Revista Biomassa BR ED 65
• Hidrogênio sustentável a partir de resíduos: a nova fronteira da bioenergia • Potencial de geração de biogás, biometano e hidrogênio a partir da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos no Nordeste • Brasil chegará a 26GW em geração de energia distribuída em 2023 • Biogás brasileiro: uma fonte de energia limpa e renovável com impacto geopolítico positivo • Contratos de prestação de serviços de energia renovável: construindo relações seguras e rentáveis para o setor elétrico
• Hidrogênio sustentável a partir de resíduos: a nova fronteira da bioenergia • Potencial de geração de biogás, biometano e hidrogênio a partir da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos no Nordeste • Brasil chegará a 26GW em geração de energia distribuída em 2023 • Biogás brasileiro: uma fonte de energia limpa e renovável com impacto geopolítico positivo • Contratos de prestação de serviços de energia renovável: construindo relações seguras e rentáveis para o setor elétrico
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Vol. 06 - Nº 65 - Mai/Jun 2023
www.revistabiomassabr.com
Hidrogênio sustentável
a partir de resíduos:
A NOVA FRONTEIRA
DA BIOENERGIA
BRASIL CHEGARÁ A 26GW
em geração de energia distribuída em 2023
BIOGÁS BRASILEIRO:
uma fonte de energia limpa e renovável
com impacto geopolítico positivo
ISSN-2525-7129
Expediente
Índice
www.revistabiomassabr.com
EDIÇÃO
Grupo FRG Mídias & Eventos
DIREÇÃO COMERCIAL
Tiago Fraga
COMERCIAL
Cláudio Fraga
CHEFE DE EDIÇÃO
Dra. Emanuele Graciosa
CONSELHO EDITORIAL
Javier Escobar ― USP, Cássia Carneiro ― UFV, Fernando Santos
― UERS, José Dilcio Rocha ― EMBRAPA, Dimas Agostinho
― UFPR, Luziene Dantas ― UFRN, Alessandro Sanches ― USP,
Horta Nogueira ― UNIFEI, Luiz A B Cortez ― Unicamp,
Manoel Nogueira ― UFPA, Vanessa Pécora ― USP
SUPERVISÃO
Eliane T. Souza, Cristina Cardoso
REVISÃO
Maria Cristina Cardoso
DISTRIBUIÇÃO
Carlos Alberto Castilhos
REDES SOCIAIS
Matheus Vasques (WEB CONECTE)
EDIÇÃO DE ARTE E PRODUÇÃO
Gastão Neto - www.vorusdesign.com.br
COLABORADORES
Sérgio Peres, Heleno Q. de Lima, Thawane L. Silva
08
Potencial de geração de biogás,
biometano e hidrogênio a partir
da fração orgânica dos resíduos
sólidos urbanos no Nordeste
04
Hidrogênio sustentável a partir
de resíduos: a nova fronteira da
bioenergia
12
Brasil chegará a 26GW em
geração de energia distribuída
em 2023
DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA
Empresas, associações, câmaras e federações de indústrias,
universidades, assinantes, feiras e eventos dos setores de biomassa,
agronegócio, cana-de-açúcar, florestal, biocombustíveis, setor
sucroenergético e meio ambiente.eventos do setor de energia solar,
energias renováveis, construção sustentável e meio ambiente.
VERSÃO:
Eletrônica
PUBLICAÇÃO:
Bimestral
CONTATO:
Curitiba - PR - Brasil +55 41 3225.6693 - 41 3222.6661
E-MAIL:
contato@grupofrg.com.br
PARA REPRODUÇÃO PARCIAL OU COMPLETA
DAS INFORMAÇÕES DA REVISTA BIOMASSABR É
OBRIGATÓRIO A CITAÇÃO DA FONTE.
16
Biogás brasileiro: uma fonte
de energia limpa e renovável
com impacto geopolítico
positivo
20
Contratos de prestação de
serviços de energia renovável:
construindo relações seguras e
rentáveis para o setor elétrico
A Revista Brasileira de Biomassa e
Energia é uma publicação do
OS ARTIGOS E MATÉRIAS ASSINADOS POR COLUNISTAS
E OU COLABORADORES, NÃO CORRESPONDEM A
OPINIÃO DA REVISTA BIOMASSABR, SENDO
DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
Revista Biomassa BR
3
Artigo
Hidrogênio sustentável
a partir de resíduos:
a nova fronteira da
bioenergia
1. Introdução
A energia renovável desempenha um papel
fundamental na transição para uma economia
sustentável. Dentre os diversos tipos de energia renovável
disponíveis, destacam-se a energia solar, a
energia eólica e a energia oceânica. No entanto, é
importante ressaltar que essas fontes apresentam
limitações geográficas, estando disponíveis apenas
em determinados países e em horários específicos
ao longo do dia e do ano.
Nesse contexto, o hidrogênio emerge como
uma fonte promissora de energia renovável, distinguindo-se
dos combustíveis fósseis devido à
sua capacidade de minimizar o impacto ambiental.
O hidrogênio é capaz de produzir energia sem
gerar poluentes significativos, uma vez que seu
subproduto resultante da combustão é apenas
água (H 2
O).
O hidrogênio apresenta um notável potencial
calorífico, com valores que variam entre 120 e 140
MJ kg −1 . Essa alta densidade energética o torna
uma opção atrativa para diversas indústrias, como
transporte, eletricidade e química. Em particular,
processos industriais de larga escala, como a síntese
de amônia e a produção de produtos petroquímicos,
têm aproveitado as propriedades versáteis
do hidrogênio como parte de suas operações.
Essa demanda crescente reflete a posição crucial
do hidrogênio na indústria atual e seu papel fundamental
na transição para uma economia mais
sustentável.
Como um combustível versátil, o hidrogênio
pode ser produzido a partir de diferentes fontes de
energia por meio de várias tecnologias que levam
a diferentes emissões de CO 2
. O hidrogénio produzido
a partir de fontes renováveis é considerado
uma alternativa ao hidrogênio preto ou marrom
obtido a partir do carvão e do gás natural que tem
uma elevada emissão de carbono. O hidrogênio
renovável inclui o hidrogênio verde e o bio-hidrogênio,
os quais são classificados em diferentes
cores de hidrogênio, dependendo da origem
do recurso utilizado na produção. O hidrogênio
verde é produzido por meio da eletrólise utilizando
energia proveniente de fontes renováveis,
como eólica, hidrelétrica e solar. O bio-hidrogênio
é obtido pela transformação termoquímica e
biológica de biomassa, por meio de rotas de conversão
biológica e termoquímica. A fermentação
e a digestão são métodos bioquímicos, enquanto a
gaseificação e pirólise são procedimentos termoquímicos.
A produção de hidrogênio a partir de biomassa
tem ganhado destaque recentemente devido à
abundância desse recurso e à maturidade das tecnologias
de conversão termoquímica. Além disso,
em resposta às projeções de um aumento na de-
4
Revista Biomassa BR
Artigo
ABGD
Em defesa da geração
descentralizada
e democrática de energia
elétrica.
Somos mais de 600 empresas com
um objetivo comum: fomentar
o mercado de geração distribuída –
a geração de energia junto ou
próxima ao consumo.
JUNTE-SE A NÓS
Defendemos os interesses de pequenas, médias e grandes empresas
de toda a cadeia de geração distribuída, dando legitimidade
institucional a seus pleitos e promovendo a expansão do mercado.
Articulamos e lideramos debates com agências regulatórias, concessionárias
de serviços públicos e órgãos governamentais.
Promovemos a colaboração e o intercâmbio de informações entre
fabricantes, distribuidores e empresas, bem como o marketing
cooperado com os associados.
Fomentamos a qualificação profissional por meio de treinamentos,
de descontos em congressos, workshops, cursos e capacitações;
da participação em grupos de discussões técnicas e da certificação
de instaladores profissionais.
Oferecemos assessoria jurídica e orientação regulatória.
