SCMedia News | Revista | Maio 2023
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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<strong>Maio</strong> <strong>2023</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
42<br />
ENTREVISTA COM<br />
BURKHARD ELING<br />
CEO DA DACHSER<br />
PROCUREMENT DA EDP<br />
ENVOLVIMENTO DOS<br />
FORNECEDORES<br />
É FUNDAMENTAL<br />
CARMO WOOD<br />
FÁBRICA GIGANTE DE<br />
IDEIAS VERDES<br />
UM DESAFIO<br />
CHAMADO NEXUS<br />
TRANSPORT LOGISTIC <strong>2023</strong><br />
O regresso há muito esperado
Outsourcing Logístico<br />
Serviços<br />
Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />
Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />
Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />
Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />
Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />
Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />
Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />
www.gesgrup.pt
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
EDITORIAL<br />
ADAPTARMO-NOS OU MORRERMOS?<br />
“Até hoje fui sempre futuro”<br />
Almada Negreiros<br />
A logística e a gestão da cadeia de<br />
abastecimento embarcaram na viagem da<br />
transformação há décadas. Na verdade, esta<br />
é uma espécie de maratona sem meta à vista<br />
e em que cada um corre à sua velocidade.<br />
Contudo, o desafio agora parece bem nítido:<br />
acelerar o ritmo.<br />
Por enquanto, o mundo pondera sobre as<br />
cenas do próximo capítulo da globalização, as<br />
perturbações nas cadeias de abastecimento<br />
globais estão longe de se terem dissipado e,<br />
no atual cenário, a tecnologia desempenha<br />
o papel principal na criação de uma maior<br />
visibilidade e resiliência, para que tanto as<br />
empresas como os seus clientes respondam e<br />
enfrentem eficazmente os actuais desafios. E<br />
são tantos!<br />
Fenómenos desencadeados pelas alterações<br />
climáticas, cadeias de abastecimento<br />
instáveis, escassez de energia, escassez de<br />
matérias-primas, escassez de pessoas e de<br />
mão-de-obra qualificada… é uma tarefa<br />
hercúlea esta que o mundo enfrenta.<br />
Contudo, parece que não restam grandes<br />
dúvidas que o futuro passará por produção<br />
neutra em termos de carbono, inteligência<br />
artificial, tecnologias de hidrogénio (qual<br />
fonte de energia e esperança para o futuro!),<br />
soluções de gestão eficiente de energia e<br />
Indústria 4.0. Só com a interligação destas<br />
tecnologias será possível garantir a nossa<br />
prosperidade de forma sustentável, ao mesmo<br />
tempo que se procuram soluções para mitigar<br />
o impacto das alterações climáticas.<br />
Contudo, também é verdade que a produção<br />
de hidrogénio é complexa e dispendiosa,<br />
porque o hidrogénio ainda não é utilizado em<br />
grande escala industrial. também as questões<br />
da disponibilidade, do transporte e do<br />
armazenamento em grande escala continuam<br />
ainda por resolver…<br />
Mas, reticências à parte, não fazer nada pode<br />
mesmo e definitivamente tirar-nos da corrida.<br />
Perante a pergunta: "adaptarmo-nos ou<br />
morrermos?", todas as tentativas de inovar<br />
são valiosas e necessárias.<br />
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4<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
#08 #14 #36<br />
ÍNDICE<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Gartner Top 25 supply chains de <strong>2023</strong> 06<br />
LOGÍSTICA<br />
Transport Logistic - O regresso<br />
há muito esperado 08<br />
Da inovação à disrupção: uma viagem de<br />
dia e meio 14<br />
“No final, o que importa é criar uma<br />
supply chain fiável e resistente”,<br />
diz o CEO da Dachser 22<br />
PROCUREMENT<br />
EDP - “Garantir o envolvimento dos<br />
fornecedores é a chave do sucesso” 26<br />
Estudo Ivalua/Forrester:<br />
Sobreviver à turbulência 32<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Rotom - “Estamos a passar do paradigma<br />
de sentido linear para o circular” 36<br />
Prémios IFOY <strong>2023</strong> - E os Óscares da<br />
Intralogística vão para… 39<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
“Nem tudo, nem todos, andam à mesma<br />
velocidade” 42<br />
Carmo Wood - Uma fábrica gigante de<br />
ideias verdes 46<br />
Descarbonização na Broliveira: Mais que<br />
um compromisso, um movimento 50<br />
TECNOLOGIAS<br />
Digital Product Passport - Se os<br />
seus produtos forem viajar… Leve o<br />
passaporte 54
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
CARREIRA<br />
#42<br />
Silicon Valley Bank: Uma morte<br />
anunciada 58<br />
SAP - O futuro está na rede 62<br />
TRANSPORTES<br />
Porto de Sines - Um desafio chamado<br />
Nexus 68<br />
Quais são as profissões do futuro na<br />
supply chain? 73<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Material de embalagem e segurança<br />
alimentar: um equilíbrio delicado 76<br />
O MUNDO É REDONDO<br />
“Por dentro da indústria secreta dos transportes<br />
marítimos” 78<br />
#46<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e Redação_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Diretora_<br />
Dora Assis<br />
Redação_<br />
Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />
Fábio Santos<br />
Projeto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
PAR Design<br />
Sales manager_<br />
Samantha Casas<br />
Marketing Digital_<br />
Catarina Santos<br />
Events Support_<br />
Katline Costa<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
Estatuto Editorial _<br />
www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.
6<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
TOP 25<br />
SUPPLY CHAINS DE <strong>2023</strong><br />
C<br />
omo já é habitual, a Gartner divulgou<br />
o ranking das melhores 25 cadeias de<br />
abastecimento na Europa, para o ano de<br />
<strong>2023</strong>.<br />
A Schneider Electric ocupou a primeira posição,<br />
tanto na lista europeia como nas classificações<br />
globais da cadeia de abastecimento da<br />
Gartner. Cisco Systems, Colgate-Palmolive,<br />
Johnson & Johnson e PepsiCo, completam<br />
os cinco primeiros lugares. A Unilever,<br />
entretanto, “continua a demonstrar liderança<br />
a longo prazo, como Master pelo quinto ano<br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
Gartner<br />
consecutivo”, afirmou a Gartner.<br />
Até à 10ª. posição estão, respetivamente,<br />
Pfizer, Microsoft, Lenovo, Walmart e L’Óreal.<br />
Sarah Gilchrist, da Gartner, sublinhou que “os<br />
líderes europeus da cadeia de abastecimento<br />
foram postos à prova durante o último ano e<br />
meio, com a gestão do risco a ocupar um lugar<br />
de destaque nas suas agendas. As cadeias<br />
de abastecimento com melhor desempenho<br />
encontraram também novas vias para crescer e<br />
inovar, equilibrando simultaneamente os riscos<br />
muito reais que as suas empresas enfrentam”. •
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• Air cargo charter<br />
• CCM - Cargo capacity management<br />
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8<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Transport<br />
Logistic<br />
Texto: Ana Paiva<br />
O REGRESSO HÁ<br />
MUITO ESPERADO<br />
A maior feira de logística e<br />
transportes da Europa já tem lugar<br />
cativo na cidade alemã de Munique<br />
desde 1978. De dois em dois anos<br />
abrem-se as portas da Messe<br />
Munchen para receber empresas do<br />
setor, bem como visitantes de todo o<br />
mundo que procuram criar sinergias<br />
para enriquecer os seus negócios.<br />
Após uma paragem forçada pela<br />
COVID-19, a edição deste ano excedeu<br />
expectativas, tendo registado<br />
números inéditos de participação.<br />
Portugal também deixou a sua marca,<br />
especialmente no que diz respeito ao<br />
stand coletivo Logistics from Portugal,<br />
cujo balanço é mais do que positivo.<br />
Após um período marcado pela pandemia,<br />
que impossibilitou a realização da feira em<br />
2021, a Transport Logistic regressou este<br />
ano em força. De 9 a 12 de maio, recebeu 2.320<br />
empresas expositoras de 67 países, e mais de<br />
75.000 visitantes provenientes de mais de 120<br />
países. Falamos de 127.000 metros quadrados de<br />
espaço de exibição, distribuídos por 10 pavilhões,<br />
incluindo área exterior.<br />
Em relação à última edição, a feira superou<br />
números e expectativas. Não só a dimensão do<br />
espaço aumentou (de 125.000 metros quadrados<br />
para 127.000), como também a afluência, uma vez<br />
que a percentagem de visitantes internacionais<br />
foi superior a 50%, e a “mais elevada de sempre”,<br />
segundo Tânia Barros, representante da Transport<br />
Logistic em Portugal.<br />
“A grande adesão comprova, sem dúvida, que os<br />
profissionais quiseram voltar aos negócios caraa-cara<br />
após a pausa forçada durante a pandemia”,<br />
revela. E é mesmo verdade. Os 10 pavilhões que<br />
compuseram a feira nunca estiveram silenciosos.<br />
O burburinho que já caracteriza a atmosfera do<br />
evento tornou-se ainda mais frenético. “Quem<br />
esteve presencialmente na feira assistiu aos<br />
pavilhões e corredores cheios de profissionais, e ao<br />
ruído tão típico que indica que o networking entre<br />
expositores e visitantes decorria da melhor forma”,<br />
indica Tânia Barros.<br />
Nos vários stands apresentaram-se soluções,
9<br />
celebraram-se parcerias com apertos de mão, e<br />
negócios nasceram. Mais uma vez, a feira cumpriu<br />
o seu propósito com sucesso. O setor da logística<br />
e transportes enriqueceu-se.<br />
De forma a acrescentar valor, a feira incluiu<br />
no programa algumas conferências cujos<br />
temas versam sobre o panorama atual do setor,<br />
nomeadamente desafios e oportunidades. Este<br />
ano realizaram-se 56 conferências ao longo<br />
dos quatro dias nas quais se debateram temas<br />
que estão na ordem do dia, como digitalização,<br />
inteligência artificial, gestão de risco e, um dos<br />
mais importantes, sustentabilidade. “Este ano<br />
gostei muito do facto de a sustentabilidade ter<br />
sido um tema comum em toda a feira. Este é um<br />
sinal forte para todo o setor e irá ajudar-nos a<br />
concentrarmo-nos ainda mais nesta importante<br />
questão”, afirma Tobias Jerschke, diretor-geral da<br />
Kuhne+Nagel, no comunicado oficial da Transport<br />
Logistic.<br />
Após a interrupção gerada pela pandemia, os<br />
profissionais regressaram à Transport Logistic com<br />
a vontade e necessidade de concretizar negócios.<br />
“O setor fornece uma grande inspiração nestes<br />
tempos difíceis. As pessoas querem pôr as coisas a<br />
andar, avançar e enfrentar, em conjunto, os atuais<br />
desafios. O que vimos e experimentámos aqui<br />
[na feira] em termos de ideias e tecnologias nos<br />
últimos quatro dias é realmente único. Resumindo:<br />
nada acontece sem logística”, indicam Stefan<br />
Rummel e Dr. Reinhard Pfeiffer, co-CEOs da Messe<br />
Munchen.<br />
A UNIÃO FAZ A FORÇA<br />
O nome de Portugal chegou mais uma vez<br />
à capital da região da Baviera, impulsionado<br />
pela Supply Chain Magazine. Através do stand<br />
coletivo Logistics from Portugal, várias empresas<br />
portuguesas de logística e transporte marcam<br />
presença na Transport Logistic para dar a<br />
conhecer os seus serviços e know-how junto de<br />
um público mais amplo.<br />
Em tons de preto e amarelo, este ano, o stand<br />
destacou-se no pavilhão A4. Com um design<br />
completamente diferente da última edição,<br />
o espaço contava agora com um simulado<br />
contentor no cimo do stand, identificado com a<br />
marca de Portugal.<br />
Desde a última edição da Transport Logistic,<br />
a dimensão do stand de Portugal passou de 100<br />
metros quadrados para 180 metros quadrados,<br />
e aumentou o número de empresas que lá<br />
se instalaram, sendo elas: Rangel, Garland,<br />
Mind4Logistics e Mind4customers, XBS Logistics,<br />
Warelog, APG Cargo, OJE Logistics, Six Overseas,<br />
Seeptrucker, MPG Group.<br />
“A feira foi um sucesso tremendo, e a<br />
participação portuguesa no stand Logistics from<br />
Portugal, acompanhou esse êxito”, revela Filipe<br />
Barros, executive manager da SCM,
10<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
acrescentando ainda que “durante os quatro dias,<br />
além de um número significativo de contactos<br />
de qualidade com potenciais clientes, a presença<br />
das empresas nacionais teve um impacto notável<br />
na mais importante feira do setor”.<br />
Durante o evento, o stand recebeu<br />
visitantes de todo o mundo que procuraram<br />
complementar os seus negócios com soluções<br />
de Portugal. “Dinâmicas” é a palavra certa para<br />
caracterizar as ilhas pertencentes às empresas<br />
nacionais que se encontravam no stand<br />
coletivo.<br />
Embora cada empresa tenha como principal<br />
objetivo angariar clientes e estabelecer<br />
novos negócios, todas elas têm um propósito<br />
comum: levar o nome de Portugal alémfronteiras,<br />
e esse é o principal motivo que as<br />
leva a integrar um stand coletivo. “A feira de<br />
Munique percebeu, há muito, que os stands<br />
coletivos de países conseguem ter mais<br />
força, mais expressão, mais capacidade de<br />
atração de visitantes, e apresentam melhores<br />
resultados às empresas que neles participam”,<br />
afirma Filipe Barros. Por sua vez, Tânia Barros,<br />
corrobora esta ideia. “O grande tema desta<br />
edição era ‘Cooperação’ para fazer frente aos<br />
atuais desafios do setor, e o stand Logistics<br />
from Portugal não foi exceção. A presença<br />
coletiva trouxe, sem dúvidas, sinergias e mais<br />
visibilidade ao país”.<br />
O stand coletivo de Portugal cresceu em<br />
número de empresas e dimensão desde a última<br />
edição. Com o sucesso a fazer parte da sua<br />
história, em 2025 a expectativa é, mais uma vez,<br />
de superação. “Estou certo de que, na próxima<br />
edição, teremos um stand com mais empresas<br />
portuguesas do que a representação deste<br />
ano e, sobretudo, teremos um stand com mais<br />
espaço e áreas ocupadas”, termina Filipe Barros,<br />
estimando que “a participação portuguesa na<br />
próxima Transport Logistic irá crescer 35%”.<br />
Rangel<br />
“A última feira foi há quatro anos e, desde<br />
lá, tivemos uma pandemia e uma guerra na<br />
Europa, portanto estávamos todos com altas<br />
expectativas. Muitas pessoas não puderam<br />
viajar durante este período, por isso foi um<br />
bom momento para encontrarmos alguns dos<br />
nossos parceiros que já não víamos há quatro<br />
anos” - Nuno Rangel, CEO<br />
Garland<br />
“A feira esteve muito mais concorrida do que<br />
da última vez. Eu diria, até, quase caótica. Mas<br />
nós fizemos uma preparação antes de irmos.<br />
Tínhamos muitas reuniões agendadas e isso<br />
fez a diferença. Trouxemos uma equipa grande<br />
e foi um sucesso” - Mark Dawson, CEO<br />
Warelog<br />
“Se estamos aqui é por um bem maior que é<br />
apresentar a marca de Portugal. Depois, claro,<br />
individualmente cada uma das empresas faz o<br />
seu papel, mas deveria haver uma cooperação<br />
maior. Em suma, o resultado é muito bom,<br />
a marca de Portugal vende bem e cada vez<br />
vende melhor, mas ainda falta mostrarmos aos<br />
outros que somos unidos. Isso é fundamental” -<br />
Ivone Costa, gestora de clientes<br />
XBS Log<br />
“As expectativas que tínhamos eram<br />
elevadas, dado ser a maior feira ligada aos<br />
transportes internacional realizada no mundo<br />
inteiro. Além disso, estar num stand coletivo<br />
possibilita às empresas portuguesas estarem<br />
situadas num dos melhores pontos e de maior<br />
movimento da feira, aumentando o número de<br />
contactos efetuados e a qualidade do mesmo”<br />
- XBS<br />
Six Overseas<br />
“Falta às empresas portuguesas este<br />
associativismo e cooperativismo porque isto
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
é que nos leva mais longe. Nós podemos<br />
ser concorrentes, mas vamos pelo mesmo<br />
propósito, que é mostrar que a marca Portugal<br />
é cada vez mais forte. E além disso, seleciona,<br />
porque quem vier ao stand, vê o nome<br />
“Six Overseas” e percebe que somos uma<br />
empresa de Portugal. Esta identificação é<br />
importantíssima” - Ricardo Lemos, co-founder<br />
& managing director e António Lima Pereira,<br />
co-founder & managing director<br />
MPG Group<br />
“Esta foi a primeira vez da MPG na feira e a<br />
aceitação foi enorme. Estamos muito satisfeitos<br />
com a organização. Ao marcar presença na feira<br />
procuramos parcerias com outras empresas do<br />
nosso ramo, e fazer networking, o que resultou<br />
muito bem. Fizemos bastantes contactos” -<br />
Bernardo Guinea, air freight national manager<br />
Mind4Logistics/Mind4Customs<br />
“Termos a possibilidade de ter um expositor<br />
no nosso sítio [stand coletivo] dá-nos uma<br />
visibilidade muito maior. Eu costumo de dizer<br />
que gosto muito de estar em parceria, gosto<br />
muito de estar acompanhado, não me importo<br />
de ter aqui concorrentes porque no fundo não<br />
temos de ser concorrentes, mas sim parceiros”<br />
- Jorge Emanuel Ramalho, CEO Mind4Group<br />
APG Cargo<br />
“A APG Cargo, sendo uma empresa recente,<br />
quis estar perto dos transitários e da logística<br />
portuguesa em geral. Nessa medida fez<br />
sentido estar num stand coletivo porque assim<br />
conseguíamos estar perto de quem são os<br />
nossos clientes, bem como das companhias<br />
aéreas que serão também representadas por<br />
nós” - Joana Nunes, managing partner<br />
OJE Logistics<br />
“Este é um projeto recente e nós viemos à<br />
feira para dar-lhe visibilidade no mercado, e<br />
estabelecer contactos. Tivemos manifestações<br />
de interesse e por isso consideramos positiva<br />
a participação na feira. Os objetivos foram<br />
atingidos” - administração da OJE<br />
Seeptrucker<br />
“O nosso objetivo ao marcar presença na feira<br />
foi promover o nosso produto: um software<br />
para análise de dados tipográficos e procurar<br />
distribuidores para vários países. O balanço que<br />
fazemos é muito positivo. Um serviço fantástico<br />
e uma organização ao mais alto nível” - João<br />
Ferreira, international account manager.
