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Heranca-Espiritual-Judaica

Sao 45 breves narrativas, sobre judaismo, viagens, Memórias Familiares, algumas semi-ficcionais. A obra perpassa 6 Milenios de Herança Espiritual Judaica e 5 séculos de Brasilidade em 45 breves textos, como A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar, Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta, De Volta a Toledo, Portões de Buchenwald, General David Shaltiel – 1º. Embaixador, Memórias de Uma Hupá, O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões, Paris Está Em Chamas ?, Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada, Shaindale – A Última Imigrante, Sou o Teu D_us ... Em Santa Maria da Boca do Monte…, Ter Um Vizinho Judeu, Terror Nazista Nos Mares Brasileiros, Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar, Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica, Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer, Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu e outros.

Sao 45 breves narrativas, sobre judaismo, viagens, Memórias Familiares, algumas semi-ficcionais. A obra perpassa 6 Milenios de Herança Espiritual Judaica e 5 séculos de Brasilidade em 45 breves textos, como A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar, Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta, De Volta a Toledo, Portões de Buchenwald, General David Shaltiel – 1º. Embaixador, Memórias de Uma Hupá, O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões, Paris Está Em Chamas ?, Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada, Shaindale – A Última Imigrante, Sou o Teu D_us ... Em Santa Maria da Boca do Monte…, Ter Um Vizinho Judeu, Terror Nazista Nos Mares Brasileiros, Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar, Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica, Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer, Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu e outros.

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Israel Blajberg

Herança Espiritual Judaica

em Brasilidades e Outros Temas

Breves Narrativas

1ª. Edição

Rio de Janeiro-RJ

ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL – AHIMTB

2015


Ficha Catalográfica

Catalogação na fonte

Palavras Chave: Brasilidades, Europa, Viagens, História do Brasil, História Universal,

História Judaica, Memórias Familiares

Israel Blajberg data nasc. 31 maio 1945

Editora -ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL – AHIMTB

Data 02 jan 2015

4 Índice

5 Apresentação

6 Agradecimentos

ÍNDICE


7 Prefácio

8 De Volta a Toledo

10 Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer

12 Uruguay, Um País Sem Pressa - Olhar Judaico de um Brasileiro

14 Tempo de Subúrbio - Lembranças de um Menino

16 Teria a Peste Negra Tangido os Blajberg da Áustria para a Polônia ?

18 Monumento em Memória do Tripulante Franco-Brasileiro Judeu

20 Festinha na Escola Judaica

21 Militares Brasileiros Sefaradis da 2ª. Guerra Mundial

22 Eretz Amazônia – A Selva Nos Une

24 A Sinagoga que o Papa Esqueceu em Erfurt, Cidade com Notável Passado Judaico

26 Shalit – Um Sobrevivente

27 Festa das Luzes – Bênçãos da Liberdade

29 Eternidade Judaica: Um Avô, Um Netinho, Uma Festinha

31 A Ellis Island Argentina

33 Memórias de Uma Hupá

34 Navegando Pelo Guaíba - 1958

36 Natal: Uma Comunidade Singular

38 Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu

40 Yitzhak Shamir - Herói de Israel (1916 – 2012)

41 Pessach – A Travessia

43 A Sinagoga Que Renasceu

45 Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada

47 Ter Um Vizinho Judeu

49 Dos Portões de Buchenwald Belo Horizonte Haveria de Brilhar

51 Shaindale – A Última Imigrante

53 Teresópolis Judaica

55 Terror Nazista Nos Mares Brasileiros

58 Uma Blajberg no Pampa Argentino

60 Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta

62 Casamento Judaico

64 A Árvore Dos Judeus

66 Imigrantes Em Terras Gaúchas

67 Paris Está Em Chamas ???

68 A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar

70 O Menino de Ostrowiec Que Venceu os Nazistas

72 Atriz Portuguesa Rosa Da Silva Interpreta Anne Frank

74 Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar - 12 Agosto 1952

75 Um Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica

77 Sami Mehlinsky (1925-2014) – Uma Vida Dedicada ao Esporte

79 General David Shaltiel – 60 Anos da Chegada ao Brasil do 1º. Embaixador de

Israel

81 Pernambuco - Retorno ao Passado

83 Israel – A Terra Santa

85 Um Olhar Judaico Sobre Nova Iorque


87 O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões

89 Sou o Teu D_Us ... Em Santa Maria da Boca do Monte...

91 Síntese do CV - Israel Blajberg

APRESENTAÇÃO

Nos anos de 2011 a 2014 a revista EL DJUDIÓ editada pelo Centro Hebraico Rio

Grandense publicou nossas BREVES NARRATIVAS .

Eram olhares sobre temas variados, de uma perspectiva que mescla 5 séculos de

Brasilidade [1] com 6 milênios da HERANÇA ESPIRITUAL JUDAICA, de antepassados

imemoriais e contemporâneos.

Registrando 2015 os 70 anos da minha vinda ao mundo, considerei oportuno

marcar a notável efeméride pela edição desta coletânea variada, abordando

Brasilidades, a Europa Sofrida, Viagens, História do Brasil, Universal e Judaica,

Memórias Familiares, enfim um pouco do que vimos e vivemos nestas 7 décadas.

Escrevi para toda e qualquer pessoa, independente de crença ou afiliação. Que seja

lido da mesma maneira como foi escrito, ou seja, com o pensamento voltado para

este grande país em que nascemos, onde por desígnios da Providencia aportaram

nossos pais e avós, recebendo hospitaleira acolhida.

No Brasil - Pais do Futuro de Stefan Zweig - encontraram eles a Terra Prometida,

onde já floresce a 3ª. geração dos Blajberg. Que o Eterno permita muitas e muitas

outras mais.

Rio, 02 janeiro 2015

Israel Blajberg

iblajberg@poli.ufrj.br

Agradecimentos

A minha Familia:


Muito da inspiração que originou estas narrativas devo a minha alma gêmea Marlene, que

tanto me incentiva, e aos filhos, netos, genros e noras. Primordialmente é neles que penso,

e para eles que procuro deixar um legado escrito.

A um idealista:

Tive o prazer de conhecer Davi Castiel Menda, Editor de El Djudió [2] , quase que

simultaneamente com o lançamento da revista, há 4 anos. Ele, que transforma sonhos em

realidades, deu-me a oportunidade de participar em alguns deles.

A um Dedicado Mestre:

Aos 12 anos ingressei no ginásio, onde sob a preclara orientação do saudoso e eminente

Professor Jamil El-Jaick, do Colégio Arte e Instrução de Cascadura, Rio de Janeiro, iniciei-me

no culto à ultima e mais bela Flor do Lácio.

Prefacio

Na condição de editor da revista El Djudió, tive o privilégio de ler todas

as crônicas deste livro, em absolutíssima primeira mão, à medida que

iam sendo publicadas. Foi muito gratificante ter sido convidado para

redigir algumas linhas sobre esta obra.

Pelo meu conhecimento editorial, posso afirmar que muitos têm

histórias, mas não sabem contá-las. Há os que sabem, mas não têm

histórias. Israel Blajberg, um dos primeiros colunistas a colaborar

permanentemente com o El Djudió, é um daqueles mortais que tem o

raro dom de combinar o ter e saber contar. Sua dialética, nos últimos

quatro anos, através de seus comedidos e emotivos comentários,

passando sua vivência aos leitores que o admiram, só tem

engrandecido e dignificado a revista do Centro Hebraico.


Quem aprecia leitura, sabe que literatura tem gosto. E o gosto de

“Herança Espiritual Judaica em Brasilidades e Outros Temas” é bom,

temperado e intrigante o suficiente para que se deseje lê-lo de uma só

vez, em uma única sentada.

Davi Castiel Menda

DE VOLTA A TOLEDO

Todos recomendaram, não deixe de ir a Toledo... de repente, uma curva do caminho revela

ao longe elegante calota esférica sobre suave elevação, o casario deixando entrever uma

parcela do Patrimônio da Humanidade...

Emoldurada pelo Rio Tejo, que descreve sinuoso meandro por quase toda sua periferia, do

lado aonde ele não corre, o famoso Alcázar de Toledo guarnece o único acesso terrestre.

O casco histórico ocupa uma área relativamente pequena. Do centro, onde fica a Catedral,

alcança-se rapidamente a Juderia, antigo bairro judeu, naquela que um dia fora conhecida

como a Jerusalém do Ocidente, berço de sábios rabinos.

O dia está particularmente frio. Havia nevado um pouco, o que não é muito comum. A baixa

temperatura afugenta os turistas, assim percorro quase sozinho as ruelas onde

antigamente efervescia a vida da Toledo Judaica. Tudo estaria exatamente como ha 500

anos atrás, não fora alguns poucos carros que lentamente se esgueiram pelo arruamento.

Algumas vielas são tão estreitas que abrindo os braços consigo tocar as duas paredes...

No inverno os dias são curtos, e ao entardecer sem sol, as sombras dos prédios de no

máximo dois andares escurecem a Juderia.

Percebo que estou sozinho perdido no silêncio ... o clima me faz divagar, como se estivesse

realmente naquele passado distante...

Parece-me que a qualquer momento algum judeu poderia sair de uma daquelas esquinas,

quem sabe a figura serena de Samuel HaLevy, o Embaixador e Tesoureiro d’El Rey Pedro I

de Castilla. Encontro-me percorrendo as mesmas ruas por onde nossos irmãos e irmãs

abandonaram penosamente Toledo em direção ao exílio.

As ruas estão cada vez mais desertas, dado o frio intenso. Mas estariam mesmo? Sinto que

me acompanham. Chego a imaginar que me roçam os ombros. Tenho uma estranha

sensação de que não é a primeira vez que passo por aquelas vielas... A multidão segue em


silencio, não se ouve aquele burburinho característico. Afinal, estavam deixando a Pátria,

apesar de tudo...

Assim como Samuel, que acolheu El Greco em sua casa, também sou um Levita. Um gene

perdido tenta me sensibilizar em plena Juderia. Será que já estive ali ? entre filas de irmãos

que partiam ? ... meus antepassados teriam chegado pouco depois do inicio da Diáspora

Judaica no ano 70 DC... mas ainda não terminara a busca do nosso destino...

Corria o ano de 1492. Madrid era ainda um pequeno povoado desconhecido. Na Corte de

Toledo, os Reis Católicos Fernando de Aragon e Isabel de Castilla haviam resolvido expulsar

os judeus de España. Numa última tentativa, o Conselheiro Real Isac Abravanel tenta

reverter o decreto.

A súplica de Abravanel não fora em vão... elevando-se ao firmamento, durante cinco

séculos ressoou pelos buracos negros do Universo, até que um dia encontrou bons ouvidos

...

Isac Abravanel nunca imaginou... mas um dia em terras de España haveria de reinar um

soberano justo e humano, Juan Carlos I, de Bourbon e Battenberg, que aos 31 de março de

1992 adentraria em Madrid à primeira sinagoga erguida em España nos últimos cinco

séculos, e diante da sua Reina Sofia, do General Chaim Herzog, Presidente do Estado de

Israel, e de um punhado de descendentes daqueles mesmos judeus expulsos pelo Reis

Católicos, declararia ao Mundo seu desejo real de que a Paz viesse para todos os Povos...

A noite vem chegando. Preciso retornar a Madrid. Procuro a saída da Juderia. Mais uma vez

sinto que me acompanham.

Toledo é uma cidade plena de lendas. Nem todos gostam de passar a noite por perto do

antigo anfiteatro romano, onde se faziam Autos de Fé.

Nossos irmãos se foram, mas as criaturas ficaram, e a noite aparecem de quando em

quando pelos meandros do Rio Tejo.

Tangidos pela intolerância, os judeus de Sefarad [3] se espalharam pelos quatro cantos do

mundo civilizado de então. A Humanidade tanto deve aos que percorrendo o mesmo

caminho que hoje trilhei partiram sem saber que um dia, seus descendentes, os Sefaradim

[4], tão importante papel desempenhariam nos negócios, nas artes, na cultura, nas ciências,

e que a final haveriam de retornar a mesmíssima Sefarad, novamente como outrora uma

grande nação.

Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer

Não, esta manchete jamais aparecerá em nenhum jornal.... Pesquisa para curar doenças não

é prioridade dos petrodólares. Como se sabe, o país dos aiatolás cismou com a bomba

atômica. Vivendo para um deus, pretendem impor a sua religião acima de todas, como se

felicidade dependesse disso.

Para nós, brasileiros, que temos outra noção de vida, tudo parece muito estranho. Não

estamos acostumados com fanatismo. Temos mazelas como criminalidade e pobreza; nada

que a sociedade, se resolver por decidir, não possa reverter.


A imagem do presidente iraniano na mídia é preocupante, recordando o ditador nazista

cujo nome preferimos sequer mencionar, e que o Brasil ajudou a derrotar enviando a FEB -

Força Expedicionária Brasileira para a Itália em 1944. O nazista provocou o Holocausto. O

persa nega que tivesse existido. O nazista bombardeou a população civil de Londres com as

V-2. O persa armou terroristas para bombardear a população civil de Israel com seus

foguetes.

Em abril de 2011 havia 40 mil foguetes armazenados no lado libanês da fronteira. Nós,

brasileiros, estamos distantes destas histórias. Temos uma missão a cumprir, de trabalhar

pelo desenvolvimento do Brasil, que felizmente não passa por guerras, destruição.

Que a nossa melhor intelligentzia pense com critérios sociais, como fazer para que este país

siga seu destino de grande nação, com melhor distribuição das nossas imensas riquezas.

Neste país trabalha-se lado a lado, sem a preocupação de quem é o outro. Somos todos

iguais. E é bom que permaneça assim.

São tempos difíceis para a Humanidade, cada vez mais confrontada com novas e terríveis

ameaças: fundamentalismo, terror, risco da proliferação de armas atômicas, para citar

apenas algumas. O conflito no Oriente Médio envolve tudo isso, encontrando-se por demais

polarizado na opinião pública. Muito já foi dito e escrito, e nada do que poderia ser aqui

complementado seria novidade. Tudo vem de muito longe no tempo e na história. Hoje,

quando identidades oprimidas se levantam em diversas partes do mundo, até com táticas

beligerantes e malévolas, convém analisar porque o terrorismo vem crescentemente

ganhando força, e como este encara não só Israel, mas todo o Ocidente. Aí é que começa a

questão, mas isso foge ao alcance deste texto.

Nos tempos que correm, estamos assistindo episódios que guardam assustadora correlação

com o período de ascenção do nazismo na Europa, quando aqueles imputavam

indiscriminadamente aos judeus a culpa por todos os males do Universo. O episódio das

caricaturas de Maomé foi seguido por manifestações contra Israel e os judeus, como se a

Dinamarca, pais cristão, tivesse uma estrela de David em sua bandeira, e não a Cruz.

O Ocidente observa, com olhos de Chamberlain em Munique 1938. A História é cíclica. Os

judeus, que no passado estiveram na mira da "Sancta Inquisição", hoje experimentam um

fraternal diálogo inter-religioso com os descendentes daqueles crentes que lhes

engendraram um tribunal especial e privativo. Já com os muçulmanos, com quem um dia

viveram e prosperaram lado a lado, muito se deve avançar para atenuar mútua

incompreensão. E isto na era do celular e da Internet.

Seria lícito esperar que estas maravilhas tecnológicas ajudassem a aproximar a

Humanidade. Ilusão. As fogueiras do passado continuam acesas virtualmente nas telas dos

computadores. O discurso sectário e belicista do presidente iraniano Mahmoud

Ahmadinejad: Mundo sem Sionismo - O Fim de Israel, embora repulsivo, tem valor didático,

alertando para as proféticas palavras bíblicas. A História da Rainha judia Esther, na antiga

Pérsia, nos conta que Haman, ministro mais importante do Rei Assuero (Achashverosh),

também quis o fim de Israel, mas acabou enforcado. Está na Torá (Lei de Moisés): "...

extinguirei totalmente a lembrança de Amalec debaixo dos céus", o que se cumpriu no tempo

de Assuero da Pérsia, quando Haman e seus dez filhos foram castigados.


Mas a Torá certamente não é a leitura predileta do presidente iraniano Mahmoud

Ahmadinejad. Resta-nos aguardar que a razão prevaleça, que os dignos triunfem, pois

certamente se encontram em todas as nações.

URUGUAY, UM PAÍS SEM PRESSA - Olhar judaico de um brasileiro

Ainda existe um lugar sem engarrafamentos, Montevideo. Cidade tranquila, organizada,

carros e prédios antigos, as vezes decadentes, carroças, a tração animal pelo centro

misturando-se com a modernidade do belo Aeroporto de Carrasco, bairros elegantes das

praias, trânsito fluindo devagar, motoristas disciplinados. Restaurantes famosos pelas

carnes, shoppings cheios aos domingos, cassinos, feira de antiguidades de Narvaja, o Farol

de Punta Brava, Piriápolis. Os brasileiros são uma constante em todo lugar. Os uruguaios se

esforçam em falar portunhol, dispensando-nos tratamento carinhoso.

A visita ao mercado popular do porto é imperdível, assim como aos calçadões da Ciudad

Vieja, os famosos alfajores de chocolate, doce de leite. El Fogón, La Pasiva, Confiteria

Esmeralda, San Rafael, lugares tradicionais do bom comer montevideano.

A comunidade judaica, pequena mas atuante, se revela pujante na Universidade ORT com

10 mil alunos, em seus modernos campi do centro e Pocitos, superada apenas pela

Universidade da República. Possuem amplas bibliotecas, um departamento de cultura

judaica tem editado diversas publicações. Bancos israelenses atuam em escala de

atendimento ao público, em Montevideo e até em Punta, na tradicional Avenida Gorlero.

Um original monumento ao Holocausto ocupa boa extensão da praia em Punta Carretas, o

simbolismo dos trilhos levando ao mar aberto, o ambiente pedregoso, a amplidão do

espaço, tudo leva a refletir sobre esta incomensurável tragédia, que se abateu não só sobre

o povo judeu, mas sobre toda a humanidade.

Mas a cidade é eclética, uma pracinha denominada Espacio Libre La Ciudad de Montevideo

al Pueblo Palestino fica situada bem perto do campus Pocitos da ORT.

Uma outra plazoleta na praia recorda o Gran Rabino Jayme Spector (1895-1948), primeiro

líder espiritual da comunidade.

Logo procurei Cuareim 1117, esquina de Durazno. Ali, na década de 60 era o Betar [5]. Do

Rio fomos de ônibus para uma machané (acampamento). Foram dois dias de viagem.

Surpresa: o Betar mudou para Pocitos, o prédio antigo agora está novinho em folha,

exibindo a placa Iglesia Evangélica Vino Nuevo. A porta entreaberta deixa escapar sons de

violão e os fiéis entoando seus cânticos. Aliás, ela tem uma vizinha brasileira, a Iglesia

Pentecostal Dios es Amor ...

No Museo Naval, uma sala é dedicada especialmente à Batalha do Rio da Prata. Eram

06h21m de 13 de dezembro de 1939. Ao abrir fogo sobre o Graf Spee, ao largo de Punta del

Este, o cruzador HNMZS Achilles tornou-se a primeira unidade neozelandesa a entrar em

combate na 2ª. Guerra Mundial. Um golpe poderoso, o primeiro dos muitos que

esmagariam os nazistas.

Em 82 minutos, o Achilles e os britânicos HMS Ajax e HMS Exeter alcançaram uma

significativa vitória contra o cruzador de bolso alemão, que tentou sem muito sucesso


afundar navios ingleses durante alguns meses em que se escondeu pelos mares, entre o

continente americano e africano. O Graf Spee foi construído burlando o Tratado de

Versalhes. Vendo-se perdido, o comandante nazista Langsdorf decidiu recuar, entrando no

porto neutro de Montevideo. Hitler mandou que lutassem até a morte, mas ele preferiu

não; mandou afundar o navio, salvando a tripulação, que ficou internada na Argentina.

Langsdorf se suicidou, e o navio jaz até hoje no fundo do rio simbolizando o afundamento

da própria Alemanha, que nos seis trágicos anos seguintes, 1939-1945, também se

afundaria e ao seu próprio povo, como premonitoriamente acontecia com o Graf Spee logo

após o inicio da 2ª. Guerra Mundial.

Praticamente toda a cidade assistiu a beira-rio o Graf Spee saindo do porto, mas ele não foi

combater os britânicos que o esperavam em águas internacionais. Enormes explosões o

partiram e o afundaram. Do alto da Fortaleza del Cerro, o Presidente da República e seus

ministros assistiram a tudo. Vivia-se uma crise diplomática entre Uruguay, Alemanha e

Inglaterra. Quantos de nossos correligionários não estariam naquelas multidões, torcendo

pela frota inglesa?

Setenta e dois anos passados, também subi ao Cerro de Montevideo. O pessoal do hotel me

pediu que não fosse, é o local mais perigoso da cidade. Ora, logo um carioca? No caminho

passa-se por comunidades humildes, muitas motos circulando. Valeu a pena subir.

Na volta fomos ao porto, onde uma praça perto do Buquebus recorda o Graf Spee, com a

sua âncora e o enorme telêmetro pesando 12 toneladas, que media as distâncias dos alvos.

Já um dos canhões de 150 mm e 14km de alcance encontra-se no Museo Naval, e o

emblema da popa com a águia sobre uma suástica encontra-se acautelado no Banco de la

Republica Oriental del Uruguay, já que vale alguns milhões de dólares. Tudo foi resgatado

do fundo do rio pelo National Geographic.

Ir ao Uruguay é ir a Punta, e ir a Punta é ficar no Conrad, enorme hotel, centro de

convenções e cassino. Em Punta del Este o Templo Beit Meir surpreende pelo tamanho,

mas existem outros que só funcionam na temporada, Ajdut Israel, Templo Rafael e a Mikve

Rajel. Roticerias e carniceria kasher [6] atendem também na temporada. Uma famosa é o

Chiche Cherro. Em Montevideo existe o único hotel kasher da América do Sul, Armon

Suites.

Após uma semana de férias retornamos ao Brasil. No passado dizia-se que o Uruguay era a

Suíça das Américas. Pelo menos, quanto à tranquilidade, a falta de pressa, ainda pode ser

assim considerada ...

TEMPO DE SUBÚRBIO - LEMBRANÇAS DE UM MENINO

Essa é uma estória que poderia ter acontecido com qualquer um de nós, em qualquer lugar

do mundo. O subúrbio tinha poucas famílias judaicas. O menino cursou ginasial e científico


na escola pública. Havia talvez uns mil alunos, e uns poucos judeus. Alguns ocupavam os

primeiros lugares nas turmas.

Certa vez sua mãe estava conversando com uma amiga. Notou que no braço havia um

número tatuado. Foi a primeira vez que viu isso. Depois perguntou a mãe o que significava.

Ela não quis falar muito, começou a recordar suas primas que tanto sofreram nos campos,

mas usava meias-palavras, parecia querer resguardar aqueles fatos.

O menino gostava de ficar sentado no botequim em frente à loja do pai, ouvindo as

conversas com os amigos, às vezes eram vendedores das fábricas de móveis, outras

vendedores à prestação. As conversas começavam na loja e terminavam no botequim, onde

se tomava café nas mesinhas de mármore. O botequim tinha um dos poucos telefones da

região, e seu proprietário gentilmente recebia as chamadas para a loja.

No Largo ficava um ponto importante de reunião dos judeus em trânsito pela região. Era a

alfaiataria. Bem perto ficava a loja de móveis. O mundo suburbano do menino era pobre e

feliz, ele e os amigos todos descalços, sem camisa, jogando bola, subindo pelos morros em

volta. Hoje seria impossível, não há mais espaços vazios para campinhos de pelada, e os

morros estão todos favelizados e dominados pelo tráfico. Alguns o chamavam de gringo,

sem saber exatamente o que era.

O alcance era limitado, havia o trem, os bondes. Alguns locais eram remotos, a viagem

quase uma expedição.

A loja do pai dava apenas para a subsistência. Ele dizia que podia faltar comida em casa,

mas nunca deixava atrasar a mensalidade do colégio. O pai e o avô certa vez compraram

três cofres, sendo dois para as casas e um para a loja. O menino nunca descobriu para que

teriam servido, pelo menos não deixaram nada de herança que pudesse estar ali guardado

... anos depois descobriu que havia muitas cartas de países distantes, incontáveis

duplicatas vencidas e cheques sem fundo dos fregueses...

O pai era um homem culto, ainda que praticamente não tivesse estudo formal, de quem o

menino herdou o gosto pelos livros, pela leitura de jornais. No velho radio Philips holandês

à válvula, o menino ouviu quase chorando a derrota do Brasil em 1954 contra a Hungria, e

dias depois a nova vitória dos húngaros sobre o campeão anterior, Uruguay.

A mãe, embora muito dedicada aos afazeres domésticos, era também chegada à leitura,

inclusive falava português melhor que o pai. Jamais alguém poderia supor que ela não era

brasileira, tal era a perfeição com que se expressava. Ao se naturalizar, o Juiz Federal pediu

que lesse um trecho da Constituição, como manda a lei, e logo a interrompeu nas primeiras

linhas, admirado.

O pai, com auxílio da sogra, estabeleceu-se com a Mobiliaria, e no ano seguinte a família

mudou-se para o mesmo edifício, bem em cima da loja. Um lugar calmo, que hoje tem um

movimento incrível, tendo se transformado no point das lojas de automóveis.


O tempo passou. A família mudou-se para um bairro melhor, mas o pai continuou com a

loja. Havia completado 84 anos, quando num belo dia de maio, fechou a loja como sempre.

