SCMedia News | Revista | Novembro & Dezembro 2022
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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Nov & Dez <strong>2022</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
37<br />
STAPLES PORTUGAL<br />
A DECISÃO FINAL<br />
AINDA É HUMANA<br />
SEGUROS<br />
MAIS VALE<br />
PREVENIR…<br />
CIRCULARIDADE<br />
NA INDÚSTRIA<br />
DA MODA<br />
MERCADO DE TRABALHO<br />
E TENDÊNCIAS<br />
PARA 2023<br />
LS ESPAÑA<br />
“Em Roma, sê romano”
2<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong>
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
Dora Assis<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
EDITORIAL<br />
VOLATILIDADE, VOLATILIDADE, VOLATILIDADE<br />
“O segredo não está em nunca cair, mas em saber levantar-se.”<br />
João Garcia, alpinista<br />
Quando entrámos em <strong>2022</strong> já todos sabíamos<br />
que o “Vai ficar tudo bem!” não passava<br />
de uma utopia. O que ainda ignorávamos<br />
é que logo em fevereiro a realidade iria<br />
ultrapassar a ficção, colocando-nos perante<br />
uma guerra na Europa e à crise sanitária<br />
seguir-se-ia uma crise humanitária, também<br />
ela com repercussões à escala global,<br />
acelerando aquilo que já se antevera nos<br />
anos precedentes: a gestão das cadeias de<br />
abastecimento como a conhecíamos terá que<br />
mudar.<br />
Já antes da invasão da Ucrânia, a resiliência<br />
estava no topo das agendas. Tendo<br />
enfrentado um problema atrás do outro -<br />
tensões e guerras comerciais, os bloqueios da<br />
COVID-19, o encerramento do canal do Suez<br />
e o estrangulamento das rotas marítimas<br />
mundiais - muitos gestores já tinham<br />
abandonado a estratégia do “just in time”,<br />
passando a funcionar no registo “just in case”.<br />
Aumentar os inventários de matérias-primas<br />
e produtos críticos, procurar fornecedores<br />
mais próximos de casa ou duplicar fontes<br />
de abastecimento passaram a fazer parte do<br />
dia-a-dia da reconfiguração das cadeias de<br />
abastecimento e parte integrante desta longa<br />
jornada para a resiliência. É também com<br />
esse espírito de perseverança que fazemos<br />
chegar até si a última revista de <strong>2022</strong>.<br />
A frase que antecede este editorial é do<br />
homem que já subiu aos cumes mais altos<br />
de todos os continentes. Há mais de 20<br />
anos, numa expedição ao Evereste, a descida<br />
tardia tornou-se num pesadelo que o marcou<br />
para sempre: perdeu o seu amigo Pascal e ia<br />
perdendo ele próprio a vida. Dois anos depois<br />
estava a subir ao cume de outra montanha<br />
com mais de 8.000 metros. Sempre sem<br />
oxigénio artificial.<br />
João Garcia, o alpinista português que<br />
escreve livros, dá palestras e é atualmente<br />
guia de montanha, continua a desafiar-se a si<br />
próprio todos os dias e a procurar trilhos por<br />
explorar. Quer melhor exemplo de resiliência<br />
do que este?<br />
Mesmo que tudo nos diga que os próximos<br />
meses vão ser difíceis, encaremos 2023 como<br />
aquilo que é: um ano novinho em folha para<br />
fazermos mais e, de preferência, melhor.
4<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
#16 #38 #46<br />
ÍNDICE<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Devoluções: esperados 18,1 mil milhões de<br />
euros no Natal 06<br />
LOGÍSTICA<br />
Luis Simões España 08<br />
Seguros na supply chain 16<br />
Benchmarking Supply Chain 26<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Staples Portugal 46<br />
TECNOLOGIAS<br />
Continental automatiza receção de<br />
mercadorias 54<br />
A tecnologia ao serviço da saúde 58<br />
Objetivo: entregar valor 62<br />
PROCUREMENT<br />
SAP Partner Ecosystem 34<br />
Circularidade da moda 38<br />
4 empresas líderes combatem<br />
emissões 42<br />
TRANSPORTES<br />
CULT: o poder da colaboração 66<br />
CARREIRA<br />
Trabalho: as tendências para 2023 72
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
#58<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
As mudanças no mundo e os desafios<br />
das supply chains 76<br />
O MUNDO É REDONDO<br />
“O que as rãs em água quente nos podem ensinar<br />
sobre repensar”, Adam Grant 78<br />
#62<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e Redação_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Diretora_<br />
Dora Assis<br />
Redação_<br />
Fábio Santos<br />
Projeto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
Laura Dias<br />
Direção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Business Development_<br />
Samantha Casas<br />
Marketing Digital_<br />
Catarina Santos<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
NPC _<br />
514707143<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.
6<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
DEVOLUÇÕES: ESPERADOS<br />
18,1 MIL MILHÕES DE<br />
EUROS NO NATAL<br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
Embalagem e<br />
transporte<br />
A<br />
DS Smith, empresa de packing sustentável,<br />
realizou um estudo que comprovou que as<br />
encomendas online estão sujeitas a uma<br />
força g comparável à registada nas corridas<br />
de automóveis e no lançamento de foguetões.<br />
A empresa realizou testes com acelerómetros<br />
que rastreiam a velocidade de uma encomenda<br />
ao longo do seu trajeto e que fornecem<br />
dados que podem explicar os danos que esta<br />
sofre. Desta forma, é possível compreender<br />
o ambiente difícil que as encomendas têm<br />
de enfrentar até que cheguem ao cliente em<br />
perfeitas condições.<br />
Através desta investigação foi possível<br />
compreender que uma encomenda standard<br />
é submetida a uma força g de até 50 gs, ou<br />
seja, cinco vezes mais que o nível de força g<br />
que faria um astronauta experiente perder<br />
a consciência (9 gs 3) e 10 vezes mais força<br />
g do que a experienciada numa montanha-<br />
-russa (5 gs 4). Atualmente, quase metade<br />
dos compradores online europeus declaram<br />
ter recebido encomendas danificadas no<br />
último ano (45%), o que corresponde a mais<br />
de 377 milhões de entregas afetadas. Estes<br />
afirmam que, em média, cada uma das suas<br />
encomendas custou 47,94€, o que representa<br />
um valor potencial de 18,1 mil milhões de<br />
euros de produtos danificados enviados todos<br />
os anos, nomeadamente neste natal, em toda<br />
a Europa.<br />
No entanto, a população tolera cada vez<br />
menos receber produtos danificados e está a<br />
devolver até artigos de menor valor. Dado o<br />
aumento do custo de vida, o valor médio que<br />
um artigo danificado teria de ter para que o<br />
devolvessem diminuiu de 26€ para 21,50€,<br />
o que significa um aumento no número de<br />
devoluções. Este cenário poderá ser um<br />
problema para as empresas. pois da mesma<br />
forma que aumenta o número de marcas que<br />
estão a considerar cobrar devoluções, 43% dos<br />
compradores europeus esperam entregas e<br />
devoluções gratuitas. •
8<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Luís Simões<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotografias: Fábio Santos<br />
EM ROMA, SÊ ROMANO<br />
Apesar de Portugal e Espanha serem países próximos, não só os países e<br />
os idiomas são diferentes, mas também o mercado o é. E se por um lado<br />
a Luís Simões teve de se adaptar às diferenças entre os países, também<br />
teve de ganhar o reconhecimento de alguns clientes para que lhes<br />
entregassem as suas operações.
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
Da mesma maneira que é importante arriscar,<br />
é necessário fazê-lo com consciência e<br />
segurança. A inflação está a agravar as<br />
tendências e os casos de sinistros ao longo da<br />
supply chain, afetando as empresas de diversas<br />
formas. Através da aquisição de seguros, as<br />
empresas conseguem ter uma salvaguarda<br />
para os seus bens e para os que gerem,<br />
manipulam ou transportam por terceiros, mas<br />
as constantes oscilações de preços tornam<br />
a situação um pouco mais complicada para<br />
ambos os lados.<br />
Em 2018 a Luís Simões iniciou uma jornada<br />
para a construção do seu maior e mais avançado<br />
centro de operações logísticas, tendo sido<br />
inaugurado em fevereiro de 2019. Localizada em<br />
Guadalajara, a plataforma tem 89.000 metros<br />
quadrados, e foi o resultado de um investimento<br />
de 85 milhões de euros. O complexo dedica-se a<br />
produtos de grande consumo e é composto por<br />
três naves, com 31.158m², 29.083m² e 28.650m²,<br />
projetadas para ter capacidade para 180.000<br />
paletes e permitir, diariamente, a entrada de 112<br />
viaturas e a saída de 174.
10<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Não muito longe dali, em Cabanillas<br />
del Campo, encontra-se outro centro de<br />
distribuição da empresa portuguesa. Este<br />
tem uma capacidade para 70.000 paletes e a<br />
maior parte da operação dedica-se a bebidas<br />
espirituosas e cervejas. Em 2017 juntaram<br />
neste local alguns armazéns que precisaram<br />
de fechar e consolidaram e reorganizaram as<br />
operações neste local.<br />
A convite da Luís Simões, deslocámo-nos<br />
a Espanha para conhecer estes dois centros<br />
logísticos e a forma como a automação os<br />
ajuda diariamente.<br />
CONHECER O MERCADO<br />
“Quando viemos para Espanha, tal como em<br />
Portugal, fomos para o Fast Moving Consumer<br />
Goods (FMCG)”, começa por recordar Vítor<br />
Enes, diretor-geral de Business Development,<br />
“e fomos ganhando massas críticas”. Os<br />
primeiros clientes com alguma dimensão<br />
começaram por ser do setor das bebidas, o<br />
que considera que “não foi por acaso, porque<br />
as bebidas precisam de muitos camiões e<br />
dão massa crítica”. No entanto, conta que, a<br />
determinada altura, perceberam que tinham<br />
muitas cervejas e refrescos, e que ambos<br />
os picos de atividade eram no verão, então<br />
necessitavam de “clientes de inverno”. “É por<br />
isso que temos aqui tanta bebida espirituosa,<br />
porque tem mais atividade no inverno, não<br />
estão cá por acaso”, explica.<br />
Desta forma, compensaram a atividade<br />
que tinham ao longo do ano, tendo “grandes<br />
clientes de verão e de inverno”. “As bebidas<br />
dão muita massa crítica, portanto estamos<br />
muito especializados nos FMCG, muitos para<br />
as grandes superfícies, como em Portugal”,<br />
aponta o responsável, “é aquilo que sabemos<br />
fazer e estamos especializados”.<br />
Vítor Enes, diretor-geral de Business Development<br />
Apesar de a maioria dos produtos da<br />
plataforma de Cabanillas del Campo serem<br />
bebidas, esta também conta com alguns outros<br />
tipos de produtos que vão para os mesmos<br />
destinos e que não atrapalham a operação, e<br />
nota que “estamos sempre a ver quando é que<br />
os clientes encaixam uns com os outros”.<br />
“Quando cheguei, passado pouco tempo<br />
percebi que, por exemplo, nos iogurtes, a<br />
principal referência consumida em Portugal é<br />
o de morango, e em Espanha é o de limão. Isto<br />
tem diferenças, não é tudo igual, e em Roma<br />
sê romano”, comenta Vítor Enes, defendendo<br />
que é muito importante conhecer a realidade<br />
sociocultural da região em que as empresas<br />
se pretendem instalar, antes de partir para o<br />
negócio e tentar fazê-lo como sempre fizeram<br />
noutro local. “Precisamos de entender e de nos<br />
juntar com as pessoas”, acrescenta.<br />
A consolidação dos vários armazéns neste<br />
espaço deu-se precisamente para se lançarem<br />
no mercado com cautela e irem explorando<br />
primeiro: “quando começámos com as<br />
operações não podíamos chegar e desembarcar<br />
com uma nave de 90.000 paletes”.
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
COMBINAR CLIENTES E TIRAR<br />
PROVEITO DAS SINERGIAS<br />
Vítor Enes comenta que “quando os clientes<br />
nos visitam apontam que os armazéns estão<br />
cheios, mas isso é o suposto, têm de estar<br />
sempre cheios. Nós temos soluções. Por<br />
exemplo, o de Guadalajara, está cheio, mas<br />
não está cheio exatamente com os clientes<br />
que eu quero, eu depois quero lá meter outros.<br />
Portanto, eu tenho lá produtos, ou operações,<br />
que consigo com mais facilidade retirar para<br />
outras naves e meter outro tipo de operações”.<br />
Um exemplo de otimização das operações<br />
face aos picos de atividade foi com um cliente<br />
sazonal que ocupava grande parte do armazém<br />
durante apenas metade do ano. “Por vezes são<br />
questões de bom senso”, aponta, “percebemos<br />
que um cliente durante metade do ano<br />
ocupava o armazém todo, e na outra metade<br />
não ocupava. Nós arranjámos uma solução:<br />
não cobrámos a totalidade do armazém e<br />
durante seis meses colocámos outros produtos<br />
nesse espaço”, e assim juntaram produtos<br />
diferentes, com picos diferentes, no mesmo<br />
local, poupando custos ao cliente e ganhando<br />
noutro lado.<br />
Em Cabanillas del Campo existe ainda<br />
um armazém separado para produtos<br />
farmacêuticos de um cliente, a temperatura<br />
controlada, autorizada pelas autoridades<br />
sanitárias, e com uma capacidade para entre<br />
17.000 e 20.000 paletes. Para além disso, este<br />
centro tem a peculiaridade de contar com<br />
alguma automatização ao nível das cargas, ao<br />
contrário do que ocorre no de Guadalajara, que<br />
serve para armazenagem. “Todos os pedidos<br />
que preparamos metemos neste armazém,<br />
com a planificação de rotas de distribuição e,<br />
no dia seguinte, todos os pedidos vão sendo<br />
colocados para que fiquem prontos a carregar”,<br />
explica, “é como se fosse um sorter, mas de<br />
paletes e não de caixas”. Esta preparação<br />
automática dos pedidos, feita de acordo com<br />
as rotas, “permitiu-nos otimizar o espaço do<br />
cais, e ganhar rigor na expedição, para não<br />
haver enganos”. Já no caso da automação,<br />
contam com alguns autómatos pelo armazém,<br />
que recolhem paletes, e as vão arrumando<br />
automaticamente nos espaços dedicados.<br />
A plataforma de Cabanillas del Campo<br />
tem ainda a vantagem de ser um depósito<br />
fiscal, tendo como vantagem para os<br />
clientes a suspensão temporária do imposto,<br />
enquanto regime aduaneiro, destinando-se<br />
ao armazenamento temporário da mercadoria<br />
até ao seu despacho, dando algum tempo<br />
ao importador para decidir o destino da<br />
mercadoria em questão. “Este é o maior<br />
entreposto fiscal de bebidas espirituosas de<br />
toda a Espanha”, aponta Vítor Enes.<br />
UM ARMAZÉM AUTOMATIZADO A<br />
DIVERSOS NÍVEIS<br />
Enquanto Cabanillas del Campo tinha um<br />
grande foco nas bebidas, Guadalajara abraça<br />
os produtos de grande consumo, desde<br />
alimentação, móveis, PLV e, devido à campanha<br />
de Natal, também álcool. Uma das três naves<br />
(B) é certificada por LEED Gold, a segunda<br />
maior categoria desta certificação, logo após<br />
a Platinum, uma meta difícil de atingir por<br />
grande parte das empresas, enquanto as<br />
restantes contam com a certificação Silver. No<br />
caso da certificação Gold, todas as máquinas<br />
funcionam a lítio, recolhem águas pluviais, e<br />
pretendem aumentar os painéis solares nos<br />
telhados dos armazéns para autosuficiência.<br />
Por agora, a percentagem ainda é baixa, por<br />
ainda se encontrarem em expansão.
