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SCMedia News | Revista | Abril 2021

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Abril</strong> <strong>2021</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

21<br />

A logística<br />

da Kaffa<br />

Colquímica<br />

investe nos EUA<br />

Grupo C. Santos VP<br />

digitaliza compras<br />

Visibilidade 360º<br />

na Ferrero<br />

Programa<br />

Alimentar Ferrovia Mundial<br />

“A melhor<br />

vacina contra o caos”<br />

Portugal volta a “andar<br />

nos carris”


Logística<br />

Compras<br />

Operações<br />

Workshops/Cursos<br />

Intra-Empresas<br />

estruturados e<br />

construídos à medida,<br />

realizados nas<br />

instalações da<br />

empresa, nos horários<br />

que forem mais<br />

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Esta é uma oportunidade<br />

para reciclar<br />

conhecimentos, ampliar<br />

outros e alargar horizontes<br />

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Auditoria Logística<br />

Como minimizar os custos de transporte<br />

E-commerce<br />

Estratégias e projectos de Colaboração Logística<br />

Estrutura de custos logísticos<br />

Facility Management<br />

Ferramentas de gestão logística para transitários<br />

Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />

Gerir com sucesso a sua frota<br />

Gestão de Compras<br />

Gestão de Processos<br />

Gestão de projectos aplicada à Logística e Supply Chain<br />

Gestão de Rotas<br />

Gestão de Stocks<br />

Gestão do Armazém<br />

Gestão do Retalho<br />

Health, Risk and Safety: certificações e inspecções anuais de racking<br />

Lean Logistics<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

Logística inversa e o seu papel na economia circular<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Negociação na Logística através da liderança eficaz<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Procurement eficiente<br />

Qualidade em Supply Chain<br />

S&OP - Sales and Operations Planning<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

Sistemas de informação na Logística<br />

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SCM Supply Chain Magazine 3<br />

Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

editorial<br />

Da disrupção dos dias<br />

“O óbvio é aquilo que ninguém vê, até que alguém o expresse com simplicidade.”<br />

Klalil Gibran<br />

Pode ser uma pandemia, um Brexit, falta de<br />

chips ou até um porta-contentores a bloquear<br />

a “auto-estrada” do Suez, a verdade é que<br />

sempre que surge uma nova crise, o foco vai<br />

para as cadeias de abastecimento e para a<br />

sua “resiliência”, essa palavra que de há ano<br />

e meio a esta parte integrou o léxico comum.<br />

Vem emprestada da Física e diz respeito à<br />

propriedade que alguns materiais têm de<br />

dobrar sem partir. Ou seja, a capacidade de dar<br />

a volta às situações, ser capaz de suportar a<br />

adversidade, tirar partido dela, convertendo-a,<br />

ou reconvertendo-a, a nosso favor. No caso<br />

das cadeias de abastecimento, qualquer que<br />

seja a situação, espera-se que estas continuem<br />

responsivas à procura, real e projectada.<br />

Mas, sejamos claros, uma supply chain<br />

dinâmica e robusta, por si só, não torna<br />

uma empresa resiliente. A resiliência surge<br />

quando são somados todos os elementos<br />

de uma cadeia de valor: procura, produção,<br />

fornecimento. E não é fácil esta gestão<br />

perante toda esta dinâmica disruptiva em que<br />

temos andado mergulhados.<br />

Construir uma supply chain resiliente requer<br />

previsões precisas, capacidade de adaptação<br />

rápida a situações de curto prazo, flexibilidade<br />

e sobretudo capacidade de detectar problemas<br />

num estágio inicial.<br />

Continuamos todos a navegar à vista e<br />

sem saber muito bem o que aí virá. Contudo,<br />

pelos seus contornos e dimensão, o que este<br />

ano e meio tem evidenciado são algumas<br />

fragilidades que nos devem fazer pensar.<br />

Muito do que vai acontecer no mundo<br />

pós-COVID19, muito do que vai acontecer<br />

em Portugal, dependerá da forma como<br />

forem reconstruídos alguns (des)equilíbrios.<br />

A recuperação dependerá tanto daquilo que<br />

conseguirmos fazer internamente, como<br />

do que acontecer em países e mercados<br />

estratégicos, seja enquanto destino dos nossos<br />

produtos, seja enquanto nossos fornecedores.<br />

Ser resiliente não significa fechar os olhos<br />

ao mundo que está a mudar; não significa<br />

que não se tema este tempo que se vive; que<br />

não se deite as mãos à cabeça quando não<br />

há contentores ou se perde um cliente. Ser<br />

resiliente é sentir tudo isso, mas continuar<br />

a acreditar que há um percurso a fazer para<br />

lá do obstáculo e que temos, não apenas o<br />

direito, mas o dever de o encontrar, mesmo<br />

que por caminhos diferentes. O que, em boa<br />

verdade, até nem é mau.<br />

Einstein disse brilhantemente: “Insanidade<br />

é continuar a fazer sempre a mesma coisa e<br />

esperar resultados diferentes”. Contudo, o que<br />

Albert Einstein não disse foi quais eram as<br />

mesmas coisas. Pode parecer óbvio, mas não<br />

é!


4<br />

abril <strong>2021</strong><br />

#8 #18 #30<br />

índice<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Logística no Hospital de Santo António<br />

Pandemia faz disparar os números 6<br />

logística<br />

Kaffa - A logística<br />

de um produtor de café 8<br />

Retalho - 5 tendências<br />

potenciadas pela tecnologia 14<br />

Colquímica Adhesives<br />

investe nos EUA 18<br />

Evolução da supply chain:<br />

uma perspectiva estratégica 22<br />

procurement<br />

Indústria têxtil: Tendências<br />

que vão renovar o sourcing 26<br />

Grupo C.Santos VP digitaliza<br />

compras 30<br />

intralogística<br />

Palete: invisível, mas imprescindível 36<br />

JP Sá Couto aposta<br />

na melhoria da performance 38<br />

Codorníu automatiza transporte<br />

de paletes 42<br />

Reduzir o lead time é crucial 44<br />

tecnologias<br />

Gestão unificada<br />

da Internet das Coisas 46<br />

Grupo Ferrero - Visão 360º<br />

da cadeia logística 50


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

transportes<br />

Ferrovia - Portugal volta a “andar nos Carris” 54<br />

ICS2 - Combater o tráfico de mercadorias 66<br />

carreira<br />

#50 #70<br />

Como serão as profissões em 2030 70<br />

Top e middle management<br />

entre as funções mais procuradas 74<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Da disrupção da cadeia logística<br />

e do papel do transitário 76<br />

o mundo é redondo<br />

TED Ideas worth spreading 2009,<br />

“O puzzle da motivação” 78<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Events Support & Project Manager _<br />

Rita Pinto<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao novo Acordo Ortográfico


6 abril <strong>2021</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Logística do Hospital<br />

de Santo António<br />

Pandemia<br />

fez disparar<br />

números<br />

O<br />

Hospital de Santo António no Porto,<br />

que acolheu o primeiro infectado com<br />

COVID-19 em Portugal, consumiu 3,1<br />

milhões de máscaras cirúrgicas entre Março de<br />

2020 e Março de <strong>2021</strong>, enquanto que no ano<br />

pré-pandemia utilizaram-se 500 mil máscaras,<br />

traduzindo-se num aumento de 520%.<br />

O Centro Hospitalar Universitário do Porto<br />

(CHUP), em Março, <strong>Abril</strong> e Maio de 2020<br />

gastou 665 mil máscaras. Já em Outubro,<br />

Novembro e Dezembro foram necessárias 797<br />

mil. Segundo a informação remetida à Lusa,<br />

aos utentes foram distribuídas até Março de<br />

<strong>2021</strong>, 460 mil máscaras, 409 mil das quais em<br />

2020 e 51 mil nos primeiros meses deste ano.<br />

Por sua vez, o Hospital de Santo António<br />

gastou mais de 15 milhões de pares de luvas<br />

ao longo do ano da pandemia. No que respeita<br />

às batas de uso único, o aumento de consumo<br />

de 2019 face ao ano marcado pela COVID-19<br />

foi de 186%. Dezembro foi o mês que registou<br />

mais consumos com mais de 2,1 milhões de<br />

máscaras, luvas, batas e respiradores.<br />

Rita Moreira, vogal executiva do Conselho<br />

de Administração do CHUP conta que a<br />

especulação e a corrida aos stocks, algo<br />

transversal à escala mundial, resultou em<br />

preços “pornográficos” em Março de 2020.<br />

O CHUP tinha reforçado, em Dezembro de<br />

2019, os ‘stocks’ de medicamentos e EPI’s,<br />

antecipando em três meses as necessidades<br />

já a pensar na pandemia, mas a base usada<br />

para essa antecipação foram os consumos<br />

de 2019. Em Janeiro de 2020 fez mais uma<br />

compra e alterou os critérios de distribuição,<br />

mas o impacto de notícias externas às vezes<br />

traduzia-se em açambarque interno. •


SCM Supply Chain Magazine 7<br />

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8<br />

abril <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Kaffa<br />

A logística<br />

de um<br />

produtor de<br />

café<br />

A Kaf fa é uma empresa portuguesa de origem<br />

familiar que aposta num dos produtos mais<br />

populares em todo o mundo, e mais querido<br />

dos portugueses: o café. A marca tem a<br />

visão de ser uma referência no mercado das<br />

cápsulas e já tem alcançado alguns objectivos-<br />

-chave, como ser o maior produtor nacional<br />

de café encapsulado biológico, produzir de<br />

forma automatizada 11 tipos de cápsulas,<br />

estar presente em mercados internacionais<br />

e ter produtos que estão em linha com a<br />

sustentabilidade ambiental.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Kaffa<br />

Por detrás destas<br />

conquistas existe<br />

uma operação fabril<br />

e logística que começa<br />

na fábrica de Rio de Mouro,<br />

a única unidade fabril da<br />

empresa em Portugal, totalmente<br />

automatizada e dedicada à produção de<br />

cápsulas de café. A área bruta da fábrica<br />

ocupa 7.200 metros quadrados e integra 12<br />

linhas de encapsulamento e unidades de<br />

torrefacção e moagem, “garantindo que todo<br />

o processo produtivo é iniciado e terminado<br />

nesta unidade fabril”, refere Pedro Henriques,<br />

director comercial da Kaffa.<br />

Na fábrica é armazenado o café verde e as<br />

matérias subsidiárias que, diariamente, servem<br />

a unidade fabril e, após a produção do café,<br />

este dirige-se para armazéns subcontratados,<br />

como explica Alexandra Azevedo, directora<br />

de logística da Kaffa, “a nossa cadeia<br />

logística começa na recepção do café verde<br />

para abastecer a fábrica. Procede-se à torra,<br />

faz-se a recepção de matérias subsidiárias e<br />

segue para produção. Sempre que acaba o<br />

produto acabado diariamente vêm os camiões<br />

recolher o produto, uma ou duas vezes por<br />

dia”. A Kaffa faz entregas nos entrepostos das<br />

“maiores cadeias de distribuição que há no<br />

país”, acrescenta a responsável. A distribuição<br />

é realizada através de armazenistas e<br />

retalhistas. A nível particular abastecem com<br />

um picking “mais minucioso” e à unidade. A<br />

marca está presente no mercado bio e exporta<br />

para nove mercados internacionais.<br />

todo o processo<br />

produtivo é iniciado<br />

e terminado nesta<br />

unidade fabril<br />

Pedro Henriques<br />

Nos armazéns subcontratados<br />

tudo é gerido e integrado em<br />

sistema e trabalham com Electronic<br />

Data Interchange (EDI), ou seja, uma ligação<br />

electrónica de informação de forma a garantir<br />

que não há erros no controlo de stock. O<br />

automatismo que existe é informático, uma<br />

vez que a arrumação é manual.<br />

A Kaffa tem um sistema fechado com<br />

máquinas e cápsulas de café da própria marca<br />

desde 2009, ano da inauguração da fábrica<br />

de Rio de Mouro. Além disto produz ainda<br />

cápsulas compatíveis para máquinas Dolce<br />

Gusto, Nespresso, Delta Q e Kaffa, e fazem<br />

marcas de distribuição directa para as grandes<br />

superfícies. A produção de diferentes cápsulas<br />

é encarada por Alexandra Azevedo como um<br />

desafio, pois “temos uma linha de produção a<br />

mais para cada tipo de compatibilidade porque<br />

as linhas de produção não se misturam. Há<br />

linhas específicas e equipas específicas”. Ainda<br />

assim, o feedback é bastante positivo, uma<br />

vez que têm crescido e aumentado as vendas,<br />

de acordo com a directora de logística. “Nós<br />

fomos pioneiros em Portugal. Há 16 ou 17<br />

anos entrámos no mundo das cápsulas e<br />

só se conhecia a marca Nespresso e, neste<br />

momento, nós conseguimos acompanhar todas<br />

as compatibilidades e estamos fortemente<br />

implementados no mercado”, reconhece.


10<br />

abril <strong>2021</strong><br />

a nossa cadeia logística começa na recepção do<br />

café verde para abastecer a fábrica. Procede-<br />

-se à torra, faz-se a recepção de matérias<br />

subsidiárias e segue para produção. Sempre<br />

que acaba o produto acabado diariamente<br />

vêm os camiões recolher o produto, uma ou<br />

duas vezes por dia<br />

Alexandra Azevedo<br />

A logística do comércio<br />

electrónico<br />

Através do website da Kaffa o cliente pode<br />

realizar a sua encomenda online. Assim que<br />

termina o seu pedido, é hora da plataforma<br />

de backoffice da empresa entrar em<br />

acção. Actualmente é um processo “quase<br />

automatizado”, segundo Alexandra Azevedo,<br />

porque “entra directamente no nosso sistema<br />

e no backoffice nós já só fazemos registo do<br />

tracking da encomenda porque a recepção<br />

integra directamente no nosso ERP”. Assim<br />

que a encomenda é validada é emitido<br />

um autoreply para o cliente em como a<br />

encomenda está a ser processada. “O picking<br />

é feito em armazém subcontratado que tem<br />

os nossos produtos e os nossos materiais<br />

para fazer a composição das encomendas<br />

e, todos os dias, passam às transportadoras<br />

expresso para fazer a distribuição”, explica. A<br />

ambição da Kaffa é entregar as encomendas<br />

aos clientes entre 48 a 72 horas, mas têm<br />

conseguido fazê-lo em dois dias, inclusive<br />

“há algumas encomendas que conseguimos<br />

entregar em 24 horas, se entrarem durante<br />

a manhã, no dia seguinte já estão para<br />

entrega”, confessa a directora de logística. O<br />

acompanhamento das entregas é realizado<br />

pela Kaffa de forma a entrar em contacto<br />

com o cliente se houver alguma incidência ou<br />

anomalia no transporte.


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

A nível nacional, o transporte é<br />

subcontratado. Numa fase inicial, a empresa<br />

tinha frota própria, mas Alexandra Azevedo<br />

explica que quando se começa a crescer e a<br />

entrar no mercado da grande distribuição, não<br />

compensa ter frota própria. “Nós dedicamonos<br />

ao que sabemos fazer que é produzir o<br />

café. Depois damos aos nossos parceiros o<br />

que eles sabem fazer, que é conseguir agregar<br />

entregas com outros clientes, com parcerias<br />

e preços competitivos, e que estão muito<br />

habituados a distribuir nesses mercados”,<br />

reconhece. Da perspectiva internacional, na<br />

Europa, o transporte é realizado através de<br />

camião e, para fora da Europa, através de<br />

contentores. Não são necessárias condições<br />

específicas de armazenamento ou transporte<br />

para a exportação do café, portanto é<br />

transportado à temperatura ambiente em<br />

paletes “completamente protegidas”.<br />

“Este vírus não nos pára”<br />

Um dos consumos mais alavancados pela<br />

pandemia foi o de café, e a Kaffa sentiu<br />

isso, uma vez que as pessoas começaram a<br />

consumir mais em casa. “Sentimos uma grande<br />

pressão”, pois as encomendas online estavam<br />

ao rubro, bem como as chamadas telefónicas,<br />

conta Alexandra Azevedo. Aliado ao aumento<br />

do consumo, as equipas foram reduzidas a<br />

metade, pois muitas pessoas tiveram de ir para<br />

casa dar apoio à família, por isso recorreram<br />

ao trabalho temporário para algumas equipas,<br />

“mas demos a volta. Trabalhámos mais horas<br />

e fomos resilientes”, afirma. A verdade é que,<br />

ao contrário de muitas empresas que não<br />

sobreviveram à crise pandémica, a Kaffa<br />

prosperou. “Foi um ano muito bom para a<br />

nossa empresa”, confirma a responsável e isso<br />

foi possível graças a “uma equipa fantástica<br />

muito coesa” e, claro, à interiorização do lema<br />

da logística: “este vírus não nos pára”.<br />

Encerraram o ano de 2020 com um resultado<br />

“muito positivo” a nível global, com vendas<br />

de 220 milhões de cápsulas, representando<br />

um crescimento de 36% face ao ano anterior,<br />

segundo Pedro Henriques. “Em ambos os<br />

períodos de confinamento conseguimos<br />

manter a produção na fábrica e, com o apoio<br />

administrativo a trabalhar a partir de casa,<br />

rapidamente adaptámos a nossa resposta às<br />

novas exigências do mercado, reagindo com<br />

eficácia e qualidade aos desafios que surgiram<br />

de forma tão inesperada”, conta.<br />

temos uma linha de produção a mais para cada tipo de<br />

compatibilidade porque as linhas de produção não se<br />

misturam. Há linhas específicas e equipas específicas<br />

Alexandra Azevedo


12<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Outro dos efeitos revelados pela pandemia<br />

foi a preocupação com a saúde e com o meio<br />

ambiente, pois agora “o consumidor está mais<br />

exigente e atento”, afirma Pedro Henriques.<br />

Alexandra Azevedo também partilha da<br />

mesma opinião, referindo que os clientes já<br />

procuram novos produtos mais ecológicos.<br />

Neste sentido, em 2020, a Kaffa lançou<br />

cápsulas bio-degradáveis compostáveis e<br />

cápsulas de alumínio 100% recicláveis. “As<br />

cápsulas bio-degradáveis têm muito menos<br />

plástico. Tem apenas uma parte residual,<br />

mas tem um tempo de decomposição de 15<br />

a 20 anos, ao contrário do plástico normal<br />

que demora 500 anos a ser destruído”,<br />

explica a directora de logística. A nível de<br />

infra-estruturas também tiveram atenção à<br />

sustentabilidade. “Tínhamos um armazém que<br />

ficava bastante longe e decidimos apostar<br />

num mais próximo porque assim faziamse<br />

menos quilómetros, gerávamos menos<br />

poluição e gastávamos menos combustível”,<br />

refere Alexandra Azevedo. Este armazém<br />

abastece essencialmente os produtos da marca<br />

Kaffa e têm outro na zona da Grande Lisboa<br />

junto aos entrepostos das grandes superfícies,<br />

minimizando assim o fluxo de camiões.<br />

Ninguém sabe o que reserva o futuro,<br />

mas a directora de logística espera “grandes<br />

desafios”. Actualmente estão a procurar novos<br />

parceiros para o mercado internacional, uma<br />

vez que pretendem crescer este ano na área<br />

da exportação. A nível interno têm previsto<br />

um investimento de cerca de 2 milhões<br />

Nós fomos pioneiros em Portugal.<br />

Há 16 ou 17 anos entrámos no<br />

mundo das cápsulas e só se<br />

conhecia a marca Nespresso<br />

e, neste momento, nós<br />

conseguimos acompanhar todas<br />

as compatibilidades e estamos<br />

fortemente implementados no<br />

mercado<br />

Alexandra Azevedo


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

Nós dedicamo-nos ao que sabemos fazer que é produzir o café. Depois damos<br />

aos nossos parceiros o que eles sabem fazer, que é conseguir agregar<br />

entregas com outros clientes, com parcerias e preços competitivos, e que<br />

estão muito habituados a distribuir nesses mercados<br />

Alexandra Azevedo<br />

de euros na fábrica de Rio de Mouro para<br />

aquisição de novas linhas de encapsulamento<br />

e equipamentos de produção, avança Pedro<br />

Henriques. Aliado a isto, e porque as pessoas<br />

são uma parte essencial, Alexandra Azevedo<br />

revela que a equipa terá de “crescer para<br />

dar apoio administrativo e logístico a todas<br />

as operações”, desafio para o qual estão<br />

“preparados e confiantes”. •<br />

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14<br />

abril <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Texto: Dora Assis<br />

