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SCMedia News | Revista | Outubro 2022

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Outubro</strong> <strong>2022</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

36<br />

GRUPO SOUSA<br />

VOLTADO PARA<br />

O INVESTIMENTO<br />

ENTREVISTA COM<br />

ANTÓNIO BRASIL<br />

EGÍDIO LOPES<br />

E 10 ANOS DE KLOG<br />

PROCUREMENT<br />

CONFERÊNCIA: LIDERAR<br />

A TRANSFORMAÇÃO<br />

24 HORAS DE LOGÍSTICA<br />

24 Horas de saber autêntico


2<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong>


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

fabio.santos@supplychainmagazine.pt<br />

Fábio Santos<br />

EDITORIAL<br />

QUEM QUER QUENTES E BOAS?<br />

“O grande paradoxo da transformação digital (era das inovações)<br />

é que tudo se está a transformar em commodities”<br />

Marcus Ronsoni<br />

Terminada uma das épocas que mais faz<br />

mexer a logística, entramos noutra que mais<br />

faz movimentar encomendas por todo o<br />

mundo. Embora ainda estejamos um pouco<br />

longe do Natal, o calendário logístico funciona<br />

com alguns meses de antecedência, e nesta<br />

altura os ajudantes do Pai Natal já estão a<br />

trabalhar arduamente para que tudo corra bem<br />

nas últimas semanas do ano.<br />

Independentemente do setor, outubro é um<br />

mês de muito planeamento para as empresas,<br />

e de iniciar toda a preparação para as épocas<br />

festivas. Seja a montante ou a jusante, nesta<br />

altura do ano toda a cadeia estica, para<br />

que as empresas garantam que têm stocks<br />

suficientes para responder às necessidades<br />

dos consumidores durante as épocas de Black<br />

Friday, Cyber Monday, Natal e Ano Novo.<br />

De modo a que o consumidor possa ter<br />

o que quer, onde quer e quando quer, é<br />

necessário que “alguém” já tenha pensado<br />

nisso alguns meses antes, e o “agora” é o<br />

momento preferido do cliente. Esta mudança<br />

de pensamento veio trazer grandes desafios<br />

para as empresas, sendo necessária uma<br />

adaptação cada vez mais antecipada, que só é<br />

possível estando atentos ao que nos rodeia.<br />

Tendo isso em conta, nesta edição<br />

trouxemos alguns insights sobre o que<br />

aconteceu, o que está a acontecer e o que<br />

vai acontecer nas cadeias de abastecimento.<br />

Nas páginas seguintes encontramos casos<br />

concretos da atualidade, envolvendo<br />

tecnologias, equipamentos, soluções e claro,<br />

sem esquecer o que atualmente mais difere as<br />

empresas, pessoas.<br />

Parece contraditório que num momento<br />

em que tanto se diz que o digital fará toda<br />

a diferença, seja praticamente unânime que<br />

o maior diferenciador são as pessoas. E é<br />

esse fator humano que a digitalização não<br />

consegue acompanhar, porque também ela é<br />

feita por… pessoas.<br />

O certo é que a adesão (de pessoas) a estas<br />

épocas comerciais impulsionou o consumo<br />

para um formato mais digital, que por sua vez<br />

exerce pressão nas próprias empresas, para se<br />

tornarem também elas mais digitais. Mesmo as<br />

que funcionam melhor fora desse ambiente.<br />

Enquanto o mundo se vai e-comercializando,<br />

tiremos um pouco para aproveitar o modelo<br />

tradicional, enquanto ainda temos o cheirinho<br />

a castanhas nas ruas, envoltas numa folha<br />

de jornal, e que aos poucos vai surgindo<br />

pelo ar, acompanhado pelo famoso pregão:<br />

“Quem quer quentes e boas?”. Por enquanto, o<br />

Magusto ainda está ao virar da esquina, e não<br />

à distância de um clique.


4<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

#14 #24 #44<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Transporte Ferroviário na UE 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Grupo Sousa 08<br />

Reconstrução da supply chain 14<br />

24.º Congresso da APLOG 24<br />

Grupo Pinto Brasil 28<br />

PROCUREMENT<br />

Procurement Conferência 34<br />

TECNOLOGIAS<br />

Uma colaboração realmente “urgente” 52<br />

Thijs Hulstman, DHL Supply Chain 56<br />

TRANSPORTES<br />

Mário de Sousa, Portocargo 60<br />

O desafio da descarbonização das<br />

entregas last-mile 64<br />

Egídio Lopes, Klog 66<br />

CARREIRA<br />

24 Horas de Logística 72<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

“Nem tudo o que é possível faz<br />

necessariamente sentido” 44


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

#56<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

À janela da APAT 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

Ideas worth spreading, TED@Merck KGaA 2017<br />

“3 mitos sobre o futuro do trabalho”, Daniel<br />

Susskind 78<br />

#60<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

Laura Dias<br />

Direção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Business Development_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

União Europeia<br />

FERROVIA CRESCEU 8,7% EM 2021<br />

Em 2021, o transporte ferroviário de mercadorias na União Europeia (UE) registou um aumento<br />

de 8,7% comparativamente a 2020, tendo alcançado 399 mil milhões de toneladas-quilómetro<br />

(tkm). O números foram avançados pelo Eurostat.<br />

Após descidas de 2,2% e 6,1% em 2019<br />

e 2020 (em comparação com o ano<br />

anterior), o desempenho do transporte<br />

ferroviário de mercadorias da UE registou<br />

alguma recuperação em 2021. Para evitar<br />

a propagação da pandemia da COVID-19,<br />

os Estados-Membros estabeleceram<br />

medidas restritivas que tiveram um impacto<br />

significativo no transporte ferroviário de<br />

mercadorias. Em 2021, houve uma indicação<br />

de alguma recuperação, com o transporte<br />

ferroviário de mercadorias a aumentar 8,7%<br />

em relação a 2020, atingindo quase o nível<br />

elevado de 2018, com 399 mil milhões de<br />

toneladas-quilómetro (tkm).<br />

Os primeiros sinais de recuperação<br />

foram observados no quarto trimestre de<br />

2020, quando os dados apontavam para<br />

um aumento de 5,1% em comparação com<br />

o mesmo trimestre do ano anterior. Esta<br />

tendência continuou gradualmente em todos<br />

os trimestres de 2021.<br />

A maior taxa de crescimento no transporte<br />

ferroviário de mercadorias foi registada no<br />

segundo trimestre de 2021, com um aumento<br />

de 20,5%, seguido pelo terceiro trimestre<br />

(+8,0%). O primeiro e quarto trimestres<br />

aumentaram 3,4% cada um, em comparação<br />

com os mesmos trimestres em 2020.<br />

A Alemanha foi o maior contribuinte para<br />

o desempenho do transporte ferroviário de<br />

mercadorias na UE, com 123 mil milhões<br />

de tkm em 2021, representando cerca de<br />

31% do total da UE. Seguiram-se a Polónia<br />

e a França com 54 e 36 mil milhões de tkm,<br />

respectivamente. No outro extremo da escala,<br />

a Grécia, Luxemburgo e Irlanda.<br />

Em sete Estados-Membros da UE, o transporte<br />

ferroviário de mercadorias diminuiu entre 2020<br />

e 2021: Dinamarca (-18,9%), Portugal (-18,3%),<br />

Lituânia (-8,2%), Letónia (-7,7%), Irlanda (-5,2%),<br />

Croácia (-3,3%) e Hungria (-2,1%).<br />

Nos restantes, o desempenho do<br />

transporte ferroviário cresceu no mesmo<br />

período. O maior aumento foi observado<br />

na Estónia (+22,9%), seguida pela Espanha<br />

(+20,3%), Eslováquia (+18,6%), Itália (+15,0%),<br />

Alemanha (+13,5%), França (+13,3%) e<br />

Roménia (+10,9%).<br />

Em termos absolutos, a Alemanha registou<br />

o maior aumento: +14,7 mil milhões de tkm<br />

entre 2020 e 2021. A França seguiu-a com<br />

um crescimento de 4,2 mil milhões de tkm<br />

durante o mesmo período. •


8<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

Grupo Sousa<br />

TEM DE SE<br />

CRESCER, NÃO<br />

HÁ OUTRA FORMA<br />

Enfrentar os desafios e continuar a crescer<br />

tem sido uma constante para o Grupo Sousa.<br />

O grupo económico madeirense, que tem o<br />

seu centro de decisão no Funchal, expande<br />

agora o seu negócio para os Açores e investiu<br />

11,5 milhões de euros num novo centro<br />

logístico em Ponta Delgada. É o primeiro de<br />

três que irão ser construídos e que prometem<br />

operar em rede, melhorando a logística da<br />

exportação no arquipélago.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Apesar de nos últimos dois anos o transporte<br />

marítimo ter sofrido alguns infortúnios em<br />

consequência da COVID-19, muitas foram<br />

as empresas que se mantiveram acima da linha<br />

de água e se mostraram peritas a escapar das<br />

tempestades, como foi o caso do Grupo Sousa.<br />

Joaquim Pocinho, administrador do grupo,<br />

conta que “durante a grande crise de 2020<br />

e 2021, a nossa preocupação foi manter<br />

as cadeias de abastecimento a funcionar e<br />

conseguimo-lo com algum sucesso”. Depois<br />

da tempestade vem a bonança, pelo menos é<br />

o que nos faz sentir o responsável ao explicar<br />

que “também houve algumas oportunidades e<br />

conseguimos responder às necessidades dos<br />

nossos clientes”.<br />

Fundado na ilha da Madeira há cerca<br />

de 40 anos, o Grupo Sousa é um operador<br />

marítimo-portuário, de logística e energia,<br />

tendo contado com um volume de negócios<br />

consolidado de 195 milhões de euros em 2021,<br />

empregando cerca de mil funcionários nos<br />

Açores, Madeira, Portugal continental, Cabo<br />

Verde e Guiné-Bissau. Este ano, o grupo tem<br />

estado, como o resto do mundo, a defrontar-se<br />

com o inesperado de uma guerra às portas da<br />

Europa e que está, mais uma vez, a pôr à prova<br />

as cadeias de abastecimento: “o impacto nos<br />

transportes marítimos tem sido grande. Por<br />

um lado, ao nível dos combustíveis que têm<br />

escalado preços, o que impacta diretamente<br />

no preço final do transporte para os nossos<br />

clientes, e, por outro lado, a escalada dos<br />

preços dos próprios navios, do preço dos fretes,<br />

do afretamento dos próprios navios”, explica.<br />

Situação que foi contornada dada a aquisição<br />

Joaquim Pocinho, administrador do Grupo Sousa<br />

ao longo dos anos de navios próprios, agora<br />

seis, com a recente compra do Ferdinanda S.<br />

VOLTADOS PARA O INVESTIMENTO<br />

O navio Ferdinanda S, que ascendeu os<br />

28 milhões de euros, junta-se, assim, aos<br />

restantes navios da frota do Grupo Sousa.<br />

Mais uma decisão que reflete o forte<br />

compromisso e estratégia da empresa a<br />

longo prazo nos mercados onde opera. “Nós<br />

somos responsáveis por abastecimentos aos<br />

arquipélagos da Madeira e dos Açores, temos<br />

também uma grande responsabilidade e uma<br />

quota grande de abastecimento à República<br />

de Cabo Verde, à própria Guiné-Bissau onde<br />

temos uma quota grande de carga, que<br />

durante estes dois últimos anos sentimos,<br />

acima de tudo, como uma responsabilidade”,<br />

declara Joaquim Pocinho.<br />

É inegável que o grupo não tem parado<br />

de crescer e de investir, o que leva Joaquim<br />

Pocinho a explicar que “nós não paramos de<br />

crescer e acho que as organizações que param<br />

de crescer e quando estagnam é para acabar.<br />

Tem de se crescer, não há outra forma” afirma<br />

o administrador, garantindo que “quem não


10<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

tiver escala não sobrevive às intempéries<br />

que aí vêm. O Grupo Sousa tem essa noção<br />

e, portanto, o aumento da escala das nossas<br />

operações é fundamental para o nosso futuro”.<br />

Prova disso é a aquisição por parte do<br />

grupo de 75% do operador de logística de<br />

contrato LogiC em julho, que permitiu ao<br />

grupo empresarial madeirense reforçar as suas<br />

competências na logística terrestre. “A LogiC<br />

é uma empresa cujo negócio e operação são<br />

perfeitamente complementares às nossas<br />

atuais, que basicamente começam onde as<br />

nossas terminam, o que nos vai permitir<br />

chegar mais longe e proporcionar ao mercado<br />

e aos nossos clientes soluções e respostas<br />

ainda mais abrangentes”.<br />

CONHECER OS CANTOS À CASA<br />

Agora a empresa logística do Grupo Sousa, a<br />

Logislink, vira-se para o mercado dos Açores<br />

e investiu 11,5 milhões de euros num novo<br />

terminal logístico em Ponta Delgada, na<br />

ilha de São Miguel. De acordo com o Grupo<br />

Sousa este investimento pretende constituir-<br />

-se como a primeira infraestrutura logística<br />

multicliente da Região Autónoma dos Açores,<br />

a qual permitirá oferecer um amplo conjunto<br />

de serviços logísticos ao tecido empresarial da<br />

Região, acrescentando um contributo para o<br />

desenvolvimento da economia. O presidente<br />

do Grupo Sousa, Luís Miguel Sousa, afirmou<br />

durante a inauguração do novo terminal<br />

logístico, que ocorreu dia três de outubro<br />

no Azores Parque, que esta plataforma “vai<br />

permitir melhorar substancialmente as<br />

operações associadas aos transportes e que<br />

estará ao serviço dos Açores, com valências<br />

muito importantes para o circuito logístico das<br />

exportações e do abastecimento da Região<br />

Autónoma”. Por fim, o presidente mencionou<br />

ainda que o terminal logístico “dispõe das<br />

mais recentes tecnologias e a gestão é feita<br />

integralmente pelo sistema informático,<br />

que gere também a ligação aos clientes,


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

ao transporte marítimo e aéreo, a frota de<br />

distribuição terrestre e o picking de forma<br />

integrada e automatizada. O sistema gere<br />

também a segurança e os níveis de acesso”.<br />

Eis alguns números da<br />

infraestrutura:<br />

• 30.000 m2 é a área total do terminal<br />

logístico, com uma área coberta de<br />

8.500m2.<br />

• 6.000 paletes é a capacidade máxima<br />

de armazenamento, zona que já tem<br />

mercadoria de 4 clientes.<br />

• 40 novos postos de trabalho diretos foram<br />

criados, a que se juntam aos já existentes<br />

e que operam no armazém de mil metros<br />

quadrados, junto ao porto de Ponta<br />

Delgada. Todos vão beneficiar de serviços<br />

de apoio de qualidade, dispondo de<br />

refeitórios, balneários e zonas de convívio.<br />

• 4.000 metros de painéis solares, que<br />

ocupam metade do telhado do armazém,<br />

comprovam a aposta na eficiência<br />

energética.<br />

• 26 docas de carregamento garantem o<br />

escoamento dos stocks armazenados.<br />

• 1.650 metros quadrados de área de frio é<br />

uma das valências do terminal.<br />

• 100 contentores por semana é a<br />

estimativa inicial da empresa que<br />

presta serviços regulares de transporte,<br />

consolidação e desconsolidação de<br />

contentores, armazenagem de produtos<br />

secos, congelados e refrigerados, gestão<br />

de stocks e picking.<br />

No entanto, Joaquim Pocinho refere que a<br />

aposta do grupo “é não só a ajuda a grandes<br />

empresas nas economias de escala, a custos


12<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

variáveis, mas também as pequenas empresas<br />

que têm acesso a partir de agora a uma<br />

estrutura muito profissional”, o que dará uma<br />

“ajuda grande às economias das ilhas, que<br />

são pequenas, e que têm uma estrutura muito<br />

fixa para suprir estas necessidades”. O Grupo<br />

Sousa criará ainda mais três terminais idênticos<br />

que prometem operar em rede, melhorando a<br />

logística da exportação na Região, “vamos criar<br />

uma rede de pequenas estruturas nas outras<br />

ilhas, de modo que funcione em rede com este<br />

armazém grande”, revelou o administrador.<br />

OLHAR PARA O FUTURO<br />

Quando olhamos para o futuro é importante<br />

definir prioridades. De acordo com Joaquim<br />

Pocinho, a tecnologia é uma delas. “Agora, além<br />

de ter de pôr a carga certa, no sítio certo, à<br />

hora certa, tenho de dizer que o fiz e como o<br />

fiz. Sem isso, nada feito”. Os seus clientes têm<br />

o poder e o comando das operações já que<br />

a tecnologia de track & trace lhes permite<br />

localizar as suas encomendas. No entanto,<br />

esta não é a única tecnologia presente na<br />

empresa, que nos últimos anos “transformou-<br />

-se totalmente nessa área e temos<br />

investido milhões de euros”, conta. Também<br />

a sustentabilidade tem vindo a assumir<br />

um papel bastante importante no meio<br />

empresarial, verificando-se uma preocupação<br />

das empresas em encontrar soluções que<br />

lhes permita alcançar a sustentabilidade na<br />

cadeia de abastecimento, pois “o consumidor<br />

assim o exige e o consumidor só vai consumir<br />

se achar que são opções sustentáveis, não<br />

há volta a dar. Tem-se visto uma mudança de<br />

atitude da economia face à sustentabilidade.”<br />

À vista disso, a empresa tem feito a sua<br />

quota-parte: “temos tudo forrado a painéis


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

QUEM NÃO TIVER ESCALA NÃO SOBREVIVE ÀS INTEMPÉRIES QUE AÍ<br />

VÊM. O GRUPO SOUSA TEM ESSA NOÇÃO E, PORTANTO, O AUMENTO<br />

DA ESCALA DAS NOSSAS OPERAÇÕES É FUNDAMENTAL PARA O<br />

NOSSO FUTURO<br />

solares e é por aí que vamos. As nossas frotas<br />

futuras vão ser elétricas, temos essa decisão<br />

estratégica já tomada”, revelando ainda que<br />

vão “lançar brevemente um curso para carros<br />

elétricos para distribuição capilar”. Segundo<br />

o administrador, ser sustentável sai caro, mas<br />

“são atitudes dessas que temos que ir tendo,<br />

o que resulta na nossa responsabilidade<br />

ambiental e simultaneamente em responder às<br />

necessidades dos nossos clientes, que depois<br />

também respondem aos seus clientes, que<br />

somos todos nós como consumidores”.<br />

Contudo, este não é o único desafio que se<br />

coloca atualmente à logística e à gestão das<br />

cadeias de abastecimento. “O maior desafio<br />

sem dúvida nenhuma é o last mile”, afirma<br />

o responsável, referindo-se às entregas ao<br />

domicílio provenientes da tendência crescente<br />

do e-commerce. “O desafio seguinte cabe a<br />

toda a economia, é um paradigma novo, o da<br />

escassez, o da inflação… são problemas graves<br />

que vão afetar as cadeias logísticas, são esses<br />

desafios dos próximos anos que me preocupam<br />

grandemente”, remata. •<br />

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14<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Centromarca<br />

Texto: Fábio Santos<br />

RECONSTRUÇÃO<br />

DA SUPPLY CHAIN<br />

Nos últimos anos assistiu-se a uma disrupção<br />

da cadeia de abastecimento mundial. Foi<br />

necessário as empresas repensarem e<br />

modificarem muitos processos, de forma a<br />

adaptarem-se às mudanças que estavam a<br />

ocorrer, e muitas delas de forma repentina<br />

e sem qualquer sinal de aviso. Apesar de as<br />

empresas já se encontrarem num processo<br />

de recuperação, os próximos passos são<br />

repensar e reconstruir as cadeias, de modo<br />

a mitigar os riscos.<br />

A<br />

reconstrução da supply chain foi um dos<br />

temas debatidos no II Congresso das<br />

Marcas, promovido pela Centromarca em<br />

junho, onde os oradores tiveram o desafio de<br />

abordar o tema e de partilhar os seus pontos<br />

de vista sobre novas soluções e tendências<br />

a ter em conta para criar uma cadeia de<br />

abastecimento mais resiliente.<br />

Alguns dos grandes focos apontados pelos<br />

intervenientes para a reconstrução da supply<br />

chain foram as questões de inovação, relação<br />

com os consumidores, sustentabilidade,<br />

redução da dependência de outros países,<br />

resiliência das empresas e parcerias ao nível<br />

do fornecimento.


