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SCMedia News | Revista | Abril 2023

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Abril</strong> <strong>2023</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

41<br />

RISCO:<br />

O INIMIGO INVISIVEL<br />

TOP 10<br />

AS EMPRESAS MAIS<br />

INCLUSIVAS DO MUNDO<br />

O COMPROMISSO<br />

SUSTENTÁVEL DA APPLE<br />

BURNOUT NA SUPPLY CHAIN<br />

Somos apenas humanos


Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

EDITORIAL<br />

A CARGA DO TRABALHO<br />

“Ai que prazer<br />

Não cumprir um dever,<br />

Ter um livro para ler<br />

E não o fazer! (...)”<br />

Fernando Pessoa<br />

Ao contrário do que diz Fernando Pessoa no<br />

poema “Liberdade”, faça o favor de ler isto<br />

até ao fim, porque o assunto é sério e não se<br />

conhecem efeitos secundários adversos ao<br />

estar informado.<br />

Não há dúvida de que estes últimos anos<br />

têm sido difíceis e não nos têm dado folgas.<br />

Os impactos profundos e abrangentes da<br />

pandemia, com os confinamentos globais e<br />

as enormes perturbações, e subsequentes<br />

disrupções, na cadeia de abastecimento<br />

ameaçaram as economias, as empresas, os<br />

recursos e os meios de subsistência em todo<br />

o mundo.<br />

E, para aqueles que trabalham na supply<br />

chain, os desafios persistiram muito depois<br />

do pior ter passado. É que, enquanto o mundo<br />

se esforçava para sair da sombra do vírus,<br />

as pressões exercidas sobre a cadeia de<br />

abastecimento ameaçaram desencadear o seu<br />

colapso total, colocando o ónus diretamente<br />

sobre os ombros dos trabalhadores da cadeia<br />

de abastecimento, que se esforçaram por<br />

fazer com que as empresas - e as economias -<br />

voltassem a funcionar na anormalidade.<br />

O resultado? Equipas com excesso de<br />

trabalho, sobrecarregadas, pressionadas<br />

e a movimentarem-se em contextos e<br />

cenários, quantas vezes inéditos, e colocadas<br />

diariamente perante incertezas.<br />

Depois da “resiliência” foi o "burnout" que<br />

integrou o nosso vocabulário, mas, atenção,<br />

que é muito mais do que uma “buzzword”:<br />

é um facto, é real, é omnipresente e é uma<br />

ameaça, tanto para o trabalhador, como para<br />

a equipa, como um todo e enquanto grupo de<br />

trabalho.<br />

Por isso, nesta edição, o tema merece<br />

destaque num artigo de fundo que procurou<br />

ouvir várias partes envolvidas e olhar para o<br />

problema por diferentes óticas. Não é fácil<br />

pegar no tema, nem evitar o problema. Mas é<br />

possível.<br />

Ideias a reter? Talvez uma. A tecnologia pode<br />

ser a resposta. Não elimina o trabalho. Alivia,<br />

isso sim, a carga do trabalho e potencia o<br />

equilíbrio e a sustentabilidade entre a vida<br />

profissional e pessoal, desde que doseada.<br />

É que, contas feitas, não tenhamos dúvidas:<br />

“Somos apenas humanos”.


4<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

#22 #30 #38<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

EUA lideram fornecimento de gás<br />

natural no 1.º trimestre 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Fulfillment by FHB Group 08<br />

Risco: o inimigo invisível 14<br />

Quinas - Uma cerveja portuguesa, com<br />

certeza 16<br />

Tecnologia e sustentabilidade:<br />

combinação vencedora 22<br />

DS Smith -<br />

O papel do futuro sustentável 26<br />

PROCUREMENT<br />

NOS - Proatividade e eficiência com<br />

fornecedores 30<br />

Top 10 das empresas mais inclusivas do<br />

mundo 38<br />

O compromisso<br />

sustentável da Apple 44<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Armazém: o protagonista esquecido 48<br />

TECNOLOGIAS<br />

GoWizi 42


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

#48<br />

#58<br />

TRANSPORTES<br />

Lowlow 60<br />

SEMPER 64<br />

CARREIRA<br />

Burnout 72<br />

#60<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

PAR Design<br />

Sales manager_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Events Support_<br />

Katline Costa<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

Estatuto Editorial _<br />

www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Energia<br />

EUA LIDERAM FORNECIMENTO DE GÁS NATURAL<br />

A PORTUGAL NO PRIMEIRO TRIMESTRE<br />

Segundo dados divulgados pela Adene -<br />

Agência para a Energia, os Estados Unidos<br />

lideraram o fornecimento de gás natural a<br />

Portugal no primeiro trimestre de <strong>2023</strong>, com<br />

uma quota de 46,3%.<br />

A Nigéria ficou em segundo lugar, com 31,9%<br />

do fornecimento, enquanto que o gás importado<br />

através das interligações com Espanha e Rússia<br />

ficaram em terceiro e quarto lugar, com quotas<br />

de 12,7% e 9,2%, respetivamente.<br />

A mudança na liderança do fornecimento de<br />

gás natural a Portugal ocorreu devido à crise<br />

energética na Europa, quando a Rússia invadiu<br />

a Ucrânia. Naquela altura, a Nigéria liderava o<br />

fornecimento de gás natural a Portugal, com<br />

uma quota de 56%, seguida pelos Estados<br />

Unidos com 32,9%, Rússia com 6,2% e Trinidad e<br />

Tobago com 4,9%.<br />

No ano passado, o Ministro do Ambiente<br />

e Ação Climática, Duarte Cordeiro, visitou a<br />

Nigéria juntamente com o Secretário de Estado<br />

da Energia, João Galamba, atualmente Ministro<br />

das Infraestruturas, tendo o governo nigeriano<br />

garantido que os contratos de fornecimento<br />

seriam cumpridos. No entanto, o governante<br />

admitiu o risco de incumprimento, o que poderia<br />

levar a alterações de preços daquela matériaprima<br />

em Portugal.<br />

Para evitar situações semelhantes no futuro,<br />

o governo português tem procurado diversificar<br />

os seus fornecedores de gás natural. Segundo<br />

dados da Redes Energéticas Nacionais (REN), o<br />

consumo de gás natural no primeiro trimestre<br />

de <strong>2023</strong> foi de 12.895 gigawatts-hora (GWh),<br />

menos 19,6% face ao período homólogo.<br />

O mercado elétrico representou cerca de<br />

33% do consumo, enquanto que o mercado<br />

convencional foi responsável por 67% do<br />

consumo. No mesmo período do ano passado, o<br />

mercado elétrico representava 44% e o mercado<br />

convencional 56%.<br />

Com a queda no consumo de gás natural em<br />

Portugal, a Entidade Reguladora dos Serviços<br />

Energéticos (ERSE) propôs um aumento de 2,4%<br />

no preço do gás natural. A proposta de aumento<br />

está atualmente em consulta pública. •


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8<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Fulfillment<br />

by FHB Group<br />

Entrevista: Fábio Santos<br />

“É IMPORTANTE<br />

ESTAR PREPARADO E<br />

REAGIR ÀS MUDANÇAS”<br />

O mundo tem passado por momentos conturbados.<br />

A guerra na Ucrânia já dura há mais de um ano<br />

e, entretanto, no dia 5 de maio, foi declarado<br />

o fim oficial da pandemia pela Organização<br />

Mundial da Saúde (OMS). Estes foram dois marcos<br />

importantes para a economia mundial, e que<br />

em muito mudaram a logística e a forma como<br />

o planeamento era feito. Com uma visão mais<br />

europeia, mas também global, Rastislav Tinák, da<br />

Fulfillment by FHB Group, conta-nos o impacto que<br />

sentiram neste último ano e como conseguiram<br />

antecipar aumentos nas suas operações.


SCM Supply Chain Magazine<br />

9<br />

Rastislav Tinák, Logística/fullfi i lment<br />

Durante a pandemia enfrentámos um<br />

aumento dos níveis de e-commerce, como nunca<br />

antes visto na maioria dos países, mas depois<br />

veio uma guerra, e a inflação dos preços tirou<br />

parte do orçamento de gastos dos clientes.<br />

Como reagiu o mercado de e-commerce durante<br />

este primeiro ano da guerra?<br />

> Rastislav Tinák - A pandemia foi um<br />

fenómeno interessante que contribuiu<br />

significativamente para o mercado de<br />

e-commerce e para a sua dinâmica de<br />

crescimento nos últimos anos. Mesmo antes<br />

da pandemia, o comércio eletrónico estava a<br />

crescer a um ritmo acelerado, e a pandemia<br />

forçou e convenceu os consumidores de que as<br />

compras online são uma opção conveniente.<br />

No entanto, a inflação também tem crescido<br />

significativamente durante a pandemia, e<br />

com a chegada da guerra na Ucrânia, várias<br />

restrições e outros fenómenos relacionados<br />

com a pandemia, a inflação tornou-se<br />

mais evidente. Isso acabou por afetar o<br />

comportamento de compra dos consumidores,<br />

pois eles continuaram a comprar online, mas<br />

tornaram-se mais conscientes das suas compras.<br />

Várias estatísticas pan-europeias e mundiais<br />

mostraram que a dinâmica de crescimento<br />

do mercado do comércio eletrónico abrandou<br />

ligeiramente, mas não parou nem inverteu.<br />

Apesar destes fenómenos e da diminuição<br />

da dinâmica de crescimento do mercado de<br />

e-commerce, temos observado uma tendência<br />

interessante na logística de e-commerce e,<br />

como tal, nas empresas de fulfillment 3PL.<br />

Cada vez mais lojas virtuais estão a voltar-se<br />

para os serviços das empresas de fulfillment e a<br />

terceirizar parte de sua logística ou até mesmo<br />

toda a sua logística para essas empresas. Temos<br />

notado significativamente esta tendência na<br />

nossa empresa, onde conseguimos manter a<br />

nossa dinâmica de crescimento apesar


10<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

de tudo, e temos vivido um ano recorde no<br />

número de envios processados na Fulfillment by<br />

FHB Group. É claro que nada acontece de forma<br />

independente e, mesmo com os acontecimentos<br />

atuais no mundo, fortalecemos o nosso<br />

departamento de vendas, desenvolvemos<br />

ainda mais a automação dos nossos armazéns<br />

e expandimos as nossas capacidades de<br />

armazenamento e de pessoas. Tudo isto<br />

permitiu-nos continuar a crescer e a processar<br />

encomendas ao nosso ritmo normal, sem<br />

demoras ou outras complicações.<br />

Esperamos que esta tendência de interesse<br />

das lojas eletrónicas no processamento<br />

logístico de terceiros continue nos próximos<br />

tempos. Muitas lojas virtuais estão atualmente<br />

interessadas em serviços de cross-docking, ou<br />

seja, distribuição instantânea de mercadorias<br />

sem a necessidade de armazenamento. O nosso<br />

sistema de informação de última geração, bem<br />

como a capacidade adequada e a nossa rede<br />

de transportes, permitiram-nos oferecer este<br />

serviço plenamente durante muitos anos. É<br />

claro que as situações evoluem, e a inflação<br />

ainda não teve a palavra final. No entanto, é<br />

essencial estar preparado com antecedência,<br />

e esse é o nosso objetivo - tentar prever<br />

tendências, continuar a crescer, melhorar<br />

os nossos serviços, aumentar a automação<br />

e muitos outros fatores que nos tornam a<br />

empresa líder em abastecimento na Europa<br />

Central e Oriental.<br />

Sabendo que chegam a 220 países, pode<br />

partilhar alguns dados dos mercados mais<br />

impactados?<br />

> É muito difícil determinar quais os países<br />

que estão bem e quais não estão. O problema<br />

é que temos diferentes clientes de comércio<br />

eletrónico que vendem para determinadas<br />

partes da Europa ou para países específicos em<br />

todo o mundo. E à medida que o número de<br />

clientes cresce ou muda, o número de remessas<br />

entregues em diferentes países também varia.<br />

No entanto, uma visão anual pode indicar<br />

certas tendências. Por exemplo, vemos<br />

um aumento interessante nos envios para<br />

França, onde entregámos cerca de 73% mais<br />

encomendas no ano passado. O mesmo vale para


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

a Itália, onde tivemos uma taxa de crescimento<br />

de mais de 34%. Há também uma mudança<br />

interessante nos países Balcãs, onde países como<br />

a Roménia e a Eslovénia registaram aumentos<br />

que variam entre 35% e 42%.<br />

Por outro lado, há também países onde vemos<br />

uma ligeira diminuição no número de embarques,<br />

que pode ser causada por vários motivos. Estas<br />

razões podem incluir mudanças na estratégia<br />

de vendas dos nossos clientes, tais como o<br />

desempenho das suas vendas em determinados<br />

países, ou se continuam a vender num<br />

determinado país ou não. Países como a Polónia<br />

ou a Croácia enquadram-se nesta categoria.<br />

No entanto, para a Croácia, será interessante<br />

ver como as lojas virtuais reagem à chegada do<br />

euro este ano, bem como o poder de compra da<br />

população local.<br />

O referido cross-docking, que é a distribuição<br />

imediata de mercadorias sem necessidade de<br />

armazenagem, e a maior procura por este serviço<br />

são também razões para o aumento dos envios<br />

entregues. Isto é, naturalmente, também em<br />

combinação com as nossas soluções de envio<br />

para clientes de comércio eletrónico, onde temos<br />

visto um aumento significativo ano após ano<br />

nos envios para os EUA. As nossas soluções de<br />

abastecimento e distribuição correspondem às<br />

necessidades de clientes de e-commerce de todo<br />

o mundo, resultando num aumento de envios<br />

para vários cantos do mundo, e não apenas na<br />

Europa.<br />

Entregamos realmente em qualquer lugar,<br />

e em Portugal, por exemplo, temos visto um<br />

aumento de mais de 44% no volume de envios<br />

entregues. No entanto, é importante notar que<br />

estes números não refletem necessariamente<br />

o poder de compra atual dos clientes em cada<br />

país, uma vez que a nossa carteira de clientes é<br />

diversificada e está em constante mudança.<br />

Como foram os resultados da(s) época(s)<br />

alta(s) durante o último ano?<br />

> A maior surpresa do ano passado foram,<br />

sem dúvida, os picos, especialmente a principal<br />

época de compras durante o Natal. Como tem<br />

sido hábito desde o início da pandemia, a época<br />

natalícia é mais longa e intensa. A sua duração<br />

é aproximadamente de setembro até ao final de<br />

dezembro.<br />

Dada a inflação muito elevada, esperavase<br />

que a dinâmica de crescimento durante<br />

o Natal fosse significativamente mais baixa<br />

do que nos últimos anos, mas verificouse<br />

o contrário. Durante a época natalícia,<br />

registámos números recordes, quer em termos<br />

do número de envios processados num mês,<br />

quer mesmo num dia. Este elevado volume<br />

de encomendas foi um grande teste, mas para<br />

o qual estávamos preparados previamente,<br />

como em todos os anos anteriores. No início<br />

da época natalícia, lançámos um classificador<br />

automático de encomendas no nosso armazém<br />

principal, que pode separar vários milhares de<br />

embalagens por hora, dependendo do país de<br />

entrega. Em combinação com a embalagem


C<br />

12<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

manual e mecânica através da nossa linha de<br />

embalagem totalmente automatizada, trouxe<br />

uma aceleração significativa do processamento<br />

de pedidos, que provou ser eficaz durante este<br />

pico sazonal.<br />

No final, avaliamos a época natalícia de forma<br />

muito positiva, o que também se reflete no<br />

aumento homólogo dos envios processados<br />

durante este período em quase 53%.<br />

Sentiram necessidade de adaptar as vossas<br />

operações à situação?<br />

> É claro que a adaptação às novas situações<br />

de mercado, tendências e dinâmicas de<br />

crescimento é uma característica importante<br />

para ter sucesso na logística do e-commerce e<br />

destacarmo-nos da concorrência. Em relação ao<br />

crescimento de clientes e, portanto, ao número<br />

de envios processados, preparámo-nos para isso<br />

com antecedência. Por exemplo, somos líderes no<br />

mercado de fulfillment, temos uma certa dinâmica<br />

de crescimento e planeamos continuar a avançar,<br />

e é por isso que planeamos várias coisas, como<br />

aumentar a automação, expandir armazéns e a<br />

nossa frota de transporte, às vezes até anos de<br />

antecedência. Preparámo-nos antecipadamente<br />

para o aumento do número de encomendas,<br />

especialmente durante picos sazonais, por<br />

exemplo, reforçando as capacidades de pessoal e<br />

tomando medidas semelhantes.<br />

Por outro lado, há situações que não é<br />

possível prever com anos de antecedência, às<br />

vezes nem meses. No entanto, é importante<br />

estar preparado e reagir às mudanças porque, se<br />

não tiver uma gestão de crise adequada, perderá<br />

a confiança do cliente e sairá do negócio.<br />

Portanto, mesmo com a chegada da pandemia,<br />

inflação alta e guerra na Ucrânia, conseguimos<br />

reagir rapidamente e manter o funcionamento<br />

dos nossos processos ao mais alto nível. Por<br />

exemplo, com a chegada da inflação elevada,<br />

o preço das embalagens, que são artigos<br />

necessários e fazem parte do processo de<br />

embalagem, aumentou significativamente.<br />

Portanto, alocámos espaço e começámos a<br />

fazer stock de mais caixas, dependendo da<br />

evolução dos preços. Monitorizar os preços de<br />

mercado, e posteriormente avaliá-los, é uma<br />

parte importante da mitigação do aumento dos<br />

custos operacionais.<br />

E há muitos outros fatores, como energia<br />

cara, combustíveis, gás ou outros componentes.<br />

Muitas empresas de fulfillment que são<br />

incapazes de reagir com rapidez, posteriormente<br />

fecham as portas, têm de interromper inovações<br />

ou, nalguns casos, até mesmo utilizar os<br />

pagamentos em dinheiro dos seus clientes<br />

indevidamente. E isso já é um grande problema.<br />

Tais situações não nos ameaçam porque temos<br />

antecedentes e experiência suficientes para<br />

suportar a pressão inflacionista sobre o mercado.<br />

A guerra na Ucrânia teve algum impacto na<br />

Fulfillment by FHB Group?<br />

> A nossa principal rede de transportes<br />

é rodoviária, utilizando viaturas de vários<br />

tamanhos. E é claro que, nalguns casos, também<br />

utilizamos o transporte aéreo. No entanto, em<br />

relação à guerra na Ucrânia, ela está a ocorrer<br />

exclusivamente na Ucrânia, portanto, não há<br />

impacto militar no centro da Europa. E uma vez<br />

que fazemos parte da NATO, tais intervenções<br />

estão atualmente fora de questão.<br />

Por conseguinte, não temos experiência<br />

com atrasos causados pela guerra na Ucrânia.<br />

No passado, houve problemas, por exemplo,<br />

com o transporte marítimo, que foi atrasado<br />

devido à pandemia, onde vários lockdowns<br />

interromperam a cadeia de abastecimento,<br />

o que resultou em preços altos para esse<br />

transporte. No entanto, mesmo este problema<br />

já está praticamente resolvido e, atualmente,<br />

tanto o armazenamento como a entrega<br />

prosseguem sem quaisquer problemas. •<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


+12<br />

+12.000m2<br />

TRANSPORTE<br />

TERRESTRE<br />

TRANSPORTE<br />

AÉREO<br />

TRANSPORTE<br />

MARÍTIMO<br />

SERVIÇOS<br />

ADUANEIROS<br />

LOGÍSTICA<br />

www


14<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Estudo WTW<br />

Texto: Ana Paiva<br />

RISCO: O<br />

INIMIGO<br />

INVISÍVEL<br />

Quem gere cadeias de abastecimento<br />

está bem familiarizado com o<br />

conceito de “risco”. Pode surgir, ou<br />

não, mas nunca deve ser esquecido.<br />

Um contratempo gerado por uma<br />

falha de gestão de risco, pode causar<br />

um impacto negativo significativo.<br />

Em tempos tão adversos repletos<br />

de desafios, este conceito ainda é<br />

encarado como um grande obstáculo<br />

nas cadeias de abastecimento.<br />

Um estudo da WTW, empresa especializada<br />

em consultoria, corretagem e soluções,<br />

avança que 79% das empresas globais do<br />

setor alimentar e de bebidas aponta a falta<br />

de soluções de seguros como um dos maiores<br />

desafios na abordagem aos riscos da cadeia<br />

de abastecimento, nos últimos três a cinco<br />

anos. Exemplo disso é o facto de apenas 30%<br />

das empresas considerar que tem seguros<br />

suficientes para cobrir o impacto de condições<br />

meteorológicas na sua cadeia de abastecimento.<br />

Além disto, as empresas também estão a<br />

enfrentar obstáculos na obtenção de dados<br />

que precisam para alcançar plena visibilidade<br />

dos riscos da sua cadeia de abastecimento,<br />

sendo que 78% indicaram não dispor de<br />

dados e conhecimentos necessários para<br />

compreenderem os seus riscos. Por sua vez, 76%<br />

apontaram as preocupações dos fornecedores<br />

sobre a titularidade dos conhecimentos e a<br />

propriedade intelectual como impedimentos à<br />

transparência.