Transformação do<br />

retalho<br />

5 tendências<br />

potenciadas<br />

pela tecnologia<br />

Num estudo recente, a Manhattan Associates<br />

revela as cinco tendências que definirão<br />

o sector dos supermercados este ano e<br />

provavelmente mais além. Não se trata de<br />

mudanças adaptadas ao cenário de pandemia,<br />

mas de um conjunto de transformações<br />

de longo prazo que são potenciadas pela<br />

tecnologia.<br />

Omnicanalidade<br />

A omnicanalidade é uma destas tendências<br />

que continuará a marcar o sector. Nos últimos<br />

anos, os retalhistas tiveram que assimilar<br />

que os consumidores têm uma mentalidade<br />

omnicanal, o que significa que recorrem a<br />

todos os canais de consumo possíveis e que,<br />

cada vez mais, o fazem em simultâneo. Já<br />

não se prefere o físico sobre o digital, ou<br />

vice-versa, mas sim uma relação o mais fluida<br />

possível entre ambos os formatos.<br />

Com a pandemia, o mundo e as pessoas<br />

digitalizaram-se e, claro, também o cliente<br />

ficou mais omnicanal. A fusão dos dois mundos<br />

leva os supermercados a fortalecerem a sua<br />

estratégia omnicanal, seja com funções de<br />

“click and collect” como também de forma<br />

crescente o take-away. A tudo isto acresce a<br />

necessidade de garantir prazos de entrega<br />

mais curtos, e actualmente todas as atenções<br />

e esforços parecem estar direccionados para a<br />

“última milha”.


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

Conveniência<br />

Também a conveniência vai continuar a<br />

marcar o sector. A batalha pelas entregas<br />

no mais curto intervalo de tempo é travada<br />

pelos gigantes de tecnologia mas também,<br />

e de modo crescente, pelas startups de<br />

entregas ao domicílio. Os supermercados<br />

têm um desafio pela frente, já que cada vez<br />

mais estas empresas têm que ser tidas em<br />

conta na oferta de entregas de alimentos e<br />

bens de primeira necessidade, operando com<br />

modelos de negócio que nada têm a ver com<br />

os supermercados tradicionais.<br />

É por isso que as cadeias de supermercados<br />

deverão estar próximas dos seus clientes,<br />

oferecendo proximidade e conveniência para<br />

concorrer com estes novos operadores. A<br />

consultora diz também que os supermercados<br />

não deverão ficar atrás na altura de reformular<br />

as experiências de compra, totalmente<br />

renovadas e muito apoiadas pelo braço<br />

tecnológico.<br />

Espaços inteligentes<br />

A reinterpretação da experiência de compra<br />

conduzirá a espaços mais inteligentes, onde<br />

os ecrãs e os pagamentos “contactless”<br />

desempenham um importante papel.<br />

A Manhattan Associates dá o exemplo da<br />

norte-americana Kroger, que instalou um<br />

novo carrinho de compras inteligente num<br />

dos seus supermercados, que permite fazer<br />

directamente o scan dos produtos e proceder<br />

ao pagamento. Esta funcionalidade é possível<br />

graças à inteligência artificial e machine<br />

learning. Além disso, o ecrã do carrinho de<br />

compras pode mostrar recomendações de<br />

listas de compras e ofertas promocionais,<br />

assim como informação orientativa.<br />

Segundo a mesma fonte, com este tipo de<br />

soluções, melhora-se a segurança alimentar e<br />

agilizam-se tempos de espera e processos de<br />

pagamento.


16<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Automatização<br />

Perante o volume crescente de dados e a<br />

necessidade de agilidade na operação, as<br />

cadeias de supermercados terão também elas<br />

que optimizar processos.<br />

As soluções de automatização tornam<br />

possível operar de forma independente, sem<br />

pausas, permitindo gerir com maior eficácia os<br />

stocks e os próprios recursos humanos.<br />

Deste ponto de vista, as soluções de<br />

software para empresas serão um imperativo<br />

para os supermercados operarem a todo o<br />

gás. A necessidade de melhorar a velocidade,<br />

eficiência, visibilidade e rastreabilidade<br />

tem reflexos ao longo de toda a cadeia de<br />

abastecimento e isso tem um impacto directo<br />

nas operações dos armazéns e centros de<br />

distribuição. Durante a pandemia, muitos<br />

centros de distribuição não foram capazes de<br />

adaptar-se ao volume das encomendas online<br />

por não disporem de sistemas actualizados.<br />

Sustentabilidade<br />

As questões de sustentabilidade implicam<br />

introduzir uma nova cultura e forma de<br />

fazer na cadeia de abastecimento. Para os<br />

supermercados, que gerem e distribuem<br />

produtos tão distintos, passa por reavaliar<br />

as opções de embalagem. Aspirar à criação<br />

de lojas alimentares que cuidem do meio<br />

ambiente é um dos objectivos no horizonte de<br />

todos.<br />

Para além da eliminação progressiva dos<br />

sacos de plástico, vamos assistir segundo a<br />

Manhattan Associates a uma maior utilização<br />

da tecnologia para reduzir o excesso de stock<br />

de produtos altamente perecíveis.<br />

Para isso, os supermercados apostarão na<br />

melhoria das áreas com maior impacto, como<br />

as carnes, o peixe e marisco e os produtos<br />

hortofrutícolas, de onde provém a esmagadora<br />

maioria do desperdício. •


SCM Supply Chain Magazine 17


18<br />

abril <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Colquímica Adhesives<br />

investe nos EUA<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Fotos: Colquímica<br />

“A gestão logística é um elemento<br />

fundamental da<br />

oferta de valor”<br />

É nos EUA, na Carolina do Norte,<br />

que a Colquímica Adhesives decidiu<br />

implementar uma nova unidade fabril,<br />

a quarta. A empresa portuguesa já<br />

apostou em vários países, sendo este o<br />

terceiro, após um investimento aplicado<br />

na Polónia, há oito anos. O CEO da<br />

empresa, João Pedro Koehler explica os<br />

motivos por detrás desta aposta e como<br />

irá impactar a logística da empresa.<br />

Com um armazém de mais de 3.800 metros<br />

quadrados com capacidade de armazenar<br />

cerca de 3.500 paletes industriais, João<br />

Pedro Koehler garante que esta aposta tem<br />

como objectivo afirmar a empresa como<br />

“uma organização verdadeiramente global,<br />

assegurando a expansão das operações<br />

para o continente americano, com particular<br />

foco nos mercados norte-americano,<br />

mexicano, canadiano e latino-americano”,<br />

e que, actualmente, estão “perfeitamente<br />

consolidados ao nível do mercado e da<br />

capacidade logística, permitindo-nos servir os<br />

clientes e parceiros em qualquer localização<br />

internacional com uma oferta competitiva e<br />

uma supply chain extremamente ágil”.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

A cadeia logística<br />

A agilidade da cadeia logística internacional<br />

da empresa tem sido uma das principais<br />

prioridades nos últimos anos, segundo o<br />

responsável, e este foi um dos objectivos<br />

subjacentes à nova unidade na Carolina do<br />

Norte, mas reflecte-se igualmente no recente<br />

investimento aplicado na fábrica em Poznan,<br />

na Polónia onde dispõem, desde o final de<br />

2020, de um centro logístico “fortemente<br />

inovador”.<br />

Na unidade americana, onde foram<br />

investidos 12 milhões de dólares, planeiam<br />

continuar a investir projectando, para <strong>2021</strong>,<br />

um aumento “significativo” da capacidade<br />

produtiva, bem como apostar na robotização<br />

e na gestão inteligente de stocks. “Para nós, a<br />

gestão logística é um elemento fundamental<br />

da oferta de valor que entregamos ao<br />

cliente, pelo que temos procurado optimizar<br />

continuamente os processos e meios que<br />

utilizamos”, refere João Pedro Koehler.<br />

De acordo com o CEO, na Colquímica<br />

Adhesives existe um constante foco<br />

na optimização da gestão logística,<br />

considerando-a parte integrante da<br />

experiência e do valor que entregam aos<br />

seus clientes. “Para assegurar esta qualidade,<br />

somos bastante criteriosos na selecção dos<br />

nossos parceiros e fornecedores, privilegiando<br />

relações de grande longevidade e de forte<br />

proximidade”, refere. Em Portugal, confiam a<br />

gestão de inbound e outbound da mercadoria<br />

a um parceiro “de longa data”, com o qual<br />

colaboram continuamente visando a constante<br />

melhoria de processos. Na distribuição ao<br />

cliente “o nosso foco é a parceria com a nossa<br />

network de operadores, privilegiando um<br />

serviço just-in-time e com uma qualidade de<br />

serviço rigorosa”, revela João Pedro Koehler.<br />

a gestão logística é um<br />

elemento fundamental<br />

da oferta de valor que<br />

entregamos ao cliente,<br />

pelo que temos procurado<br />

optimizar continuamente<br />

os processos e meios que<br />

utilizamos<br />

João Pedro Koehler


20<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Além-fronteiras, a organização logística<br />

também é tida em consideração. Na Polónia,<br />

o novo centro logístico permitiu passar a<br />

gerir in-house um conjunto de processos que<br />

anteriormente realizavam em outsourcing. Por<br />

sua vez, na Turquia, apostaram num segmento<br />

de bonded warehouse para dar suporte aos<br />

clientes relativamente ao stock de segurança<br />

sem implicações fiscais imediatas.<br />

Esta política de “exigência e colaboração”<br />

com um número restrito de fornecedores<br />

está também a ser aplicada na unidade da<br />

Carolina do Norte. “Em adição aos parceiros<br />

nacionais que asseguram, actualmente,<br />

a solidez e fluidez das nossas operações<br />

intercontinentais, definimos já um conjunto de<br />

parcerias estratégicas locais (de despachantes<br />

a transportadoras) para assegurar a maior<br />

o nosso foco é a parceria<br />

com a nossa network de<br />

operadores, privilegiando<br />

um serviço just-in-time e com<br />

uma qualidade de serviço<br />

rigorosa<br />

qualidade da nossa supply chain”, afirma o<br />

CEO, acrescentando que toda esta rede global<br />

é coordenada pela direcção logística em<br />

Portugal, que tem vindo a apostar em Business<br />

Intelligence permitindo assim captar e analisar<br />

dados com o objectivo de supervisionar, gerir<br />

e actuar sobre a globalidade das operações do<br />

grupo, através de um dashboard de controlo<br />

de envios, parceiros e incidências, actualizado<br />

em permanência.<br />

As Tecnologias de Informação<br />

desempenham um “papel central” na<br />

Colquímica Adhesives, de acordo com o<br />

responsável, estando em “permanente<br />

articulação com os diversos departamentos<br />

com vista à optimização de processos,<br />

implementação de novas ferramentas de<br />

inovação e ganhos de escala e eficiência”.<br />

Além do progresso que têm tido ao nível da<br />

inovação de produtos, devido à importância<br />

que dedicam à I&D, têm ainda desenvolvido<br />

canais de optimização da supply chain<br />

João Pedro Koehler


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

em conjunto com os seus parceiros. “Este<br />

investimento visa não só a redução de custos<br />

e de prazos, mas igualmente uma superior<br />

capacidade de tracking e de controlo,<br />

melhorando a experiência de todos os<br />

stakeholders envolvidos”, afirma.<br />

Em relação aos desafios que se perfilam,<br />

João Pedro Koehler explica que, actualmente<br />

assistem, após várias décadas de alargamento<br />

e de globalização da cadeia logística, a um<br />

retrocesso, fruto de um conjunto de factores<br />

políticos, económicos e sociais, através de uma<br />

forte aposta na regionalização das cadeias<br />

logísticas, o que implica que as organizações<br />

procurem parceiros mais próximos<br />

geograficamente, encurtando custos, prazos<br />

e dependências. Simultaneamente, confessa<br />

que o maior desafio passará por integrar<br />

eficazmente as ferramentas tecnológicas na<br />

cadeia de abastecimento, garantindo que estas<br />

se traduzem em valor acrescentado para todos<br />

os envolvidos. Desta forma, “este processo<br />

será decisivo na melhoria de uma experiência<br />

que conhece actualmente, um enorme<br />

nível de complexidade, em particular para<br />

organizações com operações globais”, termina<br />

o CEO da Colquímica Adhesives. •<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

things<br />

easier<br />

Gisela Santos, INEGI<br />

Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />

seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

A pallet is red, red is a pallet


22<br />

abril <strong>2021</strong><br />

logística<br />

Estudo sobre a supply<br />

chain do futuro<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Uma perspectiva estratégica<br />

O The Economist Intelligence Unit (The EIU) realizou um estudo denominado “A Evolução<br />

da Supply Chain – Uma Perspectiva Estratégica”, comissionado pelo GEP, que explora<br />

como o aumento da disrupção, o caminho até uma maior sustentabilidade da cadeia de<br />

abastecimento, e os avanços tecnológicos estão a mudar a função da cadeia de abastecimento<br />

dentro das organizações. Para a concretização do estudo foram inquiridos profissionais dos<br />

sectores da agricultura, alimentação, indústria, bens de consumo e retalho, saúde e produtos<br />

farmacêuticos, energia e serviços públicos dos Estados Unidos, e de alguns países europeus.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

A<br />

ocorrência de uma série de forças<br />

disruptivas está a testar a complexidade<br />

e a interdependência das cadeias de<br />

abastecimento globais que as multinacionais<br />

têm vindo a construir ao longo dos anos. Entre<br />

as contínuas tensões geopolíticas, as empresas<br />

antecipam a possibilidade de uma reversão da<br />

globalização da cadeia de abastecimento em<br />

favor de um maior “localismo” e de cadeias de<br />

abastecimento regionalizadas.<br />

A pesquisa com líderes séniores realizada<br />

para este relatório confirma que as empresas<br />

esperam que a disrupção da supply chain<br />

continue e que as incertezas e ameaças se<br />

estendam além da pandemia de COVID-19. As<br />

maiores preocupações dos líderes consistem<br />

em riscos geopolíticos incluindo instabilidade<br />

política, conflitos regionais e mudanças<br />

nas políticas comerciais. Reflectindo essa<br />

incerteza, o EIU reviu as classificações de risco<br />

operacional de 41 países em Julho de 2020<br />

e de mais 55 entre Agosto e Outubro desse<br />

ano. Essas classificações, que englobam 10<br />

categorias de risco, indicam que os problemas<br />

contínuos são altamente prováveis. Uma<br />

guerra fria de tecnologia entre os EUA e<br />

a China alcançaram novos patamares nos<br />

últimos anos com a administração de Donald<br />

Trump a bloquear grandes empresas chinesas<br />

no mercado dos EUA, e exportação restrita<br />

de empresas norte-americanas para a China.<br />

Mesmo na ausência da pandemia, as empresas<br />

enfrentaram graves incertezas decorrentes de<br />

problemas geopolíticos mais amplos, e outros<br />

como encerramento de fábricas e operações<br />

logísticas, muitas vezes de forma imprevisível.<br />

Nesta pesquisa concluiu-se que os líderes<br />

identificaram a pandemia como a segunda<br />

maior ameaça às cadeias de abastecimento nos<br />

próximos cinco anos.<br />

Regulamentações são<br />

encorajadores da<br />

regionalização<br />

O estudo mostra que garantir que os<br />

fornecedores cumprem com mudanças e<br />

regulamentos divergentes foi um dos maiores<br />

desafios para os managers da supply chain<br />

nos últimos três anos, particularmente em<br />

empresas europeias. Contudo, mudanças<br />

regulamentares parecem ser menos<br />

preocupantes para o futuro. Pouco mais de um<br />

quarto dos inquiridos citaram as mudanças<br />

regulatórias como uma das principais<br />

preocupações nos próximos cinco anos, bem<br />

como a geopolítica e pandemia.<br />

Os Estados Unidos e a Europa soam cada vez<br />

mais proteccionistas em relação à indústria e<br />

ao desenvolvimento de novas tecnologias como<br />

semi-condutores, 5G e Inteligência Artificial<br />

(IA).<br />

As políticas de mudança climática também<br />

irão aumentar os riscos da cadeia de<br />

abastecimento nos próximos anos. A União<br />

Europeia está a pressionar para medidas de<br />

redução de emissões comprometendo-se a<br />

ser neutra em carbono até 2050. O empurrão<br />

para uma maior sustentabilidade consiste<br />

em transformar a gestão da supply chain<br />

enquanto as empresas asseguram que os seus<br />

fornecedores estão a minimizar o seu impacto<br />

ambiental e estão a agir com responsabilidade<br />

social. Isto apresenta desafios às empresas. De<br />

um modo geral, mais de 60% dos entrevistados<br />

dizem que a regulação do meio ambiente<br />

tem perturbado as operações da cadeia de<br />

abastecimento nos últimos três anos, embora<br />

isso tenha marcado mais a Europa do que os<br />

EUA.


