Heranca-Espiritual-Judaica
Sao 45 breves narrativas, sobre judaismo, viagens, Memórias Familiares, algumas semi-ficcionais. A obra perpassa 6 Milenios de Herança Espiritual Judaica e 5 séculos de Brasilidade em 45 breves textos, como A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar, Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta, De Volta a Toledo, Portões de Buchenwald, General David Shaltiel – 1º. Embaixador, Memórias de Uma Hupá, O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões, Paris Está Em Chamas ?, Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada, Shaindale – A Última Imigrante, Sou o Teu D_us ... Em Santa Maria da Boca do Monte…, Ter Um Vizinho Judeu, Terror Nazista Nos Mares Brasileiros, Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar, Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica, Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer, Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu e outros.
Sao 45 breves narrativas, sobre judaismo, viagens, Memórias Familiares, algumas semi-ficcionais. A obra perpassa 6 Milenios de Herança Espiritual Judaica e 5 séculos de Brasilidade em 45 breves textos, como A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar, Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta, De Volta a Toledo, Portões de Buchenwald, General David Shaltiel – 1º. Embaixador, Memórias de Uma Hupá, O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões, Paris Está Em Chamas ?, Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada, Shaindale – A Última Imigrante, Sou o Teu D_us ... Em Santa Maria da Boca do Monte…, Ter Um Vizinho Judeu, Terror Nazista Nos Mares Brasileiros, Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar, Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica, Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer, Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu e outros.
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Israel Blajberg
Herança Espiritual Judaica
em Brasilidades e Outros Temas
Breves Narrativas
1ª. Edição
Rio de Janeiro-RJ
ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL – AHIMTB
2015
Ficha Catalográfica
Catalogação na fonte
Palavras Chave: Brasilidades, Europa, Viagens, História do Brasil, História Universal,
História Judaica, Memórias Familiares
Israel Blajberg data nasc. 31 maio 1945
Editora -ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL – AHIMTB
Data 02 jan 2015
4 Índice
5 Apresentação
6 Agradecimentos
ÍNDICE
7 Prefácio
8 De Volta a Toledo
10 Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer
12 Uruguay, Um País Sem Pressa - Olhar Judaico de um Brasileiro
14 Tempo de Subúrbio - Lembranças de um Menino
16 Teria a Peste Negra Tangido os Blajberg da Áustria para a Polônia ?
18 Monumento em Memória do Tripulante Franco-Brasileiro Judeu
20 Festinha na Escola Judaica
21 Militares Brasileiros Sefaradis da 2ª. Guerra Mundial
22 Eretz Amazônia – A Selva Nos Une
24 A Sinagoga que o Papa Esqueceu em Erfurt, Cidade com Notável Passado Judaico
26 Shalit – Um Sobrevivente
27 Festa das Luzes – Bênçãos da Liberdade
29 Eternidade Judaica: Um Avô, Um Netinho, Uma Festinha
31 A Ellis Island Argentina
33 Memórias de Uma Hupá
34 Navegando Pelo Guaíba - 1958
36 Natal: Uma Comunidade Singular
38 Yehiel da Lusitânia – O Judeu que Recebeu a Bênção do Céu
40 Yitzhak Shamir - Herói de Israel (1916 – 2012)
41 Pessach – A Travessia
43 A Sinagoga Que Renasceu
45 Recife Judaica da Sinagoga e do Galo da Madrugada
47 Ter Um Vizinho Judeu
49 Dos Portões de Buchenwald Belo Horizonte Haveria de Brilhar
51 Shaindale – A Última Imigrante
53 Teresópolis Judaica
55 Terror Nazista Nos Mares Brasileiros
58 Uma Blajberg no Pampa Argentino
60 Amazônia Judaica e a Redenção da Floresta
62 Casamento Judaico
64 A Árvore Dos Judeus
66 Imigrantes Em Terras Gaúchas
67 Paris Está Em Chamas ???
68 A Sinagoga Que Os Nazistas Não Conseguiram Queimar
70 O Menino de Ostrowiec Que Venceu os Nazistas
72 Atriz Portuguesa Rosa Da Silva Interpreta Anne Frank
74 Tragédia Judaica: Os Poetas Que Stalin Mandou Fuzilar - 12 Agosto 1952
75 Um Olhar Brasileiro Sobre a Amsterdam Judaica
77 Sami Mehlinsky (1925-2014) – Uma Vida Dedicada ao Esporte
79 General David Shaltiel – 60 Anos da Chegada ao Brasil do 1º. Embaixador de
Israel
81 Pernambuco - Retorno ao Passado
83 Israel – A Terra Santa
85 Um Olhar Judaico Sobre Nova Iorque
87 O Judeu Que Salvou um Porta-Aviões
89 Sou o Teu D_Us ... Em Santa Maria da Boca do Monte...
91 Síntese do CV - Israel Blajberg
APRESENTAÇÃO
Nos anos de 2011 a 2014 a revista EL DJUDIÓ editada pelo Centro Hebraico Rio
Grandense publicou nossas BREVES NARRATIVAS .
Eram olhares sobre temas variados, de uma perspectiva que mescla 5 séculos de
Brasilidade [1] com 6 milênios da HERANÇA ESPIRITUAL JUDAICA, de antepassados
imemoriais e contemporâneos.
Registrando 2015 os 70 anos da minha vinda ao mundo, considerei oportuno
marcar a notável efeméride pela edição desta coletânea variada, abordando
Brasilidades, a Europa Sofrida, Viagens, História do Brasil, Universal e Judaica,
Memórias Familiares, enfim um pouco do que vimos e vivemos nestas 7 décadas.
Escrevi para toda e qualquer pessoa, independente de crença ou afiliação. Que seja
lido da mesma maneira como foi escrito, ou seja, com o pensamento voltado para
este grande país em que nascemos, onde por desígnios da Providencia aportaram
nossos pais e avós, recebendo hospitaleira acolhida.
No Brasil - Pais do Futuro de Stefan Zweig - encontraram eles a Terra Prometida,
onde já floresce a 3ª. geração dos Blajberg. Que o Eterno permita muitas e muitas
outras mais.
Rio, 02 janeiro 2015
Israel Blajberg
iblajberg@poli.ufrj.br
Agradecimentos
A minha Familia:
Muito da inspiração que originou estas narrativas devo a minha alma gêmea Marlene, que
tanto me incentiva, e aos filhos, netos, genros e noras. Primordialmente é neles que penso,
e para eles que procuro deixar um legado escrito.
A um idealista:
Tive o prazer de conhecer Davi Castiel Menda, Editor de El Djudió [2] , quase que
simultaneamente com o lançamento da revista, há 4 anos. Ele, que transforma sonhos em
realidades, deu-me a oportunidade de participar em alguns deles.
A um Dedicado Mestre:
Aos 12 anos ingressei no ginásio, onde sob a preclara orientação do saudoso e eminente
Professor Jamil El-Jaick, do Colégio Arte e Instrução de Cascadura, Rio de Janeiro, iniciei-me
no culto à ultima e mais bela Flor do Lácio.
Prefacio
Na condição de editor da revista El Djudió, tive o privilégio de ler todas
as crônicas deste livro, em absolutíssima primeira mão, à medida que
iam sendo publicadas. Foi muito gratificante ter sido convidado para
redigir algumas linhas sobre esta obra.
Pelo meu conhecimento editorial, posso afirmar que muitos têm
histórias, mas não sabem contá-las. Há os que sabem, mas não têm
histórias. Israel Blajberg, um dos primeiros colunistas a colaborar
permanentemente com o El Djudió, é um daqueles mortais que tem o
raro dom de combinar o ter e saber contar. Sua dialética, nos últimos
quatro anos, através de seus comedidos e emotivos comentários,
passando sua vivência aos leitores que o admiram, só tem
engrandecido e dignificado a revista do Centro Hebraico.
Quem aprecia leitura, sabe que literatura tem gosto. E o gosto de
“Herança Espiritual Judaica em Brasilidades e Outros Temas” é bom,
temperado e intrigante o suficiente para que se deseje lê-lo de uma só
vez, em uma única sentada.
Davi Castiel Menda
DE VOLTA A TOLEDO
Todos recomendaram, não deixe de ir a Toledo... de repente, uma curva do caminho revela
ao longe elegante calota esférica sobre suave elevação, o casario deixando entrever uma
parcela do Patrimônio da Humanidade...
Emoldurada pelo Rio Tejo, que descreve sinuoso meandro por quase toda sua periferia, do
lado aonde ele não corre, o famoso Alcázar de Toledo guarnece o único acesso terrestre.
O casco histórico ocupa uma área relativamente pequena. Do centro, onde fica a Catedral,
alcança-se rapidamente a Juderia, antigo bairro judeu, naquela que um dia fora conhecida
como a Jerusalém do Ocidente, berço de sábios rabinos.
O dia está particularmente frio. Havia nevado um pouco, o que não é muito comum. A baixa
temperatura afugenta os turistas, assim percorro quase sozinho as ruelas onde
antigamente efervescia a vida da Toledo Judaica. Tudo estaria exatamente como ha 500
anos atrás, não fora alguns poucos carros que lentamente se esgueiram pelo arruamento.
Algumas vielas são tão estreitas que abrindo os braços consigo tocar as duas paredes...
No inverno os dias são curtos, e ao entardecer sem sol, as sombras dos prédios de no
máximo dois andares escurecem a Juderia.
Percebo que estou sozinho perdido no silêncio ... o clima me faz divagar, como se estivesse
realmente naquele passado distante...
Parece-me que a qualquer momento algum judeu poderia sair de uma daquelas esquinas,
quem sabe a figura serena de Samuel HaLevy, o Embaixador e Tesoureiro d’El Rey Pedro I
de Castilla. Encontro-me percorrendo as mesmas ruas por onde nossos irmãos e irmãs
abandonaram penosamente Toledo em direção ao exílio.
As ruas estão cada vez mais desertas, dado o frio intenso. Mas estariam mesmo? Sinto que
me acompanham. Chego a imaginar que me roçam os ombros. Tenho uma estranha
sensação de que não é a primeira vez que passo por aquelas vielas... A multidão segue em
silencio, não se ouve aquele burburinho característico. Afinal, estavam deixando a Pátria,
apesar de tudo...
Assim como Samuel, que acolheu El Greco em sua casa, também sou um Levita. Um gene
perdido tenta me sensibilizar em plena Juderia. Será que já estive ali ? entre filas de irmãos
que partiam ? ... meus antepassados teriam chegado pouco depois do inicio da Diáspora
Judaica no ano 70 DC... mas ainda não terminara a busca do nosso destino...
Corria o ano de 1492. Madrid era ainda um pequeno povoado desconhecido. Na Corte de
Toledo, os Reis Católicos Fernando de Aragon e Isabel de Castilla haviam resolvido expulsar
os judeus de España. Numa última tentativa, o Conselheiro Real Isac Abravanel tenta
reverter o decreto.
A súplica de Abravanel não fora em vão... elevando-se ao firmamento, durante cinco
séculos ressoou pelos buracos negros do Universo, até que um dia encontrou bons ouvidos
...
Isac Abravanel nunca imaginou... mas um dia em terras de España haveria de reinar um
soberano justo e humano, Juan Carlos I, de Bourbon e Battenberg, que aos 31 de março de
1992 adentraria em Madrid à primeira sinagoga erguida em España nos últimos cinco
séculos, e diante da sua Reina Sofia, do General Chaim Herzog, Presidente do Estado de
Israel, e de um punhado de descendentes daqueles mesmos judeus expulsos pelo Reis
Católicos, declararia ao Mundo seu desejo real de que a Paz viesse para todos os Povos...
A noite vem chegando. Preciso retornar a Madrid. Procuro a saída da Juderia. Mais uma vez
sinto que me acompanham.
Toledo é uma cidade plena de lendas. Nem todos gostam de passar a noite por perto do
antigo anfiteatro romano, onde se faziam Autos de Fé.
Nossos irmãos se foram, mas as criaturas ficaram, e a noite aparecem de quando em
quando pelos meandros do Rio Tejo.
Tangidos pela intolerância, os judeus de Sefarad [3] se espalharam pelos quatro cantos do
mundo civilizado de então. A Humanidade tanto deve aos que percorrendo o mesmo
caminho que hoje trilhei partiram sem saber que um dia, seus descendentes, os Sefaradim
[4], tão importante papel desempenhariam nos negócios, nas artes, na cultura, nas ciências,
e que a final haveriam de retornar a mesmíssima Sefarad, novamente como outrora uma
grande nação.
Universidade de Teerã Descobre a Cura do Câncer
Não, esta manchete jamais aparecerá em nenhum jornal.... Pesquisa para curar doenças não
é prioridade dos petrodólares. Como se sabe, o país dos aiatolás cismou com a bomba
atômica. Vivendo para um deus, pretendem impor a sua religião acima de todas, como se
felicidade dependesse disso.
Para nós, brasileiros, que temos outra noção de vida, tudo parece muito estranho. Não
estamos acostumados com fanatismo. Temos mazelas como criminalidade e pobreza; nada
que a sociedade, se resolver por decidir, não possa reverter.
A imagem do presidente iraniano na mídia é preocupante, recordando o ditador nazista
cujo nome preferimos sequer mencionar, e que o Brasil ajudou a derrotar enviando a FEB -
Força Expedicionária Brasileira para a Itália em 1944. O nazista provocou o Holocausto. O
persa nega que tivesse existido. O nazista bombardeou a população civil de Londres com as
V-2. O persa armou terroristas para bombardear a população civil de Israel com seus
foguetes.
Em abril de 2011 havia 40 mil foguetes armazenados no lado libanês da fronteira. Nós,
brasileiros, estamos distantes destas histórias. Temos uma missão a cumprir, de trabalhar
pelo desenvolvimento do Brasil, que felizmente não passa por guerras, destruição.
Que a nossa melhor intelligentzia pense com critérios sociais, como fazer para que este país
siga seu destino de grande nação, com melhor distribuição das nossas imensas riquezas.
Neste país trabalha-se lado a lado, sem a preocupação de quem é o outro. Somos todos
iguais. E é bom que permaneça assim.
São tempos difíceis para a Humanidade, cada vez mais confrontada com novas e terríveis
ameaças: fundamentalismo, terror, risco da proliferação de armas atômicas, para citar
apenas algumas. O conflito no Oriente Médio envolve tudo isso, encontrando-se por demais
polarizado na opinião pública. Muito já foi dito e escrito, e nada do que poderia ser aqui
complementado seria novidade. Tudo vem de muito longe no tempo e na história. Hoje,
quando identidades oprimidas se levantam em diversas partes do mundo, até com táticas
beligerantes e malévolas, convém analisar porque o terrorismo vem crescentemente
ganhando força, e como este encara não só Israel, mas todo o Ocidente. Aí é que começa a
questão, mas isso foge ao alcance deste texto.
Nos tempos que correm, estamos assistindo episódios que guardam assustadora correlação
com o período de ascenção do nazismo na Europa, quando aqueles imputavam
indiscriminadamente aos judeus a culpa por todos os males do Universo. O episódio das
caricaturas de Maomé foi seguido por manifestações contra Israel e os judeus, como se a
Dinamarca, pais cristão, tivesse uma estrela de David em sua bandeira, e não a Cruz.
O Ocidente observa, com olhos de Chamberlain em Munique 1938. A História é cíclica. Os
judeus, que no passado estiveram na mira da "Sancta Inquisição", hoje experimentam um
fraternal diálogo inter-religioso com os descendentes daqueles crentes que lhes
engendraram um tribunal especial e privativo. Já com os muçulmanos, com quem um dia
viveram e prosperaram lado a lado, muito se deve avançar para atenuar mútua
incompreensão. E isto na era do celular e da Internet.
Seria lícito esperar que estas maravilhas tecnológicas ajudassem a aproximar a
Humanidade. Ilusão. As fogueiras do passado continuam acesas virtualmente nas telas dos
computadores. O discurso sectário e belicista do presidente iraniano Mahmoud
Ahmadinejad: Mundo sem Sionismo - O Fim de Israel, embora repulsivo, tem valor didático,
alertando para as proféticas palavras bíblicas. A História da Rainha judia Esther, na antiga
Pérsia, nos conta que Haman, ministro mais importante do Rei Assuero (Achashverosh),
também quis o fim de Israel, mas acabou enforcado. Está na Torá (Lei de Moisés): "...
extinguirei totalmente a lembrança de Amalec debaixo dos céus", o que se cumpriu no tempo
de Assuero da Pérsia, quando Haman e seus dez filhos foram castigados.
Mas a Torá certamente não é a leitura predileta do presidente iraniano Mahmoud
Ahmadinejad. Resta-nos aguardar que a razão prevaleça, que os dignos triunfem, pois
certamente se encontram em todas as nações.
URUGUAY, UM PAÍS SEM PRESSA - Olhar judaico de um brasileiro
Ainda existe um lugar sem engarrafamentos, Montevideo. Cidade tranquila, organizada,
carros e prédios antigos, as vezes decadentes, carroças, a tração animal pelo centro
misturando-se com a modernidade do belo Aeroporto de Carrasco, bairros elegantes das
praias, trânsito fluindo devagar, motoristas disciplinados. Restaurantes famosos pelas
carnes, shoppings cheios aos domingos, cassinos, feira de antiguidades de Narvaja, o Farol
de Punta Brava, Piriápolis. Os brasileiros são uma constante em todo lugar. Os uruguaios se
esforçam em falar portunhol, dispensando-nos tratamento carinhoso.
A visita ao mercado popular do porto é imperdível, assim como aos calçadões da Ciudad
Vieja, os famosos alfajores de chocolate, doce de leite. El Fogón, La Pasiva, Confiteria
Esmeralda, San Rafael, lugares tradicionais do bom comer montevideano.
A comunidade judaica, pequena mas atuante, se revela pujante na Universidade ORT com
10 mil alunos, em seus modernos campi do centro e Pocitos, superada apenas pela
Universidade da República. Possuem amplas bibliotecas, um departamento de cultura
judaica tem editado diversas publicações. Bancos israelenses atuam em escala de
atendimento ao público, em Montevideo e até em Punta, na tradicional Avenida Gorlero.
Um original monumento ao Holocausto ocupa boa extensão da praia em Punta Carretas, o
simbolismo dos trilhos levando ao mar aberto, o ambiente pedregoso, a amplidão do
espaço, tudo leva a refletir sobre esta incomensurável tragédia, que se abateu não só sobre
o povo judeu, mas sobre toda a humanidade.
Mas a cidade é eclética, uma pracinha denominada Espacio Libre La Ciudad de Montevideo
al Pueblo Palestino fica situada bem perto do campus Pocitos da ORT.
Uma outra plazoleta na praia recorda o Gran Rabino Jayme Spector (1895-1948), primeiro
líder espiritual da comunidade.
Logo procurei Cuareim 1117, esquina de Durazno. Ali, na década de 60 era o Betar [5]. Do
Rio fomos de ônibus para uma machané (acampamento). Foram dois dias de viagem.
Surpresa: o Betar mudou para Pocitos, o prédio antigo agora está novinho em folha,
exibindo a placa Iglesia Evangélica Vino Nuevo. A porta entreaberta deixa escapar sons de
violão e os fiéis entoando seus cânticos. Aliás, ela tem uma vizinha brasileira, a Iglesia
Pentecostal Dios es Amor ...
No Museo Naval, uma sala é dedicada especialmente à Batalha do Rio da Prata. Eram
06h21m de 13 de dezembro de 1939. Ao abrir fogo sobre o Graf Spee, ao largo de Punta del
Este, o cruzador HNMZS Achilles tornou-se a primeira unidade neozelandesa a entrar em
combate na 2ª. Guerra Mundial. Um golpe poderoso, o primeiro dos muitos que
esmagariam os nazistas.
Em 82 minutos, o Achilles e os britânicos HMS Ajax e HMS Exeter alcançaram uma
significativa vitória contra o cruzador de bolso alemão, que tentou sem muito sucesso
afundar navios ingleses durante alguns meses em que se escondeu pelos mares, entre o
continente americano e africano. O Graf Spee foi construído burlando o Tratado de
Versalhes. Vendo-se perdido, o comandante nazista Langsdorf decidiu recuar, entrando no
porto neutro de Montevideo. Hitler mandou que lutassem até a morte, mas ele preferiu
não; mandou afundar o navio, salvando a tripulação, que ficou internada na Argentina.
Langsdorf se suicidou, e o navio jaz até hoje no fundo do rio simbolizando o afundamento
da própria Alemanha, que nos seis trágicos anos seguintes, 1939-1945, também se
afundaria e ao seu próprio povo, como premonitoriamente acontecia com o Graf Spee logo
após o inicio da 2ª. Guerra Mundial.
Praticamente toda a cidade assistiu a beira-rio o Graf Spee saindo do porto, mas ele não foi
combater os britânicos que o esperavam em águas internacionais. Enormes explosões o
partiram e o afundaram. Do alto da Fortaleza del Cerro, o Presidente da República e seus
ministros assistiram a tudo. Vivia-se uma crise diplomática entre Uruguay, Alemanha e
Inglaterra. Quantos de nossos correligionários não estariam naquelas multidões, torcendo
pela frota inglesa?
Setenta e dois anos passados, também subi ao Cerro de Montevideo. O pessoal do hotel me
pediu que não fosse, é o local mais perigoso da cidade. Ora, logo um carioca? No caminho
passa-se por comunidades humildes, muitas motos circulando. Valeu a pena subir.
Na volta fomos ao porto, onde uma praça perto do Buquebus recorda o Graf Spee, com a
sua âncora e o enorme telêmetro pesando 12 toneladas, que media as distâncias dos alvos.
Já um dos canhões de 150 mm e 14km de alcance encontra-se no Museo Naval, e o
emblema da popa com a águia sobre uma suástica encontra-se acautelado no Banco de la
Republica Oriental del Uruguay, já que vale alguns milhões de dólares. Tudo foi resgatado
do fundo do rio pelo National Geographic.
Ir ao Uruguay é ir a Punta, e ir a Punta é ficar no Conrad, enorme hotel, centro de
convenções e cassino. Em Punta del Este o Templo Beit Meir surpreende pelo tamanho,
mas existem outros que só funcionam na temporada, Ajdut Israel, Templo Rafael e a Mikve
Rajel. Roticerias e carniceria kasher [6] atendem também na temporada. Uma famosa é o
Chiche Cherro. Em Montevideo existe o único hotel kasher da América do Sul, Armon
Suites.
Após uma semana de férias retornamos ao Brasil. No passado dizia-se que o Uruguay era a
Suíça das Américas. Pelo menos, quanto à tranquilidade, a falta de pressa, ainda pode ser
assim considerada ...
TEMPO DE SUBÚRBIO - LEMBRANÇAS DE UM MENINO
Essa é uma estória que poderia ter acontecido com qualquer um de nós, em qualquer lugar
do mundo. O subúrbio tinha poucas famílias judaicas. O menino cursou ginasial e científico
na escola pública. Havia talvez uns mil alunos, e uns poucos judeus. Alguns ocupavam os
primeiros lugares nas turmas.
Certa vez sua mãe estava conversando com uma amiga. Notou que no braço havia um
número tatuado. Foi a primeira vez que viu isso. Depois perguntou a mãe o que significava.
Ela não quis falar muito, começou a recordar suas primas que tanto sofreram nos campos,
mas usava meias-palavras, parecia querer resguardar aqueles fatos.
O menino gostava de ficar sentado no botequim em frente à loja do pai, ouvindo as
conversas com os amigos, às vezes eram vendedores das fábricas de móveis, outras
vendedores à prestação. As conversas começavam na loja e terminavam no botequim, onde
se tomava café nas mesinhas de mármore. O botequim tinha um dos poucos telefones da
região, e seu proprietário gentilmente recebia as chamadas para a loja.
No Largo ficava um ponto importante de reunião dos judeus em trânsito pela região. Era a
alfaiataria. Bem perto ficava a loja de móveis. O mundo suburbano do menino era pobre e
feliz, ele e os amigos todos descalços, sem camisa, jogando bola, subindo pelos morros em
volta. Hoje seria impossível, não há mais espaços vazios para campinhos de pelada, e os
morros estão todos favelizados e dominados pelo tráfico. Alguns o chamavam de gringo,
sem saber exatamente o que era.
O alcance era limitado, havia o trem, os bondes. Alguns locais eram remotos, a viagem
quase uma expedição.
A loja do pai dava apenas para a subsistência. Ele dizia que podia faltar comida em casa,
mas nunca deixava atrasar a mensalidade do colégio. O pai e o avô certa vez compraram
três cofres, sendo dois para as casas e um para a loja. O menino nunca descobriu para que
teriam servido, pelo menos não deixaram nada de herança que pudesse estar ali guardado
... anos depois descobriu que havia muitas cartas de países distantes, incontáveis
duplicatas vencidas e cheques sem fundo dos fregueses...
O pai era um homem culto, ainda que praticamente não tivesse estudo formal, de quem o
menino herdou o gosto pelos livros, pela leitura de jornais. No velho radio Philips holandês
à válvula, o menino ouviu quase chorando a derrota do Brasil em 1954 contra a Hungria, e
dias depois a nova vitória dos húngaros sobre o campeão anterior, Uruguay.
A mãe, embora muito dedicada aos afazeres domésticos, era também chegada à leitura,
inclusive falava português melhor que o pai. Jamais alguém poderia supor que ela não era
brasileira, tal era a perfeição com que se expressava. Ao se naturalizar, o Juiz Federal pediu
que lesse um trecho da Constituição, como manda a lei, e logo a interrompeu nas primeiras
linhas, admirado.