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

Os inquiridos afirmaram ainda que as suas<br />

perdas relacionadas especificamente com<br />

os riscos da cadeia de abastecimento foram<br />

superiores ao esperado nos últimos dois anos,<br />

em comparação com os 65% verificados nos<br />

outros setores.<br />

Tendo em conta desafios que foram surgindo<br />

nos últimos tempos, como a pandemia e a<br />

guerra entre a Ucrânia e a Rússia, as empresas<br />

motivaram-se a aumentar a sua resiliência<br />

contra desafios futuros. Assim, 68% indica ter<br />

aplicado melhorias na abordagem à gestão<br />

da cadeia de abastecimento em resposta à<br />

pandemia, enquanto outros 20% dizem ter<br />

transformado completamente a sua abordagem.<br />

Luís Teixeira, risk & broking sales lead<br />

na WTW Portugal, afirma que “este setor é<br />

crítico para as sociedades. Uma disrupção nas<br />

cadeias de abastecimento, desde as colheitas,<br />

passando pelo transporte até às fábricas onde<br />

são transformados os produtos, pode alterar de<br />

forma significativa os padrões de consumo e<br />

inflacionar os preços dos alimentos e bebidas.<br />

É crucial que as empresas tenham acesso a<br />

ferramentas de gestão de risco ajustadas à<br />

complexidade deste setor”.<br />

Por sua vez, Sue Newton, diretora, GB<br />

food & drink practice leader na WTW, indica<br />

que “o setor alimentar e de bebidas esteve<br />

sempre exposto a perturbações na cadeia de<br />

abastecimento, mas é provável que a indústria<br />

enfrente desafios cada vez mais difíceis no<br />

futuro, desde a logística contínua e a escassez<br />

de matérias-primas até aos impactos a longo<br />

prazo das alterações climáticas na agricultura<br />

e à crescente competição pela terra e pelos<br />

recursos naturais”. Salienta ainda a importância<br />

de as empresas utilizarem estratégias<br />

para lidarem com o risco. “A utilização de<br />

ferramentas que mapeiam a cadeia de<br />

abastecimento pode ajudar as empresas a<br />

começar a compreender onde estão as lacunas<br />

de informação e a começar a preenchê-las.<br />

Um terço das empresas do setor afirmou que a<br />

utilização de software de cartografia da cadeia<br />

de abastecimento estava entre as medidas que<br />

teriam um impacto benéfico na gestão dos<br />

riscos”. •


16<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Quinas


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

Texto: Ana Paiva<br />

É UMA CERVEJA<br />

PORTUGUESA,<br />

COM CERTEZA<br />

Portugal é um país recheado de<br />

produtos típicos, e a cerveja é um<br />

deles. Bastante acarinhada no nosso<br />

país, raramente se encontra fora da<br />

mesa dos portugueses. Convívios<br />

e celebrações nada são sem que se<br />

oiça o bater das garrafas enquanto<br />

se brinda. Todos sabemos isso. Com a<br />

visão de criar um produto tão adorado,<br />

e de homenagear Portugal, nasceu<br />

a marca de cerveja Quinas, que tem<br />

crescido significativamente ao longo<br />

dos últimos anos, tendo já alcançado<br />

mercados de 30 países. Não fosse<br />

Portugal um país de conquistadores.<br />

Quando ouvimos a palavra “quinas” é<br />

quase impossível não pensarmos em<br />

Portugal. Está presente no brasão do<br />

nosso país, representando os cinco reis<br />

mouros derrotados por D. Afonso Henriques<br />

na batalha de Ourique, em 1139. Assim, pode<br />

dizer-se que é uma palavra intrinsecamente<br />

ligada à nossa história.<br />

“A marca Quinas talvez seja o nome mais<br />

português de todas as cervejas portuguesas”,<br />

afirma Sérgio Duarte, diretor-geral da Domus<br />

Capital, empresa detentora da Quinas, a<br />

propósito da criação da marca, que nasceu<br />

em 2018. Explica que sempre estiveram<br />

atentos aos mercados externos e esforçaramse<br />

em manter uma relação “estreita” com<br />

vários países recetores de produtos de<br />

origem portuguesa. Aliado a isto, a Domus<br />

Capital “sentiu que existia a oportunidade<br />

única de lançar uma marca de cerveja que<br />

representasse bem o espírito português e<br />

se afirmasse como alternativa aos grupos<br />

cervejeiros nacionais existentes”, acrescenta.


18<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

O conceito da marca passa pela criação<br />

de uma homenagem ao país, que se reflete<br />

em algumas das edições especiais do<br />

produto, que ligam Portugal de norte a sul:<br />

A ´Quinas Tripeira’, faz alusão ao rio Douro;<br />

a ‘Quinas Briosa’, homenageia a cidade de<br />

Coimbra; a ‘Quinas Pérola’, representa a<br />

ilha da Madeira; a ‘Quinas Conquistadora’,<br />

remete à cidade de Guimarães; ou a<br />

‘Quinas Olisipo’, que tem o primeiro nome<br />

da cidade de Lisboa. “A decisão foi clara:<br />

levar Portugal numa garrafa, sob o nome<br />

Quinas, e com a assinatura ‘Portuguesa<br />

com certeza’”.<br />

PRODUÇÃO E LOGÍSTICA<br />

O processo de produção de uma cerveja<br />

Quinas, que acontece nas fábricas localizadas<br />

em Estarreja, Ílhavo, Oliveira de Azeméis e<br />

Santarém, é constituído por várias etapas até<br />

chegar ao consumidor final.<br />

as enzimas. A esta ação denomina-se<br />

“brassagem”, que faz extração dos açúcares<br />

que existem nos cereais.<br />

FILTRAGEM<br />

Filtram-se todas as cascas dos cereais de<br />

modo a obter um líquido próximo da cor<br />

final. Este líquido segue para a caldeira em<br />

ebulição (o chamado mosto) e aqui, quando<br />

ocorre a fermentação, nasce a cerveja Quinas.<br />

MOAGEM<br />

Após a seleção da receita que se vai produzir<br />

e do tipo de cereal a utilizar, é colocado no<br />

moinho para iniciar o processo de moagem.<br />

ARREFECIMENTO<br />

A temperatura do mosto desce e surgem<br />

as leveduras que são os agentes Quinas<br />

responsáveis pela existência da cerveja. Esta<br />

temperatura de arrefecimento varia de receita<br />

para receita.<br />

BRASSAGEM E EMPASTAGEM<br />

Junta-se água ao malte moído, a uma<br />

temperatura regulada de forma a ativar<br />

FERMENTAÇÃO<br />

Junta-se a levedura, que vai fermentar e<br />

transformar os açúcares em álcool e em CO2.<br />

A fermentação ocorre durante mais de um dia<br />

e varia de cerveja para cerveja.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

limpando as partículas suspensas. Nesta fase<br />

chega-se à cor final da cerveja.<br />

MATURAÇÃO<br />

Esta é a fase de estabilização da Quinas, onde<br />

se afina o sabor.<br />

ENCHIMENTO<br />

A cerveja é engarrafada para que possa<br />

chegar aos consumidores finais.<br />

FILTRAÇÃO FINAL<br />

É o momento em que a cerveja é clarificada,<br />

Assim que o processo de produção está<br />

concluído, registam-se as validades e os<br />

lotes, e as cervejas seguem para os armazéns<br />

de expedição consoante a fábrica onde foram<br />

produzidas. A nível de armazenagem,


20<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

a Quinas detem um espaço central em Alfena,<br />

com cerca de 3.000 metros quadrados, um<br />

em Estarreja com cerca de 6.000 metros<br />

quadrados, e outro em Ílhavo, com 4.000<br />

metros quadrados.<br />

PORTUGAL ALÉM-FRONTEIRAS<br />

A grande distribuição da cerveja Quinas<br />

a nível nacional, entregue à Vinalda, ocorre<br />

no canal off-trade e na rede de cash and<br />

carry, que tem como objetivo levar o produto<br />

a mais de 2.000 superfícies comerciais.<br />

Por sua vez, no canal horeca, a marca tem<br />

distribuidores próprios. O transporte, em<br />

Portugal e na Europa, é efetuado através<br />

de meios terrestres. Já para os mercados<br />

externos onde estão presentes, utilizam<br />

contentores normais ou com temperatura<br />

regulada, dependendo do tipo de cerveja a<br />

ser transportado.<br />

Atualmente, as exportações desta cerveja<br />

portuguesa representam cerca de 60% das<br />

vendas do grupo, e está presente em mais<br />

de 30 mercados, como Macau, Brasil, Cabo<br />

Verde, São Tomé e Príncipe, Costa do Marfim,<br />

França, Bélgica, Canadá, Estados Unidos,<br />

Cuba Marrocos ou Singapura.<br />

Ainda assim, o desafio da empresa para este<br />

ano, no panorama internacional, é concluir<br />

as negociações com o mercado chinês. “A<br />

China pode ser um grande mercado para a<br />

Quinas, mas o que pretendemos, neste país, é<br />

criar marca e não só vender cerveja”, explica<br />

Sérgio Duarte, acrescentando que “temos<br />

como objetivo ser a cerveja portuguesa<br />

de referência nos mercados onde estamos<br />

presentes. Certamente que o mercado chinês<br />

será fundamental para alcançar este objetivo”.<br />

Em tom de visão para o futuro, o diretorgeral<br />

refere que, a curto-médio prazo, a meta<br />

consiste em “ser a cerveja nacional número<br />

dois nos mercados internacionais e a terceira<br />

marca de cerveja mais vendida em Portugal”.<br />

Falando em investimentos concretos, estão<br />

em vista a aquisição e renovação de unidades<br />

de produção na ordem de oito milhões de<br />

euros, de acordo com Sérgio Duarte. •


SEMPRE AO<br />

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NOSSOS<br />

CLIENTES<br />

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Promovemos a inovação e a<br />

sustentabilidade para<br />

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nossos clientes ao longo do seu<br />

desenvolvimento logístico.<br />

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22<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

IBM e CGF<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

TECNOLOGIA E<br />

SUSTENTABILIDADE:<br />

UMA COMBINAÇÃO<br />

VENCEDORA<br />

A IBM e o The Consumer Goods Forum (CGF)<br />

realizaram o estudo “Redesenhar os valores<br />

da marca: o objetivo e o benefício convergem<br />

no centro das operações”, que reporta que<br />

as empresas europeias do setor de bens de<br />

consumo estão a aumentar, em 34%, os seus<br />

orçamentos de tecnologia com o objetivo<br />

de alinhar a sustentabilidade com as suas<br />

operações e impulsionar o seu crescimento.<br />

Oestudo, que envolveu entrevistas com<br />

1.800 executivos de empresas de bens<br />

de consumo em 23 países, revelou que as<br />

empresas estão a integrar a sustentabilidade<br />

nas suas operações, recalibrando a medição<br />

e a comunicação das suas metas de<br />

sustentabilidade, bem como a aumentar<br />

os seus investimentos em tecnologia como<br />

forma de alcançar essas metas.<br />

Entre as principais conclusões, destacase<br />

a integração da sustentabilidade e das<br />

operações, com 61% dos líderes de bens de<br />

consumo a alinharem propositadamente as<br />

suas metas, tanto de sustentabilidade como<br />

operacionais, para otimizar investimentos<br />

e esforços. Por sua vez, 69% dos líderes<br />

europeus (77% a nível global) concordam<br />

que os investimentos em sustentabilidade<br />

irão acelerar o crescimento dos seus<br />

negócios. Esta integração estratégica tem<br />

resultado em iniciativas como embalagens<br />

sustentáveis, processos de produção<br />

energeticamente eficientes e fornecimento<br />

ético de materiais.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

Destaca-se ainda a recalibração<br />

da medição e comunicação da<br />

sustentabilidade. Quase 80% dos líderes<br />

europeus (74% a nível mundial) concordam<br />

com a necessidade de recalibrar a forma<br />

como medem e reportam as suas metas<br />

de sustentabilidade. No entanto, muitas<br />

empresas não possuem capacidade para<br />

monitorizar e medir o progresso de forma<br />

adequada, com 68% dos líderes europeus<br />

(61% a nível mundial) a indicar que<br />

enfrentam desafios na recolha, análise e<br />

interpretação de dados de sustentabilidade.<br />

Ruediger Hagedorn, CGF end-to-end<br />

value chain director, revela em comunicado<br />

que “os consumidores estão a considerar<br />

recompensar as empresas que estão<br />

focadas na sustentabilidade e as empresas<br />

de bens de consumo estão atentas a<br />

isso. Ao unir a sustentabilidade com a<br />

eficiência operacional, as empresas estão<br />

a redesenhar proativamente a sua cadeia<br />

de abastecimento e operações de produção<br />

para impulsionar o crescimento e mitigar<br />

riscos. Este estudo fornece informações<br />

valiosas para a tomada de decisões globais<br />

ao nível da gestão, visando preparar o<br />

setor de bens de consumo para um futuro<br />

mais sustentável”.<br />

O aumento dos investimentos<br />

em tecnologia para impulsionar a<br />

sustentabilidade também é destacado<br />

pelo estudo. As empresas europeias do<br />

setor de bens de consumo pretendem<br />

aumentar em 39% (34% a nível global)<br />

os seus orçamentos de tecnologia nos<br />

próximos três anos, como uma forma<br />

de operacionalizar a sustentabilidade.<br />

Estes investimentos têm sido<br />

direcionados para áreas como eficiência<br />

energética, rastreabilidade da cadeia de<br />

abastecimento, inovação de produtos, ou<br />

embalagens sustentáveis.<br />

E todas as empresas querem tirar partido<br />

da tecnologia para operacionalizar a<br />

sustentabilidade. Os líderes consideram<br />

várias tecnologias avançadas, como<br />

automação (71%), analítica (69%),


24<br />

ABRIL <strong>2023</strong>


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

Inteligência Artificial (55%), e fluxos de<br />

trabalho inteligentes (44%). Enquanto<br />

renovam as suas operações da cadeia de<br />

abastecimento, 67% apontam o uso de<br />

analítica preditiva e prescritiva, e deteção<br />

de procura alimentada por IA (69%) para<br />

melhorar a gestão de stock e eliminar<br />

o excesso do mesmo. Estão também a<br />

aplicar fluxos de trabalho suportados por<br />

IA (70%) e a começar a adotar a tecnologia<br />

emergente de digital twins (26%) para<br />

impulsionar a eficiência.<br />

Além disso, o estudo enfatiza ainda a<br />

importância de unir a sustentabilidade com<br />

a eficiência operacional, permitindo que as<br />

empresas de bens de consumo redesenhem as<br />

suas cadeias de abastecimento e operações<br />

de produção de forma proativa para<br />

impulsionar o crescimento e mitigar riscos.<br />

“No mundo de hoje, os consumidores<br />

procuram ativamente marcas que reflitam<br />

os seus valores, tornando a integração<br />

da sustentabilidade um diferencial<br />

importante para as empresas de bens de<br />

consumo e para os seus distribuidores”,<br />

afirma Luq Niazi, global managing<br />

partner for Industries, da IBM. Acrescenta<br />

ainda que “a incorporação significativa<br />

da sustentabilidade nas operações da<br />

marca só pode ser alcançada através de<br />

uma combinação robusta de processos<br />

de negócio, tecnologia, parcerias com<br />

ecossistemas e colaboração C-suite<br />

nas áreas de produção, tecnologia,<br />

operações, cadeias de abastecimento e<br />

sustentabilidade”. •


26<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

Texto: Bruna Manguito<br />

O PAPEL DO FUTURO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

LOGÍSTICA<br />

Investimento<br />

A fábrica de papel de Viana do Castelo,<br />

pertencente à DS Smith, anunciou um<br />

pacote plurianual de investimentos de<br />

145 milhões de euros para fortalecer a<br />

sua posição na Europa. À Supply Chain<br />

Magazine, Mário Amaral, diretor da<br />

fábrica, revelou os planos de expansão e as<br />

melhorias operacionais que impulsionarão<br />

a eficiência e os índices ambientais da<br />

unidade.


