SCMedia News | Revista | Janeiro 2023
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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<strong>Janeiro</strong> <strong>2023</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
38<br />
RELATÓRIO GEP<br />
O QUE ESPERAR<br />
DE <strong>2023</strong>?<br />
ABREU LOGISTICS:<br />
“É UM ANO DESAFIANTE<br />
PARA TODOS”<br />
APCADEC APRESENTA<br />
CÓDIGO DE ÉTICA<br />
SEMICONDUTORES:<br />
MUDAR O CHIP É<br />
FUNDAMENTAL<br />
SUPPLY CHAIN NETWORKS<br />
Na união está a força
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
EDITORIAL<br />
DESGLOBALIZAR OU DIVERSIFICAR?<br />
"Há uma fenda em tudo. É assim que a luz entra."<br />
Leonard Cohen<br />
Se há coisa que os últimos anos têm<br />
evidenciado é que “prognósticos só no fim<br />
do jogo”. Ainda assim, o GEP lançou como<br />
habitualmente o seu “GEP Outlook <strong>2023</strong><br />
Supply Chain & Procurement” e não resistimos<br />
a trazer-lhe algumas das tendências-chave<br />
e espreitar os desafios e oportunidades que<br />
para já se perfilam no horizonte, embora<br />
conscientes de que o que agora é, amanhã<br />
pode muito bem já não o ser. Certo, certo,<br />
para já, é que depois de três anos marcados<br />
por problemas sanitários, instabilidade<br />
política, catástrofes ambientais, choques nos<br />
mercados de energia e guerras comerciais, é<br />
ainda muito pouco provável que as cadeias de<br />
abastecimento regressem à “normalidade”.<br />
O que desejavelmente devia integrar a<br />
normalidade era passarmos da atual visão<br />
de cadeia de abastecimento para uma lógica<br />
de ecossistema, com parceiros ligados em<br />
rede, uma rede de cadeias de abastecimento<br />
interligadas! Gisela Santos, do INEGI, aborda<br />
o tema mais em detalhe no seu artigo sobre<br />
“Supply Chain Network”, que é o tema de capa<br />
desta edição. Desafiante, sem dúvida, mas é<br />
preciso começar por algum lado.<br />
A crise vai continuar. Este é para já o cenário<br />
mais otimista no horizonte, mesmo no caso<br />
de empresas para quem os ventos têm estado<br />
de feição. Entrevistámos Nuno Fonseca, CEO<br />
da Abreu Logistics, cujo trajeto tem sido de<br />
crescimento e é com os pés bem assentes na<br />
realidade que nos diz que <strong>2023</strong> “é um ano<br />
desafiante para todos”.<br />
A resposta passa talvez por trilhar novos<br />
caminhos, fazer o que ainda não foi feito,<br />
como é disso exemplo o Código de Boas<br />
Práticas que a APCADEC decidiu propor<br />
aos profissionais de procurement, ou a<br />
nossa conferência Intralogística que em<br />
Guimarães teve sala cheia e trouxe ao palco<br />
os notáveis desenvolvimentos que empresas<br />
de diferentes setores estão a fazer, apostando<br />
na modernização e digitalização dos seus<br />
processos e operações para responder à<br />
turbulência dos mercados.<br />
Numa altura em que sustentabilidade está<br />
na agenda de todos, a Agência Internacional<br />
de Energia publicou um relatório dedicado<br />
às cadeias globais de abastecimento de<br />
energia solar fotovoltaica. Conclusão:<br />
maioritariamente é a China que domina.<br />
Faz sentido esperar resultados diferentes se<br />
continuarmos a fazer tudo da mesma forma?<br />
Noutros termos? “Não coloques todos os<br />
ovos no mesmo cesto”. A sabedoria popular<br />
defende-o há muito. A Apple também o<br />
percebeu da pior forma: na prática.
4 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
#32 #38 #46<br />
ÍNDICE<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Porta-contentores: frota mundial<br />
cresceu 4% 06<br />
LOGÍSTICA<br />
Relatório GEP: o que esperar de <strong>2023</strong>? 08<br />
Supply chain networks - Na união está<br />
a força 14<br />
Nuno Fonseca, CEO da Abreu Logistics<br />
“É um ano desafiante para todos” 18<br />
PROCUREMENT<br />
Código de Ética APCADEC - Um<br />
compromisso com o futuro 22<br />
Cidades europeias distinguidas nos<br />
Procura+ Awards 28<br />
Energia solar fotovoltaica - Os males de<br />
um monopólio 32<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
1.ª edição da conferência Intralogística:<br />
Sala cheia para abordar os desafios da<br />
intralogística 38<br />
TECNOLOGIAS<br />
Os desafios na ótica da IDC Portugal 46<br />
Semicondutores - Mudar o chip é<br />
fundamental 50<br />
TRANSPORTES<br />
100 anos do Porto de Setúbal 54
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
CARREIRA<br />
#54<br />
Delnext: “O desafio passa por irmos ao encontro<br />
das expectativas” 62<br />
Gesgrup - “Outsourcing não é trabalho<br />
temporário” 66<br />
6 prioridades para quem lidera 72<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
“Preciso de uma quote?!” Parece fácil, mas só um<br />
transitário sabe o que custa 76<br />
O MUNDO É REDONDO<br />
“O que pode ser melhor do que video-chamadas na<br />
era do metaverso?” - Josephine Eyre 78<br />
#66<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e Redação_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Diretora_<br />
Dora Assis<br />
Redação_<br />
Fábio Santos<br />
Projeto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
PAR Design<br />
Direção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Marketing Digital_<br />
Catarina Santos<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
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127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.
6<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
FROTA MUNDIAL CRESCEU<br />
4% EM 2022<br />
A<br />
frota mundial de porta-contentores cresceu, em<br />
capacidade, 4% durante o ano de 2022, atingindo<br />
os 26,4 milhões de TEU.<br />
De acordo com os dados da Alphaliner, a frota de<br />
porta-contentores ativos aumentou, há um ano, de<br />
6.318 navios para 6.515, no início de <strong>2023</strong>.<br />
A MSC que ultrapassou a líder mundial Maersk<br />
Line por apenas uma décima (17,1% contra 17%, em<br />
oferta de capacidade) na viragem de 2021 para 2022<br />
está agora com uma quota de mercado de 17,5%,<br />
bastante distante da sua rival que detém 16,1% da<br />
oferta. Em terceiro lugar encontra-se a CMA CGM<br />
com uma quota de mercado de 12,9%, quase o<br />
mesmo valor que apresentava há um ano (12,7%).<br />
Atualmente, em conjunto, os três maiores<br />
operadores possuem 46,5% da oferta mundial de<br />
transporte marítimo de contentores. O top 5 (que<br />
inclui também a COSCO e a Hapag-Lloyd) detém<br />
64,3% e o top 10 (com Evergreen, ONE, HMM, Yang<br />
Ming e Zim) chega aos 84,2%.<br />
É de ressaltar que a GS Lines, do Grupo Sousa, se<br />
mantém no top 100 a nível mundial, ocupando o 98.º<br />
lugar, com 5.765 TEU de capacidade e seis navios.<br />
No que concerne ao ranking de encomendas, a<br />
MSC encontra-se novamente na liderança e ainda<br />
mais destacada com 124 navios contratados, o que<br />
se traduz numa capacidade agregada de 1,7 milhões<br />
de TEU (equivalentes a 37,6% da sua capacidade<br />
atual).<br />
No ranking, encontra-se em segundo lugar a<br />
COSCO com 884 mil TEU (46 navios), seguindo-se<br />
a CMA CGM (689 mil TEU, 81 navios), a Evergreen<br />
(490 mil, 51), a ONE (418 mil, 30), a Zim (378 mil,<br />
43), e a Hapag-Lloyd (377 mil, 20), e só depois a<br />
Maersk, que tem encomendados 31 navios, com 374<br />
mil TEU de capacidade de transporte, ou seja, 8,9%<br />
da sua frota atual. •<br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
Navios<br />
porta-contentores
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JANEIRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Relatório GEP<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
O QUE PODE<br />
ESPERAR<br />
DE <strong>2023</strong>?<br />
Depois de três anos marcados por<br />
problemas sanitários, instabilidade<br />
política, catástrofes ambientais,<br />
choques nos mercados de energia<br />
e guerras comerciais entre grandes<br />
mercados, é ainda pouco provável<br />
que as cadeias de abastecimento<br />
regressem à “normalidade”.<br />
No seu relatório “Outlook <strong>2023</strong> Supply<br />
Chain & Procurement”, a GEP traça<br />
um cenário da atualidade para que os<br />
líderes consigam preparar-se e fazer face<br />
às adversidades e desafios, que ainda estão<br />
para durar.<br />
A continuação da escassez de materiais<br />
e de mão de obra, as preocupações<br />
geopolíticas no que concerne a guerra<br />
na Ucrânia, a possível invasão chinesa a<br />
Taiwan e a guerra comercial entre os EUA<br />
e a China apontam para um futuro com<br />
grandes desafios, com sinais precoces de<br />
recessão visíveis em várias economias que<br />
ultrapassam a ameaça do vírus COVID-19.<br />
Assim, provavelmente, a história de <strong>2023</strong><br />
será dominada por macrotendências que<br />
já estavam presentes em 2022: a inflação,<br />
que está em máximos multidecadais em<br />
todas as economias; o crescimento do PIB<br />
que está a diminuir, prevendo-se que a sua<br />
taxa de crescimento ao longo do tempo
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
seja cada vez menor; os custos de energia<br />
que continuam num impasse devido à<br />
conjugação da guerra, das tensões políticas,<br />
das preocupações ambientais e dos desafios<br />
da cadeia de abastecimento; as taxas de<br />
juros que estão nos níveis mais altos dos<br />
últimos anos e, embora, a maioria dos<br />
mercados de trabalho estejam com índices<br />
de desemprego historicamente baixos, o<br />
enfraquecimento dos mercados.<br />
em <strong>2023</strong> se antevê ligeiramente superior a<br />
2022, dado os contínuos bloqueios ligados<br />
à pandemia nas cidades e à atual crise<br />
imobiliária.<br />
MÁXIMOS HISTÓRICOS<br />
DE INFLAÇÃO<br />
Os eventos macroeconómicos dos últimos<br />
anos têm vindo a originar a alta inflação<br />
que a atualmente se assiste tanto nos países<br />
desenvolvidos como nas economias em<br />
desenvolvimento. No entanto, foi a guerra<br />
entre a Rússia e a Ucrânia que empurrou<br />
estes números para máximos históricos<br />
em todas as economias, levando os bancos<br />
centrais em todo o mundo a intervir, mas<br />
sem sucesso. Exemplificando, nos Estados<br />
Unidos estimava-se que a inflação atingiria<br />
uma média de 8,1% em 2022, abrandando<br />
em <strong>2023</strong> para os 3,5%, enquanto que na<br />
zona euro se previa que em 2022 a inflação<br />
chegasse aos 8,3%, caindo para 5,7% em<br />
<strong>2023</strong>, números significativamente maiores<br />
comparados aos níveis pré-pandémicos. No<br />
que concerne outras geografias, espera-se<br />
que a tendência seja semelhante, sendo<br />
a China a única exceção, já que a inflação<br />
ABRANDAMENTO DO<br />
CRESCIMENTO DO PIB<br />
Após a recessão de 2020, pressentia-se que<br />
2021 seria um ano de crescimento económico.<br />
No entanto, à medida que a demanda de<br />
vários setores se aproximava dos níveis pré-<br />
-pandémicos, as cadeias de abastecimento<br />
viram-se obrigadas a lutar para manter o<br />
ritmo, levando a que o ciclo de preços das<br />
commodities se tornasse mais elevado. No<br />
ano seguinte, o conflito entre a Ucrânia e a<br />
Rússia veio a reforçar o ciclo de incerteza, a<br />
volatilidade dos preços das commodities, bem<br />
como a sua corrente oferta distorcida. Assim,<br />
o aumento dos custos energéticos, a inflação<br />
acentuada e as taxas de juro elevadas, levaram<br />
coletivamente a uma queda de procura em<br />
várias indústrias. Em <strong>2023</strong>, espera-se que o PIB<br />
global aumente apenas 2,66% em comparação<br />
ao crescimento estimado para 2022 de 3,19%,<br />
o que se traduz num abrandamento geral das<br />
economias. As economias da zona euro e do<br />
G7 terão menos de 1% de crescimento no PIB,<br />
sendo que nos primeiros trimestres se poderá<br />
observará uma recessão. Já a China poderá<br />
tentar combater esta tendência à medida que<br />
os recuos e restrições em relação à pandemia<br />
são levantados, resultando num maior<br />
crescimento de produção industrial.
10<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
ENERGIA: UMA CRISE<br />
CADA VEZ MAIS PROFUNDA<br />
Em 2020, a produção de petróleo bruto<br />
acabou por diminuir e, por consequência,<br />
também a sua previsão de consumo (em<br />
milhões de barris por dia). Neste sentido, na<br />
segunda metade de 2021, devido a restrições<br />
de abastecimento, os preços do petróleo<br />
bruto e do gás natural liquefeito (GNL)<br />
subiram, estimando-se passar da média dos<br />
68 dólares por barril de petróleo bruto em<br />
2021, para 100 dólares por barril de petróleo<br />
bruto no final de 2022 (um aumento de<br />
47%). O preço da energia é um dos fatores<br />
que maior influência tem sobre a economia,<br />
e como tal, a sua subida acentuada pode<br />
agravar a inflação, aumentar a insegurança<br />
alimentar e abrandar o crescimento global,<br />
empurrando as economias para a recessão<br />
em <strong>2023</strong>. Assim, considerando o futuro preço<br />
do petróleo e a evolução do cenário de<br />
mercado, espera-se que este ano os preços<br />
do petróleo subam entre 85 a 90 dólares<br />
por barril de petróleo bruto. Também se<br />
estimava que os preços do GNL subissem<br />
de 4,7 dólares por mmbtu (um milhão de<br />
Unidades Térmicas Britânicas) em 2020 para<br />
18 dólares por mmbtu em 2021. Já em 2022,<br />
estava previsto um aumento homólogo dos<br />
preços do GNL superior a 90%, atingindo<br />
em média os 35 doláres por mmbtu. No que<br />
concerne <strong>2023</strong>, antecipa-se que os preços<br />
do GNL se mantenham elevados devido às<br />
restrições de abastecimento e à incerteza<br />
sobre o avanço do gasoduto Nord Stream<br />
2 e outros pequenos projetos em pré-
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
-decisão. Por outro lado, preveem-se que<br />
as importações de GNL na China entrem em<br />
declínio garantindo uma escassez global de<br />
energia menos aguda.<br />
TAXAS DE JURO:<br />
CONTROLAR A INFLAÇÃO<br />
AO CUSTO DO CRESCIMENTO<br />
Em 2022, dado o impacto da escassez de<br />
oferta de energia, alimentos e mão de obra,<br />
muitos foram os bancos centrais que para<br />
combater a inflação utilizaram medidas<br />
fiscais corretivas. Contudo, tendo em conta<br />
o receio de uma desaceleração económica e<br />
recessão, as taxas de juro não foram tão altas<br />
e frequentes como as que se preveem para<br />
<strong>2023</strong>. Dessa forma, antecipa-se que a Reserva<br />
Federal dos EUA aumente as taxas de juros<br />
para 5% de forma faseada até março de <strong>2023</strong>,<br />
o que resultaria num aumento acumulado<br />
de 100 pontos base comparativamente<br />
aos 4% registados a novembro de 2022.<br />
Relativamente ao Banco Central Europeu,<br />
previa-se que as taxas aumentassem 75<br />
pontos base a dezembro de 2022, esperandose,<br />
novamente, um aumento em <strong>2023</strong> que<br />
dependerá não só da inflação, mas também<br />
de outros fatores influenciadores como<br />
os custos de energia. O custo do capital<br />
também se fez notar, sendo previsível que em<br />
conjunto com mais aumentos de juros, tenha<br />
um impacto sobre o custo do empréstimo e<br />
o crescimento económico, resultando numa<br />
queda da procura e no adiamento do plano<br />
de despesa de capital.