12<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Também aqui contam com uma nave<br />
refrigerada, a temperatura controlada entre<br />
14 e 18ºC, com uma capacidade para cerca de<br />
8.000 paletes para uma campanha natalícia, e<br />
alguns outros produtos, cuja operação iniciou<br />
em junho. “Foi algo que os clientes foram<br />
perguntando se tínhamos, mas na altura a<br />
massa crítica era a temperatura ambiente”,<br />
aponta Vítor Enes.<br />
Através de uma ponte fechada existe<br />
uma ligação entre duas naves, permitindo<br />
a movimentação de produtos de e para o<br />
armazém automático. “Esta ponte vai ligar com<br />
o armazém automático, e por aqui podemos<br />
enviar ou receber paletes”, conta António<br />
Fernandes, diretor de inovação e projetos da<br />
empresa. Aqui, o conceito é diferente, porque<br />
junta o automático com operações manuais,<br />
como é o caso do picking.<br />
A nave está dividida em três níveis. No<br />
primeiro nível, são feitas apenas saídas de<br />
produtos, sendo este o espaço de cais. No<br />
segundo, há entrada e saída, e é onde também<br />
existem alguns processos de co-packing. E por<br />
fim, no terceiro, só existe entrada de produtos.<br />
“Toda a mercadoria que entra, sobe ao topo<br />
e entra no silo”, comenta António Fernandes,<br />
“isto é basicamente saídas, entradas e<br />
movimentos internos, transferências,<br />
reaprovisionamentos, co-packing… tudo o que<br />
se mexe está no segundo piso”.<br />
O armazém automático funciona num espaço<br />
fechado e interdito. Este armazém tem uma<br />
altura de 42 metros, estando o último nível do<br />
armazém automático a 36 metros de altura.<br />
O sistema tem a particularidade de conseguir<br />
andar diretamente na diagonal, o que lhe<br />
dá mais agilidade, e a funcionar em pleno é<br />
capaz de trabalhar 1.200 paletes por hora,<br />
desde entrada, saída, movimentação interna.<br />
António Fernandes, diretor de inovação e projetos<br />
“De entrada e saída, atualmente deve estar<br />
a fazer entre 7.500 e 8.000 paletes por dia.<br />
Em Portugal é como transferir um cliente de<br />
média dimensão em qualquer armazém. Aqui<br />
fazemos todos os dias uma transferência de um<br />
armazém”, compara António Fernandes.<br />
Apesar de o sistema poder fazer<br />
automaticamente estes processos, existe<br />
uma pessoa responsável pelo controlo e que<br />
funciona como “cérebro” da automatização, e<br />
gere a introdução das rotas. Esta pessoa opera<br />
como “torre de controlo” e tem ordem para<br />
alterar uma ordem do armazém, por exemplo,<br />
no caso de um veículo estar atrasado, ou em<br />
caso de avaria. “Imaginemos que está previsto<br />
sair uma rota, que está em automático a sair<br />
de X em X horas. Antes do carro chegar, se<br />
ele souber que o carro está atrasado, ele vai<br />
lá, cancela a ordem e passa para uma hora<br />
diferente”, apontou o responsável, “se ele<br />
for automático, eu faço tudo em automático,<br />
mas se há um atraso, para o sistema isso não<br />
existe”.<br />
Ao lado deste armazém encontram-se vários<br />
AGV a movimentarem-se em linhas cíclicas, e
SCM Supply Chain Magazine 13<br />
que serão responsáveis pela movimentação<br />
das cargas do armazém. De modo a que<br />
o autómato não tenha de fazer um ciclo<br />
completo para voltar ao ponto, este está<br />
dividido em dois ciclos mais pequenos, tendo<br />
ainda uma zona de “descanso” para o caso de<br />
existirem demasiados a operar na pista.<br />
“Nesta altura de campanha somos capazes<br />
de estar a fazer, em média, 85.000 caixas/<br />
dia de picking, e em pico pode ir às 120.000.<br />
Paletes a sair deve andar na ordem das<br />
3.500/4.000, e entrada a mesma coisa”,<br />
comenta o diretor de inovação e projetos,<br />
apontando que também têm como verificar<br />
essa produtividade através de um sistema<br />
colocado na zona de picking, que no dia da<br />
visita se encontrava nas 235 caixas por hora.<br />
APROVEITAR O ESPAÇO<br />
AO MÁXIMO<br />
“Quando chegamos a um armazém, o espaço<br />
mais nobre, e o mais caro, é o espaço de cais.<br />
Só aproveitamos o chão, não aproveitamos<br />
mais nada”, aponta Vítor Enes. Assim, uma<br />
das formas de beneficiarem do espaço vazio<br />
que se encontrava acima destas áreas, foi<br />
através da criação de uma mezzanine no<br />
centro de Cabanillas del Campo. Neste local<br />
estabeleceram as atividades de co-packing,<br />
onde já se encontravam a preparar a época<br />
natalícia, com o embalamento de edições<br />
especiais de bebidas espirituosas, e com a<br />
junção de ofertas às embalagens, como copos<br />
ou chocolates. “É uma fábrica. É dar mais
14<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
sentido ao armazém”, defende o responsável,<br />
“são pequenos lotes de produção que são<br />
muito difíceis de fazer nas fábricas, e para além<br />
disso estão mais perto do mercado”.<br />
Algo que acontecia com alguns clientes<br />
era que já tinham serviços de co-packing,<br />
mas longe do armazém em que tinham os<br />
produtos. Vítor Enes conta que chegou a ter<br />
um caso em que o cliente tinha o serviço de<br />
co-packing em Madrid, e isso obrigava a uma<br />
grande movimentação de materiais ao longo de<br />
várias centenas de quilómetros, o que não só<br />
dificultava ao nível da organização e localização<br />
da carga, mas também impactava a pegada<br />
ambiental da empresa. “Do ponto de vista do<br />
negócio, faz sentido fazê-lo onde está o stock,<br />
não faz sentido estar a movimentar”, e esse foi<br />
um dos argumentos apresentados ao cliente.<br />
“Nós fazemos tudo no mesmo armazém, e<br />
mostrámos-lhes que era mais vantajoso fazer no<br />
mesmo espaço. Menos ruturas, menos roubos,<br />
não precisam de mandar lotes de produção tão<br />
grandes para ver como reage o mercado, reduz<br />
a pegada ecológica… Se o mercado reage bem,<br />
continuamos a fazer”.<br />
“Também dispomos de serviços de co-packing<br />
para clientes que não estejam aqui, mas<br />
normalmente está associado a clientes com<br />
grandes contas, pois preferem fazer o co-packing<br />
diretamente onde têm os seus produtos”,<br />
acrescenta.<br />
Na mezzanine, os clientes estão separados<br />
entre si, cada um com uma bancada para a sua<br />
operação. Elisabete Simões, Gestora de Logística<br />
Promocional da empresa, conta que “esta<br />
operação estava num armazém, mas quando<br />
arrancou a centralidade estava em duas zonas,<br />
ou dependendo da época em três ou em quatro,<br />
dependendo da necessidade, e de repente o<br />
armazém precisou de espaço para paletes, então<br />
Elisabete Simões, Gestora de Logística Promocional<br />
pensaram num modelo alternativo, através de<br />
uma mezzanine, ocupando espaço que, de outra<br />
forma, não estaria a ser aproveitado”.<br />
O abastecimento é feito através de canais<br />
específicos, e contam com um tapete rolante<br />
ao longo do comprimento da mezzanine para o<br />
transporte de resíduos. “A operação gera muito<br />
cartão, e tirar cartão por palete era uma loucura,<br />
perdíamos muito tempo e era muito ineficaz.<br />
Tinha de ser uma coisa automática. Temos<br />
formas de retirar os resíduos para não misturar<br />
plástico e cartão, quando vai plástico é só<br />
plástico e quando vai cartão é só cartão”, explica<br />
a responsável.<br />
Devido à mudança de mentalidade dos<br />
clientes finais, as empresas começaram a<br />
eliminar a utilização de plásticos nas operações,<br />
e Elisabete Simões nota que se sentiu uma<br />
“desautomatização” quando deixaram de<br />
utilizar esse recurso, mudou toda a forma como<br />
operavam com plástico ao nível dos fornos:<br />
“agora é tudo manual, não pode ser nada por<br />
fornos”.<br />
A pensar na sustentabilidade, adotaram<br />
um sistema de reaproveitamento de cartão
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
no embalamento, para acondicionarem as<br />
garrafas. Uma máquina corta o cartão de forma<br />
a deixá-lo em tiras e a ganhar uma consistência<br />
que amorteça os impactos, surgindo enquanto<br />
solução alternativa ao uso de papel kraft e<br />
plástico nas suas operações: “isto tudo foi<br />
feito na ótica da sustentabilidade. Em vez de<br />
estarmos a usar papel kraft ou plástico para<br />
acondicionar o produto quando embalamos uma<br />
caixa, o que fizemos foi comprar uma máquina<br />
que transforma as próprias caixas que chegam e<br />
que seriam para deitar fora”, aponta.<br />
A responsável nota ainda que também<br />
dispõem de serviço de desenvolvimento das<br />
caixas dos produtos, e sente que “por vezes<br />
o marketing sabe o que é vendável, mas não<br />
sabe o que é paletizável e transportável”. A<br />
responsável conta que por vezes acontece, por<br />
exemplo, em grandes multinacionais que contam<br />
com uma central de compras para os mais<br />
diversos produtos, ao não terem conhecimento<br />
de um em específico compram cartão que não<br />
é adequado, ou com uma aba mais larga, etc.,<br />
e quando chega ao momento de co-packing<br />
deparam-se com o problema. Também neste<br />
sentido, utilizam tintas à base de água, sem<br />
qualquer tipo de solvente, de modo a reduzir o<br />
impacto ecológico. “Quando compramos algo<br />
no supermercado, tudo o que está por detrás é<br />
impensável”, comenta Elisabete Simões.<br />
“Também tratamos dos materiais dos<br />
pontos de venda dos nossos clientes, como as<br />
esplanadas, cadeiras, mesas, pedras… tudo”,<br />
acrescenta Vítor Enes. “Lembro-me que com<br />
o nosso primeiro grande cliente, começámos<br />
por ter mais negócio aqui em Espanha e depois<br />
até exportámos para Portugal”. Em 2003/2004<br />
juntaram todo o material da marca, porque<br />
“andava perdido” em vários pontos, e reuniram-<br />
-no num armazém, e quando os diretores<br />
da empresa viram essa organização ficaram<br />
surpreendidos, pois estavam todos habituados<br />
a que o material andasse por todo o país.<br />
O diretor-geral recorda ainda uma situação<br />
em que questionaram o cliente sobre o<br />
paradeiro dos artigos promocionais, e lhe<br />
disseram que estavam espalhados por<br />
garagens, carros dos vendedores, etc., e que<br />
lhe perguntou quantas paletes eram. “Cerca<br />
de 200, responderam, mas quando juntámos<br />
tudo eram 2.000”, e destaca a importância<br />
deste tipo de serviços e como também foi<br />
diferenciador e conseguiu agregar valor à<br />
operação.<br />
“A logística multicliente é muito isto: juntar<br />
massas críticas, que evidentemente sejam<br />
*compatíveis, e que vão para o mesmo ponto<br />
de entrega”, conclui Vítor Enes. •<br />
O jornalista viajou a convite da Luís Simões.
16<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Texto: Fábio Santos<br />
MAIS VALE<br />
PREVENIR DO<br />
QUE REMEDIAR<br />
Todos os dias vemos as mais<br />
diversas ocorrências, daquelas<br />
que pensamos que “só acontecem<br />
aos outros”. Casos de incêndios<br />
ou inundações, carga danificada<br />
e produtos que não chegaram<br />
ao destino… Quando lidamos<br />
com carga alheia também temos<br />
um termo de responsabilidade<br />
nas nossas mãos, e é importante<br />
estarmos “seguros disso”.<br />
Seguros na supply chain
SCM Supply Chain Magazine 17<br />
Da mesma maneira que é importante arriscar,<br />
é necessário fazê-lo com consciência e<br />
segurança. A inflação está a agravar as<br />
tendências e os casos de sinistros ao longo da<br />
supply chain, afetando as empresas de diversas<br />
formas. Através da aquisição de seguros, as<br />
empresas conseguem ter uma salvaguarda para<br />
os seus bens e para os que gerem, manipulam<br />
ou transportam por terceiros, mas as constantes<br />
oscilações de preços tornam a situação um<br />
pouco mais complicada para ambos os lados.<br />
Face a todos estes problemas de gestão<br />
de risco, procurámos alguns players do setor<br />
que nos pudessem ajudar a compreender a<br />
necessidade e a importância de as empresas<br />
estarem seguras.<br />
SINISTRALIDADE NO MARÍTIMO<br />
No caso do setor marítimo, uma análise da<br />
Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS)<br />
a mais de 240.000 sinistros, ocorridos entre<br />
janeiro de 2017 e dezembro de 2021, e com um<br />
valor total de cerca de 9,2 mil milhões de euros,<br />
aponta que as principais causas de perdas<br />
de seguro marítimo, por valor, são incêndios,<br />
colisão, naufrágio e carga danificada. Para além<br />
dos custos associados à carga, as reparações<br />
do setor naval também estão a ser impactadas<br />
pela inflação, associadas ao aumento dos<br />
preços do aço e das peças de reposição, bem<br />
como os custos de mão de obra.<br />
“O número de incêndios a bordo de grandes<br />
embarcações aumentou significativamente<br />
nos últimos anos, com uma série de incidentes<br />
envolvendo carga, que podem facilmente levar<br />
à perda total de uma embarcação ou a danos<br />
ambientais”, apontou Régis Broudin, diretor<br />
global de Sinistros Marítimos da AGCS.<br />
Problemas nas cadeias de abastecimento,<br />
como a inflação, deslocações mais demoradas<br />
de tripulações para o mar, perdas e danos<br />
crescentes, implementação de novas<br />
tecnologias e combustíveis de baixo carbono, e<br />
mesmo a invasão russa da Ucrânia, continuam a<br />
impactar os sinistros, assim como as alterações<br />
climáticas, com eventos extremos e novas<br />
exposições ligadas à transição zero carbono.<br />
Segundo aponta a mesma análise, ao nível da<br />
frequência dos sinistros de seguros marítimos,<br />
a principal causa são os danos na mercadoria,<br />
sendo também a terceira maior em valor. Os<br />
mais comuns são danos físicos, normalmente<br />
causados pelo manuseamento, armazenagem<br />
e embalagem inadequados, existindo ainda<br />
casos em que a variação de temperatura afetou<br />
a carga, com especial impacto nos produtos<br />
farmacêuticos.<br />
Por outro lado, nos últimos anos também<br />
foram apontados alguns roubos de alto valor,<br />
tornando-se a terceira causa mais frequente,<br />
registados em grande parte nos produtos<br />
eletrónicos de consumo e mercadorias de<br />
alto valor, como é o caso do cobre. A carga é<br />
normalmente roubada de portos, armazéns<br />
ou mesmo durante o trânsito. O recente boom<br />
no transporte de contentores também afetou<br />
os sinistros de carga, atingindo uma escassez<br />
global. Isto resultou em que contentores abaixo<br />
das normas e danificados fossem colocados<br />
novamente a circular, resultando em perdas.
18<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
No seguimento desta análise, a AGCS<br />
identificou algumas tendências de risco que<br />
provavelmente terão impacto na atividade de<br />
perda no setor marítimo:<br />
• As fontes de disrupção continuam a<br />
aumentar: não só incidentes marítimos,<br />
catástrofes naturais ou ciberataques,<br />
mas também limitações ao nível dos<br />
contentores, congestionamento ou mão de<br />
obra, as causas de risco são cada vez mais,<br />
e mais diversas;<br />
• As pressões comerciais já são um fator<br />
que contribui para muitas perdas:<br />
habitualmente resultado de más decisões,<br />
outra situação apontada foi a pressão<br />
feita pelo mercado sobre os navios e a<br />
tripulação, levando a que alguns players<br />
se sintam tentados a ignorar algumas<br />
questões, podendo resultar em perdas;<br />
• As mudanças climáticas estão a afetar<br />
cada vez mais os sinistros marítimos: as<br />
catástrofes naturais são a quinta maior<br />
causa de sinistros marítimos, ao nível de<br />
frequência e gravidade. Só em 2021, o<br />
clima extremo foi a causa de, pelo menos,<br />
25% das 54 perdas totais de embarcações;<br />
• É necessária uma abordagem mais<br />
sustentável e mais verde no setor marítimo,<br />
mas ela vem com riscos: o setor marítimo<br />
é um dos principais contribuintes para as<br />
emissões atmosféricas globais, e estão a<br />
ser estudadas diversas alternativas para<br />
descarbonizar o setor;<br />
• Impacto da invasão da Rússia na Ucrânia:<br />
com o conflito armado, a indústria naval<br />
perdeu vidas e navios no Mar Negro, houve<br />
navios presos em portos ucranianos, para<br />
além do acréscimo das sanções. A AGCS<br />
aponta que, embora os relatórios não<br />
sejam claros quanto ao valor total das<br />
embarcações que ficaram presas na zona<br />
de conflito, estimam que poderia atingir os<br />
mil milhões de dólares. Adicionalmente,<br />
a seguradora aponta que uma parte<br />
segurada, ao nível das apólices de casco e<br />
carga marítima, poderiam ser capazes de<br />
reclamar uma perda total após um tempo<br />
específico, desde que a embarcação/carga<br />
tenha ficado bloqueada ou presa.<br />
GESTÃO DE RISCOS CONSCIENTE<br />
Por parte da Allianz Global Corporate &<br />
Specialty Ibero/Latam, Daniel Sanches, regional<br />
head of Marine, explica que “no setor logístico,<br />
a contratação de seguros tornou-se um fator<br />
de extrema importância, especialmente<br />
na estratégia da gestão de risco quando se<br />
trata da compra e venda de mercadorias”,<br />
independentemente de ser em viagens<br />
internacionais ou dentro do país, no transporte<br />
de mercadorias entre fábricas, portos,<br />
armazéns, distribuidores e pontos de retalho. “O<br />
seguro de transporte é uma garantia / proteção<br />
em caso de imprevistos”, defende.<br />
O responsável aponta que, numa logística<br />
estruturada, o seguro é contratado para todas<br />
as viagens e operações, mas “há empresas que<br />
optam por contratá-lo especificamente para<br />
alguma operação de maior exposição / riscos,<br />
dependendo da sua estratégia de gestão de<br />
risco”.<br />
O processo é feito por intermédio de um<br />
corretor de seguros, especializado e habilitado<br />
para entender as necessidades de cada tipo de<br />
indústria, e assim negociar com a seguradora<br />
o contrato que melhor se adequa às suas
SCM Supply Chain Magazine 19<br />
Atualmente, para além das tradicionais<br />
preocupações com os patrimónios, bens e<br />
responsabilidade civil, algumas das maiores<br />
preocupações sentidas pelas empresas são os<br />
aspetos ambientais, as catástrofes naturais e<br />
os riscos cibernéticos. “Uma empresa que não<br />
faz a gestão desses riscos está fora do conceito<br />
global atual”, conclui Daniel Sanches.<br />
Daniel Sanches, regional head of Marine<br />
operações, estando também encarregue de<br />
realizar uma análise prévia das principais<br />
exposições e riscos de contratação do seguro,<br />
como cargas, pessoas, responsabilidade civil,<br />
cibernéticos, ambientais, entre outros. Ao nível<br />
da sua obrigatoriedade, esta está dependente<br />
da legislação de cada país, e Daniel Sanches<br />
explica que “atualmente todos os players<br />
do setor que fazem uma gestão de risco<br />
consciente, não atuam sem seguro”.<br />
“Nas exportações o seguro é imprescindível”,<br />
defende, “os contratos de compra e venda<br />
definem a responsabilidade de contratação,<br />
e um eventual imprevisto que não possua a<br />
garantia de seguro, poderá ocasionar o fecho<br />
da indústria, dependendo do montante da<br />
perda”.<br />
Ao nível dos seguros de bens, a inflação<br />
reflete-se no ajuste regular das quantias<br />
seguradas, “sendo necessário garantir a<br />
proteção adequada e ajustar automaticamente<br />
a base de cálculo do prémio”, como tem sido<br />
o caso do conflito na Ucrânia, impactando<br />
o mundo todo em termos económicos e<br />
logísticos.<br />
REDUZIR RISCO E INCERTEZA<br />
A corretora de seguros F.REGO dá uma<br />
contextualização histórica dos serviços de<br />
seguros, nas palavras de Pedro Rego, CEO<br />
da empresa portuguesa: “a sua génese está<br />
curiosamente relacionada com a garantia dos<br />
transportes de mercadorias no século XIII,<br />
quando surgiram os contratos de mercadores<br />
italianos ligados ao comércio marítimo para se<br />
protegerem de naufrágios, pirataria e roubos.<br />
Em Portugal, no final do mesmo século, o rei D.<br />
Dinis ordenava aos mercadores que criassem<br />
um fundo de proteção às vítimas de perdas de<br />
navios e/ou produtos”, explica.<br />
A intervenção da corretagem de seguros<br />
tem início logo no começo do processo, como<br />
explicava anteriormente Daniel Sanches,<br />
através da análise das necessidades e riscos<br />
de cada cliente, para “de forma customizada<br />
encontrar as melhores soluções no mercado<br />
para transferência do risco”. Depois existe todo<br />
o acompanhamento dos processos, “sendo parte<br />
de toda a vida dos contratos, assegurando a sua<br />
gestão administrativa, a gestão dos sinistros,<br />
bem como o acompanhamento permanente<br />
e próximo da vida dos seus clientes”, explica<br />
Pedro Rego. “O propósito da nossa oferta<br />
é após a realização de um mapeamento de<br />
risco, identificar a gravidade de cada um e<br />
em consequência desenhar e apresentar um<br />
programa de seguros global que assegure que<br />
nenhuma área seja deixada ao acaso”.
