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ENTREVISTA<br />
Jarbas de Biagi, da Abrapp:<br />
“Precisamos atrair recursos<br />
para a previdência privada”<br />
O QUE ESPERAR DO BNDES<br />
Novo presidente do banco, Aloizio Mercadante<br />
diz que não irá cometer os erros do passado e<br />
planeja democratizar o acesso ao crédito<br />
ALTO PADRÃO<br />
Sob gestão de Sheyla Resende,<br />
Gafisa avança em projetos de<br />
luxo no eixo Rio-São Paulo<br />
ANDRÉ MICELI<br />
CEO e editor-chefe da MIT<br />
Technology Review Brasil<br />
BERTRAND CHAVEROT<br />
CEO da Ubisoft Brasil<br />
CLAUDIA MUCHALUAT<br />
Presidente da Intel Brasil<br />
CLEBER MORAIS<br />
Diretor-geral da Amazon<br />
Web Services no Brasil<br />
DIEGO TORRES MARTINS<br />
CEO e fundador da<br />
Unico IDTech<br />
GUSTAVO MOUSSALLI<br />
VP Latam da Oracle<br />
NetSuite<br />
JESSICA KATO<br />
Executiva para Dynamics<br />
365 e Power Platform<br />
na Microsoft Brasil<br />
JUNIOR MIRANDA<br />
CEO da GreenV<br />
RICARDO MUCCI<br />
Presidente da<br />
Cisco do Brasil<br />
RODRIGO GIMENES<br />
CTO da ReportFlex e<br />
criador da Robotizia<br />
TUSHAR PARIKH<br />
Country head da<br />
TCS no Brasil<br />
WAGNER ARNAUT<br />
CTO de Cloud e Cognitive<br />
Software da IBM Brasil<br />
TECNOLOGIA:<br />
AS TEND NCIAS<br />
PARA 2023<br />
SEGUNDO<br />
12 CEOS<br />
As visões de quem<br />
desenvolve o<br />
futuro nas áreas<br />
de inteligência<br />
artificial, computação<br />
quântica, arquitetura<br />
de nuvem, supply<br />
chain, superapps,<br />
cibersegurança,<br />
semicondutores e<br />
metaverso. Entenda<br />
como cada uma delas<br />
impacta nos negócios<br />
e na sociedade
Faça do seu dia a dia <br />
um eterno fim de semana.<br />
bassi.marfrig<br />
marfrig.com.br
Dinheirodaredação 15 de Fevereiro de 2023. Edição 1.311<br />
A REFORMA QUE VEM AÍ<br />
Todos aguardam com muita expectativa o projeto de reforma<br />
tributária que o governo Lula promete lançar com a<br />
maior brevidade — o ministro Haddad fala em um primeiro<br />
esboço de arcabouço fiscal já para abril próximo. Ele e<br />
sua equipe procuram elaborar medidas centradas, em um<br />
primeiro momento, no controle de gastos, como forma de<br />
demonstrar a boa vontade do Executivo em colaborar no<br />
esforço geral da Nação para arrumar as contas públicas. O<br />
foco no reequilíbrio decerto não deve ser o do aumento da<br />
arrecadação. Ao contrário, a expectativa do mercado é de<br />
uma redução na carga, considerada demasiadamente elevada.<br />
Antes de agosto, o ministro precisa mesmo, obedecendo<br />
à PEC da Transição, mostrar o que o governo pretende fazer<br />
para a rearrumação do rombo. As ideias passam também por<br />
uma tentativa de substituição da Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal (LRF), em funcionamento há mais de duas décadas.<br />
Não apenas Lula, como os demais adversários na corrida<br />
às urnas (Bolsonaro entre eles) falaram sempre que a regra<br />
do teto dos gastos tinha ficado obsoleta, fora da realidade.<br />
Daí é crível imaginar que ela também não deve vingar daqui<br />
para frente. De todo modo, algum tipo de trava legal será<br />
necessária para impedir os impulsos de dispêndio sem freio<br />
dos seguidos mandatários. Mesmo o ministro Haddad está<br />
convencido disso. O presidente Lula, em pessoa, quer acenar<br />
com vantagens aos seus apoiadores habituais. Passou a falar<br />
em uma isenção do Imposto de Renda para quem ganha até<br />
R$ 2.640 – promessa, aliás, feita durante a campanha. Hoje<br />
a isenção vai até o limite de R$ 1.903,98 de salário mensal.<br />
Para reajustar a faixa de isenção os técnicos se dividem<br />
entre duas alternativas. A primeira seria a de atualizar toda a<br />
tabela a partir da faixa de isenção, o que mexeria com toda a<br />
cadeia de trabalhadores. A segunda possibilidade seria beneficiar<br />
apenas quem recebe até dois salários mínimos, com os<br />
demais contribuintes seguindo como está. Um levantamento<br />
da Receita Federal mostra que a permanente distorção<br />
na tabela do IR já retirou mais de R$ 100 bilhões da renda<br />
dos brasileiros apenas nos últimos 12 meses. Outro estudo<br />
recém-concluído, da Associação Nacional dos Auditores da<br />
Receita, aponta que ao menos 18 milhões de brasileiros se<br />
beneficiariam da isenção na cobrança do IR neste ano, caso<br />
a tabela fosse corrigida integralmente pela inflação desde<br />
1996. Isso equivaleria a isentar todos aqueles com valores de<br />
renda até R$ 4.723,77. De uma forma ou de outra, a reforma<br />
tributária que brotará dessas discussões deverá reduzir os<br />
impostos sobre o consumo dos mais pobres e elevar o dos<br />
mais ricos. O recém-eleito presidente da Câmara, Arthur<br />
Lira, quer garantir o avanço da proposta que encontra-se<br />
em análise na casa. Prometeu criar grupos específicos nas<br />
próximas semanas para discutir o assunto com celeridade. A<br />
opção de um imposto como o IVA sobre o consumo é a que<br />
tem angariado mais interesse. O BNDES promete entrar no<br />
meio dos debates e, segundo Aloizio Mercadante, já elabora<br />
a sua própria proposta para contribuir no tal arcabouço fiscal.<br />
Existe muita gente envolvida nas negociações e, naturalmente,<br />
muito lobby e pressão dos setores mais poderosos<br />
interessados. O temor é que dessa pajelança saia um bicho<br />
de sete cabeças, transformando a sonhada reforma em um<br />
Frankenstein tributário.<br />
Carlos José Marques<br />
Diretor editorial<br />
04 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: PHILIPPE LOPEZ | LUIS GUSTAVO BENEDITO | ALEXANDRE BRUM/AGENCIA ENQUADRAR/AGENCIA O GLOBO I | CLAUDIO GATTI
Índice<br />
CAPA<br />
TECNOLOGIA<br />
Da inteligência artificial ao<br />
metaverso, as tendências<br />
para 2023 na visão de 12<br />
CEOs de empresas que estão<br />
definindo o futuro. Quais<br />
impactos das inovações para<br />
os negócios e à sociedade?<br />
pág. 28<br />
ENTREVISTA<br />
Para o presidente<br />
da Abrapp,<br />
Jarbas de Biagi, é<br />
preciso atrair novos<br />
participantes e<br />
recursos para que a<br />
previdência privada<br />
seja saudável<br />
pág. 12<br />
ECONOMIA<br />
Na presidência do<br />
BNDES, Aloizio<br />
Mercadante afirma<br />
que o banco não<br />
cometerá erros<br />
do passado e que<br />
o crédito será<br />
mais democrático<br />
pág. 18<br />
NEGÓCIOS<br />
Primeira mulher<br />
a ocupar o cargo<br />
de CEO na Gafisa,<br />
Sheyla Resende<br />
reforça estratégia<br />
de edifícios de alto<br />
padrão em São<br />
Paulo e no Rio<br />
pág. 34<br />
SEMANA<br />
Déficit comercial de US$ 1 trilhão é o maior<br />
dos EUA desde os anos 60<br />
pág. 06<br />
MOEDA FORTE<br />
Com investimento de R$ 1,1 bilhão, clube terá<br />
praia com ondas em São Paulo<br />
pág. 10<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Rússia tem maior cobertura florestal do<br />
planteta, com 815 milhões de hectares<br />
pág. 16<br />
DINHEIRO EM BITS<br />
China lidera investimento global em P&D<br />
com US$ 456 bilhões em 2022<br />
pág. 48<br />
COBIÇA<br />
Bicicleta inspirada em Lamborghini off-road<br />
pode ser encomendada por R$ 173 mil<br />
pág. 54<br />
ARTIGO<br />
Lula precisa olhar para os números antes<br />
de falar sobre economia<br />
pág. 66<br />
CAPA Foto: Istock<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
05
Dinheironasemana<br />
POR EDSON ROSSI<br />
NA PAUTA<br />
TRIBUTÁRIA: A MÃE DE<br />
TODAS AS REFORMAS<br />
Bernard Appy está longe de ser o fracassado<br />
Posto Ipiranga do governo anterior, mas o<br />
secretário extraordinário da Reforma<br />
Tributária tem em mãos a maior arma<br />
econômica deste governo — acima mesmo do<br />
discutível e questionável Pacote Haddad<br />
anunciado em janeiro. Na quarta-feira (8), Appy<br />
afirmou que a Reforma Tributária não será “um<br />
jogo de soma zero”, em que alguns setores<br />
ganham (recolhendo menos) e outros perdem<br />
(aumentando a carga tributária). Ele afirmou<br />
em um evento do RenovaBR que “a reforma é<br />
um jogo em que no agregado todos ganham”.<br />
Duro vai ser convencer a todos os envolvidos. “É<br />
possível fazer um desenho que na prática<br />
todos os setores da economia sejam<br />
beneficiados”, disse Appy. Ele sabe que ter<br />
essa percepção será algo decisivo para o<br />
sucesso da proposta. Seu argumento é de que<br />
ela vai melhorar a expectativa dos agentes<br />
econômicos, ampliar o potencial de<br />
crescimento do País, o que terá efeitos<br />
positivo na renda de empresas e<br />
trabalhadores de todos os segmentos. No<br />
momento paz & amor vivido entre o governo e<br />
o presidente da Câmara, Arthur Lira, há<br />
chance alta de que a agenda tributária entre<br />
na pauta entre dois e três meses após o<br />
Carnaval. Lira escolheu o deputado Reginaldo<br />
Lopes (PT-MG) para presidir um grupo de<br />
trabalho para alinhar a reforma na Casa.<br />
LAYOFF<br />
Disney também embarca<br />
na temporada de demissões<br />
Robert Iger, presidente-executivo da Disney, afirmou<br />
que a corporação tem planos de reduzir 7 mil vagas de<br />
seus postos de trabalho, ou cerca de 4% do total. A medida<br />
faz parte de uma ampla reestruturação para economizar<br />
US$ 5,5 bilhões nos próximos anos. As ações da<br />
empresa subiram 9% após o anúncio, na quarta-feira (8).<br />
A iniciativa também visa alavancar o negócio de streaming<br />
do grupo. As mudanças organizacionais entrarão<br />
em vigor imediatamente e surpreenderam o mercado.<br />
Iger, que comandou a companhia entre 2005 e 2020,<br />
retornou no fim do ano passado para o principal posto da<br />
empresa a fim de colocar o grupo nos eixos. O recado é de<br />
que conseguirá isso em tempo recorde. Os lucros e receitas<br />
trimestrais excederam as expectativas de Wall Street<br />
e as perdas no streaming da Disney caíram US$ 400<br />
milhões em comparação com o trimestre anterior, o<br />
dobro do que esperavam os analistas.<br />
ABRINDO O COFRE<br />
BC Chinês aumenta<br />
liquidez monetária<br />
Na quarta-feira (8), o Banco<br />
Popular da China (o BC chinês)<br />
informou que continua a<br />
injetar fundos no sistema<br />
financeiro por meio de operações<br />
de mercado aberto.<br />
Foram 641 bilhões de yuans<br />
(cerca de US$ 95 bilhões) de<br />
recompras reversas — quando<br />
o BC adquire títulos de<br />
bancos comerciais por meio<br />
de leilões — de sete dias a<br />
uma taxa de juros de 2%. A<br />
economia chinesa dá sinais<br />
de recuperação além das<br />
expectativas dos especialistas.<br />
Um dos indicadores mais<br />
recentes foi o boom de via-<br />
“NESTE MOMENTO, AS EMPRESAS<br />
PRECISAM DIMINUIR SEUS NÍVEIS DE<br />
ENDIVIDAMENTO. O AMBIENTE<br />
ECONÔMICO ATUAL NÃO FAVORECE<br />
EMPRESAS MUITO ALAVANCADAS”<br />
MILTON MALUHY FILHO<br />
presidente do Itaú Unibanco,<br />
na quarta-feira (8)<br />
gens, com o fim das restrições<br />
de Covid Zero. Durante o feriado<br />
de sete dias por causa do ano<br />
novo chinês, o país registrou 2,9<br />
milhões de viagens internacionais,<br />
aumento de 120,5% ano a<br />
ano, e 308 milhões de viagens<br />
domésticas, alta de 23,1%.<br />
06<br />
Dinheiro 28/12/2022<br />
15/02/2023<br />
FOTOS: IMAGE PRESS AGENCY I CLAUDIO BELLI/VALOR I MARIO TAMA I ISTOCK I DIVULGAÇÃO
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
Alibaba lança seu ‘Chat GPT’<br />
Ninguém quer ser o último na corrida da inteligência artificial (IA). Na quarta-feira,<br />
o gigante chinês Alibaba disse que está desenvolvendo uma ferramenta nos moldes<br />
do ChatGPT da OpenIA, fenômeno que atraiu 100 milhões de usuários com dois<br />
meses de vida. O anúncio do grupo de comércio eletrônico asiático só feito após o<br />
vazamento da informação pelo jornal 21st Century Herald. A empresa disse que se<br />
concentrou em grandes modelos de linguagem e inteligência generativa por vários<br />
anos – esses modelos são sistemas de processamento de linguagem natural que são<br />
treinados em grandes volumes de texto e têm capacidade de responder e compreender<br />
perguntas bem como gerar novos textos em segundos.<br />
MUNDO<br />
Europa supera<br />
China como maior<br />
exportador aos EUA<br />
Em 2022, a China perdeu sua posição<br />
de maior parceiro comercial dos EUA.<br />
Washington adquiriu US$ 537 bilhões<br />
em bens chineses ao longo do ano passado,<br />
cifra superada pelos US$ 553<br />
bilhões da União Europeia (UE). O<br />
déficit comercial americano foi recorde,<br />
com saldo negativo de quase<br />
US$ 1 trilhão — US$ 948,1 bilhões,<br />
aumento de 12,2% em relação a 2021,<br />
de acordo com os dados publicados<br />
pelo Departamento de Comércio na<br />
terça-feira (7). É o número mais alto<br />
desde 1960. O volume total de importações<br />
do país foi de US$ 3,9 trilhões,<br />
contra US$ 3,4 trilhões do ano anterior.<br />
As exportações de bens e serviços<br />
aumentaram 17,7%, para US$ 3 trilhões,<br />
enquanto as importações subiram<br />
16,3%, para US$ 4 trilhões.<br />
EMPREGO<br />
MPE GARANTE<br />
SALDO POSITIVO<br />
Micro e Pequenas<br />
1.597.188 78,4%<br />
STREAMING<br />
Netflix aperta o cerco<br />
Na quarta-feira (8), a Netflix começou a<br />
mudar as regras do compartilhamento de<br />
senhas com seus usuários em quatro mercados<br />
— Canadá, Espanha, Nova Zelândia e<br />
Portugal. A companhia informou que os<br />
clientes desses países serão solicitados a<br />
definir um “local principal” para suas contas<br />
e terão duas “subcontas” para usuários<br />
que não moram no endereço ‘oficial’. Além<br />
disso, a empresa cobrará uma taxa mensal<br />
por usuário extra: em Portugal será equivalente<br />
a 3,99 euros e na Espanha, 5,99 euros.<br />
“Atualmente, mais de 100 milhões de lares<br />
estão compartilhando contas — impactando<br />
Praticamente oito a cada dez empregos gerados no<br />
País em 2022 foram em Micro e Pequenas Empresas<br />
(MPE) segundos dados divulgados quarta-feira (8)<br />
pelo Sebrae em cima de números do Caged<br />
Médias e Grandes<br />
342.261 16,8%<br />
TOTAL 2.037.982 100%<br />
Adm. Pública & Avulsos<br />
98.533 4,8%<br />
nossa capacidade de investir em novos<br />
filmes e programas de TV”, disse<br />
Chengyi Long, diretor de Inovação de<br />
Produtos da empresa. Não há data definida<br />
para as alterações chegarem aos<br />
demais mercados, incluindo o Brasil.<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
07
multipropriedade<br />
infraestrutura para o primeiro trimestre<br />
Após bater recorde de vendas,<br />
divisão de motocicletas amplia<br />
produção e portfólio no Brasil<br />
3 1<br />
0 1<br />
ENTREVISTA<br />
Andrea Crisanaz, CEO da Generali:<br />
“As companhias de seguro terão de<br />
se tornar empresas de tecnologia”<br />
ACELERA, LULA<br />
Governo anuncia verba de R$ 19 bilhões<br />
para reativar 110 obras e novos projetos de<br />
BMW EM ALTA ROTAÇÃO<br />
FUNDADOR: DOMINGO ALZUGARAY<br />
(1932 - 2017)<br />
EDITORA<br />
CATIA ALZUGARAY<br />
PRESIDENTE-EXECUTIVO<br />
CACO ALZUGARAY<br />
CARTAS, E-MAILS<br />
E REDES SOCIAIS<br />
REPORTAGEM DE CAPA<br />
“A recuperação<br />
do turismo está<br />
em velocidade<br />
máxima e a<br />
DIRETOR EDITORIAL<br />
CARLOS JOSÉ MARQUES<br />
DIRETOR DE NÚCLEO<br />
CELSO MASSON<br />
TEXTO<br />
REDATOR-CHEFE: Edson Rossi<br />
EDITORES: Ernani Fagundes, Hugo Cilo, Lana Pinheiro<br />
e Paula Cristina<br />
EDITOR-ASSISTENTE: Beto Silva<br />
REPORTAGEM: Angelo Verotti, Anna França, Bruno Andrade,<br />
Jaqueline Mendes, Lara Sant'Anna e Victor Marques<br />
ARTE<br />
DIRETOR DE ARTE: Jefferson Barbato<br />
DESIGNERS: Christiane Pinho e Oliver Quinto<br />
ILUSTRAÇÃO: Evandro Rodrigues (chefe) e Fabio X<br />
PROJETO GRÁFICO: Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens)<br />
<strong>ISTOÉ</strong> DINHEIRO ON-LINE<br />
EDITOR EXECUTIVO: Airton Seligman<br />
EDITORA ASSISTENTE: Aryel Fernandes<br />
REPÓRTERES: Bruno Pavan, Daniela Quitanilha, Diego Ferron, Edda<br />
Ribeiro<br />
REPÓRTERES FREELANCERS: Rodrigo Faveto e Marcelo Almeida<br />
WEB DESIGNERS: Alinne Souza e Thais Rodrigues<br />
FOTOGRAFIA<br />
Pesquisa: Sidinei Lopes<br />
Arquivo: Eduar do A. Con ceição Cruz<br />
CTI: Silvio Paulino e Wesley Rocha<br />
APOIO ADMINISTRATIVO<br />
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Assistente: Cláudio Monteiro<br />
MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA<br />
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Central de Atendimento ao Assinante: (11) 3618-4566 de 2 a a 6 a<br />
feira 10h às 16h20, sábado 9h às 15h.<br />
Outras Capitais: 4002-7334<br />
Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares)<br />
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Dinheiro (ISSN 1414-7645) é uma publicação semanal da Três Editorial Ltda.<br />
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Cajamar - SP<br />
O novo filão do turismo<br />
Muito bom! Belo investimento.<br />
Rodolfo Saxon<br />
A matéria de multipropriedade viabiliza<br />
novos empreendimentos de resort com<br />
foco em entretenimento.<br />
Heber Garrido<br />
A reforma tributária sai?<br />
Se quiser ter o mínimo de apoio popular,<br />
o governo precisa de uma reforma justa.<br />
Paulo Lemos<br />
Aritmética segundo a<br />
Americanas<br />
Os sócios têm quatro vezes o valor do<br />
rombo. Que paguem.<br />
Jefferson Asila<br />
Palhaçada como a Justiça protege o<br />
multibilionário e arranca a casa do pobre<br />
que atrasa o financiamento imobiliário<br />
depois de três meses.<br />
Rui Marin<br />
“Já viramos uma empresa de<br />
tecnologia que faz seguros”<br />
Entrevista com Andrea Crisanaz<br />
Há empresas de seguro que usam<br />
satélites da Nasa para previsão apurada<br />
de locais com risco de incêndio na<br />
Califórnia.<br />
Leo Ribeiro<br />
O plano de Lula para a<br />
infraestrutura<br />
O problema é usar só dinheiro público.<br />
Cadê as parcerias?<br />
Alex Leite<br />
Para onde vai o Congresso<br />
Lula vai precisar de muito mais que do<br />
mensalão para dobrar esses políticos<br />
fisiológicos que tomaram o Congresso.<br />
Fernando Rodrigues<br />
Saiu caro manter o cão na guia.<br />
Wesley Rossi<br />
é o motor desse<br />
crescimento”<br />
SERGIO NEY<br />
PADILHA, CEO<br />
do Grupo Ferrasa,<br />
dono do Hot Beach,<br />
em Olímpia (SP)<br />
O NOVO FILÃO DO TURISMO<br />
Modelo consagrado nos Estados Unidos e em outros países, o fracionamento de imóveis de<br />
lazer fecha 2022 com R$ 41,1 bilhões de lançamentos e projeta crescer 28% este ano.<br />
Entenda por que 800 mil famílias decidiram comprar fatias de um empreendimento hoteleiro<br />
e de que forma esse negócio está redefinindo o setor no Brasil<br />
Fale conosco<br />
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devem ser remetidas para: Diretor de Redação, <strong>ISTOÉ</strong><br />
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ser editadas em ra zão de seu ta manho ou clareza.<br />
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EXEMPLAR DE ASSINANTE<br />
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DIN1310_Capa.indd 1 2/1/23 22:51<br />
Alemanha aproxima Mercosul<br />
da Europa<br />
Só faltam 27 países aceitarem agora.<br />
Carlos Madureira<br />
Pix de crédito vem aí<br />
O problema é usar recursos do Tesouro<br />
como garantia.<br />
Rodrigo Morin<br />
A estrada de crescimento da<br />
BMW<br />
Mas ainda precisa melhorar muito o pré<br />
e o pós-venda. Em Fortaleza meu<br />
atendimento foi péssimo.<br />
José Alberto<br />
Ocupação do varejo<br />
Sensacional a iniciativa e parabéns à<br />
revista por colocar luz no que de fato<br />
esses produtores fazem.<br />
Gui Silva<br />
A mágica de fazer com que<br />
bilhões desapareçam<br />
O Coaf deve estar com o MP. Crime de<br />
colarinho branco deve ter penas duras.<br />
Thiago Augusto Leite<br />
O Brasil bolsonarista virou a nação da<br />
fraude fiscal.<br />
Henrique Cahr<br />
9 7 7 1 4 1 4 7 6 4 0 0 0 0<br />
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08<br />
Dinheiro 15/02/2023
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POR HUGO CILO<br />
SÃO PAULO NA CRISTA DA ONDA<br />
O empresário Oscar Segall, dono da KSM Realty e um dos herdeiros do<br />
clã Klabin, segue firme em seu plano de levar praia para lugares longe<br />
do mar. Depois de concluir a maior praia artificial do País dentro do<br />
luxuoso condomínio Fazenda da Grama, em Itupeva (SP), ele vai<br />
começar no próximo mês a obra de um novo oásis na capital paulista,<br />
o Beyond the Club, ao lado da ponte Transamérica. A inauguração está<br />
prevista para 2025, a um custo de R$ 1,1 bilhão. O empreendimento é<br />
uma parceria KSM Realty com o BTG Pactual Asset Management e a<br />
Realty Properties. O Beyond será o primeiro clube na capital com uma<br />
praia artificial com ondas da empresa espanhola Wavegarden. Terá<br />
também um skate park assinado por Bob Burnquist. O local terá<br />
simuladores de esqui, de golfe, de F-1 e uma arena gamer desenvolvida<br />
por Samuel Walendowsky, da Liberty Esports. O projeto de arquitetura<br />
é assinado por Aflalo & Gasperini. “Essa é a realização de um<br />
sonho como empresário e surfista”, afirmou Segall à DINHEIRO.<br />
Quer ficar sócio? Prepare o bolso. Os primeiros títulos já começaram<br />
a ser vendidos por R$ 630 mil. No total serão 3 mil títulos.<br />
ROBÔS SALVARAM R$ 1 BILHÃO<br />
Que a burocracia no Brasil é um ralo de<br />
dinheiro, todo empresário sabe. A<br />
novidade é que robôs estão ajudando a<br />
reduzir o desperdício com pagamento<br />
errado de impostos. A consultoria<br />
brasileira Roit, com 200 robôs,<br />
conseguiu fazer com que clientes<br />
resgatassem R$ 1 bilhão de tributos<br />
pagos indevidamente no ano passado,<br />
segundo a COO Caroline Souza. A<br />
robotização e a inteligência artificial<br />
geraram eficiência no cálculo e<br />
pagamento de impostos e no<br />
cruzamento de dados com a Receita<br />
Federal. “Fazer [as contas] na<br />
mão é possível, mas leva<br />
muito tempo e gera<br />
muitos erros”,<br />
afirmou. “Com<br />
tecnologia, o<br />
processo é<br />
muito mais<br />
eficiente, ágil e<br />
assertivo.”<br />
UM OLHO<br />
NA FOLIA,<br />
OUTRO NO<br />
CELULAR<br />
Fonte: Terra<br />
PESQUISA DIGITAL<br />
REALIZADA PELO<br />
PORTAL TERRA SOBRE OS<br />
INTERESSES DOS FOLIÕES<br />
CONSTATOU QUE OS<br />
BRASILEIROS VÃO PASSAR<br />
O FERIADO COM A CARA<br />
NA TELA DO CELULAR<br />
SE ORGANIZAR DIREITINHO,<br />
TODO MUNDO PAGA<br />
A lawtech KOR Solutions, especializada<br />
em soluções de conflitos entre<br />
empresas e consumidores, descobriu<br />
que só há um caminho para reduzir 80<br />
milhões de processos e R$ 270 bilhões<br />
em disputas entre clientes e empresas:<br />
negociar. Segundo o CEO Victor<br />
Aracaty, a empresa cresce 30% ao<br />
mês com o uso de sistemas de gestão<br />
processual que reduzem em 43%<br />
os custos do valor negociado.<br />
utilizam mídias<br />
sociais para<br />
47% Q<br />
acompanhar<br />
o Carnaval<br />
V<br />
preferem<br />
assistir<br />
29% pela televisão<br />
24% outros meios<br />
O<br />
?<br />
10<br />
Dinheiro 12/01/2022<br />
FOTOS: GABRIEL REIS | MARCO TORELLI I DIVULGAÇÃO
QUER<br />
VER<br />
O QUÊ?<br />
?<br />
BANCO ORIGINAL DOBRA NO B2B<br />
DIVISÃO DE TECNOLOGIA B2B DO BANCO ORIGINAL,<br />
O ORIGINAL HUB DOBROU SUA OPERAÇÃO EM 2022.<br />
FORAM MAIS DE R$ 50 BILHÕES MOVIMENTADOS E<br />
APROXIMADAMENTE 500 MILHÕES DE TRANSAÇÕES,<br />
SEGUNDO ALEX CONCEIÇÃO, EXECUTIVO QUE COMANDA<br />
A ÁREA, PARA 2023, O OBJETIVO É CRESCER MAIS 30%<br />
FOCANDO EM PAGAMENTO E RECEBIMENTO, COMO O<br />
PIX COBRANÇA. O EXECUTIVO AFIRMA QUE A ORDEM<br />
É ACELERAR A OFERTA DE SERVIÇOS E FACILITAR<br />
A JORNADA FINANCEIRA DOS BRASILEIROS.<br />
INCLUSÃO<br />
E SAÚDE<br />
MENTAL<br />
A pandemia deixou muita gente mentalmente doente,<br />
mas criou uma oportunidade de negócio para a<br />
socióloga Carine Roos. Pouco meses depois de criar<br />
