Revista Biomassa BR ED 66
• Redução da emissão de gases do efeito estufa e melhoria de processos... • Biogás e Sustentabilidade: o caminho da economia brasileira para os próximos 5 anos • Panorama do Biogás no Brasil mostra que o número de plantas que produzem biometano cresceu 82% em 2022 • Biomassa na siderurgia • Circularidade dos resíduos da cadeia agrícola na geração de biocombustíveis
• Redução da emissão de gases do efeito estufa e melhoria de processos... • Biogás e Sustentabilidade: o caminho da economia brasileira para os próximos 5 anos • Panorama do Biogás no Brasil mostra que o número de plantas que produzem biometano cresceu 82% em 2022 • Biomassa na siderurgia • Circularidade dos resíduos da cadeia agrícola na geração de biocombustíveis
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Vol. 06 - Nº 66 - Jul/Ago 2023
www.revistabiomassabr.com
REDUÇÃO DA
EMISSÃO DE GASES
DO EFEITO ESTUFA...
BIOGÁS E SUSTENTABILIDADE:
o caminho da economia brasileira
para os próximos 5 anos
PANORAMA DO
BIOGÁS NO BRASIL
ISSN-2525-7129
BIOMASSA NA
SIDERURGIA
Expediente
Índice
EDIÇÃO
Grupo FRG Mídias & Eventos
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COMERCIAL
Cláudio Fraga
CHEFE DE EDIÇÃO
Dra. Emanuele Graciosa
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― UERS, José Dilcio Rocha ― EMBRAPA, Dimas Agostinho
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Horta Nogueira ― UNIFEI, Luiz A B Cortez ― Unicamp,
Manoel Nogueira ― UFPA, Vanessa Pécora ― USP
SUPERVISÃO
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REVISÃO
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DISTRIBUIÇÃO
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REDES SOCIAIS
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EDIÇÃO DE ARTE E PRODUÇÃO
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COLABORADORES
Dandara P. da S. Guimarães, Evanderson L. C. Evangelista, Humberto
F. de Siqueira, Angélica de C. O. Carneiro, Emanuele Graciosa,
Monique da F. R. Paixão, Juliana L. Paes, Heleno Q. de Lima
DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA
Empresas, associações, câmaras e federações de indústrias,
universidades, assinantes, feiras e eventos dos setores de biomassa,
agronegócio, cana-de-açúcar, florestal, biocombustíveis, setor
sucroenergético e meio ambiente.eventos do setor de energia solar,
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OBRIGATÓRIO A CITAÇÃO DA FONTE.
04
Redução da emissão de gases
do efeito estufa e melhoria de
processos...
07
Biogás e Sustentabilidade:
o caminho da economia brasileira
para os próximos 5 anos
08
Panorama do Biogás no Brasil
mostra que o número de plantas
que produzem biometano
cresceu 82% em 2022
14
Biomassa na siderurgia
18
Circularidade dos resíduos
da cadeia agrícola na
geração de biocombustíveis
A Revista Brasileira de Biomassa e
Energia é uma publicação do
OS ARTIGOS E MATÉRIAS ASSINADOS POR COLUNISTAS
E OU COLABORADORES, NÃO CORRESPONDEM A
OPINIÃO DA REVISTA BIOMASSABR, SENDO
DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
Revista Biomassa BR
3
Artigo
Redução da emissão de gases do efeito
estufa e melhoria de processos através
do aproveitamento dos coprodutos da
carbonização em sistema fornos-fornalha
Por: Dandara Paula da Silva Guimarães – Mestre Ciência Florestal na Universidade Federal de Viçosa
Evanderson Luis Capelete Evangelista – Engenheiro Florestal na Universidade Federal de Viçosa
Humberto Fauller de Siqueira – Doutor em Ciência Florestal na Universidade Federal de Viçosa
Angélica de Cássia Oliveira Carneiro – Professora no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade
Federal de Viçosa e Doutora em Ciência Florestal
OBrasil é o maior produtor
de carvão vegetal do
mundo, sendo responsável
por 12% da produção
mundial deste insumo
que é amplamente utilizado pelas indústrias
brasileiras do setor siderúrgico
e de ferroligas, consumidoras de
82% do carvão vegetal produzido no
país (IBÁ, 2022; BEN 2022).
O carvão vegetal, segundo maior
produto do setor florestal brasileiro,
pode ser produzido a partir de diferentes
biomassas, porém a principal
matéria-prima utilizada para este fim
é a madeira proveniente de florestas
plantadas (IBÁ, 2022).
Para atender a demanda dos principais
consumidores do carvão vegetal,
a madeira deve ter propriedades
físicas e químicas adequadas para o
seu uso final, sendo o teor de umidade
uma das principais características
que afetam o rendimento, a qualidade
e a competitividade do carvão vegetal,
além de impactar custos de logística,
a produtividade dos fornos e o tempo
de carbonização. Dessa forma, a secagem
da madeira é uma etapa essencial
na cadeia produtiva desse insumo
(ASSIS et al., 2016; FIGUEIRÓ et al.,
2020; CANAL et al., 2020).
O método mais difundido para
secar a madeira é a secagem ao ar livre
em função do baixo custo, porém
implica em longos períodos de estocagem
da madeira em campo, comumente
de 90 a 120 dias, interferindo
o planejamento da produção e, muitas
vezes, não alcançando os níveis
de umidade ideais para a produção
de carvão vegetal (PERTUZZATTI et
al.,2013; ZANUNCIO et al., 2013; SI-
QUEIRA, 2021).
Dentre as alternativas para reduzir
o tempo de secagem da madeira,
têm-se a secagem artificial em sistemas
fornos-fornalha, sistema desenvolvido
por pesquisadores do Laboratório
de Painéis e Energia da Madeira
(LAPEM/UFV) que tem sua tecnologia
baseada na queima dos gases da
carbonização por meio de uma fornalha
acoplada aos fornos de produção
de carvão vegetal. O sistema é composto
por um
conjunto de
quatro fornos
circulares
interligados
por meio de
dutos a um
queimador
de gases central.
A l é m
de trazer ganhos
de rendimento
na
produção, o
sistema for-
nos-fornalha produz um carvão vegetal
de melhor qualidade, sem prejudicar
a saúde de quem opera o forno
e diminuindo a emissão de fumaça e
dos gases do efeito estufa que causam
a mudança do clima. A redução de
metano, por exemplo, é reduzida em
94%.
Com a combustão dos gases na
fornalha, há liberação de energia na
forma de calor, podendo ser aproveitado
para a secar a madeira dentro
do próprio forno de carbonização,
tornando-se uma possível alternativa
para realizar a secagem no menor
tempo possível e de forma eficiente,
sem afetar as propriedades da madeira
e promovendo a utilização de
coprodutos (DONATO et al., 2020;
SIQUEIRA, 2021).
Figura 1. Representação esquemática do sistema para condução
de gases combustos do queimador para o forno de secagem.
Fonte: Guimarães e Evangelista, 2023.
4
Revista Biomassa BR
Artigo
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Revista Biomassa BR
5
Artigo
No Sítio de Pesquisa em Carvão
Vegetal Sustentável do LAPEM/UFV,
o aproveitamento dos gases combustos
é feito através do transporte dos
gases do queimador até os fornos utilizados
para a secagem da madeira,
por meio de um exaustor centrífugo
de 0,5 cv de potência, rotação de 2016
rpm controlado por um inversor de
frequência (Figura 1).
Guimarães (2019), ao estudar a
secagem artificial de toras de madeira
de Eucalyptus em sistema fornos-
-fornalha, obteve uma eficiência de
secagem de 38,36% utilizando os gases
combustos do queimador à 120°C
admitidos por 15 horas pela lateral do
forno de secagem, porém com uma
secagem heterogênea, favorecendo
a redução de umidade das madeiras
posicionadas no lado direito do forno,
onde se encontrava o local de admissão
dos gases. Siqueira (2021), ao
utilizar o mesmo sistema de secagem
com os gases combustos sendo admitidos
por 15 horas a 150°C, obteve
uma eficiência de secagem de 30,54%.