20<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Pedro Rego, CEO F.REGO<br />
O CEO defende que “o setor segurador é de<br />
vital importância para qualquer mercado ou<br />
atividade”, trazendo previsibilidade, reduzindo<br />
risco e incerteza e levando os agentes<br />
económicos a assumir riscos, a base de qualquer<br />
economia, e que “caso esta ferramenta de<br />
gestão e transferência de risco não existisse,<br />
naturalmente que a atividade económica seria<br />
muito condicionada”. Neste sentido, considera<br />
que tanto as seguradoras, - através da assunção<br />
dos riscos -, quanto as corretoras, - através da<br />
consultoria de gestão de risco e distribuição<br />
-, “assumem uma grande importância para<br />
permitir o normal funcionamento de uma<br />
atividade que pela sua natureza incorpora<br />
muitos riscos”, indo desde a garantia de danos<br />
materiais a responsabilidades.<br />
Os seguros podem ser os mais variados,<br />
existindo desde os obrigatórios, como os de<br />
Acidentes de Trabalho, Responsabilidade<br />
Civil Automóvel e Responsabilidade Civil<br />
Profissional, até aos seguros para danos<br />
patrimoniais, transportes de mercadorias e para<br />
pessoas”. No caso destes últimos, Pedro Rego<br />
comenta são cada vez mais procurados para<br />
atribuição de benefícios extraordinários aos<br />
seus colaboradores, onde se inserem os seguros<br />
de vida, saúde e pensões, além dos planos de<br />
benefícios flexíveis.<br />
O CEO da F.REGO destaca ainda a<br />
importância do setor segurador, pois para<br />
além da sua atuação direta ao nível da criação<br />
de emprego e de investimento institucional,<br />
também devolve anualmente valores bastante<br />
elevados (cerca de 3,4 mil milhões de euros<br />
na área não em vida em 2021) à economia e à<br />
sociedade.<br />
Ao nível dos riscos que o setor enfrenta,<br />
Pedro Rego considera que “a atividade<br />
económica impacta diretamente com o setor<br />
segurador, que embora demonstre extrema<br />
resiliência, não deixa de ser afetado pelos<br />
reflexos que contextos de recessão ou de<br />
elevada inflação provocam”, e se nesta área os<br />
impactos são ao nível do aumento do risco de<br />
incumprimento, nas restantes são ao nível do<br />
aumento de custos, causado pela inflação, e<br />
o impacto na situação financeira da empresa,<br />
na sua disponibilidade para adquirir seguros, a<br />
variação dos capitais, etc.<br />
“Diria que os efeitos das alterações<br />
climáticas, por exemplo, se revelam<br />
substancialmente mais duradouros e<br />
devastadores sobre a atividade seguradora,<br />
tornando o equilíbrio técnico da mesma cada<br />
vez mais incerto e difícil face ao aumento<br />
exponencial de danos sofridos e seguros<br />
verificado todos os anos”, explica ainda.<br />
Para além destes, conflitos armados, como<br />
o recente caso da guerra na Ucrânia, “além<br />
do devastador impacto social que acarreta,<br />
com milhões de refugiados e milhares de<br />
vítimas, e embora seja uma exclusão genérica<br />
de qualquer apólice de seguro, provoca<br />
também danos materiais diretos e indiretos<br />
objeto de seguro que são indemnizados (como
SCM Supply Chain Magazine 21<br />
exemplos mais conhecidos, os aviões retidos<br />
pelas companhias aéreas russas pertencentes<br />
a empresas ocidentais, a disrupção dos<br />
transportes no Mar Negro e no mercado de<br />
cereais), tendo a S&P estimado um impacto<br />
de 36 mil milhões de dólares para a indústria<br />
seguradora mundial”.<br />
FACULTATIVO, MAS ALTAMENTE<br />
ACONSELHÁVEL<br />
Ana Camacho Soares, do departamento jurídico<br />
da Associação dos Transitários de Portugal<br />
(APAT), começa por apontar que no transporte<br />
internacional de mercadorias, para quase todo<br />
o tipo de carga, existe sempre a velha máxima<br />
de que “não há comércio internacional sem<br />
transporte”.<br />
Ana Camacho Soares, departamento jurídico APAT<br />
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22<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
“Uma compra e venda internacional de<br />
mercadorias típica envolve, assim, a deslocação<br />
física de mercadorias do ponto A para o ponto<br />
B, na maior parte dos casos, através do recurso<br />
a um transitário, que constrói a melhor solução<br />
de transporte e, para além disso, trata de<br />
todas as formalidades associadas”, comenta<br />
a responsável. Associado a este transporte,<br />
existe sempre o risco de danos, ou até mesmo<br />
a perda da mercadoria, sendo aqui que entra<br />
o seguro de carga: “o seguro de carga assume<br />
maior importância ainda se tivermos em conta a<br />
responsabilidade limitada do transportador”.<br />
A responsável aponta que ao abrigo das<br />
convenções internacionais, responsáveis<br />
pela regulação do transporte internacional<br />
de mercadorias, a indemnização devida pelo<br />
transportador, quando necessária, está limitada<br />
em valores máximos. No caso do transporte<br />
marítimo, este limite está estipulado em<br />
498,80€ por unidade ou volume, conforme<br />
descrito no conhecimento de embarque. Por<br />
sua vez, no transporte rodoviário internacional<br />
este limite é de 8,33 DSE (unidade de câmbio<br />
utilizada) por quilograma de peso bruto em falta<br />
ou avariado (€10,50, cotação de 11-11-2021) e<br />
no transporte aéreo a 17 ou 22 DSE, consoante<br />
seja aplicável a Convenção de Varsóvia ou a<br />
Convenção de Montreal (€21,59 ou €27,97,<br />
cotação de 11-11-2021).<br />
“Face a estes limites, bom é de ver que a<br />
indemnização devida pelo transportador pode<br />
não ser suficiente para ressarcir a totalidade<br />
do valor da mercadoria danificada ou em<br />
falta, especialmente se estivermos a falar<br />
de mercadorias mais leves e de maior valor”,<br />
comenta Ana Camacho Soares. Segundo explica,<br />
“mesmo quando o transporte seja organizado<br />
por um transitário, nos termos do disposto no<br />
artigo 15.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 255/99, de<br />
7 de julho, a responsabilidade do transitário<br />
está sujeita aos limites estabelecidos, por lei ou<br />
convenção, para o transportador a quem seja<br />
confiada a execução material do transporte”.
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
Apesar de se tratar de um seguro<br />
facultativo, a responsável da APAT defende<br />
que é “altamente aconselhável face à<br />
responsabilidade limitada do transportador<br />
e do transitário”. Dependendo do que esteja<br />
contratualizado, o vendedor pode estar<br />
obrigado a contratar um seguro de carga<br />
e a pagar o respetivo prémio, que é o que<br />
ocorre sempre que são escolhidas as regras<br />
Incoterms® CIP e CIF. “No nosso mercado<br />
encontra-se aprovada pela autoridade<br />
portuguesa de seguros, com carácter uniforme,<br />
a versão das quatro cláusulas mais utilizadas<br />
aprovadas pelo denominado “Institute Cargo<br />
Clauses” e que são identificadas por Cláusula<br />
A, B, C e ainda a Cláusula de Riscos de Guerra”,<br />
explica a responsável jurídica.<br />
“Relativamente ao seguro de carga, o<br />
mercado segurador oferece dois tipos de<br />
apólices: são as chamadas ‘apólices fixas<br />
ou avulsas’ normalmente para uma única<br />
operação de transporte e as ‘apólices abertas<br />
ou flutuantes’ para operadores que efetuam<br />
expedições frequentes”. Nestas últimas,<br />
aponta que muitos operadores de transporte,<br />
nomeadamente transitários, contam com<br />
esta solução para oferecer aos seus clientes a<br />
possibilidade de efetuarem diariamente com<br />
eles o seguro das suas mercadorias durante o<br />
transporte.<br />
“A forma mais comum para o seguro do<br />
transporte de mercadorias é a apólice aberta<br />
ou flutuante, cuja finalidade é a de proporcionar<br />
ao segurado uma maior facilidade e rapidez na<br />
emissão dos certificados de seguro”, defende a<br />
responsável.<br />
Para além disso, destaca a importância do<br />
seguro de responsabilidade civil das empresas<br />
transitárias, e que é de carácter obrigatório<br />
para o acesso à atividade, segundo o Decreto-<br />
-Lei n.º 255/99, de 7 de julho. “Trata-se de<br />
António Belmar da Costa, diretor-executivo da AGEPOR<br />
um seguro obrigatório nos termos da lei e<br />
que constitui uma garantia para os clientes<br />
em caso de incumprimento contratual quer<br />
por parte do transitário, quer por parte dos<br />
transportadores subcontratados por aquele.<br />
O cliente que recorra a um transitário sabe<br />
que este tem obrigatoriamente um seguro de<br />
responsabilidade civil”, conclui Ana Camacho<br />
Soares, apontando que, no entanto, esta não se<br />
aplica a todos os elos da cadeia, como é o caso<br />
do transporte rodoviário de mercadorias.<br />
MINORAR OS RISCOS PARA NÃO<br />
FICAR ‘PENDURADO’<br />
“O povo diz que ‘o seguro morreu de velho’, e no<br />
fundo a importância que ele pode ter resume-se<br />
nessa frase”, afirma António Belmar da Costa,<br />
diretor-executivo da AGEPOR - Associação dos<br />
Agentes de Navegação de Portugal. Segundo<br />
conta, o recurso ao seguro das cargas como<br />
forma de minorar um risco sempre foi uma<br />
recomendação dos agentes de navegação e<br />
transitários para os seus clientes (importadores<br />
e exportadores), independentemente do
24<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
contexto económico vivido, cobrindo quaisquer<br />
riscos e eventualidades “que podem acontecer<br />
durante ‘o caminho’ ”.<br />
“Se formos precavidos a minorar os riscos das<br />
nossas cargas recorrendo a seguros. poderemos<br />
até gastar um pouco mais (insignificante face ao<br />
valor da mercadoria) mas temos a certeza que,<br />
se algo correr mal, não vamos ficar ‘pendurados’ ”,<br />
comenta ainda o responsável.<br />
António Belmar da Costa destaca o papel<br />
feito tanto pela AGEPOR como pela APAT<br />
junto dos exportadores e importadores, no<br />
que toca aos seguros das suas cargas, no<br />
sentido de alertar para o uso de seguros<br />
enquanto salvaguarda, “infelizmente e sempre<br />
que acontece um acidente (felizmente um<br />
acontecimento muito raro) com um navio de<br />
carga constata-se que uma parte significativa<br />
das mercadorias que estão/estavam a bordo<br />
não estavam cobertas com um seguro em<br />
condições”, explica o diretor-executivo, e<br />
“chega a ser confrangedor perceber que com<br />
um custo quase insignificante se poderia ter<br />
evitado tanta perda e prejuízos materiais,<br />
mas a verdade é que ainda há carregadores e<br />
recebedores que preferem ‘poupar’ no custo<br />
de um seguro arriscando perder tudo se algo<br />
correr mal”.<br />
“É também aconselhável aos mais incautos<br />
documentarem-se sobre todas as consequências<br />
solidárias que enfrentam sempre e quando<br />
existe um problema grave com um navio já que,<br />
nessas condições, toda a carga é solidária nos<br />
prejuízos totais e um seguro bem feito pode<br />
obviar muitos dissabores”, recomenda.<br />
Hoje, tanto os agentes de navegação como os<br />
transitários têm pacotes normalizados e simples,<br />
que fazem ou não parte da oferta global de<br />
transporte para os seus clientes (dependendo<br />
da vontade de quem contrata o transporte),<br />
à semelhança do que acontece quando ao<br />
comprar um bilhete de avião existe a opção de<br />
adquirir também um seguro.<br />
Ao nível de situações excecionais, como<br />
os casos do navio da Evergreen ou do<br />
congestionamento no acesso ao porto de<br />
Xangai, que tiveram repercussões globais,<br />
António Belmar da Costa aponta que “sempre<br />
que acontecem situações deste tipo é normal<br />
que surjam no mercado novas apólices de<br />
cobertura de seguros que procurem incluir<br />
os riscos decorrentes dessas situações”, mas<br />
destaca que “como em todos os contratos é<br />
preciso estar muito atento para as exclusões<br />
e casos de força maior, etc., que podem iludir<br />
quem contrata apólices de seguro e julga poder<br />
estar totalmente descansado”, destaca.<br />
Num ponto todos estão de acordo: segurar<br />
é mitigar o risco. Tal como os profissionais<br />
que auscultámos apontaram, por vezes limitar<br />
ligeiramente as margens de lucro pode ser uma<br />
garantia de que realmente ele irá existir, e com<br />
a responsabilidade acrescida de transportar<br />
carga que não nos pertence, existir um fator de<br />
“desculpabilização” pelo meio é um alívio para<br />
qualquer empresa. •
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
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NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Benchmarking<br />
Supply Chain<br />
Texto: Fábio Santos<br />
CUMPRIMENTO E QUALIDADE<br />
DAS ENTREGAS TÊM MARGEM<br />
DE MELHORIA<br />
O retalho foi uma das áreas bastante afetadas pela<br />
disrupção que se tem sentido nos últimos anos. De<br />
acordo com a Informa D&B, nos primeiros 10 meses<br />
do ano o setor retalhista apresentou uma quebra de<br />
10% na criação de novas empresas, e um aumento de<br />
7,7% nos encerramentos (1.550 encerramentos). Por<br />
sua vez, os fornecedores necessitam de um maior<br />
nível de digitalização, controlo e coordenação com<br />
os retalhistas. Posto isto, a questão é apenas uma:<br />
Quais são as preocupações dos retalhistas e dos<br />
fornecedores atualmente?
SCM Supply Chain Magazine 27<br />
A<br />
GS1 Portugal lançou a 10ª edição do seu<br />
estudo Benchmarking Supply Chain <strong>2022</strong>,<br />
que tem como propósito analisar o mercado<br />
e identificar oportunidades de melhoria<br />
nas cadeias de abastecimento nacionais.<br />
Esta edição contou com a presença de 10<br />
retalhistas e 34 fornecedores que operam em<br />
território nacional, e contemplou, pela primeira<br />
vez, análises separadas a cinco categorias<br />
diferentes: mercearia, lácteos e refrigerados,<br />
bebidas, higiene e beleza e congelados. As<br />
entregas são o tema central do estudo em<br />
<strong>2022</strong>, tanto para os retalhistas como para os<br />
fornecedores.<br />
“Começámos a estruturar a análise dos<br />
dados pelas diferentes categorias para que<br />
seja possível à concorrência direta focar-se nas<br />
especificidades da sua atuação. No entanto,<br />
relembramos que o objetivo primordial deste<br />
projeto é ser uma ferramenta de trabalho<br />
que analisa o mercado como um todo, tendo<br />
temas cuja comparação é realizada entre todos<br />
os fornecedores, não olhando à categoria<br />
(reuniões periódicas, alinhamento das bases<br />
de dados, etc.”, contextualizou a empresa no<br />
estudo.<br />
A nível geral, o estudo destacou a importância<br />
do cumprimento dos pedidos e das entregas,<br />
algo que também já se tinha verificado no<br />
estudo anterior, referindo que “o bom estado<br />
do produto e dentro das validades acordadas<br />
são temas que mantém importância crucial”.<br />
Porém, notaram-se também algumas diferenças<br />
para com a edição passada, como a diminuição<br />
da importância dos temas de faturação, sendo<br />
substituída pelo formato, tamanho e qualidade<br />
do suporte da mercadoria. Neste estudo<br />
destacou-se ainda o surgimento no 2º lugar dos<br />
erros de quantidades nas entregas.<br />
Ao nível das prioridades, os retalhistas<br />
inquiridos apontaram como principais temas:<br />
• Entrega - Cumprimento dos prazos e dias<br />
de entrega e eficiências das entregas em<br />
períodos especiais;<br />
• Qualidade - Artigos dentro dos prazos de<br />
validade e com temperatura adequada;<br />
• Pedido - Erros de quantidades e<br />
referências no dia a dia e em promoção;<br />
• Receção - Qualidade das caixas e<br />
paletes, a respetiva configuração e se<br />
é acompanhada com a documentação<br />
necessária.<br />
Por sua vez, os fornecedores destacaram:<br />
• Entrega - Processo de descarga ágil,<br />
tempos de espera na descarga e<br />
possibilidade de acordos de coordenação<br />
horária;<br />
• Comunicação - Construção de relações<br />
sólidas nos departamentos de logística<br />
e supply chain e partilha de informação<br />
sobre disponibilidade do produto e<br />
promoções;<br />
• Alinhamento - Unidade de encomenda<br />
adequada, atualização e alinhamento de<br />
bases de dados e utilização de mensagens<br />
EDI;<br />
• Gestão Administrativa - Registo e partilha<br />
dos incidentes nas notas de entrega e<br />
processamento de faturação ágil.
