25.10.2023 Views

SCMedia News | Revista | Setembro 2023

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Setembro</strong> <strong>2023</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

45<br />

OPERAÇÃO<br />

LOGÍSTICA<br />

DA SIVA|PHS<br />

DELOITTE <strong>2023</strong> GLOBAL<br />

CPO SURVEY<br />

A LG<br />

E O UPCYCLING<br />

ORCELLE WIND<br />

TRAZ VENTOS<br />

DE MUDANÇA<br />

Penguin Random House Grupo Editorial<br />

“Nunca tivemos tanta altura,<br />

nunca tivemos tanto espaço”


Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

EDITORIAL<br />

TODOS QUEREM MUDANÇA,<br />

MAS POUCOS QUEREM MUDAR<br />

"Somos a primeira geração a sentir o impacto das alterações climáticas<br />

e a última geração que pode fazer alguma coisa para o evitar."<br />

Barack Obama<br />

Durante este verão, o mundo inteiro foi assolado<br />

por incêndios, secas, inundações e outros<br />

fenómenos climáticos extremos. Tudo resultado<br />

das alterações climáticas.<br />

Toda a gente põe o ambiente no topo das suas<br />

preocupações, mas poucos fazem alguma coisa<br />

por ele. Se olharmos para os resultados do<br />

inquérito da GlobeScan de 2020 facilmente<br />

percebemos que dois terços dos inquiridos<br />

dizem querer ter vidas mais sustentáveis e<br />

saudáveis, mas apenas um terço assume fazer<br />

alguma coisa por isso. Somos um animal de<br />

hábitos e resistimos, agora e sempre, à mudança.<br />

Olhemos agora para o mundo empresarial.<br />

Normalmente, a primeira questão que<br />

surge é: Qual é o benefício comercial de nos<br />

envolvermos nestas questões?, quando se calhar<br />

a pergunta deveria ser: o que perderemos se não<br />

nos envolvermos nestas questões?<br />

É tudo uma questão de perspetivas. Se o valor<br />

é aquele que tem de ser entregue a cada<br />

trimestre, por vezes é difícil justificar o negócio.<br />

Contudo, as empresas que estão fortemente<br />

empenhadas em liderar em matéria de ESG<br />

são norteadas por uma visão a longo prazo das<br />

questões que terão impacto no seu negócio.<br />

E têm uma visão a longo prazo do que têm de<br />

fazer para que sustentabilidade e rentabilidade se<br />

equilibrem e sejam uma realidade.<br />

Veja-se o caso da Maersk. Os seus navios<br />

percorrem os oceanos durante décadas e a<br />

companhia fez um grande avanço e deu um passo<br />

de gigante quando projetou, criou e colocou no<br />

mar navios a operar com combustíveis ecológicos,<br />

investindo simultaneamente no aumento da<br />

escala desses mesmos combustíveis.<br />

No horizonte de curto prazo, esses navios são<br />

mais caros e o investimento considerável. Mas,<br />

segundo o armador, "todos os nossos clientes<br />

estão empenhados em várias formas de<br />

compromisso com as emissões zero e querem<br />

que provemos que podemos fazer transporte<br />

marítimo sem as emissões de carbono que<br />

existiam no passado. Se colocarmos navios hoje<br />

no oceano, eles estarão lá em 2050. Portanto, a<br />

menos que quebremos o padrão agora e façamos<br />

algo radicalmente diferente, não atingiremos<br />

esses objetivos. Não cumpriremos os objetivos<br />

para o sistema e não cumpriremos os objectivos<br />

para com o nosso cliente”.<br />

Portanto, a questão não é tanto onde e quando se<br />

intervém, mas sim como se intervém. Por outras<br />

palavras? Travar as mudanças do clima implica…<br />

MUDAR.<br />

Instagram Facebook LinkedIn


4<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

#08 #30 #44<br />

ÍNDICE<br />

LOGÍSTICA<br />

SIVA|PHS 08<br />

Penguin Random House 16<br />

Automotive Portugal 24<br />

PROCUREMENT<br />

Estudo Deloitte 30<br />

TOP 10 de plataforma de IA<br />

generativa 38<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Automação para ultrapassar desafio de<br />

recrutamento 44<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

A LG e o upcycling 48<br />

Green Logistics: “Portugal tem uma<br />

localização muito boa para o setor da<br />

logística” 52<br />

TECNOLOGIAS<br />

Parceria Generix/Casa do Aido 56<br />

Estudo Gartner 60<br />

TRANSPORTES<br />

Orcelle Wind - Ao sabor do vento 64<br />

Indústria da moda focada em reduzir<br />

impacto ambiental 68


SCM Supply Chain Magazine<br />

5<br />

CARREIRA<br />

#64<br />

Prof. Crespo de Carvalho recebe prémio<br />

PEL "Personalidade" 70<br />

8 dicas para garantir qualidade<br />

no momento de contratar 74<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

“Foi sempre assim que fizemos” 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

“O poder de saber que podes melhorar” 78<br />

#70<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e<br />

Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Ana Paiva, Bruna Manguito,<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

PAR Design<br />

Sales manager_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Margarida de Vasconcelos<br />

Events Support_<br />

Katline Costa<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

NPC_ 514 707 143<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

Estatuto Editorial _<br />

www.supplychainmagazine.pt/estatuto-editorial/<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

FROTA GLOBAL<br />

DE NAVIOS ATINGE<br />

CRESCIMENTO RECORDE<br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Porta-contentores<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

Durante os primeiros sete meses deste ano, o setor marítimo foi palco de um feito notável,<br />

com um recorde de 1,2 milhões de TEU em entregas de navios porta-contentores. Este marco<br />

traduz-se num incremento de 4,3% na capacidade de operação da frota.<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

Aindústria global de transporte marítimo<br />

enfrenta um crescimento sem precedentes<br />

na frota de porta-contentores, com uma<br />

projeção de expansão de cerca de 18%,<br />

equivalente a aproximadamente 4,5 milhões<br />

de TEU (descontando o desmantelamento de<br />

navios mais antigos), até o final de 2025, de<br />

acordo com uma análise realizada pela BIMCO<br />

(Baltic and International Maritime Council).<br />

Em sintonia com as entregas, os contratos<br />

para a construção de novos navios portacontentores<br />

alcançaram 1,3 milhões de TEU<br />

durante o mesmo período, mantendo assim a<br />

carteira de encomendas no auge histórico de<br />

7,6 milhões de TEU.<br />

Este ano, estima-se que as entregas de<br />

novos navios atinjam os 2,4 milhões de TEU,<br />

ultrapassando significativamente o recorde<br />

anterior de 1,7 milhões de TEU. As projeções<br />

para 2024 ainda são mais expressivas, com<br />

um total esperado de 2,9 milhões de TEU. A<br />

expansão, embora em ritmo menos acelerado,<br />

deve continuar em 2025, com a previsão de<br />

adição de 1,9 milhões de TEU à frota.<br />

De acordo com dados fornecidos pela<br />

Alphaliner, a capacidade total da frota<br />

mundial de porta-contentores celulares é<br />

atualmente avaliada em 27,2 milhões de<br />

TEU, o que reflete a escalada constante da<br />

indústria e a crescente procura por serviços<br />

de transporte marítimo de mercadorias em<br />

todo o mundo. •


+12<br />

+12.000m2<br />

TRANSPORTE<br />

TERRESTRE<br />

TRANSPORTE<br />

AÉREO<br />

TRANSPORTE<br />

MARÍTIMO<br />

SERVIÇOS<br />

ADUANEIROS<br />

LOGÍSTICA<br />

www


8<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

SIVA|PHS<br />

Texto: Fábio Santos<br />

CONDUÇÃO ATÉ AO CONDUTOR<br />

A SIVA|PHS – Sociedade de Importação de Veículos Automóveis, S.A., é uma<br />

empresa de importação de automóveis, que comercializa veículos do Grupo<br />

Volkswagen em Portugal. Desde 2019 que pertence à PHS (Porsche Holding<br />

Salzburg), a maior empresa de distribuição automóvel da Europa, e subsidiária a<br />

100% do Grupo Volkswagen. Para este ano, a SIVA|PHS prevê atingir um volume<br />

de vendas na ordem das 30 mil viaturas, um crescimento significativo face às 24<br />

mil registadas em 2022.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Fundada em 1987, a SIVA|PHS veio a<br />