O pai, com auxílio da sogra, estabeleceu-se com a Mobiliaria, e no ano seguinte a família
mudou-se para o mesmo edifício, bem em cima da loja. Um lugar calmo, que hoje tem um
movimento incrível, tendo se transformado no point das lojas de automóveis.
O tempo passou. A família mudou-se para um bairro melhor, mas o pai continuou com a
loja. Havia completado 84 anos, quando num belo dia de maio, fechou a loja como sempre.
No dia seguinte a loja não abriu. Os vizinhos estranharam, afinal ele nunca havia faltado
nenhum dia em 40 anos...
A triste notícia correu rápido, tantos ali eram filhos e netos de fregueses da loja. O carteiro
chorou ao passar naquele dia para entregar as cartas.
Com o falecimento do pai foi impossível permanecer. Ele nunca quis revelar os segredos,
não deixava. Resultado, a loja morreu com ele. Talvez fizesse isso pois não queria que o
menino seguisse este ramo, e sim que tivesse uma profissão, que foi o que ocorreu.
Assim terminou a fase do subúrbio para a família. Já não havia quase judeus por ali. O pai
jamais enriqueceu, mas a todos ensinou relevantes lições de vida, e ao menino legou seu
nome honrado a zelar.
Teria a Peste Negra tangido os Blajberg da Áustria para a Polônia
?
A Peste Negra, pandemia do séc. XIV matou algo entre 75 e 200 milhões de pessoas de 1348
a 1350, metade da população europeia. Hoje sabemos que se tratava da peste bubônica,
propagada pelas pulgas que infestavam os ratos trazidos da China em navios.
Logo culparam os judeus, o que trouxe a destruição para mais de 200 comunidades
judaicas, porque eles eram menos atingidos, graças à religião que mandava lavar as mãos
antes das refeições, tomar banho ao Shabbat [7], lavar corpos ao sepultamento. Nos guetos
eram mais protegidos do contagio, e praticando a limpeza de restos de farelo antes de
Pessach [8]privavam os ratos de alimento, minimizando a propagação da doença.
As perseguições modificaram a historia, com o epicentro da vida judaica migrando do Oeste
para Leste, o que poderia reforçar a tradição oral sobre as origens da nossa Família
Blajberg passada, pelo meu saudoso genitor Abram Blajberg, Z”L [9] : nossos
antepassados remotos entraram na Polônia vindos da localidade de Bleiberg, nas
montanhas da Carinthia (Karnten – Áustria). Era o que vinha sendo passado per secula
seculorum, de geração em geração, chegando assim ao nosso tempo.
Abram nos deixou em 1994, sem saber que a história era real. Isto porque ainda não existia
a Internet como hoje a conhecemos, com banda larga e Google. Quando foi possível
pesquisar com mais profundidade Abram já não estava mais aqui. Como teria gostado de
saber !! Nos meandros da Grande Rede, o milagre tecnológico nos revelava a pequenina
Bad Bleiberg, em torno de antiga mina de chumbo (alemão - Blei). Nosso sobrenome é pois
um toponímico: montanha de chumbo.
Um dia a exaustão do minério determinou a desativação da mina, mas suas aguas quentes
permaneceram fluindo das profundezas, o que ensejou sua revitalização como atração
turística: passeios de trenzinho pelas galerias, um spa muito frequentado, parques de
diversões, algo como um misto de Bariloche e Gstaad, uma Caldas Novas ou Poços de Caldas
austríaca. Estava pois confirmada a história passada de geração a geração.
Na hipótese que ora formulamos, os Bleiberg, tangidos pela intolerância escaparam
naquela época do morticínio na Áustria, que como Alemanha e Holanda restaram quase
desprovidas de judeus. Dirigiram-se ao Leste, na direção da Rússia e Polônia, que não
sofreram com a Peste Negra, portanto menos hostis aos judeus. Por alguma razão os
Bleiberg escolheram estabelecer-se em Ostrowiec, Polônia, onde permaneceram pelos
próximos 600 anos até 1942, quando todos os judeus da cidade foram levados para o
Campo da Morte de Treblinka, onde pereceram Al Kidush haShem (pelo Santificado Nome).
Quando chegaram a Ostrowiec, nossos antepassados polonizaram a ortografia de Bleiberg
para Blajberg, para obter o mesmo efeito fonético da leitura em alemão, soando como
Blaiberg em português.
Mas na verdade, Bleiberg e Ostrowiec foram apenas pontos de passagem. Somos Levitas,
conforme a tradição oral passada ao meu pai por meu avô, que por sua vez a recebeu de seu
pai, e assim por diante, até chegar a um remoto antepassado da Tribo de Levi, que em pleno
Deserto ao sopé do Monte Sinai não quis acreditar naquele bezerro de ouro, preferindo
aguardar o retorno do nosso Grande Patriarca Moises trazendo as Tabuas da Lei. Pela
demonstração de fé e fidelidade foram os Levitas nomeados auxiliares dos membros da
casta sacerdotal, descendentes do Cohen haGadol (Sumo Sacerdote) Aharon, irmão de
Moisés. Até hoje os Levitas detém esta função, e o privilégio de sermos chamados a Torá
[10], logo apos os Cohanim. Nestes momentos, quando um Cohen une as mãos elevando-as
para o alto na benção sacerdotal, a congregação evita olhá-lo, cobrindo os olhos com o
Talit (manto ritual) pois ali naquele instante se manifesta a Presença Divina.
Não fora a pandemia, os Bleiberg teriam permanecido na Carinthia ? Não sabemos a
resposta, nem se estaríamos aqui no Brasil ou alguma outra paragem que os acolheu na
busca de um mundo melhor, onde não nos fosse lançada pejorativamente a palavra Zyd
(judeu). As únicas certezas são de que através dos séculos seguimos fieis a Lei de Moises,
tementes a D_us, o Grande Arquiteto do Universo, sendo hoje tão brasileiros quanto
qualquer outro brasileiro.
MONUMENTO EM MEMÓRIA DO TRIPULANTE FRANCO-BRASILEIRO
JUDEU
Georges Schteinberg nasceu em Paris em 27 de dezembro de 1922. Foi Sargento da Armée
de l'Air (FAFL - Força Aérea da França Livre). Um Monumento em Memória deste
Tripulante Franco-Brasileiro Judeu morto em combate há 70 Anos foi inaugurado na
Holanda no seu aniversário de falecimento, 22 de outubro de 2013.
Georges emigrou para o Brasil, onde atendeu ao chamado da França agredida pelos
nazistas, e em 01 de dezembro de 1942 alistou-se como voluntário na Força Aérea da
França Livre. Após treinamento na Inglaterra em Escolas da RAF, foi destacado como
Sargento Metralhador para o Grupo de Bombardeio Lorraine, um esquadrão francês da
RAF.
Assim, depois de viver no Brasil durante 9 anos (1933-1942), George tornou-se um
combatente pela França, encontrando a morte na flor dos 21 anos, em missão de
bombardeio sobre a Holanda ocupada, quando seu avião do 1º Esquadrão do 20º Grupo de
Aviação – Lorraine da Força Aérea da França Livre foi atingido pelo fogo antiaéreo. Era um
Douglas DB7, bombardeiro leve de ataque. A FAB utilizou também algumas dessas
aeronaves, das quais 9 mil foram construídas a partir de 1941.
Era uma perigosa e difícil missão de bombardeio, a baixa altitude sobre uma fábrica de
aviões em Charleroi na Bélgica ocupada, próximo a Rotterdam, executada pelo Douglas
Boston IIIA BZ 393 do 342 Squadron Lorraine des Forces Aériennes Françaises Libres.
Com um motor em chamas, projetou-se sobre o solo, na localidade de Veere, na costa da
Holanda, ocupada pelos nazistas.
Schteinberg foi condecorado post-mortem com a Médaille de la Résistance et Croix de
Guerre avec Palme, por Decreto de 12 de janeiro de 1945, assinado de próprio punho, em
Paris, pelo General De Gaulle. A citação da Medaille Militaire descreve Georges como
excelente metralhador, alistado desde a primeira hora na Armée de l'Air. O documento cita
George como tendo uma morte gloriosa frente ao inimigo.
Sua sepultura no cemitério militar francês, na Holanda, exibiu durante quatro décadas uma
cruz (reportagem de 07.05. 1976 na revista israelense 7 Iamim: “Cruz na Sepultura de
Herói Judeu”, quando Sr. Octave Schteinberg, 75 anos, residente na Tijuca, visitou um outro
irmão. que mora em Israel), até ser substituída pela Estrela de David na década de 80. Em
volta, pode se ver inúmeras cruzes com a placa “Français non identifié”.
A história do tripulante judeu, cuja matzeivá [11] ostentou indevidamente uma cruz,
somente foi divulgada em 2005, na homenagem prestada aos 42 Heróis Brasileiros Judeus
da Segunda Guerra Mundial, no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro. Sua história está
no livro Soldados que Vieram de Longe (AHIMTB/FIERJ, 2008). O nome de Schteinberg
figura em placas no Consulado na Maison de France e no Mausoléu dos Franceses no
Cemitério São João Baptista. Outros nomes judaicos aguardam nas placas e no Mausoléu
que deles venha a ser removida a pátina do tempo, fazendo justiça a bravos irmãos de fé.
Por iniciativa dos cidadãos de Aagtekerke, um Monumento foi inaugurado nos 70 anos das
suas mortes heróicas em 22 de outubro de 2013, pela França Livre, pelo Brasil e pela
Holanda.
O Memorial foi erguido pelo Conselho da Vila de Aagtekerke, tendo sido adotado pelas duas
escolas primárias da cidade. A pequena Aagtekerke, onde ocorreu a queda da aeronave
pertence ao município de Veere e tem cerca de mil habitantes.
Situa-se às margens do Mar do Norte na costa da Holanda, próximo ao Canal da Mancha,
entre Antuerpia e Roterdam. É uma daquelas cidadezinhas que parecem um cartão-postal:
florida, com suas casinhas típicas e, como tantas outras, maculada pelas tragédias da
guerra.
Durante a inauguração, duas aeronaves históricas North American T-6 Harvard da Força
Aérea Holandesa realizaram um sobrevôo sobre o local, quando foi executado o toque de
clarim “Last Post”. Este avião foi extensivamente utilizado no Brasil, no treinamento dos
cadetes da antiga Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro. Milhares
foram utilizados durante a 2ª. Guerra.
Compareceram autoridades civis e militares: Major-General Pascal Valentin, da Armée de
l'air da França, Comandante do EATC -European Airtransport Command – OTAN; Coronel
P.J.A. De Jongh - Royal Netherlands Air Force; Coronel Bénoît Esqué – Adido de Defesa
junto a Embaixada Francesa em Haia, Holanda; Comandante Bas Dijkhuizen – Estação
Naval de Flushing; Tenente André Bustraan – Estação Naval de Flushing; Dr. Robert van
der Zwaag - Prefeito da Cidade de Aagtekerke; Ton Verhulst – Presidente do Conselho da
Cidade de Aagtekerke; Mr. Hans Nonnekes – Secretário do Conselho da Cidade de
Aagtekerke; Chris Maas - Alderman; Dr. BC Léon Dewitte OBE – Mestre de Cerimônias.
Do Brasil participaram da cerimônia de inauguração as irmãs Henriete Schteinberg Musser,
e Hana Schteinberg, sobrinhas do Sgt Georges Schteinberg, residentes no Rio de Janeiro e
de Israel o sobrinho Georges Schteinberg, que leva o nome do seu tio.
FESTINHA NA ESCOLA JUDAICA
Era com muita, muita emoção que os vovôs e vovós assistiam a belíssima festinha da escola
brasileira judaica.
As crianças adentrando o auditório, o sorriso inocente, as coreografias tão bem ensaiadas
no palco, um adeus aqui e ali para a vovó ... o encantamento ... as tradicionais canções ...
Um sonho se materializa nas mentes dos vovôs. Parecem verem-se eles mesmos em outra
festinha assim, há muitos anos, de avental branco cercados por outras crianças.
Reconhecem um ou outro, este se tornou um grande médicos, aquele engenheiro, outros
seguiram diferentes caminhos. Uns tiveram muita sorte, outros, menos. Para alguns a vida
sempre sorriu, para outros o destino nem tanto.
Com um nó na garganta, lembram de 50 - 60 anos atrás, a escola acanhada de uma
comunidade modesta do subúrbio, o pequeno prédio pintado de azul, a Estrela de David
desenhada sobre o cimento na parede da fachada, onde aprenderam o a-b-c... e o alef-bet...
[12]
Saudades... se dissessem, jamais acreditariam... você vai ser avô... um dia vai ter muitos
netinhos ...
Era um auditório simples, nada que se comparasse as poltronas estofadas, o ar
condicionado da escola de hoje. Mal havia máquinas de escrever, computador nem pensar,
nem mesmo telefone na escola.
Mas tudo mudou. Mudam as cidades, já muito poucos de nós ainda moramos ali por perto,
mudam os uniformes, não mais a farda caqui com o quepi, agora camisetas. Mudam até as
crianças. Rostinhos morenos, a desmentir com o sorriso infantil o pérfido libelo dos antisemitas,
“... povo fechado, não se mistura ...”
Mas algo não mudou. Como relata orgulhosa a diretora, vários alunos foram aprovados nos
vestibulares, obtendo honrosas colocações. E o principal, nas professoras de hoje
permanece o mesmo carinho, a mesma dedicação.
A figura do Lerer [13]... Como gostava dos alunos ... era um verdadeiro Janusz Korczak, em
sua infinita dedicação. E as antigas professoras ... ainda imigrantes ... renascem nas
preciosas educadoras de hoje, altamente qualificadas.
A promessa do Eterno no sonho de Jacó ... Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão, dele
descendemos todos nós, Filhos de Israel, as Doze Tribos.
A visão da Era Messiânica, que virá após muito sofrimento sobre seus descendentes.
Está no Talmud [14]- nosso Grande Patriarca Yaacov nunca morreu: "Seus filhos vivem e,
portanto, também ele vive".
A Eternidade de Israel .... na festinha da escola judaica ...
MILITARES BRASILEIROS SEFARADIS [15] DA 2ª. GUERRA MUNDIAL
Pelo menos quatro militares brasileiros sefaradis integraram as forças brasileiras no maior
conflito do século XX, sendo 27 na Força Expedicionária Brasileira (Itália)
Sua participação foi pouco conhecida. Mesmo os que se tornaram heróis, agraciados com
medalhas concedidas apenas em casos de bravura excepcional em combate, foram
praticamente esquecidos. Em geral, não se conheciam entre si: brasileiros natos de
primeira geração, seus pais e avós eram imigrantes de países como Marrocos e Turquia.
Embora os cidadãos de fé judaica fossem mobilizados normalmente como qualquer outro,
havia uma diferenciação. Os combatentes judeus participantes do conflito, além de
compartilhar dos riscos normais de uma guerra, sujeitavam-se ainda caso fossem
capturados à execução sumária ou envio aos campos de extermínio nazistas. Foi esse,
lamentavelmente, o destino de quase todos os militares judeus russos (85 mil) e poloneses
(65 mil) que caíram prisioneiros dos nazistas.
A seguir traçaremos breves perfis de alguns destes combatentes.
Tenente-Coronel de Artilharia Waldemar Levy Cardoso, o último Marechal do Exército
Brasileiro. Com 108 anos, era o mais antigo ex-combatente, até falecer em 13 de maio de
2009, e como tal, era detentor do Bastão de Comando da FEB. Na Itália comandou um
Grupo de Artilharia da FEB. Filho de Armando Cardoso e Da. Estela Levy, judia de família
originária do Marrocos. O então Coronel Levy converteu-se ao catolicismo aos 54 anos de
idade. Sempre foi alegre e jovial, dizendo-se “... judeu de raça e católico de religião...”. Era o
militar judeu de maior patente à época.
Tenente de Infantaria Moyses Chahon foi comandante de Pelotão do Regimento Sampaio na
conquista de La Serra, sob pesado fogo de artilharia e morteiros alemães. Ferido em
combate, foi agraciado com a Medalha Sangue do Brasil. Tenente Chahon, o Herói de La
Serra, foi ainda agraciado com a Silver Star e a Cruz de Combate de 2a. Classe.
É notável que dois irmãos sefaradis combatessem na FEB: os Tenentes Alberto e Moyses
Chahon. Os jornais da época noticiavam o fato inusitado, entrevistando a mãe dona Matilde
Gammal Chahon. A ela fora concedida a possibilidade de indicar apenas um dos filhos para
ir à guerra, mas sua decisão foi firme: “... ou vão os dois, ou não vai nenhum ...”
Capitão-de-Longo-Curso Jacob Benemond, comandava o Olinda, segundo vapor a ser
torpedeado por submarino nazista. Conseguiu salvar toda a tripulação, à deriva no mar
gelado durante 36 horas.
Fonte: Depoimentos de veteranos e familiares colhidos pela Comissão de História Oral do evento Heróis Brasileiros Judeus da
Segunda Guerra Mundial, em que foram homenageados os ex-combatentes pela passagem dos 60 Anos do Dia V-E, 8 de Maio
de 1945, da Vitória Aliada na Europa, no Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro. Coordenação: Israel Blajberg -
Entrevistadores: Fanny Lewin, Nelson Menda, Rosita Naidin e Sylvia Cohn Gali. O colunista é Sócio-Titular do Instituto de
Geografia e História Militar do Brasil - IGHMB, Cadeira 73 - Marechal Mascarenhas de Moraes. Acadêmico da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil - AHIMTB - Cadeira 24 - Coronel Mario Clementino.
ERETZ [16] AMAZÔNIA – A SELVA NOS UNE
Manaus. Uma rápida visita à encantadora metrópole manauara é suficiente para avaliar a
ponderável densidade da contribuição judaica para o desenvolvimento da
Amazônia. Aparentemente oculta pela selva, a presença judaica revela-se em toda a sua
plenitude para um observador atento.
Basta andar pela cidade, ler as placas das lojas, as manchetes dos jornais. Bemol, Benzecry,
nomes que soam familiares, e que sem duvida estão incorporados ao linguajar amazonense.
Em Macapá por exemplo, o Porto se chama Major Eliezer Levy, antigo prefeito da cidade.
Nos confins do Acre, Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia, nomes judaicos sefaradis são
comuns no comércio, na política. Em Belém, Itacoatiara, Santarém, tantas e tantas cidades,
onde houve e há sinagogas, cemitérios.
Um retrato na primeira página do jornal chama a atenção. Jovem lindíssima, adornada por
plumas amarelas. Ninguém menos que Geane Benoliel, cunhã guerreira do Caprichoso. O
nome e a expressão do seu rosto não deixa dúvidas quanto à sua origem. Admirando sua
figura maravilhosa, lembramos a beleza da Rainha Esther ... Não sabemos se ainda professa
a Lei de Moisés, ou se as suas origens se perderam na poeira dos tempos, como aconteceu
com tantos e tantos da nossa gente ...
Uma coisa podemos garantir, não estava na sinagoga de Manaus naquele sábado pela
manhã ... onde fomos apreciar o Shabat, e o tradicional kidush sefaradi [17] marroquino
que se seguiu, na bela sinagoga onde compareceram cerca de 50 correligionários...
A matéria define Geane como uma das mais fascinantes cunhãs da história da festa bovina.
Não se fala em outra coisa em Manaus a não ser a Festa do Boi de Parintins, onde duas
tradicionais agremiações competem entre si, o Boi Caprichoso, azul e branco (coincidência
???), e o Boi Garantido, vermelho. Os maiores puxadores de toada do Boi são ninguém
menos que os irmãos Assayag ...
Ao longo do porto, embarcações anunciam vagas para a viagem. Parintins fica a 26 horas de
barco de Manaus, pelas mesmas águas navegadas por aqueles marroquinos sonhadores,
que em 1810 deixaram o Marrocos sofrido em busca de um lugar onde pudessem gozar a
desejada liberdade.
Nesta jornada, chegaram até Iquitos, no Peru, e levando junto a sua religiosidade, muito
contribuíram para o progresso da Amazônia, primeiro como comerciantes e
empreendedores, e mais tarde como profissionais liberais, empresários, militares.
Segundo o Professor Samuel I. Benchimol, Z”L (1923-2002), notável estudioso da cultura
amazônica, haveriam no mínimo 50 mil descendentes daqueles judeus marroquinos,
número este que poderia chegar a quase 300 mil, a imensa maioria, infelizmente, já
afastada do judaísmo.
Seu livro Eretz Amazônia é uma obra que deveria ser lido por todos os brasileiros, sejam ou
não seguidores da Lei de Moisés, a fim de que conheçam a importante contribuição judaica
para a Amazônia, quase desconhecida do grande público.
Samuel Benchimol repousa eternamente numa sepultura destacada das demais, na ala
judaica do cemitério, a frente. Não muito distante, podem se ver diversos túmulos judaicos
ostentando a Estrela de David, perdidos em meio ao mar de cruzes, do cemitério original.
Inclusive o tumulo do Rabino Milagroso, Shalom Emanuel Muyal, nascido em 1910, repleto
de plaquetas agradecendo por milagres supostamente concedidos, ali colocadas pela
população em geral.
Não poderia deixar de ilustrar este texto uma referência a Sua Eminência Reverendíssima,
o Arcebispo Metropolitano de Manaus, Dom Luiz Soares Vieira.
Este e um nome que deve ser lembrado por todos, especialmente pelas comunidades
judaicas, em razão da sua especial sensibilidade, como vemos pelas suas sábias palavras.
As vésperas do Pessach, em sua coluna publicada nos principais jornais de Manaus, Dom
Luiz escreveu que “... este povo tem a benção de D-us ... a Páscoa Judaica reafirma o
sentimento de Liberdade... como condição para viver como seres humanos dignos... a
Presença de Javé, o D-us de Israel é Libertadora...”
Nada melhor para definir a relação entre aqueles judeus fervorosos que trocaram a terra
natal sofrida do Marrocos pela Amazônia abençoada, sem jamais pensar em partir de volta,
aqui deitando raízes para trabalhar e ajudar a defender a nossa Amazônia:
Eretz Amazônia - A Selva nos Une !
A SINAGOGA QUE O PAPA ESQUECEU EM ERFURT, CIDADE COM NOTÁVEL PASSADO JUDAICO
Em sua Viagem Apostólica de setembro à terra natal, Alemanha, o Santo Padre Bento XVI
esteve em Erfurt na Turingia, que detém 5% dos eleitores da extrema direta alemã,
consequentemente infestada de neo-nazistas.
A Prefeitura postulou a inscrição da cidade junto a UNESCO como Patrimônio da
Humanidade, devido ao seu "passado judaico", revelado quase por acidente, quando
centenas de moedas de ouro e prata, além de inúmeros utensílios e objetos remontando à
Idade Média foram descobertos durante escavações no centro histórico. A expressão de boa
sorte, "Mazal Tov", estava inscrita em muitas das peças.
O tesouro foi enterrado em 1349 pelos judeus, temerosos de um pogrom [18], após terem
sido acusados de envenenar os poços, causando a Peste Negra que devastou a cidade,
poupando relativamente os judeus, seguidores de preceitos bíblicos de higiene. O temor era
justificado, pois todos os 900 judeus de Erfurt foram massacrados por multidões
enfurecidas.
Pelo menos outras três cidades alemãs - Speyer, Worms e Mainz - também estão buscando
honrar sua história judaica, habilitando-se junto a UNESCO como Patrimônio da
Humanidade.
Somente com a queda do Muro de Berlim, em 1989, é que os estudos avançaram em Erfurt,
que ficava na zona comunista. Arqueólogos desenterraram uma sinagoga de 1094, a mais
antiga da Alemanha, com mikveh (piscina para o ritual judaico de imersão) e lápides
judaicas. A sinagoga foi reaberta e transformada em museu, como aconteceu com a nossa
Kahal zur Israel [19]de Recife (esta, entretanto, 600 anos mais nova).
O tesouro de Erfurt vem rodando o mundo. Esteve em Paris em 2007, sob o titulo "Trésors
de la Peste Noire", no Hôtel de Cluny. Foi no Yeshiva University Museum, do Centro de
História Judaica em Nova York, ao final de 2008, que tivemos a oportunidade de conhecer
estas relíquias, na exposição "Erfurt: Tesouros judeus da Ashkenaz [20] Medieval".
A coleção está programada para ser exibida em Londres, na Wallace Collection e no Beith
Hatefutsoth em Tel Aviv, antes de retornar para a exposição permanente na Sinagoga de
Erfurt.
Aos 24 de setembro de 2011 o Papa rezou missa na Catedral de Erfurt. Posteriormente,
reuniu-se de surpresa com um grupo de vítimas de abuso sexual clerical. Na Alemanha
existem pelo menos 600 processos indenizatórios de fiéis que sofreram tais abusos; é de se
ressaltar que um número considerável de católicos abandonou a religião devido a estes
infaustos acontecimentos.
Em Berlim, onde o Papa alemão iniciou a visita, oito mil manifestantes ligados a estes
grupos protestaram em passeata. Lá também ele se encontrou com líderes da colônia
islâmica (quatro milhões de habitantes).
Erfurt é uma cidade protestante, com apenas 7% de católicos, as vésperas dos 500 anos da
Reforma de Martinho Lutero, a ser comemorada em 2017. Seus habitantes receberam o
Papa com moderado entusiasmo, até porque após quatro décadas de comunismo muitos
deles são ateus.
Mas o Papa esqueceu-se da sinagoga e dos tristes acontecimentos de tantos séculos atrás. A
véspera do Rosh haShaná 5772 [21], o renascimento da Sinagoga de Erfurt, que
testemunhou tantas festas e realizações da antiga comunidade judaica, hoje prova que um
passado sombrio não impedirá que o entendimento prevaleça entre os homens e mulheres
de bem.