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

INTERPRETAR A<br />

TEMPESTADE PERFEITA<br />

Nuno Fernandes Thomaz, presidente da<br />

Centromarca, Associação Portuguesa de<br />

Empresas de Produtos de Marca, explica que<br />

durante o II Congresso das Marcas procuraram<br />

“interpretar o boletim meteorológico da<br />

tempestade perfeita que assola as cadeias de<br />

aprovisionamento, para elencar as principais<br />

causas e as consequências do ‘novo mundo’<br />

inflacionista e o seu impacto nas dinâmicas<br />

do mercado e analisar como estas alterações<br />

estão a mudar os hábitos dos consumidores,<br />

a sua racionalidade na compra e o formato de<br />

funcionamento das organizações”.<br />

Num momento em que se deu uma inflação<br />

dos preços, que criou desafios adicionais<br />

tanto para as famílias como para as empresas,<br />

foi necessário ter uma nova abordagem. “As<br />

empresas e as marcas sentem que devem fazer<br />

um forte esforço para contornar estas disrupções<br />

e, especialmente, para mitigar os seus impactos<br />

no mercado, com o objetivo de limitar os efeitos<br />

no poder de compra das famílias, sem colocar<br />

em causa a sustentabilidade das suas próprias<br />

organizações”, afirmou o responsável. Isto levou<br />

a uma “reaprendizagem” sobre como devem as<br />

empresas definir as prioridades e abordar os<br />

clientes.<br />

“O período que estamos a atravessar é um<br />

dos mais complexos das últimas décadas. A<br />

pandemia reabriu feridas antigas que ainda<br />

estavam por sarar. E a guerra que decorre<br />

em plena Europa dificulta ainda mais o dia a<br />

Nuno Fernandes Thomaz, Presidente da Centromarca<br />

dia de todos”, nota Nuno Fernandes Thomaz,<br />

destacando que apesar de todos estes<br />

acontecimentos, “não podemos, ainda assim,<br />

deixar de ser marcas. Marcas que deixam marca:<br />

protegendo os seus públicos, assegurando a<br />

qualidade dos seus produtos e nunca desistindo<br />

de defender a sua própria reputação”.<br />

Ao nível da supply chain, o presidente da<br />

associação deixa algumas das questões que<br />

identificam o problema com que se deparam, e<br />

às quais é preciso dar uma resposta adequada:<br />

• Como é que as marcas vão continuar a<br />

conseguir enfrentar as disrupções nas<br />

cadeias de abastecimento e uma vaga<br />

inflacionista como a que estamos a<br />

atravessar?<br />

• E como se vão posicionar depois de<br />

passarem este período mais crítico?<br />

• Como vão proteger os consumidores<br />

destes agravamentos de custos? Ou<br />

assegurar, em simultâneo, a rentabilidade<br />

dos seus negócios?