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

Afábrica de papel de Viana do Castelo<br />

desempenha um papel crucial na cadeia<br />

logística da DS Smith, como destaca Mário<br />

Amaral, diretor da fábrica de papel de Viana do<br />

Castelo: “Nós não produzimos caixas de cartão<br />

canelado, nós produzimos papel que depois<br />

vai ser distribuído às fábricas do grupo onde<br />

se vai produzir a prancha de cartão canelado e<br />

as caixas de cartão canelado. Portanto, o que<br />

produzimos é papel para embalagem”. Com<br />

uma capacidade de produção anual de 400 mil<br />

toneladas, a fábrica de Viana do Castelo lida<br />

diariamente com um impressionante fluxo de<br />

materiais ao longo da sua cadeia produtiva, o<br />

que exige uma gestão logística ágil e eficaz.<br />

“Em 24 horas produzimos uma folha de papel<br />

com 6,4 metros de largura que, se estendida,<br />

cobriria a distância do norte de Portugal a<br />

Marrocos, ou seja, por minuto produzimos uma<br />

folha de papel com cerca de um quilómetro<br />

de comprimento. Somos uma grande unidade<br />

industrial e reconhecida pelos nossos pares<br />

como uma das mais eficientes da Europa”,<br />

garante o responsável. Dentro do pacote<br />

plurianual de investimentos de 145 milhões de<br />

euros da DS Smith, que incluirá a reconstrução<br />

da atual máquina de papel e a instalação de<br />

uma nova caldeira de recuperação topo de<br />

gama na fábrica de papel de Viana do Castelo,<br />

destacam-se, ainda, melhorias “nas operações<br />

de carga dos camiões. Vamos instalar<br />

equipamentos que vão possibilitar melhorar<br />

essa operação e também algum controlo ao<br />

nível de sistemas informáticos”, declara Mário<br />

Amaral. Embora a logística não seja o foco<br />

principal do investimento, o diretor enfatiza<br />

que essas melhorias e ações relacionadas à<br />

distribuição, transporte e operações logísticas<br />

contribuirão indiretamente para a otimização<br />

da cadeia de abastecimento: “Por arrastamento,<br />

há melhorias que serão introduzidas na


28<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

Mário Amaral, diretor de fábrica<br />

cadeia logística”. Essas medidas têm como<br />

objetivo aumentar a eficiência operacional,<br />

reduzir custos e encurtar prazos de entrega,<br />

resultando numa resposta mais ágil e<br />

satisfatória às demandas dos clientes. Além<br />

disso, aprimorar a logística está alinhado com o<br />

compromisso da empresa em oferecer soluções<br />

de embalagens mais sustentáveis.<br />

COMPROMISSO<br />

COM A SUSTENTABILIDADE<br />

De acordo com Mário Amaral, a fábrica<br />

de papel de Viana do Castelo serve<br />

maioritariamente “o mercado da Península<br />

Ibérica, com grande peso no setor agrícola<br />

espanhol. Produzimos papel para produzir<br />

caixas de cartão canelado para o setor agrícola.<br />

Segundo grande mercado, a Alemanha,<br />

produzimos papel para produzir caixas de cartão<br />

canelado para a indústria alemã, sobretudo, com<br />

grande peso no setor automóvel”. No entanto,<br />

além de atender às demandas do mercado, a<br />

DS Smith também está comprometida com a<br />

sustentabilidade e o impacto ambiental das<br />

suas operações. Segundo o diretor da fábrica, o<br />

“aumento de produção de 8% vai ser garantido<br />

à custa do aumento, precisamente, do papel<br />

recuperado, nós não vamos suportar o aumento<br />

de produção com madeira, mas vamos suportá-lo<br />

com o aumento do consumo de papel reciclado".<br />

Desta forma, a empresa estará preparada<br />

para responder às pressões e necessidades<br />

dos clientes como da própria cadeia de<br />

abastecimento, reforçando o seu compromisso<br />

com a circularidade, “o que significa que as<br />

caixas que lançamos no mercado, vamos depois<br />

ter que as recolher para tornar a produzir novas<br />

caixas à custa das caixas que já foram utilizadas”,<br />

contribuindo para a redução do desperdício e a<br />

preservação dos recursos naturais. Ademais, a DS<br />

Smith está focada na descarbonização das suas<br />

operações: “Nós temos um forte compromisso<br />

com o projeto Paris, aderimos ao projeto Paris<br />

e ele está a ser monitorado por entidades


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

oficiais e o nosso compromisso é chegar a 2050,<br />

naturalmente, com zero emissões de CO2 e<br />

chegar a 2030, que é já amanhã, reduzindo 46%<br />

das nossas emissões de CO2 tendo por base o<br />

ano de 2019”, declarou. Através de investimentos<br />

ambientais e do aumento da produção de papel<br />

reciclado, a empresa prevê uma redução de<br />

10.000 toneladas de CO2 por ano a partir de<br />

outubro. Outra estratégia importante adotada<br />

pela DS Smith é a substituição de embalagens<br />

de plástico prejudiciais ao meio ambiente por<br />

embalagens de cartão canelado. O responsável<br />

revelou que “o grupo definiu em 2020 contribuir<br />

para eliminar das prateleiras dos supermercados<br />

até 2025, 1 bilhão de caixas de plástico. (…)<br />

Até à data já conseguimos tirar das prateleiras<br />

dos supermercados 200 milhões de caixas de<br />

embalagens de plástico e substituí-las por caixas<br />

de cartão canelado".<br />

EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS<br />

DE MERCADO<br />

Quando questionado sobre as tendências do<br />

mercado e as necessidades dos clientes, Mário<br />

Amaral respondeu prontamente que existem<br />

“duas vertentes claras, a primeira a questão<br />

ambiental e de sustentabilidade que temos de<br />

dar resposta, fazer caixas com menor pegada<br />

ambiental e mais sustentáveis e a segunda tirar<br />

proveito de todo o potencial que ainda existe<br />

decorrente do comércio eletrónico”. “Quando as<br />

coisas chegam a sua casa chegam embaladas<br />

numa caixa de cartão e isso é uma tendência<br />

que veio para ficar e traz alguns desafios<br />

porque os nossos clientes que estão do lado<br />

de lá são muito mais exigentes em termos de<br />

cumprimento de prazos e sobretudo just in time”,<br />

aponta o diretor. Contudo, indica que existe<br />

uma mudança nos circuitos de recolha de papel<br />

usado, “agora já não são os grandes armazéns a<br />

fornecer as caixas mas é o consumidor individual.<br />

E essas pessoas, nós, temos de ter o cuidado<br />

de depois segregar essas caixas quando vamos<br />

colocá-las no ecoponto. E, depois dos circuitos,<br />

as entidades municipais vão ter de ter o cuidado<br />

de recolher essas caixas e não as separar, por<br />

exemplo, com os jornais e papéis de revistas<br />

porque esse papel não é passível de ser utilizado<br />

para produzir caixas de cartão canelado”. Não<br />

obstante, Mário Amaral, sente-se otimista<br />

em relação ao futuro tanto do setor como da<br />

empresa já que a matéria-prima utilizada pela<br />

fábrica, a madeira de pinho, “é biodegradável e<br />

renovável, lá está, para a circularidade quando<br />

não puder já ser reutilizável é biodegradável,<br />

zero impactos para o ambiente. Sobretudo o<br />

nosso produto faz mover a economia porque sem<br />

caixas de cartão não havia transporte". •


30<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

NOS SGPS


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotografias: Fábio Santos<br />