a Newa, ela fechou contratos com Accenture, Banco<br />
Pan, Cogna, Itaú e Kraft Heinz para cuidar da saúde<br />
emocional dos funcionários, especialmente mulheres<br />
em cargos de comando. “Tivemos de ampliar a nossa<br />
atuação para trabalhar não só com as mulheres, mas<br />
com outras diversidades e lideranças”, disse Carine.<br />
Só em 2022 ela atendeu mais de 2,5 mil profissionais.<br />
46%<br />
têm<br />
interesse<br />
nas<br />
galerias<br />
de fotos<br />
25%<br />
em<br />
vídeos<br />
curtos<br />
17%<br />
em<br />
lives<br />
12%<br />
em textos<br />
sobre blocos<br />
de rua e<br />
desfiles das<br />
escolas de<br />
samba<br />
LOFT APOSTA NOS<br />
ESTADO DO SUL<br />
A startup imobiliária Loft<br />
vai abrir operação em<br />
Curitiba neste primeiro<br />
trimestre, completando<br />
a presença em todos os<br />
estados da região Sul.<br />
A expansão tem sido<br />
feita em parceria com<br />
imobiliárias locais,<br />
estratégia iniciada em<br />
abril do ano passado,<br />
o que acelera esse<br />
crescimento. Na capital<br />
paranaense, cinco<br />
imobiliárias já fecharam<br />
acordo com a Loft. Em<br />
janeiro, a proptech<br />
brasileira entrou em<br />
Florianópolis e Balneário<br />
Camboriú e, nos últimos<br />
seis meses, chegou a 22<br />
novas cidades em três<br />
estados no País. O plano<br />
de expansão para<br />
Curitiba e outros temas<br />
estratégicos foram<br />
anunciados em dois dias<br />
de convenção, com 120<br />
líderes do grupo Loft.<br />
MINHA CASA, MINHA TECNOLOGIA<br />
EDUCAÇÃO VIA<br />
CHATBOT<br />
A edtech ChatClass,<br />
especializada em cursos<br />
chatbot, dobrou o número de<br />
clientes no ano passado e<br />
chegará a R$ 10 milhões em<br />
2023 graças a contratos com<br />
empresas como 99, Cultura<br />
Inglesa, EDP, Positivo e<br />
Senais. Segundo o alemão<br />
Jan Krutzinna, fundador<br />
e CEO da ChatClass,<br />
a inteligência artificial tomou<br />
conta de escolas e empresas.<br />
“A automação bem aplicada<br />
tem gerado resultados muito<br />
positivos para os negócios",<br />
afirmou o CEO.<br />
De olho no mercado de curta estadia, a empresa de tecnologia<br />
em gestão imobiliária Xtay planeja saltar dos atuais 150 imóveis<br />
no País para mais de 1 mil, de acordo com o CEO Gabriel<br />
Fumagalli. A empresa, que é uma mistura de<br />
Airbnb, hotel e Uber, deve superar a marca de<br />
R$ 10 milhões em receita. Por app oferece<br />
aluguel de apartamentos. Os hóspedes podem<br />
solicitar serviços como concierge, lavanderia e<br />
limpeza, e pagam tudo eletronicamente. “Nossa<br />
proposta de valor é oferecer serviços de<br />
melhor qualidade com custos mais<br />
acessíveis”, disse Fumagalli. A empresa<br />
tem o grupo Atrio Hoteis como sócio<br />
majoritário e opera na Grande<br />
Florianópolis, em Curitiba, Rio de<br />
Janeiro e São Paulo. Nas próximas<br />
semanas, chega a João Pessoa.<br />
Dinheiro 15/02/2023 11
Entrevista | Jarbas Antonio de Biagi, presidente da Abrapp<br />
“Ainda<br />
temos uma<br />
avenida para<br />
percorrer em<br />
educação<br />
financeira e<br />
previdenciária”<br />
O Brasil poupa pouco quando comparado<br />
a outros países e tem vocação para pagar<br />
benefícios demais. Segundo o presidente da<br />
Associação Brasileira das Entidades Fechadas<br />
de Previdência Complementar (Abrapp) é preciso<br />
atrair novos participantes e recursos não apenas<br />
para garantir melhores aposentadorias como para<br />
ajudar o governo a investir em infraestrutura<br />
Fagundes SCHANDERT<br />
12 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: GUSTAVO LOURENÇÃO | ALOISIO MAURICIO / FOTOARENA / FOLHAPRESS
Eleito para presidir a Associação Brasileira<br />
das Entidades Fechadas de Previdência<br />
Complementar (Abrapp) no biênio<br />
2023-2024, o advogado e mestre em Direito<br />
pela PUC de São Paulo Jarbas Antonio<br />
de Biagi é também diretor financeiro<br />
da OABPrev-SP e autor de vários livros<br />
e artigos sobre o tema. É na condição de<br />
especialista que ele tem liderado pedidos<br />
junto ao Ministério da Previdência para<br />
que defina políticas que garantam a competitividade<br />
dos fundos de pensão em<br />
relação à previdência complementar aberta<br />
(VGBL/PGBL). Nesta entrevista à DI-<br />
NHEIRO, ele falou sobre como o segmento<br />
representado pela<br />
entidade que preside<br />
enfrentará a concorrência<br />
do Tesouro Renda+<br />
Aposentadoria Extra,<br />
título de previdência do<br />
Tesouro Direto que<br />
compete com planos de<br />
Previdência Associativa.<br />
Ainda segundo Biagi,<br />
os principais fundos<br />
de pensão tiveram perdas<br />
apenas residuais<br />
com debêntures e ações<br />
da Americanas. Mesmo<br />
assim, o setor irá entrar<br />
na Justiça para exigir<br />
reparações financeiras<br />
decorrentes da fraude<br />
contábil que está sendo<br />
investigada.<br />
DINHEIRO – Já se sabe<br />
quanto os fundos de pensão perderam<br />
com debêntures e ações de Americanas?<br />
JARBAS ANTONIO DE BIAGI – Nós fizemos<br />
várias reuniões para avaliar essas perdas,<br />
pois esse é um caso de valor expressivo,<br />
de uma companhia que, até então, estava<br />
acima nas classificações de risco, era triplo<br />
A [melhor nota de risco de crédito].<br />
Mas, entre os fundos de pensão, essas<br />
operações com debêntures estavam muito<br />
pulverizadas. Alguns fundos tinham<br />
um pouco de ações. Na nossa análise, o<br />
impacto foi residual. Mas a Abrapp está<br />
analisando as medidas cabíveis para eventual<br />
ressarcimento.<br />
A intenção é entrar na Justiça para recuperar<br />
o prejuízo?<br />
Sim. Na verdade, não importa se é pouco<br />
ou muito, se houve algo [fraude], temos<br />
que buscar reparação. O dinheiro é do<br />
participante [dos planos]. Não foi nada<br />
que trouxesse impacto a ponto de criar<br />
um sinal amarelo ou vermelho para algumas<br />
das entidades. As linhas de defesa<br />
se mostraram eficientes. As perdas<br />
foram pequenas, o que faz parte do risco<br />
do nosso negócio.<br />
De quanto estamos falando?<br />
De acordo com os dados da Abrapp, entre<br />
“O impacto da Americanas foi residual para os<br />
fundos de pensão. Mas temos de buscar reparação,<br />
pois o dinheiro é dos participantes dos planos”<br />
as maiores entidades, a exposição da Previ<br />
[dos funcionários do Banco do Brasil]<br />
era de R$ 39,5 milhões, apenas 0,011% do<br />
total. Na Funcef [funcionários da Caixa],<br />
a exposição era de R$ 30,8 milhões ou<br />
0,038% do total de recursos administrados<br />
pela fundação. Outros oito fundos de<br />
pensão registravam volumes bem menores:<br />
Baneses (0,08%), Capef (0,01%), CargillPrev<br />
(0,02%), Embraer Prev (0,03%),<br />
Forluz (0,06%), Petros (0,01%), Postalis<br />
(0,03% de exposição) e Vivest (0,06%).<br />
De acordo com os dados da Abrapp, houve<br />
uma queda da fatia em crédito privado,<br />
de 3,6% em 2015 (R$ 24 bilhões) para<br />
1,4% em 2022 (R$ 15 bilhões) no patrimônio<br />
das entidades. Quais foram os<br />
motivos para a redução dessa exposição?<br />
Entre 2015 e 2016 nós debatemos muito<br />
essa questão com o órgão supervisor,<br />
a Previc (Superintendência de Crédito<br />
Privado). Sofremos muitas autuações<br />
em operações de crédito privado, o que<br />
levou os gestores a uma postura de segurança<br />
e de cumprir a supervisão. De<br />
lá para cá não tivemos tantas opções<br />
que justificassem correr mais riscos em<br />
crédito privado, o que levou à redução<br />
das carteiras. O crédito privado possui<br />
um risco maior em<br />
comparação com os<br />
títulos públicos. Nós<br />
evoluímos nisso, os riscos<br />
não compensavam<br />
o investimento.<br />
Também nos últimos<br />
anos as fundações<br />
avançaram com planos<br />
de previdência associativa<br />
instituídos. Eles<br />
podem concorrer com<br />
produtos como o Tesouro<br />
Renda+ Aposentadoria<br />
Extra, lançado recentemente<br />
pelo<br />
Tesouro Direto?<br />
Sem dúvida esse produto<br />
do Tesouro concorre<br />
com os planos de previdência.<br />
Pela ótica positiva,<br />
o fato de o governo<br />
pautar esse assunto nos ajuda em educação<br />
financeira e previdenciária. O<br />
Brasil poupa pouco se comparado com<br />
outros países. Nosso setor tem patrimônio<br />
equivalente a algo entre 13% e 14%<br />
do PIB e patina nesse percentual há bastante<br />
tempo. Nós temos a vocação de<br />
pagar benefícios, e acumulamos uma<br />
folha de pagamentos grande. No ano<br />
passado, alcançamos algo próximo a<br />
R$ 100 bilhões em benefícios.<br />
Quais são as vantagens tributárias da<br />
previdência complementar associativa?<br />
Durante todo o período de acumulação<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
13
Entrevista | Jarbas Antonio de Biagi<br />
do plano de previdência complementar<br />
não há nenhuma tributação, que só ocorre<br />
na conversão para renda. O título<br />
Tesouro Renda+ possui a mesma taxação<br />
do CDB. Para quem tem uma renda<br />
maior e faz o Imposto de Renda (IR) na<br />
declaração completa, a previdência complementar<br />
também oferece a isenção de<br />
12%, um benefício que não existe no<br />
título público. Na previdência associativa<br />
também há regras de portabilidade.<br />
Quem não está contente com a rentabilidade<br />
pode portar esses recursos para<br />
outro plano sem precisar<br />
resgatar. No caso<br />
do patrocinado [quando<br />
a empresa contribui<br />
para o plano] só é possível<br />
fazer a portabilidade<br />
quando o participante<br />
se desliga da<br />
empresa. Então, nessa<br />
ótica, vemos como positivo<br />
a chegada do<br />
Renda+. Nós entendemos,<br />
que no comparativo,<br />
a rentabilidade da<br />
previdência complementar<br />
fechada é muito<br />
boa na comparação<br />
com os títulos públicos<br />
e previdência aberta.<br />
Para a baixa renda,<br />
qualquer opção de previdência<br />
é boa, seja o<br />
Tesouro ou até mesmo<br />
a caderneta de poupança.<br />
Em qual público, a previdência complementar<br />
pode crescer?<br />
Temos 3,7 milhões de participantes no<br />
Sistema Fechado e um universo de cerca<br />
de 6,5 milhões de pessoas que ganham<br />
acima do teto da Previdência<br />
Social, que não tem previdência. Ao<br />
todo, são mais de 100 milhões de pessoas<br />
com renda. Nós temos um trabalho<br />
até de orientar os profissionais autônomos<br />
da importância de recolher para<br />
o Regime Geral, o INSS, e depois complementar<br />
sua renda. Ainda temos uma<br />
avenida para percorrer em educação<br />
financeira e previdenciária.<br />
“Nós queremos um benefício tributário, que não é<br />
renúncia fiscal, para os trabalhadores de baixa renda<br />
possam ter seu plano de previdência complementar”<br />
Com está relacionamento das entidades<br />
de previdência com o novo governo?<br />
Os fundos de pensão são parceiros do<br />
governo, da Nação, mas hoje, as decisões<br />
de investimentos são todas colegiadas.<br />
Teremos investimentos de risco [caso<br />
da infraestrutura], sim, mas não será<br />
como no passado, quando tínhamos<br />
tempo para rentabilizar. Hoje temos<br />
compromissos com o pagamento de benefícios.<br />
Para ajudar o governo em projetos<br />
de infraestrutura observando<br />
rentabilidade e liquidez, precisamos<br />
atrair novos participantes e recursos.<br />
Nós já tivemos uma audiência com o<br />
ministro da Previdência, Carlos Lupi.<br />
Fomos muito bem recebidos e ele se<br />
mostrou receptivo às nossas propostas.<br />
Quais propostas foram levadas?<br />
Nós queremos um incentivo tributário,<br />
que não é renúncia fiscal, para os trabalhadores<br />
de baixa renda e que faz a declaração<br />
do Imposto de Renda no modelo<br />
simplificado. O projeto é simples, se o<br />
cidadão faz declaração no simplificado,<br />
se tiver R$ 1 mil de renda, se ele colocar<br />
R$ 30 em previdência privada, ele pagaria<br />
o IR sobre R$ 970, e não sobre R$ 1<br />
mil. E se tiver uma empresa, um microempresário,<br />
de uma pequena ou média<br />
empresa, que paga o IR pelo lucro presumido,<br />
tem um projeto no mesmo sentido.<br />
Que o empresário possa descontar<br />
até 6% do IR, desde que faça um plano<br />
de previdência para os seus funcionários.<br />
Ou se for um empresário individual, que<br />
se possa colocar num plano de previdência<br />
também com esses<br />
benefícios. Nós só dependemos<br />
da vontade<br />
do governo para aprovar<br />
isso e aumentar a<br />
cobertura previdenciária<br />
complementar.<br />
Com o Tesouro IPCA<br />
pagando inflação mais<br />
juros acima de 6% ao<br />
ano, as fundações vão<br />
aproveitar para aplicar<br />
mais recursos em títulos<br />
públicos?<br />
Pelo marco regulatório<br />
é possível investir até<br />
100% em títulos públicos<br />
se as entidades entenderem<br />
convenientes.<br />
Nos últimos 20 anos se<br />
evoluiu muito no casamento<br />
de ativos e passivos<br />
para não ter um aperto de liquidez.<br />
As políticas de investimentos que nós<br />
temos conhecimento têm aumentado o<br />
investimento em títulos, ou no mínimo,<br />
conservado a exposição que já se tinha<br />
em papéis do governo. Se confirmar o<br />
cenário de juros altos, a tendência é que<br />
as fundações aumentem ainda mais a<br />
exposição em títulos de inflação. Por outro<br />
lado, a maioria dos planos são maduros,<br />
pagam mais benefícios do que arrecadam,<br />
para esses, o Tesouro Selic deve<br />
ser uma tendência em 2023. Eu acredito<br />
que vamos terminar o ano uma exposição<br />
maior em títulos privados.<br />
14 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: ANTONIO CRUZ / ABR
Sustentabilidade<br />
POR LANA PINHEIRO<br />
MAPA-MÚNDI VERDE<br />
Quiz rápido: qual país com a maior área florestal do<br />
mundo? Se você lembrou da floresta Amazônica,<br />
Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Pampa, e cravou<br />
Brasil, errou. Hoje, o topo do ranking pertence à Rússia<br />
com 815 milhões de hectares de cobertura florestal. Para<br />
ficar mais fácil entender a dimensão, vale a informação de<br />
que cada hectare corresponde a um campo de futebol oficial.<br />
O Brasil aparece em segundo com o equivalente a 497 milhões<br />
de campos de futebol no mapa. Canadá, Estados Unidos<br />
e China completam o Top 5. Interessante destacar o caso<br />
chinês. Na década de 1990, a cobertura verde do país asiático<br />
havia caído a 16,7% do território, ou 160 milhões de hectares.<br />
Hoje, no 5º lugar do ranking, evoluiu a 220 milhões de hectares<br />
ou quase 23% da área total. A meta é ultrapassar os 24%<br />
até os próximos dois anos. A mudança foi intencionalmente<br />
planejada pelo governo local que dentre as ações anunciadas<br />
está a de plantar 36 mil km 2 (3,6 milhões ha) de novas<br />
florestas por ano até 2025. Já no Brasil, o movimento foi o<br />
inverso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia<br />
e Estatística (IBGE), o País perdeu o equivalente a 6% do seu<br />
território em florestas e vegetações campestres nativas. A<br />
área corresponde a mais de 51 milhões de campos de futebol<br />
desmatados, tamanho dos estados de São Paulo, Rio de<br />
Janeiro, Paraná e Sergipe, somados.<br />
Obs: O mapa-múndi ao lado é uma representação gráfica das<br />
áreas cobertas pelas copas das árvores realizada pelo cientista<br />
de dados geoespaciais Adam Symington. Para construi-lo,<br />
publicado originalmente na plataforma Visual Capitalist, o<br />
autor usou imagens coletadas a bordo do sensor MODIS.<br />
3º Canadá<br />
347<br />
9º Peru<br />
72<br />
4º EUA<br />
310<br />
7º República<br />
Democrática<br />
do Congo<br />
126<br />
2º Brasil<br />
497<br />
EDITAL<br />
RECURSOS PARA<br />
EMPODERAMENTO LGBTQIAP+<br />
Projetos criados para fortalecer o<br />
empreendedorismo, geração de<br />
renda ou empregabilidade da<br />
comunidade LGBTQIAP+ já podem se<br />
inscrever no edital LGBT+ Orgulho.<br />
Criado Itaú Unibanco em parceria<br />
com o Instituto +Diversidade, o edital<br />
beneficiará 16 projetos, com aporte<br />
de R$ 500 mil para as propostas<br />
selecionadas.“Além de promover<br />
impacto direto por meio do fomento<br />
às iniciativas, pretendemos<br />
reconhecer o valor desses atores<br />
comunitários para prosperidade das<br />
pessoas LGBTQIAP+”, disse João<br />
Torres, presidente executivo do<br />
Instituto +Diversidade. Podem se<br />
inscrever coletivos, organizações sem<br />
fins lucrativos ou pessoas físicas.<br />
US$ 1,7<br />
bilhão<br />
é o quanto a América Latina<br />
perde por ano em matériasprimas<br />
como ouro e metais<br />
raros presentes nos<br />
equipamentos eletrônicos<br />
descartados incorretamente.<br />
O dado é da ONU.<br />
ENERGIA<br />
LUZ PARA<br />
RIBEIRINHOS<br />
Como resultado do<br />
investimento de R$ 45<br />
milhões executado pela<br />
Unicoba, hoje mais de<br />
900 famílias de<br />
Rondônia têm acesso à<br />
energia. A iniciativa faz<br />
parte do programa Mais<br />
Luz para a Amazônia,<br />
projeto do governo<br />
federal e do Ministério<br />
de Minas e Energia.<br />
Nesta etapa, foram<br />
atendidas 68<br />
comunidades remotas<br />
espalhadas por 15<br />
municípios do estado.<br />
16 Dinheiro 15/02/2023<br />
INFOGRÁFICO: EVANDRO RODRIGUES | FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO
1º Rússia<br />
815<br />
Cotas para<br />
diversidade<br />
FORMAÇÃO<br />
Cobertura<br />
(em mihões de hectares)<br />
CURSO GRATUITO<br />
PARA PROFESSORES<br />
10º Índia<br />
72<br />
Sob presidência de Ana Lúcia Villela,<br />
o Instituto Alana continua sua missão<br />
de defender os interesses de crianças<br />
nas mais diversas esferas. Inclusive na<br />
ambiental. É nesse contexto<br />
que a organização<br />
anuncia o início das<br />
inscrições para<br />
formação, on-line e<br />
gratuita, para inspirar<br />
professores da<br />
Educação Infantil, Ensino<br />
Fundamental I e<br />
educadores do contexto não<br />
formal a verdejar as escolas. O objetivo<br />
é levar mais natureza para dentro das<br />
instituições. Em dois anos, a iniciativa já<br />
engajou cerca de 1 mil educadores, em<br />
cidades como Jundiaí e São Paulo (SP).<br />
6º Austrália<br />
134<br />
5º China<br />
220<br />
8º Indonésia<br />
92<br />
ÁLBUM DE<br />
FOTOGRAFIA<br />
Cirrhilabrus finifenmaa é seu nome<br />
científico. Popularmente conhecido<br />
como bodião de fada com véu rosa,<br />
o peixe com escamas arco-íris foi<br />
recentemente reconhecido como<br />
nova espécie pela revista científica<br />
ZooKeys. É encontrado nas<br />
Maldivas, em recifes que ficam entre<br />
50 a 150 metros de profundidade.<br />
Ações afirmativas Brasil e Estados<br />
Unidos<br />
“Compartilhar experiências é fundamental<br />
para o avanço da pesquisa<br />
científica.” A frase é do Dr. Clifford<br />
Jaylen Louime, professor e pesquisador<br />
da Universidade de Porto Rico,<br />
EUA. “As colaborações internacionais<br />
ajudam a facilitar seu desenvolvimento,<br />
desafiando construtivamente<br />
ideias aceitas”. Nesse contexto, a<br />
Faculdade Zumbi dos Palmares e<br />
mais duas universidades americanas,<br />
a Prairie View A&M University,<br />
no Texas, e a University of Puerto<br />
Rico, principal sistema universitário<br />
público da Comunidade de Porto<br />
Rico dos Estados Unidos, vão estudar<br />
os impactos sociais e econômicos<br />
da lei de Cotas, em um paralelo<br />
Brasil-EUA. Esta parceria enriquece<br />
ainda mais o ambiente acadêmico<br />
brasileiro, buscando o intercâmbio<br />
de professores e estudantes, novas<br />
fontes de financiamento e a internacionalização<br />
do currículo. “Vivemos<br />
em uma sociedade globalizada onde<br />
a maioria dos problemas com os<br />
quais nos deparamos não são mais<br />
questões locais”, diz o Dr. José<br />
Vicente, presidente e reitor da<br />
Universidade Zumbi dos Palmares.<br />
“Portanto, estudar os impactos da<br />
Lei de Cotas a partir de uma perspectiva<br />
internacional pode proporcionar<br />
novos ideias que beneficiem<br />
tanto a sociedade brasileira<br />
quanto o mundo enterro”.<br />
Conteúdo produzido em parceria com a<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
17
ECONOMIA<br />
À LUZ DO NOVO BNDES<br />
ALOIZIO<br />
MERCADANTE<br />
ASSUME O BANCO DE<br />
FOMENTO COM DOIS<br />
FOCOS: NÃO REPETIR<br />
OS ERROS DO<br />
PASSADO, E INSERIR<br />
O BRASIL EM UMA<br />
POLÍTICA DE<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
ATRELADA À<br />
TECNOLOGIA,<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
E DEMOCRATIZAÇÃO<br />
DO ACESSO AO<br />
CRÉDITO<br />
Paula CRISTINA<br />
18 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: TON MOLINA
Assumir um banco de fomento com o histórico de ataques<br />
e questionamentos recentes como aconteceu com o Banco<br />
Nacional de Desenvolvimento Ecômico e Social (BNDES)<br />
não é tarefa fácil. Mas aceitar o cargo após ser coordenador<br />
da campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e precisando<br />
revogar parte da lei das estatais para tomar posse<br />
é ainda mais difícil. E essa é só uma fração do problema que o<br />
petista histórico Aloizio Mercadante enfrentará no comando e<br />
gestão do banco que volta à cena com a promessa de garantir óleo<br />
nas engrenagens da economia brasileira. Em sua posse no dia 6<br />
de fevereiro, Lula foi claro: “Mercadante, você não faz ideia da fé<br />
que coloco em você”. Mas talvez ele faça. E por isso desde dezembro<br />
começou a montar seu time com progressistas, desenvolvimentistas<br />
e liberais. Aproximou-se de bancos privados em busca<br />
de parcerias e ouviu representantes das empresas. Traçou planos<br />
transversais com os ministros de Ciência & Tecnologia, Educação,<br />
Telecomunicações e Agronegócio. Tudo isso antes mesmo de<br />
assumir o posto. Agora, devidamente empossado, ele começa a<br />
dar luz ao que chamou de novo momento do banco. “É importante<br />
ressaltar que não queremos e não iremos voltar a um padrão<br />
de subsídios como no passado”, disse ele.<br />
Ainda assim, Mercadante ressalta a necessidade de entender<br />
e melhorar o custo do financiamento quando feito por meio do<br />
BNDES. “Precisamos ter uma taxa de juros mais competitiva,<br />
sobretudo para PMEs”, afirmou. Na avaliação do presidente, a<br />
TLP (Taxa de Longo Prazo, que está em 6,09% em fevereiro)<br />
penaliza de forma desproporcional empresas de menor porte e<br />
gera distorções que impedem que o banco fomente sua vocação<br />
de estimular o desenvolvimento do País. O plano, então, é negociar<br />
com o Congresso Nacional novos patamares para o índice.<br />
A questão dos pequenos e médios empresários,<br />
até por pedido de Lula, parece estar no<br />
centro dessa nova política do BNDES. Até 2013<br />
o banco ficou conhecido por oferecer juros<br />
muito baixos para conglomerados financeiros<br />
que teriam condições de captar recursos de<br />
outras formas. Esse movimento, que estava na<br />
origem do que ficou conhecido como As Campeãs<br />
Nacionais, fomentou empresas como JBS,<br />
Oi, Fibria, Petrobras e as alçou a novos mercados,<br />
mas não foi capaz de impedir que algumas<br />
delas tivessem problemas financeiros, judiciais<br />
e até de corrupção. Essa fase, segundo Mercadante,<br />
acabou. “Olhamos para trás e vemos que<br />
o mundo, o Brasil e o BNDES mudaram. E ao<br />
olhar para frente sabemos ser preciso continuar<br />
construindo um país mais próspero moderno<br />
e industrializado.”<br />
Mas e como atender a todos os empresários<br />
com um taxa menor que a do mercado privado<br />
e com limitação de recursos? Por meio de novas<br />
relações, diz ele. Para as micro e pequenas<br />
empresas, por exemplo, o plano do BNDES é<br />
focar no desenvolvimento de novas tecnologias,<br />
e para isso seria preciso buscar parceiros. “Vamos<br />
apoiar as micro, pequenas e médias empresas,<br />
