21.07.2023 Views

SCMedia News | Revista | Maio 2023

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Maio</strong> <strong>2023</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

42<br />

ENTREVISTA COM<br />

BURKHARD ELING<br />

CEO DA DACHSER<br />

PROCUREMENT DA EDP<br />

ENVOLVIMENTO DOS<br />

FORNECEDORES<br />

É FUNDAMENTAL<br />

CARMO WOOD<br />

FÁBRICA GIGANTE DE<br />

IDEIAS VERDES<br />

UM DESAFIO<br />

CHAMADO NEXUS<br />

TRANSPORT LOGISTIC <strong>2023</strong><br />

O regresso há muito esperado


Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

EDITORIAL<br />

ADAPTARMO-NOS OU MORRERMOS?<br />

“Até hoje fui sempre futuro”<br />

Almada Negreiros<br />

A logística e a gestão da cadeia de<br />

abastecimento embarcaram na viagem da<br />

transformação há décadas. Na verdade, esta<br />

é uma espécie de maratona sem meta à vista<br />

e em que cada um corre à sua velocidade.<br />

Contudo, o desafio agora parece bem nítido:<br />

acelerar o ritmo.<br />

Por enquanto, o mundo pondera sobre as<br />

cenas do próximo capítulo da globalização, as<br />

perturbações nas cadeias de abastecimento<br />

globais estão longe de se terem dissipado e,<br />

no atual cenário, a tecnologia desempenha<br />

o papel principal na criação de uma maior<br />

visibilidade e resiliência, para que tanto as<br />

empresas como os seus clientes respondam e<br />

enfrentem eficazmente os actuais desafios. E<br />

são tantos!<br />

Fenómenos desencadeados pelas alterações<br />

climáticas, cadeias de abastecimento<br />

instáveis, escassez de energia, escassez de<br />

matérias-primas, escassez de pessoas e de<br />

mão-de-obra qualificada… é uma tarefa<br />

hercúlea esta que o mundo enfrenta.<br />

Contudo, parece que não restam grandes<br />

dúvidas que o futuro passará por produção<br />

neutra em termos de carbono, inteligência<br />

artificial, tecnologias de hidrogénio (qual<br />

fonte de energia e esperança para o futuro!),<br />

soluções de gestão eficiente de energia e<br />

Indústria 4.0. Só com a interligação destas<br />

tecnologias será possível garantir a nossa<br />

prosperidade de forma sustentável, ao mesmo<br />

tempo que se procuram soluções para mitigar<br />

o impacto das alterações climáticas.<br />

Contudo, também é verdade que a produção<br />

de hidrogénio é complexa e dispendiosa,<br />

porque o hidrogénio ainda não é utilizado em<br />

grande escala industrial. também as questões<br />

da disponibilidade, do transporte e do<br />

armazenamento em grande escala continuam<br />

ainda por resolver…<br />

Mas, reticências à parte, não fazer nada pode<br />

mesmo e definitivamente tirar-nos da corrida.<br />

Perante a pergunta: "adaptarmo-nos ou<br />

morrermos?", todas as tentativas de inovar<br />

são valiosas e necessárias.<br />

Instagram Facebook LinkedIn


4<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

#08 #14 #36<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Gartner Top 25 supply chains de <strong>2023</strong> 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Transport Logistic - O regresso<br />

há muito esperado 08<br />

Da inovação à disrupção: uma viagem de<br />

dia e meio 14<br />

“No final, o que importa é criar uma<br />

supply chain fiável e resistente”,<br />

diz o CEO da Dachser 22<br />

PROCUREMENT<br />

EDP - “Garantir o envolvimento dos<br />

fornecedores é a chave do sucesso” 26<br />

Estudo Ivalua/Forrester:<br />

Sobreviver à turbulência 32<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Rotom - “Estamos a passar do paradigma<br />

de sentido linear para o circular” 36<br />

Prémios IFOY <strong>2023</strong> - E os Óscares da<br />

Intralogística vão para… 39<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

“Nem tudo, nem todos, andam à mesma<br />

velocidade” 42<br />

Carmo Wood - Uma fábrica gigante de<br />

ideias verdes 46<br />

Descarbonização na Broliveira: Mais que<br />

um compromisso, um movimento 50<br />

TECNOLOGIAS<br />

Digital Product Passport - Se os<br />

seus produtos forem viajar… Leve o<br />

passaporte 54


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

CARREIRA<br />

#42<br />

Silicon Valley Bank: Uma morte<br />

anunciada 58<br />

SAP - O futuro está na rede 62<br />

TRANSPORTES<br />

Porto de Sines - Um desafio chamado<br />

Nexus 68<br />

Quais são as profissões do futuro na<br />

supply chain? 73<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Material de embalagem e segurança<br />

alimentar: um equilíbrio delicado 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

“Por dentro da indústria secreta dos transportes<br />

marítimos” 78<br />

#46<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

PAR Design<br />

Sales manager_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Events Support_<br />

Katline Costa<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

Estatuto Editorial _<br />

www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

TOP 25<br />

SUPPLY CHAINS DE <strong>2023</strong><br />

C<br />

omo já é habitual, a Gartner divulgou<br />

o ranking das melhores 25 cadeias de<br />

abastecimento na Europa, para o ano de<br />

<strong>2023</strong>.<br />

A Schneider Electric ocupou a primeira posição,<br />

tanto na lista europeia como nas classificações<br />

globais da cadeia de abastecimento da<br />

Gartner. Cisco Systems, Colgate-Palmolive,<br />

Johnson & Johnson e PepsiCo, completam<br />

os cinco primeiros lugares. A Unilever,<br />

entretanto, “continua a demonstrar liderança<br />

a longo prazo, como Master pelo quinto ano<br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Gartner<br />

consecutivo”, afirmou a Gartner.<br />

Até à 10ª. posição estão, respetivamente,<br />

Pfizer, Microsoft, Lenovo, Walmart e L’Óreal.<br />

Sarah Gilchrist, da Gartner, sublinhou que “os<br />

líderes europeus da cadeia de abastecimento<br />

foram postos à prova durante o último ano e<br />

meio, com a gestão do risco a ocupar um lugar<br />

de destaque nas suas agendas. As cadeias<br />

de abastecimento com melhor desempenho<br />

encontraram também novas vias para crescer e<br />

inovar, equilibrando simultaneamente os riscos<br />

muito reais que as suas empresas enfrentam”. •


50 years of air<br />

charter expertise<br />

• Air cargo charter<br />

• CCM - Cargo capacity management<br />

• OBC - On board courier service<br />

• Group and private jet charter PUB<br />

Email us for a quote at: portugal@chapmanfreeborn.aero<br />

chapmanfreeborn.aero


8<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Transport<br />

Logistic<br />

Texto: Ana Paiva<br />

O REGRESSO HÁ<br />

MUITO ESPERADO<br />

A maior feira de logística e<br />

transportes da Europa já tem lugar<br />

cativo na cidade alemã de Munique<br />

desde 1978. De dois em dois anos<br />

abrem-se as portas da Messe<br />

Munchen para receber empresas do<br />

setor, bem como visitantes de todo o<br />

mundo que procuram criar sinergias<br />

para enriquecer os seus negócios.<br />

Após uma paragem forçada pela<br />

COVID-19, a edição deste ano excedeu<br />

expectativas, tendo registado<br />

números inéditos de participação.<br />

Portugal também deixou a sua marca,<br />

especialmente no que diz respeito ao<br />

stand coletivo Logistics from Portugal,<br />

cujo balanço é mais do que positivo.<br />

Após um período marcado pela pandemia,<br />

que impossibilitou a realização da feira em<br />

2021, a Transport Logistic regressou este<br />

ano em força. De 9 a 12 de maio, recebeu 2.320<br />

empresas expositoras de 67 países, e mais de<br />

75.000 visitantes provenientes de mais de 120<br />

países. Falamos de 127.000 metros quadrados de<br />

espaço de exibição, distribuídos por 10 pavilhões,<br />

incluindo área exterior.<br />

Em relação à última edição, a feira superou<br />

números e expectativas. Não só a dimensão do<br />

espaço aumentou (de 125.000 metros quadrados<br />

para 127.000), como também a afluência, uma vez<br />

que a percentagem de visitantes internacionais<br />

foi superior a 50%, e a “mais elevada de sempre”,<br />

segundo Tânia Barros, representante da Transport<br />

Logistic em Portugal.<br />

“A grande adesão comprova, sem dúvida, que os<br />

profissionais quiseram voltar aos negócios caraa-cara<br />

após a pausa forçada durante a pandemia”,<br />

revela. E é mesmo verdade. Os 10 pavilhões que<br />

compuseram a feira nunca estiveram silenciosos.<br />

O burburinho que já caracteriza a atmosfera do<br />

evento tornou-se ainda mais frenético. “Quem<br />

esteve presencialmente na feira assistiu aos<br />

pavilhões e corredores cheios de profissionais, e ao<br />

ruído tão típico que indica que o networking entre<br />

expositores e visitantes decorria da melhor forma”,<br />

indica Tânia Barros.<br />

Nos vários stands apresentaram-se soluções,


9<br />

celebraram-se parcerias com apertos de mão, e<br />

negócios nasceram. Mais uma vez, a feira cumpriu<br />

o seu propósito com sucesso. O setor da logística<br />

e transportes enriqueceu-se.<br />

De forma a acrescentar valor, a feira incluiu<br />

no programa algumas conferências cujos<br />

temas versam sobre o panorama atual do setor,<br />

nomeadamente desafios e oportunidades. Este<br />

ano realizaram-se 56 conferências ao longo<br />

dos quatro dias nas quais se debateram temas<br />

que estão na ordem do dia, como digitalização,<br />

inteligência artificial, gestão de risco e, um dos<br />

mais importantes, sustentabilidade. “Este ano<br />

gostei muito do facto de a sustentabilidade ter<br />

sido um tema comum em toda a feira. Este é um<br />

sinal forte para todo o setor e irá ajudar-nos a<br />

concentrarmo-nos ainda mais nesta importante<br />

questão”, afirma Tobias Jerschke, diretor-geral da<br />

Kuhne+Nagel, no comunicado oficial da Transport<br />

Logistic.<br />

Após a interrupção gerada pela pandemia, os<br />

profissionais regressaram à Transport Logistic com<br />

a vontade e necessidade de concretizar negócios.<br />

“O setor fornece uma grande inspiração nestes<br />

tempos difíceis. As pessoas querem pôr as coisas a<br />

andar, avançar e enfrentar, em conjunto, os atuais<br />

desafios. O que vimos e experimentámos aqui<br />

[na feira] em termos de ideias e tecnologias nos<br />

últimos quatro dias é realmente único. Resumindo:<br />

nada acontece sem logística”, indicam Stefan<br />

Rummel e Dr. Reinhard Pfeiffer, co-CEOs da Messe<br />

Munchen.<br />

A UNIÃO FAZ A FORÇA<br />

O nome de Portugal chegou mais uma vez<br />

à capital da região da Baviera, impulsionado<br />

pela Supply Chain Magazine. Através do stand<br />

coletivo Logistics from Portugal, várias empresas<br />

portuguesas de logística e transporte marcam<br />

presença na Transport Logistic para dar a<br />

conhecer os seus serviços e know-how junto de<br />

um público mais amplo.<br />

Em tons de preto e amarelo, este ano, o stand<br />

destacou-se no pavilhão A4. Com um design<br />

completamente diferente da última edição,<br />

o espaço contava agora com um simulado<br />

contentor no cimo do stand, identificado com a<br />

marca de Portugal.<br />

Desde a última edição da Transport Logistic,<br />

a dimensão do stand de Portugal passou de 100<br />

metros quadrados para 180 metros quadrados,<br />

e aumentou o número de empresas que lá<br />

se instalaram, sendo elas: Rangel, Garland,<br />

Mind4Logistics e Mind4customers, XBS Logistics,<br />

Warelog, APG Cargo, OJE Logistics, Six Overseas,<br />

Seeptrucker, MPG Group.<br />

“A feira foi um sucesso tremendo, e a<br />

participação portuguesa no stand Logistics from<br />

Portugal, acompanhou esse êxito”, revela Filipe<br />

Barros, executive manager da SCM,


10<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

acrescentando ainda que “durante os quatro dias,<br />

além de um número significativo de contactos<br />

de qualidade com potenciais clientes, a presença<br />

das empresas nacionais teve um impacto notável<br />

na mais importante feira do setor”.<br />

Durante o evento, o stand recebeu<br />

visitantes de todo o mundo que procuraram<br />

complementar os seus negócios com soluções<br />

de Portugal. “Dinâmicas” é a palavra certa para<br />

caracterizar as ilhas pertencentes às empresas<br />

nacionais que se encontravam no stand<br />

coletivo.<br />

Embora cada empresa tenha como principal<br />

objetivo angariar clientes e estabelecer<br />

novos negócios, todas elas têm um propósito<br />

comum: levar o nome de Portugal alémfronteiras,<br />

e esse é o principal motivo que as<br />

leva a integrar um stand coletivo. “A feira de<br />

Munique percebeu, há muito, que os stands<br />

coletivos de países conseguem ter mais<br />

força, mais expressão, mais capacidade de<br />

atração de visitantes, e apresentam melhores<br />

resultados às empresas que neles participam”,<br />

afirma Filipe Barros. Por sua vez, Tânia Barros,<br />

corrobora esta ideia. “O grande tema desta<br />

edição era ‘Cooperação’ para fazer frente aos<br />

atuais desafios do setor, e o stand Logistics<br />

from Portugal não foi exceção. A presença<br />

coletiva trouxe, sem dúvidas, sinergias e mais<br />

visibilidade ao país”.<br />

O stand coletivo de Portugal cresceu em<br />

número de empresas e dimensão desde a última<br />

edição. Com o sucesso a fazer parte da sua<br />

história, em 2025 a expectativa é, mais uma vez,<br />

de superação. “Estou certo de que, na próxima<br />

edição, teremos um stand com mais empresas<br />

portuguesas do que a representação deste<br />

ano e, sobretudo, teremos um stand com mais<br />

espaço e áreas ocupadas”, termina Filipe Barros,<br />

estimando que “a participação portuguesa na<br />

próxima Transport Logistic irá crescer 35%”.<br />

Rangel<br />

“A última feira foi há quatro anos e, desde<br />

lá, tivemos uma pandemia e uma guerra na<br />

Europa, portanto estávamos todos com altas<br />

expectativas. Muitas pessoas não puderam<br />

viajar durante este período, por isso foi um<br />

bom momento para encontrarmos alguns dos<br />

nossos parceiros que já não víamos há quatro<br />

anos” - Nuno Rangel, CEO<br />

Garland<br />

“A feira esteve muito mais concorrida do que<br />

da última vez. Eu diria, até, quase caótica. Mas<br />

nós fizemos uma preparação antes de irmos.<br />

Tínhamos muitas reuniões agendadas e isso<br />

fez a diferença. Trouxemos uma equipa grande<br />

e foi um sucesso” - Mark Dawson, CEO<br />

Warelog<br />

“Se estamos aqui é por um bem maior que é<br />

apresentar a marca de Portugal. Depois, claro,<br />

individualmente cada uma das empresas faz o<br />

seu papel, mas deveria haver uma cooperação<br />

maior. Em suma, o resultado é muito bom,<br />

a marca de Portugal vende bem e cada vez<br />

vende melhor, mas ainda falta mostrarmos aos<br />

outros que somos unidos. Isso é fundamental” -<br />

Ivone Costa, gestora de clientes<br />

XBS Log<br />

“As expectativas que tínhamos eram<br />

elevadas, dado ser a maior feira ligada aos<br />

transportes internacional realizada no mundo<br />

inteiro. Além disso, estar num stand coletivo<br />

possibilita às empresas portuguesas estarem<br />

situadas num dos melhores pontos e de maior<br />

movimento da feira, aumentando o número de<br />

contactos efetuados e a qualidade do mesmo”<br />

- XBS<br />

Six Overseas<br />

“Falta às empresas portuguesas este<br />

associativismo e cooperativismo porque isto


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

é que nos leva mais longe. Nós podemos<br />

ser concorrentes, mas vamos pelo mesmo<br />

propósito, que é mostrar que a marca Portugal<br />

é cada vez mais forte. E além disso, seleciona,<br />

porque quem vier ao stand, vê o nome<br />

“Six Overseas” e percebe que somos uma<br />

empresa de Portugal. Esta identificação é<br />

importantíssima” - Ricardo Lemos, co-founder<br />

& managing director e António Lima Pereira,<br />

co-founder & managing director<br />

MPG Group<br />

“Esta foi a primeira vez da MPG na feira e a<br />

aceitação foi enorme. Estamos muito satisfeitos<br />

com a organização. Ao marcar presença na feira<br />

procuramos parcerias com outras empresas do<br />

nosso ramo, e fazer networking, o que resultou<br />

muito bem. Fizemos bastantes contactos” -<br />

Bernardo Guinea, air freight national manager<br />

Mind4Logistics/Mind4Customs<br />

“Termos a possibilidade de ter um expositor<br />

no nosso sítio [stand coletivo] dá-nos uma<br />

visibilidade muito maior. Eu costumo de dizer<br />

que gosto muito de estar em parceria, gosto<br />

muito de estar acompanhado, não me importo<br />

de ter aqui concorrentes porque no fundo não<br />

temos de ser concorrentes, mas sim parceiros”<br />

- Jorge Emanuel Ramalho, CEO Mind4Group<br />

APG Cargo<br />

“A APG Cargo, sendo uma empresa recente,<br />

quis estar perto dos transitários e da logística<br />

portuguesa em geral. Nessa medida fez<br />

sentido estar num stand coletivo porque assim<br />

conseguíamos estar perto de quem são os<br />

nossos clientes, bem como das companhias<br />

aéreas que serão também representadas por<br />

nós” - Joana Nunes, managing partner<br />

OJE Logistics<br />

“Este é um projeto recente e nós viemos à<br />

feira para dar-lhe visibilidade no mercado, e<br />

estabelecer contactos. Tivemos manifestações<br />

de interesse e por isso consideramos positiva<br />

a participação na feira. Os objetivos foram<br />

atingidos” - administração da OJE<br />

Seeptrucker<br />

“O nosso objetivo ao marcar presença na feira<br />

foi promover o nosso produto: um software<br />

para análise de dados tipográficos e procurar<br />

distribuidores para vários países. O balanço que<br />

fazemos é muito positivo. Um serviço fantástico<br />

e uma organização ao mais alto nível” - João<br />

Ferreira, international account manager.


