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C.S. LEWIS - OS QUATRO AMORES

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começou a organizar o jardim. A menina, que supúnhamos ser

“delicada” (embora eu nunca tenha descoberto qual era exatamente

seu problema), faz agora aulas de equitação — o que antes estava

fora de questão —, dança todas as noites, e muitas vezes joga

tênis. Até mesmo o cachorro da família, que nunca saía sem ser

conduzido por alguém, é agora um membro bem conhecido do

Clube do Poste de Luz em sua rua.

A Sra. Fidget disse muitas vezes que vivia para sua família, e isso

não era mentira. Todos na vizinhança sabiam disso. “Ela vive para

sua família”, diziam. “Que esposa e mãe exemplar!” Ela lavava toda

a roupa; não fazia um bom trabalho, e eles poderiam tranquilamente

usar uma lavanderia. Por isso, com frequência, imploravam que ela

não lavasse a roupa. Mas ela o fazia. Sempre havia um almoço

preparado para quem estivesse em casa e um jantar quente à noite

(mesmo no meio do verão). Suplicavam também a ela que não

fizesse isso. Eles protestavam, quase com lágrimas nos olhos

(dizendo a verdade), que preferiam comer sanduíches. Mas isso não

fazia qualquer diferença. Ela vivia para sua família. Ela sempre se

sentava para dar boas-vindas a quem chegasse tarde da noite.

Fosse às duas ou três da madrugada, não importava. Você sempre

encontraria um rosto abatido, pálido e cansado esperando por você,

como uma acusação silenciosa. Isso significava, claro, que você

nunca poderia, com alguma decência, sair à noite muitas vezes. Ela

também estava sempre fazendo coisas; em sua própria avaliação

(não posso julgar isso), se considerava uma excelente costureira

amadora e alguém que tricotava muito bem. E, é claro, a não ser

que você fosse muito sem coração, teria de usar essas roupas (o

pastor me informou que, desde sua morte, as contribuições somente

daquela família para o bazar da igreja ultrapassaram as de todos os

outros membros da igreja juntos). Havia, ainda, o cuidado dela pela

saúde da família! Ela carregou sozinha todo o fardo da situação

“delicada” da filha. O médico — um velho amigo, pois isso não

estava sendo feito pelo Sistema Nacional de Saúde — nunca teve

permissão para discutir a questão médica com seus pacientes.

Depois de um breve exame, a mãe levou o médico para outro

quarto. A menina não deveria ter preocupações ou responsabilidade

por sua própria saúde. As únicas coisas necessárias eram: carinho,

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