PROATIVIDADE E<br />

ENVOLVÊNCIA COM<br />

OS FORNECEDORES<br />

A 13ª edição dos EIPM-Peter Kraljic<br />

Awards aconteceu a 15 de dezembro de<br />

2022, num evento presencial em Paris,<br />

após dois anos de celebrações virtuais.<br />

Nessa edição foram distinguidas três<br />

empresas portuguesas, em diferentes<br />

categorias, entre as quais a NOS<br />

SGPS, com o prémio de Impactful<br />

Business Orientation, pelo efeito que a<br />

empresa tem ao nível das iniciativas de<br />

parceria e de suporte a outros negócios<br />

parceiros.<br />

Ocontacto entre a NOS SGPS e o EIPM<br />

começou ainda antes da pandemia,<br />

quando o setor de procurement da<br />

tecnológica portuguesa estava a fazer uma<br />

aposta a médio-longo prazo na formação<br />

das suas equipas, procurando dotar os seus<br />

negociadores de capacidades que lhes<br />

permitissem atingir o grau de gestores de<br />

categoria. À data, foi feita uma análise ao<br />

mercado ao nível das formações, e optaram<br />

pelo instituto. Fizeram uma avaliação de<br />

competências aos seus negociadores para<br />

perceberem as qualidades das equipas, e<br />

onde queriam chegar, seguindo-se um fitgap<br />

de conteúdos que deveriam endereçar<br />

individualmente para fazerem essa passagem<br />

de categoria.<br />

Diogo Serras Pereira, diretor de compras da<br />

NOS SGPS, conta que a partir daí começaram<br />

a trocar várias impressões com o EIPM, e<br />

que inclusive já eram para ter concorrido no<br />

ano passado. “É uma questão bastante mais<br />

trabalhosa do que eu estava à espera. Têm um<br />

inquérito muito extenso que cobre muitas


32<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

áreas, e depois entrevistas durante um dia<br />

inteiro, ou duas manhãs, com pessoas que<br />

realmente dominam o assunto e que fazem<br />

várias questões, mas também nos deram<br />

conselhos muito pertinentes”, comenta o<br />

responsável. “Deram-nos umas luzes para<br />

caminhos futuros bastante interessantes,<br />

identificaram temas onde poderíamos<br />

desenvolver mais, mas também ficaram bem<br />

impressionados com parte do trabalho que<br />

nós tínhamos feito”.<br />

Para o concurso, é feita uma análise ao<br />

modelo operativo das concorrentes, primeiro<br />

através de perguntas, para perceberem como<br />

funcionam, e depois através de uma análise<br />

presencial para comprovar que os processos<br />

realmente são feitos de determinada maneira,<br />

bem como os resultados. “Isto toca todas<br />

as áreas, desde eficiência, sustentabilidade,<br />

análise de risco de fornecedores, programa de<br />

relação com fornecedores… e depois pedemnos<br />

exemplos práticos e vêm confirmar que<br />

tudo o que dizemos”, explica.<br />

No final de março, partilharam inclusive a<br />

experiência da NOS SGPS numa formação,<br />

enquanto convidados pelo instituto. “Espero<br />

conseguir formar a equipa em mais módulos,<br />

porque parece-me bastante objetivo e<br />

interessante para a nossa área”, defende o<br />

responsável.<br />

UM GRANDE PLANO ESTRATÉGICO<br />

Há cerca de quatro anos, a NOS SGPG<br />

avançou com um grande plano estratégico<br />

para a área de procurement, do que<br />

queriam que ela fosse, de onde vinha, e<br />

onde queriam que chegasse. “O nosso<br />

grande objetivo era passar de uma equipa,<br />

ou de uma função, mais funcional, em que<br />

reativamente recebíamos pedidos das áreas<br />

internas de clientes, e depois respondíamos<br />

com concursos, como a área tradicional de<br />

procurement faz nos primeiros estágios, para<br />

um estágio onde fôssemos um mais proativos,<br />

tanto na lógica de levantamento de tudo o<br />

que são necessidades da empresa, ao nível


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

EM PORTUGAL,A<br />

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA<br />

DE COMPRAS E<br />

APROVISIONAMENTO<br />

(APCADEC) CONTA COM<br />

UMA PARCERIA COM<br />

O EIPM DE FORMA A<br />

APOIAR OS ASSOCIADOS<br />

NO PROCESSO DE<br />

CANDIDATURA.<br />

das compras, como de desafiar fornecedores<br />

a trazerem de inovação de fora para dentro,<br />

o que não é algo que a área de procurement<br />

tradicionalmente faz”.<br />

Através desse maior envolvimento dos<br />

fornecedores na busca por inovação,<br />

“queremos criar esta proatividade para<br />

os próprios fornecedores. Para além de<br />

responder aos pedidos básicos, nós temos<br />

de trazer inovações para que nós possamos<br />

difundir aqui na área”.<br />

“Temos cerca de 500 processos levantados<br />

antes do fim do ano, definimos a nossa<br />

estratégia, fazemos a matriz de Kraljic,<br />

de acordo com o risco e dificuldade de<br />

fornecimento que existe no mercado, depois<br />

estabelecemos estratégias e táticas para os<br />

principais processos que identificamos,<br />

bem-vindo a<br />

uma estreita colaboração<br />

em toda a Europa<br />

Descubra o caminho mais curto para uma experiência local,<br />

apoio ao cliente, garantia de disponibilidade e uma<br />

parceria dedicada, com a nossa cobertura Europeia.<br />

together towards a sustainable future


34<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

discutimos isso com as áreas e ‘vamos a<br />

jogo’”, explica o responsável, acrescentando<br />

que se para cada processo tiverem entre<br />

um e dois fornecedores, existe uma grande<br />

oportunidade para gerar informação.<br />

Diogo Serras Pereira conta que, para além<br />

de “responder a pedidos” (embora exista<br />

todo um processo de ir a mercado e de<br />

estabelecer uma estratégia de negociação),<br />

pretendem trazer inovação para o processo,<br />

indo além da função core que as compras têm.<br />

Anualmente, desenvolvem o Plano Anual de<br />

Compras (PAC), e depois de a empresa fechar<br />

o budget para o ano seguinte, vão falar com<br />

as direções de clientes e estabelecem o plano<br />

de procurement.<br />

“Este Roadmap que desenvolvemos obrigounos<br />

a revisitar o nosso modus operandis como<br />

as valências que nós precisaríamos de ter,<br />

desde o elaborar o plano estratégico, algo<br />

novo na altura; às competências dos nossos<br />

gestores de categoria; ao modelo de decisão<br />

e partilha de informação entre os vários<br />

stakeholders; até ao transformar a relação<br />

entre Procurement e Fornecedor / Parceiro de<br />

uma relação 100% negocial para algo mais<br />

estruturado que também provoque a partilha e<br />

inovação “<br />

IMPACTFUL BUSINESS<br />

Diogo Serras Pereira explica que a área<br />

das telecomunicações tem uma necessidade,<br />

sobretudo no universo corporate (B2B), de<br />

tornar mais abrangente o seu portefólio<br />

de serviços, e de passar de uma lógica<br />

de resistir/combater uma ameaça, sendo<br />

apenas transportadores de sinal, para<br />

uma lógica de incluir serviços de valor<br />

aumentado, diferentes, conexos com os de<br />

telecomunicações, onde se incluem serviços<br />

de consultoria, integrações, implementações<br />

de soluções, ou possibilitar o potenciar de<br />

eficiências como seja através do deployment<br />

do 5G em determinadas empresas ou setores,<br />

como é o caso da logística.<br />

Como exemplos de processos em que


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

podem ter impacto, o diretor de compras deixa<br />

exemplos:<br />

Negociação de energia – “Nós<br />

quando negociamos energia, além do custo,<br />

temos uma preocupação significativa com a<br />

eficiência, mas também com todas as metas<br />

que temos para atingir a sustentabilidade”.<br />

Tendo isto em mente, há uns anos, a NOS<br />

SGPG estabeleceu um plano para contratação<br />

de energia 100% verde a 10 anos.<br />

A NOS SGPG efetuou um trabalho profundo<br />

e estruturado de análise de toda a cadeia<br />

de valor de empresas produtoras de energia<br />

renovável, discutindo com promotores,<br />

fabricantes e especialistas internacionais na<br />

área da energia, “desmontando” os valores das<br />

principais componentes de custo e analisando<br />

tendências futuras quer do preço no mercado<br />

de energia como de descida expectável dos<br />

custos de produção de energia renovável.<br />

“Fomos ver, de acordo com as tecnologias<br />

que estão a aparecer cada vez mais, como<br />

a eólica ou solar, o que é que os melhores<br />

estudos de mercado, das entidades que<br />

produzem os equipamentos para este tipo de<br />

parques, nos indicavam quanto à evolução<br />

do custo de produção de energia verde VS as<br />

tradicionais”, explica Diogo Serras Pereira.<br />

Face a essa análise, “o que nós víamos<br />

era que a curva de custo de euro por<br />

Megawatt (MW) nestas eólicas ou solares,<br />

era uma exponencial negativa, que iria ter<br />

valores muito agressivos, portanto, se nós<br />

contrapuséssemos isto contra a melhor<br />

informação que nós temos de mercado de uma<br />

contratação tradicional, víamos que se nós<br />

conseguíssemos contratar a determinado valor,<br />

estaríamos abaixo do futuro valor expectável<br />

de mercado”.<br />

Assim, tomaram a decisão de, para grande<br />

parte do seu consumo, fixar a contratação<br />

de energia renovável a um preço que<br />

consideraram justo, e “ao dia de hoje, podemos<br />

dizer que temos valores de contratação de<br />

energia a preços muito interessantes, ao<br />

contrário da maioria dos nossos concorrentes.<br />

Esta simples medida pode permitir-nos obter<br />

vantagens competitivas na oferta de P&S<br />

(B2B por exemplo), dependentes de forma<br />

significativa dos custos energéticos”.<br />

A energia foi um claro exemplo de um<br />

contrato de sucesso para a NOS SGPS,<br />

mostrando-se especialmente importante após<br />

a explosão dos custos de energia. “O que<br />

fazíamos até aqui era tipicamente o que fazem<br />

muitas organizações que têm mais ou menos<br />

o nosso modelo e peso em Opex do que são<br />

os custos de energia. Nós temos um peso – ou<br />

tínhamos, antes da crise – em valor absoluto<br />

em grande, mas o peso em termos de rubricas<br />

de custo no total de custos operacionais é<br />

relativamente diminuto, portanto, era um<br />

tema que não nos preocupava muito e que<br />

fechávamos anualmente”, explica.<br />

No entanto, com as tendências de mercado,<br />

identificaram não só a necessidade de ir<br />

para o mercado verde para fazer face às suas<br />

obrigações de redução de CO2 e eficiências<br />

energéticas, mas também para otimizar este<br />

custo, tendo em atenção as novas tipologias<br />

de produção de energia que acontecem e o<br />

desenvolvimento tecnológico a longo prazo<br />

Cibersegurança - “Sendo a NOS<br />

uma empresa tecnológica de referência<br />

e dimensão internacional, parece-nos<br />

fazer sentido que o desenvolvimento de<br />

determinadas competências internas e adoção<br />

de determinadas soluções para colmatar<br />

determinada necessidade de negócio, muitas<br />

vezes transversal a vários setores, confere<br />

e transmite confiança ao mercado dessas<br />

mesmas soluções”, o que gera também um


36<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

impacto nos seus fornecedores, que têm<br />

curiosidade em avaliar o tipo de soluções<br />

adotadas pela empresa, especialmente em<br />

áreas de cariz tecnológico. Tendo isso em<br />

conta, avança que “as competências que temos<br />

desenvolvido e as soluções que temos adotado<br />

começam a fazer parte do nosso portfolio”,<br />

como é o exemplo da Cibersegurança, uma<br />

nova área em que apostaram.<br />

FORNECEDORES ENQUANTO<br />

PARCEIROS<br />

Um dos projetos mais críticos que têm é o<br />

estabelecimento do programa de relação com<br />

os fornecedores. “O que nós queremos criar<br />

é esta envolvência com bastante dinamismo<br />

onde, além de reconhecermos quem são os<br />

nossos melhores fornecedores, um bocadinho<br />

como se faz nas áreas comerciais de premiar os<br />

melhores comerciais, e reconhecer e premiar<br />

quem são os nossos melhores fornecedores em<br />

determinadas categorias ou setores”, defende<br />

Diogo Serras Pereira.<br />

A NOS SGPS faz uma avaliação para avaliar<br />

os seus parceiros em várias valências, como por<br />

exemplo cumprimento de contratos, busca de<br />

inovação ou sustentabilidade. “O que fazemos<br />

com isto é, quem tem uma avaliação abaixo<br />

de 70%, é chamado para ter reuniões com as<br />

direções de cliente para desenharem um plano<br />

de melhoria. Não é só olhar para os melhores<br />

e premiá-los. Queremos também ajudar os que<br />

mais precisam, porque também precisamos<br />

deles”, explica o diretor de compras.<br />

Para além disso, apostar na dinâmica que<br />

referia anteriormente de desafiarem os seus<br />

fornecedores a trazerem inovações e, também<br />

eles, a desafiá-los a fazer diferente. “Não<br />

procuramos soluções que já vieram propor<br />

internamente, ou que estão a responder a<br />

cadernos de encargos que nós lançámos no<br />

mercado. Queremos que, com base nas suas<br />

teias de relações com clientes, nos tragam<br />

novidades, inovação, para que nós possamos<br />

questionar internamente se tem ou não<br />

interesse”, aponta.<br />

“Esta lógica de nós, por um lado, pensarmos<br />

na negociação tradicional interna, mas<br />

olharmos também para as necessidades que<br />

temos do outro lado, e percebermos se algum<br />

destes modelos se adaptam, é uma coisa que<br />

tentamos fazer cada vez mais, e daí a lógica<br />

de impactful business”, conclui Diogo Serras<br />

Pereira. •


38<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTES<br />

Diversidade


SCM Supply Chain Magazine<br />

39<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

TOP 10 EMPRESAS<br />

MAIS INCLUSIVAS<br />

DO MUNDO<br />

A inclusão está a tornar-se cada vez mais<br />

comum no vocabulário das empresas, e<br />

isso não é por acaso. A diversidade é uma<br />

fonte de enriquecimento e contribui para<br />

um ambiente de trabalho mais inovador e<br />

produtivo. No entanto, não basta apenas<br />

falar sobre inclusão, é necessário agir e<br />

promover mudanças concretas. É neste<br />

sentido que a Procurement Magazine<br />

procurou exaltar as 10 empresas que<br />

considera serem as mais inclusivas do<br />

mundo.<br />

O<br />

relatório contém entrevistas com líderes<br />

empresariais de diferentes setores<br />

industriais com o objetivo de identificar<br />

que áreas-chave as empresas estão a<br />

adaptar às suas cadeias de abastecimento<br />

de semicondutores, de forma a torná-las<br />

mais resilientes e flexíveis. O documento<br />

salienta ainda como é que os fornecedores<br />

de logística podem apoiar as empresas, por<br />

exemplo proporcionando-lhe uma melhor<br />

visibilidade da cadeia de abastecimento e<br />

melhores insights de dados. Assim, estas<br />

ações permitirão aperfeiçoar as suas<br />

estratégias de inventário e ainda apoiar as<br />

suas iniciativas de sustentabilidade.<br />

A Procurement Magazine destacou<br />

recentemente as 10 empresas que<br />

considera serem as mais inclusivas do<br />

mundo tendo como critério as suas<br />

práticas de compras. Através da promoção<br />

de negócios com fornecedores subrepresentados<br />

ou marginalizados, como,<br />

por exemplo, mulheres, minorias étnicas,<br />

membros da comunidade LGBTQ+ e<br />

pessoas com deficiência, estas empresas<br />

estão empenhadas em criar um ambiente<br />

de trabalho positivo onde a diversidade,<br />

equidade e inclusão são valorizadas tanto<br />

dentro da organização como nas suas<br />

práticas de procurement:<br />

10. TIAA<br />

Em décimo lugar na lista de empresas<br />

mais inclusivas do mundo está a TIAA, uma<br />

empresa de serviços financeiros que não só<br />

fornece serviços de reforma, investimento e<br />

banca, mas também valoriza a diversidade,<br />

equidade e inclusão. A TIAA reconhece<br />

que a diversidade impulsiona a inovação<br />

e fomenta um ambiente de trabalho<br />

positivo, valorizando todos os funcionários,<br />

independentemente da sua origem ou


40<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

identidade. Através do seu programa de<br />

diversidade de fornecedores e outras<br />

iniciativas, a TIAA está a trabalhar ativamente<br />

para promover um ambiente de negócios mais<br />

diversificado e inclusivo.<br />

9. Northrop Grumman Corporation<br />

Outra empresa que está presente na lista<br />

é a Northrop Grumman Corporation, uma<br />

empresa ligada ao setor aeroespacial e de<br />

defesa global que oferece uma gama de<br />

produtos e serviços nas áreas de defesa,<br />

segurança e tecnologia. A empresa entende<br />

a importância de promover a diversidade,<br />

equidade e inclusão tanto dentro da sua<br />

organização como nas suas práticas de<br />

procurement. Da mesma forma, além do seu<br />

programa de diversidade de fornecedores,<br />

a Northrop Grumman procura criar uma<br />

cultura de inclusão dentro da organização,<br />

reconhecendo que uma força de trabalho<br />

diversificada conduz a melhores resultados<br />

e impulsiona a inovação. A empresa está<br />

ainda empenhada em retribuir à comunidade<br />

e apoiar programas que promovam a<br />

diversidade e inclusão.<br />

8. Mastercard Incorporated<br />

A Mastercard Incorporated, uma empresa<br />

de serviços financeiros global, também<br />

ocupa um lugar de destaque nesta lista.<br />

A empresa entende a importância da<br />

diversidade na promoção da inovação e do<br />

sucesso empresarial. Com o seu programa de


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

diversidade de fornecedores, a Mastercard<br />

procura colaborar com fornecedores diversos,<br />

incluindo empresas pertencentes a minorias,<br />

mulheres e à comunidade LGBTQ+. Através<br />

desta iniciativa, a empresa cria oportunidades<br />

económicas para grupos sub-representados<br />

e promove a inclusão na sua cadeia de<br />

abastecimento. Ao abrir espaço para novas<br />

ideias e perspetivas, a Mastercard fortalece o<br />

seu negócio e contribui para a construção de<br />

uma economia mais inclusiva.<br />

7. Johnson & Johnson<br />

A Johnson & Johnson, empresa de indústria<br />

farmacêutica e de dispositivos médicos,<br />

também reconhece a importância da<br />

diversidade, equidade e inclusão nas suas<br />

operações e práticas de procurement. Desta<br />

forma, a empresa tornou uma prioridade<br />

promover esses valores tanto internamente<br />

como na escolha dos seus fornecedores. O<br />

seu programa de diversidade de fornecedores<br />

procura trabalhar com uma diversidade de<br />

empresas, incluindo aquelas detidas por<br />

minorias, mulheres e veteranos. A Johnson &<br />

Johnson acredita que esta atitude é essencial<br />

para impulsionar o crescimento económico<br />

e oferecer oportunidades para grupos subrepresentados.<br />

6. Hilton Worldwide Holdings Inc.<br />

A Hilton Worldwide Holdings Inc., uma<br />

empresa de hospitalidade, está empenhada<br />

em promover a diversidade, equidade e<br />

inclusão dentro da sua organização e cadeia de<br />

abastecimento. O programa de diversidade de<br />

fornecedores da Hilton desempenha um papel<br />

crucial nesse compromisso. A empresa procura<br />

trabalhar e apoiar fornecedores de origens<br />

diversas, incluindo empresas detidas por<br />

minorias, mulheres e veteranos. Reconhecendo<br />

a importância de promover oportunidades<br />

económicas para grupos sub-representados,<br />

a Hilton prioriza a sua inclusão na cadeia de<br />

abastecimento.<br />

5. EY (Ernst & Young LLP)<br />

A EY (Ernst & Young LLP), uma empresa<br />

multinacional de serviços profissionais,<br />

oferece uma ampla gama de serviços de<br />

auditoria, impostos e consultoria. Além da sua<br />

missão principal, a empresa está empenhada<br />

em promover a diversidade, equidade e<br />

inclusão tanto dentro da sua organização<br />

como nas suas práticas de procurement. A<br />

EY compreende que um local de trabalho<br />

diverso e inclusivo fomenta um ambiente<br />

mais inovador e produtivo. Como parte desse<br />

compromisso, a empresa implementou um<br />

programa de diversidade de fornecedores<br />

que visa apoiar e trabalhar com fornecedores<br />

de diversas origens. O programa concentrase<br />

em incluir empresas detidas por grupos<br />

sub-representados, como minorias, mulheres<br />

e membros da comunidade LGBTQ+, na sua<br />

cadeia de abastecimento.<br />

4. Cox Communications, Inc<br />

A Cox Communications não é apenas uma<br />

empresa que fornece serviços de cabo, internet<br />

e telefone aos seus clientes. A empresa está<br />

também comprometida em construir um<br />

ambiente de trabalho diverso e inclusivo, onde<br />

todos se sintam valorizados, respeitados e<br />

apoiados. Esse compromisso reflete-se não<br />

apenas nas suas políticas e práticas internas,<br />

mas também nos seus processos de compras.<br />

É por isso que o seu programa de diversidade<br />

de fornecedores procura ativamente trabalhar<br />

com fornecedores de diversas origens, com o<br />

objetivo de criar oportunidades económicas<br />

para grupos sub-representados, priorizando<br />

os negócios detidos por minorias, mulheres e<br />

veteranos. Ao fazê-lo, não só contribui para


42<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

o crescimento dessas empresas, mas também<br />

ajuda a construir comunidades mais inclusivas.<br />

3. Comcast Corporation<br />

A Comcast é uma empresa no setor de<br />

media e tecnologia, que oferece serviços<br />

de cabo, internet e entretenimento aos<br />

seus clientes. O compromisso da Comcast<br />

em promover a diversidade é evidente<br />

através do seu programa de diversidade de<br />

fornecedores, que visa integrar negócios<br />

diversos, como empresas detidas por minorias,<br />

mulheres e pessoas LGBTQ+, na sua cadeia de<br />

abastecimento. A empresa reconhece que a<br />

diversidade de fornecedores é um componente<br />

crítico para criar uma economia mais<br />

inclusiva e prioriza o trabalho com diversos<br />

fornecedores para impulsionar a inovação e<br />

apoiar comunidades sub-representadas.<br />

2. AT&T Inc.<br />

A AT&T é uma empresa de telecomunicações<br />

que oferece uma variedade de serviços de<br />

comunicação, internet e entretenimento aos<br />

consumidores. A empresa está empenhada<br />

em promover a diversidade, a igualdade e a<br />

inclusão, não só na sua cultura corporativa,<br />

mas também nas suas práticas de<br />

procurement. O seu programa de diversidade<br />

de fornecedores tem como objetivo promover<br />

uma cadeia de abastecimento diversificada,<br />

envolvendo fornecedores provenientes<br />

de diferentes origens, como empresas<br />

pertencentes a minorias, mulheres e veteranos.<br />

O compromisso da empresa em colaborar com<br />

uma ampla gama de fornecedores demonstra<br />

o seu objetivo de criar oportunidades<br />

económicas para comunidades subrepresentadas,<br />

enquanto melhora a qualidade<br />

dos produtos e serviços que oferece.<br />

1. Accenture<br />

A Accenture é uma empresa global de<br />

serviços profissionais que oferece uma<br />

variedade de serviços de consultoria, tecnologia<br />

e outsourcing. É amplamente reconhecida<br />

pelo seu compromisso com a diversidade, a<br />

igualdade e a inclusão, tanto internamente<br />

como nas suas práticas de procurement. O seu<br />

programa de diversidade de fornecedores é


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

uma das formas através das quais a empresa<br />

demonstra o seu compromisso com a<br />

diversidade. O programa procura incluir diversos<br />

fornecedores na sua cadeia de abastecimento,<br />

incluindo empresas pertencentes a minorias,<br />

mulheres e membros da comunidade LGBTQ+.<br />

A Accenture oferece aos fornecedores<br />

diversos acesso a orientação, networking e<br />

oportunidades de formação para ajudá-los<br />

a expandir os seus negócios e prosperar no<br />

mercado. A empresa também estabelece<br />

parcerias com pequenas e médias empresas<br />

(PME) e empresas em mercados emergentes,<br />

com o objetivo de promover o crescimento<br />

e a sustentabilidade económica. Além do<br />

programa de diversidade de fornecedores,<br />

a Accenture está empenhada em promover<br />

a diversidade e a inclusão internamente,<br />

criando uma cultura que abraça a diversidade<br />

em todas as suas operações. A empresa<br />

implementou uma série de iniciativas e<br />

programas de diversidade, incluindo grupos<br />

de recursos para os funcionários, formação<br />

em diversidade e inclusão, e programas de<br />

desenvolvimento de liderança para grupos<br />

sub-representados. Esses esforços renderam<br />

à Accenture reconhecimento como uma das<br />

empresas de procurement mais diversas do<br />

mundo. A empresa recebeu vários prémios<br />

pelo seu programa de diversidade de<br />

fornecedores, incluindo o prémio "Corporation<br />

of the Year" do National Minority Supplier<br />

Development Council e o prémio "America's<br />

Top Corporations for Women's Business<br />

Enterprises" do Women's Business Enterprise<br />

National Council. •<br />

CONNOSCO


44<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Apple


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

O COMPROMISSO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

DA APPLE<br />

Sendo a Apple uma líder global na área<br />

produtos tecnológicos, tem a seu cargo<br />

uma responsabilidade social acrescida. A<br />

sustentabilidade ambiental é um tema que<br />

está na ordem do dia, e a multinacional temno<br />

levado a sério. Exemplo disso é o trabalho<br />

que tem vindo a fazer com a sua rede de<br />

parceiros, a nível internacional.<br />

A<br />

Apple anunciou recentemente que os<br />

seus parceiros suportam agora mais 13<br />

gigawatts de eletricidade renovável em<br />

todo o mundo, o que representa um aumento<br />

de cerca de 30%, no último ano. No total,<br />

mais de 250 fornecedores, a operar em 28<br />

países, estão empenhados em utilizar energia<br />

renovável para toda a produção da Apple, até<br />

2030. Isto representa mais de 85% dos gastos<br />

diretos de produção da empresa, e mais de<br />

20 gigawatts em compromissos.<br />

Já neutra em carbono pelas suas emissões<br />

corporativas globais, a multinacional utiliza<br />

ferramentas inovadoras para ser neutra em<br />

carbono para cada produto, até 2030. Isto<br />

inclui 4,7 mil milhões de dólares em Green<br />

Bonds (fundo de financiamento para fins<br />

sustentáveis), que estão a ajudar a financiar<br />

a expansão de soluções de energia limpa e a<br />

redução de emissões em todo o mundo.<br />

A Apple partilhou recentemente detalhes<br />

dos gastos do seu Green Bond de 2022, que<br />

incluiu investimentos em energia solar em<br />

larga-escala, designs de baixo carbono,<br />

eficiência energética, e remoção de carbono.<br />

“Na Apple, somos neutros em carbono para<br />

as nossas próprias operações e inovamos<br />

todo os dias para irmos mais longe no<br />

trabalho urgente de enfrentar as alterações<br />

climáticas”, afirma Tim Cook, CEO da Apple.<br />

“Com parceiros em todo o mundo, estamos a<br />

adicionar ainda mais energia renovável para<br />

alimentar a nossa cadeia de abastecimento<br />

global e investir em tecnologias verdes de<br />

próxima geração. A escala deste desafio é<br />

imensa, assim como a nossa determinação<br />

em enfrentá-lo”.<br />

Mais de 40 parceiros fabricantes aderiram<br />

ao Programa de Energia Limpa do Fornecedor<br />

Apple (Apple’s Supplier Clean Energy<br />

Program), no último ano.


