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Revista ISTOÉ

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ENTREVISTA<br />

Jarbas de Biagi, da Abrapp:<br />

“Precisamos atrair recursos<br />

para a previdência privada”<br />

O QUE ESPERAR DO BNDES<br />

Novo presidente do banco, Aloizio Mercadante<br />

diz que não irá cometer os erros do passado e<br />

planeja democratizar o acesso ao crédito<br />

ALTO PADRÃO<br />

Sob gestão de Sheyla Resende,<br />

Gafisa avança em projetos de<br />

luxo no eixo Rio-São Paulo<br />

ANDRÉ MICELI<br />

CEO e editor-chefe da MIT<br />

Technology Review Brasil<br />

BERTRAND CHAVEROT<br />

CEO da Ubisoft Brasil<br />

CLAUDIA MUCHALUAT<br />

Presidente da Intel Brasil<br />

CLEBER MORAIS<br />

Diretor-geral da Amazon<br />

Web Services no Brasil<br />

DIEGO TORRES MARTINS<br />

CEO e fundador da<br />

Unico IDTech<br />

GUSTAVO MOUSSALLI<br />

VP Latam da Oracle<br />

NetSuite<br />

JESSICA KATO<br />

Executiva para Dynamics<br />

365 e Power Platform<br />

na Microsoft Brasil<br />

JUNIOR MIRANDA<br />

CEO da GreenV<br />

RICARDO MUCCI<br />

Presidente da<br />

Cisco do Brasil<br />

RODRIGO GIMENES<br />

CTO da ReportFlex e<br />

criador da Robotizia<br />

TUSHAR PARIKH<br />

Country head da<br />

TCS no Brasil<br />

WAGNER ARNAUT<br />

CTO de Cloud e Cognitive<br />

Software da IBM Brasil<br />

TECNOLOGIA:<br />

AS TEND NCIAS<br />

PARA 2023<br />

SEGUNDO<br />

12 CEOS<br />

As visões de quem<br />

desenvolve o<br />

futuro nas áreas<br />

de inteligência<br />

artificial, computação<br />

quântica, arquitetura<br />

de nuvem, supply<br />

chain, superapps,<br />

cibersegurança,<br />

semicondutores e<br />

metaverso. Entenda<br />

como cada uma delas<br />

impacta nos negócios<br />

e na sociedade


Faça do seu dia a dia <br />

um eterno fim de semana.<br />

bassi.marfrig<br />

marfrig.com.br


Dinheirodaredação 15 de Fevereiro de 2023. Edição 1.311<br />

A REFORMA QUE VEM AÍ<br />

Todos aguardam com muita expectativa o projeto de reforma<br />

tributária que o governo Lula promete lançar com a<br />

maior brevidade — o ministro Haddad fala em um primeiro<br />

esboço de arcabouço fiscal já para abril próximo. Ele e<br />

sua equipe procuram elaborar medidas centradas, em um<br />

primeiro momento, no controle de gastos, como forma de<br />

demonstrar a boa vontade do Executivo em colaborar no<br />

esforço geral da Nação para arrumar as contas públicas. O<br />

foco no reequilíbrio decerto não deve ser o do aumento da<br />

arrecadação. Ao contrário, a expectativa do mercado é de<br />

uma redução na carga, considerada demasiadamente elevada.<br />

Antes de agosto, o ministro precisa mesmo, obedecendo<br />

à PEC da Transição, mostrar o que o governo pretende fazer<br />

para a rearrumação do rombo. As ideias passam também por<br />

uma tentativa de substituição da Lei de Responsabilidade<br />

Fiscal (LRF), em funcionamento há mais de duas décadas.<br />

Não apenas Lula, como os demais adversários na corrida<br />

às urnas (Bolsonaro entre eles) falaram sempre que a regra<br />

do teto dos gastos tinha ficado obsoleta, fora da realidade.<br />

Daí é crível imaginar que ela também não deve vingar daqui<br />

para frente. De todo modo, algum tipo de trava legal será<br />

necessária para impedir os impulsos de dispêndio sem freio<br />

dos seguidos mandatários. Mesmo o ministro Haddad está<br />

convencido disso. O presidente Lula, em pessoa, quer acenar<br />

com vantagens aos seus apoiadores habituais. Passou a falar<br />

em uma isenção do Imposto de Renda para quem ganha até<br />

R$ 2.640 – promessa, aliás, feita durante a campanha. Hoje<br />

a isenção vai até o limite de R$ 1.903,98 de salário mensal.<br />

Para reajustar a faixa de isenção os técnicos se dividem<br />

entre duas alternativas. A primeira seria a de atualizar toda a<br />

tabela a partir da faixa de isenção, o que mexeria com toda a<br />

cadeia de trabalhadores. A segunda possibilidade seria beneficiar<br />

apenas quem recebe até dois salários mínimos, com os<br />

demais contribuintes seguindo como está. Um levantamento<br />

da Receita Federal mostra que a permanente distorção<br />

na tabela do IR já retirou mais de R$ 100 bilhões da renda<br />

dos brasileiros apenas nos últimos 12 meses. Outro estudo<br />

recém-concluído, da Associação Nacional dos Auditores da<br />

Receita, aponta que ao menos 18 milhões de brasileiros se<br />

beneficiariam da isenção na cobrança do IR neste ano, caso<br />

a tabela fosse corrigida integralmente pela inflação desde<br />

1996. Isso equivaleria a isentar todos aqueles com valores de<br />

renda até R$ 4.723,77. De uma forma ou de outra, a reforma<br />

tributária que brotará dessas discussões deverá reduzir os<br />

impostos sobre o consumo dos mais pobres e elevar o dos<br />

mais ricos. O recém-eleito presidente da Câmara, Arthur<br />

Lira, quer garantir o avanço da proposta que encontra-se<br />

em análise na casa. Prometeu criar grupos específicos nas<br />

próximas semanas para discutir o assunto com celeridade. A<br />

opção de um imposto como o IVA sobre o consumo é a que<br />

tem angariado mais interesse. O BNDES promete entrar no<br />

meio dos debates e, segundo Aloizio Mercadante, já elabora<br />

a sua própria proposta para contribuir no tal arcabouço fiscal.<br />

Existe muita gente envolvida nas negociações e, naturalmente,<br />

muito lobby e pressão dos setores mais poderosos<br />

interessados. O temor é que dessa pajelança saia um bicho<br />

de sete cabeças, transformando a sonhada reforma em um<br />

Frankenstein tributário.<br />

Carlos José Marques<br />

Diretor editorial<br />

04 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: PHILIPPE LOPEZ | LUIS GUSTAVO BENEDITO | ALEXANDRE BRUM/AGENCIA ENQUADRAR/AGENCIA O GLOBO I | CLAUDIO GATTI


Índice<br />

CAPA<br />

TECNOLOGIA<br />

Da inteligência artificial ao<br />

metaverso, as tendências<br />

para 2023 na visão de 12<br />

CEOs de empresas que estão<br />

definindo o futuro. Quais<br />

impactos das inovações para<br />

os negócios e à sociedade?<br />

pág. 28<br />

ENTREVISTA<br />

Para o presidente<br />

da Abrapp,<br />

Jarbas de Biagi, é<br />

preciso atrair novos<br />

participantes e<br />

recursos para que a<br />

previdência privada<br />

seja saudável<br />

pág. 12<br />

ECONOMIA<br />

Na presidência do<br />

BNDES, Aloizio<br />

Mercadante afirma<br />

que o banco não<br />

cometerá erros<br />

do passado e que<br />

o crédito será<br />

mais democrático<br />

pág. 18<br />

NEGÓCIOS<br />

Primeira mulher<br />

a ocupar o cargo<br />

de CEO na Gafisa,<br />

Sheyla Resende<br />

reforça estratégia<br />

de edifícios de alto<br />

padrão em São<br />

Paulo e no Rio<br />

pág. 34<br />

SEMANA<br />

Déficit comercial de US$ 1 trilhão é o maior<br />

dos EUA desde os anos 60<br />

pág. 06<br />

MOEDA FORTE<br />

Com investimento de R$ 1,1 bilhão, clube terá<br />

praia com ondas em São Paulo<br />

pág. 10<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Rússia tem maior cobertura florestal do<br />

planteta, com 815 milhões de hectares<br />

pág. 16<br />

DINHEIRO EM BITS<br />

China lidera investimento global em P&D<br />

com US$ 456 bilhões em 2022<br />

pág. 48<br />

COBIÇA<br />

Bicicleta inspirada em Lamborghini off-road<br />

pode ser encomendada por R$ 173 mil<br />

pág. 54<br />

ARTIGO<br />

Lula precisa olhar para os números antes<br />

de falar sobre economia<br />

pág. 66<br />

CAPA Foto: Istock<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

05


Dinheironasemana<br />

POR EDSON ROSSI<br />

NA PAUTA<br />

TRIBUTÁRIA: A MÃE DE<br />

TODAS AS REFORMAS<br />

Bernard Appy está longe de ser o fracassado<br />

Posto Ipiranga do governo anterior, mas o<br />

secretário extraordinário da Reforma<br />

Tributária tem em mãos a maior arma<br />

econômica deste governo — acima mesmo do<br />

discutível e questionável Pacote Haddad<br />

anunciado em janeiro. Na quarta-feira (8), Appy<br />

afirmou que a Reforma Tributária não será “um<br />

jogo de soma zero”, em que alguns setores<br />

ganham (recolhendo menos) e outros perdem<br />

(aumentando a carga tributária). Ele afirmou<br />

em um evento do RenovaBR que “a reforma é<br />

um jogo em que no agregado todos ganham”.<br />

Duro vai ser convencer a todos os envolvidos. “É<br />

possível fazer um desenho que na prática<br />

todos os setores da economia sejam<br />

beneficiados”, disse Appy. Ele sabe que ter<br />

essa percepção será algo decisivo para o<br />

sucesso da proposta. Seu argumento é de que<br />

ela vai melhorar a expectativa dos agentes<br />

econômicos, ampliar o potencial de<br />

crescimento do País, o que terá efeitos<br />

positivo na renda de empresas e<br />

trabalhadores de todos os segmentos. No<br />

momento paz & amor vivido entre o governo e<br />

o presidente da Câmara, Arthur Lira, há<br />

chance alta de que a agenda tributária entre<br />

na pauta entre dois e três meses após o<br />

Carnaval. Lira escolheu o deputado Reginaldo<br />

Lopes (PT-MG) para presidir um grupo de<br />

trabalho para alinhar a reforma na Casa.<br />

LAYOFF<br />

Disney também embarca<br />

na temporada de demissões<br />

Robert Iger, presidente-executivo da Disney, afirmou<br />

que a corporação tem planos de reduzir 7 mil vagas de<br />

seus postos de trabalho, ou cerca de 4% do total. A medida<br />

faz parte de uma ampla reestruturação para economizar<br />

US$ 5,5 bilhões nos próximos anos. As ações da<br />

empresa subiram 9% após o anúncio, na quarta-feira (8).<br />

A iniciativa também visa alavancar o negócio de streaming<br />

do grupo. As mudanças organizacionais entrarão<br />

em vigor imediatamente e surpreenderam o mercado.<br />

Iger, que comandou a companhia entre 2005 e 2020,<br />

retornou no fim do ano passado para o principal posto da<br />

empresa a fim de colocar o grupo nos eixos. O recado é de<br />

que conseguirá isso em tempo recorde. Os lucros e receitas<br />

trimestrais excederam as expectativas de Wall Street<br />

e as perdas no streaming da Disney caíram US$ 400<br />

milhões em comparação com o trimestre anterior, o<br />

dobro do que esperavam os analistas.<br />

ABRINDO O COFRE<br />

BC Chinês aumenta<br />

liquidez monetária<br />

Na quarta-feira (8), o Banco<br />

Popular da China (o BC chinês)<br />

informou que continua a<br />

injetar fundos no sistema<br />

financeiro por meio de operações<br />

de mercado aberto.<br />

Foram 641 bilhões de yuans<br />

(cerca de US$ 95 bilhões) de<br />

recompras reversas — quando<br />

o BC adquire títulos de<br />

bancos comerciais por meio<br />

de leilões — de sete dias a<br />

uma taxa de juros de 2%. A<br />

economia chinesa dá sinais<br />

de recuperação além das<br />

expectativas dos especialistas.<br />

Um dos indicadores mais<br />

recentes foi o boom de via-<br />

“NESTE MOMENTO, AS EMPRESAS<br />

PRECISAM DIMINUIR SEUS NÍVEIS DE<br />

ENDIVIDAMENTO. O AMBIENTE<br />

ECONÔMICO ATUAL NÃO FAVORECE<br />

EMPRESAS MUITO ALAVANCADAS”<br />

MILTON MALUHY FILHO<br />

presidente do Itaú Unibanco,<br />

na quarta-feira (8)<br />

gens, com o fim das restrições<br />

de Covid Zero. Durante o feriado<br />

de sete dias por causa do ano<br />

novo chinês, o país registrou 2,9<br />

milhões de viagens internacionais,<br />

aumento de 120,5% ano a<br />

ano, e 308 milhões de viagens<br />

domésticas, alta de 23,1%.<br />

06<br />

Dinheiro 28/12/2022<br />

15/02/2023<br />

FOTOS: IMAGE PRESS AGENCY I CLAUDIO BELLI/VALOR I MARIO TAMA I ISTOCK I DIVULGAÇÃO


INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />

Alibaba lança seu ‘Chat GPT’<br />

Ninguém quer ser o último na corrida da inteligência artificial (IA). Na quarta-feira,<br />

o gigante chinês Alibaba disse que está desenvolvendo uma ferramenta nos moldes<br />

do ChatGPT da OpenIA, fenômeno que atraiu 100 milhões de usuários com dois<br />

meses de vida. O anúncio do grupo de comércio eletrônico asiático só feito após o<br />

vazamento da informação pelo jornal 21st Century Herald. A empresa disse que se<br />

concentrou em grandes modelos de linguagem e inteligência generativa por vários<br />

anos – esses modelos são sistemas de processamento de linguagem natural que são<br />

treinados em grandes volumes de texto e têm capacidade de responder e compreender<br />

perguntas bem como gerar novos textos em segundos.<br />

MUNDO<br />

Europa supera<br />

China como maior<br />

exportador aos EUA<br />

Em 2022, a China perdeu sua posição<br />

de maior parceiro comercial dos EUA.<br />

Washington adquiriu US$ 537 bilhões<br />

em bens chineses ao longo do ano passado,<br />

cifra superada pelos US$ 553<br />

bilhões da União Europeia (UE). O<br />

déficit comercial americano foi recorde,<br />

com saldo negativo de quase<br />

US$ 1 trilhão — US$ 948,1 bilhões,<br />

aumento de 12,2% em relação a 2021,<br />

de acordo com os dados publicados<br />

pelo Departamento de Comércio na<br />

terça-feira (7). É o número mais alto<br />

desde 1960. O volume total de importações<br />

do país foi de US$ 3,9 trilhões,<br />

contra US$ 3,4 trilhões do ano anterior.<br />

As exportações de bens e serviços<br />

aumentaram 17,7%, para US$ 3 trilhões,<br />

enquanto as importações subiram<br />

16,3%, para US$ 4 trilhões.<br />

EMPREGO<br />

MPE GARANTE<br />

SALDO POSITIVO<br />

Micro e Pequenas<br />

1.597.188 78,4%<br />

STREAMING<br />

Netflix aperta o cerco<br />

Na quarta-feira (8), a Netflix começou a<br />

mudar as regras do compartilhamento de<br />

senhas com seus usuários em quatro mercados<br />

— Canadá, Espanha, Nova Zelândia e<br />

Portugal. A companhia informou que os<br />

clientes desses países serão solicitados a<br />

definir um “local principal” para suas contas<br />

e terão duas “subcontas” para usuários<br />

que não moram no endereço ‘oficial’. Além<br />

disso, a empresa cobrará uma taxa mensal<br />

por usuário extra: em Portugal será equivalente<br />

a 3,99 euros e na Espanha, 5,99 euros.<br />

“Atualmente, mais de 100 milhões de lares<br />

estão compartilhando contas — impactando<br />

Praticamente oito a cada dez empregos gerados no<br />

País em 2022 foram em Micro e Pequenas Empresas<br />

(MPE) segundos dados divulgados quarta-feira (8)<br />

pelo Sebrae em cima de números do Caged<br />

Médias e Grandes<br />

342.261 16,8%<br />

TOTAL 2.037.982 100%<br />

Adm. Pública & Avulsos<br />

98.533 4,8%<br />

nossa capacidade de investir em novos<br />

filmes e programas de TV”, disse<br />

Chengyi Long, diretor de Inovação de<br />

Produtos da empresa. Não há data definida<br />

para as alterações chegarem aos<br />

demais mercados, incluindo o Brasil.<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

07


multipropriedade<br />

infraestrutura para o primeiro trimestre<br />

Após bater recorde de vendas,<br />

divisão de motocicletas amplia<br />

produção e portfólio no Brasil<br />

3 1<br />

0 1<br />

ENTREVISTA<br />

Andrea Crisanaz, CEO da Generali:<br />

“As companhias de seguro terão de<br />

se tornar empresas de tecnologia”<br />

ACELERA, LULA<br />

Governo anuncia verba de R$ 19 bilhões<br />

para reativar 110 obras e novos projetos de<br />

BMW EM ALTA ROTAÇÃO<br />

FUNDADOR: DOMINGO ALZUGARAY<br />

(1932 - 2017)<br />

EDITORA<br />

CATIA ALZUGARAY<br />

PRESIDENTE-EXECUTIVO<br />

CACO ALZUGARAY<br />

CARTAS, E-MAILS<br />

E REDES SOCIAIS<br />

REPORTAGEM DE CAPA<br />

“A recuperação<br />

do turismo está<br />

em velocidade<br />

máxima e a<br />

DIRETOR EDITORIAL<br />

CARLOS JOSÉ MARQUES<br />

DIRETOR DE NÚCLEO<br />

CELSO MASSON<br />

TEXTO<br />

REDATOR-CHEFE: Edson Rossi<br />

EDITORES: Ernani Fagundes, Hugo Cilo, Lana Pinheiro<br />

e Paula Cristina<br />

EDITOR-ASSISTENTE: Beto Silva<br />

REPORTAGEM: Angelo Verotti, Anna França, Bruno Andrade,<br />

Jaqueline Mendes, Lara Sant'Anna e Victor Marques<br />

ARTE<br />

DIRETOR DE ARTE: Jefferson Barbato<br />

DESIGNERS: Christiane Pinho e Oliver Quinto<br />

ILUSTRAÇÃO: Evandro Rodrigues (chefe) e Fabio X<br />

PROJETO GRÁFICO: Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens)<br />

<strong>ISTOÉ</strong> DINHEIRO ON-LINE<br />

EDITOR EXECUTIVO: Airton Seligman<br />

EDITORA ASSISTENTE: Aryel Fernandes<br />

REPÓRTERES: Bruno Pavan, Daniela Quitanilha, Diego Ferron, Edda<br />

Ribeiro<br />

REPÓRTERES FREELANCERS: Rodrigo Faveto e Marcelo Almeida<br />

WEB DESIGNERS: Alinne Souza e Thais Rodrigues<br />

FOTOGRAFIA<br />

Pesquisa: Sidinei Lopes<br />

Arquivo: Eduar do A. Con ceição Cruz<br />

CTI: Silvio Paulino e Wesley Rocha<br />

APOIO ADMINISTRATIVO<br />

Gerente: Maria Amé lia Scarcello Secretária: Terezinha Scarparo<br />

Assistente: Cláudio Monteiro<br />

MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA<br />

Diretor: Edgardo A. Zabala<br />

Gerente Geral de Venda Avulsa e Logística: Yuko Lenie Tahan<br />

Central de Atendimento ao Assinante: (11) 3618-4566 de 2 a a 6 a<br />

feira 10h às 16h20, sábado 9h às 15h.<br />

Outras Capitais: 4002-7334<br />

Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares)<br />

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Diretor nacional: Maurício Arbex<br />

Secretária da diretoria de publicidade: Regina Oliveira<br />

Diretora de marketing e projetos: Isabel Povineli<br />

Assistente: Valéria Esbano - Gerente Executiva: Andréa Pezzuto -<br />

Diretor de Arte: Pedro Roberto de Oliveira -<br />

Coordenadora: Rose Dias Contato: publicidade@editora3.com.br<br />

ARACAJU – SE: Pedro Amarante • Gabinete de Mídia • Tel.: (79)<br />

3246-4139 / 99978-8962 – BELÉM – PA: Glícia Diocesano • Dandara<br />

Representações • Tel.: (91) 3242-3367 / 98125-2751 – BELO<br />

HORIZONTE – MG: Célia Maria de Oliveira • 1a Página Publicidade<br />

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Leonardo Holanda – Nordeste MKT Empresarial – Tel.: (85) 98832-<br />

2367 / 3038-2038 – GOIÂNIA –GO: Paula Centini de Faria – Centini<br />

Comunicação – Tel. (62) 3624-5570/ (62) 99221-5575 –<br />

PORTO ALEGRE – RS: Roberto Gianoni, Lucas Pontes • RR<br />

Gianoni Comércio & Representações Ltda • Tel./fax: (51) 3388-7712/<br />

99309-1626<br />

Dinheiro (ISSN 1414-7645) é uma publicação semanal da Três Editorial Ltda.<br />

Redação e administração: Rua William Speers, n o 1.088, São Paulo-SP,<br />

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Dinheiro não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados.<br />

Comercialização e Distribuição: Três Comércio de Publicações Ltda.<br />

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Rua Osasco, 1086 - Guaturinho, CEP 07750-000<br />

Cajamar - SP<br />

O novo filão do turismo<br />

Muito bom! Belo investimento.<br />

Rodolfo Saxon<br />

A matéria de multipropriedade viabiliza<br />

novos empreendimentos de resort com<br />

foco em entretenimento.<br />

Heber Garrido<br />

A reforma tributária sai?<br />

Se quiser ter o mínimo de apoio popular,<br />

o governo precisa de uma reforma justa.<br />

Paulo Lemos<br />

Aritmética segundo a<br />

Americanas<br />

Os sócios têm quatro vezes o valor do<br />

rombo. Que paguem.<br />

Jefferson Asila<br />

Palhaçada como a Justiça protege o<br />

multibilionário e arranca a casa do pobre<br />

que atrasa o financiamento imobiliário<br />

depois de três meses.<br />

Rui Marin<br />

“Já viramos uma empresa de<br />

tecnologia que faz seguros”<br />

Entrevista com Andrea Crisanaz<br />

Há empresas de seguro que usam<br />

satélites da Nasa para previsão apurada<br />

de locais com risco de incêndio na<br />

Califórnia.<br />

Leo Ribeiro<br />

O plano de Lula para a<br />

infraestrutura<br />

O problema é usar só dinheiro público.<br />

Cadê as parcerias?<br />

Alex Leite<br />

Para onde vai o Congresso<br />

Lula vai precisar de muito mais que do<br />

mensalão para dobrar esses políticos<br />

fisiológicos que tomaram o Congresso.<br />

Fernando Rodrigues<br />

Saiu caro manter o cão na guia.<br />

Wesley Rossi<br />

é o motor desse<br />

crescimento”<br />

SERGIO NEY<br />

PADILHA, CEO<br />

do Grupo Ferrasa,<br />

dono do Hot Beach,<br />

em Olímpia (SP)<br />

O NOVO FILÃO DO TURISMO<br />

Modelo consagrado nos Estados Unidos e em outros países, o fracionamento de imóveis de<br />

lazer fecha 2022 com R$ 41,1 bilhões de lançamentos e projeta crescer 28% este ano.<br />

