privados,<br />

implementando protocolos de segurança<br />

robustos e mantendo-se atualizados sobre<br />

ameaças emergentes.<br />

Finalmente, as tecnologias da Web 3.0<br />

ainda são relativamente novas e podem não<br />

ser amplamente adotadas pelos utilizadores.<br />

As empresas podem precisar de investir em<br />

iniciativas de marketing e educação para<br />

promover os benefícios da Web 3.0 para os<br />

seus clientes e partes interessadas.<br />

Que recomendações deixaria às empresas<br />

que estejam a lançar-se nesta transição<br />

digital e a antecipar o 3.0?<br />

> Se uma empresa integrada numa cadeia<br />

de abastecimento está a enfrentar desafios<br />

na sua transição para as tecnologias da<br />

Web 3.0 enquanto os seus parceiros estão<br />

a ter enormes benefícios, existem várias<br />

recomendações que podem ser dadas para<br />

garantir uma situação vantajosa para todos<br />

os parceiros.<br />

A empresa deve começar por avaliar<br />

cuidadosamente a transição para a Web 3.0,<br />

incluindo os potenciais benefícios, custos<br />

e riscos. Se as desvantagens superarem<br />

os benefícios, a empresa pode necessitar<br />

reconsiderar a sua estratégia de transição ou


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

procurar outras oportunidades para melhorar<br />

a sua eficiência e eficácia, ajustando a sua<br />

posição na cadeia de abastecimento, assim<br />

como as interações com os seus parceiros e<br />

estratégias para fornecer produtos e serviços<br />

aos seus clientes.<br />

Isso requer que se envolvam com os<br />

seus parceiros e coordenem a transição,<br />

discutindo os desafios que enfrentam<br />

e explorando formas de trabalhar em<br />

conjunto para melhorar a eficiência geral da<br />

cadeia de abastecimento. Desenvolver um<br />

plano personalizado que identifique áreas<br />

para melhorias (como a compatibilidade<br />

das operações dos parceiros) pode ser<br />

extremamente benéfico para tentar<br />

reduzir os possíveis desafios que podem<br />

surgir no futuro. Esse processo pode<br />

envolver a partilha de best-practices, o<br />

desenvolvimento conjunto e o investimento<br />

em novas tecnologias, ou a exploração de<br />

abordagens alternativas para a colaboração,<br />

como associar-se a outras empresas fora<br />

da sua cadeia de abastecimento, explorar<br />

novos mercados ou modelos de negócios ou<br />

perseguir outras oportunidades estratégicas.<br />

Além disso, a empresa pode procurar o apoio<br />

e as competências de consultores externos<br />

ou fornecedores de tecnologia que possam<br />

oferecer orientação sobre como navegar na<br />

transição para a Web 3.0 e otimizar as suas<br />

operações.<br />

As desvantagens de não fazer a transição<br />

para a Web 3.0, assumindo que os<br />

parceiros da empresa o fazem, podem ser<br />

significativas. A empresa pode tornar-<br />

-se menos competitiva no mercado, perder<br />

oportunidades de negócios ou enfrentar<br />

custos e complexidade aumentados nas<br />

suas operações. Além disso, a empresa pode<br />

perder oportunidades de colaborar com os<br />

seus parceiros e beneficiar das melhorias<br />

gerais da cadeia de abastecimento. Portanto,<br />

é importante que a empresa considere<br />

cuidadosamente as suas opções e trabalhe<br />

com os seus parceiros para garantir<br />

uma situação vantajosa para todos os<br />

participantes na cadeia de abastecimento. •<br />

AI<br />

METAVERSO<br />

CRIPTOGRAFIA<br />

MACHINE<br />

LEARN ING<br />

D ISTIBUTED LEDGER<br />

BLOCKCHAIN<br />

WEB 3.0


60<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

TechLogistics <strong>2023</strong><br />

Texto: Ana Paiva<br />

LOGÍSTICA E<br />

TECNOLOGIA JUNTAS<br />

PELA SUPPLY CHAIN<br />

Os avanços tecnológicos são inegáveis<br />

e imparáveis. A adoção de tecnologia<br />

em setores como o da logística ou o dos<br />

transportes permite a otimização de vários<br />

processos que, até à data, se apresentam<br />

arcaicos, pouco eficientes e com grandes<br />

possibilidades de cometer erros. Embora<br />

as vantagens sejam inúmeras, este ainda<br />

é um longo caminho a percorrer. Durante<br />

a primeira edição da TechLogistics,<br />

organizada pela Maeil em parceria com a<br />

SCM e a Microsoft, esta foi uma conclusão<br />

transversal a todo o evento, que tinha como<br />

mote principal “Inovações e Tendências<br />

Tecnológicas na Logística e Supply Chain”.<br />

A<br />

ndré Vala, senior cloud solution<br />

architect da Microsoft, abriu o ciclo de<br />

conferências com um tema que está na<br />

ordem do dia: “Inteligência Artificial” (IA).<br />

Indicou que apesar de nem todos terem esta<br />

perceção, a IA já está há muito presente no<br />

nosso dia-a-dia, como o simples facto de<br />