46<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

A multinacional apelou aos seus<br />

fornecedores para descarbonizarem todas<br />

as operações relacionadas com a Apple,<br />

incluindo o fornecimento de eletricidade<br />

100% renovável. Para ajudá-los a cumprir os<br />

seus compromissos e a chegar mais longe,<br />

a Apple trabalha em estreita colaboração<br />

com os fornecedores para identificar e<br />

implementar soluções de energia limpa e<br />

redução de carbono, oferecendo um conjunto<br />

de recursos de aprendizagem gratuitos, e de<br />

formações ao vivo através da sua Academia<br />

de Energia Limpa (Clean Energy Academy).<br />

“Os nossos novos compromissos com os<br />

fornecedores demonstram o rápido ritmo de<br />

progresso em direção ao nosso objetivo de<br />

neutralidade de carbono para 2030”, afirma<br />

Lisa Jackson, vice-presidente de Ambiente,<br />

Política e Iniciativas Sociais da Apple.<br />

“Estamos a tomar medidas urgentes à escala<br />

global para desbloquear um futuro mais<br />

verde, inovador e resiliente”.<br />

Através da sua participação no programa,<br />

os fornecedores da empresa estão a sinalizar<br />

a procura para a expansão da capacidade<br />

de eletricidade renovável em todo o mundo.<br />

Desde 2019, a energia renovável operacional<br />

através da cadeia de abastecimento<br />

global da Apple expandiu-se cinco<br />

vezes, totalizando agora 13,7 gigawatts,<br />

representando 17,4 milhões de toneladas de<br />

métricas de emissões carbónicas evitadas,<br />

no ano passado. Esta medida equivale à<br />

remoção de cerca de 3,8 milhões de carros<br />

na estrada.<br />

A Apple também suporta cerca de 1,5<br />

gigawatts de eletricidade renovável em<br />

todo o mundo para alimentar os escritórios<br />

corporativos, centros de dados, e lojas,<br />

abrangendo 44 países. Além disto, a empresa<br />

ainda investiu diretamente quase 500<br />

megawatts de energia solar e eólica na<br />

China e no Japão para fazer face às emissões<br />

da cadeia de abastecimento a montante.<br />

Os parceiros de fabrico da Apple sediados<br />

nos EUA estão a fazer progressos constantes<br />

em direção às energias renováveis, com<br />

27 fornecedores no Programa de Energia<br />

Limpa do Fornecedor a encontrarem várias<br />

abordagens com sucesso. Alguns deles<br />

alcançaram 100% de eletricidade renovável<br />

para toda a produção relacionada com<br />

a Apple. A Coherent Corp. aproxima-se<br />

desse objetivo através da utilização de um<br />

programa de utilidade verde, enquanto<br />

outros, como a Qorvo, estão a utilizar<br />

contratos de compra de energia para<br />

projetos solares e eólicos em todo o país.<br />

Cerca de 70 fornecedores na China estão<br />

agora empenhados em alcançar 100%<br />

de eletricidade renovável. Com base nas<br />

experiências do programa, a Avary Holding,<br />

que aderiu à iniciativa em 2020, está a lançar<br />

o seu próprio projeto para impulsionar uma<br />

ação escalável, fazendo com que os seus<br />

fornecedores descarbonizem e adotem<br />

energia renovável. As receitas do Green Bond<br />

de 2019 contribuíram para o investimento<br />

da Apple no Fundo de Energia Limpa da<br />

China, um fundo de investimento para ligar<br />

os fornecedores na China a fontes de energia<br />

renováveis. Esta abordagem tem permitido<br />

à Apple, e aos seus fornecedores, investir<br />

em conjunto em mais de 650 megawatts de<br />

eletricidade renovável.<br />

30 parceiros industriais europeus estão<br />

empenhados em alcançar energia limpa,<br />

sendo que seis (a Viscom AG e a Victrex),<br />

já estão a atingir 100% de eletricidade<br />

renovável para as suas cargas Apple.<br />

Para ajudar a acelerar o progresso da<br />

energia limpa e inovações ambientais em


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

todo o mundo, a Apple já desembolsou<br />

mais de 3,2 mil milhões de dólares, com 4,7<br />

mil milhões incluídos no compromisso da<br />

empresa com o Green Bond. Até ao momento,<br />

a multinacional atribuiu 700 milhões de<br />

dólares das receitas do Green Bond de<br />

2019 para apoiar 59 projetos, incluindo o<br />

desenvolvimento e distribuição de recursos de<br />

formação em energia limpa para fornecedores<br />

e esforços colaborativos de advocacia no<br />

Japão, Vietname e Coreia do Sul.<br />

Espera-se que os projetos apoiados pelo<br />

Green Bond de 2019 mitiguem mais de 13,5<br />

milhões de toneladas métricas de dióxido<br />

de carbono ao longo da sua vida útil.<br />

Para além da criação de capacidade para<br />

energias renováveis em toda a cadeia de<br />

abastecimento, os investimentos do Green<br />

Bond da Apple, no ano passado, apoiaram<br />

inovações ambientais em toda a empresa,<br />

incluindo um design de baixo carbono,<br />

eficiência energética, e a expansão das<br />

energias renováveis nas redes em todo o<br />

mundo. •<br />

Programa de Energia Limpa<br />

do Fornecedor Apple<br />

Mais de 250 fornecedores<br />

comprometidos com energia<br />

100% renovável para a produção<br />

da Apple até 2030<br />

Representadas mais de 85% de<br />

despesas diretas de fabrico da<br />

Apple<br />

13.7 gigawatt de energia<br />

renovável online na cadeia<br />

de abastecimento da Apple<br />

aumentou cinco vezes desde 2019<br />

Evitadas 17.4 milhões de<br />

toneladas métricas de emissões<br />

de carbono em 2022


48<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Gestão de armazém<br />

O ARMAZÉM<br />

COMO<br />

PROTAGONISTA<br />

ESQUECIDO<br />

O papel vital do armazém na gestão<br />

logística é muitas vezes negligenciado<br />

pelas empresas, que tendem a concentrarse<br />

na produção e nas áreas comerciais.<br />

No entanto, Alexandra Pinto, consultora<br />

de Gestão e Engenharia Industrial do<br />

INEGI - Instituto de Ciência e Inovação<br />

em Engenharia Mecânica e Engenharia<br />

Industrial, ilumina-nos sobre a importância<br />

estratégica da gestão logística, com<br />

destaque para o papel vital deste<br />

protagonista esquecido no sucesso<br />

empresarial.<br />

O<br />

armazém desempenha um papel vital na<br />

gestão da cadeia de abastecimento, tendo<br />

como principal função permitir a constituição<br />

e manutenção de stocks, assegurando a<br />

disponibilização do produto ao cliente, no<br />

equilíbrio ótimo de custo e serviço, cumprindo<br />

com a proposta de valor definida. Fazendo parte<br />

da Cadeia de Abastecimento, o armazém sofre<br />

as mesmas pressões de rapidez de resposta,<br />

elevado nível de serviço e redução de custo<br />

operacional sentidas na cadeia. Verifica-se,<br />

no entanto, que muitas empresas têm o seu<br />

expertise na produção ou na área comercial,<br />

sendo a gestão logística, e em particular o<br />

armazém, uma área muitas vezes negligenciada.<br />

Historicamente, o armazém é visto como um<br />

depósito de bens, e também de custos. A nossa<br />

experiência em projetos de consultoria nesta<br />

área permite-nos afirmar que, muito pelo<br />

contrário, a correta gestão da armazenagem<br />

acrescenta valor em termos de serviço ao<br />

cliente, baixa os custos totais logísticos e facilita<br />

o fluxo na Cadeia de Abastecimento.<br />

UM PILAR INDISPENSÁVEL<br />

Existe no contexto atual, no entanto, um<br />

conjunto de fatores que tem vindo a contribuir<br />

para um papel cada vez mais determinante do


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

armazém no sucesso da gestão da cadeia de<br />

abastecimento e na concretização da estratégia<br />

da empresa.<br />

Com o crescimento acelerado das vendas<br />

B2C e do canal online, é exigida uma entrega<br />

mais rápida, com maior flexibilidade e a custo<br />

mínimo. A pressão do prazo de entrega propagase<br />

a montante na cadeia de abastecimento<br />

impactando também nas empresas industriais.<br />

Isto acontece, muitas vezes, em contextos em<br />

que as empresas têm já margens comerciais<br />

reduzidas e em que outros elementos de custo,<br />

nomeadamente o de transporte, sofreram<br />

aumentos significativos. De um modo geral,<br />

a expectativa do cliente em relação ao nível<br />

serviço é elevada e as empresas deparamse<br />

com dificuldades em corresponder a essa<br />

expectativa, sem alterar de forma significativa<br />

as suas operações logísticas e sem refletir<br />

aumentos de custos no cliente. As encomendas<br />

têm tido uma tendência tipicamente de baixas<br />

quantidades e multi-produto, o que impacta<br />

significativamente o seu custo de preparação,<br />

em particular se a operação de armazenagem<br />

não tiver sido ajustada a esta realidade.<br />

Paralelamente, verifica-se nos últimos anos<br />

um aumento significativo da procura por<br />

espaços de armazenagem num cenário de<br />

escassez de oferta, e crescem as dificuldades<br />

de captação e retenção de talento para funções<br />

logísticas de uma forma transversal.<br />

Acresce ainda aos requisitos pedidos ao<br />

armazém o facto de que num mercado em que<br />

aumenta a procura pela customização, e em<br />

que esta procura é muitas vezes incerta, existe<br />

uma tendência crescente para modelos do tipo<br />

“assemble and ship to order”, em que é dada<br />

prioridade a stocks genéricos que podem ser<br />

customizados em armazém de acordo com os<br />

requisitos finais do cliente.<br />

O armazém desempenha neste contexto<br />

acelerado e de mudança, um papel ainda<br />

mais determinante no sucesso da operação,<br />

com o risco de constituir um ponto de<br />

estrangulamento, sem capacidade de resposta<br />

para garantir os níveis de serviço esperados<br />

internamente e comunicados ao cliente. É típico<br />

em empresas industriais proceder-se a projetos<br />

de investimento para ganhar alguns segundos<br />

nos processos produtivos, para depois em<br />

armazém se perderem minutos, horas e dias em<br />

processos não otimizados.<br />

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO<br />

A performance do armazém influencia de<br />

forma significativa a capacidade de diferenciação<br />

de uma empresa, por exemplo, através do seu<br />

potencial para a redução de custos e otimização<br />

de níveis de serviço, ou permitindo a realização<br />

de operações finais de valor acrescentado que<br />

podem contribuir para o aumento do valor do<br />

produto e melhorar a experiência do cliente.<br />

Ou ainda servindo como plataformas de crossdocking,<br />

consolidação ou transhipment que<br />

permitem reduzir os custos de transporte.<br />

A operação de armazenagem deve por isso ser<br />

pensada em total alinhamento com a estratégia<br />

da empresa, tendo em conta dimensões como:<br />

• Localização;<br />

• Layout e uso do espaço;<br />

• Equipamentos de armazenagem e<br />

movimentação;<br />

• Processos de receção, conferência,<br />

arrumação, picking, embalagem e<br />

expedição;<br />

• Automatismos;<br />

• Sistemas e tecnologias de informação;<br />

• Níveis de serviço definidos;<br />

• Sazonalidade na produção ou procura;<br />

• Requisitos de customização ou adição final<br />

de valor.<br />

Um estudo recente da McKinsey & Company1,<br />

aponta as seguintes causas como as principais


50<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

causas para uma deficiente performance da<br />

operação de armazenagem:<br />

• Ausência de uma estratégia de foco<br />

tecnológico para a melhoria da eficiência e<br />

qualidade;<br />

• Falta de metodologias e de uma abordagem<br />

estruturada para a identificação de causas<br />

raiz para os baixos níveis de performance;<br />

• Não existência de um projeto de melhoria<br />

contínua para a excelência da operação de<br />

armazenagem;<br />

• Falta de uma perspetiva “end-to-end” da<br />

cadeia de abastecimento que considere<br />

a totalidade dos seus processos, custos e<br />

interfaces com cadeias de abastecimento<br />

externas.<br />

É essencial avaliar de forma contínua a<br />

performance da operação de armazenagem<br />

com o objetivo de identificar desalinhamentos<br />

relativamente aos objetivos definidos e definir<br />

soluções neste seguimento. Esta avaliação de<br />

performance é normalmente realizada através<br />

da definição clara de indicadores e sua contínua<br />

monitorização, nomeadamente:<br />

• Indicadores de produtividade - Permitem<br />

avaliar a capacidade da equipa em operar<br />

com elevados níveis de performance – ou<br />

seja, se as equipas entregam os resultados<br />

dentro dos prazos definidos pela gestão.<br />

Através da monitorização destes indicadores<br />

é possível identificar gargalos operacionais<br />

e oportunidades de otimização.<br />

• Indicadores de capacidade - Identificam o<br />

nível de capacidade operacional disponível<br />

e permitem identificar, por exemplo, se<br />

existem sobrecargas em alguma área, ou por<br />

outro lado, se existe capacidade que não<br />

esteja a ser utilizada.<br />

• Indicadores de qualidade - Permitem medir<br />

a conformidade do trabalho realizado em<br />

relação aos padrões definidos pela gestão<br />

e esperados pelo cliente. Estes indicadores<br />

são utilizados para compreender se o serviço<br />

atual corresponde às expectativas do cliente.<br />

Permitem a otimização de níveis de serviço e a<br />

criação de diferenciação no mercado;<br />

• Indicadores estratégicos – Os indicadores<br />

estratégicos estão diretamente relacionados<br />

com os objetivos estratégicos do negócio,<br />

e permitem avaliar a operação de<br />

armazenagem está em total alinhamento e a<br />

suportar a estratégia de negócio.<br />

O POTENCIAL DAS TECNOLOGIAS<br />

DE INFORMAÇÃO<br />

O potencial impacto da tecnologia nos níveis<br />

de produtividade e eficiência, assim como na<br />

redução de riscos e promoção de maior ergonomia<br />

nas diferentes funções, é enorme. Este é um dos<br />

eixos prioritários de consideração quando se<br />

pretende otimizar a operação de armazenagem.<br />

Com investimentos record nos últimos 5<br />

anos, a inovação a este nível tem sido notável<br />

e existem inúmeros “case studies” de sucesso.<br />

O portfólio de soluções é amplo e com relativa<br />

maturidade em diversas áreas, como seja, por<br />

exemplo, na utilização de robots para auxílio<br />

às operações de picking, na implementação<br />

de sistemas WMS (Warehouse Management<br />

Systems) com soluções de otimização dinâmica<br />

de rotas de picking, ou implementação de<br />

soluções automáticas para a separação de<br />

artigos, entre inúmeras outras.<br />

Entre as tecnologias com maior potencial<br />

de aplicação às operações de armazenagem<br />

destacam se:<br />

• Robots / Cobots;<br />

• Exoesqueletos;<br />

• AGVs – Automated guided vehicle / AMRs –<br />

Autonomous Mobile Robots;<br />

• IA – Inteligência Artificial / ML – Machine<br />

Learning;


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

• Blockchain ;<br />

• RV – Realidade virtual / RA – Realidade<br />

aumentada;<br />

• IoT – Internet of Things;<br />

• Digital Twins;<br />

• WMS – Warehouse Management System; /<br />

WES – Warehouse Execution System;<br />

• Sistemas de armazenagem automáticos;<br />

• Sistemas de separação automáticos;<br />

• Soluções Pick To Light / Put To Light;<br />

• Voice Picking;<br />

• RFID;<br />

• Drones.<br />

Na definição de iniciativas de automação ou<br />

digitalização da operação de armazenagem<br />

é essencial garantir o alinhamento destas<br />

iniciativas com a estratégia da empresa,<br />

apostando em use cases selecionados com um<br />

retorno de investimento claramente identificado,<br />

e para os quais existe o buy-in dos diferentes<br />

stakeholders. Os casos de sucesso confirmam<br />

que existe maior valor em iniciativas cirúrgicas e<br />

estratégicas de transformação digital, do que em<br />

megaprojetos de complexidade excessiva que, na<br />

maioria dos casos, inviabiliza o seu sucesso numa<br />

fase muito precoce.<br />

COMO SE AVALIA O DESEMPENHO DE<br />

UM ARMAZÉM?<br />

A performance do armazém influencia de<br />

forma significativa a capacidade de diferenciação<br />

de uma empresa, por exemplo, através do seu<br />

potencial para a redução de custos e otimização<br />

de níveis de serviço, ou permitindo a realização<br />

de operações finais de valor acrescentado que<br />

podem contribuir para o aumento do valor do<br />

produto e melhorar a experiência do cliente.<br />

Ou ainda servindo como plataformas de crossdocking,<br />

consolidação ou transhipment que<br />

permitem reduzir os custos de transporte.<br />

A operação de armazenagem deve por isso ser<br />

pensada em total alinhamento com a estratégia<br />

da empresa, tendo em conta dimensões como:<br />

• Localização;<br />

• Layout e uso do espaço;<br />

• Equipamentos de armazenagem e<br />

movimentação;<br />

• Processos de receção, conferência, arrumação,<br />

picking, embalagem e expedição;<br />

• Automatismos;<br />

• Sistemas e tecnologias de informação;<br />

• Níveis de serviço definidos;<br />

• Sazonalidade na produção ou procura;<br />

• Requisitos de customização ou adição final de<br />

valor.<br />

Um estudo recente da McKinsey & Company1,<br />

aponta as seguintes causas como as principais<br />

para uma deficiente performance da operação de<br />

armazenagem:<br />

• Ausência de uma estratégia de foco<br />

tecnológico para a melhoria da eficiência e<br />

qualidade;<br />

• Falta de metodologias e de uma abordagem<br />

estruturada para a identificação de causas<br />

raiz para os baixos níveis de performance;<br />

• Não existência de um projeto de melhoria<br />

contínua para a excelência da operação de<br />

armazenagem;<br />

• Falta de uma perspetiva “end-to-end” da<br />

cadeia de abastecimento que considere<br />

a totalidade dos seus processos, custos e<br />

interfaces com cadeias de abastecimento<br />

externas.<br />

É essencial avaliar de forma contínua a<br />

performance da operação de armazenagem<br />

com o objetivo de identificar desalinhamentos<br />

relativamente aos objetivos definidos e definir<br />

soluções neste seguimento. Esta avaliação de<br />

performance é normalmente realizada através<br />

da definição clara de indicadores e sua contínua<br />

monitorização, nomeadamente:<br />

• Indicadores de produtividade - Permitem<br />

avaliar a capacidade da equipa em operar


C<br />

M<br />

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CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

52<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

com elevados níveis de performance – ou<br />

seja, se as equipas entregam os resultados<br />

dentro dos prazos definidos pela gestão.<br />

Através da monitorização destes indicadores<br />

é possível identificar gargalos operacionais<br />

e oportunidades de otimização;<br />

• Indicadores de capacidade - Identificam o<br />

nível de capacidade operacional disponível<br />

e permitem identificar, por exemplo, se<br />

existem sobrecargas em alguma área, ou<br />

por outro lado, se existe capacidade que<br />

não esteja a ser utilizada;<br />

• Indicadores de qualidade - Permitem medir<br />

a conformidade do trabalho realizado em<br />

relação aos padrões definidos pela gestão<br />

e esperados pelo cliente. Estes indicadores<br />

são utilizados para compreender se o serviço<br />

atual corresponde às expectativas do cliente.<br />

Permitem a otimização de níveis de serviço e<br />

a criação de diferenciação no mercado;<br />

• Indicadores estratégicos – Os indicadores<br />

estratégicos estão diretamente relacionados<br />

com os objetivos estratégicos do negócio,<br />

e permitem avaliar a operação de<br />

armazenagem está em total alinhamento e<br />

a suportar a estratégia de negócio.<br />

AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO<br />

PODEM AJUDAR?<br />

O potencial impacto da tecnologia nos níveis<br />

de produtividade e eficiência, assim como na<br />

redução de riscos e promoção de maior ergonomia<br />

nas diferentes funções, é enorme. Este é um dos<br />

eixos prioritários de consideração quando se<br />

pretende otimizar a operação de armazenagem.<br />

Com investimentos record nos últimos 5<br />

anos, a inovação a este nível tem sido notável<br />

e existem inúmeros “case studies” de sucesso.<br />

O portfólio de soluções é amplo e com relativa<br />

maturidade em diversas áreas, como seja, por<br />

exemplo, na utilização de robots para auxílio<br />

às operações de picking, na implementação<br />

de sistemas WMS (Warehouse Management<br />

Systems) com soluções de otimização dinâmica<br />

de rotas de picking, ou implementação de<br />

soluções automáticas para a separação de<br />

artigos, entre inúmeras outras.<br />

Entre as tecnologias com maior potencial<br />

de aplicação às operações de armazenagem<br />

destacam se:<br />

• Robots / Cobots;<br />

• Exoesqueletos;<br />

• AGVs – Automated guided vehicle / AMRs –<br />

Autonomous Mobile Robots;<br />

• IA – Inteligência Artificial / ML – Machine<br />

Learning;<br />

• Blockchain;<br />

• RV – Realidade virtual / RA – Realidade<br />

aumentada;<br />

• IoT – Internet of Things;<br />

• Digital Twins;<br />

• WMS – Warehouse Management System /<br />

WES – Warehouse Execution System;<br />

• Sistemas de armazenagem automáticos;<br />

• Sistemas de separação automáticos;<br />

• Soluções Pick To Light / Put To Light;<br />

• Voice Picking;<br />

• RFID;<br />

• Drones.<br />

Na definição de iniciativas de automação ou<br />

digitalização da operação de armazenagem<br />

é essencial garantir o alinhamento destas<br />

iniciativas com a estratégia da empresa,<br />

apostando em use cases selecionados com<br />

um retorno de investimento claramente<br />

identificado, e para os quais existe o buy-in dos<br />

diferentes stakeholders. Os casos de sucesso<br />

existentes confirmam que existe maior valor<br />

em iniciativas cirúrgicas e estratégicas de<br />

transformação digital, do que em megaprojetos<br />

de complexidade excessiva que, na maioria dos<br />

casos, inviabiliza o seu sucesso numa fase muito<br />

precoce. •


54<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIA<br />

GoWizi


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Rui Mirra Santos, Co-fundador e CEO da GoWizi<br />