Resta saber o porquê do esquecimento Papal, justamente quando do Ano Novo Judaico. A
cidade, sua história, a busca em redimir o passado e os acontecimentos mundiais que
afetam a Humanidade justificariam pelo menos uma breve lembrança daqueles 900 irmãos,
cujo único pecado foi terem nascido judeus, e lavarem as mãos antes da refeições, como
manda a Torá [22].
SHALIT – UM SOBREVIVENTE
No Brasil, estando tão longe de guerras e catástrofes, a perspectiva da distância oferece-nos
a oportunidade para uma profunda reflexão sobre os acontecimentos globais.
Assim é com a libertação de Shalit, que embute forte simbolismo para todos que levam a
sério o discurso belicoso do Hamas, Hezbolah e seus tutores sírios/iranianos. Era como se o
tivessem libertado de um campo de extermínio nazista, embora aprisionado em meio a
pretensos campos de refugiados que vemos na Internet, pontilhados de hotéis luxuosos e
praças iluminadas, onde não se passa fome. Enquanto terroristas embarcavam gordos e
bem dispostos nos ônibus, as imagens dos últimos sobreviventes do Holocausto libertados
pelos Aliados pareciam retornar na figura franzina de Shalit.
Magrinho, o uniforme sobrando, cabeça raspada, contrastando com a robustez de Bibi e dos
comandantes que o cercavam, a diferença para com seus irmãos salvos pelas tropas aliadas,
residindo apenas na cor dos uniformes, seja dos sobreviventes, seja dos soldados
salvadores.
Assim como os libertos do inferno na Europa sofrida, Shalit conviverá com lembranças
parecidas. Que recomponha sua vida como tantos o fizeram, e que a memória do seu
sofrimento seja mais um alerta para que todos os homens e mulheres de bem continuem
cada vez mais unidos na luta contra o terror, fortes, até que um dia venha a paz, para toda
Humanidade.
FESTA DAS LUZES – BÊNÇÃOS DA LIBERDADE
Dezembro. O mundo cristão acende as árvores de Natal, enquanto judeus saúdam Hanucá, a
Festa das Luzes. Há mais de 2000 anos um profano imperador grego atentou contra a
liberdade religiosa, pretendendo que os seguidores da Lei de Moisés renunciassem à sua fé.
Matitiáu e seus cinco filhos, os Macabeus, iniciaram a revolta no lugar que a Bíblia cita
como Modiin, na estrada que vai do Mediterrâneo a Jerusalém, onde hoje é o Aeroporto Ben
Gurion, perto de Tel Aviv. Três anos depois, expulsaram os opressores de Israel. Matitiáu
convocou seus soldados com um brado: “Os que forem a favor de D-us que me sigam!”, o que
nos remete ao Duque de Caxias diante da ponte sobre o arroio Itororó, aos 6 de dezembro
de 1868: “Sigam-me os que forem brasileiros !”
Recuperado o Templo Sagrado de Jerusalém, faltava o azeite de oliva ritualmente puro para
reacender a Menorá, o Grande Candelabro do Templo do Rei Salomão, dedicado como o
assento da Divina Presença no nosso mundo. O azeite extraído uma segunda vez não mais
serviria. Apenas as primeiras gotas puras de uma azeitona fresca podiam ser usadas para
acender o candelabro sagrado. Gotas que criam a luz natural mais pura que existe, para
ungir o Rei de Israel e o Cohen HaGadol (Sumo Sacerdote).
A Tribo de Asher era especialmente rica no azeite, tirado em Jerusalém do Monte das
Oliveiras, o mesmo de onde a pomba retirou e levou no bico para a Arca de Noé um ramo
para anunciar que as águas do Dilúvio haviam baixado. Depois de 2 mil anos as árvores
ainda estão lá.
Os gregos maldosamente haviam profanado o azeite do Templo, quebrando os lacres dos
estoques apostos pelo Sumo Sacerdote. Somente uma ânfora foi encontrada intacta,
suficiente para queimar apenas por um dia. Levaria oito dias para produzir o suficiente
com a pureza ritual obrigatória.
Um milagre ocorreu e aquele azeite ardeu por oito dias. Daí a tradição de acender
diariamente uma vela recordatória durante a Festa das Luzes.
Reis gregos tentaram conspurcar o Templo de Jerusalém. Ptolomeu e Heliodoro ousaram
adentrar o recinto sagrado, privativo da casta sacerdotal, ignorando a advertência do Sumo
Sacerdote. Ao tentarem saqueá-lo, pisando no solo sagrado, uma mão invisível os atingiu.
Desmaiaram, e com o choque desistiram. A sorte não mais lhe sorriu. Se por um absurdo os
gregos conseguissem suprimir o Judaísmo, hoje não haveria Cristianismo nem Islamismo,
eis que do primeiro se originaram. Seriamos pagãos adorando divindades mitológicas.
Contemplando as luzes rituais pensamos na nossa Amazônia, tão valiosa para o Brasil. Se
forasteiros pretenderem saqueá-la, do alto da floresta a mesma mão invisível guiará nossos
soldados brasileiros, e o triunfo militar que os Macabeus conquistaram sobre os exércitos
gregos será também aqui reproduzido. Soldados do Brasil, valentes como foram os
Macabeus, saberão defender a Pátria se um dia for preciso, reproduzindo o milagre da
Festa das Luzes, a vitória sobre a escuridão, de poucos sobre muitos, da coragem sobre os
poderosos.
Divulgar o milagre desta festa, acendendo suas velas para todos, é reafirmar um ideal
libertário desejado para todos os povos: um mundo melhor, onde as pessoas, iluminadas
por um candelabro com velas inspiradoras, saberão que se trata de uma comemoração de
homens livres de pensamento e de atitude.
Em meados de dezembro, seja no Brasil ou pelo mundo afora, não será difícil deparar-se
com um candelabro iluminado em alguma praça. Ele representa um desejo sincero dos
judeus: de que a benção da Festa das Luzes, a benção da liberdade, a benção daqueles
soldados valentes de Matatiáu, que com seus cinco filhos hoje repousa na mesma Modiin
bíblica onde nasceram, acompanhe toda a Humanidade, e especialmente nossa gente
brasileira.
ETERNIDADE JUDAICA: UM AVÔ, UM NETINHO, UMA FESTINHA
Vovô chegou bem cedo para a festinha na escola, sexta de manha véspera do Shabbat,
tomando assento na última fila. Mal podia ver o palco, tantas eram as mamães e papais na
sua frente, empenhadas em obter os melhores ângulos para inesquecíveis momentos
fotográficos.
De repente, uma brechinha na multidão permite divisar o netinho ao longe no fundo do
salão, com as professoras. O menino sorri, parece ter reconhecido o vovô, embora ainda
tenha apenas pouco mais de um aninho. Com efeito, já havia murmurado algo parecido com
vovô...
Quanto custou chegar até este dia... desde os idos de 1900 e poucos, quando outros
meninos como este foram levados pela mão da vovó, para iniciar seus estudos com o Rebe
[23] no Heder [24], a escola judaica da época. Mais uns anos e aqueles meninos chegariam
ao Brasil. Se lhes dissessem, não acreditariam. Sua existência neste Vale de Lágrimas seria
plena de lutas, sofrimentos, alegrias, mas coroada de realizações.
E hoje ali estão aquelas criancinhas, terceira e quartas gerações dos imigrantes que aqui
chegaram, não desejando que jamais lhes atirassem despudoradamente a pecha secular ...
Jude ... Zyd ... [25] nunca mais iriam ouvir isso, nesta Terra Abençoada.
Vovô já antecipava há dias as alegrias da festinha. Aos poucos seus olhos vão se semicerrando,
sob a algazarra das crianças e os acordes do piano tocado pela morá [26],
transformando-se em ruído branco cada vez mais distante.
Um sonho se materializa em sua mente. Parece ver-se ele mesmo em outra festinha
assim, de avental branco cercado por outras crianças. Reconhece algumas, uns se tornaram
grandes médicos, engenheiros, outros não tiveram tanta sorte. Para alguns a vida sorriu,
para outros o destino foi cruel.
Lamentavelmente dois amiguinhos iriam se perder na Floresta da Tijuca, outro acidentado
em um desastre.
Muitos já não estão mais aqui, mas todos invariavelmente honraram a nova Pátria, que
acolheu seus pais e avós, tornando-se bons brasileiros, cidadãos úteis a sociedade.
O sonho é muito vívido, parece estar de verdade outra vez na antiga escola do subúrbio,
israelita-brasileira, dedicada a famoso escritor judeu.
A figura do Lerer aparece, risonha. Como gostava dos alunos ... era um verdadeiro Janusz
Korczak em sua infinita dedicação. E as professoras, já senhoras de idade - certa vez uma
delas tomou em sua própria boca a mão machucada de uma criança, como uma leoa que
lambe a sua cria. Antigos mestres, renascem nas preciosas educadoras de hoje, verdadeiras
heroínas bíblicas.
No sonho, o Lerer toca violino, tirando das cordas do instrumento sons alegres de
tradicional música judaica. Apenas uns 10 anos haviam transcorrido do final da guerra, e
do inominável Holocausto. Mas era preciso prosseguir. Das sombras do passado emergiria
uma nova geração, realizando a promessa de D'us no sonho de Jacó.
A festinha vai terminando, a música aumenta. O sonho parecia tão real ...
O avô admira embevecido o netinho, parece ver nele um pouco dos antepassados que
certamente estão lá no alto, nos Ganei Éden [27], apreciando tudo. Estarão mesmo ???
Nessas horas, quando a música judaica das festas infantis chega lá nos céus, o Todo
Poderoso autoriza almas escolhidas a retornarem por alguns momentos. Apenas os mais
sensitivos conseguem divisar seus vultos furtivos, confundindo-se entre os presentes.
Vieram também assistir a festinha. Não foram convidados mas ali estão, vestindo roupas de
outras épocas; em meio aos jovens papais e mamães se misturam, um momento atrás não
estavam ali, de repente se materializam, contemplando as criancinhas.
A festinha vai terminando... muitos sorrisos, o contentamento de todos, a vibração
eletrizando o éter, fazendo sonhar outra vez as almas.
Não fica bem para um avô chorar, mas furtivamente ele enxuga uma lágrima. Ah se pudesse
ficar... mas seu tempo se esgotou. Foram apenas alguns instantes concedidos ao vovô pelo
Grande Arquiteto do Universo, nesta manhã tão especial.
Por um último momento antes de retornar admira orgulhoso seus próprios filhos, netos,
bisnetos, que permanecem seguindo seu exemplo, mantendo para sempre a Eternidade de
Israel.
A Ellis Island Argentina
Através de Ellis Island, a ilha vizinha à Estatua da Liberdade na entrada de Nova Iorque,
milhões de imigrantes chegaram da Europa ao longo das décadas. Foi a era predominante
do vapor como transporte intercontinental.
Com o advento do avião e o fim das grandes imigrações, Ellis Island virou museu. Muitos
países adotaram portos de entrada similares, com as Hospedarias de Imigrantes. Nesses
locais, os recém-chegados tinham que passar pelos controles alfandegários e sanitários.
Alguns desses lugares nas Américas viraram museus da imigração. Entre eles, Hallifax, no
Canadá; a Hospedaria do Brás em São Paulo, onde os imigrantes chegavam de trem após o
desembarque em Santos; e a Hospedaria em Buenos Aires, próximo ao Buque Bus e Puerto
Madero.
Outros pontos ainda aguardam que as autoridades se interessem e se mobilizem pela
transformação, como a antiga Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro, hoje a base
da Tropa de Refôrço dos Fuzileiros Navais.
Interessados pela antiga hospedaria argentina fomos a Buenos Aires. Ao chegarmos fazia
frio. Mas logo veio o calor e numa manhã ensolarada caminhamos de Maipu até a Av.
Antártida Argentina, à procura do que é hoje o Museo de la Inmigración.
Logo chegamos ao Museu. É um grande edifício, bem semelhante aos de Ellis Island, tudo
muito bem conservado. Os galhos desfolhados das árvores dão um aspecto sugestivo
daquela época distante, quando tantos irmãos atravessaram o Atlântico, em busca da
América dos sonhos.
Apreciamos devagar as instalações. As mesas e cadeiras ainda são as mesmas de décadas
atrás, bem como os equipamentos hospitalares, camas, malas. Tudo impressiona pela
amplitude e o pé direito alto, uns 10 ou 15 metros. Tudo é incrivelmente real. Em certo
momento, enquanto estamos envoltos em nossos pensamentos, olhos semicerrados,
alguém surge à distância e se aproxima. A figura parece até um antigo imigrante. Ele vem
ao nosso encontro, saído da porta ao fundo do alojamento. Mas a realidade é mais forte: é
apenas um funcionário da Imigração. O órgão funciona ali mesmo, atendendo a novos
imigrantes, que agora são bolivianos e paraguaios a requerer cédulas e vistos.
Da chegada à saída, um senhor nos atende mui cortesmente, através de duas horas de
impressionante visitação. Não imaginamos por que nos dispensa tratamento tão
respeitoso. Talvez algum sexto sentido lhe fez perceber que ali estava alguém a quem
aquela casa dizia muito. Talvez ele mesmo fosse um filho ou neto de imigrante. Talvez
tantas coisas.
Uma mesa com computadores permite o acesso fácil ao banco de dados abastecido com o
passado. Basta dar um sobrenome e em segundos se recebe uma listagem com todos os
desembarcados ali. É a memória favorecida por abundante informação, protegida do
esquecimento.
Havia uma Blajberg na Argentina, morava em Moiseville. Falecida há mais de 50 anos,
ficaram seus inúmeros descendentes na Argentina. Um deles, Alberto Marcos, que um dia
sonhou com novos rumos, acabou se tornando um dos 1900 judeus desaparecidos durante
o regime militar. Era bisneto de Miriam, portanto 1/8 do sangue dos Blajberg de Ostrowiec
corria nas veias deste jovem. Alberto foi um dos 30 mil que desapareceram nos terríveis
anos entre 1976-1983 [28]
Outro bisneto, Daniel, jornalista e escritor, atuou no El Clarin, e levantou o véu que
encobria um sórdido movimento neo-nazista: escreveu o livro Tacuara, La Primera Guerilla
Urbana Argentina. Em 2009 publicou, em hebraico, o livro Marguerita Serfaty, a Amante
Judia de Musolini.
Assim prossegue o tempo em sua caminhada inexorável, trazendo mais gente e deixando
gente para trás.
Ainda estão para serem escritas fantásticas histórias, de cidades onde floresceu a alma
judaica. De Tanger à Varsóvia, de Moscou a Istambul, cujos descendentes se contam aos
milhões. São as sementes transplantadas além-mar desde antigas e frondosas árvores, que
vicejaram em remotas paragens. Agora, aqui no Brasil e ali na Argentina, são tão brasileiras
quanto qualquer brasileiro, e certamente tão argentinas quanto qualquer argentino.
MEMÓRIAS DE UMA HUPÁ
Sou uma antiga hupá [29]. Durante décadas, à minha sombra, se realizaram tantos
casamentos no Centro Hebraico.
Sob meu pálio de seda, eminentes Rabinos se sucederam, unindo casais que mais tarde
trouxeram seus filhos, estes os netos, que trarão os bisnetos, pelas Leis de Moisés, baixo à
minha cobertura sagrada.
Do alto da bimá [30] cada vez que os portais da sinagoga se abriam para mais uma
cerimônia, sentia que os convidados me olhavam com satisfação, admirando o conjunto
perfeito: eu com o Aron haKodesh [31]. Embora pequena, produzo bela composição visual.
Orgulho-me de ser clássica, simples e discreta, como convém não só para uma hupá, mas
também para as pessoas.
Alguns dos presentes, mais antigos, fechando os olhos, desfilavam como num sonho o seu
próprio casamento, e lá estava eu, a antiga hupá do Centro Hebraico.
Verdade que nem sempre me vejo no lugar de honra dentro do Templo. Em outras festas,
limito-me a observar as rezas da congregação. Nessas, os Rabinos nos contam, que num
passado remoto, alguns membros do povo judeu, no meio do deserto, vacilaram, e sob um
toldo branco, parecido com os que às vezes me substitui nos casamentos em hotéis,
adoraram um bezerro de ouro, pelo que Moshe Rabeinu [32] , ao descer com as Tábuas da
Lei, as destroçou junto com a infame estátua e a lona que a cobria.
Minha presença enriquece as lembranças dos que por aqui passaram e já faço mesmo parte
da tradição judaica, por ser igual a qualquer hupá de todas as sinagogas, o delicado
dourado de Yerushalaim shel Zahav [33] , o mesmo das minhas barras.
Sob meu pálio, o rabino pedirá ao noivo que repita as palavras que durante dois mil anos
nos serviram de alento: Im Yshkacher Yerushalaim, Tishkach Yemeni - se eu te esquecer, ó
Jerusalém, que se esqueça a minha mão direita.
Tantas vezes ouvi o juramento e o barulho do copo se quebrando, fui o centro das atenções,
aparecendo em retratos, eternizada em antigos casamentos.
Já lá se vão anos e anos, quando casais cheios de esperança inauguravam grandes ciclos de
festas que aqui mesmo se realizariam: bar mitzvá, bat mitzvá [34], casamentos. Estarei
sempre aqui, aguardando novas festas, a eterna hupá do Centro Hebraico.
Navegando pelo Guaíba - 1958
No ano que marcou a primeira Copa do Mundo, vencida pelo Brasil na Suécia, um grupo do
Betar do Rio de Janeiro deslocou-se ao Sul para a Machané (acampamento) em Taquari. Era
a reciprocidade pela vinda do grupo gaúcho um ano antes, para acampar em Campo
Grande, na época zona rural do Rio de Janeiro, hoje um bairro como outro qualquer, apenas
distante do centro.
Nos dias atuais, vai-se facilmente para Taquari; um percurso rápido por rodovia - na época
somente possível pelo vapor Porto Alegre. A viagem levava o dia inteiro, a roda d'água
traseira girando lentamente, as fagulhas da chaminé chamuscando as roupas dos
passageiros. Não havia portos, apenas barrancos ao longo da rota onde o vapor encostava
mansamente, levando e deixando passageiros e cargas.
Foi essa a primeira vez que viajamos de avião, do Rio para Porto Alegre; era o famoso
Douglas DC-3, muito utilizado na 2ª. Guerra Mundial. Mais de 50 mil foram construídos e o
nosso da Real Aerovias deve ter sido um deles, sobra do conflito. O avião em terra ficava
inclinado, com o nariz levantado e a cauda apoiada na bequilha, bem próxima ao solo. O
teto era baixo, obrigando a andar pelo corredor quase agachado, como se estivesse subindo
uma ladeira. Levava uns 20 passageiros, não havendo nenhuma barreira entre estes e a
cabine de comando, o que permitia acompanhar as manobras e conversas dos pilotos.
Servia-se lauto almoço - uma caixa de papelão com meio-frango assado, pão, saladas, etc. Ir
ao banheiro era uma experiência peculiar, dada as dimensões do compartimento e seu
tênue isolamento.
Conhecemos Porto Alegre ainda com bondes, travando contato com a Pepsi-Cola,
exclusividade gaúcha que não havia no Rio. Tomamos banho em Ipanema; o Guaíba ainda
não conhecia a Borregaard, Polo Petroquímico e outras novidades trazidas pelo assim
chamado progresso.
O Betar gaúcho era poderoso, talvez maior que o carioca. Ainda assim eles demonstravam
grande curiosidade, como se tivéssemos vindo de uma planeta distante, a cidade grande
das praias, Copacabana, Pão de Açúcar, Corcovado...
Taquari era muito diferente de hoje, havia muitos descampados, sangas onde tomávamos
banho, carros de boi. Nada de água encanada, esgotos, tudo muito simples e artesanal.
Consta que um pai havia cedido seu sitio para os jovens,com uma pequena casa em torno
da qual montamos as barracas e erguemos um mastro, onde havia formaturas diárias pela
manhã e à noite.
Um álbum com pequenas e tremidas fotos preto & branco, tiradas na nossa máquina
caixote DFV, ficou como recordação daqueles tempos que não voltam mais.
O retorno foi demorado, uns três dias por via ferroviária, com algumas mudanças de trem
pelo caminho, ao som do samba e batucadas.
Até hoje recordamos fisionomias jovens, perdidas no passado, que certamente jamais
reconheceríamos hoje, em hipotético encontro. Somente os nomes ficaram e vez por outra
aparecem em algum jornal, identificando famoso médico ou um presidente de banco, mas
também se revela o outro lado da vida, com a notícia de alguém que faleceu
prematuramente, outro a quem o destino não sorriu mas, certamente, todos guardando até
hoje aquela lembrança inesquecível, dos tempos mágicos de Taquari ...
BORREGAARD - Quando a fábrica de celulose Borregaard se instalou no Rio Grande do Sul,
quase quarenta anos atrás, sem o pressentir, solidificou um dos mais combativos movimentos
de resistência ecologista que o Brasil já conheceu, e inaugurou um inédito processo de revisão
de métodos produtivos. Ao entrar em operação, a Borregaard, de capital norueguês, em pouco
tempo tornou-se uma espécie de “inimigo público número um”. O discurso desenvolvimentista
da época chegava ao ponto de fazer com que ministros de Estado brasileiros, ao convidar
investidores, proclamassem: “venham poluir aqui”. Os noruegueses da Borregaard levaram o
convite tão ao pé da letra que não destinaram um único centavo a equipamentos
antipoluição. Assim que a Borregaard entrou em operação, em março de 1972, a cidade de
Porto Alegre foi tomada por um insuportável cheiro de repolho azedo. Levantou-se tamanho
clamor público que a imprensa nem teria como deixar de repercutir. “Eles vieram para cá
achando que estavam indo para o fim do mundo, e esse foi o seu grande erro”, constataria o
professor Flávio Lewgoy, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, químico e geneticista
que aderiu à AGAPAN. (Lilian Dreyer)
NATAL: UMA COMUNIDADE SINGULAR
Em 1984, o casal de historiadores Egon e Frieda Wolff lançou um livro sobre a Comunidade
Judaica de Natal. Com a vinda de imigrantes judeus, a partir de 1920 teve escola, sinagoga,
cemitério, atingindo o apogeu na época da segunda guerra mundial, quando Natal foi o
Trampolim da Vitória, até que ao final da década de 60 chega o ocaso. A geração de
imigrantes já não estava mais aqui, outros se transferiram para Salvador e Rio de Janeiro, a
sinagoga foi fechada, o cemitério caindo em desuso.
Mas estava escrito que a Estrela de David não haveria de deixar Natal .... com efeito, na
sexta-feira à noite, pedi ao taxista que me levasse à Rua General Varela. Com alguma
dificuldade, achamos a antiga rua dos judeus, próxima ao Colégio da Imaculada Conceição,
onde eles tinham suas lojas e residências e a antiga sinagoga, que não mais existe. Não
havia ninguém, nem carros passando pelas ruas escuras. Apenas uma pequena casinha com
as luzes acesas e janelas fechadas. Fiquei por algum tempo estático, diante do prédio
branco, modesto, com uma estrela de David no alto. Uma brisa vinda do rio Potengi me
encontra sozinho, perdido no silêncio daquela ruela escura e estreita, onde há varias
décadas efervescia a vida da cidade de Natal Judaica. Imagino-me retornando aquele
passado distante da segunda guerra mundial ... A qualquer momento algum judeu poderia
sair de uma daquelas esquinas, quem sabe a figura serena do Capelão Militar americano
Rabino Shaftei Baum, acompanhado de marines e aviadores judeus, todos envergando
orgulhosos a farda caqui para o serviço religioso; ou quem sabe, um dos Palatnik, que
piedosamente construíra a sinagoga....
Logo desperto das divagações, e bato à porta. Cerca de 15 fieis assistem ao serviço. A
maioria são anussim (retornados), cujo judaísmo latente despertou após anos, quem sabe
séculos adormecido nos desvãos da história. Mas a pátina do tempo não foi suficiente para
apagar a chama. E aqui estou eu, testemunhando a Eternidade de Israel. As perseguições,
as fogueiras, a intolerância da Inquisição não conseguiram evitar que a tradição florescesse,
mesmo dissimulada através dos séculos. As orações são conduzidas por um jovem cantor e
o eminente Rabino João F. Dias Medeiros, de Acari do Seridó, com quase 80 anos, que faz
sua prédica, como um daqueles descendentes de cristãos-novos, descobrindo o judaísmo de
seus avós portugueses, como nos conta em seu emocionante livro Nos Passos do Retorno
(Natal, 2005).
Ao final todos entoam as mesmas conhecidas canções e se despedem conforme as
tradições. Pedem que não fiquemos pelas imediações, assim a partida é rápida, e logo a
sinagoga está fechada, luzes apagadas, tudo discretamente, parecendo emular o passado,
mantendo em segredo as práticas religiosas.
Assim, Natal continua sendo a mesma Comunidade Singular que o Casal Wolff descreveu.
Os que partiram continuam dando a mesma contribuição ao Brasil dos que ficaram, para
o progresso do Brasil, pois o Nordeste foi uma terra de cristãos-novos, onde estabeleceram
engenhos de cana de açúcar. Com o tempo foram se transformando em cristãos velhos, para
poderem ser aceitos na sociedade. Alguns viravam até padres e construíram capelas.
Até hoje descendentes remotos acendem velas sexta-feira à noite, ignorando que se trata
do ritual judaico da chegada do Shabbat (sábado - dia do descanso). Muitas famílias
herdaram este costume de antepassados imemoriais sem saber o real significado, algo
como uma simpatia da vovó... E reza uma lenda que os rabinos cabalistas formavam nomes
utilizando letras da palavra Israel: Linhares, Salgueiro e outras ....