Em ambos os trabalhos, a madeira
atingiu teores de umidade abaixo de
40%, conforme recomendado pela
DN 227/2018 para a produção de carvão
vegetal no estado de Minas Gerais,
o maior produtor e consumidor
de carvão vegetal do Brasil.
Nos trabalhos desenvolvidos por
Guimarães (2019) e Siqueira (2021), a
admissão dos gases combustos foi feita
pela lateral do forno de alvenaria e,
apesar de serem métodos de secagem
eficientes, evidenciaram a necessidade
de avaliar outros locais de admissão
dos gases para melhorar a homogeneização
da secagem da carga de madeira.
Posto isso, Evangelista (2023)
realizou um estudo inserindo os gases
combustos pelo piso do forno durante
22,5h a 170°C, obtendo uma eficiência
de secagem de 29,7% e uma secagem
da madeira melhor distribuída no interior
do forno.
Além de reduzir o tempo de secagem
da madeira e, dessa forma,
reduzindo a fase endotérmica da carbonização,
fase em que a energia do
processo está sendo consumida para
a remoção da água (COSTA et al.,
2020), esse tipo de sistema promove a
melhoria da qualidade e do rendimento
do carvão vegetal, como comprovado
por Siqueira (2021) ao carbonizar
as madeiras secas artificialmente. O
carvão vegetal produzido no estudo
teve um rendimento gravimétrico
médio de 36,90%, um teor de carbono
fixo de 82,31% e friabilidade de
7,47%, se adequando aos valores recomendados
para a produção de carvão
vegetal para siderurgia, a maior
indústria consumidora desde insumo
(PEREIRA, et. al., 2012). Ressalta-se
que no trabalho realizado por Siqueira
(2021), o rendimento gravimétrico
em carvão vegetal foi 18% maior do
que na carbonização convencional realizada
pelo autor.
A secagem artificial da madeira
em toras utilizando o sistema fornos-
-fornalha e aproveitando a energia
dos gases combustos da carbonização
é, portanto, uma alternativa tecnicamente
viável para reduzir o teor de
umidade da madeira, além de contribuir
para a produção sustentável do
carvão vegetal, reduzindo as emissões
dos gases do efeito estufa através de
uma produção mais eficiente que contribui
para a melhoria do processo e
do produto final com a utilização de
tecnologias avançadas de aproveitamento
dos coprodutos da carbonização,
garantindo uma produção e consumo
favoráveis ao desenvolvimento
sustentável, alinhada às diretrizes de
mitigação e adaptação ás mudanças
climáticas.
REFERÊNCIAS
FICAS
BIBLIOGRÁ-
ASSIS, M.R.; BRANCHERIAU, L.;
NAPOLI, A.; TRUGILHO, P.F. Factors
affecting the mechanics of carbonized
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DONATO, D. B.; CARNEIRO, A. D.
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TAL, B. R., MILAGRES, E. G.; CA-
NAL, W. D. Influência do diâmetro da
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EPE [Empresa de Pesquisa Energético]
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FIGUEIRÓ, C. G.; CARNEIRO, A. C.
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em Engenharia Florestal)
- Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
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INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁR-
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PEREIRA, B.L.C.; OLIVEIRA, A.C.;
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RO, A.C.O.; SANTOS, L.C.; VITAL,
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PERTUZZATTI, A.; TREVISAN, R.;
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das toras na secagem ao ar
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Brazil Journal of Wood Science,
v. 04, n. 02, p. 191-201, 2013. DOI:
10.12953/2177-6830.v04n02a05
SIQUEIRA, H. F. Aproveitamento
dos gases da carbonização para
secagem da madeira e produção
de carvão vegetal. 2021. 116 f. Tese
(Doutorado em Ciência Florestal) -
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
MG. 2021.
ZANUNCIO, A. J. V.; MONTEIRO,
T. C.; LIMA, J. T.; ANDRADE, H. B.;
CARVALHO, A. G. Drying biomass
for energy use of Eucalyptus urophylla
and Corymbia citriodora Logs. 2013b.
BioResources, v.8, n.4, p.5159-5168,
2013.
6
Revista Biomassa BR
Artigo
BIOGÁS e SUSTENTABILIDADE:
o caminho da economia brasileira
para os próximos 5 anos
Novos modelos de negócios para mercado internacional mais competitivo
Por: Heleno Quevedo de Lima
No cenário agropecuário
brasileiro, a produção de
proteína animal desempenha
um papel vital na
economia do país. Porém, com os
crescentes desafios relacionados à gestão
de resíduos orgânicos, eficiência
e competitividade no mercado internacional,
uma figura emergente está
revolucionando o setor: as empresas
integradoras de sistemas de Biogás.
Estas não apenas estão
transformando
a forma como lidamos
com resíduos,
mas também estão
pavimentando o caminho
para uma
economia mais sustentável
e competitiva,
impulsionando
a produção de bioenergia
a partir de
biomassa residual.
Essas empresas
têm uma missão
clara – conceber, desenvolver
e operar
sistemas anaeróbios
para a produção de
Biogás, um valioso biocombustível
gasoso, a partir dos resíduos orgânicos
gerados na criação de animais. O
grande diferencial está na personalização
dos sistemas para atender às
necessidades específicas de cada produtor.
Essa abordagem considera o
número de animais, tipos de resíduos
gerados e as condições locais, o que
garante uma solução sob medida para
a produção de bioenergia.
A excelência na operação é uma
das pedras angulares dessas empresas.
Elas assumem a responsabilidade pela
operação dos sistemas e garantem que
funcionem de maneira eficaz, maximizando
a produção de Biogás, o qual
se transforma em valiosa bioenergia,
enquanto minimizam os custos operacionais.
Além disso, a manutenção
regular é realizada para garantir a
operação ininterrupta e a produção
contínua de bioenergia.
Além da produção de Biogás e sua
conversão em bioenergia, os integradores
auxiliam os produtores na exploração
de novos modelos de negócios.
Isso inclui a venda de Biometano,
uma variante do Biogás, para a rede
de gás, a comercialização de subprodutos,
como biofertilizantes, e a oferta
de serviços ambientais, como o tratamento
de resíduos. Essas oportunidades
não apenas aumentam a receita,
mas também fortalecem a imagem de
sustentabilidade das operações e consolidam
a produção de bioenergia.
A figura do integrador do setor de
Biogás está se tornando um parceiro
estratégico para suinocultores, bovinocultores,
avicultores e outros produtores
de proteína animal no Brasil.
Além de resolver desafios de resíduos,
essas empresas estão impulsionando
a lucratividade e a sustentabilidade
do setor, contribuindo para a
produção de energia limpa e a gestão
responsável do meio
ambiente, por meio
da produção de bioenergia
a partir de biomassa
residual.
A produção de
Biogás no setor de
proteína animal não
é apenas uma tendência,
mas uma necessidade.
O Brasil pode
se posicionar de maneira
competitiva no
mercado internacional,
ao adotar práticas
sustentáveis, reduzir a
pegada de carbono e
gerar receita adicional
por meio da produção
de Biogás, um valioso biocombustível
gasoso, transformado em bioenergia.
As empresas integradoras de Biogás
desempenham um papel fundamental
nesse processo, conectando a produção
de proteína animal à economia
circular e a uma visão de futuro mais
sustentável. À medida que o setor de
Biogás continua a crescer, essas empresas
prometem fazer a diferença na
economia brasileira nos próximos 5
anos, contribuindo para a produção
de bioenergia a partir da biomassa residual.
Revista Biomassa BR
7
Panorama do Biogás no Brasil mostra
que o número de plantas que produzem
biometano cresceu 82% em 2022
Documento que será lançado pelo CIBiogás reúne informações atualizadas sobre
o crescimento do setor de biogás e biometano no Brasil e traz novas perspectivas para 2024
Aplicação energética das plantas no Brasil.
