Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— “Inglaterra, com todas as tuas falhas, eu continuo te amando”. Ela
será para ele “algo pobre, mas seu”. Ele poderá considerá-la boa e
grande, mesmo que não seja, porque a ama; até certo ponto, o
engano pode ser perdoável. Mas o soldado de Kipling reverte isso;
ele a ama porque pensa que a pátria é boa e grande — ele a ama
por causa de seus méritos. A pátria é uma preocupação permanente
e satisfaz seu orgulho de nela estar. O que acontecerá se ela deixar
de ser isso para ele? A resposta é dada de maneira muito clara:
“Quão depressa desistiríamos dela”. Quando o navio começa a
afundar, ele o abandona. Assim, esse tipo de patriotismo que inicia
com a grande pompa do rufo de tambores e o agito de bandeiras na
verdade vai pelo caminho que conduz à traição. E esse é um
fenômeno com o qual vamos nos deparar novamente. Quando os
amores naturais se tornam algo sem lei, eles não apenas fazem mal
aos outros amores; eles próprios cessam de ser os amores que um
dia foram — cessam de ser amor.
Portanto, o patriotismo tem diversas faces. Aqueles que o
rejeitariam completamente parecem não considerar aquilo que
ocuparia — ou já está começando a ocupar — seu lugar. Por um
longo período de tempo ainda ou, talvez para sempre, as nações
viverão sob perigo. Governantes precisam persuadir, de alguma
forma, seus governados a defendê-las ou, pelo menos, a prepararse
para defendê--las. Quando esse sentimento de patriotismo é
destruído, isso somente poderá ser feito ao se apresentar cada
conflito internacional sob uma luz puramente ética. Se as pessoas
não darão seu sangue ou suor por seu “país”, deverão ser
convencidos de que o fazem pela justiça, pela civilização ou pela
humanidade. Esse é um passo para trás, não para frente. O
sentimento patriótico não precisa desconsiderar a ética, é claro.
Boas pessoas precisam ser convencidas de que a causa de seu
país era justa; mas era a causa de seu país, não a causa da justiça
como tal. Essa diferença me parece importante. Posso pensar, sem
medo de autojustiça e hipocrisia, que defender minha casa usando a
força contra um ladrão é algo correto. Mas se eu começar a fingir
que dei ao ladrão um “olho roxo” apenas por motivos morais —
totalmente indiferente ao fato de que a casa era minha —, me
tornarei intolerável. Seria igualmente uma alegação espúria, caso