12<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TAXAS DE DESEMPREGO<br />
MAIS ELEVADAS<br />
As taxas de desemprego diminuíram e atingiram<br />
os níveis pré-pandémicos em quase todas<br />
as regiões geográficas em 2022. Este fator<br />
pode ser explicado pela elevada procura por<br />
trabalho e pela “grande renúncia” e restrições<br />
de movimento ligadas à pandemia, que<br />
mantiveram os salários altos, em particular<br />
na mão de obra qualificada, e que permitiram<br />
aos funcionários receber salários mais<br />
elevados, mais benefícios e ter uma maior<br />
flexibilidade de trabalho. Por exemplo, as taxas<br />
de desemprego nos EUA atingiram um nível<br />
historicamente baixo de 3,5% a setembro de<br />
2022. No entanto, no final do ano esperava-se<br />
que esse valor atingisse os 3,7%, muito abaixo<br />
da média de 5,3% de 2021. Segundo a GEP,<br />
também o Reino Unido e a zona euro veriam as<br />
suas taxas de desemprego cair de 4,5% e 7,7%<br />
em 2021 para 3,8% e 6,8%, respetivamente,<br />
em 2022. Embora os principais países asiáticos<br />
parecessem seguir a tendência era expectável<br />
que a China subisse a sua taxa de desemprego<br />
de 3,9% em 2021 para 4,2% em 2022, devido<br />
à pandemia que levou ao enfraquecimento<br />
das suas atividades económicas. Em <strong>2023</strong>, o<br />
rumo alterar-se-á com as taxas de desemprego<br />
a aumentar em todas as economias em<br />
consequência de produções industriais<br />
mais baixas e uma posterior desaceleração<br />
económica/recessão. •
14<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Cooperação<br />
acima da competição<br />
SUPPLY CHAIN<br />
NETWORKS:<br />
NA UNIÃO ESTÁ<br />
A FORÇA<br />
Gisela Santos, INEGI<br />
A<br />
cadeia de abastecimento é essencial para<br />
satisfazer os requisitos do mercado, a<br />
um custo e investimento mínimos¹, e é,<br />
atualmente, tema quente. «Disrupção» é a<br />
palavra que salta sempre à vista, com os prazos<br />
de entrega alargados e a escassez de materiais<br />
na ordem do dia.<br />
E, de facto, os dados confirmam esta<br />
realidade. Em 2021, de acordo com um estudo<br />
do Gartner Group, 68% de profissionais a<br />
trabalhar com cadeias de abastecimento<br />
reportaram que têm estado constantemente<br />
a responder a disrupções de elevado impacto<br />
desde 2019 e, ainda, que são atingidos por<br />
um novo evento disruptivo, antes de terem<br />
recuperado do evento anterior².<br />
A realidade é que, num mercado global,<br />
iremos enfrentar constantemente disrupções<br />
de abastecimento, seja devido a desastres<br />
naturais, escassez de recursos e de mão<br />
de obra, conflitos que afetam o comércio<br />
internacional ou outros eventos inevitáveis e<br />
imprevistos.<br />
Deste modo, e de acordo com um estudo da<br />
PwC, é urgente mitigar o risco e aumentar o<br />
nível de agilidade na cadeia de abastecimento.<br />
Isto irá levar a que os Chief Supply Chain
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
Officers atualizem a atual visão de cadeia de<br />
abastecimento para uma visão de ecossistema<br />
com parceiros ligados em rede: uma Supply<br />
Chain Network, isto é, uma rede de Cadeias de<br />
Abastecimento interligadas³.<br />
Tendo larga experiência em projetos<br />
de melhoria e alinhamento de processos<br />
e organização da logística e cadeias de<br />
abastecimento, vemos esta tendência como<br />
próspera para as empresas, já que assenta em<br />
princípios de otimização e agilidade.<br />
COOPERAÇÃO ACIMA<br />
DA COMPETIÇÃO<br />
Numa supply chain network os parceiros<br />
partilharão informação, processos e<br />
plataformas digitais comuns, em vez de<br />
apenas movimentar produtos, serviços e<br />
informação de um elo para o outro de uma<br />
cadeia de abastecimento.<br />
Adicionalmente, estes ecossistemas poderão<br />
partilhar ativos, como armazéns, plataformas<br />
logísticas e transportes e ainda realizar<br />
investimentos conjuntos, de modo a mitigar<br />
risco e alavancar oportunidades do lado do<br />
abastecimento e do lado da procura.<br />
Citando mais uma vez o estudo do Gartner<br />
Group, a modularidade destes ecossistemas<br />
será também uma vantagem competitiva². Os<br />
recursos e processos da cadeia de abastecimento<br />
serão organizados em módulos como «blocos de<br />
lego», que podem ser rapidamente configurados,<br />
construindo caminhos alternativos ao longo da<br />
supply chain network.<br />
Por exemplo, se uma fábrica se deparar<br />
com uma avaria inesperada e não conseguir<br />
cumprir um determinado prazo de entrega<br />
de uma encomenda, esta informação é<br />
imediatamente disponibilizada na rede,<br />
sendo acionado de modo automático um<br />
fornecedor alternativo para a encomenda em<br />
questão. Imaginando que esse fornecedor<br />
alternativo se encontra noutro continente, o<br />
modo de transporte (que seria originalmente<br />
rodoviário) passará a marítimo por exemplo,<br />
de forma imediata, rápida e transparente para<br />
todos os parceiros da supply chain network.<br />
A transição de cadeia de abastecimento<br />
para um ecossistema / rede de cadeias de<br />
abastecimento, em que o caminho de um<br />
produto ou serviço poderá seguir itinerários<br />
alternativos e parceiros distintos, consoante<br />
o momento, a capacidade, a procura e o risco,
16<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
será fortemente suportada por tecnologias<br />
como blockchain, big data, cloud computing<br />
e inteligência artificial. Nos próximos anos, a<br />
utilização destas tecnologias suportará a criação<br />
de uma rede de cadeias de abastecimento<br />
autónoma, capaz de automaticamente planear<br />
a supply chain em tempo real e executar ações<br />
operacionais de modo automatizado e eficiente.<br />
No entanto, é esperado que esta automação<br />
venha incrementar e não substituir as atividades<br />
humanas, em particular nas áreas de tomada de<br />
decisão, planeamento e modelação de cenários,<br />
previsão e market intelligence. Espera-se ainda<br />
que a tomada de decisão evolua de uma base de<br />
sensibilidade e feeling para decisões baseadas<br />
em factos². Contudo, iremos inevitavelmente<br />
assistir à automação de tarefas transacionais<br />
e repetitivas como entrada e tratamento de<br />
encomendas, por exemplo, em que a mão-de-obra<br />
será substituída por robots digitais.<br />
UNIÃO É TENDÊNCIA DE FUTURO<br />
As previsões realizadas em 2021 pelo Gartner<br />
Group apontam para as seguintes tendências²:<br />
• Em 2026, mais de 50% das grandes<br />
organizações irão competir como ecossistemas<br />
digitais colaborativos, e não como empresas<br />
individuais, partilhando inputs, ativos e inovações;<br />
• Em 2024, as cadeias de abastecimento<br />
re-desenhadas para a modularidade irão<br />
operacionalizar inovações nos seus modelos<br />
de negócio em metade do tempo dos seus<br />
concorrentes;<br />
• Em 2026, mais de 50% das cadeias de<br />
abastecimento irão utilizar machine learning<br />
e inteligência artificial para aumentar a sua<br />
capacidade de decisão.<br />
Para fazer a transição de uma cadeia de<br />
abastecimento para uma supply chain network<br />
o Gartner Group apresenta as seguintes<br />
recomendações²:<br />
Preparar as organizações para<br />
participar em ecossistemas<br />
alargados<br />
Incluir muitos novos parceiros, através da<br />
obtenção de consensos quanto aos benefícios<br />
de ser parte desse ecossistema. A perceção de<br />
que os ganhos serão mútuos para os parceiros<br />
permitirá ultrapassar a resistência interna à<br />
partilha de ativos e de informação em benefício<br />
do ecossistema.<br />
Construir as capacidades do<br />
ecossistema de parcerias deixando<br />
claro como é determinada a troca<br />
de valor<br />
Desenvolver a capacidade de identificar<br />
novos parceiros que tragam ao ecossistema<br />
competências complementares e promover<br />
capacidades partilhadas. Medir, acompanhar<br />
e melhorar, com base em princípios claros de<br />
compromisso.<br />
Desenvolver a plataforma<br />
tecnológica e a conectividade do<br />
ecossistema<br />
Dar prioridade a investimentos na digitalização,<br />
de modo a suportar o aumento do número e<br />
da intensidade das interações com os parceiros<br />
de negócio. Trabalhar com os responsáveis das<br />
áreas de IT, de modo a adotar tecnologia capaz<br />
de trocar informação segura e em tempo real,<br />
como API’s (Application Programming Interface)<br />
e blockchain.<br />
POR ONDE COMEÇAR?<br />
Em primeiro lugar, o alinhamento interno das<br />
organizações é fundamental, eliminando silos<br />
funcionais, em que as várias áreas cumprem<br />
objetivos que as levam muitas vezes em<br />
sentidos contrários, a custos logísticos elevados<br />
e a baixos níveis de serviço ao cliente.
SCM Supply Chain Magazine 17<br />
Em paralelo, a gestão de todos os elementos<br />
logísticos debaixo de um mesmo «chapéu» é<br />
obrigatória, dados os trade-offs nos respetivos<br />
custos. Isto é, não se poderá tomar decisões<br />
quanto a transportes, por exemplo, sem pensar<br />
em stocks e armazenagem. As decisões relativas<br />
a cada elemento de custo logístico não devem<br />
ser tomadas individualmente, mas sim de modo<br />
integrado.<br />
O passo seguinte será implementar uma<br />
função de planeamento tático que abranja a<br />
cadeia de abastecimento end-to-end e efetue<br />
a gestão dos atores e processos logísticos, de<br />
modo sincronizado e integrado. Neste ponto,<br />
será possível e vantajoso o alinhamento e<br />
colaboração com parceiros externos, sendo, no<br />
entanto, desafiante em termos organizacionais.<br />
Numa relação tradicional, as compras de<br />
uma empresa são o principal e, muitas vezes,<br />
único ponto de interação com as vendas do seu<br />
fornecedor. Numa relação colaborativa, haverá<br />
maior partilha de informação e de processos,<br />
pelo que as áreas operacionais e de back-office<br />
de ambos os parceiros, que tradicionalmente<br />
não estabelecem contacto entre si, passarão<br />
a estar em colaboração direta com a área<br />
homóloga do parceiro.<br />
Para uma verdadeira integração, as fronteiras<br />
entre as empresas tornar-se-ão menos definidas<br />
e os pontos de contacto entre as organizações<br />
serão múltiplos. •<br />
Referências<br />
¹ Adaptado das definições da European Logistics<br />
Association e U.S. Council of Logistics Management<br />
² "Predicts 2022: Supply Chain Strategy”, 16<br />
November 2021, Gartner Group<br />
³ "Connected and autonomous supply chain<br />
ecosystems 2025”, PwC, 2020
18<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Texto: Dora Assis<br />
“É UM ANO<br />
DESAFIANTE<br />
PARA TODOS”<br />
Tem sido de crescimento o trajeto da<br />
Abreu Logistics: em infraestruturas<br />
e área dedicada à cadeia de<br />
abastecimento, no portefólio de<br />
serviços e, não menos importante, nos<br />
resultados financeiros. Os ventos têm<br />
estado de feição, mas Nuno Fonseca,<br />
CEO da empresa tem os pés bem<br />
assentes na realidade quando diz que<br />
<strong>2023</strong> “é um ano desafiante para todos”.<br />
Nuno Fonseca, Abreu Logistics<br />
Abreu Logistics<br />
SCM - Em 2019 fizeram um rebranding e<br />
tomaram a decisão estratégica de passar a Abreu<br />
Carga a Abreu Logistics. A mudança de nome<br />
foi acompanhada de um reposicionamento da<br />
empresa. Que balanço é que faz dessa mudança?<br />
Nuno Fonseca > “Carga” era algo redutor,<br />
que vinha detrás com a história da empresa - e<br />
muito bem! -, mas conforme fomos alargando o<br />
portefólio de serviços começámos a achar que<br />
o que fazia sentido era aparecer ao mercado<br />
como operador logístico. Na altura estávamos a<br />
começar com a distribuição nacional e o contract<br />
logistics ainda se encontrava em fase emergente,<br />
pelo que nos pareceu que o nome devia espelhar<br />
mais aquilo que fazíamos e também mexemos na<br />
imagem. Com a introdução do amarelo no nosso<br />
logótipo de certa forma trouxemos o sol à marca,<br />
rejuvenescendo-a, em consonância com o nosso<br />
posicionamento e atuação no mercado.<br />
A mudança parece ter sido bem recebida pelo<br />
mercado, pelo menos a avaliar pelo desempenho,<br />
resultados e pelo vosso crescimento.<br />
> Sim, mas também há que reconhecer que<br />
nos últimos anos nós, os operadores logísticos<br />
no global, tivemos o vento a soprar a nosso<br />
favor. É verdade que algumas empresas ficaram
SCM Supply Chain Magazine 19<br />
pelo caminho, mas a maioria, nomeadamente as<br />
que são bem geridas tiveram dois ou três anos<br />
fantásticos, de um ciclo que está agora a terminar<br />
e que, há que dizê-lo, nos surpreendeu a todos.<br />
Março de 2020, COVID, estado de emergência, o<br />
susto foi generalizado e pensámos: “o que é que<br />
nos vai acontecer?”<br />
Nessa altura, na Abreu Logistics tomámos<br />
uma medida, que na verdade me deixou algumas<br />
noites a dormir mal, mas decidimos não ir para<br />
layoff. Estivemos sempre a trabalhar, o que<br />
acabou por ser uma medida com um grande<br />
impacto na atividade da empresa, tanto do<br />
ponto de vista da motivação das equipas,<br />
como dos resultados. Víamos a maioria dos<br />
nossos concorrentes, tanto nacionais como<br />
internacionais, em layoff, quer parcial, quer total,<br />
e nós estivemos sempre a 100%, unidos, o que<br />
naquele momento nos deu algum andamento<br />
adicional e, contra todas as expectativas,<br />
acabámos por ter um bom 2020.<br />
E, em 2021, a economia explode.<br />
> Em 2021, as pessoas saem do confinamento,<br />
cheias de vontade de consumir, os importadores<br />
com os stocks em baixo tiveram que comprar,<br />
tornando-se num ano louco, com a cadeia<br />
logística em absoluta rutura. Não se discutiam<br />
preços - coisa rara nesta indústria - discutiam-<br />
-se soluções. Não havia espaço nas companhias<br />
aéreas, não havia espaço nas companhias<br />
marítimas e, mesmo ao nível do tráfego inter<br />
europeu, não havia camiões suficientes. Foi<br />
um ano desgastante, mas que nos trouxe bons<br />
resultados. E a situação manteve-se até abril/<br />
maio de 2022.<br />
Do nosso lado, em paralelo com esta dinâmica<br />
positiva que emerge desse período COVID, em<br />
que nos unimos e lutámos em conjunto contra<br />
os efeitos do que estava a acontecer, a empresa<br />
ganhou alguma energia adicional, fomos<br />
alargando o portefólio de serviços e avançámos<br />
nessa altura para a logística contratual. Todo este<br />
processo foi sendo dinamizado ao longo de 2022.<br />
Fomos acrescentando “legos”, fomos acelerando,<br />
entrámos em Espanha e, tudo isso, a juntar<br />
ao balanço com que já vínhamos, levou-nos a<br />
um 2022 muito bom, que fica para a história:<br />
passámos os 100 milhões de euros.<br />
Como é que perspetiva o <strong>2023</strong>, face a esta<br />
escalada de preços e à situação global que se<br />
vive?<br />
> Partimos para <strong>2023</strong> conscientes de que
20 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
dificilmente a situação se repetirá, pois o<br />
momento é outro. Fazer o orçamento para este<br />
ano foi muito ingrato. Vemos todas as variáveis<br />
de custos de estrutura a aumentar e, antevendo<br />
nós um ano onde a economia vai estar mais<br />
lenta, sabemos bem que enquanto operador<br />
logístico só fazemos os negócios que os outros<br />
fazem. Se se compra e venda menos, nós vamos<br />
ter menos transações para fazer e, quando o<br />
prato é menor, os operadores vão todos com mais<br />
fome ao prato e as margens encolhem. Portanto,<br />
é nesta equação perigosa que todos vamos viver.<br />
Como efeito da inflação, os custos de estrutura<br />
vão necessariamente aumentar e as margens<br />
tendem a cair, perante a realidade de menos<br />
carga e de menos oportunidades de negócio.<br />
É um ano desafiante para todos. As companhias<br />
de navegação viveram uns anos fantásticos, com<br />
fretes a preços nunca antes vistos e que agora<br />
estão a voltar à realidade. Mas, mais uma vez,<br />
é a lei da oferta e da procura a funcionar. Se o<br />
mundo ocidental começa a ficar mais apreensivo,<br />
somos mais racionais, gastamos menos, a<br />
economia arrefece e as cadeias logísticas folgam.<br />
Portanto, não entrámos em <strong>2023</strong> apreensivos,<br />
mas cautelosos e sabendo que temos que gerir<br />
com muito cuidado os nossos passos, porque o<br />
contexto mudou.<br />
E, falando de mudança, neste pós-pandemia<br />
sentiu que houve uma alteração na forma<br />
como as empresas olhavam para a sua cadeia<br />
de abastecimento, procurando encurtá-las e<br />
trazendo os fornecedores para mais perto de<br />
casa?<br />
> Diria que sim, embora não seja algo<br />
completamente transversal, até porque há aqui<br />
dois fenómenos. Primeiro, tivemos o período<br />
agressivo da COVID-19, a que se seguiu o<br />
aquecimento do mercado, com as companhias<br />
marítimas e aéreas em total rutura, sem<br />
capacidade de dar resposta e com os preços a<br />
dispararem. Quando se começa a pagar 14 mil<br />
euros para trazer um contentor da China, não<br />
há como fugir ao impacto e isso pesa no custo<br />
da mercadoria. Mas também há o fenómeno<br />
desencadeado pelo COVID na China e os<br />
consequentes atrasos de produção. Em conjunto,<br />
os dois cenários têm levado ao tal “nearshoring”.<br />
Ainda que os custos de produção possam ser<br />
mais elevados do que na Ásia, também são<br />
localizações mais próximas, os lead times<br />
são mais curtos e os custos logísticos podem<br />
ser menores, o que levou algumas empresas<br />
a repensar a sua estratégia. Por outro lado,<br />
também se assustaram com aquele bottleneck<br />
repentino que levou algumas empresas a parar<br />
por falta de capacidade de sourcing.<br />
Por isso, é normal que algumas empresas<br />
façam esses ajustamentos. Sentimos muito esta<br />
realidade com o mercado da Turquia que, para a<br />
Europa, é uma segunda China, mas mais próxima, e<br />
que ganhou muito com o fenómeno dos atrasos de<br />
produção na China. Assistimos também a alguma<br />
migração de sourcing na Ásia, ou seja, já não é só<br />
a China e países como o Vietname e a Índia, por<br />
exemplo, começam a emergir com força.<br />
Algo que devia acontecer e que seria para<br />
nós, cidadãos europeus, muito interessante, era<br />
trazer para dentro das nossas fronteiras alguma<br />
produção que estamos a dar fora. Contudo,<br />
parece-me que isso esbarra num outro fenómeno<br />
de mais difícil resolução e que tem a ver com<br />
o envelhecimento da população europeia,<br />
mas também com o facto de nos termos<br />
“aburguesado”, achando que há certas tarefas que<br />
já não são para nós. Portanto, das duas uma: ou<br />
abrimos as portas à emigração ou continuamos<br />
a ter que ir comprar fora. Os microprocessadores<br />
são um bom exemplo, pois sem eles atualmente<br />
nada funciona, mas sem mãos para trabalhar,<br />
nada feito. Optamos pelo mais fácil e passa-se ao<br />