No dia seguinte a loja não abriu. Os vizinhos estranharam, afinal ele nunca havia faltado

nenhum dia em 40 anos...

A triste notícia correu rápido, tantos ali eram filhos e netos de fregueses da loja. O carteiro

chorou ao passar naquele dia para entregar as cartas.

Com o falecimento do pai foi impossível permanecer. Ele nunca quis revelar os segredos,

não deixava. Resultado, a loja morreu com ele. Talvez fizesse isso pois não queria que o

menino seguisse este ramo, e sim que tivesse uma profissão, que foi o que ocorreu.

Assim terminou a fase do subúrbio para a família. Já não havia quase judeus por ali. O pai

jamais enriqueceu, mas a todos ensinou relevantes lições de vida, e ao menino legou seu

nome honrado a zelar.

Teria a Peste Negra tangido os Blajberg da Áustria para a Polônia

?

A Peste Negra, pandemia do séc. XIV matou algo entre 75 e 200 milhões de pessoas de 1348

a 1350, metade da população europeia. Hoje sabemos que se tratava da peste bubônica,

propagada pelas pulgas que infestavam os ratos trazidos da China em navios.

Logo culparam os judeus, o que trouxe a destruição para mais de 200 comunidades

judaicas, porque eles eram menos atingidos, graças à religião que mandava lavar as mãos

antes das refeições, tomar banho ao Shabbat [7], lavar corpos ao sepultamento. Nos guetos

eram mais protegidos do contagio, e praticando a limpeza de restos de farelo antes de

Pessach [8]privavam os ratos de alimento, minimizando a propagação da doença.

As perseguições modificaram a historia, com o epicentro da vida judaica migrando do Oeste

para Leste, o que poderia reforçar a tradição oral sobre as origens da nossa Família

Blajberg passada, pelo meu saudoso genitor Abram Blajberg, Z”L [9] : nossos

antepassados remotos entraram na Polônia vindos da localidade de Bleiberg, nas

montanhas da Carinthia (Karnten – Áustria). Era o que vinha sendo passado per secula

seculorum, de geração em geração, chegando assim ao nosso tempo.

Abram nos deixou em 1994, sem saber que a história era real. Isto porque ainda não existia

a Internet como hoje a conhecemos, com banda larga e Google. Quando foi possível

pesquisar com mais profundidade Abram já não estava mais aqui. Como teria gostado de

saber !! Nos meandros da Grande Rede, o milagre tecnológico nos revelava a pequenina


Bad Bleiberg, em torno de antiga mina de chumbo (alemão - Blei). Nosso sobrenome é pois

um toponímico: montanha de chumbo.

Um dia a exaustão do minério determinou a desativação da mina, mas suas aguas quentes

permaneceram fluindo das profundezas, o que ensejou sua revitalização como atração

turística: passeios de trenzinho pelas galerias, um spa muito frequentado, parques de

diversões, algo como um misto de Bariloche e Gstaad, uma Caldas Novas ou Poços de Caldas

austríaca. Estava pois confirmada a história passada de geração a geração.

Na hipótese que ora formulamos, os Bleiberg, tangidos pela intolerância escaparam

naquela época do morticínio na Áustria, que como Alemanha e Holanda restaram quase

desprovidas de judeus. Dirigiram-se ao Leste, na direção da Rússia e Polônia, que não

sofreram com a Peste Negra, portanto menos hostis aos judeus. Por alguma razão os

Bleiberg escolheram estabelecer-se em Ostrowiec, Polônia, onde permaneceram pelos

próximos 600 anos até 1942, quando todos os judeus da cidade foram levados para o

Campo da Morte de Treblinka, onde pereceram Al Kidush haShem (pelo Santificado Nome).

Quando chegaram a Ostrowiec, nossos antepassados polonizaram a ortografia de Bleiberg

para Blajberg, para obter o mesmo efeito fonético da leitura em alemão, soando como

Blaiberg em português.

Mas na verdade, Bleiberg e Ostrowiec foram apenas pontos de passagem. Somos Levitas,

conforme a tradição oral passada ao meu pai por meu avô, que por sua vez a recebeu de seu

pai, e assim por diante, até chegar a um remoto antepassado da Tribo de Levi, que em pleno

Deserto ao sopé do Monte Sinai não quis acreditar naquele bezerro de ouro, preferindo

aguardar o retorno do nosso Grande Patriarca Moises trazendo as Tabuas da Lei. Pela

demonstração de fé e fidelidade foram os Levitas nomeados auxiliares dos membros da

casta sacerdotal, descendentes do Cohen haGadol (Sumo Sacerdote) Aharon, irmão de

Moisés. Até hoje os Levitas detém esta função, e o privilégio de sermos chamados a Torá

[10], logo apos os Cohanim. Nestes momentos, quando um Cohen une as mãos elevando-as

para o alto na benção sacerdotal, a congregação evita olhá-lo, cobrindo os olhos com o

Talit (manto ritual) pois ali naquele instante se manifesta a Presença Divina.

Não fora a pandemia, os Bleiberg teriam permanecido na Carinthia ? Não sabemos a

resposta, nem se estaríamos aqui no Brasil ou alguma outra paragem que os acolheu na

busca de um mundo melhor, onde não nos fosse lançada pejorativamente a palavra Zyd

(judeu). As únicas certezas são de que através dos séculos seguimos fieis a Lei de Moises,

tementes a D_us, o Grande Arquiteto do Universo, sendo hoje tão brasileiros quanto

qualquer outro brasileiro.


MONUMENTO EM MEMÓRIA DO TRIPULANTE FRANCO-BRASILEIRO

JUDEU

Georges Schteinberg nasceu em Paris em 27 de dezembro de 1922. Foi Sargento da Armée

de l'Air (FAFL - Força Aérea da França Livre). Um Monumento em Memória deste

Tripulante Franco-Brasileiro Judeu morto em combate há 70 Anos foi inaugurado na

Holanda no seu aniversário de falecimento, 22 de outubro de 2013.

Georges emigrou para o Brasil, onde atendeu ao chamado da França agredida pelos

nazistas, e em 01 de dezembro de 1942 alistou-se como voluntário na Força Aérea da

França Livre. Após treinamento na Inglaterra em Escolas da RAF, foi destacado como

Sargento Metralhador para o Grupo de Bombardeio Lorraine, um esquadrão francês da

RAF.

Assim, depois de viver no Brasil durante 9 anos (1933-1942), George tornou-se um

combatente pela França, encontrando a morte na flor dos 21 anos, em missão de

bombardeio sobre a Holanda ocupada, quando seu avião do 1º Esquadrão do 20º Grupo de

Aviação – Lorraine da Força Aérea da França Livre foi atingido pelo fogo antiaéreo. Era um

Douglas DB7, bombardeiro leve de ataque. A FAB utilizou também algumas dessas

aeronaves, das quais 9 mil foram construídas a partir de 1941.

Era uma perigosa e difícil missão de bombardeio, a baixa altitude sobre uma fábrica de

aviões em Charleroi na Bélgica ocupada, próximo a Rotterdam, executada pelo Douglas

Boston IIIA BZ 393 do 342 Squadron Lorraine des Forces Aériennes Françaises Libres.

Com um motor em chamas, projetou-se sobre o solo, na localidade de Veere, na costa da

Holanda, ocupada pelos nazistas.

Schteinberg foi condecorado post-mortem com a Médaille de la Résistance et Croix de

Guerre avec Palme, por Decreto de 12 de janeiro de 1945, assinado de próprio punho, em

Paris, pelo General De Gaulle. A citação da Medaille Militaire descreve Georges como

excelente metralhador, alistado desde a primeira hora na Armée de l'Air. O documento cita

George como tendo uma morte gloriosa frente ao inimigo.

Sua sepultura no cemitério militar francês, na Holanda, exibiu durante quatro décadas uma

cruz (reportagem de 07.05. 1976 na revista israelense 7 Iamim: “Cruz na Sepultura de

Herói Judeu”, quando Sr. Octave Schteinberg, 75 anos, residente na Tijuca, visitou um outro

irmão. que mora em Israel), até ser substituída pela Estrela de David na década de 80. Em

volta, pode se ver inúmeras cruzes com a placa “Français non identifié”.

A história do tripulante judeu, cuja matzeivá [11] ostentou indevidamente uma cruz,

somente foi divulgada em 2005, na homenagem prestada aos 42 Heróis Brasileiros Judeus

da Segunda Guerra Mundial, no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro. Sua história está

no livro Soldados que Vieram de Longe (AHIMTB/FIERJ, 2008). O nome de Schteinberg

figura em placas no Consulado na Maison de France e no Mausoléu dos Franceses no


Cemitério São João Baptista. Outros nomes judaicos aguardam nas placas e no Mausoléu

que deles venha a ser removida a pátina do tempo, fazendo justiça a bravos irmãos de fé.

Por iniciativa dos cidadãos de Aagtekerke, um Monumento foi inaugurado nos 70 anos das

suas mortes heróicas em 22 de outubro de 2013, pela França Livre, pelo Brasil e pela

Holanda.

O Memorial foi erguido pelo Conselho da Vila de Aagtekerke, tendo sido adotado pelas duas

escolas primárias da cidade. A pequena Aagtekerke, onde ocorreu a queda da aeronave

pertence ao município de Veere e tem cerca de mil habitantes.

Situa-se às margens do Mar do Norte na costa da Holanda, próximo ao Canal da Mancha,

entre Antuerpia e Roterdam. É uma daquelas cidadezinhas que parecem um cartão-postal:

florida, com suas casinhas típicas e, como tantas outras, maculada pelas tragédias da

guerra.

Durante a inauguração, duas aeronaves históricas North American T-6 Harvard da Força

Aérea Holandesa realizaram um sobrevôo sobre o local, quando foi executado o toque de

clarim “Last Post”. Este avião foi extensivamente utilizado no Brasil, no treinamento dos

cadetes da antiga Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro. Milhares

foram utilizados durante a 2ª. Guerra.

Compareceram autoridades civis e militares: Major-General Pascal Valentin, da Armée de

l'air da França, Comandante do EATC -European Airtransport Command – OTAN; Coronel

P.J.A. De Jongh - Royal Netherlands Air Force; Coronel Bénoît Esqué – Adido de Defesa

junto a Embaixada Francesa em Haia, Holanda; Comandante Bas Dijkhuizen – Estação

Naval de Flushing; Tenente André Bustraan – Estação Naval de Flushing; Dr. Robert van

der Zwaag - Prefeito da Cidade de Aagtekerke; Ton Verhulst – Presidente do Conselho da

Cidade de Aagtekerke; Mr. Hans Nonnekes – Secretário do Conselho da Cidade de

Aagtekerke; Chris Maas - Alderman; Dr. BC Léon Dewitte OBE – Mestre de Cerimônias.

Do Brasil participaram da cerimônia de inauguração as irmãs Henriete Schteinberg Musser,

e Hana Schteinberg, sobrinhas do Sgt Georges Schteinberg, residentes no Rio de Janeiro e

de Israel o sobrinho Georges Schteinberg, que leva o nome do seu tio.

FESTINHA NA ESCOLA JUDAICA

Era com muita, muita emoção que os vovôs e vovós assistiam a belíssima festinha da escola

brasileira judaica.

As crianças adentrando o auditório, o sorriso inocente, as coreografias tão bem ensaiadas

no palco, um adeus aqui e ali para a vovó ... o encantamento ... as tradicionais canções ...


Um sonho se materializa nas mentes dos vovôs. Parecem verem-se eles mesmos em outra

festinha assim, há muitos anos, de avental branco cercados por outras crianças.

Reconhecem um ou outro, este se tornou um grande médicos, aquele engenheiro, outros

seguiram diferentes caminhos. Uns tiveram muita sorte, outros, menos. Para alguns a vida

sempre sorriu, para outros o destino nem tanto.

Com um nó na garganta, lembram de 50 - 60 anos atrás, a escola acanhada de uma

comunidade modesta do subúrbio, o pequeno prédio pintado de azul, a Estrela de David

desenhada sobre o cimento na parede da fachada, onde aprenderam o a-b-c... e o alef-bet...

[12]

Saudades... se dissessem, jamais acreditariam... você vai ser avô... um dia vai ter muitos

netinhos ...

Era um auditório simples, nada que se comparasse as poltronas estofadas, o ar

condicionado da escola de hoje. Mal havia máquinas de escrever, computador nem pensar,

nem mesmo telefone na escola.

Mas tudo mudou. Mudam as cidades, já muito poucos de nós ainda moramos ali por perto,

mudam os uniformes, não mais a farda caqui com o quepi, agora camisetas. Mudam até as

crianças. Rostinhos morenos, a desmentir com o sorriso infantil o pérfido libelo dos antisemitas,

“... povo fechado, não se mistura ...”

Mas algo não mudou. Como relata orgulhosa a diretora, vários alunos foram aprovados nos

vestibulares, obtendo honrosas colocações. E o principal, nas professoras de hoje

permanece o mesmo carinho, a mesma dedicação.

A figura do Lerer [13]... Como gostava dos alunos ... era um verdadeiro Janusz Korczak, em

sua infinita dedicação. E as antigas professoras ... ainda imigrantes ... renascem nas

preciosas educadoras de hoje, altamente qualificadas.

A promessa do Eterno no sonho de Jacó ... Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão, dele

descendemos todos nós, Filhos de Israel, as Doze Tribos.

A visão da Era Messiânica, que virá após muito sofrimento sobre seus descendentes.

Está no Talmud [14]- nosso Grande Patriarca Yaacov nunca morreu: "Seus filhos vivem e,

portanto, também ele vive".

A Eternidade de Israel .... na festinha da escola judaica ...

MILITARES BRASILEIROS SEFARADIS [15] DA 2ª. GUERRA MUNDIAL

Pelo menos quatro militares brasileiros sefaradis integraram as forças brasileiras no maior

conflito do século XX, sendo 27 na Força Expedicionária Brasileira (Itália)


Sua participação foi pouco conhecida. Mesmo os que se tornaram heróis, agraciados com

medalhas concedidas apenas em casos de bravura excepcional em combate, foram

praticamente esquecidos. Em geral, não se conheciam entre si: brasileiros natos de

primeira geração, seus pais e avós eram imigrantes de países como Marrocos e Turquia.

Embora os cidadãos de fé judaica fossem mobilizados normalmente como qualquer outro,

havia uma diferenciação. Os combatentes judeus participantes do conflito, além de

compartilhar dos riscos normais de uma guerra, sujeitavam-se ainda caso fossem

capturados à execução sumária ou envio aos campos de extermínio nazistas. Foi esse,

lamentavelmente, o destino de quase todos os militares judeus russos (85 mil) e poloneses

(65 mil) que caíram prisioneiros dos nazistas.

A seguir traçaremos breves perfis de alguns destes combatentes.

Tenente-Coronel de Artilharia Waldemar Levy Cardoso, o último Marechal do Exército

Brasileiro. Com 108 anos, era o mais antigo ex-combatente, até falecer em 13 de maio de

2009, e como tal, era detentor do Bastão de Comando da FEB. Na Itália comandou um

Grupo de Artilharia da FEB. Filho de Armando Cardoso e Da. Estela Levy, judia de família

originária do Marrocos. O então Coronel Levy converteu-se ao catolicismo aos 54 anos de

idade. Sempre foi alegre e jovial, dizendo-se “... judeu de raça e católico de religião...”. Era o

militar judeu de maior patente à época.

Tenente de Infantaria Moyses Chahon foi comandante de Pelotão do Regimento Sampaio na

conquista de La Serra, sob pesado fogo de artilharia e morteiros alemães. Ferido em

combate, foi agraciado com a Medalha Sangue do Brasil. Tenente Chahon, o Herói de La

Serra, foi ainda agraciado com a Silver Star e a Cruz de Combate de 2a. Classe.

É notável que dois irmãos sefaradis combatessem na FEB: os Tenentes Alberto e Moyses

Chahon. Os jornais da época noticiavam o fato inusitado, entrevistando a mãe dona Matilde

Gammal Chahon. A ela fora concedida a possibilidade de indicar apenas um dos filhos para

ir à guerra, mas sua decisão foi firme: “... ou vão os dois, ou não vai nenhum ...”

Capitão-de-Longo-Curso Jacob Benemond, comandava o Olinda, segundo vapor a ser

torpedeado por submarino nazista. Conseguiu salvar toda a tripulação, à deriva no mar

gelado durante 36 horas.

Fonte: Depoimentos de veteranos e familiares colhidos pela Comissão de História Oral do evento Heróis Brasileiros Judeus da

Segunda Guerra Mundial, em que foram homenageados os ex-combatentes pela passagem dos 60 Anos do Dia V-E, 8 de Maio

de 1945, da Vitória Aliada na Europa, no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro. Coordenação: Israel Blajberg -

Entrevistadores: Fanny Lewin, Nelson Menda, Rosita Naidin e Sylvia Cohn Gali. O colunista é Sócio-Titular do Instituto de

Geografia e História Militar do Brasil - IGHMB, Cadeira 73 - Marechal Mascarenhas de Moraes. Acadêmico da Academia de

História Militar Terrestre do Brasil - AHIMTB - Cadeira 24 - Coronel Mario Clementino.


ERETZ [16] AMAZÔNIA – A SELVA NOS UNE

Manaus. Uma rápida visita à encantadora metrópole manauara é suficiente para avaliar a

ponderável densidade da contribuição judaica para o desenvolvimento da

Amazônia. Aparentemente oculta pela selva, a presença judaica revela-se em toda a sua

plenitude para um observador atento.

Basta andar pela cidade, ler as placas das lojas, as manchetes dos jornais. Bemol, Benzecry,

nomes que soam familiares, e que sem duvida estão incorporados ao linguajar amazonense.

Em Macapá por exemplo, o Porto se chama Major Eliezer Levy, antigo prefeito da cidade.

Nos confins do Acre, Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia, nomes judaicos sefaradis são

comuns no comércio, na política. Em Belém, Itacoatiara, Santarém, tantas e tantas cidades,

onde houve e há sinagogas, cemitérios.

Um retrato na primeira página do jornal chama a atenção. Jovem lindíssima, adornada por

plumas amarelas. Ninguém menos que Geane Benoliel, cunhã guerreira do Caprichoso. O

nome e a expressão do seu rosto não deixa dúvidas quanto à sua origem. Admirando sua

figura maravilhosa, lembramos a beleza da Rainha Esther ... Não sabemos se ainda professa

a Lei de Moisés, ou se as suas origens se perderam na poeira dos tempos, como aconteceu

com tantos e tantos da nossa gente ...

Uma coisa podemos garantir, não estava na sinagoga de Manaus naquele sábado pela

manhã ... onde fomos apreciar o Shabat, e o tradicional kidush sefaradi [17] marroquino

que se seguiu, na bela sinagoga onde compareceram cerca de 50 correligionários...

A matéria define Geane como uma das mais fascinantes cunhãs da história da festa bovina.

Não se fala em outra coisa em Manaus a não ser a Festa do Boi de Parintins, onde duas

tradicionais agremiações competem entre si, o Boi Caprichoso, azul e branco (coincidência

???), e o Boi Garantido, vermelho. Os maiores puxadores de toada do Boi são ninguém

menos que os irmãos Assayag ...

Ao longo do porto, embarcações anunciam vagas para a viagem. Parintins fica a 26 horas de

barco de Manaus, pelas mesmas águas navegadas por aqueles marroquinos sonhadores,

que em 1810 deixaram o Marrocos sofrido em busca de um lugar onde pudessem gozar a

desejada liberdade.

Nesta jornada, chegaram até Iquitos, no Peru, e levando junto a sua religiosidade, muito

contribuíram para o progresso da Amazônia, primeiro como comerciantes e

empreendedores, e mais tarde como profissionais liberais, empresários, militares.

Segundo o Professor Samuel I. Benchimol, Z”L (1923-2002), notável estudioso da cultura

amazônica, haveriam no mínimo 50 mil descendentes daqueles judeus marroquinos,

número este que poderia chegar a quase 300 mil, a imensa maioria, infelizmente, já

afastada do judaísmo.

Seu livro Eretz Amazônia é uma obra que deveria ser lido por todos os brasileiros, sejam ou

não seguidores da Lei de Moisés, a fim de que conheçam a importante contribuição judaica

para a Amazônia, quase desconhecida do grande público.

Samuel Benchimol repousa eternamente numa sepultura destacada das demais, na ala

judaica do cemitério, a frente. Não muito distante, podem se ver diversos túmulos judaicos

ostentando a Estrela de David, perdidos em meio ao mar de cruzes, do cemitério original.


Inclusive o tumulo do Rabino Milagroso, Shalom Emanuel Muyal, nascido em 1910, repleto

de plaquetas agradecendo por milagres supostamente concedidos, ali colocadas pela

população em geral.

Não poderia deixar de ilustrar este texto uma referência a Sua Eminência Reverendíssima,

o Arcebispo Metropolitano de Manaus, Dom Luiz Soares Vieira.

Este e um nome que deve ser lembrado por todos, especialmente pelas comunidades

judaicas, em razão da sua especial sensibilidade, como vemos pelas suas sábias palavras.

As vésperas do Pessach, em sua coluna publicada nos principais jornais de Manaus, Dom

Luiz escreveu que “... este povo tem a benção de D-us ... a Páscoa Judaica reafirma o

sentimento de Liberdade... como condição para viver como seres humanos dignos... a

Presença de Javé, o D-us de Israel é Libertadora...”

Nada melhor para definir a relação entre aqueles judeus fervorosos que trocaram a terra

natal sofrida do Marrocos pela Amazônia abençoada, sem jamais pensar em partir de volta,

aqui deitando raízes para trabalhar e ajudar a defender a nossa Amazônia:

Eretz Amazônia - A Selva nos Une !

A SINAGOGA QUE O PAPA ESQUECEU EM ERFURT, CIDADE COM NOTÁVEL PASSADO JUDAICO

Em sua Viagem Apostólica de setembro à terra natal, Alemanha, o Santo Padre Bento XVI

esteve em Erfurt na Turingia, que detém 5% dos eleitores da extrema direta alemã,

consequentemente infestada de neo-nazistas.

A Prefeitura postulou a inscrição da cidade junto a UNESCO como Patrimônio da

Humanidade, devido ao seu "passado judaico", revelado quase por acidente, quando

centenas de moedas de ouro e prata, além de inúmeros utensílios e objetos remontando à

Idade Média foram descobertos durante escavações no centro histórico. A expressão de boa

sorte, "Mazal Tov", estava inscrita em muitas das peças.

O tesouro foi enterrado em 1349 pelos judeus, temerosos de um pogrom [18], após terem

sido acusados de envenenar os poços, causando a Peste Negra que devastou a cidade,

poupando relativamente os judeus, seguidores de preceitos bíblicos de higiene. O temor era

justificado, pois todos os 900 judeus de Erfurt foram massacrados por multidões

enfurecidas.

Pelo menos outras três cidades alemãs - Speyer, Worms e Mainz - também estão buscando

honrar sua história judaica, habilitando-se junto a UNESCO como Patrimônio da

Humanidade.

Somente com a queda do Muro de Berlim, em 1989, é que os estudos avançaram em Erfurt,

que ficava na zona comunista. Arqueólogos desenterraram uma sinagoga de 1094, a mais

antiga da Alemanha, com mikveh (piscina para o ritual judaico de imersão) e lápides

judaicas. A sinagoga foi reaberta e transformada em museu, como aconteceu com a nossa

Kahal zur Israel [19]de Recife (esta, entretanto, 600 anos mais nova).

O tesouro de Erfurt vem rodando o mundo. Esteve em Paris em 2007, sob o titulo "Trésors

de la Peste Noire", no Hôtel de Cluny. Foi no Yeshiva University Museum, do Centro de


História Judaica em Nova York, ao final de 2008, que tivemos a oportunidade de conhecer

estas relíquias, na exposição "Erfurt: Tesouros judeus da Ashkenaz [20] Medieval".

A coleção está programada para ser exibida em Londres, na Wallace Collection e no Beith

Hatefutsoth em Tel Aviv, antes de retornar para a exposição permanente na Sinagoga de

Erfurt.

Aos 24 de setembro de 2011 o Papa rezou missa na Catedral de Erfurt. Posteriormente,

reuniu-se de surpresa com um grupo de vítimas de abuso sexual clerical. Na Alemanha

existem pelo menos 600 processos indenizatórios de fiéis que sofreram tais abusos; é de se

ressaltar que um número considerável de católicos abandonou a religião devido a estes

infaustos acontecimentos.

Em Berlim, onde o Papa alemão iniciou a visita, oito mil manifestantes ligados a estes

grupos protestaram em passeata. Lá também ele se encontrou com líderes da colônia

islâmica (quatro milhões de habitantes).

Erfurt é uma cidade protestante, com apenas 7% de católicos, as vésperas dos 500 anos da

Reforma de Martinho Lutero, a ser comemorada em 2017. Seus habitantes receberam o

Papa com moderado entusiasmo, até porque após quatro décadas de comunismo muitos

deles são ateus.

Mas o Papa esqueceu-se da sinagoga e dos tristes acontecimentos de tantos séculos atrás. A

véspera do Rosh haShaná 5772 [21], o renascimento da Sinagoga de Erfurt, que

testemunhou tantas festas e realizações da antiga comunidade judaica, hoje prova que um

passado sombrio não impedirá que o entendimento prevaleça entre os homens e mulheres

de bem.

Resta saber o porquê do esquecimento Papal, justamente quando do Ano Novo Judaico. A

cidade, sua história, a busca em redimir o passado e os acontecimentos mundiais que

afetam a Humanidade justificariam pelo menos uma breve lembrança daqueles 900 irmãos,

cujo único pecado foi terem nascido judeus, e lavarem as mãos antes da refeições, como

manda a Torá [22].

