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Lotus Plaza, que o blog NÃO conhecia (jornalistas não são mais difícil surgir alguma novidade realmente digna de nota.<br />
obrigados a conhecer absolutamente tudo o tempo todo, E cada vez mais grupos que tiveram grande importância na<br />
néan?) e ficou conhecendo esta semana, meio que por história recente do rock se animam a voltar a tocar. Caso do<br />
acaso. E como sempre comentamos aqui, nunca é tarde Soundgarden: o gigante grunge ficou hibernado por década<br />
pra se falar de um ótimo disco, como é “Spooky Action at e meia. Começou a articular seu retorno – com a formação<br />
a Distance”, o segundo álbum do LP e que saiu em… abril original – em meados do ano passado. E agora esse come-<br />
deste ano. Sair em edição nacional ele não vai, pelo visto. back se concretiza com o lançamento deste “King Animal”.<br />
Mas você pode encontrá-lo facilmente na web.<br />
É um bom disco? Sim. Claro, não se equipara a obras<br />
Lotus Plaza é, na verdade, o projeto de um músico só. No fodásticas da banda (como “Badmotorfinger”, “Superunk-<br />
caso, o multiinstrumentista, vocalista e compositor amerinow” e “Down The Upside”), mas flagra o quarteto em ótima<br />
cano Lockett Pundt, fundador da banda Deerhunter. Não forma após ficar quinze anos sem gravar material inédito em<br />
satisfeito apenas em tocar no seu grupo, Pundt (que nasceu estúdio. Fora que um grupo que possui um vocalista como<br />
na Georgia e tem trinta anos de idade) foi dar vasão à sua Chris Cornell e um guitarrista como Kim Thayil, leva laaaaar-<br />
compulsão musical no Lotus Plaza. Uma compulsão que ga vantagem sobre a concorrência. Mesmo não sendo uma<br />
rendeu até o momento dois álbuns: “The Floodlight Collec- obra prima do além, “King Animal” simplesmente HUMILHA<br />
tive”, lançado em 2009 e o citado “Spooky Action…”. Ambos 90% do rock que se produz no mundo atualmente.<br />
foram lançados pelo ultra underground selo Kranky, que Trata-se de um trabalho que mostra como faz falta ter téc-<br />
estas linhas online também nunca tinham ouvido falar. nica, garra, criatividade e tesão para se tocar. Ou seja: tudo<br />
Pois o Lotus Plaza faz rock alternativo de guitarras como o que falta na maioria dos grupelhos atuais. O Soundgarden,<br />
quase não se ouve mais nos dias que correm. Com vocais mesmo o jovem leitorado zapper sabe, tinha tudo isso de<br />
dolentes, melodias divinais, ambiências oníricas e con- sobra e mais um pouco. Era um dos três gigantes do grunge<br />
templativas Lockett Pundt deixa explícito que ouviu muito de Seattle nos early 90’, ao lado de Pearl Jam e Nirvana (e<br />
shoegazer e seus expoentes (My Bloody Valentine, Lush, com todo respeito ao Mudhoney, ao Stone Temple Pilots,<br />
Ride) para formar sua estética sonora. Há canções belís- Screaming Trees e outros grandes nomes do movimento<br />
simas espalhadas por todo o cd, que abre com uma vinheta que devolveu o rock americano a um lugar de destaque na<br />
instrumental pra depois cair no rock acelerado de “Stran- música mundial, além de dar um chute na bunda da música<br />
gers”. Além dela há delírios de guitarras harmoniosas e com pop ordinária que infestava as paradas de então). Fazia rock<br />
riffs bem construídos, como em “Out Of Touch” (que é na pesado, quase heavy metal, com nuances psicodélicas e<br />
verdade conduzida por violões suaves e é uma das preferi- tendo um vocalista capaz de (como diria a imprensa musical<br />
das deste espaço virtual), em “Jet Out of the Tundra” ou da época) cantar até um catálogo telefônico com perfeição,<br />
ainda em “Remember Our Days”. Mas nada supera a beleza emoção e arrebatação. A parte instrumental também não<br />