lado de algumas boas oportunidades. •
22<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Código de Ética<br />
APCADEC
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
UM COMPROMISSO<br />
COM O FUTURO<br />
Negociar é parte crucial para<br />
desenvolver um setor de compras<br />
eficiente. No entanto, espera-se por<br />
parte dos profissionais de procurement<br />
que tomem decisões que beneficiem<br />
a reputação da organização onde<br />
se inserem, não colocando os seus<br />
interesses ou de terceiros em primeiro<br />
lugar. É neste sentido que a APCADEC,<br />
decidida a reforçar uma postura de<br />
profissionalismo e transparência<br />
junto da comunidade de compras em<br />
Portugal, apresentou o seu primeiro<br />
Código de Ética.<br />
A<br />
Associação Portuguesa de Compras e<br />
Aprovisionamento (APCADEC) apresentou<br />
pela primeira vez, perante uma plateia<br />
de parceiros e de representantes da área de<br />
compras, o seu Código de Ética. Este documento<br />
foi preparado em linha com as melhores<br />
práticas internacionais e pretende, acima de<br />
tudo, ser um documento orientador para todos<br />
os profissionais de Procurement. A existência<br />
de um Código de Ética permitirá, segundo<br />
os promotores, reforçar uma postura de<br />
profissionalismo e transparência, levando a uma<br />
diminuição dos riscos financeiros, operacionais e<br />
reputacionais das organizações.<br />
João Correia Botelho, presidente da APCADEC,<br />
considera que “este código de ética abrange<br />
princípios mais ou menos genéricos de várias<br />
organizações e pretende-se também que seja um<br />
documento orientador para os nossos associados,<br />
para os nossos parceiros, mas, também, para a<br />
comunidade de compras em geral”. Desta forma,<br />
o documento está em sintonia com a Declaração<br />
Universal dos Direitos do Homem, Declaração<br />
da Organização Internacional do Trabalho
24<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
sobre Princípios e Direitos Fundamentais no<br />
Trabalho, Declaração do Rio sobre Ambiente<br />
e Desenvolvimento e a Convenção das Nações<br />
Unidas contra a Corrupção, documentos que<br />
são a base dos Dez Princípios do Pacto Global<br />
das Nações Unidas. Por fim, o responsável<br />
associativo alerta que “apesar de haver<br />
muitas empresas em Portugal que já têm os<br />
seus próprios códigos de ética, aquilo que<br />
a APCADEC quis fazer com este código foi<br />
disseminar um conjunto de diretrizes que<br />
podem ser adotadas em qualquer empresa<br />
para cumprir estes critérios cada vez mais<br />
exigentes de transparência e de ética nos<br />
negócios”.<br />
DEZ PRINCÍPIOS DO PACTO<br />
GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS<br />
A APCADEC acredita que os profissionais de<br />
Procurement deverão proceder à integração<br />
dos seguintes 10 princípios nas suas<br />
estratégias, políticas e procedimentos, por<br />
forma a que as suas organizações se pautem<br />
por uma cultura de Integridade e Ética:<br />
DIREITOS HUMANOS<br />
Princípio 1: As empresas devem apoiar e<br />
respeitar a proteção dos direitos humanos<br />
proclamados internacionalmente; e<br />
Princípio 2: certificar-se de que não são<br />
cúmplices de abusos e violações de direitos<br />
humanos.<br />
TRABALHO<br />
Princípio 3: As empresas devem<br />
defender a liberdade de associação e<br />
o reconhecimento efetivo do direito à<br />
negociação coletiva;<br />
Princípio 4: a eliminação de todas as<br />
formas de trabalho forçado e obrigatório;<br />
Princípio 5: a abolição efetiva do trabalho<br />
infantil;<br />
Princípio 6: a eliminação da discriminação<br />
em matérias de emprego e de ocupação.<br />
MEIO AMBIENTE<br />
Princípio 7: As empresas devem apoiar<br />
uma abordagem preventiva aos desafios<br />
ambientais;<br />
Princípio 8: empreender iniciativas para
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
promover maior responsabilidade ambiental; e<br />
Princípio 9: incentivar o desenvolvimento<br />
e a difusão de tecnologias respeitadoras do<br />
meio ambiente.<br />
ANTICORRUPÇÃO<br />
Princípio 10: As empresas devem combater a<br />
corrupção em todas as suas formas, incluindo a<br />
extorsão e o suborno.<br />
Para além destes, o documento conta ainda<br />
com um conjunto de diretrizes que pretendem<br />
estar subjacentes à atuação diária de um<br />
profissional de procurement como a questão<br />
do conflito de interesses, a aceitação de<br />
brindes e/ou ofertas, o suborno e corrupção,<br />
a confidencialidade e a transparência, assim<br />
como o profissionalismo.<br />
1. Conflito de Interesses<br />
Define-se como Conflito de Interesses a<br />
existência de qualquer questão que possa<br />
interferir no julgamento, processo de<br />
decisão do profissional de Procurement no<br />
desempenho das suas funções.<br />
É dever do profissional declarar junto da<br />
entidade que representa qualquer conflito<br />
de interesse a que possa estar sujeito,<br />
mesmo que em abstrato. Só desta forma<br />
poderá assegurar que no âmbito da sua<br />
atuação como Profissional de Compras, no<br />
relacionamento com fornecedores, parceiros<br />
e comunidade, coloca os interesses da<br />
organização que representa acima dos seus<br />
próprios interesses ou de terceiros.<br />
2. Brindes e Ofertas<br />
A aceitação de brindes e/ou ofertas<br />
de fornecedores poderá comprometer<br />
a capacidade de julgamento e/<br />
ou imparcialidade do profissional de<br />
Procurement. Pode ainda afetar o conceito<br />
de transparência que deverá sempre estar<br />
associada a qualquer processo de aquisição.<br />
Nesse sentido, recomenda-se que a<br />
aceitação de presentes oferecidos por<br />
empresas fornecedoras seja moderado,<br />
ficando ao critério de cada instituição<br />
a definição dos limites que considerem<br />
adequados.
26<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
3. Suborno e Corrupção<br />
Os profissionais de Procurement não deverão<br />
doar, prometer doar ou oferecer-se para<br />
doar qualquer valor a qualquer pessoa com<br />
a finalidade de influenciar qualquer ato<br />
ou decisão, principalmente no processo<br />
de interação com entidades públicas e<br />
funcionários do governo.<br />
Da mesma forma, não deverão estar sujeitos<br />
a qualquer tipo de oferta que possa influenciar<br />
o seu processo de decisão, pelo que não<br />
deverão aceitar e/ou solicitar qualquer valor<br />
de quaisquer pessoas ou instituições.<br />
4. Confidencialidade<br />
A confidencialidade e a especificidade da<br />
informação deverão ser sempre respeitadas,<br />
não podendo o profissional de Procurement<br />
proceder à divulgação de informação<br />
que possa comprometer os interesses da<br />
organização que representa. O mesmo<br />
deverá ser exigido pelo profissional em<br />
relação aos seus fornecedores e entidades<br />
que consigo interagem.<br />
5. Transparência e Profissionalismo<br />
Os processos de Procurement deverão ser<br />
caracterizados pela transparência pois só<br />
através desta, assegurada por processos<br />
claros e auditáveis, documentação<br />
de suporte uniformizada e regras de<br />
adjudicação claras será possível a obtenção<br />
de uma concorrência justa que promoverá<br />
o melhor resultado dos processos negociais<br />
conduzidos.<br />
A associação acredita que só através<br />
da promoção dos anteriores princípios e<br />
diretrizes, acompanhados por uma pretensão<br />
de melhoria contínua por parte dos seus<br />
associados, será possível trabalhar contínua<br />
e dignamente para aumento do impacto<br />
estratégico do processo de procurement nas<br />
organizações por eles representadas. •
Benefícios de integrar um ERP<br />
SAP com um sistema de Picking<br />
ERP sistema de gestão empresarial.<br />
Sistema de picking é um software para gerir<br />
e acompanhar o inventário, encomendas e<br />
outras operações logísticas.<br />
Maior eficiência operacional<br />
Dados de stocks são atualizados<br />
em tempo real e automaticamente,<br />
melhorando o planeamento de produção,<br />
de compras e de distribuição.<br />
Maior visibilidade<br />
Visão mais clara e precisa da<br />
cadeia de aprovisionamento, compra<br />
de mercadorias até à entrega ao<br />
cliente, dando às empresas maior<br />
visibilidade das operações.<br />
Maior flexibilidade<br />
Maior adaptação às mudanças no mercado<br />
e análise da evolução dos pedidos dos<br />
clientes, com partilha em tempo real entre<br />
os dois sistemas.<br />
Redução de custos<br />
Reduz os custos do armazenamento e<br />
transporte de produtos, pois permite um<br />
planeamento mais eficiente dos processos<br />
logísticos empresariais.<br />
Melhoria do atendimento ao cliente<br />
Visão imediata e precisa do stock,<br />
fundamental para responder aos pedidos<br />
dos clientes melhorando o cumprimento<br />
dos prazos de entrega.<br />
Human focused<br />
Technology experts<br />
Email: geral@seidor.pt<br />
Telefone: 214177921
28<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Compras públicas
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
As quatro categorias distinguidas são Circular<br />
Procurement of the Year, Innovation<br />
Procurement of the Year, Procurement<br />
Initiative of the Year e Sustainable Procurement<br />
of the Year, e apesar de Portugal não contar com<br />
um vencedor, das duas participações, uma ficou<br />
em segundo lugar.<br />
CIDADES EUROPEIAS<br />
DISTINGUIDAS NOS<br />
PROCURA+ AWARDS<br />
Em 2022, várias foram as<br />
cidades europeias distinguidas<br />
pelos Procura+ Awards, uma<br />
iniciativa que visa reconhecer<br />
projetos de sucesso, que já se<br />
encontrem a decorrer, e que<br />
envolvam a sustentabilidade,<br />
circularidade e inovação ao<br />
nível das compras públicas,<br />
levando a melhorias<br />
significantes ao nível dos bens<br />
públicos, serviços, processos e<br />
infraestruturas.<br />
2022 CIRCULAR PROCUREMENT<br />
OF THE YEAR<br />
CIDADE DE MALMÖ (SUÉCIA) - VENCEDORA<br />
A cidade sueca de Malmö venceu o prémio de<br />
circularidade pelo projeto Circular PP, tendo<br />
começado pela implementação da medida<br />
“mobílias não-novas” (non-new furniture) para o<br />
município. Este conceito foi expandido a sinais<br />
de trânsito, ou sinais em edifícios públicos e nas<br />
estradas. A intenção do município é reutilizar<br />
estes sinais tanto quanto possível, caso contrário<br />
são devolvidos ao fornecedor, sendo a reciclagem<br />
a última opção. De acordo com os dados, por<br />
cada metro quadrado de alumínio reutilizado, são<br />
poupados 56 quilogramas de CO2.<br />
Foram aplicados três critérios circulares:<br />
Promover a reutilização dentro do município;<br />
encorajar a reutilização por parte do fornecedor;<br />
e fechar o ciclo, através de processos otimizados<br />
de reciclagem para diferentes materiais<br />
(plásticos, alumínio, vidro e equipamentos<br />
eletrónicos). Apenas uma das cinco empresas<br />
licitadoras cumpria com todos os requisitos.<br />
2022 INNOVATION PROCUREMENT<br />
OF THE YEAR<br />
MINISTÉRIO DOS ASSUNTOS ECONÓMICOS<br />
E DA POLÍTICA CLIMÁTICA (PAÍSES<br />
BAIXOS) - VENCEDOR<br />
O projeto IWR2021 (de ICT Workspace Central<br />
Government) abrange todo o hardware de TIC
30<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
(Tecnologias da Informação e Comunicação)<br />
para os escritórios nacionais e funcionários do<br />
governo central. Consiste em cinco propostas<br />
europeias coesas para monitores, laptops<br />
e estações de trabalho TIC fixas, Android e<br />
acessórios, dispositivos iOS, MacOS e iPadOS e<br />
serviços de espaço de trabalho. Os valores mais<br />
importantes para a IWR são a sustentabilidade<br />
e a circularidade, que são aplicadas a todas as<br />
propostas da categoria.<br />
A IWR fez uma pesquisa prévia ao mercado,<br />
tendo falado com grandes fabricantes<br />
e fornecedores, seguida por uma ampla<br />
consulta ao mercado. Depois, criaram uma<br />
rede de ambições, que incluía ambições<br />
de sustentabilidade, circulares e de RSE.<br />
Os aspetos relevantes em matéria de<br />
sustentabilidade traduziram-se em requisitos<br />
específicos e critérios de adjudicação.<br />
Pela primeira vez, num concurso de TIC,<br />
foram solicitados dados relativos à pegada<br />
de CO2, e foi necessário fazer um cálculo<br />
da Análise do Ciclo de Vida (ACV) para<br />
todos os produtos. Foi ainda exigida a<br />
certificação EcoVadis para revendedores e<br />
fabricantes. Para além disso, todos os produtos<br />
adquiridos, excluindo acessórios, tinham<br />
de ter o certificado TCO, e a reparabilidade<br />
e disponibilidade de peças sobresselentes<br />
tinham de ser asseguradas durante, pelo<br />
menos, 3 a 5 anos após a saída do mercado<br />
holandês. Desde que foi criado, este projeto já<br />
levou a uma redução de 17% das emissões de<br />
CO2, em comparação a 1990.<br />
Todos os produtos adquiridos, excluindo<br />
acessórios, tinham de ser certificados TCO, e<br />
a reparabilidade e a disponibilidade de peças<br />
sobresselentes tinham de ser asseguradas<br />
durante, pelo menos, 3-5 anos após o fim<br />
da venda no mercado holandês. Até agora,<br />
o projeto levou a uma redução de 17% de<br />
CO2 em comparação com 1990, 3.36Ktzon de<br />
CO2 foram compensados através de créditos<br />
Fairtrade Climate Standard e um forte aumento<br />
das pontuações EcoVadis de revendedores de<br />
3% para 34%. Eles esperam alcançar resultados<br />
ainda mais ambiciosos em 2022.<br />
CIDADE DE LISBOA – SEGUNDO LUGAR<br />
Portugal também está representado através<br />
da Procurement Planning Platform (PPP),<br />
um pilar para uma abordagem de sourcing<br />
estratégico para a sustentabilidade e inovação.<br />
Deste modo, a PPP apoia a avaliação das<br />
necessidades, permitindo o seu registo<br />
anual ao nível de bens, obras e serviços,<br />
identificando medidas sociais, ecológicas e<br />
económicas a considerar em concursos futuros.<br />
A plataforma também favorece o planeamento<br />
anual do orçamento e compras, identificando<br />
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável<br />
(ODS) às iniciativas do PPP.<br />
A plataforma estabelece metas de<br />
sustentabilidade na fase de pré-concurso,<br />
identifica as áreas-chave de aquisição de<br />
sustentabilidade no Programa Smart Open<br />
Lisbon e, finalmente, cria um Plano Anual e<br />
fornece dados para a monitorização. A PPP<br />
segue um regulamento interno que define<br />
as etapas obrigatórias relativas ao nível do<br />
processo, permitindo que todas as unidades<br />
de compras registem e categorizem as suas<br />
necessidades de compra. Em 2022 começou a<br />
implementação, e a PPP está a ser usada para<br />
registar compras para <strong>2023</strong> e anos seguintes.<br />
2022 PROCUREMENT INITIATIVE<br />
OF THE YEAR<br />
CIDADE DE GANTE E O VEB (BÉLGICA) -<br />
VENCEDORA<br />
A cidade de Gante procura reduzir as suas
SCM Supply Chain Magazine 31<br />
emissões de CO2 em 40% até 2030, e atingir<br />
a neutralidade carbónica até 2050, cumprindo<br />
com os objetivos europeus. Para ajudar a<br />
atingir essa meta, a cidade está a apostar nas<br />
energias renováveis, produzidas localmente<br />
nos seus edifícios públicos. Foi estabelecido<br />
um contrato com a Vlaams Energiebedrijf –<br />
VEB, uma agência governamental que age<br />
como escritório central de compras para<br />
soluções energéticas eficientes de entidades<br />
públicas, para a compra de energia para<br />
eletricidade a partir de energia renovável<br />
com uma cooperativa de energia urbana. Este<br />
contrato bilateral estabelecido a longo prazo<br />
protege a cidade contra a volatilidade dos<br />
preços da eletricidade.<br />
O concurso exige a entrega de pelo menos<br />
500 MWh de energia renovável por ano, bem<br />
como que a instalação de produção onde a<br />
eletricidade é gerada seja, pelo menos, metade<br />
da propriedade de uma comunidade cidadã de<br />
energia e que os moradores de Gante possam<br />
participar e investir no projeto.<br />
O maior licitador, Beauvent, garantiu um<br />
contrato de 15 anos com a cidade de Gante,<br />
e instalará 6,4 hectares de painéis solares no<br />
telhado dos armazéns do Grupo Lemahieu,<br />
localizados a três quilómetros do município.<br />
Isso proporcionará o equivalente ao consumo<br />
anual de energia de aproximadamente 2.000<br />
famílias e ajudará a atender a 46% das<br />
necessidades de energia dos edifícios usados<br />
pela cidade de Gante até 2024.<br />
2022 SUSTAINABLE<br />
PROCUREMENT OF THE YEAR<br />
CIDADE DE UTRECHT<br />
(PAÍSES BAIXOS) - VENCEDORA<br />
A segunda vitória dos Países Baixos foi<br />
para a cidade de Utrecht, que procurava<br />
uma forma de fornecer aos seus cidadãos<br />
a escolha alimentar mais sustentável e<br />
circular, procurando tornar a cidade 100%<br />
circular até 2050. Com esta medida, o<br />
município procurava ajudar a reduzir os<br />
fluxos residuais, o desperdício alimentar,<br />
utilizar produtos de alta qualidade e<br />
melhorar e reduzir a quantidade de<br />
alimentos.<br />
Ao mesmo tempo, esta medida também<br />
ajudaria a cidade a tornar-se neutra, ao<br />
reduzir as emissões de CO2 e o consumo<br />
de energia nas operações comerciais,<br />
implementando, pelo menos, 60% de<br />
proteínas à base de plantas, em comparação<br />
com a quantidade total, diminuindo a<br />
proteína animal e usando o transporte de<br />
zero emissões quando possível.<br />
Esta medida introduziria uma produção<br />
responsável de matérias-primas e produtos,<br />
através da implementação de um sistema de<br />
gestão ambiental, da transparência sobre o<br />
impacto social/ambiental em toda a cadeia e<br />
de critérios de bem-estar animal.<br />
Foi feito um estudo de mercado para<br />
moldar e realizar todos os objetivos, que<br />
envolveram tanto grandes fornecedores<br />
quanto iniciativas locais mais pequenas. Até<br />
agora, o concurso atingiu dados bastante<br />
interessantes: apenas 1,5% de perda de<br />
alimentos em restaurantes, 0% de fluxo<br />
residual orgânico, catering sem plástico e<br />
30% menos desperdício de alimentos em<br />
comparação com os serviços de restauração<br />
anteriores. Os resíduos orgânicos residuais<br />
estão a ser convertidos em composto usado<br />
nas plantações de cogumelos da cidade.<br />
Entre os participantes nos Procura+ Awards<br />
esteve também a cidade do Porto com um<br />
projeto de abastecimento de energia 100%<br />
renovável certificada. •
32<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
Energia solar<br />
fotovoltaica<br />
OS MALES<br />
DE UM MONOPÓLIO<br />
É imperativo diversificar a cadeia de<br />
abastecimento da energia solar fotovoltaica<br />
para atingir as metas de descarbonização<br />
da maneira mais célere. Esta é a conclusão<br />
da IEA, a Agência Internacional de Energia,<br />
que pela primeira vez publicou um<br />
relatório dedicado às cadeias globais de<br />
abastecimento de energia solar fotovoltaica,<br />
intitulado “Solar PV Global Supply Chains".