SHALIT – UM SOBREVIVENTE

No Brasil, estando tão longe de guerras e catástrofes, a perspectiva da distância oferece-nos

a oportunidade para uma profunda reflexão sobre os acontecimentos globais.

Assim é com a libertação de Shalit, que embute forte simbolismo para todos que levam a

sério o discurso belicoso do Hamas, Hezbolah e seus tutores sírios/iranianos. Era como se o

tivessem libertado de um campo de extermínio nazista, embora aprisionado em meio a

pretensos campos de refugiados que vemos na Internet, pontilhados de hotéis luxuosos e

praças iluminadas, onde não se passa fome. Enquanto terroristas embarcavam gordos e

bem dispostos nos ônibus, as imagens dos últimos sobreviventes do Holocausto libertados

pelos Aliados pareciam retornar na figura franzina de Shalit.

Magrinho, o uniforme sobrando, cabeça raspada, contrastando com a robustez de Bibi e dos

comandantes que o cercavam, a diferença para com seus irmãos salvos pelas tropas aliadas,


residindo apenas na cor dos uniformes, seja dos sobreviventes, seja dos soldados

salvadores.

Assim como os libertos do inferno na Europa sofrida, Shalit conviverá com lembranças

parecidas. Que recomponha sua vida como tantos o fizeram, e que a memória do seu

sofrimento seja mais um alerta para que todos os homens e mulheres de bem continuem

cada vez mais unidos na luta contra o terror, fortes, até que um dia venha a paz, para toda

Humanidade.

FESTA DAS LUZES – BÊNÇÃOS DA LIBERDADE

Dezembro. O mundo cristão acende as árvores de Natal, enquanto judeus saúdam Hanucá, a

Festa das Luzes. Há mais de 2000 anos um profano imperador grego atentou contra a

liberdade religiosa, pretendendo que os seguidores da Lei de Moisés renunciassem à sua fé.

Matitiáu e seus cinco filhos, os Macabeus, iniciaram a revolta no lugar que a Bíblia cita

como Modiin, na estrada que vai do Mediterrâneo a Jerusalém, onde hoje é o Aeroporto Ben

Gurion, perto de Tel Aviv. Três anos depois, expulsaram os opressores de Israel. Matitiáu

convocou seus soldados com um brado: “Os que forem a favor de D-us que me sigam!”, o que

nos remete ao Duque de Caxias diante da ponte sobre o arroio Itororó, aos 6 de dezembro

de 1868: “Sigam-me os que forem brasileiros !”

Recuperado o Templo Sagrado de Jerusalém, faltava o azeite de oliva ritualmente puro para

reacender a Menorá, o Grande Candelabro do Templo do Rei Salomão, dedicado como o

assento da Divina Presença no nosso mundo. O azeite extraído uma segunda vez não mais

serviria. Apenas as primeiras gotas puras de uma azeitona fresca podiam ser usadas para

acender o candelabro sagrado. Gotas que criam a luz natural mais pura que existe, para

ungir o Rei de Israel e o Cohen HaGadol (Sumo Sacerdote).

A Tribo de Asher era especialmente rica no azeite, tirado em Jerusalém do Monte das

Oliveiras, o mesmo de onde a pomba retirou e levou no bico para a Arca de Noé um ramo

para anunciar que as águas do Dilúvio haviam baixado. Depois de 2 mil anos as árvores

ainda estão lá.

Os gregos maldosamente haviam profanado o azeite do Templo, quebrando os lacres dos

estoques apostos pelo Sumo Sacerdote. Somente uma ânfora foi encontrada intacta,

suficiente para queimar apenas por um dia. Levaria oito dias para produzir o suficiente

com a pureza ritual obrigatória.

Um milagre ocorreu e aquele azeite ardeu por oito dias. Daí a tradição de acender

diariamente uma vela recordatória durante a Festa das Luzes.

Reis gregos tentaram conspurcar o Templo de Jerusalém. Ptolomeu e Heliodoro ousaram

adentrar o recinto sagrado, privativo da casta sacerdotal, ignorando a advertência do Sumo

Sacerdote. Ao tentarem saqueá-lo, pisando no solo sagrado, uma mão invisível os atingiu.

Desmaiaram, e com o choque desistiram. A sorte não mais lhe sorriu. Se por um absurdo os

gregos conseguissem suprimir o Judaísmo, hoje não haveria Cristianismo nem Islamismo,

eis que do primeiro se originaram. Seriamos pagãos adorando divindades mitológicas.


Contemplando as luzes rituais pensamos na nossa Amazônia, tão valiosa para o Brasil. Se

forasteiros pretenderem saqueá-la, do alto da floresta a mesma mão invisível guiará nossos

soldados brasileiros, e o triunfo militar que os Macabeus conquistaram sobre os exércitos

gregos será também aqui reproduzido. Soldados do Brasil, valentes como foram os

Macabeus, saberão defender a Pátria se um dia for preciso, reproduzindo o milagre da

Festa das Luzes, a vitória sobre a escuridão, de poucos sobre muitos, da coragem sobre os

poderosos.

Divulgar o milagre desta festa, acendendo suas velas para todos, é reafirmar um ideal

libertário desejado para todos os povos: um mundo melhor, onde as pessoas, iluminadas

por um candelabro com velas inspiradoras, saberão que se trata de uma comemoração de

homens livres de pensamento e de atitude.

Em meados de dezembro, seja no Brasil ou pelo mundo afora, não será difícil deparar-se

com um candelabro iluminado em alguma praça. Ele representa um desejo sincero dos

judeus: de que a benção da Festa das Luzes, a benção da liberdade, a benção daqueles

soldados valentes de Matatiáu, que com seus cinco filhos hoje repousa na mesma Modiin

bíblica onde nasceram, acompanhe toda a Humanidade, e especialmente nossa gente

brasileira.

ETERNIDADE JUDAICA: UM AVÔ, UM NETINHO, UMA FESTINHA

Vovô chegou bem cedo para a festinha na escola, sexta de manha véspera do Shabbat,

tomando assento na última fila. Mal podia ver o palco, tantas eram as mamães e papais na

sua frente, empenhadas em obter os melhores ângulos para inesquecíveis momentos

fotográficos.

De repente, uma brechinha na multidão permite divisar o netinho ao longe no fundo do

salão, com as professoras. O menino sorri, parece ter reconhecido o vovô, embora ainda

tenha apenas pouco mais de um aninho. Com efeito, já havia murmurado algo parecido com

vovô...

Quanto custou chegar até este dia... desde os idos de 1900 e poucos, quando outros

meninos como este foram levados pela mão da vovó, para iniciar seus estudos com o Rebe

[23] no Heder [24], a escola judaica da época. Mais uns anos e aqueles meninos chegariam

ao Brasil. Se lhes dissessem, não acreditariam. Sua existência neste Vale de Lágrimas seria

plena de lutas, sofrimentos, alegrias, mas coroada de realizações.

E hoje ali estão aquelas criancinhas, terceira e quartas gerações dos imigrantes que aqui

chegaram, não desejando que jamais lhes atirassem despudoradamente a pecha secular ...

Jude ... Zyd ... [25] nunca mais iriam ouvir isso, nesta Terra Abençoada.

Vovô já antecipava há dias as alegrias da festinha. Aos poucos seus olhos vão se semicerrando,

sob a algazarra das crianças e os acordes do piano tocado pela morá [26],

transformando-se em ruído branco cada vez mais distante.

Um sonho se materializa em sua mente. Parece ver-se ele mesmo em outra festinha

assim, de avental branco cercado por outras crianças. Reconhece algumas, uns se tornaram


grandes médicos, engenheiros, outros não tiveram tanta sorte. Para alguns a vida sorriu,

para outros o destino foi cruel.

Lamentavelmente dois amiguinhos iriam se perder na Floresta da Tijuca, outro acidentado

em um desastre.

Muitos já não estão mais aqui, mas todos invariavelmente honraram a nova Pátria, que

acolheu seus pais e avós, tornando-se bons brasileiros, cidadãos úteis a sociedade.

O sonho é muito vívido, parece estar de verdade outra vez na antiga escola do subúrbio,

israelita-brasileira, dedicada a famoso escritor judeu.

A figura do Lerer aparece, risonha. Como gostava dos alunos ... era um verdadeiro Janusz

Korczak em sua infinita dedicação. E as professoras, já senhoras de idade - certa vez uma

delas tomou em sua própria boca a mão machucada de uma criança, como uma leoa que

lambe a sua cria. Antigos mestres, renascem nas preciosas educadoras de hoje, verdadeiras

heroínas bíblicas.

No sonho, o Lerer toca violino, tirando das cordas do instrumento sons alegres de

tradicional música judaica. Apenas uns 10 anos haviam transcorrido do final da guerra, e

do inominável Holocausto. Mas era preciso prosseguir. Das sombras do passado emergiria

uma nova geração, realizando a promessa de D'us no sonho de Jacó.

A festinha vai terminando, a música aumenta. O sonho parecia tão real ...

O avô admira embevecido o netinho, parece ver nele um pouco dos antepassados que

certamente estão lá no alto, nos Ganei Éden [27], apreciando tudo. Estarão mesmo ???

Nessas horas, quando a música judaica das festas infantis chega lá nos céus, o Todo

Poderoso autoriza almas escolhidas a retornarem por alguns momentos. Apenas os mais

sensitivos conseguem divisar seus vultos furtivos, confundindo-se entre os presentes.

Vieram também assistir a festinha. Não foram convidados mas ali estão, vestindo roupas de

outras épocas; em meio aos jovens papais e mamães se misturam, um momento atrás não

estavam ali, de repente se materializam, contemplando as criancinhas.

A festinha vai terminando... muitos sorrisos, o contentamento de todos, a vibração

eletrizando o éter, fazendo sonhar outra vez as almas.

Não fica bem para um avô chorar, mas furtivamente ele enxuga uma lágrima. Ah se pudesse

ficar... mas seu tempo se esgotou. Foram apenas alguns instantes concedidos ao vovô pelo

Grande Arquiteto do Universo, nesta manhã tão especial.

Por um último momento antes de retornar admira orgulhoso seus próprios filhos, netos,

bisnetos, que permanecem seguindo seu exemplo, mantendo para sempre a Eternidade de

Israel.

A Ellis Island Argentina

Através de Ellis Island, a ilha vizinha à Estatua da Liberdade na entrada de Nova Iorque,

milhões de imigrantes chegaram da Europa ao longo das décadas. Foi a era predominante

do vapor como transporte intercontinental.


Com o advento do avião e o fim das grandes imigrações, Ellis Island virou museu. Muitos

países adotaram portos de entrada similares, com as Hospedarias de Imigrantes. Nesses

locais, os recém-chegados tinham que passar pelos controles alfandegários e sanitários.

Alguns desses lugares nas Américas viraram museus da imigração. Entre eles, Hallifax, no

Canadá; a Hospedaria do Brás em São Paulo, onde os imigrantes chegavam de trem após o

desembarque em Santos; e a Hospedaria em Buenos Aires, próximo ao Buque Bus e Puerto

Madero.

Outros pontos ainda aguardam que as autoridades se interessem e se mobilizem pela

transformação, como a antiga Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro, hoje a base

da Tropa de Refôrço dos Fuzileiros Navais.

Interessados pela antiga hospedaria argentina fomos a Buenos Aires. Ao chegarmos fazia

frio. Mas logo veio o calor e numa manhã ensolarada caminhamos de Maipu até a Av.

Antártida Argentina, à procura do que é hoje o Museo de la Inmigración.

Logo chegamos ao Museu. É um grande edifício, bem semelhante aos de Ellis Island, tudo

muito bem conservado. Os galhos desfolhados das árvores dão um aspecto sugestivo

daquela época distante, quando tantos irmãos atravessaram o Atlântico, em busca da

América dos sonhos.

Apreciamos devagar as instalações. As mesas e cadeiras ainda são as mesmas de décadas

atrás, bem como os equipamentos hospitalares, camas, malas. Tudo impressiona pela

amplitude e o pé direito alto, uns 10 ou 15 metros. Tudo é incrivelmente real. Em certo

momento, enquanto estamos envoltos em nossos pensamentos, olhos semicerrados,

alguém surge à distância e se aproxima. A figura parece até um antigo imigrante. Ele vem

ao nosso encontro, saído da porta ao fundo do alojamento. Mas a realidade é mais forte: é

apenas um funcionário da Imigração. O órgão funciona ali mesmo, atendendo a novos

imigrantes, que agora são bolivianos e paraguaios a requerer cédulas e vistos.

Da chegada à saída, um senhor nos atende mui cortesmente, através de duas horas de

impressionante visitação. Não imaginamos por que nos dispensa tratamento tão

respeitoso. Talvez algum sexto sentido lhe fez perceber que ali estava alguém a quem

aquela casa dizia muito. Talvez ele mesmo fosse um filho ou neto de imigrante. Talvez

tantas coisas.

Uma mesa com computadores permite o acesso fácil ao banco de dados abastecido com o

passado. Basta dar um sobrenome e em segundos se recebe uma listagem com todos os

desembarcados ali. É a memória favorecida por abundante informação, protegida do

esquecimento.

Havia uma Blajberg na Argentina, morava em Moiseville. Falecida há mais de 50 anos,

ficaram seus inúmeros descendentes na Argentina. Um deles, Alberto Marcos, que um dia

sonhou com novos rumos, acabou se tornando um dos 1900 judeus desaparecidos durante

o regime militar. Era bisneto de Miriam, portanto 1/8 do sangue dos Blajberg de Ostrowiec

corria nas veias deste jovem. Alberto foi um dos 30 mil que desapareceram nos terríveis

anos entre 1976-1983 [28]

Outro bisneto, Daniel, jornalista e escritor, atuou no El Clarin, e levantou o véu que

encobria um sórdido movimento neo-nazista: escreveu o livro Tacuara, La Primera Guerilla


Urbana Argentina. Em 2009 publicou, em hebraico, o livro Marguerita Serfaty, a Amante

Judia de Musolini.

Assim prossegue o tempo em sua caminhada inexorável, trazendo mais gente e deixando

gente para trás.

Ainda estão para serem escritas fantásticas histórias, de cidades onde floresceu a alma

judaica. De Tanger à Varsóvia, de Moscou a Istambul, cujos descendentes se contam aos

milhões. São as sementes transplantadas além-mar desde antigas e frondosas árvores, que

vicejaram em remotas paragens. Agora, aqui no Brasil e ali na Argentina, são tão brasileiras

quanto qualquer brasileiro, e certamente tão argentinas quanto qualquer argentino.

MEMÓRIAS DE UMA HUPÁ

Sou uma antiga hupá [29]. Durante décadas, à minha sombra, se realizaram tantos

casamentos no Centro Hebraico.

Sob meu pálio de seda, eminentes Rabinos se sucederam, unindo casais que mais tarde

trouxeram seus filhos, estes os netos, que trarão os bisnetos, pelas Leis de Moisés, baixo à

minha cobertura sagrada.

Do alto da bimá [30] cada vez que os portais da sinagoga se abriam para mais uma

cerimônia, sentia que os convidados me olhavam com satisfação, admirando o conjunto

perfeito: eu com o Aron haKodesh [31]. Embora pequena, produzo bela composição visual.

Orgulho-me de ser clássica, simples e discreta, como convém não só para uma hupá, mas

também para as pessoas.

Alguns dos presentes, mais antigos, fechando os olhos, desfilavam como num sonho o seu

próprio casamento, e lá estava eu, a antiga hupá do Centro Hebraico.

Verdade que nem sempre me vejo no lugar de honra dentro do Templo. Em outras festas,

limito-me a observar as rezas da congregação. Nessas, os Rabinos nos contam, que num

passado remoto, alguns membros do povo judeu, no meio do deserto, vacilaram, e sob um

toldo branco, parecido com os que às vezes me substitui nos casamentos em hotéis,

adoraram um bezerro de ouro, pelo que Moshe Rabeinu [32] , ao descer com as Tábuas da

Lei, as destroçou junto com a infame estátua e a lona que a cobria.

Minha presença enriquece as lembranças dos que por aqui passaram e já faço mesmo parte

da tradição judaica, por ser igual a qualquer hupá de todas as sinagogas, o delicado

dourado de Yerushalaim shel Zahav [33] , o mesmo das minhas barras.

Sob meu pálio, o rabino pedirá ao noivo que repita as palavras que durante dois mil anos

nos serviram de alento: Im Yshkacher Yerushalaim, Tishkach Yemeni - se eu te esquecer, ó

Jerusalém, que se esqueça a minha mão direita.

Tantas vezes ouvi o juramento e o barulho do copo se quebrando, fui o centro das atenções,

aparecendo em retratos, eternizada em antigos casamentos.

Já lá se vão anos e anos, quando casais cheios de esperança inauguravam grandes ciclos de

festas que aqui mesmo se realizariam: bar mitzvá, bat mitzvá [34], casamentos. Estarei

sempre aqui, aguardando novas festas, a eterna hupá do Centro Hebraico.


Navegando pelo Guaíba - 1958

No ano que marcou a primeira Copa do Mundo, vencida pelo Brasil na Suécia, um grupo do

Betar do Rio de Janeiro deslocou-se ao Sul para a Machané (acampamento) em Taquari. Era

a reciprocidade pela vinda do grupo gaúcho um ano antes, para acampar em Campo

Grande, na época zona rural do Rio de Janeiro, hoje um bairro como outro qualquer, apenas

distante do centro.

Nos dias atuais, vai-se facilmente para Taquari; um percurso rápido por rodovia - na época

somente possível pelo vapor Porto Alegre. A viagem levava o dia inteiro, a roda d'água

traseira girando lentamente, as fagulhas da chaminé chamuscando as roupas dos

passageiros. Não havia portos, apenas barrancos ao longo da rota onde o vapor encostava

mansamente, levando e deixando passageiros e cargas.

Foi essa a primeira vez que viajamos de avião, do Rio para Porto Alegre; era o famoso

Douglas DC-3, muito utilizado na 2ª. Guerra Mundial. Mais de 50 mil foram construídos e o

nosso da Real Aerovias deve ter sido um deles, sobra do conflito. O avião em terra ficava

inclinado, com o nariz levantado e a cauda apoiada na bequilha, bem próxima ao solo. O

teto era baixo, obrigando a andar pelo corredor quase agachado, como se estivesse subindo

uma ladeira. Levava uns 20 passageiros, não havendo nenhuma barreira entre estes e a

cabine de comando, o que permitia acompanhar as manobras e conversas dos pilotos.

Servia-se lauto almoço - uma caixa de papelão com meio-frango assado, pão, saladas, etc. Ir

ao banheiro era uma experiência peculiar, dada as dimensões do compartimento e seu

tênue isolamento.

Conhecemos Porto Alegre ainda com bondes, travando contato com a Pepsi-Cola,

exclusividade gaúcha que não havia no Rio. Tomamos banho em Ipanema; o Guaíba ainda

não conhecia a Borregaard, Polo Petroquímico e outras novidades trazidas pelo assim

chamado progresso.

O Betar gaúcho era poderoso, talvez maior que o carioca. Ainda assim eles demonstravam

grande curiosidade, como se tivéssemos vindo de uma planeta distante, a cidade grande

das praias, Copacabana, Pão de Açúcar, Corcovado...

Taquari era muito diferente de hoje, havia muitos descampados, sangas onde tomávamos

banho, carros de boi. Nada de água encanada, esgotos, tudo muito simples e artesanal.

Consta que um pai havia cedido seu sitio para os jovens,com uma pequena casa em torno

da qual montamos as barracas e erguemos um mastro, onde havia formaturas diárias pela

manhã e à noite.

Um álbum com pequenas e tremidas fotos preto & branco, tiradas na nossa máquina

caixote DFV, ficou como recordação daqueles tempos que não voltam mais.

O retorno foi demorado, uns três dias por via ferroviária, com algumas mudanças de trem

pelo caminho, ao som do samba e batucadas.

Até hoje recordamos fisionomias jovens, perdidas no passado, que certamente jamais

reconheceríamos hoje, em hipotético encontro. Somente os nomes ficaram e vez por outra

aparecem em algum jornal, identificando famoso médico ou um presidente de banco, mas

também se revela o outro lado da vida, com a notícia de alguém que faleceu


prematuramente, outro a quem o destino não sorriu mas, certamente, todos guardando até

hoje aquela lembrança inesquecível, dos tempos mágicos de Taquari ...

BORREGAARD - Quando a fábrica de celulose Borregaard se instalou no Rio Grande do Sul,

quase quarenta anos atrás, sem o pressentir, solidificou um dos mais combativos movimentos

de resistência ecologista que o Brasil já conheceu, e inaugurou um inédito processo de revisão

de métodos produtivos. Ao entrar em operação, a Borregaard, de capital norueguês, em pouco

tempo tornou-se uma espécie de “inimigo público número um”. O discurso desenvolvimentista

da época chegava ao ponto de fazer com que ministros de Estado brasileiros, ao convidar

investidores, proclamassem: “venham poluir aqui”. Os noruegueses da Borregaard levaram o

convite tão ao pé da letra que não destinaram um único centavo a equipamentos

antipoluição. Assim que a Borregaard entrou em operação, em março de 1972, a cidade de

Porto Alegre foi tomada por um insuportável cheiro de repolho azedo. Levantou-se tamanho

clamor público que a imprensa nem teria como deixar de repercutir. “Eles vieram para cá

achando que estavam indo para o fim do mundo, e esse foi o seu grande erro”, constataria o

professor Flávio Lewgoy, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, químico e geneticista

que aderiu à AGAPAN. (Lilian Dreyer)

NATAL: UMA COMUNIDADE SINGULAR

Em 1984, o casal de historiadores Egon e Frieda Wolff lançou um livro sobre a Comunidade

Judaica de Natal. Com a vinda de imigrantes judeus, a partir de 1920 teve escola, sinagoga,

cemitério, atingindo o apogeu na época da segunda guerra mundial, quando Natal foi o

Trampolim da Vitória, até que ao final da década de 60 chega o ocaso. A geração de

imigrantes já não estava mais aqui, outros se transferiram para Salvador e Rio de Janeiro, a

sinagoga foi fechada, o cemitério caindo em desuso.

Mas estava escrito que a Estrela de David não haveria de deixar Natal .... com efeito, na

sexta-feira à noite, pedi ao taxista que me levasse à Rua General Varela. Com alguma

dificuldade, achamos a antiga rua dos judeus, próxima ao Colégio da Imaculada Conceição,

onde eles tinham suas lojas e residências e a antiga sinagoga, que não mais existe. Não

havia ninguém, nem carros passando pelas ruas escuras. Apenas uma pequena casinha com

as luzes acesas e janelas fechadas. Fiquei por algum tempo estático, diante do prédio

branco, modesto, com uma estrela de David no alto. Uma brisa vinda do rio Potengi me

encontra sozinho, perdido no silêncio daquela ruela escura e estreita, onde há varias

décadas efervescia a vida da cidade de Natal Judaica. Imagino-me retornando aquele

passado distante da segunda guerra mundial ... A qualquer momento algum judeu poderia

sair de uma daquelas esquinas, quem sabe a figura serena do Capelão Militar americano

Rabino Shaftei Baum, acompanhado de marines e aviadores judeus, todos envergando

orgulhosos a farda caqui para o serviço religioso; ou quem sabe, um dos Palatnik, que

piedosamente construíra a sinagoga....

Logo desperto das divagações, e bato à porta. Cerca de 15 fieis assistem ao serviço. A

maioria são anussim (retornados), cujo judaísmo latente despertou após anos, quem sabe

séculos adormecido nos desvãos da história. Mas a pátina do tempo não foi suficiente para

apagar a chama. E aqui estou eu, testemunhando a Eternidade de Israel. As perseguições,


as fogueiras, a intolerância da Inquisição não conseguiram evitar que a tradição florescesse,

mesmo dissimulada através dos séculos. As orações são conduzidas por um jovem cantor e

o eminente Rabino João F. Dias Medeiros, de Acari do Seridó, com quase 80 anos, que faz

sua prédica, como um daqueles descendentes de cristãos-novos, descobrindo o judaísmo de

seus avós portugueses, como nos conta em seu emocionante livro Nos Passos do Retorno

(Natal, 2005).

Ao final todos entoam as mesmas conhecidas canções e se despedem conforme as

tradições. Pedem que não fiquemos pelas imediações, assim a partida é rápida, e logo a

sinagoga está fechada, luzes apagadas, tudo discretamente, parecendo emular o passado,

mantendo em segredo as práticas religiosas.

Assim, Natal continua sendo a mesma Comunidade Singular que o Casal Wolff descreveu.

Os que partiram continuam dando a mesma contribuição ao Brasil dos que ficaram, para

o progresso do Brasil, pois o Nordeste foi uma terra de cristãos-novos, onde estabeleceram

engenhos de cana de açúcar. Com o tempo foram se transformando em cristãos velhos, para

poderem ser aceitos na sociedade. Alguns viravam até padres e construíram capelas.

Até hoje descendentes remotos acendem velas sexta-feira à noite, ignorando que se trata

do ritual judaico da chegada do Shabbat (sábado - dia do descanso). Muitas famílias

herdaram este costume de antepassados imemoriais sem saber o real significado, algo

como uma simpatia da vovó... E reza uma lenda que os rabinos cabalistas formavam nomes

utilizando letras da palavra Israel: Linhares, Salgueiro e outras ....