desbloquear o telemóvel através do face<br />

ID. André Vala refere que “o impacto, hoje<br />

em dia, já é grande, e ainda será maior no<br />

futuro”.<br />

Durante o seu discurso, abordou o impacto<br />

da Inteligência Artificial Generativa, e um<br />

dos modelos mais populares atualmente:<br />

o ChatGPT. Aconselhou a que seja “usado<br />

como fonte linguística e não como fonte<br />

de conhecimento”, uma vez que tem um<br />

grande potencial para gerar texto através<br />

de um prompt (ordem), para um propósito<br />

específico, mas não a nível de conhecimentos<br />

baseados em factos, pois pode nem sempre ir<br />

buscar informação a fontes fidedignas.<br />

“Financiamento de Projetos de Inovação<br />

Supply Chain e Logística” foi o tema da<br />

sessão seguinte, conduzida por Artur Dias,


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

sócio e fundador da Marlo Portugal e Chief<br />

Customer Experience Officer da Mixmove.io.<br />

Começou por fazer uma breve apresentação<br />

da Marlo, empresa que fornece soluções<br />

de consultoria e tecnologia para clientes<br />

do setor dos transportes e logística, cuja<br />

proposta de valor é apoiar os intervenientes<br />

deste setor a captar financiamentos para<br />

desenvolver os seus projetos de inovação.<br />

A abordagem da empresa passa por<br />

identificar necessidades de financiamento<br />

a fundo perdido, de seguida, criar o<br />

portfólio de projetos, selecionar programas<br />

de financiamento apropriados, elaborar<br />

candidaturas e atualizar o portfólio. Um<br />

dos casos de sucesso é a Agenda Nexus,<br />

um consórcio representativo da cadeia de<br />

valor, liderado pelo Porto de Sines, que<br />

inclui exportadores, operadores logísticos<br />

e de transporte, bem como empresas<br />

vocacionadas para exportar tecnologia,<br />

cujo objetivo é digitalizar e descarbonizar o<br />

corredor logístico do Porto de Sines. Artur<br />

Dias terminou referindo que “o retorno deste<br />

tipo de iniciativas é muito alto”.<br />

SIMPLIFICAR<br />

E OTIMIZAR PROCESSOS<br />

De seguida, o foco dirigiu-se às start-<br />

-ups e à importância da tecnologia no<br />

setor dos transportes. A sessão foi liderada<br />

por Sebastian Cazajus, CEO e cofundador<br />

da Cargofive, que começou por fazer a<br />

comparação entre a facilidade de comprar<br />

uma viagem online, e a complexidade de<br />

agendar um shipment, uma vez que implica<br />

uma grande burocracia. É necessária mais<br />

facilidade e rapidez nestes processos, bem<br />

como transparência. “Os shippers querem<br />

informação em tempo real, e os transitários<br />

têm de conseguir dar-lhes essa visibilidade”,<br />

afirma Sebastian Cazajus.<br />

O CEO apontou a flutuação dos preços<br />

de mercado como um dos desafios deste<br />

setor. No caso dos shipments, o preço está<br />

relacionado com o espaço restante do navio e<br />

a partida do mesmo. Por outro lado, há ainda<br />

o problema da falta de estandardização de<br />

dados que, nesta área, é um desafio enorme. É<br />

perante este cenário que a Cargofive atua,


62<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

através de um algoritmo inteligente que<br />

converte os contratos com armadores em<br />

formatos standard, mais simples. Através de<br />

poucos cliques, a Cargofive consolida preços<br />

e horários num lugar só, tornando todo o<br />

processo mais simples e otimizado.<br />

Além da Cargofive, a Meight também<br />

participou no evento. António Reis,<br />

cofundador, apontou que um dos maiores<br />

problemas no transporte terrestre são<br />

ineficiências operacionais por falta de<br />

tecnologia, e que, por ser uma área que<br />

ainda funciona offline, os dados estão<br />

“espalhados por todo o lado”. Neste setor,<br />

os processos ainda são muito arcaicos<br />

e pouco eficientes. Assim, é importante<br />

considerar a utilização da tecnologia. Um dos<br />

exemplos apresentados por António Reis, foi<br />

a substituição do Excel por plataformas de<br />

dados. Desta forma, existe uma conciliação<br />

de todos os dados operacionais, integração<br />

nativa com qualquer software (telematics,<br />

insurance, digital brokers, finance), uma<br />

base para desenvolvimento de aplicações de


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

inteligência artificial, e comunicação nativa<br />

com todos os stakeholders (motoristas,<br />

expeditores, destinatários, subcontratados).<br />

O POTENCIAL DA BLOCKCHAIN<br />

Ainda na visão de otimizar processos, Hugo<br />

Duarte Fonseca, da Maeil, trouxe à sessão<br />

a importância de usar a blockchain para<br />

desmaterializar documentos como a Bill<br />

of Lading (BL) ou um CMR. O facto de este<br />

tipo de documentos ainda existir em papel,<br />

