A LITURGIA NO CONTEXTO URBANO - Livros Grátis
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UNIVERSIDADE METODISTA DE S O PAULO<br />
FACULDADE DE FILOSOFIA E CI NCIAS DA RELIGI O<br />
PROGRAMA DE P”S-GRADUA« O EM CI NCIAS DA RELIGI O<br />
A <strong>LITURGIA</strong> <strong>NO</strong> <strong>CONTEXTO</strong> URBA<strong>NO</strong>:<br />
APONTAMENTOS PARA A PR¡XIS PASTORAL NA<br />
COMUNIDADE DE HELI”POLIS<br />
Por<br />
Oswaldo de Oliveira Santos Junior<br />
S„o Bernardo do Campo ó dezembro de 2006<br />
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UNIVERSIDADE METODISTA DE S O PAULO<br />
FACULDADE DE FILOSOFIA E CI NCIAS DA RELIGI O<br />
PROGRAMA DE P”S-GRADUA« O EM CI NCIAS DA RELIGI O<br />
A <strong>LITURGIA</strong> <strong>NO</strong> <strong>CONTEXTO</strong> URBA<strong>NO</strong>:<br />
APONTAMENTOS PARA A PR¡XIS PASTORAL NA<br />
COMUNIDADE DE HELI”POLIS<br />
Por<br />
Oswaldo de Oliveira Santos Junior<br />
DissertaÁ„o apresentada em cumprimento<br />
parcial ‡s exigÍncias do Programa de<br />
PÛs-GraduaÁ„o em CiÍncias da Religi„o<br />
da Universidade Metodista de S„o Paulo,<br />
para obtenÁ„o do grau de Mestre, sob a<br />
orientaÁ„o do Prof. Dr. Geoval Jacinto da<br />
Silva.<br />
S„o Bernardo do Campo ó dezembro de 2006<br />
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1
Banca Examinadora<br />
Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva<br />
Universidade Metodista de S„o Paulo ñ UMESP<br />
Prof. Dr. ClÛvis Pinto de Castro<br />
Universidade Metodista de S„o Paulo ñ UMESP<br />
Prof. Dr. JosÈ Rubens Lima Jardilino<br />
Centro Universit·rio Nove de Julho ñ UNI<strong>NO</strong>VE<br />
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2
3<br />
Para o AndrÈ Felipe,<br />
express„o da alegria e da esperanÁa.<br />
In memorian:<br />
Zoraide de Lima Santos e<br />
Oswaldo de Oliveira Santos,<br />
Saudade e inspiraÁ„o para as lutas do cotidiano.<br />
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4<br />
ì... toda aÁ„o principia mesmo È por<br />
uma palavra pensadaî.<br />
(Jo„o Guimar„es Rosa)<br />
ìQue o direito corra como as ·guas e a<br />
justiÁa como um rio caudaloso!î<br />
(Livro do profeta AmÛs 5.24)<br />
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AGRADECIMENTOS<br />
Aqui eu me detenho para agradecer, e repetir Violeta Parra: ìGracias a la<br />
vida que me ha dado tanto...î. Me dado amigos e amigas, porque a vida se faz em<br />
comunh„o. AgradeÁo pelo companheirismo e pelos gestos solid·rios que me<br />
sustentaram e incentivaram nesta jornada tornando-a leve e possÌvel. A todos e<br />
todas o meu sincero agradecimento.<br />
Ao Professor Dr. Geoval Jacinto da Silva, pastor que È a express„o do<br />
cuidado, amigo sempre presente, orientador firme e dedicado, para quem todo<br />
tempo È tempo de ensinar e incentivar a seguir pesquisando.<br />
Aos Professores: Dr. Antonio Carlos de Melo Magalh„es, Dr. James<br />
Reaves Farris, Dr. Ronaldo Sathler Rosa, e Dr. ClÛvis Pinto de Castro, pelas<br />
aulas e motivaÁ„o para a pesquisa.<br />
Aos amigos e amigas, irm„os da Igreja Metodista no Ipiranga e HeliÛpolis,<br />
pela acolhida fraterna e companheira.<br />
Ao AndrÈ Felipe e Denise Martins pela paciÍncia na minha ausÍncia e<br />
carinho sempre presente.<br />
Aos amigos M·rcio BÈrgamo e Marciano Kappaun pelas conversas e pelos<br />
livros emprestados.<br />
Ao IEPG ñ Instituto EcumÍnico de Pesquisa em PÛs-graduaÁ„o ñ pela<br />
bolsa de estudos parcial que contribuiu para a realizaÁ„o desta pesquisa.<br />
Aos funcion·rios da UNAS na Comunidade de HeliÛpolis, pela atenÁ„o e<br />