24<br />

abril <strong>2021</strong><br />

80% dos inquiridos relatam que<br />

aumentaram a cooperação com os<br />

seus departamentos de finanças<br />

e estratégia da empresa nos<br />

últimos três anos, e três quartos<br />

afirmam que aumentaram a<br />

cooperação com departamentos<br />

de operações, particularmente<br />

nos sectores dos alimentos e<br />

agricultura<br />

Tendências tecnológicas também estão<br />

a mudar as ofertas. Robótica cada vez mais<br />

avançada e capacidades de manufactura estão<br />

a permitir que as empresas dependam menos<br />

de mão-de-obra pouco qualificada. As empresas<br />

também estão a usar cada vez mais novas<br />

técnicas de fabrico, como impressão 3D, para<br />

fazer novos componentes no local.<br />

Forjar novos<br />

relacionamentos<br />

A maior mudança para as empresas, nos<br />

últimos anos, tem sido a nível interno. Os<br />

departamentos de supply chain e compras<br />

aperceberam-se de que têm que cooperar mais<br />

estreitamente com outras partes do negócio.<br />

A pesquisa confirmou que houve uma ampla<br />

colaboração multifuncional nos últimos anos.<br />

80% dos inquiridos relatam que aumentaram<br />

a cooperação com os seus departamentos<br />

de finanças e estratégia da empresa nos<br />

últimos três anos, e três quartos afirmam que<br />

aumentaram a cooperação com departamentos<br />

de operações, particularmente nos sectores<br />

dos alimentos e agricultura. A maioria dos<br />

líderes das finanças e tecnologia referem que<br />

começaram a trabalhar mais de perto com<br />

a cadeia de abastecimento. Seis em cada<br />

10 líderes da supply chain dizem ter tido<br />

uma maior colaboração com as funções de<br />

marketing e vendas das organizações.<br />

Os resultados da pesquisa sugerem<br />

que a pandemia teve um impacto menor<br />

nas empresas que têm maiores níveis de<br />

colaboração multifuncional.<br />

Um gap na tecnologia<br />

Algumas das evoluções da cadeia de<br />

abastecimento que estamos a testemunhar hoje<br />

é um resultado directo da pandemia. Bloqueios<br />

nacionais - colocados em práctica para conter<br />

a propagação da COVID-19 -, cadeias de<br />

abastecimento interrompidas, redes e lojas de<br />

retalho fechadas. Em resposta, as empresas<br />

aceleraram o uso de tecnologia, não apenas<br />

para facilitar o trabalho remoto, mas também<br />

para vender os seus produtos online.


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

Os resultados da pesquisa sugerem que a pandemia teve um impacto menor<br />

nas empresas que têm maiores níveis de colaboração multifuncional<br />

O estudo revela que os líderes da cadeia de<br />

abastecimento ainda precisam de fazer uso<br />

completo dos recursos avançados da tecnologia<br />

para dar resposta às interrupções da cadeia de<br />

abastecimento.<br />

Menos de 40% dos gestores de fornecimento<br />

afirmaram que tinham trabalhado com a função<br />

de TI para abordar interrupções na cadeia de<br />

abastecimento, enquanto quase todos (98%)<br />

dos líderes de TI entrevistados disseram que<br />

tinham trabalhado com gestores da cadeia de<br />

abastecimento.<br />

Como resultado, a adopção de tecnologias<br />

avançadas permanece limitada. Por exemplo,<br />

muito poucos dos inquiridos estão a considerar<br />

tecnologias emergentes como 5G e blockchain<br />

(apenas 15% e 9% dos entrevistados). Contudo,<br />

uma proporção significativamente maior dos<br />

inquiridos - perto de 40% - apresentaram<br />

plataformas digitais, permitindo-lhes fazer<br />

negócios directamente com clientes ou<br />

fornecedores, e estão a utilizar a análise<br />

de Big Data, permitindo ter, em tempo real,<br />

percepções sobre os seus fornecedores.<br />

O sucesso dessas tecnologias avançadas<br />

depende não apenas da sofisticação técnica,<br />

mas também da capacidade dos funcionários<br />

de utilizá-las de forma eficaz. De acordo com<br />

os inquiridos, o principal desafio associado<br />

à adopção de nova tecnologia é a falta de<br />

funcionários com habilidades digitais e<br />

analíticas. Os profissionais também destacaram<br />

outros desafios, incluindo analisar de forma<br />

eficiente a massa de dados recolhidos (52%),<br />

e um falta de adesão entre funcionários e<br />

fornecedores (51%).<br />

Principais conclusões<br />

Os líderes da cadeia de abastecimento estão<br />

a tentar tornar-se menos isolados e mais<br />

colaborativos com outras funções no negócio,<br />

integrando melhor as operações e a tomada<br />

de decisões. Mais de 70% dos líderes da cadeia<br />

de abastecimento inquiridos pelo The EIU<br />

aumentaram o seu nível de colaboração com as<br />

suas funções de estratégia, operações, finanças<br />

e tecnologia de informação das organizações<br />

nos últimos três anos e pretendem continuar a<br />

aumentar nos próximos três.<br />

As empresas estão a trabalhar mais<br />

estritamente com menos fornecedores<br />

em busca de relações de alta qualidade e<br />

resilientes com parceiros-chave. Pouco menos<br />

de um terço dos líderes (31%) relatam que<br />

as suas empresas estão a reduzir o número<br />

de fornecedores e isso permite trabalhar<br />

mais de perto com os fornecedores que<br />

contratam, tanto para aumentar a segurança<br />

dos fornecimentos, quanto para aumentar o<br />

envolvimento dos fornecedores no atendimento<br />

à procura do cliente, por exemplo envolvendo-<br />

-os no design de produto.<br />

As empresas reconhecem a necessidade de<br />

maiores habilidades técnicas para digitalizar<br />

com sucesso as suas cadeias de abastecimento.<br />

Um terço dos líderes inquiridos relatou que<br />

um entendimento da estratégia do negócio<br />

e operações, a capacidade de comunicar de<br />

forma eficaz e a compreensão digital são as<br />

habilidades mais importantes para um líder da<br />

cadeia de abastecimento do futuro. •


26<br />

abril <strong>2021</strong><br />

procurement<br />

Indústria têxtil<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Tendências que vão renovar o sourcing<br />

A indústria do vestuário e as cadeias de<br />

abastecimento já enfrentavam alguns<br />

problemas antes da crise pandémica se ter<br />

instalado no mundo. Contudo, esta veio<br />

acentuá-los. Muitas empresas já começam<br />

a tentar mitigar alguns riscos face ao<br />

cenário negativo que se implementou em<br />

vários sectores, alterando agora a forma de<br />

operar e dando uma nova vida ao sourcing<br />

regendo-se através de oito preceitos.<br />

As restrições entre países, os encerramentos<br />

das fábricas, a escassez de mão-de-obra e<br />

de matérias-primas, os custos de logística<br />

crescentes, as falências dos fornecedores e<br />

retalhistas, e o aumento da procura online<br />

expuseram a indústria do vestuário às<br />

fragilidades do sourcing. Segundo a Portugal<br />

Têxtil, algumas empresas já estão mais<br />

atentas aos riscos e às mudanças, planeando<br />

e implementando oito conceitos para serem<br />

bem-sucedidas. Conheça-os!


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

1<br />

Resiliência<br />

Construir uma maior resiliência nas cadeias<br />

de aprovisionamento é a principal prioridade<br />

no que diz respeito ao aprovisionamento<br />

de vestuário, evitando assim dependência<br />

de qualquer país. Deste modo, passa a ser<br />

possível identificar aspectos vulneráveis do<br />

aprovisionamento, como a disponibilidade de<br />

componentes, o que permite às empresas ter<br />

alternativas em mente.<br />

2<br />

Equilíbrio<br />

Agora, mais do que nunca, é necessário<br />

equilibrar as cadeias de aprovisionamento para<br />

obter uma maior capacidade e flexibilidade de<br />

resposta nas relações comerciais. Movimentar<br />

parte da produção para mercados mais<br />

próximos e transferir pedidos para fora da<br />

China são acções já em curso por parte das<br />

empresas, graças aos retrocessos na relação<br />

entre os EUA e a China, o que provoca<br />

a diminuição do ritmo dos concorrentes<br />

asiáticos como o Vietname, Bangladesh e o<br />

Camboja. O sourcing regional mais voltado<br />

para o consumidor vai continuar em expansão,<br />

especificamente da Ásia para a Ásia, a região<br />

EMEA (Europa, Médio Oriente, África) para a<br />

EMEA e da América para a América.<br />

Apesar do peso do factor proximidade,<br />

construir novas relações com os fornecedores<br />

não é um processo fácil, assim como encontrar<br />

infraestruturas adequadas como portos,<br />

logística, fibras, fios, têxteis, acabamentos,<br />

serviços de qualidade e disponibilidade<br />

produtiva. A capacidade da indústria têxtil e<br />

vestuário da China fazem com este mercado<br />

domine a produção global deste sector, que<br />

continuará a ser fornecedor das fábricas dos<br />

mais variados pontos do globo.<br />

3<br />

Parcerias estratégicas<br />

A interrupção e o cancelamento de pedidos,<br />

o rompimento de contratos e a falta de<br />

pagamento fizeram com que a confiança entre<br />

os fornecedores e os compradores fosse muito<br />

afectada pela pandemia, pelo que é necessário<br />

reescrever as regras entre estes players da<br />

indústria. Trabalhar de forma mais próxima<br />

com um menor número de fornecedores e<br />

retalhistas, que sejam sólidos do ponto de<br />

vista financeiro, passou a ser fundamental para<br />

dispor de cadeias de aprovisionamento mais<br />

rápidas, responsivas e sustentáveis. A partir<br />

de parcerias mais profundas, as empresas<br />

podem evitar os constrangimentos e as perdas<br />

financeiras que sofreram em 2020.<br />

4<br />

Aceleração digital<br />

A digitalização foi outra das áreas impactadas<br />

pela COVID-19, que obrigou as empresas a<br />

recorrer ao online para manter e alimentar<br />

as sinergias comerciais e também a investir<br />

em novas tecnologias. A modelagem 3D, a<br />

amostragem digital, showrooms virtuais são<br />

exemplos de investimentos tecnológicos<br />

que contribuem para processos mais<br />

rápidos e decisões mais eficazes. A própria<br />

sustentabilidade é beneficiada, dado que<br />

é possível uma maior rastreabilidade dos<br />

produtos, assim como o controlo dos mesmos<br />

no aprovisionamento, o que evita desperdícios<br />

e diminui a pegada de carbono. Para os<br />

próximos anos, a digitalização continuará a ser<br />

uma das chaves de progresso para o sector, que<br />

terá acesso a cada vez mais informação sobre<br />

os consumidores, facilitando a produção e a<br />

introdução de tendências vendáveis.


28<br />

abril <strong>2021</strong><br />

5<br />

Inteligência rápida<br />

Como consequência da digitalização, as cadeias<br />

de aprovisionamento de vestuário tornam-<br />

-se, além de mais rápidas e ágeis, também<br />

inteligentes. A previsibilidade na procura do<br />

consumidor permite uma melhor resposta das<br />

empresas às necessidades do mercado, o que<br />

evita a necessidade da colocação de grandes<br />

pedidos e com seis meses de antecedência. Esta<br />

prática ajuda também a gerir o stock, evitando<br />

o excesso do mesmo. A análise de dados e<br />

ferramentas preditivas podem mesmo marcar o<br />

fim da era produtiva, que atuará apenas quando<br />

existir uma procura evidente.<br />

6<br />

Rastreabilidade e transparência<br />

Com as convicções asseguradas e a certeza de<br />

que os valores pesam na decisão de compra<br />

dos consumidores, as marcas e as retalhistas de<br />

moda preocupam-se mais em ser transparentes,<br />

documentando as etapas produtivas às<br />

quais um determinado produto é submetido,<br />

assim como a origem das matérias-primas.<br />

Esta preocupação, contudo, vai já além dos<br />

consumidores e alarga-se às empresas que<br />

compram matérias-primas éticas para não<br />

prejudicar a respectiva reputação no mercado.<br />

O trabalho forçado em Xinjiang no cultivo de<br />

algodão é um desses exemplos.<br />

7<br />

Reforçar a sustentabilidade<br />

A ética e a sustentabilidade surgem lado a lado<br />

e, para os consumidores, caminham juntas.<br />

Porém, para as empresas, a concordância<br />

entre aquilo que comunicam, uma vez que<br />

se assumem como sustentáveis, e aquilo que<br />

praticam nem sempre se verifica por completo<br />

com a reorganização das prioridades no<br />

negócio. Prova disso foi o facto de retalhistas<br />

terem abdicado de muitos pedidos no início<br />

da pandemia, o que expôs vários negócios a<br />

situações vulneráveis e os trabalhadores a<br />

condições deficientes. O próprio inventário que<br />

ficou dentro de portas gerou o desperdício,<br />

enquanto muitas empresas lutavam pela<br />

sobrevivência. Neste sentido, os esforços éticos<br />

e ambientais devem ser uma prioridade para o<br />

aprovisionamento têxtil, que tem de impedir<br />

este tipo de danos, tanto para o negócio como<br />

para a sociedade, evitando o greenwashing.<br />

Todas as etapas do ciclo de vida de um<br />

determinado produto devem ser regidas sob<br />

estas preocupações.


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

8<br />

Reduzir emissões<br />

As emissões de carbono e a neutralidade<br />

carbónica estão particularmente no centro das<br />

atenções, com o Reino Unido a ser o anfitrião<br />

da cimeira COP26 no final do ano e os EUA a<br />

considerarem voltar a fazer parte do Acordo de<br />

Paris referente às alterações climáticas sob a<br />

presidência de Joe Biden.<br />

A maior pegada de carbono e as maiores<br />

emissões dos gases de efeito de estufa<br />

são gerados pela indústria de moda, cujo<br />

aprovisionamento fomenta o transporte de<br />

matérias-primas por milhares de quilómetros e,<br />

depois de convertidas em produtos acabados,<br />

estes voltam a ser transportados para vários<br />

pontos do globo.<br />

O acesso a recursos renováveis vai, de<br />

resto, determinar a pegada das empresas,<br />

que devem conduzir a uma mudança real e<br />

não só estabelecer metas, como também<br />

tomar medidas para as cumprir. Se isto não se<br />

verificar, as normas climáticas podem passar de<br />

voluntárias a obrigatórias, como já está a ser<br />

debatido na UE e nos EUA. •


30<br />

abril <strong>2021</strong><br />

procurement<br />

A implementação de<br />

uma plataforma de<br />

compras<br />

“O nosso departamento é o único<br />

que contribui quase a 100%<br />

para o resultado líquido de uma<br />

empresa”<br />

Em 2016, o Grupo C. Santos VP encarou a necessidade de centralizar o seu<br />

processo de compras. Esta transformação iniciou-se com a criação de raiz<br />

de um departamento de compras com uma abrangência transversal às<br />

seis empresas do grupo. Após três anos de negociações/renegociações<br />

dos custos unitários chegou o momento da revisão e optimização dos<br />

processos de compra que permitiram depois, já em Janeiro de 2020, a<br />

adopção de uma plataforma digital. Pedro Miranda, o director de compras,<br />

leva-nos numa viagem pela digitalização do seu departamento. Vamos?


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“O<br />

que fizemos<br />

na nossa<br />

casa é o<br />

que acho que<br />

deve ser feito<br />

num projecto desta<br />

natureza: trabalhámos<br />

primeiro de forma<br />

“offline”, avaliando tudo o<br />

que tínhamos e desenhámos o que<br />

queríamos ter” começa por contar-nos Pedro<br />

Miranda.<br />

Mesmo antes da pandemia, a pressão para<br />

acelerar uma implementação da transformação<br />

digital das compras (como para qualquer<br />

outro departamento) sempre foi grande, no<br />

entanto devido a diversos factores externos ao<br />

processo, tiveram a “sorte” de ter algum tempo<br />

para a maturação das ideias, dos conceitos, das<br />

funcionalidades testadas na práctica situação<br />

que se mostrou ser bastante importante para o<br />

resultado final, segundo o profissional.<br />

O foco inicial na redução dos custos unitários<br />

permitiu que o departamento recém-criado<br />

se afirmasse como um pilar estratégico para<br />

a gestão do negócio, tendo contribuído de<br />

forma muito significativa para a robustez<br />

dos resultados líquidos apresentados pelas<br />

empresas do grupo.<br />

Este resultado foi fundamental para os<br />

passos seguintes na redefinição dos processos<br />

e procedimentos de compras, uma vez que<br />

eram evidentes e factuais as mais-valias já<br />

geradas, e que iram agora ser potenciadas.<br />

O que fizemos na nossa<br />

casa é o que acho<br />

que deve ser feito<br />

num projecto<br />

desta natureza:<br />

trabalhámos<br />

primeiro de forma<br />

“offline”, avaliando<br />

tudo o que tínhamos<br />

e desenhámos o que<br />

queríamos ter<br />

Pedro Miranda<br />

Até aqui trabalharam “à antiga” sem qualquer<br />

digitalização dos processos. Foi então, em<br />

Janeiro de 2020, antes da pandemia começar,<br />

que seleccionaram um software de compras<br />

que se ajustava às necessidades que foram<br />

sentindo e apurando ao longo desta evolução,<br />

um conhecimento detalhado que obtiveram<br />

também pelo facto de não terem logo<br />

disponível um software para implementar.<br />

Conseguiram ainda focar a atenção na gestão<br />

da mudança que também é fundamental nestes<br />

processos, segundo o director de compras. A<br />

“gestão da mudança” a que se refere consiste<br />

em dar formação e motivação às pessoas,<br />

parte fulcral do processo, garantindo que<br />

as funcionalidades e a confiança no sistema<br />

é “transversal a todos os departamentos<br />

das empresas” e, por isso, deve existir uma<br />

“forte aposta e envolvimento da parte da<br />

administração, pois vamos mudar o mindset das<br />

pessoas”.


32<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Esta é aquela parte de que não<br />

se fala muito, a parte mais<br />

operacional das compras versus<br />

a parte mais estratégica. Muitas<br />

vezes, os aspectos operacionais<br />

entopem-nos o dia-a-dia,<br />

sobrando muito pouco para a<br />

parte estratégica. Só com estes<br />

dados fidedignos é que se consegue<br />

pensar mais estrategicamente<br />

Agora, as pessoas já começam a ver<br />

vantagens com esta solução, que se traduz<br />

na maior facilidade no trabalho do dia-adia.<br />

“Isto é o que se quer ver no fim de um<br />

processo destes”, confessa o responsável. Só<br />

após esta redefinição, só depois de usarem<br />

novos procedimentos ainda de forma offline<br />

é que, ao avançar para a digitalização através<br />

de uma plataforma de compras, conseguiram<br />

despoletar todos os benefícios.<br />

O software selecionado foi o Mercado<br />

Eletrônico, uma solução que ia ao encontro<br />

das necessidades das empresas, sendo a sua<br />

customização uma das características que<br />

Pedro Miranda destaca.<br />

Opção estratégica<br />

Antes da venda da Gamobar ao Grupo Salvador<br />

Caetano, a empresa tinha 40 localizações<br />

distintas e a aposta sempre foi “negociar<br />

centralmente e comprar localmente”, ou seja,<br />

não criar um departamento de procurement<br />

em que todas as compras passassem pelo<br />

departamento central, por se achar que iria<br />

criar um departamento muito pesado, quando<br />

deveria ser leve e ágil onde se negoceia<br />

centralmente, fazem-se contratos-quadro<br />

e depois implementam-se as regras de<br />

utilização dos mesmos. “Assim cada um compra<br />

o que tiver a comprar, localmente, dentro<br />

das regras, dos plafons e das necessidades<br />

daquela localização”, explica Pedro Miranda,<br />

acrescentando que é através da flexibilidade<br />

da solução que adoptaram que têm conseguido<br />

colocar um novo contrato disponível para os<br />

clientes internos em dois ou três dias, às vezes,<br />

com centenas de produtos. “Pela forma como<br />

montámos o processo, qualquer pedido de<br />

compra só sai depois de passar por todas as<br />

fases da política de compras: se tem ou não<br />

plafond, se foi ou não aprovado...”, explica.<br />

Com um sistema destes, a questão do<br />

controlo e visibilidade em tempo real fica<br />

disponível à distância de um clique, com uma<br />

análise cruzada com várias tipologias de KPI’s<br />

por localização, por comprador, grupo de<br />

rúbrica ou produto. Anteriormente levavam<br />

vários dias para obter este tipo de informação.