16<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

• E como se vão destacar, em tempos tão<br />

desafiantes, para continuarem a ter os seus<br />

produtos nas prateleiras e a merecer a<br />

confiança dos consumidores?<br />

“Tudo isto exige novas abordagens, novas<br />

ferramentas e, acima de tudo, novas soluções.<br />

Mais eficiência. Melhor performance. Objetivos<br />

ambiciosos, mas realistas. Equipas ainda<br />

mais motivadas e, claro, nunca abdicar do<br />

investimento e energia ao nível da inovação,<br />

da criatividade, da responsabilidade, da<br />

sustentabilidade ou da comunicação”, afirma<br />

Nuno Fernandes Thomaz, acrescentando que “a<br />

adaptação a estes momentos difíceis, implicam<br />

– para as marcas – resiliência, contenção<br />

e até algum despojamento, mas elas não<br />

podem abdicar da qualidade e da criatividade,<br />

da responsabilidade e da sustentabilidade,<br />

da comunicação e da inovação. Não podem,<br />

mais do que tudo, abdicar da proximidade, da<br />

cumplicidade e do vínculo emocional com os<br />

consumidores”.<br />

Entre os principais insights retirados do<br />

evento, o responsável destaca que:<br />

• Para os consumidores, o fator preço tem<br />

um impacto cada vez maior devido à<br />

inflação dos preços dos produtos e à perda<br />

do poder de compra, o que considera que<br />

irá tornar o mercado mais agressivo e<br />

competitivo, mas também mais curto e<br />

pressionado a nível de margens;<br />

• Os períodos de dificuldade económica<br />

são favoráveis ao crescimento do peso<br />

das marcas próprias, seja pelo preço mais<br />

baixo, seja pela concorrência entre as<br />

marcas próprias dos diferentes retalhistas,<br />

ou pelo ganho de quota dos retalhistas do<br />

chamado ‘sortido curto’;<br />

• Vai existir uma batalha pelo espaço de<br />

prateleira, e espera-se que se agravem<br />

os custos de acesso, defendendo que<br />

é fundamental “não virar a cara à luta


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

pela defesa da liberdade de escolha,<br />

face à antecipada hegemonia das marcas<br />

próprias, à compressão de sortidos e à<br />

perda de espaço das segundas marcas”;<br />

Paulo Morgado, CEO da Bridgewhat<br />

• As marcas terão de ser capazes de<br />

aproveitar a oportunidade de um mercado<br />

em que o consumidor terá diminuída a sua<br />

capacidade de comprar, de consumir e de<br />

escolher, sem deixar crescer o gap entre<br />

os seus preços e os das marcas próprias,<br />

utilizando ferramentas promocionais para<br />

atrair a atenção do consumidor e limitar<br />

aquele diferencial de preços;<br />

• As políticas públicas terão de endereçar<br />

a questão do poder de compra dos<br />

consumidores, seja pela via fiscal, seja pela<br />

via salarial;<br />

• Os programas de apoio à economia têm de<br />

chegar mais cedo às empresas, gerando<br />

efeito de alavancagem, pois “os atrasos<br />

nas avaliações, aprovações e pagamentos<br />

apenas funcionam como travão ao<br />

investimento e às transformações que as<br />

empresas não podem deixar de fazer”;<br />

“É muito provável que um contexto<br />

económico mais difícil signifique um potencial<br />

agravamento das tensões ao longo da cadeia<br />

de abastecimento, pelo que que este será o<br />

momento adequado para reforçar os meios de<br />

monitorização e fiscalização de mercado pelas<br />

autoridades competentes, bem como para o<br />

estabelecimento de programas regulares e<br />

proativos de verificação do seu funcionamento”,<br />

conclui Nuno Fernandes Thomaz.<br />

DEPENDÊNCIA EXTERNA E ESTAR<br />

COM OS PARCEIROS CERTOS<br />

Uma das conclusões a que os países chegaram<br />

com a pandemia de COVID-19 e a guerra<br />

na Ucrânia foi a dependência externa. “A<br />

maior parte dos países entendeu que não<br />

pode depender tanto de outros países para o<br />

abastecimento de certos bens essenciais cuja<br />

produção se havia deslocalizado para onde os<br />

custos dos fatores é (ou era) mais favorável”,<br />

comenta Paulo Morgado, CEO da Bridgewhat.<br />

Por outro lado, aponta que apesar destes<br />

fatores disruptivos, já se começava a assistir<br />

a um nivelamento dos custos dos fatores de<br />

produção por países onde a mão de obra antes<br />

tinha custos muito baixos.<br />

O responsável afirma que foram as grande<br />

marcas, em geral, quem mais promoveu a<br />

deslocalização das suas unidades produtivas,<br />

aproximando-se de mercados onde o custo<br />

era mais baixo, e que “compete agora a


18<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

essas mesmas marcas serem os promotores<br />

do chamado ‘rightshore’: uma espécie de<br />

mescla entre nearshore para bens essenciais,<br />

promovida junto de países ‘amigos’ com<br />

offshore para bens que podem ser oferecidos<br />

por um conjunto mais amplo de países e<br />

onde o custo dos fatores será sempre mais<br />

competitivo”.<br />

Paulo Morgado considera que as marcas<br />

terão de introduzir outros critérios de<br />

ponderação de relocalização, que incluam,<br />

para além da menor dependência de países<br />

externos, temas de ESG (governança<br />

ambiental, social e corporativa).<br />

“Portugal é um país com custos de produção<br />

competitivos em muitos setores (veja-se por<br />

exemplo o tradicional caso dos têxteis). No<br />

entanto, falha em temas de produtividade,<br />

a qual depende muito da modernização do<br />

parque de ativos industriais e da qualificação<br />

das pessoas”, comenta, “uma cooperação<br />

entre as entidades referidas que vá mais além<br />

do ‘juntar-se para ter acesso a subsídios’ é<br />

fundamental para que a nossa indústria seja<br />

competitiva por mais alguma coisa que não<br />

apenas a mão de obra barata”, onde também<br />

as escolas, politécnicos e universidades irão<br />

ter um papel importante.<br />

O CEO da Bridgewhat aponta que as<br />

instituições de ensino deverão qualificar os<br />

estudantes de skills que vão ao encontro das<br />

atuais necessidades do mercado, de forma<br />

a que sejam competitivas nas mais diversas<br />

áreas, sejam elas industriais, de inovação<br />

de produtos e processos, de marketing e<br />

vendas ou, claro, de transformação digital. “A<br />

competência mais necessária é sem dúvida a<br />

digital”, afirma, “o mundo digital pode tornar<br />

obsoletos muitos setores tradicionais de um<br />

dia para outro”. Paulo Morgado aponta, no<br />

entanto, que ainda existem dúvidas por parte<br />

das empresas ao nível da digitalização, e que<br />

muitas ainda confundem transformação digital<br />

com informatização.<br />

“Investir em tecnologia per si não é<br />

relevante. O relevante é que as empresas<br />

entendam como as opções digitais (que são<br />

tendencialmente infinitas) as podem ajudar<br />

a ser mais competitivas”, aponta, o que<br />

significa que as empresas vão ter de estar<br />

presentes em plataformas que facilitem a<br />

escolha dos parceiros para otimizar os seus<br />

“value networks”, aumentando assim o valor<br />

da marca sem a necessidade de grandes<br />

investimentos, o que em termos de maior<br />

dificuldade económica pode ser um entrave<br />

para algumas empresas<br />

SUSTENTABILIDADE NA CADEIA<br />

DE ABASTECIMENTO<br />

“É verdade que neste momento atravessamos<br />

tempos difíceis nas mais diferentes áreas de<br />

supply chain e nas mais distintas indústrias”,<br />

aponta a Managing Director da Mondelez,<br />

Sandra Vera-Cruz, destacando algumas<br />

questões que os afetam, como a escassez de<br />

determinadas matérias-primas e o consequente<br />

Sandra Vera-Cruz, Managing Director da Mondelez


SCM Supply Chain Magazine 19


20<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

aumento dos seus preços, incremento dos<br />

custos de produção com o impacto da crise<br />

energética, ou mesmo as dificuldades logísticas.<br />

“Todos estes fatores levam a um aumento<br />

significativo dos custos e a consequente<br />

inflação com que nos deparamos”, nota ainda<br />

Sandra Vera-Cruz.<br />

Adicionalmente, com as questões da guerra<br />

na Ucrânia a situação complicou-se ainda mais,<br />

sendo um dos maiores fornecedores de óleo de<br />

girassol, pelo que a Mondelez teve de racionar<br />

os stocks existentes, optando temporariamente<br />

por alternativas como a soja, colza e óleo de<br />

palma de origem responsável e certificado.<br />

“Voltaremos ao óleo de girassol assim que for<br />

restabelecido um abastecimento sustentável na<br />

região”.<br />

A responsável nota que a inflação afeta os<br />

consumidores, mas também em larga escala<br />

as empresas. “Os principais problemas residem<br />

garantidamente na escassez e aumento<br />

do preço de matérias-primas, aumento de<br />

custos de produção e logística, potenciados<br />

pelo aumento dos preços da energia e<br />

combustíveis”, e uma das soluções será reduzir<br />

os intermediários na cadeia de abastecimento.<br />

“Quem tem produção própria, fábricas,<br />

logística, consegue reduzir um pouco o impacto<br />

da inflação”, e nesse sentido, “a digitalização<br />

de processos e o planeamento antecipado<br />

também irá permitir um maior controlo sobre<br />

as despesas, sobre as necessidades e gestão de<br />

stocks”, considera.<br />

Ao nível da responsabilidade empresarial,<br />

Sandra Vera-Cruz considera que “quanto maior<br />

o reconhecimento de uma marca, maior a<br />

responsabilidade para com o consumidor e<br />

com os seus stakeholders”, e o facto de ser<br />

reconhecida pode ajudar na reconstrução da<br />

supply chain, pois chega mais facilmente ao<br />

consumidor, e as suas ações são mais visíveis,<br />

“mas esse reconhecimento exige muito<br />

trabalho e é fundamental que seja fruto de<br />

boas práticas que fomentam uma boa relação<br />

com o consumidor”.<br />

Um dos exemplos que têm é o Cocoa Life,<br />

um programa global de sustentabilidade do<br />

cacau, que tem como finalidade transformar<br />

a produção de cacau num negócio lucrativo,<br />

criando comunidades inclusivas e autónomas,<br />

e educando na conservação e reflorestação da<br />

floresta. “Através deste, 75% dos volumes de<br />

cacau para as nossas marcas de chocolate são<br />

obtidos através do Cocoa Life, incluindo 100%<br />

para as nossas muito amadas marcas globais<br />

como Milka, Cadbury Dairy Milk, Côte d’Or<br />

e Toblerone”. Na área dos cereais, têm ainda<br />

o Harmony Charter, um programa de cultivo<br />

sustentável de trigo, que atualmente fornece<br />

91% do trigo necessário para o negócio da<br />

Mondelez na Europa.<br />

Sandra Vera-Cruz aponta ainda dois aspetos<br />

a ter em conta: a importância dos valores da<br />

empresa e os programas de sustentabilidade<br />

ambiental e social. “Os nossos relatórios<br />

indicam que, cada vez mais, o consumidor está<br />

atento aos valores das empresas e as suas<br />

escolhas recaem sobre marcas que partilham<br />

os mesmos valores”, afirma. De acordo com o<br />

Relatório State of Snacking 2021, da Mondelez<br />

International, 80% dos consumidores inquiridos<br />

diz estar mais consciente em relação ao que<br />

compra e porquê, e “reduzir o desperdício está<br />

no topo das prioridades”. 78% dos inquiridos<br />

aponta ainda a disponibilidade de embalagens<br />

de baixo desperdício como o principal fator de<br />

decisão para as suas escolhas alimentares. “Isso<br />

reflete-se nas escolhas dos consumidores”.<br />

“É impensável uma empresa nos dias<br />

de hoje pensar no futuro sem pensar em<br />

sustentabilidade, e esse é um dos nossos focos<br />

na Mondelez International. Temos várias metas


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

para atingir e queremos contribuir para um<br />

mundo melhor, mitigar os impactos climáticos,<br />

reduzindo, por exemplo, os resíduos de<br />

embalagens. Iremos investir em soluções<br />

duradouras e catalisar outras para um maior<br />

impacto, construindo juntos um futuro onde<br />

as pessoas e o planeta prosperem”, conclui a<br />

responsável da Mondelez.<br />

Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés<br />

RESILIÊNCIA E INOVAÇÃO<br />

CONTÍNUA<br />

Por parte da Delta Cafés, Rui Miguel Nabeiro,<br />

CEO da empresa portuguesa, aponta as<br />

capacidades de resiliência e de inovação como<br />

fatores importantes para o crescimento do<br />

mercado português, afirmando que “é preciso<br />

arriscar, indo ao encontro das expectativas dos<br />

consumidores”.<br />

Durante a sua intervenção, o CEO deixou<br />

clara a ideia de que “uma marca é um<br />

contrato”, e justifica-o comentando que “cada<br />

vez mais, o comportamento dos consumidores<br />

está a mudar. Exigem a humanização da<br />

comunicação das marcas, a afirmação dos seus<br />

valores e do propósito da sua existência. Os<br />

consumidores procuram marcas verdadeiras e<br />

genuínas, com discursos e ações consistentes,<br />

e que contribuam realmente para aquilo que<br />

são os grandes desafios das comunidades.<br />

Neste sentido, é essencial que nós cumpramos<br />

a promessa que fazemos aos consumidores,<br />

temos de ser dignos da sua confiança”.<br />

Fez ainda notar a falta de marcas<br />

portuguesas, e que existe espaço para crescer<br />

e para inovar, criando marcas e conceitos<br />

únicos, e para isso “é preciso resiliência e<br />

inovação contínua”. “Portugal tem ótimos<br />

produtos e é uma oportunidade para promover<br />

o crescimento económico do país além-<br />

-fronteiras”, defende o responsável, “devemos<br />

continuar a trabalhar em prol de um caminho<br />

de valorização do que é nacional levando a<br />

marca Portugal cada vez mais longe”.<br />

Desta forma, Rui Miguel Nabeiro aponta<br />

como urgente a missão de “fazer diferente”<br />

e inovar, sendo essa a missão das marcas ao<br />

apresentarem determinadas características<br />

e promoverem experiências distintas e de<br />

qualidade, contribuindo para uma relação<br />

de confiança com os consumidores, “assente<br />

na criação e partilha de valor com as partes<br />

interessadas e, consequentemente, para um<br />

contrato bem-sucedido”.<br />

A inovação é uma forte aposta da marca, e<br />

o CEO considera que é ela a impulsionadora<br />

dos valores da Delta, proporcionando uma<br />

“experiência de consumo relevante e única aos<br />

seus consumidores” e acrescentando valor à<br />

marca, “algo que faz com que a Delta Cafés se<br />

mantenha ativa ao longo de 60 anos”, e capaz<br />

de se reinventar ao longo do tempo.<br />

“Todos os dias, procuro estimular a<br />

importância de uma cultura de inovação dentro<br />

da Delta, procuro desafiar os colaboradores<br />

a sair da sua zona de conforto fomentando<br />

a partilha de novas ideias, porque estamos


22<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

conscientes de que a inovação é essencial<br />

para o progresso e para o crescimento da<br />

marca”, defende Rui Miguel Nabeiro.<br />

AUMENTAR A DIFERENCIAÇÃO<br />

E CRIAR UMA LIGAÇÃO<br />

EMOCIONAL<br />

Mantendo a linha da inovação, Nuno Pinto de<br />

Magalhães, Chairman da Sociedade Central<br />

de Cervejas e Bebidas (SCC), aponta que<br />

esta também faz parte do ADN da empresa,<br />

trazendo momentos de valor acrescentado aos<br />

seus clientes. “Temos de continuar a inovar<br />

para aproveitar a vontade de experimentar”,<br />

referiu mesmo durante a sua intervenção no<br />

congresso.<br />

“Se essa evolução não ocorrer vamos deixar<br />

de ir ao encontro das necessidades dos nossos<br />

consumidores. Temos de planear e delinear<br />

uma estratégia de marca e de produto, que<br />

vá ao encontro das suas necessidades para<br />

podermos ser uma referência na inovação,<br />

uma vez que o mercado está em constante<br />

evolução”, afirma o responsável.<br />

Para que se passe da disrupção para a<br />

reconstrução, Nuno Pinto de Magalhães<br />

considera necessário que se dê uma “total<br />

normalização no mercado para valores<br />

pré-pandémicos”, o que tem sido feito aos<br />

poucos. “Essa normalização tem-se feito<br />

gradualmente, e através disso as supply chain<br />

têm-se reconstruído, mas certamente só<br />

poderão ser totalmente reconstruídas com o<br />

apoio dos nossos distribuidores e clientes”,<br />

destacando a capacidade e flexibilidade<br />

de se adaptarem às rápidas mudanças na<br />

procura em prol de uma melhor eficiência,<br />

digitalização e sustentabilidade.<br />

Nuno Pinto de Magalhães, Chairman da SCC<br />

Uma das mudanças apontadas é a maior<br />

relação e identificação dos clientes com as<br />

marcas que consomem. “Os consumidores<br />

querem conhecer a origem dos produtos,<br />

estando dispostos a pagar por qualidade”, o<br />

que fez com que as marcas se envolvessem e<br />

apostassem nesta relação, e em dar a conhecer<br />

as características únicas de cada produto,<br />

aumentando a diferenciação e criando uma<br />

ligação emocional com os produtos da marca.<br />

Além-fronteiras, é mais difícil para uma<br />

marca portuguesa estabelecer uma relação<br />

tão direta com o consumidor, pelo que a<br />

internacionalização pode ser um desafio.<br />

A SCC, ao pertencer ao grupo Heineken,<br />

beneficia também da sua rede de distribuição<br />

internacional, e está atenta a novas geografias.<br />

O responsável explica que “continuamos a<br />

exportar para os principais mercados, mercados<br />

da diáspora e os PALOP”, e que apesar de este<br />

último ser um mercado de nicho, “temos de<br />

saber aproveitar esses nossos mercados para<br />

mostrarmos as nossas marcas além-fronteiras e<br />

fortalecermos a nossa rede de exportação”.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

AGILIDADE NA REVISÃO DE<br />

ESTRATÉGIAS E EM AJUSTAR<br />

PLANOS<br />

“O regresso à normalidade está a ser mais lento<br />

do que o desejado”, afirma António Casanova,<br />

CEO da Unilever FIMA, apontando como causa<br />

a dependência da evolução económica do país<br />

e do poder de compra dos consumidores, que<br />

está ainda mais ameaçado devido à inflação.<br />

“Esta disrupção trouxe- -nos, pelo menos, uma<br />

lição: a de termos de ser mais ágeis a rever<br />

estratégias e a ajustar planos”.<br />

Com um grande leque de marcas de diversas<br />

áreas de bens de consumo, a Unilever não<br />

parou durante a pandemia, estando sempre<br />

a operar graças às medidas de proteção dos<br />

trabalhadores. Agora, as dificuldades que<br />

enfrenta são outras, e as suas preocupações<br />

giram em torno da guerra e da falta de<br />

matérias-primas, bem como dos elevados<br />

níveis de inflação que levaram a uma contração<br />

do consumo.<br />

“É imperativo conhecer as necessidades<br />

e preocupações dos consumidores, tanto<br />

relacionadas com o desempenho dos produtos<br />

como as mais abrangentes”, defende o<br />

responsável da Unilever FIMA, exemplificando<br />

António Casanova, CEO da Unilever FIMA<br />

com as crescentes preocupações ambientais<br />

por parte dos consumidores.<br />

O CEO explica que “a Unilever está a definir<br />

um propósito para cada marca”, e aponta<br />

alguns exemplos de práticas que estão a<br />

desenvolver com as marcas da empresa: “Dove<br />

e a beleza positiva para todos os tipos de<br />

mulheres, Skip e a necessidade de promover<br />

o desenvolvimento das crianças ao ar livre ou<br />

ainda o combate ao desperdício alimentar pela<br />

Hellman’s”.<br />

“A inovação relevante é vital para uma marca<br />

ser preferida pelos consumidores”, conclui<br />

António Casanova. •


24<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Texto: Dora Assis<br />

24.º Congresso<br />

da APLOG<br />

CADEIAS DE<br />

ABASTECIMENTO: AS<br />

TENDÊNCIAS FUTURAS<br />

A Associação Portuguesa de Logística<br />

promoveu nos dias 11 e 12 de outubro, em<br />

Lisboa, o seu 24.º congresso, o fórum certo<br />

para no atual contexto de incerteza em<br />

que as cadeias de abastecimento ainda se<br />

veem os profissionais procurarem debater e<br />

perspetivar em conjunto o que pode vir a ser<br />

o futuro e os desafios mais prementes.<br />

Neste contexto de mudança, durante dois<br />

dias, os profissionais do setor procuraram<br />

identificar as tendências que marcarão os<br />

próximos tempos e as perspetivas setoriais.<br />

Os desafios dos operadores logísticos, a<br />

crescente relevância da cibersegurança quando<br />

a digitalização das cadeias de abastecimento<br />

é uma realidade, a falta de pessoas e a falada<br />

dificuldade de reter as que existem, o retalho<br />

e a omnicanalidade ou o papel do transporte<br />

e das infraestruturas na supply chain foram<br />

alguns dos temas em foco nas várias sessões do<br />

congresso que, pela primeira vez, contemplou<br />

um painel dedicado às start-up´s, pelo seu<br />

papel na inovação e eficiência da logística e das<br />

cadeias de abastecimento.


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

Se a pandemia teve algum mérito foi o de<br />

trazer a logística e as cadeias de abastecimento<br />

para primeiro plano, junto da sociedade<br />

em geral, mas também dentro das próprias<br />

empresas. Esteve e continua a estar na lista de<br />

prioridades de quem lidera e, se dúvidas havia,<br />

o painel de CEO’s com que a APLOG abriu o seu<br />

congresso realçou a importância que assume<br />

para o management. A logística está num<br />

processo de profunda adaptação, consequência<br />

da pandemia e das subsequentes crises, como<br />

a guerra e os vários epicentros que tem vindo a<br />

gerar, abalando as cadeias de valor e respetivas<br />

cadeias de abastecimento. E foi por aí que<br />

começou o painel conduzido por Alcibíades<br />

Paulo Guedes, que reuniu quem lidera em<br />

torno do tema “Diferentes Setores, as mesmas<br />

tendências?”<br />

A INDÚSTRIA APRENDEU MUITO<br />

Na BA Glass Portugal, como em tantas outras<br />

empresas, foi o tempo de tirar os planos<br />

de contingência da gaveta e perceber se<br />

funcionavam. Sandra Santos explicou que a<br />

empresa está “em sete países europeus com<br />

unidades de produção e cerca de 30% da<br />

nossa produção é exportada para fora desses<br />

países”. Desde a pandemia, a BA viu-se perante<br />

cenários que não eram sequer equacionáveis,<br />

como aconteceu na altura em que algumas<br />

fronteiras fecharam “e não podíamos entrar<br />

em algumas regiões ou países. Recordo-<br />

-me, por exemplo, do caso de Itália, em que<br />

deixávamos os produtos na fronteira para<br />

serem posteriormente recolhidos pelos camiões<br />

italianos”. Só mais tarde vieram as outras<br />

dificuldades, que não estavam nos planos do<br />

mais previnido, como a “escassez de meios de<br />

transporte, o aumento das tarifas, a falta de<br />

matérias-primas e, nessa altura, as empresas<br />

que tinham uma base de fornecedores alargada<br />

foram as que resistiram melhor ao impacto”. No<br />

entender da responsável da BA Glass Portugal,<br />

a indústria estava bem preparada, o difícil foi a<br />

seguir as empresas conseguirem fazer face ao<br />

aumento de custos. Em simultâneo, os stocks de<br />

segurança assumiram maior importância, uma<br />

disponibilidade que continua a ser premente.<br />

O ponto principal, tanto para a indústria<br />

como para os seus fornecedores e clientes,<br />

continua a ser “disponibilidade de recursos e<br />

disponibilidade de transporte”. Ainda assim,<br />

Sandra Santos defende que a indústria aprendeu<br />

muito e que os planos de contingência serão<br />

melhorados graças a esses ensinamentos.<br />

VOLATILIDADE VEIO PARA FICAR<br />

Já Carlos Ribas, da Bosch, lembra que as<br />

unidades de produção da empresa em<br />

Portugal viveram realidades muito diferentes.<br />

A unidade de Braga, vocacionada para a<br />

indústria automóvel, não passou incólume<br />

à crise dos semicondutores, especialmente


26<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

porque durante o confinamento a venda de<br />

eletrodomésticos e de máquinas e ferramentas<br />

disparou, absorvendo dentro do grupo uma<br />

boa parte dos mesmos. A crise dos transportes<br />

teve o seu impacto, tanto a nível terrestre<br />

como marítimo e, “depois, já em 2021, dá-se<br />

um tremor de terra no Japão e ficámos sem<br />

um fornecedor de semicondutores, o que<br />

constituiu mais um problema com que nos<br />

defrontámos”, a que ainda se veio juntar um<br />

conjunto de outros imponderáveis, como o<br />

encalhamento do navio no Canal do Suez.<br />

Enquanto que as outras unidades de produção<br />

bateram recordes de vendas, a de Braga perdeu<br />

cerca de 30% daquilo que tinha previsto<br />

faturar. “Estamos a viver numa volatilidade<br />

completamente imprevisível, mas a que nos<br />

vamos acostumando e aprendendo a superar de<br />

forma positiva”, destacou Carlos Ribas.<br />

PLANEAMENTO CONSTANTE<br />

Do lado da Sumol+Compal, Jaime Cardoso<br />

lembrou que antes da pandemia, porque<br />

a empresa tem fábricas fora de Portugal e<br />

exporta para mais de 60 países, o Brexit e<br />

o que se verificou nos mercados asiáticos<br />

deram-lhes sinais dos “problemas que<br />

estavam para chegar quando temos cadeias<br />

de abastecimento e de exportação longas”.<br />

Por outro lado, o canal HORECA simplesmente<br />

parou. E a montanha russa que se seguiu de<br />

confinamento/desconfinamento colocou-<br />

-lhes grandes desafios, “pelas alterações que<br />

isso implicou no que era o habitual perfil de<br />

consumo, não só de volumes e de canais de<br />

destino, mas também pelas modificações<br />

que se registaram no perfil do consumidor e<br />

nas suas opções”. Portanto, mudou o perfil<br />

do mercado e a forma como o mesmo passa<br />

a operar. E Jaime Cardoso não escondeu que<br />

“todos os processos e todos os modelos com<br />

que funcionamos em termos de demand<br />

planning, aprovisionamento, deixaram de dar<br />

uma resposta cabal às novas necessidades”. A<br />

desregulação súbita implicou a adaptação dos<br />

modelos. Os ciclos de planeamento deixaram<br />

de existir e passou-se a viver em planeamento<br />

constante. Fundamental para a Sumol+Compal<br />

foi também a proteção dos fornecedores “e<br />

garantir que estariam preparados, bem como a<br />

dos clientes, especialmente os mais pequenos,<br />

com os quais esperávamos contar num<br />

processo de retoma”. Não menos importante,<br />

como lembrou o gestor, foi “não pôr em causa<br />

projetos estruturantes que tínhamos em curso,<br />

ou que estávamos a desenvolver na área das<br />

operações, na perspetiva industrial e do ponto<br />

de vista logístico”.<br />

A VANTAGEM DA PROXIMIDADE<br />

A Altri tem três unidades industriais em<br />

Portugal, produzem fibra celulósica sustentada<br />

para clientes industriais “tendo como mercado<br />

principal a Europa, onde temos cerca de 90%<br />

das nossas vendas e na Europa competimos<br />

fundamentalmente com produtores sul<br />

americanos”, começou por explicar Hermano<br />

Sousa. “Passámos do just in time para o just in<br />

case, com os clientes a quererem naturalmente<br />

proteger-se face à insegurança nas cadeias<br />

de abastecimento”. O responsável da Altri<br />

extrai de tudo o que se viveu uma importante<br />

mensagem para o futuro: “não somos arautos<br />

das desglobalização, mas sentimos da parte<br />

dos nossos clientes uma forte necessidade<br />

de se protegerem contra cadeias de<br />

abastecimento longas. Nunca como agora<br />

foi uma vantagem tão grande ter produtores


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

domésticos, proteger uma parte das compras<br />

localizando-as mais perto de casa”.<br />

Integração, fiabilidade, proximidade, tanto<br />

a montante como a jusante, passaram a<br />

estar na lista de prioridades destes gestores,<br />

como temas normais de logística e supply<br />

chain, merecendo cada vez mais ênfase. Em<br />

jeito de conclusão, Alcibíades Paulo Guedes<br />

salientou que tudo o que se viveu nas<br />

cadeias de abastecimento, e ainda se está<br />

a viver, “levou-nos a antecipar, a precipitar<br />

e a evoluir mais rapidamente e é muito<br />

positivo na perspetiva da gestão em geral”.<br />

Não menos importante é a capacidade de<br />

decisão em tempo real, a autonomia das<br />

equipas e o constante planeamento e até<br />

replaneamento, “que nos ensina a todos<br />

alguma coisa sobre as nossas empresas e<br />

a forma como nos organizamos. E não nos<br />

esqueçamos disto, para evitar que daqui a<br />

uns anos estejamos outra vez verticalizados,<br />

quando tudo isto que as empresas têm vivido<br />

exige autonomia, capacidade de decisão,<br />

células de comunicação. São aprendizagens<br />

que devem ficar, porque se a logística é cada<br />

vez mais crítica no mundo global para as<br />

empresas, deve ser gerida como tal”, concluiu,<br />

não sem antes lembrar que o elefante na sala<br />

é e vai continuar a ser a sustentabilidade,<br />

sobressaindo como fundamental e um<br />

grande desafio para o futuro das cadeias de<br />

abastecimento. •


28<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Grupo Pinto Brasil<br />

Texto: Dora Assis<br />

“PREOCUPAM-ME COISAS<br />

COMO ESTRATÉGIA,<br />

PROCESSOS E INOVAÇÃO”<br />

Pinto Brasil é um grupo empresarial com<br />

mais de 30 anos. Nasceu ligado à indústria<br />

metalomecânica, mas ampliou a sua<br />

atuação e hoje quando se fala de indústria<br />

4.0, automação ou robótica, no chão de<br />

fábrica ou na intralogística, o nome é<br />

incontornável. António Brasil, o CEO, está<br />

consciente da conjuntura mas mais do que<br />

olhar para os problemas, gosta de se focar<br />

nas soluções e nas oportunidades. E as do<br />

grupo estão no centro da Europa.