paciÍncia no atendimento durante a pesquisa.<br />
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5
SANTOS JR., Oswaldo de Oliveira. A liturgia no contexto urbano: apontamentos<br />
para a pr·xis pastoral lit˙rgica na comunidade de HeliÛpolis. S„o Bernardo do<br />
Campo, 2006. 161 f. DissertaÁ„o em CiÍncias da Religi„o ñ Pr·xis religiosa e<br />
sociedade. Universidade Metodista de S„o Paulo, S„o Bernardo do Campo, 2006.<br />
RESUMO<br />
Esta pesquisa propıe-se a analisar a liturgia no contexto urbano, e a forma como<br />
a pr·xis pode influir e se articular com a liturgia crist„ construÌda na cidade,<br />
especialmente em ·reas empobrecidas e que experimentam as contradiÁıes<br />
resultantes de um modelo econÙmico excludente e concentrador de renda. Assim,<br />
a pesquisa busca apontar para o desenvolvimento da pr·xis pastoral lit˙rgica,<br />
tendo como espaÁo de referÍncia a ·rea da Comunidade de HeliÛpolis, S„o<br />
Paulo, a segunda maior favela do Brasil. A pr·xis È a atividade reflexiva e material<br />
do ser humano, isto È, aÁ„o transformadora que deve insistir na opÁ„o<br />
preferencial pelos pobres e excluÌdos. A pastoral lit˙rgica que tenha o seu<br />
referencial na pr·xis ir·, portanto, criar aÁıes que animem as esperanÁas do povo<br />
que celebra, favorecendo a organizaÁ„o e a sensibilizaÁ„o para as lutas sociais<br />
necess·rias para a superaÁ„o da exclus„o, devolvendo a dignidade aos seres<br />
humanos. A pesquisa se desenvolve em trÍs etapas: primeiramente, buscam-se<br />
as conceituaÁıes teÛricas de pr·xis e urbanizaÁıes; em segundo lugar, se analisa<br />
o caminho da ocupaÁ„o da ·rea de HeliÛpolis; e por ˙ltimo os apontamentos para<br />
a pr·xis pastoral lit˙rgica no contexto urbano. O resultado ser· um conjunto de<br />
referenciais gerais histÛricos e teÛricos capazes de sustentar uma pastoral<br />
lit˙rgica que contribua para as esperanÁas humanas e a criaÁ„o de um novo<br />
paradigma de sociedade fundamentado na justiÁa e na igualdade.<br />
Palavras-chave: liturgia ñ fÈ ñ esperanÁa ñ pr·xis ñ urbanizaÁ„o ñ HeliÛpolis ñ<br />
cidadania ñ globalizaÁ„o.<br />
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6
SANTOS JR., Oswaldo de Oliveira. Liturgy in an urban context: directions<br />
for pastoral liturgical praxis in the community of HeliÛpolis. S„o Bernardo do<br />
Campo, 2006. 161 f. Masters dissertation in Religious Sciences ñ Praxis and<br />
Society. Universidade Metodista de S„o Paulo, S„o Bernardo do Campo, 2006.<br />
ABSTRACT<br />
This research proposes to analyze liturgy in an urban context, and the form<br />
in which praxis can influence and articulate itself in terms of Christian liturgy<br />
constructed in urban contexts, especially in poor areas that experience the<br />
contradictions that result from an economic model that excludes and concentrates<br />
wealth. As such, the research seeks to point out the development of pastoral<br />
liturgical praxis, specifically in the context of the Community of HeliÛpolis, S„o<br />
Paulo, which is the second largest slum in Brazil. Praxis is human reflexive and<br />
material activity, which means that it is transformative action that should insist on a<br />
preference for the poor and excluded. Liturgical pastoral action that has praxis as<br />
its point of reference will, as such, act in ways that animate the hopes of people<br />
that celebrate, favor organization and sensibility for social awareness that are<br />
necessary for overcoming exclusion, and develop the dignity of human beings.<br />
The research presents itself in three moments: first, theoretical conceptions of<br />