alargar o seu portefólio ao longo dos<br />

anos, e hoje comercializa veículos das<br />

marcas Volkswagen Automóveis, Volkswagen<br />

Comerciais, Audi, SEAT, Škoda, Bentley,<br />

Lamborghini, Cupra e SEAT MÓ. Apesar de<br />

constar no nome da empresa, a Porsche<br />

ainda não é uma das marcas importadas,<br />

pois mantém um contrato de exclusividade<br />

ibérico. As outras marcas de luxo, Bentley e<br />

Lamborghini, seguem diretamente para as suas<br />

instalações dedicadas a estas marcas, na zona<br />

da Grande Lisboa.<br />

O espaço da Azambuja é composto pelo<br />

edifício principal, o armazém de peças, um<br />

centro de formação, um centro técnico,<br />

uma oficina e a área de preparação. “A<br />

preparação das viaturas para entrega à<br />

rede de concessionários é assegurada pela<br />

SIVA|PHS, incluindo toda a operação logística,<br />

nomeadamente a distribuição nacional”,<br />

começa por explicar Paulo Filipe, diretor de<br />

logística da empresa. As viaturas chegam<br />

à SIVA|PHS vindas das fábricas do Grupo<br />

Volkswagen, envolvendo modelos Škoda, Audi,<br />

Volkswagen (comerciais e ligeiros), SEAT e<br />

Cupra. “Todas essas fábricas têm os seus meios<br />

de transporte. Pela via ferroviária recebemos<br />

os modelos da SEAT e Cupra, pela rodovia<br />

recebemos viaturas da Península Ibérica,<br />

produzidas em Espanha e na Autoeuropa, e as<br />

restantes, oriundas da Europa central, chegam<br />

por via marítima”.<br />

As viaturas que chegam por via marítima e<br />

ferroviária ao Porto de Setúbal são verificadas<br />

pelos parceiros locais e o parceiro logístico. A<br />

Rodocargo, processa todos os transportes desde<br />

aí até à Azambuja. “Estamos a falar de um<br />

movimento muito significativo”, afirma Paulo<br />

Filipe, envolvendo cerca de 30 mil viaturas por<br />

ano em processos de inbound. “Cada camião<br />

traz cerca de oito viaturas, portanto facilmente<br />

podemos calcular a quantidade de camiões<br />

necessária para transportar esse volume”.<br />

18 HECTARES PARA O<br />

PARQUEAMENTO<br />

Em termos logísticos, o parqueamento da<br />

SIVA|PHS tem capacidade para 8.000 viaturas,<br />

num total de 18 hectares, que separa os<br />

veículos por diferentes tipologias por oito<br />

plataformas, abrangendo todos os processos<br />

desde a chegada do veículo, verificação,<br />

manutenção e preparação antes da saída para<br />

os concessionários. No sentido de otimizar a<br />

localização e a respetiva movimentação dos<br />

veículos, e assim tornar toda a operação mais<br />

sustentável, a empresa investiu num software<br />

de picking para os seus veículos, o LogiPic.<br />

Este software também veio desmaterializar os<br />

processos, e assim foi possível eliminar 150 000<br />

folhas de papel por ano. “A fábrica ainda utiliza<br />

uma folha de identificação do número de chassi<br />

fixada no para-brisas, trata-se de um código de<br />

barras que nós digitalizamos através da câmara<br />

do smartphone. A leitura e registo da viatura<br />

permite acompanhar e monitorizar todos os<br />

processos inerentes à manutenção e ao controlo<br />

de qualidade através de todos os sistemas de<br />

gestão logística, mas também transmite para o<br />

sistema de faturação e gestão de encomendas<br />

toda a informação relevante para consulta dos<br />

concessionários”, explica Paulo Filipe.<br />

A SIVA|PHS utiliza um iPhone para registar<br />

as viaturas através do código QR para a<br />

plataforma digital. Ao fazerem essa leitura,<br />

as marcas podem pedir a preparação, os<br />

transportes e faturação das viaturas. Todo<br />

o sistema é alimentado através desta<br />

ferramenta.<br />

Para além de permitir os processos de


10<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

inbound e de dar início à preparação de gestão<br />

do parque, o sistema também tem outra<br />

vertente: o TQS (Technische Qualitätsstandard)<br />

da Volkswagen. Trata-se de um standard<br />

da marca para a gestão e manutenção das<br />

viaturas parqueadas, pois “as viaturas, mesmo<br />

paradas, têm um programa de manutenção<br />

associado e têm de ser preparadas para a<br />

entrega e mantidas tal como a fábrica as<br />

entregou”, esclarece o diretor de logística.<br />

Este standard tem como objetivo entregar<br />

o produto em ótimas condições, mesmo<br />

que o veículo tenha de ficar parqueado por<br />

alguns meses, ou seja “é assegurado as suas<br />

características originais, tal como preconizado<br />

pela fábrica. Ao mesmo tempo, funcionamos<br />

como a extensão do controlo de qualidade da<br />

fábrica. Isto é válido para qualquer modelo e<br />

marca do grupo”.<br />

Para o controlo de qualidade, o operador<br />

do parque faz o picking da viatura e<br />

automaticamente recebe as informações<br />

relativas ao veículo, alertas se for necessária<br />

uma manutenção, como por exemplo a<br />

pressão dos pneus, sistema de travagem ou<br />

carregamento de bateria.<br />

A nível da homologação, com o processo<br />

WVTA (Whole Vehicle Type Approval)<br />

conseguiram abolir muito do papel<br />

necessário, pois as viaturas passaram a<br />

ter um único processo de homologação<br />

para toda a descrição de um determinado<br />

modelo. “Enquanto antigamente era feito<br />

a homologação individual por um chassi,<br />

passámos a ter o WVTA, ou seja, todo o<br />

produto, seja ele um Volkswagen Taigo, ou um<br />

Škoda Octavia, a viatura, na sua composição<br />

e nas opções todas que estejam disponíveis<br />

para o mercado português, é descrita de uma<br />

só vez através de um processo informático”,<br />

explica Paulo Filipe, “com uma homologação<br />

da viatura na sua íntegra, passamos a ter a<br />

viatura carregada num sistema informático<br />

e apresentamos às entidades locais para<br />

a homologação nacional, gerando uma<br />

poupança de 15 mil folhas de papel ao ano”.<br />

O responsável explica que estas aplicações<br />

foram desenvolvidas face à realidade da<br />

SIVA|PHS para o nosso mercado e que<br />

nem todas as empresas importadoras do<br />

grupo têm uma unidade PDI (Pre-Delivery<br />

Inspection). “Nós fazemos o processo PDI, a<br />

preparação para a rede de concessionários,<br />

os operadores RAC, igualmente para as frotas<br />

e vendas diretas, sob diretrizes da fábrica, é<br />

tudo feito na SIVA|PHS”.<br />

O processo de gestão da preparação das<br />

viaturas em tempo real, permite informar as<br />

marcas e os concessionários em que situação<br />

se encontra o veículo, os processos que


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

concluiu e os lead times previstos para a<br />

entrega.<br />

“Quando recebemos uma viatura por<br />

transporte marítimo e é descarregada no<br />

Porto de Setúbal, é conferida, e no caso de<br />

não existir ainda uma encomenda de cliente<br />

final, a mesma é parqueada na SIVA|PHS. Caso<br />

já tenha cliente final, a viatura é encaminhada<br />

para a área de preparação e dá-se início ao<br />

plano de preparação”, explica Paulo Filipe. A<br />

preparação inclui a atualização de software,<br />

limpeza e remoção dos plásticos. Caso exista<br />

um pedido de transporte, os movimentadores<br />

entregam a viatura na respetiva zona do<br />

parque, pronta a ser transportada pelo<br />

parceiro logístico.<br />

RECUPERAÇÃO DO SETOR<br />

Devido aos atrasos associados à supply chain<br />

da indústria automotiva nos últimos anos, a<br />

SIVA|PHS também sofreu alguns impactos,<br />

dos quais está a recuperar. “Estamos em plena<br />

ascensão, em fase de entrega de viaturas<br />

que foram encomendadas, algumas delas,<br />

já há alguns meses. Estamos a falar de um<br />

período já um pouco alargado, e o cliente<br />

mais exigente não está disposto a esperar<br />

muito tempo. A situação está a melhorar e a<br />

estabilizar, e já atingimos resultados próximos<br />

dos prazos de pré-pandemia”.<br />

A guerra da Ucrânia teve um impacto ao<br />

nível do fornecimento de peças para as<br />

fábricas da Volkswagen, como foi o caso<br />

das cabelagens, e foi necessário reagir<br />

rapidamente e encontrar alternativas. O<br />

departamento de compras da Volkswagen<br />

reagiu e encontrou soluções, mas foi<br />

necessário um período de dois a três meses<br />

de adaptação, o que causou transtornos e<br />

dificuldade em satisfazer as encomendas<br />

dos clientes. “O conceito habitual de<br />

abastecimento de peças e componentes é<br />

o Just In Time (JIT), ultimamente conclui-se<br />

em manter algum stock” que permite reagir<br />

a imprevistos na cadeia de abastecimento,<br />

refere o responsável. “Ao nível de stock de<br />

automóveis, devido à procura elevada, existe<br />

um stock reduzido. Praticamente o que nos é<br />

fornecido já tem um cliente final à espera, e a<br />

prioridade é entregar as viaturas aos clientes<br />

e satisfazer a carteira de encomendas”.<br />

A ENTREGA AO CLIENTE<br />

É A PRIORIDADE<br />

Neste momento, deu-se uma estabilização<br />

do mercado no que toca à disponibilidade<br />

do produto. “Estamos a fazer entregas<br />

muito acima daquilo que estava previsto.<br />

Ascenderam a 3 mil viaturas por mês. O<br />

desafio neste momento é entregar a viatura<br />

rapidamente ao cliente, que na maioria dos<br />

casos já está à espera há algum tempo”,<br />

revela Paulo Filipe.<br />

O processo logístico prevê que em dois a<br />

três dias se consegue descarregar, conferir<br />

e transportar perto de 500 viaturas de<br />

um navio até às instalações da Azambuja,<br />

a 70 quilómetros do Porto de Setúbal.<br />

Porém, o diretor de logística conta que no<br />

primeiro semestre o processo estava mais<br />

demorado, em virtude da elevada carteira<br />

de encomendas. “Neste momento estamos<br />

praticamente a cumprir o KPI de entrega de<br />

dois dias uteis, após a conclusão do PDI até a<br />

viatura chegar ao concessionário”, revela.<br />

Os processos de transformação, atualização<br />

e reparação dos veículos, tanto à chegada<br />

como no pós-venda, são feitos na SIVA TEC,<br />

um espaço de oficina que se encontra nas<br />

instalações da Azambuja. Em termos de<br />

materiais, o diretor explica que a SIVA|PHS


12<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

recebe kits de transformação dos seus<br />

fornecedores e parceiros, para que depois sejam<br />

finalizados na SIVA TEC.<br />

Há vários processos de verificação pelo<br />

qual as viaturas têm de passar, desde o<br />

carregamento mínimo de 80% de bateria dos<br />

veículos BEV, o processo de atualização de<br />

software, ou a reparação de qualquer dano<br />

que o veículo possa ter sofrido durante o<br />

transporte. “Temos de preparar de acordo<br />

com os standards da marca. A qualidade, para<br />

nós, é o mais importante. A viatura não sai<br />

da SIVA TEC enquanto não passar o controlo<br />

de qualidade e esse é um dos ‘standards’<br />

que nós seguimos rigorosamente”, afirma o<br />

responsável.<br />

Um dos serviços associados às encomendas<br />

é o de customização de viaturas, o que, na<br />

maioria dos casos, está associado a viaturas<br />

especiais para serviços como INEM, GNR,<br />

bombeiros ou por exemplo, no caso do<br />

Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) a<br />

preparação das viaturas Volkswagen Amarok<br />

para os nadadores-salvadores. “A nossa gama<br />

de veículos oferece várias soluções, há sempre<br />

uma escolha bastante vasta, e conseguimos<br />

sempre propor um produto adequado para a<br />

tipologia de utilização a que se destina e às<br />

necessidades dos nossos clientes”, destaca o<br />

diretor de logística.<br />

TRANSPORTE MAIS SUSTENTÁVEL<br />

Um dos objetivos da empresa é tornar a ligação<br />

desde o Porto de Setúbal até à SIVA|PHS, na<br />

Azambuja, mais amiga do ambiente. Para o efeito<br />

já fizeram alguns contactos para a reativação<br />

da linha ferroviária que existia na antiga<br />

fábrica da Opel. “Essa linha foi desativada, e<br />

nós reconhecemos existir um potencial muito<br />

significativo, neste caso, em receber viaturas<br />

oriundas das várias fábricas do grupo. Além da<br />

redução de custos, iria também contribuir para<br />

a redução da pegada de carbono, que é um dos<br />

objetivos do grupo”.<br />

O Grupo Volkswagen já conta com uma<br />

linha ferroviária instalada entre Martorell,<br />

Autoeuropa e a Sapec, e o responsável considera<br />

que a reativação desta linha de comboio<br />

possa acrescentar novos ganhos em termos de<br />

sustentabilidade. “Essa linha iria contribuir para<br />

um melhor fluxo de mercadorias, neste caso<br />

automóveis, e podia ser utilizado por outros<br />

players de mercado, sobretudo, permitia a<br />

reativação da linha ferroviária aqui da Azambuja”,<br />

destaca o responsável, reforçando que também<br />

outras empresas locais já manifestaram interesse<br />

nessa mesma linha.<br />

Ao mesmo tempo, esta ativação ajudaria a<br />

retirar camiões das estradas, reduzindo a sua<br />

pegada carbónica numa das estradas mais


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

movimentadas do país e que conta com uma<br />

elevada taxa de sinistralidade, a estrada nacional<br />

nº3, o que “era uma win-win para todos”,<br />

tendo ainda como vantagem a ligação direta<br />

entre as fábricas e as instalações da SIVA|PHS<br />

na Azambuja, principalmente as fábricas da<br />

Península Ibérica.<br />

“Outra vantagem que podíamos alcançar,<br />

caso Portugal aderisse à bitola europeia e que<br />

ainda não foi possível avaliar, é o transporte de<br />

peças de reposição dos armazéns principais do<br />

centro da Europa para a SIVA|PHS”, aponta Paulo<br />

Filipe. “Estas peças são transportadas desde os<br />

armazéns centrais da Volkswagen via camião,<br />

até ao armazém na Azambuja, o que produz uma<br />

pegada ambiental significativa.”<br />

Em parceria com a Volkswagen Logistics, a<br />

ligação permite transportar até 200 viaturas por<br />

viagem. “A SIVA|PHS recebe viaturas Audi, SEAT<br />

e Cupra de Martorell para Portugal. O T-Roc<br />

da Autoeuropa é transportado para Martorell,<br />

nomeadamente para o Porto de Barcelona,<br />

através desta linha que foi implementada<br />

para o efeito. Sublinho que esta medida veio<br />

retirar 15 mil camiões por ano que se traduz<br />

numa poupança de 1.000 toneladas de CO2”,<br />

explica o responsável, comparando às emissões<br />

que seriam necessárias para fazer o mesmo<br />

transporte pela via rodoviária.<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Sendo um setor com grande impacto ambiental,<br />

Paulo Filipe revela que grande parte das<br />

preocupações da empresa recaem precisamente<br />

sobre esta temática, e as formas de minimizar<br />

este impacto negativo. O objetivo a médio prazo<br />

da SIVA|PHS é atingir uma redução de 30% das<br />

suas emissões até 2030 e serem neutros em<br />

carbono até 2050.<br />

De forma a alcançar esses valores de<br />

descarbonização, uma das metas do grupo<br />

era, até ao final do ano, alcançar 20% da frota<br />

ser BEV (Battery Electric Vehicle) e em julho<br />

a SIVA|PHS já contava com 27%, superando a<br />

meta em quase 1/3. “A nossa frota de veículos<br />

de demonstração consiste em 150 viaturas”,<br />

revela, “faz uma diferença significativa a redução<br />

da pegada carbónica quando comparado com<br />

o consumo de combustível das viaturas de<br />

combustão interna, e os consumos de energia<br />

elétrica. Em setembro já alcançámos uma quota<br />

de 43,2% de viaturas com tecnologia BEV e PHEV<br />

da frota SIVA|PHS.<br />

Entre outras medidas que executaram foi a<br />

utilização de LED em todos as instalações, o<br />

que os ajudou a alcançar o objetivo de redução<br />

de 20% do consumo energético sugerido<br />

pela Porsche Holding Salzburg para todos os<br />

importadores e todas as empresas de retalho do<br />

grupo. “Atingimos esses 20%, tendo ainda em<br />

conta que na SIVA TEC sentimos um aumento<br />

de consumo energético devido ao aumento da<br />

eletrificação da frota e das viaturas que estamos<br />

a vender”, explica, resultado do carregamento<br />

das viaturas elétricas.<br />

Recentemente terminaram a implementação<br />

de dois projetos de painéis fotovoltaicos, para<br />

autoconsumo. Há três anos, e a nível global,<br />

a Volkswagen implementou o #Project1Hour,<br />

que é um projeto que ocorre no Dia da Terra,<br />

a 22 de abril, e que envolve uma paragem de<br />

todos colaboradores durante uma hora, para<br />

que reflitam sobre o impacto ambiental do ser<br />

humano. “Nesse dia a preocupação foi identificar<br />

medidas e ações que podem contribuir para<br />

uma redução da pegada de carbono”, quer no<br />

dia a dia profissional, quer no pessoal, explica o<br />

responsável.<br />

A instalação destes painéis permitirá reduzir a<br />

pegada carbónica da SIVA|PHS em 123 toneladas<br />

de CO2 por ano, e gera, de forma verde, cerca de<br />

30% do consumo interno, abrangendo desde


14<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

as áreas de produção (SIVA TEC) ao<br />

carregamento dos veículos elétricos, tanto para<br />

os veículos de clientes / rede de concessionários<br />

como para a frota de veículos de demonstração.<br />

Para além desta poupança, houve também uma<br />

redução da pegada carbónica nas operações da<br />

empresa, através de medidas no processo de<br />

preparação, cujas poupanças foram significativas,<br />

avança Paulo Filipe.<br />

“Nós monitorizamos com os nossos<br />

parceiros toda a atividade de transportes de<br />

peças e automóveis, desde a sua origem. Os<br />

armazéns de peças acessórios reportam-nos<br />

os transportes e nós calculamos a respetiva<br />

pegada de carbono. Já o estamos a fazer desde<br />

o ano passado, para os transportes de viaturas”,<br />

explica o diretor de logística.<br />

Um dos projetos da Volkswagen é o Go<br />

To Zero, que envolve o apoio de todos os<br />

concessionários, com o objetivo de se transmitir<br />

informação e conhecimento para que possam<br />

implementar nas suas operações, bem como<br />

em oficinas e showrooms, boas praticas<br />

de descarbonização. “É evidente que não<br />

obrigamos as concessões a colocarem painéis<br />

fotovoltaicos, mas com pequenas sugestões e<br />

medidas podemos fazer a diferença nesta tarefa<br />

importante”.<br />

A SIVA|PHS envolve os colaboradores de<br />

toda a empresa nestas ações, preocupandose<br />

não apenas com a comunicação externa,<br />

mas também interna, onde partilham ações<br />

que estão a desenvolver, dicas para o dia a<br />

dia dirigidas para a sustentabilidade, “coisas<br />

pequenas que, quando acumuladas, fazem a<br />

diferença”, e que permitiram, no ano passado,<br />

uma redução de 20% em termos de consumo<br />

energético. Para além destas, desde o início do<br />

ano que os colaboradores da SIVA|PHS contam<br />

com uma formação mais genérica sobre práticas<br />

ambientais, enquanto parte da formação de<br />

O setor automotive representa uma<br />

percentagem significativa da economia<br />

nacional. Segundo a Associação<br />

Automóvel de Portugal (ACAP),<br />

até agosto a produção automóvel<br />

já verificou um aumento de 1,1%<br />

face ao mesmo período de 2022, e<br />

de acordo com dados recentes da<br />

AFIA – Associação de Fabricantes<br />

para a Indústria Automóvel, a<br />

indústria de componentes para<br />

automóveis representou um volume<br />

de negócios na ordem dos 13 mil<br />

milhões de euros (+14,4% do que em<br />

2021), o equivalente a 5,4% do PIB<br />

português. Em 2022 o setor retomou o<br />

crescimento, após a quebra de 13,1%<br />

sentida em 2020, e já superou os<br />

valores pré-pandémicos.<br />

higiene e segurança, e ao nível das oficinas,<br />

uma segunda fase mais específica que envolve<br />

as pessoas que estão em contacto com resíduos,<br />

em ambientes oficinais.<br />

Também ao nível da gestão de resíduos,<br />

implementaram um novo conceito para<br />

valorizar grande parte dos resíduos produzidos,<br />

sendo que a taxa de reciclagem se encontra<br />

nos 90%, em parceria com a EcoPartner.<br />

“Produzimos fardos de resíduos de plásticos,<br />

que são recolhidos em sinergia com outros<br />

resíduos, desta forma onde era necessário<br />

um contentor de 30m3 semanal, agora é<br />

compactado num fardo de 1m3 com uma<br />

densidade média de 150kg/m3, que ocupa<br />

muito menos espaço, reduzindo o volume<br />

do resíduo para recolha em 600%”, revela<br />

Paulo Filipe. “Só essa operação já reduziu<br />

drasticamente a pegada”. •<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


www.supplychainmagazine.pt/scmiberia<br />

24 NOV ‘23<br />

ESPAÇO BERTELSMANN – MADRID<br />

CO-ORGANIZADOR:<br />

1ª Conferência Ibérica de Supply Chain<br />

DISRUPÇÃO E TECNOLOGIA<br />

TRANSFORMAÇÕES NA CADEIA<br />

DE ABASTECIMENTO<br />

SUPPLY CHAIN · LOGÍSTICA · OPERAÇÕES · PROCUREMENT<br />

PATROCINADORES<br />

PREMIUM<br />

GOLD<br />

SILVER


16<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Penguin Random<br />

House Grupo Editorial


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Isabel Dantas dos Reis<br />

