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C.S. LEWIS - OS QUATRO AMORES

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poderá reverenciá-lo mais do que alguém que se coça venha a

reverenciar a coceira. A complacência temporária que uma mulher

tola dispensa a uma criança mimada, que na realidade é

complacência própria — sua boneca viva enquanto isso durar —,

tem muito menos chance de “se tornar um deus” do que a profunda

e estreita devoção de uma mulher que (na realidade) “vive para seu

filho”. Também tendo a pensar que o tipo de amor que um homem

tem por seu país, que é exercitado com muita cerveja e cantoria

patriótica, não o levará a fazer muito estrago (ou bem) à sua pátria.

Esse patriotismo estaria plenamente satisfeito quando se pedisse

outra cerveja e se unisse ao coro dos que homenageiam a pátria.

E isso, claro, é o que se esperaria. Nosso amor não faz nenhuma

reivindicação à divindade até que essa reivindicação se torne

plausível. E ela não se tornará plausível até que haja uma

semelhança real com Deus, com o próprio Amor. É importante não

cometer erro nenhum neste ponto. Nossos amores-Dádivas são

verdadeiramente semelhantes a Deus e entre eles — aqueles que

são mais generosos e dispostos a dar são os mais semelhantes a

Deus. Tudo que os poetas dizem sobre eles é verdadeiro. Sua

alegria, sua energia, sua paciência, sua disposição em perdoar, seu

desejo pelo bem da pessoa amada — enfim, tudo isso é real e nada

mais é do que a adorável imagem da vida Divina. Em sua presença,

somos justificados ao agradecer a Deus, aquele “que deu tal

autoridade aos homens”. Podemos dizer, de maneira honesta e

inteligível, que aqueles que amam de forma grandiosa estão mais

próximos de Deus. Mas, claro, isso é “proximidade por semelhança”.

Isso não produzirá “proximidade de abordagem”. A semelhança nos

foi concedida, e ela não possui nenhuma conexão necessária com

aquela abordagem lenta e dolorosa que deve constituir a nossa

própria tarefa (embora nunca sem assistência). Enquanto isso,

porém, a semelhança é um esplendor. É por isso que poderíamos

confundir Semelhança com Igualdade. Poderíamos dar aos nossos

amores humanos uma aliança incondicional do tipo que devemos

somente a Deus. Então, nossos amores se tornariam deuses e, por

consequência, demônios. Depois nos destruiriam e, também, a si

mesmos, pois amores naturais que têm a pretensão de se tornar

deuses não permanecem como amores. Eles são ainda assim

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