12<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

PORTUGAL EM MUNIQUE<br />

Além de ter como embaixador o stand<br />

coletivo “Logistics from Portugal”, o nome<br />

de Portugal marcou presença, a título<br />

individual, graças a muitas outras empresas<br />

que participaram no evento enquanto<br />

expositoras, como foi o caso da Abreu Logistics.<br />

Networking, conhecimento do mercado, análise<br />

da concorrência e apresentação de produtos<br />

e serviços, foram os principais motivos que<br />

levaram à participação na Transport Logistic.<br />

Joana Freitas, responsável de marketing<br />

e comunicação da Abreu Logistics, revela<br />

que o balanço foi “francamente positivo”,<br />

ainda que “os resultados sejam, na sua<br />

maioria, a longo prazo, acreditamos que trará<br />

benefícios significativos para o crescimento e<br />

fortalecimento da empresa no setor”.<br />

À semelhança da Abreu Logistics, a JTM Group<br />

também teve uma participação positiva na feira.<br />

“Tivemos muita adesão e muitas visitas. Alguns<br />

dos parceiros que já nos conhecem visitaramnos<br />

para fazer um balanço”, conta Sílvia Nery,<br />

comercial director da empresa. Por sua vez, a<br />

Torrestir, que já é presença assídua na Transport<br />

Logistic, corrobora esta ideia. “O balanço é de<br />

sucesso. Somos uma empresa com dimensão<br />

global e queremos identificar clientes, parceiros,<br />

agentes. Temos tido uma afluência muito<br />

boa”, afirma Fernando Manuel Torres, business<br />

manager da empresa.<br />

Por sua vez, a MAIS Madeira Air integrou<br />

o stand do Grupo Swiftair, procurando<br />

“promover a singularidade da nossa operação<br />

de carga e a riqueza e variedade dos produtos<br />

insulares”, indica Filipe Teixeira, diretor de<br />

desenvolvimento de negócio, acrescentando<br />

que “esta edição terá sido muito concorrida em<br />

termos de visitantes, pelo que, a qualidade dos<br />

contactos foi muito elevada, abrindo-se portas<br />

futuras para novas parcerias e soluções”.<br />

O stand da Associação dos Portos de<br />

Portugal (APP) representou os portos<br />

portugueses na feira de Munique. Eduardo<br />

Feio, presidente dos portos de Aveiro e<br />

Figueira da Foz, confessa que o objetivo da<br />

participação na Transport Logistic é “levar o<br />

nome de Portugal um pouco mais além. Não<br />

só dos portos, mas também do que fazemos<br />

bem na área da logística, nomeadamente”.<br />

Neste sentido, faz um balanço muito positivo<br />

da edição deste ano. A Agenda Nexus decidiu<br />

também apostar na Transport Logistic, ainda<br />

que este seja um projeto recente. José Luís<br />

Cacho, presidente da Administração dos Portos<br />

de Sines e do Algarve (APS), faz um balanço<br />

positivo do desempenho das empresas que<br />

aglomerou no stand da Agenda Nexus. “Esta<br />

foi a primeira apresentação de algumas das<br />

empresas que estão connosco na Agenda<br />

Nexus, onde estabeleceram os primeiros<br />

contactos com possíveis parceiros de negócio,<br />

e potenciais clientes. Foi uma primeira<br />

abordagem, e foi muito positiva”, refere.<br />

Num cenário em constante mudança nem<br />

sempre é fácil fazer as previsões para o futuro,<br />

mas o que é certo é que o setor da logística e<br />

transportes vai continuar a ser o combustível<br />

que alimenta o mundo. Por esse motivo, a<br />

feira de Munique irá continuar a ter um papel<br />

fundamental na criação de negócios e sinergias,<br />

e partilha de conhecimento neste setor.<br />

A edição de <strong>2023</strong> lotou o espaço da feira,<br />

“portanto se a adesão de expositores continuar<br />

a crescer, um aumento de espaço poderá ser<br />

necessário em 2025. Mas não é nada que<br />

preocupa a organização e Munique, já que o<br />

recinto tem mais pavilhões disponíveis”, garante<br />

Tânia Barros. A Transport Logistic volta a abrir<br />

as portas em 2025, de 2 a 5 de junho, e as<br />

inscrições abrem em abril de 2024. •


14<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

SCM<br />

Conference <strong>2023</strong>


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Par Design<br />

DA INOVAÇÃO<br />

À DISRUPÇÃO:<br />

UMA VIAGEM<br />

DE DIA E MEIO<br />

Nos dias 29 e 30 de maio, a Quinta do<br />

Roseiral acolheu uma nova edição da<br />

SCM Conference, a grande conferência<br />

da Supply Chain Magazine. Ao longo<br />

de um programa de dia e meio,<br />

dirigido aos gestores de topo das<br />

áreas de logística e compras, mais<br />

de 30 oradores abordaram o tema<br />

“Cadeias de Abastecimento: Inovar na<br />

Disrupção”, para uma sala de mais de<br />

300 pessoas.<br />

A<br />

nualmente, a Supply Chain Magazine reúne<br />

profissionais e casos atuais e importantes<br />

para a logística, numa conferência<br />

direcionada para profissionais de topo. A partilha<br />

de conhecimento, o debate sobre temas atuais<br />

e a exposição de projetos em desenvolvimento,<br />

são algumas das preocupações atuais, mas<br />

claro, também muito importante é o espaço<br />

para os participantes fazerem networking,<br />

desenvolverem parcerias e até conhecerem<br />

soluções inovadoras que os possam ajudar a<br />

resolver quaisquer problemas que tenham nas<br />

suas cadeias de abastecimento.<br />

Embora não tenha o mesmo impacto do que foi<br />

vivido durante estes dois dias, deixamos-lhe um<br />

resumo do que foi a SCM Conference <strong>2023</strong>, e do<br />

que está para vir para outubro: a SCM Conference<br />

Ibéria.<br />

29 DE MAIO<br />

- ESTRATÉGIA E LIDERANÇA<br />

No primeiro dia olhámos para o futuro das<br />

cadeias de abastecimento e para a diferenciação<br />

durante épocas críticas como a que estamos a<br />

passar. A tarde do primeiro dia ficou marcada por<br />

temas mais estratégicos e de liderança.<br />

Alexandre Real, partner da Sfori, deu início<br />

à conferência com o tema “A inteligência<br />

paradoxal”. O mundo recente está cheio de<br />

contrastes de contradições. Um dos problemas<br />

que aponta é o excesso de informação, em<br />

contraste com a sua escassez, e afirma que o<br />

conhecimento de hoje pode ser uma armadilha.<br />

“O Homem de hoje, num dia, recebe tanta<br />

informação quanto o Homem da idade média<br />

durante a vida toda”, exemplifica.<br />

Outra das ideias de que se fala muito<br />

recentemente é das zonas de conforto e de<br />

desconforto, e defende-se que as empresas<br />

devem sair da zona de conforto para poderem<br />

crescer. Alexandre Real defende a existência de


16<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

uma outra zona em que as empresas se devem<br />

colocar ao invés dessas: a zona de segurança.<br />

O orador defende que as empresas podem sim,<br />

sair das suas zonas de conforto, mas devem<br />

manter-se dentro de uma zona de segurança<br />

que lhes permita ter flexibilidade e controlar<br />

o risco. “Questionem-se sempre: estou na zona<br />

de conforto ou estou na zona de segurança?”,<br />

conclui.<br />

Seguidamente, Raffaele Carpi, partner da<br />

McKinsey & Company, começa por falar da<br />

“tempestade perfeita” que se vive nas supply<br />

chains. Com o tema “The world is and will be<br />

more complex: is your supply chain ready?”, o<br />

responsável trouxe alguns exemplos de como a<br />

mudança tem estado a impactar as cadeias de<br />

abastecimento dos dias de hoje, e da importância<br />

de as empresas se adaptarem às situações, com<br />

resiliência e da flexibilidade.<br />

Aponta desde logo o exemplo da Toyota,<br />

que depois de um terramoto em 2011, que lhes<br />

causou uma grande disrupção na cadeia de<br />

abastecimento, adaptou as suas infraestruturas e<br />

conseguiu resistir ao terramoto seguinte.<br />

Outro dos casos que indicou foi o da Nike, que<br />

através da integração de um sistema RFID criou<br />

um sistema de gestão digital dos seus stocks<br />

entre os canais físico e virtual.<br />

“As supply chains do futuro terão de ser mais<br />

digitais, integradas e ágeis”, conclui.<br />

Depois, Joana Leite Moreira, diretora de<br />

logística do Lidl Portugal, toca no tema da<br />

sustentabilidade, através do caso do combate ao<br />

desperdício no Lidl. “A importância estratégica de<br />

combater o desperdício na logística” foi o tema<br />

escolhido para a sua intervenção, e que envolveu<br />

desde o desperdício alimentar ao desperdício<br />

energético.<br />

“A sustentabilidade está a ser muito pensada,<br />

e é um caminho que temos de seguir nas nossas<br />

cadeias de abastecimento”, ressalva.<br />

Quase a terminar o dia, deu-se a mesa<br />

redonda “Cadeia de Abastecimento: Inovar na<br />

disrupção”, com a presença de Gonçalo Santos,<br />

CEO da Iberol, Ricardo Santos, general manager<br />

da Mistolin, Miguel Silvestre, presidente do<br />

conselho de administração da Plural + Udifar, e<br />

António Marcelo, vice president global supply<br />

chain da Visteon Corporation, sob a moderação<br />

de José Costa Faria, senior Supply Chain<br />

Consultant & Leadership Specialist.<br />

A primeira questão que lançou foi<br />

precisamente “O que está a mudar?”. Ricardo<br />

Santos começa por dizer que “vivemos num<br />

mundo Rock&Roll” em constante mudança<br />

e adaptação. No caso da Mistolin, lançaram<br />

recentemente 120 produtos, e que por trás de<br />

cada produto existe toda uma equipa preparada<br />

para o desenvolver. “Isto é o Rock&Roll de<br />

todos os dias. Tem de haver uma relação<br />

muito colaborativa entre a Mistolin e os seus<br />

fornecedores”, explica ainda, “as relações têm<br />

de ser cada vez mais colaborativas”.<br />

António Marcelo aponta que na Visteon, uma<br />

das inovações que tiveram foi através de uma<br />

gestão global da cadeia de abastecimento,<br />

localizada em Portugal, em Palmela. Através<br />

desta localização, conseguem ter acesso a<br />

todo o nível de stocks, de necessidades, de<br />

disrupções e atrasos ao longo da cadeia global,<br />

e poderem responder com melhor prontidão<br />

a cada situação. “Acabou por diminuir as<br />

disrupções e os excessos de inventário”, explica<br />

o responsável.<br />

“Essa gestão global foi uma das decisões mais<br />

certeiras na minha carreira”, destaca.<br />

No caso da distribuição farmacêutica,<br />

Miguel Silvestre afirma que ficaram um<br />

pouco “amarrados”, mas que a inovação<br />

é uma constante na Plural + Udifar. No<br />

início da pandemia houve uma escassez de<br />

medicamentos, e não havia um plano B. “Os


medicamentos começaram a entrar em rutura<br />

num setor que sempre foi muito planeado”,<br />

afirma.<br />

Gonçalo Santos dá o exemplo do<br />

biocombustível, em que o produto tem um preço<br />

baseado nas emissões que tem para a atmosfera.<br />

Em termos de inovação, procuram dentro dos<br />

seus próprios parceiros que estes reduzam as<br />

suas emissões de transporte, e os transportes<br />

ferroviário e marítimo são duas opções com<br />

emissões mais reduzidas. “O esforço adicional por<br />

parte dos operadores é encontrar ferramentas<br />

para tornar todo este processo mais verde”,<br />

considera o responsável.<br />

Para esta inovação, destacam o papel das<br />

pessoas e da liderança neste novo modelo póspandémico,<br />

o que envolve não só a retenção de<br />

talento, mas também a capacidade de captação,<br />

e de gestão, das pessoas.<br />

Miguel Silvestre realça que “temos de ir<br />

gerindo as equipas, as expectativas, e estar<br />

muito próximos daquilo que são os sinais das<br />

pessoas”, e que por vezes as pessoas saem das<br />

empresas sem motivo aparente, o que dificulta a<br />

gestão deste talento.<br />

Gonçalo Santos aponta que a diversidade<br />

geracional traz inovação e novas formas<br />

SCM Supply Chain Magazine 17


18<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

de pensar e de olhar para as cadeias de<br />

abastecimento. “Ter uma equipa que seja<br />

multidisciplinar e com várias gerações é muito<br />

importante”, destaca ainda.<br />

Olhando para a tecnologia, no caso da Visteon,<br />

António Marcelo defende que todos falamos de<br />

tecnologia, mas que uma das ferramentas que<br />

mais utiliza é o Excel. “Gosto de ter pessoas que<br />

venham diretas das universidades”, explica, e que<br />

por vezes geram novas ideias através de outras<br />

mais “arcaicas”.<br />

Ricardo Santos recorda quando em 2016,<br />

entrou para a Mistolin, “a mudança mais<br />

importante e disruptiva foi acabarmos<br />

com o departamento de produção”, tendo<br />

posteriormente criado um departamento mais<br />

direcionado para a supply chain.<br />

A terminar o dia, José Soares, professor<br />

catedrático de Fisiologia da Universidade do<br />

Porto, trouxe o tema “O impacto do stress e da<br />

fadiga na performance individual e das equipas”.<br />

Ao longo do seu discurso, apontou a relação<br />

entre o stress e a fadiga na performance das<br />

equipas, bem como a influência dos seus estados<br />

de espírito, tanto para a positiva como para a<br />

negativa.<br />

Criando uma analogia entre o trabalho e o<br />

desporto, defende que “treinar é fácil, recuperar<br />

é que é difícil”, e que por muito que as pessoas se<br />

foquem no trabalho, acabam por não conseguir<br />

descansar o suficiente para compensar os gastos.<br />

30 DE MAIO – OPERAÇÕES,<br />

TECNOLOGIA E PESSOAS<br />

Se a primeira tarde da SCM Conference ficou<br />

marcada pela estratégia e pela liderança, o<br />

segundo dia focou-se mais nas operações,<br />

tecnologia e nas pessoas. Ao longo do dia<br />

assistimos a palestras e mesas redondas que<br />

deram a conhecer projetos importantes que<br />

estão a decorrer, como são feitas algumas<br />

operações portuguesas com impacto<br />

internacional, desafios e soluções ou novas<br />

tendências do setor.<br />

Hélder Guerreiro, managing director europe<br />

da Tilray, foi o primeiro a pisar o palco da SCM<br />

Conference <strong>2023</strong>. Traçando um caminho pela<br />

sua carreira, explicou “como é que a supply<br />

chain pode tornar um profissional num ‘todo<br />

o terreno’”. Desde cálculos matemáticos para<br />

melhorar a eficiência da cadeia a forecasts,<br />

uma das palavras do dia foi “pragmatismo”. “Na<br />

logística ou aprendemos a ser pragmáticos ou<br />

falhamos”, afirma o responsável, acrescentando<br />

que “quem sobrevive na logística sobrevive em<br />

qualquer setor”.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Seguidamente, Pedro Silva Caldeira, guest<br />

speaker da Nova SBE Executive Education, Jorge<br />

Calado, co-founder and partner da SCORE, e<br />

Pedro Sousa, diretor de materials management<br />

da The Navigator Company, apresentaram<br />

um projeto de Smart Contracts que estão a<br />

desenvolver em parceria. Este projeto, com<br />

recurso a blockchain, trará transparência,<br />

rastreamento e visibilidade em tempo real<br />

da pegada ambiental dos produtos, redução<br />

de riscos e automatização dos processos de<br />

procurement. “A tecnologia tem de assumir<br />

um posicionamento de destaque para que nós<br />

possamos gerir os contratos digitais”, afirmou<br />

Pedro Silva Caldeira.<br />

Olhando para o procurement a nível<br />

estratégico, Isabel Martins, global procurement<br />

manager da Daufood, empresa responsável pela<br />

Domino’s Pizza em Portugal, Europa central e<br />

do sudeste da Europa, explicou como através<br />

de Portugal conseguem gerir toda a cadeia<br />

nacional e internacional das lojas Domino’s, e a<br />

importância que o procurement tem para esta<br />

gestão. “Se olharmos para as compras de uma<br />

forma mais estratégica dentro da empresa, é uma<br />

área que a faz crescer”, afirma.<br />

Seguindo-se no programa, Susana Ratinho,<br />

partner & founder da Cross Logistics, e Pedro<br />

Sá, vending business director da Delta Cafés,<br />

explicaram a realidade do setor de vending da<br />

Delta, e de como funciona toda a logística de<br />

aprovisionamento das lojas. Foram explicados<br />

vários dos desafios que têm, envolvendo desde<br />

a dificuldade de aprovisionamento das próprias<br />

máquinas a questões de temperatura controlada,<br />

e a importância de um bom forecast para o


20<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

sucesso das operações. “Um pedido mal feito por<br />

cima gera desperdício alimentar. Por baixo gera<br />

redução nas vendas”, afirma Pedro Sá.<br />

Partindo de Portugal para o mundo, Fidélio<br />

Alegria, diretor-geral da Sjaak van Schie, empresa<br />

que, de Pegões, exporta milhões de flores<br />

para todo o mundo, apresentou os desafios<br />

que enfrentam, e os pilares que definiram<br />

como principal foco de adaptação a esta nova<br />

realidade: inovação, digitalização, operações<br />

e sustentabilidade. “Para nós não faz sentido<br />

importarmos coisas de outros países quando em<br />

Portugal sabemos fazer tão bem ou melhor que<br />

os outros, e conseguimos reduzir a nossa pegada<br />

ambiental”, afirmou o responsável, lançando<br />

ainda a importância das equipas e das sinergias<br />

entre gerações.<br />

Fábio Santos, national business development<br />

manager da Modula, apresentou três business<br />

cases que implementaram, e as vantagens<br />

operacionais obtidas através da implementação<br />

dos sistemas da empresa. Adicionalmente,<br />

apresentou um caso curioso em que foi<br />

utilizado um módulo como “Modula Farm” para<br />

a produção de morangos, possível graças ao<br />

controlo de temperatura e de humidade, e de luz<br />

artificial. No final, concluiu que “até morangos<br />

nós podemos criar dentro dos módulos”.<br />

Com o desafio de falar sobre “A supply chain<br />

do futuro”, Tiago Fernandes, senior business<br />

developer (Industry 4.0) da SAP, deixou alguns<br />

casos em que grandes organizações utilizam<br />

a tecnologia para otimizar as operações, e<br />

“simplificar as suas vidas”. Durante a sua<br />

apresentação, explica que temas como risco,<br />

segurança, visibilidade, transparência ou<br />

otimização operacional podem ser solucionados<br />

através de machine learning, metaverso ou<br />

inteligência artificial. “São tecnologias muito<br />

interessantes, onde cada vez mais é fundamental<br />

que os responsáveis de supply chain olhem para<br />

estas temáticas de uma forma um pouco mais<br />

assertiva, porque de facto vê-se aquilo que é o<br />

valor associado”, comenta.<br />

Após o almoço promovido pela Savills, Tiago<br />

Abreu, delivery station manager da Amazon,<br />

apresenta dois temas para revolucionarem a<br />

última milha: sustentabilidade e automação.<br />

Apesar de a automação ser um tema controverso,<br />

aponta que os empregos das pessoas não estão<br />

em risco, e que serão criados postos diferentes,<br />

com novas skills mais tecnológicas. “As pessoas<br />

vão transitar de trabalhos mais manuais para<br />

trabalhos mais técnicos para operar robôs, pois já<br />

têm o know-how”, defende.<br />

Seguindo-se com o tema da cibersegurança,<br />

por parte da PwC, Miguel Dias Fernandes,<br />

consulting partner, e Catarina Amaral Cunha,


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

cybersecurity manager, apresentaram o tema<br />

“cibersegurança e regulação: o (novo) mundo<br />

da Tecnologia Operacional”. Uma das questões<br />

relacionadas com este tema é ao nível do risco<br />

que as empresas correm através da tecnologia,<br />

e como se devem proteger, e ter parceiros que<br />

também estejam protegidos.<br />

Miguel Dias Fernandes afirmou que “nós<br />

todos trabalhamos muito em rede. Até podemos<br />

trabalhar bem com os nossos parceiros e<br />

fornecedores, em rede, mas se houver um elo<br />

mais fraco, somos tão frágeis quanto esse elo<br />

mais fraco”, e Catarina Amaral Cunha reforçou a<br />

ideia de que “o impacto de um incidente pode ser<br />

muito mais massificado do que anteriormente”,<br />

podendo originar problemas como por exemplo<br />

uma disrupção na produção, comprometimento<br />

da segurança, dano nos equipamentos ou afetar<br />

a reputação de uma organização.<br />

Juntos numa mesa redonda, Pedro Chainho,<br />

head of supply chain da Worten, Diogo Carneiro,<br />

associate partner da Deloitte, e Artur Santos,<br />

diretor de supply chain Portugal na Lactalis<br />

& Parmalat, debateram o tema “cadeias de<br />

abastecimento: desafios tecnológicos da primeira<br />

à última milha”, contando com a moderação da<br />

jornalista e media entrepreneur da MadreMedia,<br />

Rute Sousa Vasco. Vários foram os temas<br />

abordados, desde o novo tipo de consumidores,<br />

visibilidade em tempo real, ou a importância<br />

das parcerias, notando que a proposta de fazer<br />

entregas por todo o país implica encontrar este<br />

tipo de parceiros capazes de o fazer. “Passámos<br />

de uma época em que a supply chain era linear<br />

para uma fase em rede”, afirmou Pedro Chainho.<br />

Artur Santos destaca ainda a importância da<br />

informação, e que “quanto mais fiabilidade<br />

tivermos nas nossas previsões e em antever os<br />

nossos mercados, estamos mais protegidos e<br />

vamos ter capacidade para antever esses riscos”.<br />

Diogo Carneiro introduziu ainda o tema da<br />

gestão de pessoas, e da sua importância para o<br />

sucesso das operações.<br />

Quase a terminar o dia, e mantendo o tema<br />

da gestão de pessoas, Andrea Nunes, country<br />

general manager da Gesgrup, Anabela Pinto,<br />

director of supply chain & regulatory affairs da<br />

Bondalti, e Sílvia Franco, supply chain manager<br />

da Exide Technologies, debateram o tema “as<br />

pessoas no centro: o desafio de encontrar,<br />

desenvolver e reter talentos”, contando com<br />

a moderação de Isabel Canha, diretora da<br />

Executiva. Algo em que todas concordaram foi na<br />

dificuldade de encontrar e de reter talento, e que<br />

muito mudou desde a pandemia. Andrea Nunes<br />

afirma que “hoje as empresas têm de se adaptar<br />

à realidade, não as pessoas. Têm de se adaptar às<br />

expectativas das pessoas”. Nesse mesmo sentido,<br />

Anabela Pinto destaca que “falamos muito da<br />

voz do cliente, mas também temos de ouvir a<br />

voz do colaborador”, e Sílvia Franco destaca<br />

a importância de manter uma diversidade<br />

geracional e o envolvimento das pessoas para as<br />

manter motivadas e com um propósito.<br />

A terminar o dia, Ana Moirinho Barbosa,<br />

supply chain specialist, Miguel Silva, senior<br />

partner da Admicami, e Nuno Sousa Santos,<br />

CI EMEA logistics manager, McCormick &<br />

Company, ironizaram o tema da dependência das<br />

tecnologias para toda a gestão das cadeias de<br />

abastecimento. Empatia, Lógica e Autenticidade<br />

(E.L.A.) foram as palavras utilizadas para<br />

descrever a importância das pessoas, e a<br />

diferença que marcam nas operações.<br />

Este resumo foi um pouco do que se viveu<br />

durante os dias 29 e 30 de maio, mas longe<br />

de estar completo, só mesmo tendo estado<br />

presente para poder testemunhar o que foi este<br />

dia. Contudo, uma nova edição está para vir,<br />

mas agora a nível internacional. A 24 de outubro<br />

chegará a primeira edição da SCM Conference<br />

Ibéria, em Madrid. Únase a nosotros! •


22<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Dachser<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“NO FINAL, O QUE<br />

IMPORTA É CRIAR<br />

UMA SUPPLY<br />

CHAIN FIÁVEL E<br />

RESISTENTE”<br />

Estando entre os líderes europeus de<br />

logística, a Dachser não poderia deixar<br />

de marcar presença na Transport Logistic<br />

e os 700 metros quadrados do seu stand<br />

espelham a importância e dimensão global<br />

das suas operações. Conversámos com o<br />

CEO da companhia, Burkhard Eling, que<br />

fez um balanço geral sobre o ano de 2022<br />

na atividade global e ibérica da empresa,<br />

explicou como manter a resiliência em<br />

tempos tão desafiantes, sem esquecer o<br />

tema da descarbonização dos transportes.<br />

Qual o balanço que faz do ano de 2022 da<br />

atuação da Dachser?<br />

> Burkhard Eling – O ano de 2022 excedeu<br />

significativamente os nossos objetivos. Ficamos<br />

satisfeitos em reportar um aumento adicional<br />

das nossas receitas. Tivemos um ano muito<br />

bem-sucedido nos nossos setores de negócio.<br />

No início do ano, houve desafios que nos<br />

afetaram significativamente, mas ao longo do<br />

ano, conseguimos aguentar bem o ritmo. De<br />

um modo geral, a rede rodoviária está numa<br />

posição muito forte, uma vez que nos pautamos<br />

por entregar qualidade, e isso foi especialmente<br />

valorizado por parte dos nossos clientes<br />

durante os tempos exigentes da COVID-19. É<br />

por isso que o lema deste ano é: "garantimos<br />

o fluxo dos seus bens". No final, o que importa<br />

é criar uma supply chain fiável e resistente. O<br />

importante para nós é que, com base neste<br />

desenvolvimento positivo, possamos continuar<br />

a trabalhar consistentemente nos nossos<br />

objetivos estratégicos.<br />

E a nível ibérico?<br />

> Após 10 anos, estamos muito bem<br />

estabelecidos. Ligamos a Península Ibérica<br />

à nossa rede, portanto, para nós, trata-se de<br />

impulsionar realmente o negócio de exportação.<br />

Não estamos tão focados no negócio nacional,<br />

embora ainda represente 50%, mas ao longo<br />

do último ano, aumentámos significativamente<br />

as exportações. No final, é disso que os nossos<br />

clientes beneficiam. Quando as coisas ficam<br />

complicadas, eles têm mais vantagens com a<br />

nossa rede e isso é muito bom.<br />

Eu diria que a Península Ibérica passou por


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

uma fase de transição ao longo dos últimos<br />

anos. A Azkar tornou-se realmente membro<br />

da família Dachser e isso também é visível<br />

na organização. Temos laços muito estreitos<br />

com a restante rede europeia e também com<br />

a ASL. De uma perspetiva exterior, talvez esta<br />

pareça uma transição muito longa, mas para<br />

nós é realmente importante acompanhar as<br />

pessoas durante o processo, passo a passo. Se<br />

demorar um pouco mais de tempo, não importa.<br />

Temos uma equipa muito motivada em toda a<br />

Península Ibérica, o que é bom de se ver.<br />

Mencionou numa entrevista que "os<br />

clientes apreciaram especialmente a resiliência<br />

que a Dachser trouxe às suas cadeias de<br />

abastecimento". Como manter a resiliência<br />

perante os desafios que marcaram o setor de<br />

logística e transporte em 2022?<br />

> Para mim, esse é o fator-chave que nos<br />

diferencia dos concorrentes. Pensamos em três<br />

dimensões: em primeiro lugar, a capacidade<br />

física. Quando se pensa na infraestrutura<br />

europeia chegamos à conclusão de que foi<br />

desenvolvida ao longo de décadas. Nós<br />

podemos fornecer serviços de alta qualidade e<br />

resiliência aos clientes, e isso baseia-se no facto<br />

de que não somos apenas bons em termos de<br />

digital, como os recém-chegados ao mercado.<br />

Temos tudo o que é necessário quando se trata<br />

de filiais e armazéns.