constitui um desafio, uma vez que há muitos<br />

transportes e muitas rotas.<br />

Existem inúmeras vantagens em tornar<br />

estes documentos em formato digital, ou seja,<br />

eBL e eCMR, nomeadamente:<br />

Entrega instantânea: uma BL é,<br />

normalmente, enviada através de um<br />

serviço de entregas, o que implica uma<br />

certa quantia em tempo e dinheiro;<br />

Integridade do documento: durante o<br />

transporte, o documento não se perde,<br />

danifica ou é destruído;<br />

Baixo custo: como não há taxas de<br />

serviços de entregas ou de seguros, a<br />

Digital Container Shipping Association<br />

estimou uma poupança anual total de<br />

quatro mil milhões de dólares, com uma<br />

taxa de adoção de 50% apenas para a<br />

indústria de transporte de contentores;<br />

Segurança dos dados: a falsificação é<br />

muito mais difícil de ser feita em eBLs<br />

do que no documento em versão física.<br />

Desta forma, a utilização da blockchain<br />

mostra-se benéfica por diversos motivos:<br />

Imutabilidade: o uso de carimbos e


64<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

mecanismos criptográficos tornam o<br />

registo praticamente imutável;<br />

Transparência: todos os players podem<br />

ler as informações;<br />

Auditabilidade: informações<br />

previamente registadas não podem ser<br />

apagadas ou modificadas;<br />

Interoperabilidade: diferentes sistemas<br />

e aplicativos podem ter acesso a um<br />

ponto de dados comum;<br />

Descentralização: não requer confiança<br />

total numa única entidade;<br />

Segurança: as assinaturas digitais são<br />

mais seguras do que as tradicionais.<br />

Para falar da Agenda Nexus, o evento<br />

contou com Cláudio Pinto, coordenador<br />

da Agenda Nexus e diretor de inovação e<br />

sistemas de informação da Administração dos<br />

Portos de Sines e do Algarve (APS). Durante<br />

a sua intervenção, apontou os principais<br />

objetivos da iniciativa, sendo eles: a criação<br />

de 1147 novos empregos até 2030; reduzir as<br />

emissões de CO2; chegar até aos 60 milhões<br />

de euros em exportação de tecnologia até<br />

2030 e aumentar a performance da logística<br />

portuguesa.<br />

OS NEGÓCIOS TÊM DE<br />

ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO<br />

A primeira mesa-redonda da TechLogistics<br />

teve como mote “O Futuro da Tecnologia<br />

nos Meios de Transporte”, a qual contou com<br />

a participação de Artur Dias, Hugo Duarte<br />

Fonseca, António Reis, Sebastian Cazajus e<br />

Cláudio Pinto. A sessão promoveu o debate<br />

sobre o ponto de situação da digitalização na<br />

área do transporte, o que ainda falta fazer e<br />

quais os entraves.<br />

“Muitas vezes a mudança é mais mental<br />

do que financeira”, afirma Hugo Duarte<br />

da Fonseca. Esta foi uma ideia bastante<br />

presente durante toda a sessão, e que foi<br />

corroborada por Sebastian Cazajus. “Os<br />

negócios têm de acompanhar a evolução<br />

da tecnologia, e o desafio é, muitas vezes,<br />

educar os profissionais para darem esse<br />

passo”. Por sua vez, António Reis acrescenta<br />

que “estamos a falar em digitalizar toda uma<br />

forma de trabalhar”, e que isto constitui um<br />

desafio. Ainda assim, é necessário haver este<br />

esforço. Cláudio Pinto refere que “o potencial<br />

dos projetos não é atingido se não se fizer a<br />

transição digital”.<br />

O financiamento, também pode ser visto<br />

como um entrave à adoção de tecnologia?<br />

Artur Dias afirma que “hoje em dia, com a<br />

disponibilidade de programas, quem tiver<br />

uma boa ideia ou projetos digitais, tem todas<br />

as condições para submeter uma candidatura<br />

e ter sucesso”, e que é mais fácil obter<br />

financiamento, desde que haja uma boa ideia<br />

e vontade.<br />

Luís Filipe, business representative da<br />

DCbrain, trouxe à TechLogistics o tema<br />

“Logistics and Transportation Savings with<br />

AI”. Durante o seu discurso apontou três<br />

estratégias para otimizar a performance<br />

através da AI: um digital network twin (gémeo<br />

digital para cada rede), que reduz os tempos<br />

de cálculo; Inteligência Artificial Híbrida, que<br />

se adapta aos desafios do fluxo de transporte;<br />

e Bibliotecas de Interface do Usuário, que<br />

cria interfaces do usuário personalizadas,<br />

adaptadas a cada rede.<br />

Por sua vez, a Ar Telecom, prestadora<br />

de serviços com uma oferta de soluções<br />

integradas de comunicações e tecnologias de<br />

informação, pensada para as necessidades<br />

específicas do mercado empresarial, também<br />

marcou presença no evento através de Pedro<br />

Morgadinho Nunes, diretor comercial, que<br />

apresentou as soluções da empresa.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

