ECONOMIA À LUZ DO NOVO BNDES ALOIZIO MERCADANTE ASSUME O BANCO DE FOMENTO COM DOIS FOCOS: NÃO REPETIR OS ERROS DO PASSADO, E INSERIR O BRASIL EM UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO ATRELADA À TECNOLOGIA, SUSTENTABILIDADE E DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AO CRÉDITO Paula CRISTINA 18 Dinheiro 15/02/2023 FOTO: TON MOLINA
Assumir um banco de fomento com o histórico de ataques e questionamentos recentes como aconteceu com o Banco Nacional de Desenvolvimento Ecômico e Social (BNDES) não é tarefa fácil. Mas aceitar o cargo após ser coordenador da campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e precisando revogar parte da lei das estatais para tomar posse é ainda mais difícil. E essa é só uma fração do problema que o petista histórico Aloizio Mercadante enfrentará no comando e gestão do banco que volta à cena com a promessa de garantir óleo nas engrenagens da economia brasileira. Em sua posse no dia 6 de fevereiro, Lula foi claro: “Mercadante, você não faz ideia da fé que coloco em você”. Mas talvez ele faça. E por isso desde dezembro começou a montar seu time com progressistas, desenvolvimentistas e liberais. Aproximou-se de bancos privados em busca de parcerias e ouviu representantes das empresas. Traçou planos transversais com os ministros de Ciência & Tecnologia, Educação, Telecomunicações e Agronegócio. Tudo isso antes mesmo de assumir o posto. Agora, devidamente empossado, ele começa a dar luz ao que chamou de novo momento do banco. “É importante ressaltar que não queremos e não iremos voltar a um padrão de subsídios como no passado”, disse ele. Ainda assim, Mercadante ressalta a necessidade de entender e melhorar o custo do financiamento quando feito por meio do BNDES. “Precisamos ter uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para PMEs”, afirmou. Na avaliação do presidente, a TLP (Taxa de Longo Prazo, que está em 6,09% em fevereiro) penaliza de forma desproporcional empresas de menor porte e gera distorções que impedem que o banco fomente sua vocação de estimular o desenvolvimento do País. O plano, então, é negociar com o Congresso Nacional novos patamares para o índice. A questão dos pequenos e médios empresários, até por pedido de Lula, parece estar no centro dessa nova política do BNDES. Até 2013 o banco ficou conhecido por oferecer juros muito baixos para conglomerados financeiros que teriam condições de captar recursos de outras formas. Esse movimento, que estava na origem do que ficou conhecido como As Campeãs Nacionais, fomentou empresas como JBS, Oi, Fibria, Petrobras e as alçou a novos mercados, mas não foi capaz de impedir que algumas delas tivessem problemas financeiros, judiciais e até de corrupção. Essa fase, segundo Mercadante, acabou. “Olhamos para trás e vemos que o mundo, o Brasil e o BNDES mudaram. E ao olhar para frente sabemos ser preciso continuar construindo um país mais próspero moderno e industrializado.” Mas e como atender a todos os empresários com um taxa menor que a do mercado privado e com limitação de recursos? Por meio de novas relações, diz ele. Para as micro e pequenas empresas, por exemplo, o plano do BNDES é focar no desenvolvimento de novas tecnologias, e para isso seria preciso buscar parceiros. “Vamos apoiar as micro, pequenas e médias empresas, as cooperativas e a economia solidária, com R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto do banco e alavancagem via garantias para o crédito privado”, disse. DINHEIRO NA PONTA Evolução dos desembolsos do Sistema BNDES por mandato* (em R$ bilhões) média anual acumulado em 4 anos 13,3 53,3 25,9 103,6 42,6 170,5 168 672,0 135,9+76 100 400,3 364,1 61,8 247,3 FHC I 1995-1998 Fonte: BNDES FHC II 1999-2002 Lula I 2003-2006 Lula II 2007-2010 Dilma I 2011-2014 Dilma II + Temer 2015-2018 Bolsonaro 2019-2022 *valores nominais Dinheiro 15/02/2023 19