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

Tenho defendido um conceito que é pouco explorado pelos<br />

departamentos de compras que é: o nosso departamento é o<br />

único que contribui quase a 100% para o resultado líquido<br />

de uma empresa. Portanto, se pouparmos 100 mil euros, o<br />

resultado líquido da empresa melhora 100 mil euros<br />

Sinergias e ganhos<br />

Através desta transformação digital começaram<br />

a fazer uma gestão pró-activa de contratos e<br />

de fornecedores, ou seja, todos os produtos<br />

que estão carregados no sistema fazem parte<br />

de um contrato e, no que aos fornecedores<br />

diz respeito, passaram a guardar o registo<br />

de avaliação de todas as entregas o que<br />

permite “em tempo real” avaliar a prestação<br />

do fornecedor. Uma vez que o departamento<br />

de compras é certificado pela ISO9001:2015,<br />

a avaliação de fornecedores é uma obrigação<br />

da norma que passaram a cumprir de “forma<br />

eficaz”.<br />

A digitalização dos processos e<br />

procedimentos libertaram os recursos para<br />

novas tarefas de maior valor acrescentado.<br />

“Esta é aquela parte de que não se fala muito,<br />

a parte mais operacional das compras versus<br />

a parte mais estratégica. Muitas vezes, os<br />

aspectos operacionais entopem-nos o dia-a-dia,<br />

sobrando muito pouco para a parte estratégica.<br />

Só com estes dados fidedignos é que se<br />

consegue pensar mais estrategicamente”.<br />

A implementação da plataforma já foi<br />

concluída e, de acordo com Pedro Miranda,<br />

estão agora “em velocidade de cruzeiro”. A<br />

gestão da mudança foi determinante para o<br />

sucesso do processo com o contributo árduo de<br />

várias equipas de outros departamentos.<br />

Às sinergias já criadas nas negociações<br />

das condições comerciais juntaram-se então<br />

as sinergias operacionais com benefícios<br />

estruturais ao grupo de empresas.<br />

O trabalho administrativo sem valor<br />

acrescentado reduziu-se, e houve também uma<br />

redução “muito concreta” do tempo de resposta<br />

dos fornecedores: “antes tínhamos 80 pessoas a<br />

encomendar por e-mail, fax, telefone e tornava-<br />

-se uma confusão para o lado do fornecedor.<br />

Agora, invertemos os papéis e somos nós que<br />

controlamos, filtramos e organizamos essa<br />

informação à saída da nossa plataforma”.<br />

Portanto, nada vai para o fornecedor sem estar<br />

validado, segundo Pedro Miranda, situação que<br />

ocorre automaticamente pelas regras criadas<br />

no sistema, num volume aproximadamente de<br />

75% das compras.


34<br />

abril <strong>2021</strong><br />

O impacto da pandemia<br />

“Ainda não conseguimos encontrar um<br />

argumento que nos mostrasse que a pandemia<br />

tenha mostrado algo de positivo para nós”,<br />

confessa-nos. Antes de a pandemia se instalar,<br />

o Grupo C Santos VP já tinha iniciado a<br />

implementação da plataforma de compras,<br />

processo que foi reduzido ao mínimo, atrasando<br />

um pouco as metas estabelecidas. “É aqui<br />

que os departamentos de compras devem<br />

defender esta ideia: não servimos para comprar<br />

nada para nós, mas sim para servir os outros<br />

departamentos, os nossos clientes internos”,<br />

refere Pedro Miranda, acrescentando que<br />

“se a urgência das empresas foi reagir a um<br />

lockdown, as compras não vão continuar o<br />

seu processo de implementação como se nada<br />

fosse. Vamos parar, arregaçar as mangas e<br />

ajudar no que é preciso”, afirma.<br />

E assim foi. O director de compras caracteriza<br />

o período como “muito intenso” e afirma<br />

que “aproveitou muitas mais-valias com os<br />

fornecedores estratégicos, aqueles nossos<br />

parceiros de negócio (vs. simples fornecedores),<br />

permitindo aguentar uma abrupta paragem de<br />

facturação”, mostrando que a ligação entre as<br />

duas partes foi “fundamental”.<br />

Outro desafio que Pedro Miranda identifica<br />

é a volatilidade do cliente interno, que passou<br />

a ter também uma procura muito incerta.<br />

Esta situação obriga a uma gestão de risco<br />

de falha versus aumento de stocks com toda<br />

a complexidade e impacto financeiro daí<br />

provenientes.<br />

O director de compras concorda, no<br />

entanto, que a pandemia evidenciou o papel e<br />

importância das compras nas empresas. “Tenho<br />

defendido um conceito que é pouco explorado<br />

pelos departamentos de compras que é: o<br />

nosso departamento é o único que contribui<br />

quase a 100% para o resultado líquido de uma<br />

empresa. Portanto, se pouparmos 100 mil<br />

euros, o resultado líquido da empresa melhora<br />

100 mil euros”.<br />

Alcançar a eficiência<br />

Pedro Miranda aponta ainda algumas medidas<br />

para alcançar a eficiência, sendo uma delas<br />

padronizar a procura. Ou seja, criar um padrão<br />

de consumo consoante as necessidades<br />

do cliente interno para que este comece a<br />

conhecer o produto.<br />

Apostar “bastante” nas parcerias. Confiar<br />

nos parceiros que conseguem entregar em<br />

picos e resolver problemas. “Isto tem de ser<br />

uma parceria, uma situação equilibrada, e<br />

nas fases em que nós temos maior hipótese<br />

de não sobrecarregar tanto o nosso parceiro/<br />

fornecedor, também devemos fazê-lo”, conta.<br />

É também importante a ligação entre as<br />

pessoas, os clientes internos e os parceiros/<br />

fornecedores, constituindo um “triângulo<br />

fundamental”, dar formação às equipas e ter<br />

softwares actualizados.<br />

Resumindo, “está feito, está implementado<br />

e a funcionar. Um sistema destes nunca está<br />

totalmente pronto ou acabado, porque nunca<br />

temos 100% das compras na plataforma, mas<br />

vamos crescendo e melhorando”. Depois de se<br />

iniciar o percurso, a digitalização é uma viagem<br />

sem fim à vista. •


SCM Supply Chain Magazine 35


36<br />

abril <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

Elo fundamental da<br />

cadeia<br />

Palete:<br />

invisível, mas<br />

imprescindível<br />

A probabilidade de abrirmos um contentor<br />

ou um armazém e não vermos uma palete<br />

é ínfima. Eu diria que estará muito perto de<br />

não se verificar, pois a bela da palete, é parte<br />

integrante da nossa atividade (logística). Sem<br />

ela não conseguiríamos arrumar de forma<br />

eficiente o nosso armazém e tirar o máximo<br />

proveito do espaço disponível num contentor.<br />

O<br />

mercado das paletes está a crescer 5%<br />

ao ano, a nível global, e é esperado um<br />

descolar significativo dos 5% para o<br />

triénio 2020-2023 como resultado dos ajustes<br />

necessários à resposta às necessidades<br />

criadas pela pandemia. Estas movimentações<br />

nos mercados, têm como consequência um<br />

aumento significativo da procura de paletes,<br />

que por sua vez provoca, também, um<br />

aumento do preço quer nas paletes novas,<br />

usadas ou rental.


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

Dado o contexto global, no momento<br />

pandémico, muitas empresas adquiriram<br />

ou aumentaram os seus armazéns, com o<br />

propósito de aumentar o stock para dar<br />

resposta aos pedidos, evitando colocar em<br />

risco o seu stock de segurança, e assim o<br />

mercado promoveu, ainda que por uma ação<br />

preventiva, a palete.<br />

Entre paletes de Madeira, Plástico, Metal<br />

e Cardboard, existem biliões de paletes em<br />

uso em todo o mundo e apenas 10% não<br />

são de madeira. Segundo o Global Wood<br />

Pallet Market Report, quando verificamos os<br />

números registamos que apenas 326 milhões<br />

são reparadas e voltam para circulação.<br />

O mercado das paletes está a pressionar<br />

o desinvestimento nas madeiras e por sua<br />

vez o investimento nas paletes de plástico,<br />

pois são mais leves, mais higiénicas, mais<br />

duradouras... e também mais caras. Mas não<br />

é o preço que está a impedir alguns players<br />

importantes no mercado de desenvolverem<br />

projetos de armazenagem. Nas indústrias<br />

transformadoras, alimentar e pharma, muitas<br />

destas paletes de plástico utilizam processos<br />

de fabrico com recurso ao “eco-frienddly” e<br />

matéria-prima reciclável, promovendo assim<br />

os negócios sustentáveis, com o objetivo de<br />

representarem 10% do mercado em vez dos<br />

atuais 6%.<br />

Os avanços tecnológicos permitiram<br />

o desenvolvimento de serviços de<br />

valor acrescentado no negócio das<br />

paletes, deixando de ser apenas uma<br />

plataforma onde posso arrumar a<br />

minha mercadoria de forma segura<br />

mas também poderei, eu ou o meu<br />

cliente, vir a saber onde está a<br />

mercadoria, pois a palete passa a ser um<br />

agente ativo no processo logístico quando<br />

munida de tecnologia, como IoT ou RFID.<br />

Em 2020, o e-commerce alavancou a<br />

liderança do mercado da Ásia-Pacífico<br />

neste segmento, com uns confortáveis 32%,<br />

seguidos pelos Estados Unidos da América.<br />

Na Europa o paradigma é diferente, pois o<br />

biodegradável, a reciclagem e a reutilização<br />

são palavras de ordem, pelo que poderemos<br />

vir a utilizar as paletes de plástico, mas não<br />

espero que ao mesmo ritmo dos primeiros.<br />

O mercado global das paletes de plástico<br />

está na ordem dos 6,50B$ USD em 2020,<br />

espera-se para <strong>2021</strong>, 7,05B$ USD, e é<br />

expectável que somente no segmento das<br />

paletes de plástico o crescimento seja de 5-6%<br />

até 2026.<br />

Portanto, não desprezem a bela da palete.•<br />

Texto: Henrique Cardador<br />

Analista de<br />

estratégia<br />

empresarial


38<br />

abril <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

Optimizar operações<br />

logísticas<br />

JP Sá Couto aposta na<br />

melhoria da performance<br />

da sua supply chain<br />

A JP Sá Couto, a maior empresa do jp.group, seleccionou a Generix Group para implementar<br />

o seu sistema de gestão de armazéns (WMS) e apoiar assim o processo de digitalização e<br />

melhoria da supply chain do grupo. O projecto, que já arrancou, terá a duração de nove meses<br />

e irá permitir optimizar as operações logísticas da JP Sá Couto.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

Texto: Dora Assis<br />

A<br />

JP Sá Couto, empresa portuguesa, com<br />

presença internacional e que actua<br />

principalmente no sector das Tecnologias<br />

de Informação e Comunicação (TIC),<br />

desafiou a Generix a encontrar uma solução<br />

escalável e flexível, capaz de optimizar a<br />

gestão dos seus armazéns. Com um conjunto<br />

diversificado de negócios, distribuídos pelas<br />

áreas da Distribuição, Educação, Serviços<br />

TI e Investimentos, a JP Sá Couto quer com<br />

este projecto melhorar a performance da sua<br />

supply chain, através da implementação de um<br />

WMS que possibilite a automatização das suas<br />

operações logísticas.<br />

O projecto de implementação do WMS,<br />

no modelo SaaS, foi planeado para estar<br />

totalmente operacional no prazo de nove<br />

meses e com ele a JP Sá Couto terá a<br />

capacidade de automatizar e controlar de uma<br />

forma mais eficiente os processos existentes,<br />

apostar na automatização e eliminar tarefas<br />

não produtivas, bem como melhorar a<br />

integração com parceiros e a colaboração com<br />

fornecedores. Por sua vez, a implementação da<br />

ferramenta TradeXpress, permitirá à empresa<br />

a integração de dados e a conexão com os<br />

seus diferentes sistemas de informação.<br />

A solução da Generix irá incluir ainda um<br />

conjunto de indicadores de performance<br />

(KPI) para controlo dos principais processos<br />

logísticos, em tempo real.<br />

A implementação de uma solução<br />

de gestão de armazéns assume<br />

especial importância na resposta<br />

às alterações da cadeia de valor e<br />

às novas tendências de mercado<br />

Pedro Gordo, Generix Group<br />

“Num ano altamente imprevisível, as<br />

empresas foram confrontadas com alterações<br />

profundas nos seus negócios, o que impactou<br />

processos, canais de venda e toda a cadeia<br />

de valor. <strong>2021</strong> vai ser um ano de superação<br />

e transformação”, refere Pedro Gordo, supply<br />

chain business manager da Generix Group,<br />

acrescentando que “o desafio proposto pela<br />

JP Sá Couto, para além de uma demonstração<br />

da capacidade de resiliência do nosso tecido<br />

empresarial, revela também a importância<br />

da aposta em tecnologias de informação,<br />

que se traduz em maior produtividade. A<br />

implementação de uma solução de gestão<br />

de armazéns assume especial importância na<br />

resposta às alterações da cadeia de valor e às<br />

novas tendências de mercado”.


40<br />

abril <strong>2021</strong><br />

a tecnologia e a transformação digital dos processos e operações são<br />

fundamentais neste processo de superação, como aliás já o foram ao<br />

longo do último ano. Poder contar com uma solução de gestão de armazéns<br />

fiável, completa, comunicativa e de rápida implementação, representa uma<br />

vantagem significativa para o nosso projecto<br />

Ivone Queiroz, JP Sá Couto<br />

Por sua vez, Ivone Queiroz, directora de<br />

operações da jp.di, Unidade de Negócio de<br />

Distribuição de Tecnologia da JP Sá Couto,<br />

refere que “a tecnologia e a transformação<br />

digital dos processos e operações são<br />

fundamentais neste processo de superação,<br />

como aliás já o foram ao longo do último ano.<br />

Poder contar com uma solução de gestão de<br />

armazéns fiável, completa, comunicativa e<br />

de rápida implementação, representa uma<br />

vantagem significativa para o nosso projecto”.<br />

Após o arranque e a curto prazo, o<br />

objectivo será uma melhoria significativa de<br />

produtividade global, conseguida através<br />

da automatização de tarefas, alocando<br />

os operadores para tarefas de controlo<br />

operacional e não para a execução logística,<br />

de acordo com Ivone Queiroz. “A médio e<br />

longo prazo, tanto a Generix como a JP Sá<br />

Couto, esperam obter mais benefícios através<br />

da melhoria contínua dos processos logísticos<br />

existentes, uma vantagem alavancada pela<br />

elevada flexibilidade e cobertura funcional da<br />

solução WMS da Generix”, termina. •


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Um grande grupo.<br />

www.grupoconstant.com


42<br />

abril <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

AGV aumentam<br />

eficiência<br />

Codorníu<br />

automatiza<br />

transporte de<br />

paletes<br />

Nove AGV movimentarão paletes entre as<br />

mais de 6.000 localizações de armazenagem<br />

que a Codorníu, empresa catalã produtora<br />

de cava e vinho, dispõe na sua unidade de<br />

Sant Sadurní d’Anoia. É o resultado da aposta<br />

que a empresa, uma das maiores produtoras<br />

mundiais de vinhos espumantes, fez na<br />

automatização do transporte de paletes.<br />

Texto: Dora Assis<br />

A<br />

Codorníu, produtora de cava e vinho de<br />

qualidade, líder do mercado espanhol,<br />

selecionou a Jungheinrich para automatizar<br />

o transporte de paletes na sua unidade de<br />

Sant Sadurní d’Anoia, no nordeste de Espanha.<br />

Enquanto um dos maiores produtores<br />

mundiais de espumantes, a Codorníu opera um<br />

total de 14 adegas e para gerir o aumento do<br />

volume de produção, o seu fluxo de material<br />

parcialmente automatizado e digitalizado é<br />

apoiado por um sistema de transporte sem<br />

condutor (AGV), que garante sequências<br />

de transporte de paletes particularmente<br />

confiáveis e seguras para todo o processo.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

Graças ao seu design compacto, o ERC 213a<br />

é ideal para trabalhar em corredores estreitos,<br />

podendo levantar cargas de até 1.300 kg,<br />

a uma altura de elevação máxima de 3800<br />

mm. O potente motor de elevação controlado<br />

electricamente garante uma elevação e<br />

descida suaves e silenciosas, mesmo em<br />

alturas elevadas.<br />

Os veículos são dirigidos por um software<br />

de controlo e a navegação é feita através<br />

de tecnologia laser, pelo que foi necessário<br />

proceder à instalação de ao longo da via que o<br />

ERC 213a utiliza para se orientar no espaço.<br />

Integração e interfaces<br />

Fluxo contínuo<br />

de transporte<br />

A solução desenvolvida pela Jungheinrich para<br />

a Codorníu é uma combinação eficiente de<br />

armazenagem manual e automatizada, através<br />

do fornecimento de nove AGV. O ERC 213a<br />

garante um transporte seguro e contínuo de<br />

mercadorias entre as estanterias individuais e<br />

os armazéns compactos, que conjuntamente<br />

detêm mais de 6.000 localizações de<br />

armazenagem. Os AGV também asseguram que<br />

as paletes são empilhadas e desempilhadas de<br />

forma ordenada.<br />

Para garantir a segurança em operações<br />

mistas com equipamentos manuais e<br />

pedestres, os AGV são equipados com<br />

scanners de segurança pessoal que<br />

detectam obstáculos e pessoas, parando<br />

automaticamente o equipamento se for<br />

necessário.<br />

A solução de automação da Jungheinrich<br />

opera como um sistema conectado. O novo<br />

AGV é facilmente integrado no Warehouse<br />

Management System (WMS) existente na<br />

Codorníu através de um interface logístico,<br />

o que permite uma comunicação eficaz<br />

entre os colaboradores e o equipamento de<br />

movimentação de carga, garantindo processos<br />

de armazenamento transparentes.<br />

Ao mesmo tempo, a avançada tecnologia<br />

de iões de lítio garante altas taxas de<br />

movimentação e disponibilidade máxima, já<br />

que os AGV são equipados com funções de<br />

carregamento automático. O AGV automatiza<br />

tarefas de rotina padronizadas, permitindo que<br />

a Codorníu distribua a sua equipa com mais<br />

eficácia, o que se traduz numa economia de<br />

tempo e de recursos, humanos e financeiros. •


44<br />

abril <strong>2021</strong><br />

intralogística<br />

Otimização do tempo<br />

Reduzir o Lead Time é crucial<br />

A otimização do tempo é uma questão<br />

essencial para qualquer empresa. E, quando<br />

se pensa no tema, mas associado às cadeias<br />

de abastecimento, não há como fugir ao “Lead<br />

Time”. É precisamente sobre o seu papel na<br />

supply chain que se foca este artigo.<br />

A<br />

variabilidade do mercado nos dias de hoje,<br />

leva a uma grande pressão na capacidade<br />

de resposta em toda a cadeia de Supply<br />

Chain. Quando falamos de lead time, a nossa<br />

mente leva-nos de imediato à necessidade de<br />

ajustar cadeias de abastecimento, otimizar<br />

transportes e negociação com fornecedores,<br />

de forma a melhorar a resposta às vendas,<br />

com o menor cost of capital possível. Na<br />

vertente de gestão de stocks, o desafio está<br />

na garantia do mesmo para uma resposta<br />

adequada à procura, em ter metodologias<br />

dinâmicas e mais eficazes de previsibilidade,<br />

contemplando modelos adequados aos novos<br />

canais de venda, como o e-commerce, e<br />

garantir que o cliente tem o que precisa no<br />

tempo previsto / comunicado ao cliente, sob o<br />

risco da não repetição da compra.<br />

Quando abordamos a vertente mais<br />

operacional, onde temos de fazer chegar o<br />

produto à loja e ao cliente final, temos outros<br />

desafios que trazem uma complexidade<br />

dependente de múltiplos fatores, como o<br />

do lead time dos fornecedores, muitos deles<br />

em preparação sem stock e envio no dia, do<br />

volume de encomendas, dos meios disponíveis,<br />

dos transportes, entre outros. Centremo-nos<br />

nesta vertente, “Operações”, e nos desafios da<br />

gestão de equipas para logo nos depararmos<br />

com as dificuldades do dia a dia:<br />

> Equipa de supervisão limitada e muito<br />

focada na gestão de pessoas<br />

> Cada vez existem mais gestão de<br />

incidentes e alterações constantes (layout,<br />

software, “urgências”, reclamações de clientes<br />

finais, etc)<br />

> Capacidade de resposta no recrutamento e<br />

na formação de colaboradores<br />

> Na falta de tempo das equipas para rever o<br />

planeamento e antecipar problemas.