TECNOLOGIA RESPONDE<br />

À COMPLEXIDADE<br />

Durante a TechLogistics também se abordou<br />

a questão da digitalização do processo de<br />

compras e gestão de armazéns avançados.<br />

Daniel Baptista, business developer da Cegid<br />

Primavera, começou por fazer um breve<br />

levantamento das tendências e desafios atuais,<br />

como cadeias de abastecimento incertas,<br />

otimização, planeamento e transparência/<br />

visibilidade de informação, ou pressões para<br />

redução de custos.<br />

A nível de soluções, apresentou a Omnia,<br />

uma plataforma ágil para soluções na cloud.<br />

É caracterizada pela sua agilidade, rapidez e<br />

flexibilidade, e pode ajudar as empresas nos<br />

processos de compras, recursos humanos,<br />

gestão de projetos, serviços, e marketing e<br />

vendas. No que diz respeito ao processo de<br />

procurement, dá suporte desde a criação<br />

da requisição até à aprovação da fatura do<br />

fornecedor para pagamento, nomeadamente:<br />

efetuar pedidos de requisição, disponibilizar<br />

acessos a fornecedores para responder<br />

a pedidos de cotação, aprovar faturas de<br />

fornecedores para pagamento, e controlar os<br />

fluxos de aprovação por etapa. Além desta<br />

solução, Daniel Baptista também falou sobre o<br />

Eye Peak, a nível da gestão de armazéns.<br />

Quase a terminar o dia, foi a vez de Quitéria<br />

Andrade, coordenadora de carga e correio da<br />

SATA, apresentar algumas das transformações<br />

digitais que estão a ser efetuadas na empresa.<br />

Entre elas está o Auto-Rebook já aplicado este<br />

ano, em fase de testes está o ICS2 (Import<br />

Control System), e perto da fase de testes<br />

encontra-se a digitalização do correio. Em<br />

análise está o Optical Character Recognition.<br />

A encerrar a TechLogistics sucedeu-se a<br />

última mesa-redonda, que contou com Daniel<br />

Baptista, Pedro Morgadinho Nunes, Júlio<br />

Borges, gestor de projetos da Rangel, Tiago<br />

Silvestre, Diretor de IT da Abreu Logistics, e<br />

Nuno Lima da Luz, presidente da Associação<br />

Portuguesa de Blockchain e advogado na<br />

Cuatrecasas. O painel debateu a digitalização<br />

nos negócios e uma das conclusões é que<br />

as empresas devem procurar as melhores<br />

práticas e soluções para as suas necessidades.<br />

Muitas vezes, as empresas integram tecnologia<br />

que nem sempre é aplicável a determinadas<br />

circunstâncias, revelando-se um gasto<br />

desnecessário. No caso da blockchain “já há<br />

muitos casos de sucesso, mas tem de ter lógica<br />

de utilização, ou seja, tem de se analisar se faz<br />

sentido a sua aplicação”, afirma Nuno Lima da<br />

Luz. •


66<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

Texto: Ana Paiva<br />

“SE GARANTIMOS<br />

QUE A CARGA VAI<br />

VOAR, VAI VOAR!”<br />

A Chapman Freeborn é uma empresa<br />

especializada no frete de carga aérea.<br />

Trabalha enquanto intermediária entre<br />

transportadoras aéreas e clientes,<br />

tendo como função a gestão da entrega<br />

de mercadoria. Este ano, a empresa<br />

decidiu marcar presença no mercado<br />

ibérico, tendo então criado a Chapman<br />

Ibéria. Hector Bustos, general manager<br />

da Chapman Freeborn, concedeu uma<br />

entrevista à Supply Chain Magazine,<br />

para explicar os contornos desta nova<br />

aposta.<br />

Hector Bustos, general manager da Chapman Freeborn<br />

TRANSPORTES<br />

Chapman Ibéria<br />

SCM - O que pode contar-nos sobre o novo<br />

projeto Chapman Iberia?<br />

> Hector Bustos - Com esta implementação<br />

que estamos a fazer no mundo Chapman,<br />

pretendemos expandir a nossa abordagem<br />

e serviços para Portugal e Espanha. Neste<br />

momento, estamos focados em ter uma<br />

presença forte no mercado português e, para<br />

isso, estamos a trabalhar em conjunto com a<br />

Avia Solutions para estarmos muito próximos<br />

dos clientes. O objetivo é alocar toda a<br />

nossa experiência e know-how nos serviços<br />

e produtos, de forma a abordar potenciais<br />

clientes em ambos os mercados.<br />

O On Board Courier (OBC) é um dos nossos<br />

produtos-chave e é muito importante para os<br />

clientes. Em situações críticas, estes serviços<br />

são realmente fantásticos, pois aliviam os


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

clientes de terem de transportar a carga<br />

imediatamente, sem pagar muito e sem<br />

terem de cumprir uma certa quantidade de<br />

capacidade.<br />

Temos também uma implementação com<br />

gestão de capacidade de carga (CCM). Já temos<br />

alguns acordos com companhias aéreas em<br />

que alocamos o espaço, por isso o objetivo é<br />

que, com o CCM, possamos também oferecer<br />

soluções principalmente para a América e Ásia,<br />

