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“Podemos dizer qualquer coisa uns aos outros”. A verdade por
trás dessa frase é que a Afeição em seu estado puro pode dizer
qualquer coisa que deseja, sem considerar as regras de cortesia
pública, pois a Afeição em seu estado puro não deseja nem ferir,
nem humilhar, nem dominar. Você poderá chamar sua esposa
querida de “Glutona!” quando, sem perceber, ela bebe o seu drinque
e o dela. Poderá esbravejar ao ouvir mais uma vez a história que
seu pai não para de contar. Poderá provocar, fazer brincadeiras e
ridicularizar. Poderá dizer: “Cala a boca. Estou lendo” ou qualquer
coisa no tom apropriado e no momento adequado — o tom e o
momento que não tem a finalidade de machucar e que, de fato, não
machucam. Quanto melhor for a Afeição, mais claramente ela
reconhecerá o que essas coisas realmente são (cada amor tem a
sua arte de amar). No entanto, o homem abrutalhado quer dizer algo
completamente diferente quando reivindica a liberdade de dizer
“qualquer coisa” em seu lar. Uma vez que ele mesmo tem uma
forma imperfeita de Afeição, ou talvez nenhuma naquele momento,
apropria-se das belas liberdades que somente a Afeição plena tem o
direito de reivindicar ou sabe como administrar. Ele, então, usa
essas liberdades de modo rancoroso em obediência a seus
ressentimentos; ou de forma rude em obediência a seu egoísmo; ou
de maneira estúpida, sem arte. Ele poderá ter uma consciência
limpa o tempo todo e sabe que a Afeição toma liberdades. E ele
toma liberdades. Portanto (conclui), ele está usando de afeto. Se
você se sentir magoado por alguma coisa, ele dirá que o defeito do
amor é de sua parte, não dele. Ele fica ressentido, pois foi mal
compreendido.
Às vezes, ele se vinga assumindo pose de fidalgo, torna-se
pedantemente “cortês”. A alegação, claro, é: “Ó! Então não
devemos ser achegados? Devemos nos comportar como pessoas
que se conhecem a distância? Eu tinha esperança, mas não se
preocupe. Que seja como você quiser”. Isso ilustra muito bem a
diferença entre cortesia doméstica e formal. Aquilo que
precisamente se adequaria a um pode se tornar a ruptura do outro.
Tomar liberdades e ser brincalhão ao ser apresentado a uma pessoa
totalmente estranha não é considerado boas maneiras; praticar a
cortesia formal e cerimonial em casa (“rostos conhecidos em lugares