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deveríamos adotar uma atitude prematuramente moral ou
avaliadora. De modo geral, a mente humana está muito mais
propensa a louvar e depreciar do que a descrever e definir. Deseja
fazer de toda a distinção uma distinção de valor. É assim que agem,
por exemplo, aqueles críticos fatais que nunca são capazes de
apontar a qualidade distintiva entre dois poetas sem colocá-los
numa ordem de preferência, como se fossem candidatos a algum
prêmio. Não deveríamos fazer nada disso com relação aos
prazeres. A realidade é muito complicada. Já fomos advertidos pelo
fato de que o prazer-Necessidade é o estado em que acabam os
prazeres de Apreciação quando as coisas vão mal (por vício).
De qualquer modo, para nós, a importância dos dois tipos de
prazer está na extensão em que prenunciam características em
nossos “amores” (assim propriamente chamados).
A pessoa sedenta, mas que acabou de beber uma grande
quantidade de água, poderá dizer: “Poxa vida, era isso o que eu
queria”. Assim também o alcoólatra depois de beber uma “dose”. A
pessoa que passa pela plantação de ervilhas em sua caminhada
matinal está mais propensa a dizer: “Este perfume é maravilhoso”.
Após o primeiro gole de um famoso vinho tinto, o especialista
poderá dizer: “Este é um grande vinho”. Quando prazeres-
Necessidade estão em evidência, tendemos a fazer afirmações a
respeito de nós mesmos no tempo passado; quando prazeres de
Apreciação estão em evidência, inclinamo-nos a fazer afirmações
sobre o objeto no tempo presente. É fácil perceber a razão disso.
Shakespeare descreve a satisfação de um desejo tirânico como
alguma coisa
Perdida a razão, e logo esquecida,
Odiada razão
Mas os mais inocentes e necessários prazeres-Necessidade têm
a seu respeito algo do mesmo caráter — apenas algo, é claro. Eles
não são odiados depois que os tivermos, mas certamente “morrem
em nós” de forma extraordinariamente abrupta e completa. A
torneira da pia e o copo cheio são mesmo muito atraentes quando
entramos em casa com sede depois de cortar a grama do jardim;
mas seis segundos depois se tornam vazios de qualquer interesse.