28<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
IDENTIFICAR O PROBLEMA<br />
João de Castro Guimarães, diretor-executivo<br />
da GS1 Portugal, explica que a associação<br />
vê este projeto como uma ferramenta<br />
de trabalho que ajuda as empresas a<br />
alavancarem as suas competências e a serem<br />
mais eficientes. “Através da identificação das<br />
prioridades, pontos fortes e oportunidades<br />
de melhoria, o Benchmarking Supply Chain<br />
proporciona o detalhe necessário para que<br />
as empresas – fornecedores e retalhistas –<br />
trabalhem sobre as temáticas discutidas e<br />
sejam mais competitivas no mercado onde se<br />
inserem”, contextualizou o responsável.<br />
O estudo começou na GS1 Espanha<br />
(AECOC), em 2009, e quatro anos depois foi<br />
apresentado ao mercado português, com<br />
adesão imediata. O diretor-executivo explica<br />
que, através da recolha de informação<br />
quantitativa e qualitativa, o estudo “dá a<br />
conhecer o posicionamento da empresa aos<br />
olhos dos seus parceiros de negócio e em<br />
comparação com a concorrência”.<br />
“O Benchmarking Supply Chain foca-se na<br />
análise da performance da gestão da cadeia<br />
de abastecimento. Por um lado, analisam-<br />
-se os temas mais operacionais ao nível<br />
das entregas centralizadas (entrepostos) e<br />
loja-a-loja, sempre que aplicável. Nesta área<br />
incluem-se questões de nível de serviço,<br />
cumprimento dos prazos de validade,<br />
execução das entregas nos dias e prazos<br />
acordados e o correto acondicionamento da<br />
mercadoria à receção”, explica o responsável.<br />
“Por outro lado, analisam-se temas mais<br />
estruturais como problemas de faturação, o<br />
alinhamento dos dados mestre, a utilização<br />
de mensagens EDI e etiqueta logística, a<br />
capacidade de reação e a solidez da relação<br />
colaborativa”, acrescenta.<br />
João de Castro Guimarães, diretor-executivo da GS1 Portugal<br />
Ao nível da qualidade dos dados, defende<br />
que para além de comentários específicos<br />
para cada empresa participante, “possibilita<br />
o acesso às tendências do setor, através de<br />
um capítulo onde os diferentes retalhistas<br />
partilham as suas estratégias a curto e médio<br />
prazo”. Ao mesmo tempo, permite o acesso<br />
aos temas mais relevantes indicados pelo<br />
próprio setor, através da identificação das<br />
prioridades apontadas.<br />
“Ao ter uma periodicidade anual e ter como<br />
desafio a constante adaptação ao contexto<br />
onde se insere, tem vindo a ser utilizado como<br />
um instrumento de monitorização do negócio<br />
para quem nele participa”, explica João de<br />
Castro Guimarães.<br />
Olhando para os resultados, destaca que<br />
“os fornecedores mostram avaliações médias<br />
mais altas nos temas mais prioritários. É<br />
importante destacar que os temas relativos ao<br />
acondicionamento da mercadoria, qualidade<br />
das caixas e estado das paletes foram os<br />
temas que mais subiram de importância em<br />
comparação com o ano anterior e são os temas<br />
em média menos bem pontuados”, e considera,
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
numa perspetiva geral, que os retalhistas dão<br />
avaliações mais altas aos fornecedores que<br />
o inverso. Nos últimos 10 anos de estudo, a<br />
avaliação média dos fornecedores tem vindo<br />
a ser mais elevada, indicando uma melhoria<br />
geral dos temas relevantes para a operação<br />
com os retalhistas.<br />
Para a atribuição das classificações, é feita<br />
uma avaliação bidirecional entre retalhista e<br />
fornecedor. “A base desta avaliação assenta<br />
na definição das prioridades de cada lado<br />
da cadeia e posteriormente a atribuição<br />
de cada parceiro”, comenta o responsável.<br />
Depois, são geradas médias de avaliação<br />
ponderadas pela importância, face às<br />
prioridades definidas, garantindo que os temas<br />
mais relevantes têm um maior impacto na<br />
definição do posicionamento das empresas<br />
participantes. “Nos relatórios os resultados<br />
deste projeto são transpostos em rankings<br />
para gerar competitividade e para que os<br />
participantes trabalhem na eficiência da sua<br />
logística e operações, não perdendo o foco nas<br />
prioridades dos seus parceiros”.<br />
“Observávamos algumas oscilações nas<br />
importâncias já desde os resultados do<br />
estudo do ano anterior, muito impactado pelo<br />
período pandémico e escassez de algumas<br />
matérias-primas e materiais. Vimos a alteração<br />
das importâncias e o foco na colaboração<br />
e capacidade de reação”, nota. “Não<br />
antecipámos que as prioridades se focassem<br />
exclusivamente nos temas mais operacionais<br />
e de base, para garantir que existe produto na<br />
prateleira. Os temas que focam o contacto do<br />
dia-a-dia, e a colaboração com o fornecedor<br />
passaram para segundo plano dando lugar<br />
ao ter o produto em boas condições, na<br />
quantidade e no dia certo”.<br />
Nos próximos estudos, João de Castro<br />
Guimarães antecipa que temas como o<br />
cumprimento dos pedidos e entregas seja<br />
sempre dos temas prioritários para o retalho,<br />
por estar na base da garantia da atividade.<br />
“Quando já se atingir um nível de maturidade e<br />
eficiência nesta ordem, fará sentido uma maior<br />
aposta em desmaterialização dos documentos,<br />
em processos mais automatizados, na garantia<br />
de processos ‘mais verdes’, entre outros”,<br />
comenta o responsável, passando a dar<br />
prioridade às novas ferramentas de eficiência<br />
nas cadeias de abastecimento.<br />
Face a estes desafios, a GS1 Portugal<br />
continua a apostar na oferta de serviços<br />
para ajudar as empresas a superar estas<br />
dificuldades ao longo da cadeia de<br />
abastecimentos, e aponta que o Benchmarking<br />
Supply Chain é ‘a ponta do iceberg’, “um<br />
instrumento de diagnóstico que pode e<br />
deve ser um primeiro passo no caminho da<br />
otimização da eficiência”.<br />
COMPREENDER A EVOLUÇÃO E<br />
DEFINIR UM FOCO<br />
Por parte da Delta, a primeira classificada<br />
ao nível dos fornecedores, considera que a<br />
participação no estudo de Benchmarking<br />
Supply Chain os tem ajudado, ao longo dos<br />
anos, a compreender a evolução do setor e<br />
quais as áreas em que os clientes esperam<br />
que eles se foquem melhor. “Tem também um<br />
papel importante de compilação de feedback<br />
dos nossos clientes, que de uma forma<br />
construtiva e independente nos avaliam nas<br />
diversas áreas, em comparação com outros<br />
fornecedores no mercado”, considera João<br />
Nunes, diretor industrial da empresa.<br />
Sobre os insights que retira do estudo,<br />
o responsável destaca desde logo as<br />
tendências de evolução da logística da grande<br />
distribuição, e numa análise mais detalhada,
30<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
João Nunes, Delta<br />
o feedback dos clientes e a análise da<br />
concorrência a fazer face aos desafios que a<br />
logística coloca, e a sua capacidade de superar<br />
desafios comuns. “Indiscutivelmente uma<br />
ferramenta importante”, acrescenta.<br />
João Nunes considera que esta análise<br />
permite à Delta compreender as diversas<br />
áreas, comparadas entre os diferentes setores<br />
de atividade, e mostrando como a organização<br />
da Delta está a ser percecionada pelos seus<br />
clientes, face aos seus concorrentes.<br />
“Tratar a logística de forma genérica e de<br />
forma demasiado rígida ou standardizada<br />
já não é suficiente”, comenta o responsável,<br />
considerando ser necessário evoluir e mudar<br />
a proximidade ao cliente e o tratamento<br />
particularizado. “Ter a capacidade de<br />
demonstrar flexibilidade e rapidez de<br />
adaptação só é possível estando próximo de<br />
cada cliente. É sem dúvida fundamental para<br />
prestar um serviço cada vez melhor e mais<br />
reconhecido”, aponta ainda.<br />
O diretor industrial nota que este estudo<br />
“constitui a base de partida para o nosso<br />
plano estratégico de melhoria na logística”,<br />
e ao longo dos anos tem ajudado para essa<br />
elaboração. “Num período com tantos desafios<br />
e imprevisibilidade, os recursos são escassos<br />
e têm de ser utilizados de forma otimizada,<br />
ter uma estratégia focada no que realmente<br />
é prioritário é fundamental e será, no final,<br />
o que pode definir o nosso nível de sucesso”,<br />
conclui João Nunes.<br />
UMA VISÃO MAIS ABRANGENTE<br />
DO QUE É VALORIZADO<br />
Carlos Gonçalves, logistics manager da Gallo<br />
Worldwide, considera importante participar<br />
no Benchmarking Supply Chain porque lhes<br />
permite “ter uma visão mais abrangente<br />
do que é valorizado pelos nossos clientes,<br />
saber quais são as tendências do mercado e<br />
principalmente porque conseguimos perceber<br />
quais as oportunidades para melhorar a nossa<br />
performance”.<br />
O responsável da empresa considera<br />
importante participar no estudo pela<br />
qualidade da informação e para implementar<br />
medidas em função das suas conclusões.<br />
“A GS1 Portugal tem vindo a acrescentar<br />
informação relevante ao estudo e as<br />
novidades ano após ano tornam o estudo mais<br />
completo e muito mais interessante”, comenta.<br />
A Gallo conquistou o 2º lugar dos<br />
fornecedores na classificação da GS1 Portugal.<br />
Face aos resultados, concorda que as<br />
conclusões ajudam as empresas a perceberem<br />
a forma como são vistas pelos seus parceiros<br />
de negócio, e acrescenta que “esta visão<br />
oferece-nos a oportunidade de fazer diferente,<br />
acrescentando ‘o valor’ em falta na perceção<br />
dos nossos parceiros de negócio”.<br />
“Teremos de ser capazes de nos adaptar à<br />
visão do mercado, às tendências da categoria<br />
e ao valor percecionado pelos nossos parceiros
SCM Supply Chain Magazine 31<br />
Carlos Gonçalves, Gallo Worldwide<br />
de negócio que não estamos a entregar”, e<br />
o estudo tem sido uma ajuda para confirmar<br />
que a estratégia delineada pela companhia<br />
está ajustada às necessidades do mercado.<br />
No entanto, também esta “necessita de ser<br />
afinada todos os anos com aquelas que são as<br />
prioridades identificadas neste estudo pelos<br />
nossos parceiros de negócio”.<br />
IDENTIFICAR MELHORIAS<br />
CONJUNTAS<br />
Em 5º lugar dos fornecedores, a Super Bock<br />
Group aponta que “a análise completa que o<br />
estudo faz ao fluxo order to cash permite-nos<br />
identificar melhorias conjuntas com as várias<br />
insígnias e trabalhar num modelo de melhoria<br />
continua da Supply Chain”, nota Maria João<br />
Pissarra, order to invoice manager da empresa.<br />
“Permite-nos identificar fragilidades em<br />
toda a cadeia de abastecimento, e ao mesmo<br />
tempo os principais requisitos a que os
32<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Maria João Pissarra, Super Bock Group<br />
clientes dão mais importância”, considera a<br />
responsável, servindo de guia para identificar<br />
pontos de melhoria e qual o caminho a seguir,<br />
fazendo já parte do processo estratégico da<br />
Super Bock Group.<br />
Em termos de conclusão, Maria João Pissarra<br />
aponta que “em primeiro lugar é importante<br />
confirmar e manter o que já fazemos bem.<br />
Depois, a empresa tem de estar pronta à<br />
mudança e dar resposta a novos desafios<br />
que constantemente aparecem em todas as<br />
vertentes da cadeia de abastecimento”.<br />
COMPROVAR A MELHORIA E<br />
LANÇAR NOVOS DESAFIOS<br />
A Sonae foi a primeira classificada das<br />
empresas retalhistas. António Ferreira, area<br />
manager supply chain management, conta<br />
que a empresa participa deste o primeiro<br />
momento, e “desde sempre que consideramos<br />
esta participação como um investimento em<br />
melhoria contínua”.<br />
O responsável aponta que os resultados<br />
que têm obtido ao longo do tempo revelam o<br />
sucesso do investimento em melhoria, sendo<br />
que “o survey vem comprovar a melhoria, mas<br />
sobretudo lançar novos desafios anuais”.<br />
Ainda este ano, revela que vão “assumir o<br />
foco na eficiência de loja, e também na sua<br />
relação com o fornecedor, quando a entrega é<br />
direta”, e que para além disso, irão “sustentar<br />
cada vez mais as iniciativas necessárias para<br />
uma maior rapidez no ponto de entrega dos<br />
fornecedores, tornando esse momento como<br />
algo mais expedito”. Um dos desafios será<br />
ao nível da desmaterialização de processos<br />
dos parceiros, “mantendo os pressupostos de<br />
captura eficaz dos dados de rastreabilidade”.<br />
“Estes estudos permitem comparar o estado<br />
da arte da eficiência de cadeia entre vários<br />
players, mesmo quando a estratégia do<br />
negócio difere entre eles”, defende António<br />
Ferreira, e nota que têm recolhido dados<br />
relevantes sobre a evolução dos temas de<br />
preocupação dos fornecedores. “Esta evolução<br />
reflete bem o contexto internacional de cada<br />
ano e as dificuldades que se vão mitigando,<br />
dando lugar a novos desafios”.<br />
António Ferreira, SONAE
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
Olhando para a frente, considera necessário<br />
lançar as iniciativas que garantam à Sonae<br />
um lugar cimeiro dentro do mercado nacional.<br />
“Não consigo destacar uma só iniciativa, mas<br />
claramente a eficiência no local de entrega<br />
e o combate ao desperdício energético são<br />
preocupações de todos. Neste caso, a redução<br />
do consumo de combustível e aumento de<br />
disponibilidade de frotas tem de ter um lugar<br />
de destaque dentro das nossas iniciativas”,<br />
orientações que o estudo ajuda a confirmar,<br />
conclui António Ferreira. •
34<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Fábio Santos<br />
SAP Partner Ecosystem<br />
UM ECOSSISTEMA DIGITAL<br />
EM CONSTANTE ADAPTAÇÃO<br />
A transformação digital tem tido grande expressão nos últimos anos, mas não é algo<br />
novo. A SAP começou a desenvolver o seu “ecossistema digital” em 2018, enquanto<br />
sistema de business network colaborativo, para apoiar os seus clientes na transição<br />
digital. Dois anos depois, a aposta mostrou-se ainda mais importante, com o<br />
aparecimento de uma pandemia que impulsionou a digitalização das empresas.<br />
Tendo por base a cooperação dos seus<br />
utilizadores, o SAP Partner Ecosystem é<br />
um sistema de business network, em que<br />
o cliente consegue partilhar e introduzir na<br />
sua rede, entidades externas. Tiago Fernandes,<br />
Senior Business Developer da SAP, explica que<br />
“existem alguns processos de negócio que<br />
têm muita interação com entidades terceiras,<br />
que obrigam a que o fluxo de informação<br />
transacional seja feito, ou por e-mail, ou por<br />
carta”, e o que a SAP tentou fazer foi “garantir<br />
que esse processo fosse feito por intermédio de<br />
uma plataforma”.<br />
“O Ecosystem existe desde 2018. O Ariba foi<br />
a primeira rede de negócios que nós tivemos,<br />
fruto de uma aquisição que fizemos, e foi a<br />
primeira rede de negócios que nós introduzimos.<br />
A partir daí, começámos a desenvolver estes<br />
conceitos. Começando pelos ativos, indo depois<br />
para a parte da logística e por fim para a parte<br />
dos projetos”, explica, tendo como preocupação<br />
que este sistema seja uma forma de cooperação<br />
total entre os intervenientes.
Tiago Fernandes, Senior Business Developer da SAP<br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
35<br />
“Nesta plataforma temos o Ariba, o LBN, AIN e<br />
Project Intelligence Network. São produtos, mas<br />
eu não gosto de falar muito em produtos, gosto<br />
de explicar o conceito. São business networks,<br />
mas cada uma delas tem módulos”, comenta o<br />
responsável. Assim, as áreas abrangidas são:<br />
• Procurement (Através do SAP Ariba);<br />
• Logística;<br />
• Ativos (Industriais ou edifícios);<br />
• Projetos.<br />
Para o módulo de procurement, Tiago<br />
Fernandes dá o exemplo de um processo onde<br />
o cliente precisa de ter visibilidade de quem são<br />
os fornecedores a trabalhar numa determinada<br />
área. “O que nós criámos aqui foi uma rede, que<br />
é quase como um marketplace de fornecedores,<br />
a que o cliente pode recorrer para poder fazer<br />
procurement das suas atividades, das suas<br />
matérias-primas, dos serviços, mas não só: todo<br />
o processo de contratação, desde a qualificação<br />
de fornecedores à parte transacional,<br />
nomeadamente os pedidos de encomenda, o<br />
lançamento dos concursos, os RFP, entre outros,<br />
é tudo feito via plataforma”, portanto, o que o<br />
cliente faz é desmaterializar todo o processo de<br />
negócio por intermédio de um módulo também<br />
do business network, o Ariba.<br />
No caso da logística, o módulo de business<br />
network faz toda a atividade de gestão de<br />
transportes, nomeadamente a contratação, a<br />
parte de disputa de problemas no transporte,<br />
tracking de cargas, etc. “Chama-se Logistics<br />
Business Network (LBN). No fundo, é quase<br />
como uma rede social, onde o cliente convida os<br />
seus parceiros de negócio, ou procura novos, e<br />
eles depois são convidados a entrar para a rede.<br />
Isto traz-lhes uma vantagem adicional: ganham<br />
visibilidade para outros clientes que também<br />
usem a rede, um conceito que se aproxima da<br />
rede social de negócios”.<br />
A componente dos ativos está orientada para<br />
dois grandes pilares. “Imaginando um grande<br />
cliente da indústria do gás ou da petroquímica,<br />
este tem refinarias e parques para gerir, muitos<br />
prestadores de serviços, muitos fabricantes,<br />
sendo que precisa de gerir todo o seu parque<br />
de ativos, para fazer as manutenções, e garantir<br />
que de facto a instalação é segura”. Neste caso,<br />
procura-se concentrar toda a atividade na<br />
plataforma, onde o dono do ativo convida o<br />
prestador de serviços e distribui tudo o que é<br />
a atividade normal de trabalho, as ordens de<br />
serviço, as ordens de trabalho, por intermédio<br />
da plataforma. Ao nível das vantagens para os<br />
utilizadores, Tiago Fernandes aponta que como<br />
o sistema se encontra ligado ao ERP, e “muitos<br />
dos processos que são despoletados a partir<br />
do ERP são depois também enviados para a<br />
business network correspondente, consoante o<br />
processo que estamos a trabalhar”.<br />
Outro aspeto interessante: dependendo do<br />
tipo de indústrias, por exemplo, fabricantes<br />
de equipamentos, como ares condicionados,<br />
e que estão a colocar produtos no mercado,
36<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
“eles próprios, dentro da rede dos ativos,<br />
podem utilizá-la como forma de, por um lado,<br />
promover os seus produtos, mas também para<br />
disponibilizar informação relevante, informação<br />
técnica, manuais, modos de falha, etc.”. Para<br />
além disso, nalgumas indústrias, onde há até<br />
uma relação muito próxima entre o fabricante<br />
e o dono do ativo, e que contam com contratos<br />
de manutenção e disponibilidade, “o uso da<br />
plataforma traz uma mais-valia porque tem<br />
todos os ativos desse cliente registados , qual é<br />
a performance dos mesmos… o que possibilita<br />
a recolha de dados e também, por exemplo, a<br />
partilha de informação técnica relevante”.<br />
Por fim, ao nível dos projetos, Tiago<br />
Fernandes dá o exemplo de um gestor de<br />
uma grande infraestrutura (estações de metro,<br />
autoestradas…), e que sendo o dono daqueles<br />
ativos, colabora com várias entidades, por<br />
exemplo, empreiteiros, projetistas, fiscais,<br />
entidades do Governo, e precisa de trocar<br />
informação sobre os vários projetos que<br />
desenvolve. “Hoje como é que os clientes fazem?<br />
Email, carta, comunicações formais… aqui nós<br />
garantimos que esta migração da informação<br />
seja feita por intermédio da plataforma business<br />
networks, através de um módulo desenvolvido<br />
para o efeito”.<br />
“Este é o conceito que nós temos de business<br />
networks. Trabalhar processos, desmaterializá-<br />
-los, e usar fontes/plataformas colaborativas<br />
que permitam juntar todos os envolvidos para<br />
trabalhar os processos de negócio de forma<br />
integrada”, explica o responsável.<br />
UMA GESTÃO DURANTE<br />
E PÓS-PANDEMIA<br />
A pandemia de COVID-19 em 2020 veio mostrar<br />
que os profissionais de supply chain não<br />
estavam preparados para gerir nestas condições.<br />
“Por um lado, o que se notou foi que as pessoas<br />
começaram a preocupar-se mais com a parte<br />
digital, principalmente em criar processos de<br />
negócio digitais. Não em torná-los digitais, não é<br />
digitalizar uma folha, ou trabalhar em Excel, mas<br />
ter processos transacionais 100% digitalizáveis”,<br />
aponta o responsável.<br />
Um segundo aspeto foi ao nível da<br />
volatilidade, que “algo que antes não existia, pois<br />
os mercados eram estáveis, as cadeias estavam<br />
perfeitamente definidas, havia matérias-primas,<br />
havia uma previsão de vendas mais ou menos<br />
constante… Mas com o tema da pandemia, as<br />
próprias pessoas fizeram o shift para o digital”.<br />
“Isto implica dimensionar as supply chains<br />
para um cliente digital. Mas não só. Se, por<br />
um lado, a capacidade de fidelização do<br />
consumidor assenta muito na experiência<br />
do cliente, por outro também é necessário<br />
ter as supply chains preparadas, com toda a<br />
estrutura de fornecimento desenhada para<br />
reagir rapidamente e para ter visibilidade. Ou<br />
seja, para gerir com volatilidade, o segredo<br />
é haver visibilidade sobre todos estes<br />
processos, bem como processos de receção<br />
de pedidos de informação. Convenhamos<br />
que e-mails e contratação via e-mail não dão<br />
grande visibilidade a quem toma decisões”,<br />
comenta, acrescentando que o conceito de<br />
redes colaborativas de negócio que a SAP<br />
desenvolveu, permite aos gestores de operações<br />
terem visibilidade sobre a cadeia a cada<br />
momento e, assim, “quem decide tem uma visão<br />
agregada”.<br />
Com todas estas transformações e<br />
preocupações ainda na ordem do dia, Tiago<br />
Fernandes conclui que “se eu tivesse de definir,<br />
hoje, aquilo que é um statement de como é que<br />
a supply chain se está a transformar no pós-<br />
-pandemia, diria que assenta muito naquilo que<br />
é um ecossistema”. •
38<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Circularidade<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
5 RAZÕES PARA<br />
ADERIR À MODA<br />
CIRCULAR<br />
A moda é uma indústria altamente<br />
poluidora e, como tal, o seu impacto<br />
económico, social e ecológico é cada<br />
vez mais avultado à medida que o<br />
negócio se expande. Desta forma, com<br />
os clientes cada vez mais preocupados<br />
com a produção ética das suas roupas, as<br />
empresas têm de fazer esforços efetivos<br />
para reduzir a sua pegada ecológica. A<br />
solução pode ser um modelo emergente<br />
conhecido como moda circular.