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
De acordo com o relatório da Agência<br />
Internacional de Energia (IEA), as cadeias<br />
de abastecimento de painéis solares estão<br />
atualmente, na sua maioria, concentradas<br />
na China graças às políticas industriais e de<br />
inovação do país que se focaram na expansão<br />
da sua produção e mercado. Esta ação<br />
proporcionou que a energia solar fotovoltaica<br />
se tornasse a tecnologia de geração de<br />
eletricidade mais acessível, em muitas partes<br />
do mundo.<br />
Fatih Birol, diretor executivo da IEA<br />
afirma que “a China tem sido fundamental<br />
para reduzir os custos mundiais de energia<br />
solar fotovoltaica, com múltiplos benefícios<br />
para transições de energia limpa”. Assim,<br />
ultrapassando a Europa, o Japão e os Estados<br />
Unidos, a China assume um papel de liderança<br />
em todos os principais estágios de fabricação<br />
de painéis solares excedendo os 80%, estando<br />
nos próximos anos previsto um aumento de<br />
mais de 95% no que concerne a elementoschave<br />
como o polissilício e os wafers. Ao<br />
mesmo tempo, a cadeia de abastecimento<br />
de energia solar fotovoltaica denota<br />
desequilíbrios, dada a falta de diversidade<br />
necessária para garantir uma transição segura<br />
para emissões líquidas zero.<br />
“O nível de concentração geográfica nas<br />
cadeias de abastecimento globais também<br />
apresenta desafios potenciais que os governos<br />
precisam de enfrentar. Acelerar as transições<br />
de energia limpa em todo o mundo colocará<br />
ainda mais pressão sobre essas cadeias de<br />
abastecimento para atender à crescente<br />
procura, mas também oferece oportunidades
34 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
para outros países e regiões ajudarem a<br />
diversificar a produção e torná-la mais<br />
resiliente.”, refere o responsável.<br />
METAS INTERNACIONAIS<br />
DE ENERGIA E CLIMA<br />
No ano passado, os governos e outras<br />
partes interessadas começaram a prestar<br />
uma crescente atenção às cadeias de<br />
abastecimento de fabricação de energia solar<br />
fotovoltaica, uma vez que os altos preços<br />
das commodities e os estrangulamentos<br />
da cadeia de abastecimento levaram a<br />
um aumento de cerca de 20% nos preços<br />
dos painéis solares. Estes desafios,<br />
especialmente no mercado de polissilício,<br />
um material essencial para a fabricação de<br />
painéis solares, resultaram em atrasos nas<br />
entregas de energia solar fotovoltaica em<br />
todo o mundo, levando também a que fossem<br />
praticados preços mais altos.<br />
O relatório da IEA refere que esses desafios<br />
exigem ainda mais atenção e esforços por<br />
parte dos formuladores de políticas no futuro.<br />
De forma a cumprir as metas internacionais<br />
de energia e clima, a implantação global da<br />
energia solar terá de crescer a uma escala sem<br />
precedentes, o que levará, igualmente, a uma<br />
grande expansão adicional na capacidade de<br />
fabricação e a uma consequente preocupação<br />
sobre a capacidade mundial em desenvolver<br />
rapidamente cadeias de abastecimento<br />
resilientes.<br />
Exemplificando, as adições anuais de<br />
capacidade solar fotovoltaica aos sistemas<br />
de eletricidade precisarão mais do que<br />
quadruplicar até 2030 para que sejam<br />
alcançadas emissões líquidas zero até 2050.<br />
Além disso, a capacidade de produção global<br />
dos principais blocos de construção de painéis<br />
solares – polissilício, lingotes, pastilhas,<br />
células e módulos – teriam, comparativamente<br />
aos níveis atuais, mais do que duplicar até<br />
2030. Seria ainda necessário que as instalações<br />
de produção fossem modernizadas. Segundo<br />
o diretor executivo da IEA “à medida que<br />
os países aceleram os seus esforços para<br />
reduzir as emissões, precisam de garantir que<br />
a sua transição para um sistema de energia<br />
sustentável seja construída sobre bases<br />
seguras”, acrescentando que “as cadeias<br />
de abastecimento globais de energia solar<br />
fotovoltaica precisarão de ser ampliadas<br />
de forma a garantir que sejam resilientes,<br />
acessíveis e sustentáveis”.<br />
OPORTUNIDADES E DESAFIOS<br />
O relatório da IEA tem como objetivo<br />
examinar as cadeias de abastecimento de<br />
energia solar fotovoltaica desde as matérias-<br />
-primas até ao produto acabado, abrangendo<br />
áreas como consumo de energia, emissões,<br />
emprego, custos de produção, investimento,<br />
comércio e desempenho financeiro. Através<br />
do mesmo, é possível compreender, por<br />
exemplo, que a produção intensiva de<br />
energia solar fotovoltaica é principalmente<br />
alimentada por combustíveis fósseis devido<br />
ao papel proeminente do carvão em certas<br />
localizações da China onde a produção está<br />
concentrada. Contudo, os painéis solares<br />
ainda precisam de operar entre quatro a oito<br />
meses para compensar as suas emissões de<br />
fabricação, sendo que a sua vida útil média<br />
vai de 25 a 30 anos.<br />
O aumento da descarbonização no<br />
abastecimento de eletricidade e uma maior<br />
diversificação das cadeias de fornecimento<br />
de energia solar fotovoltaica devem ajudar<br />
a reduzir essa pegada no futuro, informa o<br />
relatório. Este avalia ainda as oportunidades e<br />
os desafios do desenvolvimento de cadeias
SCM Supply Chain Magazine 35
36 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
de abastecimento fotovoltaicas em termos de<br />
criação de empregos, requisitos de investimento,<br />
custos de fabricação, emissões e reciclagem,<br />
uma vez que a diversificação é uma das<br />
principais estratégias para reduzir os riscos da<br />
cadeia de abastecimento em todo o mundo.<br />
É possível ainda concluir que a construção<br />
de novas instalações de produção de energia<br />
solar fotovoltaica ao longo de toda a cadeia de<br />
abastecimento pode atrair investimentos na<br />
casa dos 120 mil milhões de dólares, ou seja,<br />
cerca de 112 mil milhões de euros, e, ainda o<br />
potencial para dobrar o número de empregos na<br />
fabricação de energia solar fotovoltaica para 1<br />
milhão até 2030, com mais empregos nas áreas<br />
de fabricação de módulos e células. Por fim, o<br />
relatório da IEA resume as abordagens políticas<br />
adotadas pelos governos para apoiar a produção<br />
doméstica de energia solar fotovoltaica e<br />
destaca as áreas prioritárias de ação para<br />
melhorar a segurança do fornecimento<br />
e enfrentar os principais desafios, como<br />
sustentabilidade ambiental e social, riscos de<br />
investimento e competitividade de custos. •
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38<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
“Produtividade<br />
e eficiência na<br />
supply chain”<br />
Texto: Dora Assis<br />
Fotos: Laura Dias<br />
SALA CHEIA<br />
PARA ABORDAR OS<br />
DESENVOLVIMENTOS<br />
DA INTRALOGÍSTICA<br />
Foi com sala cheia, mais de 190<br />
profissionais, que o MitPenha, em<br />
Guimarães, acolheu a 1.ª edição da<br />
conferência INTRALOGÍSTICA, para um<br />
dia repleto de casos práticos e de muita<br />
partilha, com a “Produtividade e eficiência<br />
na supply chain” sempre em destaque.<br />
e eficiência na supply<br />
chain” estiveram, de facto, em<br />
"Produtividade<br />
destaque nesta conferência organizada<br />
pela Supply Chain Magazine, mas também<br />
a nova realidade que se vive nas cadeias de<br />
abastecimento.<br />
O mundo está a mudar mais depressa<br />
do que nunca e tem vindo a transformar<br />
a economia e os mercados, obrigando<br />
as empresas a adaptarem também a sua<br />
logística interna e as suas operações. E<br />
foi exatamente por aí que começou o dia,<br />
com Maria do Sameiro Carvalho, Diretora<br />
de Departamento Produção e Sistemas da<br />
Universidade do Minho e Associate Director<br />
da ALGORITMI Research Centre que se<br />
focou nas tendências e desenvolvimentos<br />
da Intrologística e nas respostas que se vão<br />
procurando para satisfazer aquilo que são<br />
as necessidades das empresas, trazendo à<br />
plateia alguns casos concretos de projetos<br />
que têm vindo a desenvolver para responder<br />
às novas necessidades de algumas empresas.<br />
Inovar na cadeia de valor é fundamental
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
e a intervenção conjunta de Manuel Silva,<br />
Senior Researcher e António Galrão Ramos,<br />
do INESC- Technology and Science –<br />
Associate Laboratory e Filipe Ribeiro, Gestor<br />
de Projetos de Inovação da JPM Industry<br />
evidenciaram-no bem ao apresentarem<br />
o Crosslog, que propõe uma abordagem<br />
inovadora ao cross-docking, tornando-o num<br />
sistema automatizado e colaborativo, capaz<br />
de mover e gerir o fluxo de produtos dentro<br />
do armazém de uma forma mais rápida e<br />
segura.<br />
A interligação inteligente de bens,<br />
processos, pessoas e locais foi sempre<br />
uma função fundamental da intralogística<br />
e continua a sê-lo. O que está a mudar é<br />
a tecnologia, como deixaram bem patente<br />
na sua intervenção sobre “RFID & Image<br />
processing (AI)” Rui Oliveira, IT Applications<br />
Manager Iberia da DS-Smith, Packaging<br />
Division; António Guedes, Business<br />
Consultant da CodeOne e Nuno Fernandes,<br />
Global Sales Manager da Neadvance<br />
Machine Vision.<br />
Agilidade e transparência<br />
na cadeia<br />
Em termos de tecnologias de informação e<br />
comunicação, o futuro já chegou. Já não são<br />
apenas computadores e smartphones que<br />
comunicam através da Internet, mas sim a<br />
ligação em rede de máquinas, componentes,<br />
embalagens, mercadorias. Há um mundo<br />
de possibilidades a surgirem, que irá<br />
transformar completamente os processos<br />
logísticos.<br />
Por isso, Miguel Barbosa, Diretor Geral<br />
da Seidor Portugal e Marco Rangel, Diretor<br />
Geral da Moving2u estiveram em Guimarães<br />
para falar sobre “Ganhos de eficiência e<br />
agilidade dos processos logísticos na gestão<br />
das empresas”, procurando evidenciar como<br />
é que a integração de uma solução avançada<br />
de gestão de armazém e logística com um<br />
ERP traz benefícios do ponto de vista de<br />
agilidade e transparência dos processos mas<br />
também nas análises de negócio.<br />
João Beiramar Diniz é Product Specialist
40<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
Labelling & Mobility na Brother e aproveitou<br />
a ocasião para dar a conhecer algumas<br />
propostas e “Soluções para os novos desafios<br />
do setor logístico”. É que, como o próprio<br />
explicou, na Brother estão conscientes de<br />
como o tempo e a precisão são fundamentais<br />
na logística. Coordenar pessoas e movimentar<br />
materiais para um armazém ou centro de<br />
distribuição, ou imprimir documentos no<br />
próprio veículo para entregar diretamente<br />
no local, são situações diárias vividas por<br />
quem está no terreno e é fundamental ter<br />
soluções que respondam a estas exigências e<br />
necessidades.<br />
Soluções inteligentes,<br />
integradas e eficientes<br />
Rainer Buchmann, CEO da stow Robotics GmbH<br />
deixou bem patente que a intralogística pode,<br />
efetivamente, produzir soluções inteligentes,<br />
integradas e eficientes. Partindo da situação<br />
que as cadeias de abastecimento têm vivido<br />
nos últimos três anos e em tudo o que tem<br />
vindo a mudar, o CEO da Stow Robotics acredita<br />
que as empresas que querem manter-se<br />
competitivas e com capacidade para enfrentar<br />
as rápidas mutações têm que adaptar as suas<br />
infraestruturas em conformidade, criando uma<br />
cadeia de abastecimento também ela resiliente.
SCM Supply Chain Magazine 41<br />
A mesa redonda, moderada por Gisela Santos,<br />
Head of Consultancy Services in Industrial<br />
Engineering and management do INEGI, juntou<br />
à conversa António Brasil, Executive Manager do<br />
Grupo Pinto Brasil, Bárbara Fraga, Supply Chain<br />
Director da Cerealis e Marco Filipe Castanheira,<br />
Iberia Logistics Manager da PPG Industries, que<br />
abordaram os desafios sentidos por cada um<br />
nas suas esferas de atuação e também por onde<br />
acham que vai passar o desenvolvimento nos<br />
próximos tempos.<br />
O networking durante o almoço e no café
42<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
foi intenso, produtivo e demorado e com as<br />
condições atmosféricas a possibilitarem uma<br />
vista magnífica para a Serra da Penha, não<br />
foi fácil interromper os diálogos e trazer os<br />
participantes de volta à sala, mas a tarde era<br />
também ela promissora.<br />
Responder a novos padrões<br />
e necessidades<br />
Com Miguel Nuno Silva, formador e<br />
consultor para as áreas de supply chain<br />
e procurement a conduzir os trabalhos<br />
no período da tarde, foi Leonel Monteiro,<br />
Customer Service Manager da Pinto Brasil<br />
que abriu a sessão da tarde, trazendo<br />
à conferência o projeto de integração<br />
desenvolvido em colaboração com a Komax<br />
AG, tendo oportunidade de explicar como<br />
é que se melhorou a intralogística com<br />
processos mais eficientes e produtivos.<br />
Todas as empresas, grandes e pequenas,<br />
têm que se adaptar aos novos padrões de<br />
produção e de consumo, o que implica<br />
mudanças mas também flexibilidade.<br />
Perante a necessidade das cadeias de<br />
abastecimento se tornarem mais resilientes,<br />
os clientes esperam uma “abordagem de<br />
solução” mais holística, em vez de um foco<br />
individual “na máquina”. Por isso, Vitor Alves,<br />
Portugal Sales Manager da Körber Supply<br />
Chain, explicou o posicionamento da Korber<br />
e como é que esta age e colabora, sempre<br />
muito próxima dos clientes, para lhes oferecer<br />
soluções de valor acrescentado.