abrasiva e melancólica da faixa que fecha o disco: “Black ficava atrás, com um guitarrista monstro (Kim) e uma seção<br />
Buzz”, de letra pesada, é uma balada que descreve a res- rítmica brutal e precisa (com o baixista Ben Shepherd e o<br />
saca pós loucura de drogas, vivida por uma garota junky. Foi batera Matt Cameron, que de tão bom acabou sendo tam-<br />
a faixa que fez estas linhas rockers curiosas descobrirem bém cooptado pelo Pearl Jam).<br />
o Lotus Plaza: por acaso assistindo ao programa Goo (um É óbvio que com tamanha qualidade sonora e tantos tal-<br />
dos poucos interessantes que restam na grade da MTV, por entos em um só grupo, rolaram os dois lados da parada. O<br />
apresentar quase que somente vídeos de artistas obscuros bom: a banda começou a vender horrores, mesmo fazendo<br />
e mais alternativos) em uma madrugada dessas qualquer, um som pesado e de difícil digestão para o mega populacho.<br />
Zap’n’roll deu de cara com o clip de “Black Buzz”. Se apa- O lado péssimo: começaram as inevitáveis enfiações de<br />
ixonou no ato pelas imagens e pela música, e foi atrás pra pé na lama em álcool e drugs, além de estourar a habitual<br />
saber de quem era aquilo.<br />
guerra de egos gigantes – no caso, os de Cornell e Kim<br />
Era o Lotus Plaza. Que, até onde pesquisamos, nenhum Thayil. Não demorou muito para o Soundgarden anunciar o<br />
portal, site ou blog de cultura pop da web brazuca comentou seu fim, no começo de 1997.<br />
algo. No problem: estas linhas zappers acabam de fazer Quinze anos se passaram, cada um continuou tocando<br />
isso pra você. E se vale a recomendação, vá atrás do disco. sua vida na música (Chris, por exemplo, foi vocalista do Au-<br />
Dá vontade de voltar correndo no tempo, e se imaginar em dioslave, que chegou a lançar dois bons discos, e também<br />
Sampa em 1995, na pista escura e esfumaçada do Espaço editou dois álbuns solo que são a vergonha alheia total),<br />
Retrô. Bons tempos… que só podem ser recordados quando até começarem as negociações para um retorno efetivo do<br />
ouvimos um álbum como este “Spooky Action at a Distance”. Soundgarden. Até que ele finalmente se concretiza agora. E<br />
“King Animal”, o novo álbum de estúdio, reedita os procedi-<br />
soundgarden<br />
mentos que celebrizaram o conjunto no auge do movimento<br />
king animal<br />
grunge. A guitarra de Kim dispara riffs enérgicos e acelera-<br />
(seven Four/republic dos, mas sem perder a elegância melódica. E Chris, que<br />
records)<br />
está com quarenta e oito anos de idade, continua com as<br />
Por: humberto Finatti inflexões vocais de um adolescente irado. Impressionante.<br />
MMMM<br />
Há faixas acachapantes espalhadas por todo o cd, como a<br />
esporrenta “Been Away Too Long”, que abre o disco e é o<br />
Não, não estamos em 1990. primeiro single de trabalho. Fora ela, dá pra chapar tranqüilo<br />
Mas é como se uma imag- os miolos com “By Crooked Steps” (que tem a participação<br />
inária máquina do tempo nos do batera Cameron em sua composição), “Attrition”, e “Black<br />
jogasse lá novamente, duas Saturday”. Curiosamente, em sua parte final, o trabalho<br />
décadas atrás. E esse “retorno desacelera um pouco e fica mais contido no quesito barulho.<br />
ao passado” não é nenhuma novidade nos tempos que cor- Mas, ainda assim, deixa o ouvinte altamente satisfeito e se<br />
rem, onde bandas de rock perderam total a capacidade de questionando: o que há com as merdas das bandas atuais,<br />
produzir grande música e grandes discos. Aí fica cada vez afinal? Por que elas não conseguem produzir um disco – ou<br />
Novembro-Dezembro/2012 33