12<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
PORTUGAL EM MUNIQUE<br />
Além de ter como embaixador o stand<br />
coletivo “Logistics from Portugal”, o nome<br />
de Portugal marcou presença, a título<br />
individual, graças a muitas outras empresas<br />
que participaram no evento enquanto<br />
expositoras, como foi o caso da Abreu Logistics.<br />
Networking, conhecimento do mercado, análise<br />
da concorrência e apresentação de produtos<br />
e serviços, foram os principais motivos que<br />
levaram à participação na Transport Logistic.<br />
Joana Freitas, responsável de marketing<br />
e comunicação da Abreu Logistics, revela<br />
que o balanço foi “francamente positivo”,<br />
ainda que “os resultados sejam, na sua<br />
maioria, a longo prazo, acreditamos que trará<br />
benefícios significativos para o crescimento e<br />
fortalecimento da empresa no setor”.<br />
À semelhança da Abreu Logistics, a JTM Group<br />
também teve uma participação positiva na feira.<br />
“Tivemos muita adesão e muitas visitas. Alguns<br />
dos parceiros que já nos conhecem visitaramnos<br />
para fazer um balanço”, conta Sílvia Nery,<br />
comercial director da empresa. Por sua vez, a<br />
Torrestir, que já é presença assídua na Transport<br />
Logistic, corrobora esta ideia. “O balanço é de<br />
sucesso. Somos uma empresa com dimensão<br />
global e queremos identificar clientes, parceiros,<br />
agentes. Temos tido uma afluência muito<br />
boa”, afirma Fernando Manuel Torres, business<br />
manager da empresa.<br />
Por sua vez, a MAIS Madeira Air integrou<br />
o stand do Grupo Swiftair, procurando<br />
“promover a singularidade da nossa operação<br />
de carga e a riqueza e variedade dos produtos<br />
insulares”, indica Filipe Teixeira, diretor de<br />
desenvolvimento de negócio, acrescentando<br />
que “esta edição terá sido muito concorrida em<br />
termos de visitantes, pelo que, a qualidade dos<br />
contactos foi muito elevada, abrindo-se portas<br />
futuras para novas parcerias e soluções”.<br />
O stand da Associação dos Portos de<br />
Portugal (APP) representou os portos<br />
portugueses na feira de Munique. Eduardo<br />
Feio, presidente dos portos de Aveiro e<br />
Figueira da Foz, confessa que o objetivo da<br />
participação na Transport Logistic é “levar o<br />
nome de Portugal um pouco mais além. Não<br />
só dos portos, mas também do que fazemos<br />
bem na área da logística, nomeadamente”.<br />
Neste sentido, faz um balanço muito positivo<br />
da edição deste ano. A Agenda Nexus decidiu<br />
também apostar na Transport Logistic, ainda<br />
que este seja um projeto recente. José Luís<br />
Cacho, presidente da Administração dos Portos<br />
de Sines e do Algarve (APS), faz um balanço<br />
positivo do desempenho das empresas que<br />
aglomerou no stand da Agenda Nexus. “Esta<br />
foi a primeira apresentação de algumas das<br />
empresas que estão connosco na Agenda<br />
Nexus, onde estabeleceram os primeiros<br />
contactos com possíveis parceiros de negócio,<br />
e potenciais clientes. Foi uma primeira<br />
abordagem, e foi muito positiva”, refere.<br />
Num cenário em constante mudança nem<br />
sempre é fácil fazer as previsões para o futuro,<br />
mas o que é certo é que o setor da logística e<br />
transportes vai continuar a ser o combustível<br />
que alimenta o mundo. Por esse motivo, a<br />
feira de Munique irá continuar a ter um papel<br />
fundamental na criação de negócios e sinergias,<br />
e partilha de conhecimento neste setor.<br />
A edição de <strong>2023</strong> lotou o espaço da feira,<br />
“portanto se a adesão de expositores continuar<br />
a crescer, um aumento de espaço poderá ser<br />
necessário em 2025. Mas não é nada que<br />
preocupa a organização e Munique, já que o<br />
recinto tem mais pavilhões disponíveis”, garante<br />
Tânia Barros. A Transport Logistic volta a abrir<br />
as portas em 2025, de 2 a 5 de junho, e as<br />
inscrições abrem em abril de 2024. •
14<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
SCM<br />
Conference <strong>2023</strong>
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Fotos: Par Design<br />
DA INOVAÇÃO<br />
À DISRUPÇÃO:<br />
UMA VIAGEM<br />
DE DIA E MEIO<br />
Nos dias 29 e 30 de maio, a Quinta do<br />
Roseiral acolheu uma nova edição da<br />
SCM Conference, a grande conferência<br />
da Supply Chain Magazine. Ao longo<br />
de um programa de dia e meio,<br />
dirigido aos gestores de topo das<br />
áreas de logística e compras, mais<br />
de 30 oradores abordaram o tema<br />
“Cadeias de Abastecimento: Inovar na<br />
Disrupção”, para uma sala de mais de<br />
300 pessoas.<br />
A<br />
nualmente, a Supply Chain Magazine reúne<br />
profissionais e casos atuais e importantes<br />
para a logística, numa conferência<br />
direcionada para profissionais de topo. A partilha<br />
de conhecimento, o debate sobre temas atuais<br />
e a exposição de projetos em desenvolvimento,<br />
são algumas das preocupações atuais, mas<br />
claro, também muito importante é o espaço<br />
para os participantes fazerem networking,<br />
desenvolverem parcerias e até conhecerem<br />
soluções inovadoras que os possam ajudar a<br />
resolver quaisquer problemas que tenham nas<br />
suas cadeias de abastecimento.<br />
Embora não tenha o mesmo impacto do que foi<br />
vivido durante estes dois dias, deixamos-lhe um<br />
resumo do que foi a SCM Conference <strong>2023</strong>, e do<br />
que está para vir para outubro: a SCM Conference<br />
Ibéria.<br />
29 DE MAIO<br />
- ESTRATÉGIA E LIDERANÇA<br />
No primeiro dia olhámos para o futuro das<br />
cadeias de abastecimento e para a diferenciação<br />
durante épocas críticas como a que estamos a<br />
passar. A tarde do primeiro dia ficou marcada por<br />
temas mais estratégicos e de liderança.<br />
Alexandre Real, partner da Sfori, deu início<br />
à conferência com o tema “A inteligência<br />
paradoxal”. O mundo recente está cheio de<br />
contrastes de contradições. Um dos problemas<br />
que aponta é o excesso de informação, em<br />
contraste com a sua escassez, e afirma que o<br />
conhecimento de hoje pode ser uma armadilha.<br />
“O Homem de hoje, num dia, recebe tanta<br />
informação quanto o Homem da idade média<br />
durante a vida toda”, exemplifica.<br />
Outra das ideias de que se fala muito<br />
recentemente é das zonas de conforto e de<br />
desconforto, e defende-se que as empresas<br />
devem sair da zona de conforto para poderem<br />
crescer. Alexandre Real defende a existência de
16<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
uma outra zona em que as empresas se devem<br />
colocar ao invés dessas: a zona de segurança.<br />
O orador defende que as empresas podem sim,<br />
sair das suas zonas de conforto, mas devem<br />
manter-se dentro de uma zona de segurança<br />
que lhes permita ter flexibilidade e controlar<br />
o risco. “Questionem-se sempre: estou na zona<br />
de conforto ou estou na zona de segurança?”,<br />
conclui.<br />
Seguidamente, Raffaele Carpi, partner da<br />
McKinsey & Company, começa por falar da<br />
“tempestade perfeita” que se vive nas supply<br />
chains. Com o tema “The world is and will be<br />
more complex: is your supply chain ready?”, o<br />
responsável trouxe alguns exemplos de como a<br />
mudança tem estado a impactar as cadeias de<br />
abastecimento dos dias de hoje, e da importância<br />
de as empresas se adaptarem às situações, com<br />
resiliência e da flexibilidade.<br />
Aponta desde logo o exemplo da Toyota,<br />
que depois de um terramoto em 2011, que lhes<br />
causou uma grande disrupção na cadeia de<br />
abastecimento, adaptou as suas infraestruturas e<br />
conseguiu resistir ao terramoto seguinte.<br />
Outro dos casos que indicou foi o da Nike, que<br />
através da integração de um sistema RFID criou<br />
um sistema de gestão digital dos seus stocks<br />
entre os canais físico e virtual.<br />
“As supply chains do futuro terão de ser mais<br />
digitais, integradas e ágeis”, conclui.<br />
Depois, Joana Leite Moreira, diretora de<br />
logística do Lidl Portugal, toca no tema da<br />
sustentabilidade, através do caso do combate ao<br />
desperdício no Lidl. “A importância estratégica de<br />
combater o desperdício na logística” foi o tema<br />
escolhido para a sua intervenção, e que envolveu<br />
desde o desperdício alimentar ao desperdício<br />
energético.<br />
“A sustentabilidade está a ser muito pensada,<br />
e é um caminho que temos de seguir nas nossas<br />
cadeias de abastecimento”, ressalva.<br />
Quase a terminar o dia, deu-se a mesa<br />
redonda “Cadeia de Abastecimento: Inovar na<br />
disrupção”, com a presença de Gonçalo Santos,<br />
CEO da Iberol, Ricardo Santos, general manager<br />
da Mistolin, Miguel Silvestre, presidente do<br />
conselho de administração da Plural + Udifar, e<br />
António Marcelo, vice president global supply<br />
chain da Visteon Corporation, sob a moderação<br />
de José Costa Faria, senior Supply Chain<br />
Consultant & Leadership Specialist.<br />
A primeira questão que lançou foi<br />
precisamente “O que está a mudar?”. Ricardo<br />
Santos começa por dizer que “vivemos num<br />
mundo Rock&Roll” em constante mudança<br />
e adaptação. No caso da Mistolin, lançaram<br />
recentemente 120 produtos, e que por trás de<br />
cada produto existe toda uma equipa preparada<br />
para o desenvolver. “Isto é o Rock&Roll de<br />
todos os dias. Tem de haver uma relação<br />
muito colaborativa entre a Mistolin e os seus<br />
fornecedores”, explica ainda, “as relações têm<br />
de ser cada vez mais colaborativas”.<br />
António Marcelo aponta que na Visteon, uma<br />
das inovações que tiveram foi através de uma<br />
gestão global da cadeia de abastecimento,<br />
localizada em Portugal, em Palmela. Através<br />
desta localização, conseguem ter acesso a<br />
todo o nível de stocks, de necessidades, de<br />
disrupções e atrasos ao longo da cadeia global,<br />
e poderem responder com melhor prontidão<br />
a cada situação. “Acabou por diminuir as<br />
disrupções e os excessos de inventário”, explica<br />
o responsável.<br />
“Essa gestão global foi uma das decisões mais<br />
certeiras na minha carreira”, destaca.<br />
No caso da distribuição farmacêutica,<br />
Miguel Silvestre afirma que ficaram um<br />
pouco “amarrados”, mas que a inovação<br />
é uma constante na Plural + Udifar. No<br />
início da pandemia houve uma escassez de<br />
medicamentos, e não havia um plano B. “Os
medicamentos começaram a entrar em rutura<br />
num setor que sempre foi muito planeado”,<br />
afirma.<br />
Gonçalo Santos dá o exemplo do<br />
biocombustível, em que o produto tem um preço<br />
baseado nas emissões que tem para a atmosfera.<br />
Em termos de inovação, procuram dentro dos<br />
seus próprios parceiros que estes reduzam as<br />
suas emissões de transporte, e os transportes<br />
ferroviário e marítimo são duas opções com<br />
emissões mais reduzidas. “O esforço adicional por<br />
parte dos operadores é encontrar ferramentas<br />
para tornar todo este processo mais verde”,<br />
considera o responsável.<br />
Para esta inovação, destacam o papel das<br />
pessoas e da liderança neste novo modelo póspandémico,<br />
o que envolve não só a retenção de<br />
talento, mas também a capacidade de captação,<br />
e de gestão, das pessoas.<br />
Miguel Silvestre realça que “temos de ir<br />
gerindo as equipas, as expectativas, e estar<br />
muito próximos daquilo que são os sinais das<br />
pessoas”, e que por vezes as pessoas saem das<br />
empresas sem motivo aparente, o que dificulta a<br />
gestão deste talento.<br />
Gonçalo Santos aponta que a diversidade<br />
geracional traz inovação e novas formas<br />
SCM Supply Chain Magazine 17
18<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
de pensar e de olhar para as cadeias de<br />
abastecimento. “Ter uma equipa que seja<br />
multidisciplinar e com várias gerações é muito<br />
importante”, destaca ainda.<br />
Olhando para a tecnologia, no caso da Visteon,<br />
António Marcelo defende que todos falamos de<br />
tecnologia, mas que uma das ferramentas que<br />
mais utiliza é o Excel. “Gosto de ter pessoas que<br />
venham diretas das universidades”, explica, e que<br />
por vezes geram novas ideias através de outras<br />
mais “arcaicas”.<br />
Ricardo Santos recorda quando em 2016,<br />
entrou para a Mistolin, “a mudança mais<br />
importante e disruptiva foi acabarmos<br />
com o departamento de produção”, tendo<br />
posteriormente criado um departamento mais<br />
direcionado para a supply chain.<br />
A terminar o dia, José Soares, professor<br />
catedrático de Fisiologia da Universidade do<br />
Porto, trouxe o tema “O impacto do stress e da<br />
fadiga na performance individual e das equipas”.<br />
Ao longo do seu discurso, apontou a relação<br />
entre o stress e a fadiga na performance das<br />
equipas, bem como a influência dos seus estados<br />
de espírito, tanto para a positiva como para a<br />
negativa.<br />
Criando uma analogia entre o trabalho e o<br />
desporto, defende que “treinar é fácil, recuperar<br />
é que é difícil”, e que por muito que as pessoas se<br />
foquem no trabalho, acabam por não conseguir<br />
descansar o suficiente para compensar os gastos.<br />
30 DE MAIO – OPERAÇÕES,<br />
TECNOLOGIA E PESSOAS<br />
Se a primeira tarde da SCM Conference ficou<br />
marcada pela estratégia e pela liderança, o<br />
segundo dia focou-se mais nas operações,<br />
tecnologia e nas pessoas. Ao longo do dia<br />
assistimos a palestras e mesas redondas que<br />
deram a conhecer projetos importantes que<br />
estão a decorrer, como são feitas algumas<br />
operações portuguesas com impacto<br />
internacional, desafios e soluções ou novas<br />
tendências do setor.<br />
Hélder Guerreiro, managing director europe<br />
da Tilray, foi o primeiro a pisar o palco da SCM<br />
Conference <strong>2023</strong>. Traçando um caminho pela<br />
sua carreira, explicou “como é que a supply<br />
chain pode tornar um profissional num ‘todo<br />
o terreno’”. Desde cálculos matemáticos para<br />
melhorar a eficiência da cadeia a forecasts,<br />
uma das palavras do dia foi “pragmatismo”. “Na<br />
logística ou aprendemos a ser pragmáticos ou<br />
falhamos”, afirma o responsável, acrescentando<br />
que “quem sobrevive na logística sobrevive em<br />
qualquer setor”.
SCM Supply Chain Magazine 19<br />
Seguidamente, Pedro Silva Caldeira, guest<br />
speaker da Nova SBE Executive Education, Jorge<br />
Calado, co-founder and partner da SCORE, e<br />
Pedro Sousa, diretor de materials management<br />
da The Navigator Company, apresentaram<br />
um projeto de Smart Contracts que estão a<br />
desenvolver em parceria. Este projeto, com<br />
recurso a blockchain, trará transparência,<br />
rastreamento e visibilidade em tempo real<br />
da pegada ambiental dos produtos, redução<br />
de riscos e automatização dos processos de<br />
procurement. “A tecnologia tem de assumir<br />
um posicionamento de destaque para que nós<br />
possamos gerir os contratos digitais”, afirmou<br />
Pedro Silva Caldeira.<br />
Olhando para o procurement a nível<br />
estratégico, Isabel Martins, global procurement<br />
manager da Daufood, empresa responsável pela<br />
Domino’s Pizza em Portugal, Europa central e<br />
do sudeste da Europa, explicou como através<br />
de Portugal conseguem gerir toda a cadeia<br />
nacional e internacional das lojas Domino’s, e a<br />
importância que o procurement tem para esta<br />
gestão. “Se olharmos para as compras de uma<br />
forma mais estratégica dentro da empresa, é uma<br />
área que a faz crescer”, afirma.<br />
Seguindo-se no programa, Susana Ratinho,<br />
partner & founder da Cross Logistics, e Pedro<br />
Sá, vending business director da Delta Cafés,<br />
explicaram a realidade do setor de vending da<br />
Delta, e de como funciona toda a logística de<br />
aprovisionamento das lojas. Foram explicados<br />
vários dos desafios que têm, envolvendo desde<br />
a dificuldade de aprovisionamento das próprias<br />
máquinas a questões de temperatura controlada,<br />
e a importância de um bom forecast para o
20<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
sucesso das operações. “Um pedido mal feito por<br />
cima gera desperdício alimentar. Por baixo gera<br />
redução nas vendas”, afirma Pedro Sá.<br />
Partindo de Portugal para o mundo, Fidélio<br />
Alegria, diretor-geral da Sjaak van Schie, empresa<br />
que, de Pegões, exporta milhões de flores<br />
para todo o mundo, apresentou os desafios<br />
que enfrentam, e os pilares que definiram<br />
como principal foco de adaptação a esta nova<br />
realidade: inovação, digitalização, operações<br />
e sustentabilidade. “Para nós não faz sentido<br />
importarmos coisas de outros países quando em<br />
Portugal sabemos fazer tão bem ou melhor que<br />
os outros, e conseguimos reduzir a nossa pegada<br />
ambiental”, afirmou o responsável, lançando<br />
ainda a importância das equipas e das sinergias<br />
entre gerações.<br />
Fábio Santos, national business development<br />
manager da Modula, apresentou três business<br />
cases que implementaram, e as vantagens<br />
operacionais obtidas através da implementação<br />
dos sistemas da empresa. Adicionalmente,<br />
apresentou um caso curioso em que foi<br />
utilizado um módulo como “Modula Farm” para<br />
a produção de morangos, possível graças ao<br />
controlo de temperatura e de humidade, e de luz<br />
artificial. No final, concluiu que “até morangos<br />
nós podemos criar dentro dos módulos”.<br />
Com o desafio de falar sobre “A supply chain<br />
do futuro”, Tiago Fernandes, senior business<br />
developer (Industry 4.0) da SAP, deixou alguns<br />
casos em que grandes organizações utilizam<br />
a tecnologia para otimizar as operações, e<br />
“simplificar as suas vidas”. Durante a sua<br />
apresentação, explica que temas como risco,<br />
segurança, visibilidade, transparência ou<br />
otimização operacional podem ser solucionados<br />
através de machine learning, metaverso ou<br />
inteligência artificial. “São tecnologias muito<br />
interessantes, onde cada vez mais é fundamental<br />
que os responsáveis de supply chain olhem para<br />
estas temáticas de uma forma um pouco mais<br />
assertiva, porque de facto vê-se aquilo que é o<br />
valor associado”, comenta.<br />
Após o almoço promovido pela Savills, Tiago<br />
Abreu, delivery station manager da Amazon,<br />
apresenta dois temas para revolucionarem a<br />
última milha: sustentabilidade e automação.<br />
Apesar de a automação ser um tema controverso,<br />
aponta que os empregos das pessoas não estão<br />
em risco, e que serão criados postos diferentes,<br />
com novas skills mais tecnológicas. “As pessoas<br />
vão transitar de trabalhos mais manuais para<br />
trabalhos mais técnicos para operar robôs, pois já<br />
têm o know-how”, defende.<br />
Seguindo-se com o tema da cibersegurança,<br />
por parte da PwC, Miguel Dias Fernandes,<br />
consulting partner, e Catarina Amaral Cunha,
SCM Supply Chain Magazine 21<br />
cybersecurity manager, apresentaram o tema<br />
“cibersegurança e regulação: o (novo) mundo<br />
da Tecnologia Operacional”. Uma das questões<br />
relacionadas com este tema é ao nível do risco<br />
que as empresas correm através da tecnologia,<br />
e como se devem proteger, e ter parceiros que<br />
também estejam protegidos.<br />
Miguel Dias Fernandes afirmou que “nós<br />
todos trabalhamos muito em rede. Até podemos<br />
trabalhar bem com os nossos parceiros e<br />
fornecedores, em rede, mas se houver um elo<br />
mais fraco, somos tão frágeis quanto esse elo<br />
mais fraco”, e Catarina Amaral Cunha reforçou a<br />
ideia de que “o impacto de um incidente pode ser<br />
muito mais massificado do que anteriormente”,<br />
podendo originar problemas como por exemplo<br />
uma disrupção na produção, comprometimento<br />
da segurança, dano nos equipamentos ou afetar<br />
a reputação de uma organização.<br />
Juntos numa mesa redonda, Pedro Chainho,<br />
head of supply chain da Worten, Diogo Carneiro,<br />
associate partner da Deloitte, e Artur Santos,<br />
diretor de supply chain Portugal na Lactalis<br />
& Parmalat, debateram o tema “cadeias de<br />
abastecimento: desafios tecnológicos da primeira<br />
à última milha”, contando com a moderação da<br />
jornalista e media entrepreneur da MadreMedia,<br />
Rute Sousa Vasco. Vários foram os temas<br />
abordados, desde o novo tipo de consumidores,<br />
visibilidade em tempo real, ou a importância<br />
das parcerias, notando que a proposta de fazer<br />
entregas por todo o país implica encontrar este<br />
tipo de parceiros capazes de o fazer. “Passámos<br />
de uma época em que a supply chain era linear<br />
para uma fase em rede”, afirmou Pedro Chainho.<br />
Artur Santos destaca ainda a importância da<br />
informação, e que “quanto mais fiabilidade<br />
tivermos nas nossas previsões e em antever os<br />
nossos mercados, estamos mais protegidos e<br />
vamos ter capacidade para antever esses riscos”.<br />
Diogo Carneiro introduziu ainda o tema da<br />
gestão de pessoas, e da sua importância para o<br />
sucesso das operações.<br />
Quase a terminar o dia, e mantendo o tema<br />
da gestão de pessoas, Andrea Nunes, country<br />
general manager da Gesgrup, Anabela Pinto,<br />
director of supply chain & regulatory affairs da<br />
Bondalti, e Sílvia Franco, supply chain manager<br />
da Exide Technologies, debateram o tema “as<br />
pessoas no centro: o desafio de encontrar,<br />
desenvolver e reter talentos”, contando com<br />
a moderação de Isabel Canha, diretora da<br />
Executiva. Algo em que todas concordaram foi na<br />
dificuldade de encontrar e de reter talento, e que<br />
muito mudou desde a pandemia. Andrea Nunes<br />
afirma que “hoje as empresas têm de se adaptar<br />
à realidade, não as pessoas. Têm de se adaptar às<br />
expectativas das pessoas”. Nesse mesmo sentido,<br />
Anabela Pinto destaca que “falamos muito da<br />
voz do cliente, mas também temos de ouvir a<br />
voz do colaborador”, e Sílvia Franco destaca<br />
a importância de manter uma diversidade<br />
geracional e o envolvimento das pessoas para as<br />
manter motivadas e com um propósito.<br />
A terminar o dia, Ana Moirinho Barbosa,<br />
supply chain specialist, Miguel Silva, senior<br />
partner da Admicami, e Nuno Sousa Santos,<br />
CI EMEA logistics manager, McCormick &<br />
Company, ironizaram o tema da dependência das<br />
tecnologias para toda a gestão das cadeias de<br />
abastecimento. Empatia, Lógica e Autenticidade<br />
(E.L.A.) foram as palavras utilizadas para<br />
descrever a importância das pessoas, e a<br />
diferença que marcam nas operações.<br />
Este resumo foi um pouco do que se viveu<br />
durante os dias 29 e 30 de maio, mas longe<br />
de estar completo, só mesmo tendo estado<br />
presente para poder testemunhar o que foi este<br />
dia. Contudo, uma nova edição está para vir,<br />
mas agora a nível internacional. A 24 de outubro<br />
chegará a primeira edição da SCM Conference<br />
Ibéria, em Madrid. Únase a nosotros! •
22<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Dachser<br />
Texto: Ana Paiva<br />
“NO FINAL, O QUE<br />
IMPORTA É CRIAR<br />
UMA SUPPLY<br />
CHAIN FIÁVEL E<br />
RESISTENTE”<br />
Estando entre os líderes europeus de<br />
logística, a Dachser não poderia deixar<br />
de marcar presença na Transport Logistic<br />
e os 700 metros quadrados do seu stand<br />
espelham a importância e dimensão global<br />
das suas operações. Conversámos com o<br />
CEO da companhia, Burkhard Eling, que<br />
fez um balanço geral sobre o ano de 2022<br />
na atividade global e ibérica da empresa,<br />
explicou como manter a resiliência em<br />
tempos tão desafiantes, sem esquecer o<br />
tema da descarbonização dos transportes.<br />
Qual o balanço que faz do ano de 2022 da<br />
atuação da Dachser?<br />
> Burkhard Eling – O ano de 2022 excedeu<br />
significativamente os nossos objetivos. Ficamos<br />
satisfeitos em reportar um aumento adicional<br />
das nossas receitas. Tivemos um ano muito<br />
bem-sucedido nos nossos setores de negócio.<br />
No início do ano, houve desafios que nos<br />
afetaram significativamente, mas ao longo do<br />
ano, conseguimos aguentar bem o ritmo. De<br />
um modo geral, a rede rodoviária está numa<br />
posição muito forte, uma vez que nos pautamos<br />
por entregar qualidade, e isso foi especialmente<br />
valorizado por parte dos nossos clientes<br />
durante os tempos exigentes da COVID-19. É<br />
por isso que o lema deste ano é: "garantimos<br />
o fluxo dos seus bens". No final, o que importa<br />
é criar uma supply chain fiável e resistente. O<br />
importante para nós é que, com base neste<br />
desenvolvimento positivo, possamos continuar<br />
a trabalhar consistentemente nos nossos<br />
objetivos estratégicos.<br />
E a nível ibérico?<br />
> Após 10 anos, estamos muito bem<br />
estabelecidos. Ligamos a Península Ibérica<br />
à nossa rede, portanto, para nós, trata-se de<br />
impulsionar realmente o negócio de exportação.<br />
Não estamos tão focados no negócio nacional,<br />
embora ainda represente 50%, mas ao longo<br />
do último ano, aumentámos significativamente<br />
as exportações. No final, é disso que os nossos<br />
clientes beneficiam. Quando as coisas ficam<br />
complicadas, eles têm mais vantagens com a<br />
nossa rede e isso é muito bom.<br />
Eu diria que a Península Ibérica passou por
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
uma fase de transição ao longo dos últimos<br />
anos. A Azkar tornou-se realmente membro<br />
da família Dachser e isso também é visível<br />
na organização. Temos laços muito estreitos<br />
com a restante rede europeia e também com<br />
a ASL. De uma perspetiva exterior, talvez esta<br />
pareça uma transição muito longa, mas para<br />
nós é realmente importante acompanhar as<br />
pessoas durante o processo, passo a passo. Se<br />
demorar um pouco mais de tempo, não importa.<br />
Temos uma equipa muito motivada em toda a<br />
Península Ibérica, o que é bom de se ver.<br />
Mencionou numa entrevista que "os<br />
clientes apreciaram especialmente a resiliência<br />
que a Dachser trouxe às suas cadeias de<br />
abastecimento". Como manter a resiliência<br />
perante os desafios que marcaram o setor de<br />
logística e transporte em 2022?<br />
> Para mim, esse é o fator-chave que nos<br />
diferencia dos concorrentes. Pensamos em três<br />
dimensões: em primeiro lugar, a capacidade<br />
física. Quando se pensa na infraestrutura<br />
europeia chegamos à conclusão de que foi<br />
desenvolvida ao longo de décadas. Nós<br />
podemos fornecer serviços de alta qualidade e<br />
resiliência aos clientes, e isso baseia-se no facto<br />
de que não somos apenas bons em termos de<br />
digital, como os recém-chegados ao mercado.<br />
Temos tudo o que é necessário quando se trata<br />
de filiais e armazéns.
