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SCMedia News | Revista | Novembro & Dezembro 2022

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Nov & Dez <strong>2022</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

37<br />

STAPLES PORTUGAL<br />

A DECISÃO FINAL<br />

AINDA É HUMANA<br />

SEGUROS<br />

MAIS VALE<br />

PREVENIR…<br />

CIRCULARIDADE<br />

NA INDÚSTRIA<br />

DA MODA<br />

MERCADO DE TRABALHO<br />

E TENDÊNCIAS<br />

PARA 2023<br />

LS ESPAÑA<br />

“Em Roma, sê romano”


2<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong>


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

EDITORIAL<br />

VOLATILIDADE, VOLATILIDADE, VOLATILIDADE<br />

“O segredo não está em nunca cair, mas em saber levantar-se.”<br />

João Garcia, alpinista<br />

Quando entrámos em <strong>2022</strong> já todos sabíamos<br />

que o “Vai ficar tudo bem!” não passava<br />

de uma utopia. O que ainda ignorávamos<br />

é que logo em fevereiro a realidade iria<br />

ultrapassar a ficção, colocando-nos perante<br />

uma guerra na Europa e à crise sanitária<br />

seguir-se-ia uma crise humanitária, também<br />

ela com repercussões à escala global,<br />

acelerando aquilo que já se antevera nos<br />

anos precedentes: a gestão das cadeias de<br />

abastecimento como a conhecíamos terá que<br />

mudar.<br />

Já antes da invasão da Ucrânia, a resiliência<br />

estava no topo das agendas. Tendo<br />

enfrentado um problema atrás do outro -<br />

tensões e guerras comerciais, os bloqueios da<br />

COVID-19, o encerramento do canal do Suez<br />

e o estrangulamento das rotas marítimas<br />

mundiais - muitos gestores já tinham<br />

abandonado a estratégia do “just in time”,<br />

passando a funcionar no registo “just in case”.<br />

Aumentar os inventários de matérias-primas<br />

e produtos críticos, procurar fornecedores<br />

mais próximos de casa ou duplicar fontes<br />

de abastecimento passaram a fazer parte do<br />

dia-a-dia da reconfiguração das cadeias de<br />

abastecimento e parte integrante desta longa<br />

jornada para a resiliência. É também com<br />

esse espírito de perseverança que fazemos<br />

chegar até si a última revista de <strong>2022</strong>.<br />

A frase que antecede este editorial é do<br />

homem que já subiu aos cumes mais altos<br />

de todos os continentes. Há mais de 20<br />

anos, numa expedição ao Evereste, a descida<br />

tardia tornou-se num pesadelo que o marcou<br />

para sempre: perdeu o seu amigo Pascal e ia<br />

perdendo ele próprio a vida. Dois anos depois<br />

estava a subir ao cume de outra montanha<br />

com mais de 8.000 metros. Sempre sem<br />

oxigénio artificial.<br />

João Garcia, o alpinista português que<br />

escreve livros, dá palestras e é atualmente<br />

guia de montanha, continua a desafiar-se a si<br />

próprio todos os dias e a procurar trilhos por<br />

explorar. Quer melhor exemplo de resiliência<br />

do que este?<br />

Mesmo que tudo nos diga que os próximos<br />

meses vão ser difíceis, encaremos 2023 como<br />

aquilo que é: um ano novinho em folha para<br />

fazermos mais e, de preferência, melhor.


4<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

#16 #38 #46<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Devoluções: esperados 18,1 mil milhões de<br />

euros no Natal 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Luis Simões España 08<br />

Seguros na supply chain 16<br />

Benchmarking Supply Chain 26<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Staples Portugal 46<br />

TECNOLOGIAS<br />

Continental automatiza receção de<br />

mercadorias 54<br />

A tecnologia ao serviço da saúde 58<br />

Objetivo: entregar valor 62<br />

PROCUREMENT<br />

SAP Partner Ecosystem 34<br />

Circularidade da moda 38<br />

4 empresas líderes combatem<br />

emissões 42<br />

TRANSPORTES<br />

CULT: o poder da colaboração 66<br />

CARREIRA<br />

Trabalho: as tendências para 2023 72


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

#58<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

As mudanças no mundo e os desafios<br />

das supply chains 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

“O que as rãs em água quente nos podem ensinar<br />

sobre repensar”, Adam Grant 78<br />

#62<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

Laura Dias<br />

Direção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Business Development_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

DEVOLUÇÕES: ESPERADOS<br />

18,1 MIL MILHÕES DE<br />

EUROS NO NATAL<br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Embalagem e<br />

transporte<br />

A<br />

DS Smith, empresa de packing sustentável,<br />

realizou um estudo que comprovou que as<br />

encomendas online estão sujeitas a uma<br />

força g comparável à registada nas corridas<br />

de automóveis e no lançamento de foguetões.<br />

A empresa realizou testes com acelerómetros<br />

que rastreiam a velocidade de uma encomenda<br />

ao longo do seu trajeto e que fornecem<br />

dados que podem explicar os danos que esta<br />

sofre. Desta forma, é possível compreender<br />

o ambiente difícil que as encomendas têm<br />

de enfrentar até que cheguem ao cliente em<br />

perfeitas condições.<br />

Através desta investigação foi possível<br />

compreender que uma encomenda standard<br />

é submetida a uma força g de até 50 gs, ou<br />

seja, cinco vezes mais que o nível de força g<br />

que faria um astronauta experiente perder<br />

a consciência (9 gs 3) e 10 vezes mais força<br />

g do que a experienciada numa montanha-<br />

-russa (5 gs 4). Atualmente, quase metade<br />

dos compradores online europeus declaram<br />

ter recebido encomendas danificadas no<br />

último ano (45%), o que corresponde a mais<br />

de 377 milhões de entregas afetadas. Estes<br />

afirmam que, em média, cada uma das suas<br />

encomendas custou 47,94€, o que representa<br />

um valor potencial de 18,1 mil milhões de<br />

euros de produtos danificados enviados todos<br />

os anos, nomeadamente neste natal, em toda<br />

a Europa.<br />

No entanto, a população tolera cada vez<br />

menos receber produtos danificados e está a<br />

devolver até artigos de menor valor. Dado o<br />

aumento do custo de vida, o valor médio que<br />

um artigo danificado teria de ter para que o<br />

devolvessem diminuiu de 26€ para 21,50€,<br />

o que significa um aumento no número de<br />

devoluções. Este cenário poderá ser um<br />

problema para as empresas. pois da mesma<br />

forma que aumenta o número de marcas que<br />

estão a considerar cobrar devoluções, 43% dos<br />

compradores europeus esperam entregas e<br />

devoluções gratuitas. •


8<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Luís Simões<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotografias: Fábio Santos<br />

EM ROMA, SÊ ROMANO<br />

Apesar de Portugal e Espanha serem países próximos, não só os países e<br />

os idiomas são diferentes, mas também o mercado o é. E se por um lado<br />

a Luís Simões teve de se adaptar às diferenças entre os países, também<br />

teve de ganhar o reconhecimento de alguns clientes para que lhes<br />

entregassem as suas operações.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Da mesma maneira que é importante arriscar,<br />

é necessário fazê-lo com consciência e<br />

segurança. A inflação está a agravar as<br />

tendências e os casos de sinistros ao longo da<br />

supply chain, afetando as empresas de diversas<br />

formas. Através da aquisição de seguros, as<br />

empresas conseguem ter uma salvaguarda<br />

para os seus bens e para os que gerem,<br />

manipulam ou transportam por terceiros, mas<br />

as constantes oscilações de preços tornam<br />

a situação um pouco mais complicada para<br />

ambos os lados.<br />

Em 2018 a Luís Simões iniciou uma jornada<br />

para a construção do seu maior e mais avançado<br />

centro de operações logísticas, tendo sido<br />

inaugurado em fevereiro de 2019. Localizada em<br />

Guadalajara, a plataforma tem 89.000 metros<br />

quadrados, e foi o resultado de um investimento<br />

de 85 milhões de euros. O complexo dedica-se a<br />

produtos de grande consumo e é composto por<br />

três naves, com 31.158m², 29.083m² e 28.650m²,<br />

projetadas para ter capacidade para 180.000<br />

paletes e permitir, diariamente, a entrada de 112<br />

viaturas e a saída de 174.


10<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Não muito longe dali, em Cabanillas<br />

del Campo, encontra-se outro centro de<br />

distribuição da empresa portuguesa. Este<br />

tem uma capacidade para 70.000 paletes e a<br />

maior parte da operação dedica-se a bebidas<br />

espirituosas e cervejas. Em 2017 juntaram<br />

neste local alguns armazéns que precisaram<br />

de fechar e consolidaram e reorganizaram as<br />

operações neste local.<br />

A convite da Luís Simões, deslocámo-nos<br />

a Espanha para conhecer estes dois centros<br />

logísticos e a forma como a automação os<br />

ajuda diariamente.<br />

CONHECER O MERCADO<br />

“Quando viemos para Espanha, tal como em<br />

Portugal, fomos para o Fast Moving Consumer<br />

Goods (FMCG)”, começa por recordar Vítor<br />

Enes, diretor-geral de Business Development,<br />

“e fomos ganhando massas críticas”. Os<br />

primeiros clientes com alguma dimensão<br />

começaram por ser do setor das bebidas, o<br />

que considera que “não foi por acaso, porque<br />

as bebidas precisam de muitos camiões e<br />

dão massa crítica”. No entanto, conta que, a<br />

determinada altura, perceberam que tinham<br />

muitas cervejas e refrescos, e que ambos<br />

os picos de atividade eram no verão, então<br />

necessitavam de “clientes de inverno”. “É por<br />

isso que temos aqui tanta bebida espirituosa,<br />

porque tem mais atividade no inverno, não<br />

estão cá por acaso”, explica.<br />

Desta forma, compensaram a atividade<br />

que tinham ao longo do ano, tendo “grandes<br />

clientes de verão e de inverno”. “As bebidas<br />

dão muita massa crítica, portanto estamos<br />

muito especializados nos FMCG, muitos para<br />

as grandes superfícies, como em Portugal”,<br />

aponta o responsável, “é aquilo que sabemos<br />

fazer e estamos especializados”.<br />

Vítor Enes, diretor-geral de Business Development<br />

Apesar de a maioria dos produtos da<br />

plataforma de Cabanillas del Campo serem<br />

bebidas, esta também conta com alguns outros<br />

tipos de produtos que vão para os mesmos<br />

destinos e que não atrapalham a operação, e<br />

nota que “estamos sempre a ver quando é que<br />

os clientes encaixam uns com os outros”.<br />

“Quando cheguei, passado pouco tempo<br />

percebi que, por exemplo, nos iogurtes, a<br />

principal referência consumida em Portugal é<br />

o de morango, e em Espanha é o de limão. Isto<br />

tem diferenças, não é tudo igual, e em Roma<br />

sê romano”, comenta Vítor Enes, defendendo<br />

que é muito importante conhecer a realidade<br />

sociocultural da região em que as empresas<br />

se pretendem instalar, antes de partir para o<br />

negócio e tentar fazê-lo como sempre fizeram<br />

noutro local. “Precisamos de entender e de nos<br />

juntar com as pessoas”, acrescenta.<br />

A consolidação dos vários armazéns neste<br />

espaço deu-se precisamente para se lançarem<br />

no mercado com cautela e irem explorando<br />

primeiro: “quando começámos com as<br />

operações não podíamos chegar e desembarcar<br />

com uma nave de 90.000 paletes”.


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

COMBINAR CLIENTES E TIRAR<br />

PROVEITO DAS SINERGIAS<br />

Vítor Enes comenta que “quando os clientes<br />

nos visitam apontam que os armazéns estão<br />

cheios, mas isso é o suposto, têm de estar<br />

sempre cheios. Nós temos soluções. Por<br />

exemplo, o de Guadalajara, está cheio, mas<br />

não está cheio exatamente com os clientes<br />

que eu quero, eu depois quero lá meter outros.<br />

Portanto, eu tenho lá produtos, ou operações,<br />

que consigo com mais facilidade retirar para<br />

outras naves e meter outro tipo de operações”.<br />

Um exemplo de otimização das operações<br />

face aos picos de atividade foi com um cliente<br />

sazonal que ocupava grande parte do armazém<br />

durante apenas metade do ano. “Por vezes são<br />

questões de bom senso”, aponta, “percebemos<br />

que um cliente durante metade do ano<br />

ocupava o armazém todo, e na outra metade<br />

não ocupava. Nós arranjámos uma solução:<br />

não cobrámos a totalidade do armazém e<br />

durante seis meses colocámos outros produtos<br />

nesse espaço”, e assim juntaram produtos<br />

diferentes, com picos diferentes, no mesmo<br />

local, poupando custos ao cliente e ganhando<br />

noutro lado.<br />

Em Cabanillas del Campo existe ainda<br />

um armazém separado para produtos<br />

farmacêuticos de um cliente, a temperatura<br />

controlada, autorizada pelas autoridades<br />

sanitárias, e com uma capacidade para entre<br />

17.000 e 20.000 paletes. Para além disso, este<br />

centro tem a peculiaridade de contar com<br />

alguma automatização ao nível das cargas, ao<br />

contrário do que ocorre no de Guadalajara, que<br />

serve para armazenagem. “Todos os pedidos<br />

que preparamos metemos neste armazém,<br />

com a planificação de rotas de distribuição e,<br />

no dia seguinte, todos os pedidos vão sendo<br />

colocados para que fiquem prontos a carregar”,<br />

explica, “é como se fosse um sorter, mas de<br />

paletes e não de caixas”. Esta preparação<br />

automática dos pedidos, feita de acordo com<br />

as rotas, “permitiu-nos otimizar o espaço do<br />

cais, e ganhar rigor na expedição, para não<br />

haver enganos”. Já no caso da automação,<br />

contam com alguns autómatos pelo armazém,<br />

que recolhem paletes, e as vão arrumando<br />

automaticamente nos espaços dedicados.<br />

A plataforma de Cabanillas del Campo<br />

tem ainda a vantagem de ser um depósito<br />

fiscal, tendo como vantagem para os<br />

clientes a suspensão temporária do imposto,<br />

enquanto regime aduaneiro, destinando-se<br />

ao armazenamento temporário da mercadoria<br />

até ao seu despacho, dando algum tempo<br />

ao importador para decidir o destino da<br />

mercadoria em questão. “Este é o maior<br />

entreposto fiscal de bebidas espirituosas de<br />

toda a Espanha”, aponta Vítor Enes.<br />

UM ARMAZÉM AUTOMATIZADO A<br />

DIVERSOS NÍVEIS<br />

Enquanto Cabanillas del Campo tinha um<br />

grande foco nas bebidas, Guadalajara abraça<br />

os produtos de grande consumo, desde<br />

alimentação, móveis, PLV e, devido à campanha<br />

de Natal, também álcool. Uma das três naves<br />

(B) é certificada por LEED Gold, a segunda<br />

maior categoria desta certificação, logo após<br />

a Platinum, uma meta difícil de atingir por<br />

grande parte das empresas, enquanto as<br />

restantes contam com a certificação Silver. No<br />

caso da certificação Gold, todas as máquinas<br />

funcionam a lítio, recolhem águas pluviais, e<br />

pretendem aumentar os painéis solares nos<br />

telhados dos armazéns para autosuficiência.<br />

Por agora, a percentagem ainda é baixa, por<br />

ainda se encontrarem em expansão.


12<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Também aqui contam com uma nave<br />