Entre em contato conosco:
www.geracaodistribuida.org
www.linkedin.com/company/abgd
@abgd_oficial
@abgdbrasil
Capital Corporate Offices
Av. Dr. Chucri Zaidan, 1550 - 5 o andar - conj. 518
Vila Cordeiro, São Paulo (SP)
CEP: 04583-110
Telefone: (11) 3796-3767
Revista Biomassa BR
5
Artigo
A BIOMASSA PODE SER AINDA DIVIDIDA EM DOIS TIPOS
DE ACORDO COM SUA COMPOSIÇÃO, SENDO BIOMASSA
LIGNOCELULÓSICA E BIOMASSA NÃO LIGNOCELULÓSICA...
manda de quase cinco vezes em relação
aos níveis atuais de produção nos
próximos 30 anos, diversas rotas para
a produção de hidrogênio estão sendo
consideradas (IEA, 2022).
2. Biomassa
Biomassa é um termo utilizado
para descrever a matéria orgânica de
origem vegetal ou animal que pode
ser usada como fonte de energia. A
biomassa é o material mais abundante
no planeta, com cerca de 550-560 bilhões
de toneladas de carbono. Além
disso, cerca de 100 mil milhões de toneladas
de biomassa são produzidas
por ano (Bar-On et al. 2018). Sendo
uma fonte de energia renovável e sustentável,
a biomassa pode ser utilizada
para a produção de calor, eletricidade,
biocombustíveis e outros produtos
de valor agregado. Ao todo, cerca de
25,1% da matriz energética do Brasil
é representada pela biomassa (EPE,
2022).
Quase todos os tipos de biomassa
são compostos principalmente por
elementos de carbono, oxigênio e hidrogênio.
Em relação a sua origem, as
biomassas para fins energéticos podem
ser classificadas nas categorias
de biomassa energética florestal, seus
produtos e subprodutos ou resíduos;
biomassa energética da agropecuária,
as culturas agroenergéticas e os resíduos
e subprodutos das atividades
agrícolas, agroindustriais e da produção
animal; e rejeitos urbanos.
A biomassa pode ser ainda dividida
em dois tipos de acordo com
sua composição, sendo biomassa lignocelulósica
e biomassa não lignocelulósica.
A biomassa lignocelulósica
refere-se à biomassa composta principalmente
de celulose, hemicelulose
e lignina, que são componentes estruturais
encontrados em plantas. Essa
forma de biomassa é derivada principalmente
de materiais vegetais não
comestíveis, como madeira, cascas,
caules, palhas e resíduos agrícolas.
A celulose e a hemicelulose são
polissacarídeos presentes na parede
celular das plantas, enquanto a
lignina é um polímero complexo
que proporciona rigidez e resistência
aos tecidos vegetais. A biomassa
lignocelulósica é uma fonte abundante
de energia renovável e pode
ser convertida em biocombustíveis,
calor e eletricidade através de processos
de conversão bioquímica ou
termoquímica.
Por outro lado, a biomassa não
lignocelulósica é composta por outros
materiais orgânicos que não possuem
a mesma composição química da biomassa
lignocelulósica. Isso inclui, por
exemplo, resíduos de alimentos, resíduos
de culturas energéticas não lignocelulósicas
(como milho e cana-de-
-açúcar), algas e resíduos de processos
industriais, como a indústria de papel
e celulose. A biomassa não lignocelulósica
pode ser utilizada para a produção
de biogás através da digestão
anaeróbica, onde os resíduos orgânicos
são decompostos por bactérias em
um ambiente sem oxigênio, gerando
metano. Além disso, a biomassa não
lignocelulósica também pode ser convertida
em biocombustíveis líquidos,
como biodiesel, através de processos
de transesterificação.
É importante destacar que tanto
a biomassa lignocelulósica quanto a
biomassa não lignocelulósica desempenham
um papel importante na produção
de energia renovável e na redução
da dependência de combustíveis
fósseis, cada uma com suas características
e potenciais de aproveitamento
específicos.
3. Conversões termoquímicas
da biomassa em hidrogênio
3.1. Gaseificação da biomassa
Gaseificação da biomassa tem
sido amplamente estudada como uma
tecnologia eficiente e sustentável para
a geração de calor e energia elétrica,
produção de hidrogênio e etanol. A
gaseificação é a conversão da biomassa,
ou de qualquer combustível sólido,
em um gás energético, através da oxidação
parcial a temperaturas elevadas.
Esse gás, chamado de gás de síntese, é
constituído por uma mistura de monóxido
de carbono (CO), hidrogênio
(H 2
), metano (CH 4
), pequenas quantidades
de outros hidrocabonetos leves
(C n
H m
), dióxido de carbono (CO 2
) e
vapor d´água (H 2
O), além do nitrogênio
(N 2
) presente no ar e fornecido
para a reação. O gás de síntese resultante
da gaseificação pode ser limpo e
tratado para separar o hidrogênio dos
outros componentes, como o monóxido
de carbono e o dióxido de carbono.
Esse hidrogênio pode então ser
utilizado como combustível ou como
matéria-prima para a produção de
produtos químicos.
Em função do processo obtém-
-se também quantidades variáveis de
carvão, ácidos pirolenhosos (formado
por ácido acético, ácido fórmico,
alcatrão solúvel, metanol e água) e
alcatrão insolúvel. A formação de alcatrão
é um dos maiores problemas a
ser enfrentado durante a gaseificação
de biomassa. Alcatrão condensa sob
temperaturas reduzidas, polimerizando-se
em equipamentos tais como
motores e turbinas, prejudicando assim
o funcionamento dos mesmos.
A eficiência da conversão termoquímica
da biomassa depende do
material utilizado, tamanho e forma
das partículas, vazão do gás, tipos de
reatores, entre outros fatores. O modo
com que o combustível e o agente gaseificante
entram em contato no gaseificador
é importante e forma a base
6
Revista Biomassa BR
das principais classificações de gaseificadores.
Em linhas gerais, os gaseificadores
podem ser classificados com
base na direção do fluxo dos gases:
concorrente, contra-corrente, fluxo
cruzado, e leito fluidizado.
O processo de gaseificação acontece
na faixa de temperatura entre
800 e 1800 °C, sendo esta temperatura
influenciada pelas características
do combustível utilizado. As principais
reações químicas decorrentes do
processo de gaseificação são as que
envolvem carbono, monóxido de carbono,
dióxido de carbono, hidrogênio,
metano e água. Um sistema de
gaseificação consiste principalmente
por um reator no qual o combustível
é alimentado juntamente com um limitado
fornecimento de ar (cerca de
35% do requerido para a combustão
completa), ou seja, onde as reações do
processo de gaseificação acontecem.
3.2. Pirólise de biomassa
A pirólise da biomassa é a degradação
térmica de biomassa que
ocorre em temperaturas mais baixas
(400-1200 O C) em comparação à gaseificação
com condições controladas
de agente oxidante, geralmente na ausência
dele. Os principais produtos resultantes
da pirólise da biomassa são
o bio-óleo líquido, biocarvão sólido e
produtos gasosos não condensáveis,
como CO 2
, CH 4
e H 2
.
A pirólise é um processo de conversão
termoquímica simples e eficiente
para obter energia da biomassa e gerar
produtos de alta densidade energética,
incluindo o hidrogênio. Essas tecnologias
utilizadas para aproveitamento
de energia são diferenciadas de acordo
com as características da biomassa
e do produto, eficiência do processo,
quantidade de oxidante utilizado,
temperatura e taxa de aquecimento,
entre outros.
A eficiência do processo de pirólise
depende da matéria-prima (tipo
de biomassa, tamanho de partícula,
pré-tratamento da biomassa), condições
de reação (temperatura final,
pressão, taxa de aquecimento, tempo
de residência), tipo de reator e variáveis
como a presença de catalisadores
e mecanismos de condensação
de vapor. Existem diferentes tipos de
pirólise e, dependendo das condições
de operação, a pirólise é denominada
lenta, flash, rápida, intermediária ou
vácuo.
