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O Livro da Selva - Rudyard Kipling (1)

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“O Bandar-log mudou de paragens”, disse ele baixinho. “Quando saí ao sol hoje, eu os ouvi dando

urras nas copas das árvores.”

“É… é atrás do Bandar-log que nós estamos”, disse Baloo, mas mal conseguiu pronunciar as palavras,

pois, pelo que sabia, aquela era a primeira vez que um membro do Povo da Selva admitia estar

interessado nos afazeres dos macacos.

“Então, não há dúvida de que não deve ser coisa pequena para levar dois caçadores — líderes na sua

parte da floresta, com certeza — a seguir a trilha do Bandar-log”, respondeu Kaa educadamente,

engolindo a saliva com grande curiosidade.

“Na verdade”, começou a dizer Baloo, “sou apenas o velho e às vezes muito tolo professor da Lei para

os lobinhos da Alcateia de Seeonee, e Bagheera aqui…”

“É Bagheera”, disse a Pantera-Negra, e suas mandíbulas se fecharam com um estalo, pois ele não

acreditava em humildade. “O problema é esse, Kaa. Aqueles ladrões de nozes e catadores de palmas

roubaram nosso Filhote de Homem, de quem talvez tenhas ouvido falar.”

“Ouvi alguma coisa de Sahi, cujos espinhos o tornam presunçoso, de uma coisa-homem que entrou na

Alcateia, mas não acreditei. Sahi é cheio de histórias mal ouvidas e muito mal contadas.”

“Mas é verdade. Ele é um filhote de homem como nunca se viu”, disse Baloo. “O melhor, o mais sábio,

o mais valente dos filhotes — meu pupilo, que fará com que o nome de Baloo seja famoso em todas as

Selvas; e, além do mais, eu… nós… o amamos, Kaa.”

“Tsc! Tsc!”, disse Kaa, balançando a cabeça de um lado para o outro. “Eu também já conheci o amor.

Poderia contar histórias que…”

“Que precisariam de uma noite clara quando estivermos todos bem alimentados para ser

suficientemente louvadas”, disse Bagheera depressa. “Nosso Filhote de Homem está nas mãos do

Bandar-log e sabemos que, de todo o Povo da Selva, eles temem apenas Kaa.”

“Temem apenas a mim. E têm bons motivos para isso”, disse Kaa. “Tagarelas, tolos, vaidosos…

vaidosos, tolos e tagarelas são os macacos. Mas uma coisa-homem em suas mãos é má sorte. Eles se

cansam das nozes que apanham e as atiram no chão. Passam metade de um dia carregando um galho, com

a intenção de construir coisas maravilhosas com ele, e então o partem ao meio. Não se deve invejar a

coisa-homem. E também me chamaram de… peixe amarelo, não foi?”

“Minhoca, foi minhoca”, disse Bagheera, “e também de outras coisas que não vou repetir, pois tenho

vergonha.”

“Precisamos lembrar a eles que devem falar bem de seu mestre. Aaa-ssp! 6 Precisamos refrescar suas

memórias dispersas. Bem, para onde eles foram com o Filhote de Homem?”

“Só a Selva sabe. Na direção do pôr do sol, acredito eu”, disse Baloo. “Achamos que tu saberias,

Kaa.”

“Eu? Como? Eu os pego quando surgem no meu caminho, mas não caço o Bandar-log e não caço

sapos… nem a ralé verde das poças, aliás. Ssss!”

“Aqui em cima! Aqui! Aqui! Alô! Alô! Alô, olha para cima, Baloo da Alcateia de Seeonee!”

Baloo olhou para cima para ver de onde vinha a voz e lá estava Chil, o Abutre, descendo num rasante

com o sol brilhando nas bordas das asas, que estavam viradas para cima. Estava quase na hora de Chil

dormir, mas ele havia sobrevoado a Selva toda procurando o urso, sem conseguir vê-lo no meio da

folhagem densa.

“O que foi?”

“Vi Mowgli junto com o Bandar-log. Ele me mandou te avisar. Eu observei. O Bandar-log foi para

além do rio, até a cidade dos macacos — os Antros Gelados. 7 Talvez fiquem lá uma noite, dez noites ou

uma hora. Pedi que os morcegos os vigiassem à noite. Essa é minha mensagem. Boa caçada para vós aí

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