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SCMedia News | Revista | Janeiro 2023

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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20 JANEIRO <strong>2023</strong><br />

dificilmente a situação se repetirá, pois o<br />

momento é outro. Fazer o orçamento para este<br />

ano foi muito ingrato. Vemos todas as variáveis<br />

de custos de estrutura a aumentar e, antevendo<br />

nós um ano onde a economia vai estar mais<br />

lenta, sabemos bem que enquanto operador<br />

logístico só fazemos os negócios que os outros<br />

fazem. Se se compra e venda menos, nós vamos<br />

ter menos transações para fazer e, quando o<br />

prato é menor, os operadores vão todos com mais<br />

fome ao prato e as margens encolhem. Portanto,<br />

é nesta equação perigosa que todos vamos viver.<br />

Como efeito da inflação, os custos de estrutura<br />

vão necessariamente aumentar e as margens<br />

tendem a cair, perante a realidade de menos<br />

carga e de menos oportunidades de negócio.<br />

É um ano desafiante para todos. As companhias<br />

de navegação viveram uns anos fantásticos, com<br />

fretes a preços nunca antes vistos e que agora<br />

estão a voltar à realidade. Mas, mais uma vez,<br />

é a lei da oferta e da procura a funcionar. Se o<br />

mundo ocidental começa a ficar mais apreensivo,<br />

somos mais racionais, gastamos menos, a<br />

economia arrefece e as cadeias logísticas folgam.<br />

Portanto, não entrámos em <strong>2023</strong> apreensivos,<br />

mas cautelosos e sabendo que temos que gerir<br />

com muito cuidado os nossos passos, porque o<br />

contexto mudou.<br />

E, falando de mudança, neste pós-pandemia<br />

sentiu que houve uma alteração na forma<br />

como as empresas olhavam para a sua cadeia<br />

de abastecimento, procurando encurtá-las e<br />

trazendo os fornecedores para mais perto de<br />

casa?<br />

> Diria que sim, embora não seja algo<br />

completamente transversal, até porque há aqui<br />

dois fenómenos. Primeiro, tivemos o período<br />

agressivo da COVID-19, a que se seguiu o<br />

aquecimento do mercado, com as companhias<br />

marítimas e aéreas em total rutura, sem<br />

capacidade de dar resposta e com os preços a<br />

dispararem. Quando se começa a pagar 14 mil<br />

euros para trazer um contentor da China, não<br />

há como fugir ao impacto e isso pesa no custo<br />

da mercadoria. Mas também há o fenómeno<br />

desencadeado pelo COVID na China e os<br />

consequentes atrasos de produção. Em conjunto,<br />

os dois cenários têm levado ao tal “nearshoring”.<br />

Ainda que os custos de produção possam ser<br />

mais elevados do que na Ásia, também são<br />

localizações mais próximas, os lead times<br />

são mais curtos e os custos logísticos podem<br />

ser menores, o que levou algumas empresas<br />

a repensar a sua estratégia. Por outro lado,<br />

também se assustaram com aquele bottleneck<br />

repentino que levou algumas empresas a parar<br />

por falta de capacidade de sourcing.<br />

Por isso, é normal que algumas empresas<br />

façam esses ajustamentos. Sentimos muito esta<br />

realidade com o mercado da Turquia que, para a<br />

Europa, é uma segunda China, mas mais próxima, e<br />

que ganhou muito com o fenómeno dos atrasos de<br />

produção na China. Assistimos também a alguma<br />

migração de sourcing na Ásia, ou seja, já não é só<br />

a China e países como o Vietname e a Índia, por<br />

exemplo, começam a emergir com força.<br />

Algo que devia acontecer e que seria para<br />

nós, cidadãos europeus, muito interessante, era<br />

trazer para dentro das nossas fronteiras alguma<br />

produção que estamos a dar fora. Contudo,<br />

parece-me que isso esbarra num outro fenómeno<br />

de mais difícil resolução e que tem a ver com<br />

o envelhecimento da população europeia,<br />

mas também com o facto de nos termos<br />

“aburguesado”, achando que há certas tarefas que<br />

já não são para nós. Portanto, das duas uma: ou<br />

abrimos as portas à emigração ou continuamos<br />

a ter que ir comprar fora. Os microprocessadores<br />

são um bom exemplo, pois sem eles atualmente<br />

nada funciona, mas sem mãos para trabalhar,<br />

nada feito. Optamos pelo mais fácil e passa-se ao<br />

lado de algumas boas oportunidades. •

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