“NUNCA TIVEMOS<br />

TANTA ALTURA,<br />

NUNCA TIVEMOS<br />

TANTO ESPAÇO”<br />

Ler é uma viagem, mas a viagem do<br />

livro começa muito antes da do leitor.<br />

A logística é a personagem principal<br />

desta história e a responsável pelo<br />

dito ‘final feliz’: chegar às mãos do<br />

leitor. Pedro Veiga, gerente, diretor<br />

financeiro, informática e de logística<br />

da Penguin Random House Grupo<br />

Editorial mostrou à Supply Chain<br />

Magazine os cantos e recantos do seu<br />

centro logístico, localizado na Vialonga,<br />

que armazena cerca de 4 milhões de<br />

livros. É lá que a magia acontece.<br />

O<br />

s livros têm, de facto, o poder mágico de<br />

nos transportar para qualquer lado através<br />

das palavras. É incrível pensar como é que<br />

simples páginas podem conter tantos mundos,<br />

aventuras, amores e desamores, histórias de<br />

vida, ensinamentos, mensagens, e, sobretudo,<br />

sabedoria, conhecimento. É essa a missão e<br />

propósito da divisão portuguesa da Penguin<br />

Random House Grupo Editorial, que faz parte<br />

do grupo internacional Penguin Random<br />

House que, por sua vez, integra o grupo<br />

alemão Bertelsmann.<br />

A editora está em Portugal desde 2014<br />

e, desde então, tem vindo a adquirir<br />

várias chancelas editoriais, totalizando 22<br />

atualmente. Publica e distribui para o mercado<br />

nacional, incluindo ilhas, um catálogo de<br />

6.000 títulos, de géneros literários diversos.<br />

No entanto, antes de os livros chegarem<br />

às mãos dos leitores, há todo um processo<br />

logístico a cargo da Penguin Random House<br />

Grupo Editorial, do qual só está excluída<br />

a componente de impressão. É no centro<br />

logístico de Vialonga que são rececionados<br />

os livros que vêm das gráficas e armazenados<br />

até serem expedidos a nível nacional para<br />

pequenas e grandes superfícies de retalho<br />

(sendo o maior cliente a SONAE), livrarias,<br />

além da vertente B2C, diretamente para o


18<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

consumidor final.<br />

O centro logístico, de 8.000 metros<br />

quadrados de área e 10 metros e meio de<br />

altura, armazena cerca de 4 milhões e meio<br />

de livros. “Quando comecei esta operação<br />

tínhamos um armazém de 400 metros<br />

quadrados, com 2 metros e meio de altura, e<br />

era tudo trabalhado à mão. Fomos crescendo<br />

e agora temos uma logística a sério”, revela<br />

Pedro Veiga, com alguma nostalgia. “Nunca<br />

tivemos tanta altura, nunca tivemos tanto<br />

espaço”.<br />

Uma das áreas do centro logístico destinase,<br />

então, à preparação do abastecimento. Os<br />

operadores vão buscar os livros requisitados<br />

pelo cliente e, seguidamente, fazem o picking<br />

do código de barras para o sistema indicar a<br />

que loja se destina e a quantidade de livros<br />

que deve conter cada caixa. No momento<br />

captado pela Supply Chain Magazine, o<br />

operador encontrava-se a preparar pedidos<br />

para as lojas do Modelo/Continente, da<br />

marca SONAE. O computador atribui as<br />

encomendas a cada luz, e são impressas<br />

as respetivas etiquetas. À medida que o<br />

operador vai abastecendo, o sistema dá baixa<br />

da encomenda. Cada caixa corresponde a<br />

uma encomenda que é deixada nos postos de<br />

embalamento, colocadas em paletes e, no final<br />

do dia, são levadas para os portões de saída,<br />

prontas para expedição. A recolha é feita uma<br />

vez por dia pelos vários transportadores que<br />

têm parceria com a editora, nomeadamente<br />

a VASP, Correos, DHL e CTT, que efetua as<br />

entregas do e-commerce.<br />

Percebe-se que o processo logístico é<br />

bastante fluido, muito graças à tecnologia que<br />

acaba por facilitar o trabalho do operador.<br />

Pedro Veiga sublinha essa importância: “na<br />

logística há sempre a necessidade de otimizar,<br />

e nós já estávamos a trabalhar com o mesmo<br />

processo há vários anos. Agora sentimos a


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

necessidade de mudar porque já não estava<br />

a ir até onde nós queremos. Vamos sempre<br />

tentar otimizar para conseguir rentabilizar as<br />

pessoas”. Para a operação, a editora tem um<br />

software específico de armazém, e um ERP de<br />

faturação que estão agora a mudar para um<br />

mais “robusto”. O ERP está conectado com um<br />

sistema específico de logística de armazém,<br />

de picking e embalamento. “Neste momento<br />

estamos a alterar, precisamente, a componente<br />

tecnológica porque, atualmente, a logística<br />

sem a parte informática já não funcionaria”,<br />

assume, acrescentando ainda que “quando<br />

comecei, trabalhávamos muito em papel, mas<br />

hoje, sem um tablet, sem um PDA, sem um<br />

computador, não se consegue fazer nada”.<br />

A operação logística da Penguin Random<br />

House Grupo Editorial conta ainda com a<br />

componente da logística inversa, ou seja,<br />

há livros que são devolvidos e acabam por<br />

regressar ao centro logístico de Vialonga.<br />

Neste sentido, há uma zona do armazém<br />

apenas dedicada às devoluções na qual os<br />

operadores conferem, removem manualmente<br />

as etiquetas com o preçário, e limpam os livros<br />

para que retornem ao circuito de venda. Por<br />

dia, são removidas centenas de etiquetas.<br />

Por outro lado, quando os livros apresentam<br />

algum tipo de defeito não são aceites pelas<br />

livrarias ou superfícies de grande retalho<br />

e, nesse caso, têm de ser destruídos. Não<br />

há muitas formas de evitar este fim e, por<br />

isso, este torna-se um processo difícil,<br />

nomeadamente no momento em que se<br />

informa o autor. “É muito difícil explicar a<br />

um autor português que o seu livro tem de<br />

ser destruído”, confessa Pedro Veiga. Além<br />

dos livros com defeito, há outros critérios<br />

que determinam se o livro deve ou não<br />

ser destruído. Numa primeira fase, há um<br />

algoritmo que calcula, com base no histórico<br />

de vendas de um determinado período, se<br />

existe ou não excedente de stock para o<br />

período de venda. Após este “cálculo frio”, a<br />

área comercial também faz uma análise para<br />

determinar se se podem fazer campanhas<br />

especiais ou se, por exemplo, sairá um filme<br />

sobre o livro que justifique o aumento das<br />

vendas. Por último, a área editorial verifica,<br />

consoante os seus critérios, se o livro deverá<br />

ou não ser destruído. Ainda que a nível<br />

financeiro não haja um grande retorno,<br />

a editora vende os livros para destruir a<br />

empresas de reciclagem de papel que os<br />

transformam em pasta de papel. Desta forma,<br />

a matéria-prima pode ser reutilizada para<br />

outros fins.<br />

A PRESSÃO DA ENTREGA<br />

De acordo com o Observador, o mercado do<br />

livro cresceu 16% em Portugal em 2022 face<br />

a 2021 e, segundo a Associação Portuguesa<br />

de Editores e Livreiros (APEL), nos primeiros<br />

meses do ano registou-se um aumento de 8,3%<br />

de vendas de livros relativamente ao período<br />

homólogo. No caso da editora, em 2022<br />

regressaram aos números de 2019 e, agora sim,<br />

estão a crescer em relação a esse ano. “Não<br />

subscrevo que tenhamos tido um aumento tão<br />

grande em relação ao período pré-pandemia.<br />

Tivemos, sim, em relação ao período da<br />

pandemia, e estamos agora, felizmente, a ver<br />

um pequeno incremento”, afirma.<br />

Ainda assim, durante a pandemia, as vendas<br />

online dispararam, o que criou uma disrupção<br />

do mercado tradicional e, consequentemente,<br />

originou a pressão da entrega. “A ideia do<br />

‘tem de ser já’ é um reflexo de nos termos<br />

habituado a comprar online. Já somos felizes<br />

a comprar online, queremos é receber na<br />

hora”, explica. Este é um desafio “enorme”,<br />

na ótica do responsável, “e é por isso que<br />

estamos também a melhorar sistemas,


20<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

CURIOSIDADES<br />

- BESTSELLER INFANTO-JUVENIL:<br />

DIÁRIO DE UM BANANA,<br />

DE JEFF KINNEY<br />

- BESTSELLER: SAPIENS –<br />

- UMA BREVE HISTÓRIA<br />

DA HUMANIDADE,<br />

DE YUVAL NOAH HARARI<br />

- OS GÉNEROS LITERÁRIOS<br />

EM CRESCIMENTO<br />

EM PORTUGAL SÃO A NOVELA<br />

GRÁFICA E MANGA<br />

- A PENGUIN RANDOM HOUSE<br />

GRUPO EDITORIAL LIDERA<br />

NO SEGMENTO INFANTO-JUVENIL<br />

- CONTINENTE/MODELO<br />

REPRESENTA 40% DAS VENDAS<br />

DE LIVROS EM PORTUGAL<br />

- UM DOS PONTOS ONDE SE<br />

VENDEM MAIS LIVROS É NAS<br />

ESTAÇÕES DE CORREIOS<br />

para conseguir trabalhar durante mais tempo<br />

e expedir mais por dia”. É com esta visão que<br />

a editora estabeleceu a regra de que todas as<br />

encomendas que são submetidas até à hora<br />

de almoço, são entregues no dia útil seguinte.<br />

As que são feitas a partir das 14h, a entrega<br />

não é garantida no prazo de 24 horas, mas sim<br />

de 48. Do ponto de vista logístico, a diferença<br />

entre a preparação do abastecimento de<br />

lojas e do e-commerce está relacionada com<br />

as quantidades dos produtos, o que altera<br />

todo o sistema de picking. “Enquanto para<br />

uma encomenda de um grande retalhista, o<br />

operador, se calhar, em meia hora abastece<br />

mil livros, porque são grandes quantidades,<br />

para fazer mil livros no B2C, é preciso que faça<br />

picking durante dois ou três dias. Isto porque<br />

tem de ir buscar unidade a unidade, em vez<br />

de recolher logo cem unidades da mesma<br />

referência”, indica Pedro Veiga.<br />

SAZONALIDADE REGE<br />

O MERCADO DO LIVRO<br />

É um mercado particularmente desafiante e<br />

um dos desafios que mais afetou a operação<br />

da Penguin Random House Grupo Editorial<br />

nos últimos anos foi a escassez de papel e<br />

cartão, que surgiu na pandemia e que se iria<br />

agudizar no pós-pandemia. “Foi muito difícil<br />

ter produto”, confessa o diretor financeiro e<br />

de logística. Ainda assim, há um outro desafio<br />

que impacta bastante a cadeia do livro: o<br />

preço. “Fazer livros é uma lotaria porque nunca<br />

sabemos quais é que vão ter sucesso”, confessa<br />

Pedro Veiga.<br />

Em Portugal publicam-se 20 livros<br />

diariamente e, segundo o responsável, a<br />

dificuldade reside em saber que apenas<br />

um desses 20, terá sucesso. “O espaço de<br />

prateleira é curto, e os livros só lá podem


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

estar se venderem”. A representar 40% das<br />

vendas de livros no nosso país, está o Modelo/<br />

Continente. “O que o Modelo/Continente<br />

faz é vender espaço em prateleira, e aquele<br />

espaço vale ouro. Se está lá um produto que<br />

não lhes rende porque não tem rotação, sai<br />

e entra outro”, explica. O preço do livro está<br />

relacionado com dois fatores: a tradução e a<br />

expectativa de compra. A tradução acrescenta<br />

2 euros a cada livro. “Se fizéssemos 10 mil<br />

livros de cada, diluía-se o custo da tradução<br />

por esse número, mas a verdade é que fazemos<br />

1.000, 1.500, 2.000”, explica. E uma “boa<br />

tradução” ainda é mais cara. “A tradução é,<br />

por si, uma obra criativa, e uma boa tradução<br />

faz um bom livro. Não se pretende fazer uma<br />

tradução direta do que está escrito. O que se<br />

pretende é que transmita exatamente o que a<br />

versão original quer transmitir, e isso é que é<br />

muito difícil de fazer. A maioria dos tradutores<br />

em Portugal faz traduções da língua”, revela.<br />

Em média, um livro em Portugal não<br />

vende mais de 700 exemplares e, num ano,<br />

o máximo que deverá vender-se são 30 mil<br />

exemplares. Portugal não é um país que<br />

tenha hábitos de leitura enraizados como<br />

outros países da Europa. Segundo Pedro<br />

Veiga, o motivo prende-se com o facto de o<br />

mercado nacional ser sazonal. No caso da<br />

editora, os picos de compra registam-se no<br />

período do Natal, no Dia da Mãe, na Páscoa<br />

e nos meses de verão, que coincidem com


22<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

as férias dos portugueses. “Metade dos livros<br />

que se vendem em Portugal são para oferta,<br />

e esse é o motivo da sazonalidade”, refere.<br />

É também por este motivo que o mercado<br />

dos e-books não tem uma grande expressão<br />

em Portugal, precisamente porque não se<br />

oferecem. “O público português é engraçado.<br />

Somos dos países que mais telemóveis ou<br />

tablets compra, mas e-books não”, comenta.<br />

Ainda assim, a Penguin Random House Grupo<br />

Editorial, está a apostar neste segmento,<br />

ainda que saiba que não tem muita adesão.<br />

“Nós fazemos e-books e estamos a apostar<br />

mais, mas é um canal que em Portugal não<br />

representa sequer 1% do mercado, e isso é<br />

uma coisa ínfima. Estamos a apostar porque,<br />

no fundo, é um aproveitamento do produto.<br />

Já o temos, é só adaptá-lo a outro formato, e<br />

aproveitar o conteúdo”, explica-nos. Mesmo<br />

que o público português não seja o que mais lê<br />

a nível europeu, parece resistir a ideia de que<br />

o papel é o formato predileto. “Talvez seja por<br />

nostalgia”, sugere Pedro Veiga.<br />

VALORES AMBIENTAIS E SOCIAIS<br />

A sustentabilidade é um tema levado a<br />

sério pela editora, uma vez que o grupo<br />

internacional do qual faz parte, o grupo<br />

Bertelsmann, tem políticas ambientais<br />

“muito rígidas”. Desta forma, a meta que tem<br />

estabelecida para a Penguin Random House<br />

Grupo Editorial, é a de impacto de zero em<br />

emissões até 2030. Para tal, o que estão<br />

atualmente a fazer é medir o impacto em todos<br />

os segmentos da operação, especialmente na<br />

área da logística, para que possam melhorar.<br />

“Este ano estamos a implementar ferramentas<br />

para medir todos os impactos que temos desde<br />

o gasto de cartão, papel, plástico, fita-cola<br />

ou tinta”, indica. Além disso, estão também<br />

a privilegiar transportadores com frotas


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

totalmente elétricas, para reduzir a quantidade<br />

de CO2 na atmosfera.<br />

“Achamos que temos não só a componente<br />

de sustentabilidade e de impacto, mas<br />

também uma vertente social que queremos<br />

continuar a cumprir”, afirma Pedro Veiga.<br />

Para a editora, o lado humano tem um<br />

grande valor, e está muito presente a<br />

sua importância para o sucesso e bom<br />

funcionamento da empresa. “Queremos<br />

tratar bem as nossas pessoas porque pessoas<br />

felizes trabalham melhor”. O responsável<br />

relembra que, durante a pandemia, os<br />

operadores mantiveram o centro logístico<br />

sempre em funcionamento. Assim, no<br />

armazém encontravam-se apenas os<br />

operadores e Pedro Veiga. “Eu continuei<br />

sempre aqui precisamente porque achei que<br />

era importante dar-lhes o sinal de que ‘vocês<br />

vão ter de ficar, mas eu também aqui estou’”.<br />

Aplicaram medidas de segurança rígidas e<br />

não registaram um único caso de COVID-19.<br />

No armazém trabalham 30 operadores, e<br />

o gestor de logística indica que este número<br />

é suficiente uma vez que os funcionários<br />

são suportados por tecnologia. Sobre a<br />

polémica questão da substituição do humano<br />

pela máquina, confessa que “substituir” é<br />

uma palavra “chata”. “Claro que teremos<br />

de investir em tudo o que nos traga mais<br />

vantagens à cadeia de abastecimento”,<br />

assume, mas ressalvando que esta aposta<br />

será sempre para melhorar e complementar<br />

o trabalho dos operadores, e não para<br />

substituí-los, “no fundo é dar-lhes melhores<br />

ferramentas para serem mais produtivos”.<br />

Pedro Veiga termina referindo que o<br />

principal objetivo é “um operador que, hoje,<br />

consiga fazer um picking de 1.000 linhas de<br />

100 referências numa hora e que quando<br />

apoiado por tecnologia consiga fazer o<br />

dobro”. •


24<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Automotive<br />

Portugal<br />

Texto: Fábio Santos<br />

NA ESTRADA<br />

DA RECUPERAÇÃO<br />

No dia 8 de setembro, a APDL recebeu uma<br />

nova edição do evento Automotive Portugal,<br />

um dos eventos setoriais da Supply Chain<br />

Magazine, tendo como tema principal<br />

“Automotive supply chains: na estrada da<br />

recuperação”. Durante uma tarde, o foco<br />

do auditório Infante D. Henrique esteve na<br />

indústria automóvel e na sua resiliência face<br />

aos constantes desafios pelos quais passa.<br />

Osetor automotive tem sido alvo de grandes<br />

desafios. Desde uma pandemia que forçou a<br />

paragem das produções, inflação, aumento<br />

dos custos dos transportes, da energia e<br />

das matérias-primas, e constantes quebras<br />

de produção por falta de capacidade de<br />

abastecimento do mercado. Por mais pequena<br />

que seja a peça, o impacto poderá ser gigante na<br />

cadeia, e quanto mais atrás no processo estiver,<br />

maior o impacto, como foi o caso recente com<br />

o abastecimento de semicondutores, quando a<br />

falta de um pequeno dispositivo conseguiu parar<br />

uma das maiores e mais lucrativas cadeias de<br />

abastecimento a nível mundial.<br />

As constantes alterações do que eram as<br />

diferentes realidades ao longo do tempo levaram<br />

a que a supply chain automotive se tivesse de<br />

reinventar mês após mês, semana após semana,<br />

dia após dia. Se na semana anterior o processo<br />

era feito de determinada maneira, na seguinte já<br />

era necessário reajustar algum processo, e novas<br />

tendências foram surgindo, fosse substituindo<br />

o habitual Just In Time por algum stock interno,<br />

fosse aproximando as cadeias de abastecimento


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

e a visibilidade aos fornecedores através do<br />

nearshoring.<br />

Segundo apontou um recente estudo da<br />

Capgemini, “The automotive supply chain:<br />

Pursuing long-term resilience”, os construtores<br />

automóveis estão agora mais confiantes para<br />

lidarem com interrupções. Após os diferentes<br />

desafios pelos quais o setor passou, 60% dos<br />

inquiridos do estudo afirmaram que, caso as<br />

disrupções associadas à falta de semicondutores<br />

sentidas em 2022 se repetissem hoje, estariam<br />

preparados para reduzir em mais de metade das<br />

perdas que sentiram.<br />

Entre os principais tópicos do estudo estiveram<br />

o alerta que os semicondutores deixaram para<br />

o nearshoring, a importância da partilha de<br />

informação, a falta de viabilidade dos stocks<br />

a longo prazo, e o facto de a sustentabilidade<br />

ter passado para segundo plano, deixando a<br />

resolução destes problemas como foco principal.<br />

Fabricantes de componentes automóveis<br />

Foi com o tema “Portugal – Indústria de<br />

componentes para automóveis” que José Couto,<br />

presidente da AFIA - Associação dos Fabricantes<br />

para a Indústria Automóvel, iniciou a tarde.<br />

Olhando para o estado do setor, o responsável<br />

revelou que no ano passado o setor manteve o<br />

crescimento e bateu o recorde estabelecido em<br />

2019, com uma produção de 346 mil veículos. Em<br />

2020, aquando da pandemia, o setor sofreu uma<br />

queda de 13,1%, mas que desde então tem vindo<br />

a recuperar aos poucos, fechando 2022 com um<br />

volume de negócios de 13 mil milhões de euros,<br />

o equivalente a 5,4% do PIB nacional, e voltando<br />

a estabelecer um máximo histórico.<br />

José Couto destacou que a indústria automóvel<br />

não só teve um crescimento europeu em número<br />

de clientes, mas também dentro dos próprios<br />

clientes, e que um dos principais temas nas<br />

agendas deste setor é a sustentabilidade. “A<br />

descarbonização tem hoje um grande impacto, e<br />

ainda terá um maior nos próximos anos”, afirmou.<br />

A recente paragem da Autoeuropa em finais<br />

de agosto devido à falta de peças produzidas na<br />

Eslovénia, cuja produção foi afetada pelas cheias<br />

de agosto, foi um tema inevitável. Trata-se de<br />

uma empresa que representa 71,7% da produção<br />

automóvel a nível nacional, tendo produzido<br />

231,1 mil veículos dos 322,4 mil registados no<br />

ano passado.<br />

Desafios de um operador logístico<br />

Responsável pela logística da Autoeuropa desde<br />

2019, a Rangel Logistics Solutions apresentou<br />

a “Visão do operador logístico – desafios e<br />

resiliência”. André Gonçalves – operations<br />

manager contract logistics, mostrou a realidade<br />

sentida pela Rangel Logistics neste setor, que<br />

desde 2002 já esteve responsável pela logística<br />

de empresas como a Continental, Bosch, Faurecia<br />

ou Volkswagen.<br />

Um dos grandes desafios sentidos foi durante<br />

a quebra na pandemia, onde destacou maiores<br />

forças externas e pressões internas ao nível de<br />

contract logistics. Durante este período, comenta<br />

que as pressões estiveram em temas como ESG,<br />

modelo de negócio, fornecedores, segurança de<br />

informação, alterações na procura e a atração<br />

e gestão de talento, detalhando as áreas e as<br />

respetivas formas de resposta que tomaram para<br />

contornar os problemas.<br />

Num olhar mais futurista, o responsável<br />

antecipa novas tendências para o final do<br />

decénio, como a mobilidade diversa (2/4<br />

rodas), a condução autónoma, a eletrificação,<br />

conectividade/software, competitividade e a<br />

força concorrencial, com novas marcas asiáticas<br />

a entrar no mercado. Os principais insights<br />

destacados foram: transportes, condução<br />

autónoma, inteligência artificial e mobilidade, e<br />

nesse sentido, André Gonçalves refere ainda o


26<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

surgimento de novas tecnologias nessas áreas,<br />

e de investimento na sustentabilidade, e expôs<br />

o caso recente da parceria entre a Nikola Motor<br />

Company e a Bosch num projeto de hidrogénio<br />

avaliado em 2,8 mil milhões de dólares.<br />

Caso de estudo Simoldes e ISEP<br />

Seguidamente deu-se a partilha de um caso<br />

prático de “Otimização das decisões de<br />

planeamento da produção em ambientes<br />

turbulentos – caso de estudo Simoldes”, com<br />

António Galrão Ramos, professor no ISEP –<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto,<br />