24<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

Segunda dimensão: hoje em dia, tudo se<br />

resume à transação de informações e dados.<br />

Desde o início, a Dachser era reconhecida<br />

por ter uma uma grande competência" em<br />

Tecnologias de Informação. Somente na<br />

Alemanha, França e Espanha, temos 700<br />

pessoas a trabalhar em TI. Construímos os<br />

nossos próprios sistemas, portanto, temos uma<br />

grande capacidade e, quando olhamos para<br />

nossa agenda digital, vemos que ainda há muito<br />

por vir.<br />

Por último, mas não menos importante, a<br />

nossa terceira dimensão: trata-se das pessoas, e<br />

eu diria que esse é o nosso maior ativo. Temos<br />

uma força de trabalho muito bem educada, leal<br />

e experiente, o que nos permite oferecer um<br />

excelente atendimento ao cliente. Portanto,<br />

esta é a chave por trás da resiliência e da<br />

confiabilidade.<br />

Todos nós falamos sobre a cadeia de<br />

abastecimento global e damos muito ênfase em<br />

sermos capazes de usar os dados dos clientes,<br />

sobrepor esses dados com a nossa capacidade<br />

para encontrar a melhor maneira de configurar<br />

as suas cadeias de abastecimento. Eu diria<br />

que, no último ano, mais de 40 desses projetos<br />

realmente otimizaram a configuração da cadeia<br />

de abastecimento dos clientes.<br />

Quais os desafios que se perfilam e como<br />

esperam ultrapassá-los?<br />

> Estamos a assistir a muita agitação global.<br />

A maneira como pensamos sobre a globalização<br />

e como dividir a produtividade ao redor do<br />

mundo, mudou um pouco. Não considero que a<br />

globalização esteja para terminar porque haverá<br />

sempre empresas que produzem de forma<br />

diferente ou mais barata, mas a forma como os<br />

clientes veem a sua configuração é diferente.<br />

No passado, era barato e rápido, mas hoje é<br />

possível ter uma cadeia de abastecimento muito<br />

mais resiliente. Isso é algo que, definitivamente,<br />

podemos oferecer.<br />

O próximo passo será uma maior digitalização.<br />

Isso, certamente, é um desafio quando se olha<br />

para a indústria logística como um todo. Não<br />

estamos tão avançados quando se trata de<br />

digitalização. Ainda há muita papelada, muitas<br />

informações que precisam de ser fornecidas. Há<br />

um grande avanço quando se trata da troca de<br />

informações com o cliente, da otimização dos<br />

nossos processos, e da troca de informações<br />

com os nossos parceiros de transporte, pois<br />

eles muitas vezes são esquecidos. Isso terá um<br />

impacto significativo se tivermos os parceiros de<br />

transporte certos no futuro.<br />

E não nos podemos esquecer das mudanças<br />

climáticas. É um tópico importante e levamolo<br />

muito a sério. Estamos a aprender e a obter<br />

mais experiência no que diz respeito, por<br />

exemplo, a camiões elétricos puros, bem como<br />

movidos a hidrogénio. Eu diria que estas são as<br />

duas soluções técnicas que podemos apontar<br />

como o futuro dos camiões.<br />

Portanto, há aqui um esforço no sentido de<br />

descarbonizar o setor dos transportes.<br />

> Sim. Aqui [Alemanha], fomos um dos<br />

poucos que participaram numa ronda de<br />

substituição, na qual fomos subsidiados pelo<br />

governo federal para os custos adicionais<br />

dos próprios camiões, e também para a<br />

infraestrutura. Esse, na minha opinião, é o<br />

maior desafio: uma coisa é obter os camiões,<br />

mas outra coisa é fornecer a infraestrutura<br />

necessária. É por isso que temos estado numa<br />

fase de testes para configurar a infraestrutura<br />

de carregamento elétrico para uma filial inteira,<br />

para a frota de carros, camiões, e para a nossa<br />

própria produção. É realmente complicado. Não<br />

é algo que possa ser feito rapidamente. Existem<br />

muitas perguntas que precisam de resposta.<br />

Costumamos dizer que primeiro obtemos o<br />

máximo de camiões possível para treinar as


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

nossas filiais e aumentar nossa frota, enquanto<br />

estabelecemos metas claras sobre como<br />

aumentar a eficiência dos camiões a diesel. Para<br />

ser honesto, diria que levará duas décadas até<br />

que toda a nossa frota esteja descarbonizada. É<br />

um longo caminho.<br />

Qual é a posição da Dachser em relação a<br />

camiões autónomos?<br />

> Ter camiões autónomos de longa distância<br />

que vão de Madrid para, por exemplo, Sevilha,<br />

talvez seja possível daqui a, talvez, três ou<br />

quatro anos, mas como é que se entrega uma<br />

encomenda numa cidade como Madrid com um<br />

camião de condução autónoma? Honestamente,<br />

este cenário parece-me muito distante. Como<br />

lidar com a escassez de motoristas será um<br />

tópico. No final, precisamos é de tornar este<br />

trabalho muito mais atrativo. Quando se trata<br />

de como apoiar o motorista por parte da própria<br />

empresa, pode ser através de ferramentas<br />

de apoio, digitalização, melhor comunicação<br />

com as operações do dia-a-dia, mas também<br />

em termos de remuneração. Se não tivermos<br />

um ambiente atrativo, não conseguiremos as<br />

pessoas. Assim, precisamos de trabalhar em<br />

diferentes áreas para sermos atrativos. Somos<br />

vistos como o fornecedor de qualidade, aquele<br />

que pode levar a digitalização para o próximo<br />

nível, somos vistos como aqueles que levam a<br />

proteção do clima a sério. Temos muitos pontos<br />

atrativos para trabalhar em logística que se<br />

encontram na agenda dos jovens. Temos de<br />

convencer a nova geração por que faz mais<br />

sentido trabalhar para nós. Explicamos os<br />

desafios e como lidamos com isso, e acho que<br />

esta é definitivamente uma parte importante<br />

para atrair pessoas para a Dachser.<br />

A logística talvez não fosse a profissão mais<br />

apelativa, mas desde a pandemia, toda a gente<br />

sentiu a sua importância, e isso ajudou-nos a<br />

ter um nível de atenção diferente. Para mim,<br />

esta é realmente uma forma de avançar: educar<br />

os nossos próprios colaboradores, mantê-los<br />

enquanto os formamos, e oferecer um ambiente<br />

de trabalho favorável.<br />

Numa perspetiva global e estratégica, como<br />

vê este movimento de empresas marítimas<br />

(como a Maersk, CMA CGM ou MSC) a adquirir<br />

fornecedores de serviços de logística?<br />

> Eu diria que é um reflexo natural. Têm<br />

os meios financeiros para o fazer, graças aos<br />

bons anos. Claro que querem expandir a sua<br />

oferta e sair do negócio puro de transporte e,<br />

obviamente, estão a procurar oferecer um serviço<br />

de ponta a ponta. Nesse sentido, levamo-las<br />

a sério. Pensamos, honestamente, que com<br />

a estrutura que temos hoje, sendo fortes na<br />

Europa e a crescer a nível global, temos um bom<br />

ponto de partida, sabendo que a integração e<br />

o estabelecimento de uma rede exigem muito<br />

trabalho e muito compromisso. Ok, até podem<br />

adquirir muitas empresas, mas para realmente<br />

ter um serviço completo de ponta a ponta que<br />

vá além da oferta pura de transporte e que<br />

esteja em pleno funcionamento, vai demorar um<br />

pouco. Estamos concentrados em nós e na nossa<br />

agenda para conseguirmos fazer isso em vez de<br />

olharmos para o lado.<br />

Enquanto CEO, quais são as suas três<br />

principais prioridades para o futuro?<br />

> Pessoas, digitalização e proteção<br />

ambiental. Nesta ordem. Definitivamente,<br />

começando pelas pessoas. Acredito que<br />

podemos fazer muito pelo clima se levarmos<br />

a digitalização a sério, porque a eficiência<br />

aumentará. A digitalização é um componente<br />

que nos permitirá sermos mais amigos do<br />

ambiente no futuro. Diria que, daqui a três anos,<br />

os clientes considerarão a Dachser como líder<br />

em qualidade, em inovação e aquela que leva<br />

a sustentabilidade e a proteção do ambiente a<br />

sério. Essa seria a minha vontade. •


26<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“GARANTIR O<br />

ENVOLVIMENTO DOS<br />

FORNECEDORES É A<br />

CHAVE DO SUCESSO”<br />

A EDP foi uma das três empresas<br />

portuguesas distinguidas na 13ª<br />

edição dos EIPM-Peter Kraljic Awards,<br />

que após dois anos de celebrações<br />

virtuais, voltou ao formato presencial,<br />

tendo ocorrido em Paris, no dia 15<br />

de dezembro de 2022. A divisão de<br />

procurement da EDP conquistou<br />

o prémio de Sustainability and<br />

Supplier Collaboration, devido às suas<br />

políticas de colaboração com os seus<br />

parceiros, e às suas preocupações de<br />

sustentabilidade.<br />

EDP<br />

"Tem sido uma jornada”, recorda Carlos Mota<br />

Pinto, director of Global Procurement Unit<br />

da EDP Global Solutions, “uma jornada<br />

que nós temos feito ao longo dos anos e<br />

que, obviamente, depois o resultado do<br />

trabalho que nós estamos a fazer acaba por<br />

ser reconhecido”. Este foi o quarto prémio<br />

EIPM que a empresa já venceu, três deles<br />

consecutivamente nas últimas edições.<br />

O primeiro prémio conquistado foi em<br />

2015, na categoria de System And Process<br />

Excellence, assinalando o compromisso com<br />

a excelência na gestão da sua cadeia de<br />

fornecimento, reconhecendo a liderança e<br />

desempenho da EDP no desenvolvimento<br />

de práticas inovadoras e de respeito pelo<br />

ambiente e sociedade.<br />

Durante a pandemia, em 2020, o prémio<br />

de excelência na categoria “Líder de<br />

Transformação em tempos turbulentos”,<br />

reconhecendo organizações de compras<br />

que demonstraram práticas e obtiveram<br />

resultados de excelência para sua organização,<br />

stakeholders e sociedade na forma como<br />

geriram as atividades durante este período<br />

turbulento.


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

O terceiro prémio chegou em 2021, em<br />

Sustainability Award for Excellence, pela<br />

capacidade da EDP em responder e superar<br />

as necessidades e expectativas dos seus<br />

parceiros e clientes, garantindo a continuidade<br />

das operações e respondendo aos desafios na<br />

produção, abastecimento de materiais e proteção<br />

de colaboradores nas instalações;<br />

E por fim, o mais recente, em 2022, na<br />

categoria de Sustentabilidade e Colaboração<br />

com Fornecedores, que reconhece a EDP<br />

pela sua capacidade de acompanhamento<br />

e resposta às crescentes exigências do<br />

mercado face aos temas ESG, bem como no<br />

desenvolvimento de relações de proximidade<br />

e de parceria com os fornecedores, permitindo<br />

o estabelecimento de uma cadeia de valor<br />

mais resiliente, sustentável e alinhada com os<br />

objetivos estratégicos do Grupo EDP.<br />

O responsável conta-nos que os temas de<br />

sustentabilidade, e mais concretamente de<br />

ESG, têm estado muito centrados no foco<br />

daquilo que é a estratégia da EDP. “Nós tivemos<br />

agora a apresentação, no início de março,<br />

daquilo que será o nosso plano estratégico de<br />

negócios para os próximos três anos, 23/26, e<br />

onde a EDP vai investir cerca de 25 mil milhões<br />

de euros”, revela. Esse investimento passa pelo<br />

setor das energias renováveis, mas também na<br />

parte da distribuição e outras áreas de negócio<br />

do Grupo EDP.<br />

Embora o foco nunca sejam os prémios, realça<br />

que “é um reconhecimento de um trabalho que<br />

não é de ontem, já é um trabalho que tem alguns<br />

anos”, e que os responsáveis do EIPM “têm sido<br />

testemunhas deste percurso que nós temos feito,<br />

e têm também reconhecido que têm havido aqui<br />

umas melhorias bastante significativas. Isso<br />

também acaba por motivar a própria equipa, e a<br />

desafiar-nos para que no próximo ano possamos<br />

também ser reconhecidos”.<br />

METAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS<br />

Para cumprirem com os objetivos, a EDP<br />

está a desenvolver a informação de que<br />

necessita, de modo a garantir que estão a<br />

atingir essas metas. “Por um lado, temos até<br />

2026 um objetivo muito claro e que está muito<br />

ligado à nossa área, e à sustentabilidade na<br />

cadeia de abastecimento, onde pretendemos<br />

que 90% das nossas compras sejam compras<br />

sustentáveis”, avança o director of Global


28<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

Procurement, o que significa que todas as<br />

compras aos seus fornecedores têm de estar<br />

alinhadas com os seus objetivos e com a<br />

estratégia de sustentabilidade da empresa.<br />

“Por outro lado, queremos ter 100% dos<br />

nossos fornecedores em compliance com a<br />

estratégia da EDP, portanto, são objetivos<br />

complementares”.<br />

Apesar de ser um objetivo estabelecido<br />

para 2026, explica que é um trabalho longo<br />

e que tem de ser feito aos poucos, mas que<br />

é mensurável e quantificável, e mostra-se<br />

confiante de que o irão conseguir atingir.<br />

Outro objetivo da EDP é, até 2030, serem<br />

all green, e a aposta nas energias renováveis<br />

vem acelerar esse processo, e a prazo ainda<br />

mais alargado, um macro-objetivo de até 2040<br />

serem uma companhia net zero, em termos de<br />

dimensões de CO2.<br />

PROXIMIDADE<br />

AOS FORNECEDORES<br />

Para atingirem estas metas, colaboram<br />

de perto com os seus fornecedores, numa<br />

ótica colaborativa de win-win. Carlos Mota<br />

Pinto destaca ser importante apoiar os seus<br />

fornecedores e ajudá-los a crescer, pois ambas<br />

as partes só têm a ganhar com o crescimento<br />

mútuo. “Nós temos várias iniciativas que<br />

promovemos para garantir que estamos<br />

próximos dos nossos fornecedores, que<br />

olhamos para os nossos fornecedores como<br />

nossos parceiros”, aponta.<br />

Algumas iniciativas que têm envolvem o<br />

assessment de ESG para com os fornecedores,<br />

estando a gestão centralizada pela EDP, mas<br />

que é feita em Portugal, Brasil e Espanha.<br />

“Tem dado bons resultados, porque ajuda o<br />

desenvolvimento dos próprios fornecedores”,<br />

explica o responsável. Primeiramente é<br />

feita uma avaliação, que depois é partilhada<br />

com o fornecedor, e são explicadas quais as<br />

oportunidades de melhoria que o assessment<br />

identificou, seguindo-se a criação de um plano<br />

de desenvolvimento, contando o fornecedor<br />

com o apoio da EDP para desenvolver<br />

e melhorar a sua avaliação no próximo<br />

assessment.<br />

Tiago Miguel Dias, gestor de Sustentabilidade<br />

na Cadeia de Fornecimento da empresa, nota que<br />

“descolámos da palavra auditoria, porque não<br />

queremos ir de um ponto de vista de compliance,<br />

mas de um ponto de vista de desenvolvimento.<br />

E isso é o que gera proximidade e transparência.<br />

Nós agendamos estes momentos”.<br />

Ao nível dos projetos, comenta que<br />

desenvolveram um programa denominado<br />

EDPartners, que conta com um conjunto de<br />

etapas e jornadas no qual o fornecedor vai ter<br />

o contacto com a EDP. A sua criação veio no<br />

sentido da responsabilidade que têm para com<br />

os seus fornecedores e de os ajudar a encontrar<br />

pontos de melhoria, visto que uma parte<br />

significativa desse universo é abrangido pelas<br />

PME, criando também uma maior proximidade<br />

entre as partes.<br />

Carlos Mota Pinto explica que “todo este<br />

processo é transparente. Quando o fornecedor<br />

se regista connosco, a nossa plataforma tem


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

de submeter um conjunto de informações e<br />

que vai permitir, desde logo, aferir qual é o<br />

posicionamento que ele vai ter e qual é o seu<br />

desempenho versus aquilo que nós estamos<br />

à procura, ou seja, a capacidade que ele tem<br />

de responder ou não aos requisitos que nós<br />

desenvolvemos”.<br />

Através da marca EDPartners, que utilizam<br />

para diversas atividades que envolvam os<br />

fornecedores, contam com diversas formas<br />

de atuação, entre elas as EDPartners Talks,<br />

momentos em que reúnem fornecedores para<br />

debate e exposição de dificuldades, de forma<br />

mais aberta e transparente. Assim, conseguem<br />

compreender quais são as dificuldades dos<br />

fornecedores, como os podem ajudar e o que<br />

podem fazer pelo desenvolvimento do seu<br />

desempenho e para melhorarem a eficácia<br />

das suas operações, com melhores tempos de<br />

entrega de equipamentos, de modo que se<br />

desenvolvam e consigam ter uma presença maior<br />

na empresa. Antes da pandemia estes momentos<br />

eram feitos presencialmente, modelo a que ainda<br />

tencionam retornar.<br />

De forma a distinguirem os seus melhores<br />

fornecedores, contam ainda com os prémios<br />

EDPartners, com o intuito de promover a<br />

adoção de boas práticas em áreas-chave para<br />

a competitividade dos seus fornecedores e do<br />

Grupo EDP.<br />

Também exemplo inserido neste modelo<br />

foi o recente EDPartners TIC, que ocorreu em<br />

março, e onde reuniram os seus fornecedores<br />

de tecnologias da informação e comunicação,<br />

em modelo híbrido. De igual modo, também<br />

têm este modelo para, por exemplo, os temas<br />

de ESG, com o Workshop ESG Assessment. Para<br />

este evento convidaram os seus fornecedores<br />

de IT, e foi direcionado a Portugal e Espanha,<br />

e apresentaram o que foi feito desde a edição<br />

anterior, face ao planeado e apresentado, bem<br />

como o que ainda iria ser feito ao longo do<br />

ano. Depois, dá-se o momento da partilha da<br />

estratégia da EDP para o setor de IT e para<br />

os principais temas de IT, de forma aberta<br />

com todos os fornecedores, seja com os<br />

contratualizados, com os que já o foram, ou com<br />

os que ainda possam vir a ser.<br />

“Isto também é muito valorizado pelos<br />

fornecedores que é o facto de a EDP partilhar<br />

aquilo que é o seu procurement plan para o<br />

próximo ano, ou para os próximos anos, e eles<br />

assim também se poderem preparar, e poderem<br />

trabalhar no sentido de, quando chegar a altura<br />

dos processos, também serem envolvidos”,<br />

destaca Carlos Mota Pinto. “O Grupo EDP<br />

consegue entregar aquilo que entrega, também<br />

pelo facto de termos estes prestadores de<br />

serviços externos a trabalhar connosco, e que<br />

são nossos parceiros, e é assim que nós olhamos<br />

para eles”.<br />

TER UM PARCEIRO É UMA<br />

RESPONSABILIDADE DUPLA<br />

Uma dificuldade que sentiram recentemente<br />

foi devido à guerra na Ucrânia. “Tínhamos<br />

acabado de sair de uma pandemia”,<br />

recorda, “tivemos, e temos tido, vários<br />

constrangimentos, dificuldades que os<br />

nossos fornecedores também sentem, para<br />

fornecer e para entregar aquilo que foram<br />

os compromissos assumidos, porque há a<br />

escassez de material, e as matérias-primas<br />

estão a subir, ou tiveram subidas, como já não<br />

subiam há muito tempo”.<br />

Os novos desafios e a inflação fizeram com<br />

que a EDP começasse a olhar para alguns temas<br />

de uma forma diferente. Houve a necessidade<br />

de renegociar contratos, reajustar alguns<br />

preços face aos novos custos, e assim também<br />

tentarem ajudar os seus fornecedores nas<br />

entregas e nos compromissos que tinham


30<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

para com eles. “Acho que temos feito isso<br />

de uma forma também bastante positiva,<br />

de uma forma em que envolvemos também<br />

os fornecedores para podermos fazer estas<br />

alterações contratuais”, defende Carlos Mota<br />

Pinto.<br />

Nestas situações, considera importante<br />

ver os dois lados da moeda e, portanto,<br />

compreender que tal como eles, também<br />

os fornecedores possam estar a passar por<br />

situações semelhantes, e que estão disponíveis<br />

a tentar perceber no que podem ajudá-los e<br />

chegar a um acordo justo para ambos, e de<br />

forma que estes consigam entregar aquilo de<br />

que necessitam, tanto em tempo como em<br />

preço. “Somos razoáveis, somos compreensivos<br />

da situação que existe atualmente, mas<br />

também há compromissos que foram<br />

assumidos e, portanto, tem de se encontrar<br />

aqui um ponto de equilíbrio”.<br />

CONHECER BEM O ECOSSISTEMA<br />

Numa área estratégica como o<br />

procurement, é importante haver tanto<br />

pesquisa quanto troca de informação, e Carlos<br />

Mota Pinto destaca que por vezes até mesmo<br />

setores diferentes podem sofrer problemas<br />

semelhantes, e conseguirem soluções<br />

aplicáveis a ambas as situações. “Temos<br />

feito muito benchmark com outras utilities,<br />

para perceber o que é que estão a fazer<br />

pela Europa. Mas também temos partilhado<br />

muita informação com outros responsáveis<br />

de compras, responsáveis de Procurement,<br />

diretores de compras de outras empresas a<br />

nível nacional”.<br />

A nível do controlo interno, o diretor da<br />

unidade de global procurement considera<br />

crucial ter a cadeia de abastecimentos<br />

bem mapeada, e este é um tema que estão<br />

a desenvolver mais a fundo, procurando<br />

abranger os seus conhecimentos da sua<br />

supply chain a fornecedores de tiers abaixo,<br />

de forma a terem um maior controlo da cadeia<br />

e poderem antecipar quebras, ou “no limite,<br />

estar mais bem preparados para eventos<br />

disruptivos, como foi infelizmente o conflito na<br />

Ucrânia”, minimizando também assim o risco.<br />

“É importante nós termos um conhecimento<br />

mais alargado daquilo que é a nossa cadeia<br />

de abastecimento para podermos atuar e<br />

responder mais cedo a eventos deste tipo ou<br />

de outra dimensão, ou no contexto geopolítico,<br />

estarmos atentos a situações que de alguma<br />

maneira possam provocar, ou ameaçar, a nossa<br />

cadeia de abastecimento”.<br />

Para já, conhecem muito bem os seus<br />

fornecedores de tier 1, e no caso de<br />

alguns materiais e produtos, também<br />

alguns de tier 2, “mas daí para baixo, em<br />

termos de visibilidade já começa a ser<br />

muito complicado”. Para contornar esta<br />

situação, tomam algumas medidas, como<br />

por exemplo através do processo de registo<br />

de fornecedores, onde a EDP pede desde<br />

logo informação sobre as supply chains dos<br />

candidatos, ou através dos RFP (pedido de<br />

proposta) que estão a lançar no mercado, que<br />

já incluem estas perguntas obrigatórias.<br />

Através desta partilha de informação, a<br />

EDP consegue um maior controlo sobre a sua<br />

cadeia de abastecimentos, e também procura<br />

consciencializar os seus parceiros para<br />

fazerem estes processos internamente, pois<br />

só assim conseguem estar todos alinhados e<br />

garantir este conhecimento. Outra área em<br />

que contam muito com os parceiros é para a<br />

inovação, desafiando os parceiros a trazerem<br />

ideias novas para a cadeia de abastecimentos,<br />

pois “nesta relação também temos muito<br />

a aprender com eles”, conclui Carlos Mota<br />

Pinto. •


O seu novo parque<br />

já em comercialização<br />

Junto ao nó da A2, A33 e A12<br />

31.000 m2 Área locável<br />

A nova localização para as suas atividades logísticas<br />

ou industriais, com soluções de elevada qualidade<br />

costumizáveis às suas necessidades.<br />

VGP Portugal<br />

Praça do Bom Sucesso 123 / Ed. Península Business Center<br />

5º Piso, Sala 504 / 4050-145 Porto / Portugal<br />

+351 935 682 168 / miguel.figueiredo@vgpparks.eu<br />

www.vgpparks.eu


32<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Estudo Ivalua<br />

e Forrester<br />

Texto: Ana Paiva<br />

SOBREVIVER<br />

À TURBULÊNCIA<br />

Vivemos tempos incertos. A única certeza<br />

é de que não há certezas de nada. O mundo<br />

é um lugar volátil, e o setor das compras é<br />

também afetado pelas instabilidades que<br />

se vivem: inflação, riscos geopolíticos e<br />

interrupções da cadeia de fornecimento.<br />

É, por isso, importante que a função de<br />

compras se adapte a cenários adversos.<br />

Para perceber como, a Ivalua e a Forrester<br />

Consulting desenvolveram o um estudo que<br />

inquiriu 470 líderes de compras,<br />

em organizações com, pelo menos,<br />

1.000 funcionários, de diferentes áreas.