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
A<br />
indústria da moda tem sido duramente<br />
criticada no que diz respeito à<br />
sustentabilidade. De acordo com a New<br />
Link Solutions (NLS), os especialistas estimam<br />
que por ano são deitadas fora 92 milhões de<br />
toneladas de roupa, sendo que a maior parte<br />
da mesma não é biodegradável. Para além<br />
disso, por exemplo, são desperdiçadas grandes<br />
quantidades de água, já que apenas uma<br />
t-shirt pode exigir 2.700 litros de água durante<br />
a sua vida útil. De facto, as consequências<br />
provenientes da indústria da moda são diversas<br />
e é por isso que os retalhistas e fabricantes<br />
têm procurado formas inovadoras de eliminar o<br />
desperdício. Fique a conhecer cinco razões pelas<br />
quais o modelo de negócio da moda circular<br />
tem pernas para andar.<br />
ALTO NÍVEL DE LUCRATIVIDADE<br />
A implementação de um modelo de moda<br />
circular pode trazer margens de lucro às<br />
empresas, uma vez que este modelo emprega<br />
intencionalmente têxteis e tecidos projetados,<br />
adquiridos, produzidos e transformados<br />
especificamente para serem reutilizados<br />
e recirculados pelo maior tempo possível,<br />
reduzindo a dependência de matérias-<br />
-primas importadas. A NLS aponta que a Ellen<br />
MacArthur Foundation estima que a moda<br />
circular tem o potencial de desbloquear nos<br />
Estados Unidos uma oportunidade económica<br />
de 560 mil milhões de dólares, o que equivale<br />
a cerca de 540 mil milhões de euros. Contudo,<br />
a transição de uma moda rápida ou mesmo<br />
de métodos obsoletos de moda sustentável<br />
para uma moda circular requer uma grande<br />
transformação operacional pois os fabricantes e<br />
retalhistas de moda terão de apostar em novos<br />
modelos de negócio e insumos que aumentem<br />
significativamente a usabilidade e a vida útil<br />
das suas peças.
40<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
A moda circular não diz respeito apenas<br />
ao desenvolvimento por parte de fabricantes<br />
e retalhistas de materiais resistentes e<br />
reutilizáveis porque embora este modelo<br />
tenha sido criado em resposta à procura e aos<br />
interesses dos clientes, estes necessitam de<br />
manter o seu investimento na sustentabilidade<br />
da moda desde o início até à sua execução. A<br />
“roda da moda circular” diz respeito à natureza<br />
cíclica do modelo e pode ser caracterizada<br />
por diversas fases como o desenho circular,<br />
empregando materiais duráveis e recicláveis;<br />
a produção, muitas vezes usando algodão<br />
certificado; leasing (aluguer) ou compra do<br />
produto pelos clientes; uso e devolução do<br />
cliente; upcycling do cliente ou retalhistas, e,<br />
por fim, a reciclagem. Ao utilizar este modelo,<br />
as empresas estão a criar novos modelos de<br />
negócio regenerativos que aumentam o uso<br />
das roupas sem prejudicar os seus resultados.<br />
Ao serem utilizados menos recursos, como por<br />
exemplo, a água, juntamente com o custo mais<br />
alto de cada peça, devido à maior qualidade<br />
dos tecidos e roupas como a sua vida útil mais<br />
longa, as empresas estão a economizar para<br />
pagar as despesas que acompanham a sua<br />
transformação sustentável. Naturalmente, os<br />
valores praticados precisam de ser justificados<br />
pelas empresas tendo em conta todas as<br />
facetas do seu negócio, desde a produção até<br />
ao marketing e o atendimento ao cliente pós-<br />
-venda.<br />
VANTAGEM COMPETITIVA<br />
É possível obter uma vantagem competitiva<br />
ao captar o interesse dos clientes para novas<br />
linhas de produtos duráveis e valiosos.<br />
Exemplo disso é a marca Tefron, fabricante<br />
de roupas íntimas que deu um grande passo<br />
em direção ao mercado da moda circular ao<br />
otimizar as suas técnicas de produção e a<br />
engenharia de tecidos para garantir a máxima<br />
reciclabilidade preparando os clientes para<br />
o sucesso da reutilização e reciclagem de<br />
tecidos. Outro exemplo é uma empresa sueca<br />
de venda a retalho de roupas que paga aos<br />
seus clientes 5 dólares por cada saco de roupa<br />
entregue nas suas lojas para reciclar. Um caso<br />
recente é o da Decathlon que para promover<br />
a venda reversa inverteu o seu logótipo<br />
temporariamente para “Nolhtaced” (Decathlon<br />
escrito ao contrário), dando a oportunidade<br />
aos seus clientes de revenderem à marca todo<br />
o tipo de roupas desportivas para que possam<br />
ser reparados e colocados para revenda ou<br />
serem revendidos sob garantia em troca de<br />
vouchers de loja. Ações que permitirão aos<br />
clientes perpetuar o ciclo de vida de uma<br />
peça de vestuário enquanto abastecem os<br />
retalhistas com tecidos para desenvolvimento<br />
futuro. Para além destas, também a empresa<br />
Nudie Jeans incentivou a compra-arranjo-<br />
-reutilização ao expandir os seus serviços<br />
para arranjos, abrindo um mercado para jeans<br />
reutilizados na sua loja online.<br />
NOVAS OPORTUNIDADES<br />
A metodologia da moda circular contribui<br />
para uma economia circular com um alto<br />
nível de lucratividade para as empresas de<br />
moda dispostas a adotar novos processos<br />
de fabricação e venda a retalho. É de<br />
salientar que este modelo apresenta uma<br />
menor taxa de depreciação em relação às<br />
restantes metodologias já que os materiais<br />
utilizados são projetados para manter ou<br />
aumentar o seu valor, desde o uso inicial e,<br />
posteriormente, pela reentrada na economia.<br />
Desta forma, a recirculação de roupas reduz o<br />
custo de produção do vestuário e abre novas
SCM Supply Chain Magazine 41<br />
oportunidades de mercado para as empresas<br />
de moda que alimentam outras indústrias para<br />
apoiar uma cadeia de abastecimento saudável.<br />
Exemplificando, o modelo de aluguer é uma<br />
área de bastante interesse para empresas<br />
que procuram capitalizar a moda circular. Os<br />
modelos de aluguer oferecem flexibilidade<br />
seja através de curto prazo, pois abordam a<br />
moda rápida e atendem às necessidades dos<br />
clientes que estão em constante mudança, seja<br />
através de longo prazo já que se caracterizam<br />
por alugueres estendidos que oferecem<br />
produtos básicos para determinados grupos<br />
demográficos, bem como um aumento na<br />
procura por alugueres sazonais e anuais.<br />
Por fim, é ainda possível usufruir de serviços<br />
de assinatura que podem ser facilmente<br />
categorizados desde roupas de bebé a<br />
roupas profissionais e que podem ser usados<br />
para atender às necessidades de roupas em<br />
intervalos de subscrição modificáveis. Para<br />
além do aluguer de roupas, a NLS refere que<br />
segundo um relatório da ThredUp de 2021,<br />
espera-se que o mercado de revenda cresça<br />
11 vezes mais rápido do que o setor de venda<br />
a retalho até 2025. Assim, este torna-se um<br />
mercado cada vez mais atraente não só para<br />
os clientes que podem entregar as suas<br />
peças usadas em lojas de segunda mão ou<br />
encontrar empresas de moda como a Nudie<br />
Jeans que retomam a suas roupas usadas para<br />
revenda, como para os retalhistas que podem<br />
desenvolver programas de troca para suas<br />
roupas, incentivando ainda mais os clientes<br />
a reciclar os seus produtos enquanto geram<br />
negócios repetidos e fidelidade à marca.<br />
MODELO MAIS SUSTENTÁVEL<br />
Apesar das diversas vantagens existentes<br />
ao aderir à moda circular, é fulcral garantir<br />
que todos os processos se alinhem a um<br />
modelo mais sustentável, o que significa<br />
que o rastreamento do stock, fabricação<br />
e vendas precisam de ser monitorizadas<br />
adequadamente, de preferência em tempo<br />
real. As empresas de moda devem também<br />
procurar maneiras inovadoras de envolverem<br />
os seus clientes como, através de, por exemplo,<br />
políticas de colaboração de troca, trocas ou<br />
serviços de arranjo. A moda circular desafia<br />
assim as marcas a reformular a maneira<br />
como categorizam os materiais, pois exige a<br />
integração de materiais desde a sua forma<br />
bruta até à sua verdadeira data de validade<br />
após terem sido feitos vários ciclos.<br />
REAVALIAR PROCESSOS<br />
DE NEGÓCIO<br />
Cada vez mais o cliente é firme no seu desejo<br />
de sustentabilidade no que diz respeito às suas<br />
roupas e à forma como as empresas operam.<br />
Desta maneira, é essencial que as empresas<br />
avaliem os seus processos de negócio atuais<br />
para identificar onde mais recursos são usados,<br />
onde mais resíduos estão presentes e que<br />
substâncias ou materiais contribuem para o<br />
maior volume de poluição. É essencial ainda<br />
que as empresas de moda trabalhem com<br />
fornecedores para otimizar o uso de energia<br />
e eliminar o desperdício ou com os seus<br />
clientes criando com um programa de troca<br />
para reabsorver roupas indesejadas, sendo,<br />
depois, mais fácil reaproveitá-los para outra<br />
coleção e prolongar a sua vida útil. A verdade<br />
é que a consciencialização e a visibilidade<br />
andam juntas relativamente à transformação<br />
dos negócios, no qual deve imperar a<br />
responsabilidade, sustentabilidade e visão de<br />
futuro. •
42<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Sustentabilidade<br />
Texto: Dora Assis<br />
4 EMPRESAS<br />
LÍDERES COMBATEM<br />
EMISSÕES NA CADEIA<br />
O Fórum Económico Mundial<br />
(WEF na sigla em inglês) olhou<br />
para quatro grandes empresas<br />
multinacionais (Royal Philips,<br />
Unilever, Ingka Group e ZF) e<br />
analisou os seus esforços e medidas<br />
em termos de sustentabilidade e<br />
políticas de zero emissões na supply<br />
chain (SC). Há qualquer coisa a<br />
mudar. Vamos ver o quê e porquê.
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
O<br />
procurement tem um papel principal<br />
para desbloquear os ESG na cadeia de<br />
abastecimento e a compreensão dos meios<br />
para combater as emissões de carbono nas<br />
operações organizacionais expandiu-se para<br />
incluir agora variáveis para além das simples,<br />
evidentes e diretas pegadas de CO₂ (scope 1).<br />
“Tomemos como exemplo a aliança de CEO<br />
Climate Leaders. 80% da pegada total de<br />
emissões de 4,3Gt destas empresas é produzida<br />
pelas suas cadeias de abastecimento, também<br />
conhecidas como emissões de âmbito 3”,<br />
avança o WEF. “Isto é muito mais elevado do<br />
que o scope 1 (emissões diretamente geradas<br />
por uma empresa) e que o scope 2 (emissões<br />
indiretas associadas à compra de eletricidade<br />
ou entradas de aquecimento e arrefecimento)<br />
combinados”.<br />
Os quatro gigantes analisados pelo WEF,<br />
assim como os seus progressos em relação ao<br />
desenvolvimento sustentável foram a Royal<br />
Philips, o grupo Ingka, a Unilever e a ZF.<br />
ROYAL PHILIPS<br />
A Royal Philips (RP) estabeleceu o objetivo<br />
de gerar 25% das suas receitas a partir de<br />
produtos, serviços e soluções circulares até<br />
2025, de acordo com o relatório do WEF.<br />
“Em 2018, a empresa anunciou o seu<br />
compromisso de retomar e reequipar todos<br />
os grandes sistemas médicos que os seus<br />
clientes estavam dispostos a devolver até<br />
2020. Para apoiar a iniciativa, a Philips iniciou<br />
a Capital Equipment Coalition, um grupo<br />
de organizações semelhantes, incluindo a<br />
ASML, Cisco, Dell, KPN, Damen, Lely, Enel e<br />
Vanderlande, para desenvolver e partilhar as<br />
melhores práticas”.<br />
GRUPO INGKA<br />
No que diz respeito ao Grupo Ingka, onde<br />
se inclui a Ikea, e à sua abordagem às<br />
economias circulares, centrando-se na pegada<br />
massiva do seu mobiliário, colchões, etc., o<br />
FEM afirma: “Como parte dos seus esforços<br />
para se tornar um negócio circular, o Ingka<br />
investiu na RetourMatras, uma empresa que<br />
desmantela colchões e reutiliza os resíduos,<br />
que tem a capacidade de reciclar todos os<br />
colchões eliminados na Holanda – 1,5 milhões<br />
anualmente. O Grupo Ingka não para por<br />
aí: a seguir tem como alvo a Bélgica, Suíça,<br />
Dinamarca e Suécia, e deu os seus primeiros<br />
passos no sentido da reciclagem de colchões<br />
no Reino Unido”.<br />
UNILEVER<br />
Já no caso Unilever, centrada no sourcing<br />
sustentável, as matérias-primas e embalagens<br />
da Unilever representam mais de 60% das<br />
suas emissões diretas da cadeia de valor, o<br />
que requer uma firme ênfase nos esforços<br />
para reduzir as emissões a montante das suas<br />
operações. “A Unilever não colabora apenas
44<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
com os seus próprios fornecedores”, afirma<br />
o artigo do WEF. “É membro do 1.5-degree<br />
Supply Chain Leaders Exponential Roadmap<br />
Initiative e da Transform to Net Zero Initiative,<br />
onde colabora com outras empresas de<br />
indústrias semelhantes e não só para partilhar<br />
aprendizagens e ideias por forma a acelerar a<br />
ação climática nas cadeias de valor”. Os seus<br />
esforços estão cada vez mais orientados para<br />
o modelo de abastecimento sustentável, que<br />
deverá ter um enorme impacto positivo no<br />
ambiente.<br />
ZF FRIEDRICHSHAFEN<br />
A ZF Friedrichshafen fornece sistemas para a<br />
indústria automóvel e tem vindo a trabalhar<br />
para reduzir a sua pegada de carbono através<br />
de algumas mudanças fundamentais nas<br />
suas operações. “Uma vez que a ZF processa<br />
direta e indiretamente cerca de 1,5 milhões de<br />
toneladas de aço por ano em todo o mundo,<br />
uma alavanca-chave para o conseguir é a<br />
compra de material de fonte sustentável”.<br />
A empresa está a consegui-lo através da<br />
colaboração com os seus fornecedores.<br />
“A ZF concluiu recentemente um acordo<br />
de fornecimento a longo prazo com a H2<br />
Green Steel – de 2025 a 2032, a empresa vai<br />
aumentar e fornecer à ZF 250.000 toneladas<br />
de aço anualmente a partir de uma fábrica no<br />
Norte da Suécia. Esta fábrica tem digitalização<br />
de ponta a ponta, eletricidade de fontes<br />
renováveis e utiliza hidrogénio verde em vez<br />
de carvão. A utilização de hidrogénio verde em<br />
vez de carvão significa que a reação química<br />
que ocorre durante a produção de aço emite<br />
água, em oposição ao CO₂”. •
SCM Supply Chain Magazine 45<br />
3 ideias a reter: O combate às emissões<br />
da cadeia de abastecimento poderia ter um<br />
impacto significativo no clima, mas os progressos<br />
são lentos;<br />
Quatro grandes empresas da “alliance of ceo climate<br />
leaders” – royal philips, ikea, unilever e zf – partilharam a<br />
forma como estão a trabalhar para reduzir as emissões nas<br />
suas cadeias de abastecimento;<br />
Os princípios-chave para acelerar o progresso são a<br />
colaboração, ceo empenhados em alcançar as zero<br />
emissões e políticas de apoio.
46<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Staples Portugal<br />
Texto: Fábio Santos<br />
A DECISÃO FINAL<br />
AINDA É HUMANA<br />
O futuro é agora. Torna-se cada vez<br />
mais essencial estar um passo à frente,<br />
antecipar, prever. Não é uma tarefa<br />
fácil, especialmente em áreas em que<br />
o consumo é bastante variável, como<br />
é o caso da Staples, com materiais de<br />
escritório e tecnologia, e com uma<br />
enorme diversidade de KPI para analisar.<br />
Os cálculos são sempre mais imediatos<br />
com máquinas, mas a decisão final cabe<br />
ao cérebro.