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

Texto: Sérgio Duarte<br />

É nesta parte da cadeia de Supply Chain em<br />

que a Adecco Outsourcing se foca, com uma<br />

estratégia de acompanhamento das operações<br />

e redução do lead time de colocação de<br />

recursos nas operações e na sua adaptação<br />

ao posto de trabalho, bem como no<br />

acompanhamento e controlo de KPI’s.<br />

Se olharmos para o processo, vemos<br />

ineficiências que podem de imediato ser<br />

suprimidas e que reduzem o lead time, como<br />

o envio de pedidos e resposta aos mesmos,<br />

envolvendo departamentos com agendas<br />

próprias e diversos interlocutores.<br />

Cálculo Cálculo para para definição definição recursos de recursos<br />

Pedido Pedido ao Dto ao Dto RH RH<br />

Envio para agências de recrutamento<br />

Envio para agências de recrutamento<br />

Resposta das agências<br />

Resposta das agências<br />

Resposta do Dto RH<br />

Resposta do Dto RH<br />

Compra de EPI's<br />

Compra de EPI's<br />

Entrada de Colaboradores<br />

Entrada de Colaboradores<br />

Acolhimento<br />

Acolhimento<br />

Acompanhamento<br />

Acompanhamento<br />

Avaliação<br />

Avaliação<br />

Por outro lado, focarmo-nos no nosso core<br />

business e nos processos de transformação<br />

é cada vez mais o mote para as equipas de<br />

supervisão que, passam tempo em processos<br />

que não acrescentam valor. A rapidez de<br />

resposta e o acompanhamento focado, com<br />

base em informação, é condição necessária<br />

para uma reação rápida e eficaz nas<br />

Operações.<br />

2016<br />

Director nacional,<br />

Adecco Outsourcing<br />

CÁLCULO CÁLCULO PARA DEFINIÇÃO PARA DEFINIÇÃO RECURSOS DE RECURSOS FEITO PELA FEITO PELA<br />

EQUIPA DE EQUIPA SUPERVISÃO DE SUPERVISÃO ADECCO OUT. ADECCO (AO) OUT. (AO)<br />

RECRUTAMENTO E COLOCAÇÃO NA OPERAÇÃO<br />

RECRUTAMENTO E COLOCAÇÃO NA OPERAÇÃO<br />

ACOLHIMENTO E ACOMPANHAMENTO<br />

ACOLHIMENTO E ACOMPANHAMENTO<br />

AVALIAÇÃO E REAÇÃO IMEDIATA<br />

AVALIAÇÃO E REAÇÃO IMEDIATA<br />

REDUÇÃO DO LEAD TIME:<br />

REDUÇÃO DO LEAD TIME:<br />

O impacto de algumas horas ou poucos<br />

2016<br />

dias é critica neste “novo mundo”, onde o<br />

desperdício leva-nos à perca de vendas e<br />

clientes de uma forma que outrora seria<br />

recuperável pela falta de oferta no mercado.<br />

Num mundo digital onde a oferta é maior,<br />

mais ampla e abrangendo países vizinhos,<br />

com facilidade de entrega de produtos em<br />

alguns dias, a capacidade de resposta e a<br />

redução do Lead Time é Crucial! •


46<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Tecnologias<br />

IoT na logística<br />

Gestão<br />

unificada da<br />

Internet das<br />

Coisas<br />

Inicialmente, a Internet das Coisas (IoT)<br />

dependia essencialmente de sensores reais<br />

(físicos), mas nos dias de hoje usa dados de<br />

outros tipos de sensores, nomeadamente<br />

virtuais e sociais, o que torna a gestão<br />

extremamente complexa. Cientistas<br />

portugueses resolveram o problema.<br />

Texto: Dora Assis<br />

Para ultrapassar o problema pela gestão de<br />

diferentes tipos de sensores associados<br />

à Internet das Coisas, uma equipa da<br />

Faculdade de Ciências e Tecnologia da<br />

Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu<br />

uma plataforma que permite a gestão<br />

unificada de ambientes heterogéneos que<br />

suportam a IoT.<br />

A internet de tudo<br />

Mais do que Internet das Coisas, actualmente<br />

temos «“Internet of Everything”, ou seja,<br />

internet de tudo, pois é internet das coisas,<br />

mas é também internet de pessoas e internet<br />

de software. Há uma série de sensores de<br />

fontes diversas, heterogéneas, que recolhem


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

gigantescos volumes de informação que<br />

permitem medir, entre outras variáveis,<br />

temperatura, humidade e poluição atmosférica,<br />

mas também movimentos humanos, ambientes<br />

industriais, especialmente na indústria 4.0.<br />

Por exemplo, os nossos telemóveis são<br />

dispositivos repletos de sensores que, sem nos<br />

apercebermos, medem tudo e mais alguma<br />

coisa», explica Fernando Boavida, coautor do<br />

estudo, publicado na revista científica IEEE<br />

Internet of Things.<br />

Assim, o paradigma actual da IoT, que<br />

permite ligar a internet a diferentes tipos de<br />

sensores e ambientes, de modo a recolher<br />

dados em larga escala, exige sistemas que<br />

façam a gestão da informação, isto é, sistemas<br />

que permitam controlar e monitorizar dados,<br />

independentemente do tipo de sensor.<br />

Havendo sensores de vários tipos – sensores<br />

reais, sensores virtuais (de software) e sensores<br />

sociais, também designados sensores humanos,<br />

pois extraem informação colocada pelas<br />

pessoas nas redes sociais –, a questão de<br />

partida para o desenvolvimento da plataforma<br />

foi, segundo o docente e investigador do<br />

Departamento de Engenharia Informática<br />

da FCTUC, «Como podemos gerir de forma<br />

eficiente e eficaz diferentes tipos de fontes de<br />

dados de IoT?».<br />

O paradigma actual da IoT<br />

exige sistemas que façam a<br />

gestão da informação, isto<br />

é, sistemas que permitam<br />

controlar e monitorizar<br />

dados, independentemente do<br />

tipo de sensor<br />

Procurar soluções<br />

Tirando partido de vários estudos sobre IoT<br />

que tem vindo a realizar ao longo de mais de<br />

uma década juntamente com Jorge Sá Silva, do<br />

Departamento de Engenharia Electrotécnica e<br />

de Computadores da FCTUC, a equipa partiu à<br />

procura de soluções que fossem capazes de dar<br />

resposta à questão.<br />

«A partir de tecnologias amplamente<br />

adoptadas em IoT para gerir sensores reais,<br />

com destaque para a tecnologia FIWARE,<br />

desenvolvemos uma solução informática<br />

capaz de gerir diferentes tipos de sensores<br />

e analisar quais os melhores protocolos de<br />

gestão em termos de desempenho», conta<br />

Fernando Boavida, esclarecendo que, na<br />

prática, «pegámos em protocolos e tecnologias<br />

utilizadas para gerir sensores reais, ajustando<br />

para sensores virtuais e sociais».<br />

Posteriormente, o protótipo do sistema<br />

desenvolvido foi testado com voluntários,<br />

estudantes da Universidade de Coimbra e de<br />

uma escola politécnica do Equador, durante<br />

um semestre, tendo demonstrado a viabilidade<br />

da abordagem proposta. Os resultados obtidos<br />

representam mais um passo na evolução<br />

da Internet das Coisas: «com as mesmas<br />

ferramentas, consegue-se fazer uma gestão<br />

unificada de vários tipos de sensores, isto é, de<br />

ambientes heterogéneos da Internet das Coisas.


48<br />

abril <strong>2021</strong><br />

É uma plataforma que permite gerir de forma<br />

eficaz os dados, independentemente do tipo de<br />

sensor - físico, virtual e social», refere Fernando<br />

Boavida.<br />

Por exemplo, se pensarmos numa smart city,<br />

«onde é possível inferir a qualidade de vida<br />

numa cidade, temos de gerir um sem número<br />

de factores: ambientais, como temperatura,<br />

poluição, humidade, etc.; factores mais<br />

complexos, como a facilidade de deslocação<br />

dentro da cidade; e temos de perceber se as<br />

pessoas estão satisfeitas. Neste exemplo,<br />

estão envolvidos diferentes tipos de sensores.<br />

Um sistema como o nosso permite gerir tudo<br />

isso de forma unificada», ilustra o professor da<br />

FCTUC.<br />

A fase seguinte da investigação vai centrar-<br />

-se na evolução dos sensores sociais, que<br />

são os que representam o maior desafio,<br />

porque a informação que é possível extrair é<br />

praticamente ilimitada. Em particular, a equipa<br />

de Fernando Boavida e Jorge Sá Silva vai<br />

explorar o processamento e análise dos dados<br />

extraídos das redes sociais. Ou seja, conclui<br />

Fernando Boavida, «pretendemos fechar o<br />

ciclo. Além de extrair informação das redes<br />

sociais, também queremos dar informação<br />

útil, fornecendo aconselhamento e dados que<br />

possam contribuir para a melhoria da qualidade<br />

de vida das pessoas».<br />

A IoT na logística<br />

O sector da logística tem sentido forte impacto<br />

pelas novas aplicações da Internet das Coisas.<br />

E, no caso de Portugal, isso é especialmente<br />

importante pois podem ganhar-se alguns<br />

desafios em prol da eficiência.<br />

Números levantados pela Cisco e pela<br />

DHL, comprovam o optimismo em relação<br />

ao potencial da Internet das Coisas na<br />

Logística 4.0: nos próximos dez anos, as novas<br />

tecnologias poderão representar 1,9 trilião de<br />

dólares em investimentos.<br />

Todo esse potencial está directamente<br />

relacionado com o facto do sector logístico não<br />

estar limitado a si mesmo. Muito pelo contrário:<br />

tem impacto, directa ou indirectamente,<br />

em todos os outros sectores da economia.<br />

Inclusive, em muitos casos, é ele o factor<br />

preponderante para garantir a vantagem<br />

competitiva de alguns negócios.<br />

Seja através da capacidade de impor<br />

mais eficiência na gestão da cadeia de<br />

abastecimento, controlar melhor os centros<br />

de distribuição e até mesmo acompanhar em<br />

tempo real as frotas, as novas tecnologias<br />

prometem não apenas o aumento da eficiência<br />

logística, mas também uma redução bastante<br />

considerável dos custos. Tudo depende da<br />

inteligência operacional aplicada no sector. •<br />

É uma plataforma que permite<br />

gerir de forma eficaz os dados,<br />

independentemente do tipo de<br />

sensor - físico, virtual e social<br />

Fernando Boavida


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

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para todas as necessidades de negócio,<br />

independentemente do produto ou do tipo de<br />

item a ser armazenado. Uma solução adequada<br />

para os problemas de espaço, rapidez de<br />

preparação e gestão de stock em qualquer<br />

sector industrial, mas com alguma relevância<br />

na distribuição e no e-commerce, onde a<br />

Modula é um dos mais relevantes players do<br />

mercado, com referências de nível superior.<br />

Depois de mais de 30 anos a operar na<br />

Península Ibérica, o forte crescimento<br />

vivido pelo grupo de origem italiana gerou a<br />

necessidade de um novo espaço que responda<br />

aos seus planos de expansão. O novo edifíciosede<br />

em Castellón de la Plana (Espanha),<br />

construída em 650 m2 distribuídos num único<br />

andar, abriga os escritórios da administração,<br />

comercial, assistência técnica e call center, e<br />

permitirá que a equipa seja ampliada em 30%.<br />

Um aspeto importante para a Modula<br />

sempre foi a proximidade com seus clientes.<br />

Por isso contamos com representantes<br />

comerciais com larga experiência em logística<br />

e com um serviço de assistência técnica<br />

que permite o menor tempo de resposta em<br />

caso de necessidade. Com este objetivo, em<br />

Portugal temos equipas estrategicamente<br />

localizadas tanto no norte do país como no<br />

sul. •


50<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Tecnologias<br />

Visibilidade 360º da<br />

cadeia logística da<br />

Ferrero<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“As cadeias de<br />

abastecimento<br />

não conseguem<br />

responder a<br />

algo que não<br />

vêem”<br />

A Ferrero está empenhada na<br />

sua jornada de transformação<br />

digital em direcção a uma cadeia<br />

de abastecimento inteligente.<br />

No webinar “Visibilidade 360º da<br />

cadeia logística” da SAP, a Ferrero<br />

fez um balanço do percurso<br />

que tem vindo a ser feito e dos<br />

próximos passos previstos em<br />

termos de digitalização.<br />

Durante uma conversa entre Sebastian<br />

Strupuleitis, partner da BEEMACS,<br />

parceira SAP, e Sergey Gribkov, logistics<br />

development project manager na Ferrero,<br />

foi abordado o caso da implementação da<br />

Ferrero, tendo em vista uma cadeia logística<br />

com visibilidade 360º, aumentando o nível de<br />

rastreabilidade e de transparência, de modo a<br />

que o fabricante possa controlar melhor todas<br />

as operações.<br />

Sergey conta que há vários anos que tem<br />

a seu cargo diversos projectos que procuram<br />

aumentar a visibilidade em tempo real das<br />

mercadorias em trânsito da Ferrero, através da<br />

implementação de soluções de localização e<br />

monitorização, e este foi um desses.<br />

“Diria que existem muitas definições do<br />

que significa uma cadeia de abastecimento<br />

inteligente”, contextualiza o responsável<br />

durante a apresentação com a Beemacs,<br />

“vamos concordar que uma cadeia de<br />

abastecimento inteligente é o resultado da<br />

transformação da cadeia de abastecimento<br />

tradicional, aumentando o processo com<br />

tecnologias inteligentes e redesenhando o<br />

processo de tal forma que permita aproveitar<br />

totalmente o potencial dessas tecnologias”.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Aumentar agilidade e<br />

fiabilidade<br />

O responsável comenta que as empresas<br />

precisam delinear processos que permitam<br />

aos colaboradores obter todas as informações<br />

necessárias para executar operações de<br />

logística e da cadeia de abastecimento, e<br />

nesse sentido as cadeias inteligentes têm mais<br />

capacidade em termos de dados, partilha de<br />

informação e colaboração. “Esses recursos<br />

ajudam a reduzir todo o tipo de desperdício,<br />

transformando-o em mais eficiência sempre<br />

que possível. Adicionalmente, impulsionam<br />

e optimizam a fiabilidade das operações, a<br />

agilidade e a eficácia da organização”, explica<br />

Sergey, apontando como resultado a melhoria<br />

da qualidade da experiência do cliente.<br />

O objectivo desta transformação digital foi o<br />

aumento do crescimento da receita, através do<br />

fortalecimento das relações de parceria com<br />

os retalhistas, parceiros e clientes.<br />

Ao nível das melhorias esperadas para as<br />

operações de armazém ou de produção, Sergey<br />

destaca que para a implementação-piloto se<br />

focaram em permitir a visibilidade do processo<br />

de transporte de saída de mercadorias.<br />

Habilitaram a localização dos envios e<br />

entregas para clientes internos em tempo<br />

real, esperando melhorias, primeiramente, nas<br />

operações de transporte e no atendimento ao<br />

cliente.<br />

Numa próxima fase, esperam<br />

melhorar a colaboração dentro dos<br />

departamentos internos e parceiros de<br />

negócios externos, como clientes ou<br />

prestadores de serviços de logística,<br />

conhecimento exacto de onde as<br />

mercadorias, os camiões e as entregas<br />

estão em tempo real, qual o seu estado<br />

e qual a previsão de chegada ao destino.<br />

Outras melhorias esperadas são ao nível do<br />

desempenho das suas operações internas,<br />

bem como dos seus prestadores de serviços de<br />

logística contratados.<br />

Esta implementação tem também como<br />

objectivo “melhorar o nosso desempenho de<br />

entregas, no geral, e criar uma experiência<br />

excepcional para o cliente”, comenta Sergey.<br />

Apesar de ser também um dos principais<br />

objectivos da implementação, explica que<br />

não se trata apenas de melhorar os seus<br />

KPI, mas também “de ser capaz de antecipar<br />

atrasos e agir de forma proactiva sempre<br />

que acontecem”, por exemplo, ao alterar os<br />

compromissos de entrega, ou informar os<br />

clientes sobre o atraso e novo tempo estimado<br />

de chegada.<br />

Uma cadeia de abastecimento inteligente<br />

é o resultado da transformação da<br />

cadeia de abastecimento tradicional,<br />

aumentando o processo com tecnologias<br />

inteligentes e redesenhando o processo<br />

Sergey Gribkov


52<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Melhorar tempo de acção<br />