a partir e para a Europa. Há muitas empresas<br />

no negócio de transporte aéreo de carga, mas<br />

a diferença connosco, tendo esta capacidade,<br />

é que os clientes podem ter a certeza de que<br />

terão o espaço que procuram. Se garantimos<br />

que a carga vai voar, vai voar! E isso é uma das<br />

principais coisas que nos diferencia. Temos<br />

esta gestão de capacidade de carga com<br />

algumas companhias aéreas e está sob o nosso<br />

controlo. Estamos a construir uma rede dentro<br />

de Espanha e Portugal para fazer o ajuste<br />

com os aeroportos de entrega, para torná-la<br />

mais atrativa para os clientes. Isto significa,<br />

por exemplo, que se tivermos um serviço<br />

dedicado desde Frankfurt para os EUA, México<br />

ou Ásia, os clientes em Portugal ou Espanha<br />

não precisam de se preocupar com a entrega<br />

da carga em Frankfurt. Podem entregar numa<br />

base local e nós cuidamos do resto.<br />

Outro produto que temos é, claro, o frete<br />

(charter). Esta é a especialidade da casa. No<br />

que diz respeito ao frete, a Chapman Freeborn<br />

é um grupo forte e com uma forte presença em<br />

quase todos os pontos do mundo, mas agora<br />

precisamos de nos concentrar na região ibérica<br />

para ligar esta experiência e conhecimento


68<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

aos clientes. Esse é o foco principal. O frete<br />

é importante, todos o sabem fazer, mas nós<br />

queremos fazer diferente. Queremos ser<br />

criativos nas nossas soluções e é por isso<br />

que precisamos de estar muito próximos do<br />

mercado português: para realmente entender<br />

as necessidades dos nossos clientes. Não se<br />

trata apenas de fazer um frete do ponto A<br />

para o B. Nós somos capazes de apresentar<br />

soluções combinadas entre o OBC e o frete que<br />

permitem formas diferentes de pensar, e o bom<br />

é que é a nível global.<br />

O outro produto que temos é o Magma:<br />

uma companhia aérea que possui uma frota<br />

de 5.745 aviões, todos eles cargueiros, sendo<br />

um deles um noase-loader. Ter um avião<br />

noase-loader traz muitas oportunidades<br />

porque podemos realmente transportar carga<br />

de grandes dimensões. Por exemplo, com<br />

o Magma, voamos quase para todo o lado.<br />

É importante para o mercado português<br />

e africano, principalmente para a África<br />

Central ou África do Sul, devido aos acordos<br />

comerciais entre ambos os países.<br />

Tudo isto é sobre carga. Falando sobre<br />

passageiros, temos ambições de abordar o<br />

mercado português relacionado com jatos<br />

comerciais e aviação executiva.<br />

Considera que os desafios e necessidades<br />

do mercado ibérico são diferentes em relação<br />

aos outros mercados?<br />

> Não são diferentes no que diz respeito<br />

às necessidades, mas o que precisamos de<br />

pensar na nossa abordagem é como criar<br />

soluções feitas à medida, o que é algo que faz<br />

a diferença. Diria que as necessidades não são


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

muito diferentes das do resto do mundo, mas<br />

estamos focados em usar a nossa experiência<br />

para criar soluções muito boas, e não apenas<br />

aquilo que os outros estão a oferecer.<br />

E encara isso como um desafio?<br />

> Sim, com certeza é um desafio. É<br />

uma questão de fazer com que os clientes<br />

entendam os nossos produtos e por que<br />

somos tão diferentes em comparação com os<br />

outros. A maioria das empresas de transporte<br />

de carga já tem os seus métodos para fazer<br />

negócios, mas o desafio, para nós, é mudar<br />

mentalidades e fazer com que os clientes<br />

entendam que sim, podemos fazê-lo de<br />

maneiras diferentes e melhores para obter<br />

melhores resultados.<br />

O que espera alcançar a curto-prazo e a<br />

longo-prazo?<br />

> Depende dos produtos. Há produtos que<br />

estão prontos para serem usados, como o OBC<br />

e o frete. É uma questão de entrar no mercado<br />

e fazer com que as pessoas os conheçam.<br />

E há outros projetos que precisam de ser<br />

personalizados e, por isso, demoram mais<br />

tempo, como o CCM. Em qualquer caso, há<br />

diferentes fases, algumas a curto prazo, outras<br />

a médio prazo e outras a longo prazo, mas o<br />

que é importante para nós não é apenas entrar<br />

no negócio, mas mantermo-nos no negócio.<br />

É o maior desafio. Recentemente, assinámos<br />

um acordo com a Avia para trabalharmos<br />

juntos como Chapman. Este é um projeto para<br />

o mercado ibérico, e não estamos sozinhos.<br />

Temos o apoio dos nossos escritórios centrais<br />

na Alemanha, no Reino Unido, e temos suporte<br />

24 horas por dia, sete dias por semana. •<br />

CONNOSCO


70<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Transporte marítimo<br />