refrigerada, a temperatura controlada entre<br />

14 e 18ºC, com uma capacidade para cerca de<br />

8.000 paletes para uma campanha natalícia, e<br />

alguns outros produtos, cuja operação iniciou<br />

em junho. “Foi algo que os clientes foram<br />

perguntando se tínhamos, mas na altura a<br />

massa crítica era a temperatura ambiente”,<br />

aponta Vítor Enes.<br />

Através de uma ponte fechada existe<br />

uma ligação entre duas naves, permitindo<br />

a movimentação de produtos de e para o<br />

armazém automático. “Esta ponte vai ligar com<br />

o armazém automático, e por aqui podemos<br />

enviar ou receber paletes”, conta António<br />

Fernandes, diretor de inovação e projetos da<br />

empresa. Aqui, o conceito é diferente, porque<br />

junta o automático com operações manuais,<br />

como é o caso do picking.<br />

A nave está dividida em três níveis. No<br />

primeiro nível, são feitas apenas saídas de<br />

produtos, sendo este o espaço de cais. No<br />

segundo, há entrada e saída, e é onde também<br />

existem alguns processos de co-packing. E por<br />

fim, no terceiro, só existe entrada de produtos.<br />

“Toda a mercadoria que entra, sobe ao topo<br />

e entra no silo”, comenta António Fernandes,<br />

“isto é basicamente saídas, entradas e<br />

movimentos internos, transferências,<br />

reaprovisionamentos, co-packing… tudo o que<br />

se mexe está no segundo piso”.<br />

O armazém automático funciona num espaço<br />

fechado e interdito. Este armazém tem uma<br />

altura de 42 metros, estando o último nível do<br />

armazém automático a 36 metros de altura.<br />

O sistema tem a particularidade de conseguir<br />

andar diretamente na diagonal, o que lhe<br />

dá mais agilidade, e a funcionar em pleno é<br />

capaz de trabalhar 1.200 paletes por hora,<br />

desde entrada, saída, movimentação interna.<br />

António Fernandes, diretor de inovação e projetos<br />

“De entrada e saída, atualmente deve estar<br />

a fazer entre 7.500 e 8.000 paletes por dia.<br />

Em Portugal é como transferir um cliente de<br />

média dimensão em qualquer armazém. Aqui<br />

fazemos todos os dias uma transferência de um<br />

armazém”, compara António Fernandes.<br />

Apesar de o sistema poder fazer<br />

automaticamente estes processos, existe<br />

uma pessoa responsável pelo controlo e que<br />

funciona como “cérebro” da automatização, e<br />

gere a introdução das rotas. Esta pessoa opera<br />

como “torre de controlo” e tem ordem para<br />

alterar uma ordem do armazém, por exemplo,<br />

no caso de um veículo estar atrasado, ou em<br />

caso de avaria. “Imaginemos que está previsto<br />

sair uma rota, que está em automático a sair<br />

de X em X horas. Antes do carro chegar, se<br />

ele souber que o carro está atrasado, ele vai<br />

lá, cancela a ordem e passa para uma hora<br />

diferente”, apontou o responsável, “se ele<br />

for automático, eu faço tudo em automático,<br />

mas se há um atraso, para o sistema isso não<br />

existe”.<br />

Ao lado deste armazém encontram-se vários<br />

AGV a movimentarem-se em linhas cíclicas, e


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

que serão responsáveis pela movimentação<br />

das cargas do armazém. De modo a que<br />

o autómato não tenha de fazer um ciclo<br />

completo para voltar ao ponto, este está<br />

dividido em dois ciclos mais pequenos, tendo<br />

ainda uma zona de “descanso” para o caso de<br />

existirem demasiados a operar na pista.<br />

“Nesta altura de campanha somos capazes<br />

de estar a fazer, em média, 85.000 caixas/<br />

dia de picking, e em pico pode ir às 120.000.<br />

Paletes a sair deve andar na ordem das<br />

3.500/4.000, e entrada a mesma coisa”,<br />

comenta o diretor de inovação e projetos,<br />

apontando que também têm como verificar<br />

essa produtividade através de um sistema<br />

colocado na zona de picking, que no dia da<br />

visita se encontrava nas 235 caixas por hora.<br />

APROVEITAR O ESPAÇO<br />

AO MÁXIMO<br />

“Quando chegamos a um armazém, o espaço<br />

mais nobre, e o mais caro, é o espaço de cais.<br />

Só aproveitamos o chão, não aproveitamos<br />

mais nada”, aponta Vítor Enes. Assim, uma<br />

das formas de beneficiarem do espaço vazio<br />

que se encontrava acima destas áreas, foi<br />

através da criação de uma mezzanine no<br />

centro de Cabanillas del Campo. Neste local<br />

estabeleceram as atividades de co-packing,<br />

onde já se encontravam a preparar a época<br />

natalícia, com o embalamento de edições<br />

especiais de bebidas espirituosas, e com a<br />

junção de ofertas às embalagens, como copos<br />

ou chocolates. “É uma fábrica. É dar mais


14<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

sentido ao armazém”, defende o responsável,<br />

“são pequenos lotes de produção que são<br />

muito difíceis de fazer nas fábricas, e para além<br />

disso estão mais perto do mercado”.<br />

Algo que acontecia com alguns clientes<br />

era que já tinham serviços de co-packing,<br />

mas longe do armazém em que tinham os<br />

produtos. Vítor Enes conta que chegou a ter<br />

um caso em que o cliente tinha o serviço de<br />

co-packing em Madrid, e isso obrigava a uma<br />

grande movimentação de materiais ao longo de<br />

várias centenas de quilómetros, o que não só<br />

dificultava ao nível da organização e localização<br />

da carga, mas também impactava a pegada<br />

ambiental da empresa. “Do ponto de vista do<br />

negócio, faz sentido fazê-lo onde está o stock,<br />

não faz sentido estar a movimentar”, e esse foi<br />

um dos argumentos apresentados ao cliente.<br />

“Nós fazemos tudo no mesmo armazém, e<br />

mostrámos-lhes que era mais vantajoso fazer no<br />

mesmo espaço. Menos ruturas, menos roubos,<br />

não precisam de mandar lotes de produção tão<br />

grandes para ver como reage o mercado, reduz<br />

a pegada ecológica… Se o mercado reage bem,<br />

continuamos a fazer”.<br />

“Também dispomos de serviços de co-packing<br />

para clientes que não estejam aqui, mas<br />

normalmente está associado a clientes com<br />

grandes contas, pois preferem fazer o co-packing<br />

diretamente onde têm os seus produtos”,<br />

acrescenta.<br />

Na mezzanine, os clientes estão separados<br />

entre si, cada um com uma bancada para a sua<br />

operação. Elisabete Simões, Gestora de Logística<br />

Promocional da empresa, conta que “esta<br />

operação estava num armazém, mas quando<br />

arrancou a centralidade estava em duas zonas,<br />

ou dependendo da época em três ou em quatro,<br />

dependendo da necessidade, e de repente o<br />

armazém precisou de espaço para paletes, então<br />

Elisabete Simões, Gestora de Logística Promocional<br />

pensaram num modelo alternativo, através de<br />

uma mezzanine, ocupando espaço que, de outra<br />

forma, não estaria a ser aproveitado”.<br />

O abastecimento é feito através de canais<br />

específicos, e contam com um tapete rolante<br />

ao longo do comprimento da mezzanine para o<br />

transporte de resíduos. “A operação gera muito<br />

cartão, e tirar cartão por palete era uma loucura,<br />

perdíamos muito tempo e era muito ineficaz.<br />

Tinha de ser uma coisa automática. Temos<br />

formas de retirar os resíduos para não misturar<br />

plástico e cartão, quando vai plástico é só<br />

plástico e quando vai cartão é só cartão”, explica<br />

a responsável.<br />

Devido à mudança de mentalidade dos<br />

clientes finais, as empresas começaram a<br />

eliminar a utilização de plásticos nas operações,<br />

e Elisabete Simões nota que se sentiu uma<br />

“desautomatização” quando deixaram de<br />

utilizar esse recurso, mudou toda a forma como<br />

operavam com plástico ao nível dos fornos:<br />

“agora é tudo manual, não pode ser nada por<br />

fornos”.<br />

A pensar na sustentabilidade, adotaram<br />

um sistema de reaproveitamento de cartão


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

no embalamento, para acondicionarem as<br />

garrafas. Uma máquina corta o cartão de forma<br />

a deixá-lo em tiras e a ganhar uma consistência<br />

que amorteça os impactos, surgindo enquanto<br />

solução alternativa ao uso de papel kraft e<br />

plástico nas suas operações: “isto tudo foi<br />

feito na ótica da sustentabilidade. Em vez de<br />

estarmos a usar papel kraft ou plástico para<br />

acondicionar o produto quando embalamos uma<br />

caixa, o que fizemos foi comprar uma máquina<br />

que transforma as próprias caixas que chegam e<br />

que seriam para deitar fora”, aponta.<br />

A responsável nota ainda que também<br />

dispõem de serviço de desenvolvimento das<br />

caixas dos produtos, e sente que “por vezes<br />

o marketing sabe o que é vendável, mas não<br />

sabe o que é paletizável e transportável”. A<br />

responsável conta que por vezes acontece, por<br />

exemplo, em grandes multinacionais que contam<br />

com uma central de compras para os mais<br />

diversos produtos, ao não terem conhecimento<br />

de um em específico compram cartão que não<br />

é adequado, ou com uma aba mais larga, etc.,<br />

e quando chega ao momento de co-packing<br />

deparam-se com o problema. Também neste<br />

sentido, utilizam tintas à base de água, sem<br />

qualquer tipo de solvente, de modo a reduzir o<br />

impacto ecológico. “Quando compramos algo<br />

no supermercado, tudo o que está por detrás é<br />

impensável”, comenta Elisabete Simões.<br />

“Também tratamos dos materiais dos<br />

pontos de venda dos nossos clientes, como as<br />

esplanadas, cadeiras, mesas, pedras… tudo”,<br />

acrescenta Vítor Enes. “Lembro-me que com<br />

o nosso primeiro grande cliente, começámos<br />

por ter mais negócio aqui em Espanha e depois<br />

até exportámos para Portugal”. Em 2003/2004<br />

juntaram todo o material da marca, porque<br />

“andava perdido” em vários pontos, e reuniram-<br />

-no num armazém, e quando os diretores<br />

da empresa viram essa organização ficaram<br />

surpreendidos, pois estavam todos habituados<br />

a que o material andasse por todo o país.<br />

O diretor-geral recorda ainda uma situação<br />

em que questionaram o cliente sobre o<br />

paradeiro dos artigos promocionais, e lhe<br />

disseram que estavam espalhados por<br />

garagens, carros dos vendedores, etc., e que<br />

lhe perguntou quantas paletes eram. “Cerca<br />

de 200, responderam, mas quando juntámos<br />

tudo eram 2.000”, e destaca a importância<br />

deste tipo de serviços e como também foi<br />

diferenciador e conseguiu agregar valor à<br />

operação.<br />

“A logística multicliente é muito isto: juntar<br />

massas críticas, que evidentemente sejam<br />

*compatíveis, e que vão para o mesmo ponto<br />

de entrega”, conclui Vítor Enes. •<br />

O jornalista viajou a convite da Luís Simões.


16<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Texto: Fábio Santos<br />

MAIS VALE<br />

PREVENIR DO<br />

QUE REMEDIAR<br />

Todos os dias vemos as mais<br />

diversas ocorrências, daquelas<br />

que pensamos que “só acontecem<br />

aos outros”. Casos de incêndios<br />

ou inundações, carga danificada<br />

e produtos que não chegaram<br />

ao destino… Quando lidamos<br />

com carga alheia também temos<br />

um termo de responsabilidade<br />

nas nossas mãos, e é importante<br />

estarmos “seguros disso”.<br />

Seguros na supply chain


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

Da mesma maneira que é importante arriscar,<br />

é necessário fazê-lo com consciência e<br />

segurança. A inflação está a agravar as<br />

tendências e os casos de sinistros ao longo da<br />

supply chain, afetando as empresas de diversas<br />

formas. Através da aquisição de seguros, as<br />

empresas conseguem ter uma salvaguarda para<br />

os seus bens e para os que gerem, manipulam<br />

ou transportam por terceiros, mas as constantes<br />

oscilações de preços tornam a situação um<br />

pouco mais complicada para ambos os lados.<br />

Face a todos estes problemas de gestão<br />

de risco, procurámos alguns players do setor<br />

que nos pudessem ajudar a compreender a<br />

necessidade e a importância de as empresas<br />

estarem seguras.<br />

SINISTRALIDADE NO MARÍTIMO<br />

No caso do setor marítimo, uma análise da<br />

Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS)<br />

a mais de 240.000 sinistros, ocorridos entre<br />

janeiro de 2017 e dezembro de 2021, e com um<br />

valor total de cerca de 9,2 mil milhões de euros,<br />

aponta que as principais causas de perdas<br />

de seguro marítimo, por valor, são incêndios,<br />

colisão, naufrágio e carga danificada. Para além<br />

dos custos associados à carga, as reparações<br />

do setor naval também estão a ser impactadas<br />

pela inflação, associadas ao aumento dos<br />

preços do aço e das peças de reposição, bem<br />

como os custos de mão de obra.<br />

“O número de incêndios a bordo de grandes<br />

embarcações aumentou significativamente<br />

nos últimos anos, com uma série de incidentes<br />

envolvendo carga, que podem facilmente levar<br />

à perda total de uma embarcação ou a danos<br />

ambientais”, apontou Régis Broudin, diretor<br />

global de Sinistros Marítimos da AGCS.<br />

Problemas nas cadeias de abastecimento,<br />

como a inflação, deslocações mais demoradas<br />

de tripulações para o mar, perdas e danos<br />

crescentes, implementação de novas<br />

tecnologias e combustíveis de baixo carbono, e<br />

mesmo a invasão russa da Ucrânia, continuam a<br />

impactar os sinistros, assim como as alterações<br />

climáticas, com eventos extremos e novas<br />

exposições ligadas à transição zero carbono.<br />

Segundo aponta a mesma análise, ao nível da<br />

frequência dos sinistros de seguros marítimos,<br />

a principal causa são os danos na mercadoria,<br />

sendo também a terceira maior em valor. Os<br />

mais comuns são danos físicos, normalmente<br />

causados pelo manuseamento, armazenagem<br />

e embalagem inadequados, existindo ainda<br />

casos em que a variação de temperatura afetou<br />

a carga, com especial impacto nos produtos<br />

farmacêuticos.<br />

Por outro lado, nos últimos anos também<br />

foram apontados alguns roubos de alto valor,<br />

tornando-se a terceira causa mais frequente,<br />

registados em grande parte nos produtos<br />

eletrónicos de consumo e mercadorias de<br />

alto valor, como é o caso do cobre. A carga é<br />

normalmente roubada de portos, armazéns<br />

ou mesmo durante o trânsito. O recente boom<br />

no transporte de contentores também afetou<br />

os sinistros de carga, atingindo uma escassez<br />

global. Isto resultou em que contentores abaixo<br />

das normas e danificados fossem colocados<br />

novamente a circular, resultando em perdas.


18<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

No seguimento desta análise, a AGCS<br />

identificou algumas tendências de risco que<br />

provavelmente terão impacto na atividade de<br />

perda no setor marítimo:<br />

• As fontes de disrupção continuam a<br />

aumentar: não só incidentes marítimos,<br />

catástrofes naturais ou ciberataques,<br />

mas também limitações ao nível dos<br />

contentores, congestionamento ou mão de<br />

obra, as causas de risco são cada vez mais,<br />

e mais diversas;<br />

• As pressões comerciais já são um fator<br />

que contribui para muitas perdas:<br />

habitualmente resultado de más decisões,<br />

outra situação apontada foi a pressão<br />

feita pelo mercado sobre os navios e a<br />

tripulação, levando a que alguns players<br />

se sintam tentados a ignorar algumas<br />

questões, podendo resultar em perdas;<br />

• As mudanças climáticas estão a afetar<br />

cada vez mais os sinistros marítimos: as<br />

catástrofes naturais são a quinta maior<br />

causa de sinistros marítimos, ao nível de<br />

frequência e gravidade. Só em 2021, o<br />

clima extremo foi a causa de, pelo menos,<br />

25% das 54 perdas totais de embarcações;<br />

• É necessária uma abordagem mais<br />

sustentável e mais verde no setor marítimo,<br />

mas ela vem com riscos: o setor marítimo<br />

é um dos principais contribuintes para as<br />

emissões atmosféricas globais, e estão a<br />

ser estudadas diversas alternativas para<br />

descarbonizar o setor;<br />

• Impacto da invasão da Rússia na Ucrânia:<br />

com o conflito armado, a indústria naval<br />

perdeu vidas e navios no Mar Negro, houve<br />

navios presos em portos ucranianos, para<br />

além do acréscimo das sanções. A AGCS<br />

aponta que, embora os relatórios não<br />

sejam claros quanto ao valor total das<br />

embarcações que ficaram presas na zona<br />

de conflito, estimam que poderia atingir os<br />

mil milhões de dólares. Adicionalmente,<br />

a seguradora aponta que uma parte<br />

segurada, ao nível das apólices de casco e<br />

carga marítima, poderiam ser capazes de<br />

reclamar uma perda total após um tempo<br />

específico, desde que a embarcação/carga<br />

tenha ficado bloqueada ou presa.<br />

GESTÃO DE RISCOS CONSCIENTE<br />

Por parte da Allianz Global Corporate &<br />

Specialty Ibero/Latam, Daniel Sanches, regional<br />

head of Marine, explica que “no setor logístico,<br />

a contratação de seguros tornou-se um fator<br />

de extrema importância, especialmente<br />

na estratégia da gestão de risco quando se<br />

trata da compra e venda de mercadorias”,<br />

independentemente de ser em viagens<br />

internacionais ou dentro do país, no transporte<br />

de mercadorias entre fábricas, portos,<br />

armazéns, distribuidores e pontos de retalho. “O<br />

seguro de transporte é uma garantia / proteção<br />

em caso de imprevistos”, defende.<br />

O responsável aponta que, numa logística<br />

estruturada, o seguro é contratado para todas<br />

as viagens e operações, mas “há empresas que<br />

optam por contratá-lo especificamente para<br />

alguma operação de maior exposição / riscos,<br />

dependendo da sua estratégia de gestão de<br />

risco”.<br />

O processo é feito por intermédio de um<br />

corretor de seguros, especializado e habilitado<br />

para entender as necessidades de cada tipo de<br />

indústria, e assim negociar com a seguradora<br />

o contrato que melhor se adequa às suas


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Atualmente, para além das tradicionais<br />

preocupações com os patrimónios, bens e<br />

responsabilidade civil, algumas das maiores<br />

preocupações sentidas pelas empresas são os<br />

aspetos ambientais, as catástrofes naturais e<br />

os riscos cibernéticos. “Uma empresa que não<br />

faz a gestão desses riscos está fora do conceito<br />

global atual”, conclui Daniel Sanches.<br />

Daniel Sanches, regional head of Marine<br />

operações, estando também encarregue de<br />

realizar uma análise prévia das principais<br />

exposições e riscos de contratação do seguro,<br />

como cargas, pessoas, responsabilidade civil,<br />

cibernéticos, ambientais, entre outros. Ao nível<br />

da sua obrigatoriedade, esta está dependente<br />

da legislação de cada país, e Daniel Sanches<br />

explica que “atualmente todos os players<br />

do setor que fazem uma gestão de risco<br />

consciente, não atuam sem seguro”.<br />

“Nas exportações o seguro é imprescindível”,<br />

defende, “os contratos de compra e venda<br />

definem a responsabilidade de contratação,<br />

e um eventual imprevisto que não possua a<br />

garantia de seguro, poderá ocasionar o fecho<br />

da indústria, dependendo do montante da<br />

perda”.<br />

Ao nível dos seguros de bens, a inflação<br />

reflete-se no ajuste regular das quantias<br />

seguradas, “sendo necessário garantir a<br />

proteção adequada e ajustar automaticamente<br />

a base de cálculo do prémio”, como tem sido<br />

o caso do conflito na Ucrânia, impactando<br />

o mundo todo em termos económicos e<br />

logísticos.<br />

REDUZIR RISCO E INCERTEZA<br />

A corretora de seguros F.REGO dá uma<br />

contextualização histórica dos serviços de<br />

seguros, nas palavras de Pedro Rego, CEO<br />

da empresa portuguesa: “a sua génese está<br />

curiosamente relacionada com a garantia dos<br />

transportes de mercadorias no século XIII,<br />

quando surgiram os contratos de mercadores<br />

italianos ligados ao comércio marítimo para se<br />

protegerem de naufrágios, pirataria e roubos.<br />

Em Portugal, no final do mesmo século, o rei D.<br />

Dinis ordenava aos mercadores que criassem<br />

um fundo de proteção às vítimas de perdas de<br />

navios e/ou produtos”, explica.<br />

A intervenção da corretagem de seguros<br />

tem início logo no começo do processo, como<br />

explicava anteriormente Daniel Sanches,<br />

através da análise das necessidades e riscos<br />

de cada cliente, para “de forma customizada<br />

encontrar as melhores soluções no mercado<br />

para transferência do risco”. Depois existe todo<br />

o acompanhamento dos processos, “sendo parte<br />

de toda a vida dos contratos, assegurando a sua<br />

gestão administrativa, a gestão dos sinistros,<br />

bem como o acompanhamento permanente<br />

e próximo da vida dos seus clientes”, explica<br />

Pedro Rego. “O propósito da nossa oferta<br />

é após a realização de um mapeamento de<br />

risco, identificar a gravidade de cada um e<br />

em consequência desenhar e apresentar um<br />

programa de seguros global que assegure que<br />

nenhuma área seja deixada ao acaso”.