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

No mundo complexo e dinâmico de hoje,<br />

as empresas enfrentam desafios que vão<br />

além dos convencionais riscos económicos,<br />

monetários e financeiros. Têm de lidar<br />

com ameaças de grande escala que podem<br />

impactar significativamente o seu desempenho<br />

e sobrevivência.<br />

De forma a explorar como a função de<br />

compras se pode tornar mais ágil e ajudar<br />

as empresas a adaptarem-se a cenários de<br />

mudança, a Ivalua e a Forrester desenvolveram<br />

o “Procurement: A Arma Secreta de um CEO<br />

para Crescimento e Resiliência em Tempos<br />

Turbulentos” (Procurement: A CEO’S Secret<br />

Weapon for Growth and Resilience in Turbulent<br />

Times).<br />

O relatório procura mostrar como os líderes<br />

de compras podem lidar com as flutuações<br />

económicas que podem afetar as suas operações,<br />

enquanto constroem uma função digital-first que<br />

aproveita a tecnologia e a inovação para apoiar<br />

as aspirações de crescimento mais amplas do<br />

negócio. Os líderes empresariais reconhecem,<br />

cada vez mais, a importância das compras para<br />

impulsionar o crescimento do resultado final<br />

e da receita. Por meio da aplicação efetiva de<br />

novas estratégias de gestão de fornecedores, a<br />

função de compras repensada está no centro dos<br />

negócios, tornando-se uma função crítica para as<br />

partes interessadas.<br />

Algumas das conclusões apontam que a<br />

melhoria das iniciativas de compras ajuda a<br />

alcançar os objetivos empresariais, permite<br />

com que os líderes de compras descubram<br />

oportunidades ocultas e reduzam custos,<br />

aumenta a resiliência operacional e reduz o<br />

risco geral do negócio devido à comunicação<br />

transparente.<br />

O PAPEL DAS COMPRAS<br />

NAS ORGANIZAÇÕES<br />

As supply chain globais têm enfrentado<br />

interrupções sem precedentes nos últimos anos,<br />

mas a função de compras tornou-se numa luz<br />

ao fundo do túnel para as empresas. As equipas<br />

de compras provaram sua importância durante<br />

a pandemia de COVID-19, bem como durante<br />

a ainda atual guerra entre Rússia e Ucrânia, e<br />

outros choques globais recentes, respondendo<br />

com sucesso para garantir que as empresas<br />

permanecessem resilientes e preparadas para<br />

futuras interrupções.<br />

Os objetivos comerciais estão a voltar-se para<br />

a linha da frente – tanto para a empresa como<br />

para as compras. Três dos quatro principais<br />

objetivos comerciais desta pesquisa têm como<br />

foco o crescimento da receita. Os entrevistados<br />

revelaram que se concentrarão em aumentar a<br />

receita (75%), inovar os seus produtos e serviços<br />

(73%) e identificar novas oportunidades de<br />

receita (72%). Ao desenvolver relacionamentos<br />

sólidos, as compras podem trabalhar com<br />

a empresa para constantemente avaliar os<br />

resultados juntamente com o crescimento.<br />

Dado os desafios dos últimos anos, as<br />

interrupções tornaram-se a norma. Dinâmicas<br />

geopolíticas, ambientes regulatórios cada<br />

vez mais ativos e as mudanças climáticas<br />

sugerem uma turbulência contínua. Desta<br />

forma, os líderes empresariais estão cada vez<br />

mais dependentes da função de compras para<br />

estabilizar e, em alguns casos, até mesmo liderar<br />

suas organizações em momentos de dificuldade.<br />

Assim, percebeu-se a evolução do papel


34<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

das compras na consecução dos objetivos<br />

comerciais. 79% dos entrevistados afirmaram<br />

que as compras estão a ser solicitadas a apoiar<br />

mais objetivos comerciais do que há três anos.<br />

À medida que novas demandas e mudanças<br />

trazem alterações nas capacidades de compras,<br />

também estão a contribuir ativamente para o<br />

crescimento da receita.<br />

Todo este panorama de incerteza levou a que<br />

as empresas repensassem as suas estratégias<br />

de fornecedores. Em primeiro lugar, a gestão<br />

de fornecedores tornou-se mais digitalizada<br />

e colaborativa, utilizando plataformas para<br />

avaliar, monitorizar e partilhar informações com<br />

os fornecedores. No entanto, as estratégias<br />

específicas variam significativamente. Enquanto<br />

algumas organizações estão a ampliar a sua<br />

base de fornecedores para garantir fontes<br />

alternativas, outras estão a racionalizar a<br />

sua base de fornecedores para melhorar a<br />

monitorização. Da mesma forma, aqueles que<br />

aumentam a terceirização de fornecedores<br />

são quase idênticos aos que trazem os seus<br />

fornecedores para mais perto. Os líderes<br />

devem avaliar holisticamente a sua situação<br />

e prioridades, e alinhar a sua estratégia de<br />

fornecedores no nível da categoria.<br />

A implementação de sistemas para<br />

melhorar a gestão do desempenho e risco<br />

dos fornecedores é uma das possíveis formas.<br />

Líderes de compras bem-sucedidos analisam e<br />

avaliam o desempenho dos fornecedores para<br />

melhorar a gestão do desempenho e risco dos<br />

fornecedores, monitorizando e aprimorando o<br />

seu desempenho continuamente, enquanto se<br />

adaptam às condições dinâmicas do mercado.<br />

A transparência deve estender-se aos subníveis<br />

para garantir uma compreensão precisa dos<br />

riscos. Isso pode ajudar as organizações<br />

a reduzir custos, mitigar riscos, construir<br />

resiliência e obter uma vantagem competitiva.<br />

À medida que a função de compras se<br />

torna cada vez mais incorporada na empresa,<br />

é fundamental que tenha uma estratégia<br />

clara e de longo prazo para se preparar para<br />

o sucesso futuro. Se os líderes utilizarem<br />

a sua capacidade de compras de forma<br />

sábia, poderão fazer muito mais do que<br />

simplesmente conter custos.<br />

Um dos obstáculos apontados pelos<br />

inquiridos quando se trata da agilidade da<br />

função compras é a falta de um mandato<br />

executivo para ser eficaz. 41% dos<br />

entrevistados identificaram a falta de apoio<br />

executivo como um obstáculo significativo<br />

para uma função de compras mais ágil. Sem<br />

um apoio claro, as compras têm dificuldade em<br />

se envolverem e alinharem efetivamente com<br />

outras partes da empresa e obter os recursos<br />

necessários para fornecer uma vantagem<br />

competitiva para a empresa.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os líderes de compras procuram<br />

apoiar o crescimento das receitas facilitando<br />

a inovação de produtos ou encontrando<br />

novas fontes de receita. Isto exige uma<br />

abordagem mais cooperativa e flexível. Os<br />

líderes de compras devem trabalhar em<br />

estreita colaboração com os fornecedores para<br />

identificar oportunidades e desenvolver novos<br />

produtos e serviços.<br />

Para garantir a continuidade do<br />

fornecimento, 76% dos entrevistados fizeram<br />

cedências na diligência devida a fornecedores,<br />

e 73% fizeram cedências noutros objetivos.


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

A área de compras está mais<br />

colaborativa, ajudando as organizações a<br />

lidarem com a incerteza. 68% colaboram mais<br />

com os fornecedores atualmente do que há<br />

três anos, e 50% aumentaram a colaboração/<br />

partilha de informações com os fornecedores.<br />

A área de compras está focada<br />

em tecnologia para enfrentar iniciativas<br />

comerciais cruciais atualmente. Para gerir os<br />

riscos da cadeia de fornecimento, os líderes de<br />

compras estão a investir numa combinação de<br />

soluções especializadas de gestão de riscos e<br />

desempenho de fornecedores (SRPM) ou uma<br />

suíte de gestão de valor de fornecedores (SVM)<br />

com capacidades integradas de SRPM.<br />

PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES<br />

O estudo identificou várias recomendações<br />

importantes para os diretores de compras<br />

(CPO) e equipas de compras liderarem as suas<br />

organizações durante cenários incertos.<br />

Redefinir a função de compras para<br />

que esteja adequada ao propósito<br />

As empresas devem colocar a sua função de<br />

compras no centro dos seus relacionamentos<br />

com os fornecedores, e deve receber os recursos<br />

necessários para se preparar para o futuro, que<br />

combine as virtudes da criatividade humana<br />

com a tecnologia digital. As empresas devem<br />

investir em tecnologia moderna e capacitar uma<br />

nova geração de compradores estratégicos. E<br />

para que tudo isso aconteça, deve haver um<br />

compromisso para elevar o papel das compras.<br />

Ter uma visão holística da<br />

tecnologia<br />

A escolha de tecnologia tem efeitos<br />

duradouros que tanto pode permitir quanto<br />

prejudicar o desempenho futuro. Os líderes<br />

devem entender de que forma a tecnologia irá<br />

abordar as necessidades imediatas, bem como<br />

como suportar os requisitos futuros de dados<br />

e processos desconhecidos. Certifique-se de<br />

que os investimentos melhoram a qualidade<br />

e o acesso aos dados, em vez de criar mais<br />

compartimentos estanques.<br />

Aliar-se aos fornecedores da sua<br />

empresa para traçar o caminho<br />

da sustentabilidade e cumprir os<br />

imperativos ESG (Environmental,<br />

Social and Corporate Governance)<br />

As empresas estão a perceber que se<br />

desejam ser reconhecidas como líderes que<br />

atendem às suas obrigações ESG, precisam do<br />

apoio ativo de seus fornecedores. A função<br />

de compras é responsável, em tais empresas<br />

líderes, por ajustar as suas estratégias de<br />

fornecimento para negócios sustentáveis,<br />

e trabalhar com fornecedores para cumprir<br />

os padrões ESG. Participe na corrida para<br />

emissões líquidas zero de carbono e verifique<br />

as emissões upstream que os fornecedores<br />

produzem.<br />

Aumente a resiliência da cadeia de<br />

fornecimento da sua organização<br />

adotando um pensamento<br />

de "prevenir é melhor do que<br />

remediar"<br />

Estabilize as cadeias de fornecimento da<br />

sua empresa ao primeiro indício de uma<br />

crise. Aborde os principais fornecedores e<br />

trabalhe proativamente em cenários negros.<br />

Implemente medidas para ambas as partes<br />

enfrentarem a tempestade, incluindo medidas<br />

para proteção contra riscos financeiros. Em<br />

segundo lugar, trace meios para estabilizar a<br />

cadeia de fornecimento. Por fim, desenvolva<br />

estratégias de longo prazo com os seus<br />

fornecedores para tornar a sua empresa mais<br />

resiliente e preparada para o futuro. •


36<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Rotom Portugal<br />

Texto: Dora Assis A Rotom perspetivava <strong>2023</strong> com bastante<br />

otimismo, especialmente depois das aquisições<br />

feitas pelo grupo, que vos permitiriam diversificar<br />

“ESTAMOS A<br />

PASSAR DO<br />

PARADIGMA DE<br />

SENTIDO LINEAR<br />

PARA O CIRCULAR”<br />

As paletes e sua família de soluções<br />

para movimentação de matérias-<br />

-primas e bens são tão usuais que se<br />

tornaram praticamente invisíveis,<br />

mas são o ponto de contacto entre<br />

o que se quer movimentar e expedir<br />

e os vários modos de transporte. É<br />

sobre este mercado, os atuais desafios<br />

e a evolução expectável em termos<br />

de soluções que conversámos com<br />

Miguel Correia, managing director da<br />

Rotom Portugal. A empresa celebra em<br />

setembro 15 anos de atividade, e em<br />

2022 faturou 7,1 milhões de euros.<br />

serviços, alargar o campo de atuação… quase no<br />

fim do primeiro semestre, que balanço é possível<br />

fazer? <strong>2023</strong> está a ser um ano bom?<br />

> Miguel Correia – O primeiro semestre<br />

de <strong>2023</strong> está a ser positivo e vai terminar em<br />

linha com o período homólogo de 2022, o que<br />

atendendo à descida dos preços em alguns<br />

produtos considero um excelente resultado.<br />

Temos conseguido aumentar a quantidade de<br />

unidades vendidas para compensar a descida<br />

de valores que já era expectável com a queda<br />

da inflação. Relativamente aos alugueres e<br />

serviços temos uma subida face ao ano passado<br />

o que nos ajuda nas margens. No que diz<br />

respeito à atividade propriamente dita temos<br />

um acréscimo dos pedidos nomeadamente nos<br />

setores alimentar, bebidas, farmacêutico, turismo,<br />

mas uma quebra em outros setores da indústria<br />

nomeadamente de bens não essenciais, explicada<br />

pela quebra do consumo das famílias também<br />

nestes artigos.<br />

A vossa atividade ressentiu-se com a inflação<br />

e com estes “solavancos” que se têm feito sentir<br />

nas cadeias de abastecimento? De que forma e<br />

em que áreas?<br />

> Sim, naturalmente. A inflação que as<br />

matérias-primas como madeira, plástico e metal<br />

sofreram no ano passado estão neste momento<br />

num sentido inverso, sendo que os preços


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Miguel Correia, managing director da Rotom Portugal<br />

tendem nos últimos dois meses a estabilizar<br />

na Europa. Temos trabalhado no sentido de<br />

incrementar a quantidade, e o mercado atual<br />

tem permitido subir volumes, isto porque<br />

Espanha não está a comprar tanto quanto<br />

é habitual, sendo que no pico do Verão vão<br />

escassear paletes. É cíclico e irá acontecer. Daqui<br />

sugiro às empresas que estabeleçam acordos<br />

de fornecimento, a Rotom dá compromisso,<br />

respeitando o euwid, seja na compra ou na<br />

venda. Somos transparentes e garantimos um<br />

serviço de entrega que permite assegurar os<br />

ativos aos nossos clientes nos momentos de<br />

maior escassez, isto é uma mais valia para não<br />

faltarem paletes na linha de produção.<br />

Do ponto de vista estratégico, como olham<br />

para o segundo semestre e por onde passam os<br />

vossos planos de investimento?<br />

> No segundo semestre temos já garantidos<br />

vários acordos de aluguer de palotes e caixas em<br />

plástico para a vindima, o mercado vinícola cada<br />

vez conhece melhor o serviço da rotomrent.pt.<br />

Estamos muito satisfeitos porque temos milhares<br />

de unidades já reservadas para este efeito.<br />

O acréscimo de alugueres está assegurado<br />

pelos contratos estabelecidos. Também temos<br />

centenas de racks amovíveis (mobile racks<br />

metálicos) preparados para entrega em 24h, que<br />

normalmente nos são solicitados nos picos de<br />

atividade das épocas do verão e na preparação<br />

da campanha de Natal. A nossa loja online<br />

rotomshop.pt teve um aumento até à data de<br />

+74% face ao mesmo período de 2022, portanto o<br />

eCommerce continua a ser um canal alternativo<br />

e de sucesso.<br />

Relativamente aos investimentos<br />

previstos, estamos a aguardar a resposta<br />

à nossa candidatura ao PRR no âmbito da<br />

descarbonização, o pacote de investimento<br />

previsto para este ano são 650 mil euros em<br />

maquinaria, na robotização, conversão de<br />

resíduos em biomassa, energias renováveis,<br />

num plano de ação que permitirá uma redução<br />

drástica do abatimento de árvores porque<br />

conseguiremos reutilizar muito mais madeira<br />

usada e paletes partidas e convertê-las em<br />

paletes, o que são excelentes notícias para<br />

a nossa floresta. E, finalmente, os sócios do<br />

grupo pretendem avançar para a construção<br />

de um novo armazém na ALE Valado dos<br />

Frades. Estamos a dar os primeiros passos para<br />

aprovação do projeto, que prevê uma área de<br />

armazenamento de 4.500m2 cobertos, o que<br />

permitirá uma maior eficiência nas nossas<br />

operações. Vamos passar a ter 18 mil m2<br />

disponíveis somente nesta base. Relativamente<br />

a aquisições de empresas, o grupo tem feito<br />

várias na Europa, em Portugal estamos atentos<br />

ao mercado, existem vários targets na área das<br />

embalagens reutilizáveis, serviços de logística<br />

inversa, paletes usadas, fabricantes de paletes<br />

novas… vamos ver se temos notícias positivas<br />

em breve. A Waterland (private equity) que<br />

detém 51% do grupo Rotom, está a investir no<br />

crescimento do grupo via aquisições e temos tido<br />

sucesso em compras estratégicas na Europa.<br />

A sustentabilidade e a economia circular<br />

na logística e na gestão da cadeia de<br />

abastecimento têm estado, e vão continuar<br />

a estar, nas agendas e de uma ponta à outra<br />

da cadeia. Como se posicionam perante estes<br />

temas?