Texto: Ana Paiva<br />

BOLUDA NAVEGA<br />

EM MARÉ ALTA<br />

A Boluda tem vindo a afirmar-se<br />

como um forte player no mercado do<br />

transporte marítimo, nomeadamente<br />

através de investimentos<br />

significativos que fomentam a sua<br />

estratégia de internacionalização. O<br />

country general manager da Boluda<br />

Lines Portugal, Ricardo Jorge Alves,<br />

fez um ponto de situação à Supply<br />

Chain Magazine sobre a atuação da<br />

Boluda a nível global e em Portugal,<br />

bem como o que espera para o futuro<br />

da companhia e do setor.<br />

A<br />

história da Boluda teve início há mais<br />

de 100 anos e, desde então, o seu<br />

crescimento tem sido gradual e forte.<br />

Atualmente está presente em mais de<br />

50 países, passa por 148 portos e tem<br />

uma frota de mais de 600 rebocadores.<br />

Os esforços estão reunidos para que o<br />

crescimento seja constante e inegável.<br />

“Ao longo dos últimos anos, vários<br />

investimentos têm sido realizados com o<br />

objetivo de fortalecer ainda mais o grupo,<br />

nomeadamente com novas rotas e serviços,<br />

aquisição de novos navios e ampliação da<br />

rede de terminais”, afirma Ricardo Jorge<br />

Alves.<br />

Uma das recentes apostas da<br />

transportadora marítima foi a compra da<br />

Smit Lamnalco, empresa especializada em<br />

serviços de reboque, que permite à Boluda<br />

tornar-se “líder mundial no setor dos<br />

rebocadores”, segundo o country general<br />

manager. Este investimento reforça um dos<br />

três segmentos estratégicos de atividade


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

da empresa: Boluda Towage (serviços de<br />

reboque), Boluda Shipping (transporte<br />

marítimo e terrestre) e Boluda Terminal<br />

(serviços portuários).<br />

“O caminho do sucesso será o da contínua<br />

aposta e investimento nestas três áreas de<br />

atuação”, garante Ricardo Jorge Alves. Neste<br />

sentido, um dos objetivos a atingir ao longo<br />

dos próximos anos é apostar numa maior<br />

internacionalização da Boluda Shipping,<br />

nomeadamente através da abertura de novas<br />

rotas em “mercados-chave” considerados<br />

“fundamentais” para a companhia.<br />

FOCO NA INTERNACIONALIZAÇÃO<br />

O country general manager conta que<br />

há vários projectos a implementar até ao<br />

fim de <strong>2023</strong>, além de pretender reforçar a<br />

presença da transportadora em mercados<br />

como Canárias, Cabo Verde e Senegal. Uma<br />

das metas estabelecidas para atingir a curtomédio<br />

prazo, com a entrada de em novos<br />

mercados, é a de “uma maior verticalização<br />

Ricardo Jorge Alves, country general manager da Boluda Lines Portugal<br />

e expansão na cadeia logística com serviços<br />

integrados, como o door/door, armazenagem,<br />

seguro de mercadoria e procedimentos<br />

aduaneiros”, adianta.<br />

A Boluda está presente em Portugal, com<br />

estrutura própria, há mais de seis anos<br />

e esta aposta faz parte da estratégia de<br />

internacionalização da empresa.


72<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

O country general manager assume que<br />

ainda há um “longo caminho a percorrer”<br />

nesta subsidiária, uma vez que ainda se<br />

encontra numa fase de desenvolvimento<br />

comercial e operacional. Ainda assim, têm<br />

feito “investimentos significativos”, e “é visível<br />

nos mercados onde estamos presentes de<br />

que forma temos conseguido a preferência de<br />

vários parceiros de negócio”.<br />

O cenário atual do transporte marítimo<br />

tem vindo a sofrer grandes mudanças a<br />

nível global e, segundo Ricardo Jorge Alves,<br />

“fatores demográficos, tecnológicos e de<br />

sustentabilidade têm afetado os negócios e<br />

moldado várias tendências”. Assim, espera-<br />

-se que o setor enfrente alguns desafios. “O<br />

cenário operacional permanece complexo,<br />

com a desaceleração projetada não só em<br />

consequência da pandemia, mas também de<br />

fortes impactos macroeconómicos combinados<br />

com um enfraquecimento da economia da<br />

China”, indica, acrescentando ainda o aumento<br />

da inflação e o custo de vida.<br />

Contudo, os desafios também podem<br />

gerar oportunidades. O country general<br />

manager aponta os novos regulamentos<br />

ambientais que podem alterar as atuais<br />

rotas, bem como definir investimentos em<br />

combustíveis alternativos, o que deverá<br />

afetar a estrutura dos portos e logística do<br />

próprio setor. Destaca ainda a importância<br />

da modernização do sistema de transporte,<br />

a renovação da frota, o desempenho dos<br />

portos e a procura por novas soluções para<br />

que “não sejam interrompidas as cadeias de<br />

abastecimento”. •


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74<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