Foz do Iguaçu, 2023. Em 2022, o
Brasil demonstrou um crescimento na
geração de biogás e biometano. Com a
alta dos investimentos e procura sobre
as fontes alternativas de energia e biocombustíveis,
o Panorama do Biogás
no Brasil em 2022, que será lançado
pelo Centro Internacional de Energias
Renováveis (CIBiogás) no dia 04 de
setembro em uma live no YouTube do
CIBiogás - (Inscreva-se aqui: https://
materiais.cibiogas.org/webinar-panorama-do-biogas-no-brasil-2022),
vai
trazer mais números sobre o desenvolvimento
do setor de biogás e biometano
no Brasil. Nos dias 05 e 06 o
canal no YouTube também vai compartilhar
cases de empresas parceiras
que fizeram a diferença no setor em
2022. Confira a programação nas redes
sociais do CIBiogás: @cibiogasoficial.
Energia elétrica e biometano em
destaque
Confirmando a importância da
fonte para o desenvolvimento da bioeconomia,
o documento revela que,
em 2022, 114 novas plantas de biogás
começaram a operar, o que representou
um crescimento de 15%, em relação
a 2021. Hoje o Brasil possui 936
plantas instaladas, sendo que 885 unidades
estão em operação produzindo
aproximadamente 2,8 bilhões Nm³/
ano de biogás com aproveitamento
energético.
Entre as aplicações energéticas do
biogás o biometano se destacou com
um crescimento de 82% no número
de plantas no país, registrando um
total de 20 plantas em operação em
2022. Estas plantas convertem 22% do
8
Revista Biomassa BR
Revista Biomassa BR
9
biogás produzido no Brasil em cerca
de 359,8 Nm³/ano de biometano,
o equivalente a rodar 3.598 milhões
km/ano com veículos leves e 900 milhões
km/ ano com veículos pesados.
A geração de energia elétrica
apresentou aproximadamente 86%
das plantas em operação no Brasil, o
que representa a geração de 2,08 bilhões
de Nm³/ano, ou seja, 72% do volume
de produção de biogás em 2022.
Rafael González, diretor-presidente
do CIBiogás, relata que o crescimento
reflete o comportamento dos
agentes do setor, que vem investindo
em alternativas renováveis que fazem
evoluir o cenário da matriz energética
brasileira.
“O biogás e o biometano estão se
destacando dentre outras energias. Na
agropecuária, vimos que o crescimento
foi significativo, sendo responsável por
63% do total das plantas que entraram
em operação em 2022. Isso é muito importante,
pois traduz como as fontes
renováveis são essenciais para todo o
tipo de setor e como podem impactar
positivamente várias cadeias produtivas”
afirma o diretor.
O impacto do Saneamento
Apesar do destaque do crescimento
do número de plantas de biogás
a partir de resíduos da agropecuária,
o maior volume de biogás
produzido em plantas que entraram
em operação no ano de 2022 foi protagonizado
pelo setor de saneamento,
que aproveitou energeticamente cerca
de 2,1 bilhões de Nm³/ano de biogás,
o equivalente a 74% do biogás produzido
no país.
Felipe Marques, Diretor de Desenvolvimento
Tecnológico do CIBiogás,
destaca que o volume expressivo
reflete importantes projetos implementados
em aterros sanitários no
país e sinaliza boas expectativas para
o aproveitamento energético em 2023,
pois a cada dia ficam mais evidentes
as oportunidades associadas ao saneamento
ambiental com biogás.
“No Brasil todo o biogás vem ganhando
espaço. O grande trunfo do biogás
está relacionado à diversificação de
fontes, aplicações e distribuição geográfica
no território e estamos vendo isso
acontecer no Brasil. Os impactos à matriz
energética são diversos e de toda
ordem.” ressalta Marques.
O diretor complementa enfatizando
a importância desses dados na
democratização das alternativas renováveis
com apoio dos setores políticos.
“A intenção do CIBiogás com o
Panorama do Biogás 2022 é trazer clareza
sobre como o mercado de biogás
no Brasil vem se desenvolvendo, permitindo
que oportunidades de mercado e
necessidades de avanços em políticas
públicas sejam percebidas. A publicação
é multipropósito e pode atender a
diversos públicos. O Biogás é um energético
estratégico para a economia de
baixo carbono e a transição energética.
O Brasil tem grande potencial e devemos
aproveitar os dados compartilhados
pelo Panorama para voltar olhares
esperançosos para este setor que só tem
a crescer cada ano mais em todos
os estados brasileiros” complementa
o diretor.
Biogás em todo o Brasil
O Panorama do Biogás
no Brasil 2022 ressalta mais
uma vez a permanência de Minas
Gerais como o estado com
mais plantas em operação, totalizando
274, tendo em segundo
lugar, o Paraná, com 198
plantas.
Quando analisamos os estados
que registraram um crescimento
expressivo em relação ao
ano anterior, São Paulo é protagonista,
com aumento de 21% de
plantas e de 27% na produção de
biogás.
Tamar Roitman, gerente exe-
10
Revista Biomassa BR
cutiva da Associação Brasileira
do Biogás (ABiogás), comenta
que para 2024 as expectativas são
muito positivas para o setor, principalmente
para o biometano e
energia elétrica. Com o aumento
da cadeia de fornecimento, houve
um aumento do número de plantas,
que poderia ser muito maior,
mas que depende do amparo de
políticas públicas direcionadas,
além de linhas de financiamento
aplicáveis para diversas formas de
produzir o biogás em diversas escalas.
“Estamos vendo a demanda
por biometano crescendo de forma
bastante importante e os projetos se
direcionando em um bom sentido,
porém ainda faltam incentivos que
ajudam a orientar os investimentos,
aumentando a viabilidade e
tornando os projetos em biometano
mais atrativos para efetivamente
termos um aumento da produção”
ressalta Roitman.
Projetos que alavancam o setor
Nesta edição as empresas Aggreko,
3DI Engenharia e UBE Industries,
associadas mantenedores
do CIBiogás, compartilharam
cases que também estiveram em
operação em 2022 para demonstrar
a eficácia do biogás nas iniciativas
realizadas por empresas que
investem e veem potencial na fonte
como parte expressiva da matriz
energética do Brasil. A oportunidade
é uma exclusividade dos
membros presentes no ecossistema
do CIBiogás.
No Panorama, a Aggreko
dará destaque para um case em
aterro sanitário com 25MW de
capacidade de geração de energia
elétrica a partir do biogás. Sidnei
Guimarães, gerente de operações
da Aggreko, contou como foi a experiência
de compartilhar sobre o
projeto para mais de 1 mil pessoas
que esperam a publicação no setor.
“A cada ano, aguardamos com
grande entusiasmo a atualização
do panorama do biogás, um indicador
crucial para atestar o avanço
do setor nos últimos meses. Em
2023, essa expectativa se mantém.
É com orgulho que a Aggreko tem
a oportunidade de ressaltar sua valiosa
contribuição para o universo
do biogás, destacando as suas soluções
no referido panorama.”
Guimarães destacou que a
inserção reafirma o compromisso
e estratégia de crescimento da
Aggreko que estão vinculados
ao modelo “energy as a service"
(energia como serviço) que solidifica
a presença da empresa neste
cenário elevando o compromisso
com a causa a partir da conexão
com o CIBiogás.
Luciana Balter, Business Development
Specialist South America
da UBE Industries, comenta
que o Panorama do Biogás é um
marco importante do setor, visto
que o documento destaca os avanços
que o setor está alcançando e
que a inserção de cases práticos
se mostra eficaz para fornecer insights
sobre a implementação do
biogás e biometano em diversos
cenários.
“Acredito que compartilhar
essas situações não apenas destacam
as conquistas do setor, mas
também fornece um guia prático
para outros interessados em adotar
e trabalhar com essa tecnologia
limpa, sustentável e principalmente
renovável.”