38<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

Que desafios, oportunidades e respostas vos<br />

suscitam?<br />

> O grupo tem dado passos consistentes no<br />

respeitante à sustentabilidade. Obtivemos o<br />

Ecovadis medalha de bronze ao nível Europeu e<br />

estamos atentos às diretivas europeias no que<br />

toca ao ESG. Já redigimos um código de conduta<br />

interno nesta matéria. Desenvolvemos uma<br />

calculadora da redução de CO2 que os nossos<br />

produtos e serviços permitem às empresas.<br />

Estamos a passar do paradigma de sentido linear<br />

para o circular a todos os níveis. Isto à parte<br />

os passos dados em sustentabilidade, como o<br />

investimento em painéis solares, empilhadores e<br />

carros 100% elétricos, a responsabilidade social<br />

com forte apoio às comunidades locais onde<br />

estamos inseridos. A promoção de alugueres<br />

e serviços que incentivam a reutilização. A<br />

proposta de um serviço de vendas consultivo que<br />

permite ao cliente receber um estudo gratuito do<br />

cenário atual das embalagens que utilizam, onde<br />

propomos a embalagem ideal, mas também a<br />

possibilidade de desenvolvimento de embalagens<br />

retornáveis e a recuperação dessas embalagens.<br />

Temos implementado vários projetos de sucesso<br />

em empresas de renome nacional, com aforro em<br />

custos e benefícios na ótica da sustentabilidade.<br />

Somente acrescentar que obtivemos a<br />

ISO9001:2015, fomos PME Líder22, temos licença<br />

industrial e de gestão de resíduos SIR, somos<br />

operadores económicos da DGAV para tratamento<br />

fitossanitario (vulgo HT), e finalmente renovámos<br />

a licença EPAL para reparação de europaletes<br />

(PT300). Somos os únicos habilitados a reparar<br />

estas paletes em Portugal e temos cada vez mais<br />

procura destes serviços.<br />

E sobre as soluções que o mercado procura,<br />

que evolução têm sentido, tanto em termos<br />

de produtos como de serviços? Para onde<br />

caminhamos?<br />

> Nós nesta altura temos sido solicitados para<br />

propor aos clientes soluções de embalagens<br />

retornáveis e reutilizáveis. A título de exemplo,<br />

temos a decorrer um projeto de milhares de<br />

contentores plásticos dobráveis, com laterais para<br />

picking e interiores desenvolvidos à medida para<br />

transporte das peças dos clientes. Aqui, em vez do<br />

investimento repetido em caixas de cartão de um<br />

só uso, os clientes investem em ativos que podem<br />

ser reutilizados centenas de vezes em loop, e são<br />

retornáveis com a embalagem dobrada, aforrando<br />

imenso no armazenamento e transporte de<br />

retorno. Nós fazemos a venda ou aluguer destas<br />

soluções, ou seja, os clientes podem optar pela<br />

aquisição dos ativos ou, se não pretenderem<br />

investir, a Rotom aluga. Depois temos assistido<br />

ao incremento da procura de paletes de madeira<br />

e plástico sobretudo usadas, as de madeira<br />

propomos a reparação EPAL, e as plásticas podem<br />

ser reutilizadas. E também no metal estamos a<br />

vender/alugar roll containers/gitterboxes com<br />

oferta de serviços de manutenção (arranjos, troca<br />

de rodízios ou peças), na ótica da extensão da vida<br />

útil das embalagens. Finalmente com a 2Return e<br />

a Poolback propomos serviços de logística inversa,<br />

pooling, banco de paletes em toda a Europa.<br />

O mercado procura casa vez mais soluções<br />

sustentáveis e que permitam aforros, mas a<br />

prioridade é clara e urgente, reduzir emissões de<br />

CO2, evitar o desflorestamento agressivo e não<br />

sustentável. Na Rotom as empresas encontram<br />

um parceiro que se preocupa com esta temática,<br />

e só colabora com parceiros que pensem da<br />

mesma forma, no respeito pelo ESG, pela<br />

sustentabilidade, na proteção do meio ambiente<br />

e do nosso planeta. Muito em breve, quem não<br />

tiver estas premissas e conseguir provar que está<br />

alinhado nesta direção estará fora do circuito.<br />

Em Portugal, algumas empresas e compradores,<br />

particularmente os da nova geração, já começam<br />

a ter esta exigência na seleção de fornecedores,<br />

acredito que estamos no bom caminho! •


INTRALOGÍSTICA<br />

39<br />

Prémios IFOY <strong>2023</strong><br />

Texto: Dora Assis<br />

E OS ÓSCARES<br />

DA INTRALOGÍSTICA<br />

VÃO PARA…<br />

Os vencedores do IFOY AWARD <strong>2023</strong> já<br />

foram conhecidos. Representantes da<br />

AGILOX, Crown, DS AUTOMOTION, HUNIC<br />

e Still receberam o mais conceituado<br />

prémio internacional de intralogística.<br />

A Jungheinrich, por seu turno, alcançou<br />

uma dupla vitória e levou para casa dois<br />

dos troféus, também conhecidos como os<br />

"Óscares da intralogística".<br />

Oprémio IFOY (International Intralogistics<br />

and Forklift Truck of the Year) é conhecido<br />

mundialmente. Em <strong>2023</strong>, 21 empresas com<br />

23 produtos e soluções foram finalistas na 11.ª<br />

edição, a mais participada de sempre. "O júri<br />

tomou uma das suas decisões mais difíceis em<br />

abril, enviando um sinal para mais tecnologia<br />

na logística. Já durante os IFOY Test Days, foi<br />

evidente o excelente nível dos finalistas deste<br />

ano, alguns dos quais estão muito à frente dos<br />

seus concorrentes no mercado em termos de<br />

inovação e benefícios para o cliente. Os seus<br />

produtos e soluções serão a futura referência<br />

para os centros de distribuição modernos",<br />

afirma Anita Würmser, Presidente Executiva do<br />

júri do IFOY.<br />

AGILOX, AGILOX ODM<br />

AGV / AMR<br />

O IFOY Award na categoria "Automated Guided<br />

Vehicle (AGV/AMR)" foi ganho pela AGILOX<br />

com o AGILOX ODM. O carrinho de transporte<br />

omnidirecional é um robô de logística para<br />

pequenos transportadores de carga. Graças à<br />

tecnologia X-Swarm, encontra autonomamente<br />

o caminho mais rápido através do ambiente de<br />

produção ou logística. Entre outras coisas, o


40<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

júri destacou de forma muito positiva as funções<br />

autónomas para evitar obstáculos no percurso.<br />

CROWN, SP 1500<br />

Warehouse Truck “highlifter”<br />

O vencedor na categoria "Warehouse Truck<br />

highlifter" foi a Crown, com o empilhador de<br />

recolha de encomendas SP 1500, que pontua<br />

em termos de desempenho, eficiência e<br />

ergonomia. O IFOY Innovation Check sublinha<br />

a "ergonomia única, com muitas opções de<br />

configuração desenvolvidas a partir de estudos<br />

realizados diretamente nas instalações dos<br />

clientes". Também destaca "a utilização em<br />

diferentes larguras de corredor, uma operação<br />

única ajustável individualmente, bem como o<br />

excelente campo de visão".<br />

DS AUTOMOTION, ARCOS<br />

Intralogistics Software<br />

Na categoria "Software de Intralogística", a<br />

DS AUTOMOTION recebeu um troféu pelo seu<br />

software para veículos ARCOS. A solução torna<br />

possível, pela primeira vez, que as frotas de AGV<br />

e AMR conduzam com base em zonas variáveis<br />

entre orientação de faixa fixa, orientação de faixa<br />

com evasão flexível, bem como navegação livre<br />

com um único software. De acordo com o júri,<br />

em combinação com a navegação cooperativa,<br />

que permite aos robôs tomar medidas evasivas<br />

coordenadas, o fabricante oferece uma solução<br />

muito eficiente que também pode integrar<br />

veículos de outros fabricantes através da<br />

interface VDA 5050.<br />

HUNIC, SOFTEXO LIFT<br />

Start-up of the Year <strong>2023</strong><br />

No total, cinco jovens empresas concorreram<br />

este ano a um prémio na categoria "Start-up of<br />

the Year". Na renhida corrida, a HUNIC acabou<br />

por convencer os jurados com o SoftExo Lift. O<br />

exoesqueleto passivo é um auxiliar de elevação<br />

e transporte extremamente leve, mas eficaz.<br />

Os trabalhadores qualificados são apoiados até<br />

21% quando levantam e transportam cargas. O<br />

corpo é aliviado até 50 por cento. Além disso,<br />

os movimentos incorrectos são assinalados<br />

ao utilizador. De acordo com os jurados, o<br />

grande salto inovador reside na conceção<br />

do exoesqueleto, exclusivamente a partir de<br />

materiais elásticos.<br />

JUNGHEINRICH, ADDEDVIEW<br />

Special of the Year <strong>2023</strong><br />

O IFOY AWARD <strong>2023</strong> na categoria "Especial<br />

do Ano" vai para a Jungheinrich pela primeira<br />

câmara de garfos totalmente digital em<br />

produção em série, com resolução Full HD,<br />

transmissão de dados Ethernet automóvel<br />

de banda larga e software para transferir os<br />

resultados para qualquer WMS. A câmara de<br />

garfos totalmente digital com leitura de códigos<br />

de barras reduz os erros de armazenamento<br />

e de recuperação. Evita o registo incorreto<br />

de mercadorias ou locais de armazenamento<br />

no sistema de gestão de armazéns (WMS) e,<br />

consequentemente, tempos de procura não<br />

planeados, devoluções ou perda de mercadorias.<br />

A câmara lê os códigos de barras diretamente<br />

no local de armazenamento, compara-os com<br />

as especificações do WMS e marca a cores<br />

os compartimentos corretos e incorretos, à<br />

medida que o veículo passa. O reconhecimento<br />

é efetuado no volante. Embora as tecnologias<br />

individuais não sejam novas em si mesmas, "a<br />

combinação nesta implementação exemplar<br />

deve ser considerada como altamente inovadora",<br />

de acordo com o veredito do júri.<br />

JUNGHEINRICH, POWERCUBE<br />

Intralogistics Robot<br />

A Jungheinrich também levou para casa um<br />

segundo troféu. Flexível, rápido, eficiente: com<br />

o PowerCube, a Jungheinrich garantiu a vitória


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

na categoria "Robô Intralogístico". Neste sistema<br />

compacto e automatizado de armazenamento<br />

de contentores, o acesso é possível a partir de<br />

baixo, permitindo uma manutenção mais fácil e<br />

alturas de teto variáveis. O júri destacou várias<br />

inovações, incluindo o peso de carregamento dos<br />

contentores de 50 quilogramas e uma função de<br />

carregamento rápido para um funcionamento<br />

contínuo dos robots sem tempos de paragem.<br />

STILL, EXH 16<br />

Warehouse Truck “lowlifter”<br />

O fornecedor de intralogística Still ganhou um<br />

dos cobiçados prémios para o EXH 16 na categoria<br />

'Warehouse Truck lowlifter'. O equipamento faz<br />

parte da série EXH 14-20 Plus - lowlifters... O<br />

design compacto, juntamente com a nova cabeça<br />

de leme funcional e as melhorias resultantes em<br />

termos de operação e características de condução,<br />

são classificados como "indubitavelmente novos"<br />

pelo IFOY Innovation Check. O EXH mostra, assim,<br />

que as inovações ainda não encontraram o seu fim<br />

nesta classe de veículos.<br />

O IFOY Award distingue os produtos e as<br />

soluções intralogísticas mais inovadoras do ano.<br />

O galardão estabeleceu-se como um indicador de<br />

custo-eficácia e inovação e é considerado como o<br />

prémio internacional de inovação de destaque na<br />

intralogística devido à sua competência técnica.<br />

A base da decisão é a auditoria em três fases -<br />

composta pelo protocolo de teste IFOY, que inclui<br />

cerca de 80 critérios, o IFOY Innovation Check<br />

científico e o teste do júri. O fator decisivo é que<br />

os nomeados não são comparados entre si, mas<br />

com os dispositivos concorrentes que existem no<br />

mercado. •


42<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

SUSTENTABILIDADE<br />

PROCUREMENT<br />

Eficiência Energia energética solar<br />

e descarbonização<br />

fotovoltaica<br />

Texto: Dora Assis<br />

“NEM TUDO,<br />

NEM TODOS,<br />

ANDAM À MESMA<br />

VELOCIDADE”<br />

A eficiência energética na cadeia<br />

de abastecimento e a urgência de<br />

implementar medidas que contribuam<br />

para a descarbonização da economia<br />

estão na agenda de governos e gestores.<br />

Numa verdadeira corrida contra o<br />

tempo, as empresas colocam no topo das<br />

suas prioridades o desenvolvimento de<br />

estratégias para tornar as operações mais<br />

sustentáveis e eficientes. Esta é também<br />

a prioridade da DB Schenker, como nos<br />

dá conta António Paulo, diretor-geral da<br />

companhia em Portugal, que nos falou sobre<br />

os principais desafios energéticos do setor e<br />

as estratégias da empresa para os contornar.<br />

Oimpacto das alterações climáticas e a<br />

urgência na implementação de medidas<br />

que visem a descarbonização das<br />

economias não constituem problemáticas<br />

novas, mas as metas definidas são ambiciosas.<br />

Afinal, o Pacto Ecológico Europeu prevê uma<br />

redução das emissões de CO2 em 55%, até<br />

2030 e até 2050 a Europa deverá ser o primeiro<br />

continente a atingir a neutralidade carbónica.<br />

Noutros termos, isto significa que a União<br />

Europeia terá que conseguir eliminar tantas<br />

emissões de CO2, quanto as que produza.<br />

A DB Schenker tem como objetivo tornar-se<br />

no principal fornecedor mundial de serviços<br />

de logística verde e alcançar a neutralidade<br />

carbónica até 2040. Falando sobre os desafios<br />

que enfrentam enquanto operador logístico,<br />

António Paulo, diretor-geral da DB Schenker<br />

Portugal não esconde que os desafios são<br />

muitos neste momento, ambiciosos e de<br />

ordem vária. “O que notamos é que neste<br />

ecossistema, a cadeia de abastecimento,<br />

existem dinâmicas distintas. Nem tudo, nem<br />

todos, andam à mesma velocidade. E isso é,<br />

desde logo, um grande desafio. Dou-lhe um<br />

exemplo muito concreto: se quisermos investir<br />

em massa em soluções elétricas, não haverá<br />

infraestrutura para carregar todos os camiões.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

E, saindo do universo da logística, se todos<br />

nós agora optarmos por comprar um carro<br />

elétrico, a nossa infraestrutura não suportava<br />

sequer 30% da frota existente em Portugal.<br />

Não teríamos onde carregar os veículos e, pior<br />

que isso, não haveria estrutura ao nível da<br />

rede de produção de energia para dar resposta<br />

às necessidades. Por isso, vamos avançando<br />

de acordo com as possibilidades. Mas sim, os<br />

desafios são grandes, e é inquestionável que<br />

teremos que fazer a transição para soluções<br />

mais limpas do ponto de vista ambiental.”<br />

CONJUGAR SOLUÇÕES<br />

A transição energética é para António<br />

Paulo uma estrada com múltiplas vias e que<br />

conjuga diferentes soluções, pelo que na<br />

Schenker, o investimento em alternativas<br />

é uma realidade. “No caso do transporte<br />

passa por, por exemplo, conjugar o elétrico<br />

com soluções de hidrogénio. Já fizemos uma<br />

primeira abordagem e estamos a colocar-nos<br />

numa posição pioneira através de um acordo<br />

com uma empresa na Alemanha, que já está<br />

a produzir os veículos. Esta pré-encomenda<br />

da Schenker é para o transporte de médio<br />

curso, ou seja, distâncias de cerca de 500<br />

quilómetros, que nos permitirão ligar os<br />

nossos terminais através de camiões movidos a<br />

células de hidrogénio”.<br />

No transporte de proximidade e na<br />

distribuição capilar, a aposta vai claramente<br />

para o elétrico e António Paulo salienta<br />

neste âmbito a parceria estabelecida entre<br />

a DB Schenker e a Volta Trucks, fabricante<br />

de veículos comerciais totalmente elétricos,<br />

que lhes permitiu completar em conjunto a<br />

primeira fase de testes rodoviários do camião<br />

totalmente elétrico Volta Zero na Europa, “em<br />

que pela primeira vez um veículo Volta Zero<br />

operou em estradas e em ambientes reais de<br />

distribuição na cidade de Paris.”<br />

António Paulo, diretor-geral da DB Schenker Portugal<br />

EM BUSCA DO VERDE<br />

Foi em 2021 que as duas empresas<br />

anunciaram a expansão da sua colaboração e<br />

a pré-encomenda de cerca de 1.500 veículos<br />

Volta Zero, totalmente elétricos, sendo na<br />

altura a maior encomenda de camiões elétricos<br />

de 16 toneladas na Europa. “Estes veículos<br />

serão utilizados nos terminais europeus<br />

para transportar mercadorias dos centros de<br />

distribuição para os centros das cidades e áreas<br />

urbanas”, sublinha o número 1 da DB Schenker<br />

Portugal. E brevemente este investimento será<br />

alargado ao cluster ibérico, primeiramente<br />

Espanha e depois Portugal.<br />

Se na distribuição urbana e capilar a<br />

resposta é elétrica, quando passamos para o<br />

transporte intercontinental o cenário muda<br />

de figura. Focando-se no caso do transporte<br />

aéreo, António Paulo refere que “já temos<br />

parcerias com algumas companhias aéreas,<br />

como é o caso da Lufthansa Cargo, e estamos<br />

a dar aos nossos clientes a opção de utilizar<br />

o transporte com SAF (Sustainable Aviation<br />

Fuel), uma solução de transporte 100% limpa,<br />

ou seja, neste caso com um fuel totalmente<br />

reciclado e com impacto muito positivo na<br />

redução da pegada ecológica.”


44<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

“O mesmo acontece no transporte marítimo”,<br />

sublinha ainda, lembrando a parceria<br />

estabelecida pelo operador logístico já em<br />

<strong>2023</strong> com a Mediterranean Shipping Company<br />

(MSC), visando o alargamento dos seus<br />

serviços de transporte marítimo ecológico:<br />

“esta colaboração garante a utilização de<br />

12.000 toneladas de biocombustível em toda<br />

a sua carga, incluido contentores refrigerados,<br />

contentores de carga completa (FCL) e<br />

contentores de carga fracionada (LCL). A<br />

quantidade de biocombustível adquirida é<br />

suficiente para poupar mais 35.000 toneladas<br />

de CO2 ao longo de toda a cadeia de produção.<br />

O equivalente a cerca de 30.000 contentores<br />

padrão (TEU) pode ser expedido com zero<br />

emissões de CO2, dependendo da forma<br />

como o combustível é utilizado durante a<br />

navegação”.<br />

O acordo de compra, assinado no início de<br />

<strong>2023</strong>, representa um dos maiores acordos de<br />

redução de carbono entre um operador de<br />

transporte de mercadorias e uma companhia<br />

de navegação e prevê a utilização de<br />

biocombustíveis sustentáveis certificados<br />

de segunda geração (derivados de óleos<br />

alimentares usados) em vez dos combustíveis<br />

marítimos convencionais de origem fóssil. O<br />

acordo permite à DB Schenker oferecer aos<br />

seus clientes um produto que viabiliza um<br />

envio sem emissões.<br />

OTIMIZAÇÃO INDOORS<br />

Saindo das soluções de transporte puro e<br />

duro, António Paulo passa para a gestão dos<br />

próprios edifícios, lembrando o investimento<br />

que têm estado a fazer em Portugal “no<br />

sentido de reorganizar todos os processos de


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

trabalho e transformar os sites para serem<br />

mais sustentáveis”. E dá exemplos: “com<br />

painéis fotovoltaicos na cobertura dos nossos<br />

terminais conseguimos reutilizar essa energia<br />

para carregar, por exemplo, os empilhadores.<br />

No caso dos escritórios, trocámos tudo o que<br />

eram lâmpadas antigas, por sistemas LED,<br />

e tudo está ser pensado para alcançar um<br />

consumo energético inferior”.<br />

Mas também nas operações de armazém<br />

as economias e eficiências energéticas<br />

são uma prioridade e António Paulo dá o<br />

exemplo de uma infraestrutura recentemente<br />

inaugurada em Madrid. 50.000 metros<br />

quadrados, mais de 200 robôs e um sistema<br />

de embalamento otimizado. O novo sistema<br />

integra soluções de recolha e embalamento<br />

para um cumprimento rápido e flexível<br />

das encomendas online, bem como um<br />

tratamento eficiente das devoluções.<br />

Para otimizar o volume de encomendas<br />

e a utilização de veículos de transporte, a<br />

embalagem é ajustada ao tamanho exato<br />

do produto que é expedido através de uma<br />

solução automatizada, reduzindo as emissões<br />

de CO2 ao longo da distribuição, “em que do<br />

picking ao sorting, tudo foi pensado numa<br />

lógica de redução de consumos e otimização<br />

de processos”. O centro está direcionado<br />

para as operações de ecommerce e um dos<br />

principais clientes é a Adidas que, como<br />

lembra o nosso interlocutor, “o cliente pediu<br />

uma solução verde, uma solução que fosse<br />

logicamente sustentável e o armazém foi<br />

pensado e construído todo no sentido da<br />

implementação de origem destes processos<br />

de trabalho”. E esta é cada vez mais, segundo<br />

o gestor logístico, a dinâmica e a tendência.<br />

A companhia estabeleceu como objetivo<br />

a neutralidade carbónica até 2040 estão<br />

paulatinamente a trabalhar para isso. E a<br />

investir. •


46<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Economia circular<br />

UMA FÁBRICA<br />

GIGANTE DE IDEIAS<br />

VERDES<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

Com uma área equivalente a 22 campos<br />

de futebol, a fábrica da Carmo Wood, em<br />

Oliveira de Frades, é muito mais do que<br />

uma estrutura gigantesca. É um desafio aos<br />

paradigmas estabelecidos para repensarmos<br />

a relação entre tamanho e eficiência no<br />

setor da madeira em Portugal. Enquanto os<br />

olhos se maravilham com a grandiosidade<br />

do empreendimento, a mente é convidada<br />

a mergulhar numa reflexão, instigada<br />

pelo questionamento de João Figueiredo,<br />

diretor executivo da empresa: "A dimensão<br />

importa?".


SCM Supply Chain Magazine<br />

47<br />

Afábrica de Oliveira de Frades da Carmo<br />

Wood é reconhecida por ser 100% circular<br />

em termos de economia de produto, o<br />

que “significa que a empresa adota princípios<br />

de economia circular, que é um modelo de<br />

produção e consumo sustentável, onde os<br />

recursos são utilizados de forma eficiente e os<br />

resíduos são reintegrados no ciclo produtivo,<br />

como novos produtos ou materiais”, explica<br />

João Figueiredo, diretor executivo da Carmo<br />

Wood. Este conceito é implementado através<br />

de processos integrados que transformam<br />

subprodutos da madeira em novos produtos.<br />

"A casca da madeira é utilizada para gerar um<br />

novo produto de casca ornamental. As aparas<br />

geradas durante a produção de decks são<br />

transformadas em aparas para camas de pintos.<br />

Os pequenos refugos de madeira, gerados em<br />

vários processos, são transformados em estilha",<br />

exemplifica o responsável. Essa abordagem<br />

permite que praticamente todos os resíduos da<br />

produção sejam reaproveitados, minimizando<br />

o desperdício e maximizando a utilização dos<br />

recursos disponíveis. João Figueiredo destaca<br />

ainda que a fábrica é alimentada por um<br />

extenso sistema de painéis solares, fornecendo<br />

a energia necessária para as mais de 300<br />

máquinas industriais presentes na unidade.


48<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

A movimentação interna é realizada com<br />

camiões próprios, garantindo a eficiência<br />

logística e reduzindo o impacto ambiental.<br />

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL<br />

No que diz respeito ao processo de produção,<br />

a Carmo Wood segue várias etapas desde a<br />

entrada da matéria-prima até à expedição<br />

do produto final. Conforme explica o diretor<br />

executivo, "é realizada uma triagem de<br />

qualidade, avaliando-se a sanidade da<br />

madeira, o seu aspeto visual, as quantidades<br />

e a qualidade em termos de parâmetros de<br />

resistência e outros critérios". A madeira é<br />

então encaminhada para diferentes áreas de<br />

produção, dependendo do seu destino final,<br />

seja para agricultura ou para construção em<br />

madeira. Outro aspeto importante mencionado<br />

por João Figueiredo é o tratamento em<br />

autoclave pelo qual passa a madeira na fábrica<br />

da Carmo Wood. Este processo, que submete<br />

a madeira a altas pressões e temperaturas,<br />

remove as suas propriedades que servem de<br />

alimento para insetos e agentes xilófagos. "A<br />

durabilidade do material é exponencial após<br />

o tratamento, garantindo um produto de alta<br />

qualidade e resistência", garante o responsável.<br />

Após esta etapa, os produtos estão prontos<br />

para serem expedidos. A empresa conta<br />

ainda “com explorações florestais próprias, o<br />

que significa que é altamente verticalizada,<br />

controlando desde a produção da matéria-<br />

-prima até a aplicação dos produtos finais”,<br />

o que contribui para a limpeza, cuidado e<br />

gestão sustentável das florestas. O profissional<br />

ressalta que esta abordagem visa não apenas<br />

garantir a criação de postos de trabalho<br />

e rentabilidade, mas também assegurar a<br />

qualidade e o abastecimento contínuo de<br />

matéria-prima para as fábricas da empresa.<br />

“Além da exploração florestal, a Carmo<br />

Wood é conhecida por ser uma empresa de<br />

soluções. Isso significa que não se limita a<br />

vender apenas os produtos fabricados nas<br />

suas diferentes fábricas, mas também oferece<br />

serviços de aplicação desses produtos no<br />

cliente final”, enfatiza João Figueiredo. Desta<br />

forma, a empresa está comprometida em<br />

fornecer soluções sustentáveis e de alta<br />

qualidade, ao mesmo tempo em que promove<br />

a preservação do meio ambiente e impulsiona<br />

o desenvolvimento socioeconómico. De acordo<br />

com João Figueiredo, "a Carmo Wood exporta<br />

para diversos mercados e também importa<br />

materiais de diferentes origens". Um dos seus<br />

mercados estratégicos é o francês, onde a<br />

empresa possui um escritório em Bordeaux e<br />

um barco flutuante em madeira, abrigando uma<br />

equipa multicultural de 20 membros, composta<br />

por portugueses e franceses. Ademais, a<br />

Carmo Wood atende a mais de 43 destinos<br />

internacionais, incluindo Espanha, Itália, Chile e<br />

países do norte da África.<br />

DISPONIBILIDADE<br />

DA MATÉRIA-PRIMA<br />

Ao abordar os desafios enfrentados pela<br />

empresa durante a pandemia e a guerra na<br />

Ucrânia, João Figueiredo ressalta que "como a<br />

empresa adquire madeira de diferentes partes do<br />

mundo, incluindo Ucrânia e Rússia, foi necessário<br />

realizar ajustes na fonte de abastecimento para<br />

mitigar as flutuações e assegurar o fornecimento<br />

contínuo de matéria-prima”. Nesta lógica, faz<br />

questão de mencionar “que Portugal enfrenta<br />

problemas na gestão e exploração das suas<br />

florestas. Existem várias questões que afetam<br />

a floresta portuguesa, tais como a falta de<br />

ordenamento florestal, a fragmentação das<br />

propriedades, o envelhecimento do tecido<br />

florestal, a predominância de espécies com<br />

menor valor comercial, a suscetibilidade


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

a incêndios florestais, entre outros. Esses<br />

problemas têm impacto direto na disponibilidade<br />

e qualidade da madeira como matéria-prima”.<br />

É desta forma que João Figueiredo introduz a<br />

pergunta: “A dimensão (da fábrica) importa?”.<br />

Uma questão que levanta tantas outras sobre<br />

a sustentabilidade e a viabilidade económica<br />

do setor da madeira em Portugal, como por<br />

exemplo, "se as condições em termos de matéria-<br />

-prima fossem melhores, como seríamos?” já que<br />

“a dimensão é fruto do crescimento sustentado<br />

num produto (madeira) que não é minimamente<br />

desenvolvido em Portugal enquanto matéria<br />

-prima”. Diante deste cenário, “a Carmo Wood<br />

teve de se tornar uma referência europeia<br />

mesmo sem ter acesso a uma fonte local de<br />

matéria-prima. Esse é um desafio significativo,<br />

mas a empresa conseguiu superá-lo graças<br />

à sua capacidade de adaptação e à proposta<br />

da estratégia logística que adotamos”, refere<br />

João Figueiredo. Enquanto a resposta para a<br />

sua pergunta está em aberto, a Carmo Wood<br />

continua a construir um futuro mais sustentável<br />

para a indústria da madeira, mostrando que é<br />

possível conciliar eficiência, responsabilidade<br />

ambiental e viabilidade económica.<br />

INVESTIR NO FUTURO<br />

Num mundo em constante evolução, com<br />

clientes cada vez mais exigentes, prazos mais<br />

curtos e a necessidade de entregas rápidas e<br />

eficientes, a logística desempenha um papel<br />

fundamental. Consciente dessa realidade, a<br />

Carmo Wood está a "realizar investimentos<br />

significativos em tecnologia e infraestrutura,<br />

implementando programas de software de<br />

ponta e utilizando as melhores soluções<br />

disponíveis no mercado" para fortalecer as<br />

suas operações logísticas. Além disso, a Carmo<br />

Wood está ciente de que a formação dos<br />

seus profissionais é essencial para aprimorar<br />

a logística. Com esse objetivo, a empresa<br />

criou a Carmo Academy, que oferece uma<br />

formação de alto nível para planeadores,<br />

compradores, aprovisionadores e outros<br />

envolvidos na logística, “para garantir que<br />

estamos atualizados com as melhores práticas e<br />

estratégias do setor”. “Reconhecemos também<br />

a importância das parcerias na logística<br />

(...). Estabelecemos relações sólidas com<br />

fornecedores e transportadoras confiáveis, para<br />

garantir que os materiais cheguem de forma<br />

eficiente à nossa fábrica e que os produtos<br />

sejam entregues aos clientes no prazo desejado.<br />

Trabalhar em colaboração com parceiros<br />

estratégicos permite-nos otimizar as nossas<br />

operações logísticas, reduzir custos e melhorar<br />

a eficiência geral. "O que é seu, a seu dono”,<br />

acrescenta João Figueiredo.<br />

A Carmo Wood também está a investir em<br />

Business Intelligence para obter insights<br />

valiosos sobre as suas operações logísticas.<br />

O uso de dados e análises avançadas permite<br />

identificar áreas de melhoria, antecipar<br />

tendências e tomar decisões mais informadas.<br />

Isso resulta numa melhor previsão de demanda,<br />

otimização de rotas de transporte, gestão de<br />

stocks mais eficiente e uma maior visibilidade e<br />

rastreabilidade dos produtos. É desta forma que<br />

a Carmo Wood encara a logística como uma área<br />

estratégica e essencial para o futuro da empresa.<br />

Através de investimentos em tecnologia e<br />

infraestrutura, formação para profissionais,<br />

parcerias sólidas e Business Intelligence, a<br />

empresa procura fortalecer as suas operações<br />

logísticas, garantindo a entrega eficiente dos<br />

seus produtos aos clientes e aprimorando a<br />

sua posição no mercado. A Carmo Wood está<br />

comprometida em permanecer ágil, adaptável e<br />

criativa para enfrentar os desafios logísticos em<br />

constante evolução e atender às expectativas<br />

dos clientes. •


50<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

Texto: Bruna Manguito<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

MAIS QUE UM<br />

COMPROMISSO, UM<br />

MOVIMENTO<br />

Descarbonização<br />

A Broliveira acaba de alcançar um marco<br />

importante ao receber a sua primeira estrela<br />

Lean&Green, impulsionada pelo programa<br />

de descarbonização da GS1 Portugal. Ao<br />

implementar diversas medidas nas suas<br />

operações logísticas e de transporte, a<br />

empresa conseguiu reduzir mais de 20% das<br />

emissões de dióxido de carbono equivalente.<br />

Com esta conquista, a Broliveira agora faz<br />

parte de um seleto grupo de empresas no<br />

país que estão a liderar a transformação da<br />

indústria rumo a um futuro mais verde e<br />

próspero.