Andando pelas ruas olhava os rostos dos natalenses, revelando o amálgama em que se

constitui o povo brasileiro, resultado da junção ao longo dos séculos dos índios e tantos

outros imigrantes, identificando em alguns dos passantes os traços dos guerreiros

potiguares; em outros, dos negros que ajudaram a fazer deste país uma grande nação e sem

dúvida em tantos os antigos traços judaicos sefaradim (Sefarad = Espanha em hebraico).

Certamente nas veias de muitos deles corre ainda hoje um infinitésimo de sangue judaico,

do que certamente podem se orgulhar.

Nestes poucos dias manifestou-se uma sensação estranha - já havia estado aqui, não nas

recentes visitas, mas num passado muito mais distante... um lugar que me parecia familiar,

quem sabe ... ?

E assim continuamos nossa jornada, confirmando a profecia de Isaias, tão numerosos

quanto as estrelas no céu, e quanto os grãos de areia do deserto...

YEHIEL DA LUSITÂNIA – O JUDEU QUE RECEBEU A BÊNÇÃO DO CÉU

Foi há 1600 anos. Ainda passariam mais de 10 séculos até que daquela terra partissem as

caravelas que iriam colocar o Brasil no mapa. Agora, em 2012, arqueólogos alemães da

Universidade Friedrich Schiller, de Jena, junto com seus colegas portugueses levantaram a

pátina do tempo que encobria uma placa de mármore com a inscrição Yehiel. Ao que tudo

indica teria sido uma lápide funerária, uma matzeivá hebraica datando no mínimo do final

do século IV da nossa era. Trata-se pois do mais antigo vestígio cultural judaico jamais

encontrado na Península Ibérica.


Os arqueólogos não procuravam coisas judaicas no Algarve. Buscavam alguma inscrição em

latim, quando deram com a lápide ao desenterrar estruturas da vila romana com mais de

cem metros quadrados, que teriam sido destinadas ao curral e outras instalações.

A inscrição não está em hebraico. Foi provavelmente escrita em aramaico ou outra língua

semita. Mas não há dúvidas de que se trata da lápide do túmulo de um homem da Judéia. A

inscrição na placa de 40 x 60 cm ainda não foi totalmente decifrada, supondo-se que esteja

escrito Yehiel - o judeu que recebeu a bênção do céu.

Este achado tem uma particularidade absolutamente inédita: em todas as terras de Roma

jamais fora encontrado qualquer outro vestígio judaico numa vila. Quem terá sido

Yehiel? Sabe-se apenas que viveu na província romana da Lusitânia, em suntuosa vila.

Talvez houvesse por ali um cemitério? Talvez fosse um escravo judeu, cujos antepassados

foram arrancados por Tito da Judéia? talvez; ou talvez nunca venhamos a saber!

Mas um dia seus irmãos tiveram que sair. Consta que um grande número de pessoas

daquele povo entre o qual viveu Yehiel resolveu partir. Chegaram a um lugar perdido nas

montanhas da Carinthia, onde hoje é a Áustria. Havia uma mina de chumbo (Blei em

alemão). Por isso a cidade se chamou Bleiberg, ate hoje uma província mineral importante,

rica em diversos elementos. Mais adiante, já adotando o nome Bleiberg, entraram na

Polônia, sob o grande Rei Kaziemirz, isso há quase mil anos, onde se estabeleceram nas

montanhas do paleolítico, na região de Kielce, também uma região mineira, onde há 2

séculos já havia uma usina metalúrgica, na cidade de Ostrowiec. Ali viveu a Família Bajberg,

então com a grafia alemã modificada para o polonês.

Em 1929 um jovem Blajberg imigrou para o Brasil, Avraham Avigdor haLevy Ben

Shlomo. Ele nos deixou em 1994, antes da popularização da Internet. Teria sido difícil

comprovar a historia que contava, transmitida per secula seculorum por tradição oral de

seus pais, avos, bisavós. Mas hoje uma simples consulta ao Google revela que existe sim na

Carinthia, a cidade de Bad Bleiberg, um recanto paradisíaco nas montanhas, como se fora

uma Poços de Caldas, muito procurado por turistas de toda a Europa graças aos seus hotéis

e águas termais, bombeadas de antigas instalações desativadas de uma mina ... de chumbo

!

Yehiel jamais iria saber, mas a benção do céu que lhe foi consagrada faria uma viagem

fantástica de 1600 anos pela Eternidade. Oculta nas profundezas a lápide repousou,

enquanto passavam pela história gregos e romanos, mouros e bárbaros, cossacos e

nazistas, todos apagados da face da terra, até que ela nos foi revelada pelo milagre da

arqueologia. E aquela mesma benção acompanhou a sua gente, da Judéia a Roma, Lusitânia

e Sefarad - da Carinthia a Ostrowiec, vencendo o Holocausto e chegando ao Brasil como

singelo testemunho da Eternidade de Israel !

Agradecimento - Ao ilustre Arqueólogo Marcos Albuquerque, do Laboratório de Arqueologia

da UFPE, por ter encaminhado a notícia da impressionante descoberta da lápide de Yehiel. A

este eminente Professor muito deve a História Judaica, pelos importantes trabalhos que

levaram a revelação ao mundo da primeira Sinagoga das Américas, Kahal Tzur Israel no

Recife.


YITZHAK SHAMIR - Herói de Israel (1916 – 2012)

Yitzhak Shamir, sétimo primeiro-ministro de Israel faleceu em 30 de junho de 2012 aos 96

anos. A história de Israel o recordará como um dos grandes lutadores pela criação do

estado.

Nascido na Rússia em 1935 emigrou para a então Palestina, e logo ingressou nas fileiras do

Irgun Tzvai Leumi [35], a organização chefiada por Menachem Begin que lutava pelo

estabelecimento de um Estado Judeu. Em 1942 substituiu Abraham Stern, comandante do

Grupo Stern, assassinado pelos ocupantes britânicos. Após a explosão do QG das forças

inglesas, o Hotel King David em Jerusalém, foi preso como um dos 35 líderes mais

importantes.

Em 1955 entrou para o Mossad, tendo articulado inúmeras operações ultrassecretas no

Oriente Médio. Em memória dos seus companheiros que tombaram na luta pela criação do

Estado de Israel, os restos mortais dos combatentes do Grupo Stern Eliyahu Hakim e

Eliyahu Beth Tzuri, enforcados no Cairo em 23 de março de 1945 pelo assassinato de Lorde

Moyne, foram transladados do Egito e enterrados com honras militares no Cemitério

Militar do Monte Herzl, tendo sido trocados por 20 terroristas presos em Israel.

Shamir sempre foi duro com os inimigos de Israel: "vamos usar nossa força para esmagar

essas organizações terroristas, seus líderes, seus centros e as suas bases em todos os lugares

onde nosso braço longo alcança. Vamos atingi-los sem piedade, porque decidimos viver “

Em 1983, no 40º aniversário da declaração da rebelião pelo Irgun, na condição de Primeiro

Ministro declarou que “a paz nas fronteiras de Israel será assegurada pela renovação do

nosso antigo e reconhecido espírito de luta”. Falando aos veteranos do Irgun, o chanceler

Shamir declarou Hebron uma cidade judaica libertada, que nunca mais será devolvida.

Em março de 1988 Shamir advertiu líderes judeus americanos, em missão em Israel, que a

crítica por organizações da diáspora judaica das políticas israelenses "faz muito mais mal

do que qualquer manifestação violenta em Gaza e outros lugares”.

Em 1988 reatou relações diplomáticas com a URSS. Neste ano, um integrante do Grupo

Stern revelou que participou em 1948 do assassinato do mediador sueco da ONU, conde

Folke Bernadotte, mas que Shamir não era um dos quatro homens envolvidos. A Suécia

exigiu um pedido de desculpas, tendo Israel se recusado.

Shamir foi um dos Pais da Pátria de Israel, representante das gerações que lutaram

bravamente para realizar o sonho de Theodoro Herzl [36]– “Se quiseres, não será

apenas uma lenda ... “

Que a sua alma siga a corrente da Vida Eterna

PESSACH – A travessia

A vida inteira trabalhou de sol a sol, desde menino no pequeno shtetale [37] , onde ajudava

a mãe a vender herings [38] . Os toneis de peixe eram mais altos que aquela criança miúda,

e Yankale [39] tinha que subir num banquinho para poder retirar a mercadoria.


No final da jornada, voltavam para casa, próximo do Rynek [40], e mesmo antes de

chegar a vizinhança já sabia quem estava vindo, sentindo ao longe o cheiro adocicado de

hering que impregnava as roupas de mãe e filho ...

Os anos passaram. Yankale cresceu, fez bar-mitzvá. Mais alguns anos e logo lhe

arranjaram uma noiva pelo costume da época, numa transação acertada entre os pais dos

dois “pombinhos”; e assim Yankale e Surale [41] se viram casados da noite para o dia, com

menos de vinte anos.

Yankale herdou a loja. Os negócios iam bem, mas as coisas não iriam ficar assim por

muito tempo. Nuvens negras se avizinhavam. Na Alemanha, aquele cujo nome é

impublicável e impronunciável, já avisava para quem quisesse ouvir os seus planos

diabólicos.

Naquela pequena cidade perdida no interior da Polônia o eco desvairado das suas

palavras também iria encontrar ressonância. Mal sabiam os polacos, mas eles mesmos

também pagariam o preço junto com os judeus. Todos, mesmo os que não bebiam

antissemitismo junto com o leite da mãe.

Yankl ouvira falar de um país distante. Um primo afastado, depois de problemas com uma

jovem polaca fora aconselhado a fugir para lá, bem longe. Diziam que era uma terra

prometida, verdadeiro Eldorado, onde o perigo das cobras pelas ruas era mais que

compensado pelas fortunas que se fazia em pouco tempo, bastando ser honesto e

trabalhador.

As arruaças prenunciavam o que estava por vir. Estava mais do que claro que o futuro não

anunciava coisas boas.

Premonitório, Yankl decidiu partir. A esta altura já tinha três filhos. Teve que vender tudo

que tinha para conseguir as passagens, em terceira classe, pois não havia quarta.

Era a semana de Pessach, a Páscoa Judaica. Yankale não era ortodoxo, mas seguia como

podia os preceitos judaicos. Não foi possível adiar a viagem, para que não coincidisse com o

yom-tov [42] .

Mal imaginavam eles que esta seria a última vez, o último Seder [43] que passariam com

seus amados irmãos, tios, primos e sobrinhos, fadados a desaparecer na tragédia do

Holocausto, al Kiddush haShem [44] .

A história contada pelo velho avô, patriarca da família, falava de uma terra distante, onde

o povo hebreu jazia escravizado, até nascer um Moisés, que um dia levaria o povo para a

Terra Prometida.

Para Yankale e sua família era como uma profecia, pois também eles iriam atravessar os

mares em direção a uma nova Terra Prometida, onde os esperava a liberdade. Era a nova

Travessia.

No dia seguinte, tomaram o trem para Varsóvia; de lá para Gdansk, onde um navio inglês

os aguardava para seguir ao Brasil.

Mas apesar de tudo o futuro iria sorrir para aquela gente, com o coração cheio de

esperança. Ao atravessar a entrada da barra, na Baia da Guanabara, só de olhar a paisagem

já gostaram daquela terra, e entre lágrimas de saudade da família distante, prometiam a

D’us e a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a nova pátria lhes


depositava, tudo fazendo para serem bons brasileiros, criando os filhos, trabalhando e

estudando por um Brasil melhor.

Yankale já se foi deste mundo, deixando aqui bisnetos, a quarta geração verde-e-amarela,

que sempre lhe perguntavam, vovô, porque você veio para o Brasil? Ah meu netinho, você

nem queira saber, foi D’eus que me trouxe aqui p'ra essa terra ...

A SINAGOGA QUE RENASCEU

Muitos dos que lotam o salão de rezas são descendentes daqueles pioneiros que, com

sacrifício e desprendimento nos legaram a pequena grande sinagoga, dos quais alguns

nomes podemos ver inscritos nas placas que adornam as paredes e nos antigos retratos de

abnegados dirigentes.

Quase um século, marca fantástica que poucas instituições atingem dentro ou fora da

comunidade. Como no antigo Egito dos faraós, aos tempos iniciais, quando foi uma atuante

instituição, seguiram-se tempos de vacas magras, em que sua atividade foi extremamente

reduzida, chegando a um ponto em que se duvidava da continuidade.

Poucos frequentadores, dificuldade em formar minian [45] - mesmo no Sábado - tapetes

gastos, paredes descoloridas. Seria o fim?

Triste situação para o endereço que abrigou uma sagrada instituição, que tantos atuantes

correligionários e ativistas formou. Mas por desígnios do Altíssimo e a perseverança de

dedicados ativistas, a situação reverteu, com o impressionante renascimento da sinagoga,

um novo polo judaico, com nossos irmãos comparecendo aos serviços, ou simplesmente

sentando para conversar ou ler um livro.

A sinagoga fervilha de fieis nos grandes feriados. Quem passa pelo local semi oculto,

protegido da rua pela longa escadaria de acesso, nem desconfia da santidade que ali se

abriga, dos prodígios que ali acontecem há décadas.

Foi realmente um quase milagre o que ocorreu naquele local, enquanto o chamado

“progresso” avança pelas bucólicas ruazinhas que ainda restam, terminando com aquela

saudosa calmaria.

Sob a inspiração do quase milagre, estava escrito que apesar das dificuldades, à Sinagoga

caberia um destino glorioso. Almas caridosas um dia em trabalho silencioso realizaram

obra abençoada e salvadora.

Os cânticos viriam mais fortes, ricas entonações de tradicional rito, alegrando as manhãs e

finais de tarde com seu fervor. O alarido das festas voltou. Crianças novamente no pátio.

Recém-pintada de azul e branco, resplandece a sinagoga na manhã bonita, com a alegria de

Simchá Torá [46].

Obra bendita amparando tantos irmãos, a pequena grande sinagoga venceu. Os cordões

invisíveis que unem os corações judaicos trouxeram novamente o povo para diante da

Torá.

Alvas paredes brancas quase santificam este lugar. A festinha das crianças, correndo

alegres. Manhã de domingo radiante, ensolarada. O ciclo das festas, os Dias Temíveis,

Shemini Atzeret [47] , Simchá Torá. Anônimos irmãos continuam o trabalho. Tudo


arrumado novamente. Novos dias virão, a pequena sinagoga aguarda na sua santidade

muitas festas e só alegrias.

As almas dos fundadores deixam por alguns instantes o Jardim do Éden. Contemplando sua

obra se engrandecem, se elevam novamente. Certeza - seus esforços frutificaram, a

Eternidade de Israel será preservada na pequena Sinagoga de .... algum lugar do mundo ...

pois, desde a primeira, nos desvãos perdidos da história, sempre houve e sempre haverá

uma pequena sinagoga, quase perdida, que renasceu ...

RECIFE JUDAICA DA SINAGOGA E DO GALO DA MADRUGADA

A noite será sacra e profana, indo de uma Sinagoga ao frevo no Galo da Madrugada .... um

dia aqui foi Mauritsstadt ... Emoldurada pelo mar e pelos rios, já fazem quase quatro

séculos que os holandeses partiram, após escassos 24 anos fantásticos, que deixaram sua

marca na História do Brasil.

Tudo estaria quase como ha 400 anos atrás na Rua dos Judeus, hoje Rua do Bom Jesus, não

fora os poucos carros que lentamente se esgueiram pela viela estreita. Parece-me que a

qualquer momento algum judeu poderia sair de uma daquelas esquinas, quem sabe a figura

serena do sábio Isaac Aboab da Fonseca, acompanhado de seus alunos, ele que passou a

História como o primeiro Rabino do Brasil; quem sabe David Senior Coronel, ou Abraham

de Mercado, ou Montezinos, ou Atias, ou Jacob Navarro, ou ...

Logo encontro a pequena sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel, a Santa Congregação Rochedo

(Recife) de Israel. Suas portas e paredes servem de mudas testemunhas do quanto pode a

insensibilidade humana. Com a partida dos judeus, ficou perdida através dos séculos, até

José Antônio Gonsalves de Mello, o maior estudioso, de Tempo dos Flamengos, a quem

devemos o resgate do solo sagrado daquela Casa de Orações.

Tangidos pela intolerância, a Gente da Nação, de que falava Gonsalves de Mello, teve que

partir. Mas aqui já haviam formado a primeira unidade militar judaica a entrar em combate

desde a queda do Templo de Salomão no ano 70 DC, quando as legiões romanas

conquistaram Jerusalém e Sion.

Soldados que falavam português, sob a bandeira da Casa de Orange e Nassau, também

lutando pela liberdade, e pelo direito de seguir a Lei de Moisés, e não a religião do

Rei. Legaram ao Brasil a tecnologia dos engenhos, e a crença nos seus valores universais.

Se hoje temos a bioenergia verde do álcool, a eles não pouco devemos.

Mas aquela gente sofrida a final venceu, eis que a Inquisição desapareceu na poeira dos

tempos. E aqui estamos novamente. Decorridos séculos, continuamos poucos, mas

orgulhosos, muito orgulhosos de pertencer à Nação Brasileira.

Antes de entrar, cubro respeitosamente a cabeça. Afinal, estou entrando um recinto

sagrado, ainda que os Rolos da Lei tenham sido removidos dali há séculos. Transformada

em Museu, a sinagoga embora pequena revela-se majestosa em sua simplicidade e

impressionante capital simbólico, herança de uma época incrível quando judeus

conviveram lado a lado com os calvinistas, sem medo da Sancta Inquisição ou das visitações

do Santo Oficio.


Aos grandes comerciantes, esteios da Cia. das Índias Ocidentais, o Mestre de Campo

General Francisco Barreto de Menezes, apenas como favor se lhes permite receber dívidas,

levar algum outro e prata, o que fora proibido ao povo em geral.

Entretanto, as súplicas não foram em vão... elevando-se ao firmamento, durante séculos

ressoaram pelos buracos negros do Universo, até que um dia encontraram bons ouvidos ...

Aqueles judeus de Recife nunca imaginaram... mas um dia em terras brasileiras haveria

governantes justos e humanos e, aos 18 de março de 2002, Fernando Henrique Cardoso

adentraria à pequena sinagoga para inaugurá-la novamente, seguido anos depois por Lula e

Dilma, a escutar no salão as mesmas rezas, as mesmas inscrições reproduzidas, como que a

simbolizar a continuidade judaica. Para um povo que há milênios espera a chegada do

Messias da Casa de David, 400 anos não significaram tanto assim. Apenas seis meses depois

do tenebroso 11 de setembro de 2001, ocorrido naquela Nova Amsterdam para onde

seguiram 23 judeus do Recife, lá reconstruindo sua sinagoga, onde até hoje se ouvem as

mesmas rezas no rito português sefaradi.

A sua busca por um lugar onde pudessem acreditar em seu D´us, sem ter que prestar contas

ao Rei, em que a vida sexual não fosse pecado, em que praticassem sua religião livremente,

os levaram a um Novo Mundo, e assim muito ajudando a lançar as bases da nossa sociedade

civilizada.

A Humanidade tanto deve aos que percorrendo seus caminhos partiram de Mauritsstadt

sem saber que um dia seus descendentes desempenhariam papel tão importante nos

negócios, nas artes, na cultura, nas ciências, e que a final haveriam de retornar ao Brasil

novamente, contribuindo no sentido de fazer deste país uma grande nação, onde nas veias

de tantos de seus filhos ainda corre um infinitésimo do sangue de remoto antepassado

cristão-novo. E que podem se orgulhar disso.

TER UM VIZINHO JUDEU

Seria o antissemitismo uma realidade nesta terra? Ou apenas uma falsa imagem

estereotipada enraizada no inconsciente imaginário do povão? Herança triste de um

passado colonial, ou mesmo nem tão remoto assim, que produziu conceitos deturpados

como o verbete “judeu” dos dicionários.

Certamente aqui chegamos a bordo das caravelas de Cabral. Viemos buscando um novo

mundo, onde ninguém fosse obrigado a acompanhar a religião do Rei, onde pudéssemos

seguir os Dez Mandamentos, a Lei de Moisés. Foi enorme a contribuição judaica aos 500

anos do Brasil, esta gente que secretamente comia carne na Semana Santa e não ia à missa.

Vimos passar a Babilônia, Grécia e Roma. As fogueiras da Inquisição e a Alemanha nazista.

Ainda que alguns dos nossos tivessem sido encantados pelo Bezerro de Ouro, resistimos e

não renegamos a fé no Todo Poderoso.


Odiados por uns, amados por outros, geralmente concordam que somos o povo do livro.

Para os evangélicos somos o povo eleito. Para os socialistas, somos capitalistas. Para os

capitalistas, comunistas.

Há banqueiros como Rotschild e Safra mas, também há mendigos. Se por um lado da nossa

gente vieram Rosa Luxemburgo e Trotsky, de outro saíram poderosos industriais

renomados no século XX.

Nas cidadezinhas da Europa Oriental, da África Setentrional, do Líbano ou da Síria, éramos

sapateiros, carregadores de água, alfaiates ou artesãos. Mas da nossa gente procedem

Einstein e dezenas de Prêmios Nobel.

Na verdade somos feitos de carne e osso como qualquer ser humano, somos altos e baixos,

gordos e magros, pretos e brancos, ateus e ortodoxos. Também torcemos pelo Flamengo,

Vasco, Corinthians, pulamos o carnaval. Pouco nos importa quem seja nosso vizinho,

convivemos com eles de bom grado.

O Todo Poderoso nos criou para sermos tão numerosos quanto os grãos de areia do deserto

e as estrelas no firmamento; se nós judeus somos tão poucos, deve-se ao fato de tantos dos

nossos terem perecido devido às inúmeras perseguições, a Inquisição e o Holocausto.

Já em tempos imemoriais nossos sábios ensinavam a lavar as mãos antes das refeições;

assim, na Idade Média a peste negra nos poupou , daí terem nos acusado de tê-la causado,

só por que éramos higiênicos. Hoje já não nos perseguem com fogueiras e sim usam a

Internet.

A fé mosaica era professada pelo primeiro poeta nacional, Antônio José de Oliveira, o

Judeu. Fernando de Noronha foi um judeu, o primeiro português a quem D. Manuel deu um

título de donatário, pioneiro na extração de madeira. Outro judeu, Garcia da Horta, foi

médico de Martim Afonso, Governador das Índias. Antônio Raposo Tavares, o bandeirante

Caçador de Esmeraldas, era cristão-novo e teve a madrasta presa pelo Santo Ofício. Os

jesuítas quiseram entregá-lo a Inquisição, mas ele os rechaçou e os fez saber que avançava

em nome da Lei de Moisés.

Ainda está para ser escrita a história dos cristãos novos que vieram por livre vontade a um

Brasil para donde El Rey mandava os criminosos de Portugal. Nos 500 anos, esqueceram

deles, mais que dos índios e dos negros. Um dia nossos historiadores farão justiça aos que

povoaram esta terra.

Assim, sendo tudo isso verdade, seria bem possível que muitos jamais poderão ficar longe

de judeus. Sim, pois o sangue judaico daqueles cristãos novos que produziram parte da

nossa nacionalidade, terá permeado gerações e gerações e hoje flui, ainda que repartido em

proporções microscópicas, em suas próprias veias... a herança do DNA... irrenunciável ...

mas cada brasileiro pode se orgulhar disso, e até gostar de ter um vizinho judeu.

DOS PORTÕES DE BUCHENWALD BELO HORIZONTE HAVERIA DE

BRILHAR

27 de Janeiro – Dia Internacional em Memória das Vítimas do

Holocausto - ONU


4 de abril de 1945: “ … vultos na porta do bloco… soldados com metralhadoras… estamos

imundos da lama de 8 anos de campos… na lapela de um brilha uma cruz, na do outro um

castiçal … ficamos perturbados vendo o capelão católico e o rabino militar chorando … quem

são vocês? ... Somos judeus… quantos anos tem? ... 16… o rabino levantou os braços para o

céu, voz forte cheia de dor – Óh Grande D´us! Tenha piedade dessa gente! Tenha piedade

dessas pobres crianças judias!….”

Assim termina o livro do sobrevivente do Holocausto Joseph Nichthauser, Quero viver …

memoria de um ex-morto. Do outro lado do mundo, décadas a frente, seria acolhido em

um peito de aço, onde palpita um coração de ouro, as Minas Gerais de que falava o poeta.

Tão perto, tão longe. Internado há algum tempo na UTI, deixou este mundo à chegada de

Shabat hamalká [48]. Era Sucot [49] de 5771 – ano 2010 da Era Comum, em Belo

Horizonte.

O livro de Joseph é apresentado pelo engenheiro mineiro Marcos Moretzsohn Renault

Coelho, descendente de David Moretzsohn Campista (1863-1911), o Ministro da Fazenda

que não pôde se candidatar a Presidente da República por ser judeu. Uma rua carioca de

Botafogo leva o seu nome.

A invasão da Polônia é vista pelos olhos de um menino de 10 anos, partindo de sua cidade

com a família em uma charrete em setembro de 1939, tentando alcançar a Cracóvia em

meio às tropas polonesas que debandavam frente ao avanço alemão. Aos poucos a família

vai sendo separada, até que restam apenas Joseph e seu irmão Dawid. Passando por vários

campos, cinco dias antes da libertação de Buchenwald pela 87th Infantry Division, III USA

Army, Dawid foi fuzilado por um cruel SS.

Os livros são um libelo contra a crueldade humana, mas também testemunho do quanto

pode o ser humano, mesmo nas condições mais inóspitas, submetidos a trabalho escravo

infantil, sem alimentação, sobrevivendo e reconstruindo sua vida, primeiro na França, onde

reencontra por milagre sua irmã Fela, depois imigrando para o Brasil, radicando-se em

Belo Horizonte. Foi um grande colaborador do Exército Brasileiro, de quem recebeu

inúmeras homenagens.