Manuel Pereira Lopes, Deputy CEO do CPLOT<br />

e director of MSc in Engineering and Industrial<br />

Management no ISEP, Paulo Brás, operations<br />

process advanced support, Simoldes Plásticos<br />

e Vitor Resende, headquarters production<br />

engineering manager, Simoldes Plásticos.<br />

A Simoldes tinha uma necessidade de tornar<br />

as suas operações mais ágeis e facilitar os<br />

processos de decisão. Manuel Pereira Lopes<br />

conta que desafiaram o ISEP para desenvolver<br />

uma ferramenta que ajudasse o responsável<br />

a tomar decisões muito mais otimizadas, e<br />

a evitar paragens de produção, e o modelo<br />

apresentado pelo ISEP conseguiu responder a<br />

essas necessidades. Foi necessário ter em conta<br />

a programação de máquinas paralelas dedicadas,<br />

multiobjetivos, escalas, e algumas restrições.<br />

“Num mundo cada vez mais tecnológico,<br />

competitivo e acelerado, temos de tomar decisões<br />

mais rápidas e mais eficazes na indústria. Pelo<br />

que apenas com processos mais flexíveis e ágeis,<br />

suportados pela I4.0 e baseados em decisões<br />

inteligentes, será possível aumentar a velocidade<br />

das nossas decisões e atingir melhorias<br />

disruptivas no desempenho das operações”,<br />

comenta António Galrão Ramos.<br />

Black Swan VS Gray Rhino<br />

Rui Oliveira, global sourcing manager da One<br />

Automotive Alliance, abordou os desafios dos<br />

fabricantes automóveis atualmente, com o<br />

tema “On-time or bust: overcoming just-in-time<br />

delivery challenges in the automotive supply<br />

chain”.<br />

O setor automotive é uma área que trabalha<br />

muito com o sistema Just-in-time, o que gera<br />

poupanças ao nível do armazenamento. Ao<br />

contrário do que se possa julgar, o responsável<br />

destaca que “Just-in-time não é stock zero. É stock<br />

certo”, no entanto, no caso de ocorrer uma falha<br />

de abastecimento, poderá parar toda a produção.<br />

“Se eu tenho um fornecedor único, eu tenho<br />

riscos”, acrescenta.<br />

Rui Oliveira nota que o risco é um dos<br />

principais temas associados a este setor, e que<br />

“trabalho na SCM há mais de 20 anos e sempre<br />

houve crises e iminentes paragens de linha. Agora<br />

temos é mais riscos e variabilidade dos mesmos”.<br />

Ao nível dos riscos, comenta que muitas vezes<br />

ouvimos falar dos eventos de Black Swan (cisne<br />

negro), que são imprevisíveis e trazem efeitos<br />

negativos para a cadeia de abastecimento. No<br />

entanto, foca o problema em algo muito maior: os<br />

eventos de Gray Rhino (rinoceronte cinzento). “É<br />

um problema enorme que temos à nossa frente,<br />

mas não fazemos nada para o corrigir”, explica<br />

Rui Oliveira.<br />

Ligações fortes<br />

Após uma exposição de problemas, Paulo<br />

Niza, diretor comercial da Medway, apresentou<br />

algumas das soluções da ferroviária Medway.<br />

Olhando para o tema “Medway – ligações fortes”,<br />

o responsável destacou alguns dos projetos com<br />

que contam, como é o caso recente das ligações<br />

entre Portugal e França, e entre Portugal e<br />

Alemanha.<br />

Um dos principais temas que destaca é ao<br />

nível da descarbonização, apresentando claras<br />

vantagens face ao transporte rodoviário, sendo<br />

este meio de transporte 77% mais eficiente


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

em termos de emissões carbónicas. Há cerca<br />

de três anos iniciaram com a entrega de<br />

certificados de transporte sustentável aos seus<br />

clientes, apresentando as reduções de emissões<br />

carbónicas que estes conquistaram ao adotar o<br />

transporte ferroviário, face ao que emitiriam ao<br />

utilizar o transporte rodoviário.<br />

Sucesso depende das pessoas<br />

Quase a terminar o dia, Diana Ramos Queiroz,<br />

senior manager na Randstad Portugal, apresentou<br />

o estudo da Randstad “Employer brand research<br />

<strong>2023</strong>”. Com o tema “Estudo: o sucesso da indústria<br />

automóvel irá depender da sua força de trabalho”,<br />

a responsável apontou alguns dos problemas e<br />

das tendências pelos quais o setor automotive<br />

está a passar, o seu estado de saúde, quais as<br />

expectativas dos profissionais do setor, e como<br />

atrair e reter talento.<br />

Dentro dos setores do estudo, o automóvel<br />

é o 7º mais atrativo para trabalhar, sendo as<br />

principais empresas o Grupo Salvador Caetano, a<br />

PSA Peugeot Citroën e a Volkswagen Autoeuropa.<br />

Diana Ramos Queiroz aponta ainda que,<br />

segundo um estudo da McKinsey, até 2030, 25%<br />

da força de trabalho terá de ser requalificada, e<br />

enquanto irão desaparecer cerca de 1,1 milhões<br />

de postos de trabalho, poderão ser criados entre<br />

600 mil e 1,1 milhões de novos empregos.<br />

Riscos também se abatem<br />

A terminar o dia, Rui Baptista, plant logistics<br />

business manager da Volkswagen Autoeuropa,<br />

Fausto Figueiredo, Supply Chain SME da Visteon,<br />

e Carlos Pereira, corporate production manager<br />

da Coindu, reuniram-se numa mesa-redonda<br />

com o tema da conferência: “Automotive supply<br />

chains: na estrada da recuperação”. Responsável<br />

pela moderação do painel, Pedro Oliveira da<br />

Silva, managing director da OPCO, conduziu<br />

a conversa dos responsáveis da indústria<br />

automóvel.<br />

Entre os temas debatidos destacou-se<br />

muito o risco das cadeias de abastecimento.<br />

Ainda com o tema da paragem temporária da<br />

Autoeuropa muito dentro das agendas, Rui<br />

Baptista explicou que este tipo de problemas<br />

nem sempre são facilmente colmatados, e que<br />

requerem medidas adicionais.<br />

Os responsáveis expuseram as suas<br />

dificuldades, e debateram algumas soluções<br />

alternativas possíveis. O Just-in-time e o<br />

nearshoring também foram igualmente temas<br />

de destaque, devido às questões dos lead<br />

times e à maior agilidade no abastecimento,<br />

que muitas vezes causam entraves nas supply<br />

chains.<br />

Na incerteza de como serão os próximos<br />

capítulos, a única garantia é de que a ‘máquina’<br />

não irá parar, e novos desafios e novos temas<br />

irão ocupar as agendas. Sejam eles positivos<br />

ou negativos, uma nova edição do Automotive<br />

Portugal irá acompanhar os desenvolvimentos e<br />

ajudar o setor a encontrar as melhores soluções<br />

para os desafios que o mundo da supply chain<br />

lhe coloca. •


www.supplychainmagazine.pt/scmiberia<br />

1ª Conferência Ibérica<br />

de Supply Chain<br />

DISRUPÇÃO<br />

E TECNOLOGIA<br />

TRANSFORMAÇÕES<br />

NA CADEIADE<br />

ABASTECIMENTO<br />

São muitos os desafios que se colocam globalmente às<br />

cadeias de abastecimento, mas uma coisa é clara: disrupções<br />

e incertezas estão para ficar e quem está na supply chain tem<br />

que estar preparado para o imprevisível.<br />

Será que no nosso país vizinho se enfrentam de igual<br />

maneira os cada vez mais exigentes desafios da cadeia de<br />

abastecimento? Será que as palavras “mudança”, “incertezas”<br />

e “disrupção” também estão na ordem dos seus dias?<br />

Devemos olhar para o atual estado de coisas numa perspetiva<br />

ibérica? Será proveitoso para ambos, partilhar soluções e<br />

visões para o futuro, vendo Portugal e Espanha como uma<br />

região logística no contexto europeu? Acreditamos que sim.<br />

ORADORES


PROGRAMA<br />

08H30 | CHECK-IN & WELCOME COFFEE /<br />

ACREDITACIONES Y CAFÉ DE BIENVENIDA<br />

09H15 | ABERTURA DA SCM CONFERENCE IBÉRIA /<br />

APERTURA<br />

– Filipe Barros – Executive Manager, SCM Supply Chain Magazine<br />

– Jan Schwietzke – Country Manager Spain & Portugal, Arvato Systems<br />

09H25 | CONFERÊNCIA 1 – A REINVENÇÃO DAS<br />

CADEIAS DE ABASTECIMENTO<br />

– Luis Solis – Director & Professor of Operations Management Strategy<br />

and Supply Chain Management<br />

10H00 | CONFERÊNCIA 2 – DEMAND DRIVEN PARA<br />

TRANSFORMAR<br />

– Manuel Rodríguez Méndez – Socio Director, CMG Consultores<br />

10H25 | CONFERÊNCIA 3<br />

– Victor del Pino Migallon – Director Nacional, Gesgrup Outsourcing<br />

10H45 | ROUNDTABLE 1 – TRANSFORMAÇÕES NA<br />

CADEIA DE ABASTECIMENTO / TRANSFORMACIONES<br />

EN LA CADENA DE SUMINISTRO<br />

Moderação e Condução:<br />

– Anabela Pinto – Supply Chain Director, Bondalti<br />

– Pedro Chainho – Head of Supply Chain, Worten Iberia<br />

– Manuel Rubio – Chief Operating Officer, Chef Sam<br />

– Ricardo Pomar – Iberian Supply Chain Director, Toys “R”Us<br />

11H30 | BREAK SESSION | NETWORKING<br />

12H00 | CONFERÊNCIA 4 -“SOLUÇÕES DIGITAIS PARA<br />

SUPPLY CHAIN E CASES DE SUCESSO AO REDOR DO<br />

MUNDO!”<br />

– Renan Guedes – CEO and Founding Partner, Exed Consulting<br />

12H20 | CONFERÊNCIA 5 – CADEIA DE ABASTECIMENTO<br />

DAS TINTAS NO CONTEXTO IBÉRICO: ESCOLHAS<br />

ESTRATÉGICAS E TECNOLÓGICAS PARA NÃO BORRAR<br />

A PINTURA<br />

– Marco Castanheira – Iberia Logistics Manager, PPG Industries<br />

12H40 | CONFERÊNCIA 6<br />

– Sergio Prados – Business Development Manager Mid Market and<br />

Alliances, Cegid Ekon<br />

13H00 | CONFERÊNCIA 7 – PICKING PERFECTO:<br />

REPLENISHMENT BASADO EN ANALÍTICA AVANZADA<br />

– Juan Ramos – Business Development Manager, TW Logistics<br />

13H20 | CONFERÊNCIA 8 – AUTOMATIZACIÓN &<br />

INTELIGENCIA ARTIFICIAL EN LA CADENA DE<br />

SUMINISTRO<br />

– Orador a designar – Arvato Supply Chain<br />

13H40 | ROUNDTABLE 2 – TRANSFORMAÇÕES NA<br />

CADEIA DE ABASTECIMENTO / TRANSFORMACIONES<br />

EN LA CADENA DE SUMINISTRO<br />

Moderação e Condução:<br />

– Dália Moreira – Head of Supply Chain, Sogrape<br />

– José Miranda – Líder da Supply Chain and Delivery, Leroy Merlin<br />

– Raul Sanchez – Warehouse and Logistics Manager, Sika<br />

– Sergio Sanz Arguedas – Country Director, IPP España y Portugal<br />

– Orador a designar – Medway<br />

14H30 | ENCERRAMENTO / CIERRE<br />

14H35 | NETWORKING – FOOD & DRINKS<br />

PATROCINADORES<br />

CO-ORGANIZADOR:


30<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Estudo Deloitte<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

ORQUESTRAR<br />

A ENTREGA<br />

DE VALOR<br />

A metamorfose na esfera de compras<br />

está a revelar-se cada vez mais tangível,<br />

impulsionada pela pandemia e suas<br />

reverberações no mercado. O <strong>2023</strong> Global<br />

Chief Procurement Officer (CPO) Survey,<br />

conduzido pela Deloitte, sublinha esta<br />

mudança. Este estudo reuniu cerca de 350<br />

percepções de líderes seniores em mais<br />

de 40 países sobre o setor. A meta é clara:<br />

descortinar as áreas que têm sido alvo de<br />

investimento pelas organizações de compras<br />

neste cenário em constante evolução.<br />

Nesta análise que ultrapassou fronteiras,<br />

é possível destacar algumas das<br />

características essenciais que<br />

propulsionam o êxito das organizações<br />

de procurement. Focadas em modelos<br />

operacionais inovadores, gestão de talento<br />

estratégica e a digitalização das cadeias de<br />

abastecimento, estas organizações estão a<br />

transcender a esfera tática, evoluindo para<br />

operações ágeis, escaláveis e digitalmente<br />

capacitadas. A revolução digital e os<br />

modelos de talento terceirizado estão a<br />

fornecer uma janela de oportunidade para<br />

os CPOs, permitindo-lhes tirar partido das<br />

circunstâncias e aprimorar as suas operações.<br />

Estas organizações de alto desempenho<br />

estão a cultivar colaborações com líderes<br />

de unidades de negócios, parceiros e<br />

fornecedores, resultando na formação de<br />

equipas autênticas "orquestradoras” de valor.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

DUALISMO<br />

Atualmente, a visão do procurement revela<br />

dualidade: por um lado, destaca-se a boa<br />

notícia de que este setor está a adotar<br />

uma esfera de prioridades mais alargada,<br />

incorporando até a emergente ênfase nas<br />

questões ambientais, sociais e de governança<br />

(ESG) como a sua nova segunda prioridade<br />

(72%). No entanto, contrapõe-se a má<br />

notícia de um declínio no desempenho.<br />

pandemia até às recentes pressões de custos<br />

inflacionários.<br />

O campo do procurement está a responder<br />

a um conjunto crescente de prioridades<br />

empresariais de elevado nível. Observa-se<br />

uma variação estatística ténue entre as oito<br />

principais prioridades (aproximadamente 9%<br />

de variação apenas), sendo o custo ainda um<br />

pilar crucial (fundamental na contribuição<br />

antecipada do procurement). No entanto,<br />

muitas destas questões empresariais<br />

Por exemplo, apenas 69% alcançaram ou<br />

excederam as suas metas de redução de<br />

custos, comparativamente aos 84% do<br />

estudo anterior. Adicionalmente, a percepção<br />

do próprio desempenho na colaboração<br />

interdepartamental com áreas como finanças,<br />

pesquisa e desenvolvimento, e operações,<br />

sofreu uma queda de até 11%. Esta diminuição<br />

sugere que os grupos de procurement podem<br />

ter-se dispersado ao enfrentar um espectro<br />

amplificado de desafios, desde a gestão da<br />

continuidade do abastecimento durante a<br />

relevantes nem sempre encontram lugar ou<br />

são incorporadas com facilidade no painel<br />

de avaliação do procurement. Desafios como<br />

o risco e a resiliência em toda a cadeia de<br />

abastecimento, a abordagem das mutações nas<br />

exigências de conformidade que sustentam e<br />

impulsionam as iniciativas de transformação<br />

empresarial, bem como a gestão dos aumentos<br />

de preços (cujo verdadeiro impacto no<br />

procurement frequentemente se revela difícil<br />

de estimar e comunicar) podem ser de difícil<br />

quantificação e mensuração.


32<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

TENDÊNCIAS DE RISCO<br />

Os Chief Procurement Officers (CPOs) têm<br />

sido claros: os riscos vieram para ficar.<br />

Isto é evidenciado pelo facto de mais de<br />

70% dos participantes considerarem que<br />

os riscos relacionados ao procurement e à<br />

perturbação da cadeia de abastecimento<br />

aumentaram nos últimos 12 meses,<br />

consolidando um cenário desafiador. Neste<br />

contexto, 43% dos CPOs mencionaram que<br />

o risco global do procurement aumentou<br />

significativamente, em comparação com os<br />

reguladores, especialmente no contexto<br />

do Environmental, Social, and Governance<br />

(ESG) e da Organização Internacional<br />

de Normalização, estão em destaque. O<br />

risco de custo/gasto (inflação) (91%) e<br />

lacunas no abastecimento (81%) foram<br />

os dois principais problemas com alto ou<br />

moderado impacto nos últimos 12 meses,<br />

conforme indicado pelas empresas. Custos<br />

de transporte acelerados e desequilíbrios<br />

de inventário também tiveram impactos<br />

moderados ou altos, mencionados por 60% e<br />

43% das empresas.<br />

20% presentes no estudo de 2021.<br />

Contudo, argumenta-se que o<br />

procurement está bem equipado para<br />

lidar com as pressões inflacionárias,<br />

que emergem como o principal risco<br />

de <strong>2023</strong>, também classificado como o<br />

principal fator disruptivo para os CEOs.<br />

Preocupações com a recessão e o aumento<br />

da demanda por parte de clientes e<br />

O risco inflacionário permanece como<br />

uma preocupação crescente, tornandose<br />

um dos "três principais" riscos nos<br />

próximos 14 meses. Mais da metade dos<br />

CPOs mencionaram-no, comparado com<br />

apenas 4% em 2021. A inflação é um desafio<br />

complexo, indo além do simples aumento<br />

de preços. Esta afeta o custo do capital<br />

de trabalho e pode até mesmo influenciar<br />

as decisões bancárias dos fornecedores.


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

Preocupações geopolíticas também<br />

são citadas, assim como uma possível<br />

recessão económica, ambas prejudiciais<br />

para compradores e fornecedores. Essas<br />

preocupações contribuem para a apreensão<br />

em relação à resiliência dos fornecedores e<br />

à continuidade do abastecimento. Com as<br />

altas taxas de juros, prevê-se um aumento<br />

na falência de fornecedores num futuro<br />

muito próximo.<br />

Apenas 25% das empresas afirmaram<br />

conseguir identificar e prever perturbações<br />

no abastecimento de maneira oportuna<br />

"em grande medida", o que não mudou<br />

significativamente desde 2021. Isto pode ser<br />

parcialmente atribuído ao foco na resiliência<br />

geral, em vez de entender as causas<br />

específicas potenciais e os seus impactos.<br />

A abordagem mais ampla na garantia do<br />

abastecimento é positiva, mas pode deixar<br />

alguma exposição a desafios sistémicos<br />

futuros, como os impactos da Inteligência<br />

Artificial. O cumprimento relacionado a<br />

fornecedores também foi citado como tendo<br />

impacto moderado ou alto (40% relacionado<br />

a falhas contratuais e 25% relacionado<br />

ao não cumprimento mais amplo dos<br />

fornecedores).<br />

Porém, 83% dos CPOs têm planos de<br />

melhorar capacidades fundamentais, como o<br />

desempenho e a gestão de relacionamento<br />

com fornecedores, enquanto 51% estão<br />

focados em inteligência de mercado de<br />

abastecimento. À medida que o escopo<br />

do "portfólio de serviços" do procurement<br />

se expande, o seu desempenho focado


34<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

nos stakeholders parece estar a diminuir,<br />

assim como ocorre com o desempenho dos<br />

fornecedores. No entanto, os riscos também<br />

podem emergir dentro da empresa. A perda<br />

de talento crítico foi identificada como o<br />

principal problema interno, com 47% dos<br />

CPOs citando-a como tendo impacto alto ou<br />

moderado. A complexidade interna, como<br />

silos organizacionais ou processos não<br />

padronizados, também foi destacada por<br />

mais de 32% dos CPOs como uma questão<br />

de alto impacto, destacando o risco de ser<br />

distraído por detalhes enquanto maiores<br />

riscos são negligenciados.<br />

Em 2021, entre as quatro principais<br />

prioridades estavam a eficiência<br />

operacional (78%), redução de custos (76%),<br />

transformação digital (76%) e inovação<br />

(73%). A temática ESG (68%) ocupava o<br />

sétimo lugar nesta lista. O procurement<br />

certamente agiu prontamente para reagir<br />

às conjunturas empresariais (por exemplo,<br />

ao evitar aumentos de preço por parte<br />

dos fornecedores ou ao manter o fluxo<br />

das linhas de abastecimento). Contudo,<br />

reatividade não equivale a agilidade


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

(a agilidade é planeada), assim como<br />

velocidade não é sinónimo de celeridade<br />

(a celeridade tem um vetor). Abordar estas<br />

forças exógenas, mantendo o momentum<br />

em torno da concretização das prioridades<br />

estratégicas e dos programas definidos<br />

internamente, é a essência deste estudo de<br />

<strong>2023</strong> sobre a "orquestração".<br />

MOLDAR O FUTURO<br />

Para além dos riscos relacionados<br />

com o abastecimento, outras exigências<br />

empresariais de risco e conformidade<br />

(Governance, Risk, and Compliance - GRC)<br />

precisam de ser geridas; a dimensão de<br />

conformidade na gestão de abastecimento<br />

está claramente na mente dos CPOs quando<br />

se trata de apoiar as demandas ambientais<br />

e sociais relacionadas com o ESG. O mundo<br />

está a tornar-se mais volátil, regulamentado<br />

e com restrições de abastecimento, e<br />

as empresas estão a esforçar-se para<br />

enfrentar esses desafios. Não apenas<br />

para mitigar riscos de abastecimento e<br />

combater o risco de inflação, mas também<br />

para atender a novas demandas, como o<br />

ESG, agora a segunda maior prioridade<br />

empresarial a ser abordada, logo após a<br />

eficiência operacional, citada por mais de<br />

80% dos CPOs. O ESG é a principal área<br />

onde o procurement desempenha um papel<br />

ativo e influente na tomada de decisões,<br />

seguido pela gestão de riscos corporativos<br />

e FP&A - Financial Planning and Analysis<br />

(planeamento e análise financeira), ambos<br />

com cerca de 70% de envolvimento.<br />

Dado o papel fundamental dos<br />

fornecedores nessas áreas, não é<br />

surpreendente que a colaboração com<br />

fornecedores seja a principal estratégia para<br />

criar valor para os CPOs. Aqueles que não<br />

estão a priorizar esse foco devem considerar<br />

maneiras de melhorar essa capacidade e<br />

pensar proativamente em moldar a demanda<br />

para reduzir ainda mais o perfil de risco.<br />

Além disso, é crucial que a conformidade e<br />

a gestão de riscos não se limitem apenas a<br />

questões internas, mas também se estendam<br />

à colaboração com fornecedores.<br />

O apoio ao ESG é uma questão crítica para<br />

os CPOs, e estes devem aproveitá-lo a seu<br />

favor. Isso inclui novas formas de envolver e<br />

colaborar com fornecedores para equilibrar


36<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

o custo, resiliência, ESG e outros fatores.<br />

Enquanto as economias de custo geralmente<br />

se concentram no lucro financeiro, o ESG<br />

abrange a sustentabilidade ambiental e<br />

o bem-estar social. Investir na base de<br />

fornecedores pode remodelar a economia de<br />

uma categoria e melhorar a resiliência, além<br />

de reduzir os custos a longo prazo.<br />

À medida que regulamentações e padrões<br />

estão a ser estabelecidos para quantificar<br />

métricas e metas relacionadas com o<br />

ambiente, pressões regulatórias globais<br />

estão a forçar as empresas a considerar o<br />

ESG de várias perspetivas. No entanto, essa<br />

transformação não será fácil, especialmente<br />

em organizações que resistem à mudança.<br />

Superar essas barreiras requer níveis<br />

crescentes de orquestração complexa,<br />

focada no retorno do investimento que<br />

ressoa com a liderança e ajuda a posicionar<br />

o procurement como líder na organização<br />

para orquestrar e melhorar coletivamente<br />

a entrega de valor com um modelo<br />

operacional mais intencional.<br />

Enfrentar os desafios atuais e futuros da<br />

cadeia de abastecimento e do procurement<br />

é uma tarefa complexa, mas os CPOs estão<br />

otimistas e ansiosos para contribuir para<br />

o ESG, ampliar a esfera de influência das<br />

compras e impulsionar mudanças positivas.<br />

O cenário global de negócios continuará a<br />

ser volátil e incerto, mas a capacidade de<br />

adaptação, resiliência e visão estratégica<br />

permitirá que as empresas naveguem com<br />

sucesso pelos desafios que se apresentam.<br />

As decisões que tomarmos agora moldarão<br />

o futuro da profissão de compras por muitos<br />

anos. •<br />

CMY<br />

K


38<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Inteligência Artificial<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