24<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
Segunda dimensão: hoje em dia, tudo se<br />
resume à transação de informações e dados.<br />
Desde o início, a Dachser era reconhecida<br />
por ter uma uma grande competência" em<br />
Tecnologias de Informação. Somente na<br />
Alemanha, França e Espanha, temos 700<br />
pessoas a trabalhar em TI. Construímos os<br />
nossos próprios sistemas, portanto, temos uma<br />
grande capacidade e, quando olhamos para<br />
nossa agenda digital, vemos que ainda há muito<br />
por vir.<br />
Por último, mas não menos importante, a<br />
nossa terceira dimensão: trata-se das pessoas, e<br />
eu diria que esse é o nosso maior ativo. Temos<br />
uma força de trabalho muito bem educada, leal<br />
e experiente, o que nos permite oferecer um<br />
excelente atendimento ao cliente. Portanto,<br />
esta é a chave por trás da resiliência e da<br />
confiabilidade.<br />
Todos nós falamos sobre a cadeia de<br />
abastecimento global e damos muito ênfase em<br />
sermos capazes de usar os dados dos clientes,<br />
sobrepor esses dados com a nossa capacidade<br />
para encontrar a melhor maneira de configurar<br />
as suas cadeias de abastecimento. Eu diria<br />
que, no último ano, mais de 40 desses projetos<br />
realmente otimizaram a configuração da cadeia<br />
de abastecimento dos clientes.<br />
Quais os desafios que se perfilam e como<br />
esperam ultrapassá-los?<br />
> Estamos a assistir a muita agitação global.<br />
A maneira como pensamos sobre a globalização<br />
e como dividir a produtividade ao redor do<br />
mundo, mudou um pouco. Não considero que a<br />
globalização esteja para terminar porque haverá<br />
sempre empresas que produzem de forma<br />
diferente ou mais barata, mas a forma como os<br />
clientes veem a sua configuração é diferente.<br />
No passado, era barato e rápido, mas hoje é<br />
possível ter uma cadeia de abastecimento muito<br />
mais resiliente. Isso é algo que, definitivamente,<br />
podemos oferecer.<br />
O próximo passo será uma maior digitalização.<br />
Isso, certamente, é um desafio quando se olha<br />
para a indústria logística como um todo. Não<br />
estamos tão avançados quando se trata de<br />
digitalização. Ainda há muita papelada, muitas<br />
informações que precisam de ser fornecidas. Há<br />
um grande avanço quando se trata da troca de<br />
informações com o cliente, da otimização dos<br />
nossos processos, e da troca de informações<br />
com os nossos parceiros de transporte, pois<br />
eles muitas vezes são esquecidos. Isso terá um<br />
impacto significativo se tivermos os parceiros de<br />
transporte certos no futuro.<br />
E não nos podemos esquecer das mudanças<br />
climáticas. É um tópico importante e levamolo<br />
muito a sério. Estamos a aprender e a obter<br />
mais experiência no que diz respeito, por<br />
exemplo, a camiões elétricos puros, bem como<br />
movidos a hidrogénio. Eu diria que estas são as<br />
duas soluções técnicas que podemos apontar<br />
como o futuro dos camiões.<br />
Portanto, há aqui um esforço no sentido de<br />
descarbonizar o setor dos transportes.<br />
> Sim. Aqui [Alemanha], fomos um dos<br />
poucos que participaram numa ronda de<br />
substituição, na qual fomos subsidiados pelo<br />
governo federal para os custos adicionais<br />
dos próprios camiões, e também para a<br />
infraestrutura. Esse, na minha opinião, é o<br />
maior desafio: uma coisa é obter os camiões,<br />
mas outra coisa é fornecer a infraestrutura<br />
necessária. É por isso que temos estado numa<br />
fase de testes para configurar a infraestrutura<br />
de carregamento elétrico para uma filial inteira,<br />
para a frota de carros, camiões, e para a nossa<br />
própria produção. É realmente complicado. Não<br />
é algo que possa ser feito rapidamente. Existem<br />
muitas perguntas que precisam de resposta.<br />
Costumamos dizer que primeiro obtemos o<br />
máximo de camiões possível para treinar as
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
nossas filiais e aumentar nossa frota, enquanto<br />
estabelecemos metas claras sobre como<br />
aumentar a eficiência dos camiões a diesel. Para<br />
ser honesto, diria que levará duas décadas até<br />
que toda a nossa frota esteja descarbonizada. É<br />
um longo caminho.<br />
Qual é a posição da Dachser em relação a<br />
camiões autónomos?<br />
> Ter camiões autónomos de longa distância<br />
que vão de Madrid para, por exemplo, Sevilha,<br />
talvez seja possível daqui a, talvez, três ou<br />
quatro anos, mas como é que se entrega uma<br />
encomenda numa cidade como Madrid com um<br />
camião de condução autónoma? Honestamente,<br />
este cenário parece-me muito distante. Como<br />
lidar com a escassez de motoristas será um<br />
tópico. No final, precisamos é de tornar este<br />
trabalho muito mais atrativo. Quando se trata<br />
de como apoiar o motorista por parte da própria<br />
empresa, pode ser através de ferramentas<br />
de apoio, digitalização, melhor comunicação<br />
com as operações do dia-a-dia, mas também<br />
em termos de remuneração. Se não tivermos<br />
um ambiente atrativo, não conseguiremos as<br />
pessoas. Assim, precisamos de trabalhar em<br />
diferentes áreas para sermos atrativos. Somos<br />
vistos como o fornecedor de qualidade, aquele<br />
que pode levar a digitalização para o próximo<br />
nível, somos vistos como aqueles que levam a<br />
proteção do clima a sério. Temos muitos pontos<br />
atrativos para trabalhar em logística que se<br />
encontram na agenda dos jovens. Temos de<br />
convencer a nova geração por que faz mais<br />
sentido trabalhar para nós. Explicamos os<br />
desafios e como lidamos com isso, e acho que<br />
esta é definitivamente uma parte importante<br />
para atrair pessoas para a Dachser.<br />
A logística talvez não fosse a profissão mais<br />
apelativa, mas desde a pandemia, toda a gente<br />
sentiu a sua importância, e isso ajudou-nos a<br />
ter um nível de atenção diferente. Para mim,<br />
esta é realmente uma forma de avançar: educar<br />
os nossos próprios colaboradores, mantê-los<br />
enquanto os formamos, e oferecer um ambiente<br />
de trabalho favorável.<br />
Numa perspetiva global e estratégica, como<br />
vê este movimento de empresas marítimas<br />
(como a Maersk, CMA CGM ou MSC) a adquirir<br />
fornecedores de serviços de logística?<br />
> Eu diria que é um reflexo natural. Têm<br />
os meios financeiros para o fazer, graças aos<br />
bons anos. Claro que querem expandir a sua<br />
oferta e sair do negócio puro de transporte e,<br />
obviamente, estão a procurar oferecer um serviço<br />
de ponta a ponta. Nesse sentido, levamo-las<br />
a sério. Pensamos, honestamente, que com<br />
a estrutura que temos hoje, sendo fortes na<br />
Europa e a crescer a nível global, temos um bom<br />
ponto de partida, sabendo que a integração e<br />
o estabelecimento de uma rede exigem muito<br />
trabalho e muito compromisso. Ok, até podem<br />
adquirir muitas empresas, mas para realmente<br />
ter um serviço completo de ponta a ponta que<br />
vá além da oferta pura de transporte e que<br />
esteja em pleno funcionamento, vai demorar um<br />
pouco. Estamos concentrados em nós e na nossa<br />
agenda para conseguirmos fazer isso em vez de<br />
olharmos para o lado.<br />
Enquanto CEO, quais são as suas três<br />
principais prioridades para o futuro?<br />
> Pessoas, digitalização e proteção<br />
ambiental. Nesta ordem. Definitivamente,<br />
começando pelas pessoas. Acredito que<br />
podemos fazer muito pelo clima se levarmos<br />
a digitalização a sério, porque a eficiência<br />
aumentará. A digitalização é um componente<br />
que nos permitirá sermos mais amigos do<br />
ambiente no futuro. Diria que, daqui a três anos,<br />
os clientes considerarão a Dachser como líder<br />
em qualidade, em inovação e aquela que leva<br />
a sustentabilidade e a proteção do ambiente a<br />
sério. Essa seria a minha vontade. •
26<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“GARANTIR O<br />
ENVOLVIMENTO DOS<br />
FORNECEDORES É A<br />
CHAVE DO SUCESSO”<br />
A EDP foi uma das três empresas<br />
portuguesas distinguidas na 13ª<br />
edição dos EIPM-Peter Kraljic Awards,<br />
que após dois anos de celebrações<br />
virtuais, voltou ao formato presencial,<br />
tendo ocorrido em Paris, no dia 15<br />
de dezembro de 2022. A divisão de<br />
procurement da EDP conquistou<br />
o prémio de Sustainability and<br />
Supplier Collaboration, devido às suas<br />
políticas de colaboração com os seus<br />
parceiros, e às suas preocupações de<br />
sustentabilidade.<br />
EDP<br />
"Tem sido uma jornada”, recorda Carlos Mota<br />
Pinto, director of Global Procurement Unit<br />
da EDP Global Solutions, “uma jornada<br />
que nós temos feito ao longo dos anos e<br />
que, obviamente, depois o resultado do<br />
trabalho que nós estamos a fazer acaba por<br />
ser reconhecido”. Este foi o quarto prémio<br />
EIPM que a empresa já venceu, três deles<br />
consecutivamente nas últimas edições.<br />
O primeiro prémio conquistado foi em<br />
2015, na categoria de System And Process<br />
Excellence, assinalando o compromisso com<br />
a excelência na gestão da sua cadeia de<br />
fornecimento, reconhecendo a liderança e<br />
desempenho da EDP no desenvolvimento<br />
de práticas inovadoras e de respeito pelo<br />
ambiente e sociedade.<br />
Durante a pandemia, em 2020, o prémio<br />
de excelência na categoria “Líder de<br />
Transformação em tempos turbulentos”,<br />
reconhecendo organizações de compras<br />
que demonstraram práticas e obtiveram<br />
resultados de excelência para sua organização,<br />
stakeholders e sociedade na forma como<br />
geriram as atividades durante este período<br />
turbulento.
SCM Supply Chain Magazine 27<br />
O terceiro prémio chegou em 2021, em<br />
Sustainability Award for Excellence, pela<br />
capacidade da EDP em responder e superar<br />
as necessidades e expectativas dos seus<br />
parceiros e clientes, garantindo a continuidade<br />
das operações e respondendo aos desafios na<br />
produção, abastecimento de materiais e proteção<br />
de colaboradores nas instalações;<br />
E por fim, o mais recente, em 2022, na<br />
categoria de Sustentabilidade e Colaboração<br />
com Fornecedores, que reconhece a EDP<br />
pela sua capacidade de acompanhamento<br />
e resposta às crescentes exigências do<br />
mercado face aos temas ESG, bem como no<br />
desenvolvimento de relações de proximidade<br />
e de parceria com os fornecedores, permitindo<br />
o estabelecimento de uma cadeia de valor<br />
mais resiliente, sustentável e alinhada com os<br />
objetivos estratégicos do Grupo EDP.<br />
O responsável conta-nos que os temas de<br />
sustentabilidade, e mais concretamente de<br />
ESG, têm estado muito centrados no foco<br />
daquilo que é a estratégia da EDP. “Nós tivemos<br />
agora a apresentação, no início de março,<br />
daquilo que será o nosso plano estratégico de<br />
negócios para os próximos três anos, 23/26, e<br />
onde a EDP vai investir cerca de 25 mil milhões<br />
de euros”, revela. Esse investimento passa pelo<br />
setor das energias renováveis, mas também na<br />
parte da distribuição e outras áreas de negócio<br />
do Grupo EDP.<br />
Embora o foco nunca sejam os prémios, realça<br />
que “é um reconhecimento de um trabalho que<br />
não é de ontem, já é um trabalho que tem alguns<br />
anos”, e que os responsáveis do EIPM “têm sido<br />
testemunhas deste percurso que nós temos feito,<br />
e têm também reconhecido que têm havido aqui<br />
umas melhorias bastante significativas. Isso<br />
também acaba por motivar a própria equipa, e a<br />
desafiar-nos para que no próximo ano possamos<br />
também ser reconhecidos”.<br />
METAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS<br />
Para cumprirem com os objetivos, a EDP<br />
está a desenvolver a informação de que<br />
necessita, de modo a garantir que estão a<br />
atingir essas metas. “Por um lado, temos até<br />
2026 um objetivo muito claro e que está muito<br />
ligado à nossa área, e à sustentabilidade na<br />
cadeia de abastecimento, onde pretendemos<br />
que 90% das nossas compras sejam compras<br />
sustentáveis”, avança o director of Global
28<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
Procurement, o que significa que todas as<br />
compras aos seus fornecedores têm de estar<br />
alinhadas com os seus objetivos e com a<br />
estratégia de sustentabilidade da empresa.<br />
“Por outro lado, queremos ter 100% dos<br />
nossos fornecedores em compliance com a<br />
estratégia da EDP, portanto, são objetivos<br />
complementares”.<br />
Apesar de ser um objetivo estabelecido<br />
para 2026, explica que é um trabalho longo<br />
e que tem de ser feito aos poucos, mas que<br />
é mensurável e quantificável, e mostra-se<br />
confiante de que o irão conseguir atingir.<br />
Outro objetivo da EDP é, até 2030, serem<br />
all green, e a aposta nas energias renováveis<br />
vem acelerar esse processo, e a prazo ainda<br />
mais alargado, um macro-objetivo de até 2040<br />
serem uma companhia net zero, em termos de<br />
dimensões de CO2.<br />
PROXIMIDADE<br />
AOS FORNECEDORES<br />
Para atingirem estas metas, colaboram<br />
de perto com os seus fornecedores, numa<br />
ótica colaborativa de win-win. Carlos Mota<br />
Pinto destaca ser importante apoiar os seus<br />
fornecedores e ajudá-los a crescer, pois ambas<br />
as partes só têm a ganhar com o crescimento<br />
mútuo. “Nós temos várias iniciativas que<br />
promovemos para garantir que estamos<br />
próximos dos nossos fornecedores, que<br />
olhamos para os nossos fornecedores como<br />
nossos parceiros”, aponta.<br />
Algumas iniciativas que têm envolvem o<br />
assessment de ESG para com os fornecedores,<br />
estando a gestão centralizada pela EDP, mas<br />
que é feita em Portugal, Brasil e Espanha.<br />
“Tem dado bons resultados, porque ajuda o<br />
desenvolvimento dos próprios fornecedores”,<br />
explica o responsável. Primeiramente é<br />
feita uma avaliação, que depois é partilhada<br />
com o fornecedor, e são explicadas quais as<br />
oportunidades de melhoria que o assessment<br />
identificou, seguindo-se a criação de um plano<br />
de desenvolvimento, contando o fornecedor<br />
com o apoio da EDP para desenvolver<br />
e melhorar a sua avaliação no próximo<br />
assessment.<br />
Tiago Miguel Dias, gestor de Sustentabilidade<br />
na Cadeia de Fornecimento da empresa, nota que<br />
“descolámos da palavra auditoria, porque não<br />
queremos ir de um ponto de vista de compliance,<br />
mas de um ponto de vista de desenvolvimento.<br />
E isso é o que gera proximidade e transparência.<br />
Nós agendamos estes momentos”.<br />
Ao nível dos projetos, comenta que<br />
desenvolveram um programa denominado<br />
EDPartners, que conta com um conjunto de<br />
etapas e jornadas no qual o fornecedor vai ter<br />
o contacto com a EDP. A sua criação veio no<br />
sentido da responsabilidade que têm para com<br />
os seus fornecedores e de os ajudar a encontrar<br />
pontos de melhoria, visto que uma parte<br />
significativa desse universo é abrangido pelas<br />
PME, criando também uma maior proximidade<br />
entre as partes.<br />
Carlos Mota Pinto explica que “todo este<br />
processo é transparente. Quando o fornecedor<br />
se regista connosco, a nossa plataforma tem
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
de submeter um conjunto de informações e<br />
que vai permitir, desde logo, aferir qual é o<br />
posicionamento que ele vai ter e qual é o seu<br />
desempenho versus aquilo que nós estamos<br />
à procura, ou seja, a capacidade que ele tem<br />
de responder ou não aos requisitos que nós<br />
desenvolvemos”.<br />
Através da marca EDPartners, que utilizam<br />
para diversas atividades que envolvam os<br />
fornecedores, contam com diversas formas<br />
de atuação, entre elas as EDPartners Talks,<br />
momentos em que reúnem fornecedores para<br />
debate e exposição de dificuldades, de forma<br />
mais aberta e transparente. Assim, conseguem<br />
compreender quais são as dificuldades dos<br />
fornecedores, como os podem ajudar e o que<br />
podem fazer pelo desenvolvimento do seu<br />
desempenho e para melhorarem a eficácia<br />
das suas operações, com melhores tempos de<br />
entrega de equipamentos, de modo que se<br />
desenvolvam e consigam ter uma presença maior<br />
na empresa. Antes da pandemia estes momentos<br />
eram feitos presencialmente, modelo a que ainda<br />
tencionam retornar.<br />
De forma a distinguirem os seus melhores<br />
fornecedores, contam ainda com os prémios<br />
EDPartners, com o intuito de promover a<br />
adoção de boas práticas em áreas-chave para<br />
a competitividade dos seus fornecedores e do<br />
Grupo EDP.<br />
Também exemplo inserido neste modelo<br />
foi o recente EDPartners TIC, que ocorreu em<br />
março, e onde reuniram os seus fornecedores<br />
de tecnologias da informação e comunicação,<br />
em modelo híbrido. De igual modo, também<br />
têm este modelo para, por exemplo, os temas<br />
de ESG, com o Workshop ESG Assessment. Para<br />
este evento convidaram os seus fornecedores<br />
de IT, e foi direcionado a Portugal e Espanha,<br />
e apresentaram o que foi feito desde a edição<br />
anterior, face ao planeado e apresentado, bem<br />
como o que ainda iria ser feito ao longo do<br />
ano. Depois, dá-se o momento da partilha da<br />
estratégia da EDP para o setor de IT e para<br />
os principais temas de IT, de forma aberta<br />
com todos os fornecedores, seja com os<br />
contratualizados, com os que já o foram, ou com<br />
os que ainda possam vir a ser.<br />
“Isto também é muito valorizado pelos<br />
fornecedores que é o facto de a EDP partilhar<br />
aquilo que é o seu procurement plan para o<br />
próximo ano, ou para os próximos anos, e eles<br />
assim também se poderem preparar, e poderem<br />
trabalhar no sentido de, quando chegar a altura<br />
dos processos, também serem envolvidos”,<br />
destaca Carlos Mota Pinto. “O Grupo EDP<br />
consegue entregar aquilo que entrega, também<br />
pelo facto de termos estes prestadores de<br />
serviços externos a trabalhar connosco, e que<br />
são nossos parceiros, e é assim que nós olhamos<br />
para eles”.<br />
TER UM PARCEIRO É UMA<br />
RESPONSABILIDADE DUPLA<br />
Uma dificuldade que sentiram recentemente<br />
foi devido à guerra na Ucrânia. “Tínhamos<br />
acabado de sair de uma pandemia”,<br />
recorda, “tivemos, e temos tido, vários<br />
constrangimentos, dificuldades que os<br />
nossos fornecedores também sentem, para<br />
fornecer e para entregar aquilo que foram<br />
os compromissos assumidos, porque há a<br />
escassez de material, e as matérias-primas<br />
estão a subir, ou tiveram subidas, como já não<br />
subiam há muito tempo”.<br />
Os novos desafios e a inflação fizeram com<br />
que a EDP começasse a olhar para alguns temas<br />
de uma forma diferente. Houve a necessidade<br />
de renegociar contratos, reajustar alguns<br />
preços face aos novos custos, e assim também<br />
tentarem ajudar os seus fornecedores nas<br />
entregas e nos compromissos que tinham
30<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
para com eles. “Acho que temos feito isso<br />
de uma forma também bastante positiva,<br />
de uma forma em que envolvemos também<br />
os fornecedores para podermos fazer estas<br />
alterações contratuais”, defende Carlos Mota<br />
Pinto.<br />
Nestas situações, considera importante<br />
ver os dois lados da moeda e, portanto,<br />
compreender que tal como eles, também<br />
os fornecedores possam estar a passar por<br />
situações semelhantes, e que estão disponíveis<br />
a tentar perceber no que podem ajudá-los e<br />
chegar a um acordo justo para ambos, e de<br />
forma que estes consigam entregar aquilo de<br />
que necessitam, tanto em tempo como em<br />
preço. “Somos razoáveis, somos compreensivos<br />
da situação que existe atualmente, mas<br />
também há compromissos que foram<br />
assumidos e, portanto, tem de se encontrar<br />
aqui um ponto de equilíbrio”.<br />
CONHECER BEM O ECOSSISTEMA<br />
Numa área estratégica como o<br />
procurement, é importante haver tanto<br />
pesquisa quanto troca de informação, e Carlos<br />
Mota Pinto destaca que por vezes até mesmo<br />
setores diferentes podem sofrer problemas<br />
semelhantes, e conseguirem soluções<br />
aplicáveis a ambas as situações. “Temos<br />
feito muito benchmark com outras utilities,<br />
para perceber o que é que estão a fazer<br />
pela Europa. Mas também temos partilhado<br />
muita informação com outros responsáveis<br />
de compras, responsáveis de Procurement,<br />
diretores de compras de outras empresas a<br />
nível nacional”.<br />
A nível do controlo interno, o diretor da<br />
unidade de global procurement considera<br />
crucial ter a cadeia de abastecimentos<br />
bem mapeada, e este é um tema que estão<br />
a desenvolver mais a fundo, procurando<br />
abranger os seus conhecimentos da sua<br />
supply chain a fornecedores de tiers abaixo,<br />
de forma a terem um maior controlo da cadeia<br />
e poderem antecipar quebras, ou “no limite,<br />
estar mais bem preparados para eventos<br />
disruptivos, como foi infelizmente o conflito na<br />
Ucrânia”, minimizando também assim o risco.<br />
“É importante nós termos um conhecimento<br />
mais alargado daquilo que é a nossa cadeia<br />
de abastecimento para podermos atuar e<br />
responder mais cedo a eventos deste tipo ou<br />
de outra dimensão, ou no contexto geopolítico,<br />
estarmos atentos a situações que de alguma<br />
maneira possam provocar, ou ameaçar, a nossa<br />
cadeia de abastecimento”.<br />
Para já, conhecem muito bem os seus<br />
fornecedores de tier 1, e no caso de<br />
alguns materiais e produtos, também<br />
alguns de tier 2, “mas daí para baixo, em<br />
termos de visibilidade já começa a ser<br />
muito complicado”. Para contornar esta<br />
situação, tomam algumas medidas, como<br />
por exemplo através do processo de registo<br />
de fornecedores, onde a EDP pede desde<br />
logo informação sobre as supply chains dos<br />
candidatos, ou através dos RFP (pedido de<br />
proposta) que estão a lançar no mercado, que<br />
já incluem estas perguntas obrigatórias.<br />
Através desta partilha de informação, a<br />
EDP consegue um maior controlo sobre a sua<br />
cadeia de abastecimentos, e também procura<br />
consciencializar os seus parceiros para<br />
fazerem estes processos internamente, pois<br />
só assim conseguem estar todos alinhados e<br />
garantir este conhecimento. Outra área em<br />
que contam muito com os parceiros é para a<br />
inovação, desafiando os parceiros a trazerem<br />
ideias novas para a cadeia de abastecimentos,<br />
pois “nesta relação também temos muito<br />
a aprender com eles”, conclui Carlos Mota<br />
Pinto. •
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32<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Estudo Ivalua<br />
e Forrester<br />
Texto: Ana Paiva<br />
SOBREVIVER<br />
À TURBULÊNCIA<br />
Vivemos tempos incertos. A única certeza<br />
é de que não há certezas de nada. O mundo<br />
é um lugar volátil, e o setor das compras é<br />
também afetado pelas instabilidades que<br />
se vivem: inflação, riscos geopolíticos e<br />
interrupções da cadeia de fornecimento.<br />
É, por isso, importante que a função de<br />
compras se adapte a cenários adversos.<br />
Para perceber como, a Ivalua e a Forrester<br />
Consulting desenvolveram o um estudo que<br />
inquiriu 470 líderes de compras,<br />
em organizações com, pelo menos,<br />
1.000 funcionários, de diferentes áreas.