praxis and urbanization; second, an analysis of the area of HeliÛpolis, and; third,<br />
indications for liturgical pastoral praxis in an urban context. The result is a<br />
combining of general historical and theoretical references that support liturgical<br />
pastoral practice that contribute to human hopes and the creation of a new<br />
paradigm of society based on justice and equality.<br />
globalization.<br />
Key Words: Liturgy, faith, hope, praxis, urbanization, HeliÛpolis, citizenship,<br />
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7
SUM¡RIO<br />
INTRODU« O ..........................................................................................................12<br />
CAPÕTULO I<br />
ConcepÁıes teÛricas que norteiam a pr·xis pastoral e a urbanizaÁ„o .....................20<br />
1.1. A quest„o urbana em Milton Santos e Manuel Castells: delimitaÁıes e a<br />
complexidade do conceito.........................................................................................21<br />
1.1.1. Milton Santos e a quest„o urbana...................................................................21<br />
1.1.2. O processo de urbanizaÁ„o: as bases da urbanizaÁ„o brasileira ...................27<br />
1.1.3. A urbanizaÁ„o coorporativa.............................................................................28<br />
1.1.4. UrbanizaÁ„o: emergÍncia de uma ìcultura urbanaî ........................................29<br />
1.2. A cidadania (privada) nas cidades brasileiras ....................................................32<br />
1.3. ConcepÁıes de pr·xis ........................................................................................38<br />
1.3.1. Gramsci e a filosofia da pr·xis ........................................................................41<br />
1.3.2. Feuerbach: a pr·xis abstrata...........................................................................44<br />
1.3.3. A concepÁ„o marxista de pr·xis......................................................................46<br />
1.3.4. A pr·xis em Casiano Florist·n.........................................................................49<br />
CAPÕTULO II<br />
HeliÛpolis: caminhos da ocupaÁ„o ............................................................................54<br />
2.1. S„o Paulo: produÁ„o do espaÁo urbano ............................................................55<br />
2.1.1. AlteraÁıes do paradigma econÙmico ..............................................................55<br />
2.1.2. Esgotamento do padr„o perifÈrico ..................................................................59<br />
2.1.3. As lutas populares por moradia.......................................................................61<br />
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2.2. A Comunidade de HeliÛpolis: caracterÌsticas fÌsicas e humanas .......................69<br />
2.2.1. A comunidade de HeliÛpolis: luta por moradia e regularizaÁ„o fundi·ria ........74<br />
2.2.2. HeliÛpolis e o poder p˙blico municipal ............................................................76<br />
2.2.3. HeliÛpolis na gest„o Reynaldo de Barros (1979 ñ1983) .................................78<br />
2.2.4. HeliÛpolis na gest„o Mario Covas (1983-1986):..............................................81<br />
2.2.5. HeliÛpolis na gest„o J‚nio Quadros (1986- 1988): a luta pelo mutir„o ...........86<br />
2.2.6. UNAS: um marco na histÛria da organizaÁ„o popular em HeliÛpolis ..............88<br />
CAPÕTULO III<br />
Apontamentos para uma pr·xis pastoral lit˙rgica no contexto urbano ......................97<br />