TOP 10<br />

PLATAFORMAS<br />

DE IA GENERATIVA<br />

A revolução na otimização dos processos<br />

de procurement está em pleno andamento,<br />

com as plataformas de inteligência artificial<br />

generativa a liderarem este movimento.<br />

Através da aplicação de técnicas<br />

avançadas, estas plataformas refinam os<br />

dados relacionados com o procurement,<br />

resultando em estratégias verdadeiramente<br />

eficazes. Neste contexto, a Procurement<br />

Magazine listou as 10 melhores plataformas<br />

de IA generativa que podem ser utilizadas<br />

no setor.<br />

Num cenário de evolução acelerada dos<br />

processos de procurement, está a emergir<br />

uma nova onda de transformação,<br />

liderada pelas plataformas de Inteligência<br />

Artificial generativa. Desde a antecipação das<br />

necessidades até à gestão de relacionamentos<br />

com fornecedores, passando pela análise de<br />

contratos e deteção de fraudes, as plataformas<br />

de IA generativa estão a revolucionar<br />

profundamente as abordagens tradicionais. Ao<br />

explorarmos as suas diversas funcionalidades,<br />

desvendamos como estas inovações têm<br />

o potencial de criar ondas de eficiência e<br />

inteligência em cada etapa do processo. Por<br />

isso, convidamo-lo a juntar-se a nós e ficar a<br />

conhecer as 10 melhores plataformas de IA<br />

generativa no procurement.<br />

10. Basware<br />

A Basware consolidouse<br />

como a opção<br />

de eleição entre os<br />

líderes financeiros para<br />

automatizar processos de<br />

faturação complexos e intensivos em mãode-obra,<br />

com o intuito de atingir um novo<br />

nível de eficiência. No âmbito da inteligência<br />

artificial (IA) e do machine learning (ML), esta<br />

plataforma apresenta um leque alargado de<br />

vantagens ao longo do ciclo P2P. Desde a<br />

captação de faturas e extração de dados até à<br />

codificação e correspondência, a integração de<br />

IA e ML da Basware acrescenta valor aos


SCM Supply Chain Magazine 39


40<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

profissionais de procurement e finanças,<br />

ao agilizar os processos de processamento,<br />

minimizar a dependência de esforços manuais<br />

e eliminar erros.<br />

9. JAGGAER<br />

Empenhada em<br />

criar soluções que<br />

proporcionem o comércio<br />

mais inteligente,<br />

transparente e livre<br />

de obstáculos nos mercados que serve, a<br />

JAGGAER desempenha um papel ativo na<br />

indústria de procurement há mais de 25 anos.<br />

Quando o foco é a gestão de contratos de<br />

procurement, a JAGGAER oferece a ferramenta<br />

ideal. Impulsionado por IA, ML e tecnologia<br />

de reconhecimento ótico de caracteres (OCR),<br />

o 'JAGGAER Contracts AI' pode ser um valioso<br />

aliado para os profissionais de procurement<br />

em todas as etapas da jornada. Os benefícios<br />

do JAGGAER Contract AI incluem a redução dos<br />

custos do projeto, a gestão e compreensão de<br />

riscos e obrigações, a diminuição das perdas<br />

de receita e a otimização da velocidade e<br />

eficiência tanto na revisão de contratos quanto<br />

na agilidade das negociações.<br />

8. Globality<br />

Através do "Glo", uma<br />

tecnologia baseada em<br />

IA desenvolvida pela<br />

Globality, esta empresa<br />

está a facultar às<br />

principais organizações globais a capacidade<br />

de otimizar a forma como investem o seu<br />

capital, melhorando os lucros, promovendo a<br />

sua missão e ampliando o seu impacto. Esta<br />

tecnologia foi concebida para revolucionar<br />

o procurement autónomo, proporcionando<br />

uma 'experiência do utilizador encantadora',<br />

'inteligência' e 'perspetivas baseadas em<br />

dados'. Com o "Glo" como parceiro de<br />

IA, os profissionais de procurement são<br />

orientados cuidadosamente ao longo de cada<br />

etapa da jornada de procurement. Desde<br />

a delimitação precisa dos requisitos até à<br />

disponibilização imediata dos fornecedores<br />

mais adequados, passando pela oferta<br />

de insights para auxiliar na avaliação das<br />

propostas dos fornecedores, esta tecnologia<br />

capacita os utilizadores para tomarem as<br />

decisões mais acertadas.<br />

7. Zycus<br />

A Zycus otimizou a<br />

capacidade do seu<br />

software S2P com a<br />

Suite Merlin AI. A Merlin<br />

AI assume o controlo das<br />

tarefas táticas dos profissionais de compras<br />

e capacita os especialistas em compras e<br />

AP (accounts payable) a concentrarem-se<br />

em projetos mais estratégicos. De forma<br />

específica, o software de IA e automação<br />

Merlin AP é uma solução inteligente e de<br />

autoaprendizagem, que apresenta dois<br />

produtos únicos - o AP Smart Desk e o<br />

Invoice Reader. A combinação destes dois<br />

elementos proporciona uma produtividade<br />

otimizada, redução no tempo de resposta,<br />

maximização de poupanças e minimização de<br />

riscos relacionados com pagamentos para os<br />

seus utilizadores.<br />

6. Oracle Fusion Cloud<br />

Procurement<br />

Oferecendo aos<br />

profissionais de<br />

procurement uma<br />

suite source-to-settle<br />

integrada que automatiza os processos de


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

negócio, o Oracle Fusion Cloud Procurement<br />

permite aquisições estratégicas, melhora a<br />

gestão de relacionamento com fornecedores<br />

e simplifica a compra.<br />

As principais características do Oracle<br />

Fusion Cloud Procurement para melhorar a<br />

eficiência operacional incluem:<br />

· Compras e gestão de gastos simplificados;<br />

· Gestão de materiais diretos, serviços e<br />

aquisições complexas;<br />

· Aumento da agilidade com SRM (Supplier<br />

Relationship Management);<br />

· Entrega de maior valor através da<br />

aquisição estratégica;<br />

· Gestão do ciclo de vida dos contratos de<br />

fornecedores e conformidade;<br />

· Aumento do valor de negócio através de<br />

insights analíticos;<br />

· Melhoria da colaboração e produtividade<br />

dos fornecedores.<br />

5. Ivalua<br />

Acreditando nas<br />

capacidades<br />

revolucionárias da<br />

transformação digital<br />

para promover a<br />

sustentabilidade e resiliência da cadeia<br />

de abastecimento, com o intuito de<br />

desbloquear o poder da colaboração com<br />

fornecedores, a Ivalua destaca-se como<br />

uma fornecedora líder de soluções de<br />

gestão de despesas. Esta plataforma auxilia<br />

os clientes a gerir eficientemente todos<br />

os relacionamentos com fornecedores<br />

e gastos, disponibilizando insights para<br />

tomar decisões mais acertadas e rápidas,<br />

automação de forma a libertar capacidade<br />

para objetivos estratégicos e ferramentas<br />

de colaboração para envolver os<br />

fornecedores de forma eficaz.<br />

4. GEP<br />

A coesa abordagem<br />

da GEP na oferta de<br />

soluções, através da<br />

integração de estratégia,<br />

software e serviços<br />

geridos, empodera<br />

os clientes a alcançarem os seus objetivos<br />

estratégicos, operacionais e financeiros. A<br />

GEP desenvolveu um quadro abrangente de<br />

capacidades integradas em procurement,<br />

gestão de despesas e cadeia de abastecimento,<br />

abrangendo todas as fases e respondendo às<br />

necessidades singulares dos seus clientes.<br />

3. IBM Watson<br />

Orchestrate<br />

As prioridades<br />

empresariais estão a<br />

mudar a um ritmo cada<br />

vez mais acelerado.<br />

Para dar resposta às<br />

novas preferências dos clientes, é essencial<br />

contar com uma força de trabalho flexível. O<br />

trabalho contingente ajuda, mas encontrar<br />

e selecionar esses trabalhadores é uma<br />

tarefa a tempo inteiro. Com o Watson, pode<br />

investir menos tempo na seleção e mais<br />

tempo na execução. Esta aplicação é capaz de<br />

automatizar tarefas de procurement manuais,<br />

poupando à sua equipa um tempo valioso<br />

para planear iniciativas estratégicas e dar<br />

resposta às necessidades dos clientes. Ao<br />

usar competências avançadas de IA, o Watson<br />

pode compilar os requisitos dos principais<br />

stakeholders e, em seguida, operar dentro do<br />

seu sistema de gestão de fornecedores para<br />

abrir um pedido junto dos mesmos, a fim de<br />

encontrar candidatos qualificados e agendar<br />

entrevistas com os gestores de contratação.<br />

Assim, o Watson auxilia-o a agir


42<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

rapidamente, permitindo que satisfaça as<br />

exigências de competências do seu cliente no<br />

tempo definido.<br />

2. SAP Ariba<br />

O SAP Ariba é uma<br />

plataforma de<br />

procurement em nuvem<br />

desenvolvida pela SAP.<br />

Esta plataforma oferece<br />

uma variedade de soluções e serviços de<br />

procurement que auxiliam as organizações<br />

a gerir os seus processos de procurement,<br />

colaborar com fornecedores e otimizar as<br />

suas cadeias de abastecimento. O SAP Ariba<br />

proporciona uma solução escalável e flexível<br />

que pode ser adaptada para satisfazer as<br />

necessidades específicas de diferentes setores<br />

e organizações.<br />

Como pode ser observado, a IA está a ser<br />

utilizada de diversas formas para aprimorar<br />

o processo de procurement por parte dos<br />

principais intervenientes da indústria.<br />

Com uma taxa de adoção global de 35%<br />

(2022) - um aumento de quatro pontos em<br />

comparação com 2021 - fica claro que, num<br />

mundo impulsionado pela tecnologia, a IA<br />

veio para ficar e está em ascensão. Contudo, é<br />

importante sublinhar a constante relevância<br />

do conhecimento humano e do discernimento.<br />

Embora as plataformas de IA generativa<br />

ofereçam um apoio inestimável, elas<br />

constituem apenas uma parte do quadro geral,<br />

contribuindo para a nossa capacidade de julgar<br />

e tomar decisões. •<br />

1. Coupa<br />

A Coupa apresenta-se<br />

como uma plataforma<br />

em nuvem especializada<br />

na gestão de despesas,<br />

oferecendo uma<br />

ampla gama de soluções elaboradas para<br />

simplificar e automatizar os processos<br />

de procurement, faturação e gestão de<br />

despesas mais complexos. A plataforma<br />

engloba funcionalidades dedicadas não só<br />

ao procurement, despesas e faturação, como,<br />

também, sourcing, gestão de contratos,<br />

administração de fornecedores, análise,<br />

entre outras. Uma das suas características<br />

proeminentes é a Coupa AI Spend<br />

Classification, que revoluciona a tarefa manual<br />

de classificação por meio da aplicação de IA e<br />

ML. Isso culmina na padronização, classificação<br />

e enriquecimento das despesas nos sistemas<br />

de despesas e ERP.


44<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Automação<br />

Fonte: Supply Chain Brain<br />

AUTOMAÇÃO<br />

PODE COLMATAR<br />

FALTA DE MÃO<br />

DE OBRA<br />

A falta de mão de obra é um dos<br />

desafios que o mundo da supply chain<br />

deverá enfrentar durante os próximos<br />

anos. Entre algumas das soluções para<br />

este problema está a implementação<br />

de automação para manter os níveis de<br />

produtividade e eficiência dentro do<br />

armazém. Neste artigo apresentamos<br />

cinco estratégias para otimizar o<br />

ambiente de trabalho dos operadores<br />

de armazém através da tecnologia de<br />

automação.<br />

Um estudo da Korn Ferry, de 2018, aponta<br />

que a retenção de talento poderá<br />

enfrentar uma escassez de 85 milhões<br />

de trabalhadores até 2030, devido ao<br />

envelhecimento da população, mudanças<br />

demográficas e falta de skills. Este desafio<br />

reflete-se, em grande escala, nos operadores<br />

de armazém. Estima-se que até 2025,<br />

sejam necessários 3,5 milhões a mais de<br />

operadores logísticos, mas a escassez já está<br />

a ser sentida atualmente.<br />

Uma das soluções para colmatar não só<br />

esta lacuna, mas outras, é a automação.<br />

Ao automatizar os ambientes de trabalho,<br />

os operadores podem maximizar a<br />

produtividade e a segurança da força<br />

laboral, enquanto dão resposta às rápidas<br />

mudanças no mercado de trabalho.<br />

Existem cinco formas de os operadores<br />

tirarem melhor proveito da tecnologia de<br />

automação para transformar e otimizarem<br />

os seus ambientes de trabalho:


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

APROVEITAR SOLUÇÕES DE<br />

AUTOMAÇÃO FLEXÍVEIS PARA<br />

GARANTIR O FUTURO DAS<br />

OPERAÇÕES<br />

Muitas operações na área da distribuição<br />

têm a ambição de automatizar as suas<br />

operações, mas algumas complexidades<br />

inerentes ao processo podem interferir<br />

com a implementação. Ainda assim,<br />

há benefícios. Os sistemas autónomos<br />

evoluíram para alcançarem novos níveis de<br />

velocidade, fiabilidade e precisão. Soluções<br />

escaláveis, como sistemas de recuperação<br />

e armazenamento automático (AS/RS)<br />

são um bom ponto de partida para iniciar<br />

a implementação, uma vez que ajudam a<br />

melhorar a gestão de stock, bem como a<br />

maximizar o espaço do armazém, fazendo<br />

melhor uso do espaço vertical.<br />

Paletizadores e despaletizadores podem<br />

ser implementados para desmontar cargas<br />

de paletes automaticamente, permitindo<br />

executar a tarefa através de uma maior<br />

velocidade e otimizando os recursos de mão<br />

de obra.<br />

UTILIZAR ROBÔS PARA<br />

AUMENTAR A EFICIÊNCIA<br />

E SEGURANÇA DOS<br />

TRABALHADORES<br />

As empresas de robótica continuarão a<br />

inovar e a oferecer novas soluções para<br />

aliviar os encargos de trabalho no armazém.<br />

A alta procura fará com que este mercado<br />

cresça significativamente, e uma grande<br />

parte desse incremento será em torno<br />

de Robôs Móveis Autónomos (AMRs).<br />

Equipados com sensores avançados e visão<br />

computacional, os AMRs são capazes de<br />

navegar por espaços e realizar tarefas sem


46<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

a necessidade de rotas pré-definidas ou<br />

instruções pré-instaladas.<br />

Os AMRs podem, por exemplo, automatizar<br />

os carrinhos utilizados para recolher e<br />

devolver mercadorias. Os trabalhadores,<br />

assistidos por robôs, podem deixar os<br />

carrinhos em áreas designadas para a<br />

recolha e recuperá-los conforme necessário,<br />

reduzindo o tempo de mão de obra<br />

consumido para essa tarefa em específico.<br />

Ao automatizar tarefas manuais repetitivas,<br />

e melhorando a ergonomia, os AMRs podem,<br />

assim, aumentar a velocidade da linha,<br />

a produção e a produtividade em geral.<br />

Além disso, os operadores de armazém<br />

que utilizam AMRs e outras formas de<br />

automação para lidar com tarefas árduas,<br />

podem alocar o seu tempo para tarefas de<br />

valor acrescentado.<br />

FORNECER FERRAMENTAS<br />

NECESSÁRIAS PARA CONECTAR<br />

E EXECUTAR TAREFAS EM CHÃO<br />

DE FÁBRICA<br />

A utilização de ferramentas digitais no<br />

local de trabalho tem vindo a difundir-se<br />

em várias indústrias. Cerca de 80% dos<br />

trabalhadores utilizam agora ferramentas<br />

de colaboração e mensagens móveis em<br />

tempo real para atividades relacionadas<br />

com o trabalho. Estas ferramentas passaram<br />

de opcionais para essenciais, à medida que<br />

as cadeias de abastecimento dependem,<br />

cada vez mais, de funcionários que se<br />

deslocam constantemente para atingir<br />

metas de produtividade enquanto lidam com<br />

demandas dos clientes, e competição com os<br />

concorrentes.<br />

Muitos operadores de armazém já estão<br />

a adotar tecnologias mais avançadas para<br />

otimizar o seu trabalho. Por exemplo,<br />

os funcionários estão a substituir<br />

walkie-talkies por sistemas de voz e<br />

sistemas de comunicação por vídeo para<br />

comunicarem com os colegas de trabalho.<br />

Estas ferramentas permitem com que os<br />

trabalhadores se mantenham conectados e<br />

informados de forma rápida e eficaz, mesmo<br />

quando estão a operar em locais diferentes.<br />

IMPLEMENTAR AUTOMAÇÃO DE<br />

SOFTWARE PARA AUMENTAR A<br />

EFICIÊNCIA<br />

Os operadores de armazém dependem,<br />

cada vez mais, de softwares de automação<br />

para coordenar as suas atividades de forma<br />

eficiente. Duas soluções para digitalizar<br />

instalações são os sistemas de gestão de<br />

armazém (WMS) e os sistemas de execução de<br />

armazém (WES).<br />

As principais funções de um WMS passam<br />

por estabelecer processos eficazes de<br />

gestão de stocks, alocar mercadorias para o<br />

cumprimento de pedidos e fornecer uma visão<br />

precisa do stock. Já o WES desempenha um<br />

papel importante em orquestrar processos<br />

avançados de manuseio de materiais para<br />

dar resposta à crescente procura do comércio<br />

eletrónico.<br />

Embora grande parte da tecnologia física<br />

já esteja integrada no software de gestão<br />

e execução de armazém, ainda há trabalho<br />

a fazer para tornar cada robô e sistema de<br />

automação interoperáveis e coordenados<br />

a um nível de operação autónomo. Os<br />

softwares existem para fornecer uma visão<br />

abrangente das operações comerciais,<br />

suportar a análise e relatórios de dados e<br />

permitir com que as empresas identifiquem


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

tendências, otimizem os níveis de stock e<br />

meçam a saúde dos seus ativos.<br />

PONDERAÇÃO E PLANEAMENTO<br />

SÃO ESSENCIAIS<br />

A automação pode ajudar os operadores de<br />

armazém a superar os desafios relacionados<br />

com a mão de obra, mas para as empresas que<br />

estão agora a iniciar a transição tecnológica<br />

– ou para aquelas que ambicionam<br />

elevar os esforços atuais – o processo<br />

de implementação requer ponderação e<br />

planeamento.<br />

É importante perceber que as tecnologias<br />

avançadas de automação e robótica têm<br />

de ser integradas nos sistemas de software<br />

e controlo existentes de maneira perfeita,<br />

para alcançar o desempenho pretendido.<br />

Isso requer um investimento significativo em<br />

formação. Para garantir a implementação<br />

bem sucedida de soluções de automação,<br />

independentemente da fase em que a<br />

empresa esteja no que diz respeito à<br />

implementação da tecnologia, é aconselhável<br />

associar-se a um parceiro experiente que a<br />

possa integrar de forma adequada para obter<br />

o melhor retorno sobre o investimento. •


48<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

SUSTENTABILIDADE<br />

LG e o upcycling<br />

Texto: Dora Assis<br />

DO VELHO<br />

FAZ-SE NOVO<br />

Reaproveitamento, criatividade e<br />

respeito pelo ambiente são as principais<br />

características do upcycling, uma prática que<br />

consiste em dar uma nova utilidade a objetos<br />

e equipamentos que seriam descartados.<br />

É isso que a LG tem vindo a fazer: investir<br />

em novas soluções domésticas a partir de<br />

equipamentos antigos.<br />

Oconceito tem vindo a conquistar cada<br />

vez mais áreas de negócio e empresas<br />

que procuram com o upcycling otimizar<br />

o ciclo de vida de produtos, adotar hábitos<br />

sustentáveis de produção e estimular<br />

o desenvolvimento e consolidação da<br />

economia circular.<br />

Todos os anos, milhões de equipamentos<br />

elétricos e eletrónicos chegam ao fim da sua<br />

vida útil e são descartados. Os equipamentos<br />

elétricos e eletrónicos são todos aqueles que<br />

podem ligar-se a uma tomada de eletricidade<br />

ou que funcionam com uma pilha. Do simples<br />

ferro de engomar à máquina de lavar roupa,<br />

passando por telemóveis, computadores<br />

portáteis, fornos micro-ondas ou relógios,<br />

todos pertencem a esta família.<br />

Os números dos resíduos de equipamentos<br />

elétricos e eletrónicos (REEE), calculados<br />

pelo Global E-Waste Monitor, um programa<br />

da ONU, poderão aclarar mais o tema: em<br />

2019 foi gerado um recorde de 53,6 milhões


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

de toneladas destes resíduos em todo o<br />

mundo, um acréscimo de 21% em apenas<br />

cinco anos. As previsões indicam que em<br />

2030 se atinja 74 milhões de toneladas<br />

de REEE descartados, quase o dobro, em<br />

apenas 16 anos. Isto faz dos REEE o fluxo<br />

de resíduos de crescimento mais rápido<br />

do mundo, alimentado principalmente<br />

por maiores taxas de consumo destes<br />

equipamentos, ciclos de vida curtos e poucas<br />

opções de reparação.<br />

Junte-se a este cenário o fraco<br />

reaproveitamento destes equipamentos ao<br />

nível europeu – apenas 35% destes resíduos<br />

são recolhidos e enviados para reciclagem.<br />

Os restantes 65% são exportados, reciclados<br />

em condições não conformes ou ilegais<br />

ou ainda enviados para eliminação final<br />

juntamente com os resíduos comuns,<br />

para além dos que são mantidos pelos<br />

consumidores, mesmo que já não estejam a<br />

ser utilizados.<br />

No entanto, a sua história não precisa<br />

de terminar aí. Através de processos<br />

e tecnologias transformadoras, estes<br />

dispositivos podem renascer como novos<br />

equipamentos, oferecendo recursos e uma<br />

performance adaptados às necessidades<br />

e preferências dos consumidores atuais.<br />

É nisso que a LG tem vindo a apostar,<br />

explorando formas de transformar os<br />

eletrodomésticos antigos em soluções de<br />

lifestyle atualizadas e ambientalmente<br />

conscientes.<br />

URBAN MINING A PARTIR<br />

DO DESCARTADO<br />

Urban Mining, ou mineração urbana,<br />

significa extrair recursos valiosos dos<br />

eletrodomésticos descartados. O processo<br />

envolve a recuperação e triagem de<br />

qualquer matéria-prima que possa ser<br />

utilizada na criação de novos produtos.