Através do Management by Exception, com<br />

base em dados em tempo real, a Ferrero<br />

espera obter melhorias relativamente<br />

ao tempo de acção, aumentando assim<br />

a capacidade de resposta da cadeia de<br />

abastecimento, permitindo que os utilizadores<br />

se concentrem mais em actividades que<br />

acrescentem valor. Por outro lado, fora deste<br />

modelo, planeiam desenvolver capacidades<br />

analíticas para a cadeia de abastecimento,<br />

aproveitando também estes dados.<br />

Ainda com o foco nos dados, Sergey<br />

conta que se encontram a desenvolver “a<br />

primeira versão dos dashboards da cadeia<br />

de abastecimento, que irão fornecer aos<br />

utilizadores da solução informações sobre<br />

o estado actual dos processos de negócio,<br />

análise da causa das falhas e relatórios de<br />

desempenho”. Outra forma de aproveitarem<br />

os recursos da análise da cadeia de<br />

abastecimento é a criação de modelos digitais<br />

da cadeia física, para testar a sua resiliência,<br />

aplicando diferentes cenários hipotéticos e<br />

definindo níveis de resiliência, desenvolvendo<br />

assim modelos de resposta para os cenários de<br />

maior risco.<br />

“Acredito que as técnicas de ciência de<br />

dados, combinadas com experiência e<br />

conhecimento humanos, capacitadas com o<br />

Management by Exception em tempo real,<br />

nos ajudarão a mitigar o risco de interrupção<br />

da cadeia de abastecimento”, defende Sergey<br />

Gribkov.<br />

O responsável revela que ambicionam<br />

atingir um nível mais avançado de análise<br />

de dados, mas que para já ainda não se<br />

encontram num nível de maturidade suficiente<br />

e que ainda levará algum tempo até o atingir.<br />

“As cadeias de abastecimento não<br />

conseguem responder a algo que não vêem,<br />

portanto, na minha opinião, a visibilidade<br />

em tempo real da cadeia de abastecimento<br />

e o Management by Exception são os<br />

pré-requisitos-chave para uma gestão de<br />

interrupções eficaz”, explica, “eles podem<br />

fornecer informações em tempo real sobre<br />

onde as mercadorias estão, qual é o seu<br />

estado actual e quando esperam que<br />

cheguem ao destino, o que é extremamente<br />

importante em tempos de incerteza”, conclui o<br />

responsável. •<br />

Acredito que as técnicas de<br />

ciência de dados, combinadas<br />

com experiência e conhecimento<br />

humanos, capacitadas com o<br />

Management by Exception em<br />

tempo real, nos ajudarão a<br />

mitigar o risco de interrupção<br />

da cadeia de abastecimento<br />

Sergey Gribkov


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

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54<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

Portugal<br />

volta a<br />

“andar nos<br />

carris”<br />

Os recentes investimentos feitos e a<br />

decorrer no contexto do plano Ferrovia 2020<br />

estão a renovar a linha férrea portuguesa<br />

e a reforçar a importância deste sector em<br />

Portugal. Após várias décadas de baixo<br />

investimento, os novos planos de renovação<br />

contemplam vários aspectos de promoção<br />

deste transporte, e que melhor momento<br />

para compreender estes investimentos<br />

senão no Ano Europeu do Transporte<br />

Ferroviário?<br />

transporte<br />

Planos Ferrovia 2020<br />

e Ferrovia 2030<br />

A<br />

decorrer encontra-se o Ferrovia 2020, e foi<br />

recentemente lançado o Plano Ferroviário<br />

Nacional, ou Ferrovia 2030, que ainda<br />

não se encontra terminado, mas recordemos<br />

que em cima da mesa está um investimento<br />

de aproximadamente 2 mil milhões de euros<br />

para mais de 1.000 quilómetros de linhas,<br />

envolvendo o Corredor Internacional Norte, o<br />

Corredor Internacional Sul, o Corredor Norte-<br />

Sul e os Corredores Complementares.<br />

Com estes investimentos espera-se uma<br />

redução de tempos de percurso, nos custos de<br />

transporte (€/km/contentor) e um aumento<br />

da capacidade, tanto em número como em<br />

tamanho dos comboios.<br />

Ao nível das ligações internacionais, falamos<br />

de melhorias no corredor Sines/Setúbal/<br />

Lisboa-Caia, no corredor Leixões/Aveiro –<br />

Vilar Formoso e ainda no potenciamento<br />

do uso da ferrovia nos percursos de e para


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

os portos nacionais. Estão ainda previstas<br />

mais condições para a interoperabilidade<br />

ferroviária, desde a electrificação de linhas,<br />

instalação de nova sinalização electrónica,<br />

aumento do comprimento dos comboios de<br />

mercadorias para 750 metros e, relacionado<br />

com a bitola, a instalação de travessas<br />

(polivalentes) que permitem a alteração da<br />

bitola nos corredores internacionais.<br />

De forma a perceber quais as expectativas<br />

quanto a este plano, bem como os resultados<br />

da implementação do que se encontra a<br />

decorrer e do que se espera que venha para<br />

breve, sugestões de temas e preocupações<br />

ou dificuldades que estão ou vão afectar as<br />

operações, recorremos a alguns dos players<br />

que irão sentir directamente os impactos na<br />

sua actividade.


56<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Guarda no radar do<br />

investimento<br />

O primeiro e mais recente Porto Seco<br />

instituído em Portugal está a ser criado na<br />

Guarda, segundo anunciou a Administração<br />

dos Portos do Douro, Leixões e Viana do<br />

Castelo (APDL) em Dezembro do ano passado.<br />

Ao longo desse ano foi-se ouvindo falar dessa<br />

possibilidade, e um dos defensores dessa<br />

ideia foi João Logrado, director-geral da Olano<br />

Portugal, empresa de logística e transporte<br />

instalada na Plataforma Logística de Iniciativa<br />

Empresarial (PLIE) da Guarda, e recente<br />

operador da Plataforma Logística do Porto de<br />

Leixões.<br />

Sobre o impacto que o investimento<br />

ferroviário irá ter na Guarda, o director-geral<br />

destaca que “as requalificações das linhas<br />

ferroviárias da Beira Baixa (já realizada), linha<br />

da Beira Alta (em execução) e a construção da<br />

linha de concordância, asseguram o fecho da<br />

rede ferroviária e a ligação da duas linhas a<br />

Espanha”, colocando assim a cidade da Guarda<br />

“no centro deste importante nó ferroviário,<br />

o único nó transfronteiriço existente em<br />

Portugal”.<br />

Esta é, porventura, a maior<br />

oportunidade de<br />

desenvolvimento<br />

económico e por<br />

consequência,<br />

social, que<br />

esta região<br />

tem e terá nas<br />

próximas décadas<br />

João Logrado, OLANO<br />

O responsável salienta também que devido<br />

a estes investimentos, previstos e a decorrer,<br />

e à existência de outras infra-estruturas<br />

relevantes instaladas na cidade, realçando<br />

desde logo a Plataforma Logística, o Parque<br />

TIR e o terminal rodo-ferroviário, que é “talvez<br />

o único do país com todas as condições<br />

para tal”, a Guarda reúne “as condições e<br />

a oportunidade para a constituição de um<br />

Porto Seco na cidade, que pela sua facilitação<br />

no trânsito de mercadorias desde os portos<br />

marítimos até ao interior, conferem uma<br />

oportunidade aumento da competitividade”,<br />

tanto ao nível do transporte, como das<br />

actividades logísticas ou das indústrias e<br />

actividades económicas instaladas na região,<br />

cujas actividades dependam de importação<br />

ou exportação, “mas também um efectivo<br />

alargamento da influência dos portos de<br />

Leixões, Aveiro e Figueira da Foz que no<br />

mercado global e no transporte marítimo,<br />

reforçam a sua competitividade e capacidade<br />

de se apresentarem como alternativa a outros<br />

portos”.<br />

Não só para a cidade, mas também para<br />

as regiões circundantes, João Logrado<br />

considera que “esta é, porventura, a maior<br />

oportunidade de desenvolvimento económico<br />

e por consequência, social, que esta região<br />

tem e terá nas próximas décadas”, e<br />

que se tudo for coordenado entre<br />

as entidades locais, regionais e<br />

centrais, estas poderão ficar<br />

“no radar do investimento<br />

para a criação de novas<br />

indústrias e serviços, o que<br />

significará crescimento”.<br />

Relativamente às<br />

expectativas sobre o PFN, o<br />

director-geral não se manifesta<br />

para já, visto ainda estar muita


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

coisa em debate, no entanto, destaca dentro<br />

do Ferrovia 2020 a melhoria substancial<br />

prevista para o transporte ferroviário de<br />

mercadorias com a duplicação da capacidade<br />

actualmente instalada, e ao nível dos custos<br />

“uma redução de até cerca de 28% no corredor<br />

Internacional Norte, onde se integram as<br />

linhas da Beira Baixa e Beira Alta”.<br />

“Apenas por estes exemplos e se a eles<br />

somarmos a oportunidade que a Guarda<br />

têm à sua frente, está mais do que visível o<br />

previsível aumento de competitividade que o<br />

país tem e deve aproveitar” conclui o gestor.<br />

Capacidade cresce duas<br />

vezes e meia<br />

Ao nível dos portos, a modernização da<br />

Linha do Sul irá impactar o porto<br />

de Sines com a ligação a<br />

Badajoz através de Elvas,<br />

e nesse sentido, José<br />

Luís Cacho, presidente<br />

da Administração dos<br />

Portos de Sines e do<br />

Algarve – APS, falanos<br />

um pouco sobre<br />

esse investimento<br />

e sobre as vantagens<br />

competitivas obtidas<br />

com esta ligação.<br />

O responsável começa por explicar que<br />

o projecto de requalificação do ramal<br />

ferroviário do Porto de Sines representou um<br />

investimento de 16,8 milhões de euros, tendo<br />

sido metade investido pela APS e metade<br />

pela PSA Sines, concessionária do Terminal<br />

de Contentores. “Este projecto de ampliação<br />

e modernização do ramal ferroviário do porto<br />

de Sines inclui a ampliação da plataforma<br />

ferroviária de carga/descarga do Terminal XXI,<br />

com duas novas linhas com capacidade de<br />

recepção de composições de 750 metros de<br />

comprimento”, lembra o responsável, estando<br />

esta já concluída. Também introduziram<br />

melhorias nos sistemas de via, catenária e de<br />

sinalização, de forma a permitir uma gestão<br />

logística mais eficiente e segura.<br />

“Tratou-se de um investimento realizado<br />

na área portuária que permite aumentar<br />

a capacidade instalada para a recepção<br />

e movimentação de comboios, forma<br />

mais sustentável de transporte de<br />

contentores entre o porto e o<br />

hinterland ibérico”, destaca ainda<br />

José Luís Cacho, avançando que<br />

No Porto de Sines há muito<br />

que a ferrovia assumiu um<br />

papel determinante<br />

José Luís Cacho, APS


58<br />

abril <strong>2021</strong><br />

durante 2020 foram movimentados um total<br />

de 5.764 comboios, operados com origem/<br />

destino com terminais ferroviários em Portugal<br />

e Espanha.<br />

Segundo a Infraestruturas de Portugal (IP), a<br />

nova ligação ferroviária entre Évora e a Linha<br />

do Leste, inserida no designado Corredor<br />

Internacional Sul, visa reforçar quer a conexão<br />

ferroviária dos portos e das zonas industriais<br />

e urbanas localizadas no Sul de Portugal,<br />

quer a Espanha ao resto da Europa. “Com<br />

esta intervenção está igualmente previsto<br />

garantir a interoperabilidade Ferroviária do<br />

Corredor e possibilitar a redução do tempo de<br />

trajecto dos comboios de mercadorias entre<br />

Sines e Elvas/Caia em cerca de 1h30 e permitir<br />

a utilização de tracção eléctrica em todo o<br />

trajecto”, realça o presidente da APS.<br />

José Luís Cacho realça ainda que de acordo<br />

com o site da IP, “além de permitir ligar<br />

directamente à fronteira de Caia, trará um<br />

aumento de capacidade diária na saída de<br />

Sines dos actuais 36 comboios de 400 metros<br />

para 51 de 750 metros, o que corresponde a<br />

um acréscimo de capacidade de duas vezes e<br />

meia a actual”.<br />

“No Porto de Sines há muito que a ferrovia<br />

assumiu um papel determinante”, afirma o<br />

responsável, contando de seguida que em<br />

2020 foram movimentados 304.241 TEU por<br />

via ferroviária, o que representou 72% de<br />

todos os contentores que entraram ou saíram<br />

do porto para o hinterland. “É com satisfação<br />

que vemos o tema da ferrovia voltar para<br />

o centro da discussão pública, aplicado a<br />

passageiros e a mercadorias, pois trata-se de<br />

um modo de transporte ambientalmente mais<br />

sustentável, mas que permite também reduzir<br />

os custos de transporte e assim aumentar a<br />

competitividade da nossa economia”, conclui<br />

José Luís Cacho.<br />

“Temos consciência das<br />

dificuldades”<br />

Comentando por parte da Medway,<br />

operador ferroviário que detém a maioria<br />

das operações de movimentação de carga<br />

ferroviária na Península Ibérica, Carlos<br />

Vasconcelos, administrador da empresa, não<br />

avança expectativas concretas sobre o Plano<br />

Nacional Ferroviário visto ainda ser um pouco<br />

“prematuro tentar identificar vantagens e<br />

desvantagens concretas”. No entanto, no que<br />

toca ao Ferrovia 2020 mostra-se satisfeito,<br />

apesar dos atrasos verificados.<br />

“Temos consciência das dificuldades do<br />

país, quer financeiras, quer aquelas causadas<br />

pela falta de quadros e de capacidade de<br />

planeamento, decorrentes da sua situação<br />

financeira em 2010/2011 e do consequente<br />

plano de auxílio a que fomos obrigados a<br />

recorrer”, comenta ainda o administrador, “por<br />

todos estes motivos, temos de compreender<br />

que se tem feito tudo aquilo que é possível”.<br />

Ao nível dos benefícios obtidos com o<br />

plano de investimentos para a ferrovia, Carlos<br />

Vasconcelos espera que “se o PFN eliminar,<br />

como esperamos, as discriminações favoráveis<br />

à rodovia, igualando, por conseguinte, as<br />

condições dos dois modos de transporte, o<br />

transporte ferroviário sairá beneficiado, dada<br />

a sua capacidade competitiva, em igualdade<br />

de circunstâncias”, defende. Em condições<br />

iguais, o transporte ferroviário não só é menos<br />

poluente que o grande número de veículos na<br />

estrada como também retira esse tráfego das<br />

estradas.


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

Se o PFN eliminar, como esperamos, as discriminações<br />

favoráveis à rodovia, igualando, por conseguinte,<br />

as condições dos dois modos de transporte, o<br />

transporte ferroviário sairá beneficiado<br />

Carlos Vasconcelos, Medway<br />

Recordemos ainda que a Medway se<br />

encontra a testar o lançamento do Comboio<br />

Vasco da Gama, que irá ligar directamente<br />

Portugal a Estugarda (Alemanha), com uma<br />

paragem em Irun (na fronteira de Espanha),<br />

servindo assim estes dois mercados. A ligação<br />

terá uma duração de 72 horas de trânsito e<br />

uma frequência diária, transportando cada<br />

um 28 caixas móveis (equivalentes a 28<br />

camiões), reduzindo<br />

as emissões de CO2<br />

em cerca de 70% face<br />

ao transporte rodoviário.<br />

Relativamente às vantagens que poderiam<br />

obter para este comboio através do PFN,<br />

Carlos Vasconcelos comenta que este depende<br />

essencialmente das obras da Linha da Beira<br />

Alta, e que essas se encontram fora do PFN.<br />

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60<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Vantagens ganham<br />