Texto: Fábio Santos<br />

UM ELO<br />

ENTRE OS<br />

DISTRIBUIDORES<br />

E A DISTRIBUIÇÃO<br />

A GoWizi é uma empresa portuguesa que<br />

utiliza a Inteligência Artificial para reduzir<br />

os custos operacionais das empresas,<br />

funcionando como um elo entre os grandes<br />

distribuidores e as empresas de distribuição.<br />

Em entrevista à SCM, Rui Mirra Santos, Cofundador<br />

e CEO da GoWizi, explica-nos como<br />

funciona a solução e de que forma procuram<br />

ajudar as empresas nesta tarefa.<br />

1. Como surgiu a ideia<br />

de fundar a GoWizi?<br />

Desde que fui viver para Lisboa, ainda<br />

como estudante, que o “tempo morto”<br />

semanal no supermercado era incomodativo.<br />

Adicionalmente, o número de intermediários<br />

nas cadeias de distribuição levou a que<br />

refletisse sobre o seu desenho estrutural.<br />

O aparecimento da COVID-19 motivou a<br />

criação de um projeto que visava eliminar<br />

todos estes intermediários e desenvolver uma<br />

rede digital direct-to-consumer (D2C) para<br />

os produtores agrícolas locais. Experiência<br />

curta, mas enriquecedora que rapidamente<br />

revelou o quão complexo é operar uma rede<br />

de entrega last-mile, de forma ágil, com<br />

poucos intermediários e com uma experiência<br />

de consumidor exemplar. Isto motivou-me a<br />

desenhar uma rede, que desde o início teve<br />

como propósito ser o mais eficiente e digital<br />

possível. Ao montar esta operação tivemos a<br />

oportunidade de criar um negócio, numa área<br />

que está a atravessar agora o processo de<br />

digitalização. Após algum tempo em atividade,<br />

entendi que o verdadeiro fator diferenciador<br />

e proposição de valor residia no software<br />

proprietário que tinha desenvolvido, que<br />

geria toda a operação de forma autónoma,<br />

com os tais níveis elevados de experiência do<br />

cliente. Foi neste momento que decidi montar<br />

a GoWizi, juntamente com o José, o Rodrigo<br />

e, mais tarde, o Ricardo - uma empresa<br />

tecnológica que está a redesenhar as redes de<br />

entregas last-mile do futuro.<br />

2. O que pretendiam trazer<br />

de novo para a cadeia de<br />

abastecimento?<br />

Se olharmos de forma holística para a rede<br />

de distribuição, percebemos a importância<br />

e o peso que a last-mile tem, dado que


56<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

representa 53% dos custos de entrega. É aqui<br />

que entra a GoWizi, com uma proposta de valor<br />

composta, essencialmente, pelo aumento da<br />

transparência, para todos os intervenientes da<br />

cadeia de entrega e pelo aumento da eficiência<br />

das redes de distribuição, na last-mile delivery.<br />

A implementação de soluções digitais<br />

nas redes de distribuição ainda está muito<br />

incompleta. Como é um sistema grande e<br />

naturalmente complexo, o processo dificultase,<br />

especialmente em comparação com<br />

outras indústrias. O que significa que grandes<br />

empresas estão a liderar esta digitalização,<br />

enquanto que PMEs e startups, extremamente<br />

relevantes na cadeia de distribuição, enfrentam<br />

alguns dos desafios da nova economia digital.<br />

Estes surgem desde a produção até à entrega<br />

ao domicílio, uma vez que os intervenientes<br />

têm alguma dificuldade a identificar falhas e a<br />

apurar responsabilidades.<br />

Porém, também existem oportunidades, não<br />

só para criativos e visionários que gostem de<br />

superar estes e outros desafios, mas também<br />

para a sociedade em si - como a criação de<br />

postos de trabalho e serviços de excelência,<br />

que aumentem a qualidade de vida.<br />

3. Com recurso a IA, a GoWizi<br />

consegue reduzir os custos<br />

operacionais das entregas<br />

de mercadoria em 75%, bem<br />

como aumentar as margens<br />

de lucro das empresas em<br />

30%. Como conseguem atingir<br />

essas metas?<br />

O software da GoWizi utiliza Inteligência<br />

Artificial (IA) para gerir as redes de last-mile<br />

delivery dos nossos clientes, eficientemente. O<br />

algoritmo utiliza toda a informação recolhida,<br />

tanto do lado da procura, como slots horários,<br />

relação entre pontos de entrega e pontos de<br />

recolha, geolocalização, restrições especiais<br />

e refrigeração - como da oferta, como os<br />

condutores disponíveis, a capacidade das<br />

viaturas, as localizações em tempo real e os<br />

horários dos condutores. Com esta informação<br />

conseguimos corresponder às expectativas<br />

dos nossos clientes, com o menor número de<br />

recursos possíveis, garantindo as restrições da<br />

procura e da oferta e minimizando os custos<br />

associados.<br />

Deste modo, existe um impacto direto nos<br />

custos operacionais das empresas, não só<br />

devido ao esforço reduzido no planeamento<br />

que, previamente, era manual, mas também<br />

no desenho das próprias rotas, que se tornam<br />

mais eficientes, com uma alta velocidade de<br />

processamento.<br />

Finalmente, e indiretamente, também as<br />

receitas são afetadas. Ao aumentarmos a<br />

eficiência, fazemos com que os negócios<br />

consigam entregar mais, para um dado nível<br />

de recursos contratados. Tudo isto eleva a


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

qualidade do serviço das empresas de last-mile<br />

delivery, o que afeta positivamente as receitas<br />

e, consequentemente, o lucro.<br />

4. Outra área em que também<br />

recorrem à IA é ao nível da<br />

predição, uma área crítica<br />

para as empresas ao nível<br />

do controlo de stocks. Como<br />

funciona essa análise e de que<br />

forma conseguem otimizar as<br />

operações de cada empresa,<br />

e de cada setor, através do<br />

algoritmo?<br />

A previsão matemática é um mecanismo<br />

bastante antigo. Tem vindo a tornar-se mais<br />

mediática recentemente com a disponibilidade<br />

de uma elevada quantidade de dados e,<br />

através da aplicação de machine learning nos<br />

últimos anos. Podem ser aplicadas a todas as<br />

indústrias e, com toda a certeza, à logística. É<br />

importante termos a noção de que, como dizia<br />

George Box, “todos os modelos estão errados,<br />

mas alguns são úteis”. Nunca vamos estar<br />

exatamente alinhados com a realidade. No<br />

entanto, ao analisar a diferença entre a nossa<br />

previsão e a realidade,<br />

conseguimos medir o<br />

impacto que a melhoria<br />

destas previsões pode<br />

ter no funcionamento do<br />

nosso negócio.<br />

Na GoWizi tiramos partido<br />

da informação que cada empresa gera<br />

para a informar sobre eventos importantes, de<br />

acordo com padrões, como atrasos em certas<br />

zonas, ou mesmo o tempo extra necessário<br />

para chegar à porta de determinada morada e,<br />

com isto, notificar gestores operacionais ou até<br />

clientes. O objetivo é que estes consigam agir<br />

em antecipação, de modo a evitar custos extra<br />

ou uma experiência negativa.<br />

5. Quais as vantagens<br />

que obtiveram através da<br />

participação no Programa<br />

Banco Montepio Acredita<br />

Portugal?<br />

O Programa Banco Montepio Acredita<br />

Portugal, organizado pela Unlimit, foi uma<br />

forma muito prática e eficaz de sentir o<br />

“pulso” à ideia e ao ecossistema. Conseguimos<br />

perceber o contexto nacional, nas mais<br />

diversas áreas, receber feedback rápido e<br />

preciso, de várias entidades, bem como obter<br />

uma ligação direta a empresas de grandes<br />

dimensões do setor. Finalmente, a amplificação<br />

que a mensagem da GoWizi recebe, por estar<br />

associada ao programa da Unlimit, acaba por<br />

ser muito relevante no desenvolvimento de um<br />

posicionamento de uma marca no mercado.<br />

6. Referem também que o<br />

próximo passo é escalar a<br />

solução. A que nível?<br />

A GoWizi recentemente atingiu os<br />

objetivos que delineamos para a primeira<br />

fase: encontrámos um problema grande,


58<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

idealizámos uma solução,<br />

criámos um minimum viable<br />

product (MVP), testámos com<br />

clientes-piloto e atualmente temos<br />

a primeira versão completa da aplicação que<br />

é utilizada atualmente por cinco clientes<br />

operacionais, em mais de 12.000 entregas por<br />

mês e por mais de 160 utilizadores - com um<br />

crescimento de volume de negócio mensal<br />

médio acima dos 30%.<br />

A próxima fase tem como foco a<br />

escalabilidade da solução e o crescimento<br />

do negócio. Resumidamente, o desafio será<br />

encontrar a solução ideal para crescer esta<br />

base de clientes, de forma exponencial, rápida<br />

e eficiente - no que toca ao custo de aquisição<br />

- e com uma estrutura de custos que cresça<br />

de forma independente. Nos negócios de<br />

software, em específico os de software-as-aservice<br />

(SaaS), e em particular o nosso caso, a<br />

vantagem é que temos menos barreiras<br />

à penetração em países estrangeiros,<br />

mas também o desafio de precisar de<br />

atingir patamares de volume de negócio<br />

muito elevados, para que a faturação se torne<br />

relevante. Isto obrigou-nos - como acontece<br />

com muitos empreendedores portugueses - a<br />

pensar no mercado de uma forma global e<br />

decidir atacar este mercado internacional<br />

daqui para a frente.<br />

Sobre o produto, neste momento, esperamos<br />

dar novidades muito em breve. Apenas<br />

quero terminar acrescentando que na GoWizi<br />

cultivamos centralmente o mindset de que<br />

o produto nunca estará finalizado. Tal como<br />

o mundo à nossa volta está em constante<br />

evolução, da mesma forma, o nosso produto<br />

também tem de o estar. Observar, Concluir,<br />

Inovar - repetir. É o lema de vencedor de<br />

qualquer história de sucesso. •<br />

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60<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Lowlow<br />

Texto: Fábio Santos<br />

UM MICRO<br />

QUE FAZ MACRO<br />

Criada em junho do ano passado,<br />

a start-up portuguesa de logística<br />

sustentável Lowlow tem como missão<br />

descarbonizar as entregas de última<br />

milha. Uma das iniciativas foi a criação<br />

de um microhub de logística em Lisboa,<br />

de forma a funcionar como um suporte<br />

para a logística urbana, tendo tido o<br />

apoio da Galp. Em entrevista à SCM,<br />

Bruno Galaio, head of strategy da<br />

Lowlow, explica como surgiu a empresa<br />

e quais as suas ambições.<br />

Aideia da criação da Lowlow surgiu<br />

através de uma má experiência de<br />

entrega de alimentos ao domicílio, em<br />

que o pedido não veio completo e chegou<br />

tarde. O fundador e CEO da Lowlow, Rafael<br />

Fernandes, tinha na altura uma loja de motas<br />

elétricas, e pensou em explorar a otimização<br />

deste processo de entregas, com a<br />

possibilidade de recorrer a veículos elétricos.<br />

Foi então que, através da sua experiência em<br />

multinacionais de retalho e da sua rede de<br />

contactos, começou a sondar as necessidades<br />

do mercado e como eram feitos os processos,<br />

de forma a conseguir adaptar um modelo<br />

que correspondesse às necessidades destas<br />

empresas.<br />

Em junho de 2022 surgiu então a Lowlow,<br />

tendo como missão a descarbonização das<br />

entregas de última milha, e em cinco meses<br />

conseguiu poupar a emissão de mais de 400<br />

toneladas de CO₂ nos centros urbanos de<br />

Lisboa e do Porto.<br />

“Começámos a crescer inicialmente<br />

no retalho, na entrega de mercadorias,<br />

comida, entre outros. Sendo que a nossa<br />

última aposta por ser consequência disso,<br />

da maturação do processo logístico da<br />

empresa, a logística dos pacotes, tornandonos<br />

quase um 3PL com uma solução para<br />

e-commerce através dos microhubs”, explica<br />

Bruno Galaio, e assim foi até dezembro de<br />

2022, tendo o fundador tomado a decisão<br />

de profissionalizar a empresa na logística e<br />

torná-la oficialmente num 3PL.


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

No início a ideia era criar um microhub, no<br />

entanto, ainda sem um espaço físico para fazer<br />

de espaço de cross-docking, começaram por<br />

ter um “hub móvel”, com uma carrinha a servir<br />

de cross-docking point, tanto em Lisboa como<br />

no Porto. O processo ainda tinha algumas<br />

imperfeições, mas conseguiram encontrar uma<br />

alternativa graças à Galp, que acabou por lhes<br />

ceder um espaço que não estava a utilizar para<br />

que pudessem utilizar como microhub logístico,<br />

inaugurado em fevereiro. “A Galp ajudou-nos<br />

a ter este primeiro espaço, que está situado<br />

junto às Amoreiras, o que nos permite cobrir<br />

uma grande parte do centro urbano de<br />

Lisboa a distribuir pacotes”.<br />

Bruno Galaio avança que os microhubs serão<br />

a próxima aposta para a logística de última<br />

milha, e que estes já têm um papel importante<br />

no Norte da Europa para a distribuição.<br />

“Queremos que também o sejam em Portugal.<br />

Nos próximos meses vamos reforçar esta<br />

aposta, contribuindo para reduzir a pegada<br />

carbónica do last mile em Lisboa”, afirma,<br />

sendo que também ponderam chegar a outras<br />

regiões de Portugal, como ao Porto. “A ideia<br />

será conseguirmos até ao final do primeiro<br />

semestre, dependendo de alguns fatores<br />

externos, termos à volta de quatro hubs, três<br />

em Lisboa e um no Porto. Até ao final do ano<br />

queremos ter entre cinco e seis, sendo que<br />

um deles esperamos vir a ser internacional”.<br />

O responsável estima que cerca de 80%<br />

dos seus clientes sejam internacionais e<br />

tenham operações em Espanha, e como tal,<br />

estão a estudar também essa possibilidade de<br />

posicionamento ibérico.<br />

“DESVIÁMOS DUAS BALAS”<br />

O mercado imobiliário logístico tem estado<br />

a aumentar ao nível da procura, e a decrescer<br />

na oferta, o que se reflete em altos preços de<br />

arrendamento. Graças à parceria com a Galp,


62<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

a Lowlow conseguiu amenizar aquilo que<br />

seria um dos seus grandes custos, e dar um<br />

novo uso a um espaço que, caso contrário,<br />

não estaria a ser utilizado.<br />

Bruno Galaio conta que os seus veículos<br />

encontram-se em vários hubs por Lisboa,<br />

alguns mesmo nos espaços dos clientes,<br />

onde carregam durante a noite e são<br />

preparados para fazerem a distribuição.<br />

“Nós não temos uma carência de imobiliário<br />

como os CTT ou a DHL, que têm necessidade<br />

de grandes pavilhões e sorting centres, o<br />

que acaba por influenciar bastante o P&L”,<br />

explica o responsável.<br />

“A Galp tem apostado muito nesta<br />

estratégia de diversificar a oferta e de fazer<br />

cada vez mais parte da vida da cidade.<br />

Tinham este património sem qualquer tipo<br />

de rendimento, nós propusemos o projeto<br />

e pareceu-lhes bem, até porque encaixa no<br />

conceito e na missão de sustentabilidade<br />

da Galp. Foi um processo muito rápido, na<br />

verdade, cerca de um mês/mês e meio para<br />

agilizar tudo e concretizar o projeto”.<br />

O fulfillment do hub é feito de noite,<br />

idealmente, “o mais cedo possível”, de<br />

modo a otimizar o processo e a evitar que<br />

os veículos que abastecem o hub estejam<br />

presos no trânsito. “A carrinha chega,<br />

descarrega as encomendas que depois são<br />

organizadas em diferentes códigos postais,<br />

e a docking station, apesar de ser muito<br />

pequena, tem várias lanes com códigos<br />

postais atribuídos. Quando os motoristas<br />

entram ao serviço já têm as caixas<br />

organizadas e seguem para distribuição.<br />

Estamos a processar à volta de 400 a 500<br />

encomendas diariamente”, detalha Bruno<br />

Galaio.<br />

MICROHUBS POTENCIAM<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

A capacidade depende do volume, pois<br />

algumas encomendas vão em grosso e<br />

outras não, mas estimam que sejam feitas<br />

entre 50 e 60 encomendas numa volta.<br />

“Os veículos têm uma grande capacidade<br />

de acomodação, e esta estratégia de<br />

microhubs potenciou a distribuição, porque<br />

onde passavam várias carrinhas para fazer<br />

entregas, passa um driver numa mota pela<br />

rua inteira”, aponta o responsável.<br />

Ao nível dos benefícios, aponta a<br />

diminuição do tráfego, facilitado devido às<br />

pequenas dimensões da mota; o aumento<br />

do número de entregas por rota e por<br />

driver; bem como o impacto ambiental,<br />

por ser feito com uso de veículos elétricos.<br />

Apesar do seu limite de 120 quilómetros<br />

por bateria, por se tratar de um sistema<br />

plug&play, enquanto um driver está a fazer<br />

a distribuição, têm outra bateria a carregar<br />

para a distribuição seguinte.<br />

“Neste momento temos cerca de 40


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

drivers fixos, que já trabalham connosco há<br />

algum tempo, e temos bastante confiança<br />

no trabalho deles, e depois há alguns drivers<br />

para colmatar alturas de pico”, explica. De<br />

modo a conseguirem fazer esta previsão das<br />

necessidades, contam com uma tecnologia<br />

própria para fazer o forecast dos picos,<br />

tendo também em conta a informação que<br />

vão recebendo dos clientes, de modo a<br />

ajustarem as suas operações.<br />

Bruno Galaio conta que os drivers têm<br />

formação para as entregas e que procuram<br />

manter as pessoas na mesma rota, por uma<br />

questão de familiarização com a zona e com<br />

os próprios clientes.<br />

A RELEVÂNCIA DA EXPERIÊNCIA<br />

DE ENTREGA<br />

Tal como sentido na própria origem da<br />

Lowlow, a experiência do consumidor no<br />

ato de entrega é cada vez mais valorizada.<br />

“Há algum tempo, uma das coisas em que os<br />

executivos das marcas de retalho apostavam<br />

bastante era em desenhar a experiência<br />

do consumidor em loja. A Nespresso, por<br />

exemplo, ainda hoje é um case study nas<br />

universidades de gestão e nos MBA pela<br />

jornada do consumidor dentro da loja”,<br />

contextualiza, “começamos a ver que, por<br />

causa das alterações que o nosso padrão<br />

de consumo sofreu, devido à pandemia e ao<br />

potencial do teletrabalho, agora estamos<br />

muito mais tempo em casa, e a entrega<br />

passou a ganhar mais relevância para a<br />

marca e naquilo que dá ao cliente”.<br />

Esta vertente da experiência do cliente é<br />

outro dos pontos em que a Lowlow procurou<br />

focar-se, e desde o próprio packaging a dizer<br />

uma frase-chavão/slogan da empresa no ato<br />

de entrega, a empresa procura diferenciar-se<br />

do restante mercado através de um serviço<br />

“o mais customizado possível”.<br />

“Este processo customizado do last mile,<br />

da entrega porta-a-porta, acaba por ser<br />

algo que começa a ser procurado e em que<br />

também queremos apostar mais no futuro.<br />

O cliente procura tanto a rapidez como essa<br />

personalização. E claro que causa impacto<br />

na pessoa que está a receber”, refere Bruno<br />

Galaio. Ao mesmo tempo, aponta que grande<br />

parte das empresas também procura a<br />

vertente das entregas verdes, através de<br />

veículos 100% elétricos, e que todas as<br />

entregas da Lowlow são feitas recorrendo a<br />

esse tipo de veículos.<br />

“O tempo que estamos dispostos a esperar<br />

por uma encomenda é cada vez menor. E<br />

daí fazer sentido estas soluções microfulfillment”,<br />

afirma. “É o nosso desafio e<br />

acaba por ser também a nossa missão”.<br />

Em busca de novos locais, a Lowlow<br />

quer chegar ao Porto, com uma estratégia<br />

semelhante, mas primeiro solidificar<br />

Lisboa. “Já temos alguns clientes à espera<br />

do Porto. Prevemos que a expansão seja<br />

rápida, sem estar dependente de alguns<br />

fatores externos. Queremos manter a nossa<br />

sustentabilidade, mas com uma massa<br />

financeira que nos permita crescer e escalar<br />

à velocidade que os clientes nos procuram”,<br />

explica Bruno Galaio, referindo que já deram<br />

início à primeira ronda de investimento.<br />

Ao nível do hub em si, o head of strategy<br />

da empresa explica que a sua localização<br />

vai seguir a mesma linha de pensamento de<br />

Lisboa, triangulando a melhor localização<br />

para fazerem as entregas mais rápidas e<br />

serem mais eficientes. “Essa é a grande<br />

estratégia, sendo que o Porto tem o desafio<br />

adicional de que geralmente faz-se Porto e<br />

Gaia. Portanto, idilicamente pode acontecer<br />

haver dois hubs, um em cada localidade. •


64<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Roubo de mercadorias<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