SCM Supply Chain Magazine 29


30<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

A<br />

necessidade de produzir mais, melhor<br />

e mais depressa, o aumento de<br />

complexidade das operações nas cadeias<br />

de abastecimento ou o desenvolvimento<br />

exponencial do comércio eletrónico levam as<br />

empresas a procurar soluções que as ajudem a<br />

impulsionar o seu crescimento e a responder<br />

ao mercado. E é aí que se posiciona a Pinto<br />

Brasil concebendo e produzindo linhas de<br />

montagem de vanguarda e desenvolvendo<br />

e introduzindo soluções inovadoras na<br />

intralogística.<br />

António Brasil é sobretudo um homem<br />

pragmático, que gosta de sair da zona de<br />

conforto, porque é aí que se cresce e inova e é<br />

sem hesitação que diz que tem aprendido mais<br />

nestes três anos de “anormalidade” do que nos<br />

20 anteriores.<br />

SCM - Os acontecimentos dos últimos dois<br />

anos impactaram de forma muito significativa<br />

as indústrias, as cadeias de abastecimento e<br />

consequentemente as economias mundiais.<br />

Como é que olha para a atual conjuntura e<br />

para este “novo anormal”, nomeadamente na<br />

vossa atividade industrial e tecnológica?<br />

António Brasil > Eu diria que aconteceram<br />

muitos “anormais” nestes dois ou três anos.<br />

As pessoas estavam habituadas a uma vida<br />

sem grandes disrupções e, de repente, fomos<br />

confrontados com várias e com situações<br />

sem precedentes. Acho que aprendi mais<br />

nestes três anos do que nos 20 anteriores. E<br />

o problema é que isto ainda não acabou. Hoje<br />

não dou nada por garantido. Sou uma pessoa<br />

que nunca está bem com o “status quo” e<br />

em certa medida sou inconformado, no bom<br />

sentido claro, no sentido de gostar de inovar.<br />

Já em situações passadas procurei olhar para<br />

situações de crise como uma oportunidade.<br />

Há empresas que em momentos de crise<br />

morrem; há as que sobrevivem; outras crescem<br />

António Brasil, CEO do Grupo Pinto Brasil<br />

e diferenciam-se. Conheço empresas que<br />

estiveram à beira do fim em momentos de<br />

crise e que cresceram exponencialmente de<br />

um mês para o outro, simplesmente porque<br />

entraram num novo segmento de mercado<br />

devido à pandemia. Ou seja, algo que num<br />

contexto normal nunca teria sido uma<br />

ambição para elas.<br />

A verdade é que os seres humanos têm<br />

uma capacidade de adaptação extraordinária,<br />

que normalmente só se revela em situações<br />

extremas e quando somos colocados à prova,<br />

caso contrário a maioria não sai da sua zona de<br />

conforto. Tem sido desafiante. Eu diria que na<br />

indústria, por exemplo, não estava habituado<br />

a ruturas na cadeia de abastecimento e<br />

quando um fornecedor nos dava um lead time<br />

de cinco semanas já era um problema, pois<br />

estávamos confortavelmente habituados a ter<br />

entregas de um dia para o outro. Hoje fala-se<br />

em 12 e 14 meses, ou até de alterações na<br />

lista de materiais - aquilo que é a base de um<br />

produto - por rutura ou descontinuidade dos<br />

componentes no mercado. Isto era impensável,<br />

implica adaptabilidade e uma nova forma de<br />

estar no mercado.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

A Pinto Brasil é uma empresa industrial,<br />

tecnológica, que atua no setor da automação<br />

e da robótica e muito focada no contexto<br />

internacional e, aí, eu diria que estamos em pé<br />

de igualdade e a debatermo-nos todos com as<br />

mesmas dificuldades no contexto europeu.<br />

Digitalização, automação, robótica… a<br />

atual conjuntura acelerou ou desacelerou esta<br />

movimentação? A indústria 4.0 tem criado as<br />

oportunidades esperadas?<br />

> Automação e robótica não é uma questão<br />

de Portugal, é uma questão global e eu diria<br />

que ainda está tudo para fazer e os grandes<br />

investimentos ainda estão para acontecer,<br />

embora seja verdade que algumas indústrias<br />

já têm automação há 40 anos. Naturalmente<br />

que os investimentos acontecem primeiro em<br />

contextos que têm condições para valorizar<br />

os mesmos. Há uma visão estratégica que é<br />

muito importante e que passa por conectar<br />

os processos do inbound ao outbound ao<br />

longo da cadeia de transformação dentro<br />

da fábrica, porque nós podemos ter, por<br />

exemplo, processos altamente digitalizados<br />

na logística, mas depois quando olhamos<br />

para dentro da fábrica… Portanto, estes<br />

processos vieram para ficar por algumas<br />

décadas. É que é preciso fazer mas também<br />

é preciso maturar, porque já existem AGV’s<br />

há algumas décadas. Mas quantas empresas<br />

têm AGV’s? Eu diria que 90% não tem. Todas<br />

as empresas têm um ERP de gestão, mas a<br />

maioria das empresas não tem um sistema<br />

de planeamento e controlo de produção. A<br />

digitalização só acontece de duas formas:<br />

ou porque é imposta ou porque há visão da<br />

gestão alinhada nesse progresso e para isso é<br />

preciso investimento, recursos que suportem<br />

o sucesso do investimento. E também o<br />

envolvimento das pessoas, pois sem isso o<br />

processo é boicotado.


32<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Portanto, as oportunidades estão cá e<br />

vieram para ficar, não apenas em Portugal<br />

mas globalmente. Quanto mais rico for o<br />

contexto do país mais potencial existe para<br />

uma implementação massiva, porque o retorno<br />

do investimento é mais rápido e penso que<br />

Portugal se politicamente não ponderar fazer<br />

parte dos países ricos da Europa tem os dias<br />

contados. Enquanto empresa industrial que<br />

concorre com outros países maioritariamente do<br />

centro da Europa, sinceramente não estou muito<br />

preocupado, mas como português estou, claro.<br />

A Pinto Brasil foi considerada pela Logistics<br />

Tech Outlook como uma das 10 maiores<br />

empresas de soluções de robôs logísticos da<br />

Europa e Reino Unido. O que é que isto significa<br />

para si e que possibilidades abre à Pinto Brasil?<br />

> Obviamente que sinto orgulho, mas se<br />

quiser ser pragmático significa responsabilidade.<br />

Vamos continuar a trabalhar da mesma<br />

forma que temos feito até aqui e tentaremos<br />

aproveitar as oportunidades, porque certamente<br />

que muitas empresas ainda não nos conhecem<br />

e essa distinção dá-nos agora também mais<br />

visibilidade. Ambição e progresso são sempre<br />

incrementos de responsabilidade. É um trabalho<br />

de equipa e a consolidação do que temos vindo<br />

a fazer. Na minha perspetiva, o que interessa são<br />

pequenos passos e concretizações.<br />

A propósito dessa distinção recordou na<br />

altura a frase: “Never give up because great<br />

things take time!”. Pode entender-se este<br />

pensamento como um lema e a forma de estar<br />

do grupo?<br />

> É a forma de nós estarmos na vida e nos<br />

negócios. Não desistimos. Dou-lhe um exemplo:<br />

surge uma ideia. A ideia é para melhorar? Não<br />

tem problema, mudamos a fábrica 180º. Ou seja,<br />

não interessa qual seja a adversidade, nós não<br />

viramos as costas à possibilidade de melhorar<br />

algo. As grandes coisas nunca são feitas só por<br />

uma pessoa e nunca se fazem depressa.<br />

Há uns dias, um CEO da área da logística dizia<br />

que se pudesse espreitar a lista de preocupações<br />

dos gestores tinha a certeza que ia encontrar em<br />

todas elas: gestão de risco e incertezas, custos<br />

- energéticos e não só - e sustentabilidade.<br />

Também são essas as suas prioridades?<br />

> Não queria contrariar a perspetiva desse<br />

CEO, mas a verdade é que procuro não me<br />

envolver muito na perspetiva do problema,<br />

desde que não seja dentro de portas. Se o<br />

problema é uma conjuntura externa, eu aqui não<br />

posso fazer nada para o resolver e passo o dia a<br />

olhar para problemas sobre os quais não posso<br />

agir. Claro que não podemos fechar os olhos à<br />

adversidade, mas o que é que podemos fazer aí?<br />

Só desencadear algumas ações que possibilitem<br />

mitigar o seu impacto no nosso negócio.<br />

Preocupam-me coisas como estratégia,<br />

processos e inovação, pois é daí que nascem as<br />

oportunidades de melhoria, primeiro internas e<br />

depois para os nossos clientes. •


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34<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Procurement<br />

Conferência<br />

Texto: Fábio Santos<br />

LIDERAR A<br />

TRANSFORMAÇÃO<br />

Cabe ao procurement e às suas equipas, mais<br />

do que nunca, contribuir para a estabilidade<br />

das suas organizações e empresas. Equilibrar<br />

digitalização e políticas de sustentabilidade<br />

num cenário de incerteza, instabilidade<br />

global do ponto de vista social e económico,<br />

disrupções várias e preços em espiral é tudo<br />

menos tarefa fácil.


SCM Supply Chain Magazine<br />

35<br />

No passado dia 28 de outubro, Lisboa<br />

recebeu a edição de <strong>2022</strong> da Procurement<br />

Conferência, novamente em formato<br />

presencial. Foi um dia de intervenções<br />

e conversas que trouxeram a palco 20<br />

profissionais do setor das compras e<br />

procurement, onde o foco foi para os temas da<br />

atualidade que podem contribuir para que esta<br />

área e os seus profissionais possam “Liderar a<br />

transformação”. Sustentabilidade, tecnologia,<br />

digitalização e blockchain foram apenas alguns<br />

deles. Para quem não pôde estar, sumarizamos<br />

alguns desses insights e ideias-chave.<br />

Digital Procurement Survey <strong>2022</strong><br />

Logo após a abertura, a PwC, na voz de<br />

Mariana Sampaio Lino e Pedro Pinto de<br />

Barros, partilhou o Digital Procurement<br />

Survey <strong>2022</strong>, dando desde logo um contexto<br />

atualizado e global do setor. Entre as<br />

prioridades estratégicas apontadas pelas<br />

empresas, as principais foram a redução de<br />

custos, a transformação digital e a gestão de<br />

relacionamento com fornecedores.<br />

Outra das ideias apontadas é o crescimento<br />

cada vez mais acentuado da transformação<br />

digital dentro das empresas, que começa a ter,<br />

dentro da área de procurement, mais expressão<br />

ao nível da eficiência e simplicidade de<br />

processos, da transparência, rastreabilidade e<br />

equidade de processos, e contenção de custos.<br />

Não obstante, a acompanhar esse crescimento,<br />

90% das empresas apontou como importantes<br />

os temas de cibersegurança.<br />

Ao nível dos benefícios, para o procurement<br />

vão para além dos processos source-to-pay, e<br />

as empresas inquiridas apontaram que 60%<br />

deles estão relacionados com procure-to-end e<br />

source-to-contract, sendo os restantes pontos<br />

percentuais divididos entre análise de gastos e<br />

gestões a vários níveis.<br />

Até 2025 as empresas planeiam aumentar<br />

o investimento na digitalização de 41 para<br />

70%, e apontam como fatores críticos para<br />

o sucesso da digitalização de procurement<br />

aspetos organizacionais e humanos.<br />

Mesa-redonda I - Procurement<br />

insights: os desafios de quem<br />

lidera<br />

Após o primeiro momento de contextualização<br />

do setor, António Barbeta, da Tankpor, Luís<br />

Sobral, do Mercado Eletrônico, Alfredo<br />

Figueira, da Galp, e Hélio Pereira, da Mercedes<br />

Benz Portugal, reuniram-se num momento<br />

moderado por João Pedro Mendes, da<br />

APCADEC, para abordar “os desafios de quem<br />

lidera”.<br />

Um dos grandes temas abordados<br />

atualmente é a questão energética, visto<br />

que a guerra da Rússia com a Ucrânia está<br />

a dificultar o abastecimento de gás para a<br />

Europa. Alfredo Figueira começou logo por<br />

explicar que uma das decisões tomadas<br />

pela Galp após a invasão russa foi o corte<br />

de relações com empresas russas e com


36<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

parcerias russas. Um desafio adicional para a<br />

empresa energética, que passou não apenas<br />

pelo aumento do custo, mas também pela<br />

disponibilidade do mercado, que era escassa.<br />

estratégia da empresa. “Os riscos mudaram, a<br />

complexidade do nosso processo aumentou e,<br />

portanto, nós temos de responder a tudo isso”,<br />

comenta ainda.<br />

António Barbeta considera que as análises de<br />

risco são muito importantes, e que a vertente<br />

analítica é bastante importante para a tomada<br />

de decisões. Segundo apontou, durante este<br />

tempo de maior incerteza, houve uma mudança<br />

de mentalidade ao nível da gestão, e que os<br />

líderes e decisores procuraram ligar-se mais às<br />

operações e compreender mais diretamente as<br />

necessidades das suas operações.<br />

Luís Sobral, da Mercado Eletrônico, por sua<br />

vez, aponta que o futuro traz novos desafios<br />

para o setor das compras, e que este setor<br />

será decisivo para encontrar alternativas, não<br />

apenas individuais, mas também conjuntas,<br />

onde a tecnologia terá um papel mais do que<br />

importante, determinante.<br />

Nesse mesmo sentido, e pertencendo a um<br />

setor que foi muito afetado pela pandemia,<br />

guerra na Ucrânia e transição energética,<br />

Hélio Pereira considera importante que<br />

o procurement seja parte integrante da<br />

Procurement e marcas próprias –<br />

O impacto da sustentabilidade e<br />

da digitalização num mundo em<br />

transformação


Já com um olhar sobre os desafios para o setor,<br />

e debatidas algumas das principais tendências<br />

vindouras, Pedro Carmo, da Daymon, fala<br />

sobre a mudança de paradigma, em que o<br />

procurement passou de ser uma área associada<br />

à poupança para uma mais estratégica, e que<br />

acrescenta também outro tipo de valor.<br />

Como exemplo, aponta o desafio do Oceanário<br />

de Lisboa, que decidiu reformular toda a sua<br />

loja de modo a que esta seguisse os padrões<br />

de sustentabilidade defendida internamente. A<br />

preocupação da empresa mudou da poupança<br />

para a sustentabilidade, no entanto, apesar de<br />

haver uma menor preocupação com os custos,<br />

a loja também teria de ser autossustentável, o<br />

que criou uma necessidade de equilíbrio entre<br />

estas duas vertentes. Este nível de desafio já<br />

está a ser visível em grande parte das empresas<br />

atualmente.<br />

SCM Supply Chain Magazine 37


38<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Blockchain in procurement: Trust<br />

and transparency<br />

Alexandra Azevedo, da Quay, abordou a<br />

aplicabilidade da tecnologia blockchain ao<br />

setor das compras, e os benefícios que esta<br />

pode ter para garantir uma maior fiabilidade<br />

e transparência nas operações. A responsável<br />

apontou que o setor das compras deve estar<br />

mais focado em funções mais estratégicas do<br />

que operacionais, e que a tecnologia deve ser<br />

encarada como um apoio ao setor.<br />

Como construir uma cadeia de<br />

fornecimento mais sustentável,<br />

resiliente e ética<br />

A terminar o período da manhã, João Lemos,<br />

da Moody’s, teve o desafio de encarar<br />

o elefante na sala. Face a todas estas<br />

dificuldades, “Como construir uma cadeia de<br />

fornecimento mais sustentável, resiliente e<br />

ética”?<br />

O responsável abordou a temática da nova<br />

diretiva europeia due dilligence, que agora<br />

vem reforçar a necessidade de as empresas<br />

avaliarem toda a sua cadeia de abastecimento,<br />

e de terem uma visibilidade total dos<br />

seus fornecedores, e dos fornecedores<br />

dos seus fornecedores, para que todas as<br />

regulamentações sociais, ambientais e<br />

humanitárias sejam cumpridas.<br />

Mesa-redonda II - Sustentabilidade<br />

versus poupança<br />

Iniciando a sessão da tarde, Anabela Pinto, da<br />

Bondalti, e Cláudia Monteiro, do Grupo Montepio,<br />

juntam-se numa apresentação mais dinâmica e<br />

envolvente com a plateia, tendo como principais<br />

subtemas as palavras Talento, Ambiental e<br />

Risco. Com a ajuda e cumplicidade de Susana<br />

Guerreiro, as responsáveis abordaram mais<br />

a fundo um tema que também já tinha sido<br />

referido por Pedro Carmo: o equilíbrio entre a<br />

sustentabilidade e a poupança.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

Por um lado, é necessária a preocupação<br />

com a sustentabilidade, mas que, tal como<br />

Cláudia Monteiro apontou, não deve ser<br />

responsabilidade de um único departamento<br />

interno nas empresas, mas sim geral. Por<br />

outro lado, como salientou Anabela Pinto, é<br />

necessária uma maior visibilidade das cadeias<br />

de abastecimento para conseguirem reduzir os<br />

riscos, pois nem tudo se resume às poupanças.<br />

No entanto, tudo isto também depende de<br />

pessoas, e isso foi uma das ideias defendidas<br />

pelas profissionais em palco, a necessidade de<br />

encontrar pessoas com as skills necessárias<br />

para a área da negociação. “Negociação<br />

de um comercial não é a mesma coisa que<br />

negociação de um profissional de compras”,<br />

salientou Cláudia Monteiro.<br />

Transformação digital no<br />

procurement – Plataforma OMNIA<br />

Voltando à importância da tecnologia para a<br />

área de procurement, Hugo Duarte da Fonseca,<br />

da MAEIL, abordou as potencialidades da<br />

plataforma OMNIA e a forma como esta pode<br />

ajudar as empresas na transformação digital<br />

das suas áreas de procurement. O responsável<br />

apontou que o mercado procurava uma<br />

solução ágil e colaborativa, e que através das<br />

avaliações das necessidades e dos feedbacks<br />

dos clientes, desenvolveram uma solução<br />

que lhes permitisse responder e fazer face às<br />

dificuldades que as empresas sentiam.<br />

Savings today: Mission impossible?<br />

Rui Oliveira, da One Alliance, fez ecoar a<br />

clássica música dos filmes de James Bond, ao<br />

abordar o tema da poupança num momento<br />

em que tanto se fala em aumentos de custos.<br />

Uma das preocupações que o responsável<br />

cdefende que as empresas devem ter é, tal<br />

como apresentado ao longo do dia, com a<br />

tecnologia e transformação digital, enquanto<br />

ferramentas que podem apoiar na redução<br />

de custos, mas também a implementação de<br />

estratégias LEAN nas empresas, de forma a<br />

otimizar os processos.<br />

Entre outras recomendações, Rui Oliveira<br />

defendeu que é necessária uma revisão end-<br />

-to-end das operações, e cortar em etapas<br />

desnecessárias, avaliar ponto a ponto onde<br />

é possível encontrar novas oportunidades<br />

de poupança, e nota que, apesar da inflação,<br />

é fundamental estar atento aos pequenos<br />

detalhes, pois estes podem representar<br />

oportunidades de investimento.


40<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Mesa-redonda III - Missão:<br />

Negociar<br />

A terminar o dia, coube a Eduardo Almeida,<br />

da Bial, Gonçalo Serrenho, do Pestana Hotel<br />

Group, Marina Costa, da Portugália Restauração,<br />

e Vanda Veríssimo, da NOVA SBE, abordar o<br />

tema “Missão: Negociar”, uma das principais<br />

características do setor das compras e<br />

procurement, e talvez mesmo a mais humana.<br />

Com a ajuda de Hugo Gonçalves, da RSDG<br />

Human Capital, na moderação do painel, e<br />

após um dia repleto de olhares e abordagens<br />

ao estado do setor, as tendências futuras e<br />

as mudanças pelas quais passou, o próximo<br />

passo foi perceber o que falta melhorar e como<br />

adaptar as pessoas e as organizações a esta<br />

mudança.<br />

Uma das temáticas apontadas desde logo<br />

por Vanda Veríssimo foi a das relações , e como<br />

estas devem ser verdadeiramente de parceria<br />

e não apenas de negociação, procurando uma<br />

situação de win-win em que ambos os lados se<br />

apoiam mutuamente.


