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C.S. LEWIS - OS QUATRO AMORES

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— “Inglaterra, com todas as tuas falhas, eu continuo te amando”. Ela

será para ele “algo pobre, mas seu”. Ele poderá considerá-la boa e

grande, mesmo que não seja, porque a ama; até certo ponto, o

engano pode ser perdoável. Mas o soldado de Kipling reverte isso;

ele a ama porque pensa que a pátria é boa e grande — ele a ama

por causa de seus méritos. A pátria é uma preocupação permanente

e satisfaz seu orgulho de nela estar. O que acontecerá se ela deixar

de ser isso para ele? A resposta é dada de maneira muito clara:

“Quão depressa desistiríamos dela”. Quando o navio começa a

afundar, ele o abandona. Assim, esse tipo de patriotismo que inicia

com a grande pompa do rufo de tambores e o agito de bandeiras na

verdade vai pelo caminho que conduz à traição. E esse é um

fenômeno com o qual vamos nos deparar novamente. Quando os

amores naturais se tornam algo sem lei, eles não apenas fazem mal

aos outros amores; eles próprios cessam de ser os amores que um

dia foram — cessam de ser amor.

Portanto, o patriotismo tem diversas faces. Aqueles que o

rejeitariam completamente parecem não considerar aquilo que

ocuparia — ou já está começando a ocupar — seu lugar. Por um

longo período de tempo ainda ou, talvez para sempre, as nações

viverão sob perigo. Governantes precisam persuadir, de alguma

forma, seus governados a defendê-las ou, pelo menos, a prepararse

para defendê--las. Quando esse sentimento de patriotismo é

destruído, isso somente poderá ser feito ao se apresentar cada

conflito internacional sob uma luz puramente ética. Se as pessoas

não darão seu sangue ou suor por seu “país”, deverão ser

convencidos de que o fazem pela justiça, pela civilização ou pela

humanidade. Esse é um passo para trás, não para frente. O

sentimento patriótico não precisa desconsiderar a ética, é claro.

Boas pessoas precisam ser convencidas de que a causa de seu

país era justa; mas era a causa de seu país, não a causa da justiça

como tal. Essa diferença me parece importante. Posso pensar, sem

medo de autojustiça e hipocrisia, que defender minha casa usando a

força contra um ladrão é algo correto. Mas se eu começar a fingir

que dei ao ladrão um “olho roxo” apenas por motivos morais —

totalmente indiferente ao fato de que a casa era minha —, me

tornarei intolerável. Seria igualmente uma alegação espúria, caso

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