Entendendo o Afroempreendedorismo – Por: Djalma Moraes – afroempreendedor,professor, escritor e atorExiste uma falsa visão de que os africanosque aqui chegaram e foramescravizados eram analfabetos, nésciose indolentes. Na realidade, essavisão foi imposta pelo colonizadorportuguês que invadiu terras,destruiu tribos e culturas em busca deriquezas, entre elas o tráficonegreiro. Os diversos povos que foramdominados através do uso de armasde fogo ou de estratégias sutis de provocarguerras entre tribos paracomprar os derrotados e vendê-los nosmercados escravagistas do mundo,inclusive no Brasil.Dentre os povos que foram dominadose transformados em mercadoriasexistiam tribos e reinos riquíssimos emouro, joias e pedras preciosas,uma cultura milenar baseada na tradiçãooral, na manipulação de metais,comércio de tecidos e artesanatos, alémde terem uma medicina avançadabaseada no uso de ervas e compostosnaturais. Muitas tribos produziamcorantes a base de terra, frutas, folhas eflores para adornar suas70roupas e para identificar suas etnias,por outro lado, haviam povos quetiveram contatos com os árabes e receberamensinamentos do Alcorão, alémde se tornarem alfabetizados, tambémconheceram a metalurgia, a químicae o domínio da vastíssima culinária regional.Os povos africanos aqui chegavam,após uma longa e cansativa viagem emcondições precárias, eram de tribos diferentes,falavam dialetosdiferentes e eram regularmente separadosde seus iguais, quer sejamfamiliares, amigos ou de qualquer elocom sua cultura natal. Apesardisso, seus conhecimentos foram extremamenteúteis para enriquecer aaristocracia brasileira com seu sanguee suor na dura lida dasplantações de cana ou até de café, foramquatrocentos anos de rebeldia,fugas, lutas e mortes, para que nossopaís se tornasse o grande produtorde açúcar e de café, abastecendo assimo mundo todo.O afroempreendedorismo surgiu juntocom a escravidão, pois, muitosafricanos que aqui chegaram tinhamgrande domínio de atividadesnecessárias à infraestrutura das fazendase cidades, com conhecimento demetalurgia tornaram-se ferreiros, osque conheciam trabalhos com couros,tornaram-se seleiros, cada ofício dominadoacabou servindo de moeda detroca para compra da alforria, pois umescravo com tais habilidadesganhava mais dinheiro prestando serviçosa diversos senhores do quetrabalhando de sol a sol nas lavouras.Assim surgiram as quituteiras, as baianasde acarajé, pedreiros,construtores, marceneiros, nossos primeirosafroempreendedores. Naatualidade, diante dos desafios causadospela exclusão social, diversaspessoas tiveram que se reinventar paraenfrentar as dificuldades queforam surgindo e se agigantando diantedos nossos olhos, nesse momento,eis que grande parte da população deafrodescendentes começa a semovimentar em direção ao empreendedorismoatravés de atividadesartesanais, fazendo turbantes, tranças,adereços, brincos, importandoobjetos de decoração, roupas e tecidosde países africanos para vendadireta ou através de encomendas. Tambémsurgiram especialistas emgastronomia fornecendo via deliverypratos saudáveis ou até comidas maiselaborados. Tudo isto prova que o espíritoempreendedor sempre estevepresente nos povos advindos de terrasafricanas.Na atualidade com a reabertura gradativada economia, estamos vendo umagrande massa de afroempreendedoressurgindo nos diversos segmentos,principalmente em área voltadas à inovação,como por exemplo, marketingdigital, webdesign, criação de games ecolocando em prática a garra quefaz parte da nossa cultura. Já foram feitasdiversas publicações sobre amudança do cenário em favelas e comunidadesatravés dessa nova onda denegócios locais tocados por afroempreendedoresque está revolucionandoomercado tanto de pessoas de baixa renda,quanto de futuros investidoresno mercado financeiro.Espero que esta onde se transforme emum tsunami que ajuda a reduzir adesigualdade social em nosso país,possibilitando não só oenriquecimento, mas também umanova tomada de consciência que noslevaadiante, pois já sofremos muito com oserros do passado e com a falta deoportunidades reais no mercado detrabalho.
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