Andando pelas ruas olhava os rostos dos natalenses, revelando o amálgama em que se
constitui o povo brasileiro, resultado da junção ao longo dos séculos dos índios e tantos
outros imigrantes, identificando em alguns dos passantes os traços dos guerreiros
potiguares; em outros, dos negros que ajudaram a fazer deste país uma grande nação e sem
dúvida em tantos os antigos traços judaicos sefaradim (Sefarad = Espanha em hebraico).
Certamente nas veias de muitos deles corre ainda hoje um infinitésimo de sangue judaico,
do que certamente podem se orgulhar.
Nestes poucos dias manifestou-se uma sensação estranha - já havia estado aqui, não nas
recentes visitas, mas num passado muito mais distante... um lugar que me parecia familiar,
quem sabe ... ?
E assim continuamos nossa jornada, confirmando a profecia de Isaias, tão numerosos
quanto as estrelas no céu, e quanto os grãos de areia do deserto...
YEHIEL DA LUSITÂNIA – O JUDEU QUE RECEBEU A BÊNÇÃO DO CÉU
Foi há 1600 anos. Ainda passariam mais de 10 séculos até que daquela terra partissem as
caravelas que iriam colocar o Brasil no mapa. Agora, em 2012, arqueólogos alemães da
Universidade Friedrich Schiller, de Jena, junto com seus colegas portugueses levantaram a
pátina do tempo que encobria uma placa de mármore com a inscrição Yehiel. Ao que tudo
indica teria sido uma lápide funerária, uma matzeivá hebraica datando no mínimo do final
do século IV da nossa era. Trata-se pois do mais antigo vestígio cultural judaico jamais
encontrado na Península Ibérica.
Os arqueólogos não procuravam coisas judaicas no Algarve. Buscavam alguma inscrição em
latim, quando deram com a lápide ao desenterrar estruturas da vila romana com mais de
cem metros quadrados, que teriam sido destinadas ao curral e outras instalações.
A inscrição não está em hebraico. Foi provavelmente escrita em aramaico ou outra língua
semita. Mas não há dúvidas de que se trata da lápide do túmulo de um homem da Judéia. A
inscrição na placa de 40 x 60 cm ainda não foi totalmente decifrada, supondo-se que esteja
escrito Yehiel - o judeu que recebeu a bênção do céu.
Este achado tem uma particularidade absolutamente inédita: em todas as terras de Roma
jamais fora encontrado qualquer outro vestígio judaico numa vila. Quem terá sido
Yehiel? Sabe-se apenas que viveu na província romana da Lusitânia, em suntuosa vila.
Talvez houvesse por ali um cemitério? Talvez fosse um escravo judeu, cujos antepassados
foram arrancados por Tito da Judéia? talvez; ou talvez nunca venhamos a saber!
Mas um dia seus irmãos tiveram que sair. Consta que um grande número de pessoas
daquele povo entre o qual viveu Yehiel resolveu partir. Chegaram a um lugar perdido nas
montanhas da Carinthia, onde hoje é a Áustria. Havia uma mina de chumbo (Blei em
alemão). Por isso a cidade se chamou Bleiberg, ate hoje uma província mineral importante,
rica em diversos elementos. Mais adiante, já adotando o nome Bleiberg, entraram na
Polônia, sob o grande Rei Kaziemirz, isso há quase mil anos, onde se estabeleceram nas
montanhas do paleolítico, na região de Kielce, também uma região mineira, onde há 2
séculos já havia uma usina metalúrgica, na cidade de Ostrowiec. Ali viveu a Família Bajberg,
então com a grafia alemã modificada para o polonês.
Em 1929 um jovem Blajberg imigrou para o Brasil, Avraham Avigdor haLevy Ben
Shlomo. Ele nos deixou em 1994, antes da popularização da Internet. Teria sido difícil
comprovar a historia que contava, transmitida per secula seculorum por tradição oral de
seus pais, avos, bisavós. Mas hoje uma simples consulta ao Google revela que existe sim na
Carinthia, a cidade de Bad Bleiberg, um recanto paradisíaco nas montanhas, como se fora
uma Poços de Caldas, muito procurado por turistas de toda a Europa graças aos seus hotéis
e águas termais, bombeadas de antigas instalações desativadas de uma mina ... de chumbo
!
Yehiel jamais iria saber, mas a benção do céu que lhe foi consagrada faria uma viagem
fantástica de 1600 anos pela Eternidade. Oculta nas profundezas a lápide repousou,
enquanto passavam pela história gregos e romanos, mouros e bárbaros, cossacos e
nazistas, todos apagados da face da terra, até que ela nos foi revelada pelo milagre da
arqueologia. E aquela mesma benção acompanhou a sua gente, da Judéia a Roma, Lusitânia
e Sefarad - da Carinthia a Ostrowiec, vencendo o Holocausto e chegando ao Brasil como
singelo testemunho da Eternidade de Israel !
Agradecimento - Ao ilustre Arqueólogo Marcos Albuquerque, do Laboratório de Arqueologia
da UFPE, por ter encaminhado a notícia da impressionante descoberta da lápide de Yehiel. A
este eminente Professor muito deve a História Judaica, pelos importantes trabalhos que
levaram a revelação ao mundo da primeira Sinagoga das Américas, Kahal Tzur Israel no
Recife.
YITZHAK SHAMIR - Herói de Israel (1916 – 2012)
Yitzhak Shamir, sétimo primeiro-ministro de Israel faleceu em 30 de junho de 2012 aos 96
anos. A história de Israel o recordará como um dos grandes lutadores pela criação do
estado.
Nascido na Rússia em 1935 emigrou para a então Palestina, e logo ingressou nas fileiras do
Irgun Tzvai Leumi [35], a organização chefiada por Menachem Begin que lutava pelo
estabelecimento de um Estado Judeu. Em 1942 substituiu Abraham Stern, comandante do
Grupo Stern, assassinado pelos ocupantes britânicos. Após a explosão do QG das forças
inglesas, o Hotel King David em Jerusalém, foi preso como um dos 35 líderes mais
importantes.
Em 1955 entrou para o Mossad, tendo articulado inúmeras operações ultrassecretas no
Oriente Médio. Em memória dos seus companheiros que tombaram na luta pela criação do
Estado de Israel, os restos mortais dos combatentes do Grupo Stern Eliyahu Hakim e
Eliyahu Beth Tzuri, enforcados no Cairo em 23 de março de 1945 pelo assassinato de Lorde
Moyne, foram transladados do Egito e enterrados com honras militares no Cemitério
Militar do Monte Herzl, tendo sido trocados por 20 terroristas presos em Israel.
Shamir sempre foi duro com os inimigos de Israel: "vamos usar nossa força para esmagar
essas organizações terroristas, seus líderes, seus centros e as suas bases em todos os lugares
onde nosso braço longo alcança. Vamos atingi-los sem piedade, porque decidimos viver “
Em 1983, no 40º aniversário da declaração da rebelião pelo Irgun, na condição de Primeiro
Ministro declarou que “a paz nas fronteiras de Israel será assegurada pela renovação do
nosso antigo e reconhecido espírito de luta”. Falando aos veteranos do Irgun, o chanceler
Shamir declarou Hebron uma cidade judaica libertada, que nunca mais será devolvida.
Em março de 1988 Shamir advertiu líderes judeus americanos, em missão em Israel, que a
crítica por organizações da diáspora judaica das políticas israelenses "faz muito mais mal
do que qualquer manifestação violenta em Gaza e outros lugares”.
Em 1988 reatou relações diplomáticas com a URSS. Neste ano, um integrante do Grupo
Stern revelou que participou em 1948 do assassinato do mediador sueco da ONU, conde
Folke Bernadotte, mas que Shamir não era um dos quatro homens envolvidos. A Suécia
exigiu um pedido de desculpas, tendo Israel se recusado.
Shamir foi um dos Pais da Pátria de Israel, representante das gerações que lutaram
bravamente para realizar o sonho de Theodoro Herzl [36]– “Se quiseres, não será
apenas uma lenda ... “
Que a sua alma siga a corrente da Vida Eterna
PESSACH – A travessia
A vida inteira trabalhou de sol a sol, desde menino no pequeno shtetale [37] , onde ajudava
a mãe a vender herings [38] . Os toneis de peixe eram mais altos que aquela criança miúda,
e Yankale [39] tinha que subir num banquinho para poder retirar a mercadoria.
No final da jornada, voltavam para casa, próximo do Rynek [40], e mesmo antes de
chegar a vizinhança já sabia quem estava vindo, sentindo ao longe o cheiro adocicado de
hering que impregnava as roupas de mãe e filho ...
Os anos passaram. Yankale cresceu, fez bar-mitzvá. Mais alguns anos e logo lhe
arranjaram uma noiva pelo costume da época, numa transação acertada entre os pais dos
dois “pombinhos”; e assim Yankale e Surale [41] se viram casados da noite para o dia, com
menos de vinte anos.
Yankale herdou a loja. Os negócios iam bem, mas as coisas não iriam ficar assim por
muito tempo. Nuvens negras se avizinhavam. Na Alemanha, aquele cujo nome é
impublicável e impronunciável, já avisava para quem quisesse ouvir os seus planos
diabólicos.
Naquela pequena cidade perdida no interior da Polônia o eco desvairado das suas
palavras também iria encontrar ressonância. Mal sabiam os polacos, mas eles mesmos
também pagariam o preço junto com os judeus. Todos, mesmo os que não bebiam
antissemitismo junto com o leite da mãe.
Yankl ouvira falar de um país distante. Um primo afastado, depois de problemas com uma
jovem polaca fora aconselhado a fugir para lá, bem longe. Diziam que era uma terra
prometida, verdadeiro Eldorado, onde o perigo das cobras pelas ruas era mais que
compensado pelas fortunas que se fazia em pouco tempo, bastando ser honesto e
trabalhador.
As arruaças prenunciavam o que estava por vir. Estava mais do que claro que o futuro não
anunciava coisas boas.
Premonitório, Yankl decidiu partir. A esta altura já tinha três filhos. Teve que vender tudo
que tinha para conseguir as passagens, em terceira classe, pois não havia quarta.
Era a semana de Pessach, a Páscoa Judaica. Yankale não era ortodoxo, mas seguia como
podia os preceitos judaicos. Não foi possível adiar a viagem, para que não coincidisse com o
yom-tov [42] .
Mal imaginavam eles que esta seria a última vez, o último Seder [43] que passariam com
seus amados irmãos, tios, primos e sobrinhos, fadados a desaparecer na tragédia do
Holocausto, al Kiddush haShem [44] .
A história contada pelo velho avô, patriarca da família, falava de uma terra distante, onde
o povo hebreu jazia escravizado, até nascer um Moisés, que um dia levaria o povo para a
Terra Prometida.
Para Yankale e sua família era como uma profecia, pois também eles iriam atravessar os
mares em direção a uma nova Terra Prometida, onde os esperava a liberdade. Era a nova
Travessia.
No dia seguinte, tomaram o trem para Varsóvia; de lá para Gdansk, onde um navio inglês
os aguardava para seguir ao Brasil.
Mas apesar de tudo o futuro iria sorrir para aquela gente, com o coração cheio de
esperança. Ao atravessar a entrada da barra, na Baia da Guanabara, só de olhar a paisagem
já gostaram daquela terra, e entre lágrimas de saudade da família distante, prometiam a
D’us e a si mesmos que tudo fariam para honrar a confiança que a nova pátria lhes
depositava, tudo fazendo para serem bons brasileiros, criando os filhos, trabalhando e
estudando por um Brasil melhor.
Yankale já se foi deste mundo, deixando aqui bisnetos, a quarta geração verde-e-amarela,
que sempre lhe perguntavam, vovô, porque você veio para o Brasil? Ah meu netinho, você
nem queira saber, foi D’eus que me trouxe aqui p'ra essa terra ...
A SINAGOGA QUE RENASCEU
Muitos dos que lotam o salão de rezas são descendentes daqueles pioneiros que, com
sacrifício e desprendimento nos legaram a pequena grande sinagoga, dos quais alguns
nomes podemos ver inscritos nas placas que adornam as paredes e nos antigos retratos de
abnegados dirigentes.
Quase um século, marca fantástica que poucas instituições atingem dentro ou fora da
comunidade. Como no antigo Egito dos faraós, aos tempos iniciais, quando foi uma atuante
instituição, seguiram-se tempos de vacas magras, em que sua atividade foi extremamente
reduzida, chegando a um ponto em que se duvidava da continuidade.
Poucos frequentadores, dificuldade em formar minian [45] - mesmo no Sábado - tapetes
gastos, paredes descoloridas. Seria o fim?
Triste situação para o endereço que abrigou uma sagrada instituição, que tantos atuantes
correligionários e ativistas formou. Mas por desígnios do Altíssimo e a perseverança de
dedicados ativistas, a situação reverteu, com o impressionante renascimento da sinagoga,
um novo polo judaico, com nossos irmãos comparecendo aos serviços, ou simplesmente
sentando para conversar ou ler um livro.
A sinagoga fervilha de fieis nos grandes feriados. Quem passa pelo local semi oculto,
protegido da rua pela longa escadaria de acesso, nem desconfia da santidade que ali se
abriga, dos prodígios que ali acontecem há décadas.
Foi realmente um quase milagre o que ocorreu naquele local, enquanto o chamado
“progresso” avança pelas bucólicas ruazinhas que ainda restam, terminando com aquela
saudosa calmaria.
Sob a inspiração do quase milagre, estava escrito que apesar das dificuldades, à Sinagoga
caberia um destino glorioso. Almas caridosas um dia em trabalho silencioso realizaram
obra abençoada e salvadora.
Os cânticos viriam mais fortes, ricas entonações de tradicional rito, alegrando as manhãs e
finais de tarde com seu fervor. O alarido das festas voltou. Crianças novamente no pátio.
Recém-pintada de azul e branco, resplandece a sinagoga na manhã bonita, com a alegria de
Simchá Torá [46].
Obra bendita amparando tantos irmãos, a pequena grande sinagoga venceu. Os cordões
invisíveis que unem os corações judaicos trouxeram novamente o povo para diante da
Torá.
Alvas paredes brancas quase santificam este lugar. A festinha das crianças, correndo
alegres. Manhã de domingo radiante, ensolarada. O ciclo das festas, os Dias Temíveis,
Shemini Atzeret [47] , Simchá Torá. Anônimos irmãos continuam o trabalho. Tudo
arrumado novamente. Novos dias virão, a pequena sinagoga aguarda na sua santidade
muitas festas e só alegrias.
As almas dos fundadores deixam por alguns instantes o Jardim do Éden. Contemplando sua
obra se engrandecem, se elevam novamente. Certeza - seus esforços frutificaram, a
Eternidade de Israel será preservada na pequena Sinagoga de .... algum lugar do mundo ...
pois, desde a primeira, nos desvãos perdidos da história, sempre houve e sempre haverá
uma pequena sinagoga, quase perdida, que renasceu ...
RECIFE JUDAICA DA SINAGOGA E DO GALO DA MADRUGADA
A noite será sacra e profana, indo de uma Sinagoga ao frevo no Galo da Madrugada .... um
dia aqui foi Mauritsstadt ... Emoldurada pelo mar e pelos rios, já fazem quase quatro
séculos que os holandeses partiram, após escassos 24 anos fantásticos, que deixaram sua
marca na História do Brasil.
Tudo estaria quase como ha 400 anos atrás na Rua dos Judeus, hoje Rua do Bom Jesus, não
fora os poucos carros que lentamente se esgueiram pela viela estreita. Parece-me que a
qualquer momento algum judeu poderia sair de uma daquelas esquinas, quem sabe a figura
serena do sábio Isaac Aboab da Fonseca, acompanhado de seus alunos, ele que passou a
História como o primeiro Rabino do Brasil; quem sabe David Senior Coronel, ou Abraham
de Mercado, ou Montezinos, ou Atias, ou Jacob Navarro, ou ...
Logo encontro a pequena sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel, a Santa Congregação Rochedo
(Recife) de Israel. Suas portas e paredes servem de mudas testemunhas do quanto pode a
insensibilidade humana. Com a partida dos judeus, ficou perdida através dos séculos, até
José Antônio Gonsalves de Mello, o maior estudioso, de Tempo dos Flamengos, a quem
devemos o resgate do solo sagrado daquela Casa de Orações.
Tangidos pela intolerância, a Gente da Nação, de que falava Gonsalves de Mello, teve que
partir. Mas aqui já haviam formado a primeira unidade militar judaica a entrar em combate
desde a queda do Templo de Salomão no ano 70 DC, quando as legiões romanas
conquistaram Jerusalém e Sion.
Soldados que falavam português, sob a bandeira da Casa de Orange e Nassau, também
lutando pela liberdade, e pelo direito de seguir a Lei de Moisés, e não a religião do
Rei. Legaram ao Brasil a tecnologia dos engenhos, e a crença nos seus valores universais.
Se hoje temos a bioenergia verde do álcool, a eles não pouco devemos.
Mas aquela gente sofrida a final venceu, eis que a Inquisição desapareceu na poeira dos
tempos. E aqui estamos novamente. Decorridos séculos, continuamos poucos, mas
orgulhosos, muito orgulhosos de pertencer à Nação Brasileira.
Antes de entrar, cubro respeitosamente a cabeça. Afinal, estou entrando um recinto
sagrado, ainda que os Rolos da Lei tenham sido removidos dali há séculos. Transformada
em Museu, a sinagoga embora pequena revela-se majestosa em sua simplicidade e
impressionante capital simbólico, herança de uma época incrível quando judeus
conviveram lado a lado com os calvinistas, sem medo da Sancta Inquisição ou das visitações
do Santo Oficio.
Aos grandes comerciantes, esteios da Cia. das Índias Ocidentais, o Mestre de Campo
General Francisco Barreto de Menezes, apenas como favor se lhes permite receber dívidas,
levar algum outro e prata, o que fora proibido ao povo em geral.
Entretanto, as súplicas não foram em vão... elevando-se ao firmamento, durante séculos
ressoaram pelos buracos negros do Universo, até que um dia encontraram bons ouvidos ...
Aqueles judeus de Recife nunca imaginaram... mas um dia em terras brasileiras haveria
governantes justos e humanos e, aos 18 de março de 2002, Fernando Henrique Cardoso
adentraria à pequena sinagoga para inaugurá-la novamente, seguido anos depois por Lula e
Dilma, a escutar no salão as mesmas rezas, as mesmas inscrições reproduzidas, como que a
simbolizar a continuidade judaica. Para um povo que há milênios espera a chegada do
Messias da Casa de David, 400 anos não significaram tanto assim. Apenas seis meses depois
do tenebroso 11 de setembro de 2001, ocorrido naquela Nova Amsterdam para onde
seguiram 23 judeus do Recife, lá reconstruindo sua sinagoga, onde até hoje se ouvem as
mesmas rezas no rito português sefaradi.
A sua busca por um lugar onde pudessem acreditar em seu D´us, sem ter que prestar contas
ao Rei, em que a vida sexual não fosse pecado, em que praticassem sua religião livremente,
os levaram a um Novo Mundo, e assim muito ajudando a lançar as bases da nossa sociedade
civilizada.
A Humanidade tanto deve aos que percorrendo seus caminhos partiram de Mauritsstadt
sem saber que um dia seus descendentes desempenhariam papel tão importante nos
negócios, nas artes, na cultura, nas ciências, e que a final haveriam de retornar ao Brasil
novamente, contribuindo no sentido de fazer deste país uma grande nação, onde nas veias
de tantos de seus filhos ainda corre um infinitésimo do sangue de remoto antepassado
cristão-novo. E que podem se orgulhar disso.
TER UM VIZINHO JUDEU
Seria o antissemitismo uma realidade nesta terra? Ou apenas uma falsa imagem
estereotipada enraizada no inconsciente imaginário do povão? Herança triste de um
passado colonial, ou mesmo nem tão remoto assim, que produziu conceitos deturpados
como o verbete “judeu” dos dicionários.
Certamente aqui chegamos a bordo das caravelas de Cabral. Viemos buscando um novo
mundo, onde ninguém fosse obrigado a acompanhar a religião do Rei, onde pudéssemos
seguir os Dez Mandamentos, a Lei de Moisés. Foi enorme a contribuição judaica aos 500
anos do Brasil, esta gente que secretamente comia carne na Semana Santa e não ia à missa.
Vimos passar a Babilônia, Grécia e Roma. As fogueiras da Inquisição e a Alemanha nazista.
Ainda que alguns dos nossos tivessem sido encantados pelo Bezerro de Ouro, resistimos e
não renegamos a fé no Todo Poderoso.
Odiados por uns, amados por outros, geralmente concordam que somos o povo do livro.
Para os evangélicos somos o povo eleito. Para os socialistas, somos capitalistas. Para os
capitalistas, comunistas.
Há banqueiros como Rotschild e Safra mas, também há mendigos. Se por um lado da nossa
gente vieram Rosa Luxemburgo e Trotsky, de outro saíram poderosos industriais
renomados no século XX.
Nas cidadezinhas da Europa Oriental, da África Setentrional, do Líbano ou da Síria, éramos
sapateiros, carregadores de água, alfaiates ou artesãos. Mas da nossa gente procedem
Einstein e dezenas de Prêmios Nobel.
Na verdade somos feitos de carne e osso como qualquer ser humano, somos altos e baixos,
gordos e magros, pretos e brancos, ateus e ortodoxos. Também torcemos pelo Flamengo,
Vasco, Corinthians, pulamos o carnaval. Pouco nos importa quem seja nosso vizinho,
convivemos com eles de bom grado.
O Todo Poderoso nos criou para sermos tão numerosos quanto os grãos de areia do deserto
e as estrelas no firmamento; se nós judeus somos tão poucos, deve-se ao fato de tantos dos
nossos terem perecido devido às inúmeras perseguições, a Inquisição e o Holocausto.
Já em tempos imemoriais nossos sábios ensinavam a lavar as mãos antes das refeições;
assim, na Idade Média a peste negra nos poupou , daí terem nos acusado de tê-la causado,
só por que éramos higiênicos. Hoje já não nos perseguem com fogueiras e sim usam a
Internet.
A fé mosaica era professada pelo primeiro poeta nacional, Antônio José de Oliveira, o
Judeu. Fernando de Noronha foi um judeu, o primeiro português a quem D. Manuel deu um
título de donatário, pioneiro na extração de madeira. Outro judeu, Garcia da Horta, foi
médico de Martim Afonso, Governador das Índias. Antônio Raposo Tavares, o bandeirante
Caçador de Esmeraldas, era cristão-novo e teve a madrasta presa pelo Santo Ofício. Os
jesuítas quiseram entregá-lo a Inquisição, mas ele os rechaçou e os fez saber que avançava
em nome da Lei de Moisés.
Ainda está para ser escrita a história dos cristãos novos que vieram por livre vontade a um
Brasil para donde El Rey mandava os criminosos de Portugal. Nos 500 anos, esqueceram
deles, mais que dos índios e dos negros. Um dia nossos historiadores farão justiça aos que
povoaram esta terra.
Assim, sendo tudo isso verdade, seria bem possível que muitos jamais poderão ficar longe
de judeus. Sim, pois o sangue judaico daqueles cristãos novos que produziram parte da
nossa nacionalidade, terá permeado gerações e gerações e hoje flui, ainda que repartido em
proporções microscópicas, em suas próprias veias... a herança do DNA... irrenunciável ...
mas cada brasileiro pode se orgulhar disso, e até gostar de ter um vizinho judeu.
DOS PORTÕES DE BUCHENWALD BELO HORIZONTE HAVERIA DE
BRILHAR
27 de Janeiro – Dia Internacional em Memória das Vítimas do
Holocausto - ONU
4 de abril de 1945: “ … vultos na porta do bloco… soldados com metralhadoras… estamos
imundos da lama de 8 anos de campos… na lapela de um brilha uma cruz, na do outro um
castiçal … ficamos perturbados vendo o capelão católico e o rabino militar chorando … quem
são vocês? ... Somos judeus… quantos anos tem? ... 16… o rabino levantou os braços para o
céu, voz forte cheia de dor – Óh Grande D´us! Tenha piedade dessa gente! Tenha piedade
dessas pobres crianças judias!….”
Assim termina o livro do sobrevivente do Holocausto Joseph Nichthauser, Quero viver …
memoria de um ex-morto. Do outro lado do mundo, décadas a frente, seria acolhido em
um peito de aço, onde palpita um coração de ouro, as Minas Gerais de que falava o poeta.
Tão perto, tão longe. Internado há algum tempo na UTI, deixou este mundo à chegada de
Shabat hamalká [48]. Era Sucot [49] de 5771 – ano 2010 da Era Comum, em Belo
Horizonte.
O livro de Joseph é apresentado pelo engenheiro mineiro Marcos Moretzsohn Renault
Coelho, descendente de David Moretzsohn Campista (1863-1911), o Ministro da Fazenda
que não pôde se candidatar a Presidente da República por ser judeu. Uma rua carioca de
Botafogo leva o seu nome.
A invasão da Polônia é vista pelos olhos de um menino de 10 anos, partindo de sua cidade
com a família em uma charrete em setembro de 1939, tentando alcançar a Cracóvia em
meio às tropas polonesas que debandavam frente ao avanço alemão. Aos poucos a família
vai sendo separada, até que restam apenas Joseph e seu irmão Dawid. Passando por vários
campos, cinco dias antes da libertação de Buchenwald pela 87th Infantry Division, III USA
Army, Dawid foi fuzilado por um cruel SS.