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
No mundo complexo e dinâmico de hoje,<br />
as empresas enfrentam desafios que vão<br />
além dos convencionais riscos económicos,<br />
monetários e financeiros. Têm de lidar<br />
com ameaças de grande escala que podem<br />
impactar significativamente o seu desempenho<br />
e sobrevivência.<br />
De forma a explorar como a função de<br />
compras se pode tornar mais ágil e ajudar<br />
as empresas a adaptarem-se a cenários de<br />
mudança, a Ivalua e a Forrester desenvolveram<br />
o “Procurement: A Arma Secreta de um CEO<br />
para Crescimento e Resiliência em Tempos<br />
Turbulentos” (Procurement: A CEO’S Secret<br />
Weapon for Growth and Resilience in Turbulent<br />
Times).<br />
O relatório procura mostrar como os líderes<br />
de compras podem lidar com as flutuações<br />
económicas que podem afetar as suas operações,<br />
enquanto constroem uma função digital-first que<br />
aproveita a tecnologia e a inovação para apoiar<br />
as aspirações de crescimento mais amplas do<br />
negócio. Os líderes empresariais reconhecem,<br />
cada vez mais, a importância das compras para<br />
impulsionar o crescimento do resultado final<br />
e da receita. Por meio da aplicação efetiva de<br />
novas estratégias de gestão de fornecedores, a<br />
função de compras repensada está no centro dos<br />
negócios, tornando-se uma função crítica para as<br />
partes interessadas.<br />
Algumas das conclusões apontam que a<br />
melhoria das iniciativas de compras ajuda a<br />
alcançar os objetivos empresariais, permite<br />
com que os líderes de compras descubram<br />
oportunidades ocultas e reduzam custos,<br />
aumenta a resiliência operacional e reduz o<br />
risco geral do negócio devido à comunicação<br />
transparente.<br />
O PAPEL DAS COMPRAS<br />
NAS ORGANIZAÇÕES<br />
As supply chain globais têm enfrentado<br />
interrupções sem precedentes nos últimos anos,<br />
mas a função de compras tornou-se numa luz<br />
ao fundo do túnel para as empresas. As equipas<br />
de compras provaram sua importância durante<br />
a pandemia de COVID-19, bem como durante<br />
a ainda atual guerra entre Rússia e Ucrânia, e<br />
outros choques globais recentes, respondendo<br />
com sucesso para garantir que as empresas<br />
permanecessem resilientes e preparadas para<br />
futuras interrupções.<br />
Os objetivos comerciais estão a voltar-se para<br />
a linha da frente – tanto para a empresa como<br />
para as compras. Três dos quatro principais<br />
objetivos comerciais desta pesquisa têm como<br />
foco o crescimento da receita. Os entrevistados<br />
revelaram que se concentrarão em aumentar a<br />
receita (75%), inovar os seus produtos e serviços<br />
(73%) e identificar novas oportunidades de<br />
receita (72%). Ao desenvolver relacionamentos<br />
sólidos, as compras podem trabalhar com<br />
a empresa para constantemente avaliar os<br />
resultados juntamente com o crescimento.<br />
Dado os desafios dos últimos anos, as<br />
interrupções tornaram-se a norma. Dinâmicas<br />
geopolíticas, ambientes regulatórios cada<br />
vez mais ativos e as mudanças climáticas<br />
sugerem uma turbulência contínua. Desta<br />
forma, os líderes empresariais estão cada vez<br />
mais dependentes da função de compras para<br />
estabilizar e, em alguns casos, até mesmo liderar<br />
suas organizações em momentos de dificuldade.<br />
Assim, percebeu-se a evolução do papel
34<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
das compras na consecução dos objetivos<br />
comerciais. 79% dos entrevistados afirmaram<br />
que as compras estão a ser solicitadas a apoiar<br />
mais objetivos comerciais do que há três anos.<br />
À medida que novas demandas e mudanças<br />
trazem alterações nas capacidades de compras,<br />
também estão a contribuir ativamente para o<br />
crescimento da receita.<br />
Todo este panorama de incerteza levou a que<br />
as empresas repensassem as suas estratégias<br />
de fornecedores. Em primeiro lugar, a gestão<br />
de fornecedores tornou-se mais digitalizada<br />
e colaborativa, utilizando plataformas para<br />
avaliar, monitorizar e partilhar informações com<br />
os fornecedores. No entanto, as estratégias<br />
específicas variam significativamente. Enquanto<br />
algumas organizações estão a ampliar a sua<br />
base de fornecedores para garantir fontes<br />
alternativas, outras estão a racionalizar a<br />
sua base de fornecedores para melhorar a<br />
monitorização. Da mesma forma, aqueles que<br />
aumentam a terceirização de fornecedores<br />
são quase idênticos aos que trazem os seus<br />
fornecedores para mais perto. Os líderes<br />
devem avaliar holisticamente a sua situação<br />
e prioridades, e alinhar a sua estratégia de<br />
fornecedores no nível da categoria.<br />
A implementação de sistemas para<br />
melhorar a gestão do desempenho e risco<br />
dos fornecedores é uma das possíveis formas.<br />
Líderes de compras bem-sucedidos analisam e<br />
avaliam o desempenho dos fornecedores para<br />
melhorar a gestão do desempenho e risco dos<br />
fornecedores, monitorizando e aprimorando o<br />
seu desempenho continuamente, enquanto se<br />
adaptam às condições dinâmicas do mercado.<br />
A transparência deve estender-se aos subníveis<br />
para garantir uma compreensão precisa dos<br />
riscos. Isso pode ajudar as organizações<br />
a reduzir custos, mitigar riscos, construir<br />
resiliência e obter uma vantagem competitiva.<br />
À medida que a função de compras se<br />
torna cada vez mais incorporada na empresa,<br />
é fundamental que tenha uma estratégia<br />
clara e de longo prazo para se preparar para<br />
o sucesso futuro. Se os líderes utilizarem<br />
a sua capacidade de compras de forma<br />
sábia, poderão fazer muito mais do que<br />
simplesmente conter custos.<br />
Um dos obstáculos apontados pelos<br />
inquiridos quando se trata da agilidade da<br />
função compras é a falta de um mandato<br />
executivo para ser eficaz. 41% dos<br />
entrevistados identificaram a falta de apoio<br />
executivo como um obstáculo significativo<br />
para uma função de compras mais ágil. Sem<br />
um apoio claro, as compras têm dificuldade em<br />
se envolverem e alinharem efetivamente com<br />
outras partes da empresa e obter os recursos<br />
necessários para fornecer uma vantagem<br />
competitiva para a empresa.<br />
CONCLUSÕES<br />
Os líderes de compras procuram<br />
apoiar o crescimento das receitas facilitando<br />
a inovação de produtos ou encontrando<br />
novas fontes de receita. Isto exige uma<br />
abordagem mais cooperativa e flexível. Os<br />
líderes de compras devem trabalhar em<br />
estreita colaboração com os fornecedores para<br />
identificar oportunidades e desenvolver novos<br />
produtos e serviços.<br />
Para garantir a continuidade do<br />
fornecimento, 76% dos entrevistados fizeram<br />
cedências na diligência devida a fornecedores,<br />
e 73% fizeram cedências noutros objetivos.
SCM Supply Chain Magazine 35<br />
A área de compras está mais<br />
colaborativa, ajudando as organizações a<br />
lidarem com a incerteza. 68% colaboram mais<br />
com os fornecedores atualmente do que há<br />
três anos, e 50% aumentaram a colaboração/<br />
partilha de informações com os fornecedores.<br />
A área de compras está focada<br />
em tecnologia para enfrentar iniciativas<br />
comerciais cruciais atualmente. Para gerir os<br />
riscos da cadeia de fornecimento, os líderes de<br />
compras estão a investir numa combinação de<br />
soluções especializadas de gestão de riscos e<br />
desempenho de fornecedores (SRPM) ou uma<br />
suíte de gestão de valor de fornecedores (SVM)<br />
com capacidades integradas de SRPM.<br />
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES<br />
O estudo identificou várias recomendações<br />
importantes para os diretores de compras<br />
(CPO) e equipas de compras liderarem as suas<br />
organizações durante cenários incertos.<br />
Redefinir a função de compras para<br />
que esteja adequada ao propósito<br />
As empresas devem colocar a sua função de<br />
compras no centro dos seus relacionamentos<br />
com os fornecedores, e deve receber os recursos<br />
necessários para se preparar para o futuro, que<br />
combine as virtudes da criatividade humana<br />
com a tecnologia digital. As empresas devem<br />
investir em tecnologia moderna e capacitar uma<br />
nova geração de compradores estratégicos. E<br />
para que tudo isso aconteça, deve haver um<br />
compromisso para elevar o papel das compras.<br />
Ter uma visão holística da<br />
tecnologia<br />
A escolha de tecnologia tem efeitos<br />
duradouros que tanto pode permitir quanto<br />
prejudicar o desempenho futuro. Os líderes<br />
devem entender de que forma a tecnologia irá<br />
abordar as necessidades imediatas, bem como<br />
como suportar os requisitos futuros de dados<br />
e processos desconhecidos. Certifique-se de<br />
que os investimentos melhoram a qualidade<br />
e o acesso aos dados, em vez de criar mais<br />
compartimentos estanques.<br />
Aliar-se aos fornecedores da sua<br />
empresa para traçar o caminho<br />
da sustentabilidade e cumprir os<br />
imperativos ESG (Environmental,<br />
Social and Corporate Governance)<br />
As empresas estão a perceber que se<br />
desejam ser reconhecidas como líderes que<br />
atendem às suas obrigações ESG, precisam do<br />
apoio ativo de seus fornecedores. A função<br />
de compras é responsável, em tais empresas<br />
líderes, por ajustar as suas estratégias de<br />
fornecimento para negócios sustentáveis,<br />
e trabalhar com fornecedores para cumprir<br />
os padrões ESG. Participe na corrida para<br />
emissões líquidas zero de carbono e verifique<br />
as emissões upstream que os fornecedores<br />
produzem.<br />
Aumente a resiliência da cadeia de<br />
fornecimento da sua organização<br />
adotando um pensamento<br />
de "prevenir é melhor do que<br />
remediar"<br />
Estabilize as cadeias de fornecimento da<br />
sua empresa ao primeiro indício de uma<br />
crise. Aborde os principais fornecedores e<br />
trabalhe proativamente em cenários negros.<br />
Implemente medidas para ambas as partes<br />
enfrentarem a tempestade, incluindo medidas<br />
para proteção contra riscos financeiros. Em<br />
segundo lugar, trace meios para estabilizar a<br />
cadeia de fornecimento. Por fim, desenvolva<br />
estratégias de longo prazo com os seus<br />
fornecedores para tornar a sua empresa mais<br />
resiliente e preparada para o futuro. •
36<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Rotom Portugal<br />
Texto: Dora Assis A Rotom perspetivava <strong>2023</strong> com bastante<br />
otimismo, especialmente depois das aquisições<br />
feitas pelo grupo, que vos permitiriam diversificar<br />
“ESTAMOS A<br />
PASSAR DO<br />
PARADIGMA DE<br />
SENTIDO LINEAR<br />
PARA O CIRCULAR”<br />
As paletes e sua família de soluções<br />
para movimentação de matérias-<br />
-primas e bens são tão usuais que se<br />
tornaram praticamente invisíveis,<br />
mas são o ponto de contacto entre<br />
o que se quer movimentar e expedir<br />
e os vários modos de transporte. É<br />
sobre este mercado, os atuais desafios<br />
e a evolução expectável em termos<br />
de soluções que conversámos com<br />
Miguel Correia, managing director da<br />
Rotom Portugal. A empresa celebra em<br />
setembro 15 anos de atividade, e em<br />
2022 faturou 7,1 milhões de euros.<br />
serviços, alargar o campo de atuação… quase no<br />
fim do primeiro semestre, que balanço é possível<br />
fazer? <strong>2023</strong> está a ser um ano bom?<br />
> Miguel Correia – O primeiro semestre<br />
de <strong>2023</strong> está a ser positivo e vai terminar em<br />
linha com o período homólogo de 2022, o que<br />
atendendo à descida dos preços em alguns<br />
produtos considero um excelente resultado.<br />
Temos conseguido aumentar a quantidade de<br />
unidades vendidas para compensar a descida<br />
de valores que já era expectável com a queda<br />
da inflação. Relativamente aos alugueres e<br />
serviços temos uma subida face ao ano passado<br />
o que nos ajuda nas margens. No que diz<br />
respeito à atividade propriamente dita temos<br />
um acréscimo dos pedidos nomeadamente nos<br />
setores alimentar, bebidas, farmacêutico, turismo,<br />
mas uma quebra em outros setores da indústria<br />
nomeadamente de bens não essenciais, explicada<br />
pela quebra do consumo das famílias também<br />
nestes artigos.<br />
A vossa atividade ressentiu-se com a inflação<br />
e com estes “solavancos” que se têm feito sentir<br />
nas cadeias de abastecimento? De que forma e<br />
em que áreas?<br />
> Sim, naturalmente. A inflação que as<br />
matérias-primas como madeira, plástico e metal<br />
sofreram no ano passado estão neste momento<br />
num sentido inverso, sendo que os preços
SCM Supply Chain Magazine 37<br />
Miguel Correia, managing director da Rotom Portugal<br />
tendem nos últimos dois meses a estabilizar<br />
na Europa. Temos trabalhado no sentido de<br />
incrementar a quantidade, e o mercado atual<br />
tem permitido subir volumes, isto porque<br />
Espanha não está a comprar tanto quanto<br />
é habitual, sendo que no pico do Verão vão<br />
escassear paletes. É cíclico e irá acontecer. Daqui<br />
sugiro às empresas que estabeleçam acordos<br />
de fornecimento, a Rotom dá compromisso,<br />
respeitando o euwid, seja na compra ou na<br />
venda. Somos transparentes e garantimos um<br />
serviço de entrega que permite assegurar os<br />
ativos aos nossos clientes nos momentos de<br />
maior escassez, isto é uma mais valia para não<br />
faltarem paletes na linha de produção.<br />
Do ponto de vista estratégico, como olham<br />
para o segundo semestre e por onde passam os<br />
vossos planos de investimento?<br />
> No segundo semestre temos já garantidos<br />
vários acordos de aluguer de palotes e caixas em<br />
plástico para a vindima, o mercado vinícola cada<br />
vez conhece melhor o serviço da rotomrent.pt.<br />
Estamos muito satisfeitos porque temos milhares<br />
de unidades já reservadas para este efeito.<br />
O acréscimo de alugueres está assegurado<br />
pelos contratos estabelecidos. Também temos<br />
centenas de racks amovíveis (mobile racks<br />
metálicos) preparados para entrega em 24h, que<br />
normalmente nos são solicitados nos picos de<br />
atividade das épocas do verão e na preparação<br />
da campanha de Natal. A nossa loja online<br />
rotomshop.pt teve um aumento até à data de<br />
+74% face ao mesmo período de 2022, portanto o<br />
eCommerce continua a ser um canal alternativo<br />
e de sucesso.<br />
Relativamente aos investimentos<br />
previstos, estamos a aguardar a resposta<br />
à nossa candidatura ao PRR no âmbito da<br />
descarbonização, o pacote de investimento<br />
previsto para este ano são 650 mil euros em<br />
maquinaria, na robotização, conversão de<br />
resíduos em biomassa, energias renováveis,<br />
num plano de ação que permitirá uma redução<br />
drástica do abatimento de árvores porque<br />
conseguiremos reutilizar muito mais madeira<br />
usada e paletes partidas e convertê-las em<br />
paletes, o que são excelentes notícias para<br />
a nossa floresta. E, finalmente, os sócios do<br />
grupo pretendem avançar para a construção<br />
de um novo armazém na ALE Valado dos<br />
Frades. Estamos a dar os primeiros passos para<br />
aprovação do projeto, que prevê uma área de<br />
armazenamento de 4.500m2 cobertos, o que<br />
permitirá uma maior eficiência nas nossas<br />
operações. Vamos passar a ter 18 mil m2<br />
disponíveis somente nesta base. Relativamente<br />
a aquisições de empresas, o grupo tem feito<br />
várias na Europa, em Portugal estamos atentos<br />
ao mercado, existem vários targets na área das<br />
embalagens reutilizáveis, serviços de logística<br />
inversa, paletes usadas, fabricantes de paletes<br />
novas… vamos ver se temos notícias positivas<br />
em breve. A Waterland (private equity) que<br />
detém 51% do grupo Rotom, está a investir no<br />
crescimento do grupo via aquisições e temos tido<br />
sucesso em compras estratégicas na Europa.<br />
A sustentabilidade e a economia circular<br />
na logística e na gestão da cadeia de<br />
abastecimento têm estado, e vão continuar<br />
a estar, nas agendas e de uma ponta à outra<br />
da cadeia. Como se posicionam perante estes<br />
temas?
38<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
Que desafios, oportunidades e respostas vos<br />
suscitam?<br />
> O grupo tem dado passos consistentes no<br />
respeitante à sustentabilidade. Obtivemos o<br />
Ecovadis medalha de bronze ao nível Europeu e<br />
estamos atentos às diretivas europeias no que<br />
toca ao ESG. Já redigimos um código de conduta<br />
interno nesta matéria. Desenvolvemos uma<br />
calculadora da redução de CO2 que os nossos<br />
produtos e serviços permitem às empresas.<br />
Estamos a passar do paradigma de sentido linear<br />
para o circular a todos os níveis. Isto à parte<br />
os passos dados em sustentabilidade, como o<br />
investimento em painéis solares, empilhadores e<br />
carros 100% elétricos, a responsabilidade social<br />
com forte apoio às comunidades locais onde<br />
estamos inseridos. A promoção de alugueres<br />
e serviços que incentivam a reutilização. A<br />
proposta de um serviço de vendas consultivo que<br />
permite ao cliente receber um estudo gratuito do<br />
cenário atual das embalagens que utilizam, onde<br />
propomos a embalagem ideal, mas também a<br />
possibilidade de desenvolvimento de embalagens<br />
retornáveis e a recuperação dessas embalagens.<br />
Temos implementado vários projetos de sucesso<br />
em empresas de renome nacional, com aforro em<br />
custos e benefícios na ótica da sustentabilidade.<br />
Somente acrescentar que obtivemos a<br />
ISO9001:2015, fomos PME Líder22, temos licença<br />
industrial e de gestão de resíduos SIR, somos<br />
operadores económicos da DGAV para tratamento<br />
fitossanitario (vulgo HT), e finalmente renovámos<br />
a licença EPAL para reparação de europaletes<br />
(PT300). Somos os únicos habilitados a reparar<br />
estas paletes em Portugal e temos cada vez mais<br />
procura destes serviços.<br />
E sobre as soluções que o mercado procura,<br />
que evolução têm sentido, tanto em termos<br />
de produtos como de serviços? Para onde<br />
caminhamos?<br />
> Nós nesta altura temos sido solicitados para<br />
propor aos clientes soluções de embalagens<br />
retornáveis e reutilizáveis. A título de exemplo,<br />
temos a decorrer um projeto de milhares de<br />
contentores plásticos dobráveis, com laterais para<br />
picking e interiores desenvolvidos à medida para<br />
transporte das peças dos clientes. Aqui, em vez do<br />
investimento repetido em caixas de cartão de um<br />
só uso, os clientes investem em ativos que podem<br />
ser reutilizados centenas de vezes em loop, e são<br />
retornáveis com a embalagem dobrada, aforrando<br />
imenso no armazenamento e transporte de<br />
retorno. Nós fazemos a venda ou aluguer destas<br />
soluções, ou seja, os clientes podem optar pela<br />
aquisição dos ativos ou, se não pretenderem<br />
investir, a Rotom aluga. Depois temos assistido<br />
ao incremento da procura de paletes de madeira<br />
e plástico sobretudo usadas, as de madeira<br />
propomos a reparação EPAL, e as plásticas podem<br />
ser reutilizadas. E também no metal estamos a<br />
vender/alugar roll containers/gitterboxes com<br />
oferta de serviços de manutenção (arranjos, troca<br />
de rodízios ou peças), na ótica da extensão da vida<br />
útil das embalagens. Finalmente com a 2Return e<br />
a Poolback propomos serviços de logística inversa,<br />
pooling, banco de paletes em toda a Europa.<br />
O mercado procura casa vez mais soluções<br />
sustentáveis e que permitam aforros, mas a<br />
prioridade é clara e urgente, reduzir emissões de<br />
CO2, evitar o desflorestamento agressivo e não<br />
sustentável. Na Rotom as empresas encontram<br />
um parceiro que se preocupa com esta temática,<br />
e só colabora com parceiros que pensem da<br />
mesma forma, no respeito pelo ESG, pela<br />
sustentabilidade, na proteção do meio ambiente<br />
e do nosso planeta. Muito em breve, quem não<br />
tiver estas premissas e conseguir provar que está<br />
alinhado nesta direção estará fora do circuito.<br />
Em Portugal, algumas empresas e compradores,<br />
particularmente os da nova geração, já começam<br />
a ter esta exigência na seleção de fornecedores,<br />
acredito que estamos no bom caminho! •
INTRALOGÍSTICA<br />
39<br />
Prémios IFOY <strong>2023</strong><br />
Texto: Dora Assis<br />
E OS ÓSCARES<br />
DA INTRALOGÍSTICA<br />
VÃO PARA…<br />
Os vencedores do IFOY AWARD <strong>2023</strong> já<br />
foram conhecidos. Representantes da<br />
AGILOX, Crown, DS AUTOMOTION, HUNIC<br />
e Still receberam o mais conceituado<br />
prémio internacional de intralogística.<br />
A Jungheinrich, por seu turno, alcançou<br />
uma dupla vitória e levou para casa dois<br />
dos troféus, também conhecidos como os<br />
"Óscares da intralogística".<br />
Oprémio IFOY (International Intralogistics<br />
and Forklift Truck of the Year) é conhecido<br />
mundialmente. Em <strong>2023</strong>, 21 empresas com<br />
23 produtos e soluções foram finalistas na 11.ª<br />
edição, a mais participada de sempre. "O júri<br />
tomou uma das suas decisões mais difíceis em<br />
abril, enviando um sinal para mais tecnologia<br />
na logística. Já durante os IFOY Test Days, foi<br />
evidente o excelente nível dos finalistas deste<br />
ano, alguns dos quais estão muito à frente dos<br />
seus concorrentes no mercado em termos de<br />
inovação e benefícios para o cliente. Os seus<br />
produtos e soluções serão a futura referência<br />
para os centros de distribuição modernos",<br />
afirma Anita Würmser, Presidente Executiva do<br />
júri do IFOY.<br />
AGILOX, AGILOX ODM<br />
AGV / AMR<br />
O IFOY Award na categoria "Automated Guided<br />
Vehicle (AGV/AMR)" foi ganho pela AGILOX<br />
com o AGILOX ODM. O carrinho de transporte<br />
omnidirecional é um robô de logística para<br />
pequenos transportadores de carga. Graças à<br />
tecnologia X-Swarm, encontra autonomamente<br />
o caminho mais rápido através do ambiente de<br />
produção ou logística. Entre outras coisas, o
40<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
júri destacou de forma muito positiva as funções<br />
autónomas para evitar obstáculos no percurso.<br />
CROWN, SP 1500<br />
Warehouse Truck “highlifter”<br />
O vencedor na categoria "Warehouse Truck<br />
highlifter" foi a Crown, com o empilhador de<br />
recolha de encomendas SP 1500, que pontua<br />
em termos de desempenho, eficiência e<br />
ergonomia. O IFOY Innovation Check sublinha<br />
a "ergonomia única, com muitas opções de<br />
configuração desenvolvidas a partir de estudos<br />
realizados diretamente nas instalações dos<br />
clientes". Também destaca "a utilização em<br />
diferentes larguras de corredor, uma operação<br />
única ajustável individualmente, bem como o<br />
excelente campo de visão".<br />
DS AUTOMOTION, ARCOS<br />
Intralogistics Software<br />
Na categoria "Software de Intralogística", a<br />
DS AUTOMOTION recebeu um troféu pelo seu<br />
software para veículos ARCOS. A solução torna<br />
possível, pela primeira vez, que as frotas de AGV<br />
e AMR conduzam com base em zonas variáveis<br />
entre orientação de faixa fixa, orientação de faixa<br />
com evasão flexível, bem como navegação livre<br />
com um único software. De acordo com o júri,<br />
em combinação com a navegação cooperativa,<br />
que permite aos robôs tomar medidas evasivas<br />
coordenadas, o fabricante oferece uma solução<br />
muito eficiente que também pode integrar<br />
veículos de outros fabricantes através da<br />
interface VDA 5050.<br />
HUNIC, SOFTEXO LIFT<br />
Start-up of the Year <strong>2023</strong><br />
No total, cinco jovens empresas concorreram<br />
este ano a um prémio na categoria "Start-up of<br />
the Year". Na renhida corrida, a HUNIC acabou<br />
por convencer os jurados com o SoftExo Lift. O<br />
exoesqueleto passivo é um auxiliar de elevação<br />
e transporte extremamente leve, mas eficaz.<br />
Os trabalhadores qualificados são apoiados até<br />
21% quando levantam e transportam cargas. O<br />
corpo é aliviado até 50 por cento. Além disso,<br />
os movimentos incorrectos são assinalados<br />
ao utilizador. De acordo com os jurados, o<br />
grande salto inovador reside na conceção<br />
do exoesqueleto, exclusivamente a partir de<br />
materiais elásticos.<br />
JUNGHEINRICH, ADDEDVIEW<br />
Special of the Year <strong>2023</strong><br />
O IFOY AWARD <strong>2023</strong> na categoria "Especial<br />
do Ano" vai para a Jungheinrich pela primeira<br />
câmara de garfos totalmente digital em<br />
produção em série, com resolução Full HD,<br />
transmissão de dados Ethernet automóvel<br />
de banda larga e software para transferir os<br />
resultados para qualquer WMS. A câmara de<br />
garfos totalmente digital com leitura de códigos<br />
de barras reduz os erros de armazenamento<br />
e de recuperação. Evita o registo incorreto<br />
de mercadorias ou locais de armazenamento<br />
no sistema de gestão de armazéns (WMS) e,<br />
consequentemente, tempos de procura não<br />
planeados, devoluções ou perda de mercadorias.<br />
A câmara lê os códigos de barras diretamente<br />
no local de armazenamento, compara-os com<br />
as especificações do WMS e marca a cores<br />
os compartimentos corretos e incorretos, à<br />
medida que o veículo passa. O reconhecimento<br />
é efetuado no volante. Embora as tecnologias<br />
individuais não sejam novas em si mesmas, "a<br />
combinação nesta implementação exemplar<br />
deve ser considerada como altamente inovadora",<br />
de acordo com o veredito do júri.<br />
JUNGHEINRICH, POWERCUBE<br />
Intralogistics Robot<br />
A Jungheinrich também levou para casa um<br />
segundo troféu. Flexível, rápido, eficiente: com<br />
o PowerCube, a Jungheinrich garantiu a vitória
SCM Supply Chain Magazine 41<br />
na categoria "Robô Intralogístico". Neste sistema<br />
compacto e automatizado de armazenamento<br />
de contentores, o acesso é possível a partir de<br />
baixo, permitindo uma manutenção mais fácil e<br />
alturas de teto variáveis. O júri destacou várias<br />
inovações, incluindo o peso de carregamento dos<br />
contentores de 50 quilogramas e uma função de<br />
carregamento rápido para um funcionamento<br />
contínuo dos robots sem tempos de paragem.<br />
STILL, EXH 16<br />
Warehouse Truck “lowlifter”<br />
O fornecedor de intralogística Still ganhou um<br />
dos cobiçados prémios para o EXH 16 na categoria<br />
'Warehouse Truck lowlifter'. O equipamento faz<br />
parte da série EXH 14-20 Plus - lowlifters... O<br />
design compacto, juntamente com a nova cabeça<br />
de leme funcional e as melhorias resultantes em<br />
termos de operação e características de condução,<br />
são classificados como "indubitavelmente novos"<br />
pelo IFOY Innovation Check. O EXH mostra, assim,<br />
que as inovações ainda não encontraram o seu fim<br />
nesta classe de veículos.<br />
O IFOY Award distingue os produtos e as<br />
soluções intralogísticas mais inovadoras do ano.<br />
O galardão estabeleceu-se como um indicador de<br />
custo-eficácia e inovação e é considerado como o<br />
prémio internacional de inovação de destaque na<br />
intralogística devido à sua competência técnica.<br />
A base da decisão é a auditoria em três fases -<br />
composta pelo protocolo de teste IFOY, que inclui<br />
cerca de 80 critérios, o IFOY Innovation Check<br />
científico e o teste do júri. O fator decisivo é que<br />
os nomeados não são comparados entre si, mas<br />
com os dispositivos concorrentes que existem no<br />
mercado. •
42<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
SUSTENTABILIDADE<br />
PROCUREMENT<br />
Eficiência Energia energética solar<br />
e descarbonização<br />
fotovoltaica<br />
Texto: Dora Assis<br />
“NEM TUDO,<br />
NEM TODOS,<br />
ANDAM À MESMA<br />
VELOCIDADE”<br />
A eficiência energética na cadeia<br />
de abastecimento e a urgência de<br />
implementar medidas que contribuam<br />
para a descarbonização da economia<br />
estão na agenda de governos e gestores.<br />
Numa verdadeira corrida contra o<br />
tempo, as empresas colocam no topo das<br />
suas prioridades o desenvolvimento de<br />
estratégias para tornar as operações mais<br />
sustentáveis e eficientes. Esta é também<br />
a prioridade da DB Schenker, como nos<br />
dá conta António Paulo, diretor-geral da<br />
companhia em Portugal, que nos falou sobre<br />
os principais desafios energéticos do setor e<br />
as estratégias da empresa para os contornar.<br />
Oimpacto das alterações climáticas e a<br />
urgência na implementação de medidas<br />
que visem a descarbonização das<br />
economias não constituem problemáticas<br />
novas, mas as metas definidas são ambiciosas.<br />
Afinal, o Pacto Ecológico Europeu prevê uma<br />
redução das emissões de CO2 em 55%, até<br />
2030 e até 2050 a Europa deverá ser o primeiro<br />
continente a atingir a neutralidade carbónica.<br />
Noutros termos, isto significa que a União<br />
Europeia terá que conseguir eliminar tantas<br />
emissões de CO2, quanto as que produza.<br />
A DB Schenker tem como objetivo tornar-se<br />
no principal fornecedor mundial de serviços<br />
de logística verde e alcançar a neutralidade<br />
carbónica até 2040. Falando sobre os desafios<br />
que enfrentam enquanto operador logístico,<br />
António Paulo, diretor-geral da DB Schenker<br />
Portugal não esconde que os desafios são<br />
muitos neste momento, ambiciosos e de<br />
ordem vária. “O que notamos é que neste<br />
ecossistema, a cadeia de abastecimento,<br />
existem dinâmicas distintas. Nem tudo, nem<br />
todos, andam à mesma velocidade. E isso é,<br />
desde logo, um grande desafio. Dou-lhe um<br />
exemplo muito concreto: se quisermos investir<br />
em massa em soluções elétricas, não haverá<br />
infraestrutura para carregar todos os camiões.