as cooperativas e a economia solidária,<br />
com R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto<br />
do banco e alavancagem via garantias para<br />
o crédito privado”, disse.<br />
DINHEIRO NA PONTA<br />
Evolução dos desembolsos<br />
do Sistema BNDES por<br />
mandato* (em R$ bilhões)<br />
média anual<br />
acumulado em 4 anos<br />
13,3<br />
53,3<br />
25,9<br />
103,6<br />
42,6<br />
170,5<br />
168 672,0<br />
135,9+76<br />
100<br />
400,3 364,1<br />
61,8<br />
247,3<br />
FHC I<br />
1995-1998<br />
Fonte: BNDES<br />
FHC II<br />
1999-2002<br />
Lula I<br />
2003-2006<br />
Lula II<br />
2007-2010<br />
Dilma I<br />
2011-2014<br />
Dilma II + Temer<br />
2015-2018<br />
Bolsonaro<br />
2019-2022<br />
*valores nominais<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
19
ECONOMIA<br />
INDÚSTRIAS Quando nasceu, lá em 1952, o<br />
então BNDE (sem o S) emprestava recursos<br />
sobretudo para as indústrias. Àquela época, diz<br />
Mercadante, o Brasil saiu de um país de agrário<br />
e monocultor para um país urbano e industrial.<br />
Hoje o plano é fazer um movimento semelhante,<br />
mas sem ser anacrônico. “Precisamos de visão<br />
de longo prazo. Estratégia.” Entre elas, Mercadante<br />
cita exportar mais produtos de maior<br />
valor agregado. “Hoje, 98% do mercado mundial<br />
está fora do Brasil. Para serem competitivas [as<br />
empresas] precisam ganhar escala e se integrar<br />
às cadeias globais de valor.” Nesse sentido o foco<br />
é apoiar o pré-embarque e o pós-embarque de<br />
bens e produtos como faz o americano Eximbank.<br />
Para o restante da indústria, o objetivo é estimular<br />
pesquisa em direção a menor emissão e<br />
poluição e usar isso como baliza para liberação<br />
de crédito. “Reindustrialização não é sobre a<br />
velha indústria, mas sobre a nova. Essa nova indústria<br />
precisa gerar inovação e grande investimento<br />
em pesquisa.” Segundo os dados do banco,<br />
o segmento das indústrias recebeu, em 2006, 56%<br />
dos investimentos do BNDES. Em 2021 essa cifra<br />
caiu para 15,9%. Na onda verde e digital, o BNDES<br />
também ficará responsável pela gestão de fundos<br />
como o da Amazônia e o Fust.<br />
MITOS E VERDADES E se teve um banco que<br />
foi alvo de crítica, fake news e especulações nos<br />
últimos anos foi o BNDES. Para reverter essa<br />
imagem, Mercadante esclarece mitos. “Desde<br />
2015 o BNDES devolveu mais de R$ 678 bilhões<br />
ao Tesouro.” Esses repasses são feitos por meio<br />
de quitação de dívida, dividendo e antecipação<br />
de contas a pagar. “Pagamos 60% de dividendos<br />
para o Tesouro. O BB paga 40%. Queremos o<br />
mesmo tratamento.” O BNDES devolveu ao Tesouro,<br />
entre 2008 e 2014, 54% do que pegou.<br />
“Precisamos de um banco mais atuante e de uma<br />
relação de equilíbrio com o Tesouro. Não vamos<br />
disputar mercado com o sistema financeiro privado,<br />
ao contrário”, disse. “Podemos mitigar riscos,<br />
abrir novos mercados, alongar prazos e elaborar<br />
bons projetos de investimento privado.”<br />
Isso só é possível estando perto dos banqueiros.<br />
E, a tirar pela concorrida disputa por cadeira em<br />
sua posse — que ia de Pedro Moreira Salles (Itaú)<br />
a Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) —, essa aproximação<br />
está mais que feita.<br />
ENTREVISTA<br />
Aloizio Mercadante<br />
“Da cooperativa de<br />
catadores até uma<br />
grande empresa, esse<br />
banco estará aberto<br />
a todos”<br />
Qual o papel do BNDES na<br />
nova gestão? Haverá os mesmos<br />
perfis de crédito e subsídios<br />
passados?<br />
Da cooperativa de catadores até<br />
uma grande empresa, esse<br />
banco estará aberto a todos.<br />
Teremos diretrizes, prioridades.<br />
Entre elas Pesquisa &<br />
Desenvolvimento de novas tecnologias,<br />
indústrias verdes e de<br />
baixa emissão de carbono, soluções<br />
de energia limpa. Projetos<br />
que conversem com o futuro que<br />
queremos para o Brasil.<br />
E qual o papel para o BNDES?<br />
O banco precisa estar e apoiar o<br />
empresário que olha para o<br />
mesmo projeto de País. O que<br />
precisamos discutir é a taxa de<br />
juros e como fazer com quem ela<br />
aperte menos o bolso do empresário<br />
menor. Facilitar o acesso.<br />
Não queremos nem retomaremos<br />
os subsídios.<br />
E, diante de tanto a se fazer,<br />
como garantir que as melhores<br />
decisões sejam tomadas<br />
para empréstimos?<br />
Para isso é vital que o BNDES<br />
seja uma instituição plural.<br />
Respeito ao pensamento democrático<br />
pelas diferentes visões de<br />
mundo. O BNDES foi construído<br />
por servidores desenvolvimentistas,<br />
como Ignácio Rangel e Celso<br />
Furtado, e por liberais, como<br />
Roberto Campos. Essa dialética<br />
entre diferentes pensamentos,<br />
feita de modo civilizado e qualificado,<br />
contribuiu muito para o<br />
sucesso do BNDES. Não há espaço<br />
para perseguição. Há espaço<br />
para diálogo. Montamos um time<br />
com ex-ministros, pesquisadores,<br />
acadêmicos, muitos representantes<br />
do mercado financeiro.<br />
Gente da saúde, da educação, da<br />
segurança. Gente do clima, do<br />
meio ambiente. Liberais, conservadores,<br />
progressistas, desenvolvimentistas.<br />
Esse diálogo remonta<br />
à origem do BNDES, mas também<br />
oxigena a nova economia.<br />
A economia que buscamos.<br />
E quais iniciativas formam<br />
essa nova economia?<br />
O BNDES precisa apoiar uma<br />
transição justa na economia de<br />
baixo carbono, bem como promover<br />
a inclusão produtiva e a<br />
reurbanização inteligente visando<br />
construir cidades do futuro.<br />
Transitar em uma economia de<br />
baixo carbono e empregos verdes,<br />
e de baixa emissão é o<br />
imperativo que orientará a estratégia<br />
do banco. Não há futuro<br />
sem preservar a Amazônia e<br />
outros biomas. Essa é uma<br />
prioridade.<br />
E a relação do BNDES com<br />
outros países?<br />
Nosso desenvolvimento passa<br />
também pela integração com a<br />
América Latina e com o Sul global.<br />
O presidente Lula tem toda<br />
razão quando diz que o BNDES<br />
tem que ser um banco parceiro<br />
do desenvolvimento e da integração<br />
nacional. O Brasil é mais<br />
da metade do PIB, território e<br />
população da América do Sul.<br />
Estamos irrevogavelmente inseridos<br />
nesse contexto regional.<br />
O Brasil é grande, mas será ainda<br />
maior quando atuar com seus<br />
vizinhos.<br />
20 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: ALEXANDRE BRUM/AGENCIA ENQUADRAR/AGENCIA O GLOBO
INTERNACIONAL<br />
RECONEXÃO BRASIL-ESTADOS UNIDOS<br />
Lula e Biden começam a virar a página do ciclo Trump-Bolsonaro e reforçar acordos<br />
econômicos, sociais e ambientais entre duas das maiores economias das Américas<br />
Jaqueline MENDES<br />
APAGANDO<br />
INCÊNDIOS<br />
Presidentes se<br />
encontram no dia<br />
10 de fevereiro, e<br />
entre os assuntos<br />
estão defesa da<br />
democracia e<br />
novos acordos<br />
comerciais<br />
Nos últimos quatro anos, a afinidade ideológica e a paridade<br />
intelectual entre os ex-presidentes Donald Trump e Jair<br />
Bolsonaro criaram uma combinação explosiva que ia do<br />
Estreito de Bering ao Chuí. Sem exageros. Eles foram perigosos<br />
para o meio ambiente, colocaram em risco a política externa<br />
de ambos os países, e se tornaram ameaça letal para as minorias.<br />
Mas mesmo fora do baralho, seus legados resistem. A contenção<br />
a esses danos parece unir os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva<br />
e Joe Biden. Como líderes de duas das maiores economias das<br />
Américas (a dos Estados Unidos é a maior do mundo, Canadá vem<br />
em oitavo e o Brasil, em décimo, segundo o FMI), Lula e Biden<br />
planejam elaborar mecanismos de cooperação capazes de fortalecer<br />
a fiscalização contra o desmatamento e até criar políticas<br />
conjuntas de combate às fake news, veneno experimentado por<br />
eles tanto na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, quanto no<br />
ataque terrorista em Brasília, em 8 de janeiro deste ano. Lula<br />
pretende criar o que chama de Grupo da Paz, espécie de clube de<br />
grandes países comprometidos com um compliance nas relações<br />
internacionais. Essa é a extensa agenda prevista para o encontro<br />
entre os dois na sexta-feira (8), em Washington.<br />
Na avaliação do economista Welber Barral, ex-secretário de<br />
Comércio Exterior do governo Lula, o grande tema do encontro<br />
é a defesa da democracia, as relações diplomáticas regionais, e<br />
haverá destaque também para assuntos de relevância comercial,<br />
como o fim das restrições impostas pelos americanos ao aço e ao<br />
alumínio produzidos no Brasil. “Eles terão de fazer um realinha-<br />
mento sobre essas questões econômicas, e<br />
ainda aprimorar o alinhamento com outros<br />
países da América Latina, entre eles a Venezuela<br />
e alguns da América Central.”<br />
Em 2022, apesar do clima pesado entre<br />
Bolsonaro e Biden, a corrente comercial<br />
foi recorde, muito em função dos embarques<br />
brasileiros de alimentos por causa da<br />
guerra na Ucrânia. As exportações no ano<br />
atingiram US$ 88,7 bilhões, segundo a câmara<br />
de comércio Amcham. O valor supera<br />
em 25% o montante do ano anterior. E<br />
se já foi bom com diferenças, agora pode<br />
melhorar. Segundo o economista-chefe da<br />
TM3 Capital, Lucas Dezordi, o mercado<br />
espera que as discussões atraiam investimentos<br />
no combate ao desmatamento e às<br />
mudanças climáticas, “o que no final pode<br />
resultar num maior fluxo de dólares e queda<br />
na taxa de câmbio”. Em 2024, Brasil e<br />
EUA completam 200 anos de relação e Lula<br />
deverá convidar Biden a visitar Brasília<br />
para marcar a data. Até lá, o plano é fortalecer<br />
os negócios e reconstruir o diálogo.<br />
Nisto, Lula e Biden são bem melhores do<br />
que seus antecessores.<br />
FOTOMONTAGEM AFP I ISTOCK<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
21
“Trabalhar com calçados<br />
é viciante,<br />
principalmente, quando<br />
você está em uma<br />
empresa que sabe muito<br />
bem onde quer chegar.”
FINANÇAS<br />
ONDA DE<br />
AJUSTES<br />
DIANTE DO CENÁRIO DE JUROS ALTOS POR MAIS<br />
TEMPO, BANCOS DIGITAIS COMO O C6 BANK<br />
E NUBANK ENXUGAM QUADROS<br />
Fagundes SCHANDERT<br />
24 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
Afesta do dinheiro barato observada<br />
durante os anos mais críticos<br />
da pandemia de Covid-19<br />
em 2020 e 2021 decididamente<br />
acabou. Quando os juros estavam em 2%<br />
ao ano, as fintechs de crédito, plataformas<br />
e assessorias de investimento desafiavam<br />
os grandes bancos. Quando a taxa básica<br />
(Selic) subiu de 2% para 2,75% ao ano em<br />
março de 2021, nenhuma projeção entre<br />
os melhores economistas imaginava que o<br />
ciclo de alta alcançaria 13,75% ao ano em<br />
agosto de 2022. Enfim, com a ponderação<br />
de que o efeito da política monetária demora<br />
alguns meses para ser sentido na<br />
economia, nas últimas semanas, o mercado<br />
financeiro começou a dar sinais do início<br />
de uma onda de ajustes nos negócios.<br />
Ou seja, a realidade bateu e se traduz do<br />
pior jeito: em demissões.<br />
Na segunda-feira (6), o banco digital<br />
C6 passou o facão e, segundo informações<br />
do Sindicato dos Bancários de São Paulo,<br />
mandou embora 500 funcionários, aproximadamente<br />
12% de sua força de trabalho.<br />
Em nota à Reuters, o C6 Bank confirmou<br />
as demissões, sem detalhar o número exato.<br />
“Como é praxe nas empresas que buscam<br />
o melhor nível de eficiência nos mercados<br />
em que estão inseridas, o grupo avalia periodicamente<br />
a produtividade das equipes<br />
e, quando necessário, faz readequações de<br />
cargos e profissionais, bem como adequações<br />
de suas estruturas ao momento do<br />
negócio”, informou a instituição por meio<br />
de nota. O banco acrescentou, ainda, que<br />
“deve encerrar 2023 com 800 contratações<br />
e superará em centenas de posições o número<br />
de profissionais desligados”.<br />
Além do C6, o Nubank também fez cortes.<br />
No caso, específicos para a área de assessoria<br />
de investimentos, que atendia<br />
poucos clientes, e demitiu 40 profissionais.<br />
Em nota, o Nubank parece ter usado a mesma<br />
argumentação que o C6 e produziu uma<br />
resposta muito similar. Informou que, como<br />
muitas empresas, realiza regularmente<br />
ajustes de acordo com as necessidades do<br />
negócio. Segundo a instituição, na prática,<br />
os clientes seguem com seus recursos de-<br />
vidamente aplicados nos investimentos escolhidos, tendo acesso<br />
aos aplicativos Nubank e NuInvest, assim como plataformas de<br />
conteúdo, onde podem obter extenso material sobre investimentos<br />
e educação financeira, sem a necessidade do serviço de assessoria.<br />
No dia 6, o Nubank também anunciou a inclusão do Tesouro<br />
Direto em seu aplicativo, facilitando a vida dos investidores<br />
que antes precisavam mandar ordens para a corretora NuInvest.<br />
Nos dias atuais, ainda é profunda a diferença entre uma boa assessoria<br />
pessoal e um relacionamento com aplicativos, em que a<br />
experiência do usuário nem sempre é a mais completa e funcional.<br />
Nessas horas, os altos executivos não costumam dar as caras<br />
e as instituições se comunicam apenas por meio de notas. Na<br />
cobertura sobre o banco, por exemplo, a Bloomberg citou que o<br />
principal sociofundador do Nubank, o bilionário colombiano<br />
David Vélez, se mudou para o Uruguai há cerca de um ano, e vive<br />
entre a pacata Punta del Este e o bairro de Carrasco, em Montevidéu.<br />
Por aqui, a instituição afirma que aumentou de 6 mil para<br />
8 mil o número de funcionários em 2022 e que segue contratando,<br />
no ritmo adequado para seus planos em 2023.<br />
EFEITO SELIC Na avaliação do fundador da Efund Investimentos,<br />
Igor Romeiro, esse início de demissões é influenciado pela<br />
alta expressiva dos juros, que altera a dinâmica do mercado que<br />
existia nos últimos anos. “No caso do Nubank, o negócio de assessoria<br />
de investimentos não fazia sentido para eles. É diferente<br />
do que fazem XP e BTG que concentram a maior parte dos escritórios<br />
de agentes e ainda crescem com esse modelo”, disse. Sobre<br />
o caso do C6 Bank, Romeiro observou que várias fintechs de<br />
crédito estão demitindo por causa da alta dos juros. “Alguns analistas<br />
prevêem juros de 14% a 15% ao ano, esse é um custo muito<br />
elevado para captação. Na outra ponta, os clientes evitam empréstimos<br />
com juros tão caros na ponta final”, afirmou. “Vamos<br />
ver mais demissões.”<br />
Romeiro afirmou que na época dos juros mais baixos, os salários<br />
do segmento estavam no pico. “Era preciso ter gente para dar<br />
conta de milhões de pessoas que estavam entrando na Bolsa.<br />
Agora, temos até influencers famosos demitindo parte de suas<br />
equipes porque a demanda por informações sobre renda variável<br />
diminuiu.” Refere-se aqui ao Me Poupe, de Nathalia Arcuri, que<br />
cortou 70 pessoas, 50% da equipe. O grupo Primo também fez seu<br />
ajuste. Estaria agora com cerca de 190 pessoas, mas já foram 270.<br />
Para o CEO da fintech Meu Vista, Luiz Fernando Schvartzman,<br />
o segmento de assessoria de investimento está em transformação<br />
no mundo todo, principalmente nos EUA, onde a<br />
atividade é criticada pelo conflito de interesse na oferta<br />
de produtos mais arriscados que são comissionados.<br />
“Eles estão sendo substituídos por planejadores financeiros,<br />
que não recebem comissões por produtos,<br />
um modelo mais transparente para os investidores ”,<br />
disse Schvartzman.<br />
Vamos ver mais<br />
demissões.<br />
As fintechs<br />
vão continuar<br />
exugando,<br />
ajustando<br />
seus custos”<br />
IGOR ROMEIRO<br />
FUNDADOR DA EFUND<br />
INVESTIMENTOS<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
25
FINANÇAS<br />
COMO O<br />
GOVERNO<br />
IMPASSE ENTRE AUMENTO DO ROMBO<br />
FISCAL E CUMPRIMENTO DE PROMESSA<br />
DE CAMPANHA DE LULA PREOCUPA O<br />
MERCADO, MAS PODE ACELERAR A<br />
APROVAÇÃO DA REFORMA TRIBUTÁRIA<br />
PARA COMPENSAR RECEITAS<br />
Jaqueline MENDES<br />
VAI DOMAR<br />
A ISENÇÃO<br />
DO IR?<br />
26<br />
Dinheiro 15/02/2023
Descumprir uma promessa de campanha ou aumentar em<br />
cerca de R$ 5 bilhões no déficit fiscal? A encruzilhada do<br />
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe econômica<br />
tende a pender para a segunda opção. Por meio de<br />
Medida Provisória (MP), Lula está pronto para isentar<br />
a cobrança de Imposto de Renda para trabalhadores que<br />
recebem até dois salários mínimos, segundo fontes ligadas ao<br />
time do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e líderes sindicais.<br />
A decisão deve ser adotada a partir de 1º de maio, o emblemático<br />
Dia do Trabalhador. Se der certo, a faixa de isenção<br />
passa de R$ 1.903 para R$ 2.640. A partir desse valor, há quatro<br />
faixas de cobrança: 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%. E como a última<br />
correção da tabela ocorreu em 2015, a inflação acumulada nos<br />
últimos oito anos empurra trabalhadores que ganham menos<br />
de um salário mínimo e meio para dentro das faixas de cobrança<br />
do Fisco – frustrando, ao menos neste início de governo, a<br />
expectativa da picanha e da cervejinha.<br />
Apesar da folga orçamentária criada pela PEC do Estouro, a<br />
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determina que se indiquem<br />
fontes de compensação. Desde a campanha eleitoral, Lula vinha<br />
prometendo isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por<br />
mês. O que, obviamente, não acontecer neste ano. Mas pelo<br />
menos parte disso terá de ser entregue por Lula. Em encontro<br />
com representantes sindicais no Palácio do Planalto no fim de<br />
janeiro, o presidente reiterou a promessa, apesar de não ter<br />
falado em prazos ou valores.<br />
O que Lula defende agrada sindicalistas, mas preocupa o<br />
mercado. Para Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral<br />
Group, a promessa de aumento de gastos sem indícios de aumento<br />
de arrecadação alimenta das preocupações com a saúde<br />
fiscal da União. “Hoje o mercado está com pouca visibilidade da<br />
real dinâmica fiscal do governo”, afirmou Miraglia. “Essas falas,<br />
sem mostrar de onde virá a contrapartida, aumenta a incerteza<br />
em relação a inflação e os juros sobem. Ou seja, só prejudica.”<br />
O lado bom dessa isenção, além do<br />
alívio ao bolso dos que ganham menos,<br />
pode ser uma aceleração da Reforma Tributária<br />
que deve ser levada ao Congresso<br />
ainda no primeiro semestre, segundo o<br />
economista Fernando Felipe, especialista<br />
da Veedha Investimentos. “Como essa<br />
isenção o governo perde receita num momento<br />
de grande fragilidade na parte fiscal,<br />
a compensação pode estar associada<br />
à aprovação da reforma”, disse.<br />
Segundo o Sindicato Nacional dos<br />
Auditores Fiscais da Receita Federal do<br />
Brasil (Sindifisco Nacional), somente entre<br />
de janeiro de 2019 e junho de 2022, a<br />
defasagem da tabela do Imposto de Renda<br />
somou 26,57%. De 1996 a junho de<br />
2022, o acúmulo é de 147,37%. Para o sindicato,<br />
a falta de correção da tabela atinge<br />
especialmente os mais pobres, que já<br />
perderam poder de compra com a inflação<br />
no período e ainda passariam a ser tributados<br />
com o IR.<br />
A reforma deverá não só sugerir novas<br />
fontes de arrecadação para cobrir o rombo<br />
das contas públicas, como terá de criar<br />
um mecanismo mais confiável de atualização<br />
da tabela do imposto de renda – sem<br />
nenhuma correção desde 2015. A ideia<br />
que deve ser apresentada no retrofit tributário<br />
é substituir uma correção linear<br />
das faixas de cobrança do IR por u sistema<br />
que blinde da inflação as faixas que recebem<br />
os menores salários.<br />
R$5BI<br />
É A PREVISÃO<br />
DE AUMENTO<br />
NO DÉFICIT<br />
FISCAL ESTE<br />
ANO COM A<br />
ISENÇÃO DO<br />
IR PARA<br />
QUEM GANHA<br />
ATÉ R$ 5 MIL<br />
AO MÊS<br />
26%<br />
É A DEFASAGEM<br />
DO IMPOSTO DE<br />
RENDA ENTRE<br />
JANEIRO DE<br />
2019 E JUNHO<br />
DE 2022. NO<br />
ACUMULADO<br />
DESDE 1996 A<br />
DEFASGEM<br />
CHEGA A 147%<br />
OUTRO LEÃO NA LINHA DE FRENTE<br />
O presidente Lula resolveu entrar em uma cruzada durante os 100<br />
primeiros (e talvez mais importantes) dias de seu atual mantado. Era<br />
hora de apresentar projetos, correr, ganhar espaço, mídia e fortalecer a<br />
agenda da frente ampla. Mas ele optou por entrar em outra batalha. Desta<br />
vez com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Em pelo<br />
menos cinco oportunidades desde o inicio de seu governo o petista criticou<br />
as altas taxas de juros. Além de artibuir ao BC o encarecimento do<br />
crédito e da dívida pública, Lula tem cobrado os empresários. “Quando o<br />
BC não era autônomo, era só ter um aumento mínimo que a Fiesp fazia<br />
uma nota de repúdio. Onde estão esses empresários agora? Por que não<br />
cobram?”, questionou. A fala de Lula foi seguida por um silêncio sepulcral<br />
da plateia atenta que acompanhava a posse de Aloizio Mercadante no<br />
BNDES, no Rio de Janeiro, na segunda-feira (6).Lula não parou por aí.<br />
Na visão do petista, não há explicação plausível para a manutenção<br />
do atual patamar da Selic, e segurar a taxa tão alta impedirá o Brasil de<br />
crescer. Ele instou ainda o Senado, que tem autorização para convocar<br />
Roberto Campos Neto, para explicar os caminhos da política monetária.<br />
No Banco Central, o discurso veio em forma da ata após a reunião de 1 o<br />
de fevereiro, quando foi decidido manter a taxa nos atuais 13,75%. Pelas<br />
explicações, o BC joga a batata quente no governo, e culpa a falta de<br />
uma âncora fiscal e a incerteza sobre os gastos como sustentadores de<br />
tais patamares. Briga de leões. (Paula Cristina)<br />
ILUSTRAÇÃO : EVANDRO RODRIGUES I FOTO: ISTOCK<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
27
CAPA<br />
28<br />
Dinheiro 15/02/2023
AS PREVISÕES DA<br />
EXECUTIVOS E CEOS<br />
DE 12 EMPRESAS<br />
DIZEM QUAIS SÃO<br />
AS TENDÊNCIAS –<br />
E O QUE VOCÊ NÃO<br />
PODE DEIXAR DE SABER<br />
Victor MARQUES<br />
T E C N O L O G I A<br />
PARA 2023<br />
Quando o tema é tecnologia, os números são<br />
sempre superlativos. A cada 18 meses a capacidade<br />
de processamento dos computadores<br />
dobra, já temos 1,3 milhão de startups de<br />
TI no mundo, produziremos 463 exabytes de<br />
dados (5 exabytes é o equivalente a todas as<br />
palavras já faladas pelos humanos) até 2025<br />
e haverá ao fim da década pelo menos 500<br />
bilhões de dispositivos conectados à internet.<br />
A lista continua e a perspectiva é de um crescimento<br />
sem freio, até sabe-se lá quando. O<br />
mercado de inteligência artificial deve chegar<br />
a US$ 1,8 trilhão, o de computação quântica<br />
bater em US$ 1,7 trilhão, e o de cibersegurança,<br />
em US$ 1,5 trilhão. Os dados não param<br />
por aí. De acordo com Dell e MIT Technology<br />
Review, 85% dos empregos que existirão<br />
em 2030 ainda não foram inventados. A despeito<br />
de projeções nesses patamares, há um<br />
motto ácido e bem-humorado na tecnologia<br />
que afirma: “prever o que vai acontecer no<br />
longo prazo é fácil, difícil é prever o que vai<br />
acontecer em um ano”. Pois foi esse o desafio<br />
proposto pela DINHEIRO a 12 líderes da indústria,<br />
de empresas dos mais variados recortes<br />
de atuação. Quais as projeções para 2023?<br />
Encararam a tarefa André Miceli (CEO e<br />
editor-chefe da MIT Technology Review Brasil),<br />
Bertrand Chaverot (CEO da Ubisoft Brasil),<br />
Claudia Muchaluat (presidente da Intel Brasil),<br />
Cleber Morais (diretor-geral para o Setor Corporativo<br />
da AWS no Brasil), Diego Torres Martins<br />