20<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Pedro Rego, CEO F.REGO<br />

O CEO defende que “o setor segurador é de<br />

vital importância para qualquer mercado ou<br />

atividade”, trazendo previsibilidade, reduzindo<br />

risco e incerteza e levando os agentes<br />

económicos a assumir riscos, a base de qualquer<br />

economia, e que “caso esta ferramenta de<br />

gestão e transferência de risco não existisse,<br />

naturalmente que a atividade económica seria<br />

muito condicionada”. Neste sentido, considera<br />

que tanto as seguradoras, - através da assunção<br />

dos riscos -, quanto as corretoras, - através da<br />

consultoria de gestão de risco e distribuição<br />

-, “assumem uma grande importância para<br />

permitir o normal funcionamento de uma<br />

atividade que pela sua natureza incorpora<br />

muitos riscos”, indo desde a garantia de danos<br />

materiais a responsabilidades.<br />

Os seguros podem ser os mais variados,<br />

existindo desde os obrigatórios, como os de<br />

Acidentes de Trabalho, Responsabilidade<br />

Civil Automóvel e Responsabilidade Civil<br />

Profissional, até aos seguros para danos<br />

patrimoniais, transportes de mercadorias e para<br />

pessoas”. No caso destes últimos, Pedro Rego<br />

comenta são cada vez mais procurados para<br />

atribuição de benefícios extraordinários aos<br />

seus colaboradores, onde se inserem os seguros<br />

de vida, saúde e pensões, além dos planos de<br />

benefícios flexíveis.<br />

O CEO da F.REGO destaca ainda a<br />

importância do setor segurador, pois para<br />

além da sua atuação direta ao nível da criação<br />

de emprego e de investimento institucional,<br />

também devolve anualmente valores bastante<br />

elevados (cerca de 3,4 mil milhões de euros<br />

na área não em vida em 2021) à economia e à<br />

sociedade.<br />

Ao nível dos riscos que o setor enfrenta,<br />

Pedro Rego considera que “a atividade<br />

económica impacta diretamente com o setor<br />

segurador, que embora demonstre extrema<br />

resiliência, não deixa de ser afetado pelos<br />

reflexos que contextos de recessão ou de<br />

elevada inflação provocam”, e se nesta área os<br />

impactos são ao nível do aumento do risco de<br />

incumprimento, nas restantes são ao nível do<br />

aumento de custos, causado pela inflação, e<br />

o impacto na situação financeira da empresa,<br />

na sua disponibilidade para adquirir seguros, a<br />

variação dos capitais, etc.<br />

“Diria que os efeitos das alterações<br />

climáticas, por exemplo, se revelam<br />

substancialmente mais duradouros e<br />

devastadores sobre a atividade seguradora,<br />

tornando o equilíbrio técnico da mesma cada<br />

vez mais incerto e difícil face ao aumento<br />

exponencial de danos sofridos e seguros<br />

verificado todos os anos”, explica ainda.<br />

Para além destes, conflitos armados, como<br />

o recente caso da guerra na Ucrânia, “além<br />

do devastador impacto social que acarreta,<br />

com milhões de refugiados e milhares de<br />

vítimas, e embora seja uma exclusão genérica<br />

de qualquer apólice de seguro, provoca<br />

também danos materiais diretos e indiretos<br />

objeto de seguro que são indemnizados (como


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

exemplos mais conhecidos, os aviões retidos<br />

pelas companhias aéreas russas pertencentes<br />

a empresas ocidentais, a disrupção dos<br />

transportes no Mar Negro e no mercado de<br />

cereais), tendo a S&P estimado um impacto<br />

de 36 mil milhões de dólares para a indústria<br />

seguradora mundial”.<br />

FACULTATIVO, MAS ALTAMENTE<br />

ACONSELHÁVEL<br />

Ana Camacho Soares, do departamento jurídico<br />

da Associação dos Transitários de Portugal<br />

(APAT), começa por apontar que no transporte<br />

internacional de mercadorias, para quase todo<br />

o tipo de carga, existe sempre a velha máxima<br />

de que “não há comércio internacional sem<br />

transporte”.<br />

Ana Camacho Soares, departamento jurídico APAT<br />

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22<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

“Uma compra e venda internacional de<br />

mercadorias típica envolve, assim, a deslocação<br />

física de mercadorias do ponto A para o ponto<br />

B, na maior parte dos casos, através do recurso<br />

a um transitário, que constrói a melhor solução<br />

de transporte e, para além disso, trata de<br />

todas as formalidades associadas”, comenta<br />

a responsável. Associado a este transporte,<br />

existe sempre o risco de danos, ou até mesmo<br />

a perda da mercadoria, sendo aqui que entra<br />

o seguro de carga: “o seguro de carga assume<br />

maior importância ainda se tivermos em conta a<br />

responsabilidade limitada do transportador”.<br />

A responsável aponta que ao abrigo das<br />

convenções internacionais, responsáveis<br />

pela regulação do transporte internacional<br />

de mercadorias, a indemnização devida pelo<br />

transportador, quando necessária, está limitada<br />

em valores máximos. No caso do transporte<br />

marítimo, este limite está estipulado em<br />

498,80€ por unidade ou volume, conforme<br />

descrito no conhecimento de embarque. Por<br />

sua vez, no transporte rodoviário internacional<br />

este limite é de 8,33 DSE (unidade de câmbio<br />

utilizada) por quilograma de peso bruto em falta<br />

ou avariado (€10,50, cotação de 11-11-2021) e<br />

no transporte aéreo a 17 ou 22 DSE, consoante<br />

seja aplicável a Convenção de Varsóvia ou a<br />

Convenção de Montreal (€21,59 ou €27,97,<br />

cotação de 11-11-2021).<br />

“Face a estes limites, bom é de ver que a<br />

indemnização devida pelo transportador pode<br />

não ser suficiente para ressarcir a totalidade<br />

do valor da mercadoria danificada ou em<br />

falta, especialmente se estivermos a falar<br />

de mercadorias mais leves e de maior valor”,<br />

comenta Ana Camacho Soares. Segundo explica,<br />

“mesmo quando o transporte seja organizado<br />

por um transitário, nos termos do disposto no<br />

artigo 15.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 255/99, de<br />

7 de julho, a responsabilidade do transitário<br />

está sujeita aos limites estabelecidos, por lei ou<br />

convenção, para o transportador a quem seja<br />

confiada a execução material do transporte”.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

Apesar de se tratar de um seguro<br />

facultativo, a responsável da APAT defende<br />

que é “altamente aconselhável face à<br />

responsabilidade limitada do transportador<br />

e do transitário”. Dependendo do que esteja<br />

contratualizado, o vendedor pode estar<br />

obrigado a contratar um seguro de carga<br />

e a pagar o respetivo prémio, que é o que<br />

ocorre sempre que são escolhidas as regras<br />

Incoterms® CIP e CIF. “No nosso mercado<br />

encontra-se aprovada pela autoridade<br />

portuguesa de seguros, com carácter uniforme,<br />

a versão das quatro cláusulas mais utilizadas<br />

aprovadas pelo denominado “Institute Cargo<br />

Clauses” e que são identificadas por Cláusula<br />

A, B, C e ainda a Cláusula de Riscos de Guerra”,<br />

explica a responsável jurídica.<br />

“Relativamente ao seguro de carga, o<br />

mercado segurador oferece dois tipos de<br />

apólices: são as chamadas ‘apólices fixas<br />

ou avulsas’ normalmente para uma única<br />

operação de transporte e as ‘apólices abertas<br />

ou flutuantes’ para operadores que efetuam<br />

expedições frequentes”. Nestas últimas,<br />

aponta que muitos operadores de transporte,<br />

nomeadamente transitários, contam com<br />

esta solução para oferecer aos seus clientes a<br />

possibilidade de efetuarem diariamente com<br />

eles o seguro das suas mercadorias durante o<br />

transporte.<br />

“A forma mais comum para o seguro do<br />

transporte de mercadorias é a apólice aberta<br />

ou flutuante, cuja finalidade é a de proporcionar<br />

ao segurado uma maior facilidade e rapidez na<br />

emissão dos certificados de seguro”, defende a<br />

responsável.<br />

Para além disso, destaca a importância do<br />

seguro de responsabilidade civil das empresas<br />

transitárias, e que é de carácter obrigatório<br />

para o acesso à atividade, segundo o Decreto-<br />

-Lei n.º 255/99, de 7 de julho. “Trata-se de<br />

António Belmar da Costa, diretor-executivo da AGEPOR<br />

um seguro obrigatório nos termos da lei e<br />

que constitui uma garantia para os clientes<br />

em caso de incumprimento contratual quer<br />

por parte do transitário, quer por parte dos<br />

transportadores subcontratados por aquele.<br />

O cliente que recorra a um transitário sabe<br />

que este tem obrigatoriamente um seguro de<br />

responsabilidade civil”, conclui Ana Camacho<br />

Soares, apontando que, no entanto, esta não se<br />

aplica a todos os elos da cadeia, como é o caso<br />

do transporte rodoviário de mercadorias.<br />

MINORAR OS RISCOS PARA NÃO<br />

FICAR ‘PENDURADO’<br />

“O povo diz que ‘o seguro morreu de velho’, e no<br />

fundo a importância que ele pode ter resume-se<br />

nessa frase”, afirma António Belmar da Costa,<br />

diretor-executivo da AGEPOR - Associação dos<br />

Agentes de Navegação de Portugal. Segundo<br />

conta, o recurso ao seguro das cargas como<br />

forma de minorar um risco sempre foi uma<br />

recomendação dos agentes de navegação e<br />

transitários para os seus clientes (importadores<br />

e exportadores), independentemente do


24<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

contexto económico vivido, cobrindo quaisquer<br />

riscos e eventualidades “que podem acontecer<br />

durante ‘o caminho’ ”.<br />

“Se formos precavidos a minorar os riscos das<br />

nossas cargas recorrendo a seguros. poderemos<br />

até gastar um pouco mais (insignificante face ao<br />

valor da mercadoria) mas temos a certeza que,<br />

se algo correr mal, não vamos ficar ‘pendurados’ ”,<br />

comenta ainda o responsável.<br />

António Belmar da Costa destaca o papel<br />

feito tanto pela AGEPOR como pela APAT<br />

junto dos exportadores e importadores, no<br />

que toca aos seguros das suas cargas, no<br />

sentido de alertar para o uso de seguros<br />

enquanto salvaguarda, “infelizmente e sempre<br />

que acontece um acidente (felizmente um<br />

acontecimento muito raro) com um navio de<br />

carga constata-se que uma parte significativa<br />

das mercadorias que estão/estavam a bordo<br />

não estavam cobertas com um seguro em<br />

condições”, explica o diretor-executivo, e<br />

“chega a ser confrangedor perceber que com<br />

um custo quase insignificante se poderia ter<br />

evitado tanta perda e prejuízos materiais,<br />

mas a verdade é que ainda há carregadores e<br />

recebedores que preferem ‘poupar’ no custo<br />

de um seguro arriscando perder tudo se algo<br />

correr mal”.<br />

“É também aconselhável aos mais incautos<br />

documentarem-se sobre todas as consequências<br />

solidárias que enfrentam sempre e quando<br />

existe um problema grave com um navio já que,<br />

nessas condições, toda a carga é solidária nos<br />

prejuízos totais e um seguro bem feito pode<br />

obviar muitos dissabores”, recomenda.<br />

Hoje, tanto os agentes de navegação como os<br />

transitários têm pacotes normalizados e simples,<br />

que fazem ou não parte da oferta global de<br />

transporte para os seus clientes (dependendo<br />

da vontade de quem contrata o transporte),<br />

à semelhança do que acontece quando ao<br />

comprar um bilhete de avião existe a opção de<br />

adquirir também um seguro.<br />

Ao nível de situações excecionais, como<br />

os casos do navio da Evergreen ou do<br />

congestionamento no acesso ao porto de<br />

Xangai, que tiveram repercussões globais,<br />

António Belmar da Costa aponta que “sempre<br />

que acontecem situações deste tipo é normal<br />

que surjam no mercado novas apólices de<br />

cobertura de seguros que procurem incluir<br />

os riscos decorrentes dessas situações”, mas<br />

destaca que “como em todos os contratos é<br />

preciso estar muito atento para as exclusões<br />

e casos de força maior, etc., que podem iludir<br />

quem contrata apólices de seguro e julga poder<br />

estar totalmente descansado”, destaca.<br />

Num ponto todos estão de acordo: segurar<br />

é mitigar o risco. Tal como os profissionais<br />

que auscultámos apontaram, por vezes limitar<br />

ligeiramente as margens de lucro pode ser uma<br />

garantia de que realmente ele irá existir, e com<br />

a responsabilidade acrescida de transportar<br />

carga que não nos pertence, existir um fator de<br />

“desculpabilização” pelo meio é um alívio para<br />

qualquer empresa. •


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26<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Benchmarking<br />

Supply Chain<br />

Texto: Fábio Santos<br />

CUMPRIMENTO E QUALIDADE<br />

DAS ENTREGAS TÊM MARGEM<br />

DE MELHORIA<br />

O retalho foi uma das áreas bastante afetadas pela<br />

disrupção que se tem sentido nos últimos anos. De<br />

acordo com a Informa D&B, nos primeiros 10 meses<br />

do ano o setor retalhista apresentou uma quebra de<br />

10% na criação de novas empresas, e um aumento de<br />

7,7% nos encerramentos (1.550 encerramentos). Por<br />

sua vez, os fornecedores necessitam de um maior<br />

nível de digitalização, controlo e coordenação com<br />

os retalhistas. Posto isto, a questão é apenas uma:<br />

Quais são as preocupações dos retalhistas e dos<br />

fornecedores atualmente?


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

A<br />

GS1 Portugal lançou a 10ª edição do seu<br />

estudo Benchmarking Supply Chain <strong>2022</strong>,<br />

que tem como propósito analisar o mercado<br />

e identificar oportunidades de melhoria<br />

nas cadeias de abastecimento nacionais.<br />

Esta edição contou com a presença de 10<br />

retalhistas e 34 fornecedores que operam em<br />

território nacional, e contemplou, pela primeira<br />

vez, análises separadas a cinco categorias<br />

diferentes: mercearia, lácteos e refrigerados,<br />

bebidas, higiene e beleza e congelados. As<br />

entregas são o tema central do estudo em<br />

<strong>2022</strong>, tanto para os retalhistas como para os<br />

fornecedores.<br />

“Começámos a estruturar a análise dos<br />

dados pelas diferentes categorias para que<br />

seja possível à concorrência direta focar-se nas<br />

especificidades da sua atuação. No entanto,<br />

relembramos que o objetivo primordial deste<br />

projeto é ser uma ferramenta de trabalho<br />

que analisa o mercado como um todo, tendo<br />

temas cuja comparação é realizada entre todos<br />

os fornecedores, não olhando à categoria<br />

(reuniões periódicas, alinhamento das bases<br />

de dados, etc.”, contextualizou a empresa no<br />

estudo.<br />

A nível geral, o estudo destacou a importância<br />

do cumprimento dos pedidos e das entregas,<br />

algo que também já se tinha verificado no<br />

estudo anterior, referindo que “o bom estado<br />

do produto e dentro das validades acordadas<br />

são temas que mantém importância crucial”.<br />

Porém, notaram-se também algumas diferenças<br />

para com a edição passada, como a diminuição<br />

da importância dos temas de faturação, sendo<br />

substituída pelo formato, tamanho e qualidade<br />

do suporte da mercadoria. Neste estudo<br />

destacou-se ainda o surgimento no 2º lugar dos<br />

erros de quantidades nas entregas.<br />

Ao nível das prioridades, os retalhistas<br />

inquiridos apontaram como principais temas:<br />

• Entrega - Cumprimento dos prazos e dias<br />

de entrega e eficiências das entregas em<br />

períodos especiais;<br />

• Qualidade - Artigos dentro dos prazos de<br />

validade e com temperatura adequada;<br />

• Pedido - Erros de quantidades e<br />

referências no dia a dia e em promoção;<br />

• Receção - Qualidade das caixas e<br />

paletes, a respetiva configuração e se<br />

é acompanhada com a documentação<br />

necessária.<br />

Por sua vez, os fornecedores destacaram:<br />

• Entrega - Processo de descarga ágil,<br />

tempos de espera na descarga e<br />

possibilidade de acordos de coordenação<br />

horária;<br />

• Comunicação - Construção de relações<br />

sólidas nos departamentos de logística<br />

e supply chain e partilha de informação<br />

sobre disponibilidade do produto e<br />

promoções;<br />

• Alinhamento - Unidade de encomenda<br />

adequada, atualização e alinhamento de<br />

bases de dados e utilização de mensagens<br />

EDI;<br />

• Gestão Administrativa - Registo e partilha<br />

dos incidentes nas notas de entrega e<br />

processamento de faturação ágil.