Artigo
Além disso, as proporções e a
composição dos produtos de pirólise
também dependem das condições
utilizadas. A pirólise lenta ocorre em
uma temperatura de processo mais
baixa, menor taxa de aquecimento e
tempos de residência mais longos, o
que favorece a produção de carvão
vegetal. A pirólise flash é o processo
no qual o tempo de reação é de apenas
alguns segundos, ou até menos,
e a taxa de aquecimento é muito alta.
Devido ao aquecimento rápido, o tamanho
da partícula deve ser pequeno.
A pirólise rápida favorece a formação
de bio-óleo e ocorre em temperatura
moderada, curto tempo de residência
do vapor e alta taxa de aquecimento,
mas não tão alta quanto na pirólise
flash. A tecnologia de pirólise rápida
pode ter custos de investimento
relativamente baixos e alta eficiência
energética em comparação com
outros processos, especialmente em
pequena escala, tem menores investimentos
de capital, maior eficiência
e aceitabilidade ambiental. A pirólise
intermediária é geralmente utilizada
para fazer um equilíbrio entre produtos
líquidos e sólidos. As condições
operacionais para a pirólise intermediária
estão entre a pirólise lenta
e rápida.
4. Considerações finais
A produção de hidrogênio com
baixo teor de carbono a partir da biomassa
é uma abordagem sustentável
e promissora em comparação com os
combustíveis fósseis convencionais.
À medida que a demanda por hidrogênio
renovável continua a crescer, a
gaseificação e a pirólise de biomassa
surgem como soluções promissoras,
oferecendo fontes sustentáveis, diversificadas
e descentralizadas de hidrogênio.
No entanto, a implementação
comercial dessas tecnologias ainda
enfrenta desafios tecnológicos e econômicos
significativos que precisam
ser superados.
Para viabilizar a produção de hidrogênio
a partir da biomassa em
larga escala, é crucial aprimorar a eficiência
dos processos, reduzir os custos
de investimento e operação, bem
como desenvolver sistemas eficientes
de limpeza e purificação de gases. Esses
aspectos são fundamentais para
tornar essa abordagem economicamente
competitiva e ambientalmente
sustentável.
A colaboração entre governos,
instituições de pesquisa e o setor privado
desempenha um papel essencial
na superação dos desafios existentes
e na promoção da inovação. Investimentos
contínuos em pesquisa, desenvolvimento
e implementação dessas
tecnologias são necessários para
transformar a economia do hidrogênio
em realidade.
5. Referências bibliográficas
A PIRÓLISE É UM PROCESSO DE CONVERSÃO
TERMOQUÍMICA SIMPLES E EFICIENTE PARA
OBTER ENERGIA DA BIOMASSA E GERAR
PRODUTOS DE ALTA DENSIDADE ENERGÉTICA,
INCLUINDO O HIDROGÊNIO
Bar-On YM, Phillips R, Milo R. The
biomass distribution on Earth. Proceedings
of the National Academy of
Sciences 2018;115(25):6506-11.
Empresa de Pesquisa Energética. Balanço
Energético Nacional, ano base
2022.
International Energy Agency, IEA.
Global Hydrogen Review 2022.
Revista Biomassa BR
7
Artigo
Potencial de geração de biogás, biometano
e hidrogênio a partir da fração orgânica dos
resíduos sólidos urbanos no Nordeste
Sérgio Peres - Universidade de Pernambuco –
Departamento de Engenharia Mecânica/PPGES/ sergio.peres@upe.br
RESUMO
Segundo o Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Brasil, 2022), as emissões no Brasil totalizaram 1,467 Tg CO 2
e, o setor
que mais contribuiu o uso de terra, mudança do uso da terra e florestas (LULUCF), sendo os resíduos responsáveis por 4,5% destas emissões. Na
região Nordeste, as emissões contribuíram com 18,23% das emissões nacionais (267.499 Gg CO 2
e), e os resíduos contribuíram com 6% destas
emissões (16.050 Gg CO 2
e), sendo o quarto maior emissor de GEE no Nordeste. A fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, a FORSU, poderia
ser utilizada na geração de biogás através da digestão anaeróbia, evitando o seu descarte em aterros. Este biogás gerado, por sua vez, pode
ser utilizado para geração de eletricidade ou purificado para a produção de biometano, que é um substituto renovável do gás natural em todas
as suas aplicações, podendo além de ser utilizado para geração de eletricidade ou comprimido para ser utilizado como combustível veicular, o
bioGNV. Além disso, através da reforma a vapor, o biometano pode ser utilizado como matéria-prima para a produção de hidrogênio sustentável
(hidrogênio musgo), através da reforma a vapor, que é um combustível muito importante para o processo de descarbonização do planeta.
A FORSU consiste da matéria orgânica (resíduos úmidos) presentes nos RSU. Segundo a ABRELPE (2020), a FORSU representa 45,3% do RSU
no Brasil. Assim sendo, a quantidade de FORSU gerada no NE corresponde a aproximadamente, a 24.451 t.dia -1 . Caso estes resíduos fossem
utilizados como matéria-prima em biodigestores, poderiam gerar 2.689.610 Nm 3 .dia -1 de biogás, com um teor aproximado de 60% de metano.
Este biogás poderia ser purificado é gerar aproximadamente 1.613.766 Nm 3 .dia -1 de biometano, que por sua vez, poderia produzir 412.757 toneladas
por dia de hidrogênio sustentável ou 5.486.804 kWh dia -1 de eletricidade. Como 1 t de FORSU gera 46 kg de CO 2
e (Yoshida, 2012), com
o uso da FORSU seriam evitadas emissões de 1,125 Gg de CO 2
e.dia -1 , ou seja, aproximadamente, 410,532 Gg de CO 2
e.ano -1 . Como as metas
de descarbonização estabelecidas pelo Brasil são de redução das emissões de GEE, em 37% até 2025, 43% até 2030 e atingir a neutralidade até
2050, a valorização energética dos resíduos, contribuiria significantemente para a redução deste passivo ambiental além de gerar eletricidade,
biocombustíveis e/ou hidrogênio sustentável de forma distribuída, gerando emprego e renda nas localidades que utilizarem esta tecnologia.
Estas ações estão de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, principalmente, com as ODS 13 – Ação contra
mudança global do clima; ODS 11- Cidades e comunidades sustentáveis; e, o ODS 7 – Energia acessível e limpa, e com reflexo nos demais ODS.
Introdução
A preocupação com o aquecimento
global, denotam ações para conter
as mudanças climáticas conforme estabelecido
pelo ODS 13 – Ação contra
mudança global do clima e metas
definidas pelos países signatários do
Acordo de Paris (COP21) da UN-
FCCC, através da Contribuição Nacionalmente
Determinada (NDC), na
qual o Brasil se compromete a reduzir
as emissões de GEE, em 37% até 2025,
43% até 2030 e atingir a neutralidade
até 2050, em comparação às emissões
verificadas em 2005 (BRASIL-MMA,
2023).
Em 2016, foram emitidos 1,467
Tg CO 2
e de GEE no Brasil, sendo
267.499 Gg CO 2
e, no Nordeste, ou
seja, 18,23% dos GEE. Os resíduos
orgânicos (resíduos úmidos) foram a
quarta maior fonte de emissões de gases
de efeito estufa (GEE) no Nordeste
Brasileiro, com a emissão de 16.050
Gg CO 2
e (Brasil, 2022).
Porém a FORSU pode ser utilizada
como matéria-prima em reatores
anaeróbios, chamados biodigestores
para serem degradadas por micro-
-organismos e gerar biogás que é um
combustível gasoso, constituído, basicamente,
de metano (60%) e dióxido
de carbono (40%), com traços de
gás sulfídrico (ADNA et al., 2019). Os
resíduos do processo da biodigestão
anaeróbia são chamados de digestato
e são biofertilizantes que podem ser
utilizados em plantações e lavoura
(FURTADO; PADILHA; ALMEIDA,
2021). Este gás pode ser purificado,
com a remoção do dióxido de carbono
e do gás sulfídrico, produzindo o
chamado biometano.