SCM Supply Chain Magazine<br />

51<br />

A<br />

Broliveira foi recentemente certificada<br />

pelo programa Lean&Green, o programa<br />

de descarbonização representado pela GS1<br />

Portugal no país. O programa Lean&Green tem<br />

como objetivo reduzir a pegada de carbono das<br />

cadeias de valor, concentrando-se na diminuição<br />

das emissões de dióxido de carbono equivalente<br />

por unidade de produto transportada,<br />

especialmente neste segmento operacional.<br />

Com base na avaliação inicial realizada<br />

no âmbito do plano de ação de redução<br />

apresentado durante a adesão ao programa,<br />

a Broliveira qualificou-se para receber a<br />

prestigiada primeira estrela Lean&Green,<br />

comprovando uma redução superior a 20% nas<br />

emissões de dióxido de carbono equivalente por<br />

unidade transportada nas operações logísticas<br />

e de transporte. A Broliveira junta-se agora<br />

a um grupo seleto de empresas em Portugal<br />

que integram o programa Lean&Green, como a<br />

Delta Cafés, a Nestlé Portugal, o Pingo Doce, a<br />

Herdade dos Grous, a Intraplás, a FirstRule e a<br />

Granfer, entre outras. O programa implantado<br />

em 14 países, a maioria dos quais europeus,<br />

conta com a participação de mais de 600<br />

empresas, formando uma rede de partilha de<br />

boas práticas que promove a colaboração e<br />

divulgação de testemunhos e casos de estudo<br />

entre os seus membros. Essas empresas estão<br />

comprometidas em reduzir as suas emissões<br />

de carbono e contribuir para a construção<br />

de uma cadeia de valor mais sustentável e<br />

responsável ambientalmente. Até ao momento,<br />

a iniciativa europeia já possibilitou a redução<br />

de 2,5 megatoneladas de dióxido de carbono<br />

equivalente.<br />

MEDIDAS SUSTENTÁVEIS<br />

A Broliveira, ao longo da última década, tem<br />

vindo a implementar um conjunto de medidas<br />

nos domínios da Frota, Recursos Humanos,<br />

Operações e Tecnologia, com o objetivo de<br />

reduzir os consumos e as emissões de dióxido<br />

de carbono equivalente (CO2eq). Estas medidas<br />

permitiram à empresa alcançar uma redução<br />

superior a 20% das suas emissões. No entanto,<br />

a implementação dessas medidas não foi isenta<br />

de adversidades. De acordo com a empresa, “os<br />

maiores desafios concentraram--se na disciplina<br />

necessária para implementar a nossa política<br />

de controlo de consumos de combustível e no<br />

elevado investimento a aplicar na aquisição<br />

de equipamentos e constante renovação da<br />

frota". Além disso, a empresa destaca outras<br />

medidas importantes, como a formação<br />

e sensibilização dos recursos humanos, a<br />

manutenção adequada das viaturas, a seleção e<br />

controlo de rotas e a aquisição de sistemas de<br />

informação para monitorização em tempo real<br />

da frota. “O programa Lean&Green reconhece<br />

todo o trabalho realizado na última década pela<br />

Broliveira, nomeadamente, a adoção de diversas<br />

medidas, que incluem a política de controlo<br />

de consumos de combustível e de aquisição de<br />

equipamentos, e que prioriza a modernização<br />

técnica e ambiental, permitindo, dessa forma,<br />

reduzir o impacto negativo da atividade<br />

da Broliveira no meio ambiente”, declarou<br />

Cecília Pereira, responsável do Departamento<br />

de Qualidade, Ambiente e Segurança<br />

da organização. Também João de Castro<br />

Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal,<br />

parabenizou a Broliveira pela conquista da<br />

sua primeira estrela Lean&Green, destacando<br />

que “o setor dos transportes e logística tem<br />

vindo a encontrar mecanismos de promoção<br />

da eficiência e colaboração que têm permitido<br />

reduzir substancialmente as emissões de<br />

dióxido de carbono equivalente inerentes à sua<br />

atividade. No contexto deste setor, a conquista<br />

da primeira estrela Lean&Green pela Broliveira<br />

"é o justo reconhecimento


52<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

por um conjunto de esforços que tem<br />

vindo a demonstrar, com vista à crescente<br />

descarbonização das suas operações". "Vemos<br />

na Broliveira um exemplo inspirador de<br />

empenho continuado para alcançar níveis<br />

de sustentabilidade cada vez mais elevados.<br />

Acreditamos que seja estímulo à adoção de<br />

compromisso semelhante pelos seus parceiros<br />

e pelas cadeias de valor em que se insere. No<br />

que estiver ao nosso alcance, tudo faremos para<br />

apoiar”, conclui o responsável.<br />

PERSPETIVAS FUTURAS<br />

Consciente de que o seu setor é responsável<br />

por uma parte significativa das emissões de<br />

poluentes e gases de efeito estufa (GEE), a<br />

empresa destaca que se encontra sempre<br />

alerta à “vertente ambiental nos diversos<br />

processos que constituem e apoiam a nossa<br />

atividade". A adesão à iniciativa Lean&Green<br />

reflete o compromisso em demonstrar<br />

transparência e implementar medidas<br />

que a posicionem na vanguarda da busca<br />

pela pegada de carbono zero. No futuro,<br />

“a Broliveira dedicará todos os esforços na<br />

manutenção das medidas implementadas,<br />

aumentando o nível de exigência dos seus<br />

objetivos e melhorando a sua performance.<br />

Por outro lado, ficará atenta à evolução dos<br />

meios tecnológicos disponíveis no mercado,<br />

priorizando a modernização técnica e<br />

ambiental, aplicável à sua realidade”, com<br />

o objetivo de manter ou melhorar a sua<br />

classificação no programa Lean&Green. Com<br />

a implementação de medidas específicas e o<br />

compromisso contínuo com a sustentabilidade,<br />

a Broliveira destaca-se como uma empresa<br />

exemplar no esforço de redução das emissões<br />

de dióxido de carbono e na promoção de<br />

práticas mais sustentáveis no setor de<br />

transporte e logística. A conquista da primeira<br />

estrela Lean&Green é um marco importante<br />

para a empresa, que servirá como incentivo<br />

para que outras organizações adotem medidas<br />

semelhantes e se unam ao movimento da<br />

descarbonização. •<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


+12<br />

+12.000m2<br />

TRANSPORTE<br />

TERRESTRE<br />

TRANSPORTE<br />

AÉREO<br />

TRANSPORTE<br />

MARÍTIMO<br />

SERVIÇOS<br />

ADUANEIROS<br />

LOGÍSTICA<br />

www


54<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

SE OS SEUS<br />

PRODUTOS FOREM<br />

VIAJAR… LEVE O<br />

PASSAPORTE<br />

O Passaporte Digital de Produto (DPP na<br />

sigla inglesa) é uma iniciativa da Comissão<br />

Europeia que pretende a obrigatoriedade<br />

de um passaporte digital na venda de<br />

produtos, onde irá constar toda a informação<br />

relativa ao impacto digital, reciclabilidade<br />

e reparabilidade dos produtos, reforçando<br />

assim a rastreabilidade e a transparência dos<br />

produtos. A proposta foi apresentada no ano<br />

passado e ainda está em debate.<br />

Aproposta apresentada no ano passado<br />

para a implementação de um passaporte<br />

digital de produto ainda está em debate,<br />

mas espera-se um desenvolvimento para<br />

os próximos meses. Para além de trazer um<br />

maior controlo e visibilidade na cadeia de<br />

abastecimentos, em conformidade com o<br />

Pacto Ecológico Europeu.<br />

Algumas medidas propostas envolvem o<br />

tempo de vida dos produtos, contribuindo<br />

para a economia circular, dando acesso<br />

a questões adicionais de fim de vida dos<br />

produtos, reparabilidade e reciclagem,<br />

aplicando-se a bens físicos, como<br />

componentes e produtos intermediários.<br />

Os eurodeputados defendem ainda a<br />

TECNOLOGIAS<br />

Passaporte Digital<br />

de Produtos<br />

possibilidade de comparar passaportes<br />

através de uma plataforma digital, criando<br />

para tal um sistema de classificação de<br />

desempenho (por exemplo, de “A a G”),<br />

facilitando a comparação entre produtos da<br />

mesma categoria.<br />

A GS1 Portugal tem colaborado com<br />

a Comissão Europeia para assegurar a<br />

interoperabilidade dos passaportes digitais<br />

de produtos, e no início do ano, durante o<br />

GS1 Global Fórum, tiveram um momento<br />

dedicado ao tema, com o título “Show me<br />

your passport please!”. Neste momento, os<br />

oradores apresentaram o tema e refletiram<br />

sobre os objetivos e aplicação do DPP, os<br />

principais desafios inerentes à transposição<br />

para enquadramentos locais, evidenciando<br />

os desafios expectáveis ao longo das cadeias<br />

de valor, bem como relativos às incertezas<br />

políticas que decorrem do contexto mundial.<br />

Uma das ideias destacadas pelos profissionais<br />

foi a importância de “pensar de forma global<br />

e agir de forma local”.<br />

Como forma de contexto sobre o tema, em<br />

entrevista à SCM, João de Castro Guimarães,<br />

diretor-executivo da GS1 Portugal, explicou-<br />

-nos em maior detalhe em que consiste esta<br />

iniciativa, bem como alguns dos principais<br />

pontos a reter sobre o tema, como objetivos,<br />

benefícios, responsabilidades adicionais e<br />

legislação necessária.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Quais são os objetivos do Passaporte<br />

Digital de Produto?<br />

> João de Castro Guimarães – O Passaporte<br />

Digital de Produto é uma iniciativa<br />

comunitária que visa a rastreabilidade e<br />

transparência das cadeias de valor, com<br />

impacto determinante em sustentabilidade,<br />

em linha com o previsto no Pacto Ecológico<br />

Europeu. Prevê medidas que promovem a<br />

circularidade e reutilização de materiais<br />

integrados em produtos pela reintrodução<br />

segura, informada, nas cadeias de valor, com<br />

base na partilha de dados.<br />

Esta iniciativa é condição de cumprimento<br />

do previsto na proposta de um novo<br />

Regulamento sobre Conceção Ecológica de<br />

Produtos Sustentáveis, publicada em 30 de<br />

março de 2022. Desta iniciativa depende<br />

também a abordagem da Comissão Europeia<br />

relativamente a produtos mais circulares e<br />

sustentáveis do ponto de vista ambiental. A<br />

proposta baseia-se na Diretiva de Conceção<br />

Ecológica em vigor, criando o quadro<br />

que determina os requisitos de conceção<br />

ecológica aplicáveis a grupos específicos de<br />

produtos, melhorando a sua circularidade<br />

e desempenho energético. A proposta de<br />

Regulamento sobre Conceção Ecológica<br />

de Produtos Sustentáveis, que integra o<br />

Passaporte Digital de Produto, permitirá<br />

estabelecer requisitos de desempenho e de<br />

informação para quase todas as categorias<br />

de bens físicos colocados no mercado da<br />

União Europeia em matéria de durabilidade,<br />

reparabilidade, possibilidade de reutilização e<br />

de atualização do produto para versões mais<br />

avançadas, quanto à presença de substâncias<br />

que inibem a circularidade, eficiência<br />

energética e aproveitamento dos recursos,<br />

materiais reciclados, refabrico, pegada<br />

carbónica e pegada ambiental.<br />

Ao serem integrados num Passaporte<br />

Digital de Produto, estes requisitos de<br />

sustentabilidade ambiental ajudam os<br />

consumidores e as empresas a fazerem<br />

escolhas informadas quando adquirem


56<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

produtos ou quando os colocam no mercado.<br />

Para além disso, facilitam as reparações e a<br />

reciclagem e melhoram a transparência sobre<br />

os impactos do ciclo de vida dos produtos no<br />

ambiente.<br />

O Passaporte Digital de Produto contribui<br />

para a fiscalização e controlo pelas<br />

autoridades competentes da implementação<br />

do previsto no Regulamento, uma vez que<br />

agrega toda informação ambiental sobre o<br />

produto e a respetiva cadeia de abastecimento,<br />

disponibilizando-a a todas as partes<br />

interessadas. Ao promover a rastreabilidade e<br />

partilha de dados, promove a transição para<br />

uma economia circular.<br />

O Passaporte Digital de Produto aplica-se a<br />

qualquer bem físico, incluindo componentes e<br />

produtos intermediários colocados no mercado<br />

comunitário ou disponibilizados num serviço e,<br />

nesse sentido, impacta o comércio global.<br />

O que irá mudar e quais os benefícios<br />

que irá trazer para as empresas e para os<br />

consumidores?<br />

> O Passaporte Digital do Produto é<br />

fundamental para a transição da União<br />

Europeia para uma economia circular e<br />

disponibilizará a todas as partes interessadas<br />

informações sobre a sustentabilidade<br />

ambiental dos produtos.<br />

O objetivo é melhorar a rastreabilidade<br />

e a transparência ao longo de toda a<br />

cadeia de valor, melhorando a gestão e<br />

eficiência da partilha de dados, fator crítico<br />

de garantia de utilização sustentável dos<br />

produtos, prolongando a respetiva vida útil e<br />

circularidade.<br />

O Passaporte Digital de Produto beneficiará<br />

consumidores e empresas ao promover uma<br />

produção mais sustentável, estimulando o<br />

uso de materiais e energia que prolonguem<br />

a vida útil dos produtos e maximizem<br />

o seu desempenho. Para além disso, a<br />

adoção de modelos de economia circular<br />

promove modelos de negócios baseados na<br />

prestação de novos serviços, nomeadamente,<br />

de reparação e recondicionamento de<br />

equipamentos e produtos.<br />

Nesse sentido, o Passaporte Digital de<br />

Produto contribuirá para que os consumidores<br />

façam escolhas mais informadas e conscientes<br />

do ponto de vista do impacto ambiental,<br />

prevendo e monitorizando o impacto das<br />

respetivas opções.<br />

Para além disso, e em termos de fiscalização,<br />

permitirá a verificação do cumprimento dos<br />

requisitos legais, facilitando a validação da<br />

conformidade do produto pelas autoridades<br />

nacionais competentes.<br />

Quais as adaptações que as empresas terão<br />

de fazer nas suas cadeias de abastecimento?<br />

> O Passaporte Digital de Produto<br />

consubstancia a representação digital dos<br />

produtos físicos e apresenta os respetivos<br />

dados de impacto ambiental ao longo de seu<br />

ciclo de vida útil. Trata-se de uma ferramenta<br />

fundamental para a economia circular, pois<br />

permite que as empresas verifiquem, façam a<br />

gestão e melhorem o impacto ambiental dos<br />

seus produtos e, de modo mais global, o seu<br />

desempenho em sustentabilidade.<br />

Tendencialmente, as empresas procurarão<br />

apresentar produtos e serviços com<br />

caraterísticas e desempenho coerentes com<br />

os princípios de sustentabilidade, o que terá<br />

impacto nas respetivas cadeias de valor, na<br />

informação que os fornecedores terão de<br />

disponibilizar sobre os respetivos produtos e<br />

na integração e modelagem que as empresas<br />

fazem dessa informação.<br />

Os dados de impacto ambiental devem ser<br />

tratados como dados-mestre. Do ponto de<br />

vista das empresas, é crucial perceber quais<br />

os dados de cariz ambiental necessários para<br />

o Passaporte Digital do Produto e começar


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

a mapeá-los, para identificar as eventuais<br />

lacunas de informação. Note-se que a<br />

responsabilidade de garantir o rigor, a robustez<br />

e atualização dos dados do Passaporte é do<br />

operador económico que coloca o produto no<br />

mercado.<br />

Como se encontra o estado de deliberação<br />

sobre a aplicabilidade deste standard?<br />

> A Comissão Europeia está atualmente<br />

em processo de discussão dos detalhes do<br />

Passaporte Digital de Produto, esperam-se<br />

novidades nos próximos meses.<br />

Já existe uma previsão de uma possível<br />

data para a implementação?<br />

> Como pioneira na adoção de<br />

enquadramento regulamentar específico<br />

sobre esta matéria, a União Europeia prevê<br />

cobrir os primeiros grupos de produtos com<br />

regulamentação específica sobre o Passaporte<br />

Digital de Produto, aplicável a partir de 2026/<br />

2027, nomeadamente, no que se refere aos<br />

setores têxtil, baterias, eletrónica de consumo<br />

e materiais de construção, com a maior parte<br />

dos restantes produtos coberta até 2030.<br />

O Passaporte Digital de Produto deverá<br />

cobrir as cadeias de valor a nível global, uma<br />

vez que todos os produtos disponíveis no<br />

mercado comunitário vão ser afetados. Muitos<br />

elementos do Passaporte Digital de Produto<br />

estão ainda em aberto no Regulamento em<br />

discussão, em termos de âmbito de aplicação,<br />

tecnologia de suporte e dados.<br />

Qual é o papel da GS1 relativamente a este<br />

tema e que recomendações deixa às empresas<br />

portuguesas?<br />

> A GS1 Portugal tem colaborado com a<br />

Comissão Europeia e demais instituições<br />

comunitárias nas múltiplas dimensões<br />

equacionadas pelo Regulamento que enquadra<br />

o Passaporte Digital de Produto.<br />

Para GS1, a nível global, e para a GS1<br />

Portugal, em particular, é importante<br />

assegurar a interoperabilidade dos Passaportes<br />

Digitais de Produtos, dos diferentes setores<br />

de atividade abrangidos, nomeadamente em<br />

relação aos aspetos técnicos, semânticos<br />

e organizacionais de interoperabilidade,<br />

comunicação e transferência de dados ao<br />

longo de toda a cadeia de abastecimento.<br />

A proposta de Regulamento faz várias<br />

referências a standards globais e abertos. A<br />

GS1 propõe-se colocar os seus standards ao<br />

serviço das necessidades da indústria e dos<br />

reguladores no âmbito desta iniciativa.<br />

A identificação única dos produtos é<br />

um elemento fundamental para permitir<br />

a rastreabilidade em toda a cadeia de<br />

abastecimento. Portanto, o passaporte<br />

do produto deve estar vinculado a um<br />

identificador único do produto, reconhecido a<br />

nível global.<br />

Além disso, quando apropriado, o passaporte<br />

deve permitir a rastreabilidade dos operadores<br />

económicos e instalações de produção<br />

relacionados com esse produto. A fim de<br />

garantir a interoperabilidade, os identificadores<br />

únicos do operador e os identificadores únicos<br />

das instalações que permitem a rastreabilidade<br />

devem ser divulgados de acordo com as<br />

normas internacionalmente reconhecidas.<br />

As empresas podem começar a preparar-se<br />

para a introdução do Passaporte Digital de<br />

Produto, elegendo um elemento da equipa<br />

responsável para o acompanhando do tema,<br />

nomeadamente em relação às consultas<br />

da Comissão Europeia, aos atos delegados<br />

adotados, e aos desenvolvimentos em relação<br />

à categoria do seu produto.<br />

Para além disso, podem rever as práticas<br />

de sustentabilidade e começar a agrupar e<br />

centralizar informação relevante, analisando<br />

e aprendendo com as empresas que estão a<br />

testar a implementação do Passaporte Digital<br />

de Produto. •


58<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Silicon Valley Bank<br />