Entenda por que 800 mil famílias decidiram comprar fatias de um empreendimento hoteleiro<br />

e de que forma esse negócio está redefinindo o setor no Brasil<br />

Fale conosco<br />

Cartas para esta se ção, com en de re ço, RG e te le fo ne,<br />

devem ser remetidas para: Diretor de Redação, <strong>ISTOÉ</strong><br />

DI NHEI RO, R. Wil liam Speers, 1.088, Lapa, São Pau lo - SP,<br />

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dinheiro; LinkedIn: IstoÉ Dinheiro. Mensagens poderão<br />

ser editadas em ra zão de seu ta manho ou clareza.<br />

www.istoedinheiro.com.br<br />

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Alemanha aproxima Mercosul<br />

da Europa<br />

Só faltam 27 países aceitarem agora.<br />

Carlos Madureira<br />

Pix de crédito vem aí<br />

O problema é usar recursos do Tesouro<br />

como garantia.<br />

Rodrigo Morin<br />

A estrada de crescimento da<br />

BMW<br />

Mas ainda precisa melhorar muito o pré<br />

e o pós-venda. Em Fortaleza meu<br />

atendimento foi péssimo.<br />

José Alberto<br />

Ocupação do varejo<br />

Sensacional a iniciativa e parabéns à<br />

revista por colocar luz no que de fato<br />

esses produtores fazem.<br />

Gui Silva<br />

A mágica de fazer com que<br />

bilhões desapareçam<br />

O Coaf deve estar com o MP. Crime de<br />

colarinho branco deve ter penas duras.<br />

Thiago Augusto Leite<br />

O Brasil bolsonarista virou a nação da<br />

fraude fiscal.<br />

Henrique Cahr<br />

9 7 7 1 4 1 4 7 6 4 0 0 0 0<br />

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08<br />

Dinheiro 15/02/2023


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Moedaforte<br />

POR HUGO CILO<br />

SÃO PAULO NA CRISTA DA ONDA<br />

O empresário Oscar Segall, dono da KSM Realty e um dos herdeiros do<br />

clã Klabin, segue firme em seu plano de levar praia para lugares longe<br />

do mar. Depois de concluir a maior praia artificial do País dentro do<br />

luxuoso condomínio Fazenda da Grama, em Itupeva (SP), ele vai<br />

começar no próximo mês a obra de um novo oásis na capital paulista,<br />

o Beyond the Club, ao lado da ponte Transamérica. A inauguração está<br />

prevista para 2025, a um custo de R$ 1,1 bilhão. O empreendimento é<br />

uma parceria KSM Realty com o BTG Pactual Asset Management e a<br />

Realty Properties. O Beyond será o primeiro clube na capital com uma<br />

praia artificial com ondas da empresa espanhola Wavegarden. Terá<br />

também um skate park assinado por Bob Burnquist. O local terá<br />

simuladores de esqui, de golfe, de F-1 e uma arena gamer desenvolvida<br />

por Samuel Walendowsky, da Liberty Esports. O projeto de arquitetura<br />

é assinado por Aflalo & Gasperini. “Essa é a realização de um<br />

sonho como empresário e surfista”, afirmou Segall à DINHEIRO.<br />

Quer ficar sócio? Prepare o bolso. Os primeiros títulos já começaram<br />

a ser vendidos por R$ 630 mil. No total serão 3 mil títulos.<br />

ROBÔS SALVARAM R$ 1 BILHÃO<br />

Que a burocracia no Brasil é um ralo de<br />

dinheiro, todo empresário sabe. A<br />

novidade é que robôs estão ajudando a<br />

reduzir o desperdício com pagamento<br />

errado de impostos. A consultoria<br />

brasileira Roit, com 200 robôs,<br />

conseguiu fazer com que clientes<br />

resgatassem R$ 1 bilhão de tributos<br />

pagos indevidamente no ano passado,<br />

segundo a COO Caroline Souza. A<br />

robotização e a inteligência artificial<br />

geraram eficiência no cálculo e<br />

pagamento de impostos e no<br />

cruzamento de dados com a Receita<br />

Federal. “Fazer [as contas] na<br />

mão é possível, mas leva<br />

muito tempo e gera<br />

muitos erros”,<br />

afirmou. “Com<br />

tecnologia, o<br />

processo é<br />

muito mais<br />

eficiente, ágil e<br />

assertivo.”<br />

UM OLHO<br />

NA FOLIA,<br />

OUTRO NO<br />

CELULAR<br />

Fonte: Terra<br />

PESQUISA DIGITAL<br />

REALIZADA PELO<br />

PORTAL TERRA SOBRE OS<br />

INTERESSES DOS FOLIÕES<br />

CONSTATOU QUE OS<br />

BRASILEIROS VÃO PASSAR<br />

O FERIADO COM A CARA<br />

NA TELA DO CELULAR<br />

SE ORGANIZAR DIREITINHO,<br />

TODO MUNDO PAGA<br />

A lawtech KOR Solutions, especializada<br />

em soluções de conflitos entre<br />

empresas e consumidores, descobriu<br />

que só há um caminho para reduzir 80<br />

milhões de processos e R$ 270 bilhões<br />

em disputas entre clientes e empresas:<br />

negociar. Segundo o CEO Victor<br />

Aracaty, a empresa cresce 30% ao<br />

mês com o uso de sistemas de gestão<br />

processual que reduzem em 43%<br />

os custos do valor negociado.<br />

utilizam mídias<br />

sociais para<br />

47% Q<br />

acompanhar<br />

o Carnaval<br />

V<br />

preferem<br />

assistir<br />

29% pela televisão<br />

24% outros meios<br />

O<br />

?<br />

10<br />

Dinheiro 12/01/2022<br />

FOTOS: GABRIEL REIS | MARCO TORELLI I DIVULGAÇÃO


QUER<br />

VER<br />

O QUÊ?<br />

?<br />

BANCO ORIGINAL DOBRA NO B2B<br />

DIVISÃO DE TECNOLOGIA B2B DO BANCO ORIGINAL,<br />

O ORIGINAL HUB DOBROU SUA OPERAÇÃO EM 2022.<br />

FORAM MAIS DE R$ 50 BILHÕES MOVIMENTADOS E<br />

APROXIMADAMENTE 500 MILHÕES DE TRANSAÇÕES,<br />

SEGUNDO ALEX CONCEIÇÃO, EXECUTIVO QUE COMANDA<br />

A ÁREA, PARA 2023, O OBJETIVO É CRESCER MAIS 30%<br />

FOCANDO EM PAGAMENTO E RECEBIMENTO, COMO O<br />

PIX COBRANÇA. O EXECUTIVO AFIRMA QUE A ORDEM<br />

É ACELERAR A OFERTA DE SERVIÇOS E FACILITAR<br />

A JORNADA FINANCEIRA DOS BRASILEIROS.<br />

INCLUSÃO<br />

E SAÚDE<br />

MENTAL<br />

A pandemia deixou muita gente mentalmente doente,<br />

mas criou uma oportunidade de negócio para a<br />

socióloga Carine Roos. Pouco meses depois de criar<br />

a Newa, ela fechou contratos com Accenture, Banco<br />

Pan, Cogna, Itaú e Kraft Heinz para cuidar da saúde<br />

emocional dos funcionários, especialmente mulheres<br />

em cargos de comando. “Tivemos de ampliar a nossa<br />

atuação para trabalhar não só com as mulheres, mas<br />

com outras diversidades e lideranças”, disse Carine.<br />

Só em 2022 ela atendeu mais de 2,5 mil profissionais.<br />

46%<br />

têm<br />

interesse<br />

nas<br />

galerias<br />

de fotos<br />

25%<br />

em<br />

vídeos<br />

curtos<br />

17%<br />

em<br />

lives<br />

12%<br />

em textos<br />

sobre blocos<br />

de rua e<br />

desfiles das<br />

escolas de<br />

samba<br />

LOFT APOSTA NOS<br />

ESTADO DO SUL<br />

A startup imobiliária Loft<br />

vai abrir operação em<br />

Curitiba neste primeiro<br />

trimestre, completando<br />

a presença em todos os<br />

estados da região Sul.<br />

A expansão tem sido<br />

feita em parceria com<br />

imobiliárias locais,<br />

estratégia iniciada em<br />

abril do ano passado,<br />

o que acelera esse<br />

crescimento. Na capital<br />

paranaense, cinco<br />

imobiliárias já fecharam<br />

acordo com a Loft. Em<br />

janeiro, a proptech<br />

brasileira entrou em<br />

Florianópolis e Balneário<br />

Camboriú e, nos últimos<br />

seis meses, chegou a 22<br />

novas cidades em três<br />

estados no País. O plano<br />

de expansão para<br />

Curitiba e outros temas<br />

estratégicos foram<br />

anunciados em dois dias<br />

de convenção, com 120<br />

líderes do grupo Loft.<br />

MINHA CASA, MINHA TECNOLOGIA<br />

EDUCAÇÃO VIA<br />

CHATBOT<br />

A edtech ChatClass,<br />

especializada em cursos<br />

chatbot, dobrou o número de<br />

clientes no ano passado e<br />

chegará a R$ 10 milhões em<br />

2023 graças a contratos com<br />

empresas como 99, Cultura<br />

Inglesa, EDP, Positivo e<br />

Senais. Segundo o alemão<br />

Jan Krutzinna, fundador<br />

e CEO da ChatClass,<br />

a inteligência artificial tomou<br />

conta de escolas e empresas.<br />

“A automação bem aplicada<br />

tem gerado resultados muito<br />

positivos para os negócios",<br />

afirmou o CEO.<br />

De olho no mercado de curta estadia, a empresa de tecnologia<br />

em gestão imobiliária Xtay planeja saltar dos atuais 150 imóveis<br />

no País para mais de 1 mil, de acordo com o CEO Gabriel<br />

Fumagalli. A empresa, que é uma mistura de<br />

Airbnb, hotel e Uber, deve superar a marca de<br />

R$ 10 milhões em receita. Por app oferece<br />

aluguel de apartamentos. Os hóspedes podem<br />

solicitar serviços como concierge, lavanderia e<br />

limpeza, e pagam tudo eletronicamente. “Nossa<br />

proposta de valor é oferecer serviços de<br />

melhor qualidade com custos mais<br />

acessíveis”, disse Fumagalli. A empresa<br />

tem o grupo Atrio Hoteis como sócio<br />

majoritário e opera na Grande<br />

Florianópolis, em Curitiba, Rio de<br />

Janeiro e São Paulo. Nas próximas<br />

semanas, chega a João Pessoa.<br />

Dinheiro 15/02/2023 11


Entrevista | Jarbas Antonio de Biagi, presidente da Abrapp<br />

“Ainda<br />

temos uma<br />

avenida para<br />

percorrer em<br />

educação<br />

financeira e<br />

previdenciária”<br />

O Brasil poupa pouco quando comparado<br />

a outros países e tem vocação para pagar<br />

benefícios demais. Segundo o presidente da<br />

Associação Brasileira das Entidades Fechadas<br />

de Previdência Complementar (Abrapp) é preciso<br />

atrair novos participantes e recursos não apenas<br />

para garantir melhores aposentadorias como para<br />

ajudar o governo a investir em infraestrutura<br />

Fagundes SCHANDERT<br />

12 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: GUSTAVO LOURENÇÃO | ALOISIO MAURICIO / FOTOARENA / FOLHAPRESS


Eleito para presidir a Associação Brasileira<br />

das Entidades Fechadas de Previdência<br />

Complementar (Abrapp) no biênio<br />

2023-2024, o advogado e mestre em Direito<br />

pela PUC de São Paulo Jarbas Antonio<br />

de Biagi é também diretor financeiro<br />

da OABPrev-SP e autor de vários livros<br />

e artigos sobre o tema. É na condição de<br />

especialista que ele tem liderado pedidos<br />

junto ao Ministério da Previdência para<br />

que defina políticas que garantam a competitividade<br />

dos fundos de pensão em<br />

relação à previdência complementar aberta<br />

(VGBL/PGBL). Nesta entrevista à DI-<br />

NHEIRO, ele falou sobre como o segmento<br />

representado pela<br />

entidade que preside<br />

enfrentará a concorrência<br />

do Tesouro Renda+<br />

Aposentadoria Extra,<br />

título de previdência do<br />

Tesouro Direto que<br />

compete com planos de<br />

Previdência Associativa.<br />

Ainda segundo Biagi,<br />

os principais fundos<br />

de pensão tiveram perdas<br />

apenas residuais<br />

com debêntures e ações<br />

da Americanas. Mesmo<br />

assim, o setor irá entrar<br />

na Justiça para exigir<br />

reparações financeiras<br />

decorrentes da fraude<br />

contábil que está sendo<br />

investigada.<br />

DINHEIRO – Já se sabe<br />

quanto os fundos de pensão perderam<br />

com debêntures e ações de Americanas?<br />

JARBAS ANTONIO DE BIAGI – Nós fizemos<br />

várias reuniões para avaliar essas perdas,<br />

pois esse é um caso de valor expressivo,<br />

de uma companhia que, até então, estava<br />

acima nas classificações de risco, era triplo<br />

A [melhor nota de risco de crédito].<br />

Mas, entre os fundos de pensão, essas<br />

operações com debêntures estavam muito<br />

pulverizadas. Alguns fundos tinham<br />

um pouco de ações. Na nossa análise, o<br />

impacto foi residual. Mas a Abrapp está<br />

analisando as medidas cabíveis para eventual<br />

ressarcimento.<br />

A intenção é entrar na Justiça para recuperar<br />

o prejuízo?<br />

Sim. Na verdade, não importa se é pouco<br />

ou muito, se houve algo [fraude], temos<br />

que buscar reparação. O dinheiro é do<br />

participante [dos planos]. Não foi nada<br />

que trouxesse impacto a ponto de criar<br />

um sinal amarelo ou vermelho para algumas<br />

das entidades. As linhas de defesa<br />

se mostraram eficientes. As perdas<br />

foram pequenas, o que faz parte do risco<br />

do nosso negócio.<br />

De quanto estamos falando?<br />

De acordo com os dados da Abrapp, entre<br />

“O impacto da Americanas foi residual para os<br />

fundos de pensão. Mas temos de buscar reparação,<br />

pois o dinheiro é dos participantes dos planos”<br />

as maiores entidades, a exposição da Previ<br />

[dos funcionários do Banco do Brasil]<br />

era de R$ 39,5 milhões, apenas 0,011% do<br />

total. Na Funcef [funcionários da Caixa],<br />

a exposição era de R$ 30,8 milhões ou<br />

0,038% do total de recursos administrados<br />

pela fundação. Outros oito fundos de<br />

pensão registravam volumes bem menores:<br />

Baneses (0,08%), Capef (0,01%), CargillPrev<br />

(0,02%), Embraer Prev (0,03%),<br />

Forluz (0,06%), Petros (0,01%), Postalis<br />

(0,03% de exposição) e Vivest (0,06%).<br />

De acordo com os dados da Abrapp, houve<br />

uma queda da fatia em crédito privado,<br />

de 3,6% em 2015 (R$ 24 bilhões) para<br />

1,4% em 2022 (R$ 15 bilhões) no patrimônio<br />

das entidades. Quais foram os<br />

motivos para a redução dessa exposição?<br />

Entre 2015 e 2016 nós debatemos muito<br />

essa questão com o órgão supervisor,<br />

a Previc (Superintendência de Crédito<br />

Privado). Sofremos muitas autuações<br />

em operações de crédito privado, o que<br />

levou os gestores a uma postura de segurança<br />

e de cumprir a supervisão. De<br />

lá para cá não tivemos tantas opções<br />

que justificassem correr mais riscos em<br />

crédito privado, o que levou à redução<br />

das carteiras. O crédito privado possui<br />

um risco maior em<br />

comparação com os<br />

títulos públicos. Nós<br />

evoluímos nisso, os riscos<br />

não compensavam<br />

o investimento.<br />

Também nos últimos<br />

anos as fundações<br />

avançaram com planos<br />

de previdência associativa<br />

instituídos. Eles<br />

podem concorrer com<br />

produtos como o Tesouro<br />

Renda+ Aposentadoria<br />

Extra, lançado recentemente<br />

pelo<br />

Tesouro Direto?<br />

Sem dúvida esse produto<br />

do Tesouro concorre<br />

com os planos de previdência.<br />

Pela ótica positiva,<br />

o fato de o governo<br />

pautar esse assunto nos ajuda em educação<br />

financeira e previdenciária. O<br />

Brasil poupa pouco se comparado com<br />

outros países. Nosso setor tem patrimônio<br />

equivalente a algo entre 13% e 14%<br />

do PIB e patina nesse percentual há bastante<br />

tempo. Nós temos a vocação de<br />

pagar benefícios, e acumulamos uma<br />

folha de pagamentos grande. No ano<br />

passado, alcançamos algo próximo a<br />

R$ 100 bilhões em benefícios.<br />

Quais são as vantagens tributárias da<br />

previdência complementar associativa?<br />

Durante todo o período de acumulação<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

13


Entrevista | Jarbas Antonio de Biagi<br />

do plano de previdência complementar<br />

não há nenhuma tributação, que só ocorre<br />

na conversão para renda. O título<br />

Tesouro Renda+ possui a mesma taxação<br />

do CDB. Para quem tem uma renda<br />

maior e faz o Imposto de Renda (IR) na<br />

declaração completa, a previdência complementar<br />

também oferece a isenção de<br />

12%, um benefício que não existe no<br />

título público. Na previdência associativa<br />

também há regras de portabilidade.<br />

Quem não está contente com a rentabilidade<br />

pode portar esses recursos para<br />

outro plano sem precisar<br />

resgatar. No caso<br />

do patrocinado [quando<br />

a empresa contribui<br />

para o plano] só é possível<br />

fazer a portabilidade<br />

quando o participante<br />

se desliga da<br />

empresa. Então, nessa<br />

ótica, vemos como positivo<br />

a chegada do<br />

Renda+. Nós entendemos,<br />

que no comparativo,<br />

a rentabilidade da<br />

previdência complementar<br />

fechada é muito<br />

boa na comparação<br />

com os títulos públicos<br />

e previdência aberta.<br />

Para a baixa renda,<br />

qualquer opção de previdência<br />

é boa, seja o<br />

Tesouro ou até mesmo<br />

a caderneta de poupança.<br />

Em qual público, a previdência complementar<br />

pode crescer?<br />

Temos 3,7 milhões de participantes no<br />

Sistema Fechado e um universo de cerca<br />

de 6,5 milhões de pessoas que ganham<br />

acima do teto da Previdência<br />

Social, que não tem previdência. Ao<br />

todo, são mais de 100 milhões de pessoas<br />

com renda. Nós temos um trabalho<br />

até de orientar os profissionais autônomos<br />

da importância de recolher para<br />

o Regime Geral, o INSS, e depois complementar<br />

sua renda. Ainda temos uma<br />

avenida para percorrer em educação<br />

financeira e previdenciária.<br />

“Nós queremos um benefício tributário, que não é<br />

renúncia fiscal, para os trabalhadores de baixa renda<br />

possam ter seu plano de previdência complementar”<br />

Com está relacionamento das entidades<br />

de previdência com o novo governo?<br />

Os fundos de pensão são parceiros do<br />

governo, da Nação, mas hoje, as decisões<br />

de investimentos são todas colegiadas.<br />

Teremos investimentos de risco [caso<br />

da infraestrutura], sim, mas não será<br />

como no passado, quando tínhamos<br />

tempo para rentabilizar. Hoje temos<br />

compromissos com o pagamento de benefícios.<br />

Para ajudar o governo em projetos<br />

de infraestrutura observando<br />

rentabilidade e liquidez, precisamos<br />

atrair novos participantes e recursos.<br />

Nós já tivemos uma audiência com o<br />

ministro da Previdência, Carlos Lupi.<br />

Fomos muito bem recebidos e ele se<br />

mostrou receptivo às nossas propostas.<br />

Quais propostas foram levadas?<br />

Nós queremos um incentivo tributário,<br />

que não é renúncia fiscal, para os trabalhadores<br />

de baixa renda e que faz a declaração<br />

do Imposto de Renda no modelo<br />

simplificado. O projeto é simples, se o<br />

cidadão faz declaração no simplificado,<br />

se tiver R$ 1 mil de renda, se ele colocar<br />

R$ 30 em previdência privada, ele pagaria<br />

o IR sobre R$ 970, e não sobre R$ 1<br />

mil. E se tiver uma empresa, um microempresário,<br />

de uma pequena ou média<br />

empresa, que paga o IR pelo lucro presumido,<br />

tem um projeto no mesmo sentido.<br />

Que o empresário possa descontar<br />

até 6% do IR, desde que faça um plano<br />

de previdência para os seus funcionários.<br />

Ou se for um empresário individual, que<br />

se possa colocar num plano de previdência<br />

também com esses<br />

benefícios. Nós só dependemos<br />

da vontade<br />

do governo para aprovar<br />

isso e aumentar a<br />

cobertura previdenciária<br />

complementar.<br />

Com o Tesouro IPCA<br />

pagando inflação mais<br />

juros acima de 6% ao<br />

ano, as fundações vão<br />

aproveitar para aplicar<br />

mais recursos em títulos<br />

públicos?<br />

Pelo marco regulatório<br />

é possível investir até<br />

100% em títulos públicos<br />

se as entidades entenderem<br />

convenientes.<br />

Nos últimos 20 anos se<br />

evoluiu muito no casamento<br />

de ativos e passivos<br />

para não ter um aperto de liquidez.<br />

As políticas de investimentos que nós<br />

temos conhecimento têm aumentado o<br />

investimento em títulos, ou no mínimo,<br />

conservado a exposição que já se tinha<br />

em papéis do governo. Se confirmar o<br />

cenário de juros altos, a tendência é que<br />

as fundações aumentem ainda mais a<br />

exposição em títulos de inflação. Por outro<br />

lado, a maioria dos planos são maduros,<br />

pagam mais benefícios do que arrecadam,<br />

para esses, o Tesouro Selic deve<br />

ser uma tendência em 2023. Eu acredito<br />

que vamos terminar o ano uma exposição<br />

maior em títulos privados.<br />

14 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: ANTONIO CRUZ / ABR


Sustentabilidade<br />

POR LANA PINHEIRO<br />

MAPA-MÚNDI VERDE<br />

Quiz rápido: qual país com a maior área florestal do<br />

mundo? Se você lembrou da floresta Amazônica,<br />

Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Pampa, e cravou<br />

Brasil, errou. Hoje, o topo do ranking pertence à Rússia<br />

com 815 milhões de hectares de cobertura florestal. Para<br />

ficar mais fácil entender a dimensão, vale a informação de<br />

que cada hectare corresponde a um campo de futebol oficial.<br />

O Brasil aparece em segundo com o equivalente a 497 milhões<br />

de campos de futebol no mapa. Canadá, Estados Unidos<br />

e China completam o Top 5. Interessante destacar o caso<br />

chinês. Na década de 1990, a cobertura verde do país asiático<br />

havia caído a 16,7% do território, ou 160 milhões de hectares.<br />

Hoje, no 5º lugar do ranking, evoluiu a 220 milhões de hectares<br />

ou quase 23% da área total. A meta é ultrapassar os 24%<br />

até os próximos dois anos. A mudança foi intencionalmente<br />

planejada pelo governo local que dentre as ações anunciadas<br />

está a de plantar 36 mil km 2 (3,6 milhões ha) de novas<br />

florestas por ano até 2025. Já no Brasil, o movimento foi o<br />

inverso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística (IBGE), o País perdeu o equivalente a 6% do seu<br />

território em florestas e vegetações campestres nativas. A<br />

área corresponde a mais de 51 milhões de campos de futebol<br />

desmatados, tamanho dos estados de São Paulo, Rio de<br />

Janeiro, Paraná e Sergipe, somados.<br />

Obs: O mapa-múndi ao lado é uma representação gráfica das<br />

áreas cobertas pelas copas das árvores realizada pelo cientista<br />

de dados geoespaciais Adam Symington. Para construi-lo,<br />

publicado originalmente na plataforma Visual Capitalist, o<br />

autor usou imagens coletadas a bordo do sensor MODIS.<br />

3º Canadá<br />

347<br />

9º Peru<br />

72<br />

4º EUA<br />

310<br />

7º República<br />

Democrática<br />

do Congo<br />

126<br />

2º Brasil<br />

497<br />

EDITAL<br />

RECURSOS PARA<br />

EMPODERAMENTO LGBTQIAP+<br />

Projetos criados para fortalecer o<br />

empreendedorismo, geração de<br />

renda ou empregabilidade da<br />

comunidade LGBTQIAP+ já podem se<br />

inscrever no edital LGBT+ Orgulho.<br />

Criado Itaú Unibanco em parceria<br />

com o Instituto +Diversidade, o edital<br />

beneficiará 16 projetos, com aporte<br />

de R$ 500 mil para as propostas<br />

selecionadas.“Além de promover<br />

impacto direto por meio do fomento<br />

às iniciativas, pretendemos<br />

reconhecer o valor desses atores<br />

comunitários para prosperidade das<br />

pessoas LGBTQIAP+”, disse João<br />

Torres, presidente executivo do<br />

Instituto +Diversidade. Podem se<br />

inscrever coletivos, organizações sem<br />

fins lucrativos ou pessoas físicas.<br />

US$ 1,7<br />

bilhão<br />

é o quanto a América Latina<br />

perde por ano em matériasprimas<br />

como ouro e metais<br />

raros presentes nos<br />

equipamentos eletrônicos<br />

descartados incorretamente.<br />

O dado é da ONU.<br />

ENERGIA<br />

LUZ PARA<br />

RIBEIRINHOS<br />

Como resultado do<br />

investimento de R$ 45<br />

milhões executado pela<br />

Unicoba, hoje mais de<br />

900 famílias de<br />

Rondônia têm acesso à<br />

energia. A iniciativa faz<br />

parte do programa Mais<br />

Luz para a Amazônia,<br />

projeto do governo<br />

federal e do Ministério<br />

de Minas e Energia.<br />

Nesta etapa, foram<br />

atendidas 68<br />

comunidades remotas<br />

espalhadas por 15<br />

municípios do estado.<br />

16 Dinheiro 15/02/2023<br />

INFOGRÁFICO: EVANDRO RODRIGUES | FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO


1º Rússia<br />

815<br />

Cotas para<br />

diversidade<br />

FORMAÇÃO<br />

Cobertura<br />

(em mihões de hectares)<br />

CURSO GRATUITO<br />

PARA PROFESSORES<br />

10º Índia<br />

72<br />

Sob presidência de Ana Lúcia Villela,<br />

o Instituto Alana continua sua missão<br />

de defender os interesses de crianças<br />

nas mais diversas esferas. Inclusive na<br />

ambiental. É nesse contexto<br />

que a organização<br />

anuncia o início das<br />

inscrições para<br />

formação, on-line e<br />

gratuita, para inspirar<br />

professores da<br />

Educação Infantil, Ensino<br />

Fundamental I e<br />

educadores do contexto não<br />

formal a verdejar as escolas. O objetivo<br />

é levar mais natureza para dentro das<br />

instituições. Em dois anos, a iniciativa já<br />

engajou cerca de 1 mil educadores, em<br />

cidades como Jundiaí e São Paulo (SP).<br />

6º Austrália<br />

134<br />

5º China<br />

220<br />

8º Indonésia<br />

92<br />

ÁLBUM DE<br />

FOTOGRAFIA<br />

Cirrhilabrus finifenmaa é seu nome<br />

científico. Popularmente conhecido<br />

como bodião de fada com véu rosa,<br />

o peixe com escamas arco-íris foi<br />

recentemente reconhecido como<br />

nova espécie pela revista científica<br />

ZooKeys. É encontrado nas<br />

Maldivas, em recifes que ficam entre<br />

50 a 150 metros de profundidade.<br />

Ações afirmativas Brasil e Estados<br />

Unidos<br />

“Compartilhar experiências é fundamental<br />

para o avanço da pesquisa<br />

científica.” A frase é do Dr. Clifford<br />

Jaylen Louime, professor e pesquisador<br />

da Universidade de Porto Rico,<br />

EUA. “As colaborações internacionais<br />

ajudam a facilitar seu desenvolvimento,<br />

desafiando construtivamente<br />

ideias aceitas”. Nesse contexto, a<br />

Faculdade Zumbi dos Palmares e<br />

mais duas universidades americanas,<br />

a Prairie View A&M University,<br />

no Texas, e a University of Puerto<br />

Rico, principal sistema universitário<br />

público da Comunidade de Porto<br />

Rico dos Estados Unidos, vão estudar<br />

os impactos sociais e econômicos<br />

da lei de Cotas, em um paralelo<br />

Brasil-EUA. Esta parceria enriquece<br />

ainda mais o ambiente acadêmico<br />

brasileiro, buscando o intercâmbio<br />

de professores e estudantes, novas<br />

fontes de financiamento e a internacionalização<br />

do currículo. “Vivemos<br />

em uma sociedade globalizada onde<br />

a maioria dos problemas com os<br />

quais nos deparamos não são mais<br />

questões locais”, diz o Dr. José<br />

Vicente, presidente e reitor da<br />

Universidade Zumbi dos Palmares.<br />

“Portanto, estudar os impactos da<br />

Lei de Cotas a partir de uma perspectiva<br />

internacional pode proporcionar<br />

novos ideias que beneficiem<br />

tanto a sociedade brasileira<br />

quanto o mundo enterro”.<br />

Conteúdo produzido em parceria com a<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