Lúcio Ricken, Sócio-diretor
da 3DI Engenharia, conta que um
dos objetivos da empresa é a consolidação
da relevância e referência
em purificação e upgrade de
biogás principalmente na américa
latina até 2025, e ressalta a importância
da conexão ao CIBiogás
na criação de network com outras
empresas, como foi o que aconteceu
com 3DI e UBE.
“O fortalecimento do mercado
do biogás será mais promissor se
feito por todos os atores do setor.
Demonstrar mais um case operacional
da 3DI para o Panorama
do Biogás evidencia a percepção
de dever cumprido e de caminhada
pela rota certa em prol do desenvolvimento
econômico e socioambiental
na cadeia do biogás.”
Sobre o CIBiogás
O CIBiogás - Centro Internacional
de Energias Renováveis
e Biogás é uma instituição de Ciência
e Tecnologia com Inovação,
dedicada ao desenvolvimento do
biogás como recurso energético
limpo e competitivo, com o objetivo
de promover o mercado de
energias renováveis.
Iniciado há mais de 10 anos
com a intenção de solucionar as
questões ambientais envoltas na
região Oeste do Paraná, o CIBiogás
surgiu a partir de uma iniciativa
da Itaipu Binacional para
executar ações que desenvolveram
o tema biogás e toda a cadeia
de produção e fornecimento. Até
hoje, as instituições juntamente
com o Parque Tecnológico Itaipu
(PTI) são parceiras em diversos
projetos relacionados ao biogás
e biometano em todo o Brasil e
também de outros combustíveis
avançados e hidrogênio a partir
de biogás.
Na competência de centro
de referência, o CIBiogás desenvolve
a cadeia de biogás, visando
aumentar a oferta e participação
do biogás na matriz energética
brasileira, atuando em todas as
etapas da cadeia. O CIBiogás possui
o 1º Laboratório de Biogás no
Brasil acreditado pela Coordenação
Geral de Acreditação do Inmetro
– CGCRE na norma ISO
17025:2017, para o ensaio de Potencial
Bioquímico de Metano.
O CIBiogas é uma instituição
com atuação especial na questão
de decisão tecnológica e de negócios.
Desta forma, a cada ano temos
participado mais ativamente
da implantação de novos empreendimentos
e atualização tecnológica
de plantas de biogas em operação,
sendo que todo o suporte
está vinculado à modelagem robusta
de negócios.
Revista Biomassa BR
11
SOLAR DO BRASIL
PRODUTOS
GARANTIA
25
ANOS
12
Revista Biomassa BR
Revista Biomassa BR
13
Artigo
BIOMASSA
NA SIDERURGIA
Por: Emanuele Graciosa
1. Introdução
A indústria siderúrgica figura
entre os principais produtores industriais
de dióxido de carbono, contribuindo
com 4–7% das emissões globais.
Em consonância com a transição
para uma economia de baixo carbono,
é imperativa uma reconfiguração nos
métodos de produção de ferro e aço.
Não há uma solução singular para alcançar
a siderurgia livre de CO 2
; pelo
contrário, faz-se necessário um extenso
portfólio de opções tecnológicas, a
serem implementadas isoladamente
ou em combinação, conforme as circunstâncias
locais o permitam.
A busca pelo uso de biomassa na
indústria siderúrgica surge como uma
alternativa reconhecida para reduzir
as emissões provenientes de fontes
fósseis. A transição de combustíveis
fósseis para biomassa visa evitar o aumento
líquido das emissões diretas de
CO 2
, considerando que as plantas em
crescimento capturam o CO 2
da atmosfera
durante seu desenvolvimento.
O programa de bioenergia da Agência
Internacional de Energia (IEA) destaca
que, dentro do ciclo do carbono, a
bioenergia pode ser carbono neutra,
desde que produzida de maneira sustentável.
No entanto, é essencial considerar
toda a cadeia de suprimentos,
incluindo as emissões relacionadas à
produção, processamento, transporte
e uso da bioenergia, com atenção
especial para o uso de energia fóssil
em etapas como colheita, transporte e
processamento.
A fim de garantir a sustentabilidade
da biomassa utilizada, é necessário
comprovar suas credenciais sustentáveis.
A gestão eficaz ao longo da
cadeia de suprimentos é crucial, podendo
a biomassa ser cultivada pelas
próprias empresas siderúrgicas ou adquirida
de produtores terceirizados.
Nesse contexto, iniciativas de gestão
são essenciais para apoiar os usuários
de biomassa, algumas das quais foram
desenvolvidas por organizações
globais, como o Conselho de Manejo
Florestal e o Programa de Biomassa
Sustentável, um esquema de certificação
concebido para biomassa lenhosa.
A aplicação da biomassa na produção
de ferro e aço pode ocorrer várias
formas seja na injeção direta em
altos-fornos na forma de carvão vegetal
por exemplo, ou na incorporação
em misturas de carvão mineral ou
coque para a produção de bio-coque,
bio-compósitos, pellets, bio-sinter,
entre outros.
2. Fontes de biomassa, disponibilidade,
processamento e qualidade
A biomassa é predominantemente
composta pelos cinco elementos
carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio
(O), nitrogênio (N) e enxofre (S),
além de elementos inorgânicos, tais
como Al, Si, K, Ca e Na, presentes em
suas cinzas. A composição da biomassa
varia de acordo com as diferentes
variedades. Em termos gerais, os conteúdos
médios de C, H, O, N e S na
biomassa são de 49,3%, 6,0%, 40,5%,
0,8% e 0,2%, respectivamente. Os teo-
14
Revista Biomassa BR
Artigo
res médios de matéria volátil,
carbono fixo e cinzas são de
77,0%, 18,2%, e 4,8%, respectivamente.
As propriedades da biomassa,
como baixo teor de
enxofre, alta proporção de
carbono e cinzas, e elevada
superfície específica, podem
melhorar a qualidade do
metal e a produtividade dos
fornos. No entanto, a presença
de elementos nocivos
em alguns tipos de biomassas
requer controle rigoroso,
pois pode impactar a qualidade
do metal em alta taxa
de injeção. A distribuição
dos elementos formadores
de cinzas apresenta algumas
variações nas diferentes partes
da madeira. No contexto
dos processos metalúrgicos,
é desejável manter o número
de álcalis e a quantidade de
fósforo o mais baixo possível,
enquanto uma alta proporção
de Ca nas cinzas é favorável
para esses processos (Mousa
et al., 2016).
As propriedades químicas, físicas
e mecânicas da biomassa bruta não
possibilitam sua utilização eficiente
na indústria siderúrgica. Portanto, a
utilização de biomassa pirolisada -
carvões, semi-carvões ou materiais
torrificados - é benéfica, apresentando
características aprimoradas, como
potencial limitado de absorção de
umidade, menor teor de oxigênio e
maior teor de carbono, maior poder
calorífico, maior densidade aparente,
melhor moabilidade (importante para
injeção) e melhor capacidade de esmagamento
(importante para incorporação).
AS PROPRIEDADES
DA BIOMASSA E DOS
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
VARIAM INERENTEMENTE
ENTRE DIFERENTES
FONTES DE BIOMASSA
As propriedades da biomassa e
dos combustíveis fósseis variam inerentemente
entre diferentes fontes de
biomassa. Destaca-se que, do ponto
de vista dos processos metalúrgicos,
biomassas à base de madeira são as
matérias-primas mais adequadas.
Isso se deve ao geralmente baixo teor
de cinzas e enxofre no caule dessas
biomassas, resultando em níveis viáveis
de elementos prejudiciais (como
K e Na) nas cinzas. Entretanto, ao se
considerar a pirolise de biomassas lenhosas
para uma utilização mais eficiente
em processos metalúrgicos (assumindo
um rendimento de 30%), a
introdução de Na 2
O, K 2
O e P 2
O 5
em
carvões à base de madeira poderia exceder
a introdução desses compostos
prejudiciais quando comparada ao
coque metalúrgico e ao carvão pulverizado.