28<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

IDENTIFICAR O PROBLEMA<br />

João de Castro Guimarães, diretor-executivo<br />

da GS1 Portugal, explica que a associação<br />

vê este projeto como uma ferramenta<br />

de trabalho que ajuda as empresas a<br />

alavancarem as suas competências e a serem<br />

mais eficientes. “Através da identificação das<br />

prioridades, pontos fortes e oportunidades<br />

de melhoria, o Benchmarking Supply Chain<br />

proporciona o detalhe necessário para que<br />

as empresas – fornecedores e retalhistas –<br />

trabalhem sobre as temáticas discutidas e<br />

sejam mais competitivas no mercado onde se<br />

inserem”, contextualizou o responsável.<br />

O estudo começou na GS1 Espanha<br />

(AECOC), em 2009, e quatro anos depois foi<br />

apresentado ao mercado português, com<br />

adesão imediata. O diretor-executivo explica<br />

que, através da recolha de informação<br />

quantitativa e qualitativa, o estudo “dá a<br />

conhecer o posicionamento da empresa aos<br />

olhos dos seus parceiros de negócio e em<br />

comparação com a concorrência”.<br />

“O Benchmarking Supply Chain foca-se na<br />

análise da performance da gestão da cadeia<br />

de abastecimento. Por um lado, analisam-<br />

-se os temas mais operacionais ao nível<br />

das entregas centralizadas (entrepostos) e<br />

loja-a-loja, sempre que aplicável. Nesta área<br />

incluem-se questões de nível de serviço,<br />

cumprimento dos prazos de validade,<br />

execução das entregas nos dias e prazos<br />

acordados e o correto acondicionamento da<br />

mercadoria à receção”, explica o responsável.<br />

“Por outro lado, analisam-se temas mais<br />

estruturais como problemas de faturação, o<br />

alinhamento dos dados mestre, a utilização<br />

de mensagens EDI e etiqueta logística, a<br />

capacidade de reação e a solidez da relação<br />

colaborativa”, acrescenta.<br />

João de Castro Guimarães, diretor-executivo da GS1 Portugal<br />

Ao nível da qualidade dos dados, defende<br />

que para além de comentários específicos<br />

para cada empresa participante, “possibilita<br />

o acesso às tendências do setor, através de<br />

um capítulo onde os diferentes retalhistas<br />

partilham as suas estratégias a curto e médio<br />

prazo”. Ao mesmo tempo, permite o acesso<br />

aos temas mais relevantes indicados pelo<br />

próprio setor, através da identificação das<br />

prioridades apontadas.<br />

“Ao ter uma periodicidade anual e ter como<br />

desafio a constante adaptação ao contexto<br />

onde se insere, tem vindo a ser utilizado como<br />

um instrumento de monitorização do negócio<br />

para quem nele participa”, explica João de<br />

Castro Guimarães.<br />

Olhando para os resultados, destaca que<br />

“os fornecedores mostram avaliações médias<br />

mais altas nos temas mais prioritários. É<br />

importante destacar que os temas relativos ao<br />

acondicionamento da mercadoria, qualidade<br />

das caixas e estado das paletes foram os<br />

temas que mais subiram de importância em<br />

comparação com o ano anterior e são os temas<br />

em média menos bem pontuados”, e considera,


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

numa perspetiva geral, que os retalhistas dão<br />

avaliações mais altas aos fornecedores que<br />

o inverso. Nos últimos 10 anos de estudo, a<br />

avaliação média dos fornecedores tem vindo<br />

a ser mais elevada, indicando uma melhoria<br />

geral dos temas relevantes para a operação<br />

com os retalhistas.<br />

Para a atribuição das classificações, é feita<br />

uma avaliação bidirecional entre retalhista e<br />

fornecedor. “A base desta avaliação assenta<br />

na definição das prioridades de cada lado<br />

da cadeia e posteriormente a atribuição<br />

de cada parceiro”, comenta o responsável.<br />

Depois, são geradas médias de avaliação<br />

ponderadas pela importância, face às<br />

prioridades definidas, garantindo que os temas<br />

mais relevantes têm um maior impacto na<br />

definição do posicionamento das empresas<br />

participantes. “Nos relatórios os resultados<br />

deste projeto são transpostos em rankings<br />

para gerar competitividade e para que os<br />

participantes trabalhem na eficiência da sua<br />

logística e operações, não perdendo o foco nas<br />

prioridades dos seus parceiros”.<br />

“Observávamos algumas oscilações nas<br />

importâncias já desde os resultados do<br />

estudo do ano anterior, muito impactado pelo<br />

período pandémico e escassez de algumas<br />

matérias-primas e materiais. Vimos a alteração<br />

das importâncias e o foco na colaboração<br />

e capacidade de reação”, nota. “Não<br />

antecipámos que as prioridades se focassem<br />

exclusivamente nos temas mais operacionais<br />

e de base, para garantir que existe produto na<br />

prateleira. Os temas que focam o contacto do<br />

dia-a-dia, e a colaboração com o fornecedor<br />

passaram para segundo plano dando lugar<br />

ao ter o produto em boas condições, na<br />

quantidade e no dia certo”.<br />

Nos próximos estudos, João de Castro<br />

Guimarães antecipa que temas como o<br />

cumprimento dos pedidos e entregas seja<br />

sempre dos temas prioritários para o retalho,<br />

por estar na base da garantia da atividade.<br />

“Quando já se atingir um nível de maturidade e<br />

eficiência nesta ordem, fará sentido uma maior<br />

aposta em desmaterialização dos documentos,<br />

em processos mais automatizados, na garantia<br />

de processos ‘mais verdes’, entre outros”,<br />

comenta o responsável, passando a dar<br />

prioridade às novas ferramentas de eficiência<br />

nas cadeias de abastecimento.<br />

Face a estes desafios, a GS1 Portugal<br />

continua a apostar na oferta de serviços<br />

para ajudar as empresas a superar estas<br />

dificuldades ao longo da cadeia de<br />

abastecimentos, e aponta que o Benchmarking<br />

Supply Chain é ‘a ponta do iceberg’, “um<br />

instrumento de diagnóstico que pode e<br />

deve ser um primeiro passo no caminho da<br />

otimização da eficiência”.<br />

COMPREENDER A EVOLUÇÃO E<br />

DEFINIR UM FOCO<br />

Por parte da Delta, a primeira classificada<br />

ao nível dos fornecedores, considera que a<br />

participação no estudo de Benchmarking<br />

Supply Chain os tem ajudado, ao longo dos<br />

anos, a compreender a evolução do setor e<br />

quais as áreas em que os clientes esperam<br />

que eles se foquem melhor. “Tem também um<br />

papel importante de compilação de feedback<br />

dos nossos clientes, que de uma forma<br />

construtiva e independente nos avaliam nas<br />

diversas áreas, em comparação com outros<br />

fornecedores no mercado”, considera João<br />

Nunes, diretor industrial da empresa.<br />

Sobre os insights que retira do estudo,<br />

o responsável destaca desde logo as<br />

tendências de evolução da logística da grande<br />

distribuição, e numa análise mais detalhada,


30<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

João Nunes, Delta<br />

o feedback dos clientes e a análise da<br />

concorrência a fazer face aos desafios que a<br />

logística coloca, e a sua capacidade de superar<br />

desafios comuns. “Indiscutivelmente uma<br />

ferramenta importante”, acrescenta.<br />

João Nunes considera que esta análise<br />

permite à Delta compreender as diversas<br />

áreas, comparadas entre os diferentes setores<br />

de atividade, e mostrando como a organização<br />

da Delta está a ser percecionada pelos seus<br />

clientes, face aos seus concorrentes.<br />

“Tratar a logística de forma genérica e de<br />

forma demasiado rígida ou standardizada<br />

já não é suficiente”, comenta o responsável,<br />

considerando ser necessário evoluir e mudar<br />

a proximidade ao cliente e o tratamento<br />

particularizado. “Ter a capacidade de<br />

demonstrar flexibilidade e rapidez de<br />

adaptação só é possível estando próximo de<br />

cada cliente. É sem dúvida fundamental para<br />

prestar um serviço cada vez melhor e mais<br />

reconhecido”, aponta ainda.<br />

O diretor industrial nota que este estudo<br />

“constitui a base de partida para o nosso<br />

plano estratégico de melhoria na logística”,<br />

e ao longo dos anos tem ajudado para essa<br />

elaboração. “Num período com tantos desafios<br />

e imprevisibilidade, os recursos são escassos<br />

e têm de ser utilizados de forma otimizada,<br />

ter uma estratégia focada no que realmente<br />

é prioritário é fundamental e será, no final,<br />

o que pode definir o nosso nível de sucesso”,<br />

conclui João Nunes.<br />

UMA VISÃO MAIS ABRANGENTE<br />

DO QUE É VALORIZADO<br />

Carlos Gonçalves, logistics manager da Gallo<br />

Worldwide, considera importante participar<br />

no Benchmarking Supply Chain porque lhes<br />

permite “ter uma visão mais abrangente<br />

do que é valorizado pelos nossos clientes,<br />

saber quais são as tendências do mercado e<br />

principalmente porque conseguimos perceber<br />

quais as oportunidades para melhorar a nossa<br />

performance”.<br />

O responsável da empresa considera<br />

importante participar no estudo pela<br />

qualidade da informação e para implementar<br />

medidas em função das suas conclusões.<br />

“A GS1 Portugal tem vindo a acrescentar<br />

informação relevante ao estudo e as<br />

novidades ano após ano tornam o estudo mais<br />

completo e muito mais interessante”, comenta.<br />

A Gallo conquistou o 2º lugar dos<br />

fornecedores na classificação da GS1 Portugal.<br />

Face aos resultados, concorda que as<br />

conclusões ajudam as empresas a perceberem<br />

a forma como são vistas pelos seus parceiros<br />

de negócio, e acrescenta que “esta visão<br />

oferece-nos a oportunidade de fazer diferente,<br />

acrescentando ‘o valor’ em falta na perceção<br />

dos nossos parceiros de negócio”.<br />

“Teremos de ser capazes de nos adaptar à<br />

visão do mercado, às tendências da categoria<br />

e ao valor percecionado pelos nossos parceiros


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Carlos Gonçalves, Gallo Worldwide<br />

de negócio que não estamos a entregar”, e<br />

o estudo tem sido uma ajuda para confirmar<br />

que a estratégia delineada pela companhia<br />

está ajustada às necessidades do mercado.<br />

No entanto, também esta “necessita de ser<br />

afinada todos os anos com aquelas que são as<br />

prioridades identificadas neste estudo pelos<br />

nossos parceiros de negócio”.<br />

IDENTIFICAR MELHORIAS<br />

CONJUNTAS<br />

Em 5º lugar dos fornecedores, a Super Bock<br />

Group aponta que “a análise completa que o<br />

estudo faz ao fluxo order to cash permite-nos<br />

identificar melhorias conjuntas com as várias<br />

insígnias e trabalhar num modelo de melhoria<br />

continua da Supply Chain”, nota Maria João<br />

Pissarra, order to invoice manager da empresa.<br />

“Permite-nos identificar fragilidades em<br />

toda a cadeia de abastecimento, e ao mesmo<br />

tempo os principais requisitos a que os


32<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Maria João Pissarra, Super Bock Group<br />

clientes dão mais importância”, considera a<br />

responsável, servindo de guia para identificar<br />

pontos de melhoria e qual o caminho a seguir,<br />

fazendo já parte do processo estratégico da<br />

Super Bock Group.<br />

Em termos de conclusão, Maria João Pissarra<br />

aponta que “em primeiro lugar é importante<br />

confirmar e manter o que já fazemos bem.<br />

Depois, a empresa tem de estar pronta à<br />

mudança e dar resposta a novos desafios<br />

que constantemente aparecem em todas as<br />

vertentes da cadeia de abastecimento”.<br />

COMPROVAR A MELHORIA E<br />

LANÇAR NOVOS DESAFIOS<br />

A Sonae foi a primeira classificada das<br />

empresas retalhistas. António Ferreira, area<br />

manager supply chain management, conta<br />

que a empresa participa deste o primeiro<br />

momento, e “desde sempre que consideramos<br />

esta participação como um investimento em<br />

melhoria contínua”.<br />

O responsável aponta que os resultados<br />

que têm obtido ao longo do tempo revelam o<br />

sucesso do investimento em melhoria, sendo<br />

que “o survey vem comprovar a melhoria, mas<br />

sobretudo lançar novos desafios anuais”.<br />

Ainda este ano, revela que vão “assumir o<br />

foco na eficiência de loja, e também na sua<br />

relação com o fornecedor, quando a entrega é<br />

direta”, e que para além disso, irão “sustentar<br />

cada vez mais as iniciativas necessárias para<br />

uma maior rapidez no ponto de entrega dos<br />

fornecedores, tornando esse momento como<br />

algo mais expedito”. Um dos desafios será<br />

ao nível da desmaterialização de processos<br />

dos parceiros, “mantendo os pressupostos de<br />

captura eficaz dos dados de rastreabilidade”.<br />

“Estes estudos permitem comparar o estado<br />

da arte da eficiência de cadeia entre vários<br />

players, mesmo quando a estratégia do<br />

negócio difere entre eles”, defende António<br />

Ferreira, e nota que têm recolhido dados<br />

relevantes sobre a evolução dos temas de<br />

preocupação dos fornecedores. “Esta evolução<br />

reflete bem o contexto internacional de cada<br />

ano e as dificuldades que se vão mitigando,<br />

dando lugar a novos desafios”.<br />

António Ferreira, SONAE


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

Olhando para a frente, considera necessário<br />

lançar as iniciativas que garantam à Sonae<br />

um lugar cimeiro dentro do mercado nacional.<br />

“Não consigo destacar uma só iniciativa, mas<br />

claramente a eficiência no local de entrega<br />

e o combate ao desperdício energético são<br />

preocupações de todos. Neste caso, a redução<br />

do consumo de combustível e aumento de<br />

disponibilidade de frotas tem de ter um lugar<br />

de destaque dentro das nossas iniciativas”,<br />

orientações que o estudo ajuda a confirmar,<br />

conclui António Ferreira. •


34<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Texto: Fábio Santos<br />

SAP Partner Ecosystem<br />

UM ECOSSISTEMA DIGITAL<br />

EM CONSTANTE ADAPTAÇÃO<br />

A transformação digital tem tido grande expressão nos últimos anos, mas não é algo<br />

novo. A SAP começou a desenvolver o seu “ecossistema digital” em 2018, enquanto<br />

sistema de business network colaborativo, para apoiar os seus clientes na transição<br />

digital. Dois anos depois, a aposta mostrou-se ainda mais importante, com o<br />

aparecimento de uma pandemia que impulsionou a digitalização das empresas.<br />

Tendo por base a cooperação dos seus<br />

utilizadores, o SAP Partner Ecosystem é<br />

um sistema de business network, em que<br />

o cliente consegue partilhar e introduzir na<br />

sua rede, entidades externas. Tiago Fernandes,<br />

Senior Business Developer da SAP, explica que<br />

“existem alguns processos de negócio que<br />

têm muita interação com entidades terceiras,<br />

que obrigam a que o fluxo de informação<br />

transacional seja feito, ou por e-mail, ou por<br />

carta”, e o que a SAP tentou fazer foi “garantir<br />

que esse processo fosse feito por intermédio de<br />

uma plataforma”.<br />

“O Ecosystem existe desde 2018. O Ariba foi<br />

a primeira rede de negócios que nós tivemos,<br />

fruto de uma aquisição que fizemos, e foi a<br />

primeira rede de negócios que nós introduzimos.<br />

A partir daí, começámos a desenvolver estes<br />

conceitos. Começando pelos ativos, indo depois<br />

para a parte da logística e por fim para a parte<br />

dos projetos”, explica, tendo como preocupação<br />

que este sistema seja uma forma de cooperação<br />

total entre os intervenientes.


Tiago Fernandes, Senior Business Developer da SAP<br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

35<br />

“Nesta plataforma temos o Ariba, o LBN, AIN e<br />

Project Intelligence Network. São produtos, mas<br />

eu não gosto de falar muito em produtos, gosto<br />

de explicar o conceito. São business networks,<br />

mas cada uma delas tem módulos”, comenta o<br />

responsável. Assim, as áreas abrangidas são:<br />

• Procurement (Através do SAP Ariba);<br />

• Logística;<br />

• Ativos (Industriais ou edifícios);<br />

• Projetos.<br />

Para o módulo de procurement, Tiago<br />

Fernandes dá o exemplo de um processo onde<br />

o cliente precisa de ter visibilidade de quem são<br />

os fornecedores a trabalhar numa determinada<br />

área. “O que nós criámos aqui foi uma rede, que<br />

é quase como um marketplace de fornecedores,<br />

a que o cliente pode recorrer para poder fazer<br />

procurement das suas atividades, das suas<br />

matérias-primas, dos serviços, mas não só: todo<br />

o processo de contratação, desde a qualificação<br />

de fornecedores à parte transacional,<br />

nomeadamente os pedidos de encomenda, o<br />

lançamento dos concursos, os RFP, entre outros,<br />

é tudo feito via plataforma”, portanto, o que o<br />

cliente faz é desmaterializar todo o processo de<br />

negócio por intermédio de um módulo também<br />

do business network, o Ariba.<br />

No caso da logística, o módulo de business<br />

network faz toda a atividade de gestão de<br />

transportes, nomeadamente a contratação, a<br />

parte de disputa de problemas no transporte,<br />

tracking de cargas, etc. “Chama-se Logistics<br />

Business Network (LBN). No fundo, é quase<br />

como uma rede social, onde o cliente convida os<br />

seus parceiros de negócio, ou procura novos, e<br />

eles depois são convidados a entrar para a rede.<br />

Isto traz-lhes uma vantagem adicional: ganham<br />

visibilidade para outros clientes que também<br />

usem a rede, um conceito que se aproxima da<br />

rede social de negócios”.<br />

A componente dos ativos está orientada para<br />

dois grandes pilares. “Imaginando um grande<br />

cliente da indústria do gás ou da petroquímica,<br />

este tem refinarias e parques para gerir, muitos<br />

prestadores de serviços, muitos fabricantes,<br />

sendo que precisa de gerir todo o seu parque<br />

de ativos, para fazer as manutenções, e garantir<br />

que de facto a instalação é segura”. Neste caso,<br />

procura-se concentrar toda a atividade na<br />

plataforma, onde o dono do ativo convida o<br />

prestador de serviços e distribui tudo o que é<br />

a atividade normal de trabalho, as ordens de<br />

serviço, as ordens de trabalho, por intermédio<br />

da plataforma. Ao nível das vantagens para os<br />

utilizadores, Tiago Fernandes aponta que como<br />

o sistema se encontra ligado ao ERP, e “muitos<br />

dos processos que são despoletados a partir<br />

do ERP são depois também enviados para a<br />

business network correspondente, consoante o<br />

processo que estamos a trabalhar”.<br />

Outro aspeto interessante: dependendo do<br />

tipo de indústrias, por exemplo, fabricantes<br />

de equipamentos, como ares condicionados,<br />

e que estão a colocar produtos no mercado,


36<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

“eles próprios, dentro da rede dos ativos,<br />

podem utilizá-la como forma de, por um lado,<br />

promover os seus produtos, mas também para<br />

disponibilizar informação relevante, informação<br />

técnica, manuais, modos de falha, etc.”. Para<br />

além disso, nalgumas indústrias, onde há até<br />

uma relação muito próxima entre o fabricante<br />

e o dono do ativo, e que contam com contratos<br />

de manutenção e disponibilidade, “o uso da<br />

plataforma traz uma mais-valia porque tem<br />

todos os ativos desse cliente registados , qual é<br />

a performance dos mesmos… o que possibilita<br />

a recolha de dados e também, por exemplo, a<br />

partilha de informação técnica relevante”.<br />

Por fim, ao nível dos projetos, Tiago<br />

Fernandes dá o exemplo de um gestor de<br />

uma grande infraestrutura (estações de metro,<br />

autoestradas…), e que sendo o dono daqueles<br />

ativos, colabora com várias entidades, por<br />

exemplo, empreiteiros, projetistas, fiscais,<br />

entidades do Governo, e precisa de trocar<br />

informação sobre os vários projetos que<br />

desenvolve. “Hoje como é que os clientes fazem?<br />

Email, carta, comunicações formais… aqui nós<br />

garantimos que esta migração da informação<br />

seja feita por intermédio da plataforma business<br />

networks, através de um módulo desenvolvido<br />

para o efeito”.<br />

“Este é o conceito que nós temos de business<br />

networks. Trabalhar processos, desmaterializá-<br />

-los, e usar fontes/plataformas colaborativas<br />

que permitam juntar todos os envolvidos para<br />

trabalhar os processos de negócio de forma<br />

integrada”, explica o responsável.<br />

UMA GESTÃO DURANTE<br />

E PÓS-PANDEMIA<br />

A pandemia de COVID-19 em 2020 veio mostrar<br />

que os profissionais de supply chain não<br />

estavam preparados para gerir nestas condições.<br />

“Por um lado, o que se notou foi que as pessoas<br />

começaram a preocupar-se mais com a parte<br />

digital, principalmente em criar processos de<br />

negócio digitais. Não em torná-los digitais, não é<br />

digitalizar uma folha, ou trabalhar em Excel, mas<br />

ter processos transacionais 100% digitalizáveis”,<br />

aponta o responsável.<br />

Um segundo aspeto foi ao nível da<br />

volatilidade, que “algo que antes não existia, pois<br />

os mercados eram estáveis, as cadeias estavam<br />

perfeitamente definidas, havia matérias-primas,<br />

havia uma previsão de vendas mais ou menos<br />

constante… Mas com o tema da pandemia, as<br />

próprias pessoas fizeram o shift para o digital”.<br />

“Isto implica dimensionar as supply chains<br />

para um cliente digital. Mas não só. Se, por<br />

um lado, a capacidade de fidelização do<br />

consumidor assenta muito na experiência<br />

do cliente, por outro também é necessário<br />

ter as supply chains preparadas, com toda a<br />

estrutura de fornecimento desenhada para<br />

reagir rapidamente e para ter visibilidade. Ou<br />

seja, para gerir com volatilidade, o segredo<br />

é haver visibilidade sobre todos estes<br />

processos, bem como processos de receção<br />

de pedidos de informação. Convenhamos<br />

que e-mails e contratação via e-mail não dão<br />

grande visibilidade a quem toma decisões”,<br />

comenta, acrescentando que o conceito de<br />

redes colaborativas de negócio que a SAP<br />

desenvolveu, permite aos gestores de operações<br />

terem visibilidade sobre a cadeia a cada<br />

momento e, assim, “quem decide tem uma visão<br />

agregada”.<br />

Com todas estas transformações e<br />

preocupações ainda na ordem do dia, Tiago<br />

Fernandes conclui que “se eu tivesse de definir,<br />

hoje, aquilo que é um statement de como é que<br />

a supply chain se está a transformar no pós-<br />

-pandemia, diria que assenta muito naquilo que<br />

é um ecossistema”. •


38<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Circularidade<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

5 RAZÕES PARA<br />

ADERIR À MODA<br />

CIRCULAR<br />

A moda é uma indústria altamente<br />

poluidora e, como tal, o seu impacto<br />

económico, social e ecológico é cada<br />

vez mais avultado à medida que o<br />

negócio se expande. Desta forma, com<br />

os clientes cada vez mais preocupados<br />

com a produção ética das suas roupas, as<br />

empresas têm de fazer esforços efetivos<br />

para reduzir a sua pegada ecológica. A<br />

solução pode ser um modelo emergente<br />

conhecido como moda circular.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

A<br />

indústria da moda tem sido duramente<br />

criticada no que diz respeito à<br />

sustentabilidade. De acordo com a New<br />

Link Solutions (NLS), os especialistas estimam<br />

que por ano são deitadas fora 92 milhões de<br />

toneladas de roupa, sendo que a maior parte<br />

da mesma não é biodegradável. Para além<br />

disso, por exemplo, são desperdiçadas grandes<br />

quantidades de água, já que apenas uma<br />

t-shirt pode exigir 2.700 litros de água durante<br />

a sua vida útil. De facto, as consequências<br />

provenientes da indústria da moda são diversas<br />

e é por isso que os retalhistas e fabricantes<br />

têm procurado formas inovadoras de eliminar o<br />

desperdício. Fique a conhecer cinco razões pelas<br />

quais o modelo de negócio da moda circular<br />

tem pernas para andar.<br />

ALTO NÍVEL DE LUCRATIVIDADE<br />

A implementação de um modelo de moda<br />

circular pode trazer margens de lucro às<br />

empresas, uma vez que este modelo emprega<br />

intencionalmente têxteis e tecidos projetados,<br />

adquiridos, produzidos e transformados<br />

especificamente para serem reutilizados<br />

e recirculados pelo maior tempo possível,<br />

reduzindo a dependência de matérias-<br />

-primas importadas. A NLS aponta que a Ellen<br />

MacArthur Foundation estima que a moda<br />

circular tem o potencial de desbloquear nos<br />

Estados Unidos uma oportunidade económica<br />

de 560 mil milhões de dólares, o que equivale<br />

a cerca de 540 mil milhões de euros. Contudo,<br />

a transição de uma moda rápida ou mesmo<br />

de métodos obsoletos de moda sustentável<br />

para uma moda circular requer uma grande<br />

transformação operacional pois os fabricantes e<br />

retalhistas de moda terão de apostar em novos<br />

modelos de negócio e insumos que aumentem<br />

significativamente a usabilidade e a vida útil<br />

das suas peças.