3.1. ConsideraÁıes para a reflex„o sobre a pr·xis pastoral lit˙rgica ........................98<br />
3.1.1. Linguagem e religi„o: a religi„o e o trabalho de organizaÁ„o popular ............98<br />
3.1.2 Um Mundo sinalizado pela esperanÁa .............................................................103<br />
3.1.3 A pr·xis pastoral para o contexto Urbano ........................................................106<br />
3.1.4 A fÈ: preocupaÁ„o ˙ltima que move o povo .....................................................109<br />
3.1.5 A perda dos centros referenciais na cidade: a privatizaÁ„o da fÈ ....................113<br />
3.1.6 A quest„o da secularizaÁ„o ............................................................................115<br />
3.2 A igreja no contexto urbano.................................................................................117<br />
3.2.1 Desafios para a pr·xis pastoral: A cidade de S„o Paulo..................................121<br />
3.2.2 Pastoral lit˙rgica para o contexto urbano .........................................................127<br />
3.3 Liturgia: serviÁo feito para o povo........................................................................127<br />
3.3.1 FamÌlias lit˙rgicas cl·ssicas .............................................................................130<br />
3.3.2 A inculturaÁ„o lit˙rgica .....................................................................................133<br />
3.3.3 Pr·xis lit˙rgica ..................................................................................................136<br />
3.4 Desafios para a pr·xis pastoral lit˙rgica em HeliÛpolis .......................................138<br />
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3.4.1 Elementos para uma pr·xis pastoral lit˙rgica...................................................141<br />
CONSIDERA«’ES FINAIS ......................................................................................146<br />
REFER NCIA BIBLIOGRAFICA...............................................................................151<br />
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13
INTRODU« O<br />
Nas ˙ltimas dÈcadas do sÈculo XX, a sociedade urbana ocidental<br />
experimentou simultaneamente o enfraquecimento da religiosidade<br />
institucionalizada e o retorno ao sagrado com pr·ticas bastante diferenciadas. O<br />
tema Liturgia crist„ tem sido abordado por diversos pesquisadores, em ·reas<br />
distintas do conhecimento e com objetivos variados na teologia, na sociologia, na<br />
histÛria, na filosofia, ciÍncias da religi„o e outras ciÍncias.<br />
Toda liturgia crist„ surge num determinado contexto histÛrico e espacial, e<br />
È influenciada pela cultura ao mesmo tempo em que influi tambÈm sobre ela com<br />
sua Ètica e vis„o de mundo. N„o existe neutralidade por parte das pr·ticas<br />
lit˙rgicas sobre as questıes do cotidiano humano, como economia, polÌtica e as<br />
relaÁıes humanas, atravÈs das pr·ticas lit˙rgicas est„o expressos os desejos<br />
humanos para este mundo, ainda que o referencial seja uma realidade para alÈm<br />
desta.<br />
A celebraÁ„o lit˙rgica È a express„o da vida de uma comunidade, nela o<br />
ser humano busca fortalecer a esperanÁa e refletir sobre o sentido da vida e as<br />
motivaÁıes para as suas lutas histÛricas. Na AmÈrica Latina, dada a forte<br />
religiosidade dos povos, as manifestaÁıes lit˙rgicas (festas, ritos, etc.) possuem<br />
import‚ncia vital para o povo, isto porque povos que s„o profundamente religiosos<br />
pensam religiosamente, especialmente quando enfrentam situaÁıes de crise<br />
pessoal ou coletiva, em relaÁ„o ao seu futuro. 1<br />