3. Uso de biomassa em processos
metalúrgicos
Os combustíveis fósseis, carvão e
coque, representam a principal fonte
de energia na indústria siderúrgica.
Substituição parcial de carvão e coque
em alto-forno com biomassa é uma
das abordagens promissoras para mitigar
as emissões de CO 2
.
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Artigo
BIOMASSA OU CARVÃO VEGETAL PROVENIENTES DA PIRÓLISE DA BIOMASSA PODEM
SER ADICIONADOS A UM CARVÃO COQUEIFICÁVEL COM O OBJETIVO DE REDUZIR AS
EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA...
Na planta siderúrgica integrada,
os produtos de biomassa podem ser
aplicados em diversas etapas, incluindo:
(i) na coqueria para a produção
de bio-coque;
(ii) no processo de sinterização
para a produção de bio-sinter;
(iii) na pelletização/briquetagem
para a produção de bio-compostos e/
ou bio-briquetes;
(iv) no mini alto-forno substituindo
o coque pelo carvão vegetal,
ou na injeção de carvão vegetal pulverizado.
Essas aplicações constituem
estratégias viáveis para incorporar
biomassa nas operações siderúrgicas,
visando uma transição
mais sustentável.
3.1. Injeção de biomassa
em alto-forno
Os produtos derivados
da biomassa poderiam ser
introduzidos no alto-forno
por meio de carregamento
superior e/ou injeção através
das ventaneiras, visando minimizar
o consumo de coque e,
consequentemente, as emissões
de CO 2
. A utilização de bio-coque,
bio-sinter, bio-compósito, materiais
torrificados e/ou carvão vegetal seria
adequada para o carregamento superior,
enquanto biochar pulverizado,
carvão vegetal moído, material torrado
moído, bio-óleo e/ou bio-PCI (injeção
de carvão pulverizado) seriam
apropriados para a injeção nas ventaneiras.
O aço brasileiro produzido a partir
de carvão vegetal é obtido em mini
altos-fornos. A baixa altura de trabalho
desses mini altos-fornos permite
a eficiente utilização de uma carga de
menor qualidade (menor resistência
mecânica) em comparação com
os modernos altos-fornos de grande
porte (44.000 m 3 ). Entretanto, os
altos-fornos modernos exigem propriedades
específicas na carga (coque,
sinter e pelotas) para sustentar uma
operação suave e eficiente. Dessa forma,
os bio-aglomerados (bio-coque,
bio-sinter e bio-compósito) precisam
atender aos requisitos mínimos de resistência;
caso contrário, haverá deterioração
na estabilidade do processo,
eficiência e qualidade do metal quente.
Ademais, qualquer alteração nos
materiais de entrada do alto-forno
afetará diretamente o mecanismo de
transferência de calor e massa, perfil
de temperatura e distribuição de gás
dentro do alto-forno.
B i o - massa ou carvão
vegetal provenientes da pirólise
da biomassa podem ser adicionados
a um carvão coqueificável com o objetivo
de reduzir as emissões de gases
de efeito estufa. O produto resultante
de coque, contendo biomassa/carvão,
é comumente denominado bio-coque.
Além dos sólidos como biomassa
e carvão vegetal, outros produtos da
pirólise, como líquidos (óleos e alcatrão)
e gases, também têm sido aplicados
na produção de bio-coque. A
serragem gerada como produto do
corte, retificação ou perfuração de
produtos de madeira representa uma
fonte econômica de biomassa para
esse processo. No entanto, a adição
de materiais de biomassa à mistura
de carvão para produzir bio-coque
com propriedades físicas desejadas
ainda representa um desafio para os
fabricantes de ferro. A adição de qualquer
material estranho à mistura de
carvão durante a coqueificação tem
o potencial de interferir no processo
de grafitização e afetar negativamente
as propriedades físicas e químicas
do produto coque (Suopajärvi et
al. 2018).
Segundo Mousa et al. (2016),
de forma geral adicionar biomassa à
mistura de carvão coqueificável reduz
a densidade aparente e a resistência
mecânica a frio do coque, devido ao
aumento da porosidade do mesmo.
Em resumo, a adição de biomassa
ou carvão vegetal pode reduzir
a fluidez do coque, aumentar
a viscosidade do coque e melhorar
a qualidade e reatividade
do coque, mas diminui
a resistência do coque após a
reação. A proporção de adição
de biomassa às misturas
de carvão coqueificável não
deve ser superior a 5% em peso
para não sacrificar demasiadamente
a resistência do coque.
No entanto, a proporção de adição
de biomassa/carvão vegetal pode ser
aumentada por algumas abordagens,
como o tratamento hidrotérmico
da matéria-prima biomassa e o uso
de carvões de tamanho de partícula
maior.
A injeção de carvão vegetal no
alto-forno pode reduzir as proporções
de coque e escória, melhorando
a qualidade do ferro-gusa. No entanto,
o teor de cinzas no carvão vegetal
é prejudicial à operação do alto-forno
devido a problemas operacionais
relacionados à corrosão e deposição
de compostos de cinzas alcalinas no
interior do alto-forno. Como tal, carvões
com baixo teor de cinzas são altamente
desejáveis para a injeção no
alto-forno.
16
Revista Biomassa BR
Artigo
Pellets de biomassa com minério
de ferro diz respeito a um tipo de
nova matéria-prima para a fabricação
de ferro, composta por biomassa, minério
de ferro e uma pequena quantidade
de materiais aglutinantes, produzidos
em um peletizador ou prensa
de briquetagem. A biomassa utilizada
nesses pellets pode ser biomassa bruta
ou carvão vegetal.
As limitações práticas do uso
de biomassa na siderurgia podem
ser resumidas em quatro pontos
principais:
(i) o menor valor calorífico dos
produtos de biomassa em comparação
ao carvão exige pré-tratamento e
pirólise eficientes,
(ii) dificuldades na injeção de
biomassa em alta taxa devido à natureza
porosa e à baixa densidade,
exigindo otimização para o processo
de injeção,
(iii) distribuição mais ampla do
tamanho das partículas de biomassa
após a moagem, demandando peneiramento
eficiente para obter o tamanho
de partícula adequado para a injeção,
e
(iv) presença de álcalis superiores
em alguns produtos de biomassa,
que devem ser controlados e minimizados
antes da utilização para evitar
seu impacto negativo nos materiais
refratários.
3.2. Potencial para biomassa no
processo de sinterização
A sinterização é um dos métodos
econômicos mais importantes para
a aglomeração de minério de ferro,
envolvendo a transformação de finos
de minério de ferro em aglomerados
grandes, duros e porosos, tornando-
-os adequados para suportar alta pressão
e fluxo de gás no alto-forno. Para
a maioria dos altos-fornos em todo o
mundo, o sinter representa a principal
alimentação de ferro devido a muitas
vantagens em comparação com o minério
de ferro, tais como: aumento da
produtividade do alto-forno, melhoria
da permeabilidade do gás, redução
dos finos de minério de ferro, economia
de coque, ajuste da basicidade
da escória, melhoria da qualidade do
metal quente, eliminação da umidade,
redução das emissões de enxofre
e CO 2
.
O coque, proveniente da triagem
do coque metalúrgico de forno,
é o principal combustível utilizado no
processo de sinterização. Contudo, o
processo contribui com até 10% das
emissões totais de CO 2
em uma usina
siderúrgica integrada. A sinterização
também está associada a várias emissões,
incluindo SOx, NOx, dioxinas e
poeiras finas. Para reduzir as emissões
de CO 2
, está sendo investigada a substituição
do coque por fontes renováveis
de combustíveis. No entanto, a
biomassa não é diretamente adequada
para o processo de sinterização devido
à sua alta umidade, baixo teor de
carbono e baixo valor calorífico. A
pirólise da biomassa é necessária para
produzir biocarvão/carvão vegetal
com alta fixação de carbono e baixos
voláteis.