O potencial de produção de biogás
com os RSU do Nordeste, a sua
purificação para biometano e seu uso
para a produção de hidrogênio sustentável
estão descritos neste artigo.
8
Revista Biomassa BR
Revista Biomassa BR
9
Artigo
Resíduos sólidos urbanos, a geração
do biogás e biometano
Os resíduos foram responsáveis
por 4,5% das emissões de GEE no
Brasil. E, no Nordeste, o percentual de
emissões de GEE com resíduos foi de
6% das emissões totais, aproximadamente
16.050 Gg CO 2
e, sendo o quarto
maior emissor. Porém, em alguns
estados como Pernambuco, em 2019,
os resíduos constituídos de resíduos
sólidos urbanos (RSU) e esgoto, foram
a segunda maior fonte poluidora, gerando
22,74% e 4,38% das 19,513 Gg
de GEE emitidas (SEMAS-PE, 2022).
O percentual da fração orgânica
dos resíduos sólidos (FORSU) varia
por localidade, município e estado.
Para este trabalho, foi utilizado o percentual
de 45,3% que aproximadamente
a média nacional (ABRELPE,
2020). A Tabela 1 ilustra a produção
de RSU e FORSU nos estados do Nordeste.
Os RSU são geralmente descartados
em aterros e lixões, onde causam
problemas ambientais com emissões
de metano (mesmo os que possuem
captação de metano), geração de lixiviado
que causam impacto ao meio-
-ambiente. Uma maneira de evitar
o seu descarte é a sua valorização
como matéria-prima para a produção
de combustíveis renováveis e o
seu uso energético. Uma das formas
de utilização é como substrato (matéria-prima)
em biodigestores, que são
reatores anaeróbios, onde ocorre a
degradação da matéria orgânica com
micro-organismos e que resultam na
produção de biogás e digestato (FUR-
TADO; PADILHA; ALMEIDA, 2021).
Os principais constituintes do biogás
são o metano (60%), o dióxido de carbono
(40%) e contaminantes como o
gás sulfídrico e outros (ADNAN et al.,
2019). O biogás pode ser purificado
para remoção dos contaminantes para
aumentar o seu teor de metano e consequentemente
o seu poder calorífico.
Segundo a ANP, no Brasil, o biometano
deve possuir um teor de metano
mínimo de 90% de metano e atender
as especificações técnicas citadas na
Resolução ANP 866/2022 para a sua
comercialização.
O potencial de geração do biogás
e suas características diferem se
a FORSU é descartada num aterro
sanitário e num biodigestor. Neste
último, as variáveis de processo (pH,
temperatura, agitação, teor de água,
concentração de substrato, alcalinidade
entre outros) são controladas e otimizadas,
enquanto que no aterro não
há controle das mesmas. Por isso, a
produção de biogás utilizando a FOR-
SU, no aterro é de aproximadamente
52 Nm 3 .t -1 e teor de metano de 53%;
enquanto que nos biodigestores do
tipo CSTR, chegam a valores de 110
Nm 3 .t -1 e um teor de metano de 60%
(PERES; PALHA, 2016; LINVILLE et
al., 2015; ADNAM et al, 2019). Para
este estudo de caso, foram utilizados
os dados de geração de biogás em
biodigestores, por ser mais eficiente,
e devido ao fato de existir a Diretiva
1999/31/CE da União Europeia reduzindo
o descarte em 65% em peso
da FORSU em aterros sanitários, e
a obrigatoriedade do reciclo dos resíduos
orgânicos em alguns estados
americanos (MASS.GOV, 2022) como
forma de conter as emissões de GEE,
e por ser considerada, uma forma de
reciclagem dos resíduos.
De acordo com Wethäuser et al.
(2010) apud Almeida (2021), os três
processos principais de remoção do
dióxido de carbono (CO 2
) do biogás
são: lavagem com água sob alta pressão,
processos de adsorção e lavagem
química (com soluções de monoetalonamina-
MEA ou metalonamina
– DEA). Portanto, para efeito de
cálculo considerou-se que o CO 2
foi
totalmente removido, e foi produzido
o biometano com o teor de metano de
100%.
A Tabela 2 ilustra o potencial de
geração de biogás e biometano com a
FORSU em todos os estados do Nordeste.
Hidrogênio Sustentável
Atualmente, o método mais comum
para produção de hidrogênio
(H 2
) é a Reforma a Vapor do Metano
(steam methane reform-SMR) com
a reação de deslocamento água-gás
(water-gas shift reaction - WGSR) utilizando
o gás natural, que corresponde
a 47% da produção mundial que é
de 75 MtH2 (IRENA, 2022).
Na SMR, o metano reage com o
vapor entre 700°C e 1100ºC com uma
pressão que varia entre 3 a 25 bar, na
presença de um catalisador. Para cada
molécula de metano são produzidas 4
moléculas de H 2
e 1 molécula de CO 2
(BASILE, 2015). Porém, como a eficiência
do reformador varia de 65 a 75%.
Porém, segundo Singh et al (2015), relata
uma eficiência de 72% para os reformadores
de metano a vapor. O H 2
10
Revista Biomassa BR
possui as seguintes características: - a
massa específica de 0,08376 kg.Nm -3 ;
- poder calorífico inferior (PCI) de
119,93 MJ.kg -1 . Portanto, para produzir
1 kg de H 2
são necessários 11,94
Nm 3 . O poder calorífico inferior do
H 2
é de 10,04 MJ.Nm -3 , tendo aproximadamente,
28% do PCI do metano
que é 35,818 MJ.Nm -3 (NBR-15213).
A Tabela 3 ilustra o potencial de
produção de H 2
sustentável no Nordeste
utilizando a FORSU como matéria-prima
e utilizando a reforma a
vapor do biometano como rota tecnológica.
Portanto, verifica-se que se esta
rota de utilização da FORSU para a
produção de H 2
sustentável, o NE teria
condições de produzir diariamente
cerca de 400.000 t, sendo a Bahia
o estado de maior capacidade de
produção de H 2
sustentável por esta
rota, com o potencial de produção de
106.247 t.dia -1 , seguido pelos estados
do Ceará e Pernambuco, com potencial
de produção de 74.000 t.dia -1 e
68.841 t.dia -1 , respectivamente. Estes
dados são importantes, quando o NE
se habilita como um potencial produtor
de H 2
sustentável utilizando
eletrólise utilizando energia eólica e
solar, que são fontes intermitentes de
energia, e esta rota da biomassa apresenta
um potencial de produção de
H 2
plena. Este valor ainda seria bem
maior, se fossem utilizados outros
substratos como excrementos animais,
silagens, águas residuárias como
a vinhaça, manipueira, esgoto e lodo
de esgoto e resíduos agrícolas. Além
da produção do biogás, o uso de resíduos
orgânicos em biodigestores produz
como subproduto o digestato que
é um biofertilizante que pode ser utilizado
na lavoura e plantações; e, reduz
significantemente o passivo ambiental
produzido por estes resíduos.
Conclusão
A utilização da FORSU é uma
alternativa promissora de produção
de H 2
sustentável com um potencial
de produção de aproximadamente
400.000 t.dia -1 , tendo os estados da
Bahia, Ceará e Pernambuco com os
que possuem a maior capacidade de
produção com 16.249 t.dia -1 , 74.000 t.
dia -1 e 68.841 t.dia -1 , respectivamente.
Além disso, este valor pode ser muito
maior caso sejam utilizados excrementos
animais e resíduos da lavoura.