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
E, saindo do universo da logística, se todos<br />
nós agora optarmos por comprar um carro<br />
elétrico, a nossa infraestrutura não suportava<br />
sequer 30% da frota existente em Portugal.<br />
Não teríamos onde carregar os veículos e, pior<br />
que isso, não haveria estrutura ao nível da<br />
rede de produção de energia para dar resposta<br />
às necessidades. Por isso, vamos avançando<br />
de acordo com as possibilidades. Mas sim, os<br />
desafios são grandes, e é inquestionável que<br />
teremos que fazer a transição para soluções<br />
mais limpas do ponto de vista ambiental.”<br />
CONJUGAR SOLUÇÕES<br />
A transição energética é para António<br />
Paulo uma estrada com múltiplas vias e que<br />
conjuga diferentes soluções, pelo que na<br />
Schenker, o investimento em alternativas<br />
é uma realidade. “No caso do transporte<br />
passa por, por exemplo, conjugar o elétrico<br />
com soluções de hidrogénio. Já fizemos uma<br />
primeira abordagem e estamos a colocar-nos<br />
numa posição pioneira através de um acordo<br />
com uma empresa na Alemanha, que já está<br />
a produzir os veículos. Esta pré-encomenda<br />
da Schenker é para o transporte de médio<br />
curso, ou seja, distâncias de cerca de 500<br />
quilómetros, que nos permitirão ligar os<br />
nossos terminais através de camiões movidos a<br />
células de hidrogénio”.<br />
No transporte de proximidade e na<br />
distribuição capilar, a aposta vai claramente<br />
para o elétrico e António Paulo salienta<br />
neste âmbito a parceria estabelecida entre<br />
a DB Schenker e a Volta Trucks, fabricante<br />
de veículos comerciais totalmente elétricos,<br />
que lhes permitiu completar em conjunto a<br />
primeira fase de testes rodoviários do camião<br />
totalmente elétrico Volta Zero na Europa, “em<br />
que pela primeira vez um veículo Volta Zero<br />
operou em estradas e em ambientes reais de<br />
distribuição na cidade de Paris.”<br />
António Paulo, diretor-geral da DB Schenker Portugal<br />
EM BUSCA DO VERDE<br />
Foi em 2021 que as duas empresas<br />
anunciaram a expansão da sua colaboração e<br />
a pré-encomenda de cerca de 1.500 veículos<br />
Volta Zero, totalmente elétricos, sendo na<br />
altura a maior encomenda de camiões elétricos<br />
de 16 toneladas na Europa. “Estes veículos<br />
serão utilizados nos terminais europeus<br />
para transportar mercadorias dos centros de<br />
distribuição para os centros das cidades e áreas<br />
urbanas”, sublinha o número 1 da DB Schenker<br />
Portugal. E brevemente este investimento será<br />
alargado ao cluster ibérico, primeiramente<br />
Espanha e depois Portugal.<br />
Se na distribuição urbana e capilar a<br />
resposta é elétrica, quando passamos para o<br />
transporte intercontinental o cenário muda<br />
de figura. Focando-se no caso do transporte<br />
aéreo, António Paulo refere que “já temos<br />
parcerias com algumas companhias aéreas,<br />
como é o caso da Lufthansa Cargo, e estamos<br />
a dar aos nossos clientes a opção de utilizar<br />
o transporte com SAF (Sustainable Aviation<br />
Fuel), uma solução de transporte 100% limpa,<br />
ou seja, neste caso com um fuel totalmente<br />
reciclado e com impacto muito positivo na<br />
redução da pegada ecológica.”
44<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
“O mesmo acontece no transporte marítimo”,<br />
sublinha ainda, lembrando a parceria<br />
estabelecida pelo operador logístico já em<br />
<strong>2023</strong> com a Mediterranean Shipping Company<br />
(MSC), visando o alargamento dos seus<br />
serviços de transporte marítimo ecológico:<br />
“esta colaboração garante a utilização de<br />
12.000 toneladas de biocombustível em toda<br />
a sua carga, incluido contentores refrigerados,<br />
contentores de carga completa (FCL) e<br />
contentores de carga fracionada (LCL). A<br />
quantidade de biocombustível adquirida é<br />
suficiente para poupar mais 35.000 toneladas<br />
de CO2 ao longo de toda a cadeia de produção.<br />
O equivalente a cerca de 30.000 contentores<br />
padrão (TEU) pode ser expedido com zero<br />
emissões de CO2, dependendo da forma<br />
como o combustível é utilizado durante a<br />
navegação”.<br />
O acordo de compra, assinado no início de<br />
<strong>2023</strong>, representa um dos maiores acordos de<br />
redução de carbono entre um operador de<br />
transporte de mercadorias e uma companhia<br />
de navegação e prevê a utilização de<br />
biocombustíveis sustentáveis certificados<br />
de segunda geração (derivados de óleos<br />
alimentares usados) em vez dos combustíveis<br />
marítimos convencionais de origem fóssil. O<br />
acordo permite à DB Schenker oferecer aos<br />
seus clientes um produto que viabiliza um<br />
envio sem emissões.<br />
OTIMIZAÇÃO INDOORS<br />
Saindo das soluções de transporte puro e<br />
duro, António Paulo passa para a gestão dos<br />
próprios edifícios, lembrando o investimento<br />
que têm estado a fazer em Portugal “no<br />
sentido de reorganizar todos os processos de
SCM Supply Chain Magazine 45<br />
trabalho e transformar os sites para serem<br />
mais sustentáveis”. E dá exemplos: “com<br />
painéis fotovoltaicos na cobertura dos nossos<br />
terminais conseguimos reutilizar essa energia<br />
para carregar, por exemplo, os empilhadores.<br />
No caso dos escritórios, trocámos tudo o que<br />
eram lâmpadas antigas, por sistemas LED,<br />
e tudo está ser pensado para alcançar um<br />
consumo energético inferior”.<br />
Mas também nas operações de armazém<br />
as economias e eficiências energéticas<br />
são uma prioridade e António Paulo dá o<br />
exemplo de uma infraestrutura recentemente<br />
inaugurada em Madrid. 50.000 metros<br />
quadrados, mais de 200 robôs e um sistema<br />
de embalamento otimizado. O novo sistema<br />
integra soluções de recolha e embalamento<br />
para um cumprimento rápido e flexível<br />
das encomendas online, bem como um<br />
tratamento eficiente das devoluções.<br />
Para otimizar o volume de encomendas<br />
e a utilização de veículos de transporte, a<br />
embalagem é ajustada ao tamanho exato<br />
do produto que é expedido através de uma<br />
solução automatizada, reduzindo as emissões<br />
de CO2 ao longo da distribuição, “em que do<br />
picking ao sorting, tudo foi pensado numa<br />
lógica de redução de consumos e otimização<br />
de processos”. O centro está direcionado<br />
para as operações de ecommerce e um dos<br />
principais clientes é a Adidas que, como<br />
lembra o nosso interlocutor, “o cliente pediu<br />
uma solução verde, uma solução que fosse<br />
logicamente sustentável e o armazém foi<br />
pensado e construído todo no sentido da<br />
implementação de origem destes processos<br />
de trabalho”. E esta é cada vez mais, segundo<br />
o gestor logístico, a dinâmica e a tendência.<br />
A companhia estabeleceu como objetivo<br />
a neutralidade carbónica até 2040 estão<br />
paulatinamente a trabalhar para isso. E a<br />
investir. •
46<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Economia circular<br />
UMA FÁBRICA<br />
GIGANTE DE IDEIAS<br />
VERDES<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
Com uma área equivalente a 22 campos<br />
de futebol, a fábrica da Carmo Wood, em<br />
Oliveira de Frades, é muito mais do que<br />
uma estrutura gigantesca. É um desafio aos<br />
paradigmas estabelecidos para repensarmos<br />
a relação entre tamanho e eficiência no<br />
setor da madeira em Portugal. Enquanto os<br />
olhos se maravilham com a grandiosidade<br />
do empreendimento, a mente é convidada<br />
a mergulhar numa reflexão, instigada<br />
pelo questionamento de João Figueiredo,<br />
diretor executivo da empresa: "A dimensão<br />
importa?".
SCM Supply Chain Magazine<br />
47<br />
Afábrica de Oliveira de Frades da Carmo<br />
Wood é reconhecida por ser 100% circular<br />
em termos de economia de produto, o<br />
que “significa que a empresa adota princípios<br />
de economia circular, que é um modelo de<br />
produção e consumo sustentável, onde os<br />
recursos são utilizados de forma eficiente e os<br />
resíduos são reintegrados no ciclo produtivo,<br />
como novos produtos ou materiais”, explica<br />
João Figueiredo, diretor executivo da Carmo<br />
Wood. Este conceito é implementado através<br />
de processos integrados que transformam<br />
subprodutos da madeira em novos produtos.<br />
"A casca da madeira é utilizada para gerar um<br />
novo produto de casca ornamental. As aparas<br />
geradas durante a produção de decks são<br />
transformadas em aparas para camas de pintos.<br />
Os pequenos refugos de madeira, gerados em<br />
vários processos, são transformados em estilha",<br />
exemplifica o responsável. Essa abordagem<br />
permite que praticamente todos os resíduos da<br />
produção sejam reaproveitados, minimizando<br />
o desperdício e maximizando a utilização dos<br />
recursos disponíveis. João Figueiredo destaca<br />
ainda que a fábrica é alimentada por um<br />
extenso sistema de painéis solares, fornecendo<br />
a energia necessária para as mais de 300<br />
máquinas industriais presentes na unidade.
48<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
A movimentação interna é realizada com<br />
camiões próprios, garantindo a eficiência<br />
logística e reduzindo o impacto ambiental.<br />
PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL<br />
No que diz respeito ao processo de produção,<br />
a Carmo Wood segue várias etapas desde a<br />
entrada da matéria-prima até à expedição<br />
do produto final. Conforme explica o diretor<br />
executivo, "é realizada uma triagem de<br />
qualidade, avaliando-se a sanidade da<br />
madeira, o seu aspeto visual, as quantidades<br />
e a qualidade em termos de parâmetros de<br />
resistência e outros critérios". A madeira é<br />
então encaminhada para diferentes áreas de<br />
produção, dependendo do seu destino final,<br />
seja para agricultura ou para construção em<br />
madeira. Outro aspeto importante mencionado<br />
por João Figueiredo é o tratamento em<br />
autoclave pelo qual passa a madeira na fábrica<br />
da Carmo Wood. Este processo, que submete<br />
a madeira a altas pressões e temperaturas,<br />
remove as suas propriedades que servem de<br />
alimento para insetos e agentes xilófagos. "A<br />
durabilidade do material é exponencial após<br />
o tratamento, garantindo um produto de alta<br />
qualidade e resistência", garante o responsável.<br />
Após esta etapa, os produtos estão prontos<br />
para serem expedidos. A empresa conta<br />
ainda “com explorações florestais próprias, o<br />
que significa que é altamente verticalizada,<br />
controlando desde a produção da matéria-<br />
-prima até a aplicação dos produtos finais”,<br />
o que contribui para a limpeza, cuidado e<br />
gestão sustentável das florestas. O profissional<br />
ressalta que esta abordagem visa não apenas<br />
garantir a criação de postos de trabalho<br />
e rentabilidade, mas também assegurar a<br />
qualidade e o abastecimento contínuo de<br />
matéria-prima para as fábricas da empresa.<br />
“Além da exploração florestal, a Carmo<br />
Wood é conhecida por ser uma empresa de<br />
soluções. Isso significa que não se limita a<br />
vender apenas os produtos fabricados nas<br />
suas diferentes fábricas, mas também oferece<br />
serviços de aplicação desses produtos no<br />
cliente final”, enfatiza João Figueiredo. Desta<br />
forma, a empresa está comprometida em<br />
fornecer soluções sustentáveis e de alta<br />
qualidade, ao mesmo tempo em que promove<br />
a preservação do meio ambiente e impulsiona<br />
o desenvolvimento socioeconómico. De acordo<br />
com João Figueiredo, "a Carmo Wood exporta<br />
para diversos mercados e também importa<br />
materiais de diferentes origens". Um dos seus<br />
mercados estratégicos é o francês, onde a<br />
empresa possui um escritório em Bordeaux e<br />
um barco flutuante em madeira, abrigando uma<br />
equipa multicultural de 20 membros, composta<br />
por portugueses e franceses. Ademais, a<br />
Carmo Wood atende a mais de 43 destinos<br />
internacionais, incluindo Espanha, Itália, Chile e<br />
países do norte da África.<br />
DISPONIBILIDADE<br />
DA MATÉRIA-PRIMA<br />
Ao abordar os desafios enfrentados pela<br />
empresa durante a pandemia e a guerra na<br />
Ucrânia, João Figueiredo ressalta que "como a<br />
empresa adquire madeira de diferentes partes do<br />
mundo, incluindo Ucrânia e Rússia, foi necessário<br />
realizar ajustes na fonte de abastecimento para<br />
mitigar as flutuações e assegurar o fornecimento<br />
contínuo de matéria-prima”. Nesta lógica, faz<br />
questão de mencionar “que Portugal enfrenta<br />
problemas na gestão e exploração das suas<br />
florestas. Existem várias questões que afetam<br />
a floresta portuguesa, tais como a falta de<br />
ordenamento florestal, a fragmentação das<br />
propriedades, o envelhecimento do tecido<br />
florestal, a predominância de espécies com<br />
menor valor comercial, a suscetibilidade
SCM Supply Chain Magazine 49<br />
a incêndios florestais, entre outros. Esses<br />
problemas têm impacto direto na disponibilidade<br />
e qualidade da madeira como matéria-prima”.<br />
É desta forma que João Figueiredo introduz a<br />
pergunta: “A dimensão (da fábrica) importa?”.<br />
Uma questão que levanta tantas outras sobre<br />
a sustentabilidade e a viabilidade económica<br />
do setor da madeira em Portugal, como por<br />
exemplo, "se as condições em termos de matéria-<br />
-prima fossem melhores, como seríamos?” já que<br />
“a dimensão é fruto do crescimento sustentado<br />
num produto (madeira) que não é minimamente<br />
desenvolvido em Portugal enquanto matéria<br />
-prima”. Diante deste cenário, “a Carmo Wood<br />
teve de se tornar uma referência europeia<br />
mesmo sem ter acesso a uma fonte local de<br />
matéria-prima. Esse é um desafio significativo,<br />
mas a empresa conseguiu superá-lo graças<br />
à sua capacidade de adaptação e à proposta<br />
da estratégia logística que adotamos”, refere<br />
João Figueiredo. Enquanto a resposta para a<br />
sua pergunta está em aberto, a Carmo Wood<br />
continua a construir um futuro mais sustentável<br />
para a indústria da madeira, mostrando que é<br />
possível conciliar eficiência, responsabilidade<br />
ambiental e viabilidade económica.<br />
INVESTIR NO FUTURO<br />
Num mundo em constante evolução, com<br />
clientes cada vez mais exigentes, prazos mais<br />
curtos e a necessidade de entregas rápidas e<br />
eficientes, a logística desempenha um papel<br />
fundamental. Consciente dessa realidade, a<br />
Carmo Wood está a "realizar investimentos<br />
significativos em tecnologia e infraestrutura,<br />
implementando programas de software de<br />
ponta e utilizando as melhores soluções<br />
disponíveis no mercado" para fortalecer as<br />
suas operações logísticas. Além disso, a Carmo<br />
Wood está ciente de que a formação dos<br />
seus profissionais é essencial para aprimorar<br />
a logística. Com esse objetivo, a empresa<br />
criou a Carmo Academy, que oferece uma<br />
formação de alto nível para planeadores,<br />
compradores, aprovisionadores e outros<br />
envolvidos na logística, “para garantir que<br />
estamos atualizados com as melhores práticas e<br />
estratégias do setor”. “Reconhecemos também<br />
a importância das parcerias na logística<br />
(...). Estabelecemos relações sólidas com<br />
fornecedores e transportadoras confiáveis, para<br />
garantir que os materiais cheguem de forma<br />
eficiente à nossa fábrica e que os produtos<br />
sejam entregues aos clientes no prazo desejado.<br />
Trabalhar em colaboração com parceiros<br />
estratégicos permite-nos otimizar as nossas<br />
operações logísticas, reduzir custos e melhorar<br />
a eficiência geral. "O que é seu, a seu dono”,<br />
acrescenta João Figueiredo.<br />
A Carmo Wood também está a investir em<br />
Business Intelligence para obter insights<br />
valiosos sobre as suas operações logísticas.<br />
O uso de dados e análises avançadas permite<br />
identificar áreas de melhoria, antecipar<br />
tendências e tomar decisões mais informadas.<br />
Isso resulta numa melhor previsão de demanda,<br />
otimização de rotas de transporte, gestão de<br />
stocks mais eficiente e uma maior visibilidade e<br />
rastreabilidade dos produtos. É desta forma que<br />
a Carmo Wood encara a logística como uma área<br />
estratégica e essencial para o futuro da empresa.<br />
Através de investimentos em tecnologia e<br />
infraestrutura, formação para profissionais,<br />
parcerias sólidas e Business Intelligence, a<br />
empresa procura fortalecer as suas operações<br />
logísticas, garantindo a entrega eficiente dos<br />
seus produtos aos clientes e aprimorando a<br />
sua posição no mercado. A Carmo Wood está<br />
comprometida em permanecer ágil, adaptável e<br />
criativa para enfrentar os desafios logísticos em<br />
constante evolução e atender às expectativas<br />
dos clientes. •
50<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
Texto: Bruna Manguito<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
MAIS QUE UM<br />
COMPROMISSO, UM<br />
MOVIMENTO<br />
Descarbonização<br />
A Broliveira acaba de alcançar um marco<br />
importante ao receber a sua primeira estrela<br />
Lean&Green, impulsionada pelo programa<br />
de descarbonização da GS1 Portugal. Ao<br />
implementar diversas medidas nas suas<br />
operações logísticas e de transporte, a<br />
empresa conseguiu reduzir mais de 20% das<br />
emissões de dióxido de carbono equivalente.<br />
Com esta conquista, a Broliveira agora faz<br />
parte de um seleto grupo de empresas no<br />
país que estão a liderar a transformação da<br />
indústria rumo a um futuro mais verde e<br />
próspero.