Comparada com o coque no processo
de sinterização, a biomassa como
combustível apresenta características
diferentes, como baixa densidade, alta
porosidade e alto teor de água. Devido
ao maior conteúdo volátil e melhor
reatividade da biomassa, principalmente
do carvão, a taxa de combustão
da biomassa é mais rápida do que a do
carvão ou coque. No entanto, o impacto
negativo da substituição do carvão/
coque por biomassa em um processo
de sinterização é o aumento do teor
de CO nos gases de combustão, devido
à reatividade de gaseificação significativamente
maior da biomassa em
comparação com o carvão ou coque
(Mousa et al. 2016).
4. Conclusão
Em resumo, a integração da biomassa
na metalurgia apresenta-se
como uma estratégia promissora para
reduzir as emissões de CO 2
e promover
práticas mais sustentáveis na indústria
siderúrgica. O uso de biocombustíveis,
como carvão vegetal e produtos da pirólise
da biomassa, busca melhorar a
eficiência e reduzir o impacto ambiental
nos processos de altos-fornos e sinterização.
Apesar dos desafios, como a
necessidade de otimizar propriedades
mecânicas dos produtos da biomassa,
a pesquisa contínua e o compromisso
com a inovação são cruciais para
impulsionar uma transição bem-sucedida
rumo à sustentabilidade na
metalurgia.
Referências
Mousa, E., Wang, C., Riesbeck, J., &
Larsson, M. (2016). Biomass applications
in iron and steel industry: An
overview of challenges and opportunities.
Renewable and Sustainable
Energy Reviews, 65, 1247-1266.
Suopajärvi, Hannu et al. (2018). Use
of biomass in integrated steelmaking
– Status quo, future needs and comparison
to other low-CO 2
steel production
technologies. Applied Energy, v.
213, p. 384-407.
Revista Biomassa BR
17
Artigo
Circularidade dos resíduos
da cadeia agrícola na
geração de biocombustíveis
Por: Monique da Fonseca Rocha Paixão*, Juliana Lobo Paes**
INTRODUÇÃO
Impulsionado pelo desejo humano de
exploração, o meio ambiente está sendo
esgotado com a finalidade de atender as
necessidades dos homens. Essa exploração
tem trazido consequências cada vez
mais evidentes no cotidiano. Catástrofes
naturais, seca, água contaminada e solos
inférteis tem sido a realidade atual. Setores
produtivos questionam se terão no
futuro próximo matéria prima para produzir
seus produtos ou serviços. A sociedade
vive sob riscos. Riscos esses que
podem comprometer a própria existência
humana, já que a natureza é implacável na
eliminação para sua restauração.
O Brasil ratificou o Acordo de Paris,
comprometendo com toda a comunidade
internacional reduzir essas emissões comparadas
em 2005 em 43% até o ano de
2030, com o objetivo de reduzir a emissão
de gases de efeito estufa (GEE). Para que
isso aconteça, será necessário o estímulo
de pesquisa, inovação e uso de outras fontes
de energia renovável e limpa. Projetos
de transição energética precisam ser estimulados,
pautando na diversificação da
matriz energética e o aproveitamento de
resíduos surge nesse cenário como uma
grande fonte de matéria-prima para novas
tecnologias energéticas. É a natureza
ensinando o ser humano no seu processo
cíclico em que nada se perde e tudo pode
ser recriado e reusado, conforme a Primeira
Lei da Termodinâmica.
Assim, diante das preocupações com
as questões ambientais surgem nas agendas
ambientais mundiais, um debate entre
Governos, setores produtivos e a sociedade
civil com o visando encontrar formas
de sistematizar a cadeia produtiva e de
consumo para que sejam ambientalmente
correta e economicamente viável. Ainda,
que aplique o conceito de sustentabilidade
formulado pela Comissão Mundial em
Ambiente e Desenvolvimento (WCED),
em que as necessidades do presente devem
ser atendidas sem que haja comprometimento
para as gerações futuras.
Atuamente com o modelo Econômico
linear inserido na cadeia produtiva, a
degradação ambiental tem aumentado
substancialmente, comprometendo a restauração
natural dos ecossistemas. Recursos
naturais estão sendo explorados
de forma maciça e os resíduos gerados
É A NATUREZA
ENSINANDO O
SER HUMANO NO
SEU PROCESSO
CÍCLICO EM QUE
NADA SE PERDE
E TUDO PODE
SER RECRIADO E
REUSADO...
18
Revista Biomassa BR
SEJA UM
EXPOSITOR DO
2023
SAVE
THE
DATE
16 e 17
NOVEMBRO
2023
BELO HORIZONTE - MG - BRASIL
8
2023
WWW.CBGD.COM.BR
Revista Biomassa BR
19
Artigo
nos processos de produção estão sendo
eliminados de forma incorreta no
meio ambiente. Esses recursos estão
sendo usados no sistema extrair, usar
e descartar sem que haja aproveitamento.
Não há planejamento para sua
restauração, reutilização ou mesmo
reinserção na própria ou em outras
cadeias produtivas.
Atualmente, verifica-se a inserção
do conceito de economia circular
em processos produtivos. Essa é uma
mudança sistêmica que visa a redução
das externalidades da economia
linear, construindo pilares para que
no longo prazo oportunidades econômicas
surjam melhorando os bens
e serviços oferecidos pelo mercado. A
circularidade de resíduos gerados na
agricultura e transformado em energia
poderá trazer grandes benefícios
não só de cunho econômico, mas
também ambiental e social.
Diante do exposto, objetiva-se
com este trabalho demonstrar que é
possível a inclusão dos resíduos produzidos
na agricultura para a geração
de energia limpa inserindo em outras
cadeias de produção usando as técnicas
e princípios de gestão da Economia
Circular
METODOLOGIA
O presente trabalho utilizou o
método teórico, o qual consiste em
reconstruir teorias e, conceitos, tendo
em vista, em termos imediatos aprimorar
fundamentos teóricos. Assim,
o estudo teórico, analisando os conceitos
e noções fundamentais, as formas
pelas quais a Economia Circular
se organiza e como contribui para a
melhoria da gestão ambiental quando
usada na questão dos resíduos produzidos
na agricultura para geração de
energia limpa como o biogás
Para tanto, utilizou a técnica de
pesquisa bibliográfica, consistindo
na análise e compreensão de artigos,
textos doutrinários especializados no
assunto, livros, jornais, revistas e sites
especializados.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As consequências do desenvolvimento
industrial trouxeram grandes
impactos no meio ambiente. O espírito
do homem pelo desenvolvimento
tem consequências brutais no próprio
ambiente que vive. Essa busca exploratória
é encontrada por toda parte,
seja no ar, na água e no solo. É através
das mãos humanas que a natureza se
deteriora, tirando dela a força de seu
trabalho silencioso.
A revolução industrial trouxe
danos que a natureza de certa forma
conseguiu se recuperar. Entretanto,
hoje a sociedade desafia a fronteira
da exploração dos recursos naturais,
sem quaisquer preocupações com a
próxima geração. Dessa forma, elevados
níveis de irresponsabilidades
são presenciadas cotidianamente seja
nos jornais ou mesmo pelas próprias
consequências em forma de desastres
ambientais.
A sociedade globalizada é centrada
no risco. Risco esse que tem gerado
efeitos perversos para diversas comunidades.
Esse desmedido progresso
tem feito estragos na natureza que talvez
jamais se reverta.
Portanto, é necessária uma mudança
sistêmica nos processos produtivos
para que haja uma economia
baseada em modelos regenerativos
diminuindo o desperdício e a dependência
de recursos naturais.
Assim surge no cenário econômico
o modelo de economia circular
com o potencial de ajudar na gestão
de uso dos recursos primários e dos
resíduos produzidos no processo de
produção. A Economia Circular adota
uma abordagem em que os recursos
são usados em vez de consumidos.
Essa abordagem não trata apenas de
reciclar os materiais, ou reduzir resíduos
para os aterros sanitários. Ela
propõe a eliminação ou a rentabilidade
dos resíduos no design do produto,
amplia a cadeia de valor para abranger
todo o ciclo de vida, envolve todos os
estágios desde o fornecimento de matérias-primas,
fabricação, distribuição
vendas e consumo (WEETMAN,
2019).