40<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

A moda circular não diz respeito apenas<br />

ao desenvolvimento por parte de fabricantes<br />

e retalhistas de materiais resistentes e<br />

reutilizáveis porque embora este modelo<br />

tenha sido criado em resposta à procura e aos<br />

interesses dos clientes, estes necessitam de<br />

manter o seu investimento na sustentabilidade<br />

da moda desde o início até à sua execução. A<br />

“roda da moda circular” diz respeito à natureza<br />

cíclica do modelo e pode ser caracterizada<br />

por diversas fases como o desenho circular,<br />

empregando materiais duráveis e recicláveis;<br />

a produção, muitas vezes usando algodão<br />

certificado; leasing (aluguer) ou compra do<br />

produto pelos clientes; uso e devolução do<br />

cliente; upcycling do cliente ou retalhistas, e,<br />

por fim, a reciclagem. Ao utilizar este modelo,<br />

as empresas estão a criar novos modelos de<br />

negócio regenerativos que aumentam o uso<br />

das roupas sem prejudicar os seus resultados.<br />

Ao serem utilizados menos recursos, como por<br />

exemplo, a água, juntamente com o custo mais<br />

alto de cada peça, devido à maior qualidade<br />

dos tecidos e roupas como a sua vida útil mais<br />

longa, as empresas estão a economizar para<br />

pagar as despesas que acompanham a sua<br />

transformação sustentável. Naturalmente, os<br />

valores praticados precisam de ser justificados<br />

pelas empresas tendo em conta todas as<br />

facetas do seu negócio, desde a produção até<br />

ao marketing e o atendimento ao cliente pós-<br />

-venda.<br />

VANTAGEM COMPETITIVA<br />

É possível obter uma vantagem competitiva<br />

ao captar o interesse dos clientes para novas<br />

linhas de produtos duráveis e valiosos.<br />

Exemplo disso é a marca Tefron, fabricante<br />

de roupas íntimas que deu um grande passo<br />

em direção ao mercado da moda circular ao<br />

otimizar as suas técnicas de produção e a<br />

engenharia de tecidos para garantir a máxima<br />

reciclabilidade preparando os clientes para<br />

o sucesso da reutilização e reciclagem de<br />

tecidos. Outro exemplo é uma empresa sueca<br />

de venda a retalho de roupas que paga aos<br />

seus clientes 5 dólares por cada saco de roupa<br />

entregue nas suas lojas para reciclar. Um caso<br />

recente é o da Decathlon que para promover<br />

a venda reversa inverteu o seu logótipo<br />

temporariamente para “Nolhtaced” (Decathlon<br />

escrito ao contrário), dando a oportunidade<br />

aos seus clientes de revenderem à marca todo<br />

o tipo de roupas desportivas para que possam<br />

ser reparados e colocados para revenda ou<br />

serem revendidos sob garantia em troca de<br />

vouchers de loja. Ações que permitirão aos<br />

clientes perpetuar o ciclo de vida de uma<br />

peça de vestuário enquanto abastecem os<br />

retalhistas com tecidos para desenvolvimento<br />

futuro. Para além destas, também a empresa<br />

Nudie Jeans incentivou a compra-arranjo-<br />

-reutilização ao expandir os seus serviços<br />

para arranjos, abrindo um mercado para jeans<br />

reutilizados na sua loja online.<br />

NOVAS OPORTUNIDADES<br />

A metodologia da moda circular contribui<br />

para uma economia circular com um alto<br />

nível de lucratividade para as empresas de<br />

moda dispostas a adotar novos processos<br />

de fabricação e venda a retalho. É de<br />

salientar que este modelo apresenta uma<br />

menor taxa de depreciação em relação às<br />

restantes metodologias já que os materiais<br />

utilizados são projetados para manter ou<br />

aumentar o seu valor, desde o uso inicial e,<br />

posteriormente, pela reentrada na economia.<br />

Desta forma, a recirculação de roupas reduz o<br />

custo de produção do vestuário e abre novas


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

oportunidades de mercado para as empresas<br />

de moda que alimentam outras indústrias para<br />

apoiar uma cadeia de abastecimento saudável.<br />

Exemplificando, o modelo de aluguer é uma<br />

área de bastante interesse para empresas<br />

que procuram capitalizar a moda circular. Os<br />

modelos de aluguer oferecem flexibilidade<br />

seja através de curto prazo, pois abordam a<br />

moda rápida e atendem às necessidades dos<br />

clientes que estão em constante mudança, seja<br />

através de longo prazo já que se caracterizam<br />

por alugueres estendidos que oferecem<br />

produtos básicos para determinados grupos<br />

demográficos, bem como um aumento na<br />

procura por alugueres sazonais e anuais.<br />

Por fim, é ainda possível usufruir de serviços<br />

de assinatura que podem ser facilmente<br />

categorizados desde roupas de bebé a<br />

roupas profissionais e que podem ser usados<br />

para atender às necessidades de roupas em<br />

intervalos de subscrição modificáveis. Para<br />

além do aluguer de roupas, a NLS refere que<br />

segundo um relatório da ThredUp de 2021,<br />

espera-se que o mercado de revenda cresça<br />

11 vezes mais rápido do que o setor de venda<br />

a retalho até 2025. Assim, este torna-se um<br />

mercado cada vez mais atraente não só para<br />

os clientes que podem entregar as suas<br />

peças usadas em lojas de segunda mão ou<br />

encontrar empresas de moda como a Nudie<br />

Jeans que retomam a suas roupas usadas para<br />

revenda, como para os retalhistas que podem<br />

desenvolver programas de troca para suas<br />

roupas, incentivando ainda mais os clientes<br />

a reciclar os seus produtos enquanto geram<br />

negócios repetidos e fidelidade à marca.<br />

MODELO MAIS SUSTENTÁVEL<br />

Apesar das diversas vantagens existentes<br />

ao aderir à moda circular, é fulcral garantir<br />

que todos os processos se alinhem a um<br />

modelo mais sustentável, o que significa<br />

que o rastreamento do stock, fabricação<br />

e vendas precisam de ser monitorizadas<br />

adequadamente, de preferência em tempo<br />

real. As empresas de moda devem também<br />

procurar maneiras inovadoras de envolverem<br />

os seus clientes como, através de, por exemplo,<br />

políticas de colaboração de troca, trocas ou<br />

serviços de arranjo. A moda circular desafia<br />

assim as marcas a reformular a maneira<br />

como categorizam os materiais, pois exige a<br />

integração de materiais desde a sua forma<br />

bruta até à sua verdadeira data de validade<br />

após terem sido feitos vários ciclos.<br />

REAVALIAR PROCESSOS<br />

DE NEGÓCIO<br />

Cada vez mais o cliente é firme no seu desejo<br />

de sustentabilidade no que diz respeito às suas<br />

roupas e à forma como as empresas operam.<br />

Desta maneira, é essencial que as empresas<br />

avaliem os seus processos de negócio atuais<br />

para identificar onde mais recursos são usados,<br />

onde mais resíduos estão presentes e que<br />

substâncias ou materiais contribuem para o<br />

maior volume de poluição. É essencial ainda<br />

que as empresas de moda trabalhem com<br />

fornecedores para otimizar o uso de energia<br />

e eliminar o desperdício ou com os seus<br />

clientes criando com um programa de troca<br />

para reabsorver roupas indesejadas, sendo,<br />

depois, mais fácil reaproveitá-los para outra<br />

coleção e prolongar a sua vida útil. A verdade<br />

é que a consciencialização e a visibilidade<br />

andam juntas relativamente à transformação<br />

dos negócios, no qual deve imperar a<br />

responsabilidade, sustentabilidade e visão de<br />

futuro. •


42<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Sustentabilidade<br />

Texto: Dora Assis<br />

4 EMPRESAS<br />

LÍDERES COMBATEM<br />

EMISSÕES NA CADEIA<br />

O Fórum Económico Mundial<br />

(WEF na sigla em inglês) olhou<br />

para quatro grandes empresas<br />

multinacionais (Royal Philips,<br />

Unilever, Ingka Group e ZF) e<br />

analisou os seus esforços e medidas<br />

em termos de sustentabilidade e<br />

políticas de zero emissões na supply<br />

chain (SC). Há qualquer coisa a<br />

mudar. Vamos ver o quê e porquê.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

O<br />

procurement tem um papel principal<br />

para desbloquear os ESG na cadeia de<br />

abastecimento e a compreensão dos meios<br />

para combater as emissões de carbono nas<br />

operações organizacionais expandiu-se para<br />

incluir agora variáveis para além das simples,<br />

evidentes e diretas pegadas de CO₂ (scope 1).<br />

“Tomemos como exemplo a aliança de CEO<br />

Climate Leaders. 80% da pegada total de<br />

emissões de 4,3Gt destas empresas é produzida<br />

pelas suas cadeias de abastecimento, também<br />

conhecidas como emissões de âmbito 3”,<br />

avança o WEF. “Isto é muito mais elevado do<br />

que o scope 1 (emissões diretamente geradas<br />

por uma empresa) e que o scope 2 (emissões<br />

indiretas associadas à compra de eletricidade<br />

ou entradas de aquecimento e arrefecimento)<br />

combinados”.<br />

Os quatro gigantes analisados pelo WEF,<br />

assim como os seus progressos em relação ao<br />

desenvolvimento sustentável foram a Royal<br />

Philips, o grupo Ingka, a Unilever e a ZF.<br />

ROYAL PHILIPS<br />

A Royal Philips (RP) estabeleceu o objetivo<br />

de gerar 25% das suas receitas a partir de<br />

produtos, serviços e soluções circulares até<br />

2025, de acordo com o relatório do WEF.<br />

“Em 2018, a empresa anunciou o seu<br />

compromisso de retomar e reequipar todos<br />

os grandes sistemas médicos que os seus<br />

clientes estavam dispostos a devolver até<br />

2020. Para apoiar a iniciativa, a Philips iniciou<br />

a Capital Equipment Coalition, um grupo<br />

de organizações semelhantes, incluindo a<br />

ASML, Cisco, Dell, KPN, Damen, Lely, Enel e<br />

Vanderlande, para desenvolver e partilhar as<br />

melhores práticas”.<br />

GRUPO INGKA<br />

No que diz respeito ao Grupo Ingka, onde<br />

se inclui a Ikea, e à sua abordagem às<br />

economias circulares, centrando-se na pegada<br />

massiva do seu mobiliário, colchões, etc., o<br />

FEM afirma: “Como parte dos seus esforços<br />

para se tornar um negócio circular, o Ingka<br />

investiu na RetourMatras, uma empresa que<br />

desmantela colchões e reutiliza os resíduos,<br />

que tem a capacidade de reciclar todos os<br />

colchões eliminados na Holanda – 1,5 milhões<br />

anualmente. O Grupo Ingka não para por<br />

aí: a seguir tem como alvo a Bélgica, Suíça,<br />

Dinamarca e Suécia, e deu os seus primeiros<br />

passos no sentido da reciclagem de colchões<br />

no Reino Unido”.<br />

UNILEVER<br />

Já no caso Unilever, centrada no sourcing<br />

sustentável, as matérias-primas e embalagens<br />

da Unilever representam mais de 60% das<br />

suas emissões diretas da cadeia de valor, o<br />

que requer uma firme ênfase nos esforços<br />

para reduzir as emissões a montante das suas<br />

operações. “A Unilever não colabora apenas


44<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

com os seus próprios fornecedores”, afirma<br />

o artigo do WEF. “É membro do 1.5-degree<br />

Supply Chain Leaders Exponential Roadmap<br />

Initiative e da Transform to Net Zero Initiative,<br />

onde colabora com outras empresas de<br />

indústrias semelhantes e não só para partilhar<br />

aprendizagens e ideias por forma a acelerar a<br />

ação climática nas cadeias de valor”. Os seus<br />

esforços estão cada vez mais orientados para<br />

o modelo de abastecimento sustentável, que<br />

deverá ter um enorme impacto positivo no<br />

ambiente.<br />

ZF FRIEDRICHSHAFEN<br />

A ZF Friedrichshafen fornece sistemas para a<br />

indústria automóvel e tem vindo a trabalhar<br />

para reduzir a sua pegada de carbono através<br />

de algumas mudanças fundamentais nas<br />

suas operações. “Uma vez que a ZF processa<br />

direta e indiretamente cerca de 1,5 milhões de<br />

toneladas de aço por ano em todo o mundo,<br />

uma alavanca-chave para o conseguir é a<br />

compra de material de fonte sustentável”.<br />

A empresa está a consegui-lo através da<br />

colaboração com os seus fornecedores.<br />

“A ZF concluiu recentemente um acordo<br />

de fornecimento a longo prazo com a H2<br />

Green Steel – de 2025 a 2032, a empresa vai<br />

aumentar e fornecer à ZF 250.000 toneladas<br />

de aço anualmente a partir de uma fábrica no<br />

Norte da Suécia. Esta fábrica tem digitalização<br />

de ponta a ponta, eletricidade de fontes<br />

renováveis e utiliza hidrogénio verde em vez<br />

de carvão. A utilização de hidrogénio verde em<br />

vez de carvão significa que a reação química<br />

que ocorre durante a produção de aço emite<br />

água, em oposição ao CO₂”. •


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

3 ideias a reter: O combate às emissões<br />

da cadeia de abastecimento poderia ter um<br />

impacto significativo no clima, mas os progressos<br />

são lentos;<br />

Quatro grandes empresas da “alliance of ceo climate<br />

leaders” – royal philips, ikea, unilever e zf – partilharam a<br />

forma como estão a trabalhar para reduzir as emissões nas<br />

suas cadeias de abastecimento;<br />

Os princípios-chave para acelerar o progresso são a<br />

colaboração, ceo empenhados em alcançar as zero<br />

emissões e políticas de apoio.


46<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Staples Portugal<br />

Texto: Fábio Santos<br />

A DECISÃO FINAL<br />

AINDA É HUMANA<br />

O futuro é agora. Torna-se cada vez<br />

mais essencial estar um passo à frente,<br />

antecipar, prever. Não é uma tarefa<br />

fácil, especialmente em áreas em que<br />

o consumo é bastante variável, como<br />

é o caso da Staples, com materiais de<br />

escritório e tecnologia, e com uma<br />

enorme diversidade de KPI para analisar.<br />

Os cálculos são sempre mais imediatos<br />

com máquinas, mas a decisão final cabe<br />

ao cérebro.


