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revista empresarios de Outubro 2021 Especial 2021 Correta

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Marcelo Feltrin é Head of Business Development da Opus Software.

Open Banking já deixou de ser

O um tema restrito apenas a quem

trabalha com o mercado financeiro e

fintechs. Ele é objeto de propaganda na

mídia aberta e campanhas de grandes

bancos de varejo junto a seus clientes.

Com tal popularização, é natural que

haja grande expectativa à sua volta, especialmente

em relação ao impacto no

mercado.

Nesse contexto, tenho observado algumas

posições que mais me parecem

mitos do que realidade. Neste artigo,

abordo três dessas lendas, apresentando

uma perspectiva alternativa.

Mito 1: Precisamos explicar o que é o

Open Banking para as pessoas. Caso

contrário, a sua adoção será pequena.

Recentemente, uma pesquisa do C6

Bank/Ipec divulgou uma série de informações

sobre o nível de conhecimento

da população brasileira a respeito do

Open Banking. Talvez fosse até melhor

dizer "nível de desconhecimento", uma

vez que a iniciativa foi confundida com

bancos abertos dia e noite ou até mesmo

com "open bar".

A questão não é contestar os dados da

pesquisa, afinal, ela foi feita por uma

instituição extremamente respeitável.

Entretanto, não creio que o desconhecimento

sobre Open Banking deva ser

interpretado como um indicador de

que os níveis de adoção serão baixos.

Isto porque conhecer o funcionamento

de algo não é necessariamente condição

essencial para adotá-lo.

Em especial, quando se fala em novas

tecnologias, o fator mais importante

está ligado ao benefício que a inovação

traz.

Pense nos pagamentos com cartão

de crédito, algo com o que já estamos

acostumados há décadas. É normal que

a maioria das pessoas não conheça os

papéis de adquirente, subadquirente,

bandeira, emissor, merchant, assim

como o caminho percorrido por seus

dados quando é realizado um pagamento

via cartão.

No entanto, pagar com cartão é algo

prático, que está disponível em inúmeros

lugares, facilitando a vida em muitas

situações (como em viagens, por

exemplo) e trazendo diversos benefícios

(seguros, pontos etc.).

Por conta disso é um meio de pagamento

largamente utilizado. Portanto,

o nível de adoção está muito mais relacionado

ao benefício percebido do que

ao conhecimento do sistema em si.

Não é difícil imaginar que com o Open

Banking algo semelhante vai acontecer.

Assim, as pessoas adotarão o sistema

se houver players que aproveitem

a nova infraestrutura e desenvolvam

aplicações que façam bom uso dela,

entregando valor para os clientes. Isto

certamente é mais importante do que o

entendimento do que é consentimento,

transmissora, receptora etc.

Mito 2: O medo de expor os dados vai

restringir a adoção

É natural que haja receio. Todos os dias

ouvimos falar em casos de vazamentos,

fraudes, golpes, e a reação natural é ter

mais cautela. Mas isso é apenas um dos

lados da moeda. Novamente, as pessoas

pesam o risco/benefício ao tomarem

a decisão de abrir a informação.

Considere, por exemplo, algumas

aplicações de PFM (Personal Finance

Management), aqueles aplicativos que

ajudam a gerenciar suas finanças. Eles

consolidam informações de várias contas-correntes

e criam uma visão unificada.

Temos vários cases de enorme

sucesso. Porém, com a tecnologia atual,

os usuários desses aplicativos têm

que abrir a senha da sua conta bancária

para que eles funcionem, e isso é MUI-

TO mais do que simplesmente abrir os

dados da sua conta bancária. Apesar

disso, milhões de usuários têm usado

esses aplicativos.

Com o Open Banking, o nível de segurança

será muito maior. Em primeiro

lugar, não haverá compartilhamento

de senha com ninguém, ela será usada

apenas no próprio ambiente do

banco onde já é utilizada. Além disso,

diferente do que temos hoje, todos os

participantes estarão sob a supervisão

do Banco Central, o que certamente

aumentará bastante a percepção de segurança.

Parece-me bastante razoável supor

que, a despeito da cautela natural, muitos

estarão dispostos a participar.

Mito 3: Open Banking é ruim para os

grandes bancos

Não necessariamente. Creio que a melhor

forma de se colocar é que o Open

Banking muda a dinâmica do jogo, o

que vai ser ruim apenas para quem não

tiver a capacidade de se adaptar.

Pensando em particular nos grandes

bancos, além da possibilidade de se

transformarem em grandes plataformas,

sobre as quais muita coisa acontece,

há de se considerar também outros

fatores que os favorecem: capacidade

tecnológica, expertise no tratamento

de dados ("data is the new oil"), além

do fato de terem largado na frente por

conta da obrigatoriedade da Fase 1.

Não podemos esquecer que a ideia do

Open Banking não é apenas redividir o

pedaço do bolo que cabe a cada player,

mas também fazer crescer bastante o

tamanho do bolo. Assim, algum grande

player pode até ficar com um percentual

menor do bolo, mas que representará

uma fatia muito maior do que

a que ele tinha antes.

Por fim, se a régua com a qual medirmos

o sucesso do Open Banking

considerar apenas o número de participantes,

no Brasil temos uma questão

peculiar: o sucesso do Pix e seus núme-

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