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C.S. LEWIS - OS QUATRO AMORES

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política imperial, melhor será. Quando criança, eu tinha um livro

cheio de figuras coloridas chamado Our IIsland Story [História de

nossa ilha]. O título sempre me pareceu apropriado. O livro também

não se parecia em nada com um livro-texto. O que realmente me

parece tóxico é a grave doutrinação de jovens acerca da história

que sabemos ser falsa ou parcial — a lenda heroica precariamente

disfarçada de fato tirada de um livro-texto. Caso permaneça, é isso

que gera um tipo de patriotismo pernicioso, embora aparentemente

não seja algo que perdure por muito tempo na mente de um adulto

bem-educado. Também surge a pressuposição subentendida de que

outras nações não possuem igualmente heróis; talvez até mesmo a

crença de que possamos literalmente “herdar” uma tradição. E,

claro, isso seria biologicamente muito ruim. Esse tipo de coisas leva

quase inevitavelmente a um terceiro ingrediente, às vezes,

denominado patriotismo.

O terceiro ingrediente não se trata de um sentimento, mas de uma

crença; uma firme convicção, ainda que prosaica, de que a nossa

nação há muito tempo é, e continua sendo, marcantemente superior

às demais. Certa vez, aventurei-me em dizer o seguinte a um velho

ministro da igreja que proclamava esse tipo de patriotismo: “Mas,

meu senhor, não nos dizem que cada povo considera os seus

próprios homens os mais corajosos e as suas mulheres as mais

belas do mundo?” Ele replicou com um tom bem grave — aliás, o

tom não poderia ser mais grave mesmo se ele estivesse

declamando o Credo no altar —, “Sim, mas na Inglaterra isso é

verdade”. Com certeza, essa convicção não tornou meu amigo (que

Deus o tenha!) um vilão; apenas um querido e velho burro. No

entanto, isso pode produzir burros que dão coices e mordem. Na

orla lunática, pode produzir um racismo popular que tanto o

cristianismo quanto a ciência proíbem.

Isso nos leva ao quarto ingrediente. Se nossa nação é de fato tão

melhor assim que as demais, seria possível argumentar que ela

possui tanto os deveres como os direitos de um ser superior quando

comparada as demais. No século XIX, os ingleses se

conscientizaram muito bem desses deveres: o

“fardo/reponsabilidade do homem branco”. Aqueles a quem

chamávamos de nativos eram nossos pupilos, e nós, seus

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