Desde a liquidação do gueto da sua cidade, Joseph e David sobreviveram a 8 campos.

Escravos infantis do III Reich, de poderosos trustes como IG Farben, Bayer, Krupp,

escaparam sistematicamente das seleções, trabalhos extenuantes na fábrica de gasolina

sintética para a Luftwaffe, sujeito ao constante bombardeio da aviação aliada. Rezando para

que os trens não chegassem ao destino. Sabotagem punida com a morte. Maldades dos

kapos [50] e SS. Mortes por gás, experiências, esgotamento, fuzilamento, enforcamento,

torturas. Sempre juntos.

Conheceu o ódio racial de nazistas e poloneses, envergonhou-se de ver até correligionários

ajudando nazistas (kapos - policiais judeus).

Mas constatou dignidade e honra na pessoa humana, mesmo em meio a terríveis provações.

Conheceu bons polacos, até bons alemães. Eles existiram. Nas pessoas do irmão Dawid e

adultos caridosos, viu tirarem o pão da boca para mitigar a fome da criança que sofria.


Josef e seus irmãos eram do Betar, que alertava os judeus do perigo que corriam. Muitos se

salvaram, foram para a Palestina, outros resistiram de armas na mão, quando já não foi

mais possível escapar. Seu líder e criador, Jabotinski, faleceu em 1940, quando mais se

precisava da sua liderança firme, do poder de suas ideias e sua palavra. Não fora isso,

certamente, o terrível holocausto, que se abateu sobre um povo, não teria tido tão funestas

consequências.

Seus sucessores, Menachem Beguin, comandante supremo do Irgun, Abraham Stern,

comandante do LEHI [51] , e mais recentemente Ariel Sharon e Benjamin Netanyahu,

deram aos judeus e ao mundo uma grande contribuição, sempre tendo em mente as

palavras do Hino do Irgun [52] : “bedam vaesh, Yudá nafal... bedam vaesh, Yehudá takum,

takum ...”.

A paz com os vizinhos só foi possível quando Beguin se tornou Primeiro Ministro do Estado

de Israel. Que o sacrifício de tantos milhões de inocentes não tenha sido em vão.

SHAINDALE [53] – A ÚLTIMA IMIGRANTE

Ostrowiec era uma cidade judaica. Tudo parava no Yom Kippur [54]. Década de 30, tempos

difíceis, os Rubinsztajn não viam mais alternativas para continuar lutando na Polônia

sofrida e gelada contra a escassez de oportunidades, o numerus clausus [55] e pior de tudo,

a face horrível do preconceito arraigado numa terra que um dia haveria de dar um Papa

para o mundo. Não imaginavam eles que um dia este mesmo santo homem, Karol Wojtyla,

nascido na vizinha Cracóvia, iria pedir perdão em nome da Igreja pelos desatinos

cometidos em quase dois mil anos, e colocaria uma mensagem na Muralha Ocidental do

Templo de Salomão.

Aron, pai de Shaindale, ouviu falar de um país distante, povo gentil, hospitaleiro, sem

preconceitos, onde jamais haveriam de ouvir o epíteto Zyd (judeu). E para lá se transferiu.

Com muito trabalho fez economias, conseguindo afinal enviar fundos para que a esposa e

os quatro filhos também pudessem partir. Em 1934 a mãe de Shaindale, Hawa Laia desfezse

de tudo para embarcar. Porém, à última hora a jovem Shaindale de 14 anos não obteve o

visto de entrada. Uma doença ocular na época considerada contagiosa a desqualificava para

imigração. Pensaram em desistir da viagem, mas Shaindale não quis que a família perdesse

a chance. Uma família amiga a acolheu, e ela ficou sozinha trabalhando durante cinco anos

para se sustentar.

Com o tempo a doença regrediu, e em 1939 Shaindale finalmente embarcou, incorporandose

à família na Praça XI judaica da época. Era Shavuot, a Festa das Primícias. Já rufavam

ameaçadoramente os tambores de guerra, que iria estourar dali a três meses. Seguiram-se

décadas de dedicação aos pais, irmãos, depois ao marido, filhos, netos, bisnetos, sobrinhos,

a imagem viva de que falavam os Salmos - raramente haverá uma mulher assim. Aos 90

anos Shaindale devolveu a alma ao Criador, após uma vida exemplar de trabalho e caridade.

Chegou a época da descoberta da sua matzeiva (lápide tumular), no Cemitério Israelita de

Vila Rosaly, ao fundo de estreito vale na Baixada Fluminense, estendendo-se por um talude

levemente inclinado entre a estrada e a linha do trem. Ao canto pungente do Hazan [56],

ecoando pela vastidão do cemitério na oração recordativa dos mortos, vem ao pensamento


os rostos bondosos dos antepassados, cujos retratos guardamos respeitosamente, a fim de

que sempre os possamos recordar. Olhos fechados, momentos reflexivos, um trem da

Central passa martelando os trilhos que margeiam o cemitério - o tac-tac, tac-tac remete a

Treblinka, onde foram brutalmente assassinados os judeus da região de Ostrowiec.

Logo retornamos ao presente, abrindo os olhos ao sol tropical. Sua luminosidade parece

querer ajudar a superar os traumas daquele passado. Recordar nossos entes queridos,

inocentes vítimas do lado negro do Homem, é a melhor homenagem. Felizmente estamos

no Brasil, uma Terra Abençoada. A verdadeira terra prometida que nos recebeu, filhos que

somos da geração do deserto, a vagar por um milênio na Europa sofrida.

Uma das sobrinhas pronuncia emotiva prédica. Na manhã calma de domingo, o casario em

volta permanece adormecido. As elevações recortadas por ruas de terra batida, pontilhadas

de casinhas que circundam o cemitério sugerem os pequeninos shtetales [57]de nossos

antepassados na Polônia distante. Também lá viveram eles em um ambiente humilde, de

gente trabalhadora, perseverante e sofrida, mas orgulhosa de suas tradições, apenas em um

clima frio, com outro idioma.

A cerimônia termina. Shaindale, a última a partir repousa eternamente neste solo sagrado.

Já não está mais aqui ninguém da geração de imigrantes dos Rubinsztajns, mas seus

descendentes, brasileiros natos a trabalhar por este pais já formam a terceira geração,

contribuindo para a sociedade nas artes, na medicina, no comércio, nas ciências

tecnológicas e jurídicas para citar algumas, honrando e se preciso defendendo esta grande

nação.

Segundo o Talmud, enquanto houver pelo menos 36 Justos sobre a face da Terra, o Criador

permitirá que a Humanidade possa continuar existindo. Ninguém sabe quem são, nem eles

mesmos. Um pode ser mestre dedicado, outro um homem do campo, outro ainda um

médico caridoso, ou quem sabe, apenas uma senhora sábia, bondosa, querida ...

TERESÓPOLIS JUDAICA

As famílias não mais embarcam na Estação da Leopoldina para os fins de semana na Serra.

O rodoviarismo da década de 60 acabou com os trens do Interior. A estrada apertada e

cheia de curvas substituiu o trem, transformando um percurso agradável em muitas horas

de engarrafamento pela Rio-Petrópolis, até que nos anos 80 moderna rodovia de pista

dupla foi implantada, e agora com a Linha Vermelha já não se fala mais em “viajar” para

Terê... passou a ser quase um subúrbio do Rio.

O trenzinho chegava na Estação do Alto, Praça Higino da Silveira, onde hoje é a Feirinha.

Tradicional ponto de encontro judaico, rivalizava com os extintos Hotéis Belvedere e

Higino. Ainda existem o Condomínio Higino e o Edifício 6 de Julho, na Reta, mas as calçadas

já não mais fervilham com o burburinho dos nossos pais e avós da geração de imigrantes,

nas animadas conversas em ídiche. As filas começando cedinho na Padaria Teresópolis

também serviam de point para a comunidade, estendendo-se pela calçada em busca do

melhor pão de Terê, que saia quentinho, numa época quase rural, onde sobravam matas

verdejantes e faltavam padarias, supermercados e shoppings. As filas faziam parte da

aventura teresopolitana: uma das mais badaladas era na CTB (depois TELERJ), na Várzea,


de onde se telefonava para o Rio nas cabines. Poucos tinham telefones em casa, não havia

internet nem celulares, muito menos orelhões, que eram raridade; apenas a telefonista do

101, precursor do DDD.

Terê já não é a mesma. A mudança do clima global fez apagarem-se as lareiras; a última loja

especializada fechou há alguns anos. Mesmo na cidade mais alta do estado (1.000 m), às

vezes faz mais calor que no Rio. O preço do desmatamento e da especulação imobiliária

teve que ser pago, e justamente pelos mais pobres. Terê cresceu feito ameba enlouquecida,

estendendo seus tentáculos pelas fraldas das montanhas, as casinhas substituindo a

cobertura vegetal, até que veio a catástrofe. Em 2010 a Natureza se rebelou contra o

descaso, com chuvas torrenciais ceifando vidas de tantos inocentes.

A árvore dos judeus continua frondosa na Pracinha do Alto; só não há mais judeus sentados

à sua sombra, onde suados compristas da feirinha descansam da maratona em busca de

metzies (pechinchas). O tradicional Ernesto, filial do restaurante da Rua do Rosário no

Centro do Rio, que servia salsichões, sopa de ervilha, kassler e eisbein, deu lugar a um

shopping.

A comunidade judaica continua presente, mas dispersou-se. Não se concentra mais ao

longo da Reta, espalhando-se pelos condomínios e sítios distantes na periferia, onde ainda

pode-se encontrar um pouco da paz, do clima e das matas que existiam em abundância no

aglomerado urbano de outrora.

Mas as marcas judaicas permanecem evidentes, e como Povo do Livro legamos a Terê a

Sinagoga Shalom e a Escola Ginda Bloch, onde uma Hanukiá [58] ilumina a pracinha nas

noites de dezembro, com o Dedo de Deus ao longe. Mais adiante o Centro Cultural Bernardo

Monteverde e a Casa de Cultura Adolfo Bloch, duas importantes instituições da Secretaria

de Educação oferecem cursos e atividades artísticas para os teresopolitanos. Já dizia velho

provérbio ídiche... quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas ...

Assim é também em Terê... ontem como hoje seguimos o nosso destino, tementes a D´us e

guardando a nossa fé indestrutível, que resistiu ao faraó, aos gregos, persas e babilônios, e

desafiou as mais poderosas legiões romanas. Enfrentamos e deixamos para trás a “Sancta”

Inquisição e o Holocausto. Seguimos confiantes, animados pela esperança inquebrantável

na vinda do Messias ainda em nosso tempo. Oriundo da Casa de David, cruzará os umbrais

da última porta ainda fechada na Cidade Santa de Jerusalém, ressuscitará os mortos e se

cumprirão as profecias de Yeshayahu (Isaias) : o lobo conviverá com o cordeiro e das

espadas se farão arados.

Amém e Amém.

TERROR NAZISTA NOS MARES BRASILEIROS

Já se passaram 70 anos. Mais um casamento se realizava no Grande Templo Israelita da

Rua Tenente Possolo, no centro do Rio de Janeiro. Familiares e amigos posam para uma

foto em grupo, sem imaginar que na semana seguinte tragédia cruel se abateria sobre eles,

com o pai e o irmão da noiva embarcando para uma viagem sem retorno.


Em 15 de junho de 1942 Hitler ordenou ao Comandante da Kriegsmarine, Almirante Karl

Doenitz, que lançasse uma blitz submarina no litoral brasileiro. Em apenas três dias, entre

15 e 17 de agosto de 1942 foram torpedeados os navios Baependy, Aníbal Benévolo,

Araraquara, Itagiba e Arará; das 824 pessoas a bordo desapareceram no mar 607 patrícios

inocentes, entre passageiros e tripulantes.

No dia 13 de agosto de 1942 às 13h, do armazém 13 do cais do Porto do Rio suspendeu o

Itagiba, levando quatro dos presentes ao casamento de Eta Zylbersztajn e David Szulc: Nute

Faiwel Zylbersztajn, seu filho mais novo Alter Ber e o casal Natalio e Czestava S. Aisenberg,

respectivamente o pai e o irmão da jovem noiva de 16 anos, Eta, e um casal amigo.

Residiam na casa 30 de uma vila com 58 unidades, na antiga Rua Júlio do Carmo, no. 63,

atual Rua Clementino Fraga, a famosa “ídiche avenide” na Praça XI, onde trabalhava com

antiguidades, para o sustento da família. Iria para Recife em busca de novas peças, e levava

o filho para auxiliá-lo. Um casal que também aparece na foto do casamento, Natalio e

Czestava S. Aisenberg os acompanhava.

O Itagiba aproximava-se de Salvador quando o U-507 lançou dois torpedos que partiram ao

meio o navio, afundando rapidamente a 13 milhas do Morro de São Paulo. Eram 10h50m

da manhã de 17 de agosto, uma semana depois do casamento. Dos 181 a bordo houve 145

sobreviventes, que permaneceram no mar até as 14 horas, quando veio em socorro o vapor

Arará, que navegava para Valença. Natalio e a esposa foram recolhidos pelo Arará, tendo

testemunhado sem nada poder fazer o esforço de Alter Ber, jovem de 18 anos, atlético e

bom nadador, mas que foi vencido pelas ondas ao tentar ajudar o pai Nute Faiwel, ficando

os dois entre os 36 desaparecidos do Itagiba. Lamentavelmente a Alemanha Nazista nesse

momento assassinara judeus no Brasil, juntamente com centenas de outros patrícios, numa

versão reduzida do Holocausto, que já vinha ocorrendo na Europa sofrida.

Incrivelmente os nazistas não se comoveram com a sorte dos náufragos! Também o Arará

com as máquinas paradas foi torpedeado logo em seguida, tendo a bordo 15 sobreviventes

que recolhera do Itagiba.

Como por milagre, uma hora depois surgiu o barco de madeira Aragipe, que vinha de Ilhéus

transportando cacau, recolhendo os novos náufragos, alguns tendo escapado dos dois

naufrágios, como foi o caso de Natalio e Czestava e também do então soldado Dálvaro José

de Oliveira, hoje tenente, com 94 anos.

No Aníbal Benévolo desapareceu também um tripulante judeu, o 2º. Comissário Mauricio

José Pinkusfeld, de 18 anos, recém-saído da Escola da Marinha Mercante.

Foi a sua primeira, última e única viagem [59]. A perda foi imensa, uma tragédia. Apenas

quatro dos 154 a bordo salvaram-se.

A triste notícia caiu como uma bomba sobre a população. Imediatamente as ruas foram

tomadas pelo povo, com os estudantes à frente, os “cara-pintadas” da época, exigindo que o

governo revidasse a brutal agressão. Diante do clamor popular, o Presidente Vargas em 31

de agosto de 1942 declara o estado de guerra com a Alemanha e Itália.

Hana não podia acreditar; uma semana após o casamento da filha perdia o marido Nute

Faiwel e o filho Alter Ber. O mundo desabou sobre aquela senhora. Em poucos dias seus

cabelos estavam totalmente brancos e enquanto viveu jamais aceitou a perda, preferindo

acreditar que os entes queridos estivessem em alguma ilha perdida, e que um dia iriam


retornar. Deixou de ir a festas. Nem ao bar-mitzvá dos netos compareceu. Sequer pensou

em receber uma indenização, pois afirmava que dinheiro não os traria de volta.

Sua filha Eta vivia o mesmo drama, que seria agravado três anos depois com a morte do

marido, deixando-a sozinha com o filhinho de dois anos, Izac. Havia perdido o marido

David, o pai Nute Faiwel e o irmão Alter Ber. Até hoje Eta, aos 90 anos, não consegue falar

sobre o acontecido, embora chegue a comentar às vezes que seu pai e irmão teriam

possivelmente se salvado.

A família ficou sem Alter Ber, o provedor que lhe dava sustento, sendo fácil imaginar os

percalços por que teve de passar. Entretanto, os piedosos judeus da Praça XI podiam não

ter recursos, mas herdaram de seus antepassados o espírito inquebrantável de luta, a

religiosidade indestrutível, a honra judaica imemorial. Não se deixaram abater, e mesmo

com dificuldades foram para frente.

A foto do dia do casamento é a prova de que a final eles venceram, pelo trabalho duro e

honesto formaram seus filhos e legaram-nos um exemplo de vida. Observando melhor as

crianças sentadas na frente, se notará que uma delas, neto de Nute Faiwel e sobrinho de

Alter Ber, que chegou ainda a conhecê-los, hoje é um médico dedicado, que preside

importante sinagoga em Copacabana. E outro neto de Nute Faiwel, sobrinho de Alter Ber,

que iria nascer no ano seguinte, 1943, jamais conhecendo avô e tio, viria a ser um

competente arquiteto, de brilhantes ideias, ainda que Eta, sua mãe viúva, não pudesse lhe

comprar os livros para a faculdade, que cursou estudando nas bibliotecas.

Enviando submarinos para torpedear nossos navios mercantes, Hitler empurrou o Brasil

para alinhar-se com as democracias. O ditador nazista havia classificado o Brasil como um

país de mestiços, que poderia lhe fornecer escravos, a exemplo da Polônia e URSS.

Pois este mesmo país enviou para o teatro de operações italiano uma força expedicionária

com 25 mil soldados, façanha ainda hoje respeitável, dos quais 25 eram judeus, vários

condecorados com as mais significativas medalhas.

Por tudo isso, é quase inacreditável que em princípios de 1964, durante viagem de

instrução do Navio Escola Custódio de Mello, quatro Oficiais da Marinha do Brasil, durante

escala em Hamburgo, fizessem “visita de cortesia” ao Almirante Doenitz, responsável por

terríveis atrocidades e crimes de guerra, aquele mesmo que ordenou os ataques ao Brasil.

Doenitz era nazista convicto e antissemita, além de louvar a Hitler como enviado do céu.

Passadas décadas, a Alemanha é uma nação amiga, mas não se pode esquecer. Diante do

Monumento aos Náufragos, no Forte do Imbuhy em Jurujuba, Niterói - RJ, o Exército

recorda os que fizeram sua última viagem para jamais retornar, tendo como túmulo os

mares verdes do Nordeste.

A Comunidade Judaica Brasileira também recordou os 70 Anos da Entrada do Brasil na

Segunda Guerra Mundial, em cinco de agosto de 2012, com a inauguração pelo Ministro da

Defesa, Embaixador Celso Amorim, de uma peça escultórica alusiva, onde figura uma placa

encimada por uma Estrela de David estilizada, no Monumento aos Pracinhas no Rio de

Janeiro.

E assim prosseguimos a nossa caminhada, tementes unicamente a D´us, o Grande Arquiteto

do Universo. Hana e Eta foram lutadoras, sendo mais fortes que a tragédia, verdadeiras

heroínas a se espelhar nas mulheres bíblicas. É, justamente, um exemplo de amor e


dedicação, um orgulho para a comunidade judaica brasileira, uma história que afinal pôde

ser contada, 70 anos depois.

Nute Faiwel e Alter Ber, assim como seus antepassados que não puderam salvar-se na

Europa sofrida, também foram mártires Al Kiddush haShem. Assim como seus irmãos, que

pereceram no Holocausto, jamais tiveram uma matzeivá. Seus túmulos estão nos mares

verdes do Nordeste, mas onde quer que estejam, poderão para sempre se orgulhar de Hana,

Eta e sua descendência.

UMA BLAJBERG NO PAMPA ARGENTINO

Buenos Aires. Velha foto dos anos 40 mostra a doce matriarca em seu longo vestido preto,

abotoado dos pés à cabeça, olhar sereno revelando o carisma das grandes mulheres.

Eliahu Ryba chegou à Argentina em 1912, mas somente em 1925 pode trazer a jovem

esposa Miriam Blajberg, tia-avó que jamais conheci, falecida em 1954. Pesquisas recentes

confirmaram as suposições de que havia uma grande descendência dos Blajberg de

Ostrowiec na Argentina. Miriam era uma das muitas irmãs e irmãos de meu avô Szlama

Szwarcman Blajberg, desaparecido no Holocausto.

O antissemitismo grassava na Rússia Czarista e Polônia. Entre os que tentaram amenizar o

sofrimento de seus irmãos destacou-se o Barão Maurice de Hirsch. Descendente de antiga

família de banqueiros e industriais da Baviera, destacou-se como financista em Bruxelas, e

fez fortuna construindo ferrovias para o então poderoso Império Otomano.

Nas suas andanças pelas obras, constatou como seu povo sofria castigado pelo isolamento e

pela miséria que lhes impunham as autoridades. Os judeus eram pobres, e Hirsch

juntamente com sua esposa Clara de Bischoffsheim tentou minorar esta situação. A perda

do único filho determinou o lançamento de todas as energias e fortuna do casal num dos

esquemas filantrópicos mais extraordinários da história. A Tzedaká [60] passou a ser o

centro de suas vidas. O Barão fundou a Jewish Colonization Agency, que comprava terras

no interior do Brasil e Argentina, pagando as passagens dos judeus que quisessem

transformar-se em agricultores.

Eliahu Ryba poderia ter escolhido Erechim, Santa Maria ou Quatro irmãos, mas por alguma

razão preferiu Moiseville, no Pampa Argentino. Durante um quarto de século desfrutou da

vida rural com que sonhara. Mas o destino lhe foi cruel, e um acidente com um cavalo

acabou com sua vida, deixando Miriam viúva em 1937.

Transtornada, a família deixou Moiseville com sua sinagoga e o cemitério, onde até hoje

repousa Eliahu, indo para Rosário e de lá Buenos Aires.

O Barão e sua esposa Clara salvaram muitos irmãos. Milhares foram trazidos, e sua

descendência hoje se multiplicou. O grande público nem sonha quem são eles. Quanta gente


importante descende daqueles que um dia perambularam de pés descalços, com seus pais e

avós pelo solo poeirento dos Pampas, gaúchos ou argentinos. ... Ministros, médicos,

generais, advogados, escritores, e até revolucionários, como Alberto Marcos, bisneto de

Miriam, lamentavelmente desaparecido em 1976, vitima da ditadura argentina. Os mesmos

sonhos de um mundo melhor, da igualdade entre os povos, que povoaram as mentes de

Rosa Luxemburgo, Leon Trotski, e tantos outros, também foram sonhados ao som de um

tango em Buenos Aires, por alguém que tinha em suas veias 1/8 do sangue dos Blajberg de

Ostrowiec...

Outro bisneto de Miriam, destacado jornalista do El Clarin, levantou o véu que encobria um

sórdido movimento nazista, escrevendo o livro Tacuara - Historia de la Primera Guerilla

Urbana Argentina.

O descortino de Elihau Ryba, que partiu levando apenas a esperança, e de Szlama Blajberg e

sua esposa Hana Mintz, que salvaram do Holocausto seis dos 10 filhos, enviando-os a peso

de ouro para o Brasil, Palestina e América, possibilitou a continuação da saga dos Blajberg.

Somos da tribo de Levy. Num passado remoto, distante antepassado em meio ao deserto

não se deixou iludir pelo bezerro de ouro, aguardando que o Grande Patriarca Moisés

descesse do Monte Sinai trazendo as Tábuas da Lei. Assim, fomos sagrados como Guardiães

do Tabernáculo, tendo a honra da Leitura da Torá nas Sinagogas logo após os descendentes

dos Cohanim [61].

Sob outros sobrenomes, mas com o mesmo descortino e esperança, continuamos a trilhar a

estrada da vida, satisfazendo-nos em ter nosso sustento, poder recordar nosso passado,

esperando do futuro somente alegrias. Somos tementes a D´us, o Grande Arquiteto do

Universo, fieis a Lei de Moisés, e apesar dos nomes às vezes complicados, que se repetem

ad aeternum, honrando a memória de nossos pais e avós, somos tão brasileiros quanto

qualquer brasileiro e, certamente, tão argentinos como qualquer argentino ...

AMAZÔNIA JUDAICA E A REDENÇÃO DA FLORESTA

Novembro de 2013. Mais uma vez retornamos a Manaus. A aeronave lotada de turistas

estrangeiros ultrapassa a Serra dos Órgãos; logo estamos sobre terras mineiras, a Represa

de Três Marias imensa, em seguida as terras cultivadas do Centro Oeste. Já voamos há mais

de duas horas e ainda estamos longe, atestando a imensidão desse Brasil.

Século XVII - Pedro Teixeira, Capitão-Mor do Grão-Pará, explora um rio dominado por

mulheres guerreiras montadas a cavalo, tomando posse das terras em nome do rei de

Portugal.


Após 200 anos, seguidores da Lei de Moisés aportaram na Hiléia Amazônica. Deixavam o

Marrocos sofrido em busca de um futuro onde pudessem exercer livremente sua religião.

Mas não seguiram para o Rio de Janeiro. O futuro do Brasil não estava perto do mar, onde

desde 1500 se estabeleciam os imigrantes mas, como profetizou JK, estava próximo da

floresta, próximo do grande Rio ...

A redenção da Amazônia não é uma tarefa fácil, como não foi para o povo de Israel adentrar

à terra prometida, tendo que deixar para trás a geração do deserto. Assim como na Canaã

dos hebreus, também aqui a conquista se revela árdua. Os sefaradim vindos diretamente do

Marrocos trouxeram sua fé para os mais recônditos interiores da Amazônia, onde até hoje

vivem seus descendentes, com os mesmos sobrenomes, ainda que tantos já desgarrados...

