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Marcelo Feltrin é Head of Business Development da Opus Software.
Open Banking já deixou de ser
O um tema restrito apenas a quem
trabalha com o mercado financeiro e
fintechs. Ele é objeto de propaganda na
mídia aberta e campanhas de grandes
bancos de varejo junto a seus clientes.
Com tal popularização, é natural que
haja grande expectativa à sua volta, especialmente
em relação ao impacto no
mercado.
Nesse contexto, tenho observado algumas
posições que mais me parecem
mitos do que realidade. Neste artigo,
abordo três dessas lendas, apresentando
uma perspectiva alternativa.
Mito 1: Precisamos explicar o que é o
Open Banking para as pessoas. Caso
contrário, a sua adoção será pequena.
Recentemente, uma pesquisa do C6
Bank/Ipec divulgou uma série de informações
sobre o nível de conhecimento
da população brasileira a respeito do
Open Banking. Talvez fosse até melhor
dizer "nível de desconhecimento", uma
vez que a iniciativa foi confundida com
bancos abertos dia e noite ou até mesmo
com "open bar".
A questão não é contestar os dados da
pesquisa, afinal, ela foi feita por uma
instituição extremamente respeitável.
Entretanto, não creio que o desconhecimento
sobre Open Banking deva ser
interpretado como um indicador de
que os níveis de adoção serão baixos.
Isto porque conhecer o funcionamento
de algo não é necessariamente condição
essencial para adotá-lo.
Em especial, quando se fala em novas
tecnologias, o fator mais importante
está ligado ao benefício que a inovação
traz.
Pense nos pagamentos com cartão
de crédito, algo com o que já estamos
acostumados há décadas. É normal que
a maioria das pessoas não conheça os
papéis de adquirente, subadquirente,
bandeira, emissor, merchant, assim
como o caminho percorrido por seus
dados quando é realizado um pagamento
via cartão.
No entanto, pagar com cartão é algo
prático, que está disponível em inúmeros
lugares, facilitando a vida em muitas
situações (como em viagens, por
exemplo) e trazendo diversos benefícios
(seguros, pontos etc.).
Por conta disso é um meio de pagamento
largamente utilizado. Portanto,
o nível de adoção está muito mais relacionado
ao benefício percebido do que
ao conhecimento do sistema em si.
Não é difícil imaginar que com o Open
Banking algo semelhante vai acontecer.
Assim, as pessoas adotarão o sistema
se houver players que aproveitem
a nova infraestrutura e desenvolvam
aplicações que façam bom uso dela,
entregando valor para os clientes. Isto
certamente é mais importante do que o
entendimento do que é consentimento,
transmissora, receptora etc.
Mito 2: O medo de expor os dados vai
restringir a adoção
É natural que haja receio. Todos os dias
ouvimos falar em casos de vazamentos,
fraudes, golpes, e a reação natural é ter
mais cautela. Mas isso é apenas um dos
lados da moeda. Novamente, as pessoas
pesam o risco/benefício ao tomarem
a decisão de abrir a informação.
Considere, por exemplo, algumas
aplicações de PFM (Personal Finance
Management), aqueles aplicativos que
ajudam a gerenciar suas finanças. Eles
consolidam informações de várias contas-correntes
e criam uma visão unificada.
Temos vários cases de enorme
sucesso. Porém, com a tecnologia atual,
os usuários desses aplicativos têm
que abrir a senha da sua conta bancária
para que eles funcionem, e isso é MUI-
TO mais do que simplesmente abrir os
dados da sua conta bancária. Apesar
disso, milhões de usuários têm usado
esses aplicativos.
Com o Open Banking, o nível de segurança
será muito maior. Em primeiro
lugar, não haverá compartilhamento
de senha com ninguém, ela será usada
apenas no próprio ambiente do
banco onde já é utilizada. Além disso,
diferente do que temos hoje, todos os
participantes estarão sob a supervisão
do Banco Central, o que certamente
aumentará bastante a percepção de segurança.
Parece-me bastante razoável supor
que, a despeito da cautela natural, muitos
estarão dispostos a participar.
Mito 3: Open Banking é ruim para os
grandes bancos
Não necessariamente. Creio que a melhor
forma de se colocar é que o Open
Banking muda a dinâmica do jogo, o
que vai ser ruim apenas para quem não
tiver a capacidade de se adaptar.
Pensando em particular nos grandes
bancos, além da possibilidade de se
transformarem em grandes plataformas,
sobre as quais muita coisa acontece,
há de se considerar também outros
fatores que os favorecem: capacidade
tecnológica, expertise no tratamento
de dados ("data is the new oil"), além
do fato de terem largado na frente por
conta da obrigatoriedade da Fase 1.
Não podemos esquecer que a ideia do
Open Banking não é apenas redividir o
pedaço do bolo que cabe a cada player,
mas também fazer crescer bastante o
tamanho do bolo. Assim, algum grande
player pode até ficar com um percentual
menor do bolo, mas que representará
uma fatia muito maior do que
a que ele tinha antes.
Por fim, se a régua com a qual medirmos
o sucesso do Open Banking
considerar apenas o número de participantes,
no Brasil temos uma questão
peculiar: o sucesso do Pix e seus núme-
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