A economia circular é regenerativa
desde seu início, ela aproveita ao
máximo os recursos que foram usados
no processo e trata seus resíduos de
forma sustentável, aproveitando em
outras cadeias produtivas. Dessa forma,
as atividades econômicas seguem
o sistema de redução, reutilização e
reciclagem. Entendendo por redução
a diminuição da quantidade de insumos
dispendidos nos processos de
fabricação, já reutilização criar produtos
que tenham sua vida útil aumentada
e reciclar é regenerar os recursos
renováveis que foram usados.
Apresenta-se na Figura 1 como a
Economia Circular atua nos setores
produtivos.
Estimulados pelos princípios da
preservação e aprimoramento do capital
natural, esse modelo econômico
otimiza o uso dos recursos que já fo-
Figura 01 - Fonte : Ellen Macarthur Foundation (2023)
20
Revista Biomassa BR
ram explorados e retirados do meio
ambiente, otimizando o fluxo de bens
e serviços.
Segundo STAHEL (2016), o modelo
de negócio da Economia Circular
pode ser dividido em dois grupos.
O primeiro modelo adota a reutilização
e prolongamento da vida útil por
meio de reparos. Já o segundo modelo,
adota a transformação de bens que
já foram produzidos gerando novos
recursos por meio da reciclagem. É
nesse segundo modelo que introduz
os resíduos da agricultura e pecuária
como forma de alimentar o elo de outras
cadeias produtivas. No caso do
presente trabalho, a abordagem da
importância do uso desses resíduos
na produção de biocombustíveis será
trabalhada.
Na economia circular, é necessário
entender a diferenciação entre
ciclos biológicos e ciclos técnicos. Ciclos
biológicos, trata-se de insumos
biodegradáveis, que são extraídos e
são devolvidos na natureza através do
processo de restauração e uso sustentável.
O ciclo técnico envolve insumos
que não são biodegradáveis, exemplo
metais, plásticos, polímeros. Esses insumos
são reinseridos internamente
na cadeia produtiva realimentando o
sistema através do processo de reciclagem,
que por sua vez pode ser física
ou química. De uma forma geral,
os insumos biológicos são usados no
tratamento anaeróbico e os técnicos
podem participar das atividades de
logística reversa.
Na ecologia industrial, o resíduo
é considerado como matéria primária
cuja finalidade é o atingimento da eficiência
econômica usando estratégias
de menor desperdício criando redes
de processos nas cadeias industriais.
2023/2024, a estimativa da produção
brasileira é da ordem de 119.405
mil toneladas, já a estimativa de área
é de 21.187 mil ha, sendo a estimado
por produção 5.636 kg/há (CONAB,
2023).
De acordo com os dados do último
relatório produzido pela EPE, o total
de emissões antrópicas associadas
à matriz energética brasileira atingiu
423 milhões de toneladas de dióxido
de carbono. A captura e armazenamento
de CO2 de origem na biomassa
(Bio-CCS) é uma das possibilidades
de atendimento ao Acordo de Paris e
contribuir para conter o aquecimento
global abaixo de 2ºC em relação aos
níveis pré-industriais. Ao realizar a
estocagem de um carbono absorvido
da atmosfera pela fotossíntese, Bio-C-
CS pode ser caracterizada como uma
tecnologia de emissões negativas que
está combinada à geração de energia
ou de biocombustíveis (EPE 2023)
A sociedade atual dependente de
combustíveis fósseis, tem buscado novas
maneiras de obter energia limpa e
renovável. Uma alternativa energética
que vem obtendo crescimento não
só no Brasil, mas no Mundo são os
Biocombustíveis. Criados a partir de
fontes renováveis como resíduos provenientes
de criação de animais e da
agricultura, esses combustíveis é uma
forma de substituição aos de origem
fósseis, contribuindo para uma redução
dos GEE e dos efeitos gerados pelas
mudanças climáticas.
Artigo
Nesse cenário, o biogás apresenta
como uma alternativa que está
em crescimento no Brasil. Apesar da
matriz energética brasileira ter a participação
do Biocombustível em apenas
1% (EPE 2022), o biogás possui
um grande potencial de crescimento
no setor energético. De acordo com
ABIOGÁS, a produção do gás gerado
pelo setor sucroenergético é de 21,1
bilhões nm3/ano, da produção agrícola
é de 6,6 bilhões nm3/ano e da proteína
animal é de 14,2 bilhões de nm3/
ano. (ABIOGÁS,2023)
A formação química do biogás
pode ser obtida através de resíduos
provenientes da agricultura e pecuária,
sem que haja grandes investimentos
além de cumprir a legislação
ambiental de resíduos sólidos. Transformando
passivos ambientais em
ativos econômicos. O processo de
digestão anaeróbica é apontado como
alternativa viável. Pode ser utilizado
como opção no tratamento de resíduos
sólidos e líquidos e na redução ao
mínimo do poder poluente e de riscos
sanitários dos dejetos produzindo
biogás e biofertilizantes (SCHWA-
NKE, 2013).
As regiões que mais concentram
a produção de biogás são aquelas que
produzem números substanciais de
matéria orgânica, resíduos agrícolas,
urbanos, industriais, florestais (Relatório
BEN EPE 2023) No Brasil, as
regiões Sudeste, Centro-Oeste e parte
do Nordeste são as mais promissoras
Assim, alimentos e agricultura
ganham espaço privilegiado no que
diz respeito a regeneração da natureza
e criação de valor na produção de
produtos e serviços. Sistemas agrícolas
podem através de seus resíduos
aumentar lucros e a produção de outros
setores econômicos. O uso desses
subprodutos reduz custos da matéria-
-prima, além de ajudar a restaurar a
biodiversidade. Os números brasileiros
do setor agrícola são significativos,
de acordo com o mapa da CONAB
Figura 02 - Fonte: SNIS (2019)
Na Figura 3, apresenta-se a destinação final dos resíduos sólidos.
Fonte: SNIS (2019)
Revista Biomassa BR
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Artigo
O BRASIL POSSUI GRANDE POTENCIAL POR CONTA DE SUAS CONDIÇÕES
FAVORÁVEIS TANTO NO QUESITO CLIMA QUANTO DE SUA TOPOGRAFIA. O SETOR DA
AGRICULTURA É BEM DESENVOLVIDO SENDO RESPONSÁVEL POR 27% DO PIB...
na produção de biogás.
Sob o viés da questão dos resíduos
sólidos, a legislação brasileira trata
com base na lei 12.305/2010 (Política
Nacional de Resíduos Sólidos -PNRS).
No Artigo 3, XV os resíduos passam a
ser considerados rejeitos após esgotar
toda e qualquer possibilidade de seu
tratamento e recuperação, devendo
ser depositado em local ambientalmente
adequado. Dessa forma, as diretrizes
das políticas de resíduo sólido
indicam a necessidade do uso e reuso
do que foi já produzido e somente
descartar quando não for mais possível
reinserir na cadeia produtiva. No
Artigo 30 da mesma lei, a abordagem
é sobre a responsabilidade compartilhada
em que toda a sociedade, governo
e setores produtivos incentivem as
práticas socioambientais adequadas.
A realidade brasileira demonstrada
através dos dados do SNIR (Sistema
Nacional de informações sobre
Gestão de Resíduos Sólidos), informa
que o índice de recuperação de resíduos
em 2019 foi de 1,67 %, usando
como base de cálculo a reutilização,
reciclagem e recuperação energética.
Apresenta-se na Figura 2, a quantidade
de resíduos sólidos e o tipo de
tratamento aplicado.
Pode-se interpretar ao analisar
as Figuras 2 e 3, verdadeiro atraso na
questão da gestão dos resíduos sólidos
em solo brasileiro. A maior parte
da massa acaba sendo depositada em
aterros sanitários ou em lixões distribuídos
em todo território Nacional.