CARREIRA<br />

Estudo Adecco<br />

Texto: Ana Paiva<br />

O FUTURO DA<br />

LOGÍSTICA<br />

A Adecco desenvolveu um estudo<br />

denominado “Visão do futuro: Logística e<br />

Cadeias de Abastecimento em <strong>2023</strong> e no<br />

futuro”, que foi apresentado, em primeira<br />

mão, na conferência Retail & FMCG,<br />

organizada pela Supply Chain Magazine.<br />

Durante o evento foram apresentadas as<br />

perspetivas de crescimento deste setor, as<br />

principais tendências e desafios, bem como<br />

soluções para o futuro.<br />

A<br />

complexidade das operações das cadeias<br />

de abastecimento vai agravar-se nos<br />

próximos anos, pelo que, ainda que os<br />

gestores e profissionais da área da logística<br />

tenham competências para lidar com esta<br />

complexidade, devem estar preparados para<br />

este cenário. Por sua vez, os líderes entendem<br />

que têm de aceitar esta complexidade no<br />

futuro, mas reconhecem que se torna mais<br />

difícil de manter a fiabilidade, os baixos custos,<br />

os níveis de serviço e a satisfação do cliente.<br />

Para fazer face a este problema, é necessária<br />

uma abordagem estruturada que separe a<br />

complexidade que acrescenta valor daquela<br />

que pesa nos resultados. “A Adecco sugere<br />

a utilização do outsourcing de operações<br />

logísticas como forma de lidar com os desafios<br />

crescentes de cadeias de abastecimento cada<br />

vez mais complexas. Essa opção proporciona


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

adaptabilidade, flexibilidade e simplicidade aos<br />

processos externalizados, além de otimizar a<br />

produtividade e reduzir custos”, afirma Pedro<br />

Ferreira Queimado, diretor da divisão de<br />

outsourcing da Adecco.<br />

TENDÊNCIAS FUTURAS<br />

- Os investimentos em tecnologia vão<br />

acelerar: As empresas do setor investiram<br />

fortemente em transformações digitais nos<br />

últimos anos. Daqui para a frente procurarão<br />

colher os frutos acrescentando automatização,<br />

inteligência artificial/machine learning (IA/<br />

ML), análise avançada de dados, robótica, e<br />

outras tecnologias que podem proporcionar<br />

eficiência e acelerar processos. Espera-se que<br />

o mercado emergente da robotics-as-a-service<br />

se torne uma parte estabelecida e crescente<br />

do cenário logístico em <strong>2023</strong>, bem como para<br />

o futuro, tornando a robótica mais acessível<br />

aos prestadores de serviços de logística de<br />

todas as dimensões, e permitindo uma maior<br />

eficiência nas cadeias de abastecimento.<br />

Estas tendências criarão uma necessidade de<br />

competências digitais entre os fornecedores de<br />

logística.<br />

- As questões ambientais, sociais e de<br />

governação (ESG) vão estar no centro das<br />

atenções: Os governos estão a exigir, cada vez<br />

mais, que as empresas provem que as suas<br />

cadeias de abastecimento são sustentáveis e<br />

éticas. Na Alemanha, a nova lei sobre o dever<br />

de diligência nas cadeias de abastecimento<br />

exige que as empresas monitorizem as suas<br />

cadeias de abastecimento e garantam que<br />

nem elas próprias, nem os seus parceiros estão<br />

envolvidos em qualquer forma de violação dos<br />

diretos humanos ou degradação ambiental.<br />

Prevemos que sejam implementadas medidas<br />

semelhantes noutros locais, levando as<br />

empresas a focarem-se novamente nos<br />

seus objetivos de ESG e a acelerarem as<br />

suas transições ecológicas. Por sua vez, isto<br />

conduzirá a uma necessidade de trabalhadores<br />

habilitados a tirar partido da tecnologia<br />

para atingir objetivos ambientais e com<br />

conhecimentos em matéria de conformidade<br />

regulamentar.<br />

- As cadeias de abastecimento estarão<br />

sob análise: A KPMG concluiu recentemente<br />

que mais de dois terços das organizações<br />

acreditam que satisfazer as expectativas<br />

dos seus clientes em termos de prazos de<br />

entrega, será fundamental para a estrutura<br />

e o fluxo das suas cadeias de abastecimento<br />

nos próximos 12 a 18 meses. As empresas<br />

poderão resolver este problema, em parte<br />

através de investimentos em tecnologia.<br />

Porém, os retalhistas e distribuidores terão de<br />

reexaminar as suas redes de distribuição de


76<br />

JUNHO <strong>2023</strong><br />

inventário num ambiente exigente, sobretudo<br />

no que diz respeito à entrega no destino final.<br />

As pressões inflacionistas também levarão<br />

os gestores das cadeias de abastecimento<br />

a pressionar para reduzir o inventário<br />

armazenado. Consequentemente terão de ser<br />

tomadas decisões no que respeita às parcerias<br />

existentes, à localização dos armazéns e à<br />

contratação de pessoal, enquanto as cadeias<br />

de abastecimento se tornarão mais complexas.<br />

- A logística elástica irá expandir-se: As<br />

organizações estão a adotar cada vez mais uma<br />

abordagem flexível à logística, reconhecendo<br />

que as suas cadeias de abastecimento<br />

precisam de flexibilidade para conseguirem<br />

dar resposta às mudanças nas condições do<br />

mercado. A logística elástica responde a esta<br />

necessidade, permitindo com que as cadeias de<br />

abastecimento se expandam, ou contraiam, de<br />

acordo com a procura do mercado.<br />

- Atração de candidatos e retenção de<br />

pessoal: O setor da logística é afetado por<br />

elevadas taxas de rotação, mas dada a<br />

previsão de crescimento nos próximos anos,<br />

as organizações precisam de mão de obra<br />

fiável e estável para aproveitar as futuras<br />

oportunidades. O recrutamento e a retenção<br />

são questões interpendentes. Trabalhar na<br />

retenção, respondendo às necessidades e<br />

aspirações dos seus trabalhadores, ajudará<br />

não só a manter os colaboradores, como<br />

também tornará a empresa mais atrativa


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

para potenciais candidatos qualificados. As<br />

empresas de logística já estão a enfrentar uma<br />

escassez de competências digitais. Porém, a<br />

concorrência por essas competências é feroz<br />

e irá agravar-se à medida que a tecnologia<br />

de ponta se tornar uma parte integrante<br />

das operações. A externalização oferece às<br />

empresas acesso a profissionais qualificados e<br />

especializados para cargos e funções que não<br />

conseguem preencher internamente.<br />

Segundo a Adecco, o recrutamento<br />

nestas condições “será difícil, uma vez que<br />

o setor tem a reputação de ter empregos<br />

fisicamente exigentes com salários baixos”.<br />

Considera fundamental “a sensibilização e<br />

a educação”, mas as empresas não devem<br />