(CEO e fundador da unico IDtech), Jessica<br />
Kato (executiva para Dynamics 365 e Power<br />
Platform na Microsoft Brasil), Junior Miranda<br />
(CEO da GreenV), Gustavo Moussalli (vice-<br />
-presidente para América Latina de Oracle<br />
NetSuite), Ricardo Mucci (presidente da Cisco<br />
do Brasil), Rodrigo Gimenes (CTO da ReportFlex<br />
e criador da Robotizia), Tushar Parikh<br />
(country head da TCS no Brasil) e Wagner<br />
Arnaut (CTO de Technology, Cloud e Cognitive<br />
Software da IBM Brasil). Confira o que eles<br />
têm a falar sobre o futuro da tecnologia. A seguir,<br />
suas projeções para este ano, divididas em sete<br />
grandes áreas:<br />
FOTO: ISTOCK<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
29
CAPA<br />
COMPUTAÇÃO<br />
QUÂNTICA<br />
á há um tempo a computação<br />
Jquântica é uma das novas tecnologias<br />
que prometem resolver<br />
os problemas do futuro. A<br />
questão é que ela nunca ganha<br />
escala para invadir o mundo da<br />
pessoa comum. Isso pode começar<br />
a mudar este ano. A IBM, que<br />
atualmente é a líder desse segmento,<br />
pretende lançar ainda em<br />
2023 um computador quântico<br />
com 1,121 qubits (unidades de<br />
processamento), o maior já apresentado<br />
e até 2026 quer lançar<br />
uma máquina com 100 mil qubits.<br />
Além disso, a companhia pretende<br />
desenvolver protótipos de<br />
aplicações para esses sistemas.<br />
“Os computadores quânticos não<br />
são mais um conceito futurista”,<br />
disse Wagner Arnaut, CTO de<br />
Technology, Cloud e Cognitive<br />
Software da IBM Brasil. “Já estamos<br />
explorando como eles podem<br />
ajudar diversos setores.” Os avanços<br />
dessa tecnologia devem contribuir<br />
para resolver os problemas<br />
mais complexos de química, finanças,<br />
previsão do tempo, cibersegurança,<br />
inteligência artificial<br />
(IA)... A lista é longa e crescente.<br />
SEMICONDUTORES<br />
este ano também devemos ver uma revolução<br />
Nnos semicondutores. De certa forma, fruto de<br />
uma crise provocada pela pandemia, em que o<br />
mundo se mostrou dependente da produção<br />
de chips eletrônicos, cuja fabricação está concentrada<br />
em menos de meia dúzia de países — Japão,<br />
Taiwan, EUA e China. Novas fábricas começam a<br />
se espalhar pelo mundo, com a Europa (Alemanha<br />
à frente) entrando com força no jogo. Além do aumento<br />
da produção, haverá inovação. E um novo<br />
projeto chama a atenção, os chips RISC. Eles devem<br />
contribuir para um ambiente de competição atualmente<br />
dominado por poucas empresas. O RISC-V<br />
é um design de microprocessador de código aberto,<br />
cujo desenvolvimento é colaborativo e permite que<br />
os chips sejam personalizados conforme a necessidade<br />
de uso de cada organização. “Os clientes vão<br />
poder comprar um chip de prateleira com recursos<br />
abertos”, disse André Miceli, CEO e editor-chefe<br />
da MIT Technology Review Brasil. “E aí qualquer<br />
empresa vai poder projetar um chip de forma muito<br />
barata e personalizada.”<br />
Computação<br />
Quântica<br />
Quanto vale?<br />
US$ 472 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 1,7 TRILHÃO<br />
em 2026<br />
Fonte:Markets and Markets¹/Fortune Business Insights²<br />
Semicondutores<br />
Quanto vale?<br />
US$ 527,8 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 1,3 TRILHÃO<br />
em 2029<br />
INTELIGÊNCIA<br />
ARTIFICIAL (IA)<br />
rovavelmente a principal ten-<br />
do ano. Basta falar do Pdência<br />
barulho provocado pelo recém-lançado<br />
(entra no terceiro<br />
mês) ChatGPT, que alcançou<br />
100 milhões de usuários em apenas<br />
dois meses, o que forçou gigantes<br />
como Google, Baidu (maior buscador<br />
da China) e Alibaba a entrarem<br />
na corrida, anunciando suas próprias<br />
IAs conversacionais. Rodrigo<br />
Gimenes, criador da Robotizia<br />
(plataforma que utiliza a engine do<br />
ChatGPT para criar aplicações que<br />
facilitam o uso da ferramenta) e<br />
CTO da ReportFlex, entende que<br />
a solução é a que embute maior<br />
risco de mau uso. “Muitas pessoas<br />
não sabem fazer as perguntas certas<br />
para a IA e não conseguem utilizar<br />
seu potencial completo”,<br />
disse. E deve ser esse o risco a driblar<br />
com o uso dessas tecnologias<br />
dentro das empresas. As companhias<br />
devem enxergar a IA como<br />
plataformas que as auxiliam a tirar<br />
o melhor delas, com personalizações<br />
feitas para cada negócio.<br />
Para Claudia Muchaluat, presidente<br />
da Intel Brasil, a potencialização<br />
dos resultados também cria<br />
30 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: PITI REALI | ISTOCK
a oportunidade de viabilizar com<br />
escala aplicações cada vez mais<br />
avançadas em vários setores. “As<br />
tecnologias exponenciais já estão<br />
revolucionando o mundo e viabilizam<br />
modelos de negócios disruptivos”,<br />
afirmou.<br />
Aumento de escala é onde a IA<br />
tem mais probabilidade de contribuir<br />
no mundo dos negócios, principalmente<br />
em setores como de<br />
cadeia de suprimentos, finanças e<br />
marketing. O palco das discussões<br />
entre inteligência artificial, artistas<br />
plásticos e músicos também deve<br />
se intensificar, conforme o debate<br />
entra no campo regulatório e autoral<br />
de vários países, como já acontece<br />
na Europa e nos Estados Unidos.<br />
É provável que comecem a<br />
pipocar novas leis e políticas para<br />
mediar esse cenário. De forma inequívoca,<br />
IA tem tudo para ser o<br />
assunto do ano e uma das maiores<br />
revoluções do período.<br />
Quanto vale?<br />
US$ 196,6 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 1,8 TRILHÃO<br />
em 2030<br />
Fonte: Grand View Research<br />
CIBERSEGURANÇA<br />
cibersegurança virou preocupação<br />
global e o combate ao<br />
A<br />
mercado ilegal de dados se<br />
intensificou. Pelo menos 5<br />
milhões de pessoas no mundo têm<br />
seus dados à venda no mercado<br />
ilegal — 351 mil são brasileiros —,<br />
comercializados por R$ 32,63 em<br />
média, conforme dados da Nord-<br />
VPN. No setor privado, no ano passado,<br />
houve aumento de 38% nos<br />
ataques globalmente em comparação<br />
com 2021, segundo o instituto<br />
de pesquisa Check Point Research.<br />
Foram 1.168 ataques por<br />
semana e os segmentos que mais<br />
sofreram são os de educação, governo<br />
e saúde. Para Ricardo Mucci,<br />
presidente da Cisco do Brasil,<br />
as ameaças tornaram-se mais sofisticadas<br />
e exploram não apenas<br />
brechas em sistemas ou aplicações,<br />
mas principalmente falhas humanas<br />
e nos processos corporativos.<br />
“Empresas de vários setores sofrem<br />
diariamente com a perda de dados,<br />
além de sequestros de máquinas<br />
através de ransomwares”, disse.<br />
Em resposta, as arquiteturas zero<br />
trust (zero confiança) foram construídas<br />
como uma solução mais<br />
efetiva. Ela redefine o perímetro<br />
de segurança e controla individualmente<br />
cada acesso a aplicações,<br />
de qualquer lugar, seja em uma<br />
cloud privada, pública, em uma<br />
rede tradicional ou híbrida.<br />
Também contemplaremos neste<br />
ano um aumento de tecnologias<br />
como a biometria facial, que estarão<br />
em soluções digitais em identidade<br />
e segurança para bancos e<br />
fintechs. Diego Torres Martins,<br />
CEO e fundador da unico IDtech,<br />
diz que “elas facilitam o acesso das<br />
pessoas a bens e serviços com proteção<br />
de dados pessoais, além de<br />
reduzirem fraudes e perdas financeiras”.<br />
Produtos e serviços baseados<br />
em identidade digital podem<br />
ter crescimento de até 91% entre<br />
2022 e 2026, representando um<br />
mercado global potencial de US$<br />
533 bilhões. Também já vemos alguns<br />
países utilizando o reconhecimento<br />
facial para segurança<br />
pública e controle de pessoas, prática<br />
que deve só aumentar. A China<br />
utilizou câmeras de segurança para<br />
monitorar e controlar manifestantes<br />
que criticaram as medidas do<br />
governo ante a pandemia.<br />
Quanto vale?<br />
US$ 150 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 1,5 TRILHÃO<br />
em 2025<br />
Fonte:McKinsey<br />
EMPRESAS DE<br />
VÁRIOS SETORES<br />
SOFREM DIARIAMENTE<br />
COM A PERDA DE<br />
DADOS, ALÉM DO<br />
SEQUESTRO DE<br />
MÁQUINAS ATRAVÉS<br />
DE RANSOMWARES<br />
RICARDO MUCCI<br />
PRESIDENTE DA CISCO DO BRASIL<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
31
CAPA<br />
NUVEM E SUPERAPPS<br />
ada acelerou mais a transformação digital nas<br />
Nempresas do que a computação em nuvem. E<br />
isso vai se multiplicar ainda mais neste ano. “A<br />
nuvem se tornará um pilar central da estratégia<br />
de negócios”, disse Tushar Parikh, country head da<br />
TCS no Brasil. A economia global está forçando as<br />
empresas a reavaliar o verdadeiro valor de suas estratégias<br />
de nuvem usando métricas e posicionando<br />
essa tecnologia como pilar dos negócios. “Isso será<br />
crucial para impulsionar o crescimento, a transformação<br />
e a inovação contínua”, afirmou. Para Cleber<br />
Morais, diretor-geral para o Setor Corporativo da<br />
AWS no Brasil, a nuvem torna as soluções mais acessíveis<br />
tanto no aspecto físico quanto financeiramente.<br />
Um dos setores que mais devem ser afetados por<br />
essa revolução digital será o de esportes. Nos próximos<br />
anos, passará por mudanças nos mais diferentes<br />
níveis do jogo, com a utilização de streaming de vídeo,<br />
dispositivos vestíveis, sensores de internet das coisas<br />
(IoT) e simulações para analisar a segurança e o<br />
desempenho dos atletas.<br />
As novas arquiteturas de rede também proporcionarão<br />
a megadifusão dos superapps. São plataformas,<br />
softwares ou aplicativos que reúnem diversas<br />
funções inter-relacionadas em um único lugar. Elas<br />
podem ser direcionadas tanto ao setor corporativo<br />
o mundo atual, os setores de cadeia de suprimentos<br />
Nestão lidando com petabytes de dados — para se ter<br />
ideia, 50 petabytes seria tudo o que a humanidade<br />
já escreveu em todos os tempos em todas as línguas.<br />
Esse volume de informação se espalha por sistemas lecomo<br />
ao consumidor. A divisão<br />
de NetSuite da Oracle se prepara<br />
para impulsionar a transformação<br />
digital no Brasil para<br />
pequenas e médias empresas<br />
neste ano, com seu superapp,<br />
que atende desde as necessidades<br />
financeiras até o e-commerce.<br />
“As empresas vão utilizar a<br />
nuvem e se organizar para conseguir<br />
continuar investindo”,<br />
disse Gustavo Moussalli, vice-<br />
-presidente para América Latina<br />
de Oracle NetSuite.<br />
Nuvem<br />
Quanto vale?<br />
US$ 484 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 1,5 TRILHÃO<br />
em 2030<br />
Superapps<br />
Sem dados existentes<br />
Fonte:Grand View Research<br />
AS 5 PREVIS Õ<br />
DA TEC N<br />
ROBÔS NO DIA A DIA<br />
Especialistas da Universidade Elon previram,<br />
em 2006, que robôs munidos de inteligência<br />
artificial em 2020 já teriam assumido<br />
completamente atividades profissionais que<br />
dependem de esforço físico.<br />
Nível de erro:<br />
50%<br />
"UM FOGUETE NUNCA VAI SER CAPAZ DE<br />
DEIXAR A ATMOSFERA DA TERRA"<br />
O jornal The New York Times, em 1936, publicou<br />
a frase acima.<br />
Nível de erro:<br />
100%<br />
TELEVISÕES 3D<br />
A falta de aderência do produto se deu pela<br />
necessidade do uso dos óculos e a falta de<br />
conteúdos exclusivos.<br />
Nível de erro:<br />
100%<br />
SUPPLY CHAIN & RECICLAGEM DE BATERIAS<br />
gados, programas de planejamento<br />
de recursos empresariais (ERPs) e<br />
soluções personalizadas, resultando<br />
em uma visão fragmentada de todo<br />
o processo. E cada vez mais dados<br />
entram na equação. As novas tecnologias<br />
ajudarão as empresas de logística<br />
a potencializar as operações, com<br />
mais controle de dados e informações<br />
estratégicas. A Microsoft mergulhou<br />
nessa onda. “Os softwares para o setor<br />
precisam aumentar a visibilidade<br />
das fontes de dados, prever e mitigar<br />
interrupções”, disse Jessica Kato,<br />
executiva para Dynamics 365 e Power<br />
Platform na Microsoft Brasil.<br />
Outro obstáculo logístico que<br />
está na agenda deste ano é endereçado<br />
ao segmento automotivo: a<br />
reciclagem de baterias para veículos<br />
elétricos. A pergunta será o que fazer<br />
com ela após o término de sua<br />
vida útil. Apesar de poder ser reutilizada,<br />
há uma queda de eficiência<br />
natural. Para Junior Miranda, CEO<br />
da GreenV, as empresas terão de<br />
encontrar as melhores maneiras de<br />
aproveitar a capacidade restante<br />
32 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO
ÕES FURADAS<br />
NOLOGIA<br />
GOOGLE GLASS<br />
A big tech americana lançou os óculos<br />
de realidade aumentada em 2013, mas o<br />
acessório foi cancelado já em 2015. Atualmente,<br />
com novas tecnologias, esse tipo de<br />
gadget voltou a ser uma das tendências.<br />
Nível de erro:<br />
“O TELEFONE TEM FALHAS DEMAIS<br />
PARA SER DE FATO CONSIDERADO UM<br />
MEIO DE COMUNICAÇÃO, NÃO TEM<br />
VALOR PARA NÓS”<br />
Memorando público da Western<br />
Union de 1876. A empresa operava<br />
uma extensa linha de telégrafos<br />
através dos Estados Unidos.<br />
Nível de erro:<br />
70%<br />
100%<br />
das baterias de lítio para outros fins.<br />
“Não é um processo simples, mas é<br />
possível.” Como exemplo, a montadora<br />
chinesa BYD quer usar baterias<br />
para criar estações de energia estacionárias,<br />
como os nobreaks de<br />
computadores, que armazenam<br />
energia para emergências.<br />
Quanto vale?<br />
US$ 20,2 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 48,5 BILHÕES<br />
em 2030<br />
Fonte: Gartner/Grand View Research<br />
final de 2021 foi marcado pelo anúncio da Meta,<br />
O<br />
ou Facebook como era chamado na época. A<br />
empresa revelou publicamente um rebranding<br />
completo. Mudou de logo, nome e identidade<br />
de marca, além de anunciar que iria ter como centro<br />
dos seus investimentos o metaverso. Um mundo<br />
digital que envolve o uso de realidade virtual, óculos<br />
virtuais e realidade aumentada que permite ao usuário<br />
abstrair do mundo físico e ter experiências compartilhadas<br />
remotamente. A ideia deriva do mundo<br />
gamer, que contribui há anos com a evolução da<br />
tecnologia, não só para seu universo, mas também<br />
para empresas e negócios diversos. Os óculos utilizados<br />
pela Meta, por exemplo, são provenientes da<br />
compra da Oculus VR, empresa que fabricava o produto<br />
para utilização em jogos com realidade virtual.<br />
“A indústria de games deve continuar a contribuir de<br />
forma direta em 2023 com o avanço da tecnologias<br />
de diferentes frentes”, disse Bertrand Chaverot,<br />
diretor geral da Ubisoft para América Latina. “Isso<br />
inclui do aprimoramento gráfico a simulações dentro<br />
de universos virtuais e tecnologias de IA.”<br />
OS SOFTWARES PARA O SETOR [DE<br />
CADEIA DE SUPRIMENTOS] PRECISAM<br />
AUMENTAR A VISIBILIDADE DAS FONTES<br />
DE DADOS, PREVER E MITIGAR<br />
INTERRUPÇÕES<br />
JESSICA KATO<br />
EXECUTIVA PARA DYNAMICS 365 E POWER<br />
PLATFORM NA MICROSOFT BRASIL<br />
TECNOLOGIAS VIRTUAIS<br />
E METAVERSO<br />
Ao longo de 2022, foram discutidas<br />
as possibilidades desse<br />
metaverso e o meio empresarial<br />
foi enxergando oportunidades de<br />
uso em fábricas, centros de produção<br />
e empresas. Agora ele está<br />
pronto para se multiplicar. É sem<br />
dúvida uma tendência para 2023,<br />
mas principalmente para o setor<br />
privado. Para o público geral, ainda<br />
deve demorar a engatar. Nessa<br />
onda, além da Meta, várias empresas<br />
dos mais diversos segmentos<br />
iniciaram com maior intensidade<br />
o desenvolvimento do próprio<br />
metaverso — Adidas, Budweiser,<br />
Disney, Epic Games, Microsoft,<br />
Nike, Nvidia, Roblox e Tinder estão<br />
nesse time. No metaverso industrial<br />
estão companhias como<br />
Ericsson, a própria Nvidia e a Siemens.<br />
Bem-vindo ao futuro.<br />
Metaverso<br />
Quanto vale?<br />
US$ 120 BILHÕES<br />
Quanto vai custar?<br />
US$ 5 TRILHÕES<br />
em 2030<br />
Fonte: McKinsey<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
33
NEGÓCIOS<br />
GAFISA FAZ REFORMA<br />
34<br />
Dinheiro 15/02/2023
NA GESTÃO<br />
CONSTRUTORA FINALIZA INTEGRAÇÕES E<br />
PROMOVE UMA MULHER AO POSTO DE CEO,<br />
A PRIMEIRA NO CARGO EM 68 ANOS, PARA<br />
AMPLIAR A PARTICIPAÇÃO NO SEGMENTO DE<br />
ALTO PADRÃO NO EIXO RIO-SÃO PAULO<br />
Angelo VEROTTI<br />
POR DENTRO<br />
DO NEGÓCIO<br />
Sheyla Resende<br />
(em frente à<br />
maquete do Tom<br />
Delfim Moreira, no<br />
Rio) trabalha na<br />
Gafisa há 14 anos,<br />
além de ter<br />
participado<br />
da integração<br />
de empresas. No<br />
detalhe, projeto<br />
paulista Tonino<br />
Lamborghini<br />
rês anos de reestruturação. Um período<br />
T<br />
marcado por mudança de plano estratégico,<br />
aquisições, captura de sinergias e,<br />
principalmente, uma nova governança<br />
corporativa. E pode-se dizer que a transformação<br />
promovida pela Gafisa, especialmente<br />
no último quesito, entrou para a história.<br />
Após 68 anos de fundação, a construtora e incorporadora<br />
carioca tem pela primeira vez uma mulher no<br />
comando das operações. A engenheira Sheyla Resende<br />
assume o posto de CEO apoiada por um comitê de<br />
gestão multidisciplinar, composto por outros três<br />
membros. A missão da nova diretoria será a de dar<br />
prosseguimento aos projetos após a integração recente<br />
da Bait Incorporadora, em 2022, e garantir a manutenção<br />
dos bons resultados obtidos nos últimos<br />
trimestres, com destaque para a arrecadação de R$ 1<br />
bilhão em vendas brutas no ano passado, montante<br />
recorde para os últimos cinco anos da companhia e<br />
33% superior ao de 2021. “Agora vamos seguir a estratégia<br />
dentro daquilo que foi planejado. Continuaremos<br />
no segmento de altíssimo padrão, um plano que já está<br />
definido, bem concretizado”, disse.<br />
A CEO teve participação total nas mudanças<br />
promovidas pela Gafisa desde a retomada efetiva dos<br />
negócios, em 2020 — empresa chegou a ficar quase<br />
dois anos estagnada, por problemas financeiros. Há<br />
14 anos no quadro de colaboradores da companhia<br />
(são 500 atualmente), sendo quatro em cargos de<br />
direção, Sheyla chegou a assumir as frentes de gestão<br />
e qualidade, em 2019. “Estive lado a lado com os<br />
principais líderes nos últimos anos. Participei da<br />
estratégia do dia a dia e fui a responsável por fazer a<br />
integração de todas as empresas adquiridas”, disse<br />
ela, em referência, também, à compra da Upcon Incorporadora,<br />
em 2021. “As movimentações e aquisições<br />
realizadas nos últimos três anos estão alinhadas<br />
ao posicionamento estratégico de focar em produtos<br />
com alto valor agregado, em regiões nobres, nas cidades<br />
de São Paulo e Rio de Janeiro.” As duas sedes<br />
da Gafisa, segundo a executiva, atuarão com unicidade<br />
em gestão e cultura organizacional, mantendo<br />
a visão financeira de geração de caixa.<br />
Pelo novo organograma o comitê de gestão terá<br />
um novo diretor financeiro (CFO) — a ser anunciado<br />
— e outros dois atuais diretores da empresa. Luis<br />
Fernando Ortiz, colaborador da Gafisa há 12 anos,<br />
quatro deles como diretor de incorporação, assume o<br />
cargo de vice-presidente de Negócios e passa a gerir<br />
também marketing, comercial, novos negócios e a<br />
área de jornada do cliente. Renata Yamada, na empresa<br />
desde o início da reestruturação, em 2019,<br />
passa a ocupar o posto de vice-presidente de Gestão<br />
& Jurídico. “Uma empresa com a nossa dimensão<br />
demanda uma combinação de experiências na condução<br />
de seus negócios”, afirmou Sheyla. Renata<br />
FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO Dinheiro 15/02/2023<br />
35
NEGÓCIOS<br />
ALICERCE<br />
DA GAFISA<br />
Fundação:<br />
1954 (68 anos)<br />
Empreendimentos entregues:<br />
1,2 mil (16 milhões de m2)<br />
Colaboradores:<br />
500<br />
Clientes:<br />
1,5 milhão (um em cada 130 brasileiros)<br />
Atuação:<br />
40 cidades em 19 estados<br />
Redes sociais:<br />
500 mil seguidores<br />
Yamada ressalta a composiçnao<br />
do grupo de trabaho. “Esse comitê<br />
tem a competência e a expertise<br />
combinada para gerar um grande<br />
ganho nas decisões estratégicas<br />
da Gafisa.”<br />
Sheyla se mostra preparada<br />
para possíveis adversidades. “Os<br />
grandes desafios que temos como<br />
empresa são aqueles que as demais<br />
do mercado hoje sofrem, e que não<br />
controlamos, que são os fatores<br />
externos”, disse. ”Mas quando olho<br />
para dentro de casa, temos terrenos<br />
muito bem localizados, muito<br />
bem posicionados. Queremos ter<br />
a marca atrelada ao altíssimo padrão.”<br />
A estratégia é, também,<br />
prestar um serviço diferenciado<br />
para o atendimento ao segmento.<br />
A empresa criou a jornada do cliente,<br />
que visa estruturar a experiência<br />
do consumidor desde o momento<br />
em que pisa no estande tendo<br />
contato com o vendedor até o pós-<br />
-obra. “É trazer esse cliente para<br />
o centro do nosso negócio.”<br />
Apesar de a Gafisa ter erguido<br />
empreendimentos em 40 cidades<br />
de 19 estados, municípios fora do<br />
eixo Rio-São Paulo não fazem parte<br />
do portfólio de produtos. “Com<br />
a aquisição da Bait vieram muitos<br />
projetos, então temos hoje uma<br />
força relevante no Rio de Janeiro<br />
e também em São Paulo.” E a disposição<br />
da bandeira para investir<br />
na classe mais alta das sociedades<br />
paulista e carioca fica evidente em<br />
empreendimentos como o Tom<br />
Delfim Moreira, no Leblon, prédio<br />
de altíssimo luxo em construção na<br />
Cidade Maravilhosa e com estimativa<br />
de conclusão em 2024. Com<br />
apenas seis unidades, a partir de<br />
283 m², o projeto teve o metro quadrado<br />
comercializado por mais de<br />
R$ 80 mil — a cobertura de 501 m²<br />
acabou vendida por R$ 42 milhões,<br />
ou R$ 83,8 mil o m². O Valor Geral<br />
de Vendas (VGV) é de R$ 190 milhões.<br />
Outro exemplo, agora em São<br />
Paulo, é o Tonino Lamborghini San<br />
Paolo, nos Jardins. A conclusão do<br />
condomínio está prevista para<br />
2025, com 17 apartamentos-tipo<br />
(252 m² cada) — além da cobertura<br />
duplex (498 m²) — em uma torre<br />
e 96 estúdios em outra — entre 21<br />
m² e 37 m². Serão 114 unidades no<br />
total com R$ 300 milhões de VGV.<br />
O preço chega a R$ 40 mil o m².<br />
Para Ortiz, uma das principais<br />
estratégias de uma empresa para<br />
se posicionar no alto padrão é analisar<br />
se a localização combina com<br />
o empreendimento. “Há uma estratégia<br />
muito grande de aquisição<br />
de terrenos e geralmente ela é importante<br />
e difícil”, afirmou. “Para<br />
você ter uma ideia, em São Paulo<br />
possuímos três terrenos, dois no<br />
Itaim e outro nos Jardins. Muito<br />
bem localizados. São propostas de<br />
lançamento para o ano e estamos<br />
estudando a hora certa de colocar<br />
no mercado.” No Rio de Janeiro, a<br />
empresa tem atualmente quatro<br />
empreendimentos em frente ao<br />
mar. “Tanto em São Paulo quanto<br />
no Rio queremos estar com as melhores<br />
qualidades possíveis de empreendimentos<br />
nesse padrão.”<br />
O vice-presidente de Negócios<br />
destaca ainda a participação de<br />
arquitetos estrangeiros nos projetos.<br />
Um movimento realizado já<br />
há três anos e que transmitiu à<br />
Gafisa mais maturidade para novos<br />
negócios. “Acho que a arquitetura<br />
volta a ser protagonista depois de<br />
muitos anos”, disse ele. “Posso<br />
dizer só para finalizar que todos<br />
os produtos que fizemos de alto<br />
padrão tiveram uma ótima velocidade<br />
de vendas nos últimos dois<br />