SCM Supply Chain Magazine 47<br />
A<br />
Staples Portugal foi adquirida pela Firmo<br />
a 2 de maio de 2021. Antes da aquisição,<br />
o centro de distribuição, localizado na<br />
Azambuja, contava com uma ferramenta de<br />
gestão de stock que pertencia ao grupo e, com<br />
a saída do mesmo, foi necessário encontrar<br />
uma nova solução que lhes permitisse reduzir<br />
os excessos, otimizar a sua logística, bem<br />
como a distribuição dos produtos pelas 34<br />
lojas físicas em Portugal, e pelos dois canais<br />
de vendas à distância (Online e Corporate).<br />
Ângelo Fernandes, diretor de logística da<br />
Staples Portugal, explicou que “como havia<br />
a intenção da venda da Staples, houve a<br />
necessidade de se encontrar uma solução,<br />
uma vez que estava a acontecer aquilo que<br />
era o ‘desmembramento’ da Staples Europa”.<br />
O primeiro desafio foi encontrar um parceiro<br />
capaz de realizar uma implementação que<br />
fosse ao encontro das suas necessidades em<br />
tempo “record”, pois o sistema teria de estar<br />
operacional antes do momento de “apagão”.<br />
A decisão final foi o Slim4, da Slimstock, “por<br />
aquilo que já tínhamos, e por aquilo que a<br />
solução nos apresentava”.<br />
O TEMPO COMO DESAFIO<br />
O desafio não era fácil, e o deadline era ainda<br />
mais curto. “Demorou dois ou três meses.<br />
Decidimos em janeiro optar pelo Slimstock e<br />
em meados de abril já estávamos a trabalhar”,<br />
explicou o responsável.<br />
Por parte da Slimstock, Marcos Vales,<br />
Business Development Manager, concorda<br />
que o maior desafio foi o prazo que tinham<br />
Ângelo Fernandes, diretor de logística<br />
para a implementação, juntamente com a<br />
sua customização. “Tínhamos um deadline<br />
curto para fazer a implementação do<br />
sistema, acrescido do desafio de customizar<br />
a ferramenta ao processo de cross-docking e<br />
distribuição do stock”, explica.<br />
O sistema tinha de compreender como fazer<br />
a distribuição de duas formas: a compra que<br />
chega ao armazém e que é distribuída segundo<br />
o fluxo das necessidades das lojas, e a compra<br />
que é automaticamente distribuída, e que só<br />
chega ao armazém para fazer cross-docking.<br />
Filipe Magalhães, gestor de aprovisionamento<br />
da Staples Portugal, explica como foi a<br />
integração na operação. “Temos dois fluxos<br />
principais: o stock que compramos para<br />
armazenar e irmos distribuindo, ou PBS, e temos<br />
o JIT, também denominado PBL. Dentro deste<br />
temos ainda o cross-docking”, explica.<br />
No processo JIT, a Staples faz a distribuição<br />
total daquilo que recebe. Há uma encomenda<br />
única para o armazém, que depois distribui
48<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Marcos Vales, Slimstock<br />
para as lojas e na altura do cálculo já está<br />
definido aquilo que vai ser distribuído para<br />
cada uma delas. Por outro lado, no processo<br />
de cross-docking a Staples tem um processo<br />
muito semelhante, mas em vez de terem uma<br />
faturação ao armazém, têm uma faturação<br />
direta à loja. “Houve a necessidade de<br />
fazer essa preparação para que o sistema<br />
reconhecesse esses três tipos de distribuição<br />
e que fizesse o cálculo adequado a cada uma<br />
delas, pois são situações diferentes, tanto em<br />
tempos de entrega como de especificidades<br />
de parâmetros, e o tempo a apertar e a ser um<br />
pouco o inimigo”, comenta Filipe Magalhães.<br />
O gestor de aprovisionamento destaca ainda<br />
um outro desafio, ao nível da preparação do<br />
background da solução, que envolve diversos<br />
KPI. “Diariamente há a necessidade de<br />
alimentar, sobrepor ou substituir tudo o que é<br />
uma base de dados enorme, e foi necessário<br />
encontrar os parâmetros que precisaríamos que<br />
fossem integrados”, explicou.<br />
Não se esquecerem de nada importante<br />
e evitar dados que não fossem relevantes<br />
para a otimização do cálculo durante a<br />
implementação era crucial, o que também foi
SCM Supply Chain Magazine 49<br />
desafiante, atendendo ao curto intervalo de<br />
tempo de que dispunham.<br />
“PODER CRESCER E MELHORAR<br />
TAMBÉM ERAM REQUISITOS”<br />
Era importante haver a garantia de que<br />
as funcionalidades fossem rapidamente<br />
assimiladas pelos seus diferentes utilizadores,<br />
e que não fosse uma “mudança radical” face<br />
ao sistema que existia no passado, o que<br />
aconteceu. Filipe Magalhães conta que em<br />
pouco tempo, “tudo aquilo que são as funções<br />
básicas e o necessário para as tarefas e o<br />
trabalho do dia a dia foi facilmente integrado”.<br />
O fator “user friendly” foi importante para<br />
a Staples, pois embora agora mantenham<br />
uma equipa estável, no caso de ser necessário<br />
introduzir um novo colaborador no projeto,<br />
era importante que a pessoa conseguisse<br />
compreender todo o processo de forma<br />
fácil e rápida. “Não adianta termos uma<br />
ferramenta muito evoluída quando depois não<br />
conseguimos tirar proveito dela”, comenta<br />
o responsável, salientando que neste caso<br />
além do que pretendiam, foi possível “entrar<br />
num processo de evolução e ainda hoje<br />
conseguimos fazer alguma valorização daquilo<br />
que foi esta aquisição”.<br />
Essa mesma ideia é também sublinhada por<br />
Ângelo Fernandes quando destaca que “poder<br />
crescer e melhorar também eram requisitos”,<br />
e que encontraram nesta solução uma<br />
possibilidade de expandir as suas necessidades,<br />
quando fosse necessário.<br />
ANÁLISE DE VENDA<br />
E DE NÃO-VENDA<br />
Uma ferramenta que a Staples adotou, e que<br />
não estava inicialmente projetada, foi um<br />
“contador de venda perdida”, que permite<br />
analisar quanto tempo um produto esteve<br />
fora de stock, analisar a oportunidade de<br />
venda perdida e perceber qual o motivo para<br />
essa quebra em loja, ou seja, por exemplo<br />
se a mesma se deveu a um atraso no<br />
aprovisionamento ou a uma venda acima do<br />
expectado.<br />
“Temos a possibilidade de contabilizar os<br />
dias que o artigo esteve em rutura durante<br />
cada mês e em quantas lojas. Há muitas<br />
perceções que nós temos, que analiticamente<br />
podem não corresponder àquilo que aconteceu,<br />
e é importante termos alguma ajuda analítica<br />
para as situações mais complicadas”, apontou<br />
Filipe Magalhães, “saber o que esteve e onde<br />
esteve ajuda. E o que não esteve, e onde não<br />
esteve, é fundamental”.<br />
Um exemplo recente foi a pandemia de<br />
COVID-19, em que os consumos na tecnologia<br />
dispararam subitamente, e houve falta de<br />
stock em vários produtos. “Neste momento o<br />
mercado começa a estabilizar, esbarrando com<br />
a saturação do próprio mercado. Grande parte<br />
das pessoas já tem computadores, cadeiras…<br />
E, aí, é mais complicado apoiarmo-nos em<br />
qualquer tipo de histórico”.<br />
PREVER É OLHAR PARA A FRENTE<br />
Marcos Vales resume a ferramenta na seguinte<br />
frase: “Diminuir em valor o stock, aumentando<br />
a disponibilidade”. Isto é possível através<br />
das previsões de vendas e de outros KPI, e<br />
destaca que o histórico nem sempre é viável,<br />
sendo necessário olhar para dados concretos,<br />
considerando que o princípio é “não olhar para<br />
trás quando podemos olhar para a frente”.<br />
O Slim4 calcula as necessidades do que<br />
é necessário tanto para as lojas como para<br />
pedir aos fornecedores, estando “no meio” de<br />
todo o processo, e em contacto com o ERP<br />
da Staples. “Todos os movimentos de stock, e
50<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
não só, são integrados diariamente no Slim4,<br />
e isso é indispensável para fazer o cálculo<br />
da necessidade, que depois é exportada para<br />
o ERP”, explica Filipe Magalhães. “Às vezes<br />
comparo com o Excel ao nível da facilidade<br />
com que conseguimos sintetizar a informação.<br />
É importante e é muito rentável para essa<br />
consolidação e para essa sintetização saber<br />
trabalhar muito bem as tabelas dinâmicas,<br />
porque nos ajuda muitas vezes na decisão”,<br />
e aponta que a flexibilidade e facilidade do<br />
sistema permite à Staples tomar melhores<br />
decisões, e que “torna-se relativamente fácil<br />
sabermos que informação queremos exportar<br />
para o tipo de decisão que queremos tomar”.<br />
Marcos Vales destaca mesmo o “imediatismo<br />
da informação”, que torna mais fácil chegar a<br />
uma conclusão, graças à maior transparência<br />
da informação.<br />
“Temos uma base reaprovisionável,<br />
e o nosso principal foco é aquilo que é<br />
comprado e recomprado. Na vertente do<br />
reaprovisionamento, tudo aquilo que não é de<br />
reabastecimento regular não é tão importante.<br />
Mas essa base tem cerca de 300 mil linhas, e<br />
não é humanamente possível trabalharmos<br />
linha a linha e sabermos o que é melhor em<br />
cada local em determinada altura. Esse tipo de<br />
controlo tem que ser feito de forma integrada<br />
e consolidada, mas segmentada naquilo<br />
que precisamos”, comenta Filipe Magalhães.<br />
“Temos de ter uma ferramenta flexível que<br />
nos permita, ao alcance de um clique, retirar<br />
a informação, fazermos as análises que<br />
precisamos, e depois tomar as decisões que<br />
precisamos de tomar, e até conseguimos ter<br />
uma visão da prioridade com que as devemos<br />
tomar”.<br />
Ao nível da previsão, defende que é<br />
necessário existir um suporte analítico para<br />
acompanhar o decisor e transmitir-lhe uma<br />
Filipe Magalhães, gestor de aprovisionamento<br />
maior visibilidade, mas os parâmetros também<br />
dependem muito da própria pessoa e da sua<br />
visão do mercado. “Facilmente podemos dizer<br />
que o consumo vai cair 20, 30, 50, 80%, e<br />
fazer refletir isso na parametrização, mas eu<br />
depois posso não ter como dar seguimento<br />
na compra, porque o distribuidor não<br />
disponibiliza, ou porque aquela máquina vai<br />
ser substituída por outra e vai ficar obsoleta,<br />
e nos próprios consumíveis acompanhar<br />
a curva dos que são para determinada<br />
máquina em que o consumo está a começar<br />
a cair e começar a olhar para aqueles que<br />
surgiram para máquinas novas… Esses é que<br />
são os principais desafios e que dependem<br />
essencialmente da qualidade de análise de<br />
quem está a decidir”, comenta o gestor de<br />
aprovisionamento.<br />
“Em qualquer tipo de aplicativo de cálculo,<br />
pode ser o melhor sistema do mundo, com os<br />
melhores parâmetros e os melhores critérios,<br />
mas se não der uma visibilidade sintetizada<br />
a quem está a decidir, para decidir bem, não<br />
terá certamente a eficiência que se pretende,<br />
porque há muitas variáveis e condicionantes<br />
que são postas e depois não é a máquina
SCM Supply Chain Magazine 51<br />
Outsourcing Logístico<br />
Serviços<br />
Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />
Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />
Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />
Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />
Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />
Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />
Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />
www.gesgrup.pt
52<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
que decide. É a pessoa que está em frente à<br />
máquina que vai decidir, e para decidir bem<br />
tem de ter forma de não se dispersar”.<br />
LIDAR COM A SAZONALIDADE<br />
Recentemente deu-se a maior campanha<br />
da Staples, a de Regresso às Aulas, em que<br />
o reforço e a movimentação de stock são<br />
anormais face às realidades do dia a dia.<br />
Nesses casos esporádicos, “há sempre a<br />
hipótese de aplicar o perfil de sazonalidade<br />
à venda, e é importantíssimo trabalhar esse<br />
perfil”, comenta o gestor de aprovisionamento.<br />
Marcos Vales explica que um dos princípios<br />
do Slim4 é o Management By Exception,<br />
focando-se assim no essencial. “O software<br />
não tem dúvidas de qual é a necessidade de<br />
uma loja quando falamos de um artigo que é<br />
frequente, que se vende todos os dias, que tem<br />
um perfil de sazonalidade claro, e chama a<br />
atenção dos utilizadores exatamente onde não<br />
está claro e ele pode agregar valor”.<br />
Uma das melhorias adquiridas foi ao nível do<br />
equilíbrio e da rentabilização do stock entre<br />
as lojas, e procurar comprar menos e reutilizar<br />
os excessos de outras lojas, onde a ferramenta<br />
conseguiu ajudar a identificar algumas<br />
oportunidades.
SCM Supply Chain Magazine 53<br />
É A PESSOA QUE ESTÁ EM FRENTE<br />
À MÁQUINA QUE VAI DECIDIR, E<br />
PARA DECIDIR BEM TEM DE TER<br />
FORMA DE NÃO SE DISPERSAR<br />
“Temos lojas espalhadas por várias zonas do<br />
país em que há especificidades de cada zona<br />
geográfica, que nos permite ter aqui algum<br />
desequilíbrio no consumo por linha de produto.<br />
Mesmo dentro dessas exceções, muitas<br />
vezes elas são demasiadas para poderem<br />
ser trabalhadas no dia, e essa facilidade de<br />
consolidação de exportação permite-nos<br />
priorizar stocks”, nota Filipe Magalhães.<br />
RESULTADO QUANTITATIVO<br />
DURANTE O ÚLTIMO ANO<br />
Após um ano de atividade, o resultado<br />
consolidado foi uma redução de 5% no stock<br />
com uma melhoria de 2% na disponibilidade<br />
do produto. Para além disso, a Staples<br />
conseguiu ainda reduzir o excesso de<br />
existências em 14%. Filipe Magalhães mostra-<br />
-se satisfeito com os objetivos alcançados,<br />
e aponta que “um dos maiores avanços<br />
é o equilíbrio do stock entre lojas, e a<br />
redistribuição do stock interno”. •
54<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Automatização<br />
CONTINENTAL AUTOMATIZA<br />
CAPTAÇÃO DE PALETES<br />
Texto: Dora Assis<br />
No âmbito da estratégia Indústria 4.0, a Continental elegeu a funcionalidade ImageID<br />
da ZetesMedea para automatizar os seus processos de receção de mercadorias em duas<br />
das suas fábricas: Ingolstadt e Groß-Rohrheim. Resultado? Maior produtividade, precisão<br />
e transparência nas operações diárias. O próximo passo é a implementação de portais<br />
baseados em câmaras adicionais nos Estados Unidos e na Lituânia.
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
Uma das principais instalações da Continental<br />
localiza-se em Ingolstadt, e recebe um<br />
elevado volume de paletes todos os dias,<br />
com até 60 caixas empilhadas em cada uma.<br />
Cada caixa tem uma etiqueta com um código de<br />
barras 2D que tem de ser lido e comparado com<br />
as entradas de entregas no sistema SAP.<br />
A Continental tratava do processo de receção<br />
de mercadorias utilizando scanners portáteis,<br />
o que envolvia muito esforço e demorava<br />
vários minutos por palete. Para poupar tempo<br />
e melhorar a produtividade e a precisão,<br />
implementou-se o sistema ZetesMedea e um<br />
portal ImageID.<br />
INTERFACE INTUITIVA<br />
Aquando da receção de mercadorias, as<br />
paletes são transportadas do camião para o<br />
portal ImageID. As câmaras Zetes ImageID são<br />
instaladas nos tripés à esquerda e à direita<br />
da porta que separa as áreas de receção<br />
de mercadorias e de armazém. Os outros<br />
componentes incluem semáforos e uma estação<br />
de trabalho móvel com um scanner móvel,<br />
impressora de etiquetas e monitor. O monitor<br />
apresenta a interface de utilizador intuitiva e<br />
baseada na web ZetesMedea (Web UI).<br />
ELIMINAÇÃO DE FALHAS<br />
E ERROS<br />
O processo de digitalização, que demora<br />
apenas alguns segundos, inicia-se assim que o<br />
operador de empilhador coloca a palete entre<br />
os dois tripés das câmaras. Durante o processo<br />
de digitalização, a ZetesMedea não só lê os<br />
dados da etiqueta, como também a compara em<br />
tempo real com as entradas de entregas no SAP.<br />
Se tudo estiver correto, o semáforo fica verde e<br />
a tecnologia Zetes ImageID abre a porta rápida.<br />
De seguida, a impressora de etiquetas gera uma<br />
etiqueta de resumo com o sistema SAP.<br />
Se os códigos individuais não forem<br />
reconhecidos durante o processo de<br />
digitalização pelo facto de estarem danificados<br />
ou cobertos, por exemplo, o funcionário é<br />
imediatamente notificado através do semáforo,<br />
assim como da interface de utilizador baseada<br />
na web (WEB UI). Neste caso, o operador<br />
recebe uma notificação visual e pode introduzir<br />
as informações em falta com o scanner manual<br />
focado e sem pesquisas morosas. Quando<br />
este processo está concluído, o processo de<br />
armazenamento pode iniciar-se.<br />
“Com esta tecnologia, podemos trabalhar<br />
mais rapidamente na entrada de mercadorias<br />
com maior qualidade”, declarou Andreas<br />
Dinzinger, responsável de gestão da cadeia<br />
de abastecimento, armazém e envio em<br />
Ingolstadt.<br />
De salientar que, neste caso, espera-se<br />
que o tempo de retorno do investimento seja<br />
inferior a dois anos.<br />
A Continental conta com um tempo de<br />
retorno ainda mais reduzido com a instalação<br />
do segundo portal ImageID em Groß-Rohrheim<br />
(Sul de Hessen), onde a Continental opera um<br />
centro de logística para peças sobresselentes<br />
de veículos de passageiros, com uma área de<br />
34 000 metros quadrados.
56<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
FLEXIBILIDADE É TUDO<br />
Em contraste com Ingolstadt, em Groß-<br />
-Rohrheim são captados códigos de barras 1D<br />
(em vez de 2D). Outra diferença é a distância<br />
de leitura entre a palete e a câmara. Este<br />
facto não é um problema, uma vez que a<br />
ZetesMedea e o portal ImageID são capazes de<br />
captar todos os códigos de barras num alcance<br />
de leitura definível pelo utilizador.<br />
Na prática, tal significa que a área de leitura<br />
pode ter vários metros quadrados, o que<br />
confere elevada flexibilidade à solução.<br />
Em combinação com a ZetesMedea, o portal<br />
ImageID automatiza partes do processo<br />
de entrada de mercadorias da Continental,<br />
aproximando muito mais a Indústria 4.0. A<br />
solução ImageID da ZetesMedea baseia-se<br />
na tecnologia de imagem por computador<br />
automatizada patenteada da Zetes.<br />
A digitalização e automatização<br />
desempenham um papel essencial na indústria<br />
4.0 e as potenciais melhorias, a par do<br />
percurso de movimentação de mercadorias<br />
internas são especificamente identificadas e<br />
utilizadas na Continental. •
SCM Supply Chain Magazine 57
58<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Desmaterialização<br />
e informatização de<br />
processos<br />
A TECNOLOGIA AO<br />
SERVIÇO DA SAÚDE<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
Cada vez mais as empresas<br />
procuram desmaterializar e<br />
informatizar os seus processos, já<br />
que isso permite-lhes aumentar<br />
tanto a sua competitividade no<br />
mercado, como a sua produtividade.<br />
O Hospital Distrital de Santarém<br />
não é exceção e está a reorganizar<br />
os seus processos logísticos e a<br />
uniformizar procedimentos.