17


ECONOMIA<br />

À LUZ DO NOVO BNDES<br />

ALOIZIO<br />

MERCADANTE<br />

ASSUME O BANCO DE<br />

FOMENTO COM DOIS<br />

FOCOS: NÃO REPETIR<br />

OS ERROS DO<br />

PASSADO, E INSERIR<br />

O BRASIL EM UMA<br />

POLÍTICA DE<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

ATRELADA À<br />

TECNOLOGIA,<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

E DEMOCRATIZAÇÃO<br />

DO ACESSO AO<br />

CRÉDITO<br />

Paula CRISTINA<br />

18 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: TON MOLINA


Assumir um banco de fomento com o histórico de ataques<br />

e questionamentos recentes como aconteceu com o Banco<br />

Nacional de Desenvolvimento Ecômico e Social (BNDES)<br />

não é tarefa fácil. Mas aceitar o cargo após ser coordenador<br />

da campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e precisando<br />

revogar parte da lei das estatais para tomar posse<br />

é ainda mais difícil. E essa é só uma fração do problema que o<br />

petista histórico Aloizio Mercadante enfrentará no comando e<br />

gestão do banco que volta à cena com a promessa de garantir óleo<br />

nas engrenagens da economia brasileira. Em sua posse no dia 6<br />

de fevereiro, Lula foi claro: “Mercadante, você não faz ideia da fé<br />

que coloco em você”. Mas talvez ele faça. E por isso desde dezembro<br />

começou a montar seu time com progressistas, desenvolvimentistas<br />

e liberais. Aproximou-se de bancos privados em busca<br />

de parcerias e ouviu representantes das empresas. Traçou planos<br />

transversais com os ministros de Ciência & Tecnologia, Educação,<br />

Telecomunicações e Agronegócio. Tudo isso antes mesmo de<br />

assumir o posto. Agora, devidamente empossado, ele começa a<br />

dar luz ao que chamou de novo momento do banco. “É importante<br />

ressaltar que não queremos e não iremos voltar a um padrão<br />

de subsídios como no passado”, disse ele.<br />

Ainda assim, Mercadante ressalta a necessidade de entender<br />

e melhorar o custo do financiamento quando feito por meio do<br />

BNDES. “Precisamos ter uma taxa de juros mais competitiva,<br />

sobretudo para PMEs”, afirmou. Na avaliação do presidente, a<br />

TLP (Taxa de Longo Prazo, que está em 6,09% em fevereiro)<br />

penaliza de forma desproporcional empresas de menor porte e<br />

gera distorções que impedem que o banco fomente sua vocação<br />

de estimular o desenvolvimento do País. O plano, então, é negociar<br />

com o Congresso Nacional novos patamares para o índice.<br />

A questão dos pequenos e médios empresários,<br />

até por pedido de Lula, parece estar no<br />

centro dessa nova política do BNDES. Até 2013<br />

o banco ficou conhecido por oferecer juros<br />

muito baixos para conglomerados financeiros<br />

que teriam condições de captar recursos de<br />

outras formas. Esse movimento, que estava na<br />

origem do que ficou conhecido como As Campeãs<br />

Nacionais, fomentou empresas como JBS,<br />

Oi, Fibria, Petrobras e as alçou a novos mercados,<br />

mas não foi capaz de impedir que algumas<br />

delas tivessem problemas financeiros, judiciais<br />

e até de corrupção. Essa fase, segundo Mercadante,<br />

acabou. “Olhamos para trás e vemos que<br />

o mundo, o Brasil e o BNDES mudaram. E ao<br />

olhar para frente sabemos ser preciso continuar<br />

construindo um país mais próspero moderno<br />

e industrializado.”<br />

Mas e como atender a todos os empresários<br />

com um taxa menor que a do mercado privado<br />

e com limitação de recursos? Por meio de novas<br />

relações, diz ele. Para as micro e pequenas<br />

empresas, por exemplo, o plano do BNDES é<br />

focar no desenvolvimento de novas tecnologias,<br />

e para isso seria preciso buscar parceiros. “Vamos<br />

apoiar as micro, pequenas e médias empresas,<br />

as cooperativas e a economia solidária,<br />

com R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto<br />

do banco e alavancagem via garantias para<br />

o crédito privado”, disse.<br />

DINHEIRO NA PONTA<br />

Evolução dos desembolsos<br />

do Sistema BNDES por<br />

mandato* (em R$ bilhões)<br />

média anual<br />

acumulado em 4 anos<br />

13,3<br />

53,3<br />

25,9<br />

103,6<br />

42,6<br />

170,5<br />

168 672,0<br />

135,9+76<br />

100<br />

400,3 364,1<br />

61,8<br />

247,3<br />

FHC I<br />

1995-1998<br />

Fonte: BNDES<br />

FHC II<br />

1999-2002<br />

Lula I<br />

2003-2006<br />

Lula II<br />

2007-2010<br />

Dilma I<br />

2011-2014<br />

Dilma II + Temer<br />

2015-2018<br />

Bolsonaro<br />

2019-2022<br />

*valores nominais<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

19


ECONOMIA<br />

INDÚSTRIAS Quando nasceu, lá em 1952, o<br />

então BNDE (sem o S) emprestava recursos<br />

sobretudo para as indústrias. Àquela época, diz<br />

Mercadante, o Brasil saiu de um país de agrário<br />

e monocultor para um país urbano e industrial.<br />

Hoje o plano é fazer um movimento semelhante,<br />

mas sem ser anacrônico. “Precisamos de visão<br />

de longo prazo. Estratégia.” Entre elas, Mercadante<br />

cita exportar mais produtos de maior<br />

valor agregado. “Hoje, 98% do mercado mundial<br />

está fora do Brasil. Para serem competitivas [as<br />

empresas] precisam ganhar escala e se integrar<br />

às cadeias globais de valor.” Nesse sentido o foco<br />

é apoiar o pré-embarque e o pós-embarque de<br />

bens e produtos como faz o americano Eximbank.<br />

Para o restante da indústria, o objetivo é estimular<br />

pesquisa em direção a menor emissão e<br />

poluição e usar isso como baliza para liberação<br />

de crédito. “Reindustrialização não é sobre a<br />

velha indústria, mas sobre a nova. Essa nova indústria<br />

precisa gerar inovação e grande investimento<br />

em pesquisa.” Segundo os dados do banco,<br />

o segmento das indústrias recebeu, em 2006, 56%<br />

dos investimentos do BNDES. Em 2021 essa cifra<br />

caiu para 15,9%. Na onda verde e digital, o BNDES<br />

também ficará responsável pela gestão de fundos<br />

como o da Amazônia e o Fust.<br />

MITOS E VERDADES E se teve um banco que<br />

foi alvo de crítica, fake news e especulações nos<br />

últimos anos foi o BNDES. Para reverter essa<br />

imagem, Mercadante esclarece mitos. “Desde<br />

2015 o BNDES devolveu mais de R$ 678 bilhões<br />

ao Tesouro.” Esses repasses são feitos por meio<br />

de quitação de dívida, dividendo e antecipação<br />

de contas a pagar. “Pagamos 60% de dividendos<br />

para o Tesouro. O BB paga 40%. Queremos o<br />

mesmo tratamento.” O BNDES devolveu ao Tesouro,<br />

entre 2008 e 2014, 54% do que pegou.<br />

“Precisamos de um banco mais atuante e de uma<br />

relação de equilíbrio com o Tesouro. Não vamos<br />

disputar mercado com o sistema financeiro privado,<br />

ao contrário”, disse. “Podemos mitigar riscos,<br />

abrir novos mercados, alongar prazos e elaborar<br />

bons projetos de investimento privado.”<br />

Isso só é possível estando perto dos banqueiros.<br />

E, a tirar pela concorrida disputa por cadeira em<br />

sua posse — que ia de Pedro Moreira Salles (Itaú)<br />

a Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) —, essa aproximação<br />

está mais que feita.<br />

ENTREVISTA<br />

Aloizio Mercadante<br />

“Da cooperativa de<br />

catadores até uma<br />

grande empresa, esse<br />

banco estará aberto<br />

a todos”<br />

Qual o papel do BNDES na<br />

nova gestão? Haverá os mesmos<br />

perfis de crédito e subsídios<br />

passados?<br />

Da cooperativa de catadores até<br />

uma grande empresa, esse<br />

banco estará aberto a todos.<br />

Teremos diretrizes, prioridades.<br />

Entre elas Pesquisa &<br />

Desenvolvimento de novas tecnologias,<br />

indústrias verdes e de<br />

baixa emissão de carbono, soluções<br />

de energia limpa. Projetos<br />

que conversem com o futuro que<br />

queremos para o Brasil.<br />

E qual o papel para o BNDES?<br />

O banco precisa estar e apoiar o<br />

empresário que olha para o<br />

mesmo projeto de País. O que<br />

precisamos discutir é a taxa de<br />

juros e como fazer com quem ela<br />

aperte menos o bolso do empresário<br />

menor. Facilitar o acesso.<br />

Não queremos nem retomaremos<br />

os subsídios.<br />

E, diante de tanto a se fazer,<br />

como garantir que as melhores<br />

decisões sejam tomadas<br />

para empréstimos?<br />

Para isso é vital que o BNDES<br />

seja uma instituição plural.<br />

Respeito ao pensamento democrático<br />

pelas diferentes visões de<br />

mundo. O BNDES foi construído<br />

por servidores desenvolvimentistas,<br />

como Ignácio Rangel e Celso<br />

Furtado, e por liberais, como<br />

Roberto Campos. Essa dialética<br />

entre diferentes pensamentos,<br />

feita de modo civilizado e qualificado,<br />

contribuiu muito para o<br />

sucesso do BNDES. Não há espaço<br />

para perseguição. Há espaço<br />

para diálogo. Montamos um time<br />

com ex-ministros, pesquisadores,<br />

acadêmicos, muitos representantes<br />

do mercado financeiro.<br />

Gente da saúde, da educação, da<br />

segurança. Gente do clima, do<br />

meio ambiente. Liberais, conservadores,<br />

progressistas, desenvolvimentistas.<br />

Esse diálogo remonta<br />

à origem do BNDES, mas também<br />

oxigena a nova economia.<br />

A economia que buscamos.<br />

E quais iniciativas formam<br />

essa nova economia?<br />

O BNDES precisa apoiar uma<br />

transição justa na economia de<br />

baixo carbono, bem como promover<br />

a inclusão produtiva e a<br />

reurbanização inteligente visando<br />

construir cidades do futuro.<br />

Transitar em uma economia de<br />

baixo carbono e empregos verdes,<br />

e de baixa emissão é o<br />

imperativo que orientará a estratégia<br />

do banco. Não há futuro<br />

sem preservar a Amazônia e<br />

outros biomas. Essa é uma<br />

prioridade.<br />

E a relação do BNDES com<br />

outros países?<br />

Nosso desenvolvimento passa<br />

também pela integração com a<br />

América Latina e com o Sul global.<br />

O presidente Lula tem toda<br />

razão quando diz que o BNDES<br />

tem que ser um banco parceiro<br />

do desenvolvimento e da integração<br />

nacional. O Brasil é mais<br />

da metade do PIB, território e<br />

população da América do Sul.<br />

Estamos irrevogavelmente inseridos<br />

nesse contexto regional.<br />

O Brasil é grande, mas será ainda<br />

maior quando atuar com seus<br />

vizinhos.<br />

20 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: ALEXANDRE BRUM/AGENCIA ENQUADRAR/AGENCIA O GLOBO


INTERNACIONAL<br />

RECONEXÃO BRASIL-ESTADOS UNIDOS<br />

Lula e Biden começam a virar a página do ciclo Trump-Bolsonaro e reforçar acordos<br />

econômicos, sociais e ambientais entre duas das maiores economias das Américas<br />

Jaqueline MENDES<br />

APAGANDO<br />

INCÊNDIOS<br />

Presidentes se<br />

encontram no dia<br />

10 de fevereiro, e<br />

entre os assuntos<br />

estão defesa da<br />

democracia e<br />

novos acordos<br />

comerciais<br />

Nos últimos quatro anos, a afinidade ideológica e a paridade<br />

intelectual entre os ex-presidentes Donald Trump e Jair<br />

Bolsonaro criaram uma combinação explosiva que ia do<br />

Estreito de Bering ao Chuí. Sem exageros. Eles foram perigosos<br />

para o meio ambiente, colocaram em risco a política externa<br />

de ambos os países, e se tornaram ameaça letal para as minorias.<br />

Mas mesmo fora do baralho, seus legados resistem. A contenção<br />

a esses danos parece unir os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva<br />

e Joe Biden. Como líderes de duas das maiores economias das<br />

Américas (a dos Estados Unidos é a maior do mundo, Canadá vem<br />

em oitavo e o Brasil, em décimo, segundo o FMI), Lula e Biden<br />

planejam elaborar mecanismos de cooperação capazes de fortalecer<br />

a fiscalização contra o desmatamento e até criar políticas<br />

conjuntas de combate às fake news, veneno experimentado por<br />

eles tanto na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, quanto no<br />

ataque terrorista em Brasília, em 8 de janeiro deste ano. Lula<br />

pretende criar o que chama de Grupo da Paz, espécie de clube de<br />

grandes países comprometidos com um compliance nas relações<br />

internacionais. Essa é a extensa agenda prevista para o encontro<br />

entre os dois na sexta-feira (8), em Washington.<br />

Na avaliação do economista Welber Barral, ex-secretário de<br />

Comércio Exterior do governo Lula, o grande tema do encontro<br />

é a defesa da democracia, as relações diplomáticas regionais, e<br />

haverá destaque também para assuntos de relevância comercial,<br />

como o fim das restrições impostas pelos americanos ao aço e ao<br />

alumínio produzidos no Brasil. “Eles terão de fazer um realinha-<br />

mento sobre essas questões econômicas, e<br />

ainda aprimorar o alinhamento com outros<br />

países da América Latina, entre eles a Venezuela<br />

e alguns da América Central.”<br />

Em 2022, apesar do clima pesado entre<br />

Bolsonaro e Biden, a corrente comercial<br />

foi recorde, muito em função dos embarques<br />

brasileiros de alimentos por causa da<br />

guerra na Ucrânia. As exportações no ano<br />

atingiram US$ 88,7 bilhões, segundo a câmara<br />

de comércio Amcham. O valor supera<br />

em 25% o montante do ano anterior. E<br />

se já foi bom com diferenças, agora pode<br />

melhorar. Segundo o economista-chefe da<br />

TM3 Capital, Lucas Dezordi, o mercado<br />

espera que as discussões atraiam investimentos<br />

no combate ao desmatamento e às<br />

mudanças climáticas, “o que no final pode<br />

resultar num maior fluxo de dólares e queda<br />

na taxa de câmbio”. Em 2024, Brasil e<br />

EUA completam 200 anos de relação e Lula<br />

deverá convidar Biden a visitar Brasília<br />

para marcar a data. Até lá, o plano é fortalecer<br />

os negócios e reconstruir o diálogo.<br />

Nisto, Lula e Biden são bem melhores do<br />

que seus antecessores.<br />

FOTOMONTAGEM AFP I ISTOCK<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

21


“Trabalhar com calçados<br />

é viciante,<br />

principalmente, quando<br />

você está em uma<br />

empresa que sabe muito<br />

bem onde quer chegar.”


FINANÇAS<br />

ONDA DE<br />

AJUSTES<br />

DIANTE DO CENÁRIO DE JUROS ALTOS POR MAIS<br />

TEMPO, BANCOS DIGITAIS COMO O C6 BANK<br />

E NUBANK ENXUGAM QUADROS<br />

Fagundes SCHANDERT<br />

24 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO


Afesta do dinheiro barato observada<br />

durante os anos mais críticos<br />

da pandemia de Covid-19<br />

em 2020 e 2021 decididamente<br />

acabou. Quando os juros estavam em 2%<br />

ao ano, as fintechs de crédito, plataformas<br />

e assessorias de investimento desafiavam<br />

os grandes bancos. Quando a taxa básica<br />

(Selic) subiu de 2% para 2,75% ao ano em<br />

março de 2021, nenhuma projeção entre<br />

os melhores economistas imaginava que o<br />

ciclo de alta alcançaria 13,75% ao ano em<br />

agosto de 2022. Enfim, com a ponderação<br />

de que o efeito da política monetária demora<br />

alguns meses para ser sentido na<br />

economia, nas últimas semanas, o mercado<br />

financeiro começou a dar sinais do início<br />

de uma onda de ajustes nos negócios.<br />

Ou seja, a realidade bateu e se traduz do<br />

pior jeito: em demissões.<br />

Na segunda-feira (6), o banco digital<br />

C6 passou o facão e, segundo informações<br />

do Sindicato dos Bancários de São Paulo,<br />

mandou embora 500 funcionários, aproximadamente<br />

12% de sua força de trabalho.<br />

Em nota à Reuters, o C6 Bank confirmou<br />

as demissões, sem detalhar o número exato.<br />

“Como é praxe nas empresas que buscam<br />

o melhor nível de eficiência nos mercados<br />

em que estão inseridas, o grupo avalia periodicamente<br />

a produtividade das equipes<br />

e, quando necessário, faz readequações de<br />

cargos e profissionais, bem como adequações<br />

de suas estruturas ao momento do<br />

negócio”, informou a instituição por meio<br />

de nota. O banco acrescentou, ainda, que<br />

“deve encerrar 2023 com 800 contratações<br />

e superará em centenas de posições o número<br />

de profissionais desligados”.<br />

Além do C6, o Nubank também fez cortes.<br />

No caso, específicos para a área de assessoria<br />

de investimentos, que atendia<br />

poucos clientes, e demitiu 40 profissionais.<br />

Em nota, o Nubank parece ter usado a mesma<br />

argumentação que o C6 e produziu uma<br />

resposta muito similar. Informou que, como<br />

muitas empresas, realiza regularmente<br />

ajustes de acordo com as necessidades do<br />

negócio. Segundo a instituição, na prática,<br />

os clientes seguem com seus recursos de-<br />

vidamente aplicados nos investimentos escolhidos, tendo acesso<br />

aos aplicativos Nubank e NuInvest, assim como plataformas de<br />

conteúdo, onde podem obter extenso material sobre investimentos<br />

e educação financeira, sem a necessidade do serviço de assessoria.<br />

No dia 6, o Nubank também anunciou a inclusão do Tesouro<br />

Direto em seu aplicativo, facilitando a vida dos investidores<br />

que antes precisavam mandar ordens para a corretora NuInvest.<br />

Nos dias atuais, ainda é profunda a diferença entre uma boa assessoria<br />

pessoal e um relacionamento com aplicativos, em que a<br />

experiência do usuário nem sempre é a mais completa e funcional.<br />

Nessas horas, os altos executivos não costumam dar as caras<br />

e as instituições se comunicam apenas por meio de notas. Na<br />

cobertura sobre o banco, por exemplo, a Bloomberg citou que o<br />

principal sociofundador do Nubank, o bilionário colombiano<br />

David Vélez, se mudou para o Uruguai há cerca de um ano, e vive<br />

entre a pacata Punta del Este e o bairro de Carrasco, em Montevidéu.<br />

Por aqui, a instituição afirma que aumentou de 6 mil para<br />

8 mil o número de funcionários em 2022 e que segue contratando,<br />

no ritmo adequado para seus planos em 2023.<br />

EFEITO SELIC Na avaliação do fundador da Efund Investimentos,<br />

Igor Romeiro, esse início de demissões é influenciado pela<br />

alta expressiva dos juros, que altera a dinâmica do mercado que<br />

existia nos últimos anos. “No caso do Nubank, o negócio de assessoria<br />

de investimentos não fazia sentido para eles. É diferente<br />

do que fazem XP e BTG que concentram a maior parte dos escritórios<br />

de agentes e ainda crescem com esse modelo”, disse. Sobre<br />

o caso do C6 Bank, Romeiro observou que várias fintechs de<br />

crédito estão demitindo por causa da alta dos juros. “Alguns analistas<br />

prevêem juros de 14% a 15% ao ano, esse é um custo muito<br />

elevado para captação. Na outra ponta, os clientes evitam empréstimos<br />

com juros tão caros na ponta final”, afirmou. “Vamos<br />

ver mais demissões.”<br />

Romeiro afirmou que na época dos juros mais baixos, os salários<br />

do segmento estavam no pico. “Era preciso ter gente para dar<br />

conta de milhões de pessoas que estavam entrando na Bolsa.<br />

Agora, temos até influencers famosos demitindo parte de suas<br />

equipes porque a demanda por informações sobre renda variável<br />

diminuiu.” Refere-se aqui ao Me Poupe, de Nathalia Arcuri, que<br />

cortou 70 pessoas, 50% da equipe. O grupo Primo também fez seu<br />

ajuste. Estaria agora com cerca de 190 pessoas, mas já foram 270.<br />

Para o CEO da fintech Meu Vista, Luiz Fernando Schvartzman,<br />

o segmento de assessoria de investimento está em transformação<br />

no mundo todo, principalmente nos EUA, onde a<br />

atividade é criticada pelo conflito de interesse na oferta<br />

de produtos mais arriscados que são comissionados.<br />

“Eles estão sendo substituídos por planejadores financeiros,<br />

que não recebem comissões por produtos,<br />

um modelo mais transparente para os investidores ”,<br />

disse Schvartzman.<br />

Vamos ver mais<br />

demissões.<br />

As fintechs<br />

vão continuar<br />

exugando,<br />

ajustando<br />

seus custos”<br />

IGOR ROMEIRO<br />

FUNDADOR DA EFUND<br />

INVESTIMENTOS<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

25


FINANÇAS<br />

COMO O<br />

GOVERNO<br />

IMPASSE ENTRE AUMENTO DO ROMBO<br />

FISCAL E CUMPRIMENTO DE PROMESSA<br />

DE CAMPANHA DE LULA PREOCUPA O<br />

MERCADO, MAS PODE ACELERAR A<br />

APROVAÇÃO DA REFORMA TRIBUTÁRIA<br />

PARA COMPENSAR RECEITAS<br />

Jaqueline MENDES<br />

VAI DOMAR<br />

A ISENÇÃO<br />

DO IR?<br />

26<br />

Dinheiro 15/02/2023


Descumprir uma promessa de campanha ou aumentar em<br />

cerca de R$ 5 bilhões no déficit fiscal? A encruzilhada do<br />

presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe econômica<br />

tende a pender para a segunda opção. Por meio de<br />

Medida Provisória (MP), Lula está pronto para isentar<br />

a cobrança de Imposto de Renda para trabalhadores que<br />

recebem até dois salários mínimos, segundo fontes ligadas ao<br />

time do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e líderes sindicais.<br />

A decisão deve ser adotada a partir de 1º de maio, o emblemático<br />

Dia do Trabalhador. Se der certo, a faixa de isenção<br />

passa de R$ 1.903 para R$ 2.640. A partir desse valor, há quatro<br />

faixas de cobrança: 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%. E como a última<br />

correção da tabela ocorreu em 2015, a inflação acumulada nos<br />

últimos oito anos empurra trabalhadores que ganham menos<br />

de um salário mínimo e meio para dentro das faixas de cobrança<br />

do Fisco – frustrando, ao menos neste início de governo, a<br />

expectativa da picanha e da cervejinha.<br />

Apesar da folga orçamentária criada pela PEC do Estouro, a<br />

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determina que se indiquem<br />

fontes de compensação. Desde a campanha eleitoral, Lula vinha<br />

prometendo isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por<br />

mês. O que, obviamente, não acontecer neste ano. Mas pelo<br />

menos parte disso terá de ser entregue por Lula. Em encontro<br />

com representantes sindicais no Palácio do Planalto no fim de<br />

janeiro, o presidente reiterou a promessa, apesar de não ter<br />

falado em prazos ou valores.<br />

O que Lula defende agrada sindicalistas, mas preocupa o<br />

mercado. Para Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral<br />

Group, a promessa de aumento de gastos sem indícios de aumento<br />

de arrecadação alimenta das preocupações com a saúde<br />

fiscal da União. “Hoje o mercado está com pouca visibilidade da<br />

real dinâmica fiscal do governo”, afirmou Miraglia. “Essas falas,<br />

sem mostrar de onde virá a contrapartida, aumenta a incerteza<br />

em relação a inflação e os juros sobem. Ou seja, só prejudica.”<br />

O lado bom dessa isenção, além do<br />

alívio ao bolso dos que ganham menos,<br />

pode ser uma aceleração da Reforma Tributária<br />

que deve ser levada ao Congresso<br />

ainda no primeiro semestre, segundo o<br />

economista Fernando Felipe, especialista<br />

da Veedha Investimentos. “Como essa<br />

isenção o governo perde receita num momento<br />

de grande fragilidade na parte fiscal,<br />

a compensação pode estar associada<br />

à aprovação da reforma”, disse.<br />

Segundo o Sindicato Nacional dos<br />

Auditores Fiscais da Receita Federal do<br />

Brasil (Sindifisco Nacional), somente entre<br />

de janeiro de 2019 e junho de 2022, a<br />

defasagem da tabela do Imposto de Renda<br />

somou 26,57%. De 1996 a junho de<br />

2022, o acúmulo é de 147,37%. Para o sindicato,<br />

a falta de correção da tabela atinge<br />

especialmente os mais pobres, que já<br />

perderam poder de compra com a inflação<br />

no período e ainda passariam a ser tributados<br />

com o IR.<br />

A reforma deverá não só sugerir novas<br />

fontes de arrecadação para cobrir o rombo<br />

das contas públicas, como terá de criar<br />

um mecanismo mais confiável de atualização<br />

da tabela do imposto de renda – sem<br />

nenhuma correção desde 2015. A ideia<br />

que deve ser apresentada no retrofit tributário<br />

é substituir uma correção linear<br />

das faixas de cobrança do IR por u sistema<br />

que blinde da inflação as faixas que recebem<br />

os menores salários.<br />

R$5BI<br />

É A PREVISÃO<br />

DE AUMENTO<br />

NO DÉFICIT<br />

FISCAL ESTE<br />

ANO COM A<br />

ISENÇÃO DO<br />

IR PARA<br />

QUEM GANHA<br />

ATÉ R$ 5 MIL<br />

AO MÊS<br />

26%<br />

É A DEFASAGEM<br />

DO IMPOSTO DE<br />

RENDA ENTRE<br />

JANEIRO DE<br />

2019 E JUNHO<br />

DE 2022. NO<br />

ACUMULADO<br />

DESDE 1996 A<br />

DEFASGEM<br />

CHEGA A 147%<br />

OUTRO LEÃO NA LINHA DE FRENTE<br />

O presidente Lula resolveu entrar em uma cruzada durante os 100<br />

primeiros (e talvez mais importantes) dias de seu atual mantado. Era<br />

hora de apresentar projetos, correr, ganhar espaço, mídia e fortalecer a<br />

agenda da frente ampla. Mas ele optou por entrar em outra batalha. Desta<br />

vez com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Em pelo<br />

menos cinco oportunidades desde o inicio de seu governo o petista criticou<br />

as altas taxas de juros. Além de artibuir ao BC o encarecimento do<br />

crédito e da dívida pública, Lula tem cobrado os empresários. “Quando o<br />

BC não era autônomo, era só ter um aumento mínimo que a Fiesp fazia<br />

uma nota de repúdio. Onde estão esses empresários agora? Por que não<br />

cobram?”, questionou. A fala de Lula foi seguida por um silêncio sepulcral<br />

da plateia atenta que acompanhava a posse de Aloizio Mercadante no<br />

BNDES, no Rio de Janeiro, na segunda-feira (6).Lula não parou por aí.<br />

Na visão do petista, não há explicação plausível para a manutenção<br />

do atual patamar da Selic, e segurar a taxa tão alta impedirá o Brasil de<br />

crescer. Ele instou ainda o Senado, que tem autorização para convocar<br />

Roberto Campos Neto, para explicar os caminhos da política monetária.<br />

No Banco Central, o discurso veio em forma da ata após a reunião de 1 o<br />

de fevereiro, quando foi decidido manter a taxa nos atuais 13,75%. Pelas<br />

explicações, o BC joga a batata quente no governo, e culpa a falta de<br />

uma âncora fiscal e a incerteza sobre os gastos como sustentadores de<br />

tais patamares. Briga de leões. (Paula Cristina)<br />

ILUSTRAÇÃO : EVANDRO RODRIGUES I FOTO: ISTOCK<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

27


CAPA<br />

28<br />

Dinheiro 15/02/2023


AS PREVISÕES DA<br />

EXECUTIVOS E CEOS<br />

DE 12 EMPRESAS<br />

DIZEM QUAIS SÃO<br />

AS TENDÊNCIAS –<br />

E O QUE VOCÊ NÃO<br />

PODE DEIXAR DE SABER<br />

Victor MARQUES<br />

T E C N O L O G I A<br />

PARA 2023<br />

Quando o tema é tecnologia, os números são<br />

sempre superlativos. A cada 18 meses a capacidade<br />

de processamento dos computadores<br />

dobra, já temos 1,3 milhão de startups de<br />

TI no mundo, produziremos 463 exabytes de<br />

dados (5 exabytes é o equivalente a todas as<br />

palavras já faladas pelos humanos) até 2025<br />

e haverá ao fim da década pelo menos 500<br />

bilhões de dispositivos conectados à internet.<br />

A lista continua e a perspectiva é de um crescimento<br />

sem freio, até sabe-se lá quando. O<br />

mercado de inteligência artificial deve chegar<br />

a US$ 1,8 trilhão, o de computação quântica<br />

bater em US$ 1,7 trilhão, e o de cibersegurança,<br />

em US$ 1,5 trilhão. Os dados não param<br />

por aí. De acordo com Dell e MIT Technology<br />

Review, 85% dos empregos que existirão<br />

em 2030 ainda não foram inventados. A despeito<br />

de projeções nesses patamares, há um<br />

motto ácido e bem-humorado na tecnologia<br />

que afirma: “prever o que vai acontecer no<br />

longo prazo é fácil, difícil é prever o que vai<br />

acontecer em um ano”. Pois foi esse o desafio<br />

proposto pela DINHEIRO a 12 líderes da indústria,<br />

de empresas dos mais variados recortes<br />

de atuação. Quais as projeções para 2023?<br />

Encararam a tarefa André Miceli (CEO e<br />

editor-chefe da MIT Technology Review Brasil),<br />

Bertrand Chaverot (CEO da Ubisoft Brasil),<br />

Claudia Muchaluat (presidente da Intel Brasil),<br />

Cleber Morais (diretor-geral para o Setor Corporativo<br />

da AWS no Brasil), Diego Torres Martins<br />

(CEO e fundador da unico IDtech), Jessica<br />

Kato (executiva para Dynamics 365 e Power<br />

Platform na Microsoft Brasil), Junior Miranda<br />

(CEO da GreenV), Gustavo Moussalli (vice-<br />

-presidente para América Latina de Oracle<br />

NetSuite), Ricardo Mucci (presidente da Cisco<br />

do Brasil), Rodrigo Gimenes (CTO da ReportFlex<br />

e criador da Robotizia), Tushar Parikh<br />

(country head da TCS no Brasil) e Wagner<br />

Arnaut (CTO de Technology, Cloud e Cognitive<br />

Software da IBM Brasil). Confira o que eles<br />

têm a falar sobre o futuro da tecnologia. A seguir,<br />

suas projeções para este ano, divididas em sete<br />

grandes áreas:<br />

FOTO: ISTOCK<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

29


CAPA<br />

COMPUTAÇÃO<br />

QUÂNTICA<br />

á há um tempo a computação<br />

Jquântica é uma das novas tecnologias<br />

que prometem resolver<br />

os problemas do futuro. A<br />

questão é que ela nunca ganha<br />

escala para invadir o mundo da<br />

pessoa comum. Isso pode começar<br />

a mudar este ano. A IBM, que<br />

atualmente é a líder desse segmento,<br />

pretende lançar ainda em<br />

2023 um computador quântico<br />

com 1,121 qubits (unidades de<br />

processamento), o maior já apresentado<br />

e até 2026 quer lançar<br />

uma máquina com 100 mil qubits.<br />

Além disso, a companhia pretende<br />

desenvolver protótipos de<br />

aplicações para esses sistemas.<br />

“Os computadores quânticos não<br />

são mais um conceito futurista”,<br />

disse Wagner Arnaut, CTO de<br />

Technology, Cloud e Cognitive<br />

Software da IBM Brasil. “Já estamos<br />

explorando como eles podem<br />

ajudar diversos setores.” Os avanços<br />

dessa tecnologia devem contribuir<br />

para resolver os problemas<br />

mais complexos de química, finanças,<br />

previsão do tempo, cibersegurança,<br />

inteligência artificial<br />

(IA)... A lista é longa e crescente.<br />

SEMICONDUTORES<br />

este ano também devemos ver uma revolução<br />

Nnos semicondutores. De certa forma, fruto de<br />

uma crise provocada pela pandemia, em que o<br />

mundo se mostrou dependente da produção<br />

de chips eletrônicos, cuja fabricação está concentrada<br />

em menos de meia dúzia de países — Japão,<br />

Taiwan, EUA e China. Novas fábricas começam a<br />

se espalhar pelo mundo, com a Europa (Alemanha<br />

à frente) entrando com força no jogo. Além do aumento<br />

da produção, haverá inovação. E um novo<br />

projeto chama a atenção, os chips RISC. Eles devem<br />

contribuir para um ambiente de competição atualmente<br />

dominado por poucas empresas. O RISC-V<br />

é um design de microprocessador de código aberto,<br />

cujo desenvolvimento é colaborativo e permite que<br />

os chips sejam personalizados conforme a necessidade<br />

de uso de cada organização. “Os clientes vão<br />

poder comprar um chip de prateleira com recursos<br />

abertos”, disse André Miceli, CEO e editor-chefe<br />

da MIT Technology Review Brasil. “E aí qualquer<br />

empresa vai poder projetar um chip de forma muito<br />

barata e personalizada.”<br />

Computação<br />

Quântica<br />

Quanto vale?<br />

US$ 472 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 1,7 TRILHÃO<br />

em 2026<br />

Fonte:Markets and Markets¹/Fortune Business Insights²<br />

Semicondutores<br />

Quanto vale?<br />

US$ 527,8 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 1,3 TRILHÃO<br />