SCM Supply Chain Magazine 43
44<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
Fornecedor é parceiro no negócio<br />
Também de colaboração falou Nuno Correia<br />
da Jungheinrich Portugal ao abordar<br />
aqueles que são, na visão da empresa, os<br />
principais desafios da supply chain e o<br />
papel determinante que as parcerias com os<br />
fornecedores de soluções desempenham no<br />
êxito das operações.<br />
Outro desafio que a intralogística enfrenta<br />
prende-se com a alteração dos padrões<br />
de consumo e com os ciclos de vida dos<br />
produtos e bens estarem a tornar-se cada<br />
vez mais curtos. As gamas de produtos estão<br />
a ser modificadas com mais frequência, o<br />
comportamento de compra está a acelerar, e<br />
as expectativas dos clientes estão a aumentar.<br />
Por isso, no MitPenha houve ainda tempo para<br />
ficar a conhecer a “Care to Beauty” e o papel<br />
das infra-estruturas e armazéns no mundo do<br />
e-commerce, com Gisela Santos do Inegi e Rui<br />
Ferreira, Responsável da Logística da empresa.<br />
Vítor Figueiredo, Chief Executive Officer<br />
da Logifrio, prestador de serviços logísticos<br />
ibérico que por via de aquisições tem estado a<br />
alargar a sua atuação e serviços na península<br />
e foi perante uma sala cheia que revelou o<br />
que estão a fazer e o que é a “Transformação<br />
digital de um operador Logístico em modo<br />
Build Up”.<br />
A terminar o dia nada como ir até ao terreno<br />
com Manuel Silva, Responsável de Engenharia<br />
de Processo da Simoldes Plásticos e perceber<br />
o que tem sido a digitalização de processos<br />
na empresa, pois como o próprio explicou,<br />
“apenas com processos mais flexíveis, digitais,<br />
e associados à inteligência artificial será<br />
possível aumentar a velocidade das nossas<br />
decisões e operações”.<br />
Ao longo de um dia ficou claro que<br />
são muitos os desafios que se colocam<br />
à supply chain e que todas as empresas,<br />
independentemente da sua dimensão terão<br />
que se adaptar às novas exigências e padrões<br />
que se fazem sentir em toda a cadeia. E parece<br />
unânime que sem uma boa intralogística seria<br />
impossível continuar a cumprir a promessa e<br />
entregar o sonho ao cliente. •
Munique<br />
9 - 12 Maio<br />
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PRESENÇA NA TRANSPORT LOGISTIC.<br />
De 09 a 12 de Maio, o stand colectivo de Portugal volta a acolher -<br />
naquela que é considerada a feira de referência mundial - as empresas<br />
nacionais que pretendem apresentar os seus serviços e soluções para o<br />
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46<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Os desafios na ótica<br />
da IDC Portugal
SCM Supply Chain Magazine 47<br />
Gabriel Coimbra, diretor-geral da IDC Portugal<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“A SUSTENTABILIDADE<br />
E AS OPERAÇÕES<br />
SUSTENTÁVEIS SÃO OS<br />
MAIORES DESAFIOS”<br />
As mudanças na supply chain são cada vez<br />
mais globais, e se por um lado isso tem aspetos<br />
positivos, o contrário também é válido. Tanto<br />
vemos uma transição para um formato digital,<br />
como assistimos ao aumento de preço dos<br />
espaços físicos ou dos níveis de stocks para<br />
fazer face a disrupções. Nos últimos anos, a<br />
cadeia de abastecimento sofreu alterações<br />
que contradizem o que os livros dizem. Livros<br />
que nem tiveram tempo de ganhar pó.<br />
Adigitalização foi uma das áreas que mais<br />
foi impulsionada desde a pandemia, e<br />
não foi por acaso. Em entrevista à SCM,<br />
Gabriel Coimbra, diretor-geral da IDC Portugal,<br />
comenta mesmo que durante esta época “as<br />
empresas foram obrigadas a tornar-se mais<br />
digitais”, e que ainda hoje a supply chain está<br />
a passar por grandes mudanças a nível global.<br />
Hoje, a procura está a aumentar e a oferta<br />
a diminuir, e como tal, “a logística continua a<br />
recuar e os preços a subir”, surgindo escassez<br />
em todos os setores, e com causas diversas.<br />
“Nalguns casos, é a habitual incapacidade de<br />
o crescimento acompanhar a procura, noutros,<br />
são as interrupções no fornecimento por falta<br />
de trabalhadores ou recipientes de transporte”,<br />
explica o responsável. “A sustentabilidade<br />
e as operações sustentáveis são os maiores<br />
desafios das empresas”.<br />
“Esta desordem está a ocorrer em vários<br />
setores da supply chain e os recursos e<br />
ferramentas necessários para gerir melhor os<br />
riscos – de forma proativa e reativa – devem<br />
abranger a tecnologia”, comenta Gabriel<br />
Coimbra, defendendo que “o aparecimento<br />
de plataformas de gestão de supply chain,<br />
que integram elementos díspares de oferta,<br />
procura e atendimento estão a ser uma maisvalia<br />
para a área”.<br />
FALTA DE TECNOLOGIAS<br />
DIGITAIS MODERNAS<br />
Gabriel Coimbra aponta que, segundo<br />
o estudo IDC’s 2020 Global Supply Chain<br />
Survey, “a maior ‘lacuna’ das empresas era a<br />
falta de tecnologias digitais modernas, que<br />
são críticas para as empresas se adaptarem<br />
a novas mudanças e a modelos de negócios<br />
emergentes”, e revela que nos estudos<br />
de correlação da IDC, as empresas mais<br />
avançadas ao nível da transformação digital
48<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
tendem a superar aquelas que ainda não<br />
iniciaram esse processo. “Quer em receita,<br />
quer em lucro”.<br />
Estes ecossistemas e redes multi-<br />
-empresariais já estão a ser adotados por<br />
diversas empresas, e o diretor-geral defende<br />
que “a tecnologia vai ajudar os fornecedores<br />
a influenciar como os produtos são planeados<br />
e lançados no mercado, quais os processos<br />
de planeamento e execução da supply chain,<br />
como os produtos são fabricados e atendidos<br />
e qual é o seu nível de envolvimento com<br />
clientes e consumidores”<br />
Acompanhando esta transformação,<br />
comenta que os setores que mais irão<br />
investir em tecnologia serão a indústria e a<br />
distribuição, notando-se ainda um crescimento<br />
no uso da Cloud e de Inteligência Artificial,<br />
bem como um forte investimento ao nível da<br />
robotização e automatização de armazéns.<br />
VISIBILIDADE, AGILIDADE<br />
E RESILIÊNCIA<br />
“Assim que existiu um alívio da COVID-19, a<br />
Rússia invadiu a Ucrânia e acrescentou uma<br />
nova turbulência às supply chains globais”,<br />
nota o diretor-geral. Os temas de visibilidade,<br />
agilidade e resiliência já eram temas que<br />
a IDC tinha em conta, e sentiram que nos<br />
últimos anos estes três termos assumiram um<br />
papel cada vez mais fundamental.<br />
De acordo com o estudo, 70% das empresas<br />
inquiridas estão focadas em melhorar a<br />
visibilidade da cadeia de abastecimento, e<br />
80% estão a procurar uma forma de serem<br />
mais ágeis. “De facto, há muito tempo que a<br />
IDC acredita que uma Supply Chain resiliente<br />
deve ser capaz de ver o que está a acontecer<br />
e tomar decisões em tempo real. Se a Supply<br />
Chain carece de agilidade, nenhum tipo de<br />
alerta ajudará se não formos capazes de<br />
responder ao que vemos; adicionalmente, a<br />
agilidade será menos útil se não soubermos<br />
onde e como reagir”, defende Gabriel<br />
Coimbra.<br />
TENDÊNCIAS PARA <strong>2023</strong><br />
Segundo as pesquisas da IDC, os gastos em TI<br />
irão aumentar em <strong>2023</strong>, e tudo aponta para<br />
que a tecnologia seja vista como uma forma de<br />
mitigar alguns problemas que estão a afetar<br />
a supply chain, como processos de negócios<br />
ou escassez de mão de obra. “Prevemos que<br />
os esforços para a transformação digital na
SCM Supply Chain Magazine 49<br />
supply chain irão continuar - e, em alguns<br />
casos, acelerar”, nota o responsável.<br />
“Por exemplo, até 2026, 55% dos OEM<br />
G2000 irão redesenhar as suas cadeias de<br />
fornecimento de serviços com base em<br />
inteligência artificial”, explica Gabriel Coimbra,<br />
“isto irá garantir que as peças suplentes<br />
adequadas, estão disponíveis e posicionadas<br />
para resolver 75% dos problemas antes<br />
da falha. Ou até 2028, o uso de robótica e<br />
automação no armazém terá aumentado dez<br />
vezes, o que irá resultar numa melhoria de<br />
produtividade de tarefas de 30%”.<br />
PREOCUPAÇÕES FUTURAS<br />
Apesar da incerteza que afeta a cadeia de<br />
abastecimento, existem alguns temas a ter<br />
em conta para as empresas minimizarem<br />
os riscos e atingirem os seus objetivos de<br />
negócio. Gabriel Coimbra defende que “as<br />
empresas europeias devem ser capazes<br />
não apenas de se adaptar rapidamente à<br />
disrupção, mas também de capitalizar com<br />
as novas circunstâncias. Devem conseguir<br />
adotar novos modelos de negócios e isto<br />
requer uma supply chain resiliente, que possa<br />
ver e analisar o que está a acontecer em<br />
tempo real e agir rapidamente com base nos<br />
insights daí resultantes”.<br />
“A resiliência da supply chain ainda é<br />
um longo caminho, que representa uma<br />
transformação significativa para muitas<br />
empresas e equipas de liderança. Para além<br />
disto, é fundamental garantir que os negócios<br />
conseguem atingir as metas de receita e<br />
lucro e obter uma vantagem competitiva<br />
no mercado tão desafiador como o de hoje”,<br />
conclui Gabriel Coimbra. •<br />
CONNOSCO
50<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Cadeia<br />
de abastecimento<br />
de semicondutores
SCM Supply Chain Magazine<br />
51<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
MUDAR<br />
O CHIP É<br />
FUNDAMENTAL<br />
A escassez de chips já fez correr muita<br />
tinta e evidenciou a sua importância, mas<br />
também a necessidade de uma supply chain<br />
resiliente. No relatório "Resiliência da Cadeia<br />
de Abastecimento de Semicondutores", a<br />
DHL propõe quatro abordagens-chave para<br />
as empresas protegerem as suas cadeias de<br />
abastecimento no futuro.<br />
O<br />
relatório contém entrevistas com líderes<br />
empresariais de diferentes setores<br />
industriais com o objetivo de identificar<br />
que áreas-chave as empresas estão a<br />
adaptar às suas cadeias de abastecimento<br />
de semicondutores, de forma a torná-las<br />
mais resilientes e flexíveis. O documento<br />
salienta ainda como é que os fornecedores<br />
de logística podem apoiar as empresas, por<br />
exemplo proporcionando-lhe uma melhor<br />
visibilidade da cadeia de abastecimento e<br />
melhores insights de dados. Assim, estas ações<br />
permitirão aperfeiçoar as suas estratégias de<br />
inventário e ainda apoiar as suas iniciativas de<br />
sustentabilidade.<br />
Alexander Gunde, Presidente do Setor<br />
Tecnológico da DHL Customer Solutions<br />
and Innovations, afirmou que “como maior<br />
empresa de logística do mundo, trabalhamos<br />
ao longo da cadeia de abastecimento<br />
para recolher dados críticos, desenvolver<br />
capacidades operacionais e monitorizar<br />
oportunidades de melhoria da resiliência,<br />
fiabilidade e sustentabilidade. Desta forma,<br />
podemos melhorar a resiliência das cadeias de<br />
abastecimento de semicondutores juntamente<br />
com os nossos clientes".
52<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
PROTEGER O FUTURO<br />
Através desta análise foi possível perceber<br />
quais as quatro abordagens-chave que ajudarão<br />
as empresas a alcançar os seus objetivos de<br />
resiliência. Primeiramente, a digitalização<br />
permitirá às empresas de logística uma análise<br />
de dados pormenorizada em tempo útil sobre<br />
expedições, inventários e bens de transporte e<br />
fornecedores, o que aumentará a sua eficiência<br />
operacional e ajudará na tomada de decisões.<br />
Desta forma, através da gestão de plataformas<br />
analíticas será possível melhorar a visibilidade do<br />
transporte e as operações em armazém obtendo<br />
uma visão holística da cadeia de abastecimento.<br />
Ademais, também a colaboração, neste caso<br />
com fornecedores de logística, é fulcral para<br />
criar redes globalmente integradas com gestão<br />
centralizada e aumentar a resiliência da cadeia de<br />
abastecimento, já que serão debatidos de melhor<br />
forma assuntos como, por exemplo, a capacidade<br />
limitada de transporte e a disponibilidade<br />
de equipamento de capital na cadeia de<br />
abastecimento de semicondutores.<br />
No que diz respeito às estratégias robustas<br />
de produto e inventário, os fornecedores<br />
de logística podem oferecer capacidade<br />
adicional de armazenamento, novos locais de<br />
armazenamento, análise de dados de inventário,<br />
entre outros. Vale a pena lembrar que a<br />
mudança para stock de segurança extra, redes<br />
de fulfillment mais flexíveis e simplificação da<br />
linha de produtos na cadeia de abastecimento<br />
de semicondutores requer um apoio direcionado.<br />
Por fim, a sustentabilidade ganha cada<br />
vez mais destaque com as empresas a<br />
tentar minimizar o seu impacto ambiental<br />
enquanto maximizam a resiliência na cadeia<br />
de abastecimento de semicondutores.<br />
Assim, os fornecedores de logística poderão<br />
fornecer dados de emissões do transporte<br />
e armazenamento, otimizar rotas, cargas e<br />
modos de transporte, implementar tecnologias<br />
sustentáveis, tal como ajudar a desenvolver<br />
uma logística de ciclo fechado e iniciativas de<br />
economia circular.
SCM Supply Chain Magazine 53<br />
ASSUMIR UM PAPEL ATIVO<br />
É CRUCIAL<br />
De acordo com a DHL, as ruturas na cadeia<br />
de abastecimento levaram a prejuízos de<br />
mais de 500 mil milhões de dólares a nível<br />
mundial em 2020 e 2021. Contudo, segundo<br />
o Presidente do Sector Tecnológico da DHL<br />
Customer Solutions and Innovations "a<br />
procura de semicondutores continuará a<br />
aumentar enquanto o ambiente de mercado<br />
se mantiver em movimento. Por conseguinte,<br />
as cadeias de abastecimento devem ser<br />
estáveis e ágeis ao mesmo tempo, para<br />
assegurar o fluxo de mercadorias em todo o<br />
mundo”.<br />
A Deloitte também já tinha previsto que<br />
as empresas do setor dos semicondutores<br />
dupliquem os seus investimentos, investindo<br />
99 mil milhões de dólares só em 2022 para<br />
aumentar a capacidade de fabrico e satisfazer<br />
a procura que é cada vez maior. Não obstante,<br />
os projetos paralelos de construção de fábricas<br />
em diversas regiões estão a enfrentar inúmeras<br />
dificuldades no que diz respeito à entrega de<br />
produtos dentro do prazo e orçamento.<br />
As empresas de logística podem,<br />
especificamente, na área da indústria de<br />
semicondutores, ajudar a orquestrar entregas<br />
paralelas, ferramentas e manutenção de<br />
equipamento de capital, bem como outra<br />
maquinaria de múltiplas fontes. •
54<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TRANSPORTE<br />
100 anos<br />
do Porto de Setúbal<br />
Texto: Fábio Santos<br />
FUTURO PASSA POR<br />
INVESTIR, INOVAR<br />
E DESCARBONIZAR<br />
A Administração dos Portos de Setúbal e<br />
Sesimbra (APSS) apresentou no dia 26 de<br />
janeiro, durante a celebração do centenário<br />
do Porto de Setúbal, um vasto programa de<br />
atividades a decorrer ao longo do ano, com<br />
o objetivo de reforçar e promover o papel do<br />
porto no desenvolvimento económico e social<br />
da região, bem como grandes investimentos<br />
programados para os próximos anos.<br />
Foi a 18 de dezembro de 1923 que foi criada<br />
a Junta Autónoma das Obras do Porto e<br />
Barra de Setúbal e do Rio Sado, hoje Porto<br />
de Setúbal. As atividades comemorativas<br />
que decorrerão ao longo do ano procuram<br />
dar a conhecer a atividade do Porto de<br />
Setúbal à região sadina, permitindo que a<br />
comunidade conheça o seu funcionamento,<br />
as suas infraestruturas, tipos de carga e<br />
meios logísticos envolvidos, proporcionar<br />
vivências diversas com a realidade portuária,<br />
entre outras, numa ótica de responsabilidade<br />
social para com os cidadãos. Com estas<br />
medidas, a APSS também espera sensibilizar<br />
a comunidade para a atividade portuária e<br />
incentivar o público jovem e a comunidade<br />
escolar a enveredar por esta área de atuação,<br />
promovendo a captação de novos talentos no<br />
setor marítimo-portuário.<br />
Carlos Correia, presidente da APSS,
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
comenta que “este programa de atividades,<br />
que tem como parceiros oficiais, a Câmara<br />
Municipal de Setúbal e a Comunidade<br />
Portuária de Setúbal, servem para celebrar<br />
o passado, anunciar o presente e projetar<br />
o futuro do Porto de Setúbal. Estas<br />
iniciativas vão estar abertas à população<br />
e à comunidade empresarial da região,<br />
fortalecendo a relação entre o porto e a<br />
cidade, e reforçando a estratégia que existe<br />
para o Porto de Setúbal, que passa por três<br />
palavras: investir, inovar e descarbonizar”.<br />
O Ministro das Infraestruturas, João<br />
Galamba, fez questão de participar na<br />
comemoração dos 100 anos do porto através<br />
de uma mensagem de vídeo: “Esta é uma<br />
infraestrutura chave para o desenvolvimento<br />
da comunidade local, regional e nacional. O<br />
seu hinterland de proximidade às empresas<br />
industriais e zona logística de excelência<br />
faz de Setúbal e um porto essencialmente<br />
exportador, que na última década registou<br />
valores de exportação na ordem dos 60% da<br />
sua carga total. Estes 100 anos concentram<br />
um passado decisivo, sendo hoje indiscutível<br />
o papel central do Porto de Setúbal no<br />
ecossistema portuário e na economia nacional”.<br />
Por parte da Câmara Municipal de Setúbal,<br />
Ricardo Oliveira, adjunto da presidência,<br />
considera que “quando há 100 anos se criou o<br />
porto também se transformou a cidade, e tem<br />
vindo a ser um elemento transformador da<br />
cidade, mobilizador. O município não tem um<br />
entendimento de que o porto é um obstáculo<br />
à cidade, faz parte e é parte integrante da<br />
cidade, e é um fator essencial e determinante<br />
para o processo de desenvolvimento da<br />
própria cidade. É um elemento de identidade e<br />
da cultura dos setubalenses, da cultura desta<br />
região, e continuará a sê-lo no futuro”.