anos. Então, o que a gente fez tem<br />
dado resultado. Isso nos encoraja<br />
cada vez mais a investir nesse segmento”,<br />
afirmou o executivo.<br />
O comitê<br />
de gestão tem<br />
a competência<br />
e a expertise<br />
combinada<br />
para gerar um<br />
grande ganho<br />
nas decisões<br />
estratégicas<br />
da Gafisa”<br />
RENATA<br />
YAMADAO<br />
VICE-<br />
PRESIDENTE<br />
DE GESTÃO<br />
& JURÍDICO<br />
Posso<br />
dizer que<br />
todos os<br />
produtos que<br />
fizemos de<br />
alto padrão<br />
tiveram<br />
uma ótima<br />
velocidade<br />
de vendas”<br />
LUIS<br />
FERNANDO<br />
ORTIZ<br />
VICE-<br />
PRESIDENTE<br />
DE NEGÓCIOS<br />
36<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
FOTOS: CLAUDIO GATTI
Rede varejista<br />
anuncia saída do<br />
quarto presidente<br />
em cinco anos e<br />
mais uma vez tenta<br />
reestruturar sua<br />
operação<br />
MARISA EM CRISE INTERNA<br />
ADEUS<br />
Adalberto Pereira<br />
dos Santos já<br />
apontava os<br />
desafios da<br />
concorrência no<br />
final de 2022<br />
Lara SANT’ANNA<br />
vai não vai da Marisa, uma das maiores varejistas<br />
Ode moda do País, já perdura há tempos Nos últimos<br />
cinco anos, a companhia teve quatro presidentes.<br />
O último CEO, Adalberto Pereira dos Santos, renunciou<br />
na terça-feira (7), menos de 12 meses após<br />
assumir o cargo. Saiu também Marcelo Adriano Casarin,<br />
membro do conselho de administração. Junto das despedidas,<br />
veio o anúncio da contratação da BR Partners<br />
para assessoramento no processo de renegociação do<br />
endividamento de R$ 566,1 milhões e a Galeazzi Associados<br />
para apoiar no “aperfeiçoamento da estrutura de<br />
custos”, conforme fato relevante. A dança das cadeiras<br />
no comando da rede não preocuparia o varejo em tempos<br />
de paz. Mas hoje preocupa. O último movimento na<br />
cúpula da Marisa acende o sinal de alerta sobre uma<br />
importante empresa varejista, em um setor ainda assustado<br />
e ressabiado com os desdobramentos do escândalo<br />
da possível fraude de R$ 47,9 bilhões da Americanas.<br />
Os números mais recentes da Marisa ainda são desconhecidos,<br />
mas o balanço do terceiro trimestre de 2022<br />
(os mais recentes), mostram que a situação financeira<br />
é complexa. Na época, a companhia possuía uma posição<br />
de caixa de R$ 183,3 milhões, enquanto a dívida líquida<br />
chegava a R$ 566,1 milhões. No mesmo período, a queima<br />
de caixa somou R$ 72,7 milhões, e o faturamento R$<br />
2,5 bilhões, 16,3% a mais que no ano anterior.<br />
Diversos fatores ajudam a explicar a atual situação<br />
da companhia. Olhando especificamente para o negócio,<br />
segundo a sócia e analista da Nord Research, Danielle<br />
Lopes, os motivadores são o MBank, serviço financeiro<br />
da empresa, e a gestão de estoque.<br />
Para a analista, o perfil de clientes<br />
atendidos para crédito, com score<br />
baixo, elevou a inadimplência e<br />
custa caro. “Todo o aumento de capital<br />
que vimos a empresa fazer, o<br />
dinheiro foi direcionado para estes<br />
dois pontos [MBank e estoque].”<br />
Já considerando uma análise<br />
sobre o setor de moda, é impossível<br />
não pontuar a concorrência estrangeira.<br />
Brigando pelos mesmos clientes<br />
que os da Marisa, empresas como<br />
a Shein conseguiram oferecer melhores<br />
opções e condições, e o varejo<br />
nacional não foi capaz de se adaptar.<br />
Na conferência de apresentação<br />
do resultado do terceiro trimestre<br />
de 2022, o então presidente Adalberto<br />
dos Santos já antecipava os<br />
desafios. “São players de tamanha<br />
magnitude que talvez não valha a<br />
pena, seja impossível até bater de<br />
frente”, afirmou.<br />
R$ 566 MILHÕES<br />
VALOR DA DÍVIDA<br />
LÍQUIDA DA MARISA<br />
Outra peça dessa história é o<br />
próprio varejo com sua característica<br />
intrínseca: o crédito. Segundo o<br />
diretor-geral da Faculdade do Comércio,<br />
Wilson Rodrigues, o setor<br />
necessita do dinheiro de bancos para<br />
suprir as suas necessidades, especialmente<br />
a de capital de giro, poder<br />
vender a prazo e lidar com fornecedores.<br />
“Todas as grandes varejistas<br />
têm passivos”, disse. Questão que<br />
até janeiro não era vista com maiores<br />
problemas, até que, no dia 11 daquele<br />
mês estourou o escândalo da Americanas<br />
e isso mudou todo o jogo.<br />
Segundo Rodrigues, a fraude<br />
gerou um “estresse no varejo brasileiro”<br />
e fez com que o mercado financeiro<br />
ficasse mais atento e dificultasse<br />
o acesso ao crédito,<br />
prejudicando a operação de parte<br />
das varejistas. Como reação a tudo<br />
isso, a Marisa iniciou um processo<br />
de mostrar ao mercado que está se<br />
movimentando para resolver suas<br />
dívidas. A empresa, que não quis<br />
conceder entrevista e disse que se<br />
manifesta apenas por meio de fato<br />
relevante, tenta se antecipar a um<br />
problema que pode se tornar maior.<br />
A Americanas sabe bem disso.<br />
FOTO: DIVULGAÇÃO<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
37
NEGÓCIOS<br />
EXPANSÃO<br />
SEM FIM<br />
Pedro Monteiro<br />
prevê a realização<br />
de eventos anuais<br />
para divulgar a<br />
modalidade<br />
NFL ENSAIA NOVA JOGADA<br />
BRASIL VIVE AUMENTO EXPONENCIAL DO NÚMERO DE FÃS DO<br />
FUTEBOL AMERICANO EMBALADO PELO SUPER BOWL Angelo VEROTTI<br />
O<br />
futebol é historicamente o esporte número<br />
um na preferência do torcedor brasileiro.<br />
Ano após ano, porém, o outro<br />
futebol (que chamamos de americano)<br />
ganha destaque nos gramados pelo País.<br />
Entre 2015 e 2021, o alcance de fãs declarados<br />
da modalidade cresceu dez vezes,<br />
saltando de 3 milhões para 33 milhões<br />
de pessoas, segundo números do Ibope<br />
Repucom. “E neste ano vamos atingir um<br />
crescimento de 8%, para 35 milhões”,<br />
disse à DINHEIRO Pedro Rego Monteiro,<br />
CEO da Effect Sport, agência representante<br />
da NFL (liga de futebol americano,<br />
na sigla em inglês) no Brasil.<br />
O crescimento da modalidade por aqui<br />
também fica evidenciado pela participação<br />
dos fãs nas redes sociais. Atualmente,<br />
o Brasil é o segundo país do mundo em<br />
número de seguidores, com 2 milhões,<br />
atrás apenas dos Estados Unidos. E por<br />
aqui a temporada vai fechar com mais de<br />
meio milhão de novos fãs. Marcelo Paiva,<br />
head de Conteúdo da Effect Sport, diz que<br />
mensalmente são 50 milhões de visualizações<br />
dos conteúdos. “Além de mais de<br />
5 milhões de engajamentos”, disse. Os<br />
números representam crescimento de<br />
50% em relação ao ano passado. “Em termos<br />
de social media, será o melhor ano<br />
38 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: LUCIANA WHITAKER | FREDERIC J. BROWN / AFP
POR DENTRO DO SUPER BOWL 57<br />
Finalistas:<br />
Philadelphia<br />
Eagles e<br />
Kansas City<br />
Chiefs<br />
Custo da inserção<br />
comercial:<br />
US$ 7 MILHÕES<br />
por 30 segundos<br />
Horário da<br />
decisão:<br />
20h30<br />
(Brasília)<br />
Previsão de<br />
arrecadação:<br />
US$ 500<br />
milhões<br />
que tivemos. Vamos para mais 2,5 milhões de brasileiros seguindo<br />
a NFL nas redes.” O gênero dos fãs é predominantemente<br />
masculino, com idade entre 24 e 40 anos.<br />
O aumento do número de adeptos no País está, na visão de<br />
Paiva, relacionado a um conjunto de fatores: juntam-se a transmissão<br />
pela TV aberta (Rede TV!), a existência de uma forte<br />
comunidade de amantes do esporte, de criadores de conteúdo<br />
e um elevado número de praticantes. “A Confederação Brasileira<br />
de Futebol Americano tem 20 mil atletas registrados. São<br />
mais de 400 times no Brasil, cada um deles com divisões de<br />
bases, disputando diversas ligas”, afirmou. Um exemplo é o Rio<br />
Preto Weilers, de São José do Rio Preto (SP). “A cidade abraçou<br />
a equipe de futebol americano, que faz parte da elite no cenário<br />
nacional. Localmente, ela é até mais popular do que a de futebol,<br />
que não é tão competitiva.”<br />
O próximo passo para o desenvolvimento da NFL no País<br />
será a abertura de loja própria, como ocorre com a NBA (liga<br />
americana de basquete, na sigla em inglês), o que deve acontecer,<br />
segundo o CEO Pedro Monteiro, em futuro não tão distante.<br />
Atualmente, os fãs podem adquirir produtos relacionados<br />
às franquias nos sites da Netshoes, por meio de um acordo com<br />
a Fanatics, parceira global da NFL. “Mas temos varejistas oficiais<br />
como a Sport America, por exemplo, que possui uma gama<br />
importante de produtos.”<br />
Transmissão:<br />
Rede TV!<br />
e ESPN e<br />
Star+<br />
Premiação:<br />
Show<br />
intervalo:<br />
Rihanna<br />
De US$ 105 MIL a<br />
US$ 115 MIL por atleta<br />
ATUAL<br />
CAMPEÃO<br />
O Los Angeles Rams<br />
(amarelo e azul) foi<br />
o campeão do<br />
Super Bowl 2022<br />
ao derrotar o<br />
Cincinnati Bengals<br />
a data passar em branco. Pela primeira vez<br />
a capital São Paulo será palco do NFL in<br />
Brasa, festival com experiências esportivas,<br />
gastronômicas e musicais programado<br />
para sábado e domingo no Komplexo<br />
Tempo, na Mooca. O investimento chega<br />
a R$ 2,5 milhões. “Mas não esperamos<br />
lucro nesta primeira edição”, disse o CEO.<br />
“A nossa missão maior como agência da<br />
NFL no Brasil é aumentar a base de fãs da<br />
liga por aqui. Aproximar o esporte em<br />
termos de visibilidade, notoriedade.”<br />
O NFL in Brasa estava previsto para o<br />
período entre 2019 e 2020, mas acabou<br />
adiado por causa da pandemia. O evento<br />
une esporte e entretenimento, apresentando<br />
atrações musicais e a transmissão<br />
ao vivo do Super Bowl, e traz para o Brasil<br />
o conceito tailgate, tradicional nos estádios<br />
americanos, com festival de churrasco. Os<br />
torcedores também poderão vivenciar<br />
experiências NFL ao longo do evento: lançar<br />
como um quarterback, arriscar um<br />
field goal (chutar a bola entre as traves),<br />
dar tackles (pancadas) em adversários.<br />
Com parceiros como Diageo, Unilever e<br />
Ambev, a edição marca o começo de uma<br />
nova fase da NFL no Brasil. A ideia de Monteiro<br />
é criar eventos anuais para ampliar<br />
a participação e a base de fãs do esporte<br />
no País, estratégia que diante dos números<br />
obtidos pela NFL nos últimos anos revela-<br />
-se um perfeito touchdown.<br />
SUPER BOWL 57 A paixão do torcedor brasileiro pela NFL<br />
deverá ser colocada à prova no domingo (12) quando está programada<br />
a decisão da temporada com a partida entre Philadelphia<br />
Eagles e Kansas City Chiefs, a partir das 20h30 de Brasília, no<br />
State Farm Stadium, no Arizona. E a Effect Sport não quer deixar<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
39
LIDERANÇA<br />
NEGÓCIOS<br />
SALTO<br />
PARA<br />
ASICS DOBRA<br />
INVESTIMENTOS<br />
NO BRASIL PARA SE<br />
APROXIMAR DOS<br />
CONSUMIDORES<br />
E SE CONSOLIDAR<br />
NO TOPO DO<br />
MERCADO DE<br />
TÊNIS DE CORRIDA<br />
Beto SILVA<br />
Corrida sempre foi o core da Asics,<br />
empresa japonesa de artigos esportivos<br />
criada em 1949. Nesses 74 anos<br />
de história, correr é um verbo que faz<br />
ainda mais sentido atualmente para<br />
a companhia que trabalha para retomar o<br />
fôlego perdido nos últimos cinco anos. O rendimento<br />
da marca já não estava sendo bom<br />
antes mesmo da pandemia. Após registrar<br />
receita global de US$ 3,04 bilhões em 2017<br />
(conversão de iene para dólar feita na quarta-<br />
-feira, 8), os anos seguintes foram de queda<br />
até chegar ao faturamento de US$ 2,5 bilhões<br />
em 2020. Recuperou-se em 2021, com vendas<br />
totais de US$ 3,07 bilhões, com lucro líquido<br />
de US$ 116 milhões. Apesar de o balanço do<br />
ano passado ainda não estar fechado, a expectativa<br />
é de crescimento, alcançando o melhor<br />
resultado dos últimos dez anos. A performance<br />
foi boa na maioria dos países e o Brasil tem<br />
sido um dos pilares dessa retomada. Por aqui,<br />
a companhia investiu nos últimos dois anos<br />
o dobro do aportado em 2019, último ano<br />
antes da pandemia, segundo o CEO da Asics<br />
na América Latina, Alexandre Fiorati. Um<br />
salto para consolidar a companhia na liderança<br />
da categoria tênis de corrida no País. “Tivemos<br />
crescimento substantivo a partir de<br />
2019, fazendo com que a subsidiária Brasil<br />
ganhe relevância dentro do mundo Asics.<br />
Estamos investindo cada vez mais na América<br />
Latina”, disse Fiorati à DINHEIRO durante<br />
o Brand Day da marca, realizado dia 2, no<br />
Allianz Parque, em São Paulo.<br />
Tecnologia é um dos motes que serão trabalhados<br />
neste ano. A inovação foi ressaltada<br />
em um dos principais lançamentos de 2023,<br />
o modelo GEL-Nimbus 25, com 20% mais<br />
40 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO
com aberturas de outras lojas no Brasil e na região. Continuaremos<br />
essa jornada gradualmente”, afirmou o CEO. A operação brasileira tem<br />
ainda equipes de desenvolvimento e qualidade que trabalham junto às<br />
fábricas parcerias que produzem os calçados por aqui e estão localizadas<br />
principalmente no sul do País. “Brasil é um polo de desenvolvimento<br />
regional”, afirmou o executivo. Cerca de 65% dos tênis<br />
comercializados aqui são produzidos internamente e os outros<br />
35% são importados das plantas asiáticas da marca.<br />
A<br />
ESTRATÉGIA E<br />
TECNOLOGIA<br />
CEO na América<br />
Latina, Alexandre<br />
Fiorati aposta na<br />
Asics House para<br />
se aproximar<br />
do consumidor<br />
brasileiro. Acima,<br />
o recém-lançado<br />
GEL-Nimbus 25<br />
espuma FF Blast comparado com a versão<br />
anterior. O tênis foi considerado o mais<br />
confortável em um teste cego realizado pelo<br />
instituto The Biomechanics Lab, da Austrália.<br />
Neste ano serão apresentadas de seis a<br />
dez novidades no mercado global, que imediatamente<br />
chegam ao Brasil. Anos atrás<br />
havia um delay entre a data de lançamentos<br />
no exterior e a comercialização no País. “O<br />
consumidor está conectado e exige essa<br />
dinâmica”, disse Fiorati.<br />
Os calçados Asics estão disponíveis em<br />
grandes redes varejistas de esportes e em<br />
14 lojas próprias espalhadas pelo Brasil,<br />
sendo quatro chamadas full price e dez outlets.<br />
Na América Latina, há outras quatro<br />
unidades: três no Chile e uma na Colômbia,<br />
aberta no segundo semestre do ano passado.<br />
“Temos a intenção de expandir em 2023<br />
APROXIMAÇÃO O executivo apontou ainda que os patrocínios<br />
a atletas e eventos serão intensificados durante<br />
este ano. Atualmente são 18 profissionais do esporte que<br />
levam o nome da Asics, mais que o dobro de 2019. São<br />
atletas running, triatlo, tênis e — novidade neste ano —<br />
esporte paralímpicos. Entre os mais renomados está o<br />
tenista Marcelo Melo, número 1 do mundo em duplas por<br />
56 semanas (entre 2017 e 2018), campeão de<br />
duplas de Roland Garros (2015) e de Wimbledon<br />
(2017). Outra aposta da companhia<br />
japonesa para se aproximar dos<br />
consumidores brasileiros é a Asics<br />
House, inaugurada em outubro no<br />
Parque Bruno Covas, localizado ao<br />
longo da Marginal Pinheiros, em<br />
São Paulo. O espaço funciona<br />
como um hub para corredores<br />
— profissionais e amadores<br />
— que oferece serviços de<br />
apoio como guarda-volumes,<br />
hidratação e personalização<br />
de camisetas, além de oferecer<br />
experimentação dos principais<br />
tênis da marca com consultoria<br />
de especialistas. A área<br />
também serve a ações de marketing<br />
e eventos da empresa.<br />
MERCADO<br />
GLOBAL DE TÊNIS<br />
MERCADO ACIRRADO O Brasil representa<br />
aproximadamente 80% da receita<br />
da Asics na América Latina. Os itens de<br />
running são responsáveis por 75% das vendas no<br />
País. A marca possui outras três categorias: core performance<br />
sports (produtos de modalidades como tênis, vôlei e handebol);<br />
casual; e vestimenta. Em todas as linhas de negócios a companhia japonesa<br />
enfrenta outro grandes players globais, como Nike, Adidas e a<br />
conterrânea Mizuno. A disputa pelo mercado de calçados esportivos<br />
é acirrada e bilionária. Mundialmente movimentou US$ 127,31 bilhões<br />
em 2021 e deve crescer para US$ 196,5 bilhões até 2030, segundo a<br />
consultoria Facts and Factors. Oportunidades que a Asics corre para<br />
alcançar antes dos concorrentes.<br />
US$ 127,31 BILHÕES<br />
foi o faturamento em 2021<br />
US$ 196,5 BILHÕES<br />
é a projeção de faturamento para 2030<br />
5%<br />
é a taxa de crescimento anual<br />
composta (CAGR )<br />
entre 2022 e 2030<br />
Fonte: Facts and Factors<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
41
NEGÓCIOS<br />
G R U P O<br />
LEONORA<br />
QUER SER<br />
O PRIMEIRO<br />
DA CLASSE<br />
EMPRESA NACIONAL<br />
DE MATERIAIS<br />
ESCOLARES QUE<br />
CONCORRE COM AS<br />
GIGANTES BIC E<br />
FABER-CASTELL<br />
APROVEITA O INÍCIO<br />
DO ANO LETIVO<br />
PARA LANÇAR 400<br />
PRODUTOS E SE<br />
APROXIMAR DA<br />
META DE FATURAR<br />
R$ 500 MILHÕES<br />
Lara SANT’ANNA<br />
D<br />
ois hábitos de consumo se destacam no<br />
período de volta às aulas. Um é o dos<br />
estudantes que adoram conhecer novidades<br />
e se abastecer de lápis, canetas,<br />
cadernos e outros itens usados em seu<br />
dia a dia das escolas. Outro é dos pais, quase<br />
sempre apreensivos com as despesas exorbitantes<br />
com os itens de papelaria. Para conciliar<br />
o desejo de uns e a cautela de outros, o Grupo<br />
Leonora, que atua há 39 anos no setor, tem<br />
adotado duas estratégias certeiras: diversificar<br />
os produtos e praticar preços abaixo da concorrência.<br />
Com 1,4 mil itens no portfólio, a<br />
fabricante brasileira se destaca por vender mais<br />
barato que as multinacionais Bic e Faber-Castell.<br />
Neste início de ano, os resultados já são<br />
recordes. “A volta às aulas de 2023 tem sido<br />
especial. Crescemos 50% pautados em mais<br />
de 400 lançamentos e grande parceria com<br />
nossos clientes em todo Brasil”, disse o CEO<br />
do Grupo Leonora, Alberi Rodrigues.<br />
A projeção é fechar o ano fiscal, que<br />
considera o período de abril de 2022 a março<br />
de 2023, com faturamento de R$ 390<br />
milhões. Já para o ciclo que se encerra em<br />
2024 a expectativa é alcançar R$ 500 milhões,<br />
meta que vem acompanhada de esforços<br />
de promoção em toda a cadeia. Mais<br />
da metade do que a empresa fatura no ano<br />
vem das compras de material escolar entre<br />
os meses de dezembro e fevereiro. Dada a<br />
importância do período, é nele que se concentram<br />
os investimentos do grupo em<br />
marketing, com maior aproximação do<br />
consumidor por meio promoções, lançamento<br />
de produtos e aumento da capilaridade<br />
dos pontos de venda.<br />
A Leonora possui presença nacional,<br />
com distribuição em mais de 12 mil lojas,<br />
de pequenas papelarias até grandes redes<br />
42 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK I DIVULGAÇÃO
como Kalunga, Le Biscuit e Americanas — inclusive está na extensa<br />
lista de credores da varejista que entrou em recuperação<br />
judicial após protagonizar o maior escândalo contábil do País.<br />
Para o diretor de negócios e membro do conselho do Grupo Leonora,<br />
Edson Cardoso Teixeira, a atual crise da Americanas não<br />
impacta de forma profunda a empresa, já que não há concentração<br />
de parceiros no faturamento. Segundo ele, o maior cliente em<br />
concentração representa 3% do faturamento. Mas o episódio<br />
afeta o setor no quesito distribuição. “A preocupação é pela perda<br />
de pontos de venda e pelo mercado ficar mais fragilizado”, afirmou.<br />
Além das grandes redes parceiras, no ambiente on-line a participação<br />
da Leonora tem crescido graças à possibilidade de alcançar<br />
clientes menores, que seus representantes de venda não conseguiam.<br />
Considerando as vendas para empresas e as diretas para<br />
o público, o e-commerce representa 5,5% do faturamento. Uma<br />
receita bem menor que a obtida com licitações junto aos governos<br />
municipal e estadual. Por meio delas, a empresa pode fornecer<br />
itens incluídos nos kit escolares da rede pública de todo o Brasil,<br />
em conjunto com outras marcas autorizadas. Essa frente representa<br />
hoje 18% do faturamento do grupo.<br />
OS NEGÓCIOS<br />
DO GRUPO<br />
LEONORA<br />
Ano de fundação:<br />
1984<br />
Faturamento previsto<br />
2023/2024:<br />
R$ 500<br />
MILHÕES<br />
Portfólio:<br />
1,4 MIL SKUS<br />
Clientes:<br />
12 MIL<br />
NEGÓCIOS:<br />
Papelaria e<br />
escritório:<br />
Leo & Leo<br />
Leo Arte<br />
Jocar Office<br />
Acessórios<br />
Eletrônicos:<br />
Letron<br />
Logística:<br />
LeoLog<br />
Corporate<br />
Venture Builder:<br />
Leonora<br />
Ventures<br />
NA PONTA<br />
DO LÁPIS<br />
CEO do Grupo<br />
Leonora, Alberi<br />
Rodrigues<br />
comemora<br />
crescimento de<br />
50% nas vendas<br />
do período de<br />
volta às aulas<br />
em 2023<br />
NOVOS NEGÓCIOS Em 2020, quando<br />
o Grupo Leonora completou 36 anos de<br />
existência, seus executivos decidiram<br />
mudar e ir além do setor de papelaria.<br />
Naquele ano foi criada uma Corporate<br />
Venture Bulding, a Leonora Venture,<br />
para atrair e apoiar startups com soluções<br />
para o varejo e para a educação. “A ideia<br />
foi reverberar aqui dentro o espírito de<br />
inovar”, disse Teixeira. Atualmente o<br />
programa conta com 12 iniciativas, mas<br />
140 já passaram pelo processo de seleção.<br />
Já no ano seguinte a Leonora entrou no<br />
segmento de acessórios eletrônicos, como<br />
carregadores, caixas de som e teclados.<br />
Promissor, este mercado cresce conforme<br />
a vida passa a ser mais digital, inclusive<br />
o aprendizado, motor de vendas do<br />
Grupo. Atualmente a Letron representa<br />
apenas 5% do faturamento, mas a meta<br />
é que sua participação responda por algo<br />
entre 15% a 18%.<br />
A Leonora não possui fábricas para<br />
seus produtos. A maioria dos itens eletrônicos<br />
e de papelaria são importados,<br />
com produção concentrada na Ásia, onde<br />
a empresa consegue melhores contratos<br />
que permitem o objetivo de preços baixos<br />
no produto final. No entanto, a pesquisa<br />
por novidades e o desenvolvimento<br />
dos mesmos são feitos por uma<br />
equipe interna. Com 14 milhões de caixas<br />
de lápis vendidas entre dezembro de<br />
2022 e fevereiro de 2023, o Grupo Leonora<br />
comprova que seu caminho está<br />
muito bem desenhado.<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
51
NEGÓCIOS<br />
A CONQUISTA DOS<br />
EUA (À BRASILEIRA)<br />
Empresário Richard Harary se transforma de Rei<br />
das Malas em Rei dos Enxovais e mira Fortune 500<br />
Naira ZITEI<br />
Há momentos únicos na jornada de uma empresa em que<br />
ela está exatamente na mesma distância de seu duro<br />
início e de seu futuro promissor. Uma espécie de meio<br />
da ponte. É onde se encontra a Marco Corporation,<br />
holding de mais de uma dúzia de marcas fundada e presidida<br />
nos Estados Unidos pelo brasileiro Richard Harary. A ambição<br />
para chegar ao fim da ponte não é pequena. Na declaração de<br />
Visão da companhia, o objetivo é se tornar uma Fortune 500<br />
— o restrito clube das maiores corporações americanas por<br />
faturamento. Hoje, a Marco tem receitas anuais de US$ 100<br />
milhões. Será preciso multiplicar por 60 esse número para<br />
alcançar o sonho. Harary não se incomoda com o desafio e está<br />
convicto da fórmula. “Ter sempre o mesmo empenho que tínhamos<br />
ao começar”, afirmou à DINHEIRO.<br />
O começo de sua trajetória seguiu de certa forma a de seu<br />
pai, o imigrante egípcio Samy Harary, que se mudou para o<br />
Brasil aos 18 anos. Era funcionário da Ford quando comprou<br />
uma máquina de fazer meias e a partir dela criou uma grande<br />