Os livros são um libelo contra a crueldade humana, mas também testemunho do quanto
pode o ser humano, mesmo nas condições mais inóspitas, submetidos a trabalho escravo
infantil, sem alimentação, sobrevivendo e reconstruindo sua vida, primeiro na França, onde
reencontra por milagre sua irmã Fela, depois imigrando para o Brasil, radicando-se em
Belo Horizonte. Foi um grande colaborador do Exército Brasileiro, de quem recebeu
inúmeras homenagens.
Desde a liquidação do gueto da sua cidade, Joseph e David sobreviveram a 8 campos.
Escravos infantis do III Reich, de poderosos trustes como IG Farben, Bayer, Krupp,
escaparam sistematicamente das seleções, trabalhos extenuantes na fábrica de gasolina
sintética para a Luftwaffe, sujeito ao constante bombardeio da aviação aliada. Rezando para
que os trens não chegassem ao destino. Sabotagem punida com a morte. Maldades dos
kapos [50] e SS. Mortes por gás, experiências, esgotamento, fuzilamento, enforcamento,
torturas. Sempre juntos.
Conheceu o ódio racial de nazistas e poloneses, envergonhou-se de ver até correligionários
ajudando nazistas (kapos - policiais judeus).
Mas constatou dignidade e honra na pessoa humana, mesmo em meio a terríveis provações.
Conheceu bons polacos, até bons alemães. Eles existiram. Nas pessoas do irmão Dawid e
adultos caridosos, viu tirarem o pão da boca para mitigar a fome da criança que sofria.
Josef e seus irmãos eram do Betar, que alertava os judeus do perigo que corriam. Muitos se
salvaram, foram para a Palestina, outros resistiram de armas na mão, quando já não foi
mais possível escapar. Seu líder e criador, Jabotinski, faleceu em 1940, quando mais se
precisava da sua liderança firme, do poder de suas ideias e sua palavra. Não fora isso,
certamente, o terrível holocausto, que se abateu sobre um povo, não teria tido tão funestas
consequências.
Seus sucessores, Menachem Beguin, comandante supremo do Irgun, Abraham Stern,
comandante do LEHI [51] , e mais recentemente Ariel Sharon e Benjamin Netanyahu,
deram aos judeus e ao mundo uma grande contribuição, sempre tendo em mente as
palavras do Hino do Irgun [52] : “bedam vaesh, Yudá nafal... bedam vaesh, Yehudá takum,
takum ...”.
A paz com os vizinhos só foi possível quando Beguin se tornou Primeiro Ministro do Estado
de Israel. Que o sacrifício de tantos milhões de inocentes não tenha sido em vão.
SHAINDALE [53] – A ÚLTIMA IMIGRANTE
Ostrowiec era uma cidade judaica. Tudo parava no Yom Kippur [54]. Década de 30, tempos
difíceis, os Rubinsztajn não viam mais alternativas para continuar lutando na Polônia
sofrida e gelada contra a escassez de oportunidades, o numerus clausus [55] e pior de tudo,
a face horrível do preconceito arraigado numa terra que um dia haveria de dar um Papa
para o mundo. Não imaginavam eles que um dia este mesmo santo homem, Karol Wojtyla,
nascido na vizinha Cracóvia, iria pedir perdão em nome da Igreja pelos desatinos
cometidos em quase dois mil anos, e colocaria uma mensagem na Muralha Ocidental do
Templo de Salomão.
Aron, pai de Shaindale, ouviu falar de um país distante, povo gentil, hospitaleiro, sem
preconceitos, onde jamais haveriam de ouvir o epíteto Zyd (judeu). E para lá se transferiu.
Com muito trabalho fez economias, conseguindo afinal enviar fundos para que a esposa e
os quatro filhos também pudessem partir. Em 1934 a mãe de Shaindale, Hawa Laia desfezse
de tudo para embarcar. Porém, à última hora a jovem Shaindale de 14 anos não obteve o
visto de entrada. Uma doença ocular na época considerada contagiosa a desqualificava para
imigração. Pensaram em desistir da viagem, mas Shaindale não quis que a família perdesse
a chance. Uma família amiga a acolheu, e ela ficou sozinha trabalhando durante cinco anos
para se sustentar.
Com o tempo a doença regrediu, e em 1939 Shaindale finalmente embarcou, incorporandose
à família na Praça XI judaica da época. Era Shavuot, a Festa das Primícias. Já rufavam
ameaçadoramente os tambores de guerra, que iria estourar dali a três meses. Seguiram-se
décadas de dedicação aos pais, irmãos, depois ao marido, filhos, netos, bisnetos, sobrinhos,
a imagem viva de que falavam os Salmos - raramente haverá uma mulher assim. Aos 90
anos Shaindale devolveu a alma ao Criador, após uma vida exemplar de trabalho e caridade.
Chegou a época da descoberta da sua matzeiva (lápide tumular), no Cemitério Israelita de
Vila Rosaly, ao fundo de estreito vale na Baixada Fluminense, estendendo-se por um talude
levemente inclinado entre a estrada e a linha do trem. Ao canto pungente do Hazan [56],
ecoando pela vastidão do cemitério na oração recordativa dos mortos, vem ao pensamento
os rostos bondosos dos antepassados, cujos retratos guardamos respeitosamente, a fim de
que sempre os possamos recordar. Olhos fechados, momentos reflexivos, um trem da
Central passa martelando os trilhos que margeiam o cemitério - o tac-tac, tac-tac remete a
Treblinka, onde foram brutalmente assassinados os judeus da região de Ostrowiec.
Logo retornamos ao presente, abrindo os olhos ao sol tropical. Sua luminosidade parece
querer ajudar a superar os traumas daquele passado. Recordar nossos entes queridos,
inocentes vítimas do lado negro do Homem, é a melhor homenagem. Felizmente estamos
no Brasil, uma Terra Abençoada. A verdadeira terra prometida que nos recebeu, filhos que
somos da geração do deserto, a vagar por um milênio na Europa sofrida.
Uma das sobrinhas pronuncia emotiva prédica. Na manhã calma de domingo, o casario em
volta permanece adormecido. As elevações recortadas por ruas de terra batida, pontilhadas
de casinhas que circundam o cemitério sugerem os pequeninos shtetales [57]de nossos
antepassados na Polônia distante. Também lá viveram eles em um ambiente humilde, de
gente trabalhadora, perseverante e sofrida, mas orgulhosa de suas tradições, apenas em um
clima frio, com outro idioma.
A cerimônia termina. Shaindale, a última a partir repousa eternamente neste solo sagrado.
Já não está mais aqui ninguém da geração de imigrantes dos Rubinsztajns, mas seus
descendentes, brasileiros natos a trabalhar por este pais já formam a terceira geração,
contribuindo para a sociedade nas artes, na medicina, no comércio, nas ciências
tecnológicas e jurídicas para citar algumas, honrando e se preciso defendendo esta grande
nação.
Segundo o Talmud, enquanto houver pelo menos 36 Justos sobre a face da Terra, o Criador
permitirá que a Humanidade possa continuar existindo. Ninguém sabe quem são, nem eles
mesmos. Um pode ser mestre dedicado, outro um homem do campo, outro ainda um
médico caridoso, ou quem sabe, apenas uma senhora sábia, bondosa, querida ...
TERESÓPOLIS JUDAICA
As famílias não mais embarcam na Estação da Leopoldina para os fins de semana na Serra.
O rodoviarismo da década de 60 acabou com os trens do Interior. A estrada apertada e
cheia de curvas substituiu o trem, transformando um percurso agradável em muitas horas
de engarrafamento pela Rio-Petrópolis, até que nos anos 80 moderna rodovia de pista
dupla foi implantada, e agora com a Linha Vermelha já não se fala mais em “viajar” para
Terê... passou a ser quase um subúrbio do Rio.
O trenzinho chegava na Estação do Alto, Praça Higino da Silveira, onde hoje é a Feirinha.
Tradicional ponto de encontro judaico, rivalizava com os extintos Hotéis Belvedere e
Higino. Ainda existem o Condomínio Higino e o Edifício 6 de Julho, na Reta, mas as calçadas
já não mais fervilham com o burburinho dos nossos pais e avós da geração de imigrantes,
nas animadas conversas em ídiche. As filas começando cedinho na Padaria Teresópolis
também serviam de point para a comunidade, estendendo-se pela calçada em busca do
melhor pão de Terê, que saia quentinho, numa época quase rural, onde sobravam matas
verdejantes e faltavam padarias, supermercados e shoppings. As filas faziam parte da
aventura teresopolitana: uma das mais badaladas era na CTB (depois TELERJ), na Várzea,
de onde se telefonava para o Rio nas cabines. Poucos tinham telefones em casa, não havia
internet nem celulares, muito menos orelhões, que eram raridade; apenas a telefonista do
101, precursor do DDD.
Terê já não é a mesma. A mudança do clima global fez apagarem-se as lareiras; a última loja
especializada fechou há alguns anos. Mesmo na cidade mais alta do estado (1.000 m), às
vezes faz mais calor que no Rio. O preço do desmatamento e da especulação imobiliária
teve que ser pago, e justamente pelos mais pobres. Terê cresceu feito ameba enlouquecida,
estendendo seus tentáculos pelas fraldas das montanhas, as casinhas substituindo a
cobertura vegetal, até que veio a catástrofe. Em 2010 a Natureza se rebelou contra o
descaso, com chuvas torrenciais ceifando vidas de tantos inocentes.
A árvore dos judeus continua frondosa na Pracinha do Alto; só não há mais judeus sentados
à sua sombra, onde suados compristas da feirinha descansam da maratona em busca de
metzies (pechinchas). O tradicional Ernesto, filial do restaurante da Rua do Rosário no
Centro do Rio, que servia salsichões, sopa de ervilha, kassler e eisbein, deu lugar a um
shopping.
A comunidade judaica continua presente, mas dispersou-se. Não se concentra mais ao
longo da Reta, espalhando-se pelos condomínios e sítios distantes na periferia, onde ainda
pode-se encontrar um pouco da paz, do clima e das matas que existiam em abundância no
aglomerado urbano de outrora.
Mas as marcas judaicas permanecem evidentes, e como Povo do Livro legamos a Terê a
Sinagoga Shalom e a Escola Ginda Bloch, onde uma Hanukiá [58] ilumina a pracinha nas
noites de dezembro, com o Dedo de Deus ao longe. Mais adiante o Centro Cultural Bernardo
Monteverde e a Casa de Cultura Adolfo Bloch, duas importantes instituições da Secretaria
de Educação oferecem cursos e atividades artísticas para os teresopolitanos. Já dizia velho
provérbio ídiche... quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas ...
Assim é também em Terê... ontem como hoje seguimos o nosso destino, tementes a D´us e
guardando a nossa fé indestrutível, que resistiu ao faraó, aos gregos, persas e babilônios, e
desafiou as mais poderosas legiões romanas. Enfrentamos e deixamos para trás a “Sancta”
Inquisição e o Holocausto. Seguimos confiantes, animados pela esperança inquebrantável
na vinda do Messias ainda em nosso tempo. Oriundo da Casa de David, cruzará os umbrais
da última porta ainda fechada na Cidade Santa de Jerusalém, ressuscitará os mortos e se
cumprirão as profecias de Yeshayahu (Isaias) : o lobo conviverá com o cordeiro e das
espadas se farão arados.
Amém e Amém.
TERROR NAZISTA NOS MARES BRASILEIROS
Já se passaram 70 anos. Mais um casamento se realizava no Grande Templo Israelita da
Rua Tenente Possolo, no centro do Rio de Janeiro. Familiares e amigos posam para uma
foto em grupo, sem imaginar que na semana seguinte tragédia cruel se abateria sobre eles,
com o pai e o irmão da noiva embarcando para uma viagem sem retorno.
Em 15 de junho de 1942 Hitler ordenou ao Comandante da Kriegsmarine, Almirante Karl
Doenitz, que lançasse uma blitz submarina no litoral brasileiro. Em apenas três dias, entre
15 e 17 de agosto de 1942 foram torpedeados os navios Baependy, Aníbal Benévolo,
Araraquara, Itagiba e Arará; das 824 pessoas a bordo desapareceram no mar 607 patrícios
inocentes, entre passageiros e tripulantes.
No dia 13 de agosto de 1942 às 13h, do armazém 13 do cais do Porto do Rio suspendeu o
Itagiba, levando quatro dos presentes ao casamento de Eta Zylbersztajn e David Szulc: Nute
Faiwel Zylbersztajn, seu filho mais novo Alter Ber e o casal Natalio e Czestava S. Aisenberg,
respectivamente o pai e o irmão da jovem noiva de 16 anos, Eta, e um casal amigo.
Residiam na casa 30 de uma vila com 58 unidades, na antiga Rua Júlio do Carmo, no. 63,
atual Rua Clementino Fraga, a famosa “ídiche avenide” na Praça XI, onde trabalhava com
antiguidades, para o sustento da família. Iria para Recife em busca de novas peças, e levava
o filho para auxiliá-lo. Um casal que também aparece na foto do casamento, Natalio e
Czestava S. Aisenberg os acompanhava.
O Itagiba aproximava-se de Salvador quando o U-507 lançou dois torpedos que partiram ao
meio o navio, afundando rapidamente a 13 milhas do Morro de São Paulo. Eram 10h50m
da manhã de 17 de agosto, uma semana depois do casamento. Dos 181 a bordo houve 145
sobreviventes, que permaneceram no mar até as 14 horas, quando veio em socorro o vapor
Arará, que navegava para Valença. Natalio e a esposa foram recolhidos pelo Arará, tendo
testemunhado sem nada poder fazer o esforço de Alter Ber, jovem de 18 anos, atlético e
bom nadador, mas que foi vencido pelas ondas ao tentar ajudar o pai Nute Faiwel, ficando
os dois entre os 36 desaparecidos do Itagiba. Lamentavelmente a Alemanha Nazista nesse
momento assassinara judeus no Brasil, juntamente com centenas de outros patrícios, numa
versão reduzida do Holocausto, que já vinha ocorrendo na Europa sofrida.
Incrivelmente os nazistas não se comoveram com a sorte dos náufragos! Também o Arará
com as máquinas paradas foi torpedeado logo em seguida, tendo a bordo 15 sobreviventes
que recolhera do Itagiba.
Como por milagre, uma hora depois surgiu o barco de madeira Aragipe, que vinha de Ilhéus
transportando cacau, recolhendo os novos náufragos, alguns tendo escapado dos dois
naufrágios, como foi o caso de Natalio e Czestava e também do então soldado Dálvaro José
de Oliveira, hoje tenente, com 94 anos.
No Aníbal Benévolo desapareceu também um tripulante judeu, o 2º. Comissário Mauricio
José Pinkusfeld, de 18 anos, recém-saído da Escola da Marinha Mercante.
Foi a sua primeira, última e única viagem [59]. A perda foi imensa, uma tragédia. Apenas
quatro dos 154 a bordo salvaram-se.
A triste notícia caiu como uma bomba sobre a população. Imediatamente as ruas foram
tomadas pelo povo, com os estudantes à frente, os “cara-pintadas” da época, exigindo que o
governo revidasse a brutal agressão. Diante do clamor popular, o Presidente Vargas em 31
de agosto de 1942 declara o estado de guerra com a Alemanha e Itália.
Hana não podia acreditar; uma semana após o casamento da filha perdia o marido Nute
Faiwel e o filho Alter Ber. O mundo desabou sobre aquela senhora. Em poucos dias seus
cabelos estavam totalmente brancos e enquanto viveu jamais aceitou a perda, preferindo
acreditar que os entes queridos estivessem em alguma ilha perdida, e que um dia iriam
retornar. Deixou de ir a festas. Nem ao bar-mitzvá dos netos compareceu. Sequer pensou
em receber uma indenização, pois afirmava que dinheiro não os traria de volta.
Sua filha Eta vivia o mesmo drama, que seria agravado três anos depois com a morte do
marido, deixando-a sozinha com o filhinho de dois anos, Izac. Havia perdido o marido
David, o pai Nute Faiwel e o irmão Alter Ber. Até hoje Eta, aos 90 anos, não consegue falar
sobre o acontecido, embora chegue a comentar às vezes que seu pai e irmão teriam
possivelmente se salvado.
A família ficou sem Alter Ber, o provedor que lhe dava sustento, sendo fácil imaginar os
percalços por que teve de passar. Entretanto, os piedosos judeus da Praça XI podiam não
ter recursos, mas herdaram de seus antepassados o espírito inquebrantável de luta, a
religiosidade indestrutível, a honra judaica imemorial. Não se deixaram abater, e mesmo
com dificuldades foram para frente.
A foto do dia do casamento é a prova de que a final eles venceram, pelo trabalho duro e
honesto formaram seus filhos e legaram-nos um exemplo de vida. Observando melhor as
crianças sentadas na frente, se notará que uma delas, neto de Nute Faiwel e sobrinho de
Alter Ber, que chegou ainda a conhecê-los, hoje é um médico dedicado, que preside
importante sinagoga em Copacabana. E outro neto de Nute Faiwel, sobrinho de Alter Ber,
que iria nascer no ano seguinte, 1943, jamais conhecendo avô e tio, viria a ser um
competente arquiteto, de brilhantes ideias, ainda que Eta, sua mãe viúva, não pudesse lhe
comprar os livros para a faculdade, que cursou estudando nas bibliotecas.
Enviando submarinos para torpedear nossos navios mercantes, Hitler empurrou o Brasil
para alinhar-se com as democracias. O ditador nazista havia classificado o Brasil como um
país de mestiços, que poderia lhe fornecer escravos, a exemplo da Polônia e URSS.
Pois este mesmo país enviou para o teatro de operações italiano uma força expedicionária
com 25 mil soldados, façanha ainda hoje respeitável, dos quais 25 eram judeus, vários
condecorados com as mais significativas medalhas.
Por tudo isso, é quase inacreditável que em princípios de 1964, durante viagem de
instrução do Navio Escola Custódio de Mello, quatro Oficiais da Marinha do Brasil, durante
escala em Hamburgo, fizessem “visita de cortesia” ao Almirante Doenitz, responsável por
terríveis atrocidades e crimes de guerra, aquele mesmo que ordenou os ataques ao Brasil.
Doenitz era nazista convicto e antissemita, além de louvar a Hitler como enviado do céu.
Passadas décadas, a Alemanha é uma nação amiga, mas não se pode esquecer. Diante do
Monumento aos Náufragos, no Forte do Imbuhy em Jurujuba, Niterói - RJ, o Exército
recorda os que fizeram sua última viagem para jamais retornar, tendo como túmulo os
mares verdes do Nordeste.
A Comunidade Judaica Brasileira também recordou os 70 Anos da Entrada do Brasil na
Segunda Guerra Mundial, em cinco de agosto de 2012, com a inauguração pelo Ministro da
Defesa, Embaixador Celso Amorim, de uma peça escultórica alusiva, onde figura uma placa
encimada por uma Estrela de David estilizada, no Monumento aos Pracinhas no Rio de
Janeiro.
E assim prosseguimos a nossa caminhada, tementes unicamente a D´us, o Grande Arquiteto
do Universo. Hana e Eta foram lutadoras, sendo mais fortes que a tragédia, verdadeiras
heroínas a se espelhar nas mulheres bíblicas. É, justamente, um exemplo de amor e
dedicação, um orgulho para a comunidade judaica brasileira, uma história que afinal pôde
ser contada, 70 anos depois.
Nute Faiwel e Alter Ber, assim como seus antepassados que não puderam salvar-se na
Europa sofrida, também foram mártires Al Kiddush haShem. Assim como seus irmãos, que
pereceram no Holocausto, jamais tiveram uma matzeivá. Seus túmulos estão nos mares
verdes do Nordeste, mas onde quer que estejam, poderão para sempre se orgulhar de Hana,
Eta e sua descendência.
UMA BLAJBERG NO PAMPA ARGENTINO
Buenos Aires. Velha foto dos anos 40 mostra a doce matriarca em seu longo vestido preto,
abotoado dos pés à cabeça, olhar sereno revelando o carisma das grandes mulheres.
Eliahu Ryba chegou à Argentina em 1912, mas somente em 1925 pode trazer a jovem
esposa Miriam Blajberg, tia-avó que jamais conheci, falecida em 1954. Pesquisas recentes
confirmaram as suposições de que havia uma grande descendência dos Blajberg de
Ostrowiec na Argentina. Miriam era uma das muitas irmãs e irmãos de meu avô Szlama
Szwarcman Blajberg, desaparecido no Holocausto.
O antissemitismo grassava na Rússia Czarista e Polônia. Entre os que tentaram amenizar o
sofrimento de seus irmãos destacou-se o Barão Maurice de Hirsch. Descendente de antiga
família de banqueiros e industriais da Baviera, destacou-se como financista em Bruxelas, e
fez fortuna construindo ferrovias para o então poderoso Império Otomano.
Nas suas andanças pelas obras, constatou como seu povo sofria castigado pelo isolamento e
pela miséria que lhes impunham as autoridades. Os judeus eram pobres, e Hirsch
juntamente com sua esposa Clara de Bischoffsheim tentou minorar esta situação. A perda
do único filho determinou o lançamento de todas as energias e fortuna do casal num dos
esquemas filantrópicos mais extraordinários da história. A Tzedaká [60] passou a ser o
centro de suas vidas. O Barão fundou a Jewish Colonization Agency, que comprava terras
no interior do Brasil e Argentina, pagando as passagens dos judeus que quisessem
transformar-se em agricultores.
Eliahu Ryba poderia ter escolhido Erechim, Santa Maria ou Quatro irmãos, mas por alguma
razão preferiu Moiseville, no Pampa Argentino. Durante um quarto de século desfrutou da
vida rural com que sonhara. Mas o destino lhe foi cruel, e um acidente com um cavalo
acabou com sua vida, deixando Miriam viúva em 1937.
Transtornada, a família deixou Moiseville com sua sinagoga e o cemitério, onde até hoje
repousa Eliahu, indo para Rosário e de lá Buenos Aires.
O Barão e sua esposa Clara salvaram muitos irmãos. Milhares foram trazidos, e sua
descendência hoje se multiplicou. O grande público nem sonha quem são eles. Quanta gente
importante descende daqueles que um dia perambularam de pés descalços, com seus pais e
avós pelo solo poeirento dos Pampas, gaúchos ou argentinos. ... Ministros, médicos,
generais, advogados, escritores, e até revolucionários, como Alberto Marcos, bisneto de
Miriam, lamentavelmente desaparecido em 1976, vitima da ditadura argentina. Os mesmos
sonhos de um mundo melhor, da igualdade entre os povos, que povoaram as mentes de
Rosa Luxemburgo, Leon Trotski, e tantos outros, também foram sonhados ao som de um
tango em Buenos Aires, por alguém que tinha em suas veias 1/8 do sangue dos Blajberg de
Ostrowiec...
Outro bisneto de Miriam, destacado jornalista do El Clarin, levantou o véu que encobria um
sórdido movimento nazista, escrevendo o livro Tacuara - Historia de la Primera Guerilla
Urbana Argentina.
O descortino de Elihau Ryba, que partiu levando apenas a esperança, e de Szlama Blajberg e
sua esposa Hana Mintz, que salvaram do Holocausto seis dos 10 filhos, enviando-os a peso
de ouro para o Brasil, Palestina e América, possibilitou a continuação da saga dos Blajberg.
Somos da tribo de Levy. Num passado remoto, distante antepassado em meio ao deserto
não se deixou iludir pelo bezerro de ouro, aguardando que o Grande Patriarca Moisés
descesse do Monte Sinai trazendo as Tábuas da Lei. Assim, fomos sagrados como Guardiães
do Tabernáculo, tendo a honra da Leitura da Torá nas Sinagogas logo após os descendentes
dos Cohanim [61].
Sob outros sobrenomes, mas com o mesmo descortino e esperança, continuamos a trilhar a
estrada da vida, satisfazendo-nos em ter nosso sustento, poder recordar nosso passado,
esperando do futuro somente alegrias. Somos tementes a D´us, o Grande Arquiteto do
Universo, fieis a Lei de Moisés, e apesar dos nomes às vezes complicados, que se repetem
ad aeternum, honrando a memória de nossos pais e avós, somos tão brasileiros quanto
qualquer brasileiro e, certamente, tão argentinos como qualquer argentino ...
AMAZÔNIA JUDAICA E A REDENÇÃO DA FLORESTA
Novembro de 2013. Mais uma vez retornamos a Manaus. A aeronave lotada de turistas
estrangeiros ultrapassa a Serra dos Órgãos; logo estamos sobre terras mineiras, a Represa
de Três Marias imensa, em seguida as terras cultivadas do Centro Oeste. Já voamos há mais
de duas horas e ainda estamos longe, atestando a imensidão desse Brasil.
Século XVII - Pedro Teixeira, Capitão-Mor do Grão-Pará, explora um rio dominado por
mulheres guerreiras montadas a cavalo, tomando posse das terras em nome do rei de
Portugal.
Após 200 anos, seguidores da Lei de Moisés aportaram na Hiléia Amazônica. Deixavam o
Marrocos sofrido em busca de um futuro onde pudessem exercer livremente sua religião.
Mas não seguiram para o Rio de Janeiro. O futuro do Brasil não estava perto do mar, onde
desde 1500 se estabeleciam os imigrantes mas, como profetizou JK, estava próximo da
floresta, próximo do grande Rio ...
A redenção da Amazônia não é uma tarefa fácil, como não foi para o povo de Israel adentrar
à terra prometida, tendo que deixar para trás a geração do deserto. Assim como na Canaã
dos hebreus, também aqui a conquista se revela árdua. Os sefaradim vindos diretamente do
Marrocos trouxeram sua fé para os mais recônditos interiores da Amazônia, onde até hoje
vivem seus descendentes, com os mesmos sobrenomes, ainda que tantos já desgarrados...