às limitações<br />

Nesse sentido, por parte da Volkswagen<br />

Autoeuropa, Rui Baptista, business area<br />

manager logistics, conta que a equipa de<br />

transportes da Volkswagen Autoeuropa está<br />

com expectativas em relação a este método<br />

de transporte de peças entre Portugal e a<br />

Alemanha, defendendo que “uma ligação<br />

ferroviária entre Portugal e Alemanha<br />

poderá ser interessante para o circuito de<br />

componentes da Volkswagen Autoeuropa”.<br />

Como forma de investir num meio de<br />

transporte mais ecológico, a Volkswagen<br />

Autoeuropa espera que “quando o<br />

comboio Vasco da Gama estiver disponível,<br />

dependendo da sua frequência semanal,<br />

poderá ser integrado nas soluções de<br />

transporte entre estes dois países”.<br />

Enquanto isso, no final de 2019 foi<br />

reactivado o troço entre aquela unidade<br />

industrial e o Porto de Setúbal, para<br />

transportar os veículos ali produzidos, através<br />

do serviço da Takargo, o que já permitiu<br />

à fábrica portuguesa uma diminuição de<br />

176 toneladas de emissões de CO2 para<br />

a atmosfera. “Foram poupadas cerca de<br />

8.000 viagens por camião, diminuindo<br />

simultaneamente o tráfego<br />

nas estradas locais. No<br />

entanto, ainda não<br />

há capacidade para<br />

ser um modelo<br />

de transporte<br />

exclusivo, pelo<br />

que continuamos<br />

a utilizar em<br />

simultâneo o<br />

transporte rodoviário”,<br />

explica o responsável.<br />

“As vantagens deste serviço são a<br />

capacidade de redução de emissões de CO2<br />

e a diminuição de tráfego de pesados na<br />

estrada”, explica, e acrescenta que apesar de<br />

não considerar que haja desvantagens, aponta<br />

dois constrangimentos que fazem parte deste<br />

tipo de transporte: a limitação da quantidade<br />

de veículos por viagem e a necessidade de<br />

obedecer a um programa próprio, visto a linha<br />

férrea ser compartilhada. “No entanto, e com<br />

base nas premissas de descarbonização do<br />

Grupo Volkswagen, as vantagens sobrepõemse<br />

claramente a estas limitações, pelo que<br />

continuamos a apostar no conceito”, considera<br />

ainda Rui Baptista.<br />

Sobre o Ferrovia 2020, o responsável<br />

comenta que este se traduz “num largo<br />

investimento que prevê um conjunto de<br />

melhorias necessárias para dotar o país de<br />

uma rede ferroviária mais eficaz a vários<br />

níveis”, enunciando desde logo as melhorias<br />

para os corredores internacionais Norte e Sul<br />

enquanto mais-valias para reforçar a conexão<br />

ferroviária dos portos às zonas industriais e<br />

urbanas, bem como a viabilização da ligação<br />

à Europa e o reforço da ligação internacional<br />

com a implementação da linha de alta<br />

velocidade, construída de acordo com a bitola<br />

ibérica.<br />

As vantagens deste serviço<br />

são a capacidade de<br />

redução de emissões de CO2<br />

e a diminuição de tráfego<br />

de pesados na estrada<br />

Rui Baptista, Autoeuropa


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

“Todos os projectos no âmbito da Ferrovia<br />

2020 têm um papel dinamizador na redução<br />

das emissões de CO2 e encurtam distâncias,<br />

quer de passageiros quer de mercadorias.<br />

A Volkswagen Autoeuropa aguarda com<br />

expectativa que algumas destas acções em<br />

concreto vão ao encontro do conceito logístico<br />

e das necessidades da fábrica em Palmela”,<br />

conclui Rui Baptista.<br />

Mitigar as fragilidades<br />

Por parte da Takargo, Álvaro Fonseca,<br />

director-geral da empresa ferroviária,<br />

começa por destacar que da perspectiva de<br />

um operador ferroviário como a Takargo, a<br />

maior preocupação é “a questão de mitigar os<br />

impactos na operação ferroviária enquanto<br />

decorrem as obras”. No entanto, tem ciente de<br />

que este é um processo pelo qual é necessário<br />

passar, e “não podemos chegar a uma<br />

infra-estrutura reabilitada e com melhores<br />

condições sem termos de passar pelas<br />

obras”. O desafio, explica, passa por mitigar<br />

as fragilidades, “seja encontrando soluções<br />

alternativas de circulação, seja até através de<br />

alguma compensação aos operadores”.<br />

O fecho da linha da Beira Alta será um<br />

dos maiores entraves para a Takargo, visto<br />

terem uma boa parte da sua operação focada<br />

na vertente internacional, com saídas por<br />

Vilar Formoso, e o encerramento de linhas,<br />

mesmo que temporário ao fim-de-semana,<br />

causa impacto nas operações. “Será muito<br />

importante conseguirmos trabalhar todos em<br />

conjunto, a IP e os operadores, para mitigar<br />

esta circunstância”, defende. Ao nível da linha<br />

do Sul, considera que com os investimentos<br />

previstos para a ligação ao Porto de Sines<br />

“poderemos ter impactos muito importantes, e<br />

há que estudar formas de contornar isto”.<br />

No entanto, procura não se focar tanto nas<br />

questões de construção e reabilitação de<br />

linhas, mas procurar também um horizonte<br />

que por vezes é deixado um pouco de<br />

lado: os terminais. “É uma quick win para<br />

as mercadorias haver uma identificação<br />

das localizações estratégicas, seja porque<br />

há clusters industriais, seja porque são<br />

em confluência de linhas”, defende Álvaro<br />

Fonseca, “faz sentido desenvolver terminais de<br />

mercadorias e que se identifiquem os espaços<br />

onde esses terminais devem surgir”.<br />

“Não vale a pena ter uma grande rede se não<br />

temos depois terminais e, portanto, acho que<br />

estamos a pensar menos nesta área e mais na<br />

linha. Como operador de mercadorias preciso<br />

dos dois”, afirma ainda.<br />

Realça ainda a preocupação que tem<br />

relativamente ao Convel (Controlo<br />

Automático de Velocidade), pois ao nível<br />

dos equipamentos existentes já é difícil<br />

recuperar em caso de avaria, devido à falta<br />

de unidades de Convel ou de peças suplentes<br />

que se possam adquirir, e o director-geral tem<br />

conhecimento de material circulante parado<br />

por falta de peças deste sistema. “Mais grave é<br />

para novos modelos de locomotiva, pois neste


62<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Assim como não nos<br />

interessa ter uma<br />

muito boa rede sem<br />

ter terminais,<br />

também não nos<br />

interessa ter<br />

uma muito boa<br />

rede se não temos<br />

comboios<br />

Álvaro Fonseca, Takargo<br />

momento, das sérias de material que existem<br />

em circulação, já nenhuma delas pode ser<br />

produzida, e já não há possibilidade de fazer<br />

sequer um projecto para o Convel”, explica,<br />

passando a ter de utilizar um novo sistema, o<br />

ETCS, com a desvantagem de este necessitar<br />

de um emulador para ler as balizas de Convel.<br />

“Assim como não nos interessa ter uma<br />

muito boa rede sem ter terminais, também<br />

não nos interessa ter uma muito boa rede se<br />

não temos comboios, e a realidade que temos<br />

hoje é que tendo o fornecedor declarado o fim<br />

de vida do Convel, neste momento não temos<br />

forma de investir em novo material circulante<br />

para Portugal a preços de mercado”, realça<br />

ainda.<br />

Sobre as expectativas sobre o Ferrovia<br />

2030, e apesar de não querer tomar posições<br />

sobre os investimentos ainda numa fase muito<br />

precária, Álvaro Fonseca deixa apenas alguns<br />

comentários e uma visão geral transversal sob<br />

o ponto de vista de operador sobre o tema.<br />

“Deve ser um plano de promoção da ferrovia,<br />

mais do que um plano de promoção da infraestrutura<br />

ferroviária”, começa por destacar<br />

o responsável, considerando que é um erro<br />

comum considerar-se que para promover a<br />

ferrovia basta “um plano de promoção de obra<br />

pública ferroviária”.<br />

Considera como obra mais importante<br />

o investimento na linha Porto-Lisboa,<br />

destacando também a linha Braga-Valença,<br />

pois apesar de ser mais relevante para a<br />

redução do tempo de viagem para passageiros,<br />

“indirectamente vai trazer uma libertação de<br />

espaço-canal para as mercadorias nas linhas<br />

existentes”.<br />

Para melhorar a interoperabilidade e<br />

tornar a solução ferroviária mais competitiva,<br />

defende que é importante pensar em novas<br />

formas de apoiar tanto a indústria como<br />

os operadores logísticos na melhoria e<br />

na adaptação dos acessos ferroviários a<br />

terminais e fábricas, “por exemplo para o<br />

desenvolvimento de terminais multimodais”,<br />

modelo que considera ser o futuro para o<br />

transporte de maiores distâncias, havendo<br />

condições de competitividade no “além-<br />

Pirenéus”. “Não digo subsidiação pura,<br />

mas apoios ou linhas de financiamento<br />

que nos permitam e aos nosso clientes<br />

suportar investimentos muito significativos<br />

na reconversão de terminais e fábricas,<br />

adaptando-os à nova realidade dos comboios,<br />

que terão maiores dimensões, exigirão tempos<br />

mais reduzidos de rotação nas operações<br />

de carga e descarga e melhores conexões<br />

intermodais”, conclui o responsável.<br />

Em termos de conclusão, antecipa que será<br />

expectável o Plano Ferroviário Nacional não<br />

se focar tanto na área das mercadorias, pois<br />

“como o 2020 é um plano muito focado nos<br />

corredores internacionais e na capacitação das<br />

mercadorias, no 2030 tenho poucos pedidos a<br />

fazer, pois se se cumprir o 2020 vamos ter uma<br />

infra-estrutura, do ponto de vista de linhas,<br />

bastante mais capacitada”.


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

Carências na movimentação<br />

de carga<br />

António Nabo Martins, presidente executivo<br />

da Associação dos Transitários de Portugal<br />

(APAT), considera que “em 30 anos não houve<br />

evolução”, e que “nos últimos dois anos<br />

evoluímos mais de 30 anos”. Apesar de assumir<br />

que o investimento chegou tarde, comenta<br />

que “chegou apenas em <strong>2021</strong>, mas chegou”, e<br />

que agora há um grande trabalho pela frente.<br />

Olhando para trás, “não é novidade<br />

nenhuma o abandono a que a Ferrovia foi<br />

votada em Portugal”, apontando desde logo<br />

pontos como a infra-estrutura, equipamento,<br />

conhecimento, inovação e recursos humanos.<br />

“Estes factores eram/são fundamentais<br />

para termos uma ferrovia mais apta, eficaz<br />

e apropriada a um país que se diz evoluído”,<br />

defende o responsável, sendo que ainda há<br />

muito trabalho pela frente, e “ainda que nos<br />

congratulemos com os anúncios anunciados,<br />

passe a expressão, entendemos que há muita<br />

coisa ainda a anunciar, pois alguns anúncios<br />

carecem de ser uma verdadeira ajuda para a<br />

movimentação de cargas”.<br />

Aponta desde logo como vantagens<br />

dos investimentos “a modernização e<br />

melhoramentos de vários eixos ferroviários e<br />

a aparente razoabilidade do pensamento ao<br />

decidir-se voltar a ter uma rede e não apenas<br />

uns ramos”, referindo-se à recente ligação das<br />

Beiras e à ligação do corredor Sul “que permite<br />

igualmente a ligação à Linha do Leste, a<br />

concordância da Pampilhosa, a renovação das<br />

linhas do Minho e de Leixões”.<br />

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64<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Relativamente aos possíveis<br />

troços de “alta velocidade”<br />

anunciados, considera que<br />

“serão benéficos para as<br />

mercadorias pois libertarão<br />

canais horários na rede<br />

tradicional e seguramente<br />

ficamos muito melhor<br />

ligados, mais capacitados e<br />

mais habilitados a chegar mais<br />

longe por terra”. Também está<br />

ciente de que isso abre a possibilidade<br />

de entrarem mais players e “será muito salutar<br />

para o transporte de mercadorias e bens”,<br />

tornando este transporte mais competitivo<br />

e ambientalmente mais sustentável, com a<br />

diminuição das emissões de CO2.<br />

Outra das vantagens apontadas pelo<br />

presidente da APAT é a ligação entre todas<br />

as capitais de distrito para o transporte<br />

de passageiros, no entanto, também<br />

considera que “devia ser igualmente um<br />

desígnio ligar todos os polos geradores de<br />

carga, nomeadamente Portos Marítimos<br />

com as regiões do interior, mais ou menos<br />

fronteiriças”, acrescentando ainda que se<br />

devem “ligar as fronteiras terrestres com as<br />

fronteiras marítimas e criar no nosso país um<br />

verdadeiro hub de carga entre continentes”,<br />

e ainda “a criação de canais de circulação<br />

específicos para mercadorias, compatibilizados<br />

com passageiros, ligando a fachada atlântica<br />

ao centro da europa por via terrestre”, visto<br />

que “nem tudo vem ou vai pelo e para o mar”.<br />

Ao nível do planeamento, António Nabo<br />

Martins aponta que “detectamos a falta de<br />

uma estratégia integrada para os terminais<br />

de carga”, tanto no Ferrovia 2020 como no<br />

2030. “Hoje é sobejamente conhecido que<br />

as empresas e indústrias não investem em<br />

terminais. É igualmente claro e sabido que<br />

Nos últimos dois anos<br />

evoluímos mais de 30<br />

anos<br />

António Nabo Martins,<br />

APAT<br />

não há comboios sem<br />

carga e que esta não chega<br />

ao comboio se não houver<br />

este tipo de infra-estrutura”,<br />

comenta ainda o presidente executivo<br />

dos transitários em concordância com o que<br />

também defende Álvaro Fonseca.<br />

Já em 2019 a APAT tinha lançado esta<br />

discussão relativamente à necessidade de<br />

Portos Secos, e ainda mais recentemente<br />

em <strong>2021</strong> voltaram a debater colectivamente<br />

o tema, e durante este debate ficou clara a<br />

necessidade deste tipo de infra-estruturas.<br />

“Recentemente um estudo da APLOG registou<br />

também esta lacuna no panorama da logística<br />

nacional”, comenta ainda o responsável da<br />

APAT.<br />

Em termos de conclusão, António Nabo<br />

Martins olha para o futuro como uma forma<br />

de recuperar o tempo perdido no passado:<br />

“agora há que trabalhar conjuntamente para<br />

reerguermos a ferrovia que durante 30 anos<br />

fomos destruindo por motivos económicos,<br />

políticos ou até por motivos menos óbvios”.<br />

Considera ainda importante “casar todas<br />

as vontades, estradas e camiões, linhas e<br />

comboios, navios e portos, tudo em nome da<br />

carga, que é isso que nos move, que é isso que<br />

ajudará a nossa economia a crescer”.<br />

“Agora há que ouvir todos os players porque<br />

em ferrovia estamos na véspera de 2030 e<br />

temos de ser capazes de fazer o Ferrovia 2030<br />

antes de 2031”, conclui. •


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Será desta que o investimento na<br />

ferrovia passa das intenções à<br />

execução?<br />

Há décadas que, em Portugal, se discute um<br />

maior investimento na ferrovia e na nossa<br />

ligação à Europa através deste meio. O<br />

atual Governo elegeu este investimento como<br />

uma prioridade. Será desta que o país evolui<br />

nesse sentido?<br />

O transporte rápido interno e externo de<br />

mercadorias transformaria, sem dúvida<br />

alguma, o setor de Transportes e Logística.<br />

Há anos que o porto de Sines – por si só, um<br />

grande investimento do país – está a aguardar<br />

ligações ferroviárias com a Europa, com vista<br />

a expedir carga rapidamente. O investimento<br />

na ferrovia que o Governo pretende realizar<br />

e que inscreveu no Plano de Recuperação<br />

e Resiliência poderá transformar o porto<br />

de Sines no mais importante porto do sul<br />

da Europa Oeste, não só no que a origens/<br />

destinos tradicionais diz respeito, mas também<br />

no transporte marítimo através do Canal<br />

do Panamá. Dada a localização estratégica<br />

do porto alentejano, o primeiro da Faixa<br />

Atlântica onde podem descarregar os navios<br />

provenientes da costa leste da América do<br />

Norte ou do Sul, prevê-se um incremento<br />

significativo do tráfego quando estiver<br />

concluído o alargamento do canal.<br />

O investimento na ferrovia e numa maior<br />

conectividade com a Europa beneficia<br />

largamente o transporte de mercadorias e,<br />

consequentemente, a economia nacional, mas<br />

é também importante para uma sociedade<br />

que se quer cada vez mais sustentável, já<br />

que o comboio é um meio de transporte com<br />

pouco impacto no ambiente. E isso é essencial<br />

também para a mobilidade das pessoas. Os<br />

comboios rápidos podem contribuir para a<br />

redução drástica de voos internos e para a<br />

vizinha Espanha, para destinos como Madrid<br />

ou Sevilha.<br />

Efetivamente, o investimento na ferrovia<br />

transcende os efeitos mais imediatos; tem<br />

uma implicação mais profunda na forma<br />

como pessoas e bens são transportados, na<br />

economia e no ambiente. Pode ainda ser<br />

um bom exemplo do país para o mundo.<br />

Esperemos, então, que saia finalmente dos<br />

planos para se tornar uma realidade. Até<br />

porque, estamos todos a precisar de boas<br />

notícias e de reforçar a esperança no futuro.<br />

Texto: Bruce Dawson, Chairman do Grupo Garland


66<br />

abril <strong>2021</strong><br />

transporte<br />

ICS2<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Novo sistema de informação<br />

contra tráfego ilícito de<br />

mercadorias<br />

A Comissão Europeia lançou um novo<br />

sistema de controlo de importação: o ICS2.<br />

Apresenta-se como um reforço da primeira<br />

linha de defesa da União Aduaneira contra<br />

as ameaças de segurança e protecção<br />

colocadas pelo tráfego ilícito de mercadorias<br />

através das fronteiras externas à União<br />

Europeia.<br />

O<br />

novo programa irá remodelar o processo<br />

existente no que diz respeito à tecnologia<br />

de informação, regulamentações,<br />

gestão e controlo de riscos alfandegários<br />

e perspectivas operacionais comerciais. Irá<br />

ainda recolher dados sobre todos os produtos<br />

que se destinam à União Europeia antes<br />

da sua entrada, portanto “os operadores


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

Fases de implementação<br />

Primeira fase:<br />

Quem? Transportadoras expresso e<br />

operadores postais europeus e de países<br />

terceiros que enviam para a Europa.<br />

Quando? A partir de 15 Março de <strong>2021</strong>.<br />

Como? Pré-carregamento de informações<br />

antecipadas de carga utilizando o conjunto de<br />

dados mínimos do ENS.<br />

Segunda fase:<br />

económicos devem declarar os dados de<br />

segurança e protecção ao ICS2 por meio da<br />

Declaração de Resumo de Entrada (ENS)”, de<br />

acordo com a Comissão Europeia. A entidade<br />

acrescenta ainda que a obrigação de “começar<br />

a apresentar estas declaração dependerá do<br />

tipo de serviços que prestam na circulação<br />

internacional de mercadorias”.<br />

O sistema irá substituir “gradualmente” o<br />

actual sistema de controlo de importação em<br />

três fases entre 15 de Março de <strong>2021</strong> e 1 de<br />

Março de 2024. Bruxelas afirma que o ICS2 se<br />

encontra “no coração da reforma do programa<br />

de segurança e protecção aduaneira antes da<br />

chegada à União Europeia”.<br />

Quem? Operadores postais, expresso,<br />

transportadoras aéreas e despachantes de<br />

carga.<br />

Quando? Entra em vigor a 1 de Março de<br />

2023.<br />

Como? Os operadores devem preencher o<br />

conjunto de dados ENS para todas as cargas<br />

no transporte aéreo.<br />

Terceira fase:<br />

Quem? Operadores que transportam<br />

mercadorias por via marítima, fluvial,<br />

rodoviária e ferroviária.<br />

Quando? Entra em vigor a 1 de Março de<br />

2024.<br />

Como? Os operadores devem preencher<br />

o conjunto de dados ENS para todas as<br />

mercadorias nestes sectores, incluindo<br />

remessas postais e expressas.