manufatura no segmento. Foi na mesma idade que o filho Richard<br />
se mudou, no meio da década de 1990, para estudar nos<br />
Estados Unidos. Logo depois, Richard abriu o primeiro negócio<br />
ao comprar, com US$ 7 mil, uma empresa de bagagens.<br />
META<br />
DEFINIDA<br />
Richard Harary<br />
partiu para a<br />
Flórida com<br />
18 anos e o<br />
sonho de cursar<br />
psicologia. Criou<br />
um grupo que<br />
fatura US$ 100<br />
milhões<br />
6 ACERTOS E 3 ERROS DO EMPREENDEDOR<br />
O QUE FAZER<br />
1. Amor<br />
“Não foque apenas na<br />
técnica, mas em<br />
construir uma equipe”<br />
4. Atenção<br />
a detalhes<br />
“Fazem total diferença<br />
Detalhes dão sua cara ao<br />
negócio e fazem com que<br />
você seja lembrado”<br />
O QUE EVITAR<br />
1. Desfocar<br />
“Não perca o foco. E<br />
cuidado com distrações. Se<br />
você não é mais necessário,<br />
comece algo diferente”<br />
Em 1999, ele começou a anunciar suas<br />
malas no eBay, que existia havia poucos<br />
anos. A mudança do comércio físico para<br />
o digital permitiu também que ampliasse<br />
o portfólio. “Vendia de tudo, até peruca,<br />
mas sempre focado nas marcas mais<br />
fortes”, afirmou. Tornou-se um dos maiores<br />
vendedores do eBay nos EUA. Em<br />
2007, Richard Harary notou uma lacuna<br />
no segmento de carrinhos de bebês. Surgia<br />
o embrião da MacroBaby, principal<br />
empresa da holding. Paralelamente, ele<br />
vivia o nascimento da primeira filha,<br />
Gabriella, e notou que também no mundo<br />
de enxovais havia poucas opções.<br />
Pronto. Em poucos anos a marca se tornou<br />
referência, conhecida como a Disneylândia<br />
dos produtos de bebês.<br />
O Rei das Malas morreu para se tornar<br />
o Rei dos Enxovais. “Meu pulo do<br />
gato sempre foi ir atrás do cliente. E ele<br />
está nas maternidades”, afirmou Richard<br />
Harary. O empresário diz que pessoas do<br />
mundo todo costumam ir a Orlando fazer<br />
o enxoval dos filhos. Para quem partiu<br />
para os Estados Unidos interessado apenas<br />
em cursar psicologia na University<br />
of South Florida (USF), conquistar o<br />
sonho da Fortune 500 é somente questão<br />
de tempo e de continuar a jornada.<br />
2. Treinar sempre<br />
“Treino nos aperfeiçoa.<br />
Não existe treino<br />
‘demais’ quando se tem<br />
um objetivo”<br />
5. Renovar<br />
“Tenha sempre o<br />
empenho que teve<br />
no começo. Vale<br />
para tudo que você<br />
não quer que acabe”<br />
2. Agir<br />
emocionalmente<br />
“Na pandemia, em<br />
muitos momentos agi<br />
por emoção, o que me<br />
custou um bom dinheiro”<br />
3. Padronizar<br />
“Processos, metodologias,<br />
atendimento... Assim se<br />
medem pontos fortes e de<br />
melhoria”<br />
6. Mirar na<br />
lucratividade<br />
“Muitos focam em<br />
faturamento. Eu digo:<br />
jamais desista de ser<br />
uma empresa com lucro”<br />
3. Inflar o ego<br />
“Há empresas que<br />
crescem sem<br />
controle devido ao<br />
ego. Isso pode acabar<br />
até com as gigantes”<br />
44 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO I JONATAS LIMA
ESG<br />
O NORTE DA<br />
ENERGIA VERDE<br />
Com mais de R$ 2,1 bilhões de ativos,<br />
a Brasil BioFuels capta R$ 133,4 milhões por<br />
meio de emissão de debêntures para implantar<br />
termelétricas de base renovável em Roraima<br />
Anna FRANÇA<br />
nico estado do Brasil que não está conectado ao Sistema<br />
ÚInterligado Nacional (SIN) de energia elétrica, Roraima<br />
convive há anos com apagões. O problema ficou ainda mais<br />
grave desde março de 2019, quando foi interrompida a<br />
parte do fornecimento que era feita pela vizinha Venezuela.<br />
Para não ficar no escuro, o estado depende de cinco termelétricas<br />
movidas a diesel. Elas geram 203,5 megawatts (MW), o que responde<br />
por 43% da demanda. O restante é complementado por<br />
térmicas a biomassa, gás natural, e pela hidrelétrica de Jatapu.<br />
É de olho na oportunidade de levar energia renovável para<br />
Roraima que a Brasil BioFuels (BBF) investe em projetos na<br />
região. O mais recente envolveu uma emissão de debêntures<br />
para captar R$ 133,4 milhões destinados a finalizar a implantação<br />
de duas usinas termelétricas movidas a óleos vegetais e biomassa.<br />
A BBF é uma das maiores produtoras de óleo de palma da<br />
América Latina. “Estamos trazendo parceiros para um projeto<br />
completamente sustentável, que une descarbonização da Amazônia<br />
e desenvolvimento socioeconômico da região com foco<br />
em geração de emprego no Norte do País”, disse o CEO do Grupo<br />
BBF, Milton Steagall.<br />
Criada em 2009, a empresa foi uma das primeiras a oferecer<br />
soluções de energia renovável para os chamados sistemas isolados<br />
do SIN, que somam 212 unidades no País, a maior parte na<br />
região Norte, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico.<br />
Até agora, o abastecimento depende majoritariamente de termelétricas<br />
a diesel, combustível caro e que gera mais emissões<br />
de CO2. Segundo Steagall, os projetos da empresa são menos<br />
poluentes e aproveitam as condições locais de forma sustentável,<br />
recuperando áreas vegetais degradadas.<br />
A BBF opera térmicas com<br />
integração de óleos vegetais e biomassa.<br />
Ao todo são 38 usinas espalhadas<br />
por cinco dos sete estados<br />
da região Norte, das quais 25 estão em<br />
operação e 13 em implantação. A capacidade total de geração é<br />
de 50 megawatts (MW), quase 25% do que é gerado pelo uso de<br />
óleo diesel em Roraima. A empresa abastece suas usinas com<br />
parte do que produz em 68 mil hectares de palma. Suas três<br />
unidades de esmagamento fornecem 200 mil toneladas de óleo<br />
por ano. Empregando 6 mil funcionários, o grupo possui R$ 2,1<br />
bilhões em ativos, faturando R$ 1,7 bilhão. Segundo o CEO da<br />
assessoria amazonense Dom Investimentos, Gabriel Maksoud,<br />
projetos com apelo de sustentabilidade como os da BBF têm tido<br />
boa receptividade no mercado de capitais. Para o professor de<br />
economia da Faculdade de Comércio de São Paulo (FAC-SP)<br />
Denis Medina, a modalidade é vantajosa do ponto de vista tributário.<br />
“Debêntures de infraestrutura são interessantes para<br />
o investidor pela isenção de imposto”, afirmou Medina.<br />
SUSTENTÁVEL<br />
O CEO do Grupo BBF,<br />
Milton Steagall, em<br />
uma das unidades<br />
da empresa que<br />
produz 200 mil<br />
toneladas de óleo<br />
de palma por ano<br />
a partir de 68 mil<br />
hectares plantados<br />
e gera eletricidade<br />
em 25 termelétricas<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
45
10<br />
“ESG NÃO É UMA ÁREA DA<br />
EMPRESA, É UMA FORMA DE SER<br />
E DE ENCARAR O MUNDO DOS<br />
NEGÓCIOS”<br />
PERGUNTAS PARA<br />
RODRIGO SANTINI<br />
DIRETOR-EXECUTIVO<br />
DO SISTEMA B BRASIL<br />
Lana PINHEIRO<br />
Diante da necessidade de dar mais<br />
credibilidade aos compromissos<br />
com as boas práticas ESG,<br />
empresas aumentaram a busca<br />
por certificações. São muitas as disponíveis<br />
no mercado, mas poucas as que possuem<br />
expressão global — condição relevante,<br />
pois permite o imediato reconhecimento<br />
e comparabilidade dos resultados pelos<br />
mais diversos agentes sociais. Uma delas<br />
é a fornecida pelo Sistema B, movimento<br />
mundial de identificação de empresas<br />
que utilizam seu poder de mercado para<br />
solucionar problemas sociais e ambientais<br />
do planeta. No comando da entidade no<br />
Brasil está Rodrigo Santini, que comemora<br />
o crescimento de 38% entre as certificadas<br />
em 2022 contra 2021. “Há um crescimento<br />
exponencial na busca por certificações<br />
de empresas B diante do avanço da<br />
agenda ESG”, disse Santini à DINHEIRO.<br />
Um movimento que deve continuar e até<br />
melhorar após o caso da Americanas que,<br />
mesmo participando do seleto grupo do<br />
Índice de Sustentabilidade da B3 (ISE B3),<br />
enfrenta grave crise de governança. “Fatos<br />
como esse trazem aprendizados para todos<br />
e nos faz evoluir em critérios e métricas”.<br />
Como parte decorrente da maturidade<br />
da agenda ESG, alguns novos conceitos<br />
surgem. Exemplo é a economia B. O que<br />
significa e quais seus princípios?<br />
RODRIGO SANTINI — A economia B é<br />
aquela que tem a intencionalidade de<br />
trazer soluções sociais e ambientais para<br />
os desafios que a sociedade enfrenta.<br />
Ser uma empresa B significa participar<br />
da construção de um sistema econômico<br />
que seja mais inclusivo, equitativo e<br />
46<br />
Dinheiro 15/02/2023
egenerativo. Esses negócios endereçam<br />
questões importantes e fazem parte<br />
da construção de uma jornada para<br />
um futuro no qual a gente tenha maior<br />
sustentabilidade.<br />
É possível uma empresa tradicional se<br />
remodelar para integrar a economia<br />
B, ou é preciso que o impacto<br />
socioambiental seja o core do negócio?<br />
A empresa pode sair de qualquer um<br />
desses lugares. O que interessa não é<br />
tanto de onde ela sai, mas sim para onde<br />
vai. Avaliamos uma empresa B por diversos<br />
critérios e atribuímos pontos a cada um<br />
deles. Então, claro que uma organização<br />
que nasce com a missão de resolver um<br />
problema socioambiental já parte de<br />
uma pontuação mais alta. Mas aquelas<br />
que estão na jornada de ser mais<br />
responsáveis com a comunidade e com<br />
o meio ambiente podem chegar lá. No<br />
Sistema B, temos um assessment que<br />
ajuda as corporações a identificarem em<br />
que etapa desse caminho ela está. É um<br />
aprendizado contínuo.<br />
Quais critérios são cruciais para integrar<br />
a economia B?<br />
São cinco grandes pilares. Governança,<br />
que avalia as políticas internas.<br />
Colaboradores, como as empresas tratam<br />
questões como saúde e remuneração<br />
dos funcionários, por exemplo. Em<br />
Comunidade, analisamos a relação das<br />
organizações com fornecedores e também<br />
com os grupos do entorno da empresa.<br />
Em Clientes, com seus consumidores. E<br />
em Meio Ambiente, com o planeta. Juntos,<br />
eles cobrem os três aspectos do ESG.<br />
Mas por que escolher uma certificação<br />
como essa? Qual valor agregado?<br />
Ao se autoavaliar e ao submeter esses<br />
cinco pontos a uma certificadora, a<br />
empresa consegue uma estrutura ESG<br />
forte e que conversa com outras empresas<br />
globalmente, porque os critérios são os<br />
mesmos. Assim, a organização passa a<br />
conseguir se comparar com outras e a<br />
identificar onde ela está na jornada.<br />
É uma referência que considera não só a<br />
questão ambiental — que está mais no<br />
foco das empresas — como também o<br />
lado social e de governança. Os três de<br />
maneira integrada.<br />
A integração dos pilares ESG fica mais<br />
evidente com os avanços da discussão<br />
da relação da justiça climática com<br />
a justiça social. Como o mundo<br />
corporativo se correlaciona com<br />
a intersecção dessas agendas?<br />
Falar de justiça social significa pensar<br />
nas vidas que são afetadas pelo processo<br />
das mudanças climáticas. Um exemplo<br />
da intersecção desses pontos com as<br />
empresas é a questão salarial. Empresas<br />
nas quais o salário médio do funcionário<br />
é muito discrepante ao pago aos altos<br />
executivos retratam e alimentam uma<br />
sociedade com distribuição de renda<br />
desigual. Isso pode significar, por exemplo,<br />
a formação de comunidades que colocam<br />
pessoas em situação de moradia de<br />
maior vulnerabilidade climática e social.<br />
Impactos como esse não foram pensados<br />
no passado e agora se tornam críticos.<br />
Já há cidades ou estados trazendo<br />
a lógica da economia B para a gestão<br />
pública?<br />
Sim. Há duas semanas, lançamos o SP+<br />
B. A ideia é unir a iniciativa privada e a<br />
pública para gerar soluções de impacto<br />
para a cidade de São Paulo. O mesmo<br />
modelo está em curso no Rio de Janeiro<br />
(Rio+B) e em Barcelona ( Barcelona+B),<br />
por exemplo. Nelas e em outras cidades<br />
há uma união intersetorial para resolver<br />
as vulnerabilidades das cidades. Nós<br />
chamamos Sistema B, inclusive, porque<br />
é preciso criar um ecossistema que<br />
una financiadores, empresas e governo<br />
com ferramentas como certificações,<br />
controles, estatutos.<br />
Nesse ecossistema qual é o papel do<br />
consumidor?<br />
A primeira questão é compreender o<br />
lugar que esse consumidor ocupa. O que<br />
esse consumidor pode fazer: que tipo de<br />
modelo de consumo escolhe ter, como<br />
consome impactando menos. Quando<br />
ele escolhe um produto B, ele compra a<br />
responsabilidade da empresa nos cinco<br />
pilares que falamos anteriormente.<br />
Quando uma empresa comercializa um<br />
produto que não oferece nenhum tipo de<br />
solução positiva para a sociedade, alguém<br />
paga o preço. Inclusive quem o compra.<br />
Por isso, o aumento da consciência do<br />
consumidor é tão importante.<br />
Mas essa consciência não acaba na hora<br />
que o preço não cabe no bolso?<br />
A sensibilização ao preço existe, mas os<br />
consumidores demandam cada vez mais<br />
produtos de impacto positivo. O processo<br />
não é em linha reta, de vez em quando há<br />
um passo para trás, para depois evoluir.<br />
Não é utopia pensarmos que teremos<br />
todos os agentes políticos, econômicos<br />
e governamentais alinhados em uma<br />
economia de impacto?<br />
Não quero acreditar que seja utopia senão<br />
eu não estaria aqui. Mas acredito que<br />
existe uma coisa arquetípica perigosa que<br />
é rotular algo como do bem ou do mal.<br />
As questões são mais complexas. Cabe<br />
à sociedade civil cobrar ações positivas<br />
para que essas empresas mudem. É<br />
como eu disse. É importante olhar para<br />
onde a empresa está indo e criar uma<br />
governança para que essa jornada de boas<br />
práticas seja constante, parte de uma<br />
cultura organizacional e que não dependa<br />
somente das pessoas que passam<br />
pela empresa. ESG não é uma área da<br />
empresa, é uma forma de ser e de encarar<br />
o mundo dos negócios.<br />
Falando em governança, lembramos o<br />
caso da Americanas que mesmo bem<br />
pontuada no Índice de Sustentabilidade<br />
da B3 (ISE B3) é protagonista de uma<br />
das maiores crises financeiras do<br />
País. Como assegurar que mesmo as<br />
certificadoras não sejam ludibriadas<br />
com falsas posturas ESG?<br />
Certificadoras, empresas e organizações<br />
aprendem com os fatos. É aquela história<br />
de trocar o pneu com o carro andando.<br />
Estamos vivendo o momento em que<br />
muitas das ferramentas e dispositivos<br />
estão sendo criados. Para se ter uma<br />
ideia, 80% dos negócios de impacto<br />
no País ainda estão em fase inicial,<br />
42% não possuem indicadores e 33%<br />
têm indicadores, mas não medem os<br />
resultados. Por isso, é necessário uma<br />
sociedade civil empoderada que consiga<br />
balizar o mercado sobre o que ele tem que<br />
olhar. Temos que estar juntos e revendo<br />
os processos. Agora mesmo o Sistema<br />
B lançou uma consulta pública para<br />
atualizar os padrões de certificação B.<br />
Os novos padrões devem ser<br />
apresentados em 2024.<br />
FOTO: CLAUDIO GATTI<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
47
Dinheiroembits POR VICTOR MARQUES<br />
P&D É O<br />
NEGÓCIO<br />
DA<br />
CHINA<br />
US$ 456<br />
bilhões<br />
Foi o total gasto em<br />
P&D pela China em<br />
2022<br />
Fonte: Departamento Nacional de Estatísticas<br />
CHAT GPT: 100 MILHÕES DE USUÁRIOS EM DOIS MESES<br />
É isso mesmo que você leu: 100 milhões de usuários foi a quantidade de usuários que<br />
a inteligência artificial (IA) da Open AI, o Chat GPT, acumulou em dois meses de<br />
existência, o que pode ser considerada como a aplicação com crescimento mais<br />
rápido da história. Para efeito de comparação, o TikTok levou nove meses para<br />
alcançar os mesmos números. A IA é a nova queridinha do mundo da tecnologia e tem<br />
como um dos maiores investidores a Microsoft, que já começou a agregar as funções<br />
a seus sites, programas e aplicativos como o buscador Bing e o Microsoft Teams.<br />
66%<br />
GOOGLE ANUNCIA COMPETIDOR DO CHAT GPT<br />
Não havia dúvida de que a Google correria atrás dessa possível concorrência<br />
com o ChatGPT. Dito e feito. A companhia americana anunciou que trabalha em<br />
uma IA conversacional (com as mesmas características do competidor)<br />
chamada Bard. Já era hora. Ainda mais com a Microsoft integrando o serviço<br />
concorrente ao seu buscador, as chances de o Google ficar para trás não são<br />
gigantes. Mas... existem. A plataforma da big tech utilizará a versão atualizada<br />
de uma IA já existente nos projetos, a Lambda.<br />
Foi a alta do preço<br />
(inflação corrigida) de um<br />
iPhone top de linha desde<br />
o lançamento do iPhone<br />
3GS em 2009. Segundo<br />
Tim Cook, CEO da Apple, as<br />
pessoas estão dispostas a<br />
pagar mais pelo “melhor”<br />
48 Dinheiro 15/02/2023 INFOGRÁFICO: FABIO X | FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO
10,4%<br />
de aumento anual<br />
2,55%<br />
do PIB do país no<br />
ano passado<br />
O APP QUE<br />
MELHORA O<br />
TRANSPORTE<br />
PÚBLICO<br />
US$ 28,71<br />
bilhões<br />
foi o investimento<br />
em pesquisa básica<br />
7,4%<br />
de<br />
aumento<br />
anual<br />
6,32%<br />
dos gastos totais<br />
em P&D<br />
“UMA MÁQUINA PODE<br />
FAZER O TRABALHO DE<br />
50 HOMENS COMUNS,<br />
MAS NENHUMA PODE<br />
FAZER O TRABALHO<br />
DE UM HOMEM<br />
EXTRAORDINÁRIO”<br />
WEBSITE PARA CHAMAR DE SEU<br />
1,12<br />
BILHÃO<br />
É o<br />
número<br />
de<br />
websites<br />
no mundo<br />
ELBERT HUBBARD (1856-1915)<br />
FILÓSOFO E ESCRITOR NORTE-AMERICANO<br />
18%<br />
deles estão ativos<br />
82%<br />
deles estão inativos<br />
Transporte público no Brasil é<br />
uma piada, quer você resida nas<br />
grandes capitais ou no interior.<br />
Os problemas vão desde atrasos,<br />
até dificuldades no pagamento,<br />
coisas que seriam facilmente<br />
resolvidas embarcando<br />
tecnologia de simples acesso<br />
atualmente. Quando os<br />
governantes não resolvem os<br />
problemas, geralmente quem<br />
traz a saída é o mundo privado. É<br />
essa a proposta do aplicativo<br />
mineiro Kim, que busca entregar<br />
facilidades para o usuário de<br />
transporte público brasileiro –<br />
inclui recarga on-line do cartão<br />
de transporte, geração de QR<br />
Code para pagamento da<br />
passagem pelo próprio celular e<br />
até mapa com atualização dos<br />
horários dos ônibus em tempo<br />
real. Medidas simples, que já<br />
estão presentes em algumas<br />
cidades, principalmente nas<br />
capitais, mas que muitas vezes<br />
não são 100% funcionais. O<br />
aplicativo está presente em<br />
mais de 48 cidades no Brasil e<br />
registrou aumento de 250 mil<br />
usuários em 2022. Já são mais de<br />
630 mil pessoas usando o Kim.<br />
Dinheiro 15/02/2023 49
CONTE<br />
TECNOLOGIA<br />
Como a plataforma<br />
que comercializa<br />
produtos digitais<br />
(de videoaulas a<br />
e-books) tornou-se<br />
a maior do mundo<br />
e superou a marca de<br />
US$ 1 bi em vendas<br />
Beto SILVA<br />
TRAJETÓRIA<br />
CEO da Hotmart,<br />
João Pedro<br />
Resende: janeiro<br />
foi o melhor mês<br />
da história da<br />
empresa<br />
ada escolha, uma renúncia. E<br />
C<br />
suas consequências. Essa máxima<br />
esteve na cabeça dos<br />
amigos João Pedro Resende<br />
e Mateus Bicalho no início de<br />
2011. Era uma decisão difícil. Após<br />
se formarem em ciência da computação<br />
pela PUC-MG em 2004 e terem<br />
uma experiência negativa com<br />
a primeira empreitada no mundo<br />
dos negócios — naufragou em 2007<br />
o projeto da startup Mobworks, desenvolvedora<br />
de aplicativos —, eles<br />
voltaram ao mercado de trabalho.<br />
Trabalharam na mesma empresa.<br />
Resende como gerente de TI e Bicalho<br />
como arquiteto de software<br />
em uma companhia de tecnologia<br />
da capital mineira. Sem desistir do<br />
sonho de empreender, concomitantemente<br />
se dedicaram à criação de<br />
uma empresa de venda de produtos<br />
digitais. Basicamente pequenos manuais<br />
e livros em PDF produzidos<br />
por terceiros. Montaram uma plataforma<br />
e colocaram à venda um<br />
50 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: DIVULGAÇÃO
EÚDO DE BILHÃO<br />
e-book que Resende havia escrito para ajudar iniciantes<br />
a usarem o Google Ads. O faturamento do primeiro mês,<br />
em fevereiro de 2011, foi de R$ 180. Sim, cento e oitenta<br />
reais. E foi neste momento que os amigos tiveram de<br />
fazer uma escolha importante, que mudaria suas vidas:<br />
ou ficavam sem tempo, pois trabalhavam como CLT e<br />
nas horas vagas atuavam em seu próprio empreendimento,<br />
ou sem dinheiro, pois teriam de deixar a empresa<br />
em que trabalhavam. Optaram por permanecer sem<br />
dinheiro, mas com tempo.<br />
Pediram demissão para tocar a companhia que tinham<br />
acabado de abrir, a Hotmart. “Alguém publicou<br />
um conteúdo digital e outra pessoa comprou: era a<br />
prova de que precisávamos. Não éramos os únicos<br />
loucos que víamos que isso era viável”, disse à DINHEI-<br />
RO João Pedro Resende, CEO e cofundador. “Era só<br />
multiplicar essa receita para termos um grande negócio.”<br />
Não foi tão simples assim. Mas o fato é que multiplicaram<br />
por milhões. E agora ultrapassaram US$ 1 bilhão em<br />
GMV (Gross Merchandise Volume, ou Volume Bruto<br />
de Mercadorias), com 35 milhões de usuários na plataforma,<br />
580 mil produtos ativos (entre e-books, videoaulas,<br />
podcasts, audiobooks, entre outros conteúdos),<br />
vendas em 188 países e 1,5 mil colaboradores em suas<br />
operações por Brasil, Colômbia, Espanha, Estados Unidos,<br />
França, Holanda e México. “Hoje somos a maior<br />
empresa do mundo no que fazemos”, afirmou Resende.<br />
O CONTEÚDO DA HOTMART<br />
35 MILHÕES<br />
de usuários<br />
1,5 MIL COLABORADORES<br />
em 7 países (Brasil, Colômbia, Espanha,<br />
EUA, França, Holanda e México)<br />
580 MIL<br />
produtos cadastrados<br />
MARCOS Pelos números e o atual<br />
patamar alcançado pela Hotmart,<br />
a escolha feita 12 anos trás mostrou-<br />
-se certa. Depois dela, algumas consequências<br />
foram importantes na<br />
trajetória da companhia, situações<br />
que o executivo chama de “marcos”.<br />
O primeiro deles logo em seu ano<br />
inaugural. Em busca de investimentos,<br />
a Hotmart participou de um<br />
concurso de startups do serviço de<br />
comparação de compras Buscapé.<br />
Superaram 800 outras ideias, venceram<br />
a competição e receberam<br />
R$ 1 milhão da premiação. “Isso nos<br />
deu fôlego. O desafio era continuar<br />
o negócio e crescer”, disse Resende.<br />
Em seguida, foi investida por<br />
Kees Koolen, o fundador do<br />
Booking.com. Em 2015, a companhia<br />
lançou o meio de pagamento<br />
Hotpay, o primeiro constituído no<br />
Brasil que processava moedas de<br />
outros países. Isso possibilitou a<br />
expansão internacional, a partir de<br />
2017. Dois anos mais tarde entraram<br />
no negócio os fundos General Atlan-<br />
188 PAÍSES<br />
com vendas registradas<br />
US$ 1 BILHÃO<br />
em vendas gerais de<br />
conteúdo digital<br />
tic e GIC — os valores não foram<br />
divulgados. Capitalizada, a Hotmart<br />
fez um movimento fora do padrão<br />
em 2020: comprou a Teachable,<br />
plataforma americana de cursos<br />
on-line. “É raro uma empresa brasileira<br />
adquirir a líder do setor nos<br />
Estados Unidos”, afirmou o CEO da<br />
Hotmart. Entre outros aportes recebidos,<br />
em março de 2021 mais um<br />
marco que fortaleceu a edtech foi a<br />
captação de US$ 130 milhões em<br />
rodada série C liderada pelo TCV,<br />
famoso fundo americano que já<br />
colocou dinheiro em gigantes como<br />
Airbnb, Facebook e Netflix.<br />
Neste momento a empresa aprimora<br />
os mercados em que já atua e<br />
amplia sua atuação na América Latina,<br />