D’us Todo Poderoso, que criou o mundo, colocou aqui uma Terra Prometida para o povo
brasileiro, esta Amazônia de diversidade e riqueza tão abençoada, o verdadeiro solo
sagrado da nação brasileira, rico patrimônio, rios incrivelmente largos e imensa vazão
d´água, biodiversidade, a nossa Canaã, terra aonde o leite e o mel bíblicos vem da
seringueira e do cupuaçu.
Nossa comitiva embarca em dois NaPaFlu (Navio Patrulha Fluvial) da Flotilha do
Amazonas, um leva o nomes do cristão-novo Raposo Tavares (P21) e outro o Pedro
Teixeira (P20).
A tarde é agradável. Durante a navegação entre a Ponte do Rio Negro e o encontro das
águas, até onde a vista alcança, o rio imenso é margeado pela selva verde e
densa. Fechando os olhos por alguns momentos, vem-nos à imaginação a figura serena do
Prof. Samuel Benchimol. Algo sugere que sua alma pudesse, por breves momentos, ter
atravessado o Portal do Paraíso, estando por ali, flutuando entre as nuvens sobre a selva,
onde habitam os espíritos da floresta, que acompanham e protegem os brasileiros e a quem
cumpre defendê-la. Eminente brasileiro, dedicou a vida ao estudo da Amazônia; do Jardim
do Éden protege a Hiléia que tanto amou.
Em sua honra, o Governo instituiu o Prêmio Samuel Benchimol de Desenvolvimento
Sustentável da Amazônia. Era tudo que queria, conservar a mata verde e altaneira.
Visitamos a bela Sinagoga Beth Yaacov / Rabi Meyr, do CIAM - Comitê Israelita do
Amazonas, abrigando uma Torá que remonta a 500 anos, a posição da Bimá ao centro, bicentenária
Comunidade Judaica Amazônica, com o Clube Hebraica, a Escola Rabino Jacob
Azulay e um novo cemitério sendo implantado. Levamos na bagagem o clássico Eretz
Amazônia, do saudoso Prof. Samuel Benchimol, Z"L, que demonstra a valiosa contribuição
judaica para a redenção da floresta e o progresso da região, pelo trabalho duro e honesto
realizado já há mais de 200 anos.
No maravilhoso passeio fluvial do encontro das águas, onde as águas escuras do Rio Negro
encontram as águas barrentas do Solimões, que passa a denominar-se Amazonas, o grupo
fez os tradicionais pedidos, arremessando às águas uma moedinha:
Que a Amazônia Seja
Sempre Brasileira ...
Casamento Judaico
Assistimos cada vez menos a casamentos como este, onde ambos consortes já nasceram
judeus, desmentindo os antissemitas: “são um grupo fechado...não se misturam ...”. O
caminho foi longo e penoso até que aqueles jovens apaixonados pudessem unir-se baixo a
hupá. Seus avós ouviram falar de país distante, onde havia liberdade. Oceanos não foram
obstáculo, como não tinha sido séculos antes aos que aportaram nesta Terra Abençoada,
carregando a pecha de marranos, cristãos-novos.
Nenhum da geração de imigrantes ainda está aqui conosco. Em suas andanças subiram o
Rio Amazonas, Belém, Manaus, Santarém, Macapá, tantas cidadezinhas perdidas no meio
da floresta, sinagogas e cemitérios hoje lentamente recobertos pela floresta. Outros saíram
da Polônia gelada e vagaram pelos interiores remotos, Uberlândia, Juiz de Fora, São
Lourenço, depois atraídos pela cidade grande, para não se perderem.
Hoje, repousam eternamente em Vila Rosaly e Vilar dos Telles. Como manda a tradição, às
vésperas do casamento os pais lá compareceram para, em prece silenciosa, suplicar pela
proteção superior aos noivos. As almas dos que partiram souberam que aqui neste Vale de
Lágrimas recordamos sua abençoada memória, e que estamos agradecidos, porque os
casamentos são combinados nos Céus, como ensina a Torá.
Agora, mais um sonho daquelas almas que se elevaram aos Jardins do Éden está prestes a
se realizar, pairando extasiadas sobre uma verdadeira Catedral judaica. O pai leva a filha
pelo braço ao longo do corredor do Grande Templo Israelita, por onde ele mesmo havia
passado no mesmo dia, há 27 anos passados.
A nave grandiosa do Templo da Tenente Possolo, imponente com seus vitrais coloridos a
mais de 30 metros de altura. Os vibrantes acordes da Marcha Nupcial ressoam pelo salão,
portais de madeira se abrindo, deixando antever a noiva divina, esplendorosa, os
murmúrios dos convidados fazendo justiça ao seu porte majestoso e discreto, superando
em graça e beleza todos os que a antecederam no cortejo, até os pajens, pequenos
sobrinhos, estes donos dos melhores elogios, mas na Categoria Infantil.
Todos olhares se dirigem ao par na entrada do salão. O pai sente as pernas bambas, mal
consegue iniciar a caminhada, um nó na garganta. As luzes e a música o fazem sorrir para
os convidados que admiram a cena. No caminho até o pálio sagrado da hupá, o pai conduz
pela mão sua menina, mas os pensamentos se voltam para o passado, recordando como os
avós se encantavam com os netinhos, nem a todos tendo sido concedida a graça e a
felicidade de vê-los num momento assim, ou mesmo de subir à Torá, ao completar a
maioridade religiosa. Um dia aquela noiva encantadora foi um bebê gordinho, uma bolinha.
Chegou a preocupar. Seria uma criança obesa? O tempo se encarregou de dissipar as
preocupações. Era apenas sinal de boa saúde.
Finalmente, sob a hupá os pais e avó observam embevecidos o casal que sobe e diante dos
Rabinos realiza o ritual das sete voltas, como os sete dias em que o Criador construiu o
Mundo, tendo o noivo pronunciado o Sheechianu [62] , abrigando-se com o talit [63] azul e
branco trazido especialmente de Israel, feito à mão por um artista de Jaffa. O vinho sagrado,
símbolo de alegria, é repartido para as bênçãos, os noivos colocam as alianças,
obrigatoriamente de ouro puro, firmando a ketubá [64]. A predica do Rabino é ouvida
atentamente pelos presentes, logo são entoadas as Sheva Brachot [65] e a Birkat Cohanim
[66]. Um copo é colocado no chão, para a milenar promessa recitada por todo noivo: Im
Ishkacher Yerushalaim, Tishcach Yemini [67], ao que o ruído do copo se quebrando, sinal de
tristeza pela destruição do Templo, determina o inicio da festa com a melodia alegre de
Siman Tov u Mazal Tov [68]
Os noivos adentram o salão, novamente murmúrios elogiosos, de como são tão bonitos e
vistosos, formando belo par. Corta-se o bolo, vem o brinde, a Valsa do Imperador embala os
noivos, depois os pais e todos os convidados com as alegres hoiras[69] , danças e musicas
tradicionais que marcam o casamento judaico como uma das festas mais animadas. Logo
os recém-casados estão suspensos em cadeiras levantadas sobre as cabeças da multidão
aglomerada na pista de dança. As luzes e sons enchem o salão, a festa prossegue até altas
horas, com as arkadot [70] contagiando o público.
O tempo vai passando, a noiva arremessa o bouquet, apenas os mais jovens ainda resistem
animados pela magnífica banda.
Em maus tempos, inimigos dinamitaram nossos templos. Mas não se pode dinamitar
sonhos, nem almas. Por isso estamos ainda aqui, passados os milênios. Que nos
encontremos somente em alegrias. Amém.
A ÁRVORE DOS JUDEUS
Verão de 2011, Teresópolis vazia de luto no Carnaval que não houve. Em meio às barracas
da Feirinha, bela árvore imponente e centenária domina a pracinha do Alto, no vale
emoldurado por elevações elegantemente sinuosas. Antigamente, à sua sombra, muitos e
muitos judeus se reuniam, jogando conversa fora em ídiche nas manhãs de domingo. Hoje
entretanto ninguém mais vem sentar no banco redondo construído à sua volta. Meio
escondida pelas barracas, cada vez em maior quantidade, cordas e toldos a escondem entre
bolsas, casacos e malhas.
Nos bons tempos a pracinha efervescia com a geração de imigrantes misturada aos demais
frequentadores, as criancinhas em seus carrinhos, os que chegavam para almoçar no
Ernesto, ali na esquina. Não havia shopping nem edifícios altos, um ou outro carro
estacionava, apenas casas e a tranquilidade, o canto dos passarinhos.
À sombra daquela arvore multidões desfilaram, até que os imigrantes se foram e ficamos
nós, brasileiros natos já de várias novas e vibrantes gerações. Ao contrário de nossos avós e
bisavós, não mais nos procuramos entre si, buscando notícias de antigos landsman [71],
comentando as novidades, fazendo aqui e ali algum shidech [72].
A comunidade se espalhou pelos bairros e condomínios, acabou o aglomerado judaico no
Hotel Belvedere, há muito desaparecido, extravasando pela porta e se esparramando pela
calçada. Em seu lugar prosaica loja de tintas, não muito longe da sinagoga as vezes semivazia.
Não mais as filas na Padaria Teresópolis, tantas faces conhecidas, carros estacionando
vindo buscar aquele pão quentinho de sabor tão especial não encontrado no Rio.
A cidade bucólica não existe mais. No lugar do antigo Hotel Higino surgiu estranho prédio.
Fechado há muitos anos, já foi bingo e hoje aguarda não se sabe o que para reabrir, talvez
maldito pela sina de ter destruído o antigo casarão que enfeitava a paisagem, substituindoo
por um monstro de concreto que polui a paisagem diante do outro Higino, o Condomínio,
em cujos salões múltiplos bailes alegravam os dias do Carnaval de Purim [73].
A cidadezinha mudou. Teresópolis eclodiu qual ameba enlouquecida, desmatando os
morros, invadindo os bairros cada vez mais densos, numa conurbação doida jamais
imaginada. Prédios imensos conspurcando a paisagem, engarrafamentos. Mini máquina de
moer gente, pequena grande metrópole, afugentando os espíritos que cuidam da Natureza.
Colinas verdejantes viram barrancos, o arvoredo dá lugar a casas e barracos, abrem-se
ruelas, ônibus passando a toda hora. Os riachos secam, águas exalam mau cheiro do esgoto,
os peixinhos se foram, os laguinhos aterrados.
Sentimo-nos perdidos em meio a entulhos, solitários na antiga cidade acolhedora. Não é
mais alegre o jardim, nem há mais jardim, cachoeiras viram filetes de água escorrendo pela
pedra. Manilhas imensas espalhadas anunciam sentenças de morte aos riachos, a serem
canalizados e enterrados definitivamente. Será o fim?
A Natureza se revoltou e veio cobrar seu preço. Tantos inocentes pagaram com a própria
vida pelos crimes ambientais dos outros, erros acumulados, descaso com o futuro.
Mal poderiam aqueles antigos imigrantes imaginar como tudo está tão diferente. O trem
cansado já não arrasta mais o peso dos vagões subindo a serra para outro fim de semana
alegre em Terê. A estação virou ponto de ônibus, os trilhos sumiram no meio do mato,
apenas aflorando em uma ou outra pontezinha coberta de musgo pelo caminho.
Antigas estradas ficaram pequenas e acanhadas, apenas ruas. Ao lado, a imponente Rio-
Teresópolis encurta a distância como se fosse um tapete mágico negro serpenteando pelas
colinas.
Nas noites de maio em Terê o frio da Serra se torna ainda mais intenso. Pouca gente se
aventura pela rua na madrugada encoberta pelo denso nevoeiro e a chuvinha miúda que se
arrasta sem pressa de parar. Quase nenhum carro circula nestas horas, apenas um ou
outro sitiante, acordando cedo para cuidar da plantação, se surpreende com o rastro
luminoso no céu, uma luz espalhando-se por cima das nuvens baixas...
Incrédulos, pensam tratar-se apenas de holofotes de avião, ou reflexo de relâmpagos
distantes... Na carruagem de fogo riscando o espaço, almas judaicas retornam do passado,
se espantando com as luzes brilhando ao longo da Reta... tantos shoppings, edifícios,
ônibus, automóveis ...
Altaneira, a Árvore dos Judeus ainda se destaca na paisagem. Ela pressente lá do alto
aqueles que sentavam a sua volta, ainda a admirando e enviando suas bênçãos. Apenas
suplica que aceitemos de volta os espíritos que cuidam dos elementos... do alto da sua copa
espera paciente que a Humanidade pare para pensar... e que não demore a chegar o dia em
que os peixinhos voltem ao riacho, os sapos e os passarinhos reapareçam, e as criancinhas
possam novamente brincar, correndo em volta do jardim da Pracinha do Alto ...
Imigrantes em Terras Gaúchas
Fazem 100 anos que começou a I Guerra Mundial, modificando o mundo, com o
desaparecimento de quatro impérios, Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano. Samuel
era um daqueles jovens judeus turcos, que sentiu na pele os rigores da guerra, e a
decadência da Turquia. Ainda esperou alguns anos, mas não houve jeito, teve que partir.
Estória comum a muitos imigrantes em busca de futuro melhor às margens do Guaíba,
vislumbrando futuro promissor. Ouvia falar de lugares distantes, uma remota Porto Alegre,
onde se radicara um parente. Acabou por desembarcar sozinho no Rio aos 19 anos, de
onde seguiu de trem para o Sul.
Samuel nasceu na véspera de Pessach , em Izmir. Aos 3 anos, sua avó levou o pequeno
enrolado no Talith para a sinagoga. Naquela época havia mais de trinta na cidade. Lá
chegando distribuiu balas para as crianças e o deixou com o Rabino , que lhe ensinou o alefbet
Anos depois Samuel teve de encarar a face perversa do antissemitismo na escola. A
este tempo desejou ir para a Palestina, mas os ingleses limitavam em muito os
vistos. Vendo que não teria futuro, decidiu-se por sair da terra natal.
Radicou-se no Bom Fim. Frequentava o Centro Hebraico dos sefaradim, onde os
correligionários auxiliavam a se iniciar para trabalhar, mas as condições não eram das
melhores; um dia chegou um amigo que tinha um irmão em Cruz Alta, e oferece-lhe
sociedade, a pequena cidade era muito boa para se viver, o ambiente era outro, tranquilo,
mais se assemelhava ao shtetl distante. A viagem levou 3 dias.
Saia pelas fazendas vendendo. Se nascia uma menina, os fazendeiros costumavam logo
começar a comprar o enxoval, guardando-o no baú, lotes de linho, lençóis, fronhas. No
interior a vida era muito mais sossegada, Samuel arranjara muitas amizades, gostava muito
daquela vida. Não havia tantos judeus assim, mas nos Yom Tovim as famílias se
reuniam, havia um minian, volta e meia um bar-mitzvá , brit-milah [74], as orações dos
Dias Temíveis.
Passarem-se alguns anos. Estava ele hospedado em um dos bons hotéis da cidade, quando
um dia chega um judeu da capital. O dono veio avisar Samuel: chegou um correligionário
seu, de barbicha, uma pessoa muito simples, inteligente, vivido: era um alfaiate, viajara a
negócios. Apresentaram-no, “...o que você está fazendo aí, vai se perder nesse meio, casar
com qualquer uma..., vai se misturar”... ,”tantos anos aqui, ninguém vai saber de você, escuta
meu conselho, volta para Porto Alegre...”. Samuel já tinha 32 anos - retrucou que nunca iria
se casar, muito menos com qualquer uma. “Escuta o meu conselho, Porto Alegre já não é
mais como antes, o seu destino lhe espera”. Assim ele o convenceu, pediu para dar a mão e
prometer que iria voltar.
Samuel voltou e acabou se casando com a filha de um conterrâneo. Constituiu família,
filhos, netos, até que um dia voltou pela derradeira vez da loja. No Cemitério a
matzeivá de Samuel é testemunha de que nunca se descuidou da herança familiar, e dos
ensinamentos do Santo Rabino de Izmir:
Viveu Dignamente
Honrou os Antepassados
Sua lembrança nos guiará para sempre
Paris Esta em Chamas ???
Já ao chegar no hotel, as lembranças de uma França sofrida tornam-se logo evidentes.
Nosso IBIS esta bem ao lado da estação de trem e metrô, a Gare de Montparnasse, onde em
um remoto dia de 1944 o General der Infanterie da Whermacht von Choltitz assinou a
rendição das tropas alemães, diante do General Leclerc de Hauteclocque, recusando a
ordem de Hitler de resistir até o ultimo homem.
Bem atrás da estação está o seu Memorial Marechal Leclerc, o comandante da 2 eme Division
Blindee francesa, que saiu do norte da África para libertar Paris, prosseguindo em seguida
para a Alemanha, onde conquistou Berschtesgaden, o Ninho da Águia de onde o ditador
nazista infelicitou seu pais e o Mundo, de lá trazendo como troféu de guerra a própria
Mercedes de Hitler, hoje exposta no Hotêl des Invalides.
O Musee de l’Armee no Hotêl National des Invalides merece uma detalhada visita. Abriga o
tumulo de Napoleão, e ainda tem a destinação original que lhe deu o Imperador, de hospital
e asilo para os inválidos, hoje cuidando de veteranos de guerras recentes, como no
Afeganistão.
Paris é muito rica em monumentos e placas de todos os tipos e tamanhos. Diante do Hotel
Meurice, o QG do Gen Von Choltitz, há varias em honra dos que ali tombaram, e onde o
General atendeu a famosa chamada telefônica onde Hitler lhe perguntava se Paris já estava
em chamas.
Seu gesto de desafio ao ditador, não aceitando a ordem insana para dinamitar tantos
monumentos históricos onde os explosivos já estavam assentados, lhe valeu uma
homenagem significativa – ao falecer, uma delegação militar francesa compareceu ao seu
funeral.
Um dia dedicamos a Normandia, onde existem nada menos que 37 museus recordando o
Dia-D, que no 6 de junho de 2014 completou 70 anos do desembarque nas praias de
Omaha, Utah, Gold, Juno, Sword.
Chegamos a beira dos penhascos da Pointe du Hoc, escalada por um punhado de Rangers
para explodir as baterias alemãs, e pisamos nas areias onde tantos bravos avançaram de
peito aberto enfrentando o fogo nazista. Consternados, contemplamos o mar de cruzes
brancas e estrelas de David no Cemitério Militar Americano, refletindo sobre a incoerência
das guerras.
No antigo bairro do Marais visitamos o MAHJ – Musee d’art et d’histoire du Judaisme, o
antigo Hotêl de Saint-Aignan da rue du Temple, fechado durante décadas, até que a
prefeitura o reabilitou, tendo sido inaugurado por Jacques Chirac.
Logo ao entrar chama a atenção no pátio a estátua do Capitão Dreyfus com 6 metros de
altura, onde executa a continência com uma espada partida, sem lâmina, apenas com a
empunhadura.
Simboliza a cerimônia de degradação a que foi injustamente submetido pelo Conseil de
Guerre, tendo sua espada quebrada diante da tropa formada. O artista foi muito feliz,
expressando com esta imagem forte como o oficial não se deixou abater, mantendo intacta
sua honra militar
A viagem foi uma verdadeira aula de história. Que a memória do grande Emile Zola e dos
bravos heróis da resistência iluminem a França, nestes momentos difíceis que atravessa.
A SINAGOGA QUE OS NAZISTAS NÃO CONSEGUIRAM
QUEIMAR
Em 1866 a maior sinagoga de Berlin, com 3200 lugares, foi inaugurada na Oranienstrasse.
70 anos mais tarde, as SA – Sturm Abteilung (tropa de assalto) tentaram incendiá-la, na
noite de 9 para 10 de novembro de 1938, que passou à história como a KristallNacht.
Não contavam porém com a coragem de Wilhelm Krutzfeld, o delegado de Polícia do
Distrito 16, que os enfrentou de arma em punho e chamou os bombeiros, embora
estivessem proibidos naquela noite de atender a pedidos de socorro das sinagogas.
Estranhamente nada aconteceu com Krutzfeld. Ele apenas foi chamado a explicar-se no
gabinete do prefeito. Aposentou-se em 1943, tendo falecido em 1953.
Em 1980, o Senado de Berlin determinou que a sua sepultura no Cemitério protestante
fosse transformada em mausoléu, e atribuiu seu nome honrado à Academia de Polícia do
Estado de Schleswig-Holstein.
Esta sinagoga era um prodígio de engenharia na época.
Seus vitrais eram iluminados a gás, conduzido em tubos, que mais tarde passaram a servir
de dutos para fiação elétrica.
O seu magnífico domo dourado resplandecente na distância, inspirado no Alhambra de
Granada, foi projetado por um brilhante engenheiro, que deu seu nome a técnica de cálculo,
passando a ser conhecida como Domo de Schwedler.
Os judeus alemães introduziram o órgão nas sinagogas, e esta tinha um dos maiores da
cidade, acompanhando solenemente cerimônias marcantes, como as realizadas pelo
Reichsbund der Judischer FrontSoldaten, onde o Kadish [75] era entoado em memória dos
bravos soldados alemães de fé judaica.
Tantos combateram na vitória de Sedan em 1895, tantos tombaram na Primeira Guerra
Mundial.
Outras solenidades marcavam a constituição do Império Alemão em 1871; o pesar pelo
assassinato do imperador em 1878, o falecimento do Kaiser Wilhelm I em 1888, os 10 anos
da República em 1929, o falecimento em 1934 do ReichPraesident Von Hindenburg, até que
ocorreu a última cerimônia em 13 de março de 1938, em memória dos mortos na I Guerra.
Todas estão documentadas nas fotos do museu, mostrando os fiéis sem usar kipá, e sim
elegantes cartolas.
Ate março de 1940 ainda se ouviram ressoar os cânticos no belíssimo templo. Salvo da
Noite dos Cristais, não resistiu aos bombardeios de novembro de 1943.
Ate 1958 foi apenas uma ruína no setor comunista, quando foi afinal demolida.
Mas seu destino seria outro. Com a reunificação da Alemanha em 1991 o templo foi
reconstruído e reinaugurado em 1995 como museu, exibindo o mesmo domo em todo seu
esplendor.
Durante escavações, em 1989 foi encontrada entre os escombros a Ner Tamid (Luz Eterna),
que acesa sobre a congregação simbolizava a presença divina.
Ela está hoje no museu, retorcida, assim como foi tirada de baixo do entulho.
A presença judaica novamente pode ser sentida nas ruas. A KaDeWe, tradicional loja de
departamentos, tem folhetos em hebraico.
Bem perto, na estação de trem mais antiga de Berlin, hoje de metrô, uma placa recorda os
trens que saíram dali para os campos de extermínio.
Em transversais da elegante Kurfursterdam, onde os nazistas colocaram nas lojas cartazes
de Kauf nicht bei Juden (não compre dos judeus), viceja a sede da comunidade, e o Beit
Chabad, organização religiosa com filiais em inúmeros países . E ao longo da Unter den
Linden, onde na Universidade de Humboldt Goebbels mandou queimar livros, placas
recordam estes e outros episódios daquela época negra, para nunca serem esquecidos.
Altaneira, a velha-nova sinagoga se destaca na paisagem da Oranienstrasse. Passadas
tantas décadas, seu domo ainda domina o espaço sobre rua.
No seu entorno não foram erguidos prédios que pudessem superá-la em altura ou beleza,
mantendo intato seu capital simbólico.
Pode ser vista de toda a cidade, inclusive do alto do Reichstag, como símbolo da eternidade
de Israel.
O MENINO DE OSTROWIEC QUE VENCEU OS
NAZISTAS
Quando os nazistas entraram em Ostrowiec em 7 de setembro de 1939, Rubin Katz tinha 8
anos.
Havia uma siderúrgica que processava minério da Suécia, ensejando que alguns judeus
fossem poupados para trabalho escravo, o que proporcionou uma sobrevida para a família.
O emocionante livro descreve como o pai salvou Rubin e a irmã Fela, comprando a peso de
ouro documentos e consciências. Já o casal e seus outros filhos amargaram sofrimentos
inimagináveis em horríveis anos de trabalho extenuante em campos da Polônia, Áustria e
Alemanha.
Rubin escreve como observador privilegiado pelas frestas de seus muitos esconderijos, e
como a irmã Fela, transformada na empregada doméstica católica Walerja, o levou para a
capital onde, na pele do menino católico Stefan Wojs, viveu com Fela os dois últimos anos
da guerra escapando de criminosos e extorsionistas polacos e da polícia corrupta, ou
mesmo gente comum sem escrúpulos que denunciava à SS e Gestapo vizinhos judeus
escondidos, em troca de um mero pacote de açúcar.
Mas houve gente como Pani (Senhora) Gozdzialska, que escondeu Rubin com enorme risco
de vida por decência humana e espírito cristão, assumido por dever moral e não pelo pouco
dinheiro que a irmã Fela repassava para simples subsistência. Gente como Bronislawa, que
comprou passagens e acompanhou os dois irmãos na perigosíssima viagem de trem para a
capital. Gente decente, sensível aos que sofriam, fieis aos ensinamentos cristãos ... “amaivos
uns aos outros”.... lamentavelmente uma exceção em meio a um povo paradoxalmente
muito católico, terra do boníssimo santo homem Karol Wojtila. Polônia, cuja Rainha e
padroeira é a Virgem Negra de Czesztochowa, a quem o judeu Rubin, na pele de Stefan,
orava contrito nas missas dominicais, entusiasmando os fiéis com seu extremo fervor
católico...
Por incrível, dois nazistas entram nessa história. O Cabo Ryszard, da Whermacht,
penalizado com o “órfão” Stefan sempre trazia alimentos, sem saber (ou talvez sabendo?)
que havia cinco judeus no esconderijo, que sequer podiam sair a luz do dia, por terem
feições nitidamente judaicas, inclusive uma grávida.