D’us Todo Poderoso, que criou o mundo, colocou aqui uma Terra Prometida para o povo

brasileiro, esta Amazônia de diversidade e riqueza tão abençoada, o verdadeiro solo

sagrado da nação brasileira, rico patrimônio, rios incrivelmente largos e imensa vazão

d´água, biodiversidade, a nossa Canaã, terra aonde o leite e o mel bíblicos vem da

seringueira e do cupuaçu.

Nossa comitiva embarca em dois NaPaFlu (Navio Patrulha Fluvial) da Flotilha do

Amazonas, um leva o nomes do cristão-novo Raposo Tavares (P21) e outro o Pedro

Teixeira (P20).

A tarde é agradável. Durante a navegação entre a Ponte do Rio Negro e o encontro das

águas, até onde a vista alcança, o rio imenso é margeado pela selva verde e

densa. Fechando os olhos por alguns momentos, vem-nos à imaginação a figura serena do

Prof. Samuel Benchimol. Algo sugere que sua alma pudesse, por breves momentos, ter

atravessado o Portal do Paraíso, estando por ali, flutuando entre as nuvens sobre a selva,

onde habitam os espíritos da floresta, que acompanham e protegem os brasileiros e a quem

cumpre defendê-la. Eminente brasileiro, dedicou a vida ao estudo da Amazônia; do Jardim

do Éden protege a Hiléia que tanto amou.

Em sua honra, o Governo instituiu o Prêmio Samuel Benchimol de Desenvolvimento

Sustentável da Amazônia. Era tudo que queria, conservar a mata verde e altaneira.

Visitamos a bela Sinagoga Beth Yaacov / Rabi Meyr, do CIAM - Comitê Israelita do

Amazonas, abrigando uma Torá que remonta a 500 anos, a posição da Bimá ao centro, bicentenária

Comunidade Judaica Amazônica, com o Clube Hebraica, a Escola Rabino Jacob

Azulay e um novo cemitério sendo implantado. Levamos na bagagem o clássico Eretz

Amazônia, do saudoso Prof. Samuel Benchimol, Z"L, que demonstra a valiosa contribuição

judaica para a redenção da floresta e o progresso da região, pelo trabalho duro e honesto

realizado já há mais de 200 anos.

No maravilhoso passeio fluvial do encontro das águas, onde as águas escuras do Rio Negro

encontram as águas barrentas do Solimões, que passa a denominar-se Amazonas, o grupo

fez os tradicionais pedidos, arremessando às águas uma moedinha:


Que a Amazônia Seja

Sempre Brasileira ...

Casamento Judaico

Assistimos cada vez menos a casamentos como este, onde ambos consortes já nasceram

judeus, desmentindo os antissemitas: “são um grupo fechado...não se misturam ...”. O

caminho foi longo e penoso até que aqueles jovens apaixonados pudessem unir-se baixo a

hupá. Seus avós ouviram falar de país distante, onde havia liberdade. Oceanos não foram

obstáculo, como não tinha sido séculos antes aos que aportaram nesta Terra Abençoada,

carregando a pecha de marranos, cristãos-novos.

Nenhum da geração de imigrantes ainda está aqui conosco. Em suas andanças subiram o

Rio Amazonas, Belém, Manaus, Santarém, Macapá, tantas cidadezinhas perdidas no meio

da floresta, sinagogas e cemitérios hoje lentamente recobertos pela floresta. Outros saíram

da Polônia gelada e vagaram pelos interiores remotos, Uberlândia, Juiz de Fora, São

Lourenço, depois atraídos pela cidade grande, para não se perderem.

Hoje, repousam eternamente em Vila Rosaly e Vilar dos Telles. Como manda a tradição, às

vésperas do casamento os pais lá compareceram para, em prece silenciosa, suplicar pela

proteção superior aos noivos. As almas dos que partiram souberam que aqui neste Vale de

Lágrimas recordamos sua abençoada memória, e que estamos agradecidos, porque os

casamentos são combinados nos Céus, como ensina a Torá.

Agora, mais um sonho daquelas almas que se elevaram aos Jardins do Éden está prestes a

se realizar, pairando extasiadas sobre uma verdadeira Catedral judaica. O pai leva a filha

pelo braço ao longo do corredor do Grande Templo Israelita, por onde ele mesmo havia

passado no mesmo dia, há 27 anos passados.

A nave grandiosa do Templo da Tenente Possolo, imponente com seus vitrais coloridos a

mais de 30 metros de altura. Os vibrantes acordes da Marcha Nupcial ressoam pelo salão,

portais de madeira se abrindo, deixando antever a noiva divina, esplendorosa, os

murmúrios dos convidados fazendo justiça ao seu porte majestoso e discreto, superando

em graça e beleza todos os que a antecederam no cortejo, até os pajens, pequenos

sobrinhos, estes donos dos melhores elogios, mas na Categoria Infantil.

Todos olhares se dirigem ao par na entrada do salão. O pai sente as pernas bambas, mal

consegue iniciar a caminhada, um nó na garganta. As luzes e a música o fazem sorrir para

os convidados que admiram a cena. No caminho até o pálio sagrado da hupá, o pai conduz

pela mão sua menina, mas os pensamentos se voltam para o passado, recordando como os

avós se encantavam com os netinhos, nem a todos tendo sido concedida a graça e a

felicidade de vê-los num momento assim, ou mesmo de subir à Torá, ao completar a

maioridade religiosa. Um dia aquela noiva encantadora foi um bebê gordinho, uma bolinha.

Chegou a preocupar. Seria uma criança obesa? O tempo se encarregou de dissipar as

preocupações. Era apenas sinal de boa saúde.


Finalmente, sob a hupá os pais e avó observam embevecidos o casal que sobe e diante dos

Rabinos realiza o ritual das sete voltas, como os sete dias em que o Criador construiu o

Mundo, tendo o noivo pronunciado o Sheechianu [62] , abrigando-se com o talit [63] azul e

branco trazido especialmente de Israel, feito à mão por um artista de Jaffa. O vinho sagrado,

símbolo de alegria, é repartido para as bênçãos, os noivos colocam as alianças,

obrigatoriamente de ouro puro, firmando a ketubá [64]. A predica do Rabino é ouvida

atentamente pelos presentes, logo são entoadas as Sheva Brachot [65] e a Birkat Cohanim

[66]. Um copo é colocado no chão, para a milenar promessa recitada por todo noivo: Im

Ishkacher Yerushalaim, Tishcach Yemini [67], ao que o ruído do copo se quebrando, sinal de

tristeza pela destruição do Templo, determina o inicio da festa com a melodia alegre de

Siman Tov u Mazal Tov [68]

Os noivos adentram o salão, novamente murmúrios elogiosos, de como são tão bonitos e

vistosos, formando belo par. Corta-se o bolo, vem o brinde, a Valsa do Imperador embala os

noivos, depois os pais e todos os convidados com as alegres hoiras[69] , danças e musicas

tradicionais que marcam o casamento judaico como uma das festas mais animadas. Logo

os recém-casados estão suspensos em cadeiras levantadas sobre as cabeças da multidão

aglomerada na pista de dança. As luzes e sons enchem o salão, a festa prossegue até altas

horas, com as arkadot [70] contagiando o público.

O tempo vai passando, a noiva arremessa o bouquet, apenas os mais jovens ainda resistem

animados pela magnífica banda.

Em maus tempos, inimigos dinamitaram nossos templos. Mas não se pode dinamitar

sonhos, nem almas. Por isso estamos ainda aqui, passados os milênios. Que nos

encontremos somente em alegrias. Amém.

A ÁRVORE DOS JUDEUS

Verão de 2011, Teresópolis vazia de luto no Carnaval que não houve. Em meio às barracas

da Feirinha, bela árvore imponente e centenária domina a pracinha do Alto, no vale

emoldurado por elevações elegantemente sinuosas. Antigamente, à sua sombra, muitos e

muitos judeus se reuniam, jogando conversa fora em ídiche nas manhãs de domingo. Hoje

entretanto ninguém mais vem sentar no banco redondo construído à sua volta. Meio

escondida pelas barracas, cada vez em maior quantidade, cordas e toldos a escondem entre

bolsas, casacos e malhas.

Nos bons tempos a pracinha efervescia com a geração de imigrantes misturada aos demais

frequentadores, as criancinhas em seus carrinhos, os que chegavam para almoçar no

Ernesto, ali na esquina. Não havia shopping nem edifícios altos, um ou outro carro

estacionava, apenas casas e a tranquilidade, o canto dos passarinhos.

À sombra daquela arvore multidões desfilaram, até que os imigrantes se foram e ficamos

nós, brasileiros natos já de várias novas e vibrantes gerações. Ao contrário de nossos avós e

bisavós, não mais nos procuramos entre si, buscando notícias de antigos landsman [71],

comentando as novidades, fazendo aqui e ali algum shidech [72].


A comunidade se espalhou pelos bairros e condomínios, acabou o aglomerado judaico no

Hotel Belvedere, há muito desaparecido, extravasando pela porta e se esparramando pela

calçada. Em seu lugar prosaica loja de tintas, não muito longe da sinagoga as vezes semivazia.

Não mais as filas na Padaria Teresópolis, tantas faces conhecidas, carros estacionando

vindo buscar aquele pão quentinho de sabor tão especial não encontrado no Rio.

A cidade bucólica não existe mais. No lugar do antigo Hotel Higino surgiu estranho prédio.

Fechado há muitos anos, já foi bingo e hoje aguarda não se sabe o que para reabrir, talvez

maldito pela sina de ter destruído o antigo casarão que enfeitava a paisagem, substituindoo

por um monstro de concreto que polui a paisagem diante do outro Higino, o Condomínio,

em cujos salões múltiplos bailes alegravam os dias do Carnaval de Purim [73].

A cidadezinha mudou. Teresópolis eclodiu qual ameba enlouquecida, desmatando os

morros, invadindo os bairros cada vez mais densos, numa conurbação doida jamais

imaginada. Prédios imensos conspurcando a paisagem, engarrafamentos. Mini máquina de

moer gente, pequena grande metrópole, afugentando os espíritos que cuidam da Natureza.

Colinas verdejantes viram barrancos, o arvoredo dá lugar a casas e barracos, abrem-se

ruelas, ônibus passando a toda hora. Os riachos secam, águas exalam mau cheiro do esgoto,

os peixinhos se foram, os laguinhos aterrados.

Sentimo-nos perdidos em meio a entulhos, solitários na antiga cidade acolhedora. Não é

mais alegre o jardim, nem há mais jardim, cachoeiras viram filetes de água escorrendo pela

pedra. Manilhas imensas espalhadas anunciam sentenças de morte aos riachos, a serem

canalizados e enterrados definitivamente. Será o fim?

A Natureza se revoltou e veio cobrar seu preço. Tantos inocentes pagaram com a própria

vida pelos crimes ambientais dos outros, erros acumulados, descaso com o futuro.

Mal poderiam aqueles antigos imigrantes imaginar como tudo está tão diferente. O trem

cansado já não arrasta mais o peso dos vagões subindo a serra para outro fim de semana

alegre em Terê. A estação virou ponto de ônibus, os trilhos sumiram no meio do mato,

apenas aflorando em uma ou outra pontezinha coberta de musgo pelo caminho.

Antigas estradas ficaram pequenas e acanhadas, apenas ruas. Ao lado, a imponente Rio-

Teresópolis encurta a distância como se fosse um tapete mágico negro serpenteando pelas

colinas.

Nas noites de maio em Terê o frio da Serra se torna ainda mais intenso. Pouca gente se

aventura pela rua na madrugada encoberta pelo denso nevoeiro e a chuvinha miúda que se

arrasta sem pressa de parar. Quase nenhum carro circula nestas horas, apenas um ou

outro sitiante, acordando cedo para cuidar da plantação, se surpreende com o rastro

luminoso no céu, uma luz espalhando-se por cima das nuvens baixas...

Incrédulos, pensam tratar-se apenas de holofotes de avião, ou reflexo de relâmpagos

distantes... Na carruagem de fogo riscando o espaço, almas judaicas retornam do passado,

se espantando com as luzes brilhando ao longo da Reta... tantos shoppings, edifícios,

ônibus, automóveis ...

Altaneira, a Árvore dos Judeus ainda se destaca na paisagem. Ela pressente lá do alto

aqueles que sentavam a sua volta, ainda a admirando e enviando suas bênçãos. Apenas


suplica que aceitemos de volta os espíritos que cuidam dos elementos... do alto da sua copa

espera paciente que a Humanidade pare para pensar... e que não demore a chegar o dia em

que os peixinhos voltem ao riacho, os sapos e os passarinhos reapareçam, e as criancinhas

possam novamente brincar, correndo em volta do jardim da Pracinha do Alto ...

Imigrantes em Terras Gaúchas

Fazem 100 anos que começou a I Guerra Mundial, modificando o mundo, com o

desaparecimento de quatro impérios, Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano. Samuel

era um daqueles jovens judeus turcos, que sentiu na pele os rigores da guerra, e a

decadência da Turquia. Ainda esperou alguns anos, mas não houve jeito, teve que partir.

Estória comum a muitos imigrantes em busca de futuro melhor às margens do Guaíba,

vislumbrando futuro promissor. Ouvia falar de lugares distantes, uma remota Porto Alegre,

onde se radicara um parente. Acabou por desembarcar sozinho no Rio aos 19 anos, de

onde seguiu de trem para o Sul.

Samuel nasceu na véspera de Pessach , em Izmir. Aos 3 anos, sua avó levou o pequeno

enrolado no Talith para a sinagoga. Naquela época havia mais de trinta na cidade. Lá

chegando distribuiu balas para as crianças e o deixou com o Rabino , que lhe ensinou o alefbet

Anos depois Samuel teve de encarar a face perversa do antissemitismo na escola. A

este tempo desejou ir para a Palestina, mas os ingleses limitavam em muito os

vistos. Vendo que não teria futuro, decidiu-se por sair da terra natal.

Radicou-se no Bom Fim. Frequentava o Centro Hebraico dos sefaradim, onde os

correligionários auxiliavam a se iniciar para trabalhar, mas as condições não eram das

melhores; um dia chegou um amigo que tinha um irmão em Cruz Alta, e oferece-lhe

sociedade, a pequena cidade era muito boa para se viver, o ambiente era outro, tranquilo,

mais se assemelhava ao shtetl distante. A viagem levou 3 dias.

Saia pelas fazendas vendendo. Se nascia uma menina, os fazendeiros costumavam logo

começar a comprar o enxoval, guardando-o no baú, lotes de linho, lençóis, fronhas. No

interior a vida era muito mais sossegada, Samuel arranjara muitas amizades, gostava muito

daquela vida. Não havia tantos judeus assim, mas nos Yom Tovim as famílias se

reuniam, havia um minian, volta e meia um bar-mitzvá , brit-milah [74], as orações dos

Dias Temíveis.

Passarem-se alguns anos. Estava ele hospedado em um dos bons hotéis da cidade, quando

um dia chega um judeu da capital. O dono veio avisar Samuel: chegou um correligionário

seu, de barbicha, uma pessoa muito simples, inteligente, vivido: era um alfaiate, viajara a

negócios. Apresentaram-no, “...o que você está fazendo aí, vai se perder nesse meio, casar

com qualquer uma..., vai se misturar”... ,”tantos anos aqui, ninguém vai saber de você, escuta

meu conselho, volta para Porto Alegre...”. Samuel já tinha 32 anos - retrucou que nunca iria

se casar, muito menos com qualquer uma. “Escuta o meu conselho, Porto Alegre já não é


mais como antes, o seu destino lhe espera”. Assim ele o convenceu, pediu para dar a mão e

prometer que iria voltar.

Samuel voltou e acabou se casando com a filha de um conterrâneo. Constituiu família,

filhos, netos, até que um dia voltou pela derradeira vez da loja. No Cemitério a

matzeivá de Samuel é testemunha de que nunca se descuidou da herança familiar, e dos

ensinamentos do Santo Rabino de Izmir:

Viveu Dignamente

Honrou os Antepassados

Sua lembrança nos guiará para sempre

Paris Esta em Chamas ???

Já ao chegar no hotel, as lembranças de uma França sofrida tornam-se logo evidentes.

Nosso IBIS esta bem ao lado da estação de trem e metrô, a Gare de Montparnasse, onde em

um remoto dia de 1944 o General der Infanterie da Whermacht von Choltitz assinou a

rendição das tropas alemães, diante do General Leclerc de Hauteclocque, recusando a

ordem de Hitler de resistir até o ultimo homem.

Bem atrás da estação está o seu Memorial Marechal Leclerc, o comandante da 2 eme Division

Blindee francesa, que saiu do norte da África para libertar Paris, prosseguindo em seguida

para a Alemanha, onde conquistou Berschtesgaden, o Ninho da Águia de onde o ditador

nazista infelicitou seu pais e o Mundo, de lá trazendo como troféu de guerra a própria

Mercedes de Hitler, hoje exposta no Hotêl des Invalides.

O Musee de l’Armee no Hotêl National des Invalides merece uma detalhada visita. Abriga o

tumulo de Napoleão, e ainda tem a destinação original que lhe deu o Imperador, de hospital

e asilo para os inválidos, hoje cuidando de veteranos de guerras recentes, como no

Afeganistão.

Paris é muito rica em monumentos e placas de todos os tipos e tamanhos. Diante do Hotel

Meurice, o QG do Gen Von Choltitz, há varias em honra dos que ali tombaram, e onde o

General atendeu a famosa chamada telefônica onde Hitler lhe perguntava se Paris já estava

em chamas.

Seu gesto de desafio ao ditador, não aceitando a ordem insana para dinamitar tantos

monumentos históricos onde os explosivos já estavam assentados, lhe valeu uma

homenagem significativa – ao falecer, uma delegação militar francesa compareceu ao seu

funeral.


Um dia dedicamos a Normandia, onde existem nada menos que 37 museus recordando o

Dia-D, que no 6 de junho de 2014 completou 70 anos do desembarque nas praias de

Omaha, Utah, Gold, Juno, Sword.

Chegamos a beira dos penhascos da Pointe du Hoc, escalada por um punhado de Rangers

para explodir as baterias alemãs, e pisamos nas areias onde tantos bravos avançaram de

peito aberto enfrentando o fogo nazista. Consternados, contemplamos o mar de cruzes

brancas e estrelas de David no Cemitério Militar Americano, refletindo sobre a incoerência

das guerras.

No antigo bairro do Marais visitamos o MAHJ – Musee d’art et d’histoire du Judaisme, o

antigo Hotêl de Saint-Aignan da rue du Temple, fechado durante décadas, até que a

prefeitura o reabilitou, tendo sido inaugurado por Jacques Chirac.

Logo ao entrar chama a atenção no pátio a estátua do Capitão Dreyfus com 6 metros de

altura, onde executa a continência com uma espada partida, sem lâmina, apenas com a

empunhadura.

Simboliza a cerimônia de degradação a que foi injustamente submetido pelo Conseil de

Guerre, tendo sua espada quebrada diante da tropa formada. O artista foi muito feliz,

expressando com esta imagem forte como o oficial não se deixou abater, mantendo intacta

sua honra militar

A viagem foi uma verdadeira aula de história. Que a memória do grande Emile Zola e dos

bravos heróis da resistência iluminem a França, nestes momentos difíceis que atravessa.

A SINAGOGA QUE OS NAZISTAS NÃO CONSEGUIRAM

QUEIMAR

Em 1866 a maior sinagoga de Berlin, com 3200 lugares, foi inaugurada na Oranienstrasse.

70 anos mais tarde, as SA – Sturm Abteilung (tropa de assalto) tentaram incendiá-la, na

noite de 9 para 10 de novembro de 1938, que passou à história como a KristallNacht.

Não contavam porém com a coragem de Wilhelm Krutzfeld, o delegado de Polícia do

Distrito 16, que os enfrentou de arma em punho e chamou os bombeiros, embora

estivessem proibidos naquela noite de atender a pedidos de socorro das sinagogas.

Estranhamente nada aconteceu com Krutzfeld. Ele apenas foi chamado a explicar-se no

gabinete do prefeito. Aposentou-se em 1943, tendo falecido em 1953.

Em 1980, o Senado de Berlin determinou que a sua sepultura no Cemitério protestante

fosse transformada em mausoléu, e atribuiu seu nome honrado à Academia de Polícia do

Estado de Schleswig-Holstein.


Esta sinagoga era um prodígio de engenharia na época.

Seus vitrais eram iluminados a gás, conduzido em tubos, que mais tarde passaram a servir

de dutos para fiação elétrica.

O seu magnífico domo dourado resplandecente na distância, inspirado no Alhambra de

Granada, foi projetado por um brilhante engenheiro, que deu seu nome a técnica de cálculo,

passando a ser conhecida como Domo de Schwedler.

Os judeus alemães introduziram o órgão nas sinagogas, e esta tinha um dos maiores da

cidade, acompanhando solenemente cerimônias marcantes, como as realizadas pelo

Reichsbund der Judischer FrontSoldaten, onde o Kadish [75] era entoado em memória dos

bravos soldados alemães de fé judaica.

Tantos combateram na vitória de Sedan em 1895, tantos tombaram na Primeira Guerra

Mundial.

Outras solenidades marcavam a constituição do Império Alemão em 1871; o pesar pelo

assassinato do imperador em 1878, o falecimento do Kaiser Wilhelm I em 1888, os 10 anos

da República em 1929, o falecimento em 1934 do ReichPraesident Von Hindenburg, até que

ocorreu a última cerimônia em 13 de março de 1938, em memória dos mortos na I Guerra.

Todas estão documentadas nas fotos do museu, mostrando os fiéis sem usar kipá, e sim

elegantes cartolas.

Ate março de 1940 ainda se ouviram ressoar os cânticos no belíssimo templo. Salvo da

Noite dos Cristais, não resistiu aos bombardeios de novembro de 1943.

Ate 1958 foi apenas uma ruína no setor comunista, quando foi afinal demolida.

Mas seu destino seria outro. Com a reunificação da Alemanha em 1991 o templo foi

reconstruído e reinaugurado em 1995 como museu, exibindo o mesmo domo em todo seu

esplendor.

Durante escavações, em 1989 foi encontrada entre os escombros a Ner Tamid (Luz Eterna),

que acesa sobre a congregação simbolizava a presença divina.

Ela está hoje no museu, retorcida, assim como foi tirada de baixo do entulho.

A presença judaica novamente pode ser sentida nas ruas. A KaDeWe, tradicional loja de

departamentos, tem folhetos em hebraico.

Bem perto, na estação de trem mais antiga de Berlin, hoje de metrô, uma placa recorda os

trens que saíram dali para os campos de extermínio.


Em transversais da elegante Kurfursterdam, onde os nazistas colocaram nas lojas cartazes

de Kauf nicht bei Juden (não compre dos judeus), viceja a sede da comunidade, e o Beit

Chabad, organização religiosa com filiais em inúmeros países . E ao longo da Unter den

Linden, onde na Universidade de Humboldt Goebbels mandou queimar livros, placas

recordam estes e outros episódios daquela época negra, para nunca serem esquecidos.

Altaneira, a velha-nova sinagoga se destaca na paisagem da Oranienstrasse. Passadas

tantas décadas, seu domo ainda domina o espaço sobre rua.

No seu entorno não foram erguidos prédios que pudessem superá-la em altura ou beleza,

mantendo intato seu capital simbólico.

Pode ser vista de toda a cidade, inclusive do alto do Reichstag, como símbolo da eternidade

de Israel.

O MENINO DE OSTROWIEC QUE VENCEU OS

NAZISTAS

Quando os nazistas entraram em Ostrowiec em 7 de setembro de 1939, Rubin Katz tinha 8

anos.

Havia uma siderúrgica que processava minério da Suécia, ensejando que alguns judeus

fossem poupados para trabalho escravo, o que proporcionou uma sobrevida para a família.

O emocionante livro descreve como o pai salvou Rubin e a irmã Fela, comprando a peso de

ouro documentos e consciências. Já o casal e seus outros filhos amargaram sofrimentos

inimagináveis em horríveis anos de trabalho extenuante em campos da Polônia, Áustria e

Alemanha.

Rubin escreve como observador privilegiado pelas frestas de seus muitos esconderijos, e

como a irmã Fela, transformada na empregada doméstica católica Walerja, o levou para a

capital onde, na pele do menino católico Stefan Wojs, viveu com Fela os dois últimos anos

da guerra escapando de criminosos e extorsionistas polacos e da polícia corrupta, ou

mesmo gente comum sem escrúpulos que denunciava à SS e Gestapo vizinhos judeus

escondidos, em troca de um mero pacote de açúcar.

Mas houve gente como Pani (Senhora) Gozdzialska, que escondeu Rubin com enorme risco

de vida por decência humana e espírito cristão, assumido por dever moral e não pelo pouco

dinheiro que a irmã Fela repassava para simples subsistência. Gente como Bronislawa, que

comprou passagens e acompanhou os dois irmãos na perigosíssima viagem de trem para a

capital. Gente decente, sensível aos que sofriam, fieis aos ensinamentos cristãos ... “amaivos

uns aos outros”.... lamentavelmente uma exceção em meio a um povo paradoxalmente


muito católico, terra do boníssimo santo homem Karol Wojtila. Polônia, cuja Rainha e

padroeira é a Virgem Negra de Czesztochowa, a quem o judeu Rubin, na pele de Stefan,

orava contrito nas missas dominicais, entusiasmando os fiéis com seu extremo fervor

católico...

Por incrível, dois nazistas entram nessa história. O Cabo Ryszard, da Whermacht,

penalizado com o “órfão” Stefan sempre trazia alimentos, sem saber (ou talvez sabendo?)

que havia cinco judeus no esconderijo, que sequer podiam sair a luz do dia, por terem

feições nitidamente judaicas, inclusive uma grávida.