em 2029<br />

INTELIGÊNCIA<br />

ARTIFICIAL (IA)<br />

rovavelmente a principal ten-<br />

do ano. Basta falar do Pdência<br />

barulho provocado pelo recém-lançado<br />

(entra no terceiro<br />

mês) ChatGPT, que alcançou<br />

100 milhões de usuários em apenas<br />

dois meses, o que forçou gigantes<br />

como Google, Baidu (maior buscador<br />

da China) e Alibaba a entrarem<br />

na corrida, anunciando suas próprias<br />

IAs conversacionais. Rodrigo<br />

Gimenes, criador da Robotizia<br />

(plataforma que utiliza a engine do<br />

ChatGPT para criar aplicações que<br />

facilitam o uso da ferramenta) e<br />

CTO da ReportFlex, entende que<br />

a solução é a que embute maior<br />

risco de mau uso. “Muitas pessoas<br />

não sabem fazer as perguntas certas<br />

para a IA e não conseguem utilizar<br />

seu potencial completo”,<br />

disse. E deve ser esse o risco a driblar<br />

com o uso dessas tecnologias<br />

dentro das empresas. As companhias<br />

devem enxergar a IA como<br />

plataformas que as auxiliam a tirar<br />

o melhor delas, com personalizações<br />

feitas para cada negócio.<br />

Para Claudia Muchaluat, presidente<br />

da Intel Brasil, a potencialização<br />

dos resultados também cria<br />

30 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: PITI REALI | ISTOCK


a oportunidade de viabilizar com<br />

escala aplicações cada vez mais<br />

avançadas em vários setores. “As<br />

tecnologias exponenciais já estão<br />

revolucionando o mundo e viabilizam<br />

modelos de negócios disruptivos”,<br />

afirmou.<br />

Aumento de escala é onde a IA<br />

tem mais probabilidade de contribuir<br />

no mundo dos negócios, principalmente<br />

em setores como de<br />

cadeia de suprimentos, finanças e<br />

marketing. O palco das discussões<br />

entre inteligência artificial, artistas<br />

plásticos e músicos também deve<br />

se intensificar, conforme o debate<br />

entra no campo regulatório e autoral<br />

de vários países, como já acontece<br />

na Europa e nos Estados Unidos.<br />

É provável que comecem a<br />

pipocar novas leis e políticas para<br />

mediar esse cenário. De forma inequívoca,<br />

IA tem tudo para ser o<br />

assunto do ano e uma das maiores<br />

revoluções do período.<br />

Quanto vale?<br />

US$ 196,6 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 1,8 TRILHÃO<br />

em 2030<br />

Fonte: Grand View Research<br />

CIBERSEGURANÇA<br />

cibersegurança virou preocupação<br />

global e o combate ao<br />

A<br />

mercado ilegal de dados se<br />

intensificou. Pelo menos 5<br />

milhões de pessoas no mundo têm<br />

seus dados à venda no mercado<br />

ilegal — 351 mil são brasileiros —,<br />

comercializados por R$ 32,63 em<br />

média, conforme dados da Nord-<br />

VPN. No setor privado, no ano passado,<br />

houve aumento de 38% nos<br />

ataques globalmente em comparação<br />

com 2021, segundo o instituto<br />

de pesquisa Check Point Research.<br />

Foram 1.168 ataques por<br />

semana e os segmentos que mais<br />

sofreram são os de educação, governo<br />

e saúde. Para Ricardo Mucci,<br />

presidente da Cisco do Brasil,<br />

as ameaças tornaram-se mais sofisticadas<br />

e exploram não apenas<br />

brechas em sistemas ou aplicações,<br />

mas principalmente falhas humanas<br />

e nos processos corporativos.<br />

“Empresas de vários setores sofrem<br />

diariamente com a perda de dados,<br />

além de sequestros de máquinas<br />

através de ransomwares”, disse.<br />

Em resposta, as arquiteturas zero<br />

trust (zero confiança) foram construídas<br />

como uma solução mais<br />

efetiva. Ela redefine o perímetro<br />

de segurança e controla individualmente<br />

cada acesso a aplicações,<br />

de qualquer lugar, seja em uma<br />

cloud privada, pública, em uma<br />

rede tradicional ou híbrida.<br />

Também contemplaremos neste<br />

ano um aumento de tecnologias<br />

como a biometria facial, que estarão<br />

em soluções digitais em identidade<br />

e segurança para bancos e<br />

fintechs. Diego Torres Martins,<br />

CEO e fundador da unico IDtech,<br />

diz que “elas facilitam o acesso das<br />

pessoas a bens e serviços com proteção<br />

de dados pessoais, além de<br />

reduzirem fraudes e perdas financeiras”.<br />

Produtos e serviços baseados<br />

em identidade digital podem<br />

ter crescimento de até 91% entre<br />

2022 e 2026, representando um<br />

mercado global potencial de US$<br />

533 bilhões. Também já vemos alguns<br />

países utilizando o reconhecimento<br />

facial para segurança<br />

pública e controle de pessoas, prática<br />

que deve só aumentar. A China<br />

utilizou câmeras de segurança para<br />

monitorar e controlar manifestantes<br />

que criticaram as medidas do<br />

governo ante a pandemia.<br />

Quanto vale?<br />

US$ 150 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 1,5 TRILHÃO<br />

em 2025<br />

Fonte:McKinsey<br />

EMPRESAS DE<br />

VÁRIOS SETORES<br />

SOFREM DIARIAMENTE<br />

COM A PERDA DE<br />

DADOS, ALÉM DO<br />

SEQUESTRO DE<br />

MÁQUINAS ATRAVÉS<br />

DE RANSOMWARES<br />

RICARDO MUCCI<br />

PRESIDENTE DA CISCO DO BRASIL<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

31


CAPA<br />

NUVEM E SUPERAPPS<br />

ada acelerou mais a transformação digital nas<br />

Nempresas do que a computação em nuvem. E<br />

isso vai se multiplicar ainda mais neste ano. “A<br />

nuvem se tornará um pilar central da estratégia<br />

de negócios”, disse Tushar Parikh, country head da<br />

TCS no Brasil. A economia global está forçando as<br />

empresas a reavaliar o verdadeiro valor de suas estratégias<br />

de nuvem usando métricas e posicionando<br />

essa tecnologia como pilar dos negócios. “Isso será<br />

crucial para impulsionar o crescimento, a transformação<br />

e a inovação contínua”, afirmou. Para Cleber<br />

Morais, diretor-geral para o Setor Corporativo da<br />

AWS no Brasil, a nuvem torna as soluções mais acessíveis<br />

tanto no aspecto físico quanto financeiramente.<br />

Um dos setores que mais devem ser afetados por<br />

essa revolução digital será o de esportes. Nos próximos<br />

anos, passará por mudanças nos mais diferentes<br />

níveis do jogo, com a utilização de streaming de vídeo,<br />

dispositivos vestíveis, sensores de internet das coisas<br />

(IoT) e simulações para analisar a segurança e o<br />

desempenho dos atletas.<br />

As novas arquiteturas de rede também proporcionarão<br />

a megadifusão dos superapps. São plataformas,<br />

softwares ou aplicativos que reúnem diversas<br />

funções inter-relacionadas em um único lugar. Elas<br />

podem ser direcionadas tanto ao setor corporativo<br />

o mundo atual, os setores de cadeia de suprimentos<br />

Nestão lidando com petabytes de dados — para se ter<br />

ideia, 50 petabytes seria tudo o que a humanidade<br />

já escreveu em todos os tempos em todas as línguas.<br />

Esse volume de informação se espalha por sistemas lecomo<br />

ao consumidor. A divisão<br />

de NetSuite da Oracle se prepara<br />

para impulsionar a transformação<br />

digital no Brasil para<br />

pequenas e médias empresas<br />

neste ano, com seu superapp,<br />

que atende desde as necessidades<br />

financeiras até o e-commerce.<br />

“As empresas vão utilizar a<br />

nuvem e se organizar para conseguir<br />

continuar investindo”,<br />

disse Gustavo Moussalli, vice-<br />

-presidente para América Latina<br />

de Oracle NetSuite.<br />

Nuvem<br />

Quanto vale?<br />

US$ 484 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 1,5 TRILHÃO<br />

em 2030<br />

Superapps<br />

Sem dados existentes<br />

Fonte:Grand View Research<br />

AS 5 PREVIS Õ<br />

DA TEC N<br />

ROBÔS NO DIA A DIA<br />

Especialistas da Universidade Elon previram,<br />

em 2006, que robôs munidos de inteligência<br />

artificial em 2020 já teriam assumido<br />

completamente atividades profissionais que<br />

dependem de esforço físico.<br />

Nível de erro:<br />

50%<br />

"UM FOGUETE NUNCA VAI SER CAPAZ DE<br />

DEIXAR A ATMOSFERA DA TERRA"<br />

O jornal The New York Times, em 1936, publicou<br />

a frase acima.<br />

Nível de erro:<br />

100%<br />

TELEVISÕES 3D<br />

A falta de aderência do produto se deu pela<br />

necessidade do uso dos óculos e a falta de<br />

conteúdos exclusivos.<br />

Nível de erro:<br />

100%<br />

SUPPLY CHAIN & RECICLAGEM DE BATERIAS<br />

gados, programas de planejamento<br />

de recursos empresariais (ERPs) e<br />

soluções personalizadas, resultando<br />

em uma visão fragmentada de todo<br />

o processo. E cada vez mais dados<br />

entram na equação. As novas tecnologias<br />

ajudarão as empresas de logística<br />

a potencializar as operações, com<br />

mais controle de dados e informações<br />

estratégicas. A Microsoft mergulhou<br />

nessa onda. “Os softwares para o setor<br />

precisam aumentar a visibilidade<br />

das fontes de dados, prever e mitigar<br />

interrupções”, disse Jessica Kato,<br />

executiva para Dynamics 365 e Power<br />

Platform na Microsoft Brasil.<br />

Outro obstáculo logístico que<br />

está na agenda deste ano é endereçado<br />

ao segmento automotivo: a<br />

reciclagem de baterias para veículos<br />

elétricos. A pergunta será o que fazer<br />

com ela após o término de sua<br />

vida útil. Apesar de poder ser reutilizada,<br />

há uma queda de eficiência<br />

natural. Para Junior Miranda, CEO<br />

da GreenV, as empresas terão de<br />

encontrar as melhores maneiras de<br />

aproveitar a capacidade restante<br />

32 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO


ÕES FURADAS<br />

NOLOGIA<br />

GOOGLE GLASS<br />

A big tech americana lançou os óculos<br />

de realidade aumentada em 2013, mas o<br />

acessório foi cancelado já em 2015. Atualmente,<br />

com novas tecnologias, esse tipo de<br />

gadget voltou a ser uma das tendências.<br />

Nível de erro:<br />

“O TELEFONE TEM FALHAS DEMAIS<br />

PARA SER DE FATO CONSIDERADO UM<br />

MEIO DE COMUNICAÇÃO, NÃO TEM<br />

VALOR PARA NÓS”<br />

Memorando público da Western<br />

Union de 1876. A empresa operava<br />

uma extensa linha de telégrafos<br />

através dos Estados Unidos.<br />

Nível de erro:<br />

70%<br />

100%<br />

das baterias de lítio para outros fins.<br />

“Não é um processo simples, mas é<br />

possível.” Como exemplo, a montadora<br />

chinesa BYD quer usar baterias<br />

para criar estações de energia estacionárias,<br />

como os nobreaks de<br />

computadores, que armazenam<br />

energia para emergências.<br />

Quanto vale?<br />

US$ 20,2 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 48,5 BILHÕES<br />

em 2030<br />

Fonte: Gartner/Grand View Research<br />

final de 2021 foi marcado pelo anúncio da Meta,<br />

O<br />

ou Facebook como era chamado na época. A<br />

empresa revelou publicamente um rebranding<br />

completo. Mudou de logo, nome e identidade<br />

de marca, além de anunciar que iria ter como centro<br />

dos seus investimentos o metaverso. Um mundo<br />

digital que envolve o uso de realidade virtual, óculos<br />

virtuais e realidade aumentada que permite ao usuário<br />

abstrair do mundo físico e ter experiências compartilhadas<br />

remotamente. A ideia deriva do mundo<br />

gamer, que contribui há anos com a evolução da<br />

tecnologia, não só para seu universo, mas também<br />

para empresas e negócios diversos. Os óculos utilizados<br />

pela Meta, por exemplo, são provenientes da<br />

compra da Oculus VR, empresa que fabricava o produto<br />

para utilização em jogos com realidade virtual.<br />

“A indústria de games deve continuar a contribuir de<br />

forma direta em 2023 com o avanço da tecnologias<br />

de diferentes frentes”, disse Bertrand Chaverot,<br />

diretor geral da Ubisoft para América Latina. “Isso<br />

inclui do aprimoramento gráfico a simulações dentro<br />

de universos virtuais e tecnologias de IA.”<br />

OS SOFTWARES PARA O SETOR [DE<br />

CADEIA DE SUPRIMENTOS] PRECISAM<br />

AUMENTAR A VISIBILIDADE DAS FONTES<br />

DE DADOS, PREVER E MITIGAR<br />

INTERRUPÇÕES<br />

JESSICA KATO<br />

EXECUTIVA PARA DYNAMICS 365 E POWER<br />

PLATFORM NA MICROSOFT BRASIL<br />

TECNOLOGIAS VIRTUAIS<br />

E METAVERSO<br />

Ao longo de 2022, foram discutidas<br />

as possibilidades desse<br />

metaverso e o meio empresarial<br />

foi enxergando oportunidades de<br />

uso em fábricas, centros de produção<br />

e empresas. Agora ele está<br />

pronto para se multiplicar. É sem<br />

dúvida uma tendência para 2023,<br />

mas principalmente para o setor<br />

privado. Para o público geral, ainda<br />

deve demorar a engatar. Nessa<br />

onda, além da Meta, várias empresas<br />

dos mais diversos segmentos<br />

iniciaram com maior intensidade<br />

o desenvolvimento do próprio<br />

metaverso — Adidas, Budweiser,<br />

Disney, Epic Games, Microsoft,<br />

Nike, Nvidia, Roblox e Tinder estão<br />

nesse time. No metaverso industrial<br />

estão companhias como<br />

Ericsson, a própria Nvidia e a Siemens.<br />

Bem-vindo ao futuro.<br />

Metaverso<br />

Quanto vale?<br />

US$ 120 BILHÕES<br />

Quanto vai custar?<br />

US$ 5 TRILHÕES<br />

em 2030<br />

Fonte: McKinsey<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

33


NEGÓCIOS<br />

GAFISA FAZ REFORMA<br />

34<br />

Dinheiro 15/02/2023


NA GESTÃO<br />

CONSTRUTORA FINALIZA INTEGRAÇÕES E<br />

PROMOVE UMA MULHER AO POSTO DE CEO,<br />

A PRIMEIRA NO CARGO EM 68 ANOS, PARA<br />

AMPLIAR A PARTICIPAÇÃO NO SEGMENTO DE<br />

ALTO PADRÃO NO EIXO RIO-SÃO PAULO<br />

Angelo VEROTTI<br />

POR DENTRO<br />

DO NEGÓCIO<br />

Sheyla Resende<br />

(em frente à<br />

maquete do Tom<br />

Delfim Moreira, no<br />

Rio) trabalha na<br />

Gafisa há 14 anos,<br />

além de ter<br />

participado<br />

da integração<br />

de empresas. No<br />

detalhe, projeto<br />

paulista Tonino<br />

Lamborghini<br />

rês anos de reestruturação. Um período<br />

T<br />

marcado por mudança de plano estratégico,<br />

aquisições, captura de sinergias e,<br />

principalmente, uma nova governança<br />

corporativa. E pode-se dizer que a transformação<br />

promovida pela Gafisa, especialmente<br />

no último quesito, entrou para a história.<br />

Após 68 anos de fundação, a construtora e incorporadora<br />

carioca tem pela primeira vez uma mulher no<br />

comando das operações. A engenheira Sheyla Resende<br />

assume o posto de CEO apoiada por um comitê de<br />

gestão multidisciplinar, composto por outros três<br />

membros. A missão da nova diretoria será a de dar<br />

prosseguimento aos projetos após a integração recente<br />

da Bait Incorporadora, em 2022, e garantir a manutenção<br />

dos bons resultados obtidos nos últimos<br />

trimestres, com destaque para a arrecadação de R$ 1<br />

bilhão em vendas brutas no ano passado, montante<br />

recorde para os últimos cinco anos da companhia e<br />

33% superior ao de 2021. “Agora vamos seguir a estratégia<br />

dentro daquilo que foi planejado. Continuaremos<br />

no segmento de altíssimo padrão, um plano que já está<br />

definido, bem concretizado”, disse.<br />

A CEO teve participação total nas mudanças<br />

promovidas pela Gafisa desde a retomada efetiva dos<br />

negócios, em 2020 — empresa chegou a ficar quase<br />

dois anos estagnada, por problemas financeiros. Há<br />

14 anos no quadro de colaboradores da companhia<br />

(são 500 atualmente), sendo quatro em cargos de<br />

direção, Sheyla chegou a assumir as frentes de gestão<br />

e qualidade, em 2019. “Estive lado a lado com os<br />

principais líderes nos últimos anos. Participei da<br />

estratégia do dia a dia e fui a responsável por fazer a<br />

integração de todas as empresas adquiridas”, disse<br />

ela, em referência, também, à compra da Upcon Incorporadora,<br />

em 2021. “As movimentações e aquisições<br />

realizadas nos últimos três anos estão alinhadas<br />

ao posicionamento estratégico de focar em produtos<br />

com alto valor agregado, em regiões nobres, nas cidades<br />

de São Paulo e Rio de Janeiro.” As duas sedes<br />

da Gafisa, segundo a executiva, atuarão com unicidade<br />

em gestão e cultura organizacional, mantendo<br />

a visão financeira de geração de caixa.<br />

Pelo novo organograma o comitê de gestão terá<br />

um novo diretor financeiro (CFO) — a ser anunciado<br />

— e outros dois atuais diretores da empresa. Luis<br />

Fernando Ortiz, colaborador da Gafisa há 12 anos,<br />

quatro deles como diretor de incorporação, assume o<br />

cargo de vice-presidente de Negócios e passa a gerir<br />

também marketing, comercial, novos negócios e a<br />

área de jornada do cliente. Renata Yamada, na empresa<br />

desde o início da reestruturação, em 2019,<br />

passa a ocupar o posto de vice-presidente de Gestão<br />

& Jurídico. “Uma empresa com a nossa dimensão<br />

demanda uma combinação de experiências na condução<br />

de seus negócios”, afirmou Sheyla. Renata<br />

FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO Dinheiro 15/02/2023<br />