Texto: Fábio Santos<br />

"UMA MORTE<br />

ANUNCIADA"<br />

No dia 10 de março de <strong>2023</strong>, o mundo<br />

recebeu a notícia da falência de um<br />

importante banco a nível global. Antes do<br />

seu colapso, o Silicon Valley Bank era o 16.º<br />

maior banco dos EUA, estando o valor dos<br />

seus ativos avaliado em cerca de 212 mil<br />

milhões de dólares, não muito longe do<br />

PIB português em 2020. O banco tinha-se<br />

especializado no setor de start-<br />

-ups de tecnologia, no entanto, não estava<br />

preparado para a corrida bancária que se<br />

verificou.<br />

U<br />

ma corrida bancária dá-se quando um<br />

grande número de clientes de um banco<br />

retira os seus depósitos, o que normalmente<br />

ocorre quando existem sinais de que o banco<br />

possa declarar insolvência. Se a determinado<br />

momento já existem dificuldades financeiras,<br />

assim que os clientes começam a retirar em<br />

massa os seus fundos, é só uma questão de<br />

tempo até se dar realmente a insolvência.<br />

Este banco era um dos principais fundos das<br />

start-ups tecnológicas, tendo financiado cerca<br />

de metade das empresas norte-americanas<br />

de tecnologia e saúde apoiadas por capital de<br />

risco, e apoiava empresas iniciantes, o que nem<br />

todos aceitariam devido ao elevado risco.<br />

Mario Martínez-Jurado, fundador e CEO da<br />

Vonzu, explica em entrevista à SCM que “apesar<br />

de, logicamente, a falência do Silicon Valley<br />

Bank ter vindo afetar o funcionamento de<br />

inúmeras start-ups, não só a nível europeu, tal<br />

acontecimento era já uma morte anunciada”.<br />

Enquanto responsável por uma empresa do<br />

setor, considera inevitável a preocupação<br />

que sente por este acontecimento, e não<br />

apenas pelo seu negócio, mas “para todo o<br />

ecossistema”.<br />

“Vimos desaparecer um importante agente<br />

de financiamento da indústria, que apoiava<br />

inúmeras entidades. Perante todo este cenário,<br />

uma coisa é certa: começa agora uma nova era<br />

para o mundo das start-ups”, destaca Mario<br />

Martinez-Jurado, afirmando que “muitas serão<br />

as start-ups que não irão sobreviver”.<br />

Baseando-se nos dados da Y Combinator,<br />

incubadora e aceleradora de start-ups, conta


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

que “estima-se que o congelamento das<br />

verbas depositadas no Silicon Valley Bank por<br />

parte de alguns negócios pertencentes à sua<br />

comunidade poderia impactar o processamento<br />

de salários, bem como o pagamento de contas<br />

de mais de 10 mil empresas e start-ups.<br />

O impacto é grande, e nunca houve dúvidas de<br />

que assim seria”.<br />

Apesar de não considerar totalmente<br />

verdadeira a ideia de que todas as empresas<br />

necessitassem do investimento para<br />

continuarem a crescer, assume que algumas


60<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

possam mesmo “ficar pelo caminho”, mas<br />

que mesmo os que sobrevivam, “terão<br />

inevitavelmente de ajustar os seus planos de<br />

negócio e, principalmente, reavaliar aquele<br />

que consideram ser o seu valor perante uma<br />

nova realidade que se está a construir”.<br />

Nesse mesmo sentido, olhando para os<br />

investimentos que as empresas têm feito,<br />

defende que “é importante ter em mente<br />

que reduções no financiamento não podem<br />

influenciar o serviço que prestamos aos<br />

nossos clientes finais e a perceção que estes<br />

têm acerca do negócio”, como é o caso do<br />

investimento em sustentabilidade e na<br />

redução da pegada ambiental.<br />

“Qualquer empresa que procure alcançar<br />

o sucesso tem de procurar adaptar as suas<br />

operações e estar consciente do impacto<br />

que tem no meio ambiente. O público está<br />

cada vez mais exigente e procura opções que<br />

permitam ao máximo a redução da sua pegada<br />

ambiental”, afirma Mario Martínez-Jurado,<br />

“acredito que se trata de saber gerir as<br />

prioridades. Neste momento, tendo em conta<br />

a emergência climática, bem como as atuais<br />

metas de descarbonização cada vez mais<br />

ambiciosas e sérias, a transição verde não me<br />

parece algo que possa ser colocado de parte ou<br />

adiado sem quaisquer constrangimentos”.<br />

UM BANCO DE ELEIÇÃO<br />

A especialização do Silicon Valley Bank<br />

nas start-ups de tecnologia levou muitos<br />

empreendedores e investidores a optar<br />

por este banco, que iria oferecer serviços<br />

financeiros ajustados a esta indústria.<br />

“A verdade é que, aos dias de hoje, este era<br />

efetivamente o banco de eleição para start-<br />

-ups, não só nos EUA, como um pouco pelo<br />

mundo inteiro. Diria que o principal fator<br />

diferenciador foi efetivamente possuir um<br />

foco muito grande em indústrias tecnológicas<br />

de rápido crescimento. Isto significa que<br />

beneficiava de uma poderosa rede de fundos/<br />

sociedades de capital de risco, investidores e<br />

empresas que adotaram este banco como o<br />

principal intermediário em várias etapas de<br />

desenvolvimento de negócio”, explica Mario<br />

Martínez-Jurado.<br />

Olhando para o impacto para as cadeias<br />

de abastecimento, considera que não se irá<br />

sentir negativamente ao nível do volume de<br />

entregas ou de rotas de distribuição, pois “a<br />

tendência é exatamente o oposto”, mas sim<br />

nalgumas empresas por detrás das cadeias de<br />

abastecimento, como é o caso da Vonzu.<br />

A Vonzu também sentiu alguma<br />

repercussão, no entanto, de forma indireta,<br />

mas destaca que “a ação rápida do sistema<br />

financeiro para absorver os danos causados<br />

pelo Silicon Valley Bank e dar a todos os<br />

lesados o apoio que necessitavam, ajudou<br />

bastante todo o ecossistema de start-ups à<br />

escala global”.<br />

“Perante o atual cenário de crise económica<br />

que atravessamos, a juntar a este mais recente<br />

acontecimento, diria que não se avizinham<br />

tempos fáceis e que é profundamente<br />

necessário adaptarmos a forma como<br />

trabalhamos, de modo a conseguirmos<br />

continuar a prosperar no setor da logística<br />

e distribuição, onde somos especialistas”,<br />

defende ainda o fundador e CEO da Vonzu.<br />

Apesar de tudo, Mario Martínez-Jurado<br />

mostra-se positivo em relação às perspetivas<br />

futuras, e confiante de que o negócio<br />

continuará a crescer, afirmando que “vamos<br />

começar a era dos negócios reais, dos<br />

negócios que criam receitas, geram lucro,<br />

são capazes de dar dividendos aos seus<br />

investidores e, mesmo assim, sobreviver de<br />

forma sustentável”. •


SEMPRE AO<br />

LADO DOS<br />

NOSSOS<br />

CLIENTES<br />

Na MERLIN, respondemos às<br />

necessidades dos nossos clientes<br />

com soluções à medida e um<br />

serviço completo.<br />

Promovemos a inovação e a<br />

sustentabilidade para<br />

desenvolver ativos logísticos<br />

modernos, eficientes e de alta<br />

qualidade, acompanhando os<br />

nossos clientes ao longo do seu<br />

desenvolvimento logístico.<br />

merlinproperties.com


62<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

SAP<br />

Texto: Fábio Santos<br />

O FUTURO<br />

ESTÁ NA REDE<br />

As disrupções nas cadeias de abastecimento<br />

surgem de forma cada vez mais inesperada,<br />

e por muito que possamos prever eventos,<br />

é sempre necessário mais, tanto para<br />

antecipar como para reagir. A tecnologia<br />

tem dado grandes passos de forma a ajudar<br />

as empresas a responder de forma cada<br />

vez mais eficaz, e tem sido esta a criar a<br />

diferenciação nos negócios. Chamando as<br />

coisas pelos nomes corretos: a tecnologia<br />

tem sido a verdadeira parceira das empresas.<br />

D<br />

igital. É provavelmente esta a palavra que<br />

marca este século. Os processos manuais<br />

estão a ser transferidos não apenas para a<br />

automatização, mas também para a automação,<br />

sendo que as pessoas ganham competências<br />

novas e diferentes. Todos os conhecimentos de<br />

processos que adquiriram durante vários anos<br />

são agora reaproveitados, não para a fabricação,<br />

mas para o controlo de produtos e de máquinas,<br />

que assumem estas operações complexas, e<br />

ao mesmo tempo que aliviam os operadores<br />

de trabalhos complexos e de cargas pesadas,<br />

também minimizam o erro humano. Acaba por<br />

funcionar como uma parceria.<br />

Dominik Metzger, Global VP – head of SAP<br />

digital supply chain - Plan to Fulfill, SAP Product<br />

Engineering, é o responsável pela gestão de uma<br />

linha de negócios de desenvolvimento global,<br />

desde soluções inovadoras para uma supply<br />

chain digital, como design, gestão de produto,<br />

engenharia e co-inovações de clientes para todos<br />

os produtos dentro da linha de negócios. Em<br />

entrevista à SCM, o responsável global fala-<br />

-nos sobre o estado do setor e como a inovação<br />

tecnológica tem dado este apoio às empresas,<br />

bem como a estratégia da SAP para os próximos<br />

anos.<br />

“Tenho observado, especialmente nos<br />

últimos três a quatro anos, como a cadeia de<br />

abastecimentos de repente se tornou um tópico<br />

realmente importante na maioria das indústrias”,<br />

começa por notar o responsável. Olhando para<br />

a digitalização das empresas, considera que se<br />

torna cada vez mais uma exigência para entrar


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

nos mercados, e para se tornarem competitivas<br />

face à concorrência, ao invés de apenas por uma<br />

necessidade interna.<br />

Recentemente, receberam os resultados de<br />

um estudo feito em conjunto com a Oxford<br />

Economics, pois pretendiam ter alguma<br />

informação relativamente à estratégia de<br />

investimento em colaboração, ou em redes de<br />

negócios, e como é vista pelos seus clientes ou<br />

por empresas que não trabalham com software<br />

da SAP. “Esse foi um estudo realizado com<br />

clientes SAP e não SAP. E o que resultou é que<br />

mais de 50% das empresas veem a colaboração<br />

no ecossistema como crítica”, aponta Dominik<br />

Metzger.<br />

Uma das missões da SAP é colocar as partes<br />

em contacto, criando “redes de negócio”: “trata-<br />

-se essencialmente de ajudar os nossos clientes<br />

a conectarem-se melhor com fornecedores de<br />

materiais, fornecedores de componentes de<br />

matéria-prima como parte dos seus processos<br />

de aquisição, mas também conectar prestadores<br />

de serviços de logística, que obviamente<br />

desempenham um papel crítico”.<br />

Dominik Metzger, Global VP – Head of SAP Digital Supply Chain<br />

Uma das soluções da SAP que ajuda nesta<br />

comunicação, coordenação e cooperação entre<br />

as partes é o SAP Design-to-operate (D2O), que<br />

“representa todo o processo PLM” (gestão do<br />

ciclo de vida do produto), criando um processo<br />

da cadeia de abastecimentos interoperável,<br />

conectado e end-to-end, desde como um produto<br />

é projetado, fabricado, entregue e mesmo como<br />

opera e é mantido. “Podemos antecipar


64<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

a demanda, fornecer e combinar os dois”,<br />

acrescenta, “o fabrico é um grande pilar para nós,<br />

mas também todo o domínio das operações de<br />

ativos e operações de manutenção”. Ao nível da<br />

logística, isto envolve também as operações de<br />

armazenamento ou de transporte.<br />

“Para nós, a colaboração estende-se por<br />

todo o portfólio das nossas soluções, onde<br />

nós permitimos que os nossos aplicativos<br />

de negócios forneçam a possibilidade de se<br />

conectar a um parceiro”, e isto vai desde os<br />

próprios parceiros de serviço aos fabricantes<br />

originais. “O que é uma grande prioridade para<br />

nós nesses pilares é realmente investir em<br />

recursos de colaboração mais fortes”, defende.<br />

muito a conexão dessas empresas à nossa<br />

rede, seja para aquisição de materiais ou para<br />

aquisição indireta”, explica Dominik Metzger.<br />

No entanto, o mais difícil é chegar às PME,<br />

sendo que algumas nem possuem um ERP, e<br />

por não serem tão digitalizadas, é mais difícil<br />

conectarem-se com elas. “Esta é uma área<br />

em que investimos, digamos, em tecnologias<br />

diferentes, como a capacidade de conectar<br />

até mesmo com estes fornecedores menores”,<br />

aponta. Uma forma de chegarem a estas<br />

empresas é, por exemplo, através de um portal<br />

web. “Podemos não ter interfaces diretas com<br />

o ERP, mas ainda permitimos que eles acessem<br />

um portal da web, através de um site normal”.<br />

CONECTIVIDADE PARA TODOS<br />

Uma das formas de apoiar esta colaboração<br />

entre os utilizadores é através do SAP Partner<br />

Ecosystem, um sistema de business network<br />

colaborativo para apoiar os seus clientes na<br />

transição digital, facilitando a comunicação e o<br />

fluxo de informação entre as partes. “Para mim,<br />

existem diferentes elementos para dizer como<br />

alavancamos o nosso ecossistema. Acho que a<br />

primeira é que existe uma grande quantidade<br />

de empresas que já utilizam um sistema SAP<br />

ERP, então temos milhares de clientes que já<br />

usam uma versão do nosso ERP, o que facilitou<br />

Enquanto exemplo recente da indústria<br />

automotiva, o Catena-X é um projeto que veio<br />

padronizar a forma como a SAP integra as<br />

pequenas e médias empresas. O responsável<br />

destaca que “pelo menos mais de 80% de<br />

todos os materiais e componentes que acabam<br />

num carro acabado não são produzidos por<br />

um fornecedor de tier 1. Eles são produzidos<br />

por fornecedores menores, de tier n, portanto,<br />

padronizar a maneira como podemos comunicar,<br />

e como podemos integrar qualquer aplicação<br />

do género ERP, é uma parte importante do<br />

Catena-X, para permitir que estas empresas<br />

mais pequenas se conectem no ecosistema”, e


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

que considera que esse será, provavelmente,<br />

o aspeto mais importante ao falar sobre como<br />

construíram esse ecossistema de parceiros para<br />

habilitar as suas aplicações.<br />

Ao nível dos desafios, Dominik Metzger<br />

nota que “não é tanto uma questão de<br />

tecnologia, mas mais uma questão de<br />

negócios”, e mantendo o exemplo sentido com<br />

o Catena-X, explica que a indústria automotiva<br />

tradicionalmente otimiza o seu lucro através de<br />

preços de compra com margens mais apertados<br />

com os seus fornecedores, e que durante<br />

décadas, otimizaram a forma como produzem e<br />

compram para obter os melhores preços, com<br />

a melhor qualidade, dos seus fornecedores.<br />

“Eles usam dados para negociar com mais força,<br />

para obter melhores acordos contratuais, mas<br />

os últimos três anos mostraram que mesmo<br />

que tenhamos os melhores contratos, para a<br />

melhor qualidade, para os melhores preços de<br />

um fornecedor, se esse fornecedor não conseguir<br />

obter as suas próprias matérias-primas, ou<br />

houver um bloqueio no Canal do Suez, não<br />

conseguimos produzir”.<br />

Após esta mudança de paradigma, nota que<br />

os ganhos de eficiência e as formas de melhorar<br />

as margens começaram a esgotar-se, e defende<br />

que os dados não devem ser usados como<br />

uma “arma” para um fornecedor maior obter<br />

melhores taxas de um fornecedor menor, mas<br />

na verdade para colaborar. “Esse é o desafio<br />

mais difícil: mudar essa mentalidade de que não<br />

estamos mais a usar os dados para desafiar os<br />

outros, mas sim para gerar valor em conjunto”,<br />

defende, “usar dados para colaborar, para<br />

mitigar alguns riscos, e para nos ajudarmos uns<br />

aos outros”.<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

A sustentabilidade é um dos três grandes<br />

pilares da SAP, e a partilha dos dados também<br />

é importante para as empresas conseguirem<br />

ter uma visão mais completa das suas emissões<br />

e da sua pegada carbónica. “As empresas têm<br />

de ser capazes de reportar as suas emissões<br />

de carbono em determinados países para<br />

determinados produtos, para obter visibilidade,<br />

e para entender quais são as suas pegadas<br />

carbónicas. Mas esse relatório não reduz a<br />

pegada de carbono”, destaca Dominik Metzger,<br />

“a nossa estratégia é consciencializar, e auxiliar<br />

na tomada de decisão, em torno das dimensões<br />

da sustentabilidade”.<br />

Têm incorporados KPIs de sustentabilidade,<br />

bem como de outras áreas importantes, como<br />

a responsabilidade social, onde é possível<br />

o cliente comparar fornecedores, tendo em<br />

conta as métricas que procuram, avaliando o<br />

risco, a relação preço-qualidade, preocupação<br />

ambiental, etc. “Levar essas informações para<br />

o tomador de decisão do negócio é o que eu<br />

chamo de operacionalizar a sustentabilidade”,<br />

comenta o head of digital supply chain. Esta<br />

foi uma medida que adotaram na área de<br />

procurement, mas também no planeamento da<br />

cadeia de abastecimentos.<br />

RESILIÊNCIA<br />

Nos próximos anos, uma das áreas em que a<br />

SAP mais vai investir será em ajudar as empresas<br />

a tornarem-se mais resilientes ao risco, apoiando-<br />

-as nesta área mais estratégica.


66<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

“Temos um plano de implementação pela<br />

frente para os próximos anos, para habilitar<br />

cada vez mais essa colaboração em rede nas<br />

nossas aplicações”, explica, mas acrescenta<br />

que “para se tornar verdadeiramente<br />

resiliente ao risco, há uma outra grande área<br />

na qual estamos a investir, que é em ajudar<br />

a sincronizar os seus planos de supply chain<br />

com a execução. Muitos dos nossos clientes já<br />

têm uma capacidade mais ou menos forte de<br />

antecipar a demanda, através de ferramentas<br />

de previsão, e têm a possibilidade de planear<br />

o abastecimento, mas onde a maioria<br />

das empresas erra é em sincronizar esse<br />

planeamento com a execução, implementando<br />

as previsões na produção”.<br />

Dominik Metzger reforça a ideia de que<br />

é necessário que as empresas sejam ágeis<br />

nas suas cadeias de abastecimento, para que<br />

quando surja uma disrupção que impeça o<br />

abastecimento, consigam ter a transparência<br />

necessária e reagir rapidamente, e “isso não<br />

acontece apenas uma vez por mês, acontece<br />

todos os dias”.<br />

Novas e avançadas tecnologias, como<br />

inteligência artificial ou machine learning,<br />

terão um papel importante para alcançar esta<br />

finalidade, e destaca como principais exemplos<br />

a rede, ou a capacidade de conectar empresas;<br />

a computação em nuvem, permitindo a<br />

integração e dimensão das operações com<br />

maior rapidez; e a inteligência artificial.<br />

Num olhar para o estado das cadeias de<br />

abastecimento, e para onde estas se dirigem,<br />

Dominik Metzger considera que apesar da<br />

situação vivida recentemente com a pandemia<br />

de COVID-19, envolvendo uma adaptação para<br />

o nearshoring de modo a reduzir os riscos<br />

de abastecimento, “ainda há muito valor na<br />

globalização”.<br />

O head of supply chain aponta que a maioria<br />

das empresas com quem tem tido contacto<br />

reconhece que precisam de se tornar mais<br />

inteligentes na forma como aproveitam as<br />

vantagens da globalização, e que “tornar-se<br />

consciente do risco e resiliente a interrupções<br />

é um paradigma completamente novo que as<br />

empresas terão de enfrentar nos próximos 10<br />

anos”.<br />

Ao nível das tendências e dimensões,<br />

destaca que as empresas falam muito de<br />

ERP (Enterprise Resource Planning), mas<br />

acredita numa ótica de NRP: Network<br />

Resource Planning. “Acho que nas próximas<br />

décadas este será o novo normal, em que as<br />

empresas não planeiam apenas dentro de<br />

suas próprias quatro paredes, mas desde o<br />

início da cadeia, considerando as restrições<br />

de seu ecossistema”, e a inteligência artificial<br />

e o machine learning irão ser essenciais para<br />

dar este suporte, e para que o ecossistema<br />

funcione em rede. •


68<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTES<br />

Porto de Sines<br />

Texto: Fábio Santos<br />

UM DESAFIO<br />

CHAMADO NEXUS<br />

Liderada pela Administração dos Portos de<br />

Sines e do Algarve (APS), a Agenda Nexus<br />

é um projeto que visa a transição digital<br />

e ecológica do setor dos transportes e da<br />

logística, através do desenvolvimento de<br />

28 novos produtos e serviços, em áreas<br />

inovadoras e diferenciadoras, como open<br />

data, IA, 5G, cibersegurança, ou mesmo<br />

modelos e algoritmos preditivos para a<br />

gestão de recursos energéticos. Com José<br />

Luís Cacho espreitámos o futuro.<br />

Trata-se de um consórcio composto por 35<br />

organizações representativas da cadeia<br />

de valor, como exportadores, operadores<br />

logísticos e de transporte, bem como empresas<br />

vocacionadas para exportar tecnologia e<br />

entidades não empresariais do Sistema de<br />

I&I (ENESII). Pelo seu impacto, não apenas na<br />

cadeia logística associada ao Porto de Sines,<br />

mas mesmo nacional e internacional, é um dos<br />

projetos selecionados no âmbito das Agendas<br />

Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do<br />

Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tendo<br />

obtido um incentivo de 59 milhões de euros para<br />

o seu desenvolvimento.<br />

Em entrevista à SCM, José Luís Cacho,<br />

presidente da APS, explicou-nos em maior<br />

detalhe o projeto Nexus, os seus objetivos e<br />

metas, benefícios para o ecossistema que dele<br />

faz parte, bem como o impacto da transição<br />

digital e da descarbonização nos processos<br />

portuários e nos serviços a eles associados.