SCM Supply Chain Magazine<br />
51<br />
A<br />
Broliveira foi recentemente certificada<br />
pelo programa Lean&Green, o programa<br />
de descarbonização representado pela GS1<br />
Portugal no país. O programa Lean&Green tem<br />
como objetivo reduzir a pegada de carbono das<br />
cadeias de valor, concentrando-se na diminuição<br />
das emissões de dióxido de carbono equivalente<br />
por unidade de produto transportada,<br />
especialmente neste segmento operacional.<br />
Com base na avaliação inicial realizada<br />
no âmbito do plano de ação de redução<br />
apresentado durante a adesão ao programa,<br />
a Broliveira qualificou-se para receber a<br />
prestigiada primeira estrela Lean&Green,<br />
comprovando uma redução superior a 20% nas<br />
emissões de dióxido de carbono equivalente por<br />
unidade transportada nas operações logísticas<br />
e de transporte. A Broliveira junta-se agora<br />
a um grupo seleto de empresas em Portugal<br />
que integram o programa Lean&Green, como a<br />
Delta Cafés, a Nestlé Portugal, o Pingo Doce, a<br />
Herdade dos Grous, a Intraplás, a FirstRule e a<br />
Granfer, entre outras. O programa implantado<br />
em 14 países, a maioria dos quais europeus,<br />
conta com a participação de mais de 600<br />
empresas, formando uma rede de partilha de<br />
boas práticas que promove a colaboração e<br />
divulgação de testemunhos e casos de estudo<br />
entre os seus membros. Essas empresas estão<br />
comprometidas em reduzir as suas emissões<br />
de carbono e contribuir para a construção<br />
de uma cadeia de valor mais sustentável e<br />
responsável ambientalmente. Até ao momento,<br />
a iniciativa europeia já possibilitou a redução<br />
de 2,5 megatoneladas de dióxido de carbono<br />
equivalente.<br />
MEDIDAS SUSTENTÁVEIS<br />
A Broliveira, ao longo da última década, tem<br />
vindo a implementar um conjunto de medidas<br />
nos domínios da Frota, Recursos Humanos,<br />
Operações e Tecnologia, com o objetivo de<br />
reduzir os consumos e as emissões de dióxido<br />
de carbono equivalente (CO2eq). Estas medidas<br />
permitiram à empresa alcançar uma redução<br />
superior a 20% das suas emissões. No entanto,<br />
a implementação dessas medidas não foi isenta<br />
de adversidades. De acordo com a empresa, “os<br />
maiores desafios concentraram--se na disciplina<br />
necessária para implementar a nossa política<br />
de controlo de consumos de combustível e no<br />
elevado investimento a aplicar na aquisição<br />
de equipamentos e constante renovação da<br />
frota". Além disso, a empresa destaca outras<br />
medidas importantes, como a formação<br />
e sensibilização dos recursos humanos, a<br />
manutenção adequada das viaturas, a seleção e<br />
controlo de rotas e a aquisição de sistemas de<br />
informação para monitorização em tempo real<br />
da frota. “O programa Lean&Green reconhece<br />
todo o trabalho realizado na última década pela<br />
Broliveira, nomeadamente, a adoção de diversas<br />
medidas, que incluem a política de controlo<br />
de consumos de combustível e de aquisição de<br />
equipamentos, e que prioriza a modernização<br />
técnica e ambiental, permitindo, dessa forma,<br />
reduzir o impacto negativo da atividade<br />
da Broliveira no meio ambiente”, declarou<br />
Cecília Pereira, responsável do Departamento<br />
de Qualidade, Ambiente e Segurança<br />
da organização. Também João de Castro<br />
Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal,<br />
parabenizou a Broliveira pela conquista da<br />
sua primeira estrela Lean&Green, destacando<br />
que “o setor dos transportes e logística tem<br />
vindo a encontrar mecanismos de promoção<br />
da eficiência e colaboração que têm permitido<br />
reduzir substancialmente as emissões de<br />
dióxido de carbono equivalente inerentes à sua<br />
atividade. No contexto deste setor, a conquista<br />
da primeira estrela Lean&Green pela Broliveira<br />
"é o justo reconhecimento
52<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
por um conjunto de esforços que tem<br />
vindo a demonstrar, com vista à crescente<br />
descarbonização das suas operações". "Vemos<br />
na Broliveira um exemplo inspirador de<br />
empenho continuado para alcançar níveis<br />
de sustentabilidade cada vez mais elevados.<br />
Acreditamos que seja estímulo à adoção de<br />
compromisso semelhante pelos seus parceiros<br />
e pelas cadeias de valor em que se insere. No<br />
que estiver ao nosso alcance, tudo faremos para<br />
apoiar”, conclui o responsável.<br />
PERSPETIVAS FUTURAS<br />
Consciente de que o seu setor é responsável<br />
por uma parte significativa das emissões de<br />
poluentes e gases de efeito estufa (GEE), a<br />
empresa destaca que se encontra sempre<br />
alerta à “vertente ambiental nos diversos<br />
processos que constituem e apoiam a nossa<br />
atividade". A adesão à iniciativa Lean&Green<br />
reflete o compromisso em demonstrar<br />
transparência e implementar medidas<br />
que a posicionem na vanguarda da busca<br />
pela pegada de carbono zero. No futuro,<br />
“a Broliveira dedicará todos os esforços na<br />
manutenção das medidas implementadas,<br />
aumentando o nível de exigência dos seus<br />
objetivos e melhorando a sua performance.<br />
Por outro lado, ficará atenta à evolução dos<br />
meios tecnológicos disponíveis no mercado,<br />
priorizando a modernização técnica e<br />
ambiental, aplicável à sua realidade”, com<br />
o objetivo de manter ou melhorar a sua<br />
classificação no programa Lean&Green. Com<br />
a implementação de medidas específicas e o<br />
compromisso contínuo com a sustentabilidade,<br />
a Broliveira destaca-se como uma empresa<br />
exemplar no esforço de redução das emissões<br />
de dióxido de carbono e na promoção de<br />
práticas mais sustentáveis no setor de<br />
transporte e logística. A conquista da primeira<br />
estrela Lean&Green é um marco importante<br />
para a empresa, que servirá como incentivo<br />
para que outras organizações adotem medidas<br />
semelhantes e se unam ao movimento da<br />
descarbonização. •<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
+12<br />
+12.000m2<br />
TRANSPORTE<br />
TERRESTRE<br />
TRANSPORTE<br />
AÉREO<br />
TRANSPORTE<br />
MARÍTIMO<br />
SERVIÇOS<br />
ADUANEIROS<br />
LOGÍSTICA<br />
www
54<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
Texto: Fábio Santos<br />
SE OS SEUS<br />
PRODUTOS FOREM<br />
VIAJAR… LEVE O<br />
PASSAPORTE<br />
O Passaporte Digital de Produto (DPP na<br />
sigla inglesa) é uma iniciativa da Comissão<br />
Europeia que pretende a obrigatoriedade<br />
de um passaporte digital na venda de<br />
produtos, onde irá constar toda a informação<br />
relativa ao impacto digital, reciclabilidade<br />
e reparabilidade dos produtos, reforçando<br />
assim a rastreabilidade e a transparência dos<br />
produtos. A proposta foi apresentada no ano<br />
passado e ainda está em debate.<br />
Aproposta apresentada no ano passado<br />
para a implementação de um passaporte<br />
digital de produto ainda está em debate,<br />
mas espera-se um desenvolvimento para<br />
os próximos meses. Para além de trazer um<br />
maior controlo e visibilidade na cadeia de<br />
abastecimentos, em conformidade com o<br />
Pacto Ecológico Europeu.<br />
Algumas medidas propostas envolvem o<br />
tempo de vida dos produtos, contribuindo<br />
para a economia circular, dando acesso<br />
a questões adicionais de fim de vida dos<br />
produtos, reparabilidade e reciclagem,<br />
aplicando-se a bens físicos, como<br />
componentes e produtos intermediários.<br />
Os eurodeputados defendem ainda a<br />
TECNOLOGIAS<br />
Passaporte Digital<br />
de Produtos<br />
possibilidade de comparar passaportes<br />
através de uma plataforma digital, criando<br />
para tal um sistema de classificação de<br />
desempenho (por exemplo, de “A a G”),<br />
facilitando a comparação entre produtos da<br />
mesma categoria.<br />
A GS1 Portugal tem colaborado com<br />
a Comissão Europeia para assegurar a<br />
interoperabilidade dos passaportes digitais<br />
de produtos, e no início do ano, durante o<br />
GS1 Global Fórum, tiveram um momento<br />
dedicado ao tema, com o título “Show me<br />
your passport please!”. Neste momento, os<br />
oradores apresentaram o tema e refletiram<br />
sobre os objetivos e aplicação do DPP, os<br />
principais desafios inerentes à transposição<br />
para enquadramentos locais, evidenciando<br />
os desafios expectáveis ao longo das cadeias<br />
de valor, bem como relativos às incertezas<br />
políticas que decorrem do contexto mundial.<br />
Uma das ideias destacadas pelos profissionais<br />
foi a importância de “pensar de forma global<br />
e agir de forma local”.<br />
Como forma de contexto sobre o tema, em<br />
entrevista à SCM, João de Castro Guimarães,<br />
diretor-executivo da GS1 Portugal, explicou-<br />
-nos em maior detalhe em que consiste esta<br />
iniciativa, bem como alguns dos principais<br />
pontos a reter sobre o tema, como objetivos,<br />
benefícios, responsabilidades adicionais e<br />
legislação necessária.
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
Quais são os objetivos do Passaporte<br />
Digital de Produto?<br />
> João de Castro Guimarães – O Passaporte<br />
Digital de Produto é uma iniciativa<br />
comunitária que visa a rastreabilidade e<br />
transparência das cadeias de valor, com<br />
impacto determinante em sustentabilidade,<br />
em linha com o previsto no Pacto Ecológico<br />
Europeu. Prevê medidas que promovem a<br />
circularidade e reutilização de materiais<br />
integrados em produtos pela reintrodução<br />
segura, informada, nas cadeias de valor, com<br />
base na partilha de dados.<br />
Esta iniciativa é condição de cumprimento<br />
do previsto na proposta de um novo<br />
Regulamento sobre Conceção Ecológica de<br />
Produtos Sustentáveis, publicada em 30 de<br />
março de 2022. Desta iniciativa depende<br />
também a abordagem da Comissão Europeia<br />
relativamente a produtos mais circulares e<br />
sustentáveis do ponto de vista ambiental. A<br />
proposta baseia-se na Diretiva de Conceção<br />
Ecológica em vigor, criando o quadro<br />
que determina os requisitos de conceção<br />
ecológica aplicáveis a grupos específicos de<br />
produtos, melhorando a sua circularidade<br />
e desempenho energético. A proposta de<br />
Regulamento sobre Conceção Ecológica<br />
de Produtos Sustentáveis, que integra o<br />
Passaporte Digital de Produto, permitirá<br />
estabelecer requisitos de desempenho e de<br />
informação para quase todas as categorias<br />
de bens físicos colocados no mercado da<br />
União Europeia em matéria de durabilidade,<br />
reparabilidade, possibilidade de reutilização e<br />
de atualização do produto para versões mais<br />
avançadas, quanto à presença de substâncias<br />
que inibem a circularidade, eficiência<br />
energética e aproveitamento dos recursos,<br />
materiais reciclados, refabrico, pegada<br />
carbónica e pegada ambiental.<br />
Ao serem integrados num Passaporte<br />
Digital de Produto, estes requisitos de<br />
sustentabilidade ambiental ajudam os<br />
consumidores e as empresas a fazerem<br />
escolhas informadas quando adquirem
56<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
produtos ou quando os colocam no mercado.<br />
Para além disso, facilitam as reparações e a<br />
reciclagem e melhoram a transparência sobre<br />
os impactos do ciclo de vida dos produtos no<br />
ambiente.<br />
O Passaporte Digital de Produto contribui<br />
para a fiscalização e controlo pelas<br />
autoridades competentes da implementação<br />
do previsto no Regulamento, uma vez que<br />
agrega toda informação ambiental sobre o<br />
produto e a respetiva cadeia de abastecimento,<br />
disponibilizando-a a todas as partes<br />
interessadas. Ao promover a rastreabilidade e<br />
partilha de dados, promove a transição para<br />
uma economia circular.<br />
O Passaporte Digital de Produto aplica-se a<br />
qualquer bem físico, incluindo componentes e<br />
produtos intermediários colocados no mercado<br />
comunitário ou disponibilizados num serviço e,<br />
nesse sentido, impacta o comércio global.<br />
O que irá mudar e quais os benefícios<br />
que irá trazer para as empresas e para os<br />
consumidores?<br />
> O Passaporte Digital do Produto é<br />
fundamental para a transição da União<br />
Europeia para uma economia circular e<br />
disponibilizará a todas as partes interessadas<br />
informações sobre a sustentabilidade<br />
ambiental dos produtos.<br />
O objetivo é melhorar a rastreabilidade<br />
e a transparência ao longo de toda a<br />
cadeia de valor, melhorando a gestão e<br />
eficiência da partilha de dados, fator crítico<br />
de garantia de utilização sustentável dos<br />
produtos, prolongando a respetiva vida útil e<br />
circularidade.<br />
O Passaporte Digital de Produto beneficiará<br />
consumidores e empresas ao promover uma<br />
produção mais sustentável, estimulando o<br />
uso de materiais e energia que prolonguem<br />
a vida útil dos produtos e maximizem<br />
o seu desempenho. Para além disso, a<br />
adoção de modelos de economia circular<br />
promove modelos de negócios baseados na<br />
prestação de novos serviços, nomeadamente,<br />
de reparação e recondicionamento de<br />
equipamentos e produtos.<br />
Nesse sentido, o Passaporte Digital de<br />
Produto contribuirá para que os consumidores<br />
façam escolhas mais informadas e conscientes<br />
do ponto de vista do impacto ambiental,<br />
prevendo e monitorizando o impacto das<br />
respetivas opções.<br />
Para além disso, e em termos de fiscalização,<br />
permitirá a verificação do cumprimento dos<br />
requisitos legais, facilitando a validação da<br />
conformidade do produto pelas autoridades<br />
nacionais competentes.<br />
Quais as adaptações que as empresas terão<br />
de fazer nas suas cadeias de abastecimento?<br />
> O Passaporte Digital de Produto<br />
consubstancia a representação digital dos<br />
produtos físicos e apresenta os respetivos<br />
dados de impacto ambiental ao longo de seu<br />
ciclo de vida útil. Trata-se de uma ferramenta<br />
fundamental para a economia circular, pois<br />
permite que as empresas verifiquem, façam a<br />
gestão e melhorem o impacto ambiental dos<br />
seus produtos e, de modo mais global, o seu<br />
desempenho em sustentabilidade.<br />
Tendencialmente, as empresas procurarão<br />
apresentar produtos e serviços com<br />
caraterísticas e desempenho coerentes com<br />
os princípios de sustentabilidade, o que terá<br />
impacto nas respetivas cadeias de valor, na<br />
informação que os fornecedores terão de<br />
disponibilizar sobre os respetivos produtos e<br />
na integração e modelagem que as empresas<br />
fazem dessa informação.<br />
Os dados de impacto ambiental devem ser<br />
tratados como dados-mestre. Do ponto de<br />
vista das empresas, é crucial perceber quais<br />
os dados de cariz ambiental necessários para<br />
o Passaporte Digital do Produto e começar
SCM Supply Chain Magazine 57<br />
a mapeá-los, para identificar as eventuais<br />
lacunas de informação. Note-se que a<br />
responsabilidade de garantir o rigor, a robustez<br />
e atualização dos dados do Passaporte é do<br />
operador económico que coloca o produto no<br />
mercado.<br />
Como se encontra o estado de deliberação<br />
sobre a aplicabilidade deste standard?<br />
> A Comissão Europeia está atualmente<br />
em processo de discussão dos detalhes do<br />
Passaporte Digital de Produto, esperam-se<br />
novidades nos próximos meses.<br />
Já existe uma previsão de uma possível<br />
data para a implementação?<br />
> Como pioneira na adoção de<br />
enquadramento regulamentar específico<br />
sobre esta matéria, a União Europeia prevê<br />
cobrir os primeiros grupos de produtos com<br />
regulamentação específica sobre o Passaporte<br />
Digital de Produto, aplicável a partir de 2026/<br />
2027, nomeadamente, no que se refere aos<br />
setores têxtil, baterias, eletrónica de consumo<br />
e materiais de construção, com a maior parte<br />
dos restantes produtos coberta até 2030.<br />
O Passaporte Digital de Produto deverá<br />
cobrir as cadeias de valor a nível global, uma<br />
vez que todos os produtos disponíveis no<br />
mercado comunitário vão ser afetados. Muitos<br />
elementos do Passaporte Digital de Produto<br />
estão ainda em aberto no Regulamento em<br />
discussão, em termos de âmbito de aplicação,<br />
tecnologia de suporte e dados.<br />
Qual é o papel da GS1 relativamente a este<br />
tema e que recomendações deixa às empresas<br />
portuguesas?<br />
> A GS1 Portugal tem colaborado com a<br />
Comissão Europeia e demais instituições<br />
comunitárias nas múltiplas dimensões<br />
equacionadas pelo Regulamento que enquadra<br />
o Passaporte Digital de Produto.<br />
Para GS1, a nível global, e para a GS1<br />
Portugal, em particular, é importante<br />
assegurar a interoperabilidade dos Passaportes<br />
Digitais de Produtos, dos diferentes setores<br />
de atividade abrangidos, nomeadamente em<br />
relação aos aspetos técnicos, semânticos<br />
e organizacionais de interoperabilidade,<br />
comunicação e transferência de dados ao<br />
longo de toda a cadeia de abastecimento.<br />
A proposta de Regulamento faz várias<br />
referências a standards globais e abertos. A<br />
GS1 propõe-se colocar os seus standards ao<br />
serviço das necessidades da indústria e dos<br />
reguladores no âmbito desta iniciativa.<br />
A identificação única dos produtos é<br />
um elemento fundamental para permitir<br />
a rastreabilidade em toda a cadeia de<br />
abastecimento. Portanto, o passaporte<br />
do produto deve estar vinculado a um<br />
identificador único do produto, reconhecido a<br />
nível global.<br />
Além disso, quando apropriado, o passaporte<br />
deve permitir a rastreabilidade dos operadores<br />
económicos e instalações de produção<br />
relacionados com esse produto. A fim de<br />
garantir a interoperabilidade, os identificadores<br />
únicos do operador e os identificadores únicos<br />
das instalações que permitem a rastreabilidade<br />
devem ser divulgados de acordo com as<br />
normas internacionalmente reconhecidas.<br />
As empresas podem começar a preparar-se<br />
para a introdução do Passaporte Digital de<br />
Produto, elegendo um elemento da equipa<br />
responsável para o acompanhando do tema,<br />
nomeadamente em relação às consultas<br />
da Comissão Europeia, aos atos delegados<br />
adotados, e aos desenvolvimentos em relação<br />
à categoria do seu produto.<br />
Para além disso, podem rever as práticas<br />
de sustentabilidade e começar a agrupar e<br />
centralizar informação relevante, analisando<br />
e aprendendo com as empresas que estão a<br />
testar a implementação do Passaporte Digital<br />
de Produto. •
58<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Silicon Valley Bank<br />
Texto: Fábio Santos<br />
"UMA MORTE<br />
ANUNCIADA"<br />
No dia 10 de março de <strong>2023</strong>, o mundo<br />
recebeu a notícia da falência de um<br />
importante banco a nível global. Antes do<br />
seu colapso, o Silicon Valley Bank era o 16.º<br />
maior banco dos EUA, estando o valor dos<br />
seus ativos avaliado em cerca de 212 mil<br />
milhões de dólares, não muito longe do<br />
PIB português em 2020. O banco tinha-se<br />
especializado no setor de start-<br />
-ups de tecnologia, no entanto, não estava<br />
preparado para a corrida bancária que se<br />
verificou.<br />
U<br />
ma corrida bancária dá-se quando um<br />
grande número de clientes de um banco<br />
retira os seus depósitos, o que normalmente<br />
ocorre quando existem sinais de que o banco<br />
possa declarar insolvência. Se a determinado<br />
momento já existem dificuldades financeiras,<br />
assim que os clientes começam a retirar em<br />
massa os seus fundos, é só uma questão de<br />
tempo até se dar realmente a insolvência.<br />
Este banco era um dos principais fundos das<br />
start-ups tecnológicas, tendo financiado cerca<br />
de metade das empresas norte-americanas<br />
de tecnologia e saúde apoiadas por capital de<br />
risco, e apoiava empresas iniciantes, o que nem<br />
todos aceitariam devido ao elevado risco.<br />