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

Eduardo Almeida destaca ainda que<br />

cada vez mais são necessários profissionais<br />

que, para além das capacidades técnicas,<br />

também possuam competências relacionais<br />

e comunicacionais, e ao nível da negociação,<br />

defende que é necessário assegurar algumas<br />

questões antes de avançar para o processo<br />

propriamente dito.


42<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Adicionalmente, Marina Costa destaca que<br />

o setor da restauração passou por uma época<br />

difícil durante a pandemia, e foi necessário<br />

adaptarem-se, mas que, “ao contrário do<br />

que se possa pensar, nem sempre temos de<br />

ser reativos, temos de ser, isso sim, muito<br />

proativos”, pelo que é necessário equilibrar<br />

estas duas vertentes estratégicas consoante as<br />

necessidades e áreas de atuação.<br />

A fechar o dia, Gonçalo Serrenho também<br />

destaca a transformação digital e a análise<br />

de dados como formas importantes de tomar<br />

decisões, mas não deixa de lado outro dos<br />

temas centrais do dia: a sustentabilidade.<br />

Uma das ideias que o responsável<br />

procurou transmitir foi a de que o tema da<br />

sustentabilidade vai muito além das ações das<br />

empresas e das ideias que são passadas para o<br />

exterior. Acima de tudo, terá de vir da missão<br />

e da visão da empresa o “querer fazer”, e só<br />

depois ir ao encontro das expectativas dos<br />

clientes.<br />

Foram estes alguns dos momentos altos<br />

do evento, mas só mesmo estando presente,<br />

fisicamente, para absorver todos os insights<br />

que foram sendo deixados, e para estabelecer<br />

aquele networking entre pares e com possíveis<br />

parceiros. •


SCM Supply Chain Magazine 43


44<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Making Intralogistics<br />

SMART together<br />

Texto: Fábio Santos<br />

NEM TUDO O QUE<br />

É POSSÍVEL FAZ<br />

NECESSARIAMENTE<br />

SENTIDO”<br />

Smartphones, smartwatches, smart TV…<br />

Hoje procuramos que todos os nossos<br />

gadgets diários sejam “smart”, e que<br />

cumpram tarefas diferentes das suas<br />

básicas, ou que realizem as suas funções<br />

autonomamente, eliminando cada vez<br />

mais a necessidade humana da equação.<br />

Foi precisamente a pensar SMART que<br />

a STILL apresentou as novidades da<br />

sua gama, durante uma conferência de<br />

imprensa em Hamburgo (Alemanha)<br />

nos dias 21 e 22 de setembro, sob o mote<br />

“Making intralogistics SMART together”.<br />

Tornar a intralogística inteligente, juntos.


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

A<br />

inovação tecnológica permite-nos hoje ter<br />

os mais diversos e inimagináveis objetos,<br />

mas o ser possível de criar nem sempre<br />

significa que seja uma boa ideia, ou que é<br />

prático, e por vezes descomplicar e desenvolver<br />

um equipamento mais simples, para utilizações<br />

mais ágeis, pode também ser uma solução. Esta<br />

foi uma das ideias defendidas por Frank Müller,<br />

vice-presidente sénior de Gestão de Marcas,<br />

quando durante a conferência de imprensa<br />

comentou que “nem tudo o que é possível faz<br />

necessariamente sentido”.<br />

Considerando que “os desafios do nosso<br />

tempo não podem ser enfrentados com uma<br />

única resposta”, o responsável apontou que<br />

para além de ser necessário ter uma oferta<br />

para tarefas exigentes, também é necessário<br />

ser volátil e ser capaz de responder às<br />

crescentes megatrends.<br />

“O standard já não basta”, defendeu<br />

o responsável, as empresas pedem<br />

personalização, e equipamentos que<br />

respondam rapidamente às suas necessidades<br />

específicas, e para isso é necessário contar<br />

também com uma oferta de empilhadores<br />

menos complexa, para aplicações mais simples,<br />

uma procura cada vez mais crescente pelo<br />

mercado.<br />

“A STILL enfrenta o futuro com uma<br />

orientação inteligente da marca, uma<br />

carteira de produtos alargada e um enfoque<br />

em soluções personalizadas”, avança a<br />

empresa, tendo cinco áreas de ação: energias<br />

alternativas, automatização, produtos,<br />

circularidade e serviços.<br />

NOVAS LINHAS PARA O NEGÓCIO<br />

Duas das novidades apresentadas pela<br />

empresa foram precisamente nesse sentido. As<br />

novas linhas “Xcellence” e “Clássica” surgem<br />

para responder às necessidades dos clientes,


46<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

com diferentes ofertas de complexidade e<br />

aplicabilidade nas operações. A primeira oferece<br />

uma tecnologia mais avançada, para aplicações<br />

exigentes, altamente variável e personalizável,<br />

tendo como peça central a futura série RXE,<br />

a próxima geração de empilhadores elétricos.<br />

Aos poucos, a nova linha irá substituir a série<br />

RX existente, em todas as classes e pesos, e<br />

adicionalmente estabelecerá novos padrões de<br />

eficiência energética e sustentabilidade.<br />

Os novos RXE 10-16C são os exemplos ao<br />

nível de eficiência energética, cumprindo<br />

as normas de eficiência DIN EN 16796, para<br />

estes equipamentos industriais. O consumo<br />

é 17% inferior ao que era possível com o seu<br />

antecessor, o RX 50, apesar da maior densidade<br />

do veículo.<br />

Por outro lado, a linha Clássica tem um<br />

maior foco nas operações mais simples e mais<br />

padronizadas, a um custo também reduzido. A<br />

empresa nota que esta linha se destina a atingir<br />

públicos-alvo e mercados nos quais tinha um<br />

papel menor.<br />

FALTAM PROFISSIONAIS<br />

QUALIFICADOS<br />

Fazendo face à escassez de profissionais do setor<br />

que sejam capacitados, o mercado está a investir<br />

cada vez mais na automação, procurando<br />

soluções rápidas de implementar, e adaptáveis<br />

aos negócios. As soluções de automação<br />

inteligentes são formas de responder a esta falta<br />

de recursos humanos, porém, esta também está<br />

dependente das infraestruturas disponíveis, que<br />

normalmente são demasiado estreitas.<br />

Uma das tecnologias em que o fabricante<br />

está a investir é ao nível do reconhecimento<br />

do objeto, para que o AGV consiga detetar, por<br />

exemplo, quando uma palete está ligeiramente<br />

inclinada face ao suposto, conseguindo adaptar-<br />

-se automaticamente a essas situações em<br />

vez de parar e esperar por suporte humano.<br />

“Empilhadores de autoaprendizagem que<br />

consigam lidar com condições desfavoráveis,<br />

uma separação e transporte inteligentes<br />

horizontais e verticais com ‘turtles’ e AGV


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

que sejam adequados para operações mistas”,<br />

comentou a empresa.<br />

ELÉTRICOS SUPERARAM<br />

A COMBUSTÃO<br />

Conforme a transição energética vai ocorrendo<br />

e a aceitação da eletrificação aumenta, a<br />

STILL teve de adaptar-se às necessidades de<br />

descarbonização das empresas, e desenvolver<br />

com maior rigor as tecnologias de propulsão,<br />

ao ponto de alcançarem, e mesmo superarem,<br />

os seus equivalentes a motor de combustão.<br />

O modelo elétrico RX 60 foi inclusive descrito<br />

pela STILL como um “assassino de motor de<br />

combustão”.<br />

Ao nível da tração elétrica, a STILL enumerou<br />

alguns suportes dos quais está dependente,<br />

desde logo da tecnologia de iões de lítio, que<br />

deve ser ainda mais impulsionada, através dos<br />

carregadores de bordo, que permitem que os<br />

empilhadores funcionem sem a necessidade de<br />

substituir as baterias. “Além disso, a tecnologia<br />

de baixo custo e de chumbo-ácido comprovado<br />

continuará a desempenhar o seu papel”, aponta<br />

ainda a empresa.<br />

Comparando as vantagens entre os diferentes<br />

combustíveis (chumbo-ácido, lítio ou célula<br />

combustível), a empresa apontou que os<br />

benefícios estão dependentes de vários fatores<br />

externos, como por exemplo o custo, duração ou<br />

emissões associadas.<br />

A STILL avançou que no próximo ano vão ser<br />

ainda lançados empilhadores da linha Xcellence<br />

com baterias de 24V, 48V e 80V, e para a linha<br />

Clássica de 48V, e que no futuro vão ter novas<br />

baterias para condições de frio.<br />

CARREGAMENTO INTELIGENTE<br />

No caso alemão, o custo da energia está<br />

associado ao pico mais alto de consumo<br />

energético, pelo que a gestão inteligente deste<br />

recurso é uma grande preocupação para as<br />

empresas. Para além disso, também há que<br />

ter em conta que nem sempre o equipamento<br />

que tem menos carga tem prioridade no<br />

carregamento, e sim o que vai ser utilizado de


48<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

seguida, e por mais tempo. Esta gestão pode<br />

parecer complicada, mas a empresa apresentou<br />

uma solução a ser lançada já no primeiro<br />

trimestre de 2023, o STILL Smart, procurando<br />

otimizar os carregamentos através de uma<br />

gestão inteligente.<br />

Através de um programa de monitorização<br />

e da comunicação com os empilhadores de<br />

lítio, é possível criar dashboards para analisar<br />

e controlar o estado da frota, momentos<br />

de pico no consumo energético e assim<br />

definir prioridades para o carregamento dos<br />

equipamentos, evitando carregar vários em<br />

simultâneo. Para já, encontra-se a terminar a<br />

fase de testes, mas a STILL apontou que este<br />

sistema poderá ser acedido tanto através de um<br />

computador como de um smartphone.<br />

“Os novos carregadores inteligentes são<br />

concebidos para ajudar a controlar os processos<br />

de carregamento de forma inteligente,<br />

distribuir a carga de forma mais uniforme e<br />

assim reduzir os picos”, explica a empresa, “isto<br />

permite poupanças significativas nos custos<br />

de eletricidade, com total disponibilidade dos<br />

empilhadores”.<br />

“TUDO A PARTIR DE UMA<br />

ÚNICA FONTE”<br />

Outra inovação a ser lançada no próximo ano, e<br />

após 20 anos de experiências em vários projetos,<br />

é a produção interna de células de combustível<br />

24V para os empilhadores. A produção irá<br />

ser feita em Hamburgo, tornando a STILL o<br />

primeiro fabricante de equipamento original no<br />

mercado europeu com a sua própria produção<br />

de células de combustível. Segundo avançou a<br />

empresa, no futuro os clientes receberão não<br />

apenas o empilhador, mas também a célula de<br />

combustível e o serviço correspondente, “tudo a<br />

partir de uma única fonte”.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

AS EMPRESAS DIZEREM<br />

QUE VÃO ACABAR COM<br />

AS EMISSÕES NÃO É<br />

UM OBJETIVO. É UM<br />

DEADLINE<br />

Esta tecnologia é vista pela empresa com<br />

grande potencial, face às crises atuais de<br />

combustíveis.<br />

PRIMEIRO EMPILHADOR<br />

CIRCULAR EM ESTUDO<br />

Durante a apresentação sobre circularidade<br />

foi realçado que “as empresas dizerem<br />

que vão acabar com as emissões não é um<br />

objetivo. É um deadline”. Cada vez mais os<br />

fornecedores fazem parte das estratégias de<br />

sustentabilidade dos clientes, acompanhando<br />

também os rigorosos requisitos legais.<br />

Tendo isso em conta, a STILL procura dar<br />

uma resposta inteligente, através de uma<br />

“estratégia de circularidade consistente”.<br />

“Esta estratégia baseia-se na prevenção<br />

consistente de resíduos e reciclagem de<br />

recursos em todas as áreas que têm a ver<br />

com a criação, utilização e reciclagem de<br />

um produto STILL”, pelo que apresentou um<br />

estudo concetual. O novo empilhador elétrico<br />

RXE será o primeiro da sua classe a ter uma<br />

abordagem circular de ponta a ponta: através<br />

da cadeia de abastecimento, produção e, por<br />

fim, à utilização pelo cliente.<br />

“As poupanças de CO₂ previstas no estudo<br />

são de facto promissoras e, nesta fase, seriam<br />

as seguintes: 15% na cadeia de abastecimento,<br />

50% na produção, 25% na utilização”, avançou<br />

a empresa.<br />

SOLUCIONAR PROBLEMAS<br />

Para este fornecedor de soluções, as<br />

necessidades de intralogística das empresas<br />

vão para além de meras reparações e peças<br />

sobressalentes. Existe toda uma questão de<br />

relação/preço dos produtos, ecologia dos<br />

materiais e suporte pós-venda, especialmente<br />

com sistemas mais complexos.


50<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

SER INTELIGENTE SIGNIFICA<br />

TAMBÉM PENSAR PARA ALÉM<br />

DA PRÓPRIA MARCA<br />

Os serviços da STILL também contam<br />

com uma database para tentar solucionar<br />

os problemas à distância, através de casos<br />

semelhantes de outras entidades, sendo<br />

assim feito um primeiro diagnóstico ao<br />

problema, e caso esse não funcione, avançar<br />

para o contacto com o técnico, que através<br />

do portal tem disponível toda a informação<br />

do veículo, que poderá partilhar com um<br />

perito STILL em tempo real. Para além disso,<br />

o técnico passa a ter acesso a pequenos<br />

vídeos de tutorial para auxiliar na correção<br />

do problema, quando necessário.<br />

“Isto só pode ser otimizado com<br />

serviços realmente inteligentes. Máxima<br />

disponibilidade. Tempos curtos de<br />

inatividade ou de manutenção. Se possível,<br />

apenas uma pessoa de contacto. Técnicos<br />

de serviço rapidamente disponíveis.<br />

Aconselhamento especializado sobre a<br />

readaptação - uma organização inteligente<br />

do serviço pós-venda”, salienta o fabricante.<br />

TUDO NUM LOCAL<br />

Através do portal web de gestão de frotas<br />

STILL neXXt fleet, os clientes podem ter<br />

acesso a toda a informação relevante sobre<br />

os seus equipamentos industriais, e otimizar<br />

as suas frotas num único local, com total<br />

transparência. No entanto, a STILL aponta<br />

que “ser inteligente significa também pensar<br />

para além da própria marca”, e uma das


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

questões que os clientes tinham estava<br />

relacionada com a inserção de informação<br />

de equipamentos da concorrência numa<br />

plataforma própria.<br />

Através da integração dos dados numa<br />

plataforma externa, a STILL conseguiu<br />

contornar essa questão e oferecer o mesmo<br />

serviço ao cliente, com algumas melhorias:<br />

“o sistema estabelece novos padrões em<br />

termos de acessibilidade, disponibilidade,<br />

transparência, facilidade de utilização e<br />

meios de visualização”.<br />

FLEXIBILIDADE ENTRE MARCAS<br />

Independentemente da marca, a STILL<br />

considera importante que o cliente seja<br />

aconselhado e apoiado na decisão, até<br />

porque, no caso de grandes clientes, estes<br />

operam com frotas mistas e necessitam<br />

de conselhos abrangentes. “O objetivo é<br />

utilizar ferramentas inteligentes de análise<br />

de frota para mostrar aos clientes como<br />

podem operar as suas frotas com a máxima<br />

eficiência: desde a utilização otimizada de<br />

veículos até à gestão de energia e otimização<br />

da frota”.<br />

“Soluções inteligentes são exatamente o<br />

que os nossos mercados precisam. E, com<br />

isto, vamos levar a nossa história de mais<br />

de cem anos para uma nova era, juntamente<br />

com os nossos clientes”, conclui Frank<br />

Müller. •


52<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Soluções de<br />

gestão logística<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

UMA COLABORAÇÃO<br />

“REALMENTE URGENTE”<br />

A tecnologia está cada vez mais presente nos<br />

negócios ao redor do mundo, uma vez que<br />

esta pode trazer reais benefícios às cadeias<br />

de abastecimento. À vista disso, a Central<br />

Mensageiro decidiu colaborar com a Maeil e<br />

instalar um sof tware de gestão logística na<br />

sua empresa de modo a otimizar recursos,<br />

fidelizar mais clientes e aumentar o lucro.<br />

A<br />

Central Mensageiro associou-se à Maeil,<br />

empresa que fornece soluções de gestão<br />

logística e em integração de ERP, dadas<br />

as suas crescentes necessidades no que diz<br />

respeito à rastreabilidade. De acordo com<br />

Paulo Leão, Owner da Central Mensageiro,<br />

esta mudança foi necessária, “dado o<br />

acréscimo do volume de serviço e a expansão<br />

através do número de delegações. Portanto,<br />

não tendo o controlo diretamente físico,<br />

sobretudo, do que passava internamente, por<br />

ser física e geograficamente impossível, houve<br />

necessidade de automatizar alguns processos<br />

e daí avançarmos para esta solução”. Desta


Paulo Leão, Owner da Central Mensageiro<br />

SCM Supply Chain Magazine 53<br />

forma, a colaboração procurou responder a<br />

estas questões através do “desenvolvimento<br />

de uma solução Cloud que permitisse<br />

escalabilidade e a integração de todos os<br />

intervenientes neste processo, seja o pessoal<br />

administrativo, os estafetas ou camionistas, os<br />

clientes e os agentes/subcontratados quando<br />

o serviço é feito por terceiros”, explicou o<br />

Managing Partner da Maeil, Hugo Fonseca.<br />

Segundo o responsável foi utilizado o software<br />

de distribuição DMS, “uma ferramenta central<br />

na operação, desde o backoffice, os armazéns,<br />

os motoristas e os locais de entrega/recolha<br />

onde a plataforma SHoT é usada”. Esta solução<br />

permitiu não só “partilhar a informação da<br />

distribuição em tempo real, a emissão dos<br />

documentos (guias, manifestos e etiquetas),<br />

e a rastreabilidade de toda a operação”, como<br />

também “ter a possibilidade de análise de<br />

gestão através de um dashboard com vários<br />

indicadores de performance do negócio e da<br />

operação. Em muitos casos e para clientes com<br />

dimensão permite integração de pedidos de<br />

entrega e/ou recolha de forma automatizada”.<br />

Paulo Leão, por seu turno, refere que com<br />

esta parceria esperava “uma equiparação ao que<br />

já se fazia no mercado noutros operadores, se<br />

bem que não com a nossa natureza, nós temos<br />

uma natureza de distribuição, como eu gosto de<br />

dizer, realmente urgente”. O profissional refere<br />

ainda que “a maior parte das pessoas pensa na<br />

distribuição urgente como o D+1, distribuição<br />

no dia seguinte, e isso para nós não é urgente”<br />

já que “temos de objetivar os processos que<br />

são realmente essenciais porque muitas vezes<br />

temos vinte minutos, trinta minutos, para<br />

processar as encomendas e não oito a dez horas.<br />

Portanto, é um pragmatismo completamente<br />

diferente que tem de ser aplicado, a real<br />

dificuldade foi essa”. É desta maneira que<br />

aponta que para a empresa o serviço urgente<br />

“não é interessante. Interessante é o realmente<br />

urgente. Aqui a Central Mensageiro prestar um<br />

serviço de logística também não é interessante,<br />

é interessante prestar um serviço de logística<br />

exigente. Isto é, nós já o fazemos e daí que<br />

eu esteja à vontade para apresentar isto aos<br />

clientes”, garante.