56 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
RESULTADOS E INVESTIMENTOS<br />
O Porto de Setúbal é hoje o segundo maior<br />
em termos de transporte ferroviário, sendo<br />
cerca de 1/3 da carga movimentada por este<br />
método. Em 2022 a infraestrutura movimentou<br />
6,2 milhões de toneladas de mercadorias,<br />
tendo apresentado como principal destaque<br />
a exportação, que superou os 52% do volume<br />
total movimentado, e ao nível da carga ro-ro<br />
este valor atingiu os 70%. Nos últimos 10 anos,<br />
como referiu também João Galamba, 60% da<br />
carga do porto destinou-se à exportação.<br />
Esta é uma aposta em cargas de valor<br />
acrescentado por parte dos exportadores<br />
parceiros do porto, posicionada para apoiar<br />
a produção industrial, tanto das indústrias<br />
instaladas na região, como a nível nacional.<br />
“São cargas que têm mudado o paradigma<br />
do porto, pela importância económica da<br />
movimentação de produtos finais”, explica<br />
a APSS, “ao mesmo tempo, prepara-se para<br />
receber matérias-primas e para exportar<br />
produtos finais que irão ser produzidos pelas<br />
novas indústrias a instalar na região, que<br />
se vão enquadrar na produção industrial<br />
ambientalmente sustentável”.<br />
Neste momento estão pensados e/ou<br />
a avançar, nos seus diferentes estados de<br />
maturação, os seguintes projetos para o distrito:
SCM Supply Chain Magazine 57<br />
Melhoria das acessibilidades<br />
ferroviárias<br />
Após dotarem o Porto de Setúbal de umas<br />
melhores acessibilidades marítimas e de<br />
implementarem a Janela Única Logística, “a<br />
plataforma de infraestruturas mais avançada<br />
que existe nos restantes portos”, como<br />
defendeu Carlos Correia, “importa, também,<br />
dar continuidade a esta cadeia logística,<br />
promovendo a melhoria das acessibilidades<br />
terrestres”.<br />
Carlos Correia explica que “temos um<br />
projeto de melhoria das nossas acessibilidades<br />
ferroviárias, e a nossa expectativa é que<br />
arranque este ano, numa parceria que temos<br />
com a Infraestruturas de Portugal, e isso vai<br />
potenciar esse aumento dessa intermodalidade,<br />
neste caminho para a descarbonização”. Neste<br />
sentido, revela que assinaram recentemente<br />
um compromisso com o Pacto Global das<br />
Nações Unidas, para cumprir os objetivos de<br />
descarbonização estipulados pela Organização<br />
das Nações Unidas (ONU), e tendo como meta<br />
atingir a neutralidade carbónica até 2035.<br />
“Havendo aqui dois parceiros, o investimento<br />
total é de 20 milhões de euros, sendo que 5<br />
milhões de euros é a componente da APSS para<br />
esse investimento”, explica o presidente da<br />
APSS, sendo estes dedicados tanto para
58<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
o para investimento na ferrovia como na<br />
rodovia, “porque existe um conjunto de<br />
restabelecimentos rodoviários que vão ser<br />
necessários”. O acordado entre as partes é de<br />
que uma componente do investimento será<br />
feita na rede ferroviária nacional, estando<br />
esta a cargo da Infraestruturas de Portugal, e<br />
outra parte será na infraestrutura do Porto de<br />
Setúbal.<br />
A APSS aponta ainda que tem fundos<br />
próprios para fazer esse investimento,<br />
mas que vai candidatar este projeto a<br />
financiamento comunitário, por se tratar<br />
de um projeto que responde a todas as<br />
componentes necessárias. De acordo com o<br />
que a IP anunciou à APSS, o lançamento do<br />
concurso deste investimento está previsto<br />
iniciar no segundo semestre de <strong>2023</strong>.<br />
Do ponto de vista rodoviário, o presidente<br />
considera que a infraestrutura é privilegiada<br />
geograficamente, devido aos seus fáceis<br />
acessos aos principais eixos rodoviários, sem<br />
necessidade de atravessarem pelo centro da<br />
cidade, mas ao nível ferroviário ainda sentem<br />
que existe espaço para crescer e aumentar a<br />
quota modal. “Já hoje temos uma quota modal<br />
muito importante em termos ferroviários, mas<br />
queremos crescer em termos do movimento por<br />
via ferroviária, e por isso é importante eliminar<br />
alguns missing links que existem em termos de<br />
infraestrutura ferroviária”, aponta.<br />
Um ponto importante para ferrovia será<br />
o complemento das linhas para permitir e<br />
facilitar a movimentação do material circulante<br />
ferroviário, aumentando a segurança e<br />
eliminando a necessidade de “invadir” a linha<br />
geral, do Alentejo, bem como passando a<br />
tornar a linha apta a receber composições de<br />
750 metros, “que é, no fundo, o standard da<br />
interoperabilidade a nível europeu e, portanto,<br />
maiores composições significam que o custo<br />
unitário em termos da carga acaba por ser<br />
mais reduzido, e isso habilita ou potencia esse<br />
aumento em termos da ligação ferroviária”.
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
Carlos Correia destaca a importância da<br />
ferrovia, devido ao Porto de Setúbal ser “o<br />
porto mais próximo da fronteira espanhola”, o<br />
que faz com que Setúbal beneficie da ligação<br />
que está a ser construída entre Évora e Elvas,<br />
à fronteira, o que permitirá ao porto “alargar o<br />
seu hinterland e captar carga da Estremadura<br />
e da Andaluzia, e se tivermos uma ambição<br />
um bocadinho maior, chegar até uma parte de<br />
Madrid”. Nesse sentido, o presidente da APSS<br />
comenta que “tem havido alguma procura por<br />
parte de empresários espanhóis, junto do Porto<br />
de Setúbal interessados nessas abordagens,<br />
para que o Porto de Setúbal possa servir para a<br />
movimentação das suas mercadorias”.<br />
“O Porto de Setúbal, pelas suas<br />
características, pela sua inserção, tem de facto<br />
um potencial crescimento enorme, não só nas<br />
suas atividades tradicionais, na atividade de<br />
movimentação de carga e de ro-ro, de veículos,<br />
e já começa a ter algum movimento em termos<br />
de passageiros, e temos de potenciar também<br />
essa vertente dos cruzeiros aqui em Setúbal”,<br />
nota o responsável.<br />
One Shot Power System<br />
Um dos projetos que têm ao nível da<br />
sustentabilidade é o One Shot Power System,<br />
que visa dotar os terminais portuários com<br />
ligação elétrica para quando os navios<br />
estiverem atracados em cais possam ser<br />
alimentados com energia elétrica ao invés de<br />
consumirem combustíveis fósseis, reduzindo<br />
as emissões poluentes, bem como o ruído e as<br />
vibrações. “Este projeto é importante porque<br />
temos a noção que a partir de 2030 a União<br />
Europeia imporá, provavelmente, que seja<br />
obrigatório aos portos oferecerem este tipo<br />
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ADUANEIRO
60 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
de serviços, de fornecer energia elétrica para<br />
os navios que estão atracados em cais”, aponta<br />
Carlos Correia.<br />
O responsável explica que neste momento<br />
todos os navios que estão a ser construídos já<br />
estão a ser habilitados para permitir este tipo<br />
de sistemas, e assim, quando esta legislação se<br />
verificar obrigatória, já estarão preparados para<br />
dar resposta a estes navios mais modernos, e<br />
também destaca que já desde há algum tempo<br />
que os armadores têm atenção à sua pegada<br />
ambiental, e assim, “começam a procurar os<br />
portos que, no fundo, lhes dão garantias de que<br />
podem, em termos da sua pegada ambiental,<br />
ser menos impactantes. Os próprios armadores<br />
começam a ter essas preocupações, e o Porto de<br />
Setúbal irá estar habilitado para que olhem para<br />
ele como um local capacitado para fornecer<br />
esse tipo de serviços”.<br />
Renegociação da modernização das<br />
concessões da Sadoport<br />
Em 2025 terminam as concessões da Sadoport,<br />
e está a ser proposta a prorrogação desses<br />
contratos num período de 10 anos, mas<br />
que também tem em vista um conjunto de<br />
investimentos na sua negociação, ao nível da<br />
modernização e da sustentabilidade ambiental.<br />
Novo terminal multiusos<br />
“Estamos comprometidos com a necessidade<br />
de lançar uma nova concessão para aquilo<br />
que é o terminal multiusos da Mitrena, que<br />
é atualmente o terminal de granéis sólidos<br />
da Sapec”, adiantou o responsável, sendo<br />
esse lançamento feito até 2025. “Estamos a<br />
desenvolver um projeto para um novo terminal<br />
multiusos, com dimensão e funções diferentes<br />
daquilo que lá existe, e que, por aquilo que está<br />
previsto, terá 350 metros de cais, e cerca de<br />
10,4 hectares de terrapleno”.<br />
De acordo com Carlos Correia, esse o novo<br />
terminal, “terá uma nova funcionalidade, um<br />
novo autónomo dentro do Porto de Setúbal,<br />
para responder a este equipamento que nós<br />
pretendemos ao nível da carga, e temos já<br />
um conjunto de manifestações de interesse<br />
relativamente a esse terminal”. Os estudos<br />
técnicos e os estudos ambientais estão a ser<br />
desenvolvidos pela APSS, e depois terá uma<br />
concessão que será lançada à iniciativa privada<br />
para um projeto para a construção e gestão do<br />
terminal.<br />
Novo terminal multimodal<br />
O Porto de Setúbal está também a trabalhar<br />
naquele que será o novo terminal multimodal,<br />
que será criado na zona do novo terrapleno,<br />
resultado da recente dragagem no Porto de<br />
Setúbal, situado junto ao terminal ro-ro. “Esse<br />
terrapleno está consolidado, e a nossa ideia é<br />
constituir um terminal multimodal, e estamos a<br />
desenvolver também esses estudos, sendo certo<br />
que será também lançado à iniciativa privada”,<br />
avança ainda.<br />
As intenções são de que uma parte desse<br />
terminal também seja dedicado à expansão do<br />
terminal ro-ro, mas ainda estão a desenvolver<br />
estudos para que possam captar um novo<br />
tipo de carga para o terminal de Setúbal,<br />
nomeadamente para o movimento de trailers,<br />
respondendo a uma oportunidade que existe<br />
para o Porto de Setúbal nesse mercado. “É um<br />
tipo de carga que já existe, por exemplo, no<br />
Porto de Leixões, e que existe um potencial<br />
para o Porto de Setúbal, designadamente até<br />
associado à Autoeuropa para o transporte de<br />
componentes”, aponta o responsável.<br />
Energias offshore<br />
A APSS está a estudar um conjunto de<br />
investimentos ao nível das energias offshore,
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
entre os quais se inclui o projeto Aurora, a<br />
joint venture entre a Galp e a Northvolt para<br />
instalarem no parque logístico da Sapec a maior<br />
e mais sustentável fábrica de lítio na Europa, que<br />
tem produção prevista para fabricar hidróxido<br />
de lítio para 700.000 veículos a nível mundial,<br />
e que tem um investimento na ordem dos 750<br />
milhões de euros, criando em Setúbal 1.500<br />
postos de trabalho diretos e indiretos. “O Porto<br />
de Setúbal é um elemento importante porque<br />
parte dessa produção, quer da importação de<br />
matéria-prima, quer da exportação, será feita<br />
por parte do porto”, nota o presidente.<br />
Um outro projeto, ainda não anunciado<br />
publicamente, está relacionado com a produção<br />
de biocombustíveis, com hidrogénio verde, por<br />
parte de uma empresa multinacional, que já fez<br />
inclusive sondagens no Porto de Setúbal. “O<br />
projeto está relativamente consolidado, será<br />
anunciado oportunamente, tem financiamento<br />
a partir do PRR, mas visa a instalação de uma<br />
unidade de produção de biocombustíveis a partir<br />
de hidrogénio verde”, avança.<br />
Existem ainda outros projetos já<br />
consolidados, para a construção de<br />
componentes para as torres eólicas offshore,<br />
quer na Lisnave, quer na Etermar. “Grande<br />
parte desses componentes pode ser fabricado<br />
aqui em Setúbal, e na Lisnave e na Etermar<br />
existem já projetos firmados para a construção<br />
desses componentes para as torres offshore.<br />
Há um investidor que também está interessado<br />
em instalar-se na Sapec para a construção de<br />
pás para as torres eólicas, e há vários outros<br />
investidores”, acrescenta Carlos Correia.<br />
“É importante que o Porto de Setúbal até lá<br />
seja capaz de nalguma parte da infraestrutura<br />
portuária fazer os investimentos para suportar<br />
e dar resposta a estes investimentos externos”,<br />
defende o responsável.<br />
QUEREMOS POSICIONAR O PORTO<br />
DE SETÚBAL COMO UM PORTO<br />
ESTRATÉGICO E CHAVE PARA<br />
APROVEITAR OS NOVOS DESAFIOS<br />
E AS NOVAS OPORTUNIDADES QUE<br />
SE PERFILAM NESTA NOVA FILEIRA<br />
DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA,<br />
EM PARTICULAR DAS ENERGIAS<br />
OFFSHORE, E O PORTO DE SETÚBAL<br />
TEM DE FACTO ESSAS CONDIÇÕES,<br />
PORQUE TEM UM CONJUNTO DE<br />
VASTAS ÁREAS LOGÍSTICAS QUE LHE<br />
ESTÃO ASSOCIADAS, E DE INDÚSTRIAS<br />
QUE SÃO FUNDAMENTAIS PARA ESSA<br />
FILEIRA E PARA O DESENVOLVIMENTO<br />
DESSAS ATIVIDADES<br />
– Carlos Correia, presidente da APSS.<br />
Inovação tecnológica para captação<br />
de recursos humanos<br />
Um dos tópicos que destaca é ao nível da<br />
inovação tecnológica, e não só como essa<br />
temática é importante para a atividade<br />
portuária, mas também para a captação<br />
de jovens qualificados, pois esta também<br />
é uma das dificuldades que as empresas<br />
concessionárias apresentam. “Queremos<br />
associar-nos ao Politécnico de Setúbal e a<br />
outras instituições de ensino e de inovação<br />
para promover este seminário e dar essa nota<br />
da inovação em termos da atividade portuária”,<br />
aponta Carlos Correia. •
62<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TRANSPORTE<br />
“O DESAFIO PASSA<br />
POR CONSEGUIRMOS<br />
IR AO ENCONTRO DAS<br />
EXPECTATIVAS”<br />
No que toca ao last mile, a mentalidade dos<br />
consumidores evoluiu bastante nos últimos<br />
anos, e hoje estes procuram cada vez mais<br />
questões como a rapidez, comunicação<br />
e updates frequentes sobre o estado da<br />
entrega, flexibilidade no reagendamento<br />
ou entregas grátis. As expectativas por<br />
parte dos clientes estão muito altas, e os<br />
desafios para as empresas transportadoras<br />
são cada vez maiores, pelo que é preciso<br />
inovar e arranjar formas de dar resposta a<br />
todas estas dificuldades.<br />
Delnext<br />
Diogo Assis, Co-Founder e CEO da Delnext<br />
ADelnext foi fundada em 2015, mas só<br />
iniciou a sua atividade em 2016. O foco<br />
inicial da empresa era servir todas as<br />
pessoas que quisessem fazer envios desde a<br />
Península Ibérica para outros países europeus,<br />
através de parceiros de transporte. Hoje,<br />
oito anos depois, Diogo Assis, Co-Founder e<br />
CEO da empresa, comenta que o foco está<br />
“na melhoria da qualidade do serviço”, e em<br />
oferecer “um serviço dedicado e personalizado,<br />
para que possamos continuar a crescer<br />
organicamente”.<br />
A partir de 2019, a empresa iniciou um<br />
processo de distribuição própria por todo<br />
o país, e hoje tem vários tipos de serviços,
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
como distribuição em 24 horas para qualquer<br />
região de Portugal, incluindo a ilha da<br />
Madeira e as maiores ilhas dos Açores, onde<br />
também conseguem fazer entregas em 24h<br />
através do seu serviço aéreo. “Enviamos,<br />
também, encomendas de Portugal ou<br />
Espanha para qualquer outro país da<br />
União Europeia. Para clientes específicos<br />
oferecemos, ainda, serviços de fulfillment<br />
e envios para qualquer parte do mundo”,<br />
explica o responsável, acrescentando que<br />
para isso especializaram-se em ajudar<br />
empresas a distribuir encomendas, tanto<br />
em Portugal como por toda a Europa.<br />
“A tecnologia que utilizamos e que<br />
desenvolvemos in house, permite-nos ter o<br />
controlo certo e necessário para podermos<br />
distribuir encomendas em qualquer parte do<br />
Mundo”, afirma.<br />
Só em outubro de 2022, a empresa<br />
apresentou um crescimento de 60% face<br />
ao mesmo mês do ano anterior, e até ao<br />
terceiro trimestre, esse aumento foi superior<br />
a 40%. Diogo Assis conta que o crescimento<br />
que têm tido foi feito através de “passa-<br />
-palavra”, e que pretendem continuar a atuar<br />
desta forma, mas “logicamente que também<br />
investimos no desenvolvimento da nossa<br />
área comercial, que é fundamental para<br />
aquisição de novos e maiores clientes”.