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

A<br />

Staples Portugal foi adquirida pela Firmo<br />

a 2 de maio de 2021. Antes da aquisição,<br />

o centro de distribuição, localizado na<br />

Azambuja, contava com uma ferramenta de<br />

gestão de stock que pertencia ao grupo e, com<br />

a saída do mesmo, foi necessário encontrar<br />

uma nova solução que lhes permitisse reduzir<br />

os excessos, otimizar a sua logística, bem<br />

como a distribuição dos produtos pelas 34<br />

lojas físicas em Portugal, e pelos dois canais<br />

de vendas à distância (Online e Corporate).<br />

Ângelo Fernandes, diretor de logística da<br />

Staples Portugal, explicou que “como havia<br />

a intenção da venda da Staples, houve a<br />

necessidade de se encontrar uma solução,<br />

uma vez que estava a acontecer aquilo que<br />

era o ‘desmembramento’ da Staples Europa”.<br />

O primeiro desafio foi encontrar um parceiro<br />

capaz de realizar uma implementação que<br />

fosse ao encontro das suas necessidades em<br />

tempo “record”, pois o sistema teria de estar<br />

operacional antes do momento de “apagão”.<br />

A decisão final foi o Slim4, da Slimstock, “por<br />

aquilo que já tínhamos, e por aquilo que a<br />

solução nos apresentava”.<br />

O TEMPO COMO DESAFIO<br />

O desafio não era fácil, e o deadline era ainda<br />

mais curto. “Demorou dois ou três meses.<br />

Decidimos em janeiro optar pelo Slimstock e<br />

em meados de abril já estávamos a trabalhar”,<br />

explicou o responsável.<br />

Por parte da Slimstock, Marcos Vales,<br />

Business Development Manager, concorda<br />

que o maior desafio foi o prazo que tinham<br />

Ângelo Fernandes, diretor de logística<br />

para a implementação, juntamente com a<br />

sua customização. “Tínhamos um deadline<br />

curto para fazer a implementação do<br />

sistema, acrescido do desafio de customizar<br />

a ferramenta ao processo de cross-docking e<br />

distribuição do stock”, explica.<br />

O sistema tinha de compreender como fazer<br />

a distribuição de duas formas: a compra que<br />

chega ao armazém e que é distribuída segundo<br />

o fluxo das necessidades das lojas, e a compra<br />

que é automaticamente distribuída, e que só<br />

chega ao armazém para fazer cross-docking.<br />

Filipe Magalhães, gestor de aprovisionamento<br />

da Staples Portugal, explica como foi a<br />

integração na operação. “Temos dois fluxos<br />

principais: o stock que compramos para<br />

armazenar e irmos distribuindo, ou PBS, e temos<br />

o JIT, também denominado PBL. Dentro deste<br />

temos ainda o cross-docking”, explica.<br />

No processo JIT, a Staples faz a distribuição<br />

total daquilo que recebe. Há uma encomenda<br />

única para o armazém, que depois distribui


48<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Marcos Vales, Slimstock<br />

para as lojas e na altura do cálculo já está<br />

definido aquilo que vai ser distribuído para<br />

cada uma delas. Por outro lado, no processo<br />

de cross-docking a Staples tem um processo<br />

muito semelhante, mas em vez de terem uma<br />

faturação ao armazém, têm uma faturação<br />

direta à loja. “Houve a necessidade de<br />

fazer essa preparação para que o sistema<br />

reconhecesse esses três tipos de distribuição<br />

e que fizesse o cálculo adequado a cada uma<br />

delas, pois são situações diferentes, tanto em<br />

tempos de entrega como de especificidades<br />

de parâmetros, e o tempo a apertar e a ser um<br />

pouco o inimigo”, comenta Filipe Magalhães.<br />

O gestor de aprovisionamento destaca ainda<br />

um outro desafio, ao nível da preparação do<br />

background da solução, que envolve diversos<br />

KPI. “Diariamente há a necessidade de<br />

alimentar, sobrepor ou substituir tudo o que é<br />

uma base de dados enorme, e foi necessário<br />

encontrar os parâmetros que precisaríamos que<br />

fossem integrados”, explicou.<br />

Não se esquecerem de nada importante<br />

e evitar dados que não fossem relevantes<br />

para a otimização do cálculo durante a<br />

implementação era crucial, o que também foi


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

desafiante, atendendo ao curto intervalo de<br />

tempo de que dispunham.<br />

“PODER CRESCER E MELHORAR<br />

TAMBÉM ERAM REQUISITOS”<br />

Era importante haver a garantia de que<br />

as funcionalidades fossem rapidamente<br />

assimiladas pelos seus diferentes utilizadores,<br />

e que não fosse uma “mudança radical” face<br />

ao sistema que existia no passado, o que<br />

aconteceu. Filipe Magalhães conta que em<br />

pouco tempo, “tudo aquilo que são as funções<br />

básicas e o necessário para as tarefas e o<br />

trabalho do dia a dia foi facilmente integrado”.<br />

O fator “user friendly” foi importante para<br />

a Staples, pois embora agora mantenham<br />

uma equipa estável, no caso de ser necessário<br />

introduzir um novo colaborador no projeto,<br />

era importante que a pessoa conseguisse<br />

compreender todo o processo de forma<br />

fácil e rápida. “Não adianta termos uma<br />

ferramenta muito evoluída quando depois não<br />

conseguimos tirar proveito dela”, comenta<br />

o responsável, salientando que neste caso<br />

além do que pretendiam, foi possível “entrar<br />

num processo de evolução e ainda hoje<br />

conseguimos fazer alguma valorização daquilo<br />

que foi esta aquisição”.<br />

Essa mesma ideia é também sublinhada por<br />

Ângelo Fernandes quando destaca que “poder<br />

crescer e melhorar também eram requisitos”,<br />

e que encontraram nesta solução uma<br />

possibilidade de expandir as suas necessidades,<br />

quando fosse necessário.<br />

ANÁLISE DE VENDA<br />

E DE NÃO-VENDA<br />

Uma ferramenta que a Staples adotou, e que<br />

não estava inicialmente projetada, foi um<br />

“contador de venda perdida”, que permite<br />

analisar quanto tempo um produto esteve<br />

fora de stock, analisar a oportunidade de<br />

venda perdida e perceber qual o motivo para<br />

essa quebra em loja, ou seja, por exemplo<br />

se a mesma se deveu a um atraso no<br />

aprovisionamento ou a uma venda acima do<br />

expectado.<br />

“Temos a possibilidade de contabilizar os<br />

dias que o artigo esteve em rutura durante<br />

cada mês e em quantas lojas. Há muitas<br />

perceções que nós temos, que analiticamente<br />

podem não corresponder àquilo que aconteceu,<br />

e é importante termos alguma ajuda analítica<br />

para as situações mais complicadas”, apontou<br />

Filipe Magalhães, “saber o que esteve e onde<br />

esteve ajuda. E o que não esteve, e onde não<br />

esteve, é fundamental”.<br />

Um exemplo recente foi a pandemia de<br />

COVID-19, em que os consumos na tecnologia<br />

dispararam subitamente, e houve falta de<br />

stock em vários produtos. “Neste momento o<br />

mercado começa a estabilizar, esbarrando com<br />

a saturação do próprio mercado. Grande parte<br />

das pessoas já tem computadores, cadeiras…<br />

E, aí, é mais complicado apoiarmo-nos em<br />

qualquer tipo de histórico”.<br />

PREVER É OLHAR PARA A FRENTE<br />

Marcos Vales resume a ferramenta na seguinte<br />

frase: “Diminuir em valor o stock, aumentando<br />

a disponibilidade”. Isto é possível através<br />

das previsões de vendas e de outros KPI, e<br />

destaca que o histórico nem sempre é viável,<br />

sendo necessário olhar para dados concretos,<br />

considerando que o princípio é “não olhar para<br />

trás quando podemos olhar para a frente”.<br />

O Slim4 calcula as necessidades do que<br />

é necessário tanto para as lojas como para<br />

pedir aos fornecedores, estando “no meio” de<br />

todo o processo, e em contacto com o ERP<br />

da Staples. “Todos os movimentos de stock, e


50<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

não só, são integrados diariamente no Slim4,<br />

e isso é indispensável para fazer o cálculo<br />

da necessidade, que depois é exportada para<br />

o ERP”, explica Filipe Magalhães. “Às vezes<br />

comparo com o Excel ao nível da facilidade<br />

com que conseguimos sintetizar a informação.<br />

É importante e é muito rentável para essa<br />

consolidação e para essa sintetização saber<br />

trabalhar muito bem as tabelas dinâmicas,<br />

porque nos ajuda muitas vezes na decisão”,<br />

e aponta que a flexibilidade e facilidade do<br />

sistema permite à Staples tomar melhores<br />

decisões, e que “torna-se relativamente fácil<br />

sabermos que informação queremos exportar<br />

para o tipo de decisão que queremos tomar”.<br />

Marcos Vales destaca mesmo o “imediatismo<br />

da informação”, que torna mais fácil chegar a<br />

uma conclusão, graças à maior transparência<br />

da informação.<br />

“Temos uma base reaprovisionável,<br />

e o nosso principal foco é aquilo que é<br />

comprado e recomprado. Na vertente do<br />

reaprovisionamento, tudo aquilo que não é de<br />

reabastecimento regular não é tão importante.<br />

Mas essa base tem cerca de 300 mil linhas, e<br />

não é humanamente possível trabalharmos<br />

linha a linha e sabermos o que é melhor em<br />

cada local em determinada altura. Esse tipo de<br />

controlo tem que ser feito de forma integrada<br />

e consolidada, mas segmentada naquilo<br />

que precisamos”, comenta Filipe Magalhães.<br />

“Temos de ter uma ferramenta flexível que<br />

nos permita, ao alcance de um clique, retirar<br />

a informação, fazermos as análises que<br />

precisamos, e depois tomar as decisões que<br />

precisamos de tomar, e até conseguimos ter<br />

uma visão da prioridade com que as devemos<br />

tomar”.<br />

Ao nível da previsão, defende que é<br />

necessário existir um suporte analítico para<br />

acompanhar o decisor e transmitir-lhe uma<br />

Filipe Magalhães, gestor de aprovisionamento<br />

maior visibilidade, mas os parâmetros também<br />

dependem muito da própria pessoa e da sua<br />

visão do mercado. “Facilmente podemos dizer<br />

que o consumo vai cair 20, 30, 50, 80%, e<br />

fazer refletir isso na parametrização, mas eu<br />

depois posso não ter como dar seguimento<br />

na compra, porque o distribuidor não<br />

disponibiliza, ou porque aquela máquina vai<br />

ser substituída por outra e vai ficar obsoleta,<br />

e nos próprios consumíveis acompanhar<br />

a curva dos que são para determinada<br />

máquina em que o consumo está a começar<br />

a cair e começar a olhar para aqueles que<br />

surgiram para máquinas novas… Esses é que<br />

são os principais desafios e que dependem<br />

essencialmente da qualidade de análise de<br />

quem está a decidir”, comenta o gestor de<br />

aprovisionamento.<br />

“Em qualquer tipo de aplicativo de cálculo,<br />

pode ser o melhor sistema do mundo, com os<br />

melhores parâmetros e os melhores critérios,<br />

mas se não der uma visibilidade sintetizada<br />

a quem está a decidir, para decidir bem, não<br />

terá certamente a eficiência que se pretende,<br />

porque há muitas variáveis e condicionantes<br />

que são postas e depois não é a máquina


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


52<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

que decide. É a pessoa que está em frente à<br />

máquina que vai decidir, e para decidir bem<br />

tem de ter forma de não se dispersar”.<br />

LIDAR COM A SAZONALIDADE<br />

Recentemente deu-se a maior campanha<br />

da Staples, a de Regresso às Aulas, em que<br />

o reforço e a movimentação de stock são<br />

anormais face às realidades do dia a dia.<br />

Nesses casos esporádicos, “há sempre a<br />

hipótese de aplicar o perfil de sazonalidade<br />

à venda, e é importantíssimo trabalhar esse<br />

perfil”, comenta o gestor de aprovisionamento.<br />

Marcos Vales explica que um dos princípios<br />

do Slim4 é o Management By Exception,<br />

focando-se assim no essencial. “O software<br />

não tem dúvidas de qual é a necessidade de<br />

uma loja quando falamos de um artigo que é<br />

frequente, que se vende todos os dias, que tem<br />

um perfil de sazonalidade claro, e chama a<br />

atenção dos utilizadores exatamente onde não<br />

está claro e ele pode agregar valor”.<br />

Uma das melhorias adquiridas foi ao nível do<br />

equilíbrio e da rentabilização do stock entre<br />

as lojas, e procurar comprar menos e reutilizar<br />

os excessos de outras lojas, onde a ferramenta<br />

conseguiu ajudar a identificar algumas<br />

oportunidades.


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

É A PESSOA QUE ESTÁ EM FRENTE<br />

À MÁQUINA QUE VAI DECIDIR, E<br />

PARA DECIDIR BEM TEM DE TER<br />

FORMA DE NÃO SE DISPERSAR<br />

“Temos lojas espalhadas por várias zonas do<br />

país em que há especificidades de cada zona<br />

geográfica, que nos permite ter aqui algum<br />

desequilíbrio no consumo por linha de produto.<br />

Mesmo dentro dessas exceções, muitas<br />

vezes elas são demasiadas para poderem<br />

ser trabalhadas no dia, e essa facilidade de<br />

consolidação de exportação permite-nos<br />

priorizar stocks”, nota Filipe Magalhães.<br />

RESULTADO QUANTITATIVO<br />

DURANTE O ÚLTIMO ANO<br />

Após um ano de atividade, o resultado<br />

consolidado foi uma redução de 5% no stock<br />

com uma melhoria de 2% na disponibilidade<br />

do produto. Para além disso, a Staples<br />

conseguiu ainda reduzir o excesso de<br />

existências em 14%. Filipe Magalhães mostra-<br />

-se satisfeito com os objetivos alcançados,<br />

e aponta que “um dos maiores avanços<br />

é o equilíbrio do stock entre lojas, e a<br />

redistribuição do stock interno”. •


54<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Automatização<br />

CONTINENTAL AUTOMATIZA<br />

CAPTAÇÃO DE PALETES<br />

Texto: Dora Assis<br />

No âmbito da estratégia Indústria 4.0, a Continental elegeu a funcionalidade ImageID<br />

da ZetesMedea para automatizar os seus processos de receção de mercadorias em duas<br />

das suas fábricas: Ingolstadt e Groß-Rohrheim. Resultado? Maior produtividade, precisão<br />

e transparência nas operações diárias. O próximo passo é a implementação de portais<br />

baseados em câmaras adicionais nos Estados Unidos e na Lituânia.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Uma das principais instalações da Continental<br />

localiza-se em Ingolstadt, e recebe um<br />

elevado volume de paletes todos os dias,<br />

com até 60 caixas empilhadas em cada uma.<br />

Cada caixa tem uma etiqueta com um código de<br />

barras 2D que tem de ser lido e comparado com<br />

as entradas de entregas no sistema SAP.<br />

A Continental tratava do processo de receção<br />

de mercadorias utilizando scanners portáteis,<br />

o que envolvia muito esforço e demorava<br />

vários minutos por palete. Para poupar tempo<br />

e melhorar a produtividade e a precisão,<br />

implementou-se o sistema ZetesMedea e um<br />

portal ImageID.<br />

INTERFACE INTUITIVA<br />

Aquando da receção de mercadorias, as<br />

paletes são transportadas do camião para o<br />

portal ImageID. As câmaras Zetes ImageID são<br />

instaladas nos tripés à esquerda e à direita<br />

da porta que separa as áreas de receção<br />

de mercadorias e de armazém. Os outros<br />

componentes incluem semáforos e uma estação<br />

de trabalho móvel com um scanner móvel,<br />

impressora de etiquetas e monitor. O monitor<br />

apresenta a interface de utilizador intuitiva e<br />

baseada na web ZetesMedea (Web UI).<br />

ELIMINAÇÃO DE FALHAS<br />

E ERROS<br />

O processo de digitalização, que demora<br />

apenas alguns segundos, inicia-se assim que o<br />

operador de empilhador coloca a palete entre<br />

os dois tripés das câmaras. Durante o processo<br />

de digitalização, a ZetesMedea não só lê os<br />

dados da etiqueta, como também a compara em<br />

tempo real com as entradas de entregas no SAP.<br />

Se tudo estiver correto, o semáforo fica verde e<br />

a tecnologia Zetes ImageID abre a porta rápida.<br />

De seguida, a impressora de etiquetas gera uma<br />

etiqueta de resumo com o sistema SAP.<br />

Se os códigos individuais não forem<br />

reconhecidos durante o processo de<br />

digitalização pelo facto de estarem danificados<br />

ou cobertos, por exemplo, o funcionário é<br />

imediatamente notificado através do semáforo,<br />

assim como da interface de utilizador baseada<br />

na web (WEB UI). Neste caso, o operador<br />

recebe uma notificação visual e pode introduzir<br />

as informações em falta com o scanner manual<br />

focado e sem pesquisas morosas. Quando<br />

este processo está concluído, o processo de<br />

armazenamento pode iniciar-se.<br />

“Com esta tecnologia, podemos trabalhar<br />

mais rapidamente na entrada de mercadorias<br />

com maior qualidade”, declarou Andreas<br />

Dinzinger, responsável de gestão da cadeia<br />

de abastecimento, armazém e envio em<br />

Ingolstadt.<br />

De salientar que, neste caso, espera-se<br />

que o tempo de retorno do investimento seja<br />

inferior a dois anos.<br />

A Continental conta com um tempo de<br />

retorno ainda mais reduzido com a instalação<br />

do segundo portal ImageID em Groß-Rohrheim<br />

(Sul de Hessen), onde a Continental opera um<br />

centro de logística para peças sobresselentes<br />

de veículos de passageiros, com uma área de<br />

34 000 metros quadrados.


56<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

FLEXIBILIDADE É TUDO<br />

Em contraste com Ingolstadt, em Groß-<br />

-Rohrheim são captados códigos de barras 1D<br />

(em vez de 2D). Outra diferença é a distância<br />

de leitura entre a palete e a câmara. Este<br />

facto não é um problema, uma vez que a<br />

ZetesMedea e o portal ImageID são capazes de<br />

captar todos os códigos de barras num alcance<br />

de leitura definível pelo utilizador.<br />

Na prática, tal significa que a área de leitura<br />

pode ter vários metros quadrados, o que<br />

confere elevada flexibilidade à solução.<br />

Em combinação com a ZetesMedea, o portal<br />

ImageID automatiza partes do processo<br />

de entrada de mercadorias da Continental,<br />

aproximando muito mais a Indústria 4.0. A<br />

solução ImageID da ZetesMedea baseia-se<br />

na tecnologia de imagem por computador<br />

automatizada patenteada da Zetes.<br />

A digitalização e automatização<br />

desempenham um papel essencial na indústria<br />

4.0 e as potenciais melhorias, a par do<br />

percurso de movimentação de mercadorias<br />

internas são especificamente identificadas e<br />

utilizadas na Continental. •


SCM Supply Chain Magazine 57


58<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Desmaterialização<br />

e informatização de<br />

processos<br />

A TECNOLOGIA AO<br />

SERVIÇO DA SAÚDE<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

Cada vez mais as empresas<br />

procuram desmaterializar e<br />

informatizar os seus processos, já<br />

que isso permite-lhes aumentar<br />

tanto a sua competitividade no<br />

mercado, como a sua produtividade.<br />

O Hospital Distrital de Santarém<br />

não é exceção e está a reorganizar<br />

os seus processos logísticos e a<br />

uniformizar procedimentos.