50<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

Ao contrário da incineração – um destino que<br />

recai sobre muitos equipamentos em fim de<br />

vida –, esta ação ajuda a reduzir as emissões de<br />

carbono e a prevenir a poluição ambiental.<br />

Através do urban mining, a LG extrai vários<br />

materiais diferentes de eletrodomésticos<br />

descartados (incluindo plástico, ferro e metais<br />

não ferrosos) e utiliza-os na produção de novas e<br />

avançadas ofertas.<br />

NOVA VIDA PARA O VELHO<br />

Desde o final de 2021, a LG tem vindo a<br />

implementar programas de circulação de<br />

recursos num total de 52 países em todo o<br />

mundo, como parte dos seus amplos esforços<br />

no combate às emissões de gases com efeito<br />

de estufa. No LG Recycling Center da LG, na<br />

Coreia do Sul, que iniciou a sua operação<br />

em 2001, as matérias-primas são recolhidas<br />

a partir de eletrodomésticos descartados e<br />

meticulosamente classificadas e processadas<br />

antes de serem transformadas em componentes<br />

de eletrodomésticos “novos”, “frescos” e<br />

ecologicamente responsáveis.<br />

Para isso, o LG Recycling Center cumpre<br />

quatro passos que possibilitam transformar<br />

os eletrodomésticos antigos em peças de alta<br />

qualidade para novos produtos.<br />

PASSO 1 | RECOLHA:<br />

Os eletrodomésticos usados, como frigoríficos,<br />

máquinas de lavar e equipamentos de ar<br />

condicionado, são recolhidos e transportados<br />

para o centro.<br />

PASSO 2 | DESMANTELAMENTO:<br />

Os equipamentos são desmontados e os<br />

componentes são triturados para atingir uma<br />

dimensão consistente.<br />

PASSO 3 | TRIAGEM E PROCESSAMENTO:<br />

Após a triagem dos materiais de ferro,<br />

alumínio, cobre e plástico, os plásticos<br />

passam por um processo adicional em que<br />

são transformados em pellets, um recurso<br />

conveniente e renovável para a produção de<br />

peças e produtos de plástico.<br />

PASSO 4 | RENASCIMENTO:<br />

Os pellets são derretidos e transformados em<br />

peças plásticas para utilização na produção de<br />

novos eletrodomésticos LG.<br />

O PAPEL DOS PLÁSTICOS<br />

RECICLADOS<br />

Os plásticos reciclados desempenham um papel<br />

importante ao dar vida aos eletrodomésticos<br />

da LG, incluindo os recém-lançados LG Styler<br />

ShoeCare e ShoeCase. O purificador de ar<br />

LG PuriCare AeroFurniture e o LG tiiun mini,<br />

que existem numa grande variedade de cores<br />

vibrantes para animar a casa, também utilizam<br />

plásticos reciclados. Utilizados na construção dos<br />

exteriores de ambos os produtos, esses materiais<br />

reaproveitados contribuem para o aspeto<br />

estético das inovações da LG e ajudam a reduzir<br />

o consumo de recursos, bem como o desperdício.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

UM CICLO VIRTUOSO CONTÍNUO<br />

A LG adotou totalmente uma abordagem de<br />

Sustainable Cycle, criando uma consciência<br />

ecológica em todas as fases do ciclo de vida do<br />

eletrodoméstico, desde a produção e utilização<br />

até à sua reciclagem. A empresa continua<br />

a utilizar materiais reciclados extraídos e<br />

processados no CRC na produção de novos<br />

eletrodomésticos – que, por si só, minimizam o<br />

consumo de energia e as emissões, sendo eles<br />

próprios altamente recicláveis. Desta forma,<br />

a LG criou um ciclo virtuoso que beneficia<br />

simultaneamente o planeta e os consumidores.<br />

Aumentando ainda mais os seus esforços,<br />

a LG planeia atingir um total cumulativo de<br />

600 mil toneladas de plásticos reciclados<br />

(para a produção de componentes de<br />

eletrodomésticos) até ao início da próxima<br />

década. A meta ambiciosa é definida no Better<br />

Life Plan 2030 da empresa e faz igualmente<br />

parte da estratégia mais ampla da LG para<br />

alcançar a neutralidade carbónica.<br />

Também até 2030, a LG estima ter recuperado<br />

oito milhões de toneladas de eletrodomésticos<br />

em fim de utilização para extração de materiais<br />

para reciclagem. Ao implementar iniciativas<br />

como a recolha adequada de produtos em fim<br />

de vida e a extração de materiais de produtos<br />

descartados, a fabricante de equipamentos cria<br />

novas soluções, mostrando que o upcycling é<br />

um caminho possível e com vantagens óbvias<br />

para o planeta.<br />

SABIA QUE…<br />

1 tonelada de cobre é suficiente para<br />

fabricar mais de 60 mil telemóveis.<br />

O alumínio de um ferro de engomar<br />

é suficiente para produzir 13 latas de<br />

refrigerantes.<br />

1 tonelada de cádmio pode servir para o<br />

fabrico de cerca de 750 painéis fotovoltaicos. •


52<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

Texto: Dora Assis<br />

“PORTUGAL TEM<br />

UMA LOCALIZAÇÃO<br />

MUITO BOA PARA<br />

O SETOR DA<br />

LOGÍSTICA”<br />

Green Logistics é a marca do Aquila<br />

Group para a área da logística. Depois<br />

do já concluído Rainha Green Logistics<br />

Park, na Azambuja, em Paredes já<br />

arrancou a construção do Gandra<br />

North Green Logistics Park, o terceiro<br />

investimento estratégico do grupo na<br />

área da logística em Portugal, tendo a<br />

sustentabilidade como pano de fundo.<br />

Jens Höper , diretor de Logística de Gestão de Investimentos da Aquila Sustainable Infrastructure<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Green Logistics<br />

H<br />

öper é alemão mas tem Lisboa na sua<br />

agenda, onde passa uma boa parte do<br />

seu tempo, pois é o diretor de Logística<br />

de Gestão de Investimentos da Aquila<br />

Sustainable Infrastructure e a conversa foi<br />

em inglês, porque a língua de Camões ainda é<br />

um desafio. Pode não dominar a língua, mas é<br />

tu cá, tu lá com as necessidades do setor em<br />

termos de infraestruturas logísticas e não tem<br />

dúvidas sobre o potencial de Portugal nesse<br />

campo. A burocracia é que nem sempre ajuda.<br />

SCM - O que torna Portugal e o sul da Europa,<br />

Espanha e Itália, tão interessantes para a Aquila<br />

Sustainable Infrastructure e qual é o potencial de<br />

Portugal para projetos imobiliários industriais e<br />

logísticos?<br />

> Jens Höper - Quando começámos a investir<br />

nestes mercados, olhámos para o todo e vimos<br />

que em comparação com o centro da Europa,<br />

eram países que estavam menos desenvolvidos<br />

no que diz respeito ao comércio eletrónico.<br />

Em cerca de quatro ou cinco anos, assistimos<br />

ao desenvolvimento dos mercados da Europa<br />

Central em termos de comércio eletrónico e<br />

o que isso significava para a logística e para o


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

desenvolvimento de infraestruturas logísticas.<br />

Portanto, vimos esse potencial, analisámos<br />

a oferta, o que estava efetivamente no<br />

mercado, qual a procura e percebemos que se<br />

colocássemos novos produtos no mercado com<br />

fortes preocupações de sustentabilidade, com<br />

as dimensões e todas as características que<br />

um novo centro logístico deve ter para receber<br />

operações onde se podem desenvolver processos<br />

logísticos eficientes, a procura seria grande.<br />

E, basicamente, o que se vê no mercado neste<br />

momento é um grande movimento. É verdade<br />

que muitos promotores imobiliários também<br />

desapareceram durante a crise de 2010-2015,<br />

em que praticamente não houve investimentos<br />

por parte dos promotores. Todas as empresas<br />

de logística tiveram de construir por si próprias.<br />

Estas foram as razões que nos levaram a olhar<br />

para o sul da Europa como mercados apetecíveis,<br />

especialmente Portugal.<br />

O Rainha Green Logistics Park está pronto. E o<br />

Magalhães, em Torres?<br />

> É basicamente um investimento que foi<br />

feito pelo fundo e era um ativo já existente que<br />

achámos que era uma boa mais-valia para o<br />

fundo e para os seus investidores. É também uma<br />

boa localização na nossa perspetiva, em termos<br />

de servir o mercado de Lisboa. Para nós, Lisboa<br />

e Porto são os mercados mais estratégicos em<br />

Portugal. E, se olharmos para o mapa de Lisboa,<br />

já tínhamos um na zona oriental, agora estamos<br />

também na zona norte. Para nós, é como um<br />

complemento adicional no mercado e foi essa a<br />

razão. É um produto mais pequeno, porque não<br />

está no eixo principal, como a Azambuja. Mas<br />

gostámos e o prazo de arrendamento também<br />

era longo.<br />

O setor imobiliário industrial e logístico<br />

tem estado no centro das atenções devido ao<br />

aumento do comércio eletrónico, como referiu, à<br />

importância crescente da segurança das cadeias<br />

de abastecimento, falta de espaços, questões de<br />

sustentabilidade. Quais são os próximos grandes<br />

desafios e obstáculos que a Aquila Capital irá<br />

enfrentar no futuro próximo?<br />

> No caso de Portugal, o principal obstáculo<br />

é o tempo de alguns processos e trâmites<br />

administrativos relacionados com licenciamentos.<br />

Mesmo que se tenha o apoio total do município,<br />

este tem de seguir regulamentos muito rigorosos,<br />

pesados e morosos. Há uma série de obstáculos<br />

que têm de ser ultrapassados e, por vezes,


54<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

pode-se mesmo chegar a um impasse e a uma<br />

situação em que já não se consegue avançar de<br />

todo, depois de se ter investido muito tempo e<br />

também muito dinheiro. Por isso, é preciso ter<br />

muito cuidado com o local que se escolhe para o<br />

desenvolvimento dos projetos.<br />

O principal obstáculo que vê é a burocracia?<br />

> É um obstáculo porque se colocarmos o<br />

dinheiro no cavalo errado, ou seja, se investirmos<br />

no terreno errado e nos depararmos com toda<br />

aquela morosidade que referi podemos perder<br />

ímpeto. Porque se não formos capazes de<br />

desenvolver o projeto no tempo que estávamos<br />

à espera, por vezes chega-se ao ponto de<br />

perdermos o cliente, a empresa de logística.<br />

Também eles precisam de avançar e de alargar<br />

as suas operações e se nós não conseguimos<br />

corresponder é complicado.<br />

Como é que encara a necessidade de<br />

soluções para a entrega na última milha, que é<br />

uma tendência em toda a Europa, bem como a<br />

falta de espaços?<br />

> Quanto mais nos aproximamos do centro<br />

da cidade, mais difícil se torna criar este tipo<br />

de espaços logísticos de última milha, porque<br />

os regulamentos tornam-se mais apertados e<br />

como lhe referia é tudo mais complicado do<br />

ponto de vista administrativo. Acredito que se<br />

fôssemos um pouco mais rápidos a desenvolver<br />

e construir essas soluções, também poderíamos<br />

resolver muitos dos atuais problemas de<br />

tráfego. Em vez de termos, por exemplo,<br />

camiões vindos da Azambuja a tentar fazer<br />

entregas na cidade, penso que é melhor ter<br />

centros, espaços logísticos mais pequenos, com<br />

áreas de 5 mil metros quadrados, viabilizando<br />

entregas com carrinhas mais pequenas, ou<br />

mesmo com bicicletas elétricas e outro tipo de<br />

veículos. Termos estas instalações logísticas<br />

de última milha mais próximas da cidade é<br />

fundamental.<br />

E sobre os próximos passos e investimentos<br />

da Aquila aqui em Portugal e no sul da Europa?<br />

> Especialmente para Portugal, devo dizer que<br />

estamos à procura de uma localização logística,<br />

de locais com boas acessibilidades, e também<br />

de centros de transporte muito próximos, como<br />

portos, caminhos-de-ferro, de modo a reduzir


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

a pegada ecológica. Para nós, Portugal está a<br />

tornar-se cada vez mais importante, e vejo que<br />

muitas empresas estão a repensar a sua cadeia<br />

de abastecimento, tornando-se um pouco menos<br />

dependentes da região da Ásia e aproximandose<br />

da Europa. Olhando para o mapa e olhando<br />

também para a cooperação e colaboração com a<br />

América do Norte e os mercados da América do<br />

Sul, vejo Portugal como o primeiro país europeu<br />

desse lado, e vejo muito potencial. É por isso que<br />

continuamos à procura de novos investimentos:<br />

Portugal tem uma localização muito boa para o<br />

setor da logística.<br />

Então, por exemplo, o Porto de Sines seria<br />

interessante, pensando nos mercados da<br />

América do Norte e da América do Sul?<br />

> É um mercado interessante, especialmente<br />

se pensarmos em vir do lado americano,<br />

uma vez que para Barcelona precisamos<br />

provavelmente de mais dois ou três dias de<br />

barco, e é a mesma distância de Barcelona<br />

a Madrid do que de Lisboa a Madrid. Poder<br />

utilizar um comboio a partir de Lisboa ou<br />

mesmo de Sines… vejo vantagens para essa<br />

zona, claro. Acredito muito nessa localização.<br />

Como é um porto de águas profundas, e<br />

tanto quanto sei, também já estão a falar de<br />

expansão dos terminais. Por isso, há um grande<br />

interesse também por parte das companhias de<br />

navegação e vejo aí um grande potencial.<br />

Se pudesse passar uma mensagem a<br />

fabricantes, retalhistas e empresas de logística<br />

sobre o futuro do imobiliário logístico e o papel<br />

que vocês querem ter nesta área de negócio,<br />

qual seria?<br />

> Incidiria nas questões da sustentabilidade.<br />

Têm que estar mais abertos a coisas novas<br />

e sustentáveis. Já se começa a notar um<br />

movimento de mudança, mas não é fácil trazer<br />

novos conceitos e novos materiais para o setor<br />

da logística. Por exemplo, uma estrutura em<br />

madeira gera desconfiança e preocupação<br />

e alguns clientes pensam: “é a mesma coisa<br />

que o betão? Responde da mesma maneira?<br />

Parece diferente”. As pessoas ainda não estão<br />

habituadas, mas deviam estar mais abertas a<br />

novas soluções. Ainda falta muito, mas havemos<br />

de lá chegar. •


56<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Parceria<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

TRADIÇÃO EM<br />

SABOR, INOVAÇÃO<br />

EM EFICIÊNCIA<br />

A Casa do Aido tem revolucionado a sua<br />

operação através da implementação<br />

da tecnologia EDI (Intercâmbio<br />

Eletrónico de Dados) e da Fatura<br />

Eletrónica da Generix. Com uma<br />

tradição familiar que remonta a 1957, a<br />

empresa transformou-se num sucesso<br />

moderno, produzindo cerca de 500 mil<br />

ovos e colaborando com gigantes de<br />

distribuição como a Sonae, o El Corte<br />

Inglés e o Pingo Doce.<br />

N<br />

o seu início, a Casa do Aido contava apenas<br />

com um pequeno grupo de 200 galinhas<br />

e um processo de produção simples. Com<br />

o passar das décadas, a empresa expandiu-se<br />

significativamente e, atualmente, abriga cerca<br />

de 500 mil galinhas em aviários dispersos por<br />

várias regiões do país, conquistando parcerias<br />

com as maiores empresas de distribuição de<br />

Portugal, incluindo nomes de destaque como<br />

Sonae, El Corte Inglés e Pingo Doce. Um marco<br />

notável nesta jornada foi a transformação<br />

do seu Centro de Inspeção e Classificação de<br />

Ovos, que evoluiu de processar 30 caixas por<br />

hora, à data de 2014, para 300 caixas por hora.<br />

Essa evolução não teria sido possível sem a<br />

parceria com a Generix e a implementação<br />

do projeto EDI. Por meio deste, os processos<br />

de distribuição e logística da Casa do Aido<br />

foram redefinidos, eliminando as burocracias<br />

anteriormente associadas aos pedidos de<br />

encomendas das grandes redes de distribuição.<br />

Esta colaboração não só simplificou as<br />

transações eletrónicas de faturas como<br />

também estabeleceu uma ligação vital entre a<br />

empresa e os seus clientes.


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

INTEGRAÇÃO BEM SUCEDIDA<br />

Foi em 2013 que se deu início ao projeto de<br />

Implementação de Intercâmbio Eletrónico<br />

de Dados (EDI) e Faturação Eletrónica<br />

na Casa do Aido. Com o propósito de<br />

aprimorar a eficácia da comunicação com<br />

líderes de mercado, a integração bemsucedida<br />

destas tecnologias no software<br />

de gestão da empresa resultou numa<br />

comunicação mais estruturada e eficiente.<br />

Para além disso, a empresa passou a<br />

ter uma logística mais eficaz por meio<br />

da ágil comunicação de encomendas,<br />

otimizando o planeamento das operações<br />

de distribuição. A transição para a transação<br />

eletrónica reduziu erros associados a<br />

processos manuais, minimizando perdas<br />

de receita devidas a equívocos nas datas<br />

de entrega ou quantidades encomendadas.<br />

Já a desmaterialização de documentos<br />

e a introdução de faturas eletrónicas<br />

conduziram a uma notável redução nos<br />

custos ligados a papel, impressão, selagem<br />

e envio de documentos.<br />

DA INSPEÇÃO À ENTREGA<br />

Adotando um processo rigoroso de inspeção,<br />

classificação e embalamento, os ovos da<br />

Casa do Aido chegam ao Centro de Inspeção<br />

e Classificação a cada dois dias. Este centro<br />

também é o ponto de entrada das novas<br />

encomendas provenientes das operadoras<br />

de distribuição. Nesta etapa, considerando<br />

o volume e a tipologia dos ovos produzidos,<br />

as quantidades são alocadas às encomendas<br />

dos clientes. “A partir daí, emitimos a guia<br />

de remessa e mandamos toda a informação,<br />

via EDI, para o cliente, mantendo as faturas<br />

todas eletrónicas”, explicou Luís Almeida<br />

e Costa, administrador da Casa do Aido.<br />

“Antigamente, as encomendas e faturamento<br />

eram processos demorados. Atualmente, é<br />

tudo muito rápido. Passamos a trabalhar<br />

com arquivos (em vez de documentos e<br />

faturas em papel) e sabemos logo qual será<br />

o valor de faturamento e quando vamos<br />

receber. Não temos que fazer contas. Desde<br />

que o sistema foi implementado, é tudo<br />

muito fluido. Não nos dá preocupações


58<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

Principais números<br />

nenhumas", acrescentou o responsável.<br />

Numa era em que a tecnologia impulsiona<br />

a eficiência operacional, a Casa do Aido<br />

destaca-se como um notável exemplo de<br />

como a adoção de soluções como o EDI e<br />

a Faturação Eletrónica pode revolucionar<br />

processos e fomentar o crescimento<br />

em setores tradicionais. Ao agilizar a<br />

comunicação de encomendas, o projeto<br />

proporcionou à Casa do Aido um maior<br />

controlo, previsibilidade e rastreabilidade<br />

para pedidos e faturas, demonstrando como<br />

a tecnologia pode fortalecer os alicerces de<br />

negócios sólidos e em expansão. •


60<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Gartner<br />

Fonte: Gartner<br />

AS TENDÊNCIAS<br />

TECNOLÓGICAS<br />

DAS SUPPLY CHAINS<br />

PARA <strong>2023</strong><br />

A Gartner concluiu numa pesquisa que,<br />

em <strong>2023</strong>, 73% do orçamento médio de<br />

Tecnologias de Informação (TI) da cadeia<br />

de abastecimento será alocado às áreas de<br />

crescimento e desempenho. Assim, durante<br />

o Garnter Supply Chain Symposium/XPO, a<br />

consultora apresentou aquelas que serão as<br />

oito principais tendências tecnológicas das<br />

cadeias de abastecimento que irão atrair<br />

grande parte deste investimento.<br />

Àmedida que as organizações colocam<br />

maior ênfase na gestão da cadeia de<br />

abastecimento, os chief supply chain<br />

officers (CSCOs) pretendem aproveitar<br />

a oportunidade coletiva de investir em<br />

crescimento através de novos investimentos<br />

em tecnologia, segundo a Gartner.<br />

Numa pesquisa com 499 líderes de<br />

cadeias de abastecimento, realizada de<br />

outubro a dezembro de 2022, na América<br />

do Norte, América Latina, Europa Ocidental<br />

e região Ásia/Pacífico, 65% dos inquiridos<br />

esperam que seja mais fácil financiar<br />

novos investimentos em tecnologia, com,<br />

em média, 73% dos orçamentos de TI das<br />

cadeias de abastecimento a serem alocados a<br />

crescimento e desempenho, este ano.<br />

Simon Jacobson, vice-presidente analista<br />

na área de supply chain da Gartner, afirma<br />

que “os últimos três anos de incerteza<br />

tornaram ténue a linha entre os negócios e a<br />

tecnologia ao ponto de serem consideradas<br />

juntas”, acrescentando ainda que “os líderes<br />

das cadeias de abastecimento devem


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

entender as tecnologias estratégicas,<br />

disruptivas e inevitáveis, uma vez que<br />

que irão impactar os seus processos de<br />

planeamento para os próximos cinco anos”.<br />

O responsável aponta três motivaçõeschave<br />

entre os líderes que podem ajudar<br />

a categorizar as oito principais tendências<br />

tecnológicas da cadeia de abastecimento<br />

que irão receber um investimento<br />

significativo, este ano: gerar novas formas de<br />

engagement, otimizar visando a resiliência,<br />

e incremento do desempenho que permite<br />

com que a tecnologia seja entregue em<br />

qualquer lugar e em qualquer momento.<br />

ACTIONABLE AI<br />

(ACIONÁVEL IA)<br />

A IA Acionável<br />

apresenta soluções<br />

baseadas em dados de<br />

experiências passadas<br />

para se adaptar às circunstâncias atuais.<br />

Consiste numa derivação da Inteligência<br />

Artificial, mas em vez de apenas gerar<br />

informações com base numa instrução,<br />

apresenta soluções para o futuro com base<br />

nos problemas indicados.<br />

OPERAÇÕES<br />

INTELIGENTES<br />

As operações<br />

inteligentes alargam o<br />

conceito pré-existente<br />

de manufatura<br />

inteligente, para abranger todas as capacidades<br />

operacionais principais, como manufatura,<br />

serviços e logística, transporte e comércio<br />

global. Isso envolve a gestão de diferentes<br />

processos, de sistemas e dados subjacentes<br />

que os suportam. Enquanto a manufatura<br />

está na frente no que diz respeito à procura<br />

de operações inteligentes, as empresas de<br />

logística já estão a abraçar o potencial desta<br />

ideia para transformar os seus negócios.