Mario Martínez-Jurado, fundador e CEO da<br />
Vonzu, explica em entrevista à SCM que “apesar<br />
de, logicamente, a falência do Silicon Valley<br />
Bank ter vindo afetar o funcionamento de<br />
inúmeras start-ups, não só a nível europeu, tal<br />
acontecimento era já uma morte anunciada”.<br />
Enquanto responsável por uma empresa do<br />
setor, considera inevitável a preocupação<br />
que sente por este acontecimento, e não<br />
apenas pelo seu negócio, mas “para todo o<br />
ecossistema”.<br />
“Vimos desaparecer um importante agente<br />
de financiamento da indústria, que apoiava<br />
inúmeras entidades. Perante todo este cenário,<br />
uma coisa é certa: começa agora uma nova era<br />
para o mundo das start-ups”, destaca Mario<br />
Martinez-Jurado, afirmando que “muitas serão<br />
as start-ups que não irão sobreviver”.<br />
Baseando-se nos dados da Y Combinator,<br />
incubadora e aceleradora de start-ups, conta
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
que “estima-se que o congelamento das<br />
verbas depositadas no Silicon Valley Bank por<br />
parte de alguns negócios pertencentes à sua<br />
comunidade poderia impactar o processamento<br />
de salários, bem como o pagamento de contas<br />
de mais de 10 mil empresas e start-ups.<br />
O impacto é grande, e nunca houve dúvidas de<br />
que assim seria”.<br />
Apesar de não considerar totalmente<br />
verdadeira a ideia de que todas as empresas<br />
necessitassem do investimento para<br />
continuarem a crescer, assume que algumas
60<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
possam mesmo “ficar pelo caminho”, mas<br />
que mesmo os que sobrevivam, “terão<br />
inevitavelmente de ajustar os seus planos de<br />
negócio e, principalmente, reavaliar aquele<br />
que consideram ser o seu valor perante uma<br />
nova realidade que se está a construir”.<br />
Nesse mesmo sentido, olhando para os<br />
investimentos que as empresas têm feito,<br />
defende que “é importante ter em mente<br />
que reduções no financiamento não podem<br />
influenciar o serviço que prestamos aos<br />
nossos clientes finais e a perceção que estes<br />
têm acerca do negócio”, como é o caso do<br />
investimento em sustentabilidade e na<br />
redução da pegada ambiental.<br />
“Qualquer empresa que procure alcançar<br />
o sucesso tem de procurar adaptar as suas<br />
operações e estar consciente do impacto<br />
que tem no meio ambiente. O público está<br />
cada vez mais exigente e procura opções que<br />
permitam ao máximo a redução da sua pegada<br />
ambiental”, afirma Mario Martínez-Jurado,<br />
“acredito que se trata de saber gerir as<br />
prioridades. Neste momento, tendo em conta<br />
a emergência climática, bem como as atuais<br />
metas de descarbonização cada vez mais<br />
ambiciosas e sérias, a transição verde não me<br />
parece algo que possa ser colocado de parte ou<br />
adiado sem quaisquer constrangimentos”.<br />
UM BANCO DE ELEIÇÃO<br />
A especialização do Silicon Valley Bank<br />
nas start-ups de tecnologia levou muitos<br />
empreendedores e investidores a optar<br />
por este banco, que iria oferecer serviços<br />
financeiros ajustados a esta indústria.<br />
“A verdade é que, aos dias de hoje, este era<br />
efetivamente o banco de eleição para start-<br />
-ups, não só nos EUA, como um pouco pelo<br />
mundo inteiro. Diria que o principal fator<br />
diferenciador foi efetivamente possuir um<br />
foco muito grande em indústrias tecnológicas<br />
de rápido crescimento. Isto significa que<br />
beneficiava de uma poderosa rede de fundos/<br />
sociedades de capital de risco, investidores e<br />
empresas que adotaram este banco como o<br />
principal intermediário em várias etapas de<br />
desenvolvimento de negócio”, explica Mario<br />
Martínez-Jurado.<br />
Olhando para o impacto para as cadeias<br />
de abastecimento, considera que não se irá<br />
sentir negativamente ao nível do volume de<br />
entregas ou de rotas de distribuição, pois “a<br />
tendência é exatamente o oposto”, mas sim<br />
nalgumas empresas por detrás das cadeias de<br />
abastecimento, como é o caso da Vonzu.<br />
A Vonzu também sentiu alguma<br />
repercussão, no entanto, de forma indireta,<br />
mas destaca que “a ação rápida do sistema<br />
financeiro para absorver os danos causados<br />
pelo Silicon Valley Bank e dar a todos os<br />
lesados o apoio que necessitavam, ajudou<br />
bastante todo o ecossistema de start-ups à<br />
escala global”.<br />
“Perante o atual cenário de crise económica<br />
que atravessamos, a juntar a este mais recente<br />
acontecimento, diria que não se avizinham<br />
tempos fáceis e que é profundamente<br />
necessário adaptarmos a forma como<br />
trabalhamos, de modo a conseguirmos<br />
continuar a prosperar no setor da logística<br />
e distribuição, onde somos especialistas”,<br />
defende ainda o fundador e CEO da Vonzu.<br />
Apesar de tudo, Mario Martínez-Jurado<br />
mostra-se positivo em relação às perspetivas<br />
futuras, e confiante de que o negócio<br />
continuará a crescer, afirmando que “vamos<br />
começar a era dos negócios reais, dos<br />
negócios que criam receitas, geram lucro,<br />
são capazes de dar dividendos aos seus<br />
investidores e, mesmo assim, sobreviver de<br />
forma sustentável”. •
SEMPRE AO<br />
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sustentabilidade para<br />
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nossos clientes ao longo do seu<br />
desenvolvimento logístico.<br />
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62<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
SAP<br />
Texto: Fábio Santos<br />
O FUTURO<br />
ESTÁ NA REDE<br />
As disrupções nas cadeias de abastecimento<br />
surgem de forma cada vez mais inesperada,<br />
e por muito que possamos prever eventos,<br />
é sempre necessário mais, tanto para<br />
antecipar como para reagir. A tecnologia<br />
tem dado grandes passos de forma a ajudar<br />
as empresas a responder de forma cada<br />
vez mais eficaz, e tem sido esta a criar a<br />
diferenciação nos negócios. Chamando as<br />
coisas pelos nomes corretos: a tecnologia<br />
tem sido a verdadeira parceira das empresas.<br />
D<br />
igital. É provavelmente esta a palavra que<br />
marca este século. Os processos manuais<br />
estão a ser transferidos não apenas para a<br />
automatização, mas também para a automação,<br />
sendo que as pessoas ganham competências<br />
novas e diferentes. Todos os conhecimentos de<br />
processos que adquiriram durante vários anos<br />
são agora reaproveitados, não para a fabricação,<br />
mas para o controlo de produtos e de máquinas,<br />
que assumem estas operações complexas, e<br />
ao mesmo tempo que aliviam os operadores<br />
de trabalhos complexos e de cargas pesadas,<br />
também minimizam o erro humano. Acaba por<br />
funcionar como uma parceria.<br />
Dominik Metzger, Global VP – head of SAP<br />
digital supply chain - Plan to Fulfill, SAP Product<br />
Engineering, é o responsável pela gestão de uma<br />
linha de negócios de desenvolvimento global,<br />
desde soluções inovadoras para uma supply<br />
chain digital, como design, gestão de produto,<br />
engenharia e co-inovações de clientes para todos<br />
os produtos dentro da linha de negócios. Em<br />
entrevista à SCM, o responsável global fala-<br />
-nos sobre o estado do setor e como a inovação<br />
tecnológica tem dado este apoio às empresas,<br />
bem como a estratégia da SAP para os próximos<br />
anos.<br />
“Tenho observado, especialmente nos<br />
últimos três a quatro anos, como a cadeia de<br />
abastecimentos de repente se tornou um tópico<br />
realmente importante na maioria das indústrias”,<br />
começa por notar o responsável. Olhando para<br />
a digitalização das empresas, considera que se<br />
torna cada vez mais uma exigência para entrar
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
nos mercados, e para se tornarem competitivas<br />
face à concorrência, ao invés de apenas por uma<br />
necessidade interna.<br />
Recentemente, receberam os resultados de<br />
um estudo feito em conjunto com a Oxford<br />
Economics, pois pretendiam ter alguma<br />
informação relativamente à estratégia de<br />
investimento em colaboração, ou em redes de<br />
negócios, e como é vista pelos seus clientes ou<br />
por empresas que não trabalham com software<br />
da SAP. “Esse foi um estudo realizado com<br />
clientes SAP e não SAP. E o que resultou é que<br />
mais de 50% das empresas veem a colaboração<br />
no ecossistema como crítica”, aponta Dominik<br />
Metzger.<br />
Uma das missões da SAP é colocar as partes<br />
em contacto, criando “redes de negócio”: “trata-<br />
-se essencialmente de ajudar os nossos clientes<br />
a conectarem-se melhor com fornecedores de<br />
materiais, fornecedores de componentes de<br />
matéria-prima como parte dos seus processos<br />
de aquisição, mas também conectar prestadores<br />
de serviços de logística, que obviamente<br />
desempenham um papel crítico”.<br />
Dominik Metzger, Global VP – Head of SAP Digital Supply Chain<br />
Uma das soluções da SAP que ajuda nesta<br />
comunicação, coordenação e cooperação entre<br />
as partes é o SAP Design-to-operate (D2O), que<br />
“representa todo o processo PLM” (gestão do<br />
ciclo de vida do produto), criando um processo<br />
da cadeia de abastecimentos interoperável,<br />
conectado e end-to-end, desde como um produto<br />
é projetado, fabricado, entregue e mesmo como<br />
opera e é mantido. “Podemos antecipar
64<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
a demanda, fornecer e combinar os dois”,<br />
acrescenta, “o fabrico é um grande pilar para nós,<br />
mas também todo o domínio das operações de<br />
ativos e operações de manutenção”. Ao nível da<br />
logística, isto envolve também as operações de<br />
armazenamento ou de transporte.<br />
“Para nós, a colaboração estende-se por<br />
todo o portfólio das nossas soluções, onde<br />
nós permitimos que os nossos aplicativos<br />
de negócios forneçam a possibilidade de se<br />
conectar a um parceiro”, e isto vai desde os<br />
próprios parceiros de serviço aos fabricantes<br />
originais. “O que é uma grande prioridade para<br />
nós nesses pilares é realmente investir em<br />
recursos de colaboração mais fortes”, defende.<br />
muito a conexão dessas empresas à nossa<br />
rede, seja para aquisição de materiais ou para<br />
aquisição indireta”, explica Dominik Metzger.<br />
No entanto, o mais difícil é chegar às PME,<br />
sendo que algumas nem possuem um ERP, e<br />
por não serem tão digitalizadas, é mais difícil<br />
conectarem-se com elas. “Esta é uma área<br />
em que investimos, digamos, em tecnologias<br />
diferentes, como a capacidade de conectar<br />
até mesmo com estes fornecedores menores”,<br />
aponta. Uma forma de chegarem a estas<br />
empresas é, por exemplo, através de um portal<br />
web. “Podemos não ter interfaces diretas com<br />
o ERP, mas ainda permitimos que eles acessem<br />
um portal da web, através de um site normal”.<br />
CONECTIVIDADE PARA TODOS<br />
Uma das formas de apoiar esta colaboração<br />
entre os utilizadores é através do SAP Partner<br />
Ecosystem, um sistema de business network<br />
colaborativo para apoiar os seus clientes na<br />
transição digital, facilitando a comunicação e o<br />
fluxo de informação entre as partes. “Para mim,<br />
existem diferentes elementos para dizer como<br />
alavancamos o nosso ecossistema. Acho que a<br />
primeira é que existe uma grande quantidade<br />
de empresas que já utilizam um sistema SAP<br />
ERP, então temos milhares de clientes que já<br />
usam uma versão do nosso ERP, o que facilitou<br />
Enquanto exemplo recente da indústria<br />
automotiva, o Catena-X é um projeto que veio<br />
padronizar a forma como a SAP integra as<br />
pequenas e médias empresas. O responsável<br />
destaca que “pelo menos mais de 80% de<br />
todos os materiais e componentes que acabam<br />
num carro acabado não são produzidos por<br />
um fornecedor de tier 1. Eles são produzidos<br />
por fornecedores menores, de tier n, portanto,<br />
padronizar a maneira como podemos comunicar,<br />
e como podemos integrar qualquer aplicação<br />
do género ERP, é uma parte importante do<br />
Catena-X, para permitir que estas empresas<br />
mais pequenas se conectem no ecosistema”, e
SCM Supply Chain Magazine 65<br />
que considera que esse será, provavelmente,<br />
o aspeto mais importante ao falar sobre como<br />
construíram esse ecossistema de parceiros para<br />
habilitar as suas aplicações.<br />
Ao nível dos desafios, Dominik Metzger<br />
nota que “não é tanto uma questão de<br />
tecnologia, mas mais uma questão de<br />
negócios”, e mantendo o exemplo sentido com<br />
o Catena-X, explica que a indústria automotiva<br />
tradicionalmente otimiza o seu lucro através de<br />
preços de compra com margens mais apertados<br />
com os seus fornecedores, e que durante<br />
décadas, otimizaram a forma como produzem e<br />
compram para obter os melhores preços, com<br />
a melhor qualidade, dos seus fornecedores.<br />
“Eles usam dados para negociar com mais força,<br />
para obter melhores acordos contratuais, mas<br />
os últimos três anos mostraram que mesmo<br />
que tenhamos os melhores contratos, para a<br />
melhor qualidade, para os melhores preços de<br />
um fornecedor, se esse fornecedor não conseguir<br />
obter as suas próprias matérias-primas, ou<br />
houver um bloqueio no Canal do Suez, não<br />
conseguimos produzir”.<br />
Após esta mudança de paradigma, nota que<br />
os ganhos de eficiência e as formas de melhorar<br />
as margens começaram a esgotar-se, e defende<br />
que os dados não devem ser usados como<br />
uma “arma” para um fornecedor maior obter<br />
melhores taxas de um fornecedor menor, mas<br />
na verdade para colaborar. “Esse é o desafio<br />
mais difícil: mudar essa mentalidade de que não<br />
estamos mais a usar os dados para desafiar os<br />
outros, mas sim para gerar valor em conjunto”,<br />
defende, “usar dados para colaborar, para<br />
mitigar alguns riscos, e para nos ajudarmos uns<br />
aos outros”.<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
A sustentabilidade é um dos três grandes<br />
pilares da SAP, e a partilha dos dados também<br />
é importante para as empresas conseguirem<br />
ter uma visão mais completa das suas emissões<br />
e da sua pegada carbónica. “As empresas têm<br />
de ser capazes de reportar as suas emissões<br />
de carbono em determinados países para<br />
determinados produtos, para obter visibilidade,<br />
e para entender quais são as suas pegadas<br />
carbónicas. Mas esse relatório não reduz a<br />
pegada de carbono”, destaca Dominik Metzger,<br />
“a nossa estratégia é consciencializar, e auxiliar<br />
na tomada de decisão, em torno das dimensões<br />
da sustentabilidade”.<br />
Têm incorporados KPIs de sustentabilidade,<br />
bem como de outras áreas importantes, como<br />
a responsabilidade social, onde é possível<br />
o cliente comparar fornecedores, tendo em<br />
conta as métricas que procuram, avaliando o<br />
risco, a relação preço-qualidade, preocupação<br />
ambiental, etc. “Levar essas informações para<br />
o tomador de decisão do negócio é o que eu<br />
chamo de operacionalizar a sustentabilidade”,<br />
comenta o head of digital supply chain. Esta<br />
foi uma medida que adotaram na área de<br />
procurement, mas também no planeamento da<br />
cadeia de abastecimentos.<br />
RESILIÊNCIA<br />
Nos próximos anos, uma das áreas em que a<br />
SAP mais vai investir será em ajudar as empresas<br />
a tornarem-se mais resilientes ao risco, apoiando-<br />
-as nesta área mais estratégica.
66<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
“Temos um plano de implementação pela<br />
frente para os próximos anos, para habilitar<br />
cada vez mais essa colaboração em rede nas<br />
nossas aplicações”, explica, mas acrescenta<br />
que “para se tornar verdadeiramente<br />
resiliente ao risco, há uma outra grande área<br />
na qual estamos a investir, que é em ajudar<br />
a sincronizar os seus planos de supply chain<br />
com a execução. Muitos dos nossos clientes já<br />
têm uma capacidade mais ou menos forte de<br />
antecipar a demanda, através de ferramentas<br />
de previsão, e têm a possibilidade de planear<br />
o abastecimento, mas onde a maioria<br />
das empresas erra é em sincronizar esse<br />
planeamento com a execução, implementando<br />
as previsões na produção”.<br />
Dominik Metzger reforça a ideia de que<br />
é necessário que as empresas sejam ágeis<br />
nas suas cadeias de abastecimento, para que<br />
quando surja uma disrupção que impeça o<br />
abastecimento, consigam ter a transparência<br />
necessária e reagir rapidamente, e “isso não<br />
acontece apenas uma vez por mês, acontece<br />
todos os dias”.<br />
Novas e avançadas tecnologias, como<br />
inteligência artificial ou machine learning,<br />
terão um papel importante para alcançar esta<br />
finalidade, e destaca como principais exemplos<br />
a rede, ou a capacidade de conectar empresas;<br />
a computação em nuvem, permitindo a<br />
integração e dimensão das operações com<br />
maior rapidez; e a inteligência artificial.<br />
Num olhar para o estado das cadeias de<br />
abastecimento, e para onde estas se dirigem,<br />
Dominik Metzger considera que apesar da<br />
situação vivida recentemente com a pandemia<br />
de COVID-19, envolvendo uma adaptação para<br />
o nearshoring de modo a reduzir os riscos<br />
de abastecimento, “ainda há muito valor na<br />
globalização”.<br />
O head of supply chain aponta que a maioria<br />
das empresas com quem tem tido contacto<br />
reconhece que precisam de se tornar mais<br />
inteligentes na forma como aproveitam as<br />
vantagens da globalização, e que “tornar-se<br />
consciente do risco e resiliente a interrupções<br />
é um paradigma completamente novo que as<br />
empresas terão de enfrentar nos próximos 10<br />
anos”.<br />
Ao nível das tendências e dimensões,<br />
destaca que as empresas falam muito de<br />
ERP (Enterprise Resource Planning), mas<br />
acredita numa ótica de NRP: Network<br />
Resource Planning. “Acho que nas próximas<br />
décadas este será o novo normal, em que as<br />
empresas não planeiam apenas dentro de<br />
suas próprias quatro paredes, mas desde o<br />
início da cadeia, considerando as restrições<br />
de seu ecossistema”, e a inteligência artificial<br />
e o machine learning irão ser essenciais para<br />
dar este suporte, e para que o ecossistema<br />
funcione em rede. •
68<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Porto de Sines<br />
Texto: Fábio Santos<br />
UM DESAFIO<br />
CHAMADO NEXUS<br />
Liderada pela Administração dos Portos de<br />
Sines e do Algarve (APS), a Agenda Nexus<br />
é um projeto que visa a transição digital<br />
e ecológica do setor dos transportes e da<br />
logística, através do desenvolvimento de<br />
28 novos produtos e serviços, em áreas<br />
inovadoras e diferenciadoras, como open<br />
data, IA, 5G, cibersegurança, ou mesmo<br />
modelos e algoritmos preditivos para a<br />
gestão de recursos energéticos. Com José<br />
Luís Cacho espreitámos o futuro.<br />
Trata-se de um consórcio composto por 35<br />
organizações representativas da cadeia<br />
de valor, como exportadores, operadores<br />
logísticos e de transporte, bem como empresas<br />
vocacionadas para exportar tecnologia e<br />
entidades não empresariais do Sistema de<br />
I&I (ENESII). Pelo seu impacto, não apenas na<br />
cadeia logística associada ao Porto de Sines,<br />
mas mesmo nacional e internacional, é um dos<br />
projetos selecionados no âmbito das Agendas<br />
Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do<br />
Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tendo<br />
obtido um incentivo de 59 milhões de euros para<br />
o seu desenvolvimento.<br />
Em entrevista à SCM, José Luís Cacho,<br />
presidente da APS, explicou-nos em maior<br />
detalhe o projeto Nexus, os seus objetivos e<br />
metas, benefícios para o ecossistema que dele<br />
faz parte, bem como o impacto da transição<br />
digital e da descarbonização nos processos<br />
portuários e nos serviços a eles associados.