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

Um dos objetivos do Hospital Distrital de<br />

Santarém é como explica Rúben Loureiro,<br />

gestor no Hospital Distrital de Santarém,<br />

reorganizar todo o processo logístico da<br />

instituição. Para isso, dada a existência de<br />

vários sistemas de reposição dos materiais<br />

clínicos, hoteleiros, administrativos e de<br />

conservação e manutenção, será necessário<br />

“uniformizar o circuito de todos estes<br />

materiais num único processo transversal a<br />

todo o hospital, otimizando todas as tarefas<br />

logísticas, com reduções dos gastos em<br />

material e maior controlo de todos os fluxos<br />

de materiais e informação”.<br />

Assim, com a reorganização do<br />

processo logístico do Hospital Distrital de<br />

Santarém, tenciona-se “obter melhorias<br />

organizativas com a uniformização dos<br />

processos, minimizando os procedimentos<br />

desnecessários associados à receção, gestão<br />

dos stocks e distribuição dos vários materiais<br />

utilizados”. Outro dos propósitos a atingir<br />

será “uniformizar o processo de consignação,<br />

permitindo um só fluxo de informação e<br />

materiais dentro do espaço do Hospital de<br />

Santarém, possibilitando que o registo de<br />

consumo do material seja realizado o mais<br />

próximo possível da utilização (no espaço<br />

e no tempo) através de leitores óticos e da<br />

informação dos utentes disponíveis”, aponta<br />

o gestor. Um procedimento fulcral já que “o<br />

Hospital de Santarém dispõe de dois circuitos<br />

associados aos materiais em consignação,<br />

dos quais resultam um enorme investimento<br />

de tempo (da logística e dos serviços<br />

utilizadores) e elevada percentagem de erro<br />

no registo de consumo ao utente”.<br />

Não obstante, é igualmente importante<br />

para a entidade garantir o controlo de stocks<br />

de modo a conseguir diminuir os custos de<br />

funcionamento, “isto será possível através de<br />

registos eletrónicos de imputação ao utente<br />

que irão originar uma redução significativa do<br />

desperdício. Também o aumento do controlo<br />

de stocks consignados terá como objetivo<br />

melhorar os registos, os consumos ao doente<br />

e a respetiva faturação, melhorando todo o<br />

processo”, declara.<br />

PROCESSOS DE MUDANÇA<br />

Para alcançar os objetivos desejados,<br />

vários serão os processos a ser alterados<br />

no Hospital Distrital de Santarém.<br />

Primeiramente, o processo de picking para<br />

reposição do stock aos armazéns avançados<br />

será efetuado através de dispositivos de<br />

leitura de códigos de barras, de forma que<br />

seja possível aceder às necessidades de<br />

reposição sem recorrer à impressão. De acordo<br />

com Rúben Loureiro, “a lista do picking será<br />

criada com base na informação do consumo<br />

de cada armazém avançado”, acrescentando


Rúben Loureiro, gestor no Hospital Distrital de Santarém<br />

60<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

que “as necessidades de reposição aparecerão<br />

ordenadas por uma rota lógica de picking<br />

(rota mais curta). O utilizador lê o código<br />

de barras do item (existente na prateleira)<br />

e digita a quantidade a transferir, e, em<br />

seguida, os artigos são transferidos do<br />

stock dos armazéns centrais para o do<br />

armazém avançado correspondente”. É com<br />

esta transferência de stock que o mesmo<br />

aumentará no armazém avançado e que<br />

diminuirá no armazém central, o que permitirá<br />

a existência de um inventário permanente.<br />

O processo de receção do armazém<br />

avançado também mudará já que “o material<br />

chega ao serviço clínico acompanhado de um<br />

aviso de transferência”, que além de poder<br />

ser em papel poderá ser feito através de<br />

leitores óticos dos serviços. Posteriormente,<br />

as quantidades são verificadas pelo<br />

enfermeiro responsável e após leitura do<br />

aviso de transferência e respetiva aceitação<br />

do material, o stock é transferido e o material<br />

armazenado nos locais pré-definidos. Rúben<br />

Loureiro explica ainda que o processo de<br />

consumo por parte dos clientes será alterado,<br />

já que “quando os utilizadores precisarem<br />

de consumir algum artigo, ou seja, retirar<br />

material do armazém avançado, irão fazê-<br />

-lo através dos dispositivos de leitura. Com<br />

estes efetua-se a leitura do código de barras<br />

do artigo a retirar e digita-se a quantidade<br />

a consumir”. A utilização do artigo poderá<br />

ser imputada diretamente ao doente ou<br />

imputada ao serviço, ou seja, quando os<br />

artigos são imputados diretamente ao<br />

doente, o enfermeiro tem de identificar o<br />

doente e só depois proceder ao consumo do<br />

item. No entanto, “quando o consumo dos<br />

artigos é enviado para o sistema informático<br />

hospitalar, o stock no armazém avançado<br />

diminui e é gerada uma lista de picking<br />

(necessidade de reposição), caso o nível


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

mínimo seja atingido, no dia agendado para<br />

abastecimento do serviço”.<br />

Também a reposição nos armazéns<br />

avançados sofrerá mudanças. O armazém<br />

central receberá a informação qualitativa<br />

e quantitativa dos consumos efetuados<br />

no serviço utilizador e é com base nessa<br />

informação, que é percetível em tempo real<br />

qual o stock existente em cada armazém<br />

avançado, “cada armazém avançado terá<br />

definida uma folha padrão com o stock<br />

máximo e stock mínimo de cada artigo e<br />

ao atingir-se o stock mínimo é enviado ao<br />

armazém central, de forma automática, um<br />

pedido de reposição”.<br />

SINERGIAS E GANHOS<br />

De acordo com Rúben Loureiro, a obrigação<br />

de registo para consumo de material “terá<br />

um efeito moderador sobre os utilizadores e<br />

uma consequente diminuição do desperdício”,<br />

o que originará uma melhor utilização<br />

dos recursos disponíveis. Isto originará,<br />

naturalmente, “após criação de níveis de<br />

stock máximo nos vários armazéns, assim<br />

como uma reorganização dos vários produtos<br />

e armazéns (de compra direta, stock e<br />

consignação), prevê-se uma diminuição do<br />

valor de existências globais”, esclarece. Para<br />

além disso, perante um maior controlo do<br />

stock e com a uniformização dos circuitos<br />

(permitindo mais rapidez em todos os<br />

processos), haverá “uma diminuição do stock<br />

médio, apresentando assim uma melhor<br />

gestão de todos os materiais disponíveis no<br />

Hospital de Santarém”.<br />

Por último, mas não menos importante,<br />

“a monitorização rigorosa da informação<br />

detalhada em tempo útil possibilitará aos<br />

profissionais introduzir práticas corretivas de<br />

uma forma ágil, com vista às boas práticas de<br />

eficiência”, garante o responsável. •


62<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Stratesys<br />

Texto: Fábio Santos e Dora Assis<br />

OBJETIVO:<br />

ENTREGAR VALOR<br />

A Stratesys é um hub digital entre a<br />

Europa e a América, acompanhando<br />

os investimentos tecnológicos e a<br />

expansão de empresas com operações<br />

nos dois continentes. A multinacional<br />

tem apostado em projetos na área de<br />

procurement e falámos com Andressa<br />

Kondrasovas e Tiago Duarte para<br />

perceber como é que sentem o mercado<br />

e estão a dar resposta às necessidades<br />

das empresas e a contribuir para o<br />

desenvolvimento do procurement e<br />

melhoria dos processos das empresas.<br />

A<br />

área de procurement tem sido uma das<br />

apostas da multinacional em Portugal, com<br />

vários projetos desenvolvidos, o que lhes<br />

tem permitido ajudar as empresas a simplificar<br />

processos, através de novos métodos de<br />

trabalho e contribuindo para a agilização da<br />

capacidade de resposta das mesmas face a toda<br />

esta volatilidade e disrupções das cadeias de<br />

abastecimento a que se tem assistido.<br />

A função de procurement de ontem já não<br />

responde às necessidades empresariais de hoje<br />

e fica bem claro o impacto que o procurement<br />

tinha anteriormente e tem agora. Andressa<br />

Kondrasovas, líder global de Procurement<br />

na Stratesys explica que “nos últimos anos<br />

o foco estava muito na racionalização de<br />

fornecedores, no esforço para obter redução de<br />

preços, na criação de cadeias de abastecimento<br />

mais enxutas e, com os acontecimentos de<br />

2020, aquilo que pudemos observar foi uma<br />

mudança completa nos mercados e na forma<br />

de fazer negócios. O procurement hoje tem que<br />

se articular para obter agilidade e resiliência,<br />

principalmente em relação à redução de custos<br />

e temos que estar aptos a sobreviver às rápidas<br />

mudanças”, já que uma dificuldade que ainda se<br />

faz sentir é a previsibilidade ou a falta dela.


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

ACELERAR A MUDANÇA<br />

“As empresas que já consideravam a<br />

tecnologia como grande aliado sofreram<br />

menos durante a pandemia, pois a inovação<br />

e transformação já faziam parte do seu dia a<br />

dia. As que não o faziam, tiveram que aprender<br />

sob pressão, acelerando essa transformação<br />

nos últimos dois anos, especialmente em<br />

tecnologias que suportam a cadeia de<br />

abastecimento”, acrescenta Tiago Duarte,<br />

diretor da Stratesys Portugal.<br />

Hoje, a empresa está em 10 países e<br />

desenvolveu um hub tecnológico Europa-<br />

-América, que é também uma preciosa forma<br />

de colaboração, que lhes permite alcançar<br />

mercados e clientes com muito mais eficácia.<br />

Precisamente este aspeto é realçado pelo<br />

responsável da empresa em Portugal ao<br />

revelar-nos que “temos projetos em que<br />

participam pessoas de Espanha, do Brasil,<br />

de Portugal e em que, no fundo, estamos a<br />

tirar partido da dispersão geográfica e dos<br />

diferentes perfis, para em conjunto chegarmos<br />

a um objetivo comum: entregar valor aos<br />

clientes”.<br />

“Não temos mais fronteiras e isso gera uma<br />

eficiência muito significativa. Hoje os nossos<br />

clientes possuem caminhos e ferramentas<br />

para descobrir fornecedores com muito mais<br />

agilidade”, salienta Andressa Kondrasovas.<br />

Um dos méritos de toda a situação<br />

desencadeada pela pandemia foi acelerar<br />

alguns processos no que à tecnologia diz<br />

respeito, eliminando barreiras e fronteiras.<br />

Olhando para o mercado nacional, que<br />

conhece bem, Tiago não esconde que<br />

“Portugal, sendo um país geograficamente<br />

pequeno, apresenta mais resistência a este<br />

tipo de tecnologias ou pelo menos não<br />

vemos tão depressa o seu valor. A tecnologia<br />

Andressa Kondrasovas, líder global de Procurement<br />

abre novos canais de comunicação, permite<br />

descobrir novos fornecedores e é bom tanto<br />

para a empresa que compra como para a que<br />

vende. Tudo se torna mais próximo.”<br />

LIDAR COM O INESPERADO<br />

A gestão de risco passou a ser uma constante<br />

e os líderes devem estar preparados para<br />

novas disrupções originadas por tensões<br />

geopolíticas, fenómenos naturais, eventos<br />

climáticos, como os que têm vindo a registar-<br />

-se um pouco por todo o mundo.<br />

A este propósito, Andressa Kondrasovas<br />

lembra que “a Stratesys sempre esteve focada<br />

em trazer inovação tecnológica ao mercado e<br />

aos clientes. Valorizamos muito a experiência<br />

dos nossos clientes, desde o primeiro contacto<br />

e, para nós, é fundamental ter noção das suas<br />

expetativas e das suas prioridades para, em<br />

conjunto, criarmos uma verdadeira parceria<br />

e caminharmos juntos neste processo de<br />

transformação digital”.<br />

Na área de procurement o que também<br />

aumentou foi a potencialidade das soluções.<br />

Como explica a responsável da Stratesys, hoje<br />

os clientes querem uma tecnologia muito mais<br />

inteligente, que analise online o histórico e<br />

que lhes permita fazer uma projeção do futuro,<br />

de preferência num curto intervalo de tempo:<br />

“sabemos que isso hoje é possível, já não é


64<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Tiago Duarte, diretor da Stratesys Portugal<br />

utopia como há 20 anos, e inclui ferramentas<br />

que potenciam e alavancam diferentes<br />

soluções para comunicação, colaboração,<br />

mobilidade e suporte”.<br />

Há uma mudança assinalável no mindset.<br />

Antes pensava-se “o que comprar” e agora<br />

é o “como comprar” e “são todas estas<br />

potencialidades que estão focados em<br />

aprimorar, melhorando o know how que foram<br />

acumulando ao longo dos anos.<br />

Contudo, apesar de toda a evolução que<br />

se tem registado, ainda se nota alguma<br />

resistência à mudança. “É algo que é inato<br />

ao ser humano, mas em especial nos projetos<br />

tecnológicos há sempre uma tentativa de<br />

mudar a ferramenta, mas manter o processo<br />

que se tinha antes, ou seja, resistir a alterar,<br />

simplificar e adotar as melhores práticas<br />

do mercado, quando, na verdade, são essas<br />

melhores práticas que possibilitam simplificar<br />

os processos dentro da empresa e permitir<br />

um retorno do investimento”, explica Tiago<br />

Duarte, acrescentando que “esta realidade é<br />

mais notória em empresas familiares”.<br />

Ainda assim, a líder global de Procurement<br />

na Stratesys realça também que “enquanto<br />

que num passado recente a área de compras<br />

era dentro das empresas das que menos<br />

investimentos tecnológicos fazia, hoje só não<br />

investe na área de compras quem no momento<br />

tem outras prioridades de investimento<br />

tecnológico”.<br />

MUDANÇA DE PARADIGMA<br />

“De um modo geral, assistimos também a uma<br />

relação comercial e a uma parceria de negócio<br />

muito mais forte, muito mais sustentável,<br />

prática e inteligente entre comprador/<br />

fornecedor. As soluções tecnológicas vêm<br />

acrescentar valor e facilitar toda esta gestão,<br />

acrescentando visibilidade, rastreabilidade…<br />

por um lado, o comprador tem o seu trabalho<br />

facilitado, pois pode tomar uma decisão muito<br />

mais informada e, por outro lado, estamos<br />

num momento colaborativo em que toda<br />

esta interação online e instantânea, fortalece<br />

a comunicação entre parceiros”, esclarece<br />

ainda. O fornecedor tem a possibilidade de<br />

mostrar mais o seu potencial, de passar toda<br />

a informação que é solicitada, de uma forma<br />

clara e objetiva, que facilita todo o processo.<br />

Tiago corrobora este ponto de vista<br />

sublinhando que a tecnologia acaba por<br />

dar mais opções ao fornecedor, ao poder<br />

diversificar o número de empresas com as<br />

quais trabalha, não ficando tão dependente ou<br />

mesmo refém de alguns clientes. “No fundo,<br />

equilibra a balança de poderes. O advento<br />

da tecnologia veio democratizar a relação.<br />

O fornecedor agora passa a ter potenciais<br />

compradores à distância de um clique,<br />

portanto muito mais próximos”.<br />

É verdade que hoje ainda existem muitas<br />

empresas que sentem dificuldade em gerir<br />

os seus próprios fornecedores, por questões<br />

como falta de colaboração, problemas de<br />

desempenho, pouca visibilidade, para os<br />

responsáveis da Stratesys isto significa que há<br />

muito espaço de melhoria nos próximos anos,<br />

com a tecnologia a eliminar ou colmatar as<br />

atuais lacunas, melhorando processos. •


SCM Supply Chain Magazine 65


66<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Inovação em Antuérpia<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

CULT: O PODER DA<br />

COLABORAÇÃO<br />

Nos últimos tempos, a logística colaborativa<br />

tem vindo a ganhar destaque em diversas<br />

áreas da cadeia de abastecimento graças<br />

aos seus benefícios provenientes da<br />

ajuda mútua entre stakeholders. Neste<br />

contexto, a TRI-VIZOR criou o projeto CULT<br />

- Collaborative Urban Logistics & Transport,<br />

colaboração que visa uma logística urbana<br />

sustentável, através da consolidação<br />

inteligente de volume e que já deu os seus<br />

primeiros passos na cidade de Antuérpia.