principalmente México e Colômbia.<br />
Enquanto isso, comemora<br />
bons resultados: crescimento de<br />
dois dígitos em 2022 comparado<br />
com 2021 — o percentual exato é<br />
tratado com sigilo — e começa 2023<br />
com “janeiro excelente”, nas palavras<br />
de Resende “É o melhor mês<br />
da história da empresa. O que não<br />
é óbvio, porque nossa Black Friday<br />
em novembro é muito forte.”<br />
A empresa mudou de tamanho.<br />
O valuation está acima de US$ 1 bilhão.<br />
Mas o modelo de negócio continua<br />
o mesmo de quando foi inaugurada,<br />
inclusive com o mesmo<br />
percentual de comissão. Criadores<br />
de conteúdo colocam seus produtos<br />
à venda na plataforma e a Hotmart<br />
fica com 9,99% da transação. Há 12<br />
anos a contabilidade fecha no azul,<br />
segundo o CEO. Escolha que tem<br />
dado resultado.<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
51
TECNOLOGIA<br />
EM DIREÇÃO A NOVOS PÚ<br />
Logitech expande<br />
linha de produtos no<br />
Brasil com foco no<br />
teletrabalho híbrido e<br />
novos públicos<br />
Victor MARQUES<br />
s computadores não são nada sem os acessórios,<br />
Oou periféricos. Isso se confirma com dados do<br />
mercado global de periféricos, que chegou ao<br />
valor de US$ 407,1 bilhões em 2021 e deve alcançar<br />
US$ 1,1 trilhão até 2028, segundo relatório<br />
da SkyQuest. Para acompanhar essa onda de<br />
crescimento, a Logitech prepara no Brasil um conjunto<br />
de lançamentos com o foco em expandir a atuação<br />
com públicos diferentes, como o feminino, e<br />
melhorar o home office para todos.<br />
A empresa baseada na Suíça,<br />
com faturamento global em 2022<br />
de US$ 5,4 bilhões, chegou ao Brasil<br />
em 2011 e desde então vem expandindo<br />
seu portfólio no País,<br />
tanto através do segmento gamer<br />
quanto no chamado público convencional,<br />
atuando com o consumidor<br />
final e também diretamente<br />
com empresas. “Nossa aposta<br />
52 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: CLAUDIO GATTI | DIVULGAÇÃO
Nossa aposta<br />
para este ano<br />
é criar essa<br />
sintonia entre<br />
o mundo<br />
híbrido e o<br />
escritório<br />
JAIRO ROZENBLIT<br />
PRESIDENTE DA<br />
LOGITECH BRASIL<br />
BLICOS<br />
para este ano é criar essa sintonia<br />
entre o mundo híbrido e o escritório“,<br />
disse à DINHEIRO Jairo Rozenblit,<br />
presidente da Logitech<br />
Brasil. A empresa acaba de lançar<br />
nacionalmente uma linha focada<br />
nesse objetivo.<br />
O trabalho a distância é uma<br />
herança da pandemia e, assim como<br />
algumas empresas entenderam a<br />
necessidade de melhorar seus equipamentos e também<br />
os de seus colaboradores, o movimento deve se expandir<br />
junto ao aumento de instituições que adotam<br />
o modelo de trabalho totalmente a distância e o<br />
híbrido. Para atender a essa nova demanda, a<br />
companhia investiu em pesquisas com mais de<br />
3 mil trabalhadores remotos para entender as<br />
suas condições de trabalho. O resultado foi um<br />
mix de queixas que variavam de iluminação<br />
ruim com ângulos de câmeras desfavoráveis<br />
a som de baixa qualidade dos alto-falantes de<br />
seus laptops. A partir dessas informações, foram<br />
lançados produtos que visam atender essas dores:<br />
as webcams da Linha Brio, com os modelos 300 e<br />
500, teclados e mouses sem fio, como o combo MK470,<br />
e duas opções de headset, o Zone 100 e o H390 (fones<br />
de ouvido que possuem um microfone acoplado).<br />
A perícia da marca em fabricar produtos de qualidade<br />
e referência para o público gamer é também<br />
utilizada na nova linha para home office e escritórios,<br />
utilizando tecnologias como a conexão wireless 2,4<br />
Ghz, que não atribui latência ao uso do produto, diferentemente<br />
dos casos onde a conexão é realizada<br />
por bluetooth. Além disso, os dispositivos sem fio são<br />
os queridinhos do momento, sendo estimado que haja<br />
pelo menos 7 bilhões deles no mundo. “Queremos que<br />
as pessoas consigam ter o mesmo desempenho em<br />
casa e no escritório”, afirmou Rozenblit. Além dessa<br />
linha de periféricos, a empresa também anunciou um<br />
novo mouse ergonômico e o Scribe, que consiste em<br />
uma câmera para gravação de slides e lousas em aulas,<br />
palestras e reuniões a distância.<br />
AJUSTES Os lançamentos são uma resposta para<br />
enfrentar o novo momento de ajustes no mercado da<br />
tecnologia. A Logitech também teve seu período de<br />
demissões, em junho do ano passado, quando cortou<br />
13% do quadro, correspondendo a 450 funcionários<br />
globalmente e, no último trimestre de 2022, teve<br />
queda de 22% no faturamento global, alcançando US$<br />
1,27 bilhão em receita. Mesmo assim, o CEO se mantém<br />
otimista e diz que o cenário da empresa no Brasil<br />
está longe de se assemelhar com o quadro global<br />
apresentado — a empresa não divulga os resultados<br />
locais. Sobre a nova linha para o trabalho em casa, o<br />
executivo afirma que a perspectiva também é ótima<br />
e rendeu um aumento nas previsões da companhia<br />
devido a uma forte procura no mercado. “Tivemos<br />
aceitação muito boa, acima do que esperávamos das<br />
novas linhas”, afirmou.<br />
GAMER<br />
NA BASE<br />
As novas linhas da<br />
Logitech buscam<br />
trazer o padrão já<br />
encontrado<br />
nos produtos<br />
gamers, como<br />
qualidade de som,<br />
vídeo e ergonomia<br />
para o público do<br />
home office<br />
Além do novo grupo de produtos<br />
com foco no teletrabalho, a<br />
Logitech também está expandindo<br />
para outros públicos com a apresentação<br />
da linha Aurora, com foco<br />
principal nas consumidoras — mas<br />
também deve atingir o consumidor<br />
que aprecia um bom design de produto.<br />
“Tem uma grande parcela dos<br />
gamers que são mulheres e a gente<br />
precisa atender esse grupo.” Os<br />
mouses, teclados e headsets apresentados<br />
foram desenvolvidos<br />
junto a diversos designers do mundo<br />
da moda e entregam uma gama<br />
de cores e escolhas de formatos<br />
mais interessantes.<br />
Para o CEO, a perspectiva é de<br />
nacionalmente o ano ser de bons<br />
resultados, mesmo com o momento<br />
econômico conturbado, com<br />
recente troca de governo. Segundo<br />
Bracken Darrell, presidente-executivo<br />
da Logitech, a crise atual<br />
reflete a situação econômica global<br />
mais difícil, mas ele espera que os<br />
gastos dos consumidores aumentem<br />
novamente. “Isso é temporário<br />
e [o hábito de consumo] acabará<br />
voltando”, disse Darrel em<br />
janeiro, em uma entrevista à agência<br />
de notícias Reuters.<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
53
Cobiça<br />
POR CELSO MASSON<br />
CAP/AMAZON TRAZ PARA O BRASIL A ART DE<br />
VIVRE FRANCESA DA EVOK COLLECTION<br />
Criada em 2014, na França, pelos empreendedores do segmento<br />
de hotelaria de alto padrão Emmanuel Sauvage e Madeleine Sadin,<br />
a Evok Collection se define pela proposta de “mudar as regras do<br />
que um hotel de luxo pode ser e oferecer”, em uma interpretação<br />
contemporânea da cultura e do estilo de vida francês. O grupo é<br />
formado por três hotéis boutique em endereços badalados da capital<br />
francesa (Brach, no Marais; Nolinski, na Rive Droite; e Sinner, em<br />
Trocadero), além do hotel histórico Cour des Vosges, do restaurante<br />
estrelado pelo Guia Michelin Palais Royal, e de dois chalés exclusivos<br />
na charmosa estação de esqui de Courchevel, nos Alpes. Pois todas<br />
essas opções de hospedagem e alta gastronomia agora fazem parte<br />
do catálogo da agência brasileira Cap/Amazon. “O Brasil foi o primeiro<br />
mercado que a Evok buscou desenvolver e, após dois anos de<br />
pandemia, estamos muito satisfeitos por finalmente podermos<br />
reconstruir nosso relacionamento”, afirmou Madeleine Sadin, para<br />
quem a clientela brasileira do turismo de luxo é sofisticada, autêntica,<br />
simpática e seu tempo de permanência em cada destino supera a<br />
média. “Isso permite que nossas equipes entendam melhor suas<br />
expectativas, criem vínculos e ofereçam novas experiências”, disse.<br />
Informações: cap-amazon.com.<br />
HOTÉIS BOUTIQUE E CINCO ESTRELAS<br />
Na foto maior, o visual da Torre Eiffel a partir do lounge<br />
externo do Brach. No alto, fachada do histórico Cour des<br />
Vosges, suíte do Sinner e lobby do Nolinski: à espera dos<br />
turistas brasileiros “sofisticados e autênticos”<br />
RELÓGIO<br />
TAG HEUER E PORSCHE<br />
LANÇAM SEXTA COLABORAÇÃO<br />
Desde fevereiro de 2021, quando a relojoaria TAG Heuer e a<br />
montadora Porsche iniciaram uma parceria para criar<br />
modelos com as duas assinaturas, cinco relógios foram<br />
lançados. Passados dois anos, chega ao mercado a<br />
sexta colaboração das marcas: o novo TAG Heuer<br />
Carrera Chronograph x Porsche Orange Racing. “Com<br />
sua experiência e criatividade, nossas equipes criaram<br />
um relógio ousado e poderoso envolto em um design<br />
esportivo e elegante”, disse o CEO da TAG Heuer, Frédéric<br />
Arnault. O modelo será vendido nas boutiques TAG Heuer,<br />
no e-commerce da marca e em parceiros varejistas<br />
selecionados. O preço não foi divulgado.<br />
54 Dinheiro 15/02/2023<br />
FOTOS: GUILLAUME DELAUBIER I DIVULGAÇÃO
BEBIDA<br />
A CACHAÇA DE R$ 2,5 MILHÕES<br />
Adquirida em 2012 pelo casal Luiza e Antônio Carlos<br />
de Almeida Braga, a centenária Fazenda das<br />
Palmas, na região de Vassouras, no interior do Rio<br />
de Janeiro, abriga um alambique construído<br />
originalmente em 1855, com uma caldeira<br />
inglesa. Depois de restaurar a estrutura que<br />
estava em desuso havia décadas, a família<br />
passou a produzir na fazenda a cachaça<br />
Pindorama, nome que em tupi-guarani<br />
significa região das palmeiras ou terra<br />
livre do mal. Segundo os proprietários,<br />
os investimentos consumiram R$ 2,5<br />
milhões. A marca estreou em 2017,<br />
apenas no mercado português. Em<br />
2019, conquistou a medalha de prata<br />
no International Spirits Challenge, em<br />
Londres. A novidade deste ano é a<br />
Pindorama Ouro, com armazenamento<br />
em tonéis de Amburana que confere<br />
notas adocicadas, toques de<br />
especiarias, baunilha e mel. Mais<br />
informações: drinkpindorama.com.<br />
VIAGEM<br />
HURB EMBARCA EM CRUZEIROS<br />
Maior plataforma on-line de viagens do Brasil, o Hurb<br />
irá diversificar seu portfólio com a oferta de cruzeiros<br />
em operações com 13 opções nacionais ainda em<br />
2023, além de roteiros para a Argentina e para o Caribe.<br />
Diferentemente do modelo consagrado pela empresa,<br />
em que as datas das viagens costumam ser flexíveis (o<br />
que reduz o preço para o turista), no caso dos cruzeiros<br />
o check-in será definido no momento da compra. Para<br />
quem pretende viajar no período natalino deste ano há<br />
opção de navegar por nove dias do Rio de Janeiro a<br />
Buenos Aires pela MSC Cruzeiros. Da mesma<br />
companhia são os roteiros que percorrerão o litoral<br />
brasileiro no segundo semestre de 2023 e início de<br />
2024. Já as partidas de Miami para as Bahamas serão<br />
a bordo do navio Freedom, da Royal Caribbean.<br />
MOBILIÁRIO<br />
PASSAPORT PARA O HOME OFFICE<br />
Os designers da fabricante de móveis Herman Miller redefiniram<br />
o papel de uma mesa com ajuste de altura ao apresentar a<br />
compacta Passport. “O futuro do trabalho é um assunto importante<br />
no momento atual”, disse Ben Watson, presidente da Herman Miller.<br />
“Mas para nós, unir trabalho, vida e lazer sempre foi fundamental.”<br />
Ele descreveu a nova mesa da marca como grande o suficiente para<br />
o essencial e pequena para espaços apertados. Um destaque é o<br />
recurso de ajuste de altura livre, manual, que não requer fonte de<br />
acesso à energia. Disponível em vários acabamentos e cores, ela<br />
pode ser personalizada com painéis de privacidade e um gancho<br />
para bolsa. Informações: store.hermanmiller.com.br.<br />
BICICLETA<br />
LAMBORGHINI OFF-ROAD<br />
EM VERSÃO PARA PEDALAR<br />
Fabricante italiana de bicicletas de alta performance,<br />
a 3T é uma das pioneiras na produção de modelos gravel<br />
(cascalho, em inglês), destinados às trilhas mais severas.<br />
Ela se uniu à conterrânea Lamborghini para produzir a Exploro<br />
Racemax X Huracán Sterrato, inspirada no superesportivo<br />
off-road da montadora. Apresentada no final do ano passado<br />
na exposição Art Basel Miami Beach, na Flórida, a Racemax<br />
é vendida apenas por encomenda. No Brasil, a representante<br />
da 3T é a Labici, que anunciou o valor de R$ 137.137,50 e o<br />
prazo de 120 dias para a entrega do modelo. Detalhes e<br />
encomendas no site da flagship Spokes: spokes.com.br.<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
55
ESTILO<br />
CRESCIMENTO<br />
SOB MEDIDA<br />
FÍSICO E DIGITAL<br />
Romeo Bonadio (esq.) comanda<br />
a operação brasileira da grife<br />
alemã. Foco é na expansão<br />
física e consolidação do digital<br />
HUGO BOSS COLHE OS FRUTOS DO<br />
REPOSICIONAMENTO E FORTALECE<br />
PRESENÇA DIGITAL NO BRASIL COM A<br />
CRIAÇÃO DE UM E-COMMERCE PRÓPRIO<br />
Lara SANT'ANNA<br />
Rejuvenescer. Esse é o objetivo da veterana Hugo Boss.<br />
Com uma longa história associada à alfaiataria, a<br />
grife alemã tem se esforçado para mostrar que faz<br />
muito mais que ternos bem cortados. Há um ano,<br />
iniciou o reposicionamento de suas duas marcas —<br />
Hugo e Boss — com novos logos e embaixadores, forte<br />
presença nas redes sociais e investimento em marketing que<br />
deve alcançar 100 milhões de euros nos próximos dois anos.<br />
Esse movimento integra um plano estratégico que considera<br />
transformar a empresa em uma das 100 maiores marcas de<br />
vestuário do mundo, com faturamento de 4 bilhões de euros<br />
46 56 Dinheiro 01/02/2023<br />
15/02/2023 FOTOS: ALE VIRGILIO | DIVULGAÇÃO
até 2025. Em 2022, as vendas alcançaram<br />
3,6 bilhões de euros, 27% a mais que no<br />
ano anterior. Compondo todo esse movimento,<br />
está a operação brasileira. Ainda<br />
um mercado pequeno no total das vendas,<br />
o País tem se mostrado mercado promissor.<br />
Vem “comendo pelas beiradas”, segundo<br />
o diretor da Hugo Boss no Brasil,<br />
Romeo Bonadio.<br />
O mais recente movimento em direção<br />
ao crescimento em território nacional foi<br />
a implementação de um e-commerce próprio.<br />
Antes, as vendas on-line no País eram<br />
realizadas apenas por marketplaces parceiros,<br />
como Dafiti, Farfetch e Iguatemi<br />
365. O objetivo é que o digital represente<br />
15% das vendas nos próximos três anos,<br />
ainda abaixo do objetivo médio geral do<br />
grupo, que é de 30%. Para Bonadio, um<br />
dos desafios na implementação do e-<br />
-commerce é poder transpor a experiência<br />
de compra presencial para um site. No<br />
varejo de luxo, o contato com o cliente e<br />
o tratamento reservado a ele é um dos<br />
diferenciais. Sem isso, a operação on-line<br />
precisa se basear em outros atributos,<br />
como a velocidade de entrega, qualidade<br />
do suporte e até a embalagem.<br />
A loja virtual da Hugo Boss no Brasil<br />
foi desenvolvida com a Infracommerce,<br />
responsável pelos canais de venda, distribuição<br />
e envio dos produtos. “Temos o<br />
objetivo de tornar a Hugo Boss cada vez<br />
mais rentável em todo o Brasil”, disse a<br />
diretora de E-Commerce e Unidade de<br />
Luxo da Infracommerce, Camila Dullman.<br />
“Preservamos a experiência de alto padrão<br />
da loja física no e-commerce.”<br />
REPOSICIONAMENTO A entrada efetiva<br />
no comércio eletrônico integra a estratégia<br />
de reposicionamento, que concentra<br />
esforços de comunicação e venda<br />
nos dois grupos geracionais mais requisitados<br />
do varejo digital: a geração Z e os<br />
millennials. Pensando assim, a proposta<br />
das duas marcas ficou mais clara de um<br />
ano para cá. Para a Hugo, o foco é no estilo<br />
urbano e despojado, com preços mais<br />
acessíveis. Com isso, se aproxima dos mais<br />
jovens e ocupa espaço no feed do TikTok. Para a Boss, a preocupação<br />
é manter o apelo sofisticado que a caracteriza, acrescentando<br />
opções para o dia a dia. É o carro-chefe do grupo,<br />
representando 90% das vendas no Brasil, a expectativa é que o<br />
faturamento global da Boss chegue a 3 bilhões de euros até 2025,<br />
considerando as linhas masculina e feminina.<br />
Para Alberto Serrentino, especialista em varejo e fundador<br />
da Varese Retail, esse movimento é visto como uma questão de<br />
sobrevivência. “As marcas que sempre estiveram ligadas ao<br />
clássico vão perder relevância e terão muita dificuldade de<br />
crescer se não mudarem a arquitetura de produto e o jeito de<br />
interpretá-lo”, disse. Segundo ele, o reposicionamento funciona<br />
desde que siga uma regra básica: “Não perder a essência”.<br />
Os números mostram que as mudanças já vêm dando resultado.<br />
No Brasil, o sucesso pode ser comprovado pelo aumento<br />
na rede de lojas próprias. Em 2019, eram 16. No ano passado, o<br />
total de unidades saltou para 28. Outras sete estão previstas<br />
para este ano. Segundo a empresa, o consumidor se tornou fiel<br />
à marca por aqui. Isso porque, antes da pandemia, era muito<br />
comum as pessoas viajarem e consumirem Hugo Boss no exterior,<br />
onde os produtos são mais baratos. Com as restrições de<br />
circulação, os clientes que se abasteciam fora passaram a comprar<br />
no Brasil. De acordo com Bonadio, a experiência encontrada<br />
nas lojas gerou uma fidelidade que não se perdeu mesmo<br />
com a volta das viagens internacionais. A linha feminina, que<br />
no Brasil representa só 5% das vendas, é outra aposta para<br />
crescer — o que deve acompanhar o amadurecimento do comércio<br />
eletrônico e a possibilidade de chegar a mais praças com<br />
a abertura de novas lojas e a expansão da logística de entrega.<br />
Com essa modelagem, dificilmente o crescimento da Hugo Boss<br />
ficará aquém do que manda o figurino.<br />
EXPANSÃO<br />
Hugo Boss planeja<br />
a abertura de sete<br />
lojas físicas no Brasil<br />
Preservamos a<br />
experiência de alto<br />
padrão da loja<br />
física no<br />
e-commerce<br />
de luxo”<br />
CAMILA DULLMAN<br />
DIRETORA DE<br />
E-COMMERCE DA<br />
INFRACOMMERCE<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
57
DEBÊNTURES RECUAM 1,69% EM JANEIRO<br />
O IDA-Geral (Índice de Debêntures da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais-Anbima) registrou<br />
desvalorização de 1,69% ao longo de janeiro. Segundo a entidade, entre os subíndices, o IDA-IPCA que acompanha papéis de inflação<br />
sem benefício fiscal teve queda de 28,56%. “Os resultados estão relacionados ao evento de crédito da Americanas, que impactou o<br />
mercado de debêntures, principalmente entre os dias 12 e 18”, afirmou a entidade. Já o IMA-Geral (Índice de Mercado Anbima), que<br />
reflete a carteira de títulos públicos no mercado, subiu 0,70%. No segmento, o destaque ficou com o IMA-B5 com alta de 1,4%, que<br />
representa as NTN-Bs com até cinco anos de vencimento.<br />
RESGATES DE<br />
FUNDOS SOMAM<br />
R$ 24,6 BILHÕES<br />
Os fundos de investimentos tiveram R$ 24,6 bilhões em<br />
retiradas líquidas durante todo o mês de janeiro, informou a<br />
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro<br />
e de Capitais (Anbima) na quarta-feria (8). Esse é o terceiro<br />
mês consecutivo de saída de recursos do segmento. Apenas<br />
as classes renda fixa, previdência e FIP tiveram captação<br />
positiva. “Em termos gerais, as principais movimentações<br />
sugerem um comportamento do investidor de maior aversão<br />
ao risco e de maior disposição em estratégias conservadoras,<br />
sobretudo diante da percepção de que os juros devem<br />
se manter no patamar atual por mais tempo”, afirmou a<br />
Anbima. A renda fixa captou R$ 11,4 bilhões. Os destaques<br />
foram para opções mais conservadoras, como renda fixa<br />
de duração baixa e risco soberano, e a renda fixa simples,<br />
que registraram captação positiva, respectivamente, de R$<br />
11,8 bilhões e R$ 9,7 bilhões. Os multimercados registraram<br />
R$ 17,6 bilhões em resgates, enquanto os fundos de ações<br />
tiveram R$ 9,2 bilhões em retiradas.<br />
30<br />
0<br />
-30<br />
-60<br />
-90<br />
-120<br />
-150<br />
CAPTAÇÕES E RETIRADAS<br />
Em bilhões de R$<br />
Ago/22 Set/22 Out/22 Nov/22 Dez/22 Jan/23<br />
Fonte: Anbima<br />
INDÚSTRIA<br />
CAI 0,7%<br />
EM 2022<br />
A produção industrial brasileira recuou 0,7% no acumulado de 2022, mostram dados divulgados<br />
pelo IBGE na sexta-feira (3). O número foi registrado após o indicador ficar nulo em dezembro,<br />
ter caído 0,1% em novembro e subido 0,3% em outubro. Com o resultado, a indústria brasileira<br />
encontra-se 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia de Covid-19 (fevereiro de 2020) e 18,5%<br />
abaixo do nível recorde da série, de maio de 2011. Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo,<br />
a indústria tem comportamento predominantemente negativo nos últimos anos. "O crescimento<br />
de 2021 (3,9%) tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta da<br />
pandemia e não houve recuperação.”<br />
Dinheiro 15/02/2023<br />
59
INVESTIDOR<br />
A CHAVE DA CASA<br />
VALE A PENA?<br />
Investimento em imóvel<br />
não perde brilho.<br />
Mas é preciso analisar<br />
muitas variáveis para<br />
saber se é o melhor<br />
para seu perfil<br />
Bruno ANDRADE<br />
Uma tradição do mercado imobiliário<br />
é atrair investidores mais<br />
conservadores e que normalmente<br />
optam pelo longo prazo.<br />
O cenário de juros altos, no entanto,<br />
pode ser também o de opções atraentes.<br />
Segundo o presidente da Associação<br />
Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias<br />
(Abrainc), Luiz França, o momento atual<br />
se mostra uma grande oportunidade para<br />
combinar ganhos reais no longo prazo e,<br />
ao mesmo tempo, um pouco de liquidez<br />
com a locação. “Entre 2009 e 2019 o inves-<br />
timento em imóveis rendeu, em média,<br />
15,3% ao ano, considerando valorização e<br />
ganhos com aluguel”, disse.<br />
Essa é a combinação que precisa entrar<br />
na conta. O coordenador do curso de Negócios<br />
Imobiliários da Fundação Getulio<br />
Vargas (FGV), Alberto Ajzental, reforça a<br />
diferença entre a remuneração média da<br />
locação comparada a títulos de renda fixa,<br />
visto que a Selic está em 13,75% ao ano. “O<br />
aluguel traz rendimento médio entre 3,6%<br />
a 6% ao ano, baixo quando comparado a<br />
outros investimentos”, disse. Em resumo,<br />
60 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO
BANCOS<br />
Taxa mínima da tabela SAC<br />
(taxa ao ano + TR)<br />
8,50%<br />
muito mais complicado para você encontrar compradores,<br />
principalmente no cenário macroeconômico atual”, disse. Isso<br />
significa que esse tipo de investimento não pode ser usado como<br />
reserva, algo que preencha a necessidade de uso urgente. Isso<br />
do lado do vendedor. Pelo lado do comprador, não ter todo o<br />
dinheiro para adquirir a propriedade pode custar muito. “Fazer<br />
um financiamento imobiliário para alugar não é algo recomendável”,<br />
afirmou Ajzental. “A conta corre o risco de não fechar,<br />
com o valor da prestação ficando acima do cobrado no aluguel.”<br />
Ou seja, caso a reserva para a compra seja muito aquém do preço<br />
do imóvel, pode ser preferível aplicar esse dinheiro e viver de<br />
aluguel comparado a arcar com parcelas do financiamento a<br />
taxas elevadas. Fazer as contas sempre será decisivo.<br />
9,89% 9,99% 9,99% 61<br />
Caixa<br />
Bradesco<br />
Itaú<br />
Santander<br />
se a intenção é fazer o dinheiro render<br />
apenas com o valor do aluguel, que é uma<br />
visão de curto prazo, o imóvel não é a melhor<br />
opção. Passa a valer a pena quando a<br />
valorização do imóvel entra na conta — o<br />
que embute oportunidade de valorização,<br />
mas igualmente muitos riscos, como uma<br />