Rubin desconfia que ele pudesse ter sido um Mischlinge, alguém com apenas um dos avós
judeu, que os nazistas toleravam para servir no Exército. Entretanto, esses ¼ judeus jamais
eram condecorados, embora alguns atingissem altos postos, chegando até a generais.
Outro foi um Tenente da SS. Denunciada, Fela foi conduzida pela policia ao QG da Gestapo,
lugar de onde ninguém voltava vivo, hoje museu; o tenente mediu seu rosto e nariz com um
paquímetro, concluindo que ela se encaixava nas medidas de pureza racial... e mandou que
fosse liberada. Até hoje Fela acha que o tenente era um Anjo do Senhor, enviado pelo
Eterno em uniforme nazista para ser o mensageiro da sua salvação.
Com a guerra terminada em 1945 o Rabino Dr. Solomon Schonfeld veio de Londres para
resgatar órfãos judeus que estavam em conventos ou com famílias católicas. Para tanto
fretou um navio sueco que levou 150 crianças para serem adotadas na Inglaterra. Na última
hora um menino faltou, e Rubin embora não fosse órfão acabou embarcando. Aos poucos
reencontrou sua mãe e irmãos, e a vida foi seguindo. Sua mãe faleceu em idade avançada;
entretanto dois irmãos que haviam trabalhado 12 horas por dia, 7 dias por semana na
fabrica de aviões Messerchmidt morreram prematuramente devido à contaminação pelo
alumínio das fuselagens e o amianto utilizado nos freios.
A justiça jamais foi feita a tantos perpetradores destes crimes contra a Humanidade.
Entretanto houve exceções, como o nazista Zwierzyna, comandante do campo de trabalho
de Ostrowiec, de triste memória. Foi acidentalmente reconhecido na rua em Munich pela
mãe de Rubin. Julgado, foi enforcado em Ostrowiec no local exato onde existiu o
ignominioso campo.
Rubin venceu os nazistas, malgrado a enorme perda do pai e seus dois irmãos, e não
esqueceu o que o pai lhe disse em ídiche, ao despedir-se pela última vez no Campo de
Trabalho em Ostrowiec: “Meu filho, jamais esqueça!”
Rubin Katz, 2012
Gone To Pitchipoi: A Boy's Desperate Fight For Survival In Wartime, US$ 29.00
www.academicstudiespress.com
Atriz Portuguesa Rosa da Silva Interpreta Anne
Frank
O Teatro Amsterdam está lotado para mais uma performance de ANNE. Rosa da Silva aos
27 anos é a estrela que interpreta no palco a historia da menina que os nazistas não
deixaram viver. Seu pai é português de Ovar, próximo ao Porto e a mãe holandesa.
Rosa conversa em português perfeito. Sua aparição, figura miúda e expressiva, destacandose
sozinha no palco contra um cenário de 15 metros de altura, vestida com roupagem da
época exibindo a Estrela de David é um verdadeiro libelo.
Para uma revista local declarou sua obra de arte predileta a “Noiva Judaica” de Rembrandt,
e sua estátua predileta o Estivador, localizada ao lado da Sinagoga Portuguesa, um
memorial a greve de 1941, quando os amsterdamenses protestaram contra a deportação
dos judeus para os campos de extermínio. E seu prédio favorito, a mesma Sinagoga
Portuguesa, construída no séc. XVII, bela e impressionante.
No teatro moderníssimo de alta tecnologia, a peça é ambientada em maquete vazada em
tamanho natural da casa onde Anne Frank permaneceu escondida com sua família e
amigos, oito pessoas, das quais apenas seu pai Otto Frank (1889-1990) sobreviveu.
Para tanto, o palco tem um elevado pé direito, e permite a rotação do cenário com a
maquete, bem como projeção de filmes entremeados ao longo da trama. O publico dispõe
de acesso a tradução simultânea em diversos idiomas, inclusive o português, por um tablet
acoplável as poltronas.
A peça gira em torno do sonho de Anne, de viver em um mundo melhor, e de seus planos
para o futuro, descrevendo o dia-a-dia da vida na casa-esconderijo, idealizada por seu pai
Otto Frank na parte posterior do edifício onde se situava sua empresa, um típico prédio de
3 andares às margens de bucólico canal em Amsterdam, onde passariam 2 anos, de 1942 a
1944 até serem denunciados aos ocupantes nazistas, sendo presos e deportados para a
morte nos campos de extermínio .
Os cenários e vídeos em 180º. se sucedem diante do público. Mostram os holandeses
durante a ocupação, a resistência, de repente a visão de uma esquadrilha de aviões nos
remete a George Schteinberg, franco-brasileiro que aos 21 anos teve uma morte gloriosa
frente ao inimigo, em missão de bombardeio sobre a Holanda ocupada. Anne Frank jamais
poderia saber, mas enquanto ela escrevia seu diário, não muito longe dali um brasileiro
tombou pela liberdade.
Inaugurado em fevereiro de 2014, o Amsterdam foi o primeiro teatro construído
especificamente para uma peça. Comporta de 700 a 1100 lugares, tem 15 m de altura, 500
m2 de tela móvel e sistema digital de projeção de vídeo. O complexo abriga estacionamento
e restaurante para 150 pessoas com vista para o rio, tendo acesso também por ciclovia e
barco. Rosa da Silva costuma ir de bicicleta para o teatro.
As criticas internacionais tem sido unânimes quanto a excelência da peça, destacando-se o
Jerusalem Post: a ilusão de estar ali como testemunha do que realmente aconteceu é
sobrenatural – e da CNN.com: peça extraordinária traz à vida o mundo secreto de Anne
Frank.
Quem sabe, um dia também nos brasileiros possamos assistir a um espetáculo assim, e a
exemplo da plateia holandesa, ao final saudar Rosa da Silva e demais atores com demorada
salva de palmas.
(*) Escritor free-lancer sobre História & Turismo, em missão
cultural com apoio da AMSTERDAM MARKETING, ago/2014.
TRAGÉDIA JUDAICA: OS POETAS QUE STALIN MANDOU
FUZILAR
12 agosto 1952
Folheando um livro biográfico sobre Stalin é difícil achar uma folha que não fale em morte,
assassinato, enfim, a vida de um monstro. Mas este não teve o fim de Kadhafi e
Saddam. Morreu de doença.
Mas meses antes, aos 12 agosto de 1952, ainda sacrificou alguns mártires na prisão de
Lubyanka. Intelectuais judeus como Peretz Markish, Itzik Fefer, Leib Kwitko e outros dez
membros do Comitê Judaico Antifascista, convencidos ingênua e sinceramente de que a
URSS era mesmo o paraíso sobre a Terra.
Virulento antissemita, Stalin foi mestre em trair seus aliados. Os intelectuais judeus foram
tachados de cosmopolitas, conspiradores antissoviéticos pró-americanos, etc. ainda que
alguns fossem colaboradores da NKVD e delatores de correligionários.
Não tiveram advogados de defesa e nem adiantaria, pois a sentença já era conhecida antes
mesmo do julgamento. Os comunistas judeus espalhados pelo mundo recusaram-se a
acreditar no que acontecia. Mas, lamentavelmente, era verdade.
Com a morte de Stalin menos de um ano depois a farsa foi desmontada, o mesmo
ocorrendo com o chamado complô dos médicos.
Anos depois Nikita Krushchev concedeu um perdão post-mortem, com base em “flagrantes
violações da lei”.
Esta história não pode nem deve ser esquecida, pelo seu conteúdo didático, extremamente
útil para muitos que hoje se comportam da mesma maneira que os infelizes intelectuais
judeus russos.
Caminharam para a frente do pelotão de fuzilamento sem saber porquê nem de quê eram
acusados. Talvez naquele momento tivessem tentado recordar alguma oração da infância
distante, quem sabe algumas palavras do Shemá Israel [76], mas já era tarde demais ...
Um Olhar Brasileiro sobre a Amsterdam Judaica
Amsterdam 2014. O verão de agosto, para um brasileiro, tem um gostinho de inverno. O
português se ouve aqui e ali pelas ruas onde sopra um vento fresco, como na fila para
visitar a Casa de Ane Frank, as margens de bucólico canal. Logo à entrada, as palavras de
Anne na parede: “... a guerra vai terminar... seremos gente de novo... não apenas judeus...”
Já há quase quatro séculos a Holanda era a super-potência. Através da West Indies
Company, sediada em Amsterdam, o Brasil, colônia de Portugal, estava em seus planos para
obter o cobiçado açúcar da cana. A Casa de Orange e Nassau esteve presente no Brasil
breves 24 anos no século XVII, deixando em Recife, antiga Maurícia, o testemunho da sua
presença.
A Sinagoga da Rua do Bom Jesus, antiga Rua dos Judeus, fechada há 350 anos pela
intolerância, foi reaberta em 2002, enquanto a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam,
fundada pelos judeus portugueses, que do Brasil para lá se dirigiram, se manteve aberta
todos estes séculos.
Ela é uma verdadeira catedral judaica, imensa, profunda, janelas altas, até hoje iluminada
por velas, sem utilizar a luz elétrica. Nossos passos ressoam pelo assoalho de madeira, até
sentarmos nos bancos seculares de madeira maciça, para breve descanso. Fechando os
olhos, é como se pudéssemos ouvir o coro da sinagoga, com seus cânticos luso-judaicos, e a
pregação do primeiro Rabino do Brasil, Isac Aboab da Fonseca que em 1675 construiu a
sinagoga monumental, à feição do Templo de Salomão em Jerusalém, a maior do mundo na
época. Abriga a biblioteca Etz Haim, a Árvore da Vida, mais antigo repositório judaico
existente.
Os judeus foram bem-vindos em Amsterdam, onde se desenvolveram como comerciantes
internacionais do açúcar, cacau e café. De lá viajaram para o Brasil Holandês, Curaçao,
Suriname e Nova Iorque, fundada por eles.
Eram ainda lapidadores de diamantes, profissão hoje praticamente extinta na cidade, já que
muitos pereceram na Shoá (Holocausto) e os poucos que retornaram transferiram-se para
Israel, hoje centro mundial de diamantes.
A museologia judaica está muito bem representada no chamado Corredor Cultural Judaico,
que abrange a Sinagoga Portuguesa, o Museu Judaico e o Teatro Schouwburg, usado pelos
nazistas como local de concentração dos judeus que seriam deportados para a morte nos
campos de exterminio. Também é digna de uma demorada visita o Museu da Resistência,
que conta as lutas durante os cinco anos de ocupação pelos alemães.
Imperdivel mesmo é a Casa de Anne Frank, onde o visitante percorre o próprio prédio em
cujo anexo Anne e sua família e amigos esconderam-se durante dois anos, um percurso
dirigido em espaço confinado, uma verdadeira lição de vida contra o racismo e a
intolerância, a mensagem de uma menina que queria apenas viver.
Como se sabe, o Diário de Anne foi traduzido para dezenas de idiomas, sendo um dos livros
mais lidos depois da Bíblia. Recomenda-se chegar cedo devido as filas.
Amsterdam é um destino importante para o turista brasileiro, que lá poderá apreciar a
história e cultura deste país tão ligado ao nosso, em função do breve mas rico período do
Brasil Holandês, 1630-1654, com tudo que representou para a sociedade brasileira em
geral e para a comunidade judaica em especial. Uma visita que vale a pena.
Redator free-lancer sobre História & Turismo,
em missão cultural com apoio da
AMSTERDAM MARKETING, ago/2014.
Sami Mehlinsky (1925-2014) – Uma Vida Dedicada ao Esporte
Em 2004 a Tocha Olímpica de Atenas chegou ao Palácio da Cidade no Rio, passando de mão
em mão pelos jogadores do vôlei e a comissão técnica - Sami Mehlinsky, Paulo Márcio e
Sérgio Xavier.
Talvez poucos pudessem identificar um senhor atlético de cabelos grisalhos, sem aparentar
a idade que tinha, e que por um momento empunhou a Tocha Olímpica: Sami Mehlinsky
Um dos ícones do nosso voleibol, com extensa folha de serviços prestados ao longo de 60
anos para o esporte brasileiro, um orgulho não só para a comunidade judaica mas também
para a comunidade maior.
Os acordes do Hino Nacional encheram os ares no belo Palácio da Cidade, que um dia foi a
Embaixada Inglesa, na Rua São Clemente.
Nestes momentos, certamente Sami evocou as tantas vezes em que do alto do pódio em
terras distantes, ele estava lá junto com os seus atletas, ouvindo o nosso Hino ao receber
mais uma medalha de ouro para o Brasil
Sami sempre teve um aspecto sério e circunspecto, mas temos certeza que naquele instante
uma lagrima emocionada deve ter perpassado pela sua face, naqueles breves momentos
recordando a sua infância em Vitória, filho de imigrantes judeus que aqui chegaram em
1924 buscando um futuro melhor.
A mãe, natural de Kiev na Ucrânia, onde os judeus experimentaram não poucas
perseguições ao longo do século, e o pai nascido em Iasi, na Romênia, deixaram para trás as
agruras da Europa, e logo no ano seguinte nasceu Sami, na casa que existe até hoje, o
numero 10 da Rua do Resende próximo ao Campo de Santana, onde o pequeno Sami corria
atrás das cotias que até hoje povoam os jardins.
Mais tarde a família foi para Vitória, onde Sami foi campeão de futebol em 1941 pelo Rio
Branco de Vitória. Já ao alistar-se para prestar o serviço militar, atuou como técnico das
equipes de vôlei do 10º. Regimento de Infantaria de Belo Horizonte. Em 46 treinou a
equipe de vôlei da 4a. Região Militar.
Pelo Vasco foi campeão em 1949, jogando também no Grajaú Tênis Clube, Vila Isabel e
Flamengo. Tri campeão pelo Flamengo em 59-60 61.
Dirigiu a Seleção em 1956 no Uruguay, no primeiro Campeonato Sul-americano, e nos
seguinte em 58-Porto Alegre, 61-Lima, 62-Chile, na época do Campeonato Mundial de
Futebol. O Brasil foi tetracampeão com Sami, após no primeiro mundial de vôlei em Paris o
Brasil ter perdido para a China, seguindo-se posteriormente muitos sucessos.
Sami foi técnico da seleção masculina por 10 anos, ganhando o Pan Americano de 59 em
Chicago, e o bicampeonato em São Paulo - 1973. Em 1959 foi campeão como técnico da
seleção feminina e, ao mesmo tempo, vice-campeão com o time masculino.
Na primeira olimpíada em que o vôlei foi considerado esporte olímpico, Sami viajou com
apenas 10 jogadores, tirando 5º. lugar em Tóquio - 64, ficando em 7º. lugar pelo setaverage,
pois 3 seleções empataram em quinto lugar.
Em 89 foi campeão mundial de masters na Dinamarca. De 85 a 90 foi Diretor Esportivo e
Supervisor de Vôlei da SUPERGASBRAS no Rio de Janeiro.
Como Chefe da Delegação, foi Campeão Olímpico em Barcelona - 92.
Além das glorias no esporte, sempre de desincumbiu de atividades correlatas. Formado
pela Escola de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil, foi Professor de
Educação Física da Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro,
posteriormente a AFA - Academia da Força Aérea em Pirassununga - SP. onde durante 35
anos mais 3 aposentado ajudou a formar inúmeras gerações de cadetes, orientando ainda a
equipe de vôlei, de 1951 a 1988.
Sami ainda encontrava tempo para ser administrador de esportes da Hebraica-Rio, de 1953
a 1965, sendo posteriormente Administrador Geral até 1985.
Neste período participou de 7 Macabiadas, os Jogos Olímpicos Judaicos, realizados em
Israel de 65 a 85, sendo 6 vezes vice-campeão diante da equipe de Israel, e campeão em
65.
Provavelmente muito poucas pessoas no mundo teriam a experiência e os títulos
acumulados por Sami Mehlinsky, na carreira de mais de 50 anos de esporte.
É com merecimento que ocupará seu lugar no Pantheon da Fama dos grande nomes do
desporto brasileiro, junto a outros igualmente valorosos integrantes da Comunidade
Judaica Brasileira. Que a sua alma se incorpore a Corrente da Vida Eterna.
General David Shaltiel – 60 Anos da Chegada ao Brasil do 1º.
Embaixador de Israel
8 de abril de 1952. Um despacho da JTA – Jewish Telegraphic Agency descreve a cena
fantástica acontecida no aeroporto do Galeão, tomado por mais de 1.000 pessoas, quando o
primeiro embaixador enviado por Israel foi recebido entusiasticamente pela comunidade
judaica do Rio de Janeiro e líderes de todas as suas organizações, e por representantes do
Itamaraty.
Poucos lembrariam hoje de Shaltiel (1903-1969), o sefaradi descendente de antiga família
ortodoxa portuguesa que através dos séculos migrou para Amsterdam e radicou-se a final
em Hamburgo, onde nasceu. Imigrou para Israel em 1923, fazendo carreira na Haganá[77]
e no Exército. Foi o comandante de Jerusalém durante o cerco árabe de 1948.
O General teve dificuldades para sair do aeroporto, em meio a enorme massa humana que
não se cansava de aplaudi-lo. Desde 1949 os dois países haviam acordado em manter
relações diplomáticas, mas somente 3 anos depois trocavam os primeiros embaixadores, o
brasileiro, ministro José Fabrino de Oliveira Baião tendo apresentado suas credenciais em
Tel-Aviv alguns dias antes.
Shaltiel apresentou suas credenciais ao presidente Getúlio Vargas em audiência solene no
Palácio Rio Negro em Petrópolis. O General chegou às 16 horas acompanhado do Primeiro
Secretario Castelo Branco, Introdutor Diplomático, sendo recebido pelo Ministro João
Coelho Lisboa, Chefe do Cerimonial da Presidência da República, e conduzido ao Salão
Nobre onde o aguardava o Chefe do Governo, na companhia do Embaixador Pimentel
Brandão, Secretário-Geral do Itamaraty, representando o Ministro João Neves da Fontoura,
ausente, do Chefe da Casa Civil, e do Chefe substituto da Casa Militar da Presidência
da República, respectivamente Embaixador Lourival Fontes e Comandante Lúcio Meira, e
de todos os membros das duas Casas, além do Sr. Roberto Alves, Secretário Particular do
Presidente da República, e do Ministro Aguinaldo Boulitreau Fragoso, Chefe da Divisão de
Cerimonial do Ministério das Relações Exteriores.
Alguns meses depois, na presença do Ministro David Shaltiel, o Presidente Getúlio Vargas
condecoraria com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul no grau de Comendador, em
solenidade realizada no Palácio do Catete, a Sra Vera Weizman, viúva do Primeiro
Presidente do Estado do Israel, Chaim Weizman. Ao fazer a entrega da condecoração o
Chefe do Governo pronunciou breves palavras rememorando a atuação daquele estadista à
frente de seu povo e aos seus esforços para que se consolidassem cada vez mais os laços de
amizade que unem o Brasil a Israel. Destacou as virtudes da ilustre dama e sua intensa
participação na promoção do bem estar social da nação israelense. A Sra. Vera Weizman
agradeceu as palavras proferidas pelo Chefe de Governo e a alta distinção que lhe conferiu.
Desta vez a multidão foi ainda maior que no Galeão, congestionando a Rua do Catete,
famosa pelas lojas de móveis, quase todas de propriedade de judeus. A multidão judaica
vinha das proximidades onde residiam, e de todos os bairros do Rio, cercando alegremente
a sede do governo.
Shaltiel desembarcou com Vera Weizman de seu automóvel, prestou uma continência e
adentrou o Palácio. Na saída tiveram que atravessar o jardim do Palácio e sair pela Praia do
Flamengo, devido ao tumulto.
Shaltiel visitou Porto Alegre em 19 nov 1952, causando enorme euforia no aeroporto, que
teve as pistas invadidas pelos correligionários da capital e do interior que vinham saudá-lo.
Depois foi recebido na Assembleia Legislativa e pelo prefeito Ildo Menegetti. O
Governador Ernesto Dornelles compareceu ao banquete em sua homenagem no Hotel
Umbú. Também lhe foi oferecido um almoço no Clube 35.
Shaltiel serviu na Legião Estrangeira como sargento. Na Palestina ingressou na Haganá, que
o enviou a Europa. Capturado pela Gestapo passou 3 anos em Dachau e Buchenwald, de
onde escapou em 1939. Foi condenado a morte pelos britânicos. Fundou e organizou as
tropas de elite Mishmar HaGvul (Guarda de Fronteira). Em 1950-52 foi Adido Militar em
Paris, de onde veio servir no Brasil. Encerrou a carreira como Embaixador na Holanda de
seus antepassados remotos, 1963-66, falecendo em Jerusalém em 1969 aos 66 anos.
Pernambuco - RETORNO AO PASSADO
Foi há muito tempo atrás. Talvez 400 ou 500 anos. No mês de julho de 2013, arqueólogos de
Pernambuco liderados pelo Prof. Marcos Albuquerque levantaram a patina do tempo que
encobria um corpo enterrado, descoberto durante as escavações para construção de um
túnel urbano na Madalena, em Recife. A este eminente Professor muito deve a História
Judaica, pelos importantes trabalhos que levaram a revelação ao mundo da primeira
Sinagoga das Américas, Kahal Tzur Israel no Recife, além de tantos outros sítios históricos,
cemitérios, fortalezas. Equipe dedicada, que com muita técnica e carinho cuidadosamente
revela tais preciosidades, empunhando pacientemente suas ferramentas e pinceis.
Destes abnegados, esperamos que em futuro não muito distante venham a descerrar o
mistério que oculta o antigo cemitério judaico, perdido até hoje em desconhecida
localização.
Ao que tudo indica o esqueleto encontrado terá sido de um judeu, pois como explica o
Professor, que coordena o Laboratório de Arqueologia da UFPE, os braços repousam ao
lado do corpo, despojado de qualquer joia ou pertence e sem mobiliário funerário, como
manda a tradição judaica, pois na tradição cristã os braços são cruzados sobre o tórax ou
sobre a bacia.
Quem terá sido este irmão, que viveu naquela que um dia foi Mauritsstadt ? Emoldurada
pelo mar e pelos rios, já se passam quase quatro séculos que os holandeses partiram, após
escassos 24 anos fantásticos que deixaram sua marca na História do Brasil.
A pequena sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel, a Santa Congregação Rochedo (Recife) de
Israel, com a partida dos judeus ficou perdida através dos séculos, herança de uma época
incrível, quando judeus conviveram lado a lado com os calvinistas, sem medo da Santa
Inquisição e das visitações do Santo Ofício.
Tangidos pela intolerância, a Gente da Nação de que falava Gonsalves de Mello teve que
partir. Muitos dos nossos irmãos se foram, chegando até Manhattan e a Holanda
acolhedora, mas este judeu desconhecido ficou. E sua gente sofrida a final venceu, eis que a
Inquisição desapareceu na poeira dos tempos. E aqui estamos novamente.
Decorridos séculos, continuamos poucos, mas orgulhosos, muito orgulhosos de pertencer
à Nação Brasileira.
Não sabemos quem foi este judeu, seu nome, nem o que fazia. Ele jamais poderia imaginar
que faria uma viagem fantástica de quatro ou cinco séculos pela Eternidade. Seu corpo
oculto no subsolo de Recife repousou enquanto desfilava a história do Brasil: Marques de
Pombal, o fim da Inquisição, Dom Pedro I: “Independência ou Morte!”, a Guerra da Tríplice
Aliança, no século XIX judeus do Marrocos, da Alsácia, o fim da mácula escravagista, a
República, o grande hebraísta Dom Pedro II parte para o exílio, séc. XX, os poloneses,
russos, buscando nesta terra abençoada a nova pátria, o Brasil é atacado pela Alemanha
Nazista e manda nossos soldados para a Itália, Presidentes Vargas, JK, Tancredo, Itamar,
Lula, Dilma, as manifestações convocadas pela Internet.
Até que o judeu desconhecido se revelou a nós, pelo milagre da Arqueologia.
O Brasil tanto deve aos seus irmãos, que um dia ajudaram a antiga colônia portuguesa a
prosperar no comércio e nos engenhos de açúcar. Seus descendentes, tão importante papel
desempenhariam nos negócios, nas artes, na cultura, nas ciências, a final retornando ao
Brasil, novamente contribuindo para fazer deste país uma grande nação, onde nas veias de
tantos de seus filhos ainda corre um infinitésimo do sangue de remoto antepassado cristãonovo,
do que certamente podem se orgulhar.
ISRAEL – A Terra Santa
História fantástica há milhares de anos, terra sagrada para três religiões - Missão bíblica
descrita pelo profeta Yeshayahu, tornar-se "uma luz entre as nações". Ontem, o Povo de
Israel legou a Humanidade o monoteísmo ético e a Lei de Moisés. Hoje, na era da Internet, a
Terra Santa exporta ciência, alta tecnologia, medicina, artes, literatura, trabalhando para a
Humanidade viver melhor, alimentar-se adequadamente, curar doenças, estudar,
progredir.
Desde os satélites que cortam o espaço infinito levando a bandeira azul-e-branca, até os
aparelhos biomédicos de nanotecnologia que viajam pelo interior do corpo humano,
inúmeras são as contribuições de Israel. Inclusive, tornar em realidade o sonho de
transformar o deserto num jardim, muito antes de nascerem os ecologistas, semeando o
verde das árvores e fecundar o solo árido, revivendo novamente a terra bíblica do leite e do
mel. A língua hebraica ressuscitada. Muito trabalho, persistência, coragem. Tel-Aviv erguida
sobre dunas e areia. O esplendor de Atenas com a glória de Esparta.