54<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Além disso, o owner da Central Mensageiro<br />

confessa que “também me preparei<br />

para perceber como é que as aplicações<br />

funcionavam e como devia de me comunicar<br />

com os técnicos para fazer chegar a minha<br />

mensagem de forma a ser percebida por eles”.<br />

Não obstante, de acordo com Hugo Fonseca,<br />

este tem sido um “projeto “on-going” com<br />

várias versões e melhorias contínuas, à medida<br />

que os desafios da Central Mensageiro vão<br />

evoluindo com o desenvolvimento do negócio.<br />

Por exemplo, ao nível de infraestrutura Cloud<br />

(Azure), a solução também já evoluiu e cresceu,<br />

em função do aumento de número de pedidos<br />

de clientes ter aumentado significativamente”,<br />

o que representa uma vantagem da Cloud (a<br />

elasticidade) em ajustar a infraestrutura ao<br />

dimensionamento da solução, duma forma ágil.<br />

Paulo Leão refere que “ao usar uma<br />

aplicação como esta, ao ficarmos mais aptos,<br />

conseguimos mais clientes que tinham a<br />

necessidade de ter uma rastreabilidade,<br />

uma confiança do online, do registo, da<br />

consulta após um mês, após dois meses e<br />

então a mensagem foi passando de forma<br />

orgânica”, acrescentando que “o que é<br />

certo é que assim ficámos com uma aptidão<br />

diferente e um maior controlo. Melhorámos<br />

muito, simplificámos muito os nossos<br />

procedimentos também, a nossa forma de<br />

trabalhar e quem mais beneficiou, como é<br />

óbvio, foi o cliente”. Em suma, “temos tudo<br />

automatizado. Em termos de metodologia<br />

retirou-nos muito tempo, permitindo que<br />

agora aloquemos esse tempo a coisas mais<br />

úteis”.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Hugo Fonseca, Managing Partner da Maeil<br />

No que concerne a projetos futuros, confessa<br />

que o setor vai ter cada vez mais exigências e<br />

anuncia que “para que este caminho não nos<br />

castigue, o caminho do crescimento, temos<br />

de automatizar a faturação”. Ademais, a sua<br />

vontade é a de proximamente “capacitar a<br />

empresa com um módulo desta aplicação que<br />

nós ainda não utilizamos, que é o módulo de<br />

gestão de armazém.” Nos planos está poderem<br />

vir a fazer alguma logística, direcionada<br />

para nichos de mercado ou, como salienta<br />

Paulo Leão, “aquilo que nós queremos e nos<br />

propomos é fazer logística exigente de small<br />

picking”. •


56<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Texto: Dora Assis<br />

Inovação na SC<br />

A TECNOLOGIA<br />

É UMA “TOOLBOX”<br />

Thijs Hulstman é Director Global IT,<br />

Innovation & Digitalization da DHL Supply<br />

Chain e esteve em Portugal por ocasião do<br />

24.º congresso da APLOG, onde falou sobre<br />

as tecnologias-chave que a empresa utiliza e<br />

de que forma as implementa, promovendo<br />

o êxito das operações dos seus clientes. A<br />

conversa é sobre a inovação tecnológica na<br />

DHL Supply Chain e no setor da logística e o<br />

que esperar no futuro, tão incerto e volátil.


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

SCM - A pandemia redefiniu de alguma<br />

forma as necessidades da supply chain em<br />

termos de tecnologia?<br />

Thijs Hulstman > O que nós vimos nas<br />

nossas operações e dos nossos clientes foi<br />

que devido à pandemia e ao facto de muitas<br />

pessoas não poderem estar nas operações as<br />

necessidades em termos de robótica e também<br />

de inovação aumentaram exponencialmente.<br />

Por isso, desenvolvemos mais do que nunca<br />

muitos projetos nesse âmbito. Obviamente<br />

que este movimento também aconteceu<br />

com os nossos clientes e a prioridade nestes<br />

últimos dois ou três anos foi claramente<br />

digitalizar, digitalizar, digitalizar. É que<br />

também eles chegavam e diziam-nos: “agora<br />

compreendemos todo o valor acrescentado<br />

que esta robótica já pronta a funcionar nos<br />

pode trazer”. Foi, portanto, um casamento<br />

perfeito entre o nosso empenho em estar<br />

sempre na linha da frente em termos de<br />

novas soluções e a necessidade inesperada<br />

do mercado e dos clientes de terem respostas<br />

à altura de todos os constrangimentos e<br />

limitações desencadeadas pela COVID-19.<br />

Por vezes olha-se para a tecnologia como a<br />

cura para todos os problemas das cadeias de<br />

abastecimento. A mesma solução serve para<br />

todos?<br />

> Na abordagem que fazemos em termos<br />

de soluções, pomos em prática soluções<br />

customizadas de acordo com os padrões<br />

DHL, de forma a que o nosso negócio cresça<br />

e contribua para o êxito do dos nossos<br />

clientes. Agora, é óbvio que um casaco não<br />

é a mesma coisa que um carro e cada um<br />

requer necessidades diferentes em termos de<br />

manuseamento, pelo que nos empenhamos em<br />

desenvolver diferentes soluções de robótica<br />

como suporte aos diferentes setores em que<br />

Thijs Hulstman, DHL Supply Chain<br />

operamos para os nossos clientes.<br />

Desenhamos os nossos centros em função<br />

das operações que temos e do que é preciso<br />

fazer em termos de operações. Quase como<br />

se se tratasse de uma caixa de ferramentas:<br />

usa o martelo quando é preciso, pega na<br />

serra se necessário e, no fundo, é isso que<br />

acontece num armazém da DHL. Se é preciso<br />

fazer picking, temos robôs de picking, se há<br />

uma grande movimentação de paletes temos<br />

os AGV para levarem as paletes do ponto<br />

A ao ponto B. Não se aplica a máxima “one<br />

size fits all”, mas procuramos standardizar<br />

dentro possível tudo o que é standardizável,<br />

para podermos pôr em prática globalmente<br />

as nossas soluções. Estamos empenhados<br />

em acelerar a digitalização da cadeia de<br />

abastecimento de ponta a ponta. A nossa<br />

abordagem abrangente à inovação permite-<br />

-nos transformar rápida e eficazmente<br />

as operações dos nossos clientes com<br />

automatização. Mas não é só inovar. Para<br />

nós é fundamental que as soluções sejam<br />

escaláveis e flexíveis para responder a todos<br />

os desafios que se apresentam hoje às cadeias<br />

de abastecimento e aos nossos clientes.


58<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

É na tecnologia que está o segredo para as<br />

empresas vencerem a atual volatilidade da<br />

supply chain?<br />

> Sem dúvida. A razão pela qual<br />

conseguimos manter a promessa e continuar<br />

a servir os nossos clientes mesmo durante<br />

a pandemia COVID foi porque tínhamos<br />

investido muito em inovação e em<br />

digitalização e isso permitiu-nos continuar a<br />

funcionar nesse período, mas também perante<br />

todos os constrangimentos que entretanto têm<br />

vindo a afetar as cadeias de abastecimento.<br />

Para nós, implementar soluções de robótica<br />

não é uma forma de substituir pessoas, mas<br />

sim de retirar as pessoas de tarefas repetitivas<br />

e monótonas, que podem ser feitas por<br />

máquinas. MIW, ou seja, More Intelligent Work;<br />

no fundo, libertar as pessoas e o cérebro<br />

humano para trabalho “mais inteligente” e<br />

tarefas que realmente acrescentem valor às<br />

empresas e ao seu negócio.<br />

De acordo com a vossa experiência, em<br />

termos de tecnologias, a que é que a supply<br />

chain definitivamente não pode fechar os<br />

olhos, nem ignorar nos próximos anos?<br />

> Pelo que vamos ouvindo dos nossos<br />

clientes, na DHL continuamos à frente da<br />

nossa concorrência, mas a concorrência<br />

aproxima-se e a grande velocidade, pelo que<br />

não podemos descansar. Eu diria que data<br />

analytics é incontornável e todos os modelos<br />

que a mesma nos permite criar. Estamos a falar<br />

de soluções preditivas e de análise para os<br />

nossos clientes. É fundamental e possibilita-<br />

-nos aconselhar o cliente, por exemplo, sobre<br />

onde precisa de manter stock, que itens devem<br />

mudar de localização, como combinar soluções<br />

de transporte… aquilo que fazemos atualmente<br />

é implementar estas inovações tecnológicas<br />

baseados nas 12 tecnologias-chave que<br />

definimos e que apoiam todo o nosso negócio<br />

e é por aí que queremos continuar. •


SCM Supply Chain Magazine 59


60<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Portocargo<br />

Texto: Dora Assis<br />

“PENSOU-SE APENAS<br />

NO LUCRO FÁCIL”<br />

Os acontecimentos que têm vindo<br />

a registar-se nos últimos dois anos<br />

impactaram de forma muito concreta as<br />

operações logísticas, a distribuição de bens<br />

em todo o mundo e, consequentemente, as<br />

economias mundiais. Nada é normal por<br />

estes dias e, no entender de Mário de Sousa,<br />

CEO da Portocargo, o pior ainda está para<br />

vir. Na globalização “pensou-se apenas no<br />

lucro fácil”, diz.<br />

A<br />

Portocargo é uma empresa vocacionada<br />

para projetar, coordenar e executar<br />

todos os serviços relacionados com o<br />

transporte internacional de mercadorias e,<br />

enquanto transitário, tem sentido as várias<br />

tempestades que se abateram sobre as cadeias<br />

de abastecimento globais. À pandemia de<br />

COVID-19 sucederam-se acontecimentos<br />

como o encalhamento de um navio de<br />

grandes dimensões no Canal do Suez, a<br />

falta de contentores, o conflito na Ucrânia,<br />

a política Zero COVID da China, a falta de<br />

matérias primas, os problemas com a energia,<br />

a escalada de preços… Mário de Sousa, CEO<br />

da Portocargo, faz um balanço mais detalhado<br />

dos acontecimentos que marcaram o primeiro<br />

semestre de <strong>2022</strong> e mostra-se apreensivo em<br />

relação ao que ainda está para vir.<br />

Perante o dilema “enterrar a cabeça na areia<br />

para não apanhar COVID ou irmos à luta e<br />

ajudar toda a cadeia logística a continuar a<br />

funcionar o melhor possível, optámos pela<br />

segunda hipótese”, explica Mário de Sousa,<br />

lembrando que ”fomos chamados a operações<br />

completamente loucas, como foram os<br />

primeiros transportes de máscaras e EPI”, de<br />

que é exemplo o primeiro Antonov que chegou<br />

ao aeroporto do Porto.