UMA AMEAÇA<br />

EM EXPANSÃO<br />

David Sousa, diretor da SEMPER<br />

Segundo dados fornecidos pela TAPA<br />

(Transported Asset Protection Association),<br />

nos últimos 31 dias de 2022, os furtos de<br />

mercadorias atingiram um montante alarmante<br />

de 17 milhões de euros no mercado EMEA<br />

(Europa, Oriente Médio e África). Contudo,<br />

este aumento levanta questões sobre as<br />

principais razões por de trás deste fenômeno e<br />

a que David Sousa, diretor da SEMPER, tentou<br />

responder. “Sempre foi uma “indústria” bastante<br />

rentável. Os camiões estão em viagem, param<br />

em locais (….) não pode ser muito escolhido,<br />

digamos assim, e ponho a ressalva que deve<br />

ser o melhor possível e deve ser escolhido, mas<br />

nem todos os sítios podem albergar camiões,<br />

por isso, acaba por ser em locais que possam,<br />

efetivamente, ser partilhados. As mercadorias<br />

estão muito expostas e muitas delas são<br />

facilmente transacionáveis e, portanto, tornamse<br />

um alvo apetecível”, explica. De acordo com<br />

o diretor, apesar de maior parte dos furtos<br />

ser feito por ladrões amadores e que roubam,<br />

maioritariamente, camiões com lona por serem<br />

mais acessíveis, este ato está cada vez mais<br />

desenvolvido já que "existem redes que seguem<br />

os camiões a partir de locais previamente<br />

estudados até que os mesmos façam o<br />

parqueamento, e, então, nessa altura, já roubam<br />

sabendo o que vão roubar. Isto é verdade<br />

para mercadorias especialmente atrativas ao<br />

roubo desde materiais informáticos, eletrónica,<br />

cosmética, perfumaria, entre outros”. Outra<br />

tendência crescente é o uso de bolsas de carga<br />

por redes criminosas que através da criação de<br />

empresas fictícias, conseguem obter


SCM Supply Chain Magazine 65


66<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

acesso a mercadorias valiosas. “Já existem<br />

situações em que as redes criminosas adquirem<br />

empresas de transporte reais, que já estão<br />

registadas em bolsas de cargas, que têm seguro,<br />

que têm alvará, que têm histórico financeiro,<br />

que têm reputação no mercado. Adquirem<br />

estas pequenas empresas, operam com elas<br />

durante algum tempo para ganhar confiança,<br />

ou, normalmente, importar mercadorias de<br />

baixo valor para criar um histórico ou continuar<br />

com o histórico e, depois, concorrem para<br />

cargas de elevado valor e desaparecem com<br />

elas”, ressalta o responsável. Desta forma,<br />

alerta que é preciso ter cuidado ao lidar com<br />

plataformas eletrónicas, pois têm-se tornado<br />

um terreno fértil para tentativas de fraude.<br />

Diante do aumento alarmante de roubos de<br />

mercadorias na cadeia de abastecimento, a<br />

atenção redobrada dos stakeholders, incluindo<br />

expedidores, transportadores e intermediários<br />

logísticos, é essencial para garantir a segurança e<br />

a integridade dos produtos durante o transporte.<br />

O combate a essas práticas criminosas exige<br />

uma abordagem multifacetada, que envolve<br />

medidas de segurança avançadas, cooperação<br />

entre as partes envolvidas e o desenvolvimento<br />

de estratégias eficazes para proteger a cadeia de<br />

abastecimento contra o roubo de mercadorias.<br />

IMPACTOS FINANCEIROS<br />

E REPUTACIONAIS<br />

No cenário do roubo de mercadorias na<br />

Europa, Espanha destaca-se como uma das<br />

zonas mais afetadas, “tendo em conta a duração<br />

dos tempos de condução e a distância, é<br />

perfeitamente normal que os primeiros, e os<br />

últimos também quando é de entrada, quando<br />

é de importação, mas os primeiros quando<br />

é de exportação com saída de mercadorias<br />

aqui, sejam perto da fronteira com Espanha.<br />

E, portanto, os roubos acontecem por uma<br />

questão de oportunismo”, menciona David<br />

Sousa. No entanto, Espanha não é exclusiva<br />

nesse aspeto, mencionando a Itália e o Reino<br />

Unido como outros países problemáticos em<br />

relação a roubos de mercadorias. Quando<br />

questionado sobre a situação em Portugal, o<br />

diretor afirmou que existem alguns roubos,<br />

mas que Portugal possui características que<br />

minimizam os mesmos, como a estreiteza<br />

territorial do país. Isso faz com que as<br />

mercadorias saiam rapidamente do país,<br />

evitando paragens que poderiam facilitar os<br />

roubos. Além disso, muitas empresas optam por<br />

parquear as mercadorias em locais com maior<br />

segurança, como as suas próprias instalações<br />

ou áreas com medidas de segurança adequadas.<br />

Em relação à cadeia de abastecimento como<br />

um todo, o diretor menciona que o roubo de<br />

mercadorias afeta cada elemento de forma<br />

distinta mas que as empresas exportadoras<br />

são diretamente afetadas pelas perdas<br />

financeiras e pelas penalidades contratuais<br />

impostas: "Quando acontecem os roubos, essas<br />

penalidades, que são pesadas, são aplicadas".<br />

Além disso, ressalta que a disponibilidade das<br />

mercadorias no mercado pode ser prejudicada,<br />

reduzindo a competitividade das marcas.<br />

ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS<br />

O diretor da SEMPER aproveitou para referir<br />

o paradoxo existente entre a exigência dos<br />

tempos de entrega e a segurança-descanso dos<br />

motoristas, uma vez que a demanda por prazos<br />

de entrega das mercadorias cada vez mais<br />

reduzidos tem impulsionado a competividade,<br />

e consequentemente, a procura por operadores<br />

que possam entregar mercadorias de forma<br />

rápida e eficiente. Como explicou o responsável,<br />

"o operador que conseguir, de uma forma<br />

regular, com um preço mais competitivo,<br />

com um tempo de trânsito inferior, entregar


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

mercadorias, será o operador de eleição". No<br />

entanto, essa pressão por prazos cada vez<br />

menores coloca os transportadores numa<br />

situação complexa. Por um lado, estão sujeitos<br />

a restrições legais em relação aos tempos<br />

de descanso dos motoristas. Por outro lado,<br />

essa pressão pode comprometer a segurança<br />

das mercadorias, já que muitas vezes não é<br />

possível adotar todos os cuidados necessários<br />

durante o transporte. David Sousa destacou<br />

que "toda essa pressão pode levar a que não<br />

possam ser tomadas, muitas vezes, cuidados<br />

adicionais como deveriam ser para todas as<br />

mercadorias". Outro desafio enfrentado pelos<br />

transportadores é a disponibilidade de locais<br />

de parqueamento adequados. Apesar de<br />

existirem locais fechados e vigiados, estes não<br />

são abundantes, especialmente ao longo das<br />

principais rotas de transporte, o que dificulta<br />

a tarefa dos transportadores para estacionar.<br />

Diante desse cenário, o profissional sugere<br />

algumas medidas para que as empresas de<br />

transporte possam proteger-se de forma mais<br />

eficaz. Uma das recomendações é ter um<br />

seguro abrangente, levando em consideração<br />

não apenas o roubo, mas também outros<br />

riscos. Além disso, é importante que as<br />

empresas pesquisem e forneçam informações<br />

aos transportadores sobre as bolsas de<br />

carga e os cuidados necessários ao utilizar<br />

operadores desconhecidos. Isso inclui realizar<br />

verificações financeiras e históricas, entrar<br />

em contato direto com agentes de seguros e<br />

outros transportadores, e procurar referências<br />

e informações fora das plataformas de<br />

transporte. Em relação ao estacionamento,<br />

é recomendado que as empresas tenham<br />

critérios mais criteriosos na escolha dos<br />

locais de parqueamento. Com o aumento do<br />

risco de roubo, é fundamental que planeiem<br />

cuidadosamente as rotas e escolham os locais<br />

mais seguros possíveis ao longo do trajeto. O<br />

especialista ressalta a importância de "tomar<br />

todas as medidas possíveis para planear a<br />

viagem, planear o descanso do motorista da<br />

noite e escolher o local mais seguro possível<br />

ao longo da rota". Ao tomar essas medidas, as<br />

empresas poderão proteger os seus negócios<br />

e garantir a segurança das mercadorias<br />

transportadas. •


68<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

CARREIRA<br />

Supply chain<br />

Texto: Ana Paiva<br />

BURNOUT:<br />

SOMOS APENAS<br />

HUMANOS<br />

Os últimos anos têm sido desafiantes para<br />

toda a gente, mas particularmente para<br />

os profissionais de supply chain. Com o<br />

mundo de pernas para o ar foram eles<br />

que, trabalhando quase sem parar, em<br />

cenários inéditos, mantiveram as cadeias de<br />

abastecimento mundiais a funcionar. Mas,<br />

no mundo real, os super heróis cansam-se.<br />

Stressam. Esgotam-se. E o burnout também<br />

lhes bate à porta. É que na verdade eles são<br />

apenas humanos.<br />

Oburnout é uma doença que tem vindo<br />

a afetar cada vez mais profissionais de<br />

diferentes setores, como é o caso da supply<br />

chain. Trata-se de uma área exigente, com<br />

rápida necessidade de resposta, deadlines<br />

apertados e um acompanhamento permanente.<br />

Dadas estas especificidades, fica claro que<br />

nem sempre é fácil desligar. Mas é preciso. O<br />

equilíbrio entre a vida profissional e pessoal<br />

é essencial ao bem-estar de todos nós.<br />

Para uma, precisamos da outra. De forma a<br />

melhor entender o tema conversamos com<br />

uma psicóloga, um professor catedrático de<br />

Fisiologia, três entidades ligadas à área de<br />

recursos humanos, um líder de supply chain,<br />

e três profissionais que passaram por um<br />

processo de burnout, que nos contaram a sua<br />

experiência em primeira mão.<br />

Em 2022, oito em cada 10 funcionários<br />

consideraram estar em risco de burnout, uma<br />

tendência que aumentou significativamente<br />

desde 2019 (63%) até ao passado ano (81%).<br />

Esta é uma das conclusões do “Global Talent<br />

Trends 2022-<strong>2023</strong> Study: Rise of the Relatable


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

Organization”, desenvolvido pela Mercer. Para<br />

o relatório foram tidas em conta opiniões de<br />

mais de 13.000 executivos, líderes de recursos<br />

humanos e funcionários de 25 regiões globais,<br />

entre elas Portugal.<br />

“Mudam-se os tempos, mudam-se as<br />

vontades”, é um ditado que se aplica<br />

perfeitamente aos dias de hoje, no que ao<br />

paradigma laboral diz respeito. A forma de<br />

trabalhar está a ser repensada, incentivada<br />

pelos desafios causados pela pandemia a nível<br />

global. Surgiram novos modelos de trabalho,<br />

como é o caso do regime híbrido, e novas<br />

necessidades relativamente ao bem-estar<br />

dos trabalhadores. Tornou-se mais evidente<br />

a importância da saúde mental em cada um<br />

de nós, bem como na forma de as empresas<br />

encararem esta questão.<br />

Estamos a assistir, no mercado de trabalho,<br />

a uma completa mudança de paradigma, a<br />

começar pelas expectativas e valores dos<br />

trabalhadores. “Os funcionários sentem-se com<br />

mais poder para agir, como se pode comprovar<br />

pelo fenómeno da demissão silenciosa<br />

(quite quitting) e das demissões voluntárias<br />

(voluntary resignation) em Portugal, que<br />

ultrapassam o período pré-pandemia”, pode<br />

ler-se no estudo.<br />

Algumas das tendências futuras passam<br />

pela ideia de que “as pessoas já não querem<br />

trabalhar para uma empresa, mas sim com uma<br />

empresa”, como refere o relatório. Nota-se<br />

uma grande necessidade de os trabalhadores<br />

se sentirem valorizados e de serem encarados<br />

como uma parte indispensável às empresas.<br />

Porque de facto, o são. Mas será que as<br />

organizações estão prontas para ir ao encontro<br />

das necessidades dos colaboradores?<br />

De acordo com o estudo, em Portugal, 38%<br />

das empresas dizem ter planos para <strong>2023</strong> para<br />

expandir os benefícios, de forma a apoiar todos<br />

os segmentos no local de trabalho. Por sua<br />

vez, 79% prestam, atualmente, algum apoio à<br />

saúde mental dos colaboradores, sendo que<br />

apenas 15% disponibilizam recursos de gestão<br />

de crise após um evento traumático. Apenas<br />

31% estão focadas em redesenhar o trabalho<br />

tendo em consideração o bem-estar dos


70<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

funcionários (cargas de trabalho realistas, dias<br />

sem reuniões, ambiente de trabalho favorável,<br />

entre outros). Ainda assim, 27% oferecem,<br />

atualmente, acesso a “prestadores de serviço<br />

de saúde mental” virtuais.<br />

Uma das conclusões do estudo é de que o<br />

conceito de “parceria” em vez de “liderança”<br />

pode ser um dos maiores trunfos para as<br />

empresas se tornarem mais competitivas na<br />

atração de talento. E mais humanas.<br />

O que é o burnout e como<br />

se manifesta?<br />

“O burnout, por definição, é uma<br />

perturbação que decorre de um stress, ou<br />

de uma ansiedade crónica no trabalho. É<br />

uma doença profissional, que acontece no<br />

contexto de trabalho, e não se trata de uma<br />

situação pontual. É algo que é continuado”,<br />

explica Tânia Gaspar, psicóloga. Os sintomas<br />

associados a este problema manifestam-se<br />

de várias maneiras e afetam, de forma global,<br />

a vida de uma pessoa. “Por um lado, existem<br />

os sintomas psicológicos, em que a pessoa<br />

está mais irritável, muitas vezes tem alguma<br />

labilidade e frieza emocional, e cansaço físico.<br />

Depois, na parte cognitiva, afeta, de forma<br />

progressiva, a capacidade de concentração,<br />

planeamento, memória”. A perturbação no<br />

sono é um dos primeiros sintomas, e é um<br />

dos fatores que desencadeia todos os outros.<br />

“As pessoas não valorizam muito o sono, mas<br />

é fundamental para a nossa saúde mental.<br />

Se não conseguimos dormir, não repomos o<br />

nosso funcionamento, e geramos impacto<br />

no nosso estilo de vida, como a alimentação,<br />

exercício físico, entre outros”, refere. A nível<br />

social, esta doença também se apresenta,<br />

nomeadamente, através de comportamentos<br />

de isolamento, irritação, e menos envolvência<br />

social.<br />

Ana Barbosa, supply chain specialist<br />

A necessidade de isolamento foi um dos<br />

sintomas que afetou Ana Barbosa, supply<br />

chain specialist. “Comecei a afastar-me<br />

de toda a gente. Não queria conversar<br />

com ninguém, só queria estar na minha<br />

bolha, e trabalhar o mais possível. Quando<br />

pessoas que são minimamente sociais<br />

e comunicativas, deixam de o ser, é um<br />

sinal de alerta”, confessa. O burnout foi<br />

diagnosticado em Ana Barbosa em outubro<br />

de 2014, enquanto supply chain manager, na<br />

área do retalho. Trabalhava há seis anos, e<br />

era responsável por coordenar uma equipa<br />

de aprovisionamento de um dos maiores<br />

negócios da empresa até à data. “Comecei a<br />

sentir os primeiros sintomas, como cansaço<br />

extremo, muitas dores de cabeça, falta de<br />

apetite, insónias e sensação de tonturas.<br />

Trabalhava em esforço para acompanhar o<br />

dinamismo e garantir que o trabalho não<br />

era afetado de forma alguma”, indica. Estes<br />

sintomas foram potenciados por um esforço<br />

extremo. “Nesta altura chegava a trabalhar<br />

14 ou 15 horas por dia, dormia quatro horas<br />

por noite e não tirava períodos de férias<br />

prolongados. Tornei-me obsessiva com o<br />

trabalho e queria controlar tudo. Havia uma<br />

autopressão enorme que me consumia, mas<br />

exigia mais de mim”, revela.


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Apesar de ter noção de que o setor da<br />

supply chain, devido às especificidades<br />

de urgência que o caracterizam, poder ser<br />

um impulsionador para encaminhar um<br />

profissional num processo de burnout,<br />

considera que o que o potenciou foram os<br />

traços mais vincados da sua personalidade.<br />

“Sempre fui muito perfecionista, sou<br />

bastante ambiciosa e considero-me uma<br />

profissional muito dedicada e extremamente<br />

responsável. A responsabilidade acrescida<br />

e a pressão natural da área da supply chain<br />

eram motivadores para trabalhar mais e não<br />

consegui equilibrar o meu worklife balance”,<br />

conta. Aliado a isto, considera-se “sorrateira”,<br />

uma vez que conseguiu esconder o seu estado<br />

de toda a gente.<br />

Por sua vez, Tânia Gaspar, ressalva que<br />

embora as características pessoais possam<br />

estar associadas ao burnout, não são o<br />

principal motivo. “Nós, psicólogos, estamos a<br />

fazer o trabalho de transmitir que o burnout<br />

não é um problema individual porque, muitas<br />

vezes, a ideia que passa é de que a pessoa<br />

é frágil e, então, tem responsabilidade por<br />

estar doente”. Ainda assim, traços como rigor,<br />

uma menor abertura à mudança, rigidez<br />

e perfecionismo, podem estar também<br />

associados. É necessário haver um equilíbrio<br />

entre a conscienciosidade, o rigor do trabalho<br />

e a realidade. “Estas pessoas focam-se muito<br />

no trabalho e em fazê-lo bem. Fazem e<br />

refazem para tentar alcançar aquele estado<br />

de perfeição, mas nunca estão satisfeitas.<br />

Isto gera uma sensação de incompetência,<br />

o que não contribui para um bom estado<br />

emocional”, explica. Além disto, problemas da<br />

vida pessoal também contribuem para uma<br />

maior vulnerabilidade e menos recursos para<br />

lidar com intensos níveis de stress no local de<br />

trabalho.<br />

Os sintomas de Ana Barbosa agravaram-se e<br />

o seu estado deteriorou-se. Perda de sentidos,<br />

dores no corpo e incapacidade de se levantar<br />

da cama traduziram-se num ponto de não<br />

retorno. O primeiro passo para a recuperação<br />

foi aceitar e assumir que precisava de ajuda<br />

profissional. O processo de recuperação de<br />

Ana Barbosa foi intenso e necessitou de um<br />

bom suporte emocional familiar. Precisou<br />

de ser medicada para conseguir dormir. “O<br />

sentimento ao acordar era como se estivesse<br />

a acordar de uma anestesia geral, em que era<br />

complicado juntar 1+1. E eu sabia como era<br />

a minha vida, o que era o meu trabalho e as<br />

minhas responsabilidades. Este momento dá<br />

muito medo e gera uma ansiedade brutal”,<br />

confessa. Após algum tempo de recuperação<br />

começaram a surgir outras dúvidas. “Será que<br />

consigo voltar ao trabalho? Será que vai voltar<br />

a acontecer o mesmo? E se acontecer, vou ser<br />

capaz de antecipar?” Passada a fase do medo<br />

e das dúvidas, começou a ter outra perspetiva<br />

e a ganhar consciência. Durante o tempo de<br />

recuperação, descansou, respeitou as horas de<br />

repouso que o corpo necessitava, alimentouse<br />

de forma saudável, praticou desporto,<br />

e voltou aos eventos sociais. Um processo<br />

gradual e consistente que a levou a regressar<br />

ao mesmo cargo e empresa, onde permaneceu<br />

durante mais 10 anos. Ana Barbosa nada tem<br />

a apontar em relação ao comportamento da<br />

organização, que a recebeu bem e a tratou com<br />

“amabilidade” e “respeito”.<br />

Quanto aos ensinamentos que leva desta<br />

experiência, revela que se tornou “numa pessoa<br />

mais consciente dos meus limites, que sabe<br />

respeitar o descanso, tanto o meu como o das<br />

minhas pessoas. Tornei-me uma melhor líder,<br />

percebendo a importância da delegação e da<br />

assertividade da carga de trabalho nas equipas,<br />

bem como estar mais atenta aos sintomas”.