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
Um dos objetivos do Hospital Distrital de<br />
Santarém é como explica Rúben Loureiro,<br />
gestor no Hospital Distrital de Santarém,<br />
reorganizar todo o processo logístico da<br />
instituição. Para isso, dada a existência de<br />
vários sistemas de reposição dos materiais<br />
clínicos, hoteleiros, administrativos e de<br />
conservação e manutenção, será necessário<br />
“uniformizar o circuito de todos estes<br />
materiais num único processo transversal a<br />
todo o hospital, otimizando todas as tarefas<br />
logísticas, com reduções dos gastos em<br />
material e maior controlo de todos os fluxos<br />
de materiais e informação”.<br />
Assim, com a reorganização do<br />
processo logístico do Hospital Distrital de<br />
Santarém, tenciona-se “obter melhorias<br />
organizativas com a uniformização dos<br />
processos, minimizando os procedimentos<br />
desnecessários associados à receção, gestão<br />
dos stocks e distribuição dos vários materiais<br />
utilizados”. Outro dos propósitos a atingir<br />
será “uniformizar o processo de consignação,<br />
permitindo um só fluxo de informação e<br />
materiais dentro do espaço do Hospital de<br />
Santarém, possibilitando que o registo de<br />
consumo do material seja realizado o mais<br />
próximo possível da utilização (no espaço<br />
e no tempo) através de leitores óticos e da<br />
informação dos utentes disponíveis”, aponta<br />
o gestor. Um procedimento fulcral já que “o<br />
Hospital de Santarém dispõe de dois circuitos<br />
associados aos materiais em consignação,<br />
dos quais resultam um enorme investimento<br />
de tempo (da logística e dos serviços<br />
utilizadores) e elevada percentagem de erro<br />
no registo de consumo ao utente”.<br />
Não obstante, é igualmente importante<br />
para a entidade garantir o controlo de stocks<br />
de modo a conseguir diminuir os custos de<br />
funcionamento, “isto será possível através de<br />
registos eletrónicos de imputação ao utente<br />
que irão originar uma redução significativa do<br />
desperdício. Também o aumento do controlo<br />
de stocks consignados terá como objetivo<br />
melhorar os registos, os consumos ao doente<br />
e a respetiva faturação, melhorando todo o<br />
processo”, declara.<br />
PROCESSOS DE MUDANÇA<br />
Para alcançar os objetivos desejados,<br />
vários serão os processos a ser alterados<br />
no Hospital Distrital de Santarém.<br />
Primeiramente, o processo de picking para<br />
reposição do stock aos armazéns avançados<br />
será efetuado através de dispositivos de<br />
leitura de códigos de barras, de forma que<br />
seja possível aceder às necessidades de<br />
reposição sem recorrer à impressão. De acordo<br />
com Rúben Loureiro, “a lista do picking será<br />
criada com base na informação do consumo<br />
de cada armazém avançado”, acrescentando
Rúben Loureiro, gestor no Hospital Distrital de Santarém<br />
60<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
que “as necessidades de reposição aparecerão<br />
ordenadas por uma rota lógica de picking<br />
(rota mais curta). O utilizador lê o código<br />
de barras do item (existente na prateleira)<br />
e digita a quantidade a transferir, e, em<br />
seguida, os artigos são transferidos do<br />
stock dos armazéns centrais para o do<br />
armazém avançado correspondente”. É com<br />
esta transferência de stock que o mesmo<br />
aumentará no armazém avançado e que<br />
diminuirá no armazém central, o que permitirá<br />
a existência de um inventário permanente.<br />
O processo de receção do armazém<br />
avançado também mudará já que “o material<br />
chega ao serviço clínico acompanhado de um<br />
aviso de transferência”, que além de poder<br />
ser em papel poderá ser feito através de<br />
leitores óticos dos serviços. Posteriormente,<br />
as quantidades são verificadas pelo<br />
enfermeiro responsável e após leitura do<br />
aviso de transferência e respetiva aceitação<br />
do material, o stock é transferido e o material<br />
armazenado nos locais pré-definidos. Rúben<br />
Loureiro explica ainda que o processo de<br />
consumo por parte dos clientes será alterado,<br />
já que “quando os utilizadores precisarem<br />
de consumir algum artigo, ou seja, retirar<br />
material do armazém avançado, irão fazê-<br />
-lo através dos dispositivos de leitura. Com<br />
estes efetua-se a leitura do código de barras<br />
do artigo a retirar e digita-se a quantidade<br />
a consumir”. A utilização do artigo poderá<br />
ser imputada diretamente ao doente ou<br />
imputada ao serviço, ou seja, quando os<br />
artigos são imputados diretamente ao<br />
doente, o enfermeiro tem de identificar o<br />
doente e só depois proceder ao consumo do<br />
item. No entanto, “quando o consumo dos<br />
artigos é enviado para o sistema informático<br />
hospitalar, o stock no armazém avançado<br />
diminui e é gerada uma lista de picking<br />
(necessidade de reposição), caso o nível
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
mínimo seja atingido, no dia agendado para<br />
abastecimento do serviço”.<br />
Também a reposição nos armazéns<br />
avançados sofrerá mudanças. O armazém<br />
central receberá a informação qualitativa<br />
e quantitativa dos consumos efetuados<br />
no serviço utilizador e é com base nessa<br />
informação, que é percetível em tempo real<br />
qual o stock existente em cada armazém<br />
avançado, “cada armazém avançado terá<br />
definida uma folha padrão com o stock<br />
máximo e stock mínimo de cada artigo e<br />
ao atingir-se o stock mínimo é enviado ao<br />
armazém central, de forma automática, um<br />
pedido de reposição”.<br />
SINERGIAS E GANHOS<br />
De acordo com Rúben Loureiro, a obrigação<br />
de registo para consumo de material “terá<br />
um efeito moderador sobre os utilizadores e<br />
uma consequente diminuição do desperdício”,<br />
o que originará uma melhor utilização<br />
dos recursos disponíveis. Isto originará,<br />
naturalmente, “após criação de níveis de<br />
stock máximo nos vários armazéns, assim<br />
como uma reorganização dos vários produtos<br />
e armazéns (de compra direta, stock e<br />
consignação), prevê-se uma diminuição do<br />
valor de existências globais”, esclarece. Para<br />
além disso, perante um maior controlo do<br />
stock e com a uniformização dos circuitos<br />
(permitindo mais rapidez em todos os<br />
processos), haverá “uma diminuição do stock<br />
médio, apresentando assim uma melhor<br />
gestão de todos os materiais disponíveis no<br />
Hospital de Santarém”.<br />
Por último, mas não menos importante,<br />
“a monitorização rigorosa da informação<br />
detalhada em tempo útil possibilitará aos<br />
profissionais introduzir práticas corretivas de<br />
uma forma ágil, com vista às boas práticas de<br />
eficiência”, garante o responsável. •
62<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Stratesys<br />
Texto: Fábio Santos e Dora Assis<br />
OBJETIVO:<br />
ENTREGAR VALOR<br />
A Stratesys é um hub digital entre a<br />
Europa e a América, acompanhando<br />
os investimentos tecnológicos e a<br />
expansão de empresas com operações<br />
nos dois continentes. A multinacional<br />
tem apostado em projetos na área de<br />
procurement e falámos com Andressa<br />
Kondrasovas e Tiago Duarte para<br />
perceber como é que sentem o mercado<br />
e estão a dar resposta às necessidades<br />
das empresas e a contribuir para o<br />
desenvolvimento do procurement e<br />
melhoria dos processos das empresas.<br />
A<br />
área de procurement tem sido uma das<br />
apostas da multinacional em Portugal, com<br />
vários projetos desenvolvidos, o que lhes<br />
tem permitido ajudar as empresas a simplificar<br />
processos, através de novos métodos de<br />
trabalho e contribuindo para a agilização da<br />
capacidade de resposta das mesmas face a toda<br />
esta volatilidade e disrupções das cadeias de<br />
abastecimento a que se tem assistido.<br />
A função de procurement de ontem já não<br />
responde às necessidades empresariais de hoje<br />
e fica bem claro o impacto que o procurement<br />
tinha anteriormente e tem agora. Andressa<br />
Kondrasovas, líder global de Procurement<br />
na Stratesys explica que “nos últimos anos<br />
o foco estava muito na racionalização de<br />
fornecedores, no esforço para obter redução de<br />
preços, na criação de cadeias de abastecimento<br />
mais enxutas e, com os acontecimentos de<br />
2020, aquilo que pudemos observar foi uma<br />
mudança completa nos mercados e na forma<br />
de fazer negócios. O procurement hoje tem que<br />
se articular para obter agilidade e resiliência,<br />
principalmente em relação à redução de custos<br />
e temos que estar aptos a sobreviver às rápidas<br />
mudanças”, já que uma dificuldade que ainda se<br />
faz sentir é a previsibilidade ou a falta dela.
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
ACELERAR A MUDANÇA<br />
“As empresas que já consideravam a<br />
tecnologia como grande aliado sofreram<br />
menos durante a pandemia, pois a inovação<br />
e transformação já faziam parte do seu dia a<br />
dia. As que não o faziam, tiveram que aprender<br />
sob pressão, acelerando essa transformação<br />
nos últimos dois anos, especialmente em<br />
tecnologias que suportam a cadeia de<br />
abastecimento”, acrescenta Tiago Duarte,<br />
diretor da Stratesys Portugal.<br />
Hoje, a empresa está em 10 países e<br />
desenvolveu um hub tecnológico Europa-<br />
-América, que é também uma preciosa forma<br />
de colaboração, que lhes permite alcançar<br />
mercados e clientes com muito mais eficácia.<br />
Precisamente este aspeto é realçado pelo<br />
responsável da empresa em Portugal ao<br />
revelar-nos que “temos projetos em que<br />
participam pessoas de Espanha, do Brasil,<br />
de Portugal e em que, no fundo, estamos a<br />
tirar partido da dispersão geográfica e dos<br />
diferentes perfis, para em conjunto chegarmos<br />
a um objetivo comum: entregar valor aos<br />
clientes”.<br />
“Não temos mais fronteiras e isso gera uma<br />
eficiência muito significativa. Hoje os nossos<br />
clientes possuem caminhos e ferramentas<br />
para descobrir fornecedores com muito mais<br />
agilidade”, salienta Andressa Kondrasovas.<br />
Um dos méritos de toda a situação<br />
desencadeada pela pandemia foi acelerar<br />
alguns processos no que à tecnologia diz<br />
respeito, eliminando barreiras e fronteiras.<br />
Olhando para o mercado nacional, que<br />
conhece bem, Tiago não esconde que<br />
“Portugal, sendo um país geograficamente<br />
pequeno, apresenta mais resistência a este<br />
tipo de tecnologias ou pelo menos não<br />
vemos tão depressa o seu valor. A tecnologia<br />
Andressa Kondrasovas, líder global de Procurement<br />
abre novos canais de comunicação, permite<br />
descobrir novos fornecedores e é bom tanto<br />
para a empresa que compra como para a que<br />
vende. Tudo se torna mais próximo.”<br />
LIDAR COM O INESPERADO<br />
A gestão de risco passou a ser uma constante<br />
e os líderes devem estar preparados para<br />
novas disrupções originadas por tensões<br />
geopolíticas, fenómenos naturais, eventos<br />
climáticos, como os que têm vindo a registar-<br />
-se um pouco por todo o mundo.<br />
A este propósito, Andressa Kondrasovas<br />
lembra que “a Stratesys sempre esteve focada<br />
em trazer inovação tecnológica ao mercado e<br />
aos clientes. Valorizamos muito a experiência<br />
dos nossos clientes, desde o primeiro contacto<br />
e, para nós, é fundamental ter noção das suas<br />
expetativas e das suas prioridades para, em<br />
conjunto, criarmos uma verdadeira parceria<br />
e caminharmos juntos neste processo de<br />
transformação digital”.<br />
Na área de procurement o que também<br />
aumentou foi a potencialidade das soluções.<br />
Como explica a responsável da Stratesys, hoje<br />
os clientes querem uma tecnologia muito mais<br />
inteligente, que analise online o histórico e<br />
que lhes permita fazer uma projeção do futuro,<br />
de preferência num curto intervalo de tempo:<br />
“sabemos que isso hoje é possível, já não é
64<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Tiago Duarte, diretor da Stratesys Portugal<br />
utopia como há 20 anos, e inclui ferramentas<br />
que potenciam e alavancam diferentes<br />
soluções para comunicação, colaboração,<br />
mobilidade e suporte”.<br />
Há uma mudança assinalável no mindset.<br />
Antes pensava-se “o que comprar” e agora<br />
é o “como comprar” e “são todas estas<br />
potencialidades que estão focados em<br />
aprimorar, melhorando o know how que foram<br />
acumulando ao longo dos anos.<br />
Contudo, apesar de toda a evolução que<br />
se tem registado, ainda se nota alguma<br />
resistência à mudança. “É algo que é inato<br />
ao ser humano, mas em especial nos projetos<br />
tecnológicos há sempre uma tentativa de<br />
mudar a ferramenta, mas manter o processo<br />
que se tinha antes, ou seja, resistir a alterar,<br />
simplificar e adotar as melhores práticas<br />
do mercado, quando, na verdade, são essas<br />
melhores práticas que possibilitam simplificar<br />
os processos dentro da empresa e permitir<br />
um retorno do investimento”, explica Tiago<br />
Duarte, acrescentando que “esta realidade é<br />
mais notória em empresas familiares”.<br />
Ainda assim, a líder global de Procurement<br />
na Stratesys realça também que “enquanto<br />
que num passado recente a área de compras<br />
era dentro das empresas das que menos<br />
investimentos tecnológicos fazia, hoje só não<br />
investe na área de compras quem no momento<br />
tem outras prioridades de investimento<br />
tecnológico”.<br />
MUDANÇA DE PARADIGMA<br />
“De um modo geral, assistimos também a uma<br />
relação comercial e a uma parceria de negócio<br />
muito mais forte, muito mais sustentável,<br />
prática e inteligente entre comprador/<br />
fornecedor. As soluções tecnológicas vêm<br />
acrescentar valor e facilitar toda esta gestão,<br />
acrescentando visibilidade, rastreabilidade…<br />
por um lado, o comprador tem o seu trabalho<br />
facilitado, pois pode tomar uma decisão muito<br />
mais informada e, por outro lado, estamos<br />
num momento colaborativo em que toda<br />
esta interação online e instantânea, fortalece<br />
a comunicação entre parceiros”, esclarece<br />
ainda. O fornecedor tem a possibilidade de<br />
mostrar mais o seu potencial, de passar toda<br />
a informação que é solicitada, de uma forma<br />
clara e objetiva, que facilita todo o processo.<br />
Tiago corrobora este ponto de vista<br />
sublinhando que a tecnologia acaba por<br />
dar mais opções ao fornecedor, ao poder<br />
diversificar o número de empresas com as<br />
quais trabalha, não ficando tão dependente ou<br />
mesmo refém de alguns clientes. “No fundo,<br />
equilibra a balança de poderes. O advento<br />
da tecnologia veio democratizar a relação.<br />
O fornecedor agora passa a ter potenciais<br />
compradores à distância de um clique,<br />
portanto muito mais próximos”.<br />
É verdade que hoje ainda existem muitas<br />
empresas que sentem dificuldade em gerir<br />
os seus próprios fornecedores, por questões<br />
como falta de colaboração, problemas de<br />
desempenho, pouca visibilidade, para os<br />
responsáveis da Stratesys isto significa que há<br />
muito espaço de melhoria nos próximos anos,<br />
com a tecnologia a eliminar ou colmatar as<br />
atuais lacunas, melhorando processos. •
SCM Supply Chain Magazine 65
66<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
TRANSPORTE<br />
Inovação em Antuérpia<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
CULT: O PODER DA<br />
COLABORAÇÃO<br />
Nos últimos tempos, a logística colaborativa<br />
tem vindo a ganhar destaque em diversas<br />
áreas da cadeia de abastecimento graças<br />
aos seus benefícios provenientes da<br />
ajuda mútua entre stakeholders. Neste<br />
contexto, a TRI-VIZOR criou o projeto CULT<br />
- Collaborative Urban Logistics & Transport,<br />
colaboração que visa uma logística urbana<br />
sustentável, através da consolidação<br />
inteligente de volume e que já deu os seus<br />
primeiros passos na cidade de Antuérpia.
SCM Supply Chain Magazine 67<br />
A<br />
indústria logística, perante a tendência<br />
crescente do e-commerce, procura cada<br />
vez mais ser ágil, flexível e pontual nas<br />
suas entregas. No entanto, o consumidor<br />
além de fazer estas exigências, está,<br />
também, atento às questões que envolvem<br />
a sustentabilidade. Assim, é importante que<br />
surjam novas colaborações logísticas tendo<br />
em vista a sustentabilidade das operações<br />
das companhias envolvidas. É neste sentido<br />
que a TRI-VIZOR criou, em junho de 2021,<br />
o CULT - Collaborative Urban Logistics &<br />
Transport, “uma comunidade de empresas que<br />
compartilham uma visão comum sobre como<br />
a logística urbana sustentável pode tornar-se<br />
eficiente”, explica Alex Van Breedam, CEO da<br />
TRI-VIZOR. Contudo, apesar da empresa ser<br />
a orquestradora deste projeto, garante uma<br />
governação neutra e imparcial, envolvendo<br />
todas as partes interessadas relevantes da<br />
cidade. O CULT começou em Antuérpia e<br />
mostra-se disponível a acolher qualquer<br />
outra empresa com entregas na localidade.<br />
Dentro desta estrutura, as empresas - mesmo<br />
concorrentes - podem cooperar de forma<br />
transparente e totalmente de acordo com<br />
os regulamentos existentes. Além disso,<br />
esta iniciativa de distribuição urbana será,<br />
também, lançada brevemente noutras<br />
cidades. De acordo com o responsável, este<br />
projeto tem uma missão clara, “as empresas<br />
da comunidade CULT consolidarão os seus<br />
volumes de forma inteligente na periferia da<br />
cidade para realizar o Green Deal Delivery”.<br />
Um conceito que para ser aplicado com<br />
sucesso terá de ser feito “por meio de rotas<br />
fixas com veículos livres de emissões,<br />
operados por entregadores contratados de<br />
forma responsável. O objetivo é otimizar<br />
custo, nível de serviço, sustentabilidade e<br />
geração de valor social”, afirma o CEO.<br />
ENTREGAS URBANAS<br />
COMBINADAS<br />
O Fórum Económico Mundial prevê um<br />
aumento de 78%, dado o forte crescimento<br />
do comércio eletrónico, no que diz respeito<br />
às entregas urbanas até 2030. Porém, isso<br />
significa que o número de transportes
68<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
continuará a aumentar nas vilas e cidades.<br />
Com a ideia de reduzir a quilometragem<br />
e as emissões das entregas urbanas, as<br />
empresas Danone, Delhaize, Jacobs Douwe<br />
Egberts, Pro-Duo, Proximus, Telenet e a<br />
Schoenen Torfs, integrantes do projeto<br />
CULT desde meados de 2021, trabalharão<br />
em conjunto para organizar a entrega de<br />
encomendas com destino a consumidores e<br />
lojas de retalho. Desta forma, as mercadorias<br />
serão agrupadas de forma inteligente em<br />
armazéns na periferia da cidade, reduzindo<br />
o número de viagens a serem realizadas e,<br />
consequentemente, as emissões de CO₂.<br />
Segundo o CULT, as primeiras entregas<br />
agrupadas em Antuérpia acontecerão com<br />
entregas em horários fixos, totalmente<br />
livre de emissões, com transporte verde,<br />
como bicicletas de carga e vans elétricas<br />
e com estafetas que podem trabalhar em<br />
condições de trabalho socioeconomicamente<br />
responsáveis. Petra De Sutter, Ministra das<br />
Empresas Públicas, Administração Pública,<br />
Correios e Telecomunicações, declarou que<br />
“entregar encomendas com vans, com menos<br />
combustível, aumenta a qualidade de vida
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
de uma cidade. Reduz as emissões de CO₂ e<br />
os engarrafamentos. O CULT ajuda a atingir<br />
esses objetivos empacotando encomendas<br />
nos arredores da cidade de Antuérpia. No<br />
momento, estamos a tornar o mercado de<br />
entregas mais verde juntamente com o setor.<br />
Nesse sentido, o CULT é um marco. O papel<br />
pioneiro das empresas públicas na transição<br />
para uma economia sustentável ganha agora<br />
destaque por a bpost e a Proximus estarem a<br />
participar neste projeto.”<br />
COMEÇO PROMISSOR<br />
EM ANTUÉRPIA<br />
A bpost, organização responsável<br />
pela distribuição do correio nacional e<br />
internacional na Bélgica, foi a escolhida para<br />
fazer as primeiras entregas em pacote na<br />
cidade de Antuérpia. Assim, a distribuidora<br />
irá agrupar todas as encomendas das<br />
empresas participantes e, de seguida,<br />
entregá-las completamente livres de<br />
emissões aos consumidores e pontos de<br />
venda na cidade. A bpost não distribuirá<br />
apenas encomendas, mas, também, paletes<br />
para pontos de venda. O seu transporte<br />
será feito através de pequenos camiões de<br />
HVO (óleo vegetal hidrotratado) estando<br />
Alex Van Breedam, CEO da TRI-VIZOR<br />
em aberto, futuramente, realizar esse<br />
transporte de forma totalmente elétrica.<br />
Dirk Tirez, CEO da bpost, declarou que<br />
“este projeto está totalmente alinhado com<br />
nossa filosofia Ecozone de sustentabilidade,<br />
distribuição urbana inovadora através da<br />
qual combinamos a entrega livre de emissões<br />
com uma extensa rede de pontos de coleta e<br />
armários. Portanto, é lógico que a bpost dê a<br />
sua contribuição para isso. A nossa ambição é<br />
ser o player de logística de e-commerce mais<br />
sustentável da Europa até 2030, com uma<br />
última milha livre de CO₂”. Após a análise<br />
das primeiras entregas de mercadorias
70<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
teste das sete empresas em Antuérpia, foi<br />
possível perceber que mais de um quarto<br />
do número de quilómetros percorridos foi<br />
economizado e as emissões foram reduzidas<br />
por um fator de quase dez. “Quanto mais<br />
empresas agruparem os seus fluxos no CULT,<br />
menos movimentos de transporte e emissões,<br />
em comparação com a situação em que as<br />
empresas operam individualmente, existirão.<br />
Afinal, cinco entregas por rua é muito mais<br />
sustentável e eficiente do que uma entrega a<br />
cada cinco ruas”, afirmou Alex Van Breedam,<br />
acrescentando que “ao alinhar melhor<br />
os fluxos de mercadorias das empresas -<br />
digamos, tornando o agrupamento mais<br />
inteligente - muitos quilómetros e emissões<br />
podem ser economizados”. Esta iniciativa<br />
faz parte do Smart Ways to Antwerp urban,<br />
lançado em julho de 2020, convocatória<br />
destinada a projetos de logística, onde os<br />
projetos selecionados contribuirão para uma<br />
logística urbana regular e eficiente. Como<br />
escolhido, o projeto CULT está a receber<br />
apoio substancial e financeiro da cidade<br />
de Antuérpia. Koen Kennis, Vereador de<br />
Mobilidade da cidade de Antuérpia ressaltou<br />
que “estamos a tornar a nossa cidade mais<br />
sustentável passo a passo e estamos a fazer<br />
isso trabalhando com os parceiros certos. Os<br />
convites à apresentação de projetos da The<br />
Smart Ways to Antwerp são uma forma ideal<br />
de reunir empresários com soluções criativas<br />
- mais fortes juntos, mais inteligentes juntos.<br />
O CULT é um bom exemplo disso”. •
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
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72<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
CARREIRA<br />
Mercado de trabalho<br />
Texto: Dora Assis<br />
AS PRINCIPAIS<br />
TENDÊNCIAS<br />
PARA 2023<br />
A Michael Page lançou o seu<br />
estudo anual sobre as principais<br />
tendências do mercado de trabalho<br />
para o próximo ano para quadros<br />
executivos em empresas de grande<br />
dimensão. No conjunto de setores é<br />
percetível o aumento da digitalização<br />
dos negócios, a mobilidade, novos<br />
métodos de trabalho, novas funções<br />
e a corrida por talentos.