35


NEGÓCIOS<br />

ALICERCE<br />

DA GAFISA<br />

Fundação:<br />

1954 (68 anos)<br />

Empreendimentos entregues:<br />

1,2 mil (16 milhões de m2)<br />

Colaboradores:<br />

500<br />

Clientes:<br />

1,5 milhão (um em cada 130 brasileiros)<br />

Atuação:<br />

40 cidades em 19 estados<br />

Redes sociais:<br />

500 mil seguidores<br />

Yamada ressalta a composiçnao<br />

do grupo de trabaho. “Esse comitê<br />

tem a competência e a expertise<br />

combinada para gerar um grande<br />

ganho nas decisões estratégicas<br />

da Gafisa.”<br />

Sheyla se mostra preparada<br />

para possíveis adversidades. “Os<br />

grandes desafios que temos como<br />

empresa são aqueles que as demais<br />

do mercado hoje sofrem, e que não<br />

controlamos, que são os fatores<br />

externos”, disse. ”Mas quando olho<br />

para dentro de casa, temos terrenos<br />

muito bem localizados, muito<br />

bem posicionados. Queremos ter<br />

a marca atrelada ao altíssimo padrão.”<br />

A estratégia é, também,<br />

prestar um serviço diferenciado<br />

para o atendimento ao segmento.<br />

A empresa criou a jornada do cliente,<br />

que visa estruturar a experiência<br />

do consumidor desde o momento<br />

em que pisa no estande tendo<br />

contato com o vendedor até o pós-<br />

-obra. “É trazer esse cliente para<br />

o centro do nosso negócio.”<br />

Apesar de a Gafisa ter erguido<br />

empreendimentos em 40 cidades<br />

de 19 estados, municípios fora do<br />

eixo Rio-São Paulo não fazem parte<br />

do portfólio de produtos. “Com<br />

a aquisição da Bait vieram muitos<br />

projetos, então temos hoje uma<br />

força relevante no Rio de Janeiro<br />

e também em São Paulo.” E a disposição<br />

da bandeira para investir<br />

na classe mais alta das sociedades<br />

paulista e carioca fica evidente em<br />

empreendimentos como o Tom<br />

Delfim Moreira, no Leblon, prédio<br />

de altíssimo luxo em construção na<br />

Cidade Maravilhosa e com estimativa<br />

de conclusão em 2024. Com<br />

apenas seis unidades, a partir de<br />

283 m², o projeto teve o metro quadrado<br />

comercializado por mais de<br />

R$ 80 mil — a cobertura de 501 m²<br />

acabou vendida por R$ 42 milhões,<br />

ou R$ 83,8 mil o m². O Valor Geral<br />

de Vendas (VGV) é de R$ 190 milhões.<br />

Outro exemplo, agora em São<br />

Paulo, é o Tonino Lamborghini San<br />

Paolo, nos Jardins. A conclusão do<br />

condomínio está prevista para<br />

2025, com 17 apartamentos-tipo<br />

(252 m² cada) — além da cobertura<br />

duplex (498 m²) — em uma torre<br />

e 96 estúdios em outra — entre 21<br />

m² e 37 m². Serão 114 unidades no<br />

total com R$ 300 milhões de VGV.<br />

O preço chega a R$ 40 mil o m².<br />

Para Ortiz, uma das principais<br />

estratégias de uma empresa para<br />

se posicionar no alto padrão é analisar<br />

se a localização combina com<br />

o empreendimento. “Há uma estratégia<br />

muito grande de aquisição<br />

de terrenos e geralmente ela é importante<br />

e difícil”, afirmou. “Para<br />

você ter uma ideia, em São Paulo<br />

possuímos três terrenos, dois no<br />

Itaim e outro nos Jardins. Muito<br />

bem localizados. São propostas de<br />

lançamento para o ano e estamos<br />

estudando a hora certa de colocar<br />

no mercado.” No Rio de Janeiro, a<br />

empresa tem atualmente quatro<br />

empreendimentos em frente ao<br />

mar. “Tanto em São Paulo quanto<br />

no Rio queremos estar com as melhores<br />

qualidades possíveis de empreendimentos<br />

nesse padrão.”<br />

O vice-presidente de Negócios<br />

destaca ainda a participação de<br />

arquitetos estrangeiros nos projetos.<br />

Um movimento realizado já<br />

há três anos e que transmitiu à<br />

Gafisa mais maturidade para novos<br />

negócios. “Acho que a arquitetura<br />

volta a ser protagonista depois de<br />

muitos anos”, disse ele. “Posso<br />

dizer só para finalizar que todos<br />

os produtos que fizemos de alto<br />

padrão tiveram uma ótima velocidade<br />

de vendas nos últimos dois<br />

anos. Então, o que a gente fez tem<br />

dado resultado. Isso nos encoraja<br />

cada vez mais a investir nesse segmento”,<br />

afirmou o executivo.<br />

O comitê<br />

de gestão tem<br />

a competência<br />

e a expertise<br />

combinada<br />

para gerar um<br />

grande ganho<br />

nas decisões<br />

estratégicas<br />

da Gafisa”<br />

RENATA<br />

YAMADAO<br />

VICE-<br />

PRESIDENTE<br />

DE GESTÃO<br />

& JURÍDICO<br />

Posso<br />

dizer que<br />

todos os<br />

produtos que<br />

fizemos de<br />

alto padrão<br />

tiveram<br />

uma ótima<br />

velocidade<br />

de vendas”<br />

LUIS<br />

FERNANDO<br />

ORTIZ<br />

VICE-<br />

PRESIDENTE<br />

DE NEGÓCIOS<br />

36<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

FOTOS: CLAUDIO GATTI


Rede varejista<br />

anuncia saída do<br />

quarto presidente<br />

em cinco anos e<br />

mais uma vez tenta<br />

reestruturar sua<br />

operação<br />

MARISA EM CRISE INTERNA<br />

ADEUS<br />

Adalberto Pereira<br />

dos Santos já<br />

apontava os<br />

desafios da<br />

concorrência no<br />

final de 2022<br />

Lara SANT’ANNA<br />

vai não vai da Marisa, uma das maiores varejistas<br />

Ode moda do País, já perdura há tempos Nos últimos<br />

cinco anos, a companhia teve quatro presidentes.<br />

O último CEO, Adalberto Pereira dos Santos, renunciou<br />

na terça-feira (7), menos de 12 meses após<br />

assumir o cargo. Saiu também Marcelo Adriano Casarin,<br />

membro do conselho de administração. Junto das despedidas,<br />

veio o anúncio da contratação da BR Partners<br />

para assessoramento no processo de renegociação do<br />

endividamento de R$ 566,1 milhões e a Galeazzi Associados<br />

para apoiar no “aperfeiçoamento da estrutura de<br />

custos”, conforme fato relevante. A dança das cadeiras<br />

no comando da rede não preocuparia o varejo em tempos<br />

de paz. Mas hoje preocupa. O último movimento na<br />

cúpula da Marisa acende o sinal de alerta sobre uma<br />

importante empresa varejista, em um setor ainda assustado<br />

e ressabiado com os desdobramentos do escândalo<br />

da possível fraude de R$ 47,9 bilhões da Americanas.<br />

Os números mais recentes da Marisa ainda são desconhecidos,<br />

mas o balanço do terceiro trimestre de 2022<br />

(os mais recentes), mostram que a situação financeira<br />

é complexa. Na época, a companhia possuía uma posição<br />

de caixa de R$ 183,3 milhões, enquanto a dívida líquida<br />

chegava a R$ 566,1 milhões. No mesmo período, a queima<br />

de caixa somou R$ 72,7 milhões, e o faturamento R$<br />

2,5 bilhões, 16,3% a mais que no ano anterior.<br />

Diversos fatores ajudam a explicar a atual situação<br />

da companhia. Olhando especificamente para o negócio,<br />

segundo a sócia e analista da Nord Research, Danielle<br />

Lopes, os motivadores são o MBank, serviço financeiro<br />

da empresa, e a gestão de estoque.<br />

Para a analista, o perfil de clientes<br />

atendidos para crédito, com score<br />

baixo, elevou a inadimplência e<br />

custa caro. “Todo o aumento de capital<br />

que vimos a empresa fazer, o<br />

dinheiro foi direcionado para estes<br />

dois pontos [MBank e estoque].”<br />

Já considerando uma análise<br />

sobre o setor de moda, é impossível<br />

não pontuar a concorrência estrangeira.<br />

Brigando pelos mesmos clientes<br />

que os da Marisa, empresas como<br />

a Shein conseguiram oferecer melhores<br />

opções e condições, e o varejo<br />

nacional não foi capaz de se adaptar.<br />

Na conferência de apresentação<br />

do resultado do terceiro trimestre<br />

de 2022, o então presidente Adalberto<br />

dos Santos já antecipava os<br />

desafios. “São players de tamanha<br />

magnitude que talvez não valha a<br />

pena, seja impossível até bater de<br />

frente”, afirmou.<br />

R$ 566 MILHÕES<br />

VALOR DA DÍVIDA<br />

LÍQUIDA DA MARISA<br />

Outra peça dessa história é o<br />

próprio varejo com sua característica<br />

intrínseca: o crédito. Segundo o<br />

diretor-geral da Faculdade do Comércio,<br />

Wilson Rodrigues, o setor<br />

necessita do dinheiro de bancos para<br />

suprir as suas necessidades, especialmente<br />

a de capital de giro, poder<br />

vender a prazo e lidar com fornecedores.<br />

“Todas as grandes varejistas<br />

têm passivos”, disse. Questão que<br />

até janeiro não era vista com maiores<br />

problemas, até que, no dia 11 daquele<br />

mês estourou o escândalo da Americanas<br />

e isso mudou todo o jogo.<br />

Segundo Rodrigues, a fraude<br />

gerou um “estresse no varejo brasileiro”<br />

e fez com que o mercado financeiro<br />

ficasse mais atento e dificultasse<br />

o acesso ao crédito,<br />

prejudicando a operação de parte<br />

das varejistas. Como reação a tudo<br />

isso, a Marisa iniciou um processo<br />

de mostrar ao mercado que está se<br />

movimentando para resolver suas<br />

dívidas. A empresa, que não quis<br />

conceder entrevista e disse que se<br />

manifesta apenas por meio de fato<br />

relevante, tenta se antecipar a um<br />

problema que pode se tornar maior.<br />

A Americanas sabe bem disso.<br />

FOTO: DIVULGAÇÃO<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

37


NEGÓCIOS<br />

EXPANSÃO<br />

SEM FIM<br />

Pedro Monteiro<br />

prevê a realização<br />

de eventos anuais<br />

para divulgar a<br />

modalidade<br />

NFL ENSAIA NOVA JOGADA<br />

BRASIL VIVE AUMENTO EXPONENCIAL DO NÚMERO DE FÃS DO<br />

FUTEBOL AMERICANO EMBALADO PELO SUPER BOWL Angelo VEROTTI<br />

O<br />

futebol é historicamente o esporte número<br />

um na preferência do torcedor brasileiro.<br />

Ano após ano, porém, o outro<br />

futebol (que chamamos de americano)<br />

ganha destaque nos gramados pelo País.<br />

Entre 2015 e 2021, o alcance de fãs declarados<br />

da modalidade cresceu dez vezes,<br />

saltando de 3 milhões para 33 milhões<br />

de pessoas, segundo números do Ibope<br />

Repucom. “E neste ano vamos atingir um<br />

crescimento de 8%, para 35 milhões”,<br />

disse à DINHEIRO Pedro Rego Monteiro,<br />

CEO da Effect Sport, agência representante<br />

da NFL (liga de futebol americano,<br />

na sigla em inglês) no Brasil.<br />

O crescimento da modalidade por aqui<br />

também fica evidenciado pela participação<br />

dos fãs nas redes sociais. Atualmente,<br />

o Brasil é o segundo país do mundo em<br />

número de seguidores, com 2 milhões,<br />

atrás apenas dos Estados Unidos. E por<br />

aqui a temporada vai fechar com mais de<br />

meio milhão de novos fãs. Marcelo Paiva,<br />

head de Conteúdo da Effect Sport, diz que<br />

mensalmente são 50 milhões de visualizações<br />

dos conteúdos. “Além de mais de<br />

5 milhões de engajamentos”, disse. Os<br />

números representam crescimento de<br />

50% em relação ao ano passado. “Em termos<br />

de social media, será o melhor ano<br />

38 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: LUCIANA WHITAKER | FREDERIC J. BROWN / AFP


POR DENTRO DO SUPER BOWL 57<br />

Finalistas:<br />

Philadelphia<br />

Eagles e<br />

Kansas City<br />

Chiefs<br />

Custo da inserção<br />

comercial:<br />

US$ 7 MILHÕES<br />

por 30 segundos<br />

Horário da<br />

decisão:<br />

20h30<br />

(Brasília)<br />

Previsão de<br />

arrecadação:<br />

US$ 500<br />

milhões<br />

que tivemos. Vamos para mais 2,5 milhões de brasileiros seguindo<br />

a NFL nas redes.” O gênero dos fãs é predominantemente<br />

masculino, com idade entre 24 e 40 anos.<br />

O aumento do número de adeptos no País está, na visão de<br />

Paiva, relacionado a um conjunto de fatores: juntam-se a transmissão<br />

pela TV aberta (Rede TV!), a existência de uma forte<br />

comunidade de amantes do esporte, de criadores de conteúdo<br />

e um elevado número de praticantes. “A Confederação Brasileira<br />

de Futebol Americano tem 20 mil atletas registrados. São<br />

mais de 400 times no Brasil, cada um deles com divisões de<br />

bases, disputando diversas ligas”, afirmou. Um exemplo é o Rio<br />

Preto Weilers, de São José do Rio Preto (SP). “A cidade abraçou<br />

a equipe de futebol americano, que faz parte da elite no cenário<br />

nacional. Localmente, ela é até mais popular do que a de futebol,<br />

que não é tão competitiva.”<br />

O próximo passo para o desenvolvimento da NFL no País<br />

será a abertura de loja própria, como ocorre com a NBA (liga<br />

americana de basquete, na sigla em inglês), o que deve acontecer,<br />

segundo o CEO Pedro Monteiro, em futuro não tão distante.<br />

Atualmente, os fãs podem adquirir produtos relacionados<br />

às franquias nos sites da Netshoes, por meio de um acordo com<br />

a Fanatics, parceira global da NFL. “Mas temos varejistas oficiais<br />

como a Sport America, por exemplo, que possui uma gama<br />

importante de produtos.”<br />

Transmissão:<br />

Rede TV!<br />

e ESPN e<br />

Star+<br />

Premiação:<br />

Show<br />

intervalo:<br />

Rihanna<br />

De US$ 105 MIL a<br />

US$ 115 MIL por atleta<br />

ATUAL<br />

CAMPEÃO<br />

O Los Angeles Rams<br />

(amarelo e azul) foi<br />

o campeão do<br />

Super Bowl 2022<br />

ao derrotar o<br />

Cincinnati Bengals<br />

a data passar em branco. Pela primeira vez<br />

a capital São Paulo será palco do NFL in<br />

Brasa, festival com experiências esportivas,<br />

gastronômicas e musicais programado<br />

para sábado e domingo no Komplexo<br />

Tempo, na Mooca. O investimento chega<br />

a R$ 2,5 milhões. “Mas não esperamos<br />

lucro nesta primeira edição”, disse o CEO.<br />

“A nossa missão maior como agência da<br />

NFL no Brasil é aumentar a base de fãs da<br />

liga por aqui. Aproximar o esporte em<br />

termos de visibilidade, notoriedade.”<br />

O NFL in Brasa estava previsto para o<br />

período entre 2019 e 2020, mas acabou<br />

adiado por causa da pandemia. O evento<br />

une esporte e entretenimento, apresentando<br />

atrações musicais e a transmissão<br />

ao vivo do Super Bowl, e traz para o Brasil<br />

o conceito tailgate, tradicional nos estádios<br />

americanos, com festival de churrasco. Os<br />

torcedores também poderão vivenciar<br />

experiências NFL ao longo do evento: lançar<br />

como um quarterback, arriscar um<br />

field goal (chutar a bola entre as traves),<br />

dar tackles (pancadas) em adversários.<br />

Com parceiros como Diageo, Unilever e<br />

Ambev, a edição marca o começo de uma<br />

nova fase da NFL no Brasil. A ideia de Monteiro<br />

é criar eventos anuais para ampliar<br />

a participação e a base de fãs do esporte<br />

no País, estratégia que diante dos números<br />

obtidos pela NFL nos últimos anos revela-<br />

-se um perfeito touchdown.<br />

SUPER BOWL 57 A paixão do torcedor brasileiro pela NFL<br />

deverá ser colocada à prova no domingo (12) quando está programada<br />

a decisão da temporada com a partida entre Philadelphia<br />

Eagles e Kansas City Chiefs, a partir das 20h30 de Brasília, no<br />

State Farm Stadium, no Arizona. E a Effect Sport não quer deixar<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