região ser degradada rapidamente ou a<br />
área ser desapropriada.<br />
Outro motivo que pode fazer esse investimento<br />
não ser tão atrativo é a liquidez.<br />
De acordo com Ajzental, a venda de um<br />
imóvel pode demorar meses ou anos. “É<br />
FINANCIAMENTO Se comprar um imóvel financiado pode<br />
não ser vantajoso para quem busca rentabilidade com aluguel,<br />
essa opção tende a atrair quem procura adquirir o primeiro<br />
imóvel. É o que diz o diretor de Negócios Imobiliários do Santander,<br />
Sandro Gamba. “É melhor do que ficar pagando aluguel<br />
e juntar dinheiro para comprar algo à vista”, disse. “Pois o dinheiro<br />
do aluguel é algo perdido e a prestação do imóvel é uma<br />
construção de patrimônio.”<br />
O interessado na casa própria, no entanto, deve estar atento<br />
aos riscos e dificuldades enfrentadas pelo crédito imobiliário.<br />
Segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito<br />
Imobiliário e Poupança), o mercado deve vender 8% a<br />
menos em 2023 na comparação com 2022. De acordo com<br />
Ajzental, da FGV, a alta de juros é um dos fatores para essa diminuição.<br />
“O rendimento da poupança é responsável por 70%<br />
da composição das taxas de juros do crédito imobiliário”, afirmou.<br />
“Quando a Selic sobe, o rendimento da poupança também avança.”<br />
E isso eleva o preço do crédito imobiliário.<br />
Também merece atenção a inflação da construção, que é<br />
medida pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).<br />
“Ele até vem desacelerando, mas segue acima da inflação tradicional<br />
que é medida pelo IPCA, o que é um problema para o<br />
comprador pessoa física”, disse Ajzental. Ainda assim, os especialistas<br />
acreditam que o melhor é não adiar a compra, pois as<br />
expectativas devem se manter iguais por dois ou três anos.<br />
Para driblar tantas variáveis, Sandro Gamba, do Santander,<br />
acredita que o melhor é ter uma quantia razoável da parcela de<br />
entrada. “O banco financia até 80% do imóvel. Em uma casa de<br />
R$ 1 milhão é necessário ter ao menos R$ 200 mil para a entrada”,<br />
afirmou. Já Ajzental calcula um porcentual levemente acima, de<br />
30% do valor do imóvel, para manter uma reserva de emergência.<br />
“No caso do imóvel de R$ 1 milhão, ter R$ 300 mil em mãos, dar<br />
R$ 200 mil de entrada e os R$ 100 mil restantes guardar para<br />
situações como a de um período de desemprego.” Equações, dicas<br />
e regras para fazer o sonho da casa própria, ou do imóvel para<br />
investimento, não virar um insolúvel pesadelo.<br />
O aluguel de<br />
um imóvel traz<br />
rendimento médio<br />
entre 3,6% e 6%<br />
ao ano, o que é<br />
baixo comparado<br />
a outros<br />
investimentos”<br />
ALBERTO AJZENTAL<br />
COORDENADOR DO<br />
CURSO DE NEGÓCIOS<br />
IMOBILIÁRIOS DA FGV<br />
Dinheiro 15/02/2023
Dinheiroemação POR BRUNO ANDRADE<br />
PAPEIS AVULSOS<br />
BALANÇO DO ITAÚ AGRADA<br />
MERCADO APESAR DE<br />
IMPACTO DE AMERICANAS<br />
O Itaú Unibanco reportou lucro líquido<br />
gerencial de R$ 7,668 bilhões no<br />
quarto trimestre de 2022, alta de 7,1%<br />
na comparação com o mesmo período<br />
de 2021. O retorno recorrente gerencial<br />
sobre o patrimônio líquido (ROEA) foi<br />
de 19,3%, uma redução de 0,9 ponto<br />
percentual em relação ao quarto<br />
trimestre de 2021. A despesa com<br />
provisões para créditos duvidosos<br />
saltou 45,1% para R$ 9,9 bilhões. A<br />
instituição financeira afirmou que<br />
reconheceu no balanço os impactos<br />
do caso da Americanas. “Houve<br />
reforço na provisão para créditos de<br />
liquidação duvidosa para cobrir 100%<br />
da exposição, gerando um impacto de<br />
R$ 719 milhões no lucro”, afirmou a<br />
empresa. O lucro líquido ficou 7,5%<br />
abaixo do esperado, mas a cifra tende<br />
a ser aceita pelo mercado. Segundo<br />
analistas do UBS BB, excluindo o<br />
evento da Americanas, o ROEA teria<br />
sido de 21%. “A companhia também<br />
estima que os resultados podem<br />
crescer 16% em 2023”, afirmaram<br />
Thiago Batista e Olavo Arthuzo, que<br />
assinam o relatório. O UBS BB possui<br />
preço-alvo de R$ 35 para ITUB4, alta<br />
de 42,56% na comparação com o<br />
fechamento de terça-feira (7).<br />
INDICADORES ECONÔMICOS<br />
PIB CRESCIMENTO (FONTE: BANCO CENTRAL) 3° TRI/22 2° TRI/22 1° TRI/22 4° TRI/21 2021<br />
PIB (DESSAZ.)<br />
PIB EM US$ BILHÕES *<br />
ATIVIDADE **<br />
PRODUÇÃO INDUSTRIAL (IBGE)<br />
VOLUME DE VENDAS NO VAREJO RESTRITO (IBGE)<br />
TAXA DE DESEMPREGO -<br />
PNAD CONTÍNUA (IBGE)<br />
UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA<br />
(CNI) - DESSAZ.<br />
INADIMPLÊNCIA ***<br />
PESSOA FÍSICA ATÉ 90 DIAS<br />
PESSOA F. ACIMA DE 90 DIAS<br />
PESSOA JURÍDICA ATÉ 90 DIAS<br />
PESSOA J. ACIMA DE 90 DIAS<br />
0,4% 1,0% 1,3% 0,9% 5,0%<br />
1.837,3 1.783,7 1.698,9 1.648,8 1.648,8<br />
DEZ/22 NOV/22 OUT/22 SET/22 NO ANO<br />
0,0% -0,1% 0,3% -0,7% -0,7%<br />
- 1,5% 2,7% 3,2% 1,1%<br />
- 8,1% 8,3% 8,7% 9,7%<br />
- 80,4% 80,4% 80,4% 80,7%<br />
DEZ/22 NOV/22 OUT/22 SET/22<br />
MÉDIA<br />
EM 2022<br />
4,3% 4,5% 4,3% 4,3% 4,3%<br />
5,9% 5,8% 5,8% 5,7% 5,3%<br />
1,9% 1,9% 1,8% 1,7% 1,8%<br />
2,1% 2,1% 2,0% 1,9% 1,8%<br />
CONTAS PÚBLICAS (% PIB)* (A)<br />
RESULTADO NOMINAL<br />
RESULTADO PRIMÁRIO<br />
DÍVIDA BRUTA DO GOVERNO GERAL<br />
DÍVIDA BRUTA INTERNA<br />
DÍVIDA BRUTA EXTERNA<br />
CONTAS EXTERNAS (US$ MILHÕES)<br />
INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO<br />
EXPORTAÇÕES<br />
IMPORTAÇÕES<br />
SALDO COMERCIAL<br />
SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES<br />
RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS<br />
DÍVIDA EXTERNA TOTAL<br />
DEZ/22<br />
A JAN/22<br />
NOV/22<br />
A DEZ/21<br />
OUT/22<br />
A NOV/21<br />
SET/22<br />
A OUT/21<br />
AGO/22<br />
A SET/21<br />
4,68% 4,54% 4,12% 4,26% 4,10%<br />
-1,28% -1,41% -1,78% -1,88% -1,92%<br />
DEZ/22 NOV/22 OUT/22 2021 2020<br />
73,45% 74,57% 75,14% 78,29% 86,94%<br />
64,25% 65,32% 66,07% 67,41% 77,58%<br />
9,20% 9,25% 9,07% 10,88% 11,01%<br />
JAN/23 DEZ/22 NOV/22 OUT/22 NO ANO<br />
- 5.570 8.338 5.541 90.572<br />
23.137 26.645 28.164 26.938 23.137<br />
20.420 21.866 21.493 23.441 20.420<br />
2.716 4.779 6.672 3.497 2.716<br />
- -10.878 -60 -5.056 -55.668<br />
331.122 324.703 331.505 325.546 331.122<br />
- 318.548 318.682 318.304 318.548<br />
* Acumulado nos últimos 12 meses; ** Em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto utilização de capacidade instalada e taxa de desemprego; *** Em proporção do volume de crédito concedido. - Recursos Livres (a) Superávit = (-) e Déficit = (+), conforme notas econômicas do BACEN<br />
DESEMPENHO<br />
DAS EMPRESAS<br />
POR SETOR<br />
DE ATIVIDADE<br />
MELHOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES<br />
Seguros e Previdência 40,47 42,05<br />
Saneamento 0,19 34,54<br />
Serviço Financeiro -2,22 9,15<br />
Industrial 1,04 8,07<br />
Serviço de Locação 10,70 6,94<br />
PIOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES<br />
Alimentos -9,84 -25,31<br />
Têxtil 2,91 -28,21<br />
Açúcar e Álcool 0,82 -30,91<br />
Educação 0,23 -35,55<br />
Químico -4,41 -40,79<br />
Fonte: Austin Rating de 06/fev/2023<br />
62 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: DIVULGAÇÃO
PRINCIPAIS ÍNDICES<br />
JUROS FUTUROS<br />
06/02/2023<br />
SALDO DE VAGAS MENSAL (CAGED)<br />
INFLAÇÃO JAN/23 DEZ/22 NOV/22 NO ANO 12 MESES<br />
IPC - FIPE<br />
IGP-M (FGV)<br />
IGP-DI (FGV)<br />
IPCA (IBGE)<br />
IPCA - NÚCLEO MM SUAVIZADO<br />
JUROS/APLICAÇÃO<br />
CDI<br />
TLP<br />
POUPANÇA<br />
TJLP<br />
CDB/RDB - TAXA PREFIXADA MÉDIA<br />
REAIS/US$ (COMERCIAL VENDA)<br />
US$/EURO<br />
IENE/US$<br />
PETRÓLEO À VISTA BRENT (US$/BARRIL)<br />
MERCADOS FUTUROS 06/02/2023<br />
CÂMBIO (R$/US$)<br />
DI DE 1 DIA (% A.A.)<br />
IBOVESPA (PONTOS)<br />
CAFÉ ARÁBICA (60KG - ICF)<br />
0,63% 0,54% 0,47% 0,63% 7,20%<br />
0,21% 0,45% -0,56% 0,21% 3,79%<br />
0,06% 0,31% -0,18% 0,06% 3,01%<br />
- 0,62% 0,41% 5,79% 5,79%<br />
- 0,49% 0,38% 9,35% 9,35%<br />
JAN/23 DEZ/22 NOV/22 NO ANO 12 MESES<br />
1,07% 1,12% 1,02% 1,07% 12,81%<br />
0,48% 0,47% 0,46% 0,48% 5,58%<br />
0,71% 0,71% 0,65% 0,71% 8,06%<br />
0,59% 0,58% 0,58% 0,59% 6,88%<br />
1,03% 0,95% 0,97% 1,03% 12,11%<br />
CÂMBIO/PETRÓLEO 06/02/2023 NO MÊS NO ANO 12 MESES<br />
5,176 1,51% -0,79% -2,17%<br />
1,073 -1,19% 0,55% -6,21%<br />
132,86 2,17% 0,76% 15,45%<br />
80,99 -4,14% -5,73% -12,62%<br />
MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />
5,203 5,260 5,324 5,389<br />
MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />
13,65 13,70 13,77 13,79<br />
FEV/23 ABR/23 JUN/23 AGO/23<br />
109.046 110.870 113.000 115.353<br />
MAR/23 MAI/23 JUL/23 SET/23<br />
234,00 217,70 216,85 215,05<br />
13,80<br />
13,73<br />
13,66<br />
13,60<br />
RISCO-PAÍS<br />
390.0<br />
340.0<br />
290.0<br />
240.0<br />
% ao ano<br />
Mar/23 Mai/23 Jul/23<br />
EMBI + BR (fim de mês)<br />
Set/23<br />
fev/22<br />
mar/22<br />
abr/22<br />
mai/22<br />
jun/22<br />
jul/22<br />
ago/22<br />
set/22<br />
out/22<br />
nov/22<br />
dez/22<br />
jan/23<br />
02/fev/23<br />
(em postos de trabalho)<br />
-100,0<br />
-300,0<br />
-500,0<br />
Dez/20 Dez/21 Dez/22<br />
PRODUÇÃO INDUSTRIAL ANUAL (IBGE)<br />
(em %)<br />
5,00<br />
0,00<br />
-5,00<br />
2020 2021 2022<br />
AS 10 MAIS NEGOCIADAS DO IBO VES PA<br />
RENTABILIDADE DOS TÍTULOS PÚBLICOS (%)<br />
*06/fev/23 (inclui JS = Juros Semestrais)<br />
Ação Co ta ção (R$) *% mês % ano % 12 M % Índice<br />
Vale ON 88,42 -6,4 -0,5 7,5 15,754<br />
Itaú Unibanco PN 24,55 -3,0 -1,7 0,9 6,187<br />
Petrobras PN 25,62 -1,7 4,6 36,2 6,140<br />
Petrobras ON 28,70 -2,6 2,4 31,8 5,249<br />
B3 ON 11,89 -8,3 -9,6 -9,9 3,683<br />
Bradesco PN 13,50 -3,6 -7,1 -30,8 3,654<br />
Eletrobras ON 36,87 -9,3 -12,5 12,3 3,621<br />
AmBev ON 12,96 -5,1 -10,7 -4,5 2,984<br />
Brasil ON 38,88 -4,5 11,9 36,8 2,899<br />
Weg ON 37,67 -1,5 -2,2 23,7 2,607<br />
Fonte: Economática *07/02/2023<br />
BOLSAS NO MUNDO<br />
06/02/2023 COTAÇÃO (MOEDA LOCAL) VARIAÇÃO (US$)<br />
Mercado Índice Pontos % mês % ano % 12 m. % mês % ano<br />
Brasil Ibovespa 108.722 -4,15% -0,92% -2,92% -2,70% -1,71%<br />
Brasil IBrX 100 46.115 -4,29% -0,93% -3,89% -2,84% -1,71%<br />
EUA Dow Jones 33.890 -0,58% 2,24% -3,42% -0,58% 2,24%<br />
EUA Nasdaq 11.887 2,61% 13,58% -15,18% 2,61% 13,58%<br />
Japão Nikkei 225 27.694 1,34% 6,13% 1,63% 3,54% 6,93%<br />
China Shanghai 3.239 -0,52% 4,84% -5,57% 0,10% 3,30%<br />
Alemanha DAX 30 15.346 1,44% 10,22% 0,92% 0,23% 10,82%<br />
França CAC 40 7.137 0,77% 10,25% 1,82% -0,42% 10,86%<br />
Reino Unido FTSE 100 7.837 0,84% 5,17% 3,48% -1,56% 5,02%<br />
Fonte: Austin Rating<br />
TÍTULO VENC. INDEXADOR Últim. 30 dias ano * 12 MESES<br />
Tesouro Selic 23 01/03/2023 Selic 1,12% 1,43% 12,91%<br />
Tesouro Prefixado (JS) 25 01/01/2025 Prefixado 0,85% 0,77% 7,41%<br />
Tesouro IPCA+ (JS) 24 15/08/2024 IPCA 1,37% 1,51% 9,54%<br />
Tesouro IGPM+ (JS) 31 01/01/2031 IGP-M 0,04% -0,40% 4,04%<br />
Tesouro Prefixado 24 01/07/2024 Prefixado 0,83% 0,83% 7,90%<br />
MAIORES ALTAS DA SEMANA*<br />
Ação Setor %<br />
MATER DEI Saúde 13,55<br />
TEX RENAUX Têxtil 10,63<br />
DESKTOP Telecom 10,47<br />
AMAZONIA Financeiro 10,13<br />
SANSUY Industrial 9,21<br />
MAIORES BAIXAS DA SEMANA*<br />
Ação Setor %<br />
LE LIS BLANC Varejo -17,50<br />
SEQUOIA LOG Serviços -20,59<br />
EMAE Energia Elétrica -26,50<br />
LIGHT S/A Energia Elétrica -26,89<br />
OI Telecom -38,11<br />
Fonte: Austin Rating *06/02 a 30/jan<br />
TERMÔMETRO DO MERCADO<br />
O IBOVESPA EM UM ANO *<br />
PONTOS<br />
Ibovespa 107.830<br />
Mínima 95.267<br />
Máxima 121.628<br />
IBOVESPA<br />
135.0<br />
115.0<br />
95.0<br />
Fev 21<br />
*Até 07/02/2023<br />
Fonte: Economatica *07/02/2023<br />
em milhares de pontos<br />
Ago 22<br />
Fev 23*<br />
Dinheiro 15/02/2023 63
Dinheiroemfoco POR BRUNO ANDRADE<br />
GUILHERME BENCHIMOL<br />
fundador da XP, em evento<br />
Smart Summit, no Rio<br />
O SONHO DE TODO<br />
EMPREENDEDOR É<br />
ABRIR CAPITAL NA<br />
BOLSA, E DEPOIS DE<br />
ABERTO, FECHAR<br />
+ 5,19%<br />
Foi a alta das ações da São Martinho<br />
na semana entre a quarta-feira (1) e a<br />
terça-feira (7), enquanto o Ibovespa<br />
caiu 4,93%. Para o sócio da A7 Capital<br />
André Fernandes, o avanço aconteceu<br />
em meio às expectativas do resultado<br />
da companhia, que serão divulgados na<br />
segunda-feira (13). “A alta do preço do<br />
açúcar, que chegou ao maior patamar<br />
em cinco anos, empolgou o mercado."<br />
US$<br />
R$<br />
76,05 bilhões foi a receita registrada<br />
pelo Google no quarto trimestre<br />
de 2022, alta de 1% na comparação<br />
com o mesmo período de 2021.<br />
O lucro líquido da empresa ficou<br />
em US$ 13,6 bilhões, queda de 34%.<br />
No ano até terça-feira (7), as ações<br />
do Google subiram 22,95%.<br />
12,9 bilhões foi o lucro líquido do<br />
Santander Brasil no acumulado de 2022.<br />
O número representa queda de 21,1%<br />
na comparação com o mesmo período<br />
de 2021. O resultado operacional ficou<br />
em R$ 14,8 bilhões, queda de 40,6%.<br />
O Retorno sobre o Patrimônio Líquido<br />
(ROE) ficou em 16,3% em 2022.<br />
-16,08%<br />
Foi a queda das ações da BRF na primeira<br />
semana de fevereiro. Segundo o fundador<br />
da Gava Investimentos, Ricardo Brasil, a<br />
baixa se deu após o resultado da Tyson<br />
Foods mostrar margens apertadas por<br />
causa de um menor consumo de carne.<br />
“Outro ponto é que Itaú BBA e Santander<br />
divulgaram relatórios afirmando que as<br />
margens da BRF ficariam mais apertadas<br />
por pressão de preços”, afirmou.<br />
CRIPTOS<br />
A plataforma de investimentos Hurst Capital lançou na terça-feira (7) a tokenização das<br />
telas do pintor Alfredo Volpi. Para o CEO da Hurst, Arthur Farache, essa é uma modalidade<br />
de investimento um pouco mais conservadora que as disponíveis no mercado cripto. “ O<br />
investimento busca uma rentabilidade anual entre 14% e 24% em um prazo de 12 a 24 meses.<br />
No cenário base, o retorno previsto é de 23,51% ao ano”, disse. O aporte mínimo é de R$ 10 mil.<br />
Segundo o executivo, a escolha se deu após serem analisadas 120 transações de obras de arte de<br />
Volpi nos últimos 16 anos, em leilões do mercado de arte nacional e internacional. Ao realizar<br />
o aporte, os investidores passam a ser coproprietários de fração adquirida da obra de arte.<br />
64 Dinheiro 15/02/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
Dinheiroemfundos POR FAGUNDES SCHANDERT<br />
PALAVRA DO GESTOR<br />
A QR Asset possui quantos ETFs<br />
de criptoativos listados na Bolsa?<br />
Nós temos três ETFs registrados,<br />
o primeiro deles, o QBTC11, foi<br />
pioneiro em bitcoins na América<br />
Latina em meados de 2021, e o<br />
segundo do mundo, depois de um<br />
ETF do Canadá. Ele é 100%<br />
bitcoins, de compra direta do ativo,<br />
numa grande vantagem da<br />
legislação brasileira, em relação aos<br />
EUA. Logo depois, lançamos o ETF<br />
de etherium, o QTEH11, um grande<br />
sucesso no mercado local. Juntos,<br />
eles representam quase 90% de<br />
market cap (valor de mercado).<br />
E o nosso terceiro ETF é o QDFI11,<br />
o primeiro de finanças<br />
descentralizadas do mundo,<br />
em parceria com a Bloomberg,<br />
que faz a curadoria do índice.<br />
Logo depois dos lançamentos,<br />
houve atração de investidores,<br />
mas depois veio a baixa dos<br />
criptos. Como foi lidar com<br />
o público nessa queda?<br />
Tivemos cuidado com o suitability,<br />
com o perfil do nosso público. São<br />
ALEXANDRE LUDOLF, CIO DA QR ASSET MANAGEMENT<br />
QUEM É E O QUE FAZ<br />
Atua no mercado de fundos há 18 anos<br />
Já passou por Santander, Safra e Mirae<br />
Asset<br />
É diretor de investimentos da QR Asset<br />
Management<br />
Engenheiro pela PUC-RJ e mestre em<br />
economia pela FGV-SP<br />
produtos racionais em matéria de<br />
custos operacionais e segurança na<br />
Bolsa em relação às exchanges. Mas<br />
infelizmente muita gente entrou na<br />
alta, no final da festa, quando o Fed,<br />
o Banco Central dos EUA, começou a<br />
aumentar os juros e pegamos um<br />
ciclo negativo. O ETF de bitcoins caiu<br />
mais de 60% no ano passado, queda<br />
expressiva. Mas outros investimentos<br />
de tecnologia também caíram como<br />
Amazon, Netflix, Tesla.<br />
A QR perdeu clientes nessa baixa<br />
dos criptoativos?<br />
Não. Houve uma queda do valor dos<br />
ativos, mas nós ganhamos mais<br />
cotistas. Por incrível que pareça, as<br />
pessoas viram o momento como<br />
uma oportunidade de compra.<br />
Com a nova alta dos juros nos EUA,<br />
as quedas de criptos vão continuar?<br />
Está se aproximando do fim do ciclo<br />
de alta, de um juro da ordem de 5%<br />
ao ano. Quando começar a cair, vai<br />
ser um momento de mudança com<br />
preço positivo para criptos.<br />
NOTAS<br />
SUNO LISTA FUNDO<br />
DE INFRA NA B3<br />
A Suno Asset listou na B3 no dia<br />
7 seu primeiro fundo de debêntures<br />
incentivadas de infraestrutura, o Suno<br />
Infra SNID11, com R$ 15 milhões em<br />
patrimônio e preço inicial de R$ 100<br />
por cota. “É um fundo de crédito<br />
privado com 12 debêntures<br />
incentivadas. É mais um produto da<br />
casa e não devemos parar por aí”,<br />
afirmou o fundador do Grupo Suno,<br />
Tiago Reis. Entre fundos abertos ao<br />
público, a Suno Asset registra quatro<br />
fundos imobiliários, dois de ações,<br />
um Fiagro (fundo do agronegócio)<br />
e um de previdência.<br />
LEVANTE BUSCA<br />
TAMANHO PARA IPO<br />
O grupo Levante Investimento, que<br />
reúne empresas de análise e de gestão<br />
de recursos, busca ganhar tamanho<br />
para abrir capital na Bolsa, indicou o<br />
fundador e estrategista-chefe, Rafael<br />
Bevilacqua. “Tivemos um crescimento<br />
forte em 2022, acima de 50%, na<br />
contramão do mercado. Em breve,<br />
teremos novidades, estamos<br />
consolidando uma aquisição (OHM) e<br />
mais empresas devem se juntar a nós”,<br />
afirmou Bevilacqua. “Um dos nossos<br />
objetivos é estar presente na Bolsa,<br />
nascemos para o mercado de pessoas<br />
físicas”, disse Bevilacqua.<br />
TEVA ESTUDA ETF<br />
COM DIVIDENDOS<br />
Após os ETFs que pagam proventos<br />
serem permitidos para listagem e<br />
negociação na B3 desde o último dia<br />
30, a Teva está em conversas com<br />
participantes do mercado para um<br />
futuro índice no segmento. O futuro<br />
produto da Bolsa terá possibilidade de<br />
pagamentos de dividendos mensais.<br />
“A gente pretende ter um índice para<br />
ETF de dividendos. Nós estamos<br />
conversando e trabalhando com<br />
alguns clientes (gestoras), mas ainda<br />
não há nada oficial”, afirmou João<br />
Fernandes, o sócio e fundador da<br />
Teva Índices.<br />
Dinheiro 15/02/2023 65
ARTIGO<br />
POR EDSON ROSSI*<br />
LULA SE COMPORTA<br />
COMO QUEM IGNORA OS FATOS<br />
Presidente acredita viver naquele país de 2003 na qual era amado. Esqueça!<br />
L<br />
ula é um político brilhante. Numa Nação tão brutalmente<br />
desigual e de elites medonhas, ele conseguiu sair da miséria<br />
para a Presidência. Três vezes. No voto. Sem utilizar o<br />
modelo ‘papai-quis’ indefectível das dinastias político-judiciárias<br />
brasileiras. Sofreu ainda um afastamento tendencioso e ilegal por<br />
meio de 580 dias de prisão, período que o tirou da disputa presidencial<br />
de 2018 e levou Jair Bolsonaro a uma cadeira que nunca<br />
soube ocupar, por falta de modos e civilidade. Sobre a prisão de<br />
Lula, aliás, vale uma explicação aos analfabetos factuais: em 2021,<br />
o petista teve as condenações na Lava-Jato anuladas. É como gol<br />
anulado: não vale para a artilharia, não vale para o placar do jogo,<br />
não vale para pontuar no campeonato. Puft! Deixa de existir. E<br />
se uma condenação deixa de existir ela transforma o condenado<br />
em não condenado. Como diz a Constituição: “Art. 5º/LVII - Ninguém<br />
será considerado culpado até o trânsito em julgado de<br />
sentença”. Agora, de forma legendada: inocente até existir condenação<br />
(que não existe até aqui). Por tudo isso o presidente tem<br />
o dever, com ele mesmo, de cuidar bem melhor de um ativo tão<br />
valioso quanto essa biografia rara.<br />
Não é o que ele tem feito.<br />
Em especial quando se mete na economia, na qual mostra<br />
ignorância — deliberada ou orgânica. Talvez valesse a pena ao<br />
senhor presidente lembrar de sua própria história. E que ao assumir<br />
o cargo pela primeira vez, em janeiro de 2003, herdou um<br />
país em ordem institucionalmente com Estado devidamente<br />
minimizado. Se Fernando Henrique Cardoso cometeu uma grande<br />
estupidez (e cometeu) foi fazer nascer um dejeto chamado<br />
reeleição. Mesmo assim, te entregou um lugar de inflação arredia,<br />
mas hiperinflação domada. O senhor soube não estragar o presente.<br />
E colocou, para desespero de muitos petistas, o tucano<br />
recém-eleito deputado federal por Goiás Henrique Meirelles à<br />
frente do BC. Golaço. Na primeira reunião do Copom sob seu<br />
governo, com 20 dias de mandato, o que o fizeram com a Selic?<br />
Aumentaram. De 25% para 25,5%. E um mês depois? Aumentaram<br />
de novo, para 26,5%. Anda esquecido ou é só má-fé no discurso,<br />
senhor presidente Lula? Durante seu primeiro mandato inteiro<br />
a Selic só ficou perto da atual bem no finalzinho, após quase quatro<br />
anos, em outubro de 2006, quando a taxa foi para... 13,75%. A<br />
mesmíssima Selic de hoje (Deus é mesmo ironia pura!).<br />
Esse patamar elevado levou ao recuo da inflação e, uia!, à<br />
queda de juros. Fez aparecer o crescimento em seus governos e<br />
derrubou a desocupação. Pois é, Lula. Domar a inflação é basilar.<br />
Porque ela é o mais feroz imposto sobre os pobres. Em seu segundo<br />
governo, o índice macabro dos juros oscilou entre 8,75% e<br />
13,75%. Não era pouco. Mas decisivo em matéria de IPCA, que<br />
caiu ano a ano: de 9,30% (2003) a 3,14% (2006). No segundo mandato,<br />
manteve-se comportado e não passou de 5,91% (2010). Quem<br />
operou o desastre foi sua sucessora-poste Dilma Rousseff: começou<br />
com 6,50% (2011), finalizou com a tragédia de 10,67% (2015),<br />
quebrando a barreira de dois dígitos, o que não acontecia desde<br />
2002. No impeachment, em agosto de 2016, o índice em 12 meses<br />
acumulava quase 9% — filho da recessão criada a partir de 2014.<br />
Muitos do que comandavam essa jornada rumo ao fundo estão<br />
aí, nos seus ministérios. Em especial na Fazenda. Pode-se contar<br />
a história como quiser, presidente. Mas ser jornalista me ensinou<br />
algo: As-Coisas-São-O-Que-São. A turma que te aplaude vai dizer<br />
que a culpa não foi de Dilma, mas do cenário internacional. Se for<br />
verdade, é bom que o senhor diga, em nome da coerência narrativa<br />
e da lógica interna que deve mover os discursos, que em seu<br />
governo foi fruto, então, de um mundo que vivia o auge do preço<br />
das commodities. Ou foi o planeta que conspirou para seu governo<br />
ser positivo e o dela negativo, ou o mesmo planeta ficou na dele<br />
e o senhor mandou bem e ela mandou mal.<br />
Por isso tudo, qualquer um que olhe atentamente sabe que o<br />
senhor não briga com Roberto Campos Neto. Briga com os fatos.<br />
Ou é burrice (e duvido), ou é cortina de fumaça — para desviar o<br />
foco dos verdadeiros inimigos, dos ministros já encrencados, ou<br />
desculpa para um ano duríssimo. Fórmula errada, com 20 anos<br />
de atraso. Faz zero sentido se tornar o melhor amigo de Arthur<br />
Lira e brigar com Campos Neto. Cuidado, presidente. Se imaginar<br />
esperto para sempre é prólogo de queda. O senhor já foi enganado<br />
pelo bonzinho Obama, que te chamava de ‘O Cara’ enquanto te<br />
traía boicotando o acordo nuclear costurado com a Turquia para<br />
o Irã. Hoje, esse traidor está mais perto, não está na economia e<br />
carrega junto metade de um país que te odeia.<br />
*Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.<br />
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Dinheiro 15/02/2023