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
No setor da logística, observou-se um forte<br />
aumento na procura de profissionais de<br />
logística e supply chain principalmente<br />
em setores industriais, retalho e construção,<br />
onde a procura destes profissionais é<br />
superior à oferta.<br />
Esta escassez de talento traduziu-<br />
-se num aumento entre 5% e 8% dos<br />
salários em geral. Os perfis mais<br />
procurados são essencialmente de<br />
middle management, onde se destacam<br />
as funções de Customer Service,<br />
Supervisor de Logística, Responsável de<br />
Operações ou Comprador Sénior. Também<br />
as posições de Top Management cresceram<br />
em procura, nomeadamente: Diretor de<br />
Operações, Diretor de Logística, Diretor de<br />
Supply Chain e Diretor de Compras.<br />
DIFERENCIAÇÃO E CULTURA<br />
EMPRESARIAL<br />
À semelhança do que se verifica noutros<br />
setores funcionais, a atração do talento de<br />
logística e supply chain exige diferenciação<br />
por parte das empresas e aposta numa forte<br />
cultura empresarial que contemple um plano<br />
de progressão de carreira bem definido e<br />
um pacote de fringe benefits diversificado<br />
(ginásio, seguro de saúde, fundo de pensões,<br />
entre outros), além de considerar a saúde ou a<br />
flexibilidade.
74<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
Na área de supply chain, a função de Supply<br />
Chain Analyst pode auferir até 28 mil euros e<br />
um diretor de compras (Procurement Director)<br />
até 110 mil euros, enquanto na área de logística,<br />
o plafond de remuneração máximo de 90 mil<br />
euros cabe ao cargo de Diretor.<br />
Já no que diz respeito ao setor do retalho, a<br />
retoma do setor em <strong>2022</strong> foi surpreendente,<br />
destacando-se a competitividade e novas<br />
formas de trabalhar, quer a nível de ferramentas<br />
digitais como de logística.<br />
RETALHO ESPECIALIZADO:<br />
A GRANDE SURPRESA<br />
Se setores como a construção, bricolage,<br />
mobiliário, alimentar, desporto, entre outros,<br />
já tinham tido um ano bastante positivo<br />
em 2021, a grande surpresa foi no retalho<br />
especializado que, em algumas áreas, conseguiu<br />
obter recordes de vendas face a 2019. Estes<br />
valores foram possíveis não só pelo aumento de<br />
consumo que se observou, mas também porque<br />
as equipas demonstraram ter uma grande<br />
capacidade de adaptação e resiliência.<br />
Se no primeiro trimestre a procura por novos<br />
perfis foi mais focada na vertente digital, nos<br />
trimestres seguintes observou-se um aumento<br />
da procura por perfis de operação, ou seja,<br />
vendedores e gestores de loja.<br />
Este dinamismo do mercado poderá ser<br />
explicado pelas transformações digitais e de<br />
logística que as empresas estão a desenvolver,<br />
mas também pelo grande investimento<br />
internacional em Portugal, com a chegada<br />
de novos players que oferecem condições de<br />
trabalho mais aliciantes.<br />
ALTERAÇÃO E COMPATIBILIZAÇÃO<br />
DE PRIORIDADES<br />
Os candidatos procuram melhores condições<br />
salariais, mas também outras regalias,<br />
nomeadamente o equilíbrio entre a vida pessoal<br />
e a vida profissional. Nas funções com turnos<br />
rotativos, observa-se uma procura por funções<br />
com horários mais estáveis, nas funções de sede<br />
procuram-se projetos com possibilidade de<br />
trabalhar em modelo híbrido.<br />
Se em 2021 se observou uma grande alteração<br />
nas prioridades dos colaboradores, <strong>2022</strong> veio<br />
realçar ainda mais essas prioridades, juntando à<br />
estabilidade financeira, a procura pela realização<br />
pessoal e a possibilidade de compatibilizar o<br />
trabalho com a vida pessoal.<br />
A aposta na profissionalização tem levado à<br />
procura de profissionais com formação académica.<br />
Por outro lado, as empresas têm feito um grande<br />
esforço na criação de academias e na facilitação<br />
do acesso ao ensino superior, com o objetivo<br />
de ajudar as suas equipas, valorizando nos<br />
candidatos competências como a proatividade,<br />
o dinamismo e a vertente estratégica.<br />
Paralelamente a esta tendência, continuou a<br />
observar-se uma grande procura por perfis nas<br />
áreas tecnológicas, de marketing e logística, fruto<br />
do grande desenvolvimento das plataformas de<br />
e-commerce e da presença digital das marcas.
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
Relativamente à remuneração, e observando-<br />
-se um aumento salarial médio de 5% para<br />
funções qualificadas, nas funções de Direção, a<br />
posição de Diretor Geral pode auferir até 160<br />
mil euros e de Diretor de Marketing até 130<br />
mil euros. Nas funções de Compras, o Retail<br />
Manager pode ganhar entre 42 e 63 mil euros,<br />
enquanto nas funções de Operações no retalho<br />
alimentar e especializado de grande dimensão,<br />
a remuneração máxima de 80 mil euros cabe ao<br />
Diretor Comercial de Retalho. •<br />
Nota: Valores de faturação e/ou crescimento<br />
correspondentes a <strong>2022</strong> ao período compreendido<br />
entre janeiro e outubro, na área da Grande Lisboa e<br />
Grande Porto. O estudo de remuneração apresentado<br />
foi realizado graças ao conhecimento do mercado<br />
da Michael Page e à constante relação com clientes<br />
e candidatos. A informação contida neste estudo é<br />
o resultado de uma análise empírica de três fontes<br />
de informação diferentes: base de dados, perfis de<br />
candidatos e clientes e publicação de anúncios na<br />
imprensa e na internet.
76<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
José Fernando Guilherme<br />
CTT | Correios de Portugal<br />
AS MUDANÇAS NO<br />
MUNDO E OS DESAFIOS<br />
DAS SUPPLY CHAINS<br />
Quando penso em Supply Chain, lembro-me<br />
da expressão “relógio suíço”. Não estou<br />
a fazer publicidade a nenhuma marca de<br />
relógio, mas o funcionamento de uma cadeia<br />
de abastecimento, incorporando todas as suas<br />
componentes, deve ser regular, fiável, exato…<br />
competitivo. E recordo todos os milhões<br />
de trabalhadores que integram as cadeias<br />
logísticas, faça sol ou faça chuva, calor ou<br />
frio, cidades e estradas congestionadas, eles<br />
executam, todos os dias, a sua parte da cadeia<br />
para que as populações recebam os produtos<br />
de que precisam e as empresas vendam os seus<br />
produtos.<br />
Se em condições normais já é difícil assegurar<br />
essas características (regularidade, fiabilidade,<br />
exactidão), porque há sempre a sazonalidade do<br />
mercado, imprevistos, agora tudo isto é muito<br />
mais difícil de alcançar.<br />
Afinal, nunca foi fácil integrar as várias<br />
componentes e sabemos que se um desses elos<br />
tiver problemas, nos elos seguintes e no final<br />
haverá problemas acrescidos. E num mundo<br />
global as grandes cadeias logísticas são cada vez<br />
mais complexas, extensas, com muitas parcerias,<br />
algumas mais difíceis de controlar que outras.<br />
Hoje, olhando para o passado recente, admito<br />
que o mundo era muito mais parecido com o tal<br />
“relógio suíço”. O comércio global, a digitalização<br />
crescente, a facilidade de comunicações e<br />
transportes faziam parecer fácil aquilo que à<br />
partida já era muito difícil. Entretanto, o mundo<br />
mudou… Porque houve (há) COVID, porque há<br />
guerra, porque há falta de peças criticas, porque<br />
o custo da energia disparou… Muitos porques.<br />
Todos nós já experimentámos essas<br />
mudanças. As viagens que não se realizam,<br />
os automóveis novos que não satisfazem<br />
as necessidades do mercado, o custo dos<br />
transportes, o tempo de transporte. E, de<br />
repente, estamos noutro ciclo. Percebemos que<br />
temos que ser muito eficientes, ter soluções<br />
mais seguras, alternativas pensadas; não estar<br />
tão dependentes de terceiros e dos imprevistos<br />
que passam a ser previstos. Uma economia<br />
não pode esperar que os produtos cheguem do<br />
outro lado do mundo, que a energia apareça<br />
de qualquer lado, as fábricas não podem estar<br />
dependentes de peças feitas no outro lado do<br />
mundo.
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
Mas esta alteração profunda na Supply Chain<br />
é apenas uma parte de tudo o que está a mudar<br />
e vai continuar a mudar. A instalação de grandes<br />
redes de pontos de entrega é uma resposta<br />
à necessidade de racionalizar o comércio<br />
eletrónico e reduzir custos na distribuição.<br />
Temos que ser coerentes, defendemos o<br />
planeta, mas temos que começar por nós. As<br />
entregas gratuitas, à nossa porta, são um bom<br />
argumento de mercado, mas têm custos, sem<br />
dúvida.<br />
Temos grandes desafios pela frente. Desafios<br />
globais:<br />
• As alterações climáticas que nos estão<br />
a colocar em modo de sobrevivência<br />
(incêndios, albufeiras vazias, temperaturas<br />
cada vez mais elevadas);<br />
• As alterações demográficas que estão<br />
a deixar continentes e países muito<br />
envelhecidos, sem profissionais suficientes<br />
para funções vitais, incluindo a falta de<br />
motoristas;<br />
• As alterações energéticas, com tecnologias<br />
recentes e ainda em desenvolvimento e<br />
tempos de implementação muito curtos;<br />
• Continentes e países com populações<br />
crescentes, muito jovens e com dificuldade<br />
em ter uma vida com qualidade.<br />
Para garantir a fiabilidade de uma Supply<br />
Chain temos especialistas que cada vez mais<br />
têm que pensar na segurança e na criação de<br />
alternativas, mas precisamos de uma “Supply<br />
Chain Global” que garanta uma vida justa e<br />
digna para todos. Se falharmos neste projeto<br />
teremos um desfecho muito mau para todos.<br />
O que nos leva à necessidade de “o mundo”<br />
que conhecemos até há poucos anos ter que<br />
se transformar para todos podermos viver em<br />
paz e desenvolvimento. Nunca tivemos tanto<br />
conhecimento, profissionais muito preparados,<br />
modelos de planeamento, inteligência artificial,<br />
automatismos, energias alternativas… Se<br />
o mundo é mais complexo do que nunca,<br />
também é verdade que nunca estivemos tão<br />
bem preparados para enfrentar as dificuldades.<br />
Mas este desafio tem que ser resolvido a<br />
todos os níveis. E os governos terão que<br />
assumir responsabilidades que, num mundo<br />
pacífico, competitivo, colaborante, não seriam<br />
necessárias.<br />
E, ao nível das empresas, cada um terá que<br />
ter a capacidade para pensar em todos os<br />
desafios e preparar todos os cenários, incluindo<br />
a cada vez maior partilha e colaboração entre<br />
empresas. E pensar em todas as oportunidades<br />
de aumento de eficiência das operações,<br />
processos otimizados (incluindo rotas de<br />
transporte e distribuição, localização adequada<br />
de centros de distribuição), usar os modos de<br />
transporte mais adequados em cada situação,<br />
qualificar e reter os melhores colaboradores<br />
(essencial), automatizar tudo o que for possível,<br />
renovar equipamentos obsoletos e com custos<br />
de operação elevados, externalizar o que for<br />
interessante. Sem esquecer a segurança de<br />
todos, incluindo a segurança rodoviária (com<br />
ganhos significativos como tenho referido<br />
muitas vezes).<br />
Esta abordagem inclui uma presença ativa<br />
no mercado. Se não há profissionais, vamos<br />
encontrá-los e formá-los. Se não há recursos<br />
adequados, vamos preparar profissionais e fazer<br />
parcerias quando for necessário. Para garantir o<br />
desenvolvimento e a vida com qualidade para<br />
todos os habitantes deste mundo, precisamos<br />
claramente de mais cooperação, de mais ciência,<br />
de mais racionalidade. •
78<br />
NOV & DEZ <strong>2022</strong><br />
O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
“O que as rãs em água quente nos podem nos ensinar sobre<br />
repensar” Ideas worth spreading, TED@BCG 2021,<br />
Adam Grant, 1.7 millhões de visualizações<br />
“Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar,<br />
Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguir umas das outras.”<br />
Oração da Serenidade, Autor Desconhecido<br />
Há a famosa história da rã que salta<br />
imediatamente, se atirada para dentro duma<br />
panela de água a ferver, mas que se deixa cozer<br />
quando colocada em água fria que aquece<br />
lentamente. Esta narrativa serve de metáfora para<br />
o que acontece às pessoas, no que diz respeito<br />
aos seus objectivos, identidade e hábitos, os quais<br />
não voltam a desafiar uma vez estabelecidos. Não<br />
reconhecemos o perigo de não mudar porque<br />
temos relutância em repensar.<br />
Acontece por vezes que nos apercebemos que<br />
um objectivo é inalcançável. Em vez de repensar o<br />
que queremos atingir, esforçamo-nos ainda mais<br />
por lá chegar, afinal já investimos tanto! Há uma<br />
linha ténue entre persistência heróica e estúpida<br />
teimosia, existindo um termo em Psicologia que<br />
define este último comportamento: “escalada de<br />
compromisso para um curso de acção perdedor”.<br />
O “nunca desistir” não equivale a “persistir numa<br />
coisa que está a falhar”, significa na realidade<br />
alargar o leque de opções e clarificar o que<br />
realmente se ambiciona.<br />
Há igualmente um termo científico para<br />
quando cristalizamos quem somos; chama-se<br />
“encerramento de identidade”. Isto acontece<br />
quando nos definimos demasiado cedo, com<br />
critérios estreitos, fechando-nos a outras<br />
alternativas que também reflitam os nossos<br />
valores e propósito na vida. Há toda uma gama<br />
de possíveis áreas de desenvolvimento pessoal,<br />
e, se uma via falha, temos outras desde que<br />
repensemos as possibilidades.<br />
Finalmente, ao longo da nossa vida criámos<br />
hábitos que nos foram úteis, mas que também<br />
nos podem enclausurar. O termo académico que<br />
define este estado é “entrincheiramento cognitivo”,<br />
ou seja, fazer as coisas como sempre as fizemos,<br />
mesmo quando já não se justifica. Podemos<br />
receber “feedback” que nos ajude a repensar os<br />
nossos hábitos, mas é normalmente difícil aceitá-<br />
-lo. Se, em vez de ficar na defensiva, mostrarmos<br />
curiosidade, abrimos a mente ao processo de<br />
repensar e podemos reavaliar se aquilo a que nos<br />
habituamos ainda faz sentido.<br />
Repensar é exercer “humildade confiante”, uma<br />
característica dos grandes líderes. Permite-nos<br />
reconhecer que não sabemos ou nos enganámos,<br />
aceitar ideias que nos fazem sentir desconfortáveis<br />
e rodear-nos de pessoas que desafiam a nossa<br />
maneira de pensar, e até as nossas conclusões.<br />
Alguém repensou a história da rã e descobriu<br />
que afinal era um mito; assim que a água chega a<br />
uma temperatura desconfortável, a rã na realidade<br />
salta fora da panela.<br />
Adam Grant licenciou-se na Universidade de Harvard<br />
e fez o mestrado e doutoramento na Universidade de<br />
Michigan, em psicologia organizacional. É pesquisador,<br />
autor e consultor de empresas como a Google, a Apple<br />
e a Goldman Sachs, e foi o mais jovem professor a<br />
ser contratado pela Wharton School da Universidade<br />
da Pensilvânia. Fez mergulho de competição até<br />
entrar para a Universidade, e trabalhou como mágico<br />
profissional enquanto estudava.
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