Rubin desconfia que ele pudesse ter sido um Mischlinge, alguém com apenas um dos avós

judeu, que os nazistas toleravam para servir no Exército. Entretanto, esses ¼ judeus jamais

eram condecorados, embora alguns atingissem altos postos, chegando até a generais.

Outro foi um Tenente da SS. Denunciada, Fela foi conduzida pela policia ao QG da Gestapo,

lugar de onde ninguém voltava vivo, hoje museu; o tenente mediu seu rosto e nariz com um

paquímetro, concluindo que ela se encaixava nas medidas de pureza racial... e mandou que

fosse liberada. Até hoje Fela acha que o tenente era um Anjo do Senhor, enviado pelo

Eterno em uniforme nazista para ser o mensageiro da sua salvação.

Com a guerra terminada em 1945 o Rabino Dr. Solomon Schonfeld veio de Londres para

resgatar órfãos judeus que estavam em conventos ou com famílias católicas. Para tanto

fretou um navio sueco que levou 150 crianças para serem adotadas na Inglaterra. Na última

hora um menino faltou, e Rubin embora não fosse órfão acabou embarcando. Aos poucos

reencontrou sua mãe e irmãos, e a vida foi seguindo. Sua mãe faleceu em idade avançada;

entretanto dois irmãos que haviam trabalhado 12 horas por dia, 7 dias por semana na

fabrica de aviões Messerchmidt morreram prematuramente devido à contaminação pelo

alumínio das fuselagens e o amianto utilizado nos freios.

A justiça jamais foi feita a tantos perpetradores destes crimes contra a Humanidade.

Entretanto houve exceções, como o nazista Zwierzyna, comandante do campo de trabalho

de Ostrowiec, de triste memória. Foi acidentalmente reconhecido na rua em Munich pela

mãe de Rubin. Julgado, foi enforcado em Ostrowiec no local exato onde existiu o

ignominioso campo.

Rubin venceu os nazistas, malgrado a enorme perda do pai e seus dois irmãos, e não

esqueceu o que o pai lhe disse em ídiche, ao despedir-se pela última vez no Campo de

Trabalho em Ostrowiec: “Meu filho, jamais esqueça!”

Rubin Katz, 2012

Gone To Pitchipoi: A Boy's Desperate Fight For Survival In Wartime, US$ 29.00

www.academicstudiespress.com


Atriz Portuguesa Rosa da Silva Interpreta Anne

Frank

O Teatro Amsterdam está lotado para mais uma performance de ANNE. Rosa da Silva aos

27 anos é a estrela que interpreta no palco a historia da menina que os nazistas não

deixaram viver. Seu pai é português de Ovar, próximo ao Porto e a mãe holandesa.

Rosa conversa em português perfeito. Sua aparição, figura miúda e expressiva, destacandose

sozinha no palco contra um cenário de 15 metros de altura, vestida com roupagem da

época exibindo a Estrela de David é um verdadeiro libelo.

Para uma revista local declarou sua obra de arte predileta a “Noiva Judaica” de Rembrandt,

e sua estátua predileta o Estivador, localizada ao lado da Sinagoga Portuguesa, um

memorial a greve de 1941, quando os amsterdamenses protestaram contra a deportação

dos judeus para os campos de extermínio. E seu prédio favorito, a mesma Sinagoga

Portuguesa, construída no séc. XVII, bela e impressionante.

No teatro moderníssimo de alta tecnologia, a peça é ambientada em maquete vazada em

tamanho natural da casa onde Anne Frank permaneceu escondida com sua família e

amigos, oito pessoas, das quais apenas seu pai Otto Frank (1889-1990) sobreviveu.

Para tanto, o palco tem um elevado pé direito, e permite a rotação do cenário com a

maquete, bem como projeção de filmes entremeados ao longo da trama. O publico dispõe

de acesso a tradução simultânea em diversos idiomas, inclusive o português, por um tablet

acoplável as poltronas.

A peça gira em torno do sonho de Anne, de viver em um mundo melhor, e de seus planos

para o futuro, descrevendo o dia-a-dia da vida na casa-esconderijo, idealizada por seu pai

Otto Frank na parte posterior do edifício onde se situava sua empresa, um típico prédio de

3 andares às margens de bucólico canal em Amsterdam, onde passariam 2 anos, de 1942 a

1944 até serem denunciados aos ocupantes nazistas, sendo presos e deportados para a

morte nos campos de extermínio .

Os cenários e vídeos em 180º. se sucedem diante do público. Mostram os holandeses

durante a ocupação, a resistência, de repente a visão de uma esquadrilha de aviões nos

remete a George Schteinberg, franco-brasileiro que aos 21 anos teve uma morte gloriosa

frente ao inimigo, em missão de bombardeio sobre a Holanda ocupada. Anne Frank jamais

poderia saber, mas enquanto ela escrevia seu diário, não muito longe dali um brasileiro

tombou pela liberdade.


Inaugurado em fevereiro de 2014, o Amsterdam foi o primeiro teatro construído

especificamente para uma peça. Comporta de 700 a 1100 lugares, tem 15 m de altura, 500

m2 de tela móvel e sistema digital de projeção de vídeo. O complexo abriga estacionamento

e restaurante para 150 pessoas com vista para o rio, tendo acesso também por ciclovia e

barco. Rosa da Silva costuma ir de bicicleta para o teatro.

As criticas internacionais tem sido unânimes quanto a excelência da peça, destacando-se o

Jerusalem Post: a ilusão de estar ali como testemunha do que realmente aconteceu é

sobrenatural – e da CNN.com: peça extraordinária traz à vida o mundo secreto de Anne

Frank.

Quem sabe, um dia também nos brasileiros possamos assistir a um espetáculo assim, e a

exemplo da plateia holandesa, ao final saudar Rosa da Silva e demais atores com demorada

salva de palmas.

(*) Escritor free-lancer sobre História & Turismo, em missão

cultural com apoio da AMSTERDAM MARKETING, ago/2014.

TRAGÉDIA JUDAICA: OS POETAS QUE STALIN MANDOU

FUZILAR

12 agosto 1952

Folheando um livro biográfico sobre Stalin é difícil achar uma folha que não fale em morte,

assassinato, enfim, a vida de um monstro. Mas este não teve o fim de Kadhafi e

Saddam. Morreu de doença.

Mas meses antes, aos 12 agosto de 1952, ainda sacrificou alguns mártires na prisão de

Lubyanka. Intelectuais judeus como Peretz Markish, Itzik Fefer, Leib Kwitko e outros dez

membros do Comitê Judaico Antifascista, convencidos ingênua e sinceramente de que a

URSS era mesmo o paraíso sobre a Terra.

Virulento antissemita, Stalin foi mestre em trair seus aliados. Os intelectuais judeus foram

tachados de cosmopolitas, conspiradores antissoviéticos pró-americanos, etc. ainda que

alguns fossem colaboradores da NKVD e delatores de correligionários.

Não tiveram advogados de defesa e nem adiantaria, pois a sentença já era conhecida antes

mesmo do julgamento. Os comunistas judeus espalhados pelo mundo recusaram-se a

acreditar no que acontecia. Mas, lamentavelmente, era verdade.

Com a morte de Stalin menos de um ano depois a farsa foi desmontada, o mesmo

ocorrendo com o chamado complô dos médicos.


Anos depois Nikita Krushchev concedeu um perdão post-mortem, com base em “flagrantes

violações da lei”.

Esta história não pode nem deve ser esquecida, pelo seu conteúdo didático, extremamente

útil para muitos que hoje se comportam da mesma maneira que os infelizes intelectuais

judeus russos.

Caminharam para a frente do pelotão de fuzilamento sem saber porquê nem de quê eram

acusados. Talvez naquele momento tivessem tentado recordar alguma oração da infância

distante, quem sabe algumas palavras do Shemá Israel [76], mas já era tarde demais ...

Um Olhar Brasileiro sobre a Amsterdam Judaica

Amsterdam 2014. O verão de agosto, para um brasileiro, tem um gostinho de inverno. O

português se ouve aqui e ali pelas ruas onde sopra um vento fresco, como na fila para

visitar a Casa de Ane Frank, as margens de bucólico canal. Logo à entrada, as palavras de

Anne na parede: “... a guerra vai terminar... seremos gente de novo... não apenas judeus...”

Já há quase quatro séculos a Holanda era a super-potência. Através da West Indies

Company, sediada em Amsterdam, o Brasil, colônia de Portugal, estava em seus planos para

obter o cobiçado açúcar da cana. A Casa de Orange e Nassau esteve presente no Brasil

breves 24 anos no século XVII, deixando em Recife, antiga Maurícia, o testemunho da sua

presença.

A Sinagoga da Rua do Bom Jesus, antiga Rua dos Judeus, fechada há 350 anos pela

intolerância, foi reaberta em 2002, enquanto a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam,

fundada pelos judeus portugueses, que do Brasil para lá se dirigiram, se manteve aberta

todos estes séculos.

Ela é uma verdadeira catedral judaica, imensa, profunda, janelas altas, até hoje iluminada

por velas, sem utilizar a luz elétrica. Nossos passos ressoam pelo assoalho de madeira, até

sentarmos nos bancos seculares de madeira maciça, para breve descanso. Fechando os

olhos, é como se pudéssemos ouvir o coro da sinagoga, com seus cânticos luso-judaicos, e a

pregação do primeiro Rabino do Brasil, Isac Aboab da Fonseca que em 1675 construiu a

sinagoga monumental, à feição do Templo de Salomão em Jerusalém, a maior do mundo na

época. Abriga a biblioteca Etz Haim, a Árvore da Vida, mais antigo repositório judaico

existente.

Os judeus foram bem-vindos em Amsterdam, onde se desenvolveram como comerciantes

internacionais do açúcar, cacau e café. De lá viajaram para o Brasil Holandês, Curaçao,

Suriname e Nova Iorque, fundada por eles.

Eram ainda lapidadores de diamantes, profissão hoje praticamente extinta na cidade, já que

muitos pereceram na Shoá (Holocausto) e os poucos que retornaram transferiram-se para

Israel, hoje centro mundial de diamantes.


A museologia judaica está muito bem representada no chamado Corredor Cultural Judaico,

que abrange a Sinagoga Portuguesa, o Museu Judaico e o Teatro Schouwburg, usado pelos

nazistas como local de concentração dos judeus que seriam deportados para a morte nos

campos de exterminio. Também é digna de uma demorada visita o Museu da Resistência,

que conta as lutas durante os cinco anos de ocupação pelos alemães.

Imperdivel mesmo é a Casa de Anne Frank, onde o visitante percorre o próprio prédio em

cujo anexo Anne e sua família e amigos esconderam-se durante dois anos, um percurso

dirigido em espaço confinado, uma verdadeira lição de vida contra o racismo e a

intolerância, a mensagem de uma menina que queria apenas viver.

Como se sabe, o Diário de Anne foi traduzido para dezenas de idiomas, sendo um dos livros

mais lidos depois da Bíblia. Recomenda-se chegar cedo devido as filas.

Amsterdam é um destino importante para o turista brasileiro, que lá poderá apreciar a

história e cultura deste país tão ligado ao nosso, em função do breve mas rico período do

Brasil Holandês, 1630-1654, com tudo que representou para a sociedade brasileira em

geral e para a comunidade judaica em especial. Uma visita que vale a pena.

Redator free-lancer sobre História & Turismo,

em missão cultural com apoio da

AMSTERDAM MARKETING, ago/2014.

Sami Mehlinsky (1925-2014) – Uma Vida Dedicada ao Esporte

Em 2004 a Tocha Olímpica de Atenas chegou ao Palácio da Cidade no Rio, passando de mão

em mão pelos jogadores do vôlei e a comissão técnica - Sami Mehlinsky, Paulo Márcio e

Sérgio Xavier.

Talvez poucos pudessem identificar um senhor atlético de cabelos grisalhos, sem aparentar

a idade que tinha, e que por um momento empunhou a Tocha Olímpica: Sami Mehlinsky

Um dos ícones do nosso voleibol, com extensa folha de serviços prestados ao longo de 60

anos para o esporte brasileiro, um orgulho não só para a comunidade judaica mas também

para a comunidade maior.

Os acordes do Hino Nacional encheram os ares no belo Palácio da Cidade, que um dia foi a

Embaixada Inglesa, na Rua São Clemente.


Nestes momentos, certamente Sami evocou as tantas vezes em que do alto do pódio em

terras distantes, ele estava lá junto com os seus atletas, ouvindo o nosso Hino ao receber

mais uma medalha de ouro para o Brasil

Sami sempre teve um aspecto sério e circunspecto, mas temos certeza que naquele instante

uma lagrima emocionada deve ter perpassado pela sua face, naqueles breves momentos

recordando a sua infância em Vitória, filho de imigrantes judeus que aqui chegaram em

1924 buscando um futuro melhor.

A mãe, natural de Kiev na Ucrânia, onde os judeus experimentaram não poucas

perseguições ao longo do século, e o pai nascido em Iasi, na Romênia, deixaram para trás as

agruras da Europa, e logo no ano seguinte nasceu Sami, na casa que existe até hoje, o

numero 10 da Rua do Resende próximo ao Campo de Santana, onde o pequeno Sami corria

atrás das cotias que até hoje povoam os jardins.

Mais tarde a família foi para Vitória, onde Sami foi campeão de futebol em 1941 pelo Rio

Branco de Vitória. Já ao alistar-se para prestar o serviço militar, atuou como técnico das

equipes de vôlei do 10º. Regimento de Infantaria de Belo Horizonte. Em 46 treinou a

equipe de vôlei da 4a. Região Militar.

Pelo Vasco foi campeão em 1949, jogando também no Grajaú Tênis Clube, Vila Isabel e

Flamengo. Tri campeão pelo Flamengo em 59-60 61.

Dirigiu a Seleção em 1956 no Uruguay, no primeiro Campeonato Sul-americano, e nos

seguinte em 58-Porto Alegre, 61-Lima, 62-Chile, na época do Campeonato Mundial de

Futebol. O Brasil foi tetracampeão com Sami, após no primeiro mundial de vôlei em Paris o

Brasil ter perdido para a China, seguindo-se posteriormente muitos sucessos.

Sami foi técnico da seleção masculina por 10 anos, ganhando o Pan Americano de 59 em

Chicago, e o bicampeonato em São Paulo - 1973. Em 1959 foi campeão como técnico da

seleção feminina e, ao mesmo tempo, vice-campeão com o time masculino.

Na primeira olimpíada em que o vôlei foi considerado esporte olímpico, Sami viajou com

apenas 10 jogadores, tirando 5º. lugar em Tóquio - 64, ficando em 7º. lugar pelo setaverage,

pois 3 seleções empataram em quinto lugar.

Em 89 foi campeão mundial de masters na Dinamarca. De 85 a 90 foi Diretor Esportivo e

Supervisor de Vôlei da SUPERGASBRAS no Rio de Janeiro.

Como Chefe da Delegação, foi Campeão Olímpico em Barcelona - 92.


Além das glorias no esporte, sempre de desincumbiu de atividades correlatas. Formado

pela Escola de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil, foi Professor de

Educação Física da Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro,

posteriormente a AFA - Academia da Força Aérea em Pirassununga - SP. onde durante 35

anos mais 3 aposentado ajudou a formar inúmeras gerações de cadetes, orientando ainda a

equipe de vôlei, de 1951 a 1988.

Sami ainda encontrava tempo para ser administrador de esportes da Hebraica-Rio, de 1953

a 1965, sendo posteriormente Administrador Geral até 1985.

Neste período participou de 7 Macabiadas, os Jogos Olímpicos Judaicos, realizados em

Israel de 65 a 85, sendo 6 vezes vice-campeão diante da equipe de Israel, e campeão em

65.

Provavelmente muito poucas pessoas no mundo teriam a experiência e os títulos

acumulados por Sami Mehlinsky, na carreira de mais de 50 anos de esporte.

É com merecimento que ocupará seu lugar no Pantheon da Fama dos grande nomes do

desporto brasileiro, junto a outros igualmente valorosos integrantes da Comunidade

Judaica Brasileira. Que a sua alma se incorpore a Corrente da Vida Eterna.

General David Shaltiel – 60 Anos da Chegada ao Brasil do 1º.

Embaixador de Israel

8 de abril de 1952. Um despacho da JTA – Jewish Telegraphic Agency descreve a cena

fantástica acontecida no aeroporto do Galeão, tomado por mais de 1.000 pessoas, quando o

primeiro embaixador enviado por Israel foi recebido entusiasticamente pela comunidade

judaica do Rio de Janeiro e líderes de todas as suas organizações, e por representantes do

Itamaraty.

Poucos lembrariam hoje de Shaltiel (1903-1969), o sefaradi descendente de antiga família

ortodoxa portuguesa que através dos séculos migrou para Amsterdam e radicou-se a final

em Hamburgo, onde nasceu. Imigrou para Israel em 1923, fazendo carreira na Haganá[77]

e no Exército. Foi o comandante de Jerusalém durante o cerco árabe de 1948.

O General teve dificuldades para sair do aeroporto, em meio a enorme massa humana que

não se cansava de aplaudi-lo. Desde 1949 os dois países haviam acordado em manter

relações diplomáticas, mas somente 3 anos depois trocavam os primeiros embaixadores, o


brasileiro, ministro José Fabrino de Oliveira Baião tendo apresentado suas credenciais em

Tel-Aviv alguns dias antes.

Shaltiel apresentou suas credenciais ao presidente Getúlio Vargas em audiência solene no

Palácio Rio Negro em Petrópolis. O General chegou às 16 horas acompanhado do Primeiro

Secretario Castelo Branco, Introdutor Diplomático, sendo recebido pelo Ministro João

Coelho Lisboa, Chefe do Cerimonial da Presidência da República, e conduzido ao Salão

Nobre onde o aguardava o Chefe do Governo, na companhia do Embaixador Pimentel

Brandão, Secretário-Geral do Itamaraty, representando o Ministro João Neves da Fontoura,

ausente, do Chefe da Casa Civil, e do Chefe substituto da Casa Militar da Presidência

da República, respectivamente Embaixador Lourival Fontes e Comandante Lúcio Meira, e

de todos os membros das duas Casas, além do Sr. Roberto Alves, Secretário Particular do

Presidente da República, e do Ministro Aguinaldo Boulitreau Fragoso, Chefe da Divisão de

Cerimonial do Ministério das Relações Exteriores.

Alguns meses depois, na presença do Ministro David Shaltiel, o Presidente Getúlio Vargas

condecoraria com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul no grau de Comendador, em

solenidade realizada no Palácio do Catete, a Sra Vera Weizman, viúva do Primeiro

Presidente do Estado do Israel, Chaim Weizman. Ao fazer a entrega da condecoração o

Chefe do Governo pronunciou breves palavras rememorando a atuação daquele estadista à

frente de seu povo e aos seus esforços para que se consolidassem cada vez mais os laços de

amizade que unem o Brasil a Israel. Destacou as virtudes da ilustre dama e sua intensa

participação na promoção do bem estar social da nação israelense. A Sra. Vera Weizman

agradeceu as palavras proferidas pelo Chefe de Governo e a alta distinção que lhe conferiu.

Desta vez a multidão foi ainda maior que no Galeão, congestionando a Rua do Catete,

famosa pelas lojas de móveis, quase todas de propriedade de judeus. A multidão judaica

vinha das proximidades onde residiam, e de todos os bairros do Rio, cercando alegremente

a sede do governo.

Shaltiel desembarcou com Vera Weizman de seu automóvel, prestou uma continência e

adentrou o Palácio. Na saída tiveram que atravessar o jardim do Palácio e sair pela Praia do

Flamengo, devido ao tumulto.

Shaltiel visitou Porto Alegre em 19 nov 1952, causando enorme euforia no aeroporto, que

teve as pistas invadidas pelos correligionários da capital e do interior que vinham saudá-lo.

Depois foi recebido na Assembleia Legislativa e pelo prefeito Ildo Menegetti. O

Governador Ernesto Dornelles compareceu ao banquete em sua homenagem no Hotel

Umbú. Também lhe foi oferecido um almoço no Clube 35.

Shaltiel serviu na Legião Estrangeira como sargento. Na Palestina ingressou na Haganá, que

o enviou a Europa. Capturado pela Gestapo passou 3 anos em Dachau e Buchenwald, de

onde escapou em 1939. Foi condenado a morte pelos britânicos. Fundou e organizou as

tropas de elite Mishmar HaGvul (Guarda de Fronteira). Em 1950-52 foi Adido Militar em

Paris, de onde veio servir no Brasil. Encerrou a carreira como Embaixador na Holanda de

seus antepassados remotos, 1963-66, falecendo em Jerusalém em 1969 aos 66 anos.


Pernambuco - RETORNO AO PASSADO

Foi há muito tempo atrás. Talvez 400 ou 500 anos. No mês de julho de 2013, arqueólogos de

Pernambuco liderados pelo Prof. Marcos Albuquerque levantaram a patina do tempo que

encobria um corpo enterrado, descoberto durante as escavações para construção de um

túnel urbano na Madalena, em Recife. A este eminente Professor muito deve a História

Judaica, pelos importantes trabalhos que levaram a revelação ao mundo da primeira

Sinagoga das Américas, Kahal Tzur Israel no Recife, além de tantos outros sítios históricos,

cemitérios, fortalezas. Equipe dedicada, que com muita técnica e carinho cuidadosamente

revela tais preciosidades, empunhando pacientemente suas ferramentas e pinceis.

Destes abnegados, esperamos que em futuro não muito distante venham a descerrar o

mistério que oculta o antigo cemitério judaico, perdido até hoje em desconhecida

localização.

Ao que tudo indica o esqueleto encontrado terá sido de um judeu, pois como explica o

Professor, que coordena o Laboratório de Arqueologia da UFPE, os braços repousam ao

lado do corpo, despojado de qualquer joia ou pertence e sem mobiliário funerário, como

manda a tradição judaica, pois na tradição cristã os braços são cruzados sobre o tórax ou

sobre a bacia.

Quem terá sido este irmão, que viveu naquela que um dia foi Mauritsstadt ? Emoldurada

pelo mar e pelos rios, já se passam quase quatro séculos que os holandeses partiram, após

escassos 24 anos fantásticos que deixaram sua marca na História do Brasil.

A pequena sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel, a Santa Congregação Rochedo (Recife) de

Israel, com a partida dos judeus ficou perdida através dos séculos, herança de uma época

incrível, quando judeus conviveram lado a lado com os calvinistas, sem medo da Santa

Inquisição e das visitações do Santo Ofício.

Tangidos pela intolerância, a Gente da Nação de que falava Gonsalves de Mello teve que

partir. Muitos dos nossos irmãos se foram, chegando até Manhattan e a Holanda

acolhedora, mas este judeu desconhecido ficou. E sua gente sofrida a final venceu, eis que a

Inquisição desapareceu na poeira dos tempos. E aqui estamos novamente.

Decorridos séculos, continuamos poucos, mas orgulhosos, muito orgulhosos de pertencer

à Nação Brasileira.

Não sabemos quem foi este judeu, seu nome, nem o que fazia. Ele jamais poderia imaginar

que faria uma viagem fantástica de quatro ou cinco séculos pela Eternidade. Seu corpo

oculto no subsolo de Recife repousou enquanto desfilava a história do Brasil: Marques de

Pombal, o fim da Inquisição, Dom Pedro I: “Independência ou Morte!”, a Guerra da Tríplice

Aliança, no século XIX judeus do Marrocos, da Alsácia, o fim da mácula escravagista, a

República, o grande hebraísta Dom Pedro II parte para o exílio, séc. XX, os poloneses,

russos, buscando nesta terra abençoada a nova pátria, o Brasil é atacado pela Alemanha

Nazista e manda nossos soldados para a Itália, Presidentes Vargas, JK, Tancredo, Itamar,

Lula, Dilma, as manifestações convocadas pela Internet.


Até que o judeu desconhecido se revelou a nós, pelo milagre da Arqueologia.

O Brasil tanto deve aos seus irmãos, que um dia ajudaram a antiga colônia portuguesa a

prosperar no comércio e nos engenhos de açúcar. Seus descendentes, tão importante papel

desempenhariam nos negócios, nas artes, na cultura, nas ciências, a final retornando ao

Brasil, novamente contribuindo para fazer deste país uma grande nação, onde nas veias de

tantos de seus filhos ainda corre um infinitésimo do sangue de remoto antepassado cristãonovo,

do que certamente podem se orgulhar.

ISRAEL – A Terra Santa

História fantástica há milhares de anos, terra sagrada para três religiões - Missão bíblica

descrita pelo profeta Yeshayahu, tornar-se "uma luz entre as nações". Ontem, o Povo de

Israel legou a Humanidade o monoteísmo ético e a Lei de Moisés. Hoje, na era da Internet, a

Terra Santa exporta ciência, alta tecnologia, medicina, artes, literatura, trabalhando para a

Humanidade viver melhor, alimentar-se adequadamente, curar doenças, estudar,

progredir.

Desde os satélites que cortam o espaço infinito levando a bandeira azul-e-branca, até os

aparelhos biomédicos de nanotecnologia que viajam pelo interior do corpo humano,

inúmeras são as contribuições de Israel. Inclusive, tornar em realidade o sonho de

transformar o deserto num jardim, muito antes de nascerem os ecologistas, semeando o

verde das árvores e fecundar o solo árido, revivendo novamente a terra bíblica do leite e do

mel. A língua hebraica ressuscitada. Muito trabalho, persistência, coragem. Tel-Aviv erguida

sobre dunas e areia. O esplendor de Atenas com a glória de Esparta.