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

A<br />

indústria logística, perante a tendência<br />

crescente do e-commerce, procura cada<br />

vez mais ser ágil, flexível e pontual nas<br />

suas entregas. No entanto, o consumidor<br />

além de fazer estas exigências, está,<br />

também, atento às questões que envolvem<br />

a sustentabilidade. Assim, é importante que<br />

surjam novas colaborações logísticas tendo<br />

em vista a sustentabilidade das operações<br />

das companhias envolvidas. É neste sentido<br />

que a TRI-VIZOR criou, em junho de 2021,<br />

o CULT - Collaborative Urban Logistics &<br />

Transport, “uma comunidade de empresas que<br />

compartilham uma visão comum sobre como<br />

a logística urbana sustentável pode tornar-se<br />

eficiente”, explica Alex Van Breedam, CEO da<br />

TRI-VIZOR. Contudo, apesar da empresa ser<br />

a orquestradora deste projeto, garante uma<br />

governação neutra e imparcial, envolvendo<br />

todas as partes interessadas relevantes da<br />

cidade. O CULT começou em Antuérpia e<br />

mostra-se disponível a acolher qualquer<br />

outra empresa com entregas na localidade.<br />

Dentro desta estrutura, as empresas - mesmo<br />

concorrentes - podem cooperar de forma<br />

transparente e totalmente de acordo com<br />

os regulamentos existentes. Além disso,<br />

esta iniciativa de distribuição urbana será,<br />

também, lançada brevemente noutras<br />

cidades. De acordo com o responsável, este<br />

projeto tem uma missão clara, “as empresas<br />

da comunidade CULT consolidarão os seus<br />

volumes de forma inteligente na periferia da<br />

cidade para realizar o Green Deal Delivery”.<br />

Um conceito que para ser aplicado com<br />

sucesso terá de ser feito “por meio de rotas<br />

fixas com veículos livres de emissões,<br />

operados por entregadores contratados de<br />

forma responsável. O objetivo é otimizar<br />

custo, nível de serviço, sustentabilidade e<br />

geração de valor social”, afirma o CEO.<br />

ENTREGAS URBANAS<br />

COMBINADAS<br />

O Fórum Económico Mundial prevê um<br />

aumento de 78%, dado o forte crescimento<br />

do comércio eletrónico, no que diz respeito<br />

às entregas urbanas até 2030. Porém, isso<br />

significa que o número de transportes


68<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

continuará a aumentar nas vilas e cidades.<br />

Com a ideia de reduzir a quilometragem<br />

e as emissões das entregas urbanas, as<br />

empresas Danone, Delhaize, Jacobs Douwe<br />

Egberts, Pro-Duo, Proximus, Telenet e a<br />

Schoenen Torfs, integrantes do projeto<br />

CULT desde meados de 2021, trabalharão<br />

em conjunto para organizar a entrega de<br />

encomendas com destino a consumidores e<br />

lojas de retalho. Desta forma, as mercadorias<br />

serão agrupadas de forma inteligente em<br />

armazéns na periferia da cidade, reduzindo<br />

o número de viagens a serem realizadas e,<br />

consequentemente, as emissões de CO₂.<br />

Segundo o CULT, as primeiras entregas<br />

agrupadas em Antuérpia acontecerão com<br />

entregas em horários fixos, totalmente<br />

livre de emissões, com transporte verde,<br />

como bicicletas de carga e vans elétricas<br />

e com estafetas que podem trabalhar em<br />

condições de trabalho socioeconomicamente<br />

responsáveis. Petra De Sutter, Ministra das<br />

Empresas Públicas, Administração Pública,<br />

Correios e Telecomunicações, declarou que<br />

“entregar encomendas com vans, com menos<br />

combustível, aumenta a qualidade de vida


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

de uma cidade. Reduz as emissões de CO₂ e<br />

os engarrafamentos. O CULT ajuda a atingir<br />

esses objetivos empacotando encomendas<br />

nos arredores da cidade de Antuérpia. No<br />

momento, estamos a tornar o mercado de<br />

entregas mais verde juntamente com o setor.<br />

Nesse sentido, o CULT é um marco. O papel<br />

pioneiro das empresas públicas na transição<br />

para uma economia sustentável ganha agora<br />

destaque por a bpost e a Proximus estarem a<br />

participar neste projeto.”<br />

COMEÇO PROMISSOR<br />

EM ANTUÉRPIA<br />

A bpost, organização responsável<br />

pela distribuição do correio nacional e<br />

internacional na Bélgica, foi a escolhida para<br />

fazer as primeiras entregas em pacote na<br />

cidade de Antuérpia. Assim, a distribuidora<br />

irá agrupar todas as encomendas das<br />

empresas participantes e, de seguida,<br />

entregá-las completamente livres de<br />

emissões aos consumidores e pontos de<br />

venda na cidade. A bpost não distribuirá<br />

apenas encomendas, mas, também, paletes<br />

para pontos de venda. O seu transporte<br />

será feito através de pequenos camiões de<br />

HVO (óleo vegetal hidrotratado) estando<br />

Alex Van Breedam, CEO da TRI-VIZOR<br />

em aberto, futuramente, realizar esse<br />

transporte de forma totalmente elétrica.<br />

Dirk Tirez, CEO da bpost, declarou que<br />

“este projeto está totalmente alinhado com<br />

nossa filosofia Ecozone de sustentabilidade,<br />

distribuição urbana inovadora através da<br />

qual combinamos a entrega livre de emissões<br />

com uma extensa rede de pontos de coleta e<br />

armários. Portanto, é lógico que a bpost dê a<br />

sua contribuição para isso. A nossa ambição é<br />

ser o player de logística de e-commerce mais<br />

sustentável da Europa até 2030, com uma<br />

última milha livre de CO₂”. Após a análise<br />

das primeiras entregas de mercadorias


70<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

teste das sete empresas em Antuérpia, foi<br />

possível perceber que mais de um quarto<br />

do número de quilómetros percorridos foi<br />

economizado e as emissões foram reduzidas<br />

por um fator de quase dez. “Quanto mais<br />

empresas agruparem os seus fluxos no CULT,<br />

menos movimentos de transporte e emissões,<br />

em comparação com a situação em que as<br />

empresas operam individualmente, existirão.<br />

Afinal, cinco entregas por rua é muito mais<br />

sustentável e eficiente do que uma entrega a<br />

cada cinco ruas”, afirmou Alex Van Breedam,<br />

acrescentando que “ao alinhar melhor<br />

os fluxos de mercadorias das empresas -<br />

digamos, tornando o agrupamento mais<br />

inteligente - muitos quilómetros e emissões<br />

podem ser economizados”. Esta iniciativa<br />

faz parte do Smart Ways to Antwerp urban,<br />

lançado em julho de 2020, convocatória<br />

destinada a projetos de logística, onde os<br />

projetos selecionados contribuirão para uma<br />

logística urbana regular e eficiente. Como<br />

escolhido, o projeto CULT está a receber<br />

apoio substancial e financeiro da cidade<br />

de Antuérpia. Koen Kennis, Vereador de<br />

Mobilidade da cidade de Antuérpia ressaltou<br />

que “estamos a tornar a nossa cidade mais<br />

sustentável passo a passo e estamos a fazer<br />

isso trabalhando com os parceiros certos. Os<br />

convites à apresentação de projetos da The<br />

Smart Ways to Antwerp são uma forma ideal<br />

de reunir empresários com soluções criativas<br />

- mais fortes juntos, mais inteligentes juntos.<br />

O CULT é um bom exemplo disso”. •


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

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72<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

CARREIRA<br />

Mercado de trabalho<br />

Texto: Dora Assis<br />

AS PRINCIPAIS<br />

TENDÊNCIAS<br />

PARA 2023<br />

A Michael Page lançou o seu<br />

estudo anual sobre as principais<br />

tendências do mercado de trabalho<br />

para o próximo ano para quadros<br />

executivos em empresas de grande<br />

dimensão. No conjunto de setores é<br />

percetível o aumento da digitalização<br />

dos negócios, a mobilidade, novos<br />

métodos de trabalho, novas funções<br />

e a corrida por talentos.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

No setor da logística, observou-se um forte<br />

aumento na procura de profissionais de<br />

logística e supply chain principalmente<br />

em setores industriais, retalho e construção,<br />

onde a procura destes profissionais é<br />

superior à oferta.<br />

Esta escassez de talento traduziu-<br />

-se num aumento entre 5% e 8% dos<br />

salários em geral. Os perfis mais<br />

procurados são essencialmente de<br />

middle management, onde se destacam<br />

as funções de Customer Service,<br />

Supervisor de Logística, Responsável de<br />

Operações ou Comprador Sénior. Também<br />

as posições de Top Management cresceram<br />

em procura, nomeadamente: Diretor de<br />

Operações, Diretor de Logística, Diretor de<br />

Supply Chain e Diretor de Compras.<br />

DIFERENCIAÇÃO E CULTURA<br />

EMPRESARIAL<br />

À semelhança do que se verifica noutros<br />

setores funcionais, a atração do talento de<br />

logística e supply chain exige diferenciação<br />

por parte das empresas e aposta numa forte<br />

cultura empresarial que contemple um plano<br />

de progressão de carreira bem definido e<br />

um pacote de fringe benefits diversificado<br />

(ginásio, seguro de saúde, fundo de pensões,<br />

entre outros), além de considerar a saúde ou a<br />

flexibilidade.


74<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

Na área de supply chain, a função de Supply<br />

Chain Analyst pode auferir até 28 mil euros e<br />

um diretor de compras (Procurement Director)<br />

até 110 mil euros, enquanto na área de logística,<br />

o plafond de remuneração máximo de 90 mil<br />

euros cabe ao cargo de Diretor.<br />

Já no que diz respeito ao setor do retalho, a<br />

retoma do setor em <strong>2022</strong> foi surpreendente,<br />

destacando-se a competitividade e novas<br />

formas de trabalhar, quer a nível de ferramentas<br />

digitais como de logística.<br />

RETALHO ESPECIALIZADO:<br />

A GRANDE SURPRESA<br />

Se setores como a construção, bricolage,<br />

mobiliário, alimentar, desporto, entre outros,<br />

já tinham tido um ano bastante positivo<br />

em 2021, a grande surpresa foi no retalho<br />

especializado que, em algumas áreas, conseguiu<br />

obter recordes de vendas face a 2019. Estes<br />

valores foram possíveis não só pelo aumento de<br />

consumo que se observou, mas também porque<br />

as equipas demonstraram ter uma grande<br />

capacidade de adaptação e resiliência.<br />

Se no primeiro trimestre a procura por novos<br />

perfis foi mais focada na vertente digital, nos<br />

trimestres seguintes observou-se um aumento<br />

da procura por perfis de operação, ou seja,<br />

vendedores e gestores de loja.<br />

Este dinamismo do mercado poderá ser<br />

explicado pelas transformações digitais e de<br />

logística que as empresas estão a desenvolver,<br />

mas também pelo grande investimento<br />

internacional em Portugal, com a chegada<br />

de novos players que oferecem condições de<br />

trabalho mais aliciantes.<br />

ALTERAÇÃO E COMPATIBILIZAÇÃO<br />

DE PRIORIDADES<br />

Os candidatos procuram melhores condições<br />

salariais, mas também outras regalias,<br />

nomeadamente o equilíbrio entre a vida pessoal<br />

e a vida profissional. Nas funções com turnos<br />

rotativos, observa-se uma procura por funções<br />

com horários mais estáveis, nas funções de sede<br />

procuram-se projetos com possibilidade de<br />

trabalhar em modelo híbrido.<br />

Se em 2021 se observou uma grande alteração<br />

nas prioridades dos colaboradores, <strong>2022</strong> veio<br />

realçar ainda mais essas prioridades, juntando à<br />

estabilidade financeira, a procura pela realização<br />

pessoal e a possibilidade de compatibilizar o<br />

trabalho com a vida pessoal.<br />

A aposta na profissionalização tem levado à<br />

procura de profissionais com formação académica.<br />

Por outro lado, as empresas têm feito um grande<br />

esforço na criação de academias e na facilitação<br />

do acesso ao ensino superior, com o objetivo<br />

de ajudar as suas equipas, valorizando nos<br />

candidatos competências como a proatividade,<br />

o dinamismo e a vertente estratégica.<br />

Paralelamente a esta tendência, continuou a<br />

observar-se uma grande procura por perfis nas<br />

áreas tecnológicas, de marketing e logística, fruto<br />

do grande desenvolvimento das plataformas de<br />

e-commerce e da presença digital das marcas.


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

Relativamente à remuneração, e observando-<br />

-se um aumento salarial médio de 5% para<br />

funções qualificadas, nas funções de Direção, a<br />

posição de Diretor Geral pode auferir até 160<br />

mil euros e de Diretor de Marketing até 130<br />

mil euros. Nas funções de Compras, o Retail<br />

Manager pode ganhar entre 42 e 63 mil euros,<br />

enquanto nas funções de Operações no retalho<br />

alimentar e especializado de grande dimensão,<br />

a remuneração máxima de 80 mil euros cabe ao<br />

Diretor Comercial de Retalho. •<br />

Nota: Valores de faturação e/ou crescimento<br />

correspondentes a <strong>2022</strong> ao período compreendido<br />

entre janeiro e outubro, na área da Grande Lisboa e<br />

Grande Porto. O estudo de remuneração apresentado<br />

foi realizado graças ao conhecimento do mercado<br />

da Michael Page e à constante relação com clientes<br />

e candidatos. A informação contida neste estudo é<br />

o resultado de uma análise empírica de três fontes<br />

de informação diferentes: base de dados, perfis de<br />

candidatos e clientes e publicação de anúncios na<br />

imprensa e na internet.


76<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

José Fernando Guilherme<br />

CTT | Correios de Portugal<br />

AS MUDANÇAS NO<br />

MUNDO E OS DESAFIOS<br />

DAS SUPPLY CHAINS<br />

Quando penso em Supply Chain, lembro-me<br />

da expressão “relógio suíço”. Não estou<br />

a fazer publicidade a nenhuma marca de<br />

relógio, mas o funcionamento de uma cadeia<br />

de abastecimento, incorporando todas as suas<br />

componentes, deve ser regular, fiável, exato…<br />

competitivo. E recordo todos os milhões<br />

de trabalhadores que integram as cadeias<br />

logísticas, faça sol ou faça chuva, calor ou<br />

frio, cidades e estradas congestionadas, eles<br />

executam, todos os dias, a sua parte da cadeia<br />

para que as populações recebam os produtos<br />

de que precisam e as empresas vendam os seus<br />

produtos.<br />

Se em condições normais já é difícil assegurar<br />

essas características (regularidade, fiabilidade,<br />

exactidão), porque há sempre a sazonalidade do<br />

mercado, imprevistos, agora tudo isto é muito<br />

mais difícil de alcançar.<br />

Afinal, nunca foi fácil integrar as várias<br />

componentes e sabemos que se um desses elos<br />

tiver problemas, nos elos seguintes e no final<br />

haverá problemas acrescidos. E num mundo<br />

global as grandes cadeias logísticas são cada vez<br />

mais complexas, extensas, com muitas parcerias,<br />

algumas mais difíceis de controlar que outras.<br />

Hoje, olhando para o passado recente, admito<br />

que o mundo era muito mais parecido com o tal<br />

“relógio suíço”. O comércio global, a digitalização<br />

crescente, a facilidade de comunicações e<br />

transportes faziam parecer fácil aquilo que à<br />

partida já era muito difícil. Entretanto, o mundo<br />

mudou… Porque houve (há) COVID, porque há<br />

guerra, porque há falta de peças criticas, porque<br />

o custo da energia disparou… Muitos porques.<br />

Todos nós já experimentámos essas<br />

mudanças. As viagens que não se realizam,<br />

os automóveis novos que não satisfazem<br />

as necessidades do mercado, o custo dos<br />

transportes, o tempo de transporte. E, de<br />

repente, estamos noutro ciclo. Percebemos que<br />

temos que ser muito eficientes, ter soluções<br />

mais seguras, alternativas pensadas; não estar<br />

tão dependentes de terceiros e dos imprevistos<br />

que passam a ser previstos. Uma economia<br />

não pode esperar que os produtos cheguem do<br />

outro lado do mundo, que a energia apareça<br />

de qualquer lado, as fábricas não podem estar<br />

dependentes de peças feitas no outro lado do<br />

mundo.


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Mas esta alteração profunda na Supply Chain<br />

é apenas uma parte de tudo o que está a mudar<br />

e vai continuar a mudar. A instalação de grandes<br />

redes de pontos de entrega é uma resposta<br />

à necessidade de racionalizar o comércio<br />

eletrónico e reduzir custos na distribuição.<br />

Temos que ser coerentes, defendemos o<br />

planeta, mas temos que começar por nós. As<br />

entregas gratuitas, à nossa porta, são um bom<br />

argumento de mercado, mas têm custos, sem<br />

dúvida.<br />

Temos grandes desafios pela frente. Desafios<br />

globais:<br />

• As alterações climáticas que nos estão<br />

a colocar em modo de sobrevivência<br />

(incêndios, albufeiras vazias, temperaturas<br />

cada vez mais elevadas);<br />

• As alterações demográficas que estão<br />

a deixar continentes e países muito<br />

envelhecidos, sem profissionais suficientes<br />

para funções vitais, incluindo a falta de<br />

motoristas;<br />

• As alterações energéticas, com tecnologias<br />

recentes e ainda em desenvolvimento e<br />

tempos de implementação muito curtos;<br />

• Continentes e países com populações<br />

crescentes, muito jovens e com dificuldade<br />

em ter uma vida com qualidade.<br />

Para garantir a fiabilidade de uma Supply<br />

Chain temos especialistas que cada vez mais<br />

têm que pensar na segurança e na criação de<br />

alternativas, mas precisamos de uma “Supply<br />

Chain Global” que garanta uma vida justa e<br />

digna para todos. Se falharmos neste projeto<br />

teremos um desfecho muito mau para todos.<br />

O que nos leva à necessidade de “o mundo”<br />

que conhecemos até há poucos anos ter que<br />

se transformar para todos podermos viver em<br />

paz e desenvolvimento. Nunca tivemos tanto<br />

conhecimento, profissionais muito preparados,<br />

modelos de planeamento, inteligência artificial,<br />

automatismos, energias alternativas… Se<br />

o mundo é mais complexo do que nunca,<br />

também é verdade que nunca estivemos tão<br />

bem preparados para enfrentar as dificuldades.<br />

Mas este desafio tem que ser resolvido a<br />

todos os níveis. E os governos terão que<br />

assumir responsabilidades que, num mundo<br />

pacífico, competitivo, colaborante, não seriam<br />

necessárias.<br />

E, ao nível das empresas, cada um terá que<br />

ter a capacidade para pensar em todos os<br />

desafios e preparar todos os cenários, incluindo<br />

a cada vez maior partilha e colaboração entre<br />

empresas. E pensar em todas as oportunidades<br />

de aumento de eficiência das operações,<br />

processos otimizados (incluindo rotas de<br />

transporte e distribuição, localização adequada<br />

de centros de distribuição), usar os modos de<br />

transporte mais adequados em cada situação,<br />

qualificar e reter os melhores colaboradores<br />

(essencial), automatizar tudo o que for possível,<br />

renovar equipamentos obsoletos e com custos<br />

de operação elevados, externalizar o que for<br />

interessante. Sem esquecer a segurança de<br />

todos, incluindo a segurança rodoviária (com<br />

ganhos significativos como tenho referido<br />

muitas vezes).<br />

Esta abordagem inclui uma presença ativa<br />

no mercado. Se não há profissionais, vamos<br />

encontrá-los e formá-los. Se não há recursos<br />

adequados, vamos preparar profissionais e fazer<br />

parcerias quando for necessário. Para garantir o<br />

desenvolvimento e a vida com qualidade para<br />

todos os habitantes deste mundo, precisamos<br />

claramente de mais cooperação, de mais ciência,<br />

de mais racionalidade. •


78<br />

NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“O que as rãs em água quente nos podem nos ensinar sobre<br />

repensar” Ideas worth spreading, TED@BCG 2021,<br />

Adam Grant, 1.7 millhões de visualizações<br />

“Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar,<br />

Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguir umas das outras.”<br />

Oração da Serenidade, Autor Desconhecido<br />

Há a famosa história da rã que salta<br />

imediatamente, se atirada para dentro duma<br />

panela de água a ferver, mas que se deixa cozer<br />

quando colocada em água fria que aquece<br />

lentamente. Esta narrativa serve de metáfora para<br />

o que acontece às pessoas, no que diz respeito<br />

aos seus objectivos, identidade e hábitos, os quais<br />

não voltam a desafiar uma vez estabelecidos. Não<br />

reconhecemos o perigo de não mudar porque<br />

temos relutância em repensar.<br />

Acontece por vezes que nos apercebemos que<br />

um objectivo é inalcançável. Em vez de repensar o<br />

que queremos atingir, esforçamo-nos ainda mais<br />

por lá chegar, afinal já investimos tanto! Há uma<br />

linha ténue entre persistência heróica e estúpida<br />

teimosia, existindo um termo em Psicologia que<br />

define este último comportamento: “escalada de<br />

compromisso para um curso de acção perdedor”.<br />

O “nunca desistir” não equivale a “persistir numa<br />

coisa que está a falhar”, significa na realidade<br />

alargar o leque de opções e clarificar o que<br />

realmente se ambiciona.<br />

Há igualmente um termo científico para<br />

quando cristalizamos quem somos; chama-se<br />

“encerramento de identidade”. Isto acontece<br />

quando nos definimos demasiado cedo, com<br />

critérios estreitos, fechando-nos a outras<br />

alternativas que também reflitam os nossos<br />

valores e propósito na vida. Há toda uma gama<br />

de possíveis áreas de desenvolvimento pessoal,<br />

e, se uma via falha, temos outras desde que<br />

repensemos as possibilidades.<br />

Finalmente, ao longo da nossa vida criámos<br />

hábitos que nos foram úteis, mas que também<br />

nos podem enclausurar. O termo académico que<br />

define este estado é “entrincheiramento cognitivo”,<br />

ou seja, fazer as coisas como sempre as fizemos,<br />

mesmo quando já não se justifica. Podemos<br />

receber “feedback” que nos ajude a repensar os<br />

nossos hábitos, mas é normalmente difícil aceitá-<br />

-lo. Se, em vez de ficar na defensiva, mostrarmos<br />

curiosidade, abrimos a mente ao processo de<br />

repensar e podemos reavaliar se aquilo a que nos<br />

habituamos ainda faz sentido.<br />

Repensar é exercer “humildade confiante”, uma<br />

característica dos grandes líderes. Permite-nos<br />

reconhecer que não sabemos ou nos enganámos,<br />

aceitar ideias que nos fazem sentir desconfortáveis<br />

e rodear-nos de pessoas que desafiam a nossa<br />

maneira de pensar, e até as nossas conclusões.<br />

Alguém repensou a história da rã e descobriu<br />

que afinal era um mito; assim que a água chega a<br />

uma temperatura desconfortável, a rã na realidade<br />

salta fora da panela.<br />

Adam Grant licenciou-se na Universidade de Harvard<br />

e fez o mestrado e doutoramento na Universidade de<br />

Michigan, em psicologia organizacional. É pesquisador,<br />

autor e consultor de empresas como a Google, a Apple<br />

e a Goldman Sachs, e foi o mais jovem professor a<br />

ser contratado pela Wharton School da Universidade<br />

da Pensilvânia. Fez mergulho de competição até<br />

entrar para a Universidade, e trabalhou como mágico<br />

profissional enquanto estudava.


80

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