72<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

O líder: responsabilidade versus<br />

vulnerabilidade<br />

O líder é um elemento fundamental na<br />

prevenção de um burnout. Tem a seu cargo<br />

tarefas fundamentais, como a delegação<br />

equitativa de tarefas, a motivação dos<br />

colaboradores, ouvir as suas preocupações e agir<br />

em conformidade, e estar alerta para potenciais<br />

problemas.<br />

“Dois dos aspetos essenciais nas lideranças é<br />

a identificação dos sinais, e entendê-los”, indica<br />

José Soares, professor catedrático de Fisiologia<br />

da Universidade do Porto, acrescentando que “há<br />

alguns líderes que tendem a achar que temos de<br />

ser todos iguais a eles, e nós não somos todos<br />

iguais”. Se o líder transparecer que o burnout<br />

é um ponto de fraqueza, pode mesmo agravar<br />

o estado de saúde do trabalhador. É preciso<br />

entender que esta condição não se trata de uma<br />

questão de vontade ou escolha. Sem ajuda não<br />

é possível mudar. “Talvez o pior que se pode<br />

dizer a alguém nesta situação é: ‘anima-te’. Isso,<br />

já a pessoa quereria”, afirma. Assim, após a<br />

identificação dos sinais e da sua compreensão,<br />

importa agir. “Intervir no sentido de mostrar<br />

confiança, compreensão e, eventualmente,<br />

estimular a pessoa a ter um acompanhamento<br />

que, muitas vezes, não passa apenas por uma<br />

José Soares, professor catedrático de Fisiologia da Universidade do Porto<br />

conversa, mas sim por um acompanhamento<br />

profissional”, aconselha.<br />

Ainda assim, não nos podemos esquecer


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

de que os líderes também são humanos, com<br />

fragilidades iguais às de todos os outros, e com<br />

a responsabilidade acrescida de identificar<br />

possíveis sinais de rutura nos seus trabalhadores.<br />

O que os põe numa posição de risco. “As<br />

lideranças também estão pressionadas porque<br />

têm objetivos definidos pelas organizações<br />

que, muitas vezes, não são realistas. Por outro<br />

lado, têm a seu cargo os trabalhadores que<br />

têm os seus problemas, as suas dificuldades, a<br />

reivindicação dos seus direitos, e encaram o líder<br />

como a resolução desses problemas”, afirma<br />

Tânia Gaspar. Algo que a psicóloga considera<br />

importante é que os objetivos sejam “justos<br />

e realistas”, pois as empresas, muitas vezes,<br />

estabelecem metas aos líderes que não são<br />

ajustadas. Isto gera um círculo vicioso, uma vez<br />

que os líderes passam estes objetivos aos seus<br />

colaboradores, gerando pressão e frustração. “Se<br />

o meu objetivo é fazer 100, mas humanamente<br />

só é possível fazer 50, por muito que eu me<br />

esforce, nunca vou atingir esse objetivo”, salienta.<br />

Pode dizer-se que para prestar um melhor<br />

serviço aos seus trabalhadores, as lideranças<br />

também precisam da devida atenção.<br />

“Trabalhar em logística é como ser um atleta<br />

de alta competição. Mas neste mundo, jogam-se<br />

os olímpicos, o mundial e a liga das nações, todos<br />

os dias”, é assim que Nuno Santos, CI EMEA<br />

logistics manager, McCormick & Co., caracteriza<br />

a área exigente da supply chain. Embora<br />

considere um setor de grande exigência, entende<br />

que, independentemente da função, “o alto<br />

desempenho poderá estar associado a riscos<br />

para a saúde quando não existe uma boa relação<br />

entre o esforço e a recuperação”. Na qualidade<br />

de líder, reconhece que lhe está subjacente a<br />

adoção de medidas para prevenir o burnout nos<br />

seus trabalhadores, bem como em si próprio.<br />

“Cabe ao líder ter a empatia e humildade de<br />

entender as diferenças e capacidades únicas<br />

Nuno Santos, CI EMEA logistics manager, McCormick & Co.<br />

de cada colaborador garantindo que existe o<br />

rendimento necessário para o cumprimento<br />

dos objetivos sem nunca colocar em causa o<br />

bem-estar físico e emocional”, afirma. Considera<br />

fundamental ouvir os trabalhadores e criar<br />

ambientes favoráveis e seguros para que possam<br />

ser transparentes e não receber nenhum tipo de<br />

julgamento. Depois, é importante acompanhálos,<br />

ajustar a carga de trabalho e atribuir<br />

deadlines realistas. “Os líderes de logística não<br />

são médicos, mas estas atitudes podem salvar<br />

vidas”, indica Nuno Santos.<br />

“Quando o burnout se instalou,<br />

até controlar a minha própria<br />

respiração era um desafio”<br />

Para Armanda Lima, a “comunicação aberta<br />

e transparente” é essencial entre o líder e o<br />

colaborador, permitindo criar “um ambiente<br />

seguro para que as pessoas possam expressar<br />

as suas perspetivas e expectativas, e os líderes<br />

possam estar atentos às equipas e indivíduos,<br />

percebendo como se sentem e atuando quando<br />

detetam desconforto na equipa ou entre<br />

profissionais”.<br />

Em 2021, Armanda Lima trabalhava numa<br />

empresa do setor dos transportes que vivia


74<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

tempos exigentes devido à escassez de<br />

contentores e aumento de preços. O seu<br />

trabalho consistia em gerir as reclamações<br />

dos clientes e encontrar soluções para os<br />

vários problemas que iam surgindo. “Tudo isto<br />

resultava em frustração para mim e para os<br />

clientes, pois devido aos tempos de trânsito<br />

alargados pela escassez de equipamento,<br />

navios atrasados derivados da pandemia, ou<br />

pelos preços proibitivos, quando conseguíamos<br />

uma solução já o negócio estava sem efeito”,<br />

conta. Sem perceber que estava drenada de<br />

energia, aceitou uma nova oportunidade de<br />

emprego. De início tudo corria bem, uma vez<br />

que ganhou experiência e aprendia coisas<br />

novas todos os dias. Os problemas chegaram<br />

quando, na altura das férias da equipa que<br />

liderava, ficou sobrecarregada com trabalho.<br />

“Os dias tornaram-se intermináveis e o cansaço<br />

começou a afetar-me”, confessa. Tendo em<br />

conta o cansaço extremo, decidiu procurar outro<br />

emprego com menos responsabilidades, mas já<br />

era tarde demais. Dois meses depois começou<br />

a notar sintomas físicos de burnout, como<br />

náuseas, palpitações, visão turva, falta de ar e<br />

ataques de pânico “violentos”. “Fui ao fundo.<br />

Comecei a sentir-me inútil e com medo de<br />

realizar qualquer tarefa, receio de errar, de não<br />

conseguir concentrar-me. Quando o burnout<br />

se instalou, até controlar a minha própria<br />

respiração era um desafio”, conta Armanda<br />

Lima.<br />

À semelhança de Ana Barbosa, considera que<br />

o “perfecionismo” e “ansiedade” a impediram<br />

de colher os frutos do seu trabalho. Expôs-se<br />

a uma pressão imposta por si, uma vez que da<br />

sua equipa e organização, só recebia apoio.<br />

“Mais tarde percebi que essa imposição vinha<br />

de outros contextos onde não fui reconhecida.<br />

Infelizmente, no meu melhor momento<br />

profissional, todo o peso que veio de trás,<br />

desabou sobre mim”, revela.<br />

Depois da tempestade vem a bonança, e<br />

esta experiência trouxe a Armanda Lima novos<br />

ensinamentos, entre eles como alcançar um<br />

ponto de equilíbrio. “Tornei-me mais ponderada,<br />

aprendi a ser mais compassiva comigo mesma,<br />

entendendo que tudo tem um período de<br />

adaptação e que não é necessário ser uma<br />

máquina perfeita e sem falhas”. Ainda assim,<br />

reconhece que está em constante crescimento,<br />

a nível pessoal e profissional, e que manter<br />

um equilíbrio entre as duas vertentes é<br />

fundamental. “Atualmente, o tempo é um<br />

dos meus melhores aliados nesta jornada de<br />

autodescoberta”.<br />

Por sua vez, o caso de Fábio dos Santos,<br />

functional analyst num transitário, traduziu-se<br />

num quase processo de burnout. Felizmente<br />

conseguiu reconhecer os sinais de alerta e sair a<br />

tempo de uma situação que, se se prolongasse<br />

no tempo, poderia ter consequências drásticas.<br />

Fábio dos Santos deu entrada em 2013,<br />

enquanto estagiário, numa empresa do setor<br />

dos transportes expresso que se caracteriza,<br />

pelo seu core, por serviços de urgência. A<br />

cultura da empresa, e da própria tarefa, exigia<br />

manter-se contactável 24 horas por dia, durante<br />

sete dias por semana. Passados dois meses,<br />

foi nomeado diretor de uma das delegações<br />

da empresa, e o seu dia consistia em entrar<br />

no trabalho às 8 horas, e sair às 22 ou 23<br />

horas. “Na minha pior semana lembro-me<br />

de ter feito 70 horas em sete dias”, confessa.<br />

Assim, começou a percecionar uma cultura que<br />

dificultava o equilíbrio com a sua vida pessoal.<br />

Considera que este é um setor de muita pressão<br />

porque o próprio tipo de serviço assim o exige.<br />

“Se um cliente me ligasse à meia-noite eu<br />

tinha de atender porque não se pode deixar<br />

sem resposta”. Com este mindset, a exaustão<br />

instalou-se de forma gradual. “A determinada


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

altura, o corpo e a mente começaram a<br />

desgastar-se. Quando eu entrei nesta delegação<br />

pesava 78kg e, quando saí, um ano depois,<br />

pesava 72kg”.<br />

Nesta altura, quando mudou para a nova<br />

delegação, enquanto supervisor, a cultura<br />

empresarial já não era tão intensa, embora<br />

continuasse a existir pressão. Em 2017, não se<br />

sentindo completamente realizado, decidiu sair<br />

da organização, terminar o mestrado e dar uma<br />

volta pelo mundo. Após este período, entrou<br />

para uma empresa no setor dos transitários.<br />

No entanto, em 2020, a primeira entidade<br />

onde iniciou o seu caminho profissional,<br />

abordou Fábio dos Santos no sentido de criar<br />

uma delegação de raiz, ou seja, teria de criar<br />

o plano de negócios, instalar a empresa,<br />

recrutar funcionários, entre outras tarefas.<br />

“Eu aceitei pensando que, no tempo em que<br />

estive afastado, a cultura da empresa pudesse<br />

ter mudado”, revela. Não foi o caso. As tarefas<br />

começaram a acumular-se nas suas mãos e<br />

sentia que, durante o dia de trabalho, não<br />

as conseguia concluir. A solução que lhe foi<br />

sugerida era terminar as tarefas à noite, antes<br />

de dormir. “Quando eu chegava a casa, por volta<br />

das 20 horas, a minha vida era jantar, ligar o<br />

computador e voltar a trabalhar”, conta.<br />

O ponto que o colocou de sobreaviso<br />

foi quando regressou das suas férias e um<br />

dos diretores o abordou dizendo-lhe que<br />

tudo estava errado. A exigência e falta de<br />

reconhecimento foram esgotantes e Fábio dos<br />

Santos foi obrigado a exigir o fim da situação.<br />

“Exaltei-me verbalmente de tal forma que me<br />

senti uma terceira pessoa a observar aquela<br />

situação de fora. Se eu estava a caminhar para<br />

um processo de burnout, este foi o alerta”,<br />

revela. Decidiu recorrer a ajuda psicológica<br />

porque sentia que necessitava desse apoio.<br />

“Neste momento apercebi-me de que a minha<br />

vida profissional estava a ter um grande<br />

impacto na minha saúde mental e que, por isso,<br />

tinha de procurar outro sítio para trabalhar”.<br />

Conseguiu uma nova oportunidade de trabalho<br />

que suscitou alguma confusão noutras pessoas.<br />

“Perguntaram-me porque é que eu estava a<br />

desistir de um cargo de diretor, de um carro<br />

da empresa e de rendimentos altos. A minha<br />

resposta era de que ‘eu quero ser pai, e não<br />

quero criar um filho das 22 às 23 horas’”, indica.<br />

“Muitas vezes, o que causa a<br />

situação de burnout é a cultura<br />

empresarial”<br />

Atualmente, algumas empresas incluem o<br />

tema da saúde mental nos seus valores, mas isto<br />

levanta várias questões pertinentes. Levam, de<br />

facto, a sério o tema? Apostam em benefícios<br />

em prol dos seus trabalhadores? Estarão as<br />

empresas preparadas para lidar com problemas<br />

como o burnout? A maioria das organizações<br />

em Portugal têm consciência de que esta é uma<br />

questão importante para os trabalhadores? Ainda<br />

que algumas empresas tenham esta consciência,<br />

ainda há um longo caminho a percorrer.<br />

“Nós [psicólogos] queremos mesmo transmitir<br />

que a empresa também tem responsabilidade<br />

porque algumas delas aproveitam-se do<br />

problema para o apontar como fragilidade<br />

do trabalhador. Muitas vezes, o que causa a<br />

situação de burnout é a cultura empresarial,<br />

ou mesmo as próprias tarefas que não estão<br />

equilibradas com os recursos que as pessoas<br />

têm para as completar”, explica Tânia Gaspar.<br />

É por isso que a responsabilidade social das<br />

organizações tem um grande peso neste tema.<br />

Se o funcionário se encontrar numa fase mais<br />

vulnerável da sua vida e a empresa prestar o<br />

devido apoio, resultará numa maior ligação<br />

entre ambas as partes e, consequentemente, na<br />

sua motivação. “Os nossos dados revelam


76<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

que a perceção dos profissionais é de que as<br />

empresas se preocupam muito mais com os<br />

utentes/clientes, e menos com os recursos<br />

humanos internos”, revela.<br />

A psicóloga aponta algumas medidas para<br />

as organizações tornarem o ambiente de<br />

trabalho mais “saudável e preventivo”, como<br />

protocolos com instituições de saúde para<br />

acompanhamento psicológico, promover<br />

um estilo de vida saudável, atividades de<br />

teambuilding e de confraternização, e criar<br />

espaços de convívio agradáveis na empresa<br />

onde as pessoas possam estar juntas e<br />

partilhar conversas sobre outros temas que não<br />

trabalho. “A organização deve ter o bem-estar<br />

dos profissionais, e da própria empresa, como<br />

uma base que está em todas as medidas para<br />

alcançar a sua missão”, afirma.<br />

José Soares corrobora esta ideia. “A cultura<br />

da organização não pode ser só ‘people first’.<br />

Têm que, com a sua intervenção, demonstrar<br />

às pessoas algo que eu acho que é decisivo:<br />

a confiança”. Os trabalhadores devem confiar<br />

em quem os lidera e, consequentemente, na<br />

empresa. “É reconhecer que há um pilar de<br />

confiança, e que a organização percebe estes<br />

casos e não os descarta”.<br />

Os profissionais de logística têm vindo a ser,<br />

cada vez mais, afetados pelo burnout, uma<br />

vez que se trata de um setor exigente que<br />

se pauta por um ritmo elevado e constante.<br />

“A necessidade de atenção ao detalhe e ao<br />

resultado da operação logística obriga a<br />

níveis de pressão, concentração e de resposta<br />

muito exigentes. A capacidade de resolução<br />

de problemas diários é uma realidade com<br />

que estes profissionais se deparam todos os<br />

dias”, afirma André Borralho, RH e process<br />

director da Gesgrup, empresa especializada<br />

na externalização de serviços logísticos,<br />

pertencente ao Grupo Constant. Acrescenta<br />

ainda que “quando inserimos estes níveis de<br />

exigência no enquadramento de sociedade e de<br />

mercado de trabalho (integração da Geração Z),<br />

gera, necessariamente, níveis de insatisfação<br />

e intolerância ao stress, diferentes daqueles<br />

a que estávamos habituados há cinco ou 10<br />

anos”. Analisando numa perspetiva em cadeia,<br />

o primeiro impacto acontece nos resultados<br />

e produtividade dos trabalhadores e, por<br />

consequência, no desempenho da organização.<br />

Desta forma, André Borralho considera que<br />

as empresas estão, cada vez mais, a tentar<br />

implementar soluções de acompanhamento<br />

individual aos trabalhadores “conjugando<br />

com uma proximidade de gestão e liderança<br />

André Borralho, RH e process director da Gesgrup<br />

que é fundamental para poder analisar cada<br />

caso e tomar ações específicas que ajudem o<br />

colaborador em causa”.<br />

Por sua vez, Pedro Mega, global headhunter,<br />

logistics & supply chain, Global Talent HQ,<br />

empresa de recrutamento e seleção, vai ao<br />

encontro da perspetiva de André Borralho.<br />

“O burnout é um problema que pode afetar<br />

significativamente os profissionais da área<br />

da logística, pois, geralmente, lidam com um<br />

grande volume de tarefas e responsabilidades<br />

e prazos apertados”. Por isto, considera que as


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Pedro Mega, global headhunter, logistics & supply chain, Global Talent HQ<br />

para melhorar o seu bem-estar no ambiente<br />

de trabalho, e Carlos Sezões destaca algumas,<br />

“acima de tudo refletir e desenvolver o seu<br />

sentido de propósito, ou seja, o que faz, por que<br />

o faz, o que pretende obter. Isto incrementará<br />

bastante a resiliência individual. Depois é<br />

importante desenvolver práticas de autogestão<br />

que mitiguem efeitos do stress, como pausas<br />

no trabalho, desporto, hobbies que revigorem o<br />

corpo e a mente, e permitam manter o foco nos<br />

momentos-chave”.<br />

empresas do setor devem estar atentas à saúde<br />

mental dos seus funcionários e intervir nesse<br />

sentido. “Devem investir em estratégias que<br />

promovam o equilíbrio entre a vida pessoal e<br />

profissional, oferecer suporte emocional aos<br />

trabalhadores, incentivar pausas e momentos<br />

de descanso durante o trabalho, além de<br />

promover um ambiente seguro e saudável”,<br />

salienta. No que aos colaboradores diz respeito,<br />

sugere que adotem algumas práticas benéficas,<br />

como priorizar o autocuidado através de uma<br />

alimentação saudável e prática de desporto;<br />

aprender a gerir o stress através de técnicas<br />

de respiração, meditação ou exercícios de<br />

relaxamento; estabelecer limites claros entre<br />

a vida pessoal e profissional; ou ter uma<br />

consistente rede de apoio.<br />

Carlos Sezões, managing partner da Darefy,<br />

plataforma de transformação de lideranças e<br />

culturas empresariais, destaca a importância<br />

da intervenção do líder, nomeadamente<br />

através de práticas que “assegurem o bemestar<br />

psicológico, como auscultações regulares,<br />

formais ou informais, com empatia, e feedback<br />

positivo”. Quanto ao papel das organizações,<br />

refere que “devem desenvolver culturas<br />

colaborativas com apoio, entreajuda, e bons<br />

níveis de flexibilidade”. Os trabalhadores<br />

também devem adotar algumas estratégias<br />

Carlos Sezões, managing partner da Darefy<br />

O primeiro passo é admitir que<br />

precisamos de ajuda<br />

Os profissionais a quem demos voz passaram<br />

por momentos difíceis dos quais retiraram<br />

ensinamentos valiosos. Por isso mesmo, hoje<br />

têm a possibilidade de aconselhar quem<br />

está a passar por um processo semelhante.<br />

Ana Barbosa destaca a importância de ouvir<br />

o corpo e respeitar quando pede descanso,<br />

apostar numa vida saudável, partilhar as<br />

nossas preocupações com o círculo social<br />

e gerir de forma equilibrada a vida pessoal<br />

com a profissional. “Admitir que temos uma<br />

fragilidade, que queremos tratar dela e que<br />

precisamos de ajuda é dos maiores atos de<br />

coragem que o ser humano pode ter. Estejamos<br />

atentos a nós e aos nossos”, aconselha.


78<br />

ABRIL <strong>2023</strong><br />

Já Armanda Lima, incentiva a procurar ajuda, a<br />

permitir-se desacelerar e a não hesitar em pedir<br />

apoio à sua rede de família e amigos, bem como<br />

de um profissional qualificado. “Lembre-se de<br />

que é natural e humano precisar de ajuda em<br />

determinados momentos, e não há vergonha<br />

nisso. Todos temos limitações e precisamos de<br />

cuidar da nossa saúde mental e emocional para<br />

vivermos plenamente”.<br />

Para Fábio dos Santos, foi importante perceber<br />

o ambiente que o rodeava, nomeadamente<br />

o comportamento dos diretores à sua volta.<br />

“Pensava sistematicamente: ‘É nesta pessoa<br />

que me quero tornar? Quero ser uma pessoa<br />

ausente e constantemente cansada?’”. Considera<br />

fundamental pedir ajuda quando necessário,<br />

mas reconhece que ainda há um grande estigma<br />

em Portugal por recorrer a ajuda psicológica. “É<br />

preciso chegar ao entendimento de que a saúde<br />

não é só física, mas também é mental e é preciso<br />

cuidar dela”.<br />

Tânia Gaspar explica que a intervenção<br />

psicológica nestes casos passa pela organização<br />

da vida em quatro áreas: o trabalho, a vida<br />

familiar, o lazer, e o “eu”. “O que acontece é que,<br />

as pessoas com burnout, encaram o trabalho<br />

como se fosse toda a sua vida, inundando todas<br />

as outras áreas que também são importantes.<br />

Não podemos viver única e exclusivamente só<br />

para uma delas”. Assim, o trabalho do psicólogo<br />

passa por promover um maior investimento nas<br />

outras áreas que compõem a nossa vida, tentando<br />

alcançar o bem-estar para apoiar a área do<br />

trabalho.<br />

O voltar ao trabalho é um momento crucial,<br />

mas tem de ser tratado com cuidado. Tânia<br />

Gaspar explica que, muitas vezes, após uma<br />

situação de burnout, as chefias não sabem lidar<br />

com a situação e voltam a atribuir a mesma<br />

carga de trabalho, e agem sob os mesmos<br />

comportamentos; ou então encaram a pessoa<br />

com desconfiança e fragilidade, tirando-lhe<br />

poder e confiança. “Quando uma pessoa está<br />

numa situação delicada como esta, também<br />

perde autoconfiança a nível da sua capacidade de<br />

trabalho”. Assim, deveria haver um processo de<br />

reintegração, com acompanhamento psicológico,<br />

garantindo o regresso ao trabalho com uma nova<br />

dinâmica que mantenha a estabilidade emocional<br />

do colaborador.<br />

Sem pessoas não se fazem negócios. Elas são<br />

um dos fatores (se não, o fator) mais importante<br />

para o crescimento de qualquer organização.<br />

Para que possam dar o seu valioso contributo, o<br />

bem-estar físico e psicológico precisam de estar<br />

em harmonia. Assim, é urgente promover um<br />

ambiente de trabalho saudável e transparente,<br />

manter os colaboradores satisfeitos e estar<br />

atento. O trabalhador não deve levar o seu corpo<br />

e mente ao limite. É importante dosear, de forma<br />

equilibrada, a atenção que se presta a cada área<br />

que compõe a vida. Todas são fundamentais e<br />

necessárias. Podemos ter ambição para alcançar<br />

os objetivos a que nos propomos, desde que não<br />

tome todas as forças, especialmente na área<br />

profissional. Como afirma Tânia Gaspar, “tem<br />

de haver um maior equilíbrio entre conseguir<br />

evoluir na carreira sem que o esforço tenha de ser<br />

desumano”.<br />

O Laboratório de Ambientes de Trabalho<br />

Saudáveis (LABPATS), dinamizado Tânia Gaspar<br />

e pelo Instituto Nacional de Administração,<br />

I.P. tem um instrumento de diagnóstico<br />

denominado Ecossistemas de Ambientes de<br />

Trabalho Saudáveis (EATS). O LABPATS coloca o<br />

diagnóstico e o respetivo relatório à disposição<br />

das empresas, bem como o relatório (se o número<br />

de respostas for superior a 30), de forma gratuita.<br />

O objetivo da iniciativa passa por avaliar a saúde<br />

mental dos profissionais. As empresas deverão<br />

enviar um email destinado a laboratorioPATS@<br />

gmail.com para saber mais informações. •<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


Think Vertical, Think Modula

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