1948, 14 de maio, 5 de Iyar, chega ao seu término o Mandato Britânico e o Estado de Israel

é proclamado - recordamos o Chanceler Oswaldo Aranha, filho do Alegrete na planície do

pampa rio-grandense, Cidadão do Mundo, grande herói nacional. A ele, na condição de

Presidente da Assembleia-Geral da ONU, o povo de Israel deve seu Estado. Reverenciamos

a memória deste grande brasileiro, expressando nosso reconhecimento, nosso

agradecimento, e a eterna admiração dos seus compatriotas.

Após quase dois mil anos, o povo que vagou 40 anos pelo deserto, e recebeu a Torá e os 10

Mandamentos no Monte Sinai, retorna à sua terra. O comovente juramento do Salmo,

recitada há milênios sob o pálio nupcial: Im Ishkacher Yerushalaim, Tishcach Yemini, o ruído

seco do copo se quebrando ... Se eu te esquecer, Ó Jerusalém ...

Sobrevivemos aos faraós, aos assírios, à Babel, aos Persas, aos Helenos. Tantas civilizações

enviaram seus exércitos ... as mais poderosas legiões romanas ... mas, nessa terra, o Povo de

Israel continua, convicto de que um dia, pela sétima porta de Jerusalém, o Messias vai

entrar para redimir a Humanidade.

Ao longo de milênios, apareceram e desapareceram Cruzados, Reino Latino de Jerusalém,

Califas, Otomanos, todos julgando que haviam conquistado aquela terra, que seria deles

para sempre... Todos se enganaram redondamente... a sangue e fogo Yehudá caiu ... a sangue


e fogo se levantou .... Am Israel Hai - o Povo de Israel vive, e assim atravessou épocas

difíceis, a Inquisição, a Shoá, superando todas elas.

O Hino Nacional do Estado de Israel “há Tikvá” (A Esperança) traduz em seus versos a

confiança no futuro, o desejo de Shalom. A Declaração da Independência proclama que o

Estado terá como pilares a Liberdade, Justiça e Paz, conforme ensinaram os Profetas de

Israel. Após tantas guerras, há embaixadores, laços culturais e comerciais, turistas

atravessam as fronteiras dos países vizinhos e descobrem novos horizontes, confirmando

que a paz é possível. Mas, o destino cobrou um preço altíssimo para que este dia pudesse

chegar: 23 mil soldados repousam nos cemitérios militares. Que o Criador proteja os

soldados das FDI em guarda pelo seu país, do Golan ao Neguev, do Mediterrâneo até a

Arava, em terra, mar e ar.

Que o Eterno permita, ainda em nossos dias, a realização da profecia de Isaias, “... e

transformarão suas espadas em arados...” (Is. 2:4). Nação forte, que busca ardentemente os

caminho da paz e da segurança. Povo que não esquece seus irmãos, seja na Etiópia, na

Rússia ou na Bósnia. Que Israel seja forte, ao mesmo tempo em que mantém o diálogo em

busca da paz que um dia virá, atendo-se aos valores legítimos ditados pelos Profetas,

legado que uniu o Povo Judeu através dos tempos, referencial para as gerações futuras. Que

o espírito e a santidade do Kotel Hamaaravi, a Muralha Ocidental do Templo de Salomão,

simbolize para sempre a eterna continuidade judaica.

Parabéns ao Estado de Israel, ao seu povo e a toda humanidade, que desfruta da

contribuição que o pequeno grande estado oferece ao mundo. Amém.

UM OLHAR JUDAICO SOBRE NOVA IORQUE

O vôo da Delta plana suavemente ao largo da ilha densamente pontilhada de enormes

arranha-céus, na aproximação final do aeroporto Kennedy. Há exatos 356 anos, outros 23

compatriotas também avistaram essa mesma ilha. Tangidos pela intolerância, aquele

punhado de judeus legou ao Recife uma sinagoga, na Rua do Bom Jesus, e ao Brasil os

segredos do refino da cana. Aqui na Nova Amsterdam, novamente professariam livremente

sua fé, sem prestar contas ao Rei, longe da Sancta Inquisição.

Havia um canal, tão largo que há 400 anos Henry Hudson pensou tratar-se da tão

procurada ligação com o Pacífico. Não era mas o rio, até hoje leva seu nome, e numa

pequena ilha próxima, majestosa estátua ocupa o lugar de antigo forte.

Com o braço levantado, sustentando uma tocha, a cabeça coroada, envolta em túnica

esverdeada pela ação do tempo, a estátua da Liberdade doada pelos franceses foi um

símbolo de esperança para 14 milhões de imigrantes que passaram pela ilha vizinha, Ellis

Island, fugindo da fome, perseguições. Ao pé de Lady Liberty, os versos de Emma Lazarus:

“ai-me seus pobres... destituídos ... exaustos... a respirar liberdade em um novo mundo ...”

Uma excursão judaica deve começar com refeição Kasher a bordo, servida primeiro, em

porções bem mais generosas que a bandeja padrão, além de certificadas por eminentes


rabinos de SP. Em seguida, visitar os polos judaicos do Brooklyn: Crown Heights, Borough

Park e Williamsburg. Esta última é o território do Satmar Rebe, cujo patriarca, Joel

Teitelbaum, aqui chegou em 1947. Há um ônibus judaico interligando os núcleos, com

dizeres em ídiche. Na frente, sentam os homens, conforme a tradição, separados das

mulheres, atrás. Um aeronave Kfir da Força Aerea de Israel pode ser vista no convés de vôo

do Intrepid Air Sea Museum, o antigo porta-aviões ancorado em frente à Rua 42. Obra do

filantropo judeu Zachary Fisher (1910-1999) e esposa, que dedicou ao projeto US$ 25 M.

Menino pobre do East Side, seu pai era pedreiro.

Não deixar de visitar o novo Museu da Tolerância, do Simon Wiesenthal Center, próximo à

Grand Central. A estação está completando 100 anos. E, pelo menos, meio-dia no Museu

Judaico do Central Park e Museum of the Jewish Heritage, ao sul, em Battery Park. De lá,

pode-se fazer passeios pelo Rio Hudson. Veja diante do Ferry para State Island o marco dos

300 anos do judaísmo americano (1654-1954). Na Rua 16 temos o Center for Jewish

History, imperdível. Possui inúmeras bases de dados para pesquisas genealógicas. Uma

exposição sobre os judeus de Munich informa que, na década de 30, o Bayern de Munich

tinha forte presença judaica, a começar pelo presidente e técnico.

Sempre bom passar no Carnegie, Rua 55, para provar o cheesecake e o sanduiche de

pastrami, já que a centenária deli Stage fechou. Mas ainda há ótimas pedidas no East Side,

como Katz e Russ & Daughters. Na Barnes & Noble, sempre se acham livros judaicos a bons

preços. Visita obrigatória é o novo Memorial do 11 de Setembro, projetado por Daniel

Libeskind, autor do Monumento do Holocausto em Berlin e futura sinagoga de Porto

Alegre. O primeiro dos cinco prédios que formarão o novo World Trade Center já esta

quase pronto. Em 2015, já poderemos subir ao observatório, 500 m acima. Será o prédio

mais alto de NYC. Ali por perto, o simbolismo da nova Casa de Anne Frank remete a antigas

ameaças, mas que como o 11 de setembro, sempre serão derrotadas. O terror não

prosperará.

Doze anos depois, contemplando os milhares de nomes no granito negro que emoldura as

enormes piscinas onde a água cai no vazio, ao centro, ainda nos perguntamos - até quando

a Humanidade terá que pagar um preço tão alto em nome de ideologias equivocadas.

O JUDEU QUE SALVOU UM PORTA-AVIÕES

Em Nova Iorque, não há quem não conheça o porta-aviões USS Intrepid. Lançado ao mar

em 1943, participou da 2ª. Guerra Mundial e da Guerra do Vietnam. Sobreviveu a 5

impactos de kamikazes e um de torpedo, que mataram 99 marinheiros. Seus aviões

cumpriram mais de 15 mil missões de vôo entre 1966 a 1969, nos céus hostis sobre o

Vietnam.

Hoje, transformado no “Intrepid Sea, Air & Space Museum Complex”, o antigo porta-aviões

encontra-se atracado para sempre no braço do Rio Hudson entre Manhattan e Nova Jersey,

em frente à Rua 46.

O que nem todo nova-iorquino conhece, é a história do menino pobre, judeu do East Side,

Zachary Fisher, cuja estátua em bronze, junto com sua esposa Betty, ocupa lugar de


destaque à entrada do Salão de Honra, do agora museu. Não é para menos, Fisher dedicou

20 anos da sua vida a este projeto, onde colocou 25 milhões de dólares do seu bolso.

A Marinha americana já havia decidido: o USS Intrepid seria desmontado e vendido como

sucata, como acontece com todo navio que se torna obsoleto. As antigas

tripulações, veteranos de tantas batalhas, já estavam conformadas, quando entraram em

cena o filantropo judeu Zachary Fisher (1910-1999) e sua esposa Elizabeth, ela mesma uma

artista que participou das “troupes” que animavam os soldados americanos durante a

guerra.

Zachary era filho de um imigrante que trabalhava como pedreiro. Teve uma infância difícil

em Nova Iorque, junto com vários irmãos, com quem mais tarde abriu uma pequena

empresa de obras. O tempo passou, e os Fisher se tornaram os maiores empreendedores do

mercado imobiliário americano, tendo erguido incontáveis arranha-céus.

Mas Zachary carregava uma mágoa: devido a um problema congênito não fora aceito no

serviço militar. Para reparar esta que, segundo ele, era uma dívida com a Pátria - não pode

servir na guerra - fazia de tudo para amparar os veteranos e suas famílias.

Um de seus mais fantásticos projetos, onde empregou sua experiência na construção civil,

foram os Homes of Confort, ou seja, 50 hotéis completos que ergueu junto aos hospitais

militares em cada estado americano, para que as famílias de veteranos, feridos em

combate, pudessem permanecer próximas dos seus entes queridos durante os tratamentos,

pois esses, muitas vezes, duravam longos períodos.

Foram inúmeros aportes de capital para ajudar os veteranos, destacando-se os 25 mil

dólares que ofereceu a cada família dos 245 americanos mortos no ataque terrorista de

1982, contra a base dos Marines em Beirute, para que os filhos pudessem estudar até a

faculdade. Também os bombeiros e policiais se beneficiaram de seus projetos filantrópicos..

Por tudo isso, foi contemplado com a mais alta condecoração que um civil pode receber das

forças armadas americanas, além de ter sido agraciado com o título de “Veterano

Honorário”, concedido apenas ao comediante Bob Hope, que na 2ª. Guerra divertia os

soldados no front.

Fisher recebeu homenagens na Casa Branca de cinco presidentes, além de outras prestadas

por Margaret Tatcher e Yitzhak Rabin. Pouco antes de falecer, associou-se a Rockfeller,

criando uma Fundação para pesquisa do Mal de Alzheimer.

Os milhares de visitantes que admiram o enorme museu, provavelmente jamais saberão

quem foi Zachary Fisher e sua esposa Betty. Mas, do alto, no Jardim do Éden, eles

certamente ficam felizes ao ver tantos jovens, tantos turistas do mundo inteiro, apreciando

a sua obra no convés de vôo do USS Intrepid, fazendo justiça às novas e não menos

importantes missões do antigo navio: “Honrar os Heróis, Ensinar o Público e Inspirar a

Juventude”.


Sou O Teu D_us ... em Santa Maria da Boca do Monte...

Maio de 2014. Anos e anos sem os cuidados necessários. 1904. Um século já se passou

desde que os primeiros judeus chegaram a Phillipson. Castigado pelo rigor do tempo o

pequeno cemitério teima em não se deixar cobrir pelo mato, não desaparecer. As lápides

resistem o quanto podem, mas até quando?

A um canto, o monumento em meio ao capim. No interior da única edificação, uma pequena

casa com um balcão onde talvez se fizesse a Tahará (ritual de lavar os corpos), 2 placas

recordam a ultima restauração, já datando de 35 anos- 1979. Nomes de abnegados

ativistas, a oração fúnebre do Kadish, e a lista dos que aqui estão sepultados, apenas 70, dos

quais 25 criancinhas que não resistiram à longa viagem e as condições inóspitas. O mato

poupou as inscrições do singelo monumento, que ainda santifica o ambiente com sua

coluna de tijolos:

“ aos imigrantes...

que nos legaram uma fé indestrutível ...

e uma terra de paz e liberdade...”

No então 2 o . Distrito de Santa Maria, depois nomeado Itaara, de 1904 a 1920 floresceu uma

pequena mas pujante comunidade judaica.

Lado a lado com outros imigrantes, das terras do Cedro do Líbano, Baalbek, Sidon, das

margens do Tejo, do Estoril, Covilhã, Belmonte, da Galicia, Toledo, Piemonte, Sicília,

deixaram para trás a terra natal sofrida, e ao avistar do navio a entrada do porto de Rio

Grande, só pela beleza já gostavam, e mentalmente com um nó na garganta e a dúvida sobre

o futuro, prometiam a si próprios e à família bem e fielmente cumprir os deveres de

cidadão brasileiro nesta terra abençoada.

Da suave encosta pode se avistar a vastidão dos pampas sem nada que obstrua a visão das

coxilhas que se perdem na distancia; até onde a vista alcança o olhar se encanta com o

verde dos campos, que outrora constituíram as colônias de Phillipson, e hoje foram

adquiridas por um dos seus descendentes, que as reuniu sob a designação Fazenda

Phillipson.

Graças à proteção do Exercito que naquelas terras estabeleceu a 13ª. Cia DAM - Companhia

Deposito de Armas e Munição, e a Invernada da Brigada Militar, extensos pedaços de terra

foram preservados, sendo que em seu interior ainda subsistem edificações da época, que

poderiam ser objeto de pequenos museus ou espaços culturais que contassem esta

fantástica historia

A mancha urbana jamais se aproximou dos limites do campo santo, assim o silencio do

cemitério nunca é quebrado. Caminhando em volta das matzeivot (lápides), pode-se


observar sobrenomes hoje famosos inscritos. Os mesmos que hoje figuram em

consultórios, obras, livros, programas de TV.

Nos tempos duros, tiveram que escapar das perseguições no outro lado do mundo, eram

nomes desconhecidos, de difícil pronúncia. Batalharam de sol a sol nestas terras fazendo

mais do que jus a determinação divina: ... Ganharás o teu pão com o suor do próprio rosto

...

A chuva aperta na tarde gaúcha, ao sopro do minuano. Parecia que a natureza protestava

contra o estado dos túmulos.

Quem passa pela BR-158 ao longe mal se da conta de que ali, encoberto pela distancia,

existe um cemitério impregnado de tantas historias.

Em que pese a destruição implacável do tempo que não perdoa, o lugar ainda ostenta uma

aura de santidade; embora parcialmente em ruínas, o campo santo não perdeu a

majestade. A presença de uma força, uma entidade maior ... Um lugar sagrado ... O poder de

anos e anos de ardentes orações ...

Sabiamente, o Estado reconheceu a importância do local, e considerando o que a

comunidade judaica representou para evolução e crescimento da cidade, decretou o

tombamento pelo Patrimônio Histórico Municipal.

É preciso fazer alguma coisa. Relembrar cânticos ao longe, burburinho de antigos

sepultamentos, as orações dos santos Rabinos vindos da Europa intolerante.

Se todos quisermos, esta memória ficará eternizada. [78]

Síntese do CV - Israel Blajberg

Brasileiro nato de primeira geração, nascido no Hospital da Cruz Vermelha, Rio de Janeiro

aos 31 maio 1945. Casado com a Arquiteta Marlene R. Blajberg, possuem 4 filhos e 8 netos.

Estudou na Escola Israelita Brasileira I. L. Peretz, em Madureira e no Colégio Arte e

Instrução em Cascadura. Diplomado pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade

do Brasil, turma de 1968 –Eletrônica.

Ex-aluno do CPOR/RJ, da Turma Marechal Rondon, Artilharia 1965,

Diplomado pela ESG em 2004 (CAEPE) e 2007 (CLMN)

Engenheiro Coordenador do BNDES e Professor Adjunto IV da Escola de Engenharia da

UFF, aposentado em 2011 e 2015 respectivamente com 36 e 46 anos de serviço.


Presidente da AHIMTB/RIO - Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil

1º. Vice Presidente e Diretor de Relações Públicas da Associação Nacional dos Veteranos da

FEB

Diretor Técnico-Cultural da Associação dos Antigos Alunos da Polytechnica – A 3 P

Diretor de Cidadania da FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro

Diretor Acadêmico do Memorial Judaico de Vassouras.

Diretor Secretário do Instituto SanMartiniano do Brasil

2º Diretor Social - SOAMAR-RIO

Sócio Honorário da Association Française des Ancien Combattants

Sócio Benemérito – Associação dos Ex-Alunos do CPOR-RJ

Sócio Titular do IGHMB, Cadeira 79 – Marechal Mascarenhas de Moraes,

Recebeu o Premio UFF de Literatura com o trabalho Adeus A UFF em dez/2007.

Autor de SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE, 2008, AHIMTB/FIERJ

Participou do I SENAB 2012 - Seminário de Estudos sobre o Brasil na II GM com o trabalho

1942 – Um Ano Singular

Palestrante na Casa do Saber - TECNOLOGIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, maio de

2010.

Em 2005 participou da Delegação Brasileira para a Marcha da Vida na Polônia e Israel.

Recebeu as Ordens do Mérito da Defesa, Militar e Aeronáutico, Mérito Tamandaré,

Medalha do Pacificador, Cruz do Combatente Polonês, Mérito dos Veteranos Poloneses e

Antigos Presos Políticos, Pro-Memoria do Governo Polones, Cruz do Combatente da Europa

(Francesa e Italiana) entre outras nacionais e estrangeiras.

[1] bra·si·li·da·de (Brasil, .topônimo + -idade) substantivo feminino

1. Qualidade própria do que é brasileiro.

2. .Caráter específico da cultura ou da história do Brasil.

3. Sentimento de amor ou de grande afeição pelo Brasil.


Sinônimo Geral: BRASILEIRISMO - "brasilidades", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-

2013, http://www.priberam.pt/dlpo/brasilidades [consultado em 31-12-2014].

[2] O Judeu – em ladino ou judeo-español, língua dos judeus oriundos da Península Ibérica.

[3] España em hebraico

[4] Descendentes dos judeus portugueses e espanhóis do séc. XV

[5] Clube juvenil judaico com filiais em diversos países, leva o nome da ultima fortaleza a resistir aos romanos no ano

133 da Era Comum

[6] Alimentos preparados segundo o ritual religioso judaico

[7] Hebraico: sábado judaico, dia de descanso.

[8] Páscoa Judaica, comemora o Êxodo – a saída dos judeus do Egito. É a Festa da Liberdade, quando não se come pão e

sim a matzá (pão ázimo), para recordar as provações dos escravos hebreus do faraó.

[9] Abreviatura hebraica de Zichronó Levrachá – de abençoada memória

[10] Hebraico: A Lei de Moisés - Antigo Testamento, o Pentateuco: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio

[11] Hebraico: lápide tumular

[12] Hebraico: A - B

[13] Ídiche: Professor

[14] Livros sagrados de comentários complementares à Torá (Bíblia)

[15] Descendentes dos judeus portugueses e espanhóis do séc. XV

[16] Hebraico: Terra (Eretz Israel – Terra de Israel; Eretz Amazônia – Terra Amazônica)

[17] Hebraico – refeição festiva ao final dos ofícios religiosos

[18] Russo – massacre perpetrado contra comunidades judaicas

[19] Hebraico: Comunidade Rochedo de Israel, a primeira sinagoga das Américas. Brasil Holandês, séc. XVII

[20] Hebraico: Alemanha. Dai deriva o termo ashkenazim, judeus oriundos da Europa Central e do Leste.

[21] Hebraico: Ano Novo. Conta-se da criação do Mundo

[22] Hebraico: A Lei de Moisés - Antigo Testamento, o Pentateuco: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio

[23] Ídiche: expressão coloquial para Rabino

[24] Hebraico: quarto, significando o aposento onde o rabino dava aulas para as crianças, à maneira de um curso primário

[25] Alemão e Polonês: Judeu

[26] Hebraico: professora

[27] Hebraico: Jardins do Éden

[28] La Violacion de los Derechos Humanos de Argentinos Judios Bajo El Regimen Militar, Editorial Milá, AMIA, 2006,

pág.109.

[29] Hebraico: Pálio nupcial existente nas sinagogas, simboliza a casa, aberta de todos os lados como a tenda de Abrahão e

Sara, hospitaleira

[30] Hebraico: Altar

[31] Hebraico: Arca Sagrada, armário que guarda a Torá, na parede ocidental das sinagoga, voltada para Jerusalém.

[32] Hebraico: Moisés, nosso Mestre

[33] Hebraico: Jerusalém de Ouro (referencia a famosa canção de 1967 que se tornou um hino à libertação da Cidade Santa

para entrada de fiéis de todas as religiões)

[34] Hebraico: cerimonias de maioridade religiosa de meninos aos 13 anos e meninas aos 12 anos


[35] Hebraico: Organização Combatente Nacional, enfentou os terroristas árabes e o Exército Britânico

[36] Jornalista austro-húngaro, escreveu O Estado Judeu, lançando as bases do Sionismo politico.

[37] Ídiche - Pequena cidade na Europa, de maioria judaica, antes da 2º. Guerra Mundial

[38] Ídiche - Peixe defumado, iguaria da culinária judaica da Polônia e países próximos

[39] Ídiche - Afetivo, Jacózinho

[40] Polonês - Mercado situado na praça central, com grande afluência judaica de vendedores e compradores

[41] Ídiche – Afetivo, Sarinha

[42] Hebraico - Feriado judaico, literalmente dia bom

[43] Hebraico - Refeição festiva realizada em família nas noites do Pessach, onde se reconta a história do Êxodo

[44] Hebraico - Pelo Santificado Nome, diz-se das vitimas inocentes que pereceram como Mártires

[45] Hebraico: quórum mínimo de 10 homens com mais de 13 anos necessário para iniciar as orações

[46] Hebraico: Alegria da Torá. Festival religioso que marca o final do ciclo anual de leitura da Torá (Antigo Testamento)

[47] Hebraico: último dia de Sucot (Festa da Colheita)

[48] Hebraico: Sábado - A Rainha, em sentido figurado

[49] Hebraico: Festa da Colheita

[50] Alemão: Prisioneiros judeus obrigados a servirem como policiais e capatazes, a final acabavam também assassinados

[51] Hebraico – abreviatura de Lochamei Herut Israel – Lutadores pela Liberdade de Israel - grupo de resistência contra as

atrocidades dos árabes e Exército Britânico na Palestina

[52] Hebraico - Irgun Zvaí Leumí – Organização Nacional Combatente, lutou contra os terroristas árabes e o Mandato

Britânico na Palestina. Seu hino rezava profeticamente: “ a sangue e fogo Judá caiu ... a sangue e fogo se levantará”

[53] Ídiche – afetivo para o nome próprio Shaindla

[54] Hebraico – Dia do Perdão, o mais importante do calendário religioso judaico

[55] Latim – cota que limitava o número de judeus passível de ser admitido nas faculdades.

[56] Hebraico – cantor ritual

[57] Ídiche – plural de shtetl, pequenas cidadezinhas do interior da Europa Central onde floresciam ponderáveis

comunidades judaicas ricas em cultura e tradições

[58] Hebraico – candelabro de 9 braços utilizado em Hanuká, a Festa das Luzes.

[59] Blajberg, Israel – Soldados que Vieram de Longe, AHIMTB/FIERJ, Rio de Janeiro, 2008

[60] Hebraico – ações de caridade, a qual todo judeu é obrigado

[61] Hebraico – plural de Cohen,sacerdote

[62] Hebraico – trecho de oração de agradecimento por um especial acontecimento

[63] Hebraico - Manto ritual judaico

[64] Hebraico - contrato nupcial escrito em aramaico, onde os noivos aceitam responsabilidades

[65] Hebraico - Sete bênçãos

[66] Hebraico - Bênção sacerdotal do Templo de Salomão

[67] Hebraico - Se eu te esquecer oh Jerusalém, que se imobilize a minha destra

[68] Hebraico – Bons Presságios e Boa Sorte

[69] Hebraico - Dança tradicional judaica

[70] Hebraico - Plural de arkadá - danças judaicas em grupo, com palmas e evoluções

[71] Ídiche – patrícios, conterrâneos da mesma cidade natal


[72] Ídiche – Aproximação entre jovens, geralmente solicitada pelos pais, podendo ser praticada informalmente ou através

de profissionais casamenteiros

[73] Hebraico – festa que recorda a derrota dos inimigos do povo judeu na antiga Pérsia. Semelhante ao Carnaval com

musica e fantasias.

[74] Hebraico – pacto da circuncisão, cerimônia judaica onde o recém-nascido é apresentado e circuncidado no oitavo dia

[75] Aramaico – Santificação. Oração recitada nos funerais, e durante 11 meses pelos filhos homens.

[76] Hebraico – Ouve ó Israel, palavras iniciais da oração basilar do judaísmo, que afirma a existência de um único deus.

[77] Hebraico – Defesa – organização militar que defendeu a comunidade judaica da Palestina da opressão britânica

durante o Mandato, e do terror árabe. Foi o embrião das Forças de Defesa de Israel formadas em 1948.

[78] N. do A. - Em 21 nov 2014 no Gabinete do Secretário de Cultura do RS ocorreu a solenidade de lançamento do projeto

de restauração do cemitério de Philipson.

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