1948, 14 de maio, 5 de Iyar, chega ao seu término o Mandato Britânico e o Estado de Israel
é proclamado - recordamos o Chanceler Oswaldo Aranha, filho do Alegrete na planície do
pampa rio-grandense, Cidadão do Mundo, grande herói nacional. A ele, na condição de
Presidente da Assembleia-Geral da ONU, o povo de Israel deve seu Estado. Reverenciamos
a memória deste grande brasileiro, expressando nosso reconhecimento, nosso
agradecimento, e a eterna admiração dos seus compatriotas.
Após quase dois mil anos, o povo que vagou 40 anos pelo deserto, e recebeu a Torá e os 10
Mandamentos no Monte Sinai, retorna à sua terra. O comovente juramento do Salmo,
recitada há milênios sob o pálio nupcial: Im Ishkacher Yerushalaim, Tishcach Yemini, o ruído
seco do copo se quebrando ... Se eu te esquecer, Ó Jerusalém ...
Sobrevivemos aos faraós, aos assírios, à Babel, aos Persas, aos Helenos. Tantas civilizações
enviaram seus exércitos ... as mais poderosas legiões romanas ... mas, nessa terra, o Povo de
Israel continua, convicto de que um dia, pela sétima porta de Jerusalém, o Messias vai
entrar para redimir a Humanidade.
Ao longo de milênios, apareceram e desapareceram Cruzados, Reino Latino de Jerusalém,
Califas, Otomanos, todos julgando que haviam conquistado aquela terra, que seria deles
para sempre... Todos se enganaram redondamente... a sangue e fogo Yehudá caiu ... a sangue
e fogo se levantou .... Am Israel Hai - o Povo de Israel vive, e assim atravessou épocas
difíceis, a Inquisição, a Shoá, superando todas elas.
O Hino Nacional do Estado de Israel “há Tikvá” (A Esperança) traduz em seus versos a
confiança no futuro, o desejo de Shalom. A Declaração da Independência proclama que o
Estado terá como pilares a Liberdade, Justiça e Paz, conforme ensinaram os Profetas de
Israel. Após tantas guerras, há embaixadores, laços culturais e comerciais, turistas
atravessam as fronteiras dos países vizinhos e descobrem novos horizontes, confirmando
que a paz é possível. Mas, o destino cobrou um preço altíssimo para que este dia pudesse
chegar: 23 mil soldados repousam nos cemitérios militares. Que o Criador proteja os
soldados das FDI em guarda pelo seu país, do Golan ao Neguev, do Mediterrâneo até a
Arava, em terra, mar e ar.
Que o Eterno permita, ainda em nossos dias, a realização da profecia de Isaias, “... e
transformarão suas espadas em arados...” (Is. 2:4). Nação forte, que busca ardentemente os
caminho da paz e da segurança. Povo que não esquece seus irmãos, seja na Etiópia, na
Rússia ou na Bósnia. Que Israel seja forte, ao mesmo tempo em que mantém o diálogo em
busca da paz que um dia virá, atendo-se aos valores legítimos ditados pelos Profetas,
legado que uniu o Povo Judeu através dos tempos, referencial para as gerações futuras. Que
o espírito e a santidade do Kotel Hamaaravi, a Muralha Ocidental do Templo de Salomão,
simbolize para sempre a eterna continuidade judaica.
Parabéns ao Estado de Israel, ao seu povo e a toda humanidade, que desfruta da
contribuição que o pequeno grande estado oferece ao mundo. Amém.
UM OLHAR JUDAICO SOBRE NOVA IORQUE
O vôo da Delta plana suavemente ao largo da ilha densamente pontilhada de enormes
arranha-céus, na aproximação final do aeroporto Kennedy. Há exatos 356 anos, outros 23
compatriotas também avistaram essa mesma ilha. Tangidos pela intolerância, aquele
punhado de judeus legou ao Recife uma sinagoga, na Rua do Bom Jesus, e ao Brasil os
segredos do refino da cana. Aqui na Nova Amsterdam, novamente professariam livremente
sua fé, sem prestar contas ao Rei, longe da Sancta Inquisição.
Havia um canal, tão largo que há 400 anos Henry Hudson pensou tratar-se da tão
procurada ligação com o Pacífico. Não era mas o rio, até hoje leva seu nome, e numa
pequena ilha próxima, majestosa estátua ocupa o lugar de antigo forte.
Com o braço levantado, sustentando uma tocha, a cabeça coroada, envolta em túnica
esverdeada pela ação do tempo, a estátua da Liberdade doada pelos franceses foi um
símbolo de esperança para 14 milhões de imigrantes que passaram pela ilha vizinha, Ellis
Island, fugindo da fome, perseguições. Ao pé de Lady Liberty, os versos de Emma Lazarus:
“ai-me seus pobres... destituídos ... exaustos... a respirar liberdade em um novo mundo ...”
Uma excursão judaica deve começar com refeição Kasher a bordo, servida primeiro, em
porções bem mais generosas que a bandeja padrão, além de certificadas por eminentes
rabinos de SP. Em seguida, visitar os polos judaicos do Brooklyn: Crown Heights, Borough
Park e Williamsburg. Esta última é o território do Satmar Rebe, cujo patriarca, Joel
Teitelbaum, aqui chegou em 1947. Há um ônibus judaico interligando os núcleos, com
dizeres em ídiche. Na frente, sentam os homens, conforme a tradição, separados das
mulheres, atrás. Um aeronave Kfir da Força Aerea de Israel pode ser vista no convés de vôo
do Intrepid Air Sea Museum, o antigo porta-aviões ancorado em frente à Rua 42. Obra do
filantropo judeu Zachary Fisher (1910-1999) e esposa, que dedicou ao projeto US$ 25 M.
Menino pobre do East Side, seu pai era pedreiro.
Não deixar de visitar o novo Museu da Tolerância, do Simon Wiesenthal Center, próximo à
Grand Central. A estação está completando 100 anos. E, pelo menos, meio-dia no Museu
Judaico do Central Park e Museum of the Jewish Heritage, ao sul, em Battery Park. De lá,
pode-se fazer passeios pelo Rio Hudson. Veja diante do Ferry para State Island o marco dos
300 anos do judaísmo americano (1654-1954). Na Rua 16 temos o Center for Jewish
History, imperdível. Possui inúmeras bases de dados para pesquisas genealógicas. Uma
exposição sobre os judeus de Munich informa que, na década de 30, o Bayern de Munich
tinha forte presença judaica, a começar pelo presidente e técnico.
Sempre bom passar no Carnegie, Rua 55, para provar o cheesecake e o sanduiche de
pastrami, já que a centenária deli Stage fechou. Mas ainda há ótimas pedidas no East Side,
como Katz e Russ & Daughters. Na Barnes & Noble, sempre se acham livros judaicos a bons
preços. Visita obrigatória é o novo Memorial do 11 de Setembro, projetado por Daniel
Libeskind, autor do Monumento do Holocausto em Berlin e futura sinagoga de Porto
Alegre. O primeiro dos cinco prédios que formarão o novo World Trade Center já esta
quase pronto. Em 2015, já poderemos subir ao observatório, 500 m acima. Será o prédio
mais alto de NYC. Ali por perto, o simbolismo da nova Casa de Anne Frank remete a antigas
ameaças, mas que como o 11 de setembro, sempre serão derrotadas. O terror não
prosperará.
Doze anos depois, contemplando os milhares de nomes no granito negro que emoldura as
enormes piscinas onde a água cai no vazio, ao centro, ainda nos perguntamos - até quando
a Humanidade terá que pagar um preço tão alto em nome de ideologias equivocadas.
O JUDEU QUE SALVOU UM PORTA-AVIÕES
Em Nova Iorque, não há quem não conheça o porta-aviões USS Intrepid. Lançado ao mar
em 1943, participou da 2ª. Guerra Mundial e da Guerra do Vietnam. Sobreviveu a 5
impactos de kamikazes e um de torpedo, que mataram 99 marinheiros. Seus aviões
cumpriram mais de 15 mil missões de vôo entre 1966 a 1969, nos céus hostis sobre o
Vietnam.
Hoje, transformado no “Intrepid Sea, Air & Space Museum Complex”, o antigo porta-aviões
encontra-se atracado para sempre no braço do Rio Hudson entre Manhattan e Nova Jersey,
em frente à Rua 46.
O que nem todo nova-iorquino conhece, é a história do menino pobre, judeu do East Side,
Zachary Fisher, cuja estátua em bronze, junto com sua esposa Betty, ocupa lugar de
destaque à entrada do Salão de Honra, do agora museu. Não é para menos, Fisher dedicou
20 anos da sua vida a este projeto, onde colocou 25 milhões de dólares do seu bolso.
A Marinha americana já havia decidido: o USS Intrepid seria desmontado e vendido como
sucata, como acontece com todo navio que se torna obsoleto. As antigas
tripulações, veteranos de tantas batalhas, já estavam conformadas, quando entraram em
cena o filantropo judeu Zachary Fisher (1910-1999) e sua esposa Elizabeth, ela mesma uma
artista que participou das “troupes” que animavam os soldados americanos durante a
guerra.
Zachary era filho de um imigrante que trabalhava como pedreiro. Teve uma infância difícil
em Nova Iorque, junto com vários irmãos, com quem mais tarde abriu uma pequena
empresa de obras. O tempo passou, e os Fisher se tornaram os maiores empreendedores do
mercado imobiliário americano, tendo erguido incontáveis arranha-céus.
Mas Zachary carregava uma mágoa: devido a um problema congênito não fora aceito no
serviço militar. Para reparar esta que, segundo ele, era uma dívida com a Pátria - não pode
servir na guerra - fazia de tudo para amparar os veteranos e suas famílias.
Um de seus mais fantásticos projetos, onde empregou sua experiência na construção civil,
foram os Homes of Confort, ou seja, 50 hotéis completos que ergueu junto aos hospitais
militares em cada estado americano, para que as famílias de veteranos, feridos em
combate, pudessem permanecer próximas dos seus entes queridos durante os tratamentos,
pois esses, muitas vezes, duravam longos períodos.
Foram inúmeros aportes de capital para ajudar os veteranos, destacando-se os 25 mil
dólares que ofereceu a cada família dos 245 americanos mortos no ataque terrorista de
1982, contra a base dos Marines em Beirute, para que os filhos pudessem estudar até a
faculdade. Também os bombeiros e policiais se beneficiaram de seus projetos filantrópicos..
Por tudo isso, foi contemplado com a mais alta condecoração que um civil pode receber das
forças armadas americanas, além de ter sido agraciado com o título de “Veterano
Honorário”, concedido apenas ao comediante Bob Hope, que na 2ª. Guerra divertia os
soldados no front.
Fisher recebeu homenagens na Casa Branca de cinco presidentes, além de outras prestadas
por Margaret Tatcher e Yitzhak Rabin. Pouco antes de falecer, associou-se a Rockfeller,
criando uma Fundação para pesquisa do Mal de Alzheimer.
Os milhares de visitantes que admiram o enorme museu, provavelmente jamais saberão
quem foi Zachary Fisher e sua esposa Betty. Mas, do alto, no Jardim do Éden, eles
certamente ficam felizes ao ver tantos jovens, tantos turistas do mundo inteiro, apreciando
a sua obra no convés de vôo do USS Intrepid, fazendo justiça às novas e não menos
importantes missões do antigo navio: “Honrar os Heróis, Ensinar o Público e Inspirar a
Juventude”.
Sou O Teu D_us ... em Santa Maria da Boca do Monte...
Maio de 2014. Anos e anos sem os cuidados necessários. 1904. Um século já se passou
desde que os primeiros judeus chegaram a Phillipson. Castigado pelo rigor do tempo o
pequeno cemitério teima em não se deixar cobrir pelo mato, não desaparecer. As lápides
resistem o quanto podem, mas até quando?
A um canto, o monumento em meio ao capim. No interior da única edificação, uma pequena
casa com um balcão onde talvez se fizesse a Tahará (ritual de lavar os corpos), 2 placas
recordam a ultima restauração, já datando de 35 anos- 1979. Nomes de abnegados
ativistas, a oração fúnebre do Kadish, e a lista dos que aqui estão sepultados, apenas 70, dos
quais 25 criancinhas que não resistiram à longa viagem e as condições inóspitas. O mato
poupou as inscrições do singelo monumento, que ainda santifica o ambiente com sua
coluna de tijolos:
“ aos imigrantes...
que nos legaram uma fé indestrutível ...
e uma terra de paz e liberdade...”
No então 2 o . Distrito de Santa Maria, depois nomeado Itaara, de 1904 a 1920 floresceu uma
pequena mas pujante comunidade judaica.
Lado a lado com outros imigrantes, das terras do Cedro do Líbano, Baalbek, Sidon, das
margens do Tejo, do Estoril, Covilhã, Belmonte, da Galicia, Toledo, Piemonte, Sicília,
deixaram para trás a terra natal sofrida, e ao avistar do navio a entrada do porto de Rio
Grande, só pela beleza já gostavam, e mentalmente com um nó na garganta e a dúvida sobre
o futuro, prometiam a si próprios e à família bem e fielmente cumprir os deveres de
cidadão brasileiro nesta terra abençoada.
Da suave encosta pode se avistar a vastidão dos pampas sem nada que obstrua a visão das
coxilhas que se perdem na distancia; até onde a vista alcança o olhar se encanta com o
verde dos campos, que outrora constituíram as colônias de Phillipson, e hoje foram
adquiridas por um dos seus descendentes, que as reuniu sob a designação Fazenda
Phillipson.
Graças à proteção do Exercito que naquelas terras estabeleceu a 13ª. Cia DAM - Companhia
Deposito de Armas e Munição, e a Invernada da Brigada Militar, extensos pedaços de terra
foram preservados, sendo que em seu interior ainda subsistem edificações da época, que
poderiam ser objeto de pequenos museus ou espaços culturais que contassem esta
fantástica historia
A mancha urbana jamais se aproximou dos limites do campo santo, assim o silencio do
cemitério nunca é quebrado. Caminhando em volta das matzeivot (lápides), pode-se
observar sobrenomes hoje famosos inscritos. Os mesmos que hoje figuram em
consultórios, obras, livros, programas de TV.
Nos tempos duros, tiveram que escapar das perseguições no outro lado do mundo, eram
nomes desconhecidos, de difícil pronúncia. Batalharam de sol a sol nestas terras fazendo
mais do que jus a determinação divina: ... Ganharás o teu pão com o suor do próprio rosto
...
A chuva aperta na tarde gaúcha, ao sopro do minuano. Parecia que a natureza protestava
contra o estado dos túmulos.
Quem passa pela BR-158 ao longe mal se da conta de que ali, encoberto pela distancia,
existe um cemitério impregnado de tantas historias.
Em que pese a destruição implacável do tempo que não perdoa, o lugar ainda ostenta uma
aura de santidade; embora parcialmente em ruínas, o campo santo não perdeu a
majestade. A presença de uma força, uma entidade maior ... Um lugar sagrado ... O poder de
anos e anos de ardentes orações ...
Sabiamente, o Estado reconheceu a importância do local, e considerando o que a
comunidade judaica representou para evolução e crescimento da cidade, decretou o
tombamento pelo Patrimônio Histórico Municipal.
É preciso fazer alguma coisa. Relembrar cânticos ao longe, burburinho de antigos
sepultamentos, as orações dos santos Rabinos vindos da Europa intolerante.
Se todos quisermos, esta memória ficará eternizada. [78]
Síntese do CV - Israel Blajberg
Brasileiro nato de primeira geração, nascido no Hospital da Cruz Vermelha, Rio de Janeiro
aos 31 maio 1945. Casado com a Arquiteta Marlene R. Blajberg, possuem 4 filhos e 8 netos.
Estudou na Escola Israelita Brasileira I. L. Peretz, em Madureira e no Colégio Arte e
Instrução em Cascadura. Diplomado pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade
do Brasil, turma de 1968 –Eletrônica.
Ex-aluno do CPOR/RJ, da Turma Marechal Rondon, Artilharia 1965,
Diplomado pela ESG em 2004 (CAEPE) e 2007 (CLMN)
Engenheiro Coordenador do BNDES e Professor Adjunto IV da Escola de Engenharia da
UFF, aposentado em 2011 e 2015 respectivamente com 36 e 46 anos de serviço.
Presidente da AHIMTB/RIO - Academia de Historia Militar Terrestre do Brasil
1º. Vice Presidente e Diretor de Relações Públicas da Associação Nacional dos Veteranos da
FEB
Diretor Técnico-Cultural da Associação dos Antigos Alunos da Polytechnica – A 3 P
Diretor de Cidadania da FIERJ – Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro
Diretor Acadêmico do Memorial Judaico de Vassouras.
Diretor Secretário do Instituto SanMartiniano do Brasil
2º Diretor Social - SOAMAR-RIO
Sócio Honorário da Association Française des Ancien Combattants
Sócio Benemérito – Associação dos Ex-Alunos do CPOR-RJ
Sócio Titular do IGHMB, Cadeira 79 – Marechal Mascarenhas de Moraes,
Recebeu o Premio UFF de Literatura com o trabalho Adeus A UFF em dez/2007.
Autor de SOLDADOS QUE VIERAM DE LONGE, 2008, AHIMTB/FIERJ
Participou do I SENAB 2012 - Seminário de Estudos sobre o Brasil na II GM com o trabalho
1942 – Um Ano Singular
Palestrante na Casa do Saber - TECNOLOGIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, maio de
2010.
Em 2005 participou da Delegação Brasileira para a Marcha da Vida na Polônia e Israel.
Recebeu as Ordens do Mérito da Defesa, Militar e Aeronáutico, Mérito Tamandaré,
Medalha do Pacificador, Cruz do Combatente Polonês, Mérito dos Veteranos Poloneses e
Antigos Presos Políticos, Pro-Memoria do Governo Polones, Cruz do Combatente da Europa
(Francesa e Italiana) entre outras nacionais e estrangeiras.
[1] bra·si·li·da·de (Brasil, .topônimo + -idade) substantivo feminino
1. Qualidade própria do que é brasileiro.
2. .Caráter específico da cultura ou da história do Brasil.
3. Sentimento de amor ou de grande afeição pelo Brasil.
Sinônimo Geral: BRASILEIRISMO - "brasilidades", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, http://www.priberam.pt/dlpo/brasilidades [consultado em 31-12-2014].
[2] O Judeu – em ladino ou judeo-español, língua dos judeus oriundos da Península Ibérica.
[3] España em hebraico
[4] Descendentes dos judeus portugueses e espanhóis do séc. XV
[5] Clube juvenil judaico com filiais em diversos países, leva o nome da ultima fortaleza a resistir aos romanos no ano
133 da Era Comum
[6] Alimentos preparados segundo o ritual religioso judaico
[7] Hebraico: sábado judaico, dia de descanso.
[8] Páscoa Judaica, comemora o Êxodo – a saída dos judeus do Egito. É a Festa da Liberdade, quando não se come pão e
sim a matzá (pão ázimo), para recordar as provações dos escravos hebreus do faraó.
[9] Abreviatura hebraica de Zichronó Levrachá – de abençoada memória
[10] Hebraico: A Lei de Moisés - Antigo Testamento, o Pentateuco: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
[11] Hebraico: lápide tumular
[12] Hebraico: A - B
[13] Ídiche: Professor
[14] Livros sagrados de comentários complementares à Torá (Bíblia)
[15] Descendentes dos judeus portugueses e espanhóis do séc. XV
[16] Hebraico: Terra (Eretz Israel – Terra de Israel; Eretz Amazônia – Terra Amazônica)
[17] Hebraico – refeição festiva ao final dos ofícios religiosos
[18] Russo – massacre perpetrado contra comunidades judaicas
[19] Hebraico: Comunidade Rochedo de Israel, a primeira sinagoga das Américas. Brasil Holandês, séc. XVII
[20] Hebraico: Alemanha. Dai deriva o termo ashkenazim, judeus oriundos da Europa Central e do Leste.
[21] Hebraico: Ano Novo. Conta-se da criação do Mundo
[22] Hebraico: A Lei de Moisés - Antigo Testamento, o Pentateuco: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
[23] Ídiche: expressão coloquial para Rabino
[24] Hebraico: quarto, significando o aposento onde o rabino dava aulas para as crianças, à maneira de um curso primário
[25] Alemão e Polonês: Judeu
[26] Hebraico: professora
[27] Hebraico: Jardins do Éden
[28] La Violacion de los Derechos Humanos de Argentinos Judios Bajo El Regimen Militar, Editorial Milá, AMIA, 2006,
pág.109.
[29] Hebraico: Pálio nupcial existente nas sinagogas, simboliza a casa, aberta de todos os lados como a tenda de Abrahão e
Sara, hospitaleira
[30] Hebraico: Altar
[31] Hebraico: Arca Sagrada, armário que guarda a Torá, na parede ocidental das sinagoga, voltada para Jerusalém.
[32] Hebraico: Moisés, nosso Mestre
[33] Hebraico: Jerusalém de Ouro (referencia a famosa canção de 1967 que se tornou um hino à libertação da Cidade Santa
para entrada de fiéis de todas as religiões)
[34] Hebraico: cerimonias de maioridade religiosa de meninos aos 13 anos e meninas aos 12 anos
[35] Hebraico: Organização Combatente Nacional, enfentou os terroristas árabes e o Exército Britânico
[36] Jornalista austro-húngaro, escreveu O Estado Judeu, lançando as bases do Sionismo politico.
[37] Ídiche - Pequena cidade na Europa, de maioria judaica, antes da 2º. Guerra Mundial
[38] Ídiche - Peixe defumado, iguaria da culinária judaica da Polônia e países próximos
[39] Ídiche - Afetivo, Jacózinho
[40] Polonês - Mercado situado na praça central, com grande afluência judaica de vendedores e compradores
[41] Ídiche – Afetivo, Sarinha
[42] Hebraico - Feriado judaico, literalmente dia bom
[43] Hebraico - Refeição festiva realizada em família nas noites do Pessach, onde se reconta a história do Êxodo
[44] Hebraico - Pelo Santificado Nome, diz-se das vitimas inocentes que pereceram como Mártires
[45] Hebraico: quórum mínimo de 10 homens com mais de 13 anos necessário para iniciar as orações
[46] Hebraico: Alegria da Torá. Festival religioso que marca o final do ciclo anual de leitura da Torá (Antigo Testamento)
[47] Hebraico: último dia de Sucot (Festa da Colheita)
[48] Hebraico: Sábado - A Rainha, em sentido figurado
[49] Hebraico: Festa da Colheita
[50] Alemão: Prisioneiros judeus obrigados a servirem como policiais e capatazes, a final acabavam também assassinados
[51] Hebraico – abreviatura de Lochamei Herut Israel – Lutadores pela Liberdade de Israel - grupo de resistência contra as
atrocidades dos árabes e Exército Britânico na Palestina
[52] Hebraico - Irgun Zvaí Leumí – Organização Nacional Combatente, lutou contra os terroristas árabes e o Mandato
Britânico na Palestina. Seu hino rezava profeticamente: “ a sangue e fogo Judá caiu ... a sangue e fogo se levantará”
[53] Ídiche – afetivo para o nome próprio Shaindla
[54] Hebraico – Dia do Perdão, o mais importante do calendário religioso judaico
[55] Latim – cota que limitava o número de judeus passível de ser admitido nas faculdades.
[56] Hebraico – cantor ritual
[57] Ídiche – plural de shtetl, pequenas cidadezinhas do interior da Europa Central onde floresciam ponderáveis
comunidades judaicas ricas em cultura e tradições
[58] Hebraico – candelabro de 9 braços utilizado em Hanuká, a Festa das Luzes.
[59] Blajberg, Israel – Soldados que Vieram de Longe, AHIMTB/FIERJ, Rio de Janeiro, 2008
[60] Hebraico – ações de caridade, a qual todo judeu é obrigado
[61] Hebraico – plural de Cohen,sacerdote
[62] Hebraico – trecho de oração de agradecimento por um especial acontecimento
[63] Hebraico - Manto ritual judaico
[64] Hebraico - contrato nupcial escrito em aramaico, onde os noivos aceitam responsabilidades
[65] Hebraico - Sete bênçãos
[66] Hebraico - Bênção sacerdotal do Templo de Salomão
[67] Hebraico - Se eu te esquecer oh Jerusalém, que se imobilize a minha destra
[68] Hebraico – Bons Presságios e Boa Sorte
[69] Hebraico - Dança tradicional judaica
[70] Hebraico - Plural de arkadá - danças judaicas em grupo, com palmas e evoluções
[71] Ídiche – patrícios, conterrâneos da mesma cidade natal
[72] Ídiche – Aproximação entre jovens, geralmente solicitada pelos pais, podendo ser praticada informalmente ou através
de profissionais casamenteiros
[73] Hebraico – festa que recorda a derrota dos inimigos do povo judeu na antiga Pérsia. Semelhante ao Carnaval com
musica e fantasias.
[74] Hebraico – pacto da circuncisão, cerimônia judaica onde o recém-nascido é apresentado e circuncidado no oitavo dia
[75] Aramaico – Santificação. Oração recitada nos funerais, e durante 11 meses pelos filhos homens.
[76] Hebraico – Ouve ó Israel, palavras iniciais da oração basilar do judaísmo, que afirma a existência de um único deus.
[77] Hebraico – Defesa – organização militar que defendeu a comunidade judaica da Palestina da opressão britânica
durante o Mandato, e do terror árabe. Foi o embrião das Forças de Defesa de Israel formadas em 1948.
[78] N. do A. - Em 21 nov 2014 no Gabinete do Secretário de Cultura do RS ocorreu a solenidade de lançamento do projeto
de restauração do cemitério de Philipson.