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

José Luís Cacho, presidente da APS<br />

PORTO SEM PAPEL<br />

A desmaterialização de processos do Porto de<br />

Sines teve início em 2005, à data, com a Janela<br />

Única Portuária (JUP). Foi um processo que teve<br />

como objetivo a interligação de todos os agentes<br />

numa única plataforma, permitindo que agissem<br />

de forma conectada, digitalmente. José Luís<br />

Cacho recordava que “foi algo bastante inovador,<br />

estávamos na linha de frente da tecnológica<br />

a nível portuário. A JUP significava dentro de<br />

todo o universo portuário, toda a comunidade<br />

portuária, todos os atores públicos, privados,<br />

a interagir numa plataforma eletrónica, no<br />

procedimento de todas as mercadorias. Que é o<br />

que vulgarmente dizemos, um porto sem papel”.<br />

Mais recentemente, em 2017 começaram a<br />

trabalhar na Janela Única Logística (JUL), um<br />

projeto da Associação dos Portos de Portugal<br />

(APP) que foi uma evolução do que já tinham<br />

com a JUP. “Foi a ferramenta tecnológica dos<br />

portos”, explica, “a JUL é a evolução. Estender<br />

todo aquele universo portuário, toda a cadeia<br />

logística, para integrar toda a cadeia logística dos<br />

portos dentro do universo do porto, do universo<br />

da cadeia de abastecimento e da cadeia de<br />

distribuição, de todos os corredores logísticos,<br />

onde integram os operadores ferroviários, os<br />

operadores rodoviários, todos os atores que<br />

intervêm ao longo desse processo, os operadores<br />

logísticos, e, finalmente, com o destino de<br />

chegar aos próprios carregadores, portos secos,<br />

plataformas, e se integrarem todos dentro da<br />

JUL”.<br />

José Luís Cacho explica que este foi um<br />

processo evolutivo normal, que manteve o<br />

Porto de Sines na linha da frente, mesmo a nível<br />

europeu.<br />

O Nexus, por sua vez, teve uma perspetiva<br />

diferente. Durante a pandemia, o Porto de Sines<br />

olhou para o seu plano estratégico, e apercebeuse<br />

de que era uma oportunidade interessante,<br />

com grandes desafios. Após o encerramento<br />

da central termoelétrica de Sines, que<br />

representava cerca de 15% da atividade do porto,<br />

e com a estratégia europeia e mundial para a<br />

descarbonização da economia, a representar<br />

um risco muito grande por 70% da atividade do<br />

porto estar dependente das energias fósseis, foi<br />

necessária “uma reflexão estratégica profunda,<br />

num trabalho muito interessante”.<br />

PLANO AMBICIOSO<br />

José Luís Cacho descreve que o projeto<br />

Nexus, à data, era “um plano estratégico muito<br />

ambicioso”, e com “uma abordagem inovadora<br />

e diferente”. Estudaram o desenvolvimento da<br />

cadeia logística, com um conjunto de ações<br />

muito importantes ao nível da descarbonização<br />

e da digitalização do porto, envolvendo todos os<br />

intervenientes da cadeia.<br />

“Entretanto, surge o PRR, e surgem as agendas<br />

do PRR, também com um conjunto de desafios,<br />

de oportunidades, que nós entendemos como<br />

estando perfeitamente alinhado com as ações<br />

que nós queremos como plano estratégico.<br />

Olhámos para o PRR, com as agendas como


70<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

anies<br />

senting the<br />

hain<br />

nsortium<br />

uma ferramenta que vai operacionalizar e ajudar-<br />

-nos mais rapidamente a acelerar todas as ações<br />

que estão no nosso plano estratégico. Este, de<br />

facto, é o caminho”, afirma.<br />

Apresentaram o projeto, e procuraram agregar<br />

um conjunto de empresas para integrar o plano,<br />

que estivessem alinhadas com os seus objetivos<br />

e que fizessem sentido de constar neste<br />

ecossistema. Convidaram desde carregadores,<br />

empresas tecnológicas, ou universidades,<br />

a olharem para o corredor logístico e a<br />

descarbonizá-lo e a digitalizá-lo, e a verem “o<br />

projeto como uma ferramenta importante para a<br />

competitividade de todo o corredor”.<br />

Ao todo, reuniram um conjunto de 35<br />

entidades. “Toda a cadeia do corredor logístico<br />

de Sines entrou para este projeto”, afirma,<br />

contando com carregadores, o operador do<br />

terminal de contentores, operadores rodo<br />

e ferroviários, empresas tecnológicas e<br />

universidades.<br />

José Luís Cacho explica que “é um grande<br />

consórcio de entidades, que tem o objetivo de<br />

produzir, dentro daquilo que necessitam, um<br />

conjunto de ferramentas do âmbito digital, da<br />

descarbonização, da energia, e de experiência<br />

agrária de energia, que se associaram ao projeto”.<br />

A avaliação do projeto contou com um<br />

júri internacional, e “teve uma excelente<br />

classificação”, estando agora a trabalhar neste<br />

projeto de desenvolvimento. “Nós somos<br />

coordenadores do consórcio, destas 35 entidades,<br />

da qual fazemos parte. Naturalmente que temos<br />

interesse, porque o projeto assenta no corredor<br />

logístico de Sines”, nota.<br />

Ao nível do estado de maturação do projeto, o<br />

presidente da APS destaca que “o Nexus, neste<br />

momento, está a arrancar. O projeto começou<br />

em desenvolvimento há poucos meses, está<br />

em fase de arranque e está a arrancar bem.<br />

Temos uma equipa permanente dedicada ao<br />

acompanhamento do projeto,”.<br />

O presidente da APS destaca que um dos<br />

compromissos do Nexus é que todos possam<br />

usufruir deste desenvolvimento tecnológico a<br />

nível nacional, e que, como tal, outros portos<br />

nacionais também poderão adaptar o projeto<br />

aos seus hinterlands. “Tudo aquilo que viemos a


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

produzir com o Nexus podemos partilhar com os<br />

outros portos nacionais. Não temos a ambição<br />

de não produzir, de facto temos condições para<br />

o fazer, melhores, talvez, mas tudo aquilo que<br />

vier a ser produzido, os outros portos vão ter<br />

a oportunidade também de partilhar. É nesta<br />

perspetiva que trabalhamos. Olhamos para<br />

o projeto como um todo. E uma perspetiva<br />

colaborativa, como sempre temos. E o objetivo,<br />

de facto, é o desenvolvimento”.<br />

INTERLIGAÇÃO DO ECOSSISTEMA<br />

José Luís Cacho explica que existe um<br />

conjunto de projetos específicos, alinhados em<br />

função daquilo que forem as necessidades e o<br />

interesse de cada um. “Tem áreas desde smart,<br />

dinamização das plataformas, data science,<br />

intelligence, ou componentes puramente<br />

tecnológicas e de desenvolvimento de<br />

plataformas, cibersegurança… da parte do porto<br />

de Sines, nós estamos na parte da plataforma,<br />

na questão do desenvolvimento, da recolha, do<br />

tratamento de informação que nos é dado por<br />

estas ferramentas, e otimizar todo o corredor<br />

digital logístico”, detalha.<br />

A interligação deste ecossistema criou<br />

uma maior conectividade de serviços<br />

complementares, facilitando a comunicação<br />

entre diversos agentes da cadeia, como é o<br />

caso da multimodalidade no transporte, entre<br />

operadores rodoviários, ferroviários e logísticos.<br />

“Facilita a criação de uma perspetiva comum,<br />

obriga a olhar todos em conjunto, e aproxima<br />

todos os intervenientes da cadeia logística”.<br />

O 5G também é uma ferramenta importante<br />

para operacionalizar todo o conjunto de serviços<br />

do porto, bem como para otimizar, por exemplo,<br />

a automação e desenvolvimento, e “isso vai<br />

ajudar a acelerar os processos de automatização<br />

no conjunto de serviços que são prestados em<br />

porto”, como é o caso da logística.<br />

O interesse do projeto não toca apenas no<br />

hinterland, mas também no foreland. Olhando<br />

um pouco para fora da própria cadeia de<br />

abastecimento, nota que a nível externo o<br />

projeto também traz desafios interessantes,<br />

nomeadamente na conectividade do porto com<br />

toda a cadeia externa. “Nós estamos nos


72<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

portos com que estamos ligados. Portanto, todos<br />

estes corredores que envolvem os armadores,<br />

que envolvem os portos de destino e todas essas<br />

entidades, este é o maior desafio. É um desafio<br />

importante e isso nós também pretendemos e<br />

temos, enquanto um dos objetivos do Nexus”.<br />

De modo a conseguirem escalar a plataforma<br />

a nível global, avança que vão contactar um<br />

conjunto de entidades que estão na linha da<br />

frente a nível mundial no desenvolvimento<br />

destas ferramentas. “É preciso ver que o Porto<br />

de Sines tem uma conectividade a uma escala<br />

global importante, e nós estamos a procurar<br />

tirar valor disso em várias perspetivas, ao<br />

captar investimento internacional para projetos<br />

industriais e logísticos aqui em Sines, e já temos<br />

investimentos de 20 mil milhões previstos,<br />

projetos industriais e logísticos”, avança.<br />

SUSTENTABILIDADE OPERACIONAL<br />

Não só estão a surgir grandes investimentos<br />

locais ligados a energias verdes, muitos deles<br />

atraídos pelo próprio porto, como também<br />

este conta com vários projetos ligados à<br />

sustentabilidade. “Há muitos projetos aqui<br />

das energias verdes, e também até na zona<br />

industrial e logística. As próprias empresas hoje<br />

já têm projetos de produção própria de energia<br />

e até nós estamos a arrancar, e até o final deste<br />

ano esperamos ter 6 megawatts de energia<br />

solar a produzir, e esperamos ter essa produção<br />

a funcionar a partir do início do próximo ano”.<br />

Até dentro de três anos o porto tenciona<br />

estar totalmente independente, e toda a<br />

energia consumida do porto ser produzida<br />

internamente, energia verde. Este objetivo seria<br />

atingido através de energia solar e eólica. “Nós<br />

estamos a criar uma comunidade de energia<br />

com a Câmara de Sines, com a AICEP Global<br />

Parques e com todas as indústrias. Ou seja, tudo<br />

aquilo que produzirmos em excesso, podemos<br />

vender”, explica José Luís Cacho, apostando<br />

não apenas na sustentabilidade das próprias<br />

operações, mas também dos meios envolventes<br />

locais.<br />

O porto também está a desenvolver uma<br />

ferramenta que permita monitorizar todos os<br />

processos evolutivos da descarbonização, para<br />

que as empresas consigam perceber quais os<br />

seus impactos negativos para o ambiente e<br />

o que conseguem melhorar, ou o que estão<br />

a melhorar. “O objetivo é que o Porto esteja<br />

totalmente descarbonizado antes daquilo<br />

que está estabelecido nos objetivos da União<br />

Europeia”.<br />

PERSPETIVAS POSITIVAS<br />

A guerra também na Ucrânica também<br />

impactou o Porto de Sines, mas o presidente<br />

da APS mostra-se confiante a curto prazo, e<br />

destaca que “as perspetivas para este ano são<br />

ligeiramente melhores que no ano passado, mas<br />

as perspetivas para o ano são muito boas”.<br />

Face aos constrangimentos pelos quais<br />

tiveram de passar nos últimos anos, José Luís<br />

Cacho nota que “tivemos de acelerar, trabalhar<br />

muito para captar novos investimentos, novos<br />

negócios, e ao mesmo tempo descarbonizar e<br />

digitalizar, é tudo um desafio muito grande”.<br />

Ao nível do projeto, destaca que este poderá<br />

trazer vantagens não apenas para os próprios<br />

envolvidos, mas também a nível nacional,<br />

e que “o objetivo é criar mais eficiência e<br />

competitividade na logística do nosso país, e<br />

com isso contribuir para o melhor desempenho<br />

da nossa economia, na escala nacional”.<br />

“A partir do ano 2024 nós acreditamos<br />

que vamos continuar a crescer segundo o<br />

que estávamos a prever dentro do nosso<br />

cronograma antes da pandemia, e antes da<br />

guerra. Queremos retomar esse processo a<br />

partir de 2024, e o Nexus é uma ferramenta<br />

importante para nos ajudar”, conclui o<br />

responsável. •


CARREIRA<br />

SCM Supply Chain Magazine 73<br />

Novas competências<br />

Texto: Dora Assis<br />

QUAIS SÃO AS<br />

PROFISSÕES DO<br />

FUTURO NA SUPPLY<br />

CHAIN?<br />

As empresas precisam de desenvolver<br />

novas funções, incluindo "chefes de<br />

abastecimento" e "diretores de disrupção",<br />

se quiserem continuar a estar na vanguarda,<br />

diz um novo relatório da Capgemini. Venha<br />

espreitar as novas funções no futuro da<br />

supply chain.<br />

A<br />

sua organização está preparada para<br />

ter diretores de disrupção, chefes<br />

de abastecimento ou arquitetos de<br />

ineficiências? Estas podem muito bem ser as<br />

funções da cadeia de abastecimento do futuro,<br />

de acordo com um novo relatório da consultora<br />

tecnológica Capgemini.<br />

O relatório, “Fifteen Supply Chain Jobs of<br />

the Future”, afirma que as organizações terão<br />

de adaptar as suas cadeias de abastecimento<br />

em função da resiliência, da tecnologia<br />

e da sustentabilidade e garantir que os<br />

trabalhadores estão preparados para estas<br />

mudanças. Como tal, as funções tradicionais da<br />

cadeia de abastecimento terão de evoluir para<br />

responder a estas exigências.<br />

Dharmendra Patwardhan, global head of<br />

intelligent supply chain operations practice da<br />

Capgemini, diz que as funções e competências<br />

tradicionais "não são suficientes" no "cenário<br />

em constante evolução da gestão da cadeia de<br />

abastecimento".<br />

E acrescentou: "Embora o talento continue<br />

a ser um pilar da inovação, em última análise,<br />

somos tão bons quanto as pessoas que temos.<br />

Para compreender o futuro das cadeias de<br />

abastecimento, precisamos de identificar<br />

simultaneamente quais as competências e<br />

posições que serão críticas no futuro".<br />

Eis sete das 15 funções da cadeia de<br />

abastecimento do futuro, na perspetiva da<br />

Capgemini.<br />

1<br />

Chefe de Abastecimento<br />

(supply chief)<br />

Os chefes de abastecimento serão responsáveis<br />

pela manutenção de uma carteira de fornecedores<br />

alternativos e sustentáveis. Supervisionarão a<br />

qualificação e a certificação dos fornecedores e<br />

garantirão que estes cumprem as normas e os<br />

requisitos necessários para manter as operações a<br />

funcionar de forma eficiente.<br />

Segundo o relatório: "Num mundo em que a<br />

mudança é a única constante, o papel do chefe


74<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

de abastecimento nunca foi tão importante. Com<br />

menos fornecedores a deterem mais poder do que<br />

nunca e com a necessidade de sustentabilidade<br />

a atingir o seu ponto mais alto, este papel é<br />

fundamental para garantir que a cadeia de<br />

abastecimento se mantém estável e sustentável."<br />

2<br />

Diretor de disrupções<br />

Os diretores de disrupções serão responsáveis<br />

pela atenuação das perturbações e pela<br />

execução de um plano abrangente de gestão de<br />

crises da cadeia de abastecimento.<br />

A função exigirá alguém que possa reagir<br />

rápida e eficazmente a desafios imprevistos.<br />

Terão de ser fortes solucionadores de<br />

problemas e devem ter um conhecimento<br />

abrangente do ecossistema da cadeia de<br />

abastecimento.<br />

3<br />

de desempenho para identificar ineficiências<br />

e estrangulamentos, racionalizar operações,<br />

reduzir custos e melhorar a eficiência global.<br />

Segundo o documento da Capgemini:<br />

"À medida que o mundo se torna mais<br />

imprevisível, reduzir o risco e aumentar a<br />

resiliência das funções essenciais da cadeia de<br />

abastecimento é fundamental para garantir o<br />

sucesso contínuo."<br />

4<br />

O humano biónico<br />

Os humanos biónicos serão trabalhadores de<br />

armazém que usarão "exoesqueletos" mecânicos<br />

para ajudar a melhorar a sua força. Não só<br />

facilitarão o trabalho de recolha e embalagem,<br />

como também farão com que os papéis de género<br />

na logística passem a ser uma coisa do passado.<br />

"O humano biónico oferece uma oportunidade<br />

única para revolucionar a indústria da cadeia<br />

de abastecimento e redefinir o que significa ser<br />

um membro produtivo da força de trabalho", de<br />

acordo com o documento da consultora.<br />

Arquitecto de ineficiências<br />

Os arquitectos de ineficiências trabalharão<br />

em conjunto com o director de disrupções<br />

para garantir a prestação de níveis de serviço<br />

críticos durante uma crise. Serão responsáveis<br />

pela criação de cadeias de abastecimento<br />

eficientes e resistentes para satisfazer as<br />

necessidades em evolução da empresa.<br />

Terão de analisar os principais indicadores<br />

5<br />

Gestor do património<br />

dos resíduos<br />

Os gestores de riqueza de resíduos (Waste<br />

Wealth Manager no original inglês) serão


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

responsáveis por identificar oportunidades<br />

para reduzir os resíduos e aumentar a<br />

circularidade na cadeia de abastecimento.<br />

Serão capazes de analisar toda a cadeia<br />

de abastecimento para determinar onde e<br />

como os resíduos estão a ser produzidos<br />

e trabalhar com equipas multifuncionais<br />

para desenvolver soluções que minimizem<br />

os resíduos e maximizem a eficiência dos<br />

recursos.<br />

O relatório defende que "os gestores<br />

de resíduos terão de colaborar com as<br />

equipas de concepção de produtos para<br />

criar produtos mais sustentáveis e trabalhar<br />

com a logística para desenvolver opções de<br />

transporte sustentáveis."<br />

6<br />

Chefe de possibilidades<br />

de embalagem<br />

O chefe de possibilidades de embalagem<br />

supervisionará a embalagem e a entrega<br />

sustentável de produtos, bem como<br />

promoverá a circularidade na cadeia de<br />

abastecimento. Isto implicará a concepção<br />

de embalagens que possam ser facilmente<br />

limpas, reutilizadas, recicladas e que sejam<br />

biodegradáveis.<br />

Como explica a Capgemini, "para se<br />

adequarem a esta função, os candidatos<br />

devem ser capazes de liderar equipas<br />

multifuncionais e colaborar com as partes<br />

interessadas, internas e externas. Além<br />

disso, devem ter conhecimentos sobre as<br />

últimas tendências e tecnologias em matéria<br />

de embalagens".<br />

7<br />

Olímpico da Circularidade<br />

Os olímpicos da circularidade<br />

(Circularity Olympians) centrar-seão<br />

no desenvolvimento de cadeias de<br />

abastecimento circulares. Colaborarão<br />

com outras funções de sustentabilidade -<br />

como o Emissions Materials Thinker - para<br />

implementar programas de reciclagem e<br />

reduzir os resíduos.<br />

Estas novas funções, ou papéis, na<br />

supply chain têm o potencial de melhorar o<br />

desempenho das cadeias de abastecimento,<br />

mas também as condições de trabalho, dando<br />

às pessoas um maior sentido de propósito, o<br />

que poderá ter um efeito bastante positivo<br />

naquilo que atualmente é um problema<br />

generalizado e transversal: as dificuldades de<br />

recrutamento e de retenção de pessoas.<br />

Falámos de sete profissões do futuro,<br />

embora a Capgemini aponte 15, onde se<br />

incluem outras como é o caso da função<br />

“Carbon CapEx Calculator” ou o “VTOL<br />

(vertical takeoff and landing) Commander”.<br />

Tecnologias da próxima geração não faltam<br />

e possibilidades de aplicação aos processos<br />

logísticos também não, contribuindo<br />

assim para impulsionar a transformação<br />

das operações na cadeia, acrescentando<br />

realmente valor. Mas nada mudará realmente<br />

sem o envolvimento de quem está no terreno:<br />

as pessoas. •


76<br />

MAIO <strong>2023</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Dejan Bogosavljevic ´<br />

Business Development Manager | Kiwa Sativa<br />

MATERIAL DE EMBALAGEM<br />

E SEGURANÇA ALIMENTAR:<br />

UM EQUILÍBRIO DELICADO<br />

Nos últimos anos, tem-se verificado uma tendência crescente para a utilização<br />

de materiais de embalagem sustentáveis e de fontes responsáveis na indústria<br />

alimentar. Os materiais de embalagem sustentáveis são aqueles que são feitos a<br />

partir de recursos renováveis. Para além do material utilizado nas embalagens ser<br />

natural, é importante assegurar que este provém de fontes responsáveis para ter um<br />

impacto mínimo no ambiente.<br />

Embora a utilização de materiais de<br />

embalagem sustentáveis seja certamente<br />

um desenvolvimento positivo, é importante<br />

assegurar que a utilização de tais materiais<br />

não compromete a segurança alimentar e<br />

que provém de origens responsáveis. Esta<br />

preocupação pode ser demonstrada através da<br />

certificação de normas de segurança alimentar,<br />

complementada com normas de cadeia de<br />

custódia para os produtos de embalagens de<br />

base florestal que assegura a rastreabilidade<br />

desde a origem do material.<br />

Relativamente à segurança alimentar, um dos<br />

principais desafios na utilização de materiais<br />

de embalagem sustentáveis é garantir que os<br />

materiais são adequados para a intenção de uso<br />

pretendida. Por exemplo, alguns materiais que<br />

são biodegradáveis podem não ser adequados<br />

para embalar certos tipos de alimentos, uma<br />

vez que podem não proporcionar uma proteção<br />

adequada contra a contaminação. Do mesmo<br />

modo, alguns materiais podem interagir com<br />

certos tipos de alimentos, provocando uma<br />

alteração do sabor ou da textura dos mesmos.<br />

Outro desafio na utilização de materiais de<br />

embalagem sustentáveis é garantir que os<br />

materiais estão isentos de substâncias nocivas.<br />

Por exemplo, alguns tipos de materiais de<br />

embalagem biodegradáveis podem conter<br />

substâncias químicas que podem migrar para<br />

os alimentos e causar problemas de saúde. Por<br />

conseguinte, é importante garantir que todos os<br />

materiais de embalagem sustentáveis utilizados<br />

na indústria alimentar são cuidadosamente<br />

testados quanto à sua segurança.<br />

Apesar destes desafios, existem muitos


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

A Kiwa Sativa (FSC® N001895, PEFC/16-44-917) representa o<br />

Programa de Certificação do FSC da Soil Association na Região<br />

Mediterrânica. Para a certificação de cadeia de custódia PEFC,<br />

também trabalha em parceria com a Soil Association, cujo<br />

sistema é acreditado pelo United Kingdom Accreditation Service<br />

(UKAS).<br />

materiais de embalagem sustentáveis que<br />

são adequados para utilização na indústria<br />

alimentar. Um exemplo são as embalagens<br />

feitas de materiais à base de plantas, como<br />

o amido de milho ou a cana-de-açúcar. Estes<br />

materiais são biodegradáveis e podem ser<br />

compostos, o que os torna uma alternativa mais<br />

amiga do ambiente às embalagens de plástico<br />

tradicionais.<br />

Outro exemplo são as embalagens feitas de<br />

materiais reciclados. Os materiais reciclados,<br />

como o papel e o cartão, podem ser utilizados<br />

para fabricar embalagens que sejam<br />

simultaneamente sustentáveis e eficazes na<br />

proteção dos alimentos contra a contaminação.<br />

Para garantir que os materiais de embalagem<br />

sustentáveis são utilizados de forma segura<br />

na indústria alimentar, é importante que<br />

os produtores de alimentos trabalhem em<br />

estreita colaboração com os fornecedores de<br />

embalagens e as agências reguladoras. Ao<br />

respeitá-lo, é possível desenvolver soluções<br />

simultaneamente sustentáveis e seguras para<br />

utilização com alimentos.<br />

Regulamentos relativos aos materiais em<br />

contacto com os alimentos definem que<br />

estes são materiais que entram em contacto<br />

com os alimentos durante o processamento,<br />

armazenamento ou transporte. Regulamentos<br />

como o esquema de Notificação de Contacto<br />

com os Alimentos (FCN) da FDA nos EUA e<br />

o Regulamento (CE) da União Europeia n.º<br />

1935/2004, especificam os requisitos para os<br />

FCM para garantir que não migram substâncias<br />

nocivas para os alimentos. Os regulamentos<br />

exigem que os produtores efetuem avaliações<br />

de segurança e forneçam informações sobre os<br />

materiais utilizados na embalagem, incluindo<br />

aditivos, revestimentos e tintas de impressão.<br />

Como forma de assegurar que os materiais<br />

usados nas embalagens são provenientes<br />

de fontes responsáveis, que não colocam<br />

em causa valores naturais, demonstrando<br />

o apoio a práticas social e ambientalmente<br />

apropriadas, os fornecedores de embalagens<br />

podem optar pela certificação da Cadeia de<br />

Custódia, que se aplica a empresas que incluam<br />

nos seus processos de produção papel, cartão<br />

e/ou madeira certificados FSC® ou PEFC. O<br />

uso destes, pelas empresas, pode ajudá-las<br />

no percurso rumo à sustentabilidade a vários<br />

níveis, demonstrando que usa materiais mais<br />

ecológicos (e melhorar a imagem perante o<br />

consumidor), mas demonstrando igualmente a<br />

preocupação com a manutenção das florestas,<br />

biodiversidade e comunidades locais. •


78<br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“Por dentro da indústria secreta dos transportes marítimos”<br />

Ideas worth spreading, TED@BCG Singapore 2013,<br />

Rose George, 1.7 millhões de visualizações<br />

“Quanto a mim, sou atormentado por uma comichão interminável<br />

por coisas distantes. Eu adoro navegar por mares proibidos (…)”<br />

Herman Melville, em “Moby Dick”<br />

Há dez anos, Rose George falava na sua palestra<br />

duma indústria quase desconhecida da maioria de<br />

nós na altura, a dos transportes marítimos. Descrevia a<br />

sua experiência a bordo dum navio porta-contentores<br />

de tamanho médio, o “Maersk Kendal”, navegando<br />

durante cinco semanas, por cinco mares, dois oceanos<br />

e nove portos, com uma tripulação multi-cultural de<br />

vinte e uma pessoas. O seu objectivo era perceber a<br />

“cegueira do mar”, termo que foi atribuído por uma<br />

alta patente da Marinha Inglesa à ignorância das<br />

pessoas sobre o “grande azul” que rodeia as terras que<br />

habitamos.<br />

Entretanto, uma pandemia depois, já todos<br />

sabemos o quanto dependemos destes gigantes que<br />

atravessam os oceanos e movem 90% do comércio<br />

mundial. Embora o transporte marítimo seja, por<br />

unidade transportada, menos poluente do que o<br />

aéreo em cerca de mil vezes, e do que o terrestre<br />

em cerca de dez, aproxima-se em valor absoluto<br />

das emissões de CO2 da aviação, dados os enormes<br />

volumes e distâncias percorridas. Há grandes esforços<br />

no sentido de tornar mais “verde” o combustível<br />

usado, tipicamente de muito má qualidade por ser<br />

mais barato. Outro impacto negativo do transporte<br />

marítimo é no habitat acústico dos animais marinhos,<br />

impedindo por exemplo as baleias de respirar,<br />

comer e acasalar, ao emitir sons altos e constantes<br />

e interferindo em 90% com o seu principal sentido<br />

debaixo de água.<br />

O que continuamos sem conhecer é a dureza<br />

do trabalho das pessoas (chamadas, pouco<br />

humanamente, o “elemento humano”) que viajam<br />

com os contentores. As tripulações das mais de cem<br />

mil embarcações a percorrer os mares são muito<br />

reduzidas, devido à contentorização da carga e à cada<br />

vez maior automação. Estão sempre entre cansadas<br />

e exaustas, com permanências nos portos inferiores<br />

a duas horas, e por vezes em perigo de vida. Desde<br />

pouco antes da palestra de Rose George, tinha sido<br />

permitido aos navios circular sobre uma “bandeira<br />

de conveniência” (por exemplo Bolívia, Mongolia ou<br />

até Coreia do Norte), o que possibilita ter tripulações<br />

de todas as nacionalidades, mas também as torna<br />

mais vulneráveis. Por essa altura, a Harvard Business<br />

Review tinha elegido o modelo de negócio dos<br />

piratas somalis como o melhor do mundo. Havia 544<br />

tripulantes reféns, presos nos seus navios por estes<br />

bandidos, meses a fio, e nalguns casos abandonados<br />

pelas respectivas empresas, devido ao anonimato<br />

causado por aquele registo aberto.<br />

Rose George é jornalista e escritora, tendo trabalhado<br />

como “free-lancer” para o New York Times e Guardian,<br />

entre outros. O seu livro “Noventa por Cento de Tudo” sobre<br />

a indústria dos transportes marítimos, recebeu o Prémio<br />

Mountbatten da Literatura. Licenciou-se pela Universidade<br />

de Oxford em Línguas Modernas e tem um mestrado em<br />

Política Internacional pela Universidade de Pensilvânia,<br />

tendo sido bolseira Fullbright e Thouron.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!