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
José Luís Cacho, presidente da APS<br />
PORTO SEM PAPEL<br />
A desmaterialização de processos do Porto de<br />
Sines teve início em 2005, à data, com a Janela<br />
Única Portuária (JUP). Foi um processo que teve<br />
como objetivo a interligação de todos os agentes<br />
numa única plataforma, permitindo que agissem<br />
de forma conectada, digitalmente. José Luís<br />
Cacho recordava que “foi algo bastante inovador,<br />
estávamos na linha de frente da tecnológica<br />
a nível portuário. A JUP significava dentro de<br />
todo o universo portuário, toda a comunidade<br />
portuária, todos os atores públicos, privados,<br />
a interagir numa plataforma eletrónica, no<br />
procedimento de todas as mercadorias. Que é o<br />
que vulgarmente dizemos, um porto sem papel”.<br />
Mais recentemente, em 2017 começaram a<br />
trabalhar na Janela Única Logística (JUL), um<br />
projeto da Associação dos Portos de Portugal<br />
(APP) que foi uma evolução do que já tinham<br />
com a JUP. “Foi a ferramenta tecnológica dos<br />
portos”, explica, “a JUL é a evolução. Estender<br />
todo aquele universo portuário, toda a cadeia<br />
logística, para integrar toda a cadeia logística dos<br />
portos dentro do universo do porto, do universo<br />
da cadeia de abastecimento e da cadeia de<br />
distribuição, de todos os corredores logísticos,<br />
onde integram os operadores ferroviários, os<br />
operadores rodoviários, todos os atores que<br />
intervêm ao longo desse processo, os operadores<br />
logísticos, e, finalmente, com o destino de<br />
chegar aos próprios carregadores, portos secos,<br />
plataformas, e se integrarem todos dentro da<br />
JUL”.<br />
José Luís Cacho explica que este foi um<br />
processo evolutivo normal, que manteve o<br />
Porto de Sines na linha da frente, mesmo a nível<br />
europeu.<br />
O Nexus, por sua vez, teve uma perspetiva<br />
diferente. Durante a pandemia, o Porto de Sines<br />
olhou para o seu plano estratégico, e apercebeuse<br />
de que era uma oportunidade interessante,<br />
com grandes desafios. Após o encerramento<br />
da central termoelétrica de Sines, que<br />
representava cerca de 15% da atividade do porto,<br />
e com a estratégia europeia e mundial para a<br />
descarbonização da economia, a representar<br />
um risco muito grande por 70% da atividade do<br />
porto estar dependente das energias fósseis, foi<br />
necessária “uma reflexão estratégica profunda,<br />
num trabalho muito interessante”.<br />
PLANO AMBICIOSO<br />
José Luís Cacho descreve que o projeto<br />
Nexus, à data, era “um plano estratégico muito<br />
ambicioso”, e com “uma abordagem inovadora<br />
e diferente”. Estudaram o desenvolvimento da<br />
cadeia logística, com um conjunto de ações<br />
muito importantes ao nível da descarbonização<br />
e da digitalização do porto, envolvendo todos os<br />
intervenientes da cadeia.<br />
“Entretanto, surge o PRR, e surgem as agendas<br />
do PRR, também com um conjunto de desafios,<br />
de oportunidades, que nós entendemos como<br />
estando perfeitamente alinhado com as ações<br />
que nós queremos como plano estratégico.<br />
Olhámos para o PRR, com as agendas como
70<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
anies<br />
senting the<br />
hain<br />
nsortium<br />
uma ferramenta que vai operacionalizar e ajudar-<br />
-nos mais rapidamente a acelerar todas as ações<br />
que estão no nosso plano estratégico. Este, de<br />
facto, é o caminho”, afirma.<br />
Apresentaram o projeto, e procuraram agregar<br />
um conjunto de empresas para integrar o plano,<br />
que estivessem alinhadas com os seus objetivos<br />
e que fizessem sentido de constar neste<br />
ecossistema. Convidaram desde carregadores,<br />
empresas tecnológicas, ou universidades,<br />
a olharem para o corredor logístico e a<br />
descarbonizá-lo e a digitalizá-lo, e a verem “o<br />
projeto como uma ferramenta importante para a<br />
competitividade de todo o corredor”.<br />
Ao todo, reuniram um conjunto de 35<br />
entidades. “Toda a cadeia do corredor logístico<br />
de Sines entrou para este projeto”, afirma,<br />
contando com carregadores, o operador do<br />
terminal de contentores, operadores rodo<br />
e ferroviários, empresas tecnológicas e<br />
universidades.<br />
José Luís Cacho explica que “é um grande<br />
consórcio de entidades, que tem o objetivo de<br />
produzir, dentro daquilo que necessitam, um<br />
conjunto de ferramentas do âmbito digital, da<br />
descarbonização, da energia, e de experiência<br />
agrária de energia, que se associaram ao projeto”.<br />
A avaliação do projeto contou com um<br />
júri internacional, e “teve uma excelente<br />
classificação”, estando agora a trabalhar neste<br />
projeto de desenvolvimento. “Nós somos<br />
coordenadores do consórcio, destas 35 entidades,<br />
da qual fazemos parte. Naturalmente que temos<br />
interesse, porque o projeto assenta no corredor<br />
logístico de Sines”, nota.<br />
Ao nível do estado de maturação do projeto, o<br />
presidente da APS destaca que “o Nexus, neste<br />
momento, está a arrancar. O projeto começou<br />
em desenvolvimento há poucos meses, está<br />
em fase de arranque e está a arrancar bem.<br />
Temos uma equipa permanente dedicada ao<br />
acompanhamento do projeto,”.<br />
O presidente da APS destaca que um dos<br />
compromissos do Nexus é que todos possam<br />
usufruir deste desenvolvimento tecnológico a<br />
nível nacional, e que, como tal, outros portos<br />
nacionais também poderão adaptar o projeto<br />
aos seus hinterlands. “Tudo aquilo que viemos a
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
produzir com o Nexus podemos partilhar com os<br />
outros portos nacionais. Não temos a ambição<br />
de não produzir, de facto temos condições para<br />
o fazer, melhores, talvez, mas tudo aquilo que<br />
vier a ser produzido, os outros portos vão ter<br />
a oportunidade também de partilhar. É nesta<br />
perspetiva que trabalhamos. Olhamos para<br />
o projeto como um todo. E uma perspetiva<br />
colaborativa, como sempre temos. E o objetivo,<br />
de facto, é o desenvolvimento”.<br />
INTERLIGAÇÃO DO ECOSSISTEMA<br />
José Luís Cacho explica que existe um<br />
conjunto de projetos específicos, alinhados em<br />
função daquilo que forem as necessidades e o<br />
interesse de cada um. “Tem áreas desde smart,<br />
dinamização das plataformas, data science,<br />
intelligence, ou componentes puramente<br />
tecnológicas e de desenvolvimento de<br />
plataformas, cibersegurança… da parte do porto<br />
de Sines, nós estamos na parte da plataforma,<br />
na questão do desenvolvimento, da recolha, do<br />
tratamento de informação que nos é dado por<br />
estas ferramentas, e otimizar todo o corredor<br />
digital logístico”, detalha.<br />
A interligação deste ecossistema criou<br />
uma maior conectividade de serviços<br />
complementares, facilitando a comunicação<br />
entre diversos agentes da cadeia, como é o<br />
caso da multimodalidade no transporte, entre<br />
operadores rodoviários, ferroviários e logísticos.<br />
“Facilita a criação de uma perspetiva comum,<br />
obriga a olhar todos em conjunto, e aproxima<br />
todos os intervenientes da cadeia logística”.<br />
O 5G também é uma ferramenta importante<br />
para operacionalizar todo o conjunto de serviços<br />
do porto, bem como para otimizar, por exemplo,<br />
a automação e desenvolvimento, e “isso vai<br />
ajudar a acelerar os processos de automatização<br />
no conjunto de serviços que são prestados em<br />
porto”, como é o caso da logística.<br />
O interesse do projeto não toca apenas no<br />
hinterland, mas também no foreland. Olhando<br />
um pouco para fora da própria cadeia de<br />
abastecimento, nota que a nível externo o<br />
projeto também traz desafios interessantes,<br />
nomeadamente na conectividade do porto com<br />
toda a cadeia externa. “Nós estamos nos
72<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
portos com que estamos ligados. Portanto, todos<br />
estes corredores que envolvem os armadores,<br />
que envolvem os portos de destino e todas essas<br />
entidades, este é o maior desafio. É um desafio<br />
importante e isso nós também pretendemos e<br />
temos, enquanto um dos objetivos do Nexus”.<br />
De modo a conseguirem escalar a plataforma<br />
a nível global, avança que vão contactar um<br />
conjunto de entidades que estão na linha da<br />
frente a nível mundial no desenvolvimento<br />
destas ferramentas. “É preciso ver que o Porto<br />
de Sines tem uma conectividade a uma escala<br />
global importante, e nós estamos a procurar<br />
tirar valor disso em várias perspetivas, ao<br />
captar investimento internacional para projetos<br />
industriais e logísticos aqui em Sines, e já temos<br />
investimentos de 20 mil milhões previstos,<br />
projetos industriais e logísticos”, avança.<br />
SUSTENTABILIDADE OPERACIONAL<br />
Não só estão a surgir grandes investimentos<br />
locais ligados a energias verdes, muitos deles<br />
atraídos pelo próprio porto, como também<br />
este conta com vários projetos ligados à<br />
sustentabilidade. “Há muitos projetos aqui<br />
das energias verdes, e também até na zona<br />
industrial e logística. As próprias empresas hoje<br />
já têm projetos de produção própria de energia<br />
e até nós estamos a arrancar, e até o final deste<br />
ano esperamos ter 6 megawatts de energia<br />
solar a produzir, e esperamos ter essa produção<br />
a funcionar a partir do início do próximo ano”.<br />
Até dentro de três anos o porto tenciona<br />
estar totalmente independente, e toda a<br />
energia consumida do porto ser produzida<br />
internamente, energia verde. Este objetivo seria<br />
atingido através de energia solar e eólica. “Nós<br />
estamos a criar uma comunidade de energia<br />
com a Câmara de Sines, com a AICEP Global<br />
Parques e com todas as indústrias. Ou seja, tudo<br />
aquilo que produzirmos em excesso, podemos<br />
vender”, explica José Luís Cacho, apostando<br />
não apenas na sustentabilidade das próprias<br />
operações, mas também dos meios envolventes<br />
locais.<br />
O porto também está a desenvolver uma<br />
ferramenta que permita monitorizar todos os<br />
processos evolutivos da descarbonização, para<br />
que as empresas consigam perceber quais os<br />
seus impactos negativos para o ambiente e<br />
o que conseguem melhorar, ou o que estão<br />
a melhorar. “O objetivo é que o Porto esteja<br />
totalmente descarbonizado antes daquilo<br />
que está estabelecido nos objetivos da União<br />
Europeia”.<br />
PERSPETIVAS POSITIVAS<br />
A guerra também na Ucrânica também<br />
impactou o Porto de Sines, mas o presidente<br />
da APS mostra-se confiante a curto prazo, e<br />
destaca que “as perspetivas para este ano são<br />
ligeiramente melhores que no ano passado, mas<br />
as perspetivas para o ano são muito boas”.<br />
Face aos constrangimentos pelos quais<br />
tiveram de passar nos últimos anos, José Luís<br />
Cacho nota que “tivemos de acelerar, trabalhar<br />
muito para captar novos investimentos, novos<br />
negócios, e ao mesmo tempo descarbonizar e<br />
digitalizar, é tudo um desafio muito grande”.<br />
Ao nível do projeto, destaca que este poderá<br />
trazer vantagens não apenas para os próprios<br />
envolvidos, mas também a nível nacional,<br />
e que “o objetivo é criar mais eficiência e<br />
competitividade na logística do nosso país, e<br />
com isso contribuir para o melhor desempenho<br />
da nossa economia, na escala nacional”.<br />
“A partir do ano 2024 nós acreditamos<br />
que vamos continuar a crescer segundo o<br />
que estávamos a prever dentro do nosso<br />
cronograma antes da pandemia, e antes da<br />
guerra. Queremos retomar esse processo a<br />
partir de 2024, e o Nexus é uma ferramenta<br />
importante para nos ajudar”, conclui o<br />
responsável. •
CARREIRA<br />
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
Novas competências<br />
Texto: Dora Assis<br />
QUAIS SÃO AS<br />
PROFISSÕES DO<br />
FUTURO NA SUPPLY<br />
CHAIN?<br />
As empresas precisam de desenvolver<br />
novas funções, incluindo "chefes de<br />
abastecimento" e "diretores de disrupção",<br />
se quiserem continuar a estar na vanguarda,<br />
diz um novo relatório da Capgemini. Venha<br />
espreitar as novas funções no futuro da<br />
supply chain.<br />
A<br />
sua organização está preparada para<br />
ter diretores de disrupção, chefes<br />
de abastecimento ou arquitetos de<br />
ineficiências? Estas podem muito bem ser as<br />
funções da cadeia de abastecimento do futuro,<br />
de acordo com um novo relatório da consultora<br />
tecnológica Capgemini.<br />
O relatório, “Fifteen Supply Chain Jobs of<br />
the Future”, afirma que as organizações terão<br />
de adaptar as suas cadeias de abastecimento<br />
em função da resiliência, da tecnologia<br />
e da sustentabilidade e garantir que os<br />
trabalhadores estão preparados para estas<br />
mudanças. Como tal, as funções tradicionais da<br />
cadeia de abastecimento terão de evoluir para<br />
responder a estas exigências.<br />
Dharmendra Patwardhan, global head of<br />
intelligent supply chain operations practice da<br />
Capgemini, diz que as funções e competências<br />
tradicionais "não são suficientes" no "cenário<br />
em constante evolução da gestão da cadeia de<br />
abastecimento".<br />
E acrescentou: "Embora o talento continue<br />
a ser um pilar da inovação, em última análise,<br />
somos tão bons quanto as pessoas que temos.<br />
Para compreender o futuro das cadeias de<br />
abastecimento, precisamos de identificar<br />
simultaneamente quais as competências e<br />
posições que serão críticas no futuro".<br />
Eis sete das 15 funções da cadeia de<br />
abastecimento do futuro, na perspetiva da<br />
Capgemini.<br />
1<br />
Chefe de Abastecimento<br />
(supply chief)<br />
Os chefes de abastecimento serão responsáveis<br />
pela manutenção de uma carteira de fornecedores<br />
alternativos e sustentáveis. Supervisionarão a<br />
qualificação e a certificação dos fornecedores e<br />
garantirão que estes cumprem as normas e os<br />
requisitos necessários para manter as operações a<br />
funcionar de forma eficiente.<br />
Segundo o relatório: "Num mundo em que a<br />
mudança é a única constante, o papel do chefe
74<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
de abastecimento nunca foi tão importante. Com<br />
menos fornecedores a deterem mais poder do que<br />
nunca e com a necessidade de sustentabilidade<br />
a atingir o seu ponto mais alto, este papel é<br />
fundamental para garantir que a cadeia de<br />
abastecimento se mantém estável e sustentável."<br />
2<br />
Diretor de disrupções<br />
Os diretores de disrupções serão responsáveis<br />
pela atenuação das perturbações e pela<br />
execução de um plano abrangente de gestão de<br />
crises da cadeia de abastecimento.<br />
A função exigirá alguém que possa reagir<br />
rápida e eficazmente a desafios imprevistos.<br />
Terão de ser fortes solucionadores de<br />
problemas e devem ter um conhecimento<br />
abrangente do ecossistema da cadeia de<br />
abastecimento.<br />
3<br />
de desempenho para identificar ineficiências<br />
e estrangulamentos, racionalizar operações,<br />
reduzir custos e melhorar a eficiência global.<br />
Segundo o documento da Capgemini:<br />
"À medida que o mundo se torna mais<br />
imprevisível, reduzir o risco e aumentar a<br />
resiliência das funções essenciais da cadeia de<br />
abastecimento é fundamental para garantir o<br />
sucesso contínuo."<br />
4<br />
O humano biónico<br />
Os humanos biónicos serão trabalhadores de<br />
armazém que usarão "exoesqueletos" mecânicos<br />
para ajudar a melhorar a sua força. Não só<br />
facilitarão o trabalho de recolha e embalagem,<br />
como também farão com que os papéis de género<br />
na logística passem a ser uma coisa do passado.<br />
"O humano biónico oferece uma oportunidade<br />
única para revolucionar a indústria da cadeia<br />
de abastecimento e redefinir o que significa ser<br />
um membro produtivo da força de trabalho", de<br />
acordo com o documento da consultora.<br />
Arquitecto de ineficiências<br />
Os arquitectos de ineficiências trabalharão<br />
em conjunto com o director de disrupções<br />
para garantir a prestação de níveis de serviço<br />
críticos durante uma crise. Serão responsáveis<br />
pela criação de cadeias de abastecimento<br />
eficientes e resistentes para satisfazer as<br />
necessidades em evolução da empresa.<br />
Terão de analisar os principais indicadores<br />
5<br />
Gestor do património<br />
dos resíduos<br />
Os gestores de riqueza de resíduos (Waste<br />
Wealth Manager no original inglês) serão
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
responsáveis por identificar oportunidades<br />
para reduzir os resíduos e aumentar a<br />
circularidade na cadeia de abastecimento.<br />
Serão capazes de analisar toda a cadeia<br />
de abastecimento para determinar onde e<br />
como os resíduos estão a ser produzidos<br />
e trabalhar com equipas multifuncionais<br />
para desenvolver soluções que minimizem<br />
os resíduos e maximizem a eficiência dos<br />
recursos.<br />
O relatório defende que "os gestores<br />
de resíduos terão de colaborar com as<br />
equipas de concepção de produtos para<br />
criar produtos mais sustentáveis e trabalhar<br />
com a logística para desenvolver opções de<br />
transporte sustentáveis."<br />
6<br />
Chefe de possibilidades<br />
de embalagem<br />
O chefe de possibilidades de embalagem<br />
supervisionará a embalagem e a entrega<br />
sustentável de produtos, bem como<br />
promoverá a circularidade na cadeia de<br />
abastecimento. Isto implicará a concepção<br />
de embalagens que possam ser facilmente<br />
limpas, reutilizadas, recicladas e que sejam<br />
biodegradáveis.<br />
Como explica a Capgemini, "para se<br />
adequarem a esta função, os candidatos<br />
devem ser capazes de liderar equipas<br />
multifuncionais e colaborar com as partes<br />
interessadas, internas e externas. Além<br />
disso, devem ter conhecimentos sobre as<br />
últimas tendências e tecnologias em matéria<br />
de embalagens".<br />
7<br />
Olímpico da Circularidade<br />
Os olímpicos da circularidade<br />
(Circularity Olympians) centrar-seão<br />
no desenvolvimento de cadeias de<br />
abastecimento circulares. Colaborarão<br />
com outras funções de sustentabilidade -<br />
como o Emissions Materials Thinker - para<br />
implementar programas de reciclagem e<br />
reduzir os resíduos.<br />
Estas novas funções, ou papéis, na<br />
supply chain têm o potencial de melhorar o<br />
desempenho das cadeias de abastecimento,<br />
mas também as condições de trabalho, dando<br />
às pessoas um maior sentido de propósito, o<br />
que poderá ter um efeito bastante positivo<br />
naquilo que atualmente é um problema<br />
generalizado e transversal: as dificuldades de<br />
recrutamento e de retenção de pessoas.<br />
Falámos de sete profissões do futuro,<br />
embora a Capgemini aponte 15, onde se<br />
incluem outras como é o caso da função<br />
“Carbon CapEx Calculator” ou o “VTOL<br />
(vertical takeoff and landing) Commander”.<br />
Tecnologias da próxima geração não faltam<br />
e possibilidades de aplicação aos processos<br />
logísticos também não, contribuindo<br />
assim para impulsionar a transformação<br />
das operações na cadeia, acrescentando<br />
realmente valor. Mas nada mudará realmente<br />
sem o envolvimento de quem está no terreno:<br />
as pessoas. •
76<br />
MAIO <strong>2023</strong><br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Dejan Bogosavljevic ´<br />
Business Development Manager | Kiwa Sativa<br />
MATERIAL DE EMBALAGEM<br />
E SEGURANÇA ALIMENTAR:<br />
UM EQUILÍBRIO DELICADO<br />
Nos últimos anos, tem-se verificado uma tendência crescente para a utilização<br />
de materiais de embalagem sustentáveis e de fontes responsáveis na indústria<br />
alimentar. Os materiais de embalagem sustentáveis são aqueles que são feitos a<br />
partir de recursos renováveis. Para além do material utilizado nas embalagens ser<br />
natural, é importante assegurar que este provém de fontes responsáveis para ter um<br />
impacto mínimo no ambiente.<br />
Embora a utilização de materiais de<br />
embalagem sustentáveis seja certamente<br />
um desenvolvimento positivo, é importante<br />
assegurar que a utilização de tais materiais<br />
não compromete a segurança alimentar e<br />
que provém de origens responsáveis. Esta<br />
preocupação pode ser demonstrada através da<br />
certificação de normas de segurança alimentar,<br />
complementada com normas de cadeia de<br />
custódia para os produtos de embalagens de<br />
base florestal que assegura a rastreabilidade<br />
desde a origem do material.<br />
Relativamente à segurança alimentar, um dos<br />
principais desafios na utilização de materiais<br />
de embalagem sustentáveis é garantir que os<br />
materiais são adequados para a intenção de uso<br />
pretendida. Por exemplo, alguns materiais que<br />
são biodegradáveis podem não ser adequados<br />
para embalar certos tipos de alimentos, uma<br />
vez que podem não proporcionar uma proteção<br />
adequada contra a contaminação. Do mesmo<br />
modo, alguns materiais podem interagir com<br />
certos tipos de alimentos, provocando uma<br />
alteração do sabor ou da textura dos mesmos.<br />
Outro desafio na utilização de materiais de<br />
embalagem sustentáveis é garantir que os<br />
materiais estão isentos de substâncias nocivas.<br />
Por exemplo, alguns tipos de materiais de<br />
embalagem biodegradáveis podem conter<br />
substâncias químicas que podem migrar para<br />
os alimentos e causar problemas de saúde. Por<br />
conseguinte, é importante garantir que todos os<br />
materiais de embalagem sustentáveis utilizados<br />
na indústria alimentar são cuidadosamente<br />
testados quanto à sua segurança.<br />
Apesar destes desafios, existem muitos
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
A Kiwa Sativa (FSC® N001895, PEFC/16-44-917) representa o<br />
Programa de Certificação do FSC da Soil Association na Região<br />
Mediterrânica. Para a certificação de cadeia de custódia PEFC,<br />
também trabalha em parceria com a Soil Association, cujo<br />
sistema é acreditado pelo United Kingdom Accreditation Service<br />
(UKAS).<br />
materiais de embalagem sustentáveis que<br />
são adequados para utilização na indústria<br />
alimentar. Um exemplo são as embalagens<br />
feitas de materiais à base de plantas, como<br />
o amido de milho ou a cana-de-açúcar. Estes<br />
materiais são biodegradáveis e podem ser<br />
compostos, o que os torna uma alternativa mais<br />
amiga do ambiente às embalagens de plástico<br />
tradicionais.<br />
Outro exemplo são as embalagens feitas de<br />
materiais reciclados. Os materiais reciclados,<br />
como o papel e o cartão, podem ser utilizados<br />
para fabricar embalagens que sejam<br />
simultaneamente sustentáveis e eficazes na<br />
proteção dos alimentos contra a contaminação.<br />
Para garantir que os materiais de embalagem<br />
sustentáveis são utilizados de forma segura<br />
na indústria alimentar, é importante que<br />
os produtores de alimentos trabalhem em<br />
estreita colaboração com os fornecedores de<br />
embalagens e as agências reguladoras. Ao<br />
respeitá-lo, é possível desenvolver soluções<br />
simultaneamente sustentáveis e seguras para<br />
utilização com alimentos.<br />
Regulamentos relativos aos materiais em<br />
contacto com os alimentos definem que<br />
estes são materiais que entram em contacto<br />
com os alimentos durante o processamento,<br />
armazenamento ou transporte. Regulamentos<br />
como o esquema de Notificação de Contacto<br />
com os Alimentos (FCN) da FDA nos EUA e<br />
o Regulamento (CE) da União Europeia n.º<br />
1935/2004, especificam os requisitos para os<br />
FCM para garantir que não migram substâncias<br />
nocivas para os alimentos. Os regulamentos<br />
exigem que os produtores efetuem avaliações<br />
de segurança e forneçam informações sobre os<br />
materiais utilizados na embalagem, incluindo<br />
aditivos, revestimentos e tintas de impressão.<br />
Como forma de assegurar que os materiais<br />
usados nas embalagens são provenientes<br />
de fontes responsáveis, que não colocam<br />
em causa valores naturais, demonstrando<br />
o apoio a práticas social e ambientalmente<br />
apropriadas, os fornecedores de embalagens<br />
podem optar pela certificação da Cadeia de<br />
Custódia, que se aplica a empresas que incluam<br />
nos seus processos de produção papel, cartão<br />
e/ou madeira certificados FSC® ou PEFC. O<br />
uso destes, pelas empresas, pode ajudá-las<br />
no percurso rumo à sustentabilidade a vários<br />
níveis, demonstrando que usa materiais mais<br />
ecológicos (e melhorar a imagem perante o<br />
consumidor), mas demonstrando igualmente a<br />
preocupação com a manutenção das florestas,<br />
biodiversidade e comunidades locais. •
78<br />
O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
“Por dentro da indústria secreta dos transportes marítimos”<br />
Ideas worth spreading, TED@BCG Singapore 2013,<br />
Rose George, 1.7 millhões de visualizações<br />
“Quanto a mim, sou atormentado por uma comichão interminável<br />
por coisas distantes. Eu adoro navegar por mares proibidos (…)”<br />
Herman Melville, em “Moby Dick”<br />
Há dez anos, Rose George falava na sua palestra<br />
duma indústria quase desconhecida da maioria de<br />
nós na altura, a dos transportes marítimos. Descrevia a<br />
sua experiência a bordo dum navio porta-contentores<br />
de tamanho médio, o “Maersk Kendal”, navegando<br />
durante cinco semanas, por cinco mares, dois oceanos<br />
e nove portos, com uma tripulação multi-cultural de<br />
vinte e uma pessoas. O seu objectivo era perceber a<br />
“cegueira do mar”, termo que foi atribuído por uma<br />
alta patente da Marinha Inglesa à ignorância das<br />
pessoas sobre o “grande azul” que rodeia as terras que<br />
habitamos.<br />
Entretanto, uma pandemia depois, já todos<br />
sabemos o quanto dependemos destes gigantes que<br />
atravessam os oceanos e movem 90% do comércio<br />
mundial. Embora o transporte marítimo seja, por<br />
unidade transportada, menos poluente do que o<br />
aéreo em cerca de mil vezes, e do que o terrestre<br />
em cerca de dez, aproxima-se em valor absoluto<br />
das emissões de CO2 da aviação, dados os enormes<br />
volumes e distâncias percorridas. Há grandes esforços<br />
no sentido de tornar mais “verde” o combustível<br />
usado, tipicamente de muito má qualidade por ser<br />
mais barato. Outro impacto negativo do transporte<br />
marítimo é no habitat acústico dos animais marinhos,<br />
impedindo por exemplo as baleias de respirar,<br />
comer e acasalar, ao emitir sons altos e constantes<br />
e interferindo em 90% com o seu principal sentido<br />
debaixo de água.<br />
O que continuamos sem conhecer é a dureza<br />
do trabalho das pessoas (chamadas, pouco<br />
humanamente, o “elemento humano”) que viajam<br />
com os contentores. As tripulações das mais de cem<br />
mil embarcações a percorrer os mares são muito<br />
reduzidas, devido à contentorização da carga e à cada<br />
vez maior automação. Estão sempre entre cansadas<br />
e exaustas, com permanências nos portos inferiores<br />
a duas horas, e por vezes em perigo de vida. Desde<br />
pouco antes da palestra de Rose George, tinha sido<br />
permitido aos navios circular sobre uma “bandeira<br />
de conveniência” (por exemplo Bolívia, Mongolia ou<br />
até Coreia do Norte), o que possibilita ter tripulações<br />
de todas as nacionalidades, mas também as torna<br />
mais vulneráveis. Por essa altura, a Harvard Business<br />
Review tinha elegido o modelo de negócio dos<br />
piratas somalis como o melhor do mundo. Havia 544<br />
tripulantes reféns, presos nos seus navios por estes<br />
bandidos, meses a fio, e nalguns casos abandonados<br />
pelas respectivas empresas, devido ao anonimato<br />
causado por aquele registo aberto.<br />
Rose George é jornalista e escritora, tendo trabalhado<br />
como “free-lancer” para o New York Times e Guardian,<br />
entre outros. O seu livro “Noventa por Cento de Tudo” sobre<br />
a indústria dos transportes marítimos, recebeu o Prémio<br />
Mountbatten da Literatura. Licenciou-se pela Universidade<br />
de Oxford em Línguas Modernas e tem um mestrado em<br />
Política Internacional pela Universidade de Pensilvânia,<br />
tendo sido bolseira Fullbright e Thouron.