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

Mário de Sousa, CEO da Portocargo<br />

FRAGILIDADES À VISTA<br />

A Portocargo tem grande exposição no extremo<br />

oriente, pelo que ainda antes de ser declarada a<br />

pandemia, “começámos a sentir reflexos do que<br />

se passava na China e noutros países anexos”,<br />

conta o CEO. Os capítulos seguintes já todos<br />

conhecemos. Primeiro o mundo confinou; a<br />

seguir a supply chain descarrilou. Os preços<br />

dispararam, a qualidade do serviço em muitos<br />

casos deteriorou-se e as fragilidades das<br />

cadeias de abastecimento ficaram expostas.<br />

“Andámos anos a pensar que a globalização<br />

era inevitável e quando ainda estávamos a<br />

subir a montanha, inesperadamente, demos<br />

um tombo. De repente, o just in time passou a<br />

ser o mau da fita e deu lugar ao just in case”,<br />

salienta. A situação passou a ser dramática e<br />

não melhorou de todo nos últimos meses.<br />

“De um momento para o outro, deixámos<br />

de ter acesso a recursos humanos, de forma<br />

transversal e em qualquer uma das atividades.<br />

Não sei para onde é que fugiram as pessoas,<br />

mas o facto é que esse é o grande drama dos<br />

últimos meses”, ilustra Mário de Sousa.<br />

EFEITO DOMINÓ<br />

A complexidade elevou-se a níveis nunca<br />

vistos, da gestão dos contentores, à gestão dos<br />

navios, passando pela gestão do transporte<br />

aéreo e Mário de Sousa pega em alguns casos<br />

concretos: “Chega-se a um porto com um<br />

camião para fazer o levantamento de uma<br />

máquina, por exemplo, algo que anteriormente<br />

se faria numa hora, neste momento pode<br />

demorar um dia inteiro. Não só os navios andam<br />

muito mais lentos e levam muito mais tempo<br />

para fazer o percurso da rotação da viagem,<br />

como depois a distribuição local é afetada por<br />

todas estas entropias que se têm criado e é<br />

impossível que tudo volte à normalidade de um<br />

dia para o outro, pois não é assim que as coisas<br />

funcionam”.<br />

Todas estas situações de bloqueio e de<br />

constrangimentos criam depois um efeito<br />

de dominó nas cadeias de abastecimento.<br />

“Estamos a falar de situações em que o retorno<br />

à normalidade vai ser muito lento e dificilmente<br />

vamos conseguir, para já atenuar, os efeitos<br />

que esta crise está a provocar, tanto na Europa<br />

como nos Estados Unidos”.<br />

A situação será agravada se a guerra Rússia<br />

- Ucrânia se prolongar por muito mais tempo.<br />

“Em vez de pensarmos de forma global, como<br />

até há pouco, agora estamos a ser obrigados<br />

a pensar em blocos. Onde dantes estávamos


62<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

a construir pontes, agora estamos a construir<br />

muros. A tendência será para que cada bloco<br />

se feche sobre si próprio e crie entropias para o<br />

outro”, lamenta o responsável da Portocargo.<br />

DESLOCALIZAÇÃO FOI UM ERRO<br />

O gestor defende que o grande erro que se<br />

cometeu foi do ocidente e político e “agora<br />

corremos o risco de viver o oposto, pois<br />

queremos proteger-nos a nós. A verdade é<br />

que ninguém pensou que a deslocalização da<br />

produção para outros continentes envolvia<br />

todos estes riscos. Pensou-se apenas no lucro<br />

fácil”.<br />

As consequências, no seu entender, estão à<br />

vista. “Ao longo do tempo em que todos estes<br />

bens foram produzidos noutros continentes,<br />

com custos muito mais baixos, uma parte das<br />

receitas foi ficando em offshores, para ser<br />

utilizado em tudo menos na dinamização das<br />

economias locais, o que nos conduziu à situação<br />

em que nos encontramos hoje e totalmente<br />

dependentes de algumas zonas do globo”.<br />

Não termos escala também não ajuda<br />

no atual cenário que se vive. O empresário<br />

lembra que o tecido industrial nacional é<br />

constituído maioritariamente por pequenas<br />

e médias empresas “e excluo da equação as<br />

multinacionais instaladas em Portugal, porque<br />

nada daquilo que produzem e transportam é<br />

decidido cá, mas sim pela casa-mãe através de<br />

contratos globais de transporte e logística”.<br />

Todos os custos logísticos dispararam,<br />

afetando a competitividade das empresas,<br />

“assim como o seu acesso a mercados que são<br />

facilmente abastecidos por outros mais fortes<br />

do que nós e a preços mais competitivos. Isto<br />

quer dizer que se calhar temos aqui um cenário<br />

que é bem mais grave do que aquilo que os<br />

nossos políticos querem admitir”.<br />

GIGANTES DOMINAM<br />

O gestor não exclui do atual cenário os<br />

gigantes globais do transporte, pois na sua<br />

opinião também contribuem para o agravar<br />

da situação. “Repare que, no fundo, há nove<br />

companhias, que se agrupam em três alianças.<br />

Ou seja, basicamente há três alternativas de<br />

serviços, o que, queira-se ou não, facilita a<br />

cartelização. E aquilo a que assistimos é a estas<br />

companhias a comprarem tudo o que há para<br />

comprar e a dominarem todas as atividades ao<br />

longo da cadeia logística, mas a UE não parece<br />

estar preocupada”.<br />

A CLECAT, que representa as empresas<br />

logísticas e transitárias da Europa, e que tem<br />

assento em Bruxelas, já fez sentir as suas<br />

preocupações à Comissão Europeia, mas sem<br />

qualquer efeito prático.<br />

“Da mesma forma que não vimos problema<br />

algum aquando da deslocalização da produção,<br />

agora estamos a fazer exatamente o mesmo”,<br />

diz Mário de Sousa, aproveitando para<br />

questionar: “será que vão ser estes gigantes<br />

que vão substituir os estados e posteriormente<br />

fazer a repartição dos seus lucros pelos mais<br />

necessitados? Este é que é quanto a mim o<br />

grande problema que ninguém quer ver”.<br />

“Basta olhar para a história. Há ciclos que<br />

se repetem. Estamos a gastar muito mais do<br />

que aquilo que produzimos, mas os balões de<br />

oxigénio acabam”, alerta o CEO da Portocargo.<br />

É o novo anormal do pós-pandemia, cujas<br />

consequências ainda não foram compreendidas<br />

e não se sabe como ou quando vai acabar.<br />

Enquanto que em relação à pandemia todos<br />

acreditavam que era uma questão de tempo e<br />

que, mais tarde ou mais cedo, a ciência acabaria<br />

por travar o vírus, o mesmo não acontece com<br />

os colapsos económicos. •


SCM Supply Chain Magazine 63


64<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Descarbonização<br />

Nota: O artigo foi primeiramente<br />

publicado no Jornal Económico,<br />

tendo os autores dado autorização<br />

para a republicação do mesmo.<br />

O DESAFIO DA<br />

DESCARBONIZAÇÃO DAS<br />

ENTREGAS LAST-MILE<br />

Face às necessidades atuais das empresas ao<br />

nível da sustentabilidade, um dos desafios<br />

está em reduzir a pegada ambiental das<br />

entregas last-mile, e várias são as medidas<br />

que as empresas podem adotar para acelerar<br />

a descarbonização das suas cadeias. Num<br />

artigo de opinião conjunto, os responsáveis<br />

da EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.,<br />

Miguel Cardoso Pinto, Partner, Advanced<br />

Manufacturing and Mobility Leader, e Miguel<br />

Poeira, Manager da empresa, apontam<br />

algumas dessas medidas.<br />

As entregas last-mile irão continuar<br />

a crescer com o e-commerce, sendo<br />

crítica a sua descarbonização em todo o<br />

ecossistema.<br />

A adoção do e-commerce por uma fatia<br />

cada vez maior de consumidores tem<br />

levado ao crescimento exponencial dos<br />

serviços de entrega last-mile, contribuindo<br />

negativamente para a pegada ecológica desta<br />

indústria.<br />

Em 2020, ainda num cenário pré pandemia,<br />

o Fórum Económico Mundial previa um<br />

aumento superior a 30% das emissões<br />

geradas pelas entregas last-mile até 2030<br />

nas 100 cidades mundiais mais relevantes,<br />

tornando a sua descarbonização um tema<br />

pertinente.<br />

A mudança mais imediata é a alteração da<br />

tipologia de veículo utilizados. A eletrificação<br />

das viaturas de entregas (cujas emissões são<br />

menos de metade das movidas a diesel) ou<br />

e-cargo bikes (que se prevê que poderiam


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

substituir imediatamente cerca de 10% das<br />

viagens num centro urbano como Londres),<br />

o futuro passará igualmente por veículos<br />

autónomos, drones e droids, cuja adoção<br />

em massa requer alterações na legislação e<br />

testes mais avançados de segurança.<br />

A eletrificação em massa dos veículos de<br />

distribuição é um dos principais obstáculos<br />

à descarbonização mais imediata das<br />

entregas last-mile. Os modelos existentes<br />

são limitados, existem frequentes ruturas<br />

de stock, a autonomia média ainda é<br />

insuficiente, e são necessárias adaptações<br />

às infraestruturas logísticas para permitir<br />

o carregamento elétrico. No entanto, estes<br />

obstáculos serão ultrapassados com a<br />

evolução natural da tecnologia e regulação<br />

no setor automóvel. Soluções inovadoras, tais<br />

como as estações de substituição de baterias,<br />

poderão acelerar este caminho, reduzindo o<br />

downtime dos veículos.<br />

Adicionalmente, é necessário aliviar a<br />

pressão sobre o tráfego urbano, por exemplo<br />

através da implementação de modelos<br />

de entrega maioritariamente noturnos,<br />

vias especiais para circulação de veículos<br />

de entregas, e sistemas inteligentes de<br />

gestão dinâmica do estacionamento. Estas<br />

soluções contribuem para a redução do<br />

estacionamento em segunda fila, e para<br />

os momentos de paragem devido ao<br />

congestionamento.<br />

Os próprios espaços urbanos podem<br />

contribuir para esta transição através da<br />

adaptação de infraestrutura existente.<br />

A reconversão parcial de parques de<br />

estacionamento subutilizados em micro<br />

centros de distribuição locais dedicados<br />

exclusivamente a uma área específica<br />

permitiria reduzir os tempos e extensão<br />

das redes de entregas, privilegiando meios<br />

alternativos e soft de entregas.<br />

Por fim, o consumidor pode desempenhar<br />

um papel relevante. A rapidez de entrega é<br />

um fator crítico na decisão de mais de metade<br />

dos consumidores, mas esta flexibilidade tem<br />

um preço – de acordo com um estudo do MIT,<br />

as entregas rápidas aumentam os custos em<br />

cerca de 70% e levam a 15% de emissões<br />

poluentes adicionais. Assim, é importante<br />

incentivar escolhas mais sustentáveis<br />

junto do consumidor, tais como compras e<br />

devoluções conjuntas (bundling) ou a recolha<br />

de encomendas em cacifos próximos da zona<br />

de residência ou local de trabalho.<br />

As soluções tecnológicas também poderão<br />

contribuir para reduzir as emissões poluentes<br />

da atividade logística, nomeadamente os<br />

algoritmos de previsão de procura, análise<br />

dos comportamentos dos condutores e<br />

otimização de rotas de entrega.<br />

Existem diversas alternativas para<br />

acelerar a descarbonização das entregas<br />

last-mile, mas nem todas imediatas, e a sua<br />

implementação conjunta pode requerer uma<br />

profunda disrupção no setor no sentido da<br />

colaboração entre Municípios, Operadores e<br />

Consumidores. •


66<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Texto: Dora Assis<br />

Klog<br />

“OS EMPRESÁRIOS TÊM<br />

A RESPONSABILIDADE<br />

DE CRIAR VALOR”<br />

Nasceu em 2012, num dos piores<br />

momentos da economia portuguesa e em<br />

plena Troika, mas havia uma meta: criar<br />

um projeto ibérico inovador no setor do<br />

transporte e nada deteve Egídio Lopes e<br />

José Cardoso, actuais managing director<br />

e CEO. Com capitais próprios, avançaram,<br />

e criaram a Klog. 10 anos depois é “uma<br />

marca sexy no mercado e muitas vezes<br />

já são os clientes que querem comprar o<br />

produto Klog e não o contrário”.


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

Para o managing director da Klog, o mais<br />

difícil foi do zero chegarem até aqui e<br />

num mercado como o nosso fechar o ano<br />

com uma faturação que se deve situar nos<br />

130 milhões de euros. Os próximos 10 anos<br />

serão mais fáceis e a meta está definida:<br />

terem a capacidade de gerir com inteligência<br />

e humildade tudo o que já construiram. Egídio<br />

Lopes, na primeira pessoa.<br />

Egídio Lopes, managing director KLOG<br />

SCM - A Klog nasceu num dos piores<br />

momentos da economia nacional. Ainda<br />

assim, pode dizer-se que o trajeto tem sido<br />

de sucesso e muito positivo. Como é que olha<br />

para este caminho e como é que se explica o<br />

crescimento contínuo?<br />

Egídio Lopes > Quando criámos a empresa<br />

em 2012, estávamos em período de plena<br />

Troika, a situação não era fácil. As empresas<br />

não podiam financiar-se na banca, as taxas<br />

de juros eram elevadíssimas e tivemos<br />

que nos auto financiar. Ou seja, eu e o José<br />

Cardoso avançámos com capitais próprios.<br />

A nossa missão era - e continua a ser -<br />

construirmos um projeto ibérico inovador<br />

e foi esse o pensamento estratégico que<br />

nos guiou e ainda guia, 10 anos depois.<br />

Ou seja, chegarmos ao mundo da logística<br />

para sermos apenas mais um operador<br />

terrestre, num mercado onde já estavam<br />

os principais tubarões da Europa, não fazia<br />

muito sentido. Não queríamos ser apenas<br />

mais um, queríamos diferenciar-nos pela<br />

positiva e ser uma referência no mercado<br />

em determinados negócios onde os outros<br />

não estavam e termos também a capacidade<br />

de fidelizar os nossos clientes e os nossos<br />

parceiros, nomeadamente os oriundos<br />

da ferrovia e do short sea. E foi isso que<br />

fizemos, tanto no intermodal, como nos<br />

modos aéreo e marítimo. Ou seja, aquilo<br />

Bilhete de Identidade<br />

Egídio Lopes conta com um percurso de 15<br />

anos como diretor de setor e agência a nível<br />

nacional, em multinacionais de logística e<br />

transporte.<br />

Assumiu funções na Graveleau & Dachser<br />

Portugal, SA, sendo responsável nacional pela<br />

área da produção, entre novembro de 2000 e<br />

setembro de 2004.<br />

Foi ainda diretor nacional de produção, entre<br />

outubro 2004 e setembro 2006, e diretor de<br />

agência, entre outubro 2006 a julho de 2012.<br />

Em julho de 2012 funda com José Cardoso a<br />

KLOG.<br />

que sempre passámos para dentro foi:<br />

independentemente daquilo que venha a<br />

acontecer, nós temos que trabalhar para ser<br />

os melhores. E é isso que temos vindo a fazer.<br />

Tínhamos capacidade para tal, o mercado<br />

também o reconheceu e tem estado nos<br />

diferentes quadrantes connosco.


68<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

Com o tempo também acabaram por ir<br />

consolidando e alargando a vossa atuação.<br />

Quais são as áreas de negócio que atualmente<br />

têm maior peso na vossa atividade?<br />

> São o intermodal na combinação camião,<br />

short sea shipping e ferrovia, que dos 130<br />

milhões de euros de negócio que devemos<br />

faturar em <strong>2022</strong>, é responsável por cerca de<br />

100 milhões; o aéreo e marítimo, com um peso<br />

que deve andar perto dos 20 milhões de euros e<br />

depois temos o terrestre e a logística contratual<br />

que correspondem a aproximadamente 10<br />

milhões de euros. Nesta última área também<br />

temos o Magreb e Norte de África, onde somos<br />

relativamente fortes. Mas claramente o peso<br />

vai para o intermodal e para o transporte aéreo<br />

e marítimo.<br />

E no que diz respeito à estratégia do<br />

Governo de apostar na ferrovia e ver o comboio<br />

como estratégico, como é que avaliam essa<br />

decisão e que perspetivas é que a mesma vos<br />

abre, pensando no valor que sempre atribuíram<br />

ao transporte ferroviário de mercadorias?<br />

> A nossa decisão e o nosso posicionamento<br />

não vão mudar por qualquer tipo de decisão<br />

ou apoio que posso existir, pois desde<br />

2013/2014 que temos a ferrovia como o<br />

nosso principal produto e aposta quando se<br />

fala de intermodalidade. Se há coisa em que<br />

não tínhamos dúvidas relativamente à nossa<br />

estratégia e ao projeto que tínhamos para a<br />

empresa era essa. Se existirem apoios e opções<br />

que possam ajudar a consolidar estratégias<br />

serão bem-vindos e reduzem alguns riscos<br />

relativamente a investimentos que fomos<br />

fazendo e que continuaremos a fazer.<br />

A definição de uma estratégia para o país<br />

e que se enquadre na que nós já temos,<br />

obviamente que isso é positivo. Regozijamo-<br />

-nos com o Plano Ferroviário Nacional, faz todo


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

o sentido apostar na ferrovia e isso só prova<br />

que estávamos certos há 10 anos com a nossa<br />

aposta quando começámos.<br />

Disse numa entrevista a um meio económico<br />

que nos próximos cinco anos queriam chegar<br />

a um volume de negócios de 250 milhões de<br />

euros em Portugal, Espanha e creio que Itália. O<br />

objetivo mantém-se? E, em caso afirmativo, que<br />

investimentos é que isso vai implicar por parte<br />

da Klog?<br />

> Estimamos nos próximos cinco anos realizar<br />

investimentos próximos dos 10 milhões de<br />

euros. Trabalhamos com parceiros e é verdade<br />

que não somos detentores de grande parte<br />

do hardware, especialmente na ferrovia. Não<br />

somos um operador com soluções integradas,<br />

somos um integrador e, como tal, munimo-<br />

-nos do que existe no mercado. Aquilo que<br />

implica investimentos da nossa parte é<br />

fundamentalmente ao nível de equipamentos<br />

que são transportados por essas unidades. Ou<br />

seja, a nossa orientação vai muito no sentido<br />

da aquisição de equipamentos mais eficientes<br />

no que diz respeito a reboques, contentores,<br />

plataformas porta-contentores e é aí que<br />

vamos continuar a apostar para podermos com<br />

os nossos parceiros de intermodalidade gerir<br />

as cargas com equipamentos nossos e não<br />

estarmos dependentes de equipamentos que<br />

sejam de quem nos presta o serviço. A nossa<br />

estratégia passa por na primeira e última milha<br />

sermos detentores do controlo do transporte<br />

com equipamentos e soluções próprias. No<br />

fundo, criar uma cadeia de abastecimento<br />

que seja controlada pela Klog e não estarmos<br />

dependentes de flutuações do mercado.<br />

E falando das cadeias de abastecimento e<br />

de todas estas disrupções a que temos vindo<br />

a assistir, que reflexos têm sentido na vossa<br />

atividade? E, por outro lado, o que é que todo<br />

este contexto alterou no comportamento e<br />

necessidades vosso e dos clientes?<br />

> Eu diria que até 2019 a coisa mais fácil<br />

que tínhamos era fazer planos quinquenais<br />

e orçamentos para os anos seguintes. A<br />

situação era relativamente previsível, tanto<br />

ao nível da inflação como dos mercados e não<br />

existia o nível de incerteza atual. Desde que<br />

há três anos com a pandemia confinámos, e<br />

nalguns casos até fechámos em alguns eixos<br />

de negócio, e agora desde 24 de fevereiro<br />

com a guerra na Ucrânia e toda a incerteza<br />

que trouxe para o mundo e para os mercados,<br />

independentemente de existirem planos a cinco<br />

anos, que continuam a existir, a estratégia, a<br />

forma de lá chegar e as ferramentas que temos<br />

que utilizar são distintas. Não o reconhecer é<br />

não perceber o mercado. Continuamos a ser<br />

muito ativos e sobretudo proativos, para não<br />

sermos confrontados com determinado tipo de<br />

problemas. Contudo, há aqueles problemas que<br />

não conseguimos evitar, como a volatilidade<br />

energética, e o mercado tem que a pagar, pois<br />

não é possível contornar a situação de outra<br />

forma. Não obstante, as oportunidades de<br />

negócio continuam a existir. Entendemos que o<br />

impacto que se vai sentir no consumo a breve<br />

prazo, entre o final do ano e o início de 2023,<br />

pode contribuir para um excesso de oferta no<br />

domínio dos transportes em alguns corredores<br />

europeus, quando até aqui era o oposto e<br />

até se sentia alguma falta de capacidade<br />

instalada face às necessidades de transportar<br />

na Europa, para a qual muito contribuíram<br />

tanto a pandemia como o Brexit. A guerra veio<br />

acentuar estas dificuldades, com o regresso de<br />

muitos profissionais à Ucrânia para defenderem<br />

o seu país. Só na Polónia perderam-se cerca de<br />

50 mil motoristas, que foram substituídos por<br />

motoristas polacos que não queriam receber


70<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

o mesmo que os ucranianos. Temos muitas<br />

operações na Polónia e sentimos largamente<br />

esta realidade. Carregamos semanalmente<br />

mais de 250 cargas completas na Polónia,<br />

pelo que sabemos muito bem como é que<br />

funcionam estes mercados mais a Leste.<br />

Ainda assim, acreditamos que o consumo vai<br />

abrandar porque o impacto da inflação ao<br />

nível do orçamento familiar é aquele que todos<br />

conhecemos e se juntarmos a isso o aumento<br />

das taxas de juros e tudo isto contraria o que<br />

se perspetivava para o pós-COVID. Por isso,<br />

creio que nos seis a 12 meses que aí vêm<br />

teremos sobrecapacidade instalada na Europa.<br />

E, pelo lado dos clientes, sentiram alguma<br />

alteração naquilo que era o seu padrão de<br />

necessidades?<br />

> Estamos a viver uma época de fenómenos<br />

e de epifenómenos. De facto, sentimos<br />

que alguns clientes estão a investir muito<br />

em matérias-primas e a preparar-se para<br />

produzir para stock para não sentirem tanto a<br />

volatilidade e oscilações do mercado. Diria que<br />

quem tem capacidade financeira está a tentar<br />

evitar impactos negativos na sua atividade.<br />

Em contraponto, as plataformas digitais que<br />

dominaram o comércio internacional durante<br />

a pandemia, estão a adiar e a congelar<br />

investimentos, o que quer dizer alguma coisa.<br />

E os próximos 10 anos, como é que os<br />

perspetiva?<br />

> Sou por natureza um otimista. Mas um<br />

otimista realista, ou seja, tenho perfeita<br />

noção daquilo que está a acontecer no<br />

mercado e até aquilo que se avizinha. Cabe-<br />

-nos a nós fazer o nosso caminho, não sermos<br />

subsidiodependentes. Considero que, para<br />

com o país e para com a sociedade em que<br />

estão integrados, os empresários têm a<br />

responsabilidade de criar valor. Esse é um<br />

driver que nos deve acompanhar todos os<br />

dias e traz-nos obviamente responsabilidade.<br />

Aliás, quanto maiores somos, maiores<br />

responsabilidades nos traz. Pelo menos é<br />

assim que nós pensamos na Klog. A mensagem<br />

que passo todos os dias internamente, e<br />

na qual acredito, é: foi muito mais difícil<br />

chegar até aqui do que serão seguramente<br />

os próximos 10 anos. O que quero dizer com<br />

isto é que é muito mais difícil num mercado<br />

como o nosso chegar aos 130 ou 140 milhões<br />

de euros do que o caminho que temos pela<br />

frente. Neste momento somos uma referência<br />

no mercado, os clientes confiam em nós, os<br />

parceiros e os colaboradores também; somos<br />

uma marca de confiança em determinados<br />

serviços e em alguns nem sequer existe<br />

equivalência no mercado e é esse caminho que<br />

temos que continuar a trilhar. A Klog é hoje<br />

uma marca sexy no mercado e muitas vezes já<br />

são os clientes que querem comprar o produto<br />

Klog e não o contrário. Termos consciência<br />

disto e conseguirmos ter a inteligência de gerir<br />

com equilíbrio esta realidade, com os pés bem<br />

assentes no chão e com a mesma humildade<br />

do primeiro dia é o desafio. Mas seguramente<br />

que será mais fácil do que do zero ter chegado<br />

até aqui. •


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


72<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

24 HORAS DE<br />

SABER AUTÊNTICO<br />

CARREIRA<br />

24 Horas de Logística<br />

Nos dias 15 e 16 de outubro a Super Bock<br />

Group acolheu a 15.ª edição das 24 Horas<br />

de Logística, o evento formativo em<br />

formato de jogo realizado em parceria<br />

entre a Sfori e a Supply Chain Magazine.<br />

A fábrica de Leça do Balio, inaugurada<br />

em 2015 durante a celebração dos<br />

125 anos da Unicer (nome anterior<br />

do grupo), foi o “campo de jogo” para<br />

os 84 profissionais de logística que<br />

participaram nesta edição, e que mais<br />

uma vez colocou o saber à prova.<br />

Após um interregno imposto pela pandemia,<br />

as 24 Horas de Logística voltaram a fazer<br />

mexer a logística e os logísticos, sem<br />

pausa para descanso. Ao longo de 24 horas<br />

consecutivas, os 84 jogadores, distribuídos por<br />

17 equipas, testaram os seus limites. Gestão<br />

de tempo foi fundamental, pois apesar de 24<br />

horas parecerem muito tempo, a quantidade<br />

de provas era ainda superior. Ao todo, tiveram<br />

de resolver 32 provas pontuadas, 52% delas<br />

teóricas e 48% práticas, divididas entre diurnas<br />

(54%) e noturnas (46%), podendo totalizar um<br />

máximo de 55.200 pontos.<br />

As provas foram acompanhadas por<br />

facilitadores, profissionais que foram avaliando<br />

o desempenho das equipas, e dos seus<br />

elementos individuais, e que apresentam um<br />

relatório final às empresas, com informações<br />

importantes sobre os diferentes elementos,<br />

para que estas possam analisar os seus<br />

pontos fortes e fracos, e até mesmo descobrir<br />

capacidades que desconheciam até agora.<br />

Ao longo do evento as equipas puderam<br />

ter contacto com áreas da logística com as<br />

quais não costumavam trabalhar, como ter<br />

a experiência de conduzir um camião ou um<br />

empilhador, fazer picking de paletes, gerir<br />

stocks, otimizar o carregamento de um camião,<br />

ter contacto com ferramentas tecnológicas para<br />

a gestão, entre outras.<br />

O próprio espaço foi também um desafio para<br />

as equipas. Com 33 metros de altura e uma<br />

área de cerca de um hectare, a fábrica da Super<br />

Bock Group em Leça da Palmeira foi criada de<br />

raiz num investimento acima de 100 milhões de<br />

euros, o maior investimento feito pela Unicer,<br />

até essa data. Neste local a empresa é capaz<br />

de armazenar 40 mil paletes, e de movimentar,<br />

diariamente, 12 mil. Um verdadeiro labirinto<br />

pelo qual os desafiantes tiveram de passar.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