O uso da FORSU para a produção de
H 2
sustentável gera como coproduto o
digestato que é um biofertilizante que
pode ser aplicado na lavoura e plantações,
além disso, haverá uma redução
significativa do passivo ambiental
causado pelo descarte da FORSU, seja
nos aterros sanitários ou em locais
inapropriados como lixões e outros
locais. Estas ações estão condizentes
com a ODS 13 e vai ajudar o Brasil
atingir as metas estabelecidas NDC,
de reduzir as emissões de GEE, em
37% até 2025, 43% até 2030 e atingir a
neutralidade até 2050.
Referências
ABRELPE – Panorama dos Resíduos Sólidos
no Brasil 2020.
ABRELPE – Panorama dos Resíduos Sólidos
no Brasil 2022.
ADNAN, A, I., ONG, M. Y., NOMANBHAY,
S., CHEW, K. W., SHOW, P. L.- Technologies
for biogas upgrading to biomethane.
Bioengineering.v6, 92; doi:10.3390/bioengineering6040092.
ALMEIDA, H. C. – Tratamento e purificação
de biogás. FUNDAMENTOS DA
BIODIGESTÃO ANAERÓBIA – CON-
CEITOS E PROCESSOS. ISBN-10:
6558611163.
Artigo
BASILE, A., LIGUORI, S., LULIANELLI,
A. – Membrane reactors for methane steam
reforming (MSR) - https://doi.org/10.1016/
B978-1-78242-223-5.00002-9. Disponível
em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9781782422235000029.
Acesso em 22/06/2023.
BRASIL – Resultados do inventário nacional
de emissões de gases de efeito estufa por
unidade federativa. Edição 1.1. 2022.
BRASIL, MMA – Acordo de Paris. Disponível
no site https://antigo.mma.gov.br/cli-
ma/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-
-de-paris.html. Acesso em 22/06/2023.
FURTADO, A. C., PADILHA, J. C., AL-
MEIDA, H. C. – A energia do Biogás.
FUNDAMENTOS DA BIODIGESTÃO
ANAERÓBIA – CONCEITOS E PRO-
CESSOS. ISBN-10: 6558611163.
IRENA – Hydrogen. Disponível em file:///E:/FORUM%20GD%20NATAL%20
-%20JUNE%202023/IRENA%20Hydrogen.pdf.
2022. Acesso em 22/06/2023.
LINVILLE, J.L.; SHEN, Y.; WU, M.M.;
URGUN-DEMIRTAS, M. Current State
of Anaerobic Digestion of Organic Wastes
in North America. Curr. Sustainable Renewable
Energy Rep. v. 2, p. 136-144. 2015.
MASS.GOV – Commercial food material
disposal ban. Disponível em https://www.
mass.gov/guides/commercial-food-material-disposal-ban.
Acesso em 22/06/2023.
NAÇÕES UNIDAS – BRASIL – Objetivos
de desenvolvimento sustentável. Disponível
no site https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.
Acesso em 22/06/2023.
NBR-1513. Gás Natural – Cálculo de propriedades
físico-químicas a partir da composição.
NYSERDA – Hydrogen Fact Sheet – Hydrogen
Production – SMR.
PERES, S., PALHA, M. A. P. F. – Inventário
da Biomassa produtora de biogás em Pernambuco.
2016. ISBN: 978- 85-92897-07-9.
PERNAMBUCO, SEMAS – Inventário
das emissões de gases de efeito estufa em
Pernambuco. 2022. Disponível em https://semas.pe.gov.br/wp-content/uploads/2022/05/Inventario-2015_2020_Versao-MAIO_22.pdf.
Acesso em 22.06.2023.
SINGH, S., JAIN, S., VENKATESWA-
RAN, PS., TIWARI, A. K., NOUNI, M. R.,
PANDEY, J. K., GOEL. S. – Hydrogen: a
sustainable fuel for future of the transport
sector. Renewable and sustainable energy
reviews. V 51, 623-633, 2015. http://dx.
doi.org/10.1016/j.rser.2015.06.040 1364-
0321/& 2015 Elsevier Ltd.
UE – DIRECTIVA 1999/31/CE do Conselho,
de 26 de Abril de 1999, relativa à
deposição de resíduos em aterros. Disponível
no site https://eur-lex.europa.eu/
legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELE-
X:31999L0031. Acesso em 22/6/2023.
YOSHIDA, H.; GABLE, J.J.; PARK, J.K.
Evaluation of organic waste diversion alternatives
for greenhouses gas reduction.
Resources, Conservation and Recycling. v.
60 p. 1-9. 2012.
Revista Biomassa BR
11
Brasil chegará a 26GW em
GERAÇÃO DE ENERGIA DISTRIBUÍDA
em 2023
Preocupação com produção a partir de matrizes limpas, em razão das mudanças climáticas, além
da autoprodução para diminuir custos de empresas e de residências, fez a modalidade chegar a
21,68GW em junho. País deverá investir R$ 38 bilhões ao longo deste ano
Até o final de 2023, o Brasil
atingirá entre 25 e 26GW
de capacidade instalada
em Geração de Energia
Distribuída, modalidade
na qual o consumidor produz sua própria
energia consumida, considerando
seus diversos tipos: solar, eólica, biomassa
e biogás, CGHs e outras. Em
maio, o país já atingiu a marca de 21
gigawatts de produção a partir
da Energia Distribuída,
quantidade ficiente para abas-
sutecer
10,5 milhões
de residências ou
cerca de 42 milhões
de pessoas,
o equivalente a
cerca de 20% de
toda a população
brasileira. Neste
começo de junho,
a Geração Distribuída
já chegou a
21,68GW.
Se este ritmo de
crescimento se mantiver,
os investimentos ao
longo do ano devem somar
mais de R$ 38 bilhões no país nesta
modalidade de energia. A preocupação
com as mudanças climáticas e o
interesse em diminuir os custos com
energia elétrica são duas pautas importantes
para a sociedade brasileira
hoje. Estes números só comprovam
esta tendência de buscar fontes de
energia eficientes e dos consumidores
brasileiros se tornarem, ao mesmo
tempo, produtores autossuficientes de
energia renovável.
São Paulo, um dos estados mais
populosos e economicamente desenvolvidos
do Brasil, alcançou recentemente
um marco importante no setor
de energia: atingiu a impressionante
marca de 3 gigawatts (GW) de capa-
cidade de geração distribuída.
Esse
fei-
to reflete o compromisso do estado
em promover a transição para fontes
de energia mais limpas e sustentáveis.
Em 2022, o estado de São Paulo
foi que mais agregou potência ao sistema
elétrico nacional com 1,1 GW –
à frente de Minas Gerais (844 MW) e
Rio Grande do Sul (830 MW), segundo
e terceiro colocados, respectivamente.
Em março de 2023, outra conquista
importante para os paulistas,
o estado ultrapassou Minas Gerais e
tornou-se o líder em GD no Brasil.
Outro estado importante econo-
A geração distribuída refere-se
à produção de eletricidade a partir
de fontes renováveis em pequena
escala, instaladas em residências,
comércios, indústrias e propriedades
rurais. Essa forma
de geração de energia
tem se tornado cada
vez mais popular
em todo o do, devido aos
mun-
benefícios
ambientais,
econômicos
e sociais que
proporciona.
Em São
Paulo, a geração
distribuída
tem
se expandido
rapidamente
nos últimos anos,
impulsionada por centivos governamentais,
in-
como a isenção de impostos e tarifas
especiais para os geradores. Além disso,
a conscientização sobre a importância
da sustentabilidade e a busca
por redução nos custos de energia
têm motivado os moradores e empresários
a adotarem sistemas de geração
distribuída.
12
Revista Biomassa BR
ASSIM COMO EM GRANDE
PARTE DOS ESTADOS,
A ENERGIA SOLAR É A
MAIS UTILIZADA PELOS
“PROSSUMIDORES”
(CONTRAÇÃO DE
PRODUTORES E
CONSUMIDORES DE
ENERGIA)...
micamente no Brasil, o Rio de Janeiro,
tornou-se um dos nove no país a ultrapassar
a marca de 100 mil unidades
consumidoras (ou UCs, que podem
ser residências familiares, como casas,
apartamentos, comércios, entre outras),
que se valem da geração própria
de energia, também conhecida por geração
distribuída (GD), juntando-se a
São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco,
Paraná e Rio Grande do Sul.