39


LIDERANÇA<br />

NEGÓCIOS<br />

SALTO<br />

PARA<br />

ASICS DOBRA<br />

INVESTIMENTOS<br />

NO BRASIL PARA SE<br />

APROXIMAR DOS<br />

CONSUMIDORES<br />

E SE CONSOLIDAR<br />

NO TOPO DO<br />

MERCADO DE<br />

TÊNIS DE CORRIDA<br />

Beto SILVA<br />

Corrida sempre foi o core da Asics,<br />

empresa japonesa de artigos esportivos<br />

criada em 1949. Nesses 74 anos<br />

de história, correr é um verbo que faz<br />

ainda mais sentido atualmente para<br />

a companhia que trabalha para retomar o<br />

fôlego perdido nos últimos cinco anos. O rendimento<br />

da marca já não estava sendo bom<br />

antes mesmo da pandemia. Após registrar<br />

receita global de US$ 3,04 bilhões em 2017<br />

(conversão de iene para dólar feita na quarta-<br />

-feira, 8), os anos seguintes foram de queda<br />

até chegar ao faturamento de US$ 2,5 bilhões<br />

em 2020. Recuperou-se em 2021, com vendas<br />

totais de US$ 3,07 bilhões, com lucro líquido<br />

de US$ 116 milhões. Apesar de o balanço do<br />

ano passado ainda não estar fechado, a expectativa<br />

é de crescimento, alcançando o melhor<br />

resultado dos últimos dez anos. A performance<br />

foi boa na maioria dos países e o Brasil tem<br />

sido um dos pilares dessa retomada. Por aqui,<br />

a companhia investiu nos últimos dois anos<br />

o dobro do aportado em 2019, último ano<br />

antes da pandemia, segundo o CEO da Asics<br />

na América Latina, Alexandre Fiorati. Um<br />

salto para consolidar a companhia na liderança<br />

da categoria tênis de corrida no País. “Tivemos<br />

crescimento substantivo a partir de<br />

2019, fazendo com que a subsidiária Brasil<br />

ganhe relevância dentro do mundo Asics.<br />

Estamos investindo cada vez mais na América<br />

Latina”, disse Fiorati à DINHEIRO durante<br />

o Brand Day da marca, realizado dia 2, no<br />

Allianz Parque, em São Paulo.<br />

Tecnologia é um dos motes que serão trabalhados<br />

neste ano. A inovação foi ressaltada<br />

em um dos principais lançamentos de 2023,<br />

o modelo GEL-Nimbus 25, com 20% mais<br />

40 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO


com aberturas de outras lojas no Brasil e na região. Continuaremos<br />

essa jornada gradualmente”, afirmou o CEO. A operação brasileira tem<br />

ainda equipes de desenvolvimento e qualidade que trabalham junto às<br />

fábricas parcerias que produzem os calçados por aqui e estão localizadas<br />

principalmente no sul do País. “Brasil é um polo de desenvolvimento<br />

regional”, afirmou o executivo. Cerca de 65% dos tênis<br />

comercializados aqui são produzidos internamente e os outros<br />

35% são importados das plantas asiáticas da marca.<br />

A<br />

ESTRATÉGIA E<br />

TECNOLOGIA<br />

CEO na América<br />

Latina, Alexandre<br />

Fiorati aposta na<br />

Asics House para<br />

se aproximar<br />

do consumidor<br />

brasileiro. Acima,<br />

o recém-lançado<br />

GEL-Nimbus 25<br />

espuma FF Blast comparado com a versão<br />

anterior. O tênis foi considerado o mais<br />

confortável em um teste cego realizado pelo<br />

instituto The Biomechanics Lab, da Austrália.<br />

Neste ano serão apresentadas de seis a<br />

dez novidades no mercado global, que imediatamente<br />

chegam ao Brasil. Anos atrás<br />

havia um delay entre a data de lançamentos<br />

no exterior e a comercialização no País. “O<br />

consumidor está conectado e exige essa<br />

dinâmica”, disse Fiorati.<br />

Os calçados Asics estão disponíveis em<br />

grandes redes varejistas de esportes e em<br />

14 lojas próprias espalhadas pelo Brasil,<br />

sendo quatro chamadas full price e dez outlets.<br />

Na América Latina, há outras quatro<br />

unidades: três no Chile e uma na Colômbia,<br />

aberta no segundo semestre do ano passado.<br />

“Temos a intenção de expandir em 2023<br />

APROXIMAÇÃO O executivo apontou ainda que os patrocínios<br />

a atletas e eventos serão intensificados durante<br />

este ano. Atualmente são 18 profissionais do esporte que<br />

levam o nome da Asics, mais que o dobro de 2019. São<br />

atletas running, triatlo, tênis e — novidade neste ano —<br />

esporte paralímpicos. Entre os mais renomados está o<br />

tenista Marcelo Melo, número 1 do mundo em duplas por<br />

56 semanas (entre 2017 e 2018), campeão de<br />

duplas de Roland Garros (2015) e de Wimbledon<br />

(2017). Outra aposta da companhia<br />

japonesa para se aproximar dos<br />

consumidores brasileiros é a Asics<br />

House, inaugurada em outubro no<br />

Parque Bruno Covas, localizado ao<br />

longo da Marginal Pinheiros, em<br />

São Paulo. O espaço funciona<br />

como um hub para corredores<br />

— profissionais e amadores<br />

— que oferece serviços de<br />

apoio como guarda-volumes,<br />

hidratação e personalização<br />

de camisetas, além de oferecer<br />

experimentação dos principais<br />

tênis da marca com consultoria<br />

de especialistas. A área<br />

também serve a ações de marketing<br />

e eventos da empresa.<br />

MERCADO<br />

GLOBAL DE TÊNIS<br />

MERCADO ACIRRADO O Brasil representa<br />

aproximadamente 80% da receita<br />

da Asics na América Latina. Os itens de<br />

running são responsáveis por 75% das vendas no<br />

País. A marca possui outras três categorias: core performance<br />

sports (produtos de modalidades como tênis, vôlei e handebol);<br />

casual; e vestimenta. Em todas as linhas de negócios a companhia japonesa<br />

enfrenta outro grandes players globais, como Nike, Adidas e a<br />

conterrânea Mizuno. A disputa pelo mercado de calçados esportivos<br />

é acirrada e bilionária. Mundialmente movimentou US$ 127,31 bilhões<br />

em 2021 e deve crescer para US$ 196,5 bilhões até 2030, segundo a<br />

consultoria Facts and Factors. Oportunidades que a Asics corre para<br />

alcançar antes dos concorrentes.<br />

US$ 127,31 BILHÕES<br />

foi o faturamento em 2021<br />

US$ 196,5 BILHÕES<br />

é a projeção de faturamento para 2030<br />

5%<br />

é a taxa de crescimento anual<br />

composta (CAGR )<br />

entre 2022 e 2030<br />

Fonte: Facts and Factors<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

41


NEGÓCIOS<br />

G R U P O<br />

LEONORA<br />

QUER SER<br />

O PRIMEIRO<br />

DA CLASSE<br />

EMPRESA NACIONAL<br />

DE MATERIAIS<br />

ESCOLARES QUE<br />

CONCORRE COM AS<br />

GIGANTES BIC E<br />

FABER-CASTELL<br />

APROVEITA O INÍCIO<br />

DO ANO LETIVO<br />

PARA LANÇAR 400<br />

PRODUTOS E SE<br />

APROXIMAR DA<br />

META DE FATURAR<br />

R$ 500 MILHÕES<br />

Lara SANT’ANNA<br />

D<br />

ois hábitos de consumo se destacam no<br />

período de volta às aulas. Um é o dos<br />

estudantes que adoram conhecer novidades<br />

e se abastecer de lápis, canetas,<br />

cadernos e outros itens usados em seu<br />

dia a dia das escolas. Outro é dos pais, quase<br />

sempre apreensivos com as despesas exorbitantes<br />

com os itens de papelaria. Para conciliar<br />

o desejo de uns e a cautela de outros, o Grupo<br />

Leonora, que atua há 39 anos no setor, tem<br />

adotado duas estratégias certeiras: diversificar<br />

os produtos e praticar preços abaixo da concorrência.<br />

Com 1,4 mil itens no portfólio, a<br />

fabricante brasileira se destaca por vender mais<br />

barato que as multinacionais Bic e Faber-Castell.<br />

Neste início de ano, os resultados já são<br />

recordes. “A volta às aulas de 2023 tem sido<br />

especial. Crescemos 50% pautados em mais<br />

de 400 lançamentos e grande parceria com<br />

nossos clientes em todo Brasil”, disse o CEO<br />

do Grupo Leonora, Alberi Rodrigues.<br />

A projeção é fechar o ano fiscal, que<br />

considera o período de abril de 2022 a março<br />

de 2023, com faturamento de R$ 390<br />

milhões. Já para o ciclo que se encerra em<br />

2024 a expectativa é alcançar R$ 500 milhões,<br />

meta que vem acompanhada de esforços<br />

de promoção em toda a cadeia. Mais<br />

da metade do que a empresa fatura no ano<br />

vem das compras de material escolar entre<br />

os meses de dezembro e fevereiro. Dada a<br />

importância do período, é nele que se concentram<br />

os investimentos do grupo em<br />

marketing, com maior aproximação do<br />

consumidor por meio promoções, lançamento<br />

de produtos e aumento da capilaridade<br />

dos pontos de venda.<br />

A Leonora possui presença nacional,<br />

com distribuição em mais de 12 mil lojas,<br />

de pequenas papelarias até grandes redes<br />

42 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK I DIVULGAÇÃO


como Kalunga, Le Biscuit e Americanas — inclusive está na extensa<br />

lista de credores da varejista que entrou em recuperação<br />

judicial após protagonizar o maior escândalo contábil do País.<br />

Para o diretor de negócios e membro do conselho do Grupo Leonora,<br />

Edson Cardoso Teixeira, a atual crise da Americanas não<br />

impacta de forma profunda a empresa, já que não há concentração<br />

de parceiros no faturamento. Segundo ele, o maior cliente em<br />

concentração representa 3% do faturamento. Mas o episódio<br />

afeta o setor no quesito distribuição. “A preocupação é pela perda<br />

de pontos de venda e pelo mercado ficar mais fragilizado”, afirmou.<br />

Além das grandes redes parceiras, no ambiente on-line a participação<br />

da Leonora tem crescido graças à possibilidade de alcançar<br />

clientes menores, que seus representantes de venda não conseguiam.<br />

Considerando as vendas para empresas e as diretas para<br />

o público, o e-commerce representa 5,5% do faturamento. Uma<br />

receita bem menor que a obtida com licitações junto aos governos<br />

municipal e estadual. Por meio delas, a empresa pode fornecer<br />

itens incluídos nos kit escolares da rede pública de todo o Brasil,<br />

em conjunto com outras marcas autorizadas. Essa frente representa<br />

hoje 18% do faturamento do grupo.<br />

OS NEGÓCIOS<br />

DO GRUPO<br />

LEONORA<br />

Ano de fundação:<br />

1984<br />

Faturamento previsto<br />

2023/2024:<br />

R$ 500<br />

MILHÕES<br />

Portfólio:<br />

1,4 MIL SKUS<br />

Clientes:<br />

12 MIL<br />

NEGÓCIOS:<br />

Papelaria e<br />

escritório:<br />

Leo & Leo<br />

Leo Arte<br />

Jocar Office<br />

Acessórios<br />

Eletrônicos:<br />

Letron<br />

Logística:<br />

LeoLog<br />

Corporate<br />

Venture Builder:<br />

Leonora<br />

Ventures<br />

NA PONTA<br />

DO LÁPIS<br />

CEO do Grupo<br />

Leonora, Alberi<br />

Rodrigues<br />

comemora<br />

crescimento de<br />

50% nas vendas<br />

do período de<br />

volta às aulas<br />

em 2023<br />

NOVOS NEGÓCIOS Em 2020, quando<br />

o Grupo Leonora completou 36 anos de<br />

existência, seus executivos decidiram<br />

mudar e ir além do setor de papelaria.<br />

Naquele ano foi criada uma Corporate<br />

Venture Bulding, a Leonora Venture,<br />

para atrair e apoiar startups com soluções<br />

para o varejo e para a educação. “A ideia<br />

foi reverberar aqui dentro o espírito de<br />

inovar”, disse Teixeira. Atualmente o<br />

programa conta com 12 iniciativas, mas<br />

140 já passaram pelo processo de seleção.<br />

Já no ano seguinte a Leonora entrou no<br />

segmento de acessórios eletrônicos, como<br />

carregadores, caixas de som e teclados.<br />

Promissor, este mercado cresce conforme<br />

a vida passa a ser mais digital, inclusive<br />

o aprendizado, motor de vendas do<br />

Grupo. Atualmente a Letron representa<br />

apenas 5% do faturamento, mas a meta<br />

é que sua participação responda por algo<br />

entre 15% a 18%.<br />

A Leonora não possui fábricas para<br />

seus produtos. A maioria dos itens eletrônicos<br />

e de papelaria são importados,<br />

com produção concentrada na Ásia, onde<br />

a empresa consegue melhores contratos<br />

que permitem o objetivo de preços baixos<br />

no produto final. No entanto, a pesquisa<br />

por novidades e o desenvolvimento<br />

dos mesmos são feitos por uma<br />

equipe interna. Com 14 milhões de caixas<br />

de lápis vendidas entre dezembro de<br />

2022 e fevereiro de 2023, o Grupo Leonora<br />

comprova que seu caminho está<br />

muito bem desenhado.<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

51


NEGÓCIOS<br />

A CONQUISTA DOS<br />

EUA (À BRASILEIRA)<br />

Empresário Richard Harary se transforma de Rei<br />

das Malas em Rei dos Enxovais e mira Fortune 500<br />

Naira ZITEI<br />

Há momentos únicos na jornada de uma empresa em que<br />

ela está exatamente na mesma distância de seu duro<br />

início e de seu futuro promissor. Uma espécie de meio<br />

da ponte. É onde se encontra a Marco Corporation,<br />

holding de mais de uma dúzia de marcas fundada e presidida<br />

nos Estados Unidos pelo brasileiro Richard Harary. A ambição<br />

para chegar ao fim da ponte não é pequena. Na declaração de<br />

Visão da companhia, o objetivo é se tornar uma Fortune 500<br />

— o restrito clube das maiores corporações americanas por<br />

faturamento. Hoje, a Marco tem receitas anuais de US$ 100<br />

milhões. Será preciso multiplicar por 60 esse número para<br />

alcançar o sonho. Harary não se incomoda com o desafio e está<br />

convicto da fórmula. “Ter sempre o mesmo empenho que tínhamos<br />

ao começar”, afirmou à DINHEIRO.<br />

O começo de sua trajetória seguiu de certa forma a de seu<br />

pai, o imigrante egípcio Samy Harary, que se mudou para o<br />

Brasil aos 18 anos. Era funcionário da Ford quando comprou<br />

uma máquina de fazer meias e a partir dela criou uma grande<br />

manufatura no segmento. Foi na mesma idade que o filho Richard<br />

se mudou, no meio da década de 1990, para estudar nos<br />

Estados Unidos. Logo depois, Richard abriu o primeiro negócio<br />

ao comprar, com US$ 7 mil, uma empresa de bagagens.<br />

META<br />

DEFINIDA<br />

Richard Harary<br />

partiu para a<br />

Flórida com<br />

18 anos e o<br />

sonho de cursar<br />

psicologia. Criou<br />

um grupo que<br />

fatura US$ 100<br />

milhões<br />

6 ACERTOS E 3 ERROS DO EMPREENDEDOR<br />

O QUE FAZER<br />

1. Amor<br />

“Não foque apenas na<br />

técnica, mas em<br />

construir uma equipe”<br />

4. Atenção<br />

a detalhes<br />

“Fazem total diferença<br />

Detalhes dão sua cara ao<br />

negócio e fazem com que<br />

você seja lembrado”<br />

O QUE EVITAR<br />

1. Desfocar<br />

“Não perca o foco. E<br />

cuidado com distrações. Se<br />

você não é mais necessário,<br />

comece algo diferente”<br />

Em 1999, ele começou a anunciar suas<br />

malas no eBay, que existia havia poucos<br />

anos. A mudança do comércio físico para<br />

o digital permitiu também que ampliasse<br />

o portfólio. “Vendia de tudo, até peruca,<br />

mas sempre focado nas marcas mais<br />

fortes”, afirmou. Tornou-se um dos maiores<br />

vendedores do eBay nos EUA. Em<br />

2007, Richard Harary notou uma lacuna<br />

no segmento de carrinhos de bebês. Surgia<br />

o embrião da MacroBaby, principal<br />

empresa da holding. Paralelamente, ele<br />

vivia o nascimento da primeira filha,<br />

Gabriella, e notou que também no mundo<br />

de enxovais havia poucas opções.<br />

Pronto. Em poucos anos a marca se tornou<br />

referência, conhecida como a Disneylândia<br />

dos produtos de bebês.<br />

O Rei das Malas morreu para se tornar<br />

o Rei dos Enxovais. “Meu pulo do<br />

gato sempre foi ir atrás do cliente. E ele<br />

está nas maternidades”, afirmou Richard<br />

Harary. O empresário diz que pessoas do<br />

mundo todo costumam ir a Orlando fazer<br />

o enxoval dos filhos. Para quem partiu<br />

para os Estados Unidos interessado apenas<br />

em cursar psicologia na University<br />

of South Florida (USF), conquistar o<br />

sonho da Fortune 500 é somente questão<br />

de tempo e de continuar a jornada.<br />

2. Treinar sempre<br />

“Treino nos aperfeiçoa.<br />

Não existe treino<br />

‘demais’ quando se tem<br />

um objetivo”<br />

5. Renovar<br />

“Tenha sempre o<br />

empenho que teve<br />

no começo. Vale<br />

para tudo que você<br />

não quer que acabe”<br />

2. Agir<br />

emocionalmente<br />

“Na pandemia, em<br />

muitos momentos agi<br />

por emoção, o que me<br />

custou um bom dinheiro”<br />

3. Padronizar<br />

“Processos, metodologias,<br />

atendimento... Assim se<br />

medem pontos fortes e de<br />

melhoria”<br />

6. Mirar na<br />

lucratividade<br />

“Muitos focam em<br />

faturamento. Eu digo:<br />

jamais desista de ser<br />

uma empresa com lucro”<br />

3. Inflar o ego<br />

“Há empresas que<br />

crescem sem<br />

controle devido ao<br />

ego. Isso pode acabar<br />

até com as gigantes”<br />

44 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO I JONATAS LIMA


ESG<br />

O NORTE DA<br />

ENERGIA VERDE<br />

Com mais de R$ 2,1 bilhões de ativos,<br />

a Brasil BioFuels capta R$ 133,4 milhões por<br />

meio de emissão de debêntures para implantar<br />

termelétricas de base renovável em Roraima<br />

Anna FRANÇA<br />

nico estado do Brasil que não está conectado ao Sistema<br />

ÚInterligado Nacional (SIN) de energia elétrica, Roraima<br />

convive há anos com apagões. O problema ficou ainda mais<br />

grave desde março de 2019, quando foi interrompida a<br />

parte do fornecimento que era feita pela vizinha Venezuela.<br />

Para não ficar no escuro, o estado depende de cinco termelétricas<br />

movidas a diesel. Elas geram 203,5 megawatts (MW), o que responde<br />

por 43% da demanda. O restante é complementado por<br />

térmicas a biomassa, gás natural, e pela hidrelétrica de Jatapu.<br />

É de olho na oportunidade de levar energia renovável para<br />

Roraima que a Brasil BioFuels (BBF) investe em projetos na<br />

região. O mais recente envolveu uma emissão de debêntures<br />

para captar R$ 133,4 milhões destinados a finalizar a implantação<br />

de duas usinas termelétricas movidas a óleos vegetais e biomassa.<br />

A BBF é uma das maiores produtoras de óleo de palma da<br />

América Latina. “Estamos trazendo parceiros para um projeto<br />

completamente sustentável, que une descarbonização da Amazônia<br />

e desenvolvimento socioeconômico da região com foco<br />

em geração de emprego no Norte do País”, disse o CEO do Grupo<br />

BBF, Milton Steagall.<br />

Criada em 2009, a empresa foi uma das primeiras a oferecer<br />

soluções de energia renovável para os chamados sistemas isolados<br />

do SIN, que somam 212 unidades no País, a maior parte na<br />

região Norte, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico.<br />

Até agora, o abastecimento depende majoritariamente de termelétricas<br />

a diesel, combustível caro e que gera mais emissões<br />

de CO2. Segundo Steagall, os projetos da empresa são menos<br />

poluentes e aproveitam as condições locais de forma sustentável,<br />

recuperando áreas vegetais degradadas.<br />

A BBF opera térmicas com<br />

integração de óleos vegetais e biomassa.<br />

Ao todo são 38 usinas espalhadas<br />

por cinco dos sete estados<br />

da região Norte, das quais 25 estão em<br />

operação e 13 em implantação. A capacidade total de geração é<br />

de 50 megawatts (MW), quase 25% do que é gerado pelo uso de<br />

óleo diesel em Roraima. A empresa abastece suas usinas com<br />

parte do que produz em 68 mil hectares de palma. Suas três<br />

unidades de esmagamento fornecem 200 mil toneladas de óleo<br />

por ano. Empregando 6 mil funcionários, o grupo possui R$ 2,1<br />

bilhões em ativos, faturando R$ 1,7 bilhão. Segundo o CEO da<br />

assessoria amazonense Dom Investimentos, Gabriel Maksoud,<br />

projetos com apelo de sustentabilidade como os da BBF têm tido<br />

boa receptividade no mercado de capitais. Para o professor de<br />

economia da Faculdade de Comércio de São Paulo (FAC-SP)<br />

Denis Medina, a modalidade é vantajosa do ponto de vista tributário.<br />

“Debêntures de infraestrutura são interessantes para<br />

o investidor pela isenção de imposto”, afirmou Medina.<br />

SUSTENTÁVEL<br />

O CEO do Grupo BBF,<br />

Milton Steagall, em<br />

uma das unidades<br />

da empresa que<br />

produz 200 mil<br />

toneladas de óleo<br />

de palma por ano<br />

a partir de 68 mil<br />

hectares plantados<br />

e gera eletricidade<br />

em 25 termelétricas<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

45


10<br />

“ESG NÃO É UMA ÁREA DA<br />

EMPRESA, É UMA FORMA DE SER<br />

E DE ENCARAR O MUNDO DOS<br />

NEGÓCIOS”<br />

PERGUNTAS PARA<br />

RODRIGO SANTINI<br />

DIRETOR-EXECUTIVO<br />

DO SISTEMA B BRASIL<br />

Lana PINHEIRO<br />

Diante da necessidade de dar mais<br />

credibilidade aos compromissos<br />

com as boas práticas ESG,<br />

empresas aumentaram a busca<br />

por certificações. São muitas as disponíveis<br />

no mercado, mas poucas as que possuem<br />

expressão global — condição relevante,<br />

pois permite o imediato reconhecimento<br />

e comparabilidade dos resultados pelos<br />

mais diversos agentes sociais. Uma delas<br />

é a fornecida pelo Sistema B, movimento<br />

mundial de identificação de empresas<br />

que utilizam seu poder de mercado para<br />

solucionar problemas sociais e ambientais<br />

do planeta. No comando da entidade no<br />

Brasil está Rodrigo Santini, que comemora<br />

o crescimento de 38% entre as certificadas<br />

em 2022 contra 2021. “Há um crescimento<br />

exponencial na busca por certificações<br />

de empresas B diante do avanço da<br />

agenda ESG”, disse Santini à DINHEIRO.<br />

Um movimento que deve continuar e até<br />

melhorar após o caso da Americanas que,<br />

mesmo participando do seleto grupo do<br />

Índice de Sustentabilidade da B3 (ISE B3),<br />

enfrenta grave crise de governança. “Fatos<br />

como esse trazem aprendizados para todos<br />

e nos faz evoluir em critérios e métricas”.<br />

Como parte decorrente da maturidade<br />

da agenda ESG, alguns novos conceitos<br />

surgem. Exemplo é a economia B. O que<br />

significa e quais seus princípios?<br />

RODRIGO SANTINI — A economia B é<br />

aquela que tem a intencionalidade de<br />

trazer soluções sociais e ambientais para<br />

os desafios que a sociedade enfrenta.<br />

Ser uma empresa B significa participar<br />

da construção de um sistema econômico<br />

que seja mais inclusivo, equitativo e<br />

46<br />

Dinheiro 15/02/2023


egenerativo. Esses negócios endereçam<br />

questões importantes e fazem parte<br />

da construção de uma jornada para<br />

um futuro no qual a gente tenha maior<br />

sustentabilidade.<br />

É possível uma empresa tradicional se<br />

remodelar para integrar a economia<br />

B, ou é preciso que o impacto<br />

socioambiental seja o core do negócio?<br />

A empresa pode sair de qualquer um<br />

desses lugares. O que interessa não é<br />

tanto de onde ela sai, mas sim para onde<br />

vai. Avaliamos uma empresa B por diversos<br />

critérios e atribuímos pontos a cada um<br />

deles. Então, claro que uma organização<br />

que nasce com a missão de resolver um<br />

problema socioambiental já parte de<br />

uma pontuação mais alta. Mas aquelas<br />

que estão na jornada de ser mais<br />

responsáveis com a comunidade e com<br />

o meio ambiente podem chegar lá. No<br />

Sistema B, temos um assessment que<br />

ajuda as corporações a identificarem em<br />

que etapa desse caminho ela está. É um<br />

aprendizado contínuo.<br />

Quais critérios são cruciais para integrar<br />

a economia B?<br />

São cinco grandes pilares. Governança,<br />

que avalia as políticas internas.<br />

Colaboradores, como as empresas tratam<br />

questões como saúde e remuneração<br />

dos funcionários, por exemplo. Em<br />

Comunidade, analisamos a relação das<br />

organizações com fornecedores e também<br />

com os grupos do entorno da empresa.<br />

Em Clientes, com seus consumidores. E<br />

em Meio Ambiente, com o planeta. Juntos,<br />

eles cobrem os três aspectos do ESG.<br />

Mas por que escolher uma certificação<br />

como essa? Qual valor agregado?<br />

Ao se autoavaliar e ao submeter esses<br />

cinco pontos a uma certificadora, a<br />

empresa consegue uma estrutura ESG<br />

forte e que conversa com outras empresas<br />

globalmente, porque os critérios são os<br />

mesmos. Assim, a organização passa a<br />

conseguir se comparar com outras e a<br />

identificar onde ela está na jornada.<br />

É uma referência que considera não só a<br />

questão ambiental — que está mais no<br />

foco das empresas — como também o<br />

lado social e de governança. Os três de<br />

maneira integrada.<br />

A integração dos pilares ESG fica mais<br />

evidente com os avanços da discussão<br />

da relação da justiça climática com<br />

a justiça social. Como o mundo<br />

corporativo se correlaciona com<br />

a intersecção dessas agendas?<br />

Falar de justiça social significa pensar<br />

nas vidas que são afetadas pelo processo<br />

das mudanças climáticas. Um exemplo<br />

da intersecção desses pontos com as<br />

empresas é a questão salarial. Empresas<br />

nas quais o salário médio do funcionário<br />

é muito discrepante ao pago aos altos<br />

executivos retratam e alimentam uma<br />

sociedade com distribuição de renda<br />

desigual. Isso pode significar, por exemplo,<br />

a formação de comunidades que colocam<br />

pessoas em situação de moradia de<br />

maior vulnerabilidade climática e social.<br />

Impactos como esse não foram pensados<br />

no passado e agora se tornam críticos.<br />

Já há cidades ou estados trazendo<br />

a lógica da economia B para a gestão<br />

pública?<br />

Sim. Há duas semanas, lançamos o SP+<br />

B. A ideia é unir a iniciativa privada e a<br />

pública para gerar soluções de impacto<br />

para a cidade de São Paulo. O mesmo<br />

modelo está em curso no Rio de Janeiro<br />

(Rio+B) e em Barcelona ( Barcelona+B),<br />

por exemplo. Nelas e em outras cidades<br />

há uma união intersetorial para resolver<br />

as vulnerabilidades das cidades. Nós<br />

chamamos Sistema B, inclusive, porque<br />

é preciso criar um ecossistema que<br />

una financiadores, empresas e governo<br />

com ferramentas como certificações,<br />

controles, estatutos.<br />

Nesse ecossistema qual é o papel do<br />

consumidor?<br />

A primeira questão é compreender o<br />

lugar que esse consumidor ocupa. O que<br />

esse consumidor pode fazer: que tipo de<br />

modelo de consumo escolhe ter, como<br />

consome impactando menos. Quando<br />

ele escolhe um produto B, ele compra a<br />

responsabilidade da empresa nos cinco<br />

pilares que falamos anteriormente.<br />

Quando uma empresa comercializa um<br />

produto que não oferece nenhum tipo de<br />

solução positiva para a sociedade, alguém<br />

paga o preço. Inclusive quem o compra.<br />

Por isso, o aumento da consciência do<br />

consumidor é tão importante.<br />

Mas essa consciência não acaba na hora<br />

que o preço não cabe no bolso?<br />

A sensibilização ao preço existe, mas os<br />

consumidores demandam cada vez mais<br />

produtos de impacto positivo. O processo<br />

não é em linha reta, de vez em quando há<br />

um passo para trás, para depois evoluir.<br />

Não é utopia pensarmos que teremos<br />

todos os agentes políticos, econômicos<br />

e governamentais alinhados em uma<br />

economia de impacto?<br />

Não quero acreditar que seja utopia senão<br />

eu não estaria aqui. Mas acredito que<br />

existe uma coisa arquetípica perigosa que<br />

é rotular algo como do bem ou do mal.<br />

As questões são mais complexas. Cabe<br />

à sociedade civil cobrar ações positivas<br />

para que essas empresas mudem. É<br />

como eu disse. É importante olhar para<br />

onde a empresa está indo e criar uma<br />

governança para que essa jornada de boas<br />

práticas seja constante, parte de uma<br />

cultura organizacional e que não dependa<br />

somente das pessoas que passam<br />

pela empresa. ESG não é uma área da<br />

empresa, é uma forma de ser e de encarar<br />

o mundo dos negócios.<br />

Falando em governança, lembramos o<br />

caso da Americanas que mesmo bem<br />

pontuada no Índice de Sustentabilidade<br />

da B3 (ISE B3) é protagonista de uma<br />

das maiores crises financeiras do<br />

País. Como assegurar que mesmo as<br />

certificadoras não sejam ludibriadas<br />

com falsas posturas ESG?<br />

Certificadoras, empresas e organizações<br />

aprendem com os fatos. É aquela história<br />

de trocar o pneu com o carro andando.<br />

Estamos vivendo o momento em que<br />

muitas das ferramentas e dispositivos<br />

estão sendo criados. Para se ter uma<br />

ideia, 80% dos negócios de impacto<br />

no País ainda estão em fase inicial,<br />

42% não possuem indicadores e 33%<br />

têm indicadores, mas não medem os<br />

resultados. Por isso, é necessário uma<br />

sociedade civil empoderada que consiga<br />

balizar o mercado sobre o que ele tem que<br />

olhar. Temos que estar juntos e revendo<br />

os processos. Agora mesmo o Sistema<br />

B lançou uma consulta pública para<br />

atualizar os padrões de certificação B.<br />

Os novos padrões devem ser<br />

apresentados em 2024.<br />

FOTO: CLAUDIO GATTI<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

47


Dinheiroembits POR VICTOR MARQUES<br />

P&D É O<br />

NEGÓCIO<br />

DA<br />

CHINA<br />

US$ 456<br />

bilhões<br />

Foi o total gasto em<br />

P&D pela China em<br />

2022<br />

Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas<br />

CHAT GPT: 100 MILHÕES DE USUÁRIOS EM DOIS MESES<br />

É isso mesmo que você leu: 100 milhões de usuários foi a quantidade de usuários que<br />

a inteligência artificial (IA) da Open AI, o Chat GPT, acumulou em dois meses de<br />

existência, o que pode ser considerada como a aplicação com crescimento mais<br />

rápido da história. Para efeito de comparação, o TikTok levou nove meses para<br />

alcançar os mesmos números. A IA é a nova queridinha do mundo da tecnologia e tem<br />

como um dos maiores investidores a Microsoft, que já começou a agregar as funções<br />

a seus sites, programas e aplicativos como o buscador Bing e o Microsoft Teams.<br />

66%<br />

GOOGLE ANUNCIA COMPETIDOR DO CHAT GPT<br />

Não havia dúvida de que a Google correria atrás dessa possível concorrência<br />

com o ChatGPT. Dito e feito. A companhia americana anunciou que trabalha em<br />

uma IA conversacional (com as mesmas características do competidor)<br />

chamada Bard. Já era hora. Ainda mais com a Microsoft integrando o serviço<br />

concorrente ao seu buscador, as chances de o Google ficar para trás não são<br />

gigantes. Mas... existem. A plataforma da big tech utilizará a versão atualizada<br />