62<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

OTIMIZAÇÃO DE<br />

ATIVOS MÓVEIS<br />

A otimização de ativos<br />

móveis faz uso dos<br />

ativos móveis de uma<br />

empresa combinando<br />

softwares de processos de negócios,<br />

tecnologias sensoriais e técnicas de<br />

pesquisa operacional visando a otimização<br />

e inteligência dos negócios. De uma forma<br />

geral, este processo tem como objetivo<br />

maximizar a eficiência e desempenho de<br />

recursos móveis para o sucesso do negócio,<br />

tendo implicações dentro do armazém,<br />

onde robôs inteligentes estão agora a<br />

receber mais atenção e investimento. Fora<br />

do armazém, as plataformas de visibilidade<br />

relativas ao transporte podem mostrar, em<br />

tempo real, a atividade e capacidade dos<br />

transportadores, melhorando a colaboração<br />

entra ele e operadores logísticos.<br />

PLATAFORMAS<br />

CLOUD NA<br />

INDÚSTRIA<br />

As plataformas<br />

cloud da indústria<br />

combinam Software<br />

as a Service (SaaS), Platform as a Service<br />

(PaaS), e Infrastructure as a Service (IaaS),<br />

com funcionalidades específicas para casos<br />

verticais da indústria. Fazem-no não como<br />

soluções Saas verticias pré-definidas, mas<br />

sim como plataformas ágeis suportadas<br />

por uma série de capacidades específicas<br />

da indústria. Na prática, transformam uma<br />

plataforma cloud, numa plataforma de<br />

negócios, e expandem uma ferramenta de<br />

inovação tecnológica numa ferramenta de<br />

inovação de negócios.<br />

FORTALECER O<br />

ENGAGEMENT<br />

ENTRE<br />

FUNCIONÁRIOS<br />

O engagement<br />

dos funcionários é<br />

considerada uma estratégia para ajudar<br />

as empresas a melhorar o desempenho,<br />

a satisfação e a retenção dos seus ativos.<br />

Esta tendência visa promover uma<br />

realidade mista, com dispositivos móveis<br />

para fornecer conteúdo que aprimora o<br />

trabalho, componentes para segurança,<br />

ferramentas de colaboração, entre outras.<br />

Estes investimentos em tecnologia precisam<br />

de estar ancorados a uma estratégia de<br />

força de trabalho mais ampla que promova<br />

conhecimento, desenvolvimento de skills e<br />

formação.


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

COMPOSABLE<br />

APPLICATION<br />

ARCHITECTURE<br />

Este conceito refere-se<br />

a um processo em que<br />

se juntam diferentes<br />

componentes ou serviços para criar<br />

funcionalidades ou adaptações específicas.<br />

Estas aplicações são desenhadas com base<br />

nos princípios de modularidade, autonomia,<br />

instrumentalização e descoberta, aplicadas a<br />

um caso específico.<br />

SUPPLY<br />

CHAINS CIBER-<br />

RESILIENTES<br />

À medida que as supply<br />

chains implementam<br />

tecnologias mais avançadas, vão também<br />

adicionando parceiros, fornecedores e<br />

prestadores de serviços à sua supply<br />

chain digital. No entanto, cada adição de<br />

uma entidade externa à empresa digital,<br />

representa uma conectividade digital<br />

adicional, e aumenta as vulnerabilidades e<br />

riscos de cibersegurança. A cibersegurança<br />

representa as ferramentas, processos e<br />

métodos de governance que são necessários<br />

para mitigar riscos causados pela extrema<br />

heterogeneidade das tecnologias da supply<br />

chain, e dos seus participantes.<br />

SERVIÇOS DE<br />

INTEGRAÇÃO DA<br />

SUPPLY CHAIN<br />

Os serviços de<br />

integração da supply<br />

chain abrangem plataformas de tecnologia,<br />

equipas de integração, tomadas de decisão<br />

estratégicas sobre quais, as aplicações<br />

a conectar, quando e como (diferentes<br />

estratégias de integração), e, finalmente,<br />

serviços em cloud para gerir essas integrações.<br />

Estes serviços elevam o papel da integração<br />

através de uma visão tática, centrada na<br />

execução técnica da interoperabilidade do<br />

sistema para uma visão estratégica de um<br />

muito mais interconectado. •


64<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTES<br />

Orcelle Wind


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Texto: Ana Paiva<br />

AO SABOR<br />

DO VENTO<br />

A Volvo Cars envolveu-se, juntamente com<br />

outras 11 empresas, num projeto pioneiro que<br />

visa criar um navio de transporte de veículos<br />

movido a energia eólica: o Orcelle Wind. Uma<br />

das grandes vantagens da embarcação é a<br />

redução das emissões até 90% em relação<br />

aos transportes mais modernos. Espera-se<br />

que esteja viável para utilização até 2027.<br />

Este projeto insere-se num plano ambiental<br />

da fabricante sueca que visa atingir a<br />

neutralidade climática até 2040.<br />

Na área da logística, o segmento do<br />

transporte é um dos meios que mais polui<br />

a atmosfera, seja o transporte terrestre,<br />

aéreo ou marítimo. Ainda assim, muitas<br />

empresas especializadas nesta área estão<br />

a reunir esforços para reduzir a sua pegada<br />

ambiental e, assim, descarbonizar o setor. No<br />

caso do transporte marítimo, um dos meios<br />

que mais produz CO2, já é possível observar-se<br />

alguma consciencialização do problema e um<br />

grande foco em arranjar soluções.<br />

O Orcelle Wind, criado pela Wallenius<br />

Wilhemsen, é um navio de transporte de<br />

veículos exclusivamente movido a energia<br />

eólica, que faz parte do conceito Oceanbird,<br />

cujo propósito é, precisamente, criar<br />

embarcações que não sejam movidas por<br />

nenhum tipo de combustível fóssil, mas sim<br />

energia eólica. Pretende-se que os navios<br />

sejam capazes de transportar mais de 7.000<br />

automóveis e que possam começar a ser<br />

utilizados até 2027.<br />

A Volvo Cars embarcou neste projeto, e está<br />

responsável por analisar as suas necessidades<br />

de transporte para veículos elétricos, e está<br />

também a contribuir para o design da cadeia<br />

de fornecimento. Este projeto está enquadrado<br />

num “plano ambicioso” da marca para atingir<br />

a neutralidade climática até 2040, que está<br />

dividido em três pilares.<br />

O primeiro está relacionado com a ação<br />

climática, uma vez que pretende tornar-se<br />

um fabricante de automóveis totalmente<br />

elétrico até 2030. No entanto, querem ir mais<br />

além. “Abordaremos as emissões de CO2 na<br />

nossa própria cadeia de abastecimento com<br />

o objetivo de reduzir a pegada de carbono<br />

do ciclo de vida por veículo em 40% entre<br />

2018 e 2025” afirma à Supply Chain Magazine<br />

uma fonte da Volvo Cars Sustainability,<br />

acrescentando ainda que


66<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

“no geral, é necessário abordar as emissões de<br />

escape dos produtos, as emissões da cadeia<br />

de abastecimento e, em seguida, as emissões<br />

operacionais, como a logística e o transporte”.<br />

O segundo pilar visa a economia circular,<br />

em que a empresa pretende maximizar a<br />

eficiência dos recursos em todos os veículos,<br />

componentes e materiais, eliminando o<br />

desperdício, fazendo maior uso de material<br />

reciclado e remanufatura, e reutilização de<br />

peças. “Estamos a considerar todo o ciclo de<br />

vida de um veículo e como maximizar o valor<br />

entregue ao longo desse tempo. Quando o<br />

ciclo acaba, o processo de desmontagem e<br />

reciclagem pode fornecer matérias-primas<br />

de alta qualidade e em quantidade”, indica<br />

a marca. Por último, concentra-se ainda em<br />

negócio éticos e responsáveis. “Estamos<br />

focados na rastreabilidade e transparência<br />

em todo o processo de fornecimento de<br />

componentes e materiais”.<br />

A decisão de se envolver num projeto como<br />

o Orcelle Wind, está ligada ao seu esforço<br />

em ter um papel ativo na sustentabilidade<br />

das suas operações, uma vez que “ter uma<br />

gama de modelos totalmente elétricos não é<br />

suficiente para alcançar os objetivos”. Desta<br />

forma, “precisamos abordar a cadeia de<br />

abastecimento e logística, que são cruciais<br />

para mover carros em todo o mundo, da fábrica<br />

para o cliente”, explica a fonte da Volvo Cars<br />

Sustainability.<br />

ORCELLE WIND<br />

Este é o primeiro navio do mundo criado<br />

para o transporte internacional de carros<br />

e camiões rol-on-roll-off (RoRo), movido<br />

a energia eólica. “O navio não precisa de<br />

queimar nenhum combustível fóssil para<br />

propulsão e, em vez disso, aproveita o vento<br />

para atravessar o oceano e, assim, transportar<br />

carros da fábrica para mercados em todo o<br />

mundo”, indica a Volvo Cars Sustainability<br />

que aponta como “um grande benefício” a não<br />

queima de combustíveis fósseis, pois contribui<br />

para os gases com efeito estufa. Além deste,<br />

há ainda outra vantagem: “a redução do ruído<br />

subaquático e das vibrações da cavitação do<br />

propulsor reduzirá o stress sobre os mamíferos<br />

marinhos que dependem da ecolocalização<br />

para navegar e encontrar alimentos”.<br />

O navio está equipado com seis Oceanbird<br />

Wings (velas), com uma altura de 40 metros<br />

e largura de 14 metros, com um peso<br />

aproximado de 150 toneladas. São feitas a<br />

partir de aço de alta resistência e fibra de<br />

vidro, ou seja, materiais recicláveis. Uma vela<br />

destas num navio RoRo, em velocidade normal,<br />

pode reduzir o consumo de combustível do<br />

motor principal em 7-10%, em rotas oceânicas<br />

favoráveis, resultando numa economia<br />

de aproximadamente 675.000 litros de<br />

combustível por ano, o que corresponde a<br />

cerca de 1920 toneladas de CO2 por ano.<br />

O primeiro comunicado referente ao Orcelle<br />

Wind surge em 2021. Craig Jasienski, CEO da<br />

Wallenius Wilhelmsen, referia que “desde 2008<br />

conseguimos reduzir a intensidade de CO2 em<br />

33%, o que é um passo significativo. Mas a<br />

jornada rumo a zero emissões requer grandes<br />

avanços. Acreditamos que o Orcelle Wind é um<br />

deles”. Desta forma, a empresa está a levar o<br />

conceito avante, mas existem vários aspetos<br />

que precisam de ser avaliados e estudados<br />

para garantir a sua viabilidade. “O Orcelle<br />

Wind será o nosso campo de testes técnico e<br />

operacional para inovação de emissões zero,<br />

onde podemos avaliar e desenvolver vários<br />

combustíveis e tecnologias de emissão zero”,<br />

indica Erik Noeklebye, EVP e COO de serviços<br />

de transporte da Wallenius Wilhelmsen.


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

FACTOS SOBRE<br />

O ORCELLE WIND<br />

–<br />

Reduções de emissões de até 90% em<br />

relação às embarcações mais modernas;<br />

– Velocidade prevista de 10-12 nós<br />

sob propulsão eólica, que pode ser<br />

aumentada com potência suplementar<br />

do motor;<br />

– Capacidade de carga de até 7000<br />

carros, equipamentos rolantes e cargas<br />

avulsas;<br />

– Comprimento do navio de<br />

cerca de 200 metros e largura de<br />

aproximadamente de 40 metros;<br />

–<br />

É esperado que a altura máxima<br />

acima da linha d'água ultrapasse os<br />

100m com as velas de asa totalmente<br />

erguidas, podendo ser reduzida para<br />

50 metros ou menos com as velas de<br />

asa retraídas.<br />

– Capacidade de carga da rampa<br />

de 150 a 200 toneladas e 5 metros<br />

de altura do convés principal,<br />

tornando-se adequado para carros,<br />

equipamentos sobre rodas e cargas<br />

avulsas. •


68<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

TRANSPORTES<br />

Transporte marítimo<br />

Texto: Dora Assis<br />

INDÚSTRIA DA<br />

MODA FOCADA EM<br />

REDUZIR IMPACTO<br />

AMBIENTAL<br />

A indústria da moda é uma das mais poluidoras<br />

do mundo. Ainda assim, é também uma das<br />

principais impulsionadoras da crescente<br />

procura de combustíveis ecológicos para<br />

o transporte marítimo, afirmou a Maersk,<br />

a maior empresa mundial de transporte<br />

marítimo de contentores, num contexto de<br />

pressão crescente por parte dos consumidores<br />

e das entidades reguladoras para reduzir o<br />

impacto ambiental negativo do setor.<br />

Com grandes volumes de vestuário<br />

enviados de centros de produção<br />

em países como China, Vietname ou<br />

Bangladesh para clientes em todo o mundo,<br />

os retalhistas de moda e pronto a vestir<br />

contribuem significativamente para o<br />

aumento das emissões de carbono.<br />

De acordo com um relatório do Programa<br />

das Nações Unidas para o Ambiente<br />

publicado em maio, a indústria têxtil é<br />

responsável por cerca de 2% a 8% das<br />

emissões globais de gases com efeito de<br />

estufa. Para fazer face a esta situação,<br />

o setor dos transportes marítimos tem<br />

procurado alternativas de baixas emissões,<br />

como os biocombustíveis derivados do óleo<br />

de cozinha, dos resíduos alimentares e do<br />

metanol produzido a partir de energias<br />

renováveis, como substituto do fuelóleo<br />

convencional, no âmbito do seu compromisso<br />

de atingir emissões líquidas nulas até 2050.<br />

De acordo com a Maersk, a indústria<br />

da moda representou 26% dos 240.000<br />

contentores transportados pela empresa


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

em 2022, utilizando biocombustíveis ao<br />

abrigo dos seus contratos ECO Delivery,<br />

sendo o maior setor a utilizar o serviço de<br />

combustível de baixas emissões. “Muitas<br />

das marcas de moda têm sido as que estão<br />

a optar por isto”, revelou Josue Alzamora,<br />

global head of Lifestyle Vertical da Maersk,<br />

referindo que as empresas de moda<br />

também estão a enfrentar a pressão dos<br />

consumidores para reduzir a sua pegada<br />

de carbono. Alzamora sublinhou ainda<br />

que quase um em cada dez contentores<br />

movimentados pela Maersk para marcas de<br />

moda no ano passado foi transportado com<br />

recurso a biocombustíveis.<br />

A H&M, o segundo maior retalhista de moda<br />

do mundo, anunciou em 2022 que utilizou<br />

biocombustíveis numa parte significativa dos<br />

seus transportes marítimos nos últimos dois<br />

anos, comprometendo-se ainda a tornar-se<br />

positiva para o clima até 2040. “A H&M foi<br />

uma das primeiras empresas a juntar-se a nós<br />

na jornada do biocombustível”, disse Alzamora.<br />

Da mesma forma, grandes retalhistas,<br />

incluindo a Amazon e a IKEA, comprometeramse<br />

a fazer a transição para o transporte<br />

marítimo com zero emissões de carbono até<br />

2040. No ano passado, os navios movidos<br />

a biocombustível representaram apenas<br />

2% do volume total de transporte marítimo<br />

da Maersk. No entanto, a empresa fez uma<br />

encomenda de 25 navios concebidos para<br />

funcionar com biocombustíveis, estando a<br />

primeira entrega prevista para setembro. De<br />

acordo com a empresa, as companhias de<br />

navegação encomendaram coletivamente<br />

mais de 100 navios capazes de utilizar<br />

quer fuelóleo quer metanol. No entanto, o<br />

abastecimento de combustíveis sustentáveis<br />

como o metanol continua a ser um desafio<br />

devido à fase inicial de desenvolvimento. “A<br />

indústria da moda ajuda-nos a fazer avançar a<br />

agulha quando se trata de obter mais metanol<br />

produzido”, salientou Alzamora, sublinhando<br />

a crescente procura de alternativas por parte<br />

da indústria como uma das maiores partes<br />

interessadas no setor do transporte marítimo<br />

de contentores. •


70<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

“SEMPRE FUI MUITO<br />

EXIGENTE PARA<br />

COM A LOGÍSTICA”<br />

A atribuição do prémio<br />

“Personalidade” do ano pela APLOG a<br />

José Crespo de Carvalho foi o pretexto<br />

para a entrevista, que não se cinge à<br />

distinção. O professor catedrático e<br />

atual presidente do Iscte Executive<br />

Education aborda os desafios atuais<br />

e futuros do setor, não sem primeiro<br />

refletir sobre o caminho feito e as<br />

“lições” aprendidas. Sobretudo é uma<br />

conversa sobre valores, os seus, mas<br />

também os que devem nortear os<br />

logísticos e a logística.<br />

Foi em julho que no âmbito do Prémio de<br />

Excelência Logística a APLOG entregou a José<br />

Crespo de Carvalho o prémio “Personalidade”,<br />

decidido em conjunto pelos três órgãos da<br />

associação e atribuído por unanimidade. “É<br />

alguém com uma atitude e um pensamento<br />

muito inquieto, muito inovador e muito<br />

independente, sem nunca deixar de ser um<br />

homem da logística”, sublinhou Alcibíades<br />

Paulo Guedes então, no momento de revelar<br />

o laureado. Agora, na entrevista, Crespo de<br />

Carvalho valida e destaca essa sua característica,<br />

confessando a dado momento que “sempre fui<br />

inquieto desde os primeiros tempos. E sempre fui<br />

muito exigente para com a logística. (…) Algumas<br />

vezes dei o murro na mesa. Ou muitas.” Contudo,<br />

CARREIRA<br />

Prémio APLOG<br />

“Personalidade”<br />

são os incomodados que fazem o mundo avançar,<br />

não são os acomodados.<br />

SCM - O prémio da APLOG, mais do que<br />

“Personalidade do ano” é uma distinção pela<br />

carreira que tem vindo a desenvolver, sempre<br />

ligado à logística e à gestão das cadeias de<br />

abastecimento, seja ao nível empresarial,<br />

seja ligado ao ensino. Teve oportunidade<br />

de acompanhar o “nascimento” da logística<br />

em Portugal, projetos marcantes, bem como<br />

profissionais e líderes nacionais emblemáticos.<br />

Algum ensinamento desses primeiros tempos<br />

que ainda hoje faz sentido para si, há? E uma ou<br />

duas lições que tenha retido ao trabalhar e lidar<br />

de perto com figuras incontornáveis da logística,<br />

que tenha guardado na memória e que queira<br />

partilhar.<br />

> Crespo de Carvalho – Na verdade, não é<br />

personalidade do ano. É um prémio carreira. Podia<br />

ter sido dado neste ou noutro ano qualquer. E<br />

<strong>2023</strong> nem foi um ano em que tivesse feito muitos<br />

desenvolvimentos em termos de supply chain.<br />

Apontaria quatro aspetos que para mim foram<br />

essenciais sempre. Quer nos primeiros tempos,<br />

quer ainda hoje. Manter-me sempre atualizado.<br />

Estudar, fazer muito mais que o doutoramento,<br />

fazer formação executiva, a máxima que<br />

conseguir, ir a outros lados e universidades,<br />

estar em sala de aula ao lado, muitas vezes, de<br />

jovens e sendo eu apenas o que tem cabelos<br />

brancos. Não me importo. É a forma que escolhi<br />

para não me tornar obsoleto e aprendo imenso<br />

com os mais novos também. Procurar ler<br />

revistas profissionais e não apenas académicas.