A classe consumidora predominante
no estado é a residencial, representando
aproximadamente 90%
dessas UCs, o que mostra uma disposição
muito grande da população carioca
a investir seus próprios recursos
em energia renovável. Logo atrás vem
as conexões comerciais, que representam
7% das UCs, seguida pelas conexões
rurais que representam 2%.
O crescimento acelerado da GD
no país conta com a conscientização
da população sobre o assunto. A previsão
é de que o Brasil coloque cerca
de 8 GW em potência de GD nesse
ano. O Rio de Janeiro desempenha
papel importante nesse crescimento,
e o resultado mostra que os cariocas
estão preocupados com o meio ambiente
e com a diminuição dos custos
com energia.
Assim como em grande parte dos
estados, a energia solar é a mais utilizada
pelos “prossumidores” (contração
de produtores e consumidores de
energia). A evolução da geração própria
de energia passa principalmente
pelos benefícios oferecidos por essa
modalidade, em diferentes aspectos.
Para os consumidores, a GD se tornou
uma alternativa para garantir previsibilidade
e baixar custos, além de contribuir
para a transição energética. A
Lei 14.300 que institui o marco legal
da micro e minigeração distribuídas
foi um importante passo para o desenvolvimento
destas modalidades de
produção energética no país.
Em relação ao sistema elétrico
nacional, a geração própria de energia
reduz custos de transmissão e
distribuição e contribui para a segurança
do sistema, bem como utilizar
fontes renováveis, o que beneficia
o sistema como um todo. A população
ganha com novas modalidades
energéticas, usufrui um sistema
cada vez mais limpo e, assim, assegura
a transição com menos impacto
das mudanças climáticas para as
gerações futuras.
Ao segmento e à sociedade resta
ainda superar algumas dificuldades
impostas pelas grandes distribuidoras,
que ainda criam, em muitos
momentos, obstáculos aos prossumidores.
Essas tribulações são definidas,
enquanto tais concessionárias
dominam, por outro lado, a geração
distribuída, aproveitando-se da
concessão que possuem em sua área
de atuação.
FEED AND BIOFUEL
IMPULSIONANDO SEU
NEGÓCIO DO CAMPO
AO COMBUSTÍVEL
COMO PODEMOS AJUDAR A
ABASTERCER O SEU NEGÓCIO ?
VAMOS ABASTECER O SEU NEGÓCIO
Quando se trata do futuro do seu negócio, nosso
comprometimento envolve todo o ciclo de sua operação.
Desde a primeira análise da matéria-prima no campo, até
a sua produção. Como para a Georgia Biomass, uma das
maiores plantas de biomassa do mundo, que conta com um
centro de serviço ANDRITZ dedicado à sua planta. Descubra
como nossas soluções em processos e serviços podem
abastecer o seu negócio em andritz.com/ft.
ANDRITZ FEED & BIOFUEL
Rua Progresso 450
Pomerode - SC - Brasil
89107-000
Tel: +55 47 3387 9198
E-mail: andritz-fb.br@andritz.com
SOLAR DO BRASIL
PRODUTOS
GARANTIA
25
ANOS
Revista Biomassa BR
15
Artigo
BIOGÁS BRASILEIRO:
uma fonte de energia limpa e renovável
com impacto geopolítico positivo
Por Heleno Quevedo de Lima
Fundador e CEO do Portal Energia e Biogás
Nos últimos anos, o Brasil
tem buscado soluções
inovadoras para enfrentar
desafios ambientais
e energéticos. Desafios
impostos a todas as nações. Um recurso
valioso e subutilizado é a biomassa
residual orgânica, que é desperdiçada
diariamente. Essa biomassa é proveniente
de diferentes fontes, como resíduos
sólidos urbanos, esgoto, dejetos
da produção de proteína animal e resíduos
da agroindústria, entre outras
fontes.
Por meio da digestão anaeróbia,
é possível reaproveitar inteligentemente
essa biomassa residual, gerando
benefícios energéticos. A digestão
anaeróbia é um processo natural em
que micro-organismos degradam os
resíduos orgânicos em um ambiente
sem oxigênio, resultando na produção
de biogás, composto principalmente
por metano e dióxido de carbono.
O biogás possui diversas aplicações
promissoras. Pode ser utilizado
para autoconsumo, atendendo às necessidades
energéticas locais, ou ser
comercializado, gerando receita por
meio de diferentes modelos de negócios.
Sua geração de eletricidade, seja
em projetos de geração distribuída ou
geração centralizada, pode abastecer
comunidades, empresas, reduzindo a
dependência de fontes convencionais
e diminuindo as emissões de gases de
efeito estufa.
Além disso, seu uso térmico substitui
a queima de combustíveis fósseis
ou queima da lenha em processos industriais,
aquecimento residencial,
comercial e até na secagem de produtos
agrícolas. O biogás pode contribuir
diretamente na transição energética
nos transportes, possibilitando
que o biometano possa substituir o
consumo de diesel em caminhões e
máquinas agrícola.
A digestão anaeróbia, além de
contribuir para a transição energética
para uma economia de baixo carbono,
evita a emissão de gases de efeito
estufa provenientes da decomposição
natural dos resíduos. Também possibilita
a recuperação de nutrientes presentes
no digestato, colaborando na
redução das emissões de gases de efeito
estufa e alinhando-se aos princípios
da economia circular.
O uso dos resíduos orgânicos para
a produção de biogás não se limita à
sustentabilidade ambiental, mas também
estão alinhados aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)
estabelecidos pela ONU. Contribuem
para a promoção de padrões sustentáveis
de produção e consumo (ODS
12), combate às mudanças climáticas
(ODS 13), erradicação da pobreza
(ODS 1), melhoria da saúde e bem-estar
(ODS 3) e fornecimento de energia
limpa (ODS 7).
É urgente reconhecer a necessidade
de mudar nossa perspectiva em relação
aos resíduos orgânicos, evitando
o desperdício de recursos valiosos,
como energia e nutrientes. No Brasil,
há empresas e profissionais capacitados
para avaliar, desenvolver e implementar
projetos de digestão anaeróbia
viáveis economicamente, com controle
de riscos.
Estamos em um momento crucial
de mudança de comportamento,
rumo a um futuro em que o uso racional
dos recursos naturais, a eficiência
dos processos e a recuperação
energética são prioridades. O biogás e
o biometano são biocombustíveis gasosos
com potencial para impulsionar
o Brasil rumo à sustentabilidade e independência
energética.
Para alcançar esses resultados, é
fundamental investir em pesquisa e
desenvolvimento, estabelecer políticas
públicas e regulamentações adequadas,
e criar parcerias entre os setores
público e privado. Chegou a hora de
aproveitar o potencial revolucionário
dos resíduos orgânicos, transformando-a
em uma fonte de energia limpa
e renovável. Ao fazer isso, pavimentaremos
o caminho para um Brasil mais
sustentável em termos econômicos,
sociais e ambientais, abrindo novas
oportunidades para um futuro próspero.
Portanto, considerando o potencial
de produção de biogás a partir dos
resíduos orgânicos, sua capacidade de
promover a independência energética,
reduzir a dependência de combustíveis
fósseis, mitigar as mudanças
climáticas e criar oportunidades
de exportação, pode-se afirmar que
a produção de biogás é uma estratégia
geopolítica relevante para o Brasil.
Pense nisso!