64<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
DISTRIBUIÇÃO SUSTENTÁVEL<br />
A distribuição da Delnext é feita através de<br />
parceiros que representam a marca, contando<br />
com 100 veículos de distribuição para a entrega<br />
de encomendas dos seus clientes. Destes, cerca<br />
de 10% são veículos elétricos, um valor que<br />
pretendem aumentar nos próximos três anos,<br />
atingindo os 50%.<br />
“A Delnext tem sempre como foco melhorar<br />
a experiência de quem utiliza os seus serviços<br />
e, conscientes da realidade ambiental em que<br />
estamos a viver, fazia todo o sentido ter esta<br />
opção no nosso variado leque de métodos de<br />
envio. Por isso criámos o Go Green, um serviço<br />
de envio de encomendas sustentável”, explica o<br />
responsável.<br />
Os envios Delnext Go Green são um novo<br />
serviço que permite às empresas optarem por<br />
pagar um valor reduzido para mitigarem a<br />
pegada ambiental desse envio. “Graças a este<br />
novo serviço, que desenvolvemos com a ajuda<br />
da Reflora, os nossos clientes vão poder pagar<br />
um valor reduzido para que os seus envios sejam<br />
considerados green (sem emissões de carbono),<br />
pois esse valor será utilizado em projetos<br />
que compensam as emissões carbónicas”,<br />
explica Diogo Assis, sendo que “desde a sua<br />
implementação, já compensámos por iniciativa<br />
própria várias toneladas de CO2”.<br />
A parceria com a Reflora ajudou a Delnext<br />
a calcular as emissões carbónicas das suas<br />
entregas, tendo em conta o meio de transporte<br />
e o destino de envio. “Por exemplo, uma entrega<br />
realizada numa carrinha de Lisboa para o Porto,<br />
é muito diferente de uma entrega realizada de<br />
avião de Lisboa para o Funchal. Através desta<br />
parceria, conseguimos calcular todos os valores<br />
que temos de despender para compensar as<br />
emissões carbónicas”, comenta o CEO.<br />
“Curiosamente, a nível percentual, os<br />
consumidores finais têm aderido mais do que<br />
as empresas”, aponta, “mas temos assistido a<br />
uma maior preocupação por parte de todos com<br />
esta questão”, sentido também um crescimento<br />
do número de empresas que lhes perguntam<br />
se as suas entregas são green, sendo um fator<br />
decisivo para a tomada de decisão.<br />
IR AO ENCONTRO DAS<br />
EXPECTATIVAS<br />
A empresa está cada vez mais especializada<br />
nos envios B2C, que acabam por ser mais<br />
complexos do que B2B. “O desafio passa<br />
por conseguirmos ir ao encontro das<br />
expectativas de qualquer pessoa que recebe<br />
uma encomenda através da nossa empresa”,<br />
explica Diogo Assis, e aponta que o futuro<br />
está na visibilidade para o cliente final, dando<br />
“uma experiência ao destinatário de poder a<br />
acompanhar a sua entrega ao segundo, para<br />
que o mesmo saiba exatamente quando e onde<br />
receberá a sua encomenda”.<br />
Outro dos focos em que a empresa se tem<br />
focado é na rapidez de resposta aos clientes,<br />
para que não exista falta de informação<br />
relativamente às entregas.
SCM Supply Chain Magazine 65<br />
“O mercado tem evoluído de forma positiva,<br />
sendo que houve um boom de envios por parte<br />
das lojas online desde a pandemia”, aponta<br />
Diogo Assis. No ano passado, durante as últimas<br />
semanas do ano, que envolvem a Black Friday,<br />
Cyber Monday e Natal, duplicaram o número<br />
de entregas realizadas, face ao mesmo período<br />
de 2021. “Por um lado, a minha perceção (até<br />
porque ainda não existem dados oficiais) é que,<br />
de uma forma geral, existiu um aumento de<br />
envios em termos de mercado e isso contribuiu<br />
para este aumento exponencial na Delnext. Por<br />
outro lado, ao longo do ano adquirimos mais<br />
clientes empresariais, e os mesmos também<br />
contribuíram para este crescimento”, considera.<br />
OLHAR PARA <strong>2023</strong><br />
Duas das incertezas que mais preocupam<br />
o setor, e que impactam diretamente a<br />
empresa, são o poder de compra das pessoas<br />
e o preço dos combustíveis, resultados de<br />
questões como a guerra e a inflação. No<br />
entanto, Diogo Assis mostra-se positivo,<br />
e afirma que apesar das dificuldades<br />
“continuamos a ter boas perspetivas de<br />
crescimento, pois com os desenvolvimentos<br />
tecnológicos e processuais que temos feito,<br />
queremos continuar a conquistar a confiança<br />
de mais clientes”, estabelecendo como<br />
objetivo um crescimento de 35% face a 2022.<br />
“Neste momento cobrimos a totalidade<br />
do território nacional e o nosso objetivo<br />
é expandir internacionalmente”, sendo o<br />
próximo passo o início da distribuição própria<br />
em Espanha. “Já realizámos alguns testes<br />
em Madrid e, em breve, queremos iniciar<br />
noutras províncias espanholas”, conclui o<br />
responsável. •
66 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
CARREIRA<br />
Gesgrup<br />
Jorge Carvalho, Product Manager da Gesgrup Portugal<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“OUTSOURCING<br />
NÃO É TRABALHO<br />
TEMPORÁRIO:<br />
SÃO SOLUÇÕES<br />
CHAVE-NA-MÃO”<br />
Cada vez mais empresas apontam<br />
que as pessoas são as verdadeiras<br />
diferenciadoras, o que num mundo cada<br />
vez mais digital e tecnológico evidencia<br />
a força de um cérebro face aos chips.<br />
No entanto, gerir bens e serviços é um<br />
desafio completamente diferente de gerir<br />
pessoas, pois estas exigem um cuidado e<br />
uma atenção emocional.<br />
A<br />
s dificuldades de captação e retenção de<br />
talento são duas das maiores dificuldades<br />
encontradas atualmente pelas empresas, e<br />
gerir pessoas também é outro desafio.<br />
Jorge Carvalho, o novo Product Manager<br />
da Gesgrup em Portugal, chegou no final de<br />
2022 à empresa, “com a missão de liderar este<br />
projeto e também de nos fazer conseguir levar<br />
cada vez mais às empresas o valor que nós<br />
acrescentamos”, destacando que em termos de<br />
valor associado ao outsourcing, é importante<br />
destacar que “estamos a falar de uma solução,<br />
ou de várias soluções, chave-na-mão para as<br />
empresas nossas clientes”.<br />
O responsável conta com uma carreira de<br />
mais de 20 anos no setor da logística, já tendo<br />
passado por várias realidades dentro do setor,<br />
o que o ajuda a perceber melhor os desafios<br />
associados às empresas, mas também às<br />
necessidades de, e dos, recursos humanos nas<br />
operações. Ao fim destes anos todos, afirma que<br />
“o que mais gosto em logística é das pessoas”.<br />
AS PESSOAS CERTAS<br />
NOS SÍTIOS CERTOS<br />
A área de recursos humanos tem grandes<br />
desafios associados. É um recurso que não<br />
pode ser lidado de forma leve, há que conhecer,<br />
estudar e perceber o seu perfil. Jorge Carvalho<br />
explica que este desafio, “não é só a questão de<br />
encaixar a pessoa certa no tipo de projeto certo,<br />
mas também encaixar a pessoa certa no tipo de<br />
empresa certa, e na cultura certa dessa empresa”.<br />
Este é um desafio pelo qual tem especial apreço,<br />
e admite que “gosto de ler perfis, e felizmente
SCM Supply Chain Magazine 67
68 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
hoje trabalho num grupo repleto de pessoas<br />
que se dedicam profundamente à capacidade de<br />
leitura de perfis”.<br />
Neste momento existe carência de mão de<br />
obra no mercado, e o desafio da Gesgrup passa<br />
não só por captar pessoas, mas também por<br />
perceber quais as suas aptidões, formá-las,<br />
integrá-las, e alocá-las a projetos tendo em<br />
conta os seus perfis. “Se estamos a falar de uma<br />
função mais operacional, faz sentido encaixar<br />
uma pessoa que tenha um perfil com um<br />
maior gosto operacional, e que sinta a paixão<br />
pela adrenalina do dia a dia, mas se tivermos<br />
um perfil com competências analíticas mais<br />
evidentes, vamos encaixá-la nesse tipo de<br />
projeto”, explica Jorge Carvalho, acrescentando<br />
que “fazer esta leitura de perfis é muito<br />
importante, e é algo em que apostamos muito”.<br />
Considera que para conseguirem responder<br />
melhor às necessidades das empresas, é<br />
importante também terem nas suas equipas<br />
e estruturas, pessoas com background de<br />
logística e de recursos humanos, “precisamente<br />
para conseguirmos fazer aqui as leituras mais<br />
corretas possíveis dos perfis e colocar as<br />
pessoas certas nos sítios certos, de forma a que<br />
consiga haver um match benéfico para todos”.<br />
CAPTAÇÃO DE TALENTO<br />
Segundo Jorge Carvalho, há uns anos as<br />
pessoas tendencialmente candidatavam-se<br />
às ofertas de emprego, e as empresas tinham<br />
menos dificuldade em captar talento, mas que<br />
procuram ser proativos ao invés de reativos,<br />
indo procurar diretamente as pessoas. “Temos<br />
consultores nossos que abordam e falam com<br />
as pessoas, que explicam projetos que temos<br />
em carteira para desenvolver, e isto faz com<br />
que consigamos também cativar as pessoas<br />
a trabalharem connosco e nas operações dos
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
nossos clientes”, nota. “Muitas vezes as pessoas<br />
também não aderem aos projetos profissionais<br />
porque não percebem exatamente do que se<br />
trata, não lhes é devidamente explicado”.<br />
Na sua ótica, o facto de as pessoas não<br />
compreenderem totalmente os projetos cria<br />
alguma resistência e mantém-nas na sua ‘zona<br />
de conforto’. “Há que saber chegar às pessoas,<br />
explicar, fazê-las perceber qual é a ideia e<br />
qual é o projeto”, defende Jorge Carvalho, “as<br />
pessoas cada vez mais movem-se por missão, e<br />
não saber fazer chegar à pessoa qual é a missão<br />
que está ali em jogo, e quais são as perspetivas,<br />
é meio caminho andado para depois não<br />
conseguirmos captar a pessoa”.<br />
RETENÇÃO DE TALENTO<br />
As dificuldades permanecem mesmo depois<br />
do processo de captação, e por vezes a maior<br />
dificuldade está mesmo em reter o talento, que<br />
passa muito por características emocionais.<br />
“A logística é uma área como qualquer outra.<br />
É uma área que tem de ter a capacidade de<br />
fazer com que as pessoas se sintam felizes no<br />
seu trabalho, isto é fundamental para todos os<br />
setores de atividade”, considera o responsável.<br />
“Muitas vezes, o que provoca um turnover<br />
elevado nas empresas é precisamente a falta<br />
de perspetiva que vão tendo”, apontando<br />
como solução a envolvência das pessoas. “As<br />
pessoas, quando se sentem envolvidas, trabalham<br />
com níveis motivacionais muito mais elevados”,<br />
explica, notando que muitas vezes os processos<br />
de saída de um colaborador devem-se não só a<br />
fatores financeiros, mas também motivacionais<br />
e emocionais. “Se a pessoa consegue perceber<br />
que faz parte da solução, e que é parte<br />
envolvida, tem uma perspetiva de continuidade<br />
muito maior e sente-se feliz no trabalho. Hoje<br />
fala-se muito da felicidade no local de trabalho,<br />
mas por vezes fala-se de uma forma genérica. Isto<br />
constrói-se todos os dias, com as nossas pessoas,<br />
e no trabalho que os líderes fazem com as suas<br />
pessoas”.<br />
O project manager considera que o<br />
envolvimento das pessoas e a partilha de<br />
informação e conhecimento vai construindo<br />
uma realidade com pessoas mais satisfeitas,<br />
resultando num turnover muito mais reduzido.<br />
“Muitas vezes as pessoas não mudam ‘por<br />
cêntimos’, mas mudam por diferenças<br />
financeiras muito reduzidas. Isto revela-nos<br />
que o fiel da balança em termos da decisão do<br />
colaborador não está unicamente na questão<br />
financeira, mas depois normalmente tem uma<br />
questão motivacional por trás, que deve ser<br />
trabalhada”.<br />
FORMAÇÃO DAS EQUIPAS<br />
Ao nível formativo, a empresa conta com<br />
vários tipos de processos. “Temos processos<br />
de formação específicos de integração na<br />
Gesgrup, e para além disso, em simultâneo e de<br />
forma sequencial, processos de integração dos<br />
colaboradores, não só na Gesgrup e em todas as<br />
ferramentas que a Gesgrup traz, mas também<br />
nas especificidades de cada cliente e de cada<br />
operação”, esclarece Jorge Carvalho.<br />
Como cada operação é uma realidade<br />
diferente, existe uma necessidade de formar<br />
as pessoas de uma forma mais macro, ao nível<br />
dos processos de logística, mas também no que<br />
são as realidades das operações dos clientes,<br />
havendo ainda processos de melhoria contínua<br />
ao longo do percurso, envolvendo competências<br />
técnicas de logística ou normativas legais, como<br />
licenças de condução de empilhadores e de<br />
máquinas.<br />
“Queremos que as nossas pessoas se<br />
desenvolvam”, defende o project manager,<br />
apontando também as soft skills dos seus<br />
colaboradores como outro dos seus focos.