68<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Todas as mercadorias transportadas por<br />

via aérea em remessas postais, expressas e<br />

gerais estarão sujeitas, além dos requisitos<br />

de apresentação pré-carregamento, ao<br />

preenchimento dos requisitos de dados ENS<br />

pré-chegada.<br />

A partir do início da primeira fase, o<br />

programa introduzirá progressivamente dados<br />

aprimorados da cadeia de abastecimento<br />

recolhidos pela alfândega. Além disso, a<br />

Comissão Europeia acrescenta que “novas<br />

ferramentas e processos serão incorporados<br />

para permitir, pela primeira vez, uma análise<br />

colaborativa de risco em tempo real, enquanto<br />

as mercadorias ainda se movem nas suas<br />

cadeias de abastecimento, ou através da União<br />

Europeia”. Este sistema foi desenvolvido numa<br />

colaboração entre a Comissão Europeia, as<br />

autoridades aduaneiras dos Estados-Membros<br />

e as empresas.<br />

Nesta primeira versão, os agentes de<br />

transporte expresso e os operadores postais<br />

estabelecidos na União Europeia começaram<br />

a fornecer um subconjunto de dados da sua<br />

declaração resumida de entrada, antes de as<br />

mercadorias serem carregadas nos aviões com<br />

destino à União Europeia. Essas informações,<br />

conhecidas como dados Placi, serão analisadas<br />

pelas alfândegas para detectar ameaças<br />

imediatas à segurança da aviação e fornecerão<br />

uma análise complementar de risco baseada<br />

em inteligência a nível de envio e no contexto<br />

do Regime de Segurança da Aviação Civil<br />

da União Europeia. “Em particular”, refere<br />

Bruxelas, “vai introduzir informações<br />

antecipadas sobre a carga em envios postais<br />

pela primeira vez (…) isso será crucial para<br />

que a alfândega possa lidar com uma ampla<br />

gama de tráfego inseguro no contexto de<br />

fluxos massivos e crescentes de comércio<br />

electrónico”.<br />

[o sistema] será crucial para que<br />

a alfândega possa lidar com uma<br />

ampla gama de tráfego inseguro<br />

no contexto de fluxos massivos<br />

e crescentes de comércio<br />

electrónico<br />

Os dados recolhidos pelo sistema irão<br />

contribuir para o trabalho em curso sobre<br />

as capacidades analíticas a nível da União<br />

Europeia, conforme estabelecido no recente<br />

Plano de Acção Aduaneira da União Europeia.<br />

A Comissão Europeia afirma que se estão<br />

a explorar vínculos de dados-chave com o<br />

sistema de informação Schengen e com a<br />

Europol para fortalecer a cooperação em<br />

riscos de segurança.<br />

Informações avançadas sobre carga e<br />

análises de risco permitirão a identificação<br />

precoce de ameaças e ajudará as autoridades<br />

alfandegárias a intervir no momento mais<br />

apropriado da cadeia de abastecimento.<br />

Segundo a Comissão Europeia, o novo<br />

sistema “introduz capacidades de segurança<br />

e protecções alfandegárias da União<br />

Europeia mais eficientes e eficazes”. Além<br />

disso, aumentará “a protecção dos cidadãos<br />

da União e do mercado interno contra as<br />

ameaças à segurança e protecção”, “permitirá<br />

às autoridades aduaneiras da União Europeia<br />

identificar melhor os envios de alto risco” e,<br />

por último, “facilitará o desalfandegamento<br />

transfronteiriço para o comércio legítimo e<br />

simplificará o intercâmbio de informações<br />

entre os operadores económicos e as<br />

autoridades aduaneiras da União Europeia”<br />

sublinha a Comissão Europeia. •


SCM Supply Chain Magazine 69


70<br />

abril <strong>2021</strong><br />

carreira<br />

Novas competências<br />

Texto: Dora Assis<br />

Como serão as<br />

profissões em<br />

2030?<br />

A tecnologia acabará com os empregos<br />

e acentuará desigualdades ou irá criar<br />

trabalho mais especializado, maior<br />

equilíbrio e sociedades mais saudáveis? A<br />

questão coloca-se desde que os avanços<br />

técnicos e tecnológicos começaram a tomar<br />

o espaço de certos trabalhos manuais. Diz<br />

a Adecco, empresa de recursos humanos e<br />

outsourcing, que a ideia é estar preparado<br />

para esse futuro.


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Segundo estudos independentes publicados<br />

pela CBRE e pelo Génesis, e um relatório<br />

no WSJ, o local de trabalho em 2030<br />

será muito diferente do que conhecemos<br />

hoje. Haverá “lugares para trabalhar”. Os<br />

melhores locais de trabalho terão diferentes<br />

áreas tranquilas para que os empregados<br />

tenham opções sobre onde querem trabalhar,<br />

eliminando completamente os lugares fixos ou<br />

atribuídos.<br />

Haverá mais empresas individuais e também<br />

mais pequenas. Com tantas oportunidades<br />

de colaboração, não haverá necessidade de<br />

construir uma grande empresa dispendiosa.<br />

Como reflexo disso, diluem-se hierarquias.<br />

Todos serão um líder. O trabalho florescerá<br />

em equipas, e haverá uma grande ênfase no<br />

bem-estar das pessoas. Os escritórios serão<br />

ambientes muito mais saudáveis, com boa<br />

iluminação, áreas de relaxamento, quartos,<br />

música, animais de estimação...<br />

Prevê-se que nesse contexto, exista a<br />

necessidade de um “chefe de trabalho”. O líder<br />

irá estabelecer a cultura na organização e esta<br />

função/papel poderia também estar entre os<br />

melhores empregos para o futuro. E quando<br />

os trabalhadores chegarem ao seu edifício de<br />

escritórios, os dispositivos portáteis indicarão<br />

para que piso ir, algo que pode mudar com base<br />

nas necessidades e nos dados dos sensores.<br />

Não haverá secretárias ou balcões físicos, os<br />

colaboradores simplesmente “estacionarão” em<br />

qualquer lugar e terão um escritório simulado à<br />

sua frente.<br />

Neste futuro não tão longínquo, é provável<br />

que os assistentes sejam robóticos. Todos os<br />

trabalhadores, a todos os níveis, utilizarão<br />

assistentes robóticos, como Siri ou Alexa, para<br />

aquelas tarefas rotineiras como classificar<br />

os e-mails recebidos, agendar reuniões, criar<br />

folhas de cálculo, e por aí fora.<br />

Também o brainstorming será mais inteligente.<br />

A maioria das reuniões será realizada entre<br />

diferentes grupos de trabalhadores em<br />

múltiplos locais, permitindo uma troca fluida<br />

de ideias e brainstorming em diferentes fusos<br />

horários e as reuniões informais poderão<br />

ser realizadas através de realidade virtual e<br />

aumentada.<br />

As competências mais<br />

procuradas<br />

O relatório de investigação do McKinsey Global<br />

Institute destacou os três principais conjuntos<br />

de competências de que os trabalhadores<br />

necessitarão para assegurar as melhores<br />

carreiras no futuro, as quais a Adecco corrobora<br />

e sublinha:<br />

Competência cognitiva superior<br />

Incluem literacia e escrita avançadas,<br />

pensamento crítico, análise quantitativa e<br />

competências estatísticas. São utilizadas por<br />

médicos, contabilistas, analistas de pesquisa e<br />

escritores.<br />

Competência social e emocional<br />

Incluem comunicação avançada, empatia,<br />

adaptabilidade e a capacidade de aprender<br />

continuamente. O desenvolvimento<br />

empresarial, a programação e o<br />

aconselhamento requerem estas competências.<br />

Estes empregos estão também entre as<br />

melhores carreiras para os próximos dez anos.<br />

Competência tecnológica<br />

Inclui tudo, desde competências informáticas<br />

básicas a avançadas, análise de dados e<br />

engenharia. É provável que estas competências<br />

futuras venham a ser as mais bem remuneradas.


72<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Funções emergentes<br />

Ao analisar as principais tendências<br />

tecnológicas e empresariais actuais, e de<br />

acordo com a Cognizant e a ZDNet algumas das<br />

funções que expectavelmente irão emergir ao<br />

longo da próxima década são:<br />

Guia de Loja Online Concentrar-<br />

-se-á na satisfação do cliente através<br />

de aconselhamento virtual, utilizando o<br />

conhecimento do produto online.<br />

Agente de Dados Pessoais<br />

Assegurará que os consumidores recebam<br />

receitas a partir dos seus dados. O corrector<br />

estabelecerá os preços e executará as<br />

transacções.<br />

Assistente pessoal de memória<br />

Baseado em contactos com pacientes e partes<br />

interessadas para gerar especificações para<br />

experiências de realidade virtual.<br />

Construtor de viagens de realidade<br />

aumentada Colaborar com engenheiros<br />

talentosos e artistas técnicos para desenvolver<br />

elementos vitais para os clientes.<br />

Highway Controller Monitorizar<br />

sistemas automatizados de gestão rodoviária<br />

e do espaço aéreo para garantir que não<br />

acontecem erros.<br />

Criador de partes do corpo Criar<br />

partes vivas do corpo para atletas e soldados.<br />

Nano-médicos Será a transformação da<br />

prestação dos cuidados médicos.<br />

Agricultor recombinante Transformará<br />

a agricultura e a criação de animais.<br />

Conselheiro de bem-estar Atenderá<br />

às necessidades físicas e mentais das pessoas<br />

idosas.<br />

Pilotos espaciais, guias turísticos<br />

e arquitectos Proporcionarão a vida em<br />

“postos avançados lunares”.<br />

A preparação para 2030 irá colocar grandes<br />

exigências, tanto às empresas como aos<br />

trabalhadores e futuros candidatos. No entanto,<br />

as funções do futuro prometem uma grande<br />

oportunidade para o desenvolvimento de novas<br />

competências e carreiras. •


SCM Supply Chain Magazine 73


74<br />

abril <strong>2021</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

carreira<br />

Profissionais de<br />

logística e Supply<br />

Chain<br />

Top e middle<br />

management<br />

entre as<br />

funções mais<br />

procuradas<br />

O recente estudo da Michael Page revela que houve um<br />

crescimento no recrutamento de quadros ligados ao sector<br />

da Logística e Supply Chain, impulsionados pelo isolamento<br />

social causado pela pandemia e consequente crescimento do<br />

e-commerce em Portugal. Grande Lisboa, Carregado, Azambuja e<br />

Setúbal lideram a procura de profissionais destas áreas.<br />

Entre os sectores e empresas com maior<br />

crescimento, destacam-se as Operações<br />

Logísticas e o e-commerce, que registaram<br />

um crescimento de 15% em relação ao ano<br />

anterior, seguindo-se o sector de transportes<br />

B2C (10%) e o sector farmacêutico (4%).<br />

Entre as funções mais procuradas encontram-se<br />

as de “top” e “middle management”, num sector<br />

que regista dificuldade na atracção de talento<br />

em Portugal. De acordo com a Michael Page,<br />

os perfis mais procurados são: Supply Chain<br />

Manager, Director de Operações Logísticas,<br />

Responsável de Transportes, Responsável de<br />

Logística E-commerce, Supply & Demand Planner,<br />

Category Buyer, Procurement Manager e Head of<br />

Procurement.


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

Devido ao elevado crescimento<br />

da procura das empresas por<br />

profissionais deste sector,<br />

verificamos que a progressão de<br />

carreira tem sido mais rápida e com<br />

um maior número de oportunidade<br />

Filipe Forte<br />

Voltados para a solução<br />

Filipe Forte, associate manager da Michael Page,<br />

conta-nos que também começam a surgir novos<br />

cargos para fazer face a estas novas necessidades,<br />

tais como Supply Chain Analyst E-commerce,<br />

Responsável de Transportes B2C, Gestor de Fluxos<br />

Logísticos, Responsável de Melhoria Contínua<br />

da Logística e Supply Chain, entre outros.<br />

“Vemos, cada vez mais, novas funções a serem<br />

desenvolvidas para fazer face ao crescimento<br />

do sector, mais focadas na vertente analítica, no<br />

e-commerce, transportes B2C e operações, pelo<br />

que os próximos anos serão de grande potencial<br />

para a evolução de carreira dos profissionais deste<br />

sector”, comenta o responsável.<br />

Nesse sentido, também se verificam maiores<br />

oportunidades ao nível profissional, e Filipe Forte<br />

aponta que “devido ao elevado crescimento da<br />

procura das empresas por profissionais deste<br />

sector, verificamos que a progressão de carreira<br />

tem sido mais rápida e com um maior número de<br />

oportunidade, relativamente a anos anteriores,<br />

pois as organizações ao criarem novas funções<br />

e ao aumentarem as necessidades, dentro deste<br />

sector, fez com que a progressão dos seus<br />

profissionais evoluísse nos últimos anos”, comenta<br />

ainda o responsável.<br />

O estudo também aponta que as competências<br />

mais valorizadas pelos empregadores e os<br />

factores críticos para a contratação encontramse<br />

perfis dinâmicos, analíticos, com domínio de<br />

competências digitais, capacidade de liderança e<br />

de comunicação, e mentalidade “problem solving”,<br />

com o pensamento voltado para a solução e<br />

resolução de problemas, bem como capacidades<br />

técnicas.<br />

Este aumento da procura vem também<br />

acompanhado por um aumento da remuneração,<br />

tendo tido um aumento médio de 4% no primeiro<br />

trimestre deste ano, quando comparado com o<br />

período homólogo, sendo visíveis aumentos entre<br />

os 5 e os 10% em funções associadas ao sector de<br />

e-commerce, transportes e supply chain.<br />

O crescimento destes sectores, impulsionado<br />

pela transformação decorrente do isolamento<br />

social e forte procura de serviços e produtos<br />

online com entrega de última milha. “Estes são os<br />

sectores que garantem a chegada dos produtos<br />

ou serviços às mãos dos clientes, tornando-se<br />

ainda mais essenciais, o que motiva o crescimento<br />

da procura no campo das contratações por estes<br />

profissionais e o consequente aumento em termos<br />

de remuneração”. •


76<br />

diário de bordo<br />

Anabela Guerreiro<br />

Branch Director, Unicordas<br />

DA DISRUPÇÃO DA<br />

CADEIA LOGÍSTICA<br />

E DO PAPEL DO<br />

TRANSITÁRIO<br />

O mundo mudou e repensar posicionamentos em<br />

mercados e a logística é o mote. A crise pandémica veio<br />

colocar a nu a vulnerabilidade do mundo globalizado.


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

A<br />

excessiva dependência de mercados<br />

longínquos como a China e Índia, a<br />

primeira comummente denominada<br />

como fábrica do mundo, face a uma Europa,<br />

até então pouco propensa a fomentar<br />

a sua autossustentabilidade, conduziu,<br />

neste cenário, à disrupção das cadeias de<br />

abastecimento. Esta realidade deverá servir<br />

de motor à transferência das produções para<br />

locais próximos aos de consumo.<br />

Portugal, durante décadas, pouco protetor<br />

da sua indústria e empresários, deve agora<br />

ponderar perfis de consumos, políticas<br />

comerciais e valorizar a indústria nacional.<br />

A quase absoluta impossibilidade de<br />

embarque nesses mercados, quer por falta<br />

de espaço nos navios, a grave escassez de<br />

contentores e fretes insensatamente elevados,<br />

com prémios de embarque escandalosos, que<br />

muitos produtos e empresas não comportam,<br />

inviabilizam, assim, negócios, numa época<br />

particularmente difícil, situação agravada nos<br />

tempos precedentes ao Ano Novo Chinês, que<br />

esperemos tenda a normalizar.<br />

As importações travadas, quer as<br />

direcionadas ao consumo, quer no campo das<br />

matérias-primas, onde a dependência desses<br />

mercados é quase total, agrava também os<br />

obstáculos às exportações.<br />

Urge, ainda, reflexão sobre o modo como os<br />

principais players do shipping mundial usurpam<br />

atualmente o papel do Transitário no circuito<br />

logístico. O Transitário, tradicionalmente<br />

conhecido como o arquiteto dos transportes,<br />

foi sempre o intermediário por excelência entre<br />

os vários intervenientes da cadeia logística,<br />

associado ao conceito door to door, libertando<br />

o cliente das contrariedades da contratação<br />

direta dos vários operadores.<br />

Esses armadores, seja pelas plataformas<br />

online, pela procura clara do cliente direto<br />

e oferta de House B/L’s, arredam do circuito,<br />

assim, tacitamente, o Transitário, desde sempre<br />

seu parceiro privilegiado. Numa época em que<br />

harmonia de sinergias dos vários players seria<br />

fundamental, assiste-se ao inverso.<br />

No entanto, é inquestionável a superior<br />

capacidade do Transitário em captar clientes<br />

pelo seu serviço personalizado e focado nas<br />

reais necessidades do cliente, podendo oferecer<br />

uma série de soluções, avaliando as melhores<br />

opções de mercado. •


78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“O puzzle da motivação”<br />

Dan Pink, 27 milhões de visualizações, 2009<br />

O “problema da vela” é um famoso teste nas ciências sociais, criado por Karl Duncker em 1945, em que se<br />

fornece à pessoa uma pequena vela, uma caixa de pioneses e fósforos, e se lhe pede para arranjar uma maneira<br />

de prender a vela à parede, sem que a cera pingue para o chão. A solução do problema é esvaziar a caixa e<br />

pregá-la à parede, usando-a como base da vela. Contudo, a pessoa só consegue lá chegar ultrapassando aquilo<br />

a que se chama “fixação funcional”, em que só se vê uma utilidade para cada coisa.<br />

A gestão, tal como foi inventada no século<br />

XX, tende a incentivar os trabalhadores com<br />

prémios, nomeadamente monetários, para que<br />

eles atinjam determinados objectivos. Esta é a<br />

chamada “motivação extrínseca” e funciona bem<br />

quando as regras são claras e o resultado a atingir<br />

é bem definido, e as competências em causa<br />

são geralmente mecânicas. Contudo, quando é<br />

exigido um processo cognitivo mais complexo, dar<br />

dinheiro para motivar a pessoa na realidade reduz<br />

o seu desempenho, como foi sucessivamente<br />

provado em vários ensaios de psicologia<br />

comportamental. Esta aparente contradição<br />

justifica-se porque o enfoque no prémio reduz<br />

em certa medida a concentração no problema em<br />

causa.<br />

A “motivação intrínseca”, por outro lado,<br />

permite libertar a criatividade humana. Os<br />

seus três pilares são a autonomia, a mestria e<br />

o propósito. A autonomia, que tem a ver com a<br />

necessidade de cada um de conduzir a sua vida,<br />

tem vindo a ser explorada por empresas como a<br />

Google, que pede aos empregados que passem<br />

20% do seu tempo de trabalho a investigar ideias<br />

novas. Foi assim que surgiu o Gmail ou Google<br />

<strong>News</strong>, por exemplo. Num ambiente de trabalho<br />

orientado por resultados (ROWE, sigla em inglês),<br />

levado ao extremo, não há horários, as reuniões<br />

são opcionais, e apenas se pede que o trabalho<br />

apareça feito, mediante uma compensação<br />

monetária adequada e justa. Muitas empresas que<br />

ousaram assim romper com os dogmas das teorias<br />

de gestão tradicionais viram a produtividade<br />

aumentar, a rotação de pessoal diminuir e o seu<br />

envolvimento no negócio crescer. Finalmente, a<br />

mestria tem a ver com tornar-nos melhores em<br />

algo que tem significado para nós, e o propósito<br />

com contribuir para algo maior do que nós<br />

próprios.<br />

Tem sido amplamente demonstrado em<br />

problemas como o da vela que oferecer uma<br />

recompensa prejudica a sua resolução. O<br />

“problema da vela para totós”, como lhe chama<br />

Dan Pink, é entregar à pessoa a caixa vazia e<br />

os pioneses à parte, fornecendo a solução do<br />

problema. Contudo, o que queremos no século<br />

XXI, em que os tópicos a resolver são cada<br />

vez mais complexos, são pessoas que pensem<br />

livremente, focadas nos problemas e na alegria<br />

de os resolver, e não no que vão ganhar, para si<br />

próprios, quando os solucionarem.<br />

Dan Pink formou-se em Direito na Yale Law School, nos<br />

Estados Unidos, mas nunca exerceu, tendo ocupado<br />

diversos cargos políticos e de economia política,<br />

nomeadamente escrevendo os discursos de Al Gore.<br />

Tornou-se escritor, com quatro dos seus livros sobre<br />

trabalho, gestão e ciência comportamental na lista<br />

de bestsellers do New York Times. Foi apresentador<br />

da série de ciências sociais da National Geographic<br />

Channel, chamada Crowd Control.

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