de uma IA já existente nos projetos, a Lambda.<br />

Foi a alta do preço<br />

(inflação corrigida) de um<br />

iPhone top de linha desde<br />

o lançamento do iPhone<br />

3GS em 2009. Segundo<br />

Tim Cook, CEO da Apple, as<br />

pessoas estão dispostas a<br />

pagar mais pelo “melhor”<br />

48 Dinheiro 15/02/2023 INFOGRÁFICO: FABIO X | FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO


10,4%<br />

de aumento anual<br />

2,55%<br />

do PIB do país no<br />

ano passado<br />

O APP QUE<br />

MELHORA O<br />

TRANSPORTE<br />

PÚBLICO<br />

US$ 28,71<br />

bilhões<br />

foi o investimento<br />

em pesquisa básica<br />

7,4%<br />

de<br />

aumento<br />

anual<br />

6,32%<br />

dos gastos totais<br />

em P&D<br />

“UMA MÁQUINA PODE<br />

FAZER O TRABALHO DE<br />

50 HOMENS COMUNS,<br />

MAS NENHUMA PODE<br />

FAZER O TRABALHO<br />

DE UM HOMEM<br />

EXTRAORDINÁRIO”<br />

WEBSITE PARA CHAMAR DE SEU<br />

1,12<br />

BILHÃO<br />

É o<br />

número<br />

de<br />

websites<br />

no mundo<br />

ELBERT HUBBARD (1856-1915)<br />

FILÓSOFO E ESCRITOR NORTE-AMERICANO<br />

18%<br />

deles estão ativos<br />

82%<br />

deles estão inativos<br />

Transporte público no Brasil é<br />

uma piada, quer você resida nas<br />

grandes capitais ou no interior.<br />

Os problemas vão desde atrasos,<br />

até dificuldades no pagamento,<br />

coisas que seriam facilmente<br />

resolvidas embarcando<br />

tecnologia de simples acesso<br />

atualmente. Quando os<br />

governantes não resolvem os<br />

problemas, geralmente quem<br />

traz a saída é o mundo privado. É<br />

essa a proposta do aplicativo<br />

mineiro Kim, que busca entregar<br />

facilidades para o usuário de<br />

transporte público brasileiro –<br />

inclui recarga on-line do cartão<br />

de transporte, geração de QR<br />

Code para pagamento da<br />

passagem pelo próprio celular e<br />

até mapa com atualização dos<br />

horários dos ônibus em tempo<br />

real. Medidas simples, que já<br />

estão presentes em algumas<br />

cidades, principalmente nas<br />

capitais, mas que muitas vezes<br />

não são 100% funcionais. O<br />

aplicativo está presente em<br />

mais de 48 cidades no Brasil e<br />

registrou aumento de 250 mil<br />

usuários em 2022. Já são mais de<br />

630 mil pessoas usando o Kim.<br />

Dinheiro 15/02/2023 49


CONTE<br />

TECNOLOGIA<br />

Como a plataforma<br />

que comercializa<br />

produtos digitais<br />

(de videoaulas a<br />

e-books) tornou-se<br />

a maior do mundo<br />

e superou a marca de<br />

US$ 1 bi em vendas<br />

Beto SILVA<br />

TRAJETÓRIA<br />

CEO da Hotmart,<br />

João Pedro<br />

Resende: janeiro<br />

foi o melhor mês<br />

da história da<br />

empresa<br />

ada escolha, uma renúncia. E<br />

C<br />

suas consequências. Essa máxima<br />

esteve na cabeça dos<br />

amigos João Pedro Resende<br />

e Mateus Bicalho no início de<br />

2011. Era uma decisão difícil. Após<br />

se formarem em ciência da computação<br />

pela PUC-MG em 2004 e terem<br />

uma experiência negativa com<br />

a primeira empreitada no mundo<br />

dos negócios — naufragou em 2007<br />

o projeto da startup Mobworks, desenvolvedora<br />

de aplicativos —, eles<br />

voltaram ao mercado de trabalho.<br />

Trabalharam na mesma empresa.<br />

Resende como gerente de TI e Bicalho<br />

como arquiteto de software<br />

em uma companhia de tecnologia<br />

da capital mineira. Sem desistir do<br />

sonho de empreender, concomitantemente<br />

se dedicaram à criação de<br />

uma empresa de venda de produtos<br />

digitais. Basicamente pequenos manuais<br />

e livros em PDF produzidos<br />

por terceiros. Montaram uma plataforma<br />

e colocaram à venda um<br />

50 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: DIVULGAÇÃO


EÚDO DE BILHÃO<br />

e-book que Resende havia escrito para ajudar iniciantes<br />

a usarem o Google Ads. O faturamento do primeiro mês,<br />

em fevereiro de 2011, foi de R$ 180. Sim, cento e oitenta<br />

reais. E foi neste momento que os amigos tiveram de<br />

fazer uma escolha importante, que mudaria suas vidas:<br />

ou ficavam sem tempo, pois trabalhavam como CLT e<br />

nas horas vagas atuavam em seu próprio empreendimento,<br />

ou sem dinheiro, pois teriam de deixar a empresa<br />

em que trabalhavam. Optaram por permanecer sem<br />

dinheiro, mas com tempo.<br />

Pediram demissão para tocar a companhia que tinham<br />

acabado de abrir, a Hotmart. “Alguém publicou<br />

um conteúdo digital e outra pessoa comprou: era a<br />

prova de que precisávamos. Não éramos os únicos<br />

loucos que víamos que isso era viável”, disse à DINHEI-<br />

RO João Pedro Resende, CEO e cofundador. “Era só<br />

multiplicar essa receita para termos um grande negócio.”<br />

Não foi tão simples assim. Mas o fato é que multiplicaram<br />

por milhões. E agora ultrapassaram US$ 1 bilhão em<br />

GMV (Gross Merchandise Volume, ou Volume Bruto<br />

de Mercadorias), com 35 milhões de usuários na plataforma,<br />

580 mil produtos ativos (entre e-books, videoaulas,<br />

podcasts, audiobooks, entre outros conteúdos),<br />

vendas em 188 países e 1,5 mil colaboradores em suas<br />

operações por Brasil, Colômbia, Espanha, Estados Unidos,<br />

França, Holanda e México. “Hoje somos a maior<br />

empresa do mundo no que fazemos”, afirmou Resende.<br />

O CONTEÚDO DA HOTMART<br />

35 MILHÕES<br />

de usuários<br />

1,5 MIL COLABORADORES<br />

em 7 países (Brasil, Colômbia, Espanha,<br />

EUA, França, Holanda e México)<br />

580 MIL<br />

produtos cadastrados<br />

MARCOS Pelos números e o atual<br />

patamar alcançado pela Hotmart,<br />

a escolha feita 12 anos trás mostrou-<br />

-se certa. Depois dela, algumas consequências<br />

foram importantes na<br />

trajetória da companhia, situações<br />

que o executivo chama de “marcos”.<br />

O primeiro deles logo em seu ano<br />

inaugural. Em busca de investimentos,<br />

a Hotmart participou de um<br />

concurso de startups do serviço de<br />

comparação de compras Buscapé.<br />

Superaram 800 outras ideias, venceram<br />

a competição e receberam<br />

R$ 1 milhão da premiação. “Isso nos<br />

deu fôlego. O desafio era continuar<br />

o negócio e crescer”, disse Resende.<br />

Em seguida, foi investida por<br />

Kees Koolen, o fundador do<br />

Booking.com. Em 2015, a companhia<br />

lançou o meio de pagamento<br />

Hotpay, o primeiro constituído no<br />

Brasil que processava moedas de<br />

outros países. Isso possibilitou a<br />

expansão internacional, a partir de<br />

2017. Dois anos mais tarde entraram<br />

no negócio os fundos General Atlan-<br />

188 PAÍSES<br />

com vendas registradas<br />

US$ 1 BILHÃO<br />

em vendas gerais de<br />

conteúdo digital<br />

tic e GIC — os valores não foram<br />

divulgados. Capitalizada, a Hotmart<br />

fez um movimento fora do padrão<br />

em 2020: comprou a Teachable,<br />

plataforma americana de cursos<br />

on-line. “É raro uma empresa brasileira<br />

adquirir a líder do setor nos<br />

Estados Unidos”, afirmou o CEO da<br />

Hotmart. Entre outros aportes recebidos,<br />

em março de 2021 mais um<br />

marco que fortaleceu a edtech foi a<br />

captação de US$ 130 milhões em<br />

rodada série C liderada pelo TCV,<br />

famoso fundo americano que já<br />

colocou dinheiro em gigantes como<br />

Airbnb, Facebook e Netflix.<br />

Neste momento a empresa aprimora<br />

os mercados em que já atua e<br />

amplia sua atuação na América Latina,<br />

principalmente México e Colômbia.<br />

Enquanto isso, comemora<br />

bons resultados: crescimento de<br />

dois dígitos em 2022 comparado<br />

com 2021 — o percentual exato é<br />

tratado com sigilo — e começa 2023<br />

com “janeiro excelente”, nas palavras<br />

de Resende “É o melhor mês<br />

da história da empresa. O que não<br />

é óbvio, porque nossa Black Friday<br />

em novembro é muito forte.”<br />

A empresa mudou de tamanho.<br />

O valuation está acima de US$ 1 bilhão.<br />

Mas o modelo de negócio continua<br />

o mesmo de quando foi inaugurada,<br />

inclusive com o mesmo<br />

percentual de comissão. Criadores<br />

de conteúdo colocam seus produtos<br />

à venda na plataforma e a Hotmart<br />

fica com 9,99% da transação. Há 12<br />

anos a contabilidade fecha no azul,<br />

segundo o CEO. Escolha que tem<br />

dado resultado.<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

51


TECNOLOGIA<br />

EM DIREÇÃO A NOVOS PÚ<br />

Logitech expande<br />

linha de produtos no<br />

Brasil com foco no<br />

teletrabalho híbrido e<br />

novos públicos<br />

Victor MARQUES<br />

s computadores não são nada sem os acessórios,<br />

Oou periféricos. Isso se confirma com dados do<br />

mercado global de periféricos, que chegou ao<br />

valor de US$ 407,1 bilhões em 2021 e deve alcançar<br />

US$ 1,1 trilhão até 2028, segundo relatório<br />

da SkyQuest. Para acompanhar essa onda de<br />

crescimento, a Logitech prepara no Brasil um conjunto<br />

de lançamentos com o foco em expandir a atuação<br />

com públicos diferentes, como o feminino, e<br />

melhorar o home office para todos.<br />

A empresa baseada na Suíça,<br />

com faturamento global em 2022<br />

de US$ 5,4 bilhões, chegou ao Brasil<br />

em 2011 e desde então vem expandindo<br />

seu portfólio no País,<br />

tanto através do segmento gamer<br />

quanto no chamado público convencional,<br />

atuando com o consumidor<br />

final e também diretamente<br />

com empresas. “Nossa aposta<br />

52 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO


Nossa aposta<br />

para este ano<br />

é criar essa<br />

sintonia entre<br />

o mundo<br />

híbrido e o<br />

escritório<br />

JAIRO ROZENBLIT<br />

PRESIDENTE DA<br />

LOGITECH BRASIL<br />

BLICOS<br />

para este ano é criar essa sintonia<br />

entre o mundo híbrido e o escritório“,<br />

disse à DINHEIRO Jairo Rozenblit,<br />

presidente da Logitech<br />

Brasil. A empresa acaba de lançar<br />

nacionalmente uma linha focada<br />

nesse objetivo.<br />

O trabalho a distância é uma<br />

herança da pandemia e, assim como<br />

algumas empresas entenderam a<br />

necessidade de melhorar seus equipamentos e também<br />

os de seus colaboradores, o movimento deve se expandir<br />

junto ao aumento de instituições que adotam<br />

o modelo de trabalho totalmente a distância e o<br />

híbrido. Para atender a essa nova demanda, a<br />

companhia investiu em pesquisas com mais de<br />

3 mil trabalhadores remotos para entender as<br />

suas condições de trabalho. O resultado foi um<br />

mix de queixas que variavam de iluminação<br />

ruim com ângulos de câmeras desfavoráveis<br />

a som de baixa qualidade dos alto-falantes de<br />

seus laptops. A partir dessas informações, foram<br />

lançados produtos que visam atender essas dores:<br />

as webcams da Linha Brio, com os modelos 300 e<br />

500, teclados e mouses sem fio, como o combo MK470,<br />

e duas opções de headset, o Zone 100 e o H390 (fones<br />

de ouvido que possuem um microfone acoplado).<br />

A perícia da marca em fabricar produtos de qualidade<br />

e referência para o público gamer é também<br />

utilizada na nova linha para home office e escritórios,<br />

utilizando tecnologias como a conexão wireless 2,4<br />

Ghz, que não atribui latência ao uso do produto, diferentemente<br />

dos casos onde a conexão é realizada<br />

por bluetooth. Além disso, os dispositivos sem fio são<br />

os queridinhos do momento, sendo estimado que haja<br />

pelo menos 7 bilhões deles no mundo. “Queremos que<br />

as pessoas consigam ter o mesmo desempenho em<br />

casa e no escritório”, afirmou Rozenblit. Além dessa<br />

linha de periféricos, a empresa também anunciou um<br />

novo mouse ergonômico e o Scribe, que consiste em<br />

uma câmera para gravação de slides e lousas em aulas,<br />

palestras e reuniões a distância.<br />

AJUSTES Os lançamentos são uma resposta para<br />

enfrentar o novo momento de ajustes no mercado da<br />

tecnologia. A Logitech também teve seu período de<br />

demissões, em junho do ano passado, quando cortou<br />

13% do quadro, correspondendo a 450 funcionários<br />

globalmente e, no último trimestre de 2022, teve<br />

queda de 22% no faturamento global, alcançando US$<br />

1,27 bilhão em receita. Mesmo assim, o CEO se mantém<br />

otimista e diz que o cenário da empresa no Brasil<br />

está longe de se assemelhar com o quadro global<br />

apresentado — a empresa não divulga os resultados<br />

locais. Sobre a nova linha para o trabalho em casa, o<br />

executivo afirma que a perspectiva também é ótima<br />

e rendeu um aumento nas previsões da companhia<br />

devido a uma forte procura no mercado. “Tivemos<br />

aceitação muito boa, acima do que esperávamos das<br />

novas linhas”, afirmou.<br />

GAMER<br />

NA BASE<br />

As novas linhas da<br />

Logitech buscam<br />

trazer o padrão já<br />

encontrado<br />

nos produtos<br />

gamers, como<br />

qualidade de som,<br />

vídeo e ergonomia<br />

para o público do<br />

home office<br />

Além do novo grupo de produtos<br />

com foco no teletrabalho, a<br />

Logitech também está expandindo<br />

para outros públicos com a apresentação<br />

da linha Aurora, com foco<br />

principal nas consumidoras — mas<br />

também deve atingir o consumidor<br />

que aprecia um bom design de produto.<br />

“Tem uma grande parcela dos<br />

gamers que são mulheres e a gente<br />

precisa atender esse grupo.” Os<br />

mouses, teclados e headsets apresentados<br />

foram desenvolvidos<br />

junto a diversos designers do mundo<br />

da moda e entregam uma gama<br />

de cores e escolhas de formatos<br />

mais interessantes.<br />

Para o CEO, a perspectiva é de<br />

nacionalmente o ano ser de bons<br />

resultados, mesmo com o momento<br />

econômico conturbado, com<br />

recente troca de governo. Segundo<br />

Bracken Darrell, presidente-executivo<br />

da Logitech, a crise atual<br />

reflete a situação econômica global<br />

mais difícil, mas ele espera que os<br />

gastos dos consumidores aumentem<br />

novamente. “Isso é temporário<br />

e [o hábito de consumo] acabará<br />

voltando”, disse Darrel em<br />

janeiro, em uma entrevista à agência<br />

de notícias Reuters.<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

53


Cobiça<br />

POR CELSO MASSON<br />

CAP/AMAZON TRAZ PARA O BRASIL A ART DE<br />

VIVRE FRANCESA DA EVOK COLLECTION<br />

Criada em 2014, na França, pelos empreendedores do segmento<br />

de hotelaria de alto padrão Emmanuel Sauvage e Madeleine Sadin,<br />

a Evok Collection se define pela proposta de “mudar as regras do<br />

que um hotel de luxo pode ser e oferecer”, em uma interpretação<br />

contemporânea da cultura e do estilo de vida francês. O grupo é<br />

formado por três hotéis boutique em endereços badalados da capital<br />

francesa (Brach, no Marais; Nolinski, na Rive Droite; e Sinner, em<br />

Trocadero), além do hotel histórico Cour des Vosges, do restaurante<br />

estrelado pelo Guia Michelin Palais Royal, e de dois chalés exclusivos<br />

na charmosa estação de esqui de Courchevel, nos Alpes. Pois todas<br />

essas opções de hospedagem e alta gastronomia agora fazem parte<br />

do catálogo da agência brasileira Cap/Amazon. “O Brasil foi o primeiro<br />

mercado que a Evok buscou desenvolver e, após dois anos de<br />

pandemia, estamos muito satisfeitos por finalmente podermos<br />

reconstruir nosso relacionamento”, afirmou Madeleine Sadin, para<br />

quem a clientela brasileira do turismo de luxo é sofisticada, autêntica,<br />

simpática e seu tempo de permanência em cada destino supera a<br />

média. “Isso permite que nossas equipes entendam melhor suas<br />

expectativas, criem vínculos e ofereçam novas experiências”, disse.<br />

Informações: cap-amazon.com.<br />

HOTÉIS BOUTIQUE E CINCO ESTRELAS<br />

Na foto maior, o visual da Torre Eiffel a partir do lounge<br />

externo do Brach. No alto, fachada do histórico Cour des<br />

Vosges, suíte do Sinner e lobby do Nolinski: à espera dos<br />

turistas brasileiros “sofisticados e autênticos”<br />

RELÓGIO<br />

TAG HEUER E PORSCHE<br />

LANÇAM SEXTA COLABORAÇÃO<br />

Desde fevereiro de 2021, quando a relojoaria TAG Heuer e a<br />

montadora Porsche iniciaram uma parceria para criar<br />

modelos com as duas assinaturas, cinco relógios foram<br />

lançados. Passados dois anos, chega ao mercado a<br />

sexta colaboração das marcas: o novo TAG Heuer<br />

Carrera Chronograph x Porsche Orange Racing. “Com<br />

sua experiência e criatividade, nossas equipes criaram<br />

um relógio ousado e poderoso envolto em um design<br />

esportivo e elegante”, disse o CEO da TAG Heuer, Frédéric<br />

Arnault. O modelo será vendido nas boutiques TAG Heuer,<br />

no e-commerce da marca e em parceiros varejistas<br />

selecionados. O preço não foi divulgado.<br />

54 Dinheiro 15/02/2023<br />

FOTOS: GUILLAUME DELAUBIER I DIVULGAÇÃO


BEBIDA<br />

A CACHAÇA DE R$ 2,5 MILHÕES<br />

Adquirida em 2012 pelo casal Luiza e Antônio Carlos<br />

de Almeida Braga, a centenária Fazenda das<br />

Palmas, na região de Vassouras, no interior do Rio<br />

de Janeiro, abriga um alambique construído<br />

originalmente em 1855, com uma caldeira<br />

inglesa. Depois de restaurar a estrutura que<br />

estava em desuso havia décadas, a família<br />

passou a produzir na fazenda a cachaça<br />

Pindorama, nome que em tupi-guarani<br />

significa região das palmeiras ou terra<br />

livre do mal. Segundo os proprietários,<br />

os investimentos consumiram R$ 2,5<br />

milhões. A marca estreou em 2017,<br />

apenas no mercado português. Em<br />

2019, conquistou a medalha de prata<br />

no International Spirits Challenge, em<br />

Londres. A novidade deste ano é a<br />

Pindorama Ouro, com armazenamento<br />

em tonéis de Amburana que confere<br />

notas adocicadas, toques de<br />

especiarias, baunilha e mel. Mais<br />

informações: drinkpindorama.com.<br />

VIAGEM<br />

HURB EMBARCA EM CRUZEIROS<br />

Maior plataforma on-line de viagens do Brasil, o Hurb<br />

irá diversificar seu portfólio com a oferta de cruzeiros<br />

em operações com 13 opções nacionais ainda em<br />

2023, além de roteiros para a Argentina e para o Caribe.<br />

Diferentemente do modelo consagrado pela empresa,<br />

em que as datas das viagens costumam ser flexíveis (o<br />

que reduz o preço para o turista), no caso dos cruzeiros<br />

o check-in será definido no momento da compra. Para<br />

quem pretende viajar no período natalino deste ano há<br />

opção de navegar por nove dias do Rio de Janeiro a<br />

Buenos Aires pela MSC Cruzeiros. Da mesma<br />

companhia são os roteiros que percorrerão o litoral<br />

brasileiro no segundo semestre de 2023 e início de<br />

2024. Já as partidas de Miami para as Bahamas serão<br />

a bordo do navio Freedom, da Royal Caribbean.<br />

MOBILIÁRIO<br />

PASSAPORT PARA O HOME OFFICE<br />

Os designers da fabricante de móveis Herman Miller redefiniram<br />

o papel de uma mesa com ajuste de altura ao apresentar a<br />

compacta Passport. “O futuro do trabalho é um assunto importante<br />

no momento atual”, disse Ben Watson, presidente da Herman Miller.<br />

“Mas para nós, unir trabalho, vida e lazer sempre foi fundamental.”<br />

Ele descreveu a nova mesa da marca como grande o suficiente para<br />

o essencial e pequena para espaços apertados. Um destaque é o<br />

recurso de ajuste de altura livre, manual, que não requer fonte de<br />

acesso à energia. Disponível em vários acabamentos e cores, ela<br />

pode ser personalizada com painéis de privacidade e um gancho<br />

para bolsa. Informações: store.hermanmiller.com.br.<br />

BICICLETA<br />

LAMBORGHINI OFF-ROAD<br />

EM VERSÃO PARA PEDALAR<br />

Fabricante italiana de bicicletas de alta performance,<br />

a 3T é uma das pioneiras na produção de modelos gravel<br />

(cascalho, em inglês), destinados às trilhas mais severas.<br />

Ela se uniu à conterrânea Lamborghini para produzir a Exploro<br />

Racemax X Huracán Sterrato, inspirada no superesportivo<br />

off-road da montadora. Apresentada no final do ano passado<br />

na exposição Art Basel Miami Beach, na Flórida, a Racemax<br />

é vendida apenas por encomenda. No Brasil, a representante<br />

da 3T é a Labici, que anunciou o valor de R$ 137.137,50 e o<br />

prazo de 120 dias para a entrega do modelo. Detalhes e<br />

encomendas no site da flagship Spokes: spokes.com.br.<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

55


ESTILO<br />

CRESCIMENTO<br />

SOB MEDIDA<br />

FÍSICO E DIGITAL<br />

Romeo Bonadio (esq.) comanda<br />

a operação brasileira da grife<br />

alemã. Foco é na expansão<br />

física e consolidação do digital<br />

HUGO BOSS COLHE OS FRUTOS DO<br />

REPOSICIONAMENTO E FORTALECE<br />

PRESENÇA DIGITAL NO BRASIL COM A<br />

CRIAÇÃO DE UM E-COMMERCE PRÓPRIO<br />

Lara SANT'ANNA<br />

Rejuvenescer. Esse é o objetivo da veterana Hugo Boss.<br />

Com uma longa história associada à alfaiataria, a<br />

grife alemã tem se esforçado para mostrar que faz<br />

muito mais que ternos bem cortados. Há um ano,<br />

iniciou o reposicionamento de suas duas marcas —<br />

Hugo e Boss — com novos logos e embaixadores, forte<br />

presença nas redes sociais e investimento em marketing que<br />

deve alcançar 100 milhões de euros nos próximos dois anos.<br />

Esse movimento integra um plano estratégico que considera<br />

transformar a empresa em uma das 100 maiores marcas de<br />

vestuário do mundo, com faturamento de 4 bilhões de euros<br />

46 56 Dinheiro 01/02/2023<br />

15/02/2023 FOTOS: ALE VIRGILIO | DIVULGAÇÃO


até 2025. Em 2022, as vendas alcançaram<br />

3,6 bilhões de euros, 27% a mais que no<br />

ano anterior. Compondo todo esse movimento,<br />

está a operação brasileira. Ainda<br />

um mercado pequeno no total das vendas,<br />

o País tem se mostrado mercado promissor.<br />

Vem “comendo pelas beiradas”, segundo<br />

o diretor da Hugo Boss no Brasil,<br />

Romeo Bonadio.<br />

O mais recente movimento em direção<br />

ao crescimento em território nacional foi<br />

a implementação de um e-commerce próprio.<br />

Antes, as vendas on-line no País eram<br />

realizadas apenas por marketplaces parceiros,<br />

como Dafiti, Farfetch e Iguatemi<br />

365. O objetivo é que o digital represente<br />

15% das vendas nos próximos três anos,<br />

ainda abaixo do objetivo médio geral do<br />

grupo, que é de 30%. Para Bonadio, um<br />

dos desafios na implementação do e-<br />

-commerce é poder transpor a experiência<br />

de compra presencial para um site. No<br />

varejo de luxo, o contato com o cliente e<br />

o tratamento reservado a ele é um dos<br />

diferenciais. Sem isso, a operação on-line<br />

precisa se basear em outros atributos,<br />

como a velocidade de entrega, qualidade<br />

do suporte e até a embalagem.<br />

A loja virtual da Hugo Boss no Brasil<br />

foi desenvolvida com a Infracommerce,<br />

responsável pelos canais de venda, distribuição<br />

e envio dos produtos. “Temos o<br />

objetivo de tornar a Hugo Boss cada vez<br />

mais rentável em todo o Brasil”, disse a<br />

diretora de E-Commerce e Unidade de<br />

Luxo da Infracommerce, Camila Dullman.<br />

“Preservamos a experiência de alto padrão<br />

da loja física no e-commerce.”<br />

REPOSICIONAMENTO A entrada efetiva<br />

no comércio eletrônico integra a estratégia<br />

de reposicionamento, que concentra<br />

esforços de comunicação e venda<br />

nos dois grupos geracionais mais requisitados<br />

do varejo digital: a geração Z e os<br />

millennials. Pensando assim, a proposta<br />

das duas marcas ficou mais clara de um<br />

ano para cá. Para a Hugo, o foco é no estilo<br />

urbano e despojado, com preços mais<br />

acessíveis. Com isso, se aproxima dos mais<br />

jovens e ocupa espaço no feed do TikTok. Para a Boss, a preocupação<br />

é manter o apelo sofisticado que a caracteriza, acrescentando<br />

opções para o dia a dia. É o carro-chefe do grupo,<br />

representando 90% das vendas no Brasil, a expectativa é que o<br />

faturamento global da Boss chegue a 3 bilhões de euros até 2025,<br />

considerando as linhas masculina e feminina.<br />

Para Alberto Serrentino, especialista em varejo e fundador<br />

da Varese Retail, esse movimento é visto como uma questão de<br />

sobrevivência. “As marcas que sempre estiveram ligadas ao<br />

clássico vão perder relevância e terão muita dificuldade de<br />

crescer se não mudarem a arquitetura de produto e o jeito de<br />

interpretá-lo”, disse. Segundo ele, o reposicionamento funciona<br />

desde que siga uma regra básica: “Não perder a essência”.<br />

Os números mostram que as mudanças já vêm dando resultado.<br />

No Brasil, o sucesso pode ser comprovado pelo aumento<br />

na rede de lojas próprias. Em 2019, eram 16. No ano passado, o<br />

total de unidades saltou para 28. Outras sete estão previstas<br />

para este ano. Segundo a empresa, o consumidor se tornou fiel<br />

à marca por aqui. Isso porque, antes da pandemia, era muito<br />

comum as pessoas viajarem e consumirem Hugo Boss no exterior,<br />

onde os produtos são mais baratos. Com as restrições de<br />

circulação, os clientes que se abasteciam fora passaram a comprar<br />

no Brasil. De acordo com Bonadio, a experiência encontrada<br />

nas lojas gerou uma fidelidade que não se perdeu mesmo<br />

com a volta das viagens internacionais. A linha feminina, que<br />

no Brasil representa só 5% das vendas, é outra aposta para<br />

crescer — o que deve acompanhar o amadurecimento do comércio<br />

eletrônico e a possibilidade de chegar a mais praças com<br />

a abertura de novas lojas e a expansão da logística de entrega.<br />

Com essa modelagem, dificilmente o crescimento da Hugo Boss<br />

ficará aquém do que manda o figurino.<br />

EXPANSÃO<br />

Hugo Boss planeja<br />

a abertura de sete<br />

lojas físicas no Brasil<br />

Preservamos a<br />

experiência de alto<br />

padrão da loja<br />

física no<br />

e-commerce<br />

de luxo”<br />

CAMILA DULLMAN<br />

DIRETORA DE<br />

E-COMMERCE DA<br />

INFRACOMMERCE<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

57


DEBÊNTURES RECUAM 1,69% EM JANEIRO<br />

O IDA-Geral (Índice de Debêntures da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais-Anbima) registrou<br />

desvalorização de 1,69% ao longo de janeiro. Segundo a entidade, entre os subíndices, o IDA-IPCA que acompanha papéis de inflação<br />

sem benefício fiscal teve queda de 28,56%. “Os resultados estão relacionados ao evento de crédito da Americanas, que impactou o<br />

mercado de debêntures, principalmente entre os dias 12 e 18”, afirmou a entidade. Já o IMA-Geral (Índice de Mercado Anbima), que<br />

reflete a carteira de títulos públicos no mercado, subiu 0,70%. No segmento, o destaque ficou com o IMA-B5 com alta de 1,4%, que<br />

representa as NTN-Bs com até cinco anos de vencimento.<br />

RESGATES DE<br />

FUNDOS SOMAM<br />

R$ 24,6 BILHÕES<br />

Os fundos de investimentos tiveram R$ 24,6 bilhões em<br />

retiradas líquidas durante todo o mês de janeiro, informou a<br />

Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro<br />

e de Capitais (Anbima) na quarta-feria (8). Esse é o terceiro<br />

mês consecutivo de saída de recursos do segmento. Apenas<br />

as classes renda fixa, previdência e FIP tiveram captação<br />

positiva. “Em termos gerais, as principais movimentações<br />

sugerem um comportamento do investidor de maior aversão<br />

ao risco e de maior disposição em estratégias conservadoras,<br />

sobretudo diante da percepção de que os juros devem<br />

se manter no patamar atual por mais tempo”, afirmou a<br />

Anbima. A renda fixa captou R$ 11,4 bilhões. Os destaques<br />

foram para opções mais conservadoras, como renda fixa<br />

de duração baixa e risco soberano, e a renda fixa simples,<br />

que registraram captação positiva, respectivamente, de R$<br />

11,8 bilhões e R$ 9,7 bilhões. Os multimercados registraram<br />

R$ 17,6 bilhões em resgates, enquanto os fundos de ações<br />

tiveram R$ 9,2 bilhões em retiradas.<br />

30<br />

0<br />

-30<br />

-60<br />

-90<br />

-120<br />

-150<br />

CAPTAÇÕES E RETIRADAS<br />

Em bilhões de R$<br />

Ago/22 Set/22 Out/22 Nov/22 Dez/22 Jan/23<br />

Fonte: Anbima<br />

INDÚSTRIA<br />

CAI 0,7%<br />

EM 2022<br />

A produção industrial brasileira recuou 0,7% no acumulado de 2022, mostram dados divulgados<br />

pelo IBGE na sexta-feira (3). O número foi registrado após o indicador ficar nulo em dezembro,<br />

ter caído 0,1% em novembro e subido 0,3% em outubro. Com o resultado, a indústria brasileira<br />

encontra-se 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia de Covid-19 (fevereiro de 2020) e 18,5%<br />

abaixo do nível recorde da série, de maio de 2011. Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo,<br />

a indústria tem comportamento predominantemente negativo nos últimos anos. "O crescimento<br />