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

As revistas profissionais fazem muito por nós<br />

na medida em que nos trazem conhecimento<br />

prático. <strong>Revista</strong>s nacionais (a vossa) mas muitas<br />

internacionais. Manter sempre uma ligação a<br />

aulas mesmo estando noutras funções. As aulas<br />

permitem-me também um esforço contínuo de<br />

atualização. Fazer consultoria. Se não fizesse<br />

consultoria, e muita consultoria, não conhecia<br />

os problemas que se vão enfrentando nas<br />

empresas. Podem ser debates estratégicos com<br />

o board, podem ser conversas alimentadas por<br />

mim para definir investimentos, para desenhar<br />

projetos, para avançar para áreas de negócio, o<br />

que seja. Como podem ser projetos mais formais<br />

e demorados de reconfiguração de processos, de<br />

redesenho, de layout, de capacidade, de stocks, e<br />

por aí fora. Mas tem de haver consultoria.<br />

Sempre fui inquieto desde os primeiros tempos.<br />

E sempre fui muito exigente para com a logística.<br />

Sempre achei que se estava a fazer pouco e que<br />

devíamos fazer mais. E que podíamos! E que<br />

temos essa responsabilidade. Algumas vezes dei<br />

o murro na mesa. Ou muitas. Mas acredito que<br />

também foi por esse inconformismo e vontade<br />

de fazer mais que o prémio me foi atribuído.<br />

A logística e a gestão da cadeia de<br />

abastecimento embarcaram na viagem da<br />

“transformação” há décadas e a evolução<br />

tem sido mais ou menos contínua. Contudo,<br />

o desafio atual é bem nítido e passa por três<br />

prioridades – criar resiliência, reduzir custos e<br />

cumprir os objetivos ESG – e nenhuma delas<br />

pode ser descurada. Como é que os profissionais<br />

de logística e supply chain podem gerir estas<br />

prioridades, aparentemente contraditórias, sem<br />

comprometer nenhuma delas? A colaboração e a<br />

tecnologia são imperativas para enfrentar estes<br />

desafios?<br />

> Reduzir custos foi sempre uma prioridade.<br />

Desde que comecei nesta área que a redução<br />

de custos é a primeiríssima forma de mostrar<br />

resultados. Podemos falar em serviço ao cliente,<br />

em prazos de entrega, em OTIF’s e por aí fora mas,<br />

no fim do dia, o cliente ou a empresa quer ver uma<br />

redução no custo. Portanto, essa é uma questão<br />

desde sempre. E todos sabem disso, académicos<br />

da área, profissionais da área e todos os que não<br />

são da área mas querem de nós resultados.<br />

Há outro aspeto que poucos mencionam mas<br />

que deve ser dito. Todos querem que a logística<br />

e a supply chain funcione. Se funciona, tudo bem,<br />

não nos passam cartão, nem recebemos prémios<br />

ou palmadinhas nas costas. Mas ai daquele que,<br />

sendo responsável, deixe cair a logística ou a<br />

supply chain. Paga sempre cara a disrupção.<br />

Internamente porque estão sempre todos<br />

predispostos a apontar o dedo e externamente<br />

porque se falha a montante com fornecedores e<br />

a jusante com clientes.<br />

Quanto à resiliência, direi que sim, mas se<br />

o termo é novo a lógica não é. Disrupção,<br />

continuidade do negócio, risco, e por aí fora,<br />

são trabalhados há muito em logística e supply<br />

chain. Arranjou-se um termo fancy para dizer que<br />

devemos voltar ao estado normal. A questão é<br />

que nem sempre este termo, embora percetível,<br />

é o real. Ou seja, um erro, uma falha, o que seja<br />

que corra mal, deve ser emendado. Porém, é bom<br />

que incorporemos a volta ao normal com a lição<br />

aprendida e, se possível, com mais conhecimento<br />

do que o que tínhamos antes. Por isso, nunca é<br />

só voltar ao normal. Será sempre um normal,<br />

espera-se, mais rico.


72<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

O ESG é na essência bom whishful thinking.<br />

Mas na essência. Depois temos máscaras e<br />

máscaras de ESG. Somos muito amigos do<br />

ambiente mas no dia-a-dia pouco ligamos ao<br />

ambiente. Somos muito preocupados com<br />

sustentabilidade mas no dia-a-dia pouco ligamos<br />

à sustentabilidade. E a governance, que talvez<br />

em empresas seja o pilar que poderia colocar os<br />

dois outros a funcionar, também não se lhe dá a<br />

devida importância. É um facto que são aspetos<br />

importantes. Mas, e sublinho, mas, enquanto as<br />

empresas não estiverem dispostas a monetizar<br />

à séria a formação das suas pessoas em ESG<br />

nada de muito diferente do que conhecemos irá<br />

suceder. Só para termos uma ideia com resíduos.<br />

Vamos ao Algarve e nas praias multiplicamse<br />

as garrafas de plástico, não há ecopontos<br />

suficientes, as pessoas são selváticas na forma<br />

como despejam o lixo, não há triagem. E não<br />

precisamos ir ao Algarve. Precisamos de olhar<br />

para o que se faz na nossa rua e nas nossas<br />

casas. E porque nos queixamos muito, mas nas<br />

coisas mais simples não mudamos ou damos<br />

exemplos concretos, independentemente do que<br />

outros façam.<br />

Mas sim, custos, resiliência e ESG são críticos<br />

para a supply chain.<br />

Muito impulsionada e mediatizada pelo<br />

ChatGPT, a Inteligência Artificial (IA) está na<br />

ordem do dia e promete revolucionar o mundo das<br />

empresas e também as cadeias de abastecimento.<br />

Como é que olha para esta nova realidade? Há<br />

mais prós ou mais contras para a supply chain?<br />

> Há muitos bots e não apenas o ChatGPT. Os<br />

chatbots e o prompt engineering e a forma de<br />

termos à mão, em self service, inteligência artificial<br />

é fantástica. Como é óbvio, vejo com bons olhos.<br />

Temos de nos adaptar, temos de mudar de novo e<br />

incorporar tudo isto no nosso dia a dia. Muita coisa<br />

é divergente. Mas para lhe dar exemplos, posso<br />

dizer-lhe que já dei aulas com chatbots e que os<br />

alunos gostaram. E posso dizer-lhe que já estou a<br />

orientar teses com inteligência artificial generativa<br />

e os alunos ficam meio atónitos por ser eu a propor<br />

o tema e não eles. É o que é. É preciso mudar?<br />

Temos novas oportunidades? Vamos a elas. Não<br />

aproveitar seria um desperdício.<br />

Pessoalmente consigo ver muitos prós. Alguns<br />

contras. Mas o determinante para a supply chain<br />

neste momento é tirarmos o melhor partido<br />

destas ferramentas e olharmos para os prós. Já.<br />

Amanhã será tarde. E isto significa que temos de<br />

andar depressa dada a quantidade de informação<br />

e soluções estruturadas e produzidas por IA que<br />

já são possíveis e o número de qualidade dos<br />

chatbots que temos à disposição.<br />

E ao nível do ensino, que desafios coloca? Como<br />

se equilibra a balança? Conseguiremos olhar para<br />

a IA numa lógica colaborativa e não tanto numa<br />

perspetiva de duelo Humanos vs. Máquinas?<br />

> Duelo? Não. O homem é e será sempre o<br />

homem. Não é substituível. O homem, como<br />

sempre, irá dominar a “máquina” e aproveitá-la<br />

para o melhor uso. Sempre foi assim em todas as<br />

revoluções. Basta olhar para a história. Acho que<br />

é um debate que não faz sentido. A IA está cá e<br />

é preciso usá-la em força. O homem é o homem.<br />

Sentimentos, coração, empatia, compaixão, amor,<br />

lágrimas, esforço, tudo continuará a fazer parte<br />

do homem. À “máquina” o que é da “máquina” e<br />

ao homem o que é do homem. E que saibamos<br />

tirar o melhor partido da “máquina” (da IA).<br />

Claro que há desafios mas, caramba, se o<br />

homem não tiver desafios e não se desafiar, que<br />

raio de vida quer ter? Apenas passar pela vida<br />

sentado num sofá? Nada nas aulas me assusta.<br />

Se tiver IA via chatbots para dar aulas ficaria<br />

preocupado se não a utilizasse. Impensável.<br />

Vamos em frente. E vamos continuar a ter aulas e<br />

boas aulas que é o que é preciso. E proximidade<br />

entre humanos, para tirarmos o melhor partido<br />

da IA. •


Uma logística integrada<br />

para um mundo interligado.<br />

Na DACHSER criamos soluções logísticas inteligentes<br />

para coordenar os seus fluxos globais de mercadorias e<br />

informação. Implementamos rotas de transporte integradas<br />

por terra, ar e mar, processos estandardizados e uma<br />

gestão da qualidade sem falhas, que contribuem para a<br />

otimização de toda a sua cadeia de abastecimento.<br />

dachser.pt


74<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Grupo Adecco<br />

Texto: Dora Assis<br />

8 DICAS<br />

PARA GARANTIR<br />

QUALIDADE<br />

NO MOMENTO<br />

DE CONTRATAR<br />

A qualidade na contratação é um fator<br />

crucial para o sucesso de uma empresa.<br />

Envolve o processo de seleção e contratação<br />

de pessoas que possuem as habilidades,<br />

conhecimentos e experiências necessárias<br />

para desempenhar as suas funções de<br />

maneira eficaz. Conheça as métricas gerais<br />

a considerar, sugeridas pelo Grupo Adecco.<br />

OGrupo Adecco reuniu oito dicas para<br />

assegurar qualidade no momento da<br />

contratação dos funcionários, que são o<br />

mais importante ativo de qualquer empresa.<br />

Por esse mesmo motivo, importa que este seja<br />

um processo gerido com o tempo e recursos<br />

necessários, tendo em vista o sucesso do negócio<br />

da empresa em questão.<br />

1 | Rotatividade dos funcionários<br />

A rotatividade analisa a percentagem<br />

de pessoas que se demitem ou têm de ser<br />

despedidas num determinado período. Analisar a<br />

rotatividade como um todo dá uma ideia geral da<br />

eficácia dos processos de contratação. Observar<br />

a evolução da rotatividade nos primeiros seis<br />

meses é uma ferramenta valiosa para avaliar a<br />

forma como a empresa contrata.<br />

2 | Desempenho profissional<br />

É possível avaliar a qualidade da contratação<br />

pela rapidez e eficiência com que desempenha<br />

as suas funções. Sempre que a empresa efetua<br />

avaliações de desempenho, pode medir o sucesso<br />

das suas novas contratações. O desempenho<br />

é o esperado, ou está acima ou abaixo das<br />

expectativas? O padrão é diferente do verificado<br />

em novas contratações anteriores?<br />

3 | Avaliação criteriosa<br />

Durante o processo de seleção, é importante<br />

conduzir avaliações criteriosas para identificar<br />

candidatos qualificados. Isso pode incluir análise<br />

de currículos, entrevistas, testes técnicos,<br />

dinâmicas de grupo e verificação de referências.<br />

É de suma importância avaliar, também, as<br />

competências comportamentais dos candidatos,<br />

como habilidades de comunicação, trabalho em<br />

equipa, liderança e capacidade de adaptação.<br />

4 | Promoções<br />

Esta é uma métrica de longo prazo, pois<br />

avalia o tempo que funcionário demora até ser<br />

promovido e o tempo da promoção de novas<br />

contratações no prazo de dois anos.<br />

5 | Envolvimento dos funcionários<br />

É recomendada a realização de um inquérito


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

de satisfação sobre o envolvimento das pessoas<br />

em relação à cultura da empresa, ao volume<br />

e especificidade do trabalho, ao salário entre<br />

outras. Tal, não só fornece informações sobre a<br />

eficácia e o tempo do programa de integração,<br />

como permite à empresa identificar e corrigir<br />

os pontos em que os colaboradores se mostram<br />

mais insatisfeitos.<br />

6 | Fidelização de talentos<br />

Contratar com qualidade não se limita apenas<br />

ao processo de seleção, mas também inclui<br />

estratégias para fidelizar talentos. Isso pode<br />

envolver o fornecimento de oportunidades de<br />

crescimento e desenvolvimento, um ambiente<br />

de trabalho positivo, benefícios competitivos e<br />

reconhecimento pelo desempenho.<br />

7 | Manter registos<br />

É importante manter os registos por forma<br />

a entender, a posteriori, como as decisões de<br />

contratação foram tomadas e se há uma taxa de<br />

sucesso considerável ou residual.<br />

8 | Não ter medo da mudança<br />

Não vale a pena manter as métricas se não<br />

forem feitas alterações com base nas conclusões.<br />

Se a empresa estiver a registar uma elevada<br />

rotatividade, reúna-se com a administração para<br />

discutir o problema e, se for o caso, alterar as<br />

métricas e o processo.<br />

Em conclusão, uma contratação de qualidade<br />

pode trazer maior produtividade, melhor<br />

desempenho, maior satisfação das pessoas e uma<br />

redução de custos relacionados à rotatividade de<br />

pessoal. Portanto, é essencial investir tempo e<br />

recursos adequados no processo de contratação<br />

para garantir a seleção dos melhores candidatos<br />

para as posições disponíveis. •<br />

CONNOSCO


76<br />

SETEMBRO <strong>2023</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Bruno Cunha<br />

Diretor de Suporte (Administrativo, Financeiro<br />

e Operacional) | Hospital de Santa Maria<br />

“FOI SEMPRE ASSIM<br />

QUE FIZEMOS”<br />

(É)ra a frase que mais me incomodava: “Foi sempre assim que fizemos”.<br />

Mas reconheço que muitas vezes é mal compreendida.<br />

Embora seja verdade que a inovação<br />

e a mudança são fundamentais para<br />

o progresso, também é importante<br />

reconhecer o valor da experiência e da<br />

tradição.<br />

Ao longo dos anos, as organizações e as<br />

sociedades desenvolveram maneiras de<br />

fazer as coisas, que vão sendo melhoradas<br />

ao longo do tempo. Essas práticas<br />

representam a sabedoria coletiva de<br />

gerações passadas e são frequentemente<br />

baseadas em conhecimento profundo e<br />

experiência acumulada. É importante<br />

reconhecer que, às vezes, o que é<br />

considerado “antigo” pode ser valioso e<br />

eficaz.<br />

Mas também, “foi sempre assim que<br />

fizemos”, é usada muitas vezes para<br />

defender a continuação de uma prática ou<br />

abordagem existente. Pode ser visto como<br />

uma resistência à mudança ou refletir uma<br />

compreensão sólida do que funciona bem.<br />

Na supply chain, a estabilidade e a<br />

continuidade podem ser fundamentais.<br />

Em setores onde a previsibilidade<br />

(exato! Em que sectores é que há essa<br />

previsibilidade, não é?) e a consistência<br />

são essenciais, seguir práticas instituídas é<br />

crucial para garantir a entrega de produtos<br />

e serviços. Além disso, a experiência<br />

acumulada ao longo do tempo não deve ser<br />

subestimada. As práticas que resistiram ao<br />

teste do tempo muitas vezes incorporam<br />

lições aprendidas com erros anteriores e<br />

refinamentos ao longo dos anos.<br />

No entanto, essa abordagem tradicional<br />

deve ser equilibrada com proatividade. A<br />

capacidade de reconhecer quando a “tradição”<br />

não está mais alinhada com as necessidades<br />

ou exigências atuais, e estar disposto (ter<br />

a coragem?) de explorar novas abordagens<br />

é fundamental. E na supply chain esta<br />

mentalidade também se aplica à eficiência<br />

operacional e à gestão de riscos. A resistência<br />

à mudança pode ser benéfica quando se<br />

trata de processos bem estabelecidos, mas é<br />

importante ser proativo na identificação de<br />

novos riscos e oportunidades de melhoria.


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Não estou a sugerir que o status quo deva<br />

ser imune ao escrutínio, mas também não<br />

deve ser descartado sem contemplação.<br />

Não se trata de preservar a tradição pela<br />

tradição, mas de respeitar a sabedoria nela<br />

contida.<br />

É essencial equilibrar essa tradição com<br />

a proatividade para garantir que toda a<br />

supply chain permaneça resiliente e capaz<br />

de se adaptar às mudanças das condições<br />

do mercado e das necessidades e exigências<br />

dos clientes. •


78<br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“O poder de saber que podes melhorar”<br />

Ideas worth spreading, TEDxNorrkoping 2014, Carol<br />

Dweck, 15 millhões de visualizações<br />

“Estou sempre a fazer o que ainda não consigo fazer, de modo a aprender a fazê-lo.”<br />

Vincent Van Gogh<br />

Segundo Carol Dweck, baseando-se nos inúmeros<br />

estudos científicos em que participou e liderou ao<br />

longo da sua vida, existem dois tipos de mentalidade<br />

no que à aprendizagem diz respeito: uma fixa, e outra<br />

de crescimento.<br />

Os alunos com uma mentalidade fixa focam-se<br />

na avaliação dos resultados imediatos, e encaram<br />

os desafios e as dificuldades como uma catástrofe.<br />

Para eles, a sua inteligência está sempre sob<br />

julgamento e, quando cometem erros, tendem a<br />

paralisar. Estudos demonstraram que estas pessoas<br />

estão mais dispostas a fazer batota (e não a estudar<br />

mais para obter melhores notas) e procuram outras<br />

pessoas com pior desempenho do que elas (para<br />

se sentirem melhor consigo próprias). O sistema<br />

de ensino tradicional tende a promover este tipo<br />

de mentalidade, pela necessidade de validação<br />

constante. Já se tornou claro que é contraproducente<br />

para a aprendizagem o elogio do conhecimento, da<br />

inteligência e do talento.<br />

Quanto aos alunos que têm uma mentalidade de<br />

crescimento, eles, pelo contrário, adoram os desafios<br />

e envolvem-se a fundo nos problemas, mesmo<br />

quando são difíceis demais. Acreditam que podem<br />

evoluir, aprender e desenvolver-se com os seus erros<br />

e entusiasmam-se com as possibilidades. A sua mente,<br />

conforme demonstrado em exames cerebrais, fervilha<br />

de actividade ao ser desafiada.<br />

Carol Dweck defende que se pode criar<br />

um ambiente de aprendizagem propício ao<br />

desenvolvimento duma mentalidade de crescimento.<br />

Deve ser elogiado o processo de aprender, através<br />

do reconhecimento do esforço, da estratégia, da<br />

concentração e da perseverança. Ao desvendar<br />

aos alunos que existe um caminho para um futuro<br />

melhor, eles tornam-se mais resistentes e resilientes.<br />

É importante explicar-lhes como o cérebro deles<br />

funciona, que a resolução dum problema cria novas<br />

ligações neuronais e fortalece o funcionamento<br />

dos neurónios. Existem inúmeros casos de sucesso<br />

em como esta metodologia de ensino promoveu a<br />

aprendizagem em grupos de crianças desfavorecidas,<br />

em pouco tempo elevando o seu sucesso académico<br />

ao mais alto nível.<br />

Em vez de exigir sucesso em cada momento<br />

durante a aprendizagem, a postura de “ainda não”<br />

torna-se um direito humano fundamental, ao<br />

promover a igualdade e contribuir para a felicidade<br />

de aprender.<br />

Carol Dweck é uma psicológa americana, professora<br />

na Universidade de Stanford nos Estados Unidos,<br />

tendo antes ensinado nas Universidades de Illinois,<br />

Harvard e Columbia. É membro da Academia Nacional<br />

de Ciências desde 2012, e autora do já clássico livro<br />

“Mindset”, tendo influenciado inúmeros educadores<br />

e líderes no mundo dos negócios.<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!