70<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
TRABALHAR AS SOFT SKILLS<br />
“Este é um tópico muito importante, não só pelas<br />
necessidades que os vários negócios e cadeias de<br />
abastecimento vão tendo, ou por trabalharmos<br />
com outro tipo de ferramentas, mas também<br />
porque as gerações estão a mudar”, o que exige<br />
outro tipo de competências para quem trabalha<br />
no setor. “Aquilo que há alguns anos seriam<br />
modelos comportamentais, não só de liderança<br />
como de trabalho em equipa, hoje são muito<br />
menos lineares”, abrindo espaço a competências<br />
emocionais e técnicas diferentes.<br />
“Quando temos a convivência de gerações<br />
com um paradigma diferente, a necessidade<br />
de trabalhar estas soft skills é de facto muito<br />
importante”, o que traz consigo capacidades<br />
ao nível da liderança. “Um líder deve ter a<br />
consciência de que é um orientador para as suas<br />
equipas, mas acima de tudo ter a consciência<br />
de que ele existe, sim, para estar ao serviço do<br />
seu negócio e da sua empresa, mas também ao<br />
serviço das pessoas que com ele trabalham”, nota<br />
Jorge Carvalho, e destaca que é importante os<br />
líderes terem a consciência de que “as pessoas<br />
juntam-se nas empresas para conseguirem<br />
em conjunto, em equipa, o que sozinhas<br />
conseguiriam muito mais dificilmente”, para<br />
lidarem com as suas equipas e fazerem crescer as<br />
pessoas, e vice-versa.<br />
Através destas soft skills mais emocionais,<br />
Jorge Carvalho defende que são capazes não só<br />
de manter as pessoas consigo, mas também de<br />
acrescentar valor.<br />
OUTSOURCING ACRESCENTA VALOR<br />
Uma ideia que o responsável considera<br />
importante passar para as empresas é que<br />
o outsourcing acrescenta valor, e permite às<br />
empresas focarem-se no seu core business<br />
ao invés de se preocuparem com áreas de<br />
suporte ao negócio, que passam a estar geridas<br />
por parceiros com maior experiência na área,<br />
considerando que embora algumas empresas já<br />
consigam identificar os benefícios deste modelo,<br />
nem todas o veem deste modo.<br />
Muitas vezes as empresas recorrem ao<br />
outsourcing como forma de colmatar alguma<br />
falha ou necessidade temporária adicional, mas<br />
pela experiência da Gesgrup, “mesmo na situação<br />
em que temos um parceiro que apenas precisa<br />
de nós numa primeira fase para um desafio<br />
ou projeto mais pontual, aquilo que acaba<br />
por acontecer é que depois ficamos com uma<br />
parceria a título mais regular e permanente”,<br />
considerando que isto se deve ao facto de<br />
conseguirem acrescentar valor, e quererem ser<br />
parte da solução, criando-se uma relação de<br />
parceria durante o processo.<br />
Mesmo numa perspetiva ao nível da pessoa e<br />
do colaborador, conta que também conseguem<br />
fazer internamente com que a pessoa vá<br />
experienciando, ao longo do seu percurso,<br />
vários tipos de desafios e de projetos, que<br />
também a ajudam a crescer. “Conseguimos<br />
gerar um benefício para todas as partes, criando<br />
soluções para os parceiros, desafios positivos<br />
de crescimento para as nossas pessoas, e mais<br />
conhecimento e aprendizagem para todos”.<br />
PICOS DE SAZONALIDADE<br />
As alturas de pico são um dos pontos a que a<br />
Gesgrup mais dá capacidade de resposta, e onde<br />
é importante trabalhar as sinergias, pois “isto<br />
também nos ajuda a trabalhar sempre com um<br />
conjunto de pessoas que, de uma forma mais<br />
regular, colaboram connosco, e isto é importante<br />
para dar solidez aos processos”.<br />
“Como temos tipologias de clientes diferentes,<br />
em negócios diferentes, e com picos de<br />
sazonalidade diferentes, também conseguimos<br />
fazer movimentar pessoas numa determinada
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
época que não esteja tão forte em termos de<br />
operação, para uma operação que esteja mais<br />
em pico”, destaca, sendo que ao movimentarem<br />
pessoas com mais experiência e know-how,<br />
reduzem o risco de irem buscar ao mercado<br />
pessoas que não tenham tanta experiência.<br />
“Existe muito a tendência de nos picos de<br />
sazonalidade as empresas quererem só dar<br />
uma resposta quantitativa, mas acima de tudo<br />
que essa resposta seja mais qualitativa. Algo<br />
para que nós sensibilizamos bastante os nossos<br />
clientes, é termos sempre o cuidado de não<br />
alocar recursos em demasia, nem num número<br />
deficitário”, explica, justificando que nem vão<br />
ter recursos suficientes, nem incrementar a<br />
produtividade ou maximizar o potencial das<br />
pessoas e da operação. “É muito importante ter<br />
esta visão e esta capacidade de dimensionar,<br />
e fazer permanentemente os movimentos de<br />
ramp up e ramp down no dimensionamento das<br />
equipas, sem penalizar as operações”.<br />
TENDÊNCIAS PARA <strong>2023</strong><br />
“<strong>2023</strong> é um ano de incógnita”, caracteriza Jorge<br />
Carvalho. “Existem inúmeros receios neste<br />
momento no ar, não só pela conjuntura que<br />
vivemos em 2022 devido à guerra na Ucrânia,<br />
como também a um passado muito recente<br />
de uma pandemia. Isto causa aqui um nível de<br />
incerteza bastante grande”.<br />
O project manager destaca duas grandes<br />
tendências para este ano: a necessidade de<br />
introduzir cada vez mais processos eficientes nas<br />
operações logísticas, conseguir fazer mais com<br />
menos e rentabilizar os recursos disponíveis;<br />
e começar a olhar mais para processos de<br />
automatização na logística, realçando que esta<br />
não deve ser vista como uma substituição dos<br />
recursos humanos, mas como um auxiliar para<br />
os colaboradores. “As pessoas continuarão a<br />
ser necessárias nesse processo, com funções<br />
e com conteúdos funcionais diários diferentes<br />
daqueles que têm hoje”, defende, “os próprios<br />
equipamentos que hoje são perfeitamente<br />
habituais na logística foram equipamentos que,<br />
à sua época, já se tratavam de processos de<br />
automatização. E nós continuámos a ter pessoas<br />
a trabalhar em logística. Simplesmente, as<br />
pessoas adquiriram outras competências”.<br />
Adicionalmente, e numa ótima mais interna da<br />
Gesgrup, passar a mensagem de que outsourcing<br />
não é a mesma coisa que trabalho temporário.<br />
“Estamos a falar de soluções chave-na-mão, de<br />
valor acrescentado, em que existem equipas<br />
com líderes especializados, a gerir determinadas<br />
operações e em permanente partilha de<br />
informação com o parceiro, para em conjunto<br />
conseguirem fazer crescer os seus negócios<br />
de uma forma sustentável. É uma questão de<br />
cooperação”, conclui Jorge Carvalho. •
72<br />
JANEIRO <strong>2023</strong><br />
CARREIRA<br />
Tempos turbulentos<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
6 PRIORIDADES<br />
PARA QUEM LIDERA<br />
Atualmente, gerir é muito mais difícil do<br />
que há uns anos, sendo a tarefa mais árdua<br />
a de decidir o que precisa de ser feito no<br />
momento e o que pode esperar. A McKinsey<br />
& Company conversou com centenas de CEO<br />
em todo o mundo para descobrir o que é<br />
mais importante nas suas agendas. Conheça<br />
as seis maiores preocupações/prioridades<br />
de quem comanda.<br />
1. Resiliência:<br />
cair para trás,<br />
saltar à frente<br />
A McKinsey & Company destacou como<br />
primeira preocupação nas agendas dos CEO<br />
a resiliência. Se a pandemia de COVID-19<br />
obrigou a empresas a agirem mais rápido,<br />
a inflação, que levou ao esgotamento das<br />
cadeias de abastecimento, especialmente em<br />
energia, está a fazer com que as empresas<br />
adotem uma nova velocidade em todas as seis<br />
dimensões de resiliência: finanças, operações,<br />
tecnologia, organização, modelo de negócios<br />
e reputação. Um conceito que foi emergindo<br />
e se tornou um “músculo” vital nas empresas<br />
que operam num mundo de volatilidade e<br />
disrupção infindável.
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
2. É preciso<br />
coragem<br />
De forma secundária, a coragem é<br />
apontada como outra das prioridades<br />
dos CEO. Perante as dificuldades seria<br />
tentador para os líderes empresariais<br />
recuarem adiando algumas iniciativas e<br />
reduzindo os planos de crescimento, no<br />
entanto, a McKinsey & Company declara<br />
que os melhores líderes e empresas são<br />
ambidestros: prudentes ao administrar o lado<br />
negativo enquanto tentam corajosamente<br />
alcançar o lado positivo. É desta forma<br />
que estes líderes, apesar da volatilidade<br />
atual, estimulam as suas organizações a<br />
repensar oportunidades redefinindo a sua<br />
estratégia.<br />
3. Criar novos<br />
negócios<br />
Mais da metade dos altos executivos<br />
consideram a criação de negócios uma das<br />
suas três principais prioridades. Através deste<br />
inquérito foi possível perceber que a área<br />
das tecnologias verdes é a mais provável<br />
de vir a ter sucesso no mercado, já que este<br />
identificou 11 empresas cujo valor coletivo<br />
pode chegar a 12 biliões de dólares em<br />
apenas alguns anos. Porém, para reivindicar<br />
uma posição de liderança nesses pools de<br />
valor, os CEO têm de entender que nestes<br />
tempos de restrição de capital têm uma<br />
vantagem comparativamente às startups: as<br />
empresas podem dotar os seus novos negócios<br />
com os ativos necessários para o sucesso.
74 JANEIRO <strong>2023</strong><br />
4. A base<br />
do crescimento<br />
é a tecnologia<br />
Construir um novo negócio inevitavelmente<br />
significa possuir novas e melhores<br />
tecnologias, a quarta prioridade destes<br />
líderes. Aliás, todas as empresas não<br />
tecnológicas estão a colocar o software no<br />
centro dos seus negócios, nomeadamente, no<br />
que diz respeito à área dos negócios verdes.<br />
Uma ação válida para qualquer empresa<br />
que queira tirar o máximo partido da sua<br />
transformação digital. A verdade é que a<br />
tecnologia continuará a evoluir e permitirá<br />
oferecer novas oportunidades aos CEO que<br />
pretendam transformar os seus negócios.<br />
5. Net zero:<br />
manter o curso<br />
A quinta prioridade, a net zero (emissões<br />
líquidas zero), tomou um rumo inesperado.<br />
Na COP26 (Conferência das Nações Unidas<br />
sobre Mudanças Climáticas de 2021), quando<br />
finalmente se realizaram promessas para<br />
reduzir quase 90% das emissões de CO₂,<br />
novos desafios como a inflação crescente, a<br />
guerra na Europa, a insegurança energética<br />
e uma potencial recessão global surgiram.<br />
Não obstante, as metas de sustentabilidade,<br />
competitividade económica, acessibilidade<br />
e segurança nacional fazem mais sentido do<br />
que nunca, cabendo aos CEO adaptar, mitigar<br />
e unir esses conceitos num veículo que vai do<br />
zero à net zero.<br />
6. Reconstruir<br />
a experiência<br />
do trabalhador<br />
Os CEO também têm como prioridade<br />
reconstruir a experiência do trabalhador,<br />
já que após a pandemia o contrato com os<br />
mesmos se tornou demasiado transacional<br />
(a empresa paga e o trabalhador exerce as<br />
suas funções). Apostar num modelo híbrido<br />
pode, também, tornar-se um desafio, pois os<br />
CEO têm de incentivar os seus trabalhadores,<br />
proporcionando-lhes um lugar de trabalho<br />
- como um escritório do futuro - onde estes<br />
realmente desejam estar e onde podem<br />
encontrar significado suficiente para<br />
desempenhar as suas funções. •
76<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Sara Vera-Cruz Quintas<br />
Customer Success | Cargofive<br />
“PRECISO DE UMA QUOTE?!”<br />
PARECE FÁCIL, MAS SÓ UM<br />
TRANSITÁRIO SABE O QUE CUSTA<br />
Todos os anos os profissionais do sector logístico deparam-se com desafios<br />
que, por vezes, são aqueles que se repetem ano após ano, mas existem<br />
sempre “surpresas” com que nunca estamos a contar.<br />
Este ano falou-se já muito na crise na<br />
cadeia de abastecimentos devido à<br />
guerra da Ucrânia. Entretanto, face<br />
ao aumento da inflação e taxas de juros,<br />
os fretes marítimos têm vindo a sofrer<br />
alterações. Estes factores têm vindo a atingir<br />
directamente a programação dos navios,<br />
atualização constante de valores, de transit-<br />
-times, de disponibilidade de espaço em<br />
navio, etc. E isso representa para as equipas<br />
de vendas, novos excel, PDF’s e pesquisas<br />
para atualizar as ofertas e soluções<br />
disponíveis para cada cliente.<br />
E é aqui que vem um problema que é<br />
transversal a todos. A quem nunca aconteceu<br />
enviar uma cotação a um cliente e depois<br />
reparar que faltou algum valor e/ou taxa? Ou,<br />
por exemplo, utilizarem o contrato errado<br />
para determinado cliente? Ou não incluíram<br />
os termos e condições da contratação?<br />
Estes erros por vezes podem representar<br />
centenas de Euros perdidos. São falhas<br />
humanas que acontecem pelo excesso de<br />
trabalho manual, e, que, podem ser facilmente<br />
evitadas através da digitalização.<br />
E com essa necessidade, cada vez mais, os<br />
transitários procuram ferramentas para o seu<br />
procurement, transversais às suas equipas,<br />
onde a informação possa ser partilhada<br />
sem erros e facilmente atualizada. Essas<br />
ferramentas, que são maioritariamente digitais,<br />
permitem que sejamos mais eficazes, mais<br />
rápidos e não percamos tempo em pesquisas<br />
online, em várias páginas Web e pesquisa em<br />
emails e contratos internos já existentes.<br />
Estes pequenos avanços otimizam os<br />
processos internos e têm como resultado<br />
uma experiência de cliente muito mais<br />
clean, mais simplificada e com informação<br />
detalhada e sem erros.
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
Nota: A autora escreve segundo a grafia<br />
anterior ao novo Acordo Ortográfico.<br />
Esta necessidade tanto existe para transporte<br />
marítimo, como aéreo ou terrestre/ferroviário.<br />
E da necessidade surgem soluções e a<br />
urgência para a digitalização, neste caso, do<br />
procurement dos transitários. Tal, irá permitir<br />
uma maior transparência e uma comunicação<br />
facilitada entre equipas. Reduz o tempo de<br />
resposta, permite visualizar diversas soluções<br />
em um só clique e melhora a experiência do<br />
cliente.<br />
Existe ainda muita resistência no meio, mas<br />
cada vez mais os transitários começam a olhar<br />
para os avanços tecnológicos como um must<br />
have. Trata-se de um investimento que garante<br />
ganhos imediatos.<br />
É fundamental darmos este passo, fazer este<br />
investimento para sermos mais competitivos,<br />
mais digitais, mais rápidos no nosso tempo de<br />
resposta, o que irá permitir-nos ganhar tempo e<br />
melhorar a nossa relação com o cliente. •
78<br />
O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
“O que pode ser melhor do que video-chamadas na era do<br />
metaverso?”Ideas worth spreading, TEDxCapeTown,<br />
Josephine Eyre, 0.6 millhões de visualizações<br />
“(…) Alice riu-se. - Não vale a pena tentar – disse – Ninguém pode acreditar em coisas impossíveis.<br />
- O que eu acho é que não tens praticado muito – respondeu a Rainha<br />
– Quando eu tinha a tua idade, fazia sempre este exercício durante meia hora por dia.<br />
Às vezes conseguia acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”<br />
Alice do Outro Lado do Espelho, Lewis Carroll<br />
A tecnologia viabiliza o trabalho remoto, uma<br />
das grandes alterações laborais recentes, mas a<br />
dependência das video-chamadas mina a capacidade<br />
de sermos criativos em equipa. Mesmo, e sobretudo,<br />
com a câmara ligada, esta comunicação em 2D a que<br />
nos habituámos recentemente nas empresas não nos<br />
é natural e pode ser penalizadora, como pesquisa<br />
recente demonstrou. Por outro lado, a recriação virtual<br />
de locais de trabalho tradicionais com tectos, mesas<br />
e cadeiras não é de molde a potenciar a criatividade,<br />
a qual é essencial para a humanidade inovar e<br />
enfrentar os problemas da actualidade. A relação<br />
com a natureza, o inesperado e mesmo alguma<br />
desarrumação são necessários para estimular o lado<br />
criativo do cérebro.<br />
Uma das alternativas pode vir da indústria dos<br />
jogos, onde o metaverso é palco da comunicação em<br />
3D, criando espaços sociais de criatividade e também<br />
permitindo que competências inter-relacionais sejam<br />
desenvolvidas. As tecnologias imersivas no local de<br />
trabalho são já uma realidade em empresas como a<br />
Accenture e a Microsoft, que oferecem equipamentos<br />
de realidade virtual aos seus empregados, para<br />
comunicarem entre si.<br />
A realidade virtual é necessária para aceder ao<br />
metaverso. Existem três características-chave da<br />
realidade virtual que potenciam a colaboração<br />
criativa: Imersão – isolamento dos sentidos do<br />
ambiente físico, vendo, ouvindo, sentindo e mesmo<br />
cheirando ou saboreando um ambiente virtual, sem<br />
que o cérebro consiga distinguir o que é real do<br />
que não é. Interacção – manipulação de algo que<br />
não existe realmente, o que nos permite desenhar<br />
produtos em 3D. Imaginação – ultrapassando os<br />
paradigmas da realidade que limitam a criação.<br />
O metaverso, ou a internet dos sentidos, como todas<br />
as invenções humanas, tem o potencial para o bem<br />
ou para o mal. Afinal, apesar de relativamente recente,<br />
a internet revolucionou o acesso à informação no<br />
mundo, e criou empregos que não existiam. Mas<br />
também deu azo a monopólios e campanhas de<br />
desinformação que atacaram democracias. Cabe-nos<br />
a nós, com a nossa capacidade de premeditação, de<br />
criar o futuro que queremos ver, juntos.<br />
Josephine Eyre é sul-africana, tendo-se formado em<br />
Linguística e Antropologia Social em Inglaterra. Fez o<br />
mestrado pela Universidade de Leicester em Comunicação<br />
Social, Inteligência e Segurança. Josephine explora o<br />
impacto das tecnologias emergentes na comunicação<br />
humana, e a sua pesquisa está focada no local do trabalho<br />
e nas suas condições para a inovação.
Outsourcing Logístico<br />
Serviços<br />
Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />
Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />
Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />
Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />
Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />
Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />
Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />
www.gesgrup.pt