de 2021 (3,9%) tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta da<br />

pandemia e não houve recuperação.”<br />

Dinheiro 15/02/2023<br />

59


INVESTIDOR<br />

A CHAVE DA CASA<br />

VALE A PENA?<br />

Investimento em imóvel<br />

não perde brilho.<br />

Mas é preciso analisar<br />

muitas variáveis para<br />

saber se é o melhor<br />

para seu perfil<br />

Bruno ANDRADE<br />

Uma tradição do mercado imobiliário<br />

é atrair investidores mais<br />

conservadores e que normalmente<br />

optam pelo longo prazo.<br />

O cenário de juros altos, no entanto,<br />

pode ser também o de opções atraentes.<br />

Segundo o presidente da Associação<br />

Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias<br />

(Abrainc), Luiz França, o momento atual<br />

se mostra uma grande oportunidade para<br />

combinar ganhos reais no longo prazo e,<br />

ao mesmo tempo, um pouco de liquidez<br />

com a locação. “Entre 2009 e 2019 o inves-<br />

timento em imóveis rendeu, em média,<br />

15,3% ao ano, considerando valorização e<br />

ganhos com aluguel”, disse.<br />

Essa é a combinação que precisa entrar<br />

na conta. O coordenador do curso de Negócios<br />

Imobiliários da Fundação Getulio<br />

Vargas (FGV), Alberto Ajzental, reforça a<br />

diferença entre a remuneração média da<br />

locação comparada a títulos de renda fixa,<br />

visto que a Selic está em 13,75% ao ano. “O<br />

aluguel traz rendimento médio entre 3,6%<br />

a 6% ao ano, baixo quando comparado a<br />

outros investimentos”, disse. Em resumo,<br />

60 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO


BANCOS<br />

Taxa mínima da tabela SAC<br />

(taxa ao ano + TR)<br />

8,50%<br />

muito mais complicado para você encontrar compradores,<br />

principalmente no cenário macroeconômico atual”, disse. Isso<br />

significa que esse tipo de investimento não pode ser usado como<br />

reserva, algo que preencha a necessidade de uso urgente. Isso<br />

do lado do vendedor. Pelo lado do comprador, não ter todo o<br />

dinheiro para adquirir a propriedade pode custar muito. “Fazer<br />

um financiamento imobiliário para alugar não é algo recomendável”,<br />

afirmou Ajzental. “A conta corre o risco de não fechar,<br />

com o valor da prestação ficando acima do cobrado no aluguel.”<br />

Ou seja, caso a reserva para a compra seja muito aquém do preço<br />

do imóvel, pode ser preferível aplicar esse dinheiro e viver de<br />

aluguel comparado a arcar com parcelas do financiamento a<br />

taxas elevadas. Fazer as contas sempre será decisivo.<br />

9,89% 9,99% 9,99% 61<br />

Caixa<br />

Bradesco<br />

Itaú<br />

Santander<br />

se a intenção é fazer o dinheiro render<br />

apenas com o valor do aluguel, que é uma<br />

visão de curto prazo, o imóvel não é a melhor<br />

opção. Passa a valer a pena quando a<br />

valorização do imóvel entra na conta — o<br />

que embute oportunidade de valorização,<br />

mas igualmente muitos riscos, como uma<br />

região ser degradada rapidamente ou a<br />

área ser desapropriada.<br />

Outro motivo que pode fazer esse investimento<br />

não ser tão atrativo é a liquidez.<br />

De acordo com Ajzental, a venda de um<br />

imóvel pode demorar meses ou anos. “É<br />

FINANCIAMENTO Se comprar um imóvel financiado pode<br />

não ser vantajoso para quem busca rentabilidade com aluguel,<br />

essa opção tende a atrair quem procura adquirir o primeiro<br />

imóvel. É o que diz o diretor de Negócios Imobiliários do Santander,<br />

Sandro Gamba. “É melhor do que ficar pagando aluguel<br />

e juntar dinheiro para comprar algo à vista”, disse. “Pois o dinheiro<br />

do aluguel é algo perdido e a prestação do imóvel é uma<br />

construção de patrimônio.”<br />

O interessado na casa própria, no entanto, deve estar atento<br />

aos riscos e dificuldades enfrentadas pelo crédito imobiliário.<br />

Segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito<br />

Imobiliário e Poupança), o mercado deve vender 8% a<br />

menos em 2023 na comparação com 2022. De acordo com<br />

Ajzental, da FGV, a alta de juros é um dos fatores para essa diminuição.<br />

“O rendimento da poupança é responsável por 70%<br />

da composição das taxas de juros do crédito imobiliário”, afirmou.<br />

“Quando a Selic sobe, o rendimento da poupança também avança.”<br />

E isso eleva o preço do crédito imobiliário.<br />

Também merece atenção a inflação da construção, que é<br />

medida pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).<br />

“Ele até vem desacelerando, mas segue acima da inflação tradicional<br />

que é medida pelo IPCA, o que é um problema para o<br />

comprador pessoa física”, disse Ajzental. Ainda assim, os especialistas<br />

acreditam que o melhor é não adiar a compra, pois as<br />

expectativas devem se manter iguais por dois ou três anos.<br />

Para driblar tantas variáveis, Sandro Gamba, do Santander,<br />

acredita que o melhor é ter uma quantia razoável da parcela de<br />

entrada. “O banco financia até 80% do imóvel. Em uma casa de<br />

R$ 1 milhão é necessário ter ao menos R$ 200 mil para a entrada”,<br />

afirmou. Já Ajzental calcula um porcentual levemente acima, de<br />

30% do valor do imóvel, para manter uma reserva de emergência.<br />

“No caso do imóvel de R$ 1 milhão, ter R$ 300 mil em mãos, dar<br />

R$ 200 mil de entrada e os R$ 100 mil restantes guardar para<br />

situações como a de um período de desemprego.” Equações, dicas<br />

e regras para fazer o sonho da casa própria, ou do imóvel para<br />

investimento, não virar um insolúvel pesadelo.<br />

O aluguel de<br />

um imóvel traz<br />

rendimento médio<br />

entre 3,6% e 6%<br />

ao ano, o que é<br />

baixo comparado<br />

a outros<br />

investimentos”<br />

ALBERTO AJZENTAL<br />

COORDENADOR DO<br />

CURSO DE NEGÓCIOS<br />

IMOBILIÁRIOS DA FGV<br />

Dinheiro 15/02/2023


Dinheiroemação POR BRUNO ANDRADE<br />

PAPEIS AVULSOS<br />

BALANÇO DO ITAÚ AGRADA<br />

MERCADO APESAR DE<br />

IMPACTO DE AMERICANAS<br />

O Itaú Unibanco reportou lucro líquido<br />

gerencial de R$ 7,668 bilhões no<br />

quarto trimestre de 2022, alta de 7,1%<br />

na comparação com o mesmo período<br />

de 2021. O retorno recorrente gerencial<br />

sobre o patrimônio líquido (ROEA) foi<br />

de 19,3%, uma redução de 0,9 ponto<br />

percentual em relação ao quarto<br />

trimestre de 2021. A despesa com<br />

provisões para créditos duvidosos<br />

saltou 45,1% para R$ 9,9 bilhões. A<br />

instituição financeira afirmou que<br />

reconheceu no balanço os impactos<br />

do caso da Americanas. “Houve<br />

reforço na provisão para créditos de<br />

liquidação duvidosa para cobrir 100%<br />

da exposição, gerando um impacto de<br />

R$ 719 milhões no lucro”, afirmou a<br />

empresa. O lucro líquido ficou 7,5%<br />

abaixo do esperado, mas a cifra tende<br />

a ser aceita pelo mercado. Segundo<br />

analistas do UBS BB, excluindo o<br />

evento da Americanas, o ROEA teria<br />

sido de 21%. “A companhia também<br />

estima que os resultados podem<br />

crescer 16% em 2023”, afirmaram<br />

Thiago Batista e Olavo Arthuzo, que<br />

assinam o relatório. O UBS BB possui<br />

preço-alvo de R$ 35 para ITUB4, alta<br />

de 42,56% na comparação com o<br />

fechamento de terça-feira (7).<br />

INDICADORES ECONÔMICOS<br />

PIB CRESCIMENTO (FONTE: BANCO CENTRAL) 3° TRI/22 2° TRI/22 1° TRI/22 4° TRI/21 2021<br />

PIB (DESSAZ.)<br />

PIB EM US$ BILHÕES *<br />

ATIVIDADE **<br />

PRODUÇÃO INDUSTRIAL (IBGE)<br />

VOLUME DE VENDAS NO VAREJO RESTRITO (IBGE)<br />

TAXA DE DESEMPREGO -<br />

PNAD CONTÍNUA (IBGE)<br />

UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA<br />

(CNI) - DESSAZ.<br />

INADIMPLÊNCIA ***<br />

PESSOA FÍSICA ATÉ 90 DIAS<br />

PESSOA F. ACIMA DE 90 DIAS<br />

PESSOA JURÍDICA ATÉ 90 DIAS<br />

PESSOA J. ACIMA DE 90 DIAS<br />

0,4% 1,0% 1,3% 0,9% 5,0%<br />

1.837,3 1.783,7 1.698,9 1.648,8 1.648,8<br />

DEZ/22 NOV/22 OUT/22 SET/22 NO ANO<br />

0,0% -0,1% 0,3% -0,7% -0,7%<br />

- 1,5% 2,7% 3,2% 1,1%<br />

- 8,1% 8,3% 8,7% 9,7%<br />

- 80,4% 80,4% 80,4% 80,7%<br />

DEZ/22 NOV/22 OUT/22 SET/22<br />

MÉDIA<br />

EM 2022<br />

4,3% 4,5% 4,3% 4,3% 4,3%<br />

5,9% 5,8% 5,8% 5,7% 5,3%<br />

1,9% 1,9% 1,8% 1,7% 1,8%<br />

2,1% 2,1% 2,0% 1,9% 1,8%<br />

CONTAS PÚBLICAS (% PIB)* (A)<br />

RESULTADO NOMINAL<br />

RESULTADO PRIMÁRIO<br />

DÍVIDA BRUTA DO GOVERNO GERAL<br />

DÍVIDA BRUTA INTERNA<br />

DÍVIDA BRUTA EXTERNA<br />

CONTAS EXTERNAS (US$ MILHÕES)<br />

INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO<br />

EXPORTAÇÕES<br />

IMPORTAÇÕES<br />

SALDO COMERCIAL<br />

SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES<br />

RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS<br />

DÍVIDA EXTERNA TOTAL<br />

DEZ/22<br />

A JAN/22<br />

NOV/22<br />

A DEZ/21<br />

OUT/22<br />

A NOV/21<br />

SET/22<br />

A OUT/21<br />

AGO/22<br />

A SET/21<br />

4,68% 4,54% 4,12% 4,26% 4,10%<br />

-1,28% -1,41% -1,78% -1,88% -1,92%<br />

DEZ/22 NOV/22 OUT/22 2021 2020<br />

73,45% 74,57% 75,14% 78,29% 86,94%<br />

64,25% 65,32% 66,07% 67,41% 77,58%<br />

9,20% 9,25% 9,07% 10,88% 11,01%<br />

JAN/23 DEZ/22 NOV/22 OUT/22 NO ANO<br />

- 5.570 8.338 5.541 90.572<br />

23.137 26.645 28.164 26.938 23.137<br />

20.420 21.866 21.493 23.441 20.420<br />

2.716 4.779 6.672 3.497 2.716<br />

- -10.878 -60 -5.056 -55.668<br />

331.122 324.703 331.505 325.546 331.122<br />

- 318.548 318.682 318.304 318.548<br />

* Acumulado nos últimos 12 meses; ** Em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto utilização de capacidade instalada e taxa de desemprego; *** Em proporção do volume de crédito concedido. - Recursos Livres (a) Superávit = (-) e Déficit = (+), conforme notas econômicas do BACEN<br />

DESEMPENHO<br />

DAS EMPRESAS<br />

POR SETOR<br />

DE ATIVIDADE<br />

MELHOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES<br />

Seguros e Previdência 40,47 42,05<br />

Saneamento 0,19 34,54<br />

Serviço Financeiro -2,22 9,15<br />

Industrial 1,04 8,07<br />

Serviço de Locação 10,70 6,94<br />

PIOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES<br />

Alimentos -9,84 -25,31<br />

Têxtil 2,91 -28,21<br />

Açúcar e Álcool 0,82 -30,91<br />

Educação 0,23 -35,55<br />

Químico -4,41 -40,79<br />

Fonte: Austin Rating de 06/fev/2023<br />

62 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: DIVULGAÇÃO


PRINCIPAIS ÍNDICES<br />

JUROS FUTUROS<br />

06/02/2023<br />

SALDO DE VAGAS MENSAL (CAGED)<br />

INFLAÇÃO JAN/23 DEZ/22 NOV/22 NO ANO 12 MESES<br />

IPC - FIPE<br />

IGP-M (FGV)<br />

IGP-DI (FGV)<br />

IPCA (IBGE)<br />

IPCA - NÚCLEO MM SUAVIZADO<br />

JUROS/APLICAÇÃO<br />

CDI<br />

TLP<br />

POUPANÇA<br />

TJLP<br />

CDB/RDB - TAXA PREFIXADA MÉDIA<br />

REAIS/US$ (COMERCIAL VENDA)<br />

US$/EURO<br />

IENE/US$<br />

PETRÓLEO À VISTA BRENT (US$/BARRIL)<br />

MERCADOS FUTUROS 06/02/2023<br />

CÂMBIO (R$/US$)<br />

DI DE 1 DIA (% A.A.)<br />

IBOVESPA (PONTOS)<br />

CAFÉ ARÁBICA (60KG - ICF)<br />

0,63% 0,54% 0,47% 0,63% 7,20%<br />

0,21% 0,45% -0,56% 0,21% 3,79%<br />

0,06% 0,31% -0,18% 0,06% 3,01%<br />

- 0,62% 0,41% 5,79% 5,79%<br />

- 0,49% 0,38% 9,35% 9,35%<br />

JAN/23 DEZ/22 NOV/22 NO ANO 12 MESES<br />

1,07% 1,12% 1,02% 1,07% 12,81%<br />

0,48% 0,47% 0,46% 0,48% 5,58%<br />

0,71% 0,71% 0,65% 0,71% 8,06%<br />

0,59% 0,58% 0,58% 0,59% 6,88%<br />

1,03% 0,95% 0,97% 1,03% 12,11%<br />

CÂMBIO/PETRÓLEO 06/02/2023 NO MÊS NO ANO 12 MESES<br />

5,176 1,51% -0,79% -2,17%<br />

1,073 -1,19% 0,55% -6,21%<br />

132,86 2,17% 0,76% 15,45%<br />

80,99 -4,14% -5,73% -12,62%<br />

MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />

5,203 5,260 5,324 5,389<br />

MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />

13,65 13,70 13,77 13,79<br />

FEV/23 ABR/23 JUN/23 AGO/23<br />

109.046 110.870 113.000 115.353<br />

MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />

234,00 217,70 216,85 215,05<br />

13,80<br />

13,73<br />

13,66<br />

13,60<br />

RISCO-PAÍS<br />

390.0<br />

340.0<br />

290.0<br />

240.0<br />

% ao ano<br />

Mar/23 Mai/23 Jul/23<br />

EMBI + BR (fim de mês)<br />

Set/23<br />

fev/22<br />

mar/22<br />

abr/22<br />

mai/22<br />

jun/22<br />

jul/22<br />

ago/22<br />

set/22<br />

out/22<br />

nov/22<br />

dez/22<br />

jan/23<br />

02/fev/23<br />

(em postos de trabalho)<br />

-100,0<br />

-300,0<br />

-500,0<br />

Dez/20 Dez/21 Dez/22<br />

PRODUÇÃO INDUSTRIAL ANUAL (IBGE)<br />

(em %)<br />

5,00<br />

0,00<br />

-5,00<br />

2020 2021 2022<br />

AS 10 MAIS NEGOCIADAS DO IBO VES PA<br />

RENTABILIDADE DOS TÍTULOS PÚBLICOS (%)<br />

*06/fev/23 (inclui JS = Juros Semestrais)<br />

Ação Co ta ção (R$) *% mês % ano % 12 M % Índice<br />

Vale ON 88,42 -6,4 -0,5 7,5 15,754<br />

Itaú Unibanco PN 24,55 -3,0 -1,7 0,9 6,187<br />

Petrobras PN 25,62 -1,7 4,6 36,2 6,140<br />

Petrobras ON 28,70 -2,6 2,4 31,8 5,249<br />

B3 ON 11,89 -8,3 -9,6 -9,9 3,683<br />

Bradesco PN 13,50 -3,6 -7,1 -30,8 3,654<br />

Eletrobras ON 36,87 -9,3 -12,5 12,3 3,621<br />

AmBev ON 12,96 -5,1 -10,7 -4,5 2,984<br />

Brasil ON 38,88 -4,5 11,9 36,8 2,899<br />

Weg ON 37,67 -1,5 -2,2 23,7 2,607<br />

Fonte: Economática *07/02/2023<br />

BOLSAS NO MUNDO<br />

06/02/2023 COTAÇÃO (MOEDA LOCAL) VARIAÇÃO (US$)<br />

Mercado Índice Pontos % mês % ano % 12 m. % mês % ano<br />

Brasil Ibovespa 108.722 -4,15% -0,92% -2,92% -2,70% -1,71%<br />

Brasil IBrX 100 46.115 -4,29% -0,93% -3,89% -2,84% -1,71%<br />

EUA Dow Jones 33.890 -0,58% 2,24% -3,42% -0,58% 2,24%<br />

EUA Nasdaq 11.887 2,61% 13,58% -15,18% 2,61% 13,58%<br />

Japão Nikkei 225 27.694 1,34% 6,13% 1,63% 3,54% 6,93%<br />

China Shanghai 3.239 -0,52% 4,84% -5,57% 0,10% 3,30%<br />

Alemanha DAX 30 15.346 1,44% 10,22% 0,92% 0,23% 10,82%<br />

França CAC 40 7.137 0,77% 10,25% 1,82% -0,42% 10,86%<br />

Reino Unido FTSE 100 7.837 0,84% 5,17% 3,48% -1,56% 5,02%<br />

Fonte: Austin Rating<br />

TÍTULO VENC. INDEXADOR Últim. 30 dias ano * 12 MESES<br />

Tesouro Selic 23 01/03/2023 Selic 1,12% 1,43% 12,91%<br />

Tesouro Prefixado (JS) 25 01/01/2025 Prefixado 0,85% 0,77% 7,41%<br />

Tesouro IPCA+ (JS) 24 15/08/2024 IPCA 1,37% 1,51% 9,54%<br />

Tesouro IGPM+ (JS) 31 01/01/2031 IGP-M 0,04% -0,40% 4,04%<br />

Tesouro Prefixado 24 01/07/2024 Prefixado 0,83% 0,83% 7,90%<br />

MAIORES ALTAS DA SEMANA*<br />

Ação Setor %<br />

MATER DEI Saúde 13,55<br />

TEX RENAUX Têxtil 10,63<br />

DESKTOP Telecom 10,47<br />

AMAZONIA Financeiro 10,13<br />

SANSUY Industrial 9,21<br />

MAIORES BAIXAS DA SEMANA*<br />

Ação Setor %<br />

LE LIS BLANC Varejo -17,50<br />

SEQUOIA LOG Serviços -20,59<br />

EMAE Energia Elétrica -26,50<br />

LIGHT S/A Energia Elétrica -26,89<br />

OI Telecom -38,11<br />

Fonte: Austin Rating *06/02 a 30/jan<br />

TERMÔMETRO DO MERCADO<br />

O IBOVESPA EM UM ANO *<br />

PONTOS<br />

Ibovespa 107.830<br />

Mínima 95.267<br />

Máxima 121.628<br />

IBOVESPA<br />

135.0<br />

115.0<br />

95.0<br />

Fev 21<br />

*Até 07/02/2023<br />

Fonte: Economatica *07/02/2023<br />

em milhares de pontos<br />

Ago 22<br />

Fev 23*<br />

Dinheiro 15/02/2023 63


Dinheiroemfoco POR BRUNO ANDRADE<br />

GUILHERME BENCHIMOL<br />

fundador da XP, em evento<br />

Smart Summit, no Rio<br />

O SONHO DE TODO<br />

EMPREENDEDOR É<br />

ABRIR CAPITAL NA<br />

BOLSA, E DEPOIS DE<br />

ABERTO, FECHAR<br />

+ 5,19%<br />

Foi a alta das ações da São Martinho<br />

na semana entre a quarta-feira (1) e a<br />

terça-feira (7), enquanto o Ibovespa<br />

caiu 4,93%. Para o sócio da A7 Capital<br />

André Fernandes, o avanço aconteceu<br />

em meio às expectativas do resultado<br />

da companhia, que serão divulgados na<br />

segunda-feira (13). “A alta do preço do<br />

açúcar, que chegou ao maior patamar<br />

em cinco anos, empolgou o mercado."<br />

US$<br />

R$<br />

76,05 bilhões foi a receita registrada<br />

pelo Google no quarto trimestre<br />

de 2022, alta de 1% na comparação<br />

com o mesmo período de 2021.<br />

O lucro líquido da empresa ficou<br />

em US$ 13,6 bilhões, queda de 34%.<br />

No ano até terça-feira (7), as ações<br />

do Google subiram 22,95%.<br />

12,9 bilhões foi o lucro líquido do<br />

Santander Brasil no acumulado de 2022.<br />

O número representa queda de 21,1%<br />

na comparação com o mesmo período<br />

de 2021. O resultado operacional ficou<br />

em R$ 14,8 bilhões, queda de 40,6%.<br />

O Retorno sobre o Patrimônio Líquido<br />

(ROE) ficou em 16,3% em 2022.<br />

-16,08%<br />

Foi a queda das ações da BRF na primeira<br />

semana de fevereiro. Segundo o fundador<br />

da Gava Investimentos, Ricardo Brasil, a<br />

baixa se deu após o resultado da Tyson<br />

Foods mostrar margens apertadas por<br />

causa de um menor consumo de carne.<br />

“Outro ponto é que Itaú BBA e Santander<br />

divulgaram relatórios afirmando que as<br />

margens da BRF ficariam mais apertadas<br />

por pressão de preços”, afirmou.<br />

CRIPTOS<br />

A plataforma de investimentos Hurst Capital lançou na terça-feira (7) a tokenização das<br />

telas do pintor Alfredo Volpi. Para o CEO da Hurst, Arthur Farache, essa é uma modalidade<br />

de investimento um pouco mais conservadora que as disponíveis no mercado cripto. “ O<br />

investimento busca uma rentabilidade anual entre 14% e 24% em um prazo de 12 a 24 meses.<br />

No cenário base, o retorno previsto é de 23,51% ao ano”, disse. O aporte mínimo é de R$ 10 mil.<br />

Segundo o executivo, a escolha se deu após serem analisadas 120 transações de obras de arte de<br />

Volpi nos últimos 16 anos, em leilões do mercado de arte nacional e internacional. Ao realizar<br />

o aporte, os investidores passam a ser coproprietários de fração adquirida da obra de arte.<br />

64 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO


Dinheiroemfundos POR FAGUNDES SCHANDERT<br />

PALAVRA DO GESTOR<br />

A QR Asset possui quantos ETFs<br />

de criptoativos listados na Bolsa?<br />

Nós temos três ETFs registrados,<br />

o primeiro deles, o QBTC11, foi<br />

pioneiro em bitcoins na América<br />

Latina em meados de 2021, e o<br />

segundo do mundo, depois de um<br />

ETF do Canadá. Ele é 100%<br />

bitcoins, de compra direta do ativo,<br />

numa grande vantagem da<br />

legislação brasileira, em relação aos<br />

EUA. Logo depois, lançamos o ETF<br />

de etherium, o QTEH11, um grande<br />

sucesso no mercado local. Juntos,<br />

eles representam quase 90% de<br />

market cap (valor de mercado).<br />

E o nosso terceiro ETF é o QDFI11,<br />

o primeiro de finanças<br />

descentralizadas do mundo,<br />

em parceria com a Bloomberg,<br />

que faz a curadoria do índice.<br />

Logo depois dos lançamentos,<br />

houve atração de investidores,<br />

mas depois veio a baixa dos<br />

criptos. Como foi lidar com<br />

o público nessa queda?<br />

Tivemos cuidado com o suitability,<br />

com o perfil do nosso público. São<br />

ALEXANDRE LUDOLF, CIO DA QR ASSET MANAGEMENT<br />

QUEM É E O QUE FAZ<br />

Atua no mercado de fundos há 18 anos<br />

Já passou por Santander, Safra e Mirae<br />

Asset<br />

É diretor de investimentos da QR Asset<br />

Management<br />

Engenheiro pela PUC-RJ e mestre em<br />

economia pela FGV-SP<br />

produtos racionais em matéria de<br />

custos operacionais e segurança na<br />

Bolsa em relação às exchanges. Mas<br />

infelizmente muita gente entrou na<br />

alta, no final da festa, quando o Fed,<br />

o Banco Central dos EUA, começou a<br />

aumentar os juros e pegamos um<br />

ciclo negativo. O ETF de bitcoins caiu<br />

mais de 60% no ano passado, queda<br />

expressiva. Mas outros investimentos<br />

de tecnologia também caíram como<br />

Amazon, Netflix, Tesla.<br />

A QR perdeu clientes nessa baixa<br />

dos criptoativos?<br />

Não. Houve uma queda do valor dos<br />

ativos, mas nós ganhamos mais<br />

cotistas. Por incrível que pareça, as<br />

pessoas viram o momento como<br />

uma oportunidade de compra.<br />

Com a nova alta dos juros nos EUA,<br />

as quedas de criptos vão continuar?<br />

Está se aproximando do fim do ciclo<br />

de alta, de um juro da ordem de 5%<br />

ao ano. Quando começar a cair, vai<br />

ser um momento de mudança com<br />

preço positivo para criptos.<br />

NOTAS<br />

SUNO LISTA FUNDO<br />

DE INFRA NA B3<br />

A Suno Asset listou na B3 no dia<br />

7 seu primeiro fundo de debêntures<br />

incentivadas de infraestrutura, o Suno<br />

Infra SNID11, com R$ 15 milhões em<br />

patrimônio e preço inicial de R$ 100<br />

por cota. “É um fundo de crédito<br />

privado com 12 debêntures<br />

incentivadas. É mais um produto da<br />

casa e não devemos parar por aí”,<br />

afirmou o fundador do Grupo Suno,<br />

Tiago Reis. Entre fundos abertos ao<br />

público, a Suno Asset registra quatro<br />

fundos imobiliários, dois de ações,<br />

um Fiagro (fundo do agronegócio)<br />

e um de previdência.<br />

LEVANTE BUSCA<br />

TAMANHO PARA IPO<br />

O grupo Levante Investimento, que<br />

reúne empresas de análise e de gestão<br />

de recursos, busca ganhar tamanho<br />

para abrir capital na Bolsa, indicou o<br />

fundador e estrategista-chefe, Rafael<br />

Bevilacqua. “Tivemos um crescimento<br />

forte em 2022, acima de 50%, na<br />

contramão do mercado. Em breve,<br />

teremos novidades, estamos<br />

consolidando uma aquisição (OHM) e<br />

mais empresas devem se juntar a nós”,<br />

afirmou Bevilacqua. “Um dos nossos<br />

objetivos é estar presente na Bolsa,<br />

nascemos para o mercado de pessoas<br />

físicas”, disse Bevilacqua.<br />

TEVA ESTUDA ETF<br />

COM DIVIDENDOS<br />

Após os ETFs que pagam proventos<br />

serem permitidos para listagem e<br />

negociação na B3 desde o último dia<br />

30, a Teva está em conversas com<br />

participantes do mercado para um<br />

futuro índice no segmento. O futuro<br />

produto da Bolsa terá possibilidade de<br />

pagamentos de dividendos mensais.<br />

“A gente pretende ter um índice para<br />

ETF de dividendos. Nós estamos<br />

conversando e trabalhando com<br />

alguns clientes (gestoras), mas ainda<br />

não há nada oficial”, afirmou João<br />

Fernandes, o sócio e fundador da<br />

Teva Índices.<br />

Dinheiro 15/02/2023 65


ARTIGO<br />

POR EDSON ROSSI*<br />

LULA SE COMPORTA<br />

COMO QUEM IGNORA OS FATOS<br />

Presidente acredita viver naquele país de 2003 na qual era amado. Esqueça!<br />

L<br />

ula é um político brilhante. Numa Nação tão brutalmente<br />

desigual e de elites medonhas, ele conseguiu sair da miséria<br />

para a Presidência. Três vezes. No voto. Sem utilizar o<br />

modelo ‘papai-quis’ indefectível das dinastias político-judiciárias<br />

brasileiras. Sofreu ainda um afastamento tendencioso e ilegal por<br />

meio de 580 dias de prisão, período que o tirou da disputa presidencial<br />

de 2018 e levou Jair Bolsonaro a uma cadeira que nunca<br />

soube ocupar, por falta de modos e civilidade. Sobre a prisão de<br />

Lula, aliás, vale uma explicação aos analfabetos factuais: em 2021,<br />

o petista teve as condenações na Lava-Jato anuladas. É como gol<br />

anulado: não vale para a artilharia, não vale para o placar do jogo,<br />

não vale para pontuar no campeonato. Puft! Deixa de existir. E<br />

se uma condenação deixa de existir ela transforma o condenado<br />

em não condenado. Como diz a Constituição: “Art. 5º/LVII - Ninguém<br />

será considerado culpado até o trânsito em julgado de<br />

sentença”. Agora, de forma legendada: inocente até existir condenação<br />

(que não existe até aqui). Por tudo isso o presidente tem<br />

o dever, com ele mesmo, de cuidar bem melhor de um ativo tão<br />

valioso quanto essa biografia rara.<br />

Não é o que ele tem feito.<br />

Em especial quando se mete na economia, na qual mostra<br />

ignorância — deliberada ou orgânica. Talvez valesse a pena ao<br />

senhor presidente lembrar de sua própria história. E que ao assumir<br />

o cargo pela primeira vez, em janeiro de 2003, herdou um<br />

país em ordem institucionalmente com Estado devidamente<br />

minimizado. Se Fernando Henrique Cardoso cometeu uma grande<br />

estupidez (e cometeu) foi fazer nascer um dejeto chamado<br />

reeleição. Mesmo assim, te entregou um lugar de inflação arredia,<br />

mas hiperinflação domada. O senhor soube não estragar o presente.<br />

E colocou, para desespero de muitos petistas, o tucano<br />

recém-eleito deputado federal por Goiás Henrique Meirelles à<br />

frente do BC. Golaço. Na primeira reunião do Copom sob seu<br />

governo, com 20 dias de mandato, o que o fizeram com a Selic?<br />

Aumentaram. De 25% para 25,5%. E um mês depois? Aumentaram<br />

de novo, para 26,5%. Anda esquecido ou é só má-fé no discurso,<br />

senhor presidente Lula? Durante seu primeiro mandato inteiro<br />

a Selic só ficou perto da atual bem no finalzinho, após quase quatro<br />

anos, em outubro de 2006, quando a taxa foi para... 13,75%. A<br />

mesmíssima Selic de hoje (Deus é mesmo ironia pura!).<br />

Esse patamar elevado levou ao recuo da inflação e, uia!, à<br />

queda de juros. Fez aparecer o crescimento em seus governos e<br />

derrubou a desocupação. Pois é, Lula. Domar a inflação é basilar.<br />

Porque ela é o mais feroz imposto sobre os pobres. Em seu segundo<br />

governo, o índice macabro dos juros oscilou entre 8,75% e<br />

13,75%. Não era pouco. Mas decisivo em matéria de IPCA, que<br />

caiu ano a ano: de 9,30% (2003) a 3,14% (2006). No segundo mandato,<br />

manteve-se comportado e não passou de 5,91% (2010). Quem<br />

operou o desastre foi sua sucessora-poste Dilma Rousseff: começou<br />

com 6,50% (2011), finalizou com a tragédia de 10,67% (2015),<br />

quebrando a barreira de dois dígitos, o que não acontecia desde<br />

2002. No impeachment, em agosto de 2016, o índice em 12 meses<br />

acumulava quase 9% — filho da recessão criada a partir de 2014.<br />

Muitos do que comandavam essa jornada rumo ao fundo estão<br />

aí, nos seus ministérios. Em especial na Fazenda. Pode-se contar<br />

a história como quiser, presidente. Mas ser jornalista me ensinou<br />

algo: As-Coisas-São-O-Que-São. A turma que te aplaude vai dizer<br />

que a culpa não foi de Dilma, mas do cenário internacional. Se for<br />

verdade, é bom que o senhor diga, em nome da coerência narrativa<br />

e da lógica interna que deve mover os discursos, que em seu<br />

governo foi fruto, então, de um mundo que vivia o auge do preço<br />

das commodities. Ou foi o planeta que conspirou para seu governo<br />

ser positivo e o dela negativo, ou o mesmo planeta ficou na dele<br />

e o senhor mandou bem e ela mandou mal.<br />

Por isso tudo, qualquer um que olhe atentamente sabe que o<br />

senhor não briga com Roberto Campos Neto. Briga com os fatos.<br />

Ou é burrice (e duvido), ou é cortina de fumaça — para desviar o<br />

foco dos verdadeiros inimigos, dos ministros já encrencados, ou<br />

desculpa para um ano duríssimo. Fórmula errada, com 20 anos<br />

de atraso. Faz zero sentido se tornar o melhor amigo de Arthur<br />

Lira e brigar com Campos Neto. Cuidado, presidente. Se imaginar<br />

esperto para sempre é prólogo de queda. O senhor já foi enganado<br />

pelo bonzinho Obama, que te chamava de ‘O Cara’ enquanto te<br />

traía boicotando o acordo nuclear costurado com a Turquia para<br />

o Irã. Hoje, esse traidor está mais perto, não está na economia e<br />

carrega junto metade de um país que te odeia.<br />

*Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.<br />

66<br />

Dinheiro 15/02/2023

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