descurar a sua própria mão-de-obra através da<br />

requalificação e da melhoria das competências,<br />

retêm os benefícios de terem pessoal com<br />

conhecimentos sobre a empresa, além de<br />

adquirirem as suas novas competências<br />

digitais.<br />

- Diversidade e inclusão: a mão de obra<br />

do setor é sobretudo masculina e está a<br />

envelhecer. Esta situação não só cria uma<br />

limitação para as empresas de logística no que<br />

diz respeito ao contributo dado por pontos<br />

de vista diversos, como acumula alguns<br />

problemas para o futuro quando a mão de<br />

obra envelhecida se aproximar da idade da<br />

reforma. Além disso, contribui igualmente<br />

para o problema da imagem do setor junto<br />

dos trabalhadores jovens e diversificados, que<br />

corre o risco de entrar num ciclo vicioso.<br />

A EXTERNALIZAÇÃO<br />

A complexidade crescente do setor pode<br />

parecer esmagadora e, se não for controlada,<br />

pode conduzir a perturbações nos negócios.<br />

No entanto, a complexidade também é<br />

necessária no atual ambiente empresarial<br />

imprevisível e em rápida mudança. À medida<br />

que a tecnologia continua a destacar a<br />

interligação das cadeias de abastecimento<br />

modernas, as empresas do setor precisam<br />

de aceder a aptidões e competências de que<br />

podem dispor internamente. A externalização<br />

é uma solução para que os fornecedores de<br />

serviços de logística, com a complexidade, se<br />

mantenham focados na sua atividade principal<br />

e proporciona flexibilidade e simplicidade<br />

à gestão dos processos auxiliares. Contudo,<br />

muitas organizações desconhecem o alcance<br />

das atividades que podem ser externalizadas<br />

a especialistas, pelo que, se veem obrigadas<br />

a despender energia em áreas nas quais<br />

possuem conhecimentos especializados.<br />

A externalização pode tornar a melhoria<br />

contínua mais fácil de gerir e até assumir a<br />

gestão de projetos para todo o processo de<br />

modernização.<br />

Pode ainda proporcionar pode proporcionar<br />

a agilidade, adaptabilidade e resiliência<br />

de que as empresas necessitam para lidar<br />

com as rápidas mudanças tecnológicas e<br />

obsolescência, aumentando a produtividade<br />

sem comprometer a autonomia da sua<br />

organização. As empresas de externalização<br />

podem recorrer a reservas de talentos globais<br />

para fornecer à sua organização competências<br />

e conhecimentos especializados atualizados,<br />

enquanto ajudam a reduzir os seus custos<br />

operacionais, de mão de obra, despesas<br />

gerais e de infraestruturas até ao seu nível de<br />

exposição ao risco. Prevê-se um crescimento<br />

da externalização à medida que as empresas<br />

forem lidando com desafios que enfrentam<br />

e procurarem formas de racionalizar os<br />

processos, aumentar a flexibilidade e melhorar<br />

a qualidade dos serviços. Como indica Pedro<br />

Ferreira Queimado, “a externalização de<br />

processos não essenciais permite às empresas<br />

focarem-se na gestão dos clientes e na<br />

satisfação das suas necessidades”. •


78<br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“Construindo um local de trabalho psicologicamente<br />

seguro” Ideas worth spreading, TEDxHGSE 2014,<br />

Amy Edmondson, 1.5 millhões de visualizações<br />

“Não tenhas medo da perfeição, nunca a atingirás.”<br />

Salvador Dalí<br />

Ninguém quer ser considerado ignorante,<br />

incompetente, intrusivo ou negativo no trabalho.<br />

Por isso, a maioria de nós desenvolveu, desde os<br />

tempos da escola primária, uma estratégia de<br />

auto-preservação que é apelidada de “gestão de<br />

impressões” pelas ciências comportamentais. Esta<br />

leva-nos a não fazer perguntas, a não admitir<br />

incertezas ou erros, a não voluntariar ideias e a não<br />

criticar o “status quo”. Estes comportamentos são<br />

muito bem-sucedidos para manter uma imagem<br />

individual impecável, mas são devastadores<br />

quando uma organização precisa de inovar, num<br />

mundo de incerteza e inter-dependência.<br />

A segurança psicológica é a crença de que<br />

não vamos ser castigados ou humilhados por<br />

dizermos o que pensamos, com ideias, perguntas,<br />

preocupações ou erros. Num ambiente deste tipo<br />

é possível evitar desastres que impactam vidas<br />

humanas, desenvolvimentos tecnológicos ou o<br />

sucesso empresarial. Este é também o ambiente<br />

em que as experiências por que passamos se<br />

tornam momentos de aprendizagem.<br />

Amy Edmondson estudou a correlação entre a<br />

qualidade das equipas em ambiente hospitalar<br />

e a taxa de erros de medicação dos pacientes,<br />

medida pelos relatórios médicos. Para sua grande<br />

surpresa, descobriu que quanto melhores as<br />

equipas, avaliadas em função de critérios bem<br />

estabelecidos, mais erros reportavam. Chegou à<br />

conclusão de que provavelmente estas equipas<br />

não erravam mais, mas antes falavam mais do que<br />

corria mal, com vista a corrigir o seu desempenho.<br />

Há muitas vezes o receio de que um ambiente<br />

deste tipo seja demasiado confortável e<br />

des-responsabilize as pessoas perante os<br />

resultados, numa organização ou empresa. Amy<br />

Edmondson defende que a segurança psicológica<br />

e a motivação ou o prestar contas são duas<br />

dimensões que se complementam. Na ausência<br />

de ambas, instala-se a apatia. Contudo, se faltar<br />

apenas a segurança psicológica, domina a<br />

ansiedade, que é um lugar onde é perigoso estar.<br />

Existem algumas regras para se estar na zona<br />

de aprendizagem contínua e alto-desempenho.<br />

Primeiro, re-enquadrar o que é preciso ser feito<br />

em termos de caminho de aprendizagem, e não de<br />

resultados. Depois, reconhecer que todos podemos<br />

falhar, incluindo “eu”. E, finalmente, estimular a<br />

curiosidade e um ambiente de questionamento<br />

constante.<br />

Se vivermos num mundo de certezas e em que<br />

não dependemos de ninguém, não precisamos de<br />

segurança psicológica, embora seja agradável tê-la.<br />

Em todas as outras circunstâncias, ela é essencial.<br />

Amy Edmondson tem um bacharelato em engenharia e<br />

design, um mestrado em psicologia e um doutoramento<br />

em comportamento organizacional. É actualmente<br />

professora de Liderança na Harvard Business School e<br />

autora de numerosos artigos e de sete livros, entre eles<br />

“The Fearless Organization,Creating Psychological Safety<br />

in the Workplace for Learning, Innovation, and Growth” e<br />

“Teaming: How Organizations Learn, Innovate and Compete<br />

in the Knowledge Economy”.

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