Essa massa quando devidamente reutilizada
gera uma melhor qualidade
ambiental e empregos em diversos
outros setores. O problema da disposição
final imprópria acarreta não só
prejuízos para os setores produtivos,
mas também para o meio ambiente.
Sendo esse um dos maiores passivos
ambientais que uma empresa pode
possuir.
Como forma de minimização dos
impactos ambientais o PLANAR prevê
a recuperação e reaproveitamento
dos resíduos sólidos para geração
energética A recuperação energética
é a conversão de resíduos sólidos em
combustível, energia térmica ou eletricidade,
por meio de processos, tais
como digestão anaeróbia, recuperação
de gás de aterro sanitário, incineração
e coprocessamento. Também foi
incluída como uma das possibilidades
para a destinação final ambientalmente
adequada (art. 9º, § 1º) (PLANAR,
2022).
Para minimizar a questão da disposição
final imprópria do setor agrário,
nas próprias áreas rurais instalações
de processamento e geração de
biogás poderão ser construídas para
que esses subprodutos sejam recuperados
e reinseridos na economia,
gerando uma fonte de energia alternativa
para abastecer outros setores
econômicos. Ao elaborar projetos que
reúnam a base da economia circular
e reaproveitamento de resíduos da
agricultura na geração de energia, não
só minimiza os impactos ambientais
como também reduz os custos energéticos.
O Brasil possui grande potencial
por conta de suas condições favoráveis
tanto no quesito clima quanto de
sua topografia. O setor da agricultura
é bem desenvolvido sendo responsável
por 27% do PIB. De acordo com
o CNA, O agronegócio tem sido reconhecido
como um vetor crucial do
crescimento econômico brasileiro.
Em 2020, a soma de bens e serviços
gerados no agronegócio chegou a R$
1,98 trilhão ou 27% do PIB brasileiro.
Dentre os segmentos, a maior parcela
é do ramo agrícola, que corresponde
a 70% desse valor (R$ 1,38 trilhão
(CNA, 2021)
Sob o viés regulatório, esse setor
tem como um dos grandes problemas
o passivo ambiental relacionado
aos resíduos de sua produção, isso
porque os resíduos são proporcionais
aos números da produção. Baseados
nos dados da SNIR, os resíduos que
foram gerados nas atividades agropecuária
e silviculturas em 2019, é
da ordem de 632.106,00 t de massa
gerada. Que destino adequado ambientalmente
poderá ser dado para os
resíduos? Assim, seguindo as novas
tendências de implantação de plantas
de produção de biogás perto da
propriedade rural ou mesmo dentro
dela poderá cumprir fazer cumprir
as diretrizes da legislação brasileira
ambiental.
A responsabilidade com o meio
ambiente é compartilhada com todos,
como preceitua o Artigo 225 da
CRFB/88 Uma transição energética
precisa ser acontecer e o setor produtivo
da agricultura pode ser de grande
utilidade quando usa seus resíduos
para geração energética de outros setores.
Essa transição para uma economia
verde e sustentável já está nas
agendas ambientais mundiais. O Brasil
pode oferecer grandes oportunidades
não só para investidores, como
também para pesquisadores e desenvolvedores
de projetos que usem as
bases e princípios da economia Circular
para alimentar outros elos da
cadeia produtiva industrial. Usar os
resíduos provenientes da agricultura
para geração de energia limpa e renovável
é um dos caminhos que elevam
a invisível força motora da sustentabilidade.
O ano de 2024 será um
marco para o País, visto que será feita
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Revista Biomassa BR
Artigo
pela primeira vez a emissão de títulos
verdes soberanos para apoiar projetos
de biocombustíveis ou bioinsumos
que venham da agricultura. Inicialmente
esses títulos cobrirão despesas
que estejam relacionados as práticas
de gestão dos recursos naturais e
o uso da terra, de forma a estimular
projetos que incluam os agricultores
na produção de energia renovável
e bioinsumos.
De uma forma geral, as soluções
sobre a transição energética serão
diferentes para cada País. Para Países
desenvolvidos, os carros elétricos
podem ser o início de uma mudança
viável rumo a melhoria ambiental. Já
para os subdesenvolvidos a solução
encontrada poderá ser os biocombustíveis
e o reaproveitamento de resíduos
para sua geração. Não há escolhas
certas, melhores ou piores, mas sim
as que mais se adaptam a cada realidade
local. O Brasil com sua extensão
de territorial de 8.515.759 km2
(IBGE 2023) e sendo o 4 maior produtor
agrícola do Mundo, encontra
na agricultura um modo de usar seus
subprodutos para aumentar e diversificar
sua matriz energética.
A economia ainda é muito dependente
dos combustíveis fósseis, mas
nada impede que haja um aumento
de oferta de outras energias. De toda
forma, uma mudança é necessária e
que a transição energética ganhe força
no futuro próximo. Os resíduos agrícolas
estão disponíveis para serem
usados e transformados em energia.
Sendo uma solução para o passivo
ambiental agrícola, além de fomentar
a economia gerando mais empregos e
diminuindo os custos de processo de
produção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa pesquisa, a união dos pilares
da Economia Circular com a
gestão ambiental dos resíduos auxilia
o processo de transformação em energia,
reinserindo na cadeia produtiva
algo que não teria mais qualquer utilidade.
É Engenharia, administração e
gestão ambiental em conjunto oferecendo
a oportunidade de cumprir os
desafios ambientais assumidos pelo
Brasil, que é a proteção ambiental.
Os resíduos da agricultura aliada
as teorias da economia circular
serão uma chave para a criação de
um mundo mais sustentável e um
repensar nas matrizes energéticas
do País.
REFERÊNCIAS
FICAS
Para tanto, aprimorar o estudo na
implementação da economia circular
visando retornar os resíduos agrícolas
para a cadeia produtiva poderá contribuir
para a melhoria da gestão ambiental.
BIBLIOGRÁ-
ABIOGÁS. Associação Brasileira do
Biogás. Disponível em: https://abiogas.org.br/potencial-do-biogas-no-brasil
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2011. Disponível em:
http://www.brasil.gov.br/infraestrutu-
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CONAB – Companhia Nacional de
Abastecimento. Indicadores da Agropecuária.
2016. Disponível em: http://
www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_09_01_16_09_55_
revista_indicadores_da_agropecuaria_agosto_2016_versao_final_internet.pdf
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TION. Economia Circular No Brasil.
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www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-748/
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STAHEL, W. R. Circular Economy.
Nature, p. 6–9, 2016.
* MONIQUE DA FONSECA
ROCHA PAIXÃO
Advogada Especializada em direito
Ambiental e Agronegócio pela
PUC-PR. Presidente da Comissão
de Governança dos Oceanos da
OAB/ Barra da Tijuca. Secretária
Geral da Comissão Especial
de Governança dos Oceanos da
OAB/RJ. Membro da Comissão
Especial de Saneamento, Recursos
Hídricos e Gás encanado da
OAB/RJ, Advogada membro do
LACLIMA, Autora de livros e
Artigos sobre Direito Ambiental e
Saneamento Básico.
E-mail:
moniquefonsecaf@mellofrota.com
** JULIANA LOBO PAES
Graduação em Engenharia Agrícola
e Ambiental (2006), mestrado
(2008) e doutorado (2011)
em Engenharia Agrícola pela
Universidade Federal de Viçosa.
Atualmente é Professora Associada
da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, docente
permanente no Programa de
Pós-Graduação em Agroenergia
Digital da Universidade Federal
de Tocantins e docente colaboradora
no Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Agrícola
e Ambiental da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.
É coordenadora do Grupo de
Pesquisa GERAR - Grupo de
Energias Renováveis e Alternativas
Rurais e do Laboratório de
Pesquisa Multiusuário do Grupo
de Energias Renováveis e Alternativas
Rurais (LabGERAR) localizado
no Instituto de Tecnologia/
Departamento de Engenharia.
E-mail:
juliana.lobop@gmail.com
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