16
Revista Biomassa BR
SEJA UM
EXPOSITOR DO
2023
SAVE
THE
DATE
16 e 17
NOVEMBRO
2023
BELO HORIZONTE - MG - BRASIL
8
2023
WWW.CBGD.COM.BR
Revista Biomassa BR
17
Entrevista
A Revista Biomassa BR traz
uma entrevista exclusiva com
EMANUELLE GRACIOSA, doutora
em engenharia agrícola, especializada
em Bioenergia
"O avanço contínuo da tecnologia e a busca por soluções mais eficientes e acessíveis
são fatores cruciais que determinarão o curso desse setor promissor"
REVISTA BIOMASSA BR - O setor
de energias renováveis vem crescendo
no Brasil, e fontes como o
biogás estão presentes nesta transição
energética. De acordo com
a Associação Brasileira do Biogás
(ABiogás), o país tem um potencial
de realizar uma produção diária de
120 milhões de metros cúbicos (m³)
de biogás, sendo equivalente a 35%
da demanda elétrica atual. Diante
disso, qual a sua visão para o futuro
desse setor? E qual a importância
da bioenergia nesse cenário?
EMANUELLE GRACIOSA - O
setor de energias renováveis está
em constante crescimento devido
à crescente demanda por fontes de
energia que atendam aos requisitos
de preservação ambiental. No
entanto, é importante salientar que
esse setor está sujeito a limitações
impostas pela inovação tecnológica
e pela competitividade de cada fonte.
O avanço contínuo da tecnologia
e a busca por soluções mais eficientes
e acessíveis são fatores cruciais
que determinarão o curso desse setor
promissor. À medida que novas
tecnologias emergem e se aprimoram,
as energias renováveis têm o
potencial de se tornarem uma parte
ainda maior e mais integral da matriz
energética global, impulsionando
o desenvolvimento sustentável e
contribuindo para a preservação do
meio ambiente.
A bioenergia, incluindo o biogás,
desempenha um papel significativo
na diversificação da matriz energética,
redução da dependência de
fontes fósseis e promoção do uso
sustentável de recursos naturais.
Além disso, a produção de biogás,
por exemplo, a partir de resíduos
orgânicos auxilia na resolução de
problemas relacionados à gestão
de resíduos, reduzindo a poluição
ambiental e agregando valor a materiais
que seriam descartados.
REVISTA BIOMASSA BR - Grandes
empresas brasileiras estão investindo
em bioenergia no agave
do setor brasileiro. Conte para nós
como funcionam as soluções de
plantio e colheita do agave? Além
disso, qual a principal tecnologia de
processamento? E a expectativa de
novas indústrias investirem nesse
mercado?
A perspectiva de estabelecer uma
nova cadeia industrial no Brasil,
centrada no agave como fonte de
bioenergia, tem despertado o interesse
de renomados pesquisadores
e multinacionais, resultando em
investimentos substanciais para o
desenvolvimento de tecnologias
voltadas à exploração sustentável
dessa fonte energética. O Sertão
Brasileiro é uma região com potencial
para se tornar um importante
polo produtor de biocombustíveis,
apresentando uma oportunidade de
desenvolvimento de uma área que
enfrenta altos índices de vulnerabilidade
socioeconômica no país.
Dada a relevância desse tema, que
impacta diretamente a sociedade,
especialmente ao aproveitar uma
planta nativa de uma região de baixa
renda, há uma expectativa elevada
de investimentos nesse mercado.
Atualmente, o cultivo de agave é realizado
inteiramente de forma manual.
Para viabilizar a implementação
dessa nova cadeia produtiva
baseada no agave para a bioenergia,
é necessária a criação de equipamentos
específicos para o plantio,
colheita e processamento industrial
dessa cultura.
REVISTA BIOMASSA BR - Em sua
última palestra, no Fórum GD Sul,
explicou aos participantes que a
biomassa florestal funciona como
painéis solares naturais, onde as folhas
da biomassa convertem a energia
do sol através da fotossíntese em
energia química e tem o potencial
armazenado nas moléculas como
celulose, moléculas de lignina entre
18
Revista Biomassa BR
outros. Como funciona todo esse
processo? E que dispositivos são necessários
para fazer essa conversão
de energia?
A fotossíntese é um processo realizado
por plantas, algas e algumas
bactérias, no qual a energia luminosa
do sol é convertida em energia
química. Durante a fotossíntese, a
clorofila presente nas células desses
organismos captura a energia
luminosa e a utiliza para sintetizar
moléculas de açúcar, como a glicose,
a partir de dióxido de carbono
e água. A biomassa é constituída
principalmente por compostos orgânicos,
como celulose, lignina,
amido e açúcares, que podem ser
convertidos em energia por meio de
reações químicas, como a combustão.
Durante a combustão, a energia
química armazenada nessas moléculas
é liberada na forma de calor
e luz. Normalmente, a combustão é
realizada em fornalhas e caldeiras.
A energia térmica liberada pode ser
utilizada diretamente a partir desses
equipamentos. No entanto, para
a obtenção de energia elétrica, é necessário
acoplar um ciclo termodinâmico.
REVISTA BIOMASSA BR - Além
disso, reforçou que ao se investir em
biomassa florestal para produção de
energia, também será possível melhorar
as ações de reflorestamento
das florestas pelos próximos 7 anos.
Diante dessa observação, qual sua
visualização do momento atual em
relação a isso? Estamos realmente
trilhando no caminho para a conservação
das florestas ambientais?
De acordo com o relatório anual
de 2022 do Instituto Brasileiro
de Árvores (IBÁ), em 2021, a
área total de plantações florestais
atingiu 9,93 milhões de hectares,
representando um aumento de
1,9% em relação aos dados revisados
de 2020 (9,75 milhões de
hectares).
O setor de plantações florestais direciona
investimentos em florestas,
pesquisa e desenvolvimento, operações,
modernização de fábricas e
estabelecimento de novas unidades.
Esses investimentos visam aumentar
a eficiência, promover avanços
tecnológicos e garantir práticas sustentáveis.
O setor demonstra de forma concreta
que é possível produzir e conservar
simultaneamente. Os 9,93
milhões de hectares de plantios
florestais são frequentemente realizados
em terras previamente degradadas,
contribuindo para a recuperação
dessas áreas.
REVISTA BIOMASSA BR - Apesar
do Brasil possuir um grande
potencial energético derivado dos
resíduos agrícolas, agroindustriais
e pecuários, observa-se que a contribuição
da biomassa na matriz
elétrica brasileira é pequena. Por
que esse potencial está sendo subutilizado?
De modo geral, constata-se a falta
de políticas adequadas para impulsionar
o setor. O desafio reside
no fato de que é o setor privado
que deve realizar os investimentos
necessários para promover as
mudanças. Existem recursos potenciais
a serem explorados, como
o aproveitamento energético de
resíduos e do lixo. No entanto, os
empresários enfrentam poucos incentivos
para investir devido às
taxas de juros pouco atrativas. A
resolução desse problema está amplamente
dependente das políticas
governamentais.
Além disso, quando se trata da utilização
de resíduos, a questão logística
se apresenta como um desafio.
São necessários investimentos em
transporte adequado. O setor sucroalcooleiro,
por exemplo, possui
um grande potencial nesse aspecto,
uma vez que o resíduo necessário
para a queima nas caldeiras está
disponível localmente. Da mesma
forma, o setor de celulose e papel
pode se beneficiar dessas oportunidades.
O SETOR DEMONSTRA DE FORMA CONCRETA QUE É POSSÍVEL PRODUZIR
E CONSERVAR SIMULTANEAMENTE. OS 9,93 MILHÕES DE HECTARES DE
PLANTIOS FLORESTAIS SÃO FREQUENTEMENTE REALIZADOS EM TERRAS
PREVIAMENTE DEGRADADAS, CONTRIBUINDO PARA A RECUPERAÇÃO
DESSAS ÁREAS...
