Por Antonio Cezar Lima da FonsecaPorto AlegreRio G. do SulBRASILALLAN KARDEC: AMOR ECASAMENTO EMO LIVRO DOS ESPÍRITOSNatural de São Borja, no Rio Grande do Sul. Bacharel em Direito pela PUCRS, foiservidor público federal,Advogado, Pretor, Promotor de Justiça e atualmente é Procurador de Justiça aposentado no Estado doRio Grande do Sul. Já atuou como Professor Universitário e em Cursos de Extensão em DireitoO Professor Hipollyte Léon Denizard Rivail-Allan Kardec- casou-secom mulher de fino trato, professora-pedagoga, pintora,escritora e autodidata. Tanto ele quanto Amèlie-Gabrielle Boudetdescendiam de famílias tradicionais e católicas.Na época de Rivail – Século XIX – houvera avanços, e o amorentre os nubentes passou a ser uma possibilidade, porque antesera ignorado, o que ocorria desde a Idade Antiga e passou tranquilopela Idade Média. Na Idade Média, p. ex., as famílias – enão os noivos, que muitas vezes nem se conheciam – faziam umcontrato, via de regra, para ampliação de feudos, ganhos de terrase geração de filhos. Caso a mulher não procriasse, simplesmenteera devolvida à família de origem ou ia para um convento (Acama na Varanda, Regina Navarro Lins, ed. Bestseller).O casal Rivail-Amèlie era de outro tempo, pois viviam nomundo das letras e da intelectualidade, mostrando-se “abertosàs descobertas e experiências no campo da ciência, da educação,da filosofia, da espiritualidade ou mesmo da religião” (MadameKardec, Adriano Calsone, ed. Vivaluz). Isso acabou formando o parideal, pouco se ligando ao fato de Amèlie casar-se aos 37 anoscom Hipollyte, que tinha 28 anos de idade.Mesmo assim, com “jovialidade física e espiritual, Amèlieaparentava a mesma idade do marido”, e essa diferença etáriajamais constituiu entrave à felicidade de ambos (Allan Kardec – Oeducador e o Codificador, Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, ed.FEB).Dessa forma, quando teve a oportunidade, Kardec não deixoude indagar os Espíritos acerca do casamento, nas questões695-701, no Livro III de O Livro dos Espíritos, revelando uma épocade costumes na obra codificada.Inseriu o tema do casamento no título relativo à “Lei deReprodução”, passando ao largo de que a criação legal humana– o contrato de casamento – não era e não é indispensável oudeterminante à geração de filhos - procriação. Kardec seguiu aimportância que era dada ao casamento pela Igreja, que desdeo Século XIII passou a controlá-lo impondo sua indissolubilidade.Os Espíritos foram, em parte, exagerados, mas mostraramà Igreja que eram favoráveis ao divórcio, batendo forte na indissolubilidadedo vínculo que, ao lado do casamento monogâmico,era “o grande fato” na história da sexualidade ocidental (ReginaNavarro Lins, op. cit.).O Codificador, por sua vez, na questão 695 de O Livro dosEspíritos, indagou se o casamento, ou seja, “a união entre doisseres” seria “contrária à Lei da Natureza”.Como se observa, a pergunta diz respeito à união entre ‘doisseres’, não se detendo a mencionar - porque era o que existiaàquela época – que a união entre dois seres dizia respeito à uniãoentre homem e mulher, pessoas de sexos diferentes.Referiu Kardec: “união permanente de dois seres”. Quaisseres? Seres humanos, obviamente. Disso, hoje, permitir-se-ia deduzirque Rivail pensava não somente na união entre homens emulheres, mas na união entre ‘seres humanos’, inclusive pessoasde mesmo sexo, tal como algumas legislações estão reconhecendoem dias atuais. A perspectiva de união entre ‘dois seres’ eraclara para ele, porque a repetiu nas questões 939 e 940, LE.Embora Kardec parecesse “evoluído” para a época, quasepremonitório ao indagar os Espíritos em matéria de casamento,não se pode dizer o mesmo quando esclareceu posição pessoala respeito.Rivail deve ter recebido elogios de Amèlie e méritos daIgreja Católica quanto ao casamento, pois disse que sua aboliçãoseria o “retorno à infância da humanidade”, uma vez que colocariao homem “abaixo mesmo de certos animais”, algo que osEspíritos não disseram (696). Note-se que “retorno à vida animal”(resposta dos Espíritos) não significa estar ‘abaixo’ deles, comoconcluiu Kardec em seus comentários na q. 696, LE.Os Espíritos, por sua vez, exageraram ao dizer que a aboliçãodo casamento seria “retorno à vida animal” (q. 696), porquantose sabe que não é apenas um contrato escrito que autoriza a reproduçãoe/ou a união de dois seres humanos que, no exercíciode puro livre-arbítrio e assumindo suas consequências, escolhemviver sob a lei do amor.26 Atração_ agosto de 2021
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