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EARS UP<br />
Fique por dentro dos últimos lançamentos de Cds.<br />
o site da revista (www.dynamite.Com.br) traz mais lançamentos.<br />
Cotação:<br />
MMMMM (Excelente);<br />
MMMM (Ótimo);<br />
MMM (Bom);<br />
MM (Regular);<br />
M (Fraco)<br />
the vaCCines<br />
Come of age<br />
(sony Music)<br />
Por: dum de lucca<br />
MMM<br />
Sem dúvida o The Vaccines é animado, fala das inquietações<br />
da juventude, mas também é descartável e supervalorizado,<br />
e usa bem o potencial de grande hype como<br />
o New Music Express sabe fabricar como ninguém. O<br />
amadurecimento realmente aconteceu, contudo, ainda falta<br />
algo a mais para se tornarem um grupo de rock com personalidade<br />
própria, como deseja Justin. Isso significa dizer<br />
que, para construírem uma imagem sólida calcada em uma<br />
música mais substanciosa, precisam ser identificados no<br />
primeiro acorde, como tantas grandes bandas de rock o são.<br />
Se tal realidade vai rolar, só esperando para ver. Porém, o<br />
que não dá para deixar de perceber, é que o Vaccines está<br />
nitidamente trilhando o caminho do aprimoramento.<br />
O novo disco do The Vac-<br />
Fiona aPPle<br />
the idler Wheel is Wiser<br />
than the driver of the<br />
cines, “Come of Age”, não é<br />
screw and Whipping Cords<br />
um álbum ruim, mas mostra<br />
Will serve you More than<br />
um grupo ainda sem identidade<br />
ropes Will ever do<br />
tentando ser o que não é. O<br />
(epic)<br />
próprio vocalista Justin Young, em recente entrevista ao The<br />
Por: dum de lucca<br />
Guardian confessou: “Nós não queremos ser uma banda<br />
indie mais, queremos ser uma banda de rock”. Ele, além<br />
MMMM<br />
de assinar e atestar o abissal poço existente entre o indie<br />
A talentosa, doce e às vezes<br />
rock e o rock & roll, confessa sua insatisfação com a banda. visceral americana Fiona Apple, nasceu para a música com<br />
Classificar tudo o que veio depois do pós-punk como indie “Tidal”, de 1996. Um disco sensacional que preconizava as<br />
é um equivoco enorme. Rock é feito de peso e guitarras alternâncias de climas, andamentos e melodias quebradas<br />
com solos como Eddie Van Halen, Black Country Commun- e jazzísticas que marca a alma da artista. Em 1999 usou<br />
ion, Queen of The Stone Age e Jack White, por exemplo, o como título do Cd um poema de 400 caracteres abreviado<br />
indie se resume a guitarristas econômicas e monocórdicas. como “When the Pawn”, e após um hiato enorme para tem-<br />
A ambição da banda em ser diferente do que realmente é pos tão urgentes e comestíveis lançou, forçosamente depois<br />
não funcionou. A sensação é clara, pois o resultado final do de uma briga com a gravadora, “Extraordinary Machine”, em<br />
trabalho, apesar de ser melhor do que a estreia, “What Did 2005. Após idas e vindas conturbadas ela lança “The Idler<br />
You Expect From The Vaccines?”, ainda soa como um grupo Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping<br />
alegre e adolescente. Nada de mais, se não fosse o desejo Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do”, uma<br />
explicito de seu vocalista.<br />
retomada pra lá de boa. Com sua voz gutural e pontuada,<br />
E, mesmo sendo praticamente a única banda de rock al- enveredou por uma trilha mais pessoal viajando por temas<br />
ternativa britânica que vende álbuns de forma consistente no como sentimentos, o amor, o arrependimento e o isolamen-<br />
Reino Unido, se perdeu ao tentar dar um peso que evidenteto. Não é um trabalho de fácil consumo. É intrínseco, cheio<br />
mente não tem. Isso fica óbvio logo na canção que abre o de sonoridades e nuances climáticas, e que mostra uma<br />
CD, “No Hope”, que após um breve início avassalador de artista que passou anos tentando se expressar de maneira<br />
bateria logo assume uma quase monocromática personali- diferente, original e sincera. E, parece que atingiu seu objedade<br />
pop. As melodias mantém um padrão quase uno em tivo ao se libertar de qualquer amarra ou restrição estética<br />
todas as canções, os riffs praticamente se repetem iguais ou conceitual.<br />
por todo disco. Parecem querer soar como Arctic Monkeys, São dez canções nas quais ela sozinha com sua voz,<br />
e tentam atingir sonoridades dos anos 1960. “Aftershave piano, e o percussionista Charley Dreiton, criam cortes<br />
Ocean” é uma vã tentativa de parecer um clássico pop dos sutilmente coloridos com harmonias, efeitos leves, ritmos<br />
60, e tem uma forte inspiração na slide guitar de George que se sobrepõem e teclados adicionais – mas sem nunca<br />
Harrison. “Bad Mood” é a melhor faixa, a que mais se<br />
mudar o foco dos vocais magnéticos, o elemento humano<br />
aproxima de rock & roll e tem uma boa nervosa guitarra. que nos puxa para dentro das músicas. Em termos de<br />
Apesar do álbum não ser ruim e nem arrogante para tentar sonoridade a semelhança com seus outros álbuns é nítida,<br />
salvar o rock, é muito confuso e incoerente. Se o desejo dos como na jazzística “Left Alone”, uma linda e sóbria canção<br />
ingleses com “Come of Age” era mudar a perspectiva da sua meio desconstruída, com uma batera e teclados que lem-<br />
música [como disse Justin Young] e alça-los ao patamar do bram Thelonius Monk. “Jonathan” fala de amor e delicadeza,<br />
rock & roll, não há um número suficiente de canções boas para mas é Fiona, então, sempre vem junto às surpresas, o fora<br />
justificar isso. Ou ainda manter os Vaccines como grandes do comum.<br />
vendedores de discos, sua posição atual no mercado. Dado o Ela é única e demonstra sua versatilidade absurda na<br />
sucesso comercial do primeiro álbum, isso é quase um desas- quase balada country paranoica “Werewolf”, sempre amtre,<br />
especialmente sabendo claramente que não é o que eles parada pelo teclado, que domina com leveza. “Valentine”<br />
tinham em mente ao tentar mudar sua imagem através do som. e “Regret” são quase irmãs. Intimistas e densas. Abraçam.<br />
E também, após ouvir Justin Young se lamentando em aspirar Nelas vejo os olhos de Fiona, agachada e sagaz. Sempre<br />
ser uma banda de rock & roll, dá para gentilmente sugerir que o piano, a percussão, a voz e o talento. “Regret” fala sobre<br />
às vezes você tem que se contentar em ser o que você é. Ou relacionamento e desaba em gritos primais. Pura ânsia e<br />
seja, o grupo, em seu segundo trabalho, parece perdido musi- vibração. A canção que abre o CD, “Every Single Day”, é<br />
calmente em relação a seu objetivo expresso.<br />
rica, como todo o disco. Nada é desperdiçado em arranjos,<br />
Novembro-Dezembro/2012 31