Revista Biomassa BR
19
Contratos de prestação de serviços de energia
renovável: construindo relações seguras e
rentáveis para o setor elétrico
Por Thawane Larissa Silva
Advogada e Especialista em Direito da Energia e
Negócios no Setor Elétrico
O
setor de energias renováveis
tem experimentado
um crescimento significativo
devido à demanda por
fontes sustentáveis de energia. Nesse
contexto, os contratos de prestação de
serviços de energia renovável desempenham
um papel essencial na operacionalização
desses projetos. Para
empresas do setor elétrico, é fundamental
compreender tanto a responsabilidade
civil contratual quanto a
extracontratual, além de implementar
mecanismos contratuais eficientes
para garantir relações seguras e rentáveis,
agregando valor à imagem corporativa.
A responsabilidade civil contratual
refere-se à obrigação de reparar
danos decorrentes do não cumprimento
ou cumprimento inadequado
das cláusulas estabelecidas em um
contrato. Nos contratos de prestação
de serviços de energia renovável, é
importante considerar também a responsabilidade
civil extracontratual,
que abrange danos causados a terceiros
não envolvidos diretamente no
contrato.
Por isso, devem ser observados
quatro aspectos muito importantes.
O primeiro é a descrição dos serviços,
visto que o contrato deve conter uma
descrição detalhada dos serviços a serem
prestados pela empresa de energia
renovável. Essa descrição precisa
ser detalhada, abrangendo especificações
técnicas, cronogramas, metas
de desempenho e outros elementos
relevantes. Tal abordagem assegura a
transparência e alinha as expectativas
entre as partes, fortalecendo a confiança
e a segurança na relação contratual.
O segundo aspecto muito importante
é a responsabilidade das partes,
posto que é essencial estabelecer claramente
as responsabilidades de cada
uma das partes envolvidas. A empresa
de energia renovável deve assumir a
responsabilidade de fornecer serviços
de qualidade e cumprir as obrigações
contratuais e regulamentares. Por sua
vez, o cliente deve fornecer acesso
adequado ao local e informações relevantes,
além de cumprir as obrigações
financeiras. Essa divisão de responsabilidades
protege ambas as partes e
contribui para uma relação segura e
rentável.
Em terceiro, a garantia de desempenho,
essa especificidade é comum
nos contratos de prestação de serviços
de energia renovável, tendo em vista
que de acordo com cada empreendimento
é necessário incluir garantias
de desempenho, como a geração mínima
de energia durante um determinado
período. É fundamental definir
claramente essas garantias e estabelecer
mecanismos para medição, verificação
e eventuais penalidades em
caso de descumprimento. Ao garantir
o cumprimento das metas acordadas,
as empresas do setor elétrico podem
manter sua reputação e obter contratos
mais rentáveis, além de fortalecer
a imagem da empresa perante os
stakeholders.
Em quarto, a contratação de seguros
adequados é crucial para cobrir
riscos e danos decorrentes da prestação
de serviços de energia renovável.
Os contratos devem estabelecer claramente
as obrigações de cada parte
em relação aos seguros, incluindo os
limites de responsabilidade e os eventos
cobertos. Ao fornecer cobertura
abrangente, as empresas podem mitigar
riscos financeiros e reputacionais,
tornando a relação contratual mais
segura e confiável para todas as partes
envolvidas.
Por último, é extremamente importante
implementar mecanismos
contratuais eficientes que promovam
a agilidade na solução de disputas,
evitem litígios prolongados e garantam
a confidencialidade das informações
sensíveis. Esses mecanismos
podem incluir cláusulas de negociação
prévia, mediação ou arbitragem.
Ao adotar uma abordagem ágil e eficiente
na resolução de disputas, as
empresas do setor elétrico podem evitar
demandas judiciais, preservar sua
imagem, economizar recursos, minimizar
impactos financeiros e manter
relacionamentos de longo prazo com
bons clientes e parceiros.
Portanto, a responsabilidade civil
contratual e extracontratual são elementos
essenciais nos contratos de
prestação de serviços de energia renovável.
Ao considerar esses aspectos e
implementar mecanismos contratuais
eficientes, as empresas do setor elétrico
podem construir relações seguras
e rentáveis, além de ganhar uma imagem
positiva junto aos stakeholders.
A transparência, o cumprimento das
responsabilidades, a garantia de desempenho,
o seguro adequado e os
mecanismos de solução de disputas
contribuem para uma abordagem holística,
que garante a sustentabilidade
e o sucesso dos projetos de energia renovável.
Há ainda um último aspecto
igualmente importante e que nunca
é demais lembrar: consulte profissionais
especializados e que entendam
dos problemas jurídicos específicos
que precisam ser evitados. Não deixe
para resolver os problemas quando
eles já deveriam estar prevenidos.
20
Revista Biomassa BR
50 mil GW de potência à rede elétrica
já foram proporcionadas pelas
fontes renováveis no Brasil
Crescimento de energia renovável brasileira equivale a
mais de três usinas do tamanho da Itaipu
A
produção de energia limpa
está ganhando espaço
no Brasil. Embora o país
já seja um dos que mais
possui fontes alternativas
de energia em sua matriz elétrica,
o potencial limpo tem criado espaço
ainda mais promissores.
Dados recentes divulgados
pela Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE),
por exemplo, mostram que
as fontes tiveram uma evolução
nos últimos 10 anos
e que fontes tanto eólicas,
como solares, hidrelétricas
e biomassa proporcionaram
mais de 50 mil GW
de potência à rede elétrica
do país.
Vale destacar que toda
essa potência gerada equivale
a mais de três usinas do tamanho
da Itaipu, uma das maiores
do mundo. Em nota, Talita Porto,
conselheira e vice-presidente da
organização da CCEE, pontua que o
Brasil está hoje em uma posição estratégica,
uma vez que traz evolução
tecnológica para este tipo de geração
de energia.
“O Brasil está aproveitando cada
vez mais o seu potencial em energia
renovável, cenário que deve gerar muitas
oportunidades em novos mercados,
como o de hidrogênio de baixo carbono.
Estamos em uma posição muito estratégica
em relação à transição energética
global. Além disso, o crescimento
dessas fontes vem acompanhado de
evolução tecnológica e barateamento
do custo de produção", destaca Porto.
Dentre as fontes alternativas de
maior destaque, segundo a especialista,
estão as usinas eólicas, onde a
fonte cresceu mais de sete vezes nos
últimos 10 anos. A fonte solar, por
sua vez, também vem se destacando
e se mostrando bastante promissora,
onde mais de 300 empreendimentos
de alta potência estão espalhados no
Brasil, bem como mais de 22 GW de
potência instalada somente através da
micro e minigeração de energia.
Na evolução das usinas renováveis
no Brasil, segundo a análise, está
a capacidade instalada de 8,6 mil MW
das usinas solares, bem como 26,2
mil MW das fontes eólicas, 116 mil
MW de capacidade instalada de
hidrelétricas e 14,8 mil MW de
capacidade instalada de biomassa.
Sobre as regiões do
Brasil com maiores potenciais
renováveis, por
sua vez, o relatório da
Câmara traz a Bahia,
no segmento eólico,
como uma das regiões
mais promissoras,
assim como Minas Gerais
para a produção solar
fotovoltaica.
As hidrelétricas, por sua
vez, continuam bem diversificadas
principalmente nas usinas de
pequeno porte. Os empreendimentos
hidráulicos seguem concentrados em
Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. Já a biomassa,
por sua vez, traz o bagaço da
cana-de-açúcar como matéria-prima
principal para este tipo de energia.
São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, por sua vez, são as regiões
onde a indústria canavieira tem maior
presença.
22
Revista Biomassa BR
TRABALHAMOS COM O DNA
DA SUSTENTABILIDADE
EGO
Com mais de 50 anos, a LARA é
muito mais do que uma empresa
tratadora de resíduos. Produz,
acima de tudo, Sustentabilidade
hoje e para as próximas gerações.
Para isso, atua em
Saneamento, Geração de
Energia e Crédito de Carbono
de forma sustentável no Brasil
e no exterior.
Empresas do Grupo Lara
ÁGUA
www.lara.com.br