Texto: Fábio Santos<br />

ESPÍRITO COMPETITIVO<br />

E COOPERATIVO<br />

“Para a Super Bock Group foi um prazer acolher<br />

a 15.ª edição das 24 Horas de Logística. Um<br />

evento que superou expectativas! Foi um<br />

momento de partilha, entrega e resiliência”,<br />

comentou Jorge Correia, Manager Logistic<br />

Platforms da empresa, explicando que ao<br />

mesmo tempo que as equipas trabalharam o<br />

espírito de equipa, também foi possível dar a<br />

conhecer o trabalho desenvolvido no Centro de<br />

Distribuição de Leça do Balio.<br />

“O carácter desafiante e criativo das<br />

provas permitiu manter o interesse das<br />

equipas, garantindo o espírito competitivo<br />

e cooperativo”, acrescentou, afirmando que<br />

também a organização foi colocada à prova,<br />

visto que “tínhamos como objetivo proporcionar<br />

a todos uma experiência enriquecedora”.<br />

15 EDIÇÕES, 1.300 PROFISSIONAIS<br />

E MAIS DE 150 EMPRESAS<br />

Por parte da SCM, Filipe Barros, executive<br />

manager, considera que “as 24 Horas de<br />

Logística são o evento formativo mais inovador<br />

e disruptivo na área da logística e operações<br />

que se faz por cá”. Pela sua variedade, considera<br />

o evento “o mix perfeito para testar as valências<br />

comportamentais dos profissionais que todos os<br />

anos vêm jogar e ser colocados à prova durante<br />

24 horas consecutivas”.<br />

Com um histórico bastante vasto, o<br />

responsável comenta que “os números falam<br />

pelo evento”, tendo já participado mais de<br />

1.300 profissionais de logística e mais de 150<br />

empresas nas 24 Horas de Logística ao longo<br />

destas 15 edições, “o que testemunha o sucesso<br />

desta iniciativa que a Supply Chain Magazine e a<br />

Sfori todos os anos organizam”, considera ainda.


74<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

LEARNING BY DOING<br />

Filipe Ferreira, partner da Sfori, sente<br />

que “a 15.ª edição das 24h de Logística<br />

confirmou uma vez mais a importância da<br />

experiência e vivência na aprendizagem.<br />

Se dúvidas existissem quanto à vontade<br />

de profissionais e empresas partilharem<br />

momentos de interação e partilha de<br />

conhecimento, a adesão das equipa e a reação<br />

dos participantes, deixou bem claro que<br />

esta é uma iniciativa de sucesso e que tem<br />

ainda muito caminho para fazer, mesmo num<br />

contexto de total renovação, que todos os<br />

anos contribui para a sua diferenciação”.<br />

O responsável considera que a iniciativa é<br />

um hino ao “learning by doing”, adquirindo<br />

conhecimento através da experiência prática<br />

e em contexto real, um desafio para os<br />

participantes, que nesta edição não foram<br />

os únicos a serem postos à prova. Este ano, o<br />

evento teve a peculiaridade de, pela primeira<br />

vez, ter sido feita a entrega dos prémios no<br />

próprio dia do evento, o que trouxe desafios<br />

acrescidos à equipa de coordenação técnica<br />

para a correção das provas. “Trata-se de um<br />

desafio significativo para a organização<br />

mas, ao mesmo tempo, foi um passo que<br />

decidimos dar, já que permite assegurar um<br />

feedback imediato aos participantes sobre o<br />

seu desempenho, algo crucial em qualquer<br />

processo de aprendizagem”.<br />

Finalizado o evento, deixa uma mensagem<br />

de apreço à empresa anfitriã, patrocinadores<br />

e parceiros, “que ano após ano abraçam esta<br />

iniciativa, reconhecendo nela, um momento<br />

diferenciado de aprendizagem e partilha, que<br />

em última análise contribui para a melhoria<br />

do setor logístico como um todo”.


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

SUBIDA AO PÓDIO<br />

No início de domingo - para alguns ainda “final<br />

de sábado” -, a vitória foi da equipa da Leroy<br />

Merlin (BCM Bricolage), tendo conquistado<br />

45.571 pontos (83% dos pontos máximos).<br />

No segundo lugar ficou a equipa da Auchan<br />

(Os Incríveis), com 42.923 pontos, seguindo-<br />

-se a equipa da Volkswagen (VWGS Team) em<br />

terceiro lugar, com 42.528 pontos, 395 pontos<br />

a menos que o segundo classificado.<br />

A equipa da Leroy Merlin ainda conquistou<br />

os prémios de “Melhor Teórico”, por ter<br />

conquistado mais pontos nas provas teóricas, e<br />

o prémio “Melhor Noturno”, ao conquistar mais<br />

pontos durante as provas noturnas. Por sua<br />

vez, ao nível das provas práticas, a equipa da<br />

Sonae (MC – Muita Cerveja), venceu o prémio<br />

de “Melhor Prático”, e nas diurnas destacou-se<br />

a equipa da PepsiCo (Ruffles), conquistando o<br />

prémio de “Melhor Diurno”.<br />

Extra concurso estiveram ainda os prémios<br />

“Cooperação” para a PepsiCo (Doritos),<br />

“Perserverança” para a Super Bock Group (Sabor<br />

Autêntico) e “Gesgrup”, para a PepsiCo (Lays).<br />

“Este tipo de eventos são sempre marcos<br />

importantes, tanto para as empresas<br />

que participam, como para as empresas<br />

que acolhem o evento! Para as empresas<br />

participantes, a formação 24 Horas de Logística<br />

permitiu aos participantes, staff e voluntários<br />

ganhar não só muitas competências técnicas<br />

ligadas à área logística mas também<br />

comportamentais. Estas competências<br />

ligadas serão a chave para uma logística de<br />

excelência”, concluiu Jorge Correia.<br />

No final, vencedores ou não, todos os<br />

participantes brindaram à logística e sentiram o<br />

“sabor do saber”. E claro, um “saber autêntico”. •


76<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

À JANELA DA APAT<br />

António Nabo Martins<br />

Presidente executivo | APAT<br />

VIDA TRANSITÁRIA<br />

OU TRANSITÓRIA?<br />

Após algumas edições estamos de regresso.<br />

Regressamos, infelizmente, não apenas com<br />

boas notícias, mas chamando a atenção para<br />

os temas que mais impactam na nossa vida<br />

TRANSITÁRIA, que será seguramente transitória<br />

para alguns “transiteiros”.<br />

Continuamos a assistir à entrada de alguns,<br />

num mercado que desconhecem e a quererem<br />

fazer aquilo que os transitários fazem bem.<br />

Se as armas fossem iguais tenho dúvidas que<br />

ainda persistissem com estas ideias, e tudo seria<br />

muito mais fácil e com melhores resultados, pois<br />

senão “atrapalhassem” já ajudavam bastante.<br />

Com isto tudo temos vindo a assistir a<br />

algumas descidas dos fretes marítimos, ainda<br />

que os combustíveis estejam a níveis nunca<br />

vistos. Continuamos a assistir às omissões de<br />

escala, “levando as principais linhas a acelerar<br />

os cortes de capacidade, suprimindo, para<br />

diminuir a pressão sobre a descida das taxas”, ou<br />

“torna-se pertinente perceber se podem retirar<br />

ainda mais capacidade para tentar controlar a<br />

quedas dos fretes”.<br />

Aparenta significar que não é o mercado que<br />

gere. Provavelmente será a tal mão invisível que<br />

regula o mercado, que o faz.<br />

Em contrapartida, a carga aérea continua<br />

em crescendo, apesar de nestes últimos dias<br />

se assistir a alguma diminuição na procura.<br />

Ficámos, entretanto, a saber que os dois<br />

aviões da TAP para carga, afinal é apenas um<br />

e só agora iniciou teste de voo.<br />

É nestas circunstâncias que depois ouvimos<br />

dizer “era bom, não foi!”, não foi porque nunca<br />

chegou a ser. De qualquer forma devemos estar<br />

satisfeitos, porque apesar de timidamente, a<br />

TAP reconhece a mais-valia da carga. Agora<br />

falta trabalhar para melhores infraestruturas,<br />

melhores procedimentos, menos burocracia e<br />

maior agilidade em determinadas atuações.<br />

Os combustíveis seguem aumentando<br />

apesar da descida do crude. A inflação cresce<br />

dia a dia e é expectável uma séria contração<br />

no consumo interno, que terá obviamente<br />

reflexos no comércio internacional. Talvez<br />

por isso, ou não, a China equaciona rever a<br />

sua “política 0” em relação à Covid, pois o<br />

seu crescimento tem abrandado e associado<br />

à diminuição do consumo ocidental há que<br />

promover o crescimento da economia, talvez<br />

“gerindo” alguns aspetos da guerra da Rússia –<br />

energia, fome, frio e, com isso, alterar algumas


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

dinâmicas do comércio internacional.<br />

Ficámos ainda a conhecer o orçamento<br />

nacional para 2023. O que é interessante<br />

perceber, é que é igual ao de sempre. Quando<br />

é da “esquerda” é o orçamento possível e<br />

quando é de “direita” é igualmente o orçamento<br />

possível. Ou seja, o orçamento em Portugal<br />

é sempre o possível. Não sei se é bom, ou<br />

mau, mas sei que é o que é. E nestas coisas<br />

“quem se salva não é o mais forte, é quem<br />

melhor se adapta”. Na nossa atividade estamos<br />

muito habituados a estas circunstâncias.<br />

Desde sempre, nos adaptamos, tornando-nos<br />

flexíveis, disruptivos, arrojados, inventivos e até<br />

inovadores, no sentido de encontrar sempre<br />

as soluções mais competitivas para os nossos<br />

clientes.<br />

Mais uma vez fomos surpreendidos com a<br />

decisão da transmissão do – Terminal rodo-<br />

-ferroviário da IP de Leixões, para a gestão da<br />

APDL, que somado à anterior decisão sobre o<br />

Porto-seco da Guarda, venha trazer lufadas de<br />

ar fresco, à forma como temos vindo a tratar<br />

o transporte ferroviário de mercadorias em<br />

Portugal. A exemplo das recentes notícias sobre<br />

a linha da Beira Alta, só falta saber é quando<br />

voltarão à atividade, ou reabrindo à circulação,<br />

se por isto ou por aquilo, ou se pela alteração<br />

administrativa de tal transformação. Vamos<br />

esperar que não sejam alguns papéis, relatórios<br />

ou análises, realizadas num qualquer gabinete<br />

que venham impedir e penalizar ainda mais a<br />

economia.<br />

Pelo mundo inteiro surgem “fake news” e<br />

ataques cibernéticos. Já há alguns anos me<br />

interrogava daquilo que seria a internet nas<br />

nossas vidas. Naquela altura, a velocidade da<br />

net era praticamente igual à de um caracol<br />

e o impacto era quase 0. Hoje mais do que<br />

nunca não consigo perceber como há gente<br />

que utiliza esta fabulosa “ferramenta” para<br />

apenas produzir mentiras, alimentar guerras,<br />

condicionar decisões e alterar comportamentos.<br />

Muita gente apenas se sustenta nas redes<br />

sociais, em mentiras falaciosas e maldosas que<br />

vão produzindo “(des)conhecimento”. Mesmo<br />

assim, começam a surgir os arautos desta nova<br />

verdade.<br />

Pelo meio de outubro lá fomos todos até<br />

Ílhavo, onde pudemos falar, refletir, ouvir e<br />

tentar perspetivar um melhor futuro. Juntámos<br />

cerca de 100 pessoas no dia do Transitário, dia<br />

este que ocorre a cada dois anos.<br />

O Secretário de Estado das Infraestruturas<br />

referiu que num futuro não muito distante<br />

falaremos da Grande Disrupção, da Grande<br />

Descarbonização e da Grande Integração Modal.<br />

Ficou muito claro que para nós o futuro será<br />

desafiante e “Just in Case”. Ou seja, Caso chegue,<br />

entregamos; Caso chegue, teremos; Caso<br />

chegue, vendemos; Caso exista, transportamos<br />

e finalmente, Caso não paguemos a pronto, não<br />

é fornecido.<br />

Muitas coisas acontecem por acaso,<br />

mas muitas vezes há algum acaso para<br />

acontecerem. •


78<br />

OUTUBRO <strong>2022</strong><br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“3 mitos sobre o futuro do trabalho”<br />

Ideas worth spreading, TED@Merck KGaA 2017,<br />

Daniel Susskind, 1.7 milhões de visualizações<br />

Daniel Susskind enuncia 3 mitos sobre o<br />

futuro do trabalho:<br />

Mito do “Terminator”: A ideia de que<br />

as máquinas substituem o trabalho dos<br />

humanos tem de ser equilibrada com a<br />

complementaridade que elas nos trazem.<br />

Directamente, as máquinas podem expandir as<br />

capacidades humanas, como o software que<br />

ajuda um arquitecto a desenhar edifícios mais<br />

complicados, ou o sistema de navegação que<br />

direcciona um taxista. Indirectamente, a acção<br />

das máquinas leva à criação de novas áreas e<br />

tarefas em que os humanos podem trabalhar,<br />

como se tornou evidente nas revoluções<br />

industrial e tecnológica recentes.<br />

Mito da Inteligência: No pressuposto de<br />

que uma máquina precisa de ser programada<br />

com instruções detalhadas para poder operar,<br />

qualquer tarefa que não pudesse ser descrita<br />

por uma sequência de passos não poderia ser<br />

automatizada. Na realidade, os computadores<br />

não têm de copiar os humanos e podem<br />

aprender analisando mais dados em minutos do<br />

que uma pessoa consegue na sua vida inteira,<br />

e reconhecendo padrões, por exemplo no<br />

diagnóstico médico ou na condução autónoma<br />

de veículos.<br />

Mito da Superioridade: Existe uma falácia<br />

descrita no fim do século XIX, de que a<br />

“quantidade de trabalho” é um montante fixo,<br />

e se um trabalhador numa fábrica for mais<br />

produtivo, está a “roubar” trabalho aos colegas.<br />

O erro deste raciocínio é que produzir mais com<br />

menos recursos altera o equilíbrio do mercado:<br />

o custo reduzido e a maior disponibilidade do<br />

produto levam a maior procura, a qual estimula a<br />

oferta e logo a necessidade de produzir mais. As<br />

máquinas, contudo, perturbam esta lógica, porque<br />

podem, elas próprias, executar as tarefas que<br />

surgem numa economia expansionista. O sistema<br />

de navegação inventado para complementar um<br />

ser humano pode servir para complementar um<br />

carro que se conduz a si próprio.<br />

O medo de que as máquinas substituam os<br />

humanos tem vindo a ser desmontado, pela<br />

evolução tecnológica que tem permitido o<br />

crescimento económico, gerando prosperidade<br />

suficiente para elevar toda a população<br />

mundial acima do limiar da pobreza. Contudo,<br />

o mecanismo tradicional de repartição desta<br />

riqueza assenta no trabalho individual. Se, no<br />

longo prazo, com a inteligência artificial, as<br />

máquinas substituírem e complementarem o<br />

esforço das pessoas, o verdadeiro problema será<br />

como redefinir o modo de distribuição da riqueza<br />

global, neste futuro paradigma.<br />

Daniel Susskind tem um doutoramento em Economia<br />

pela Universidade de Oxford e foi bolseiro Kennedy na<br />

Universidade de Harvard. Trabalhou para o governo<br />

britânico, como conselheiro e analista político, e<br />

escreveu com o pai, Richard Susskind, o “best-seller”<br />

“O futuro das profissões”.


O mundo está num ponto de viragem. Não há certezas nem garantias de nada. Não é só a economia que enfrenta crises<br />

sucessivas que aumentam de forma galopante a pobreza no mundo. É também a crise de direitos, dos alimentos, da água, da<br />

energia, da paz, do ambiente. Ameaças que comprometem o nosso futuro comum. O momento exige coragem, mas também ação.<br />

É por isso que, na Oikos, trabalhamos para proteger e fortalecer os mais vulneráveis através da segurança alimentar, proteção<br />

ambiental, acesso a serviços sociais, participação cívica e Direitos Humanos. É que ao lutar pela satisfação das necessidades<br />

básicas de vida dos que mais precisam em qualquer lugar do mundo, a Oikos está a contribuir para construir um Futuro para toda<br />

a Humanidade. Para si. Para nós. Ajude-nos a chegar lá. Contribua para um amanhã mais justo e digno para todas as pessoas.<br />

oikosdonate.pt<br />

cooperação e desenvolvimento


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