A liturgia pode em certa medida ser considerada como o coraÁ„o da vida<br />
das comunidades crist„s, contudo uma liturgia que ignore as causas mais<br />
1 SANTA ANA, J˙lio. Pelas trilhas do mundo, a caminho do reino. S„o Bernardo do Campo:<br />
Imprensa Metodista, 1984, p. 11.<br />
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profundas dos dilemas humanos torna-se deficiente e incapaz de contribuir para a<br />
superaÁ„o das crises que afetam a comunidade. 2 As pr·ticas lit˙rgicas<br />
decorrentes desta deficiÍncia em ler a realidade, tornam-se repetitivas e<br />
alienantes e tendem a uma elaboraÁ„o que repete as pr·ticas da sociedade, em<br />
conson‚ncia com os desejos hedonistas do ser humano.<br />
Decorre destas pr·ticas lit˙rgicas deficientes e adoecidas, a falta de<br />
compromisso social e polÌtico de muitas comunidades crist„s, e por sua vez a<br />
acusaÁ„o de que as igrejas crist„s tÍm sido omissas frente aos grandes eventos<br />
que decidem o destino da humanidade, como as guerras, a globalizaÁ„o<br />
neoliberal, as questıes da terra e da moradia. 3<br />
Visto desta forma, as liturgias crist„s, quando desprovidas de teoria social,<br />
e de uma teologia que faz da experiÍncia com o Deus encarnado o seu norte,<br />
tendem a repetir as pr·ticas que prevalecem na sociedade atual: o fatalismo<br />
sedutor que elimina a esperanÁa humana e sepulta as pr·ticas comunit·rias de<br />
solidariedade e fraternidade, assumindo uma lÛgica destrutiva e individualista,<br />
impossibilitada de dar um salto das pr·ticas comuns e repetitivas para a pr·xis<br />
transformadora e criativa. Neste contexto, as comunidades crist„s vivem as<br />
tensıes de acreditar numa sociedade em que o ideal de vida È que cada qual<br />
persiga seu interesse particular no mercado capitalista, e jamais contra ele 4 ou<br />
insistir nas aÁıes concretas de solidariedade e ajuda m˙tua, em contraposiÁ„o ‡<br />
lÛgica da competiÁ„o que vem promovendo a destruiÁ„o dos laÁos comunit·rios.<br />
A liturgia crist„ necessita, portanto, de um permanente aprofundamento<br />
teolÛgico e de leitura da realidade com o objetivo de renovar as celebraÁıes,<br />
permitindo que elas permaneÁam com seu conte˙do profÈtico, isto È,<br />
fundamentada na esperanÁa crist„ e no ideal de libertaÁ„o dos oprimidos,<br />
portadora de uma forÁa mobilizadora e transformadora da sociedade urbana.<br />
2<br />
BUYST, Ione. O mistÈrio celebrado: memÛria e compromisso. Vol. I. S„o Paulo: LBT / Siquem<br />
Ediciones, 2002, p. 11.<br />
3<br />
VELASQUES FILHO. PrÛcoro. A construÁ„o de uma sociedade justa e fraterna. S„o Bernardo do<br />
Campo: IMS Cadernos de PÛs-GraduaÁ„o, CiÍncias da religi„o n . 2, 1983, p. 7.<br />
4<br />
HINKELAMMERT, Franz J. ìPensar em alternativas: capitalismo, socialismo e a possibilidade de<br />
outro mundoî. In: DUSSEL, Enrique (et al). Por um mundo diferente: alternativas para o mercado<br />
global. PetrÛpolis: Vozes, 2003, p. 11.<br />
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Ao buscar sua fundamentaÁ„o na filosofia da pr·xis, a pastoral lit˙rgica<br />
encontra meios para a elaboraÁ„o de celebraÁıes capazes de favorecer uma<br />
vis„o de mundo diferente, alternativa e profÈtica, em oposiÁ„o ‡s lÛgicas<br />
excludentes que exploram os seres humanos, especialmente os moradores das<br />
periferias das grandes cidades.<br />
As cidades constituem-se nos agrupamentos mais din‚micos e complexos<br />
que a humanidade produziu. Todo tipo de contradiÁ„o e conflito se estabelece nas<br />
cidades. A complexidade do contexto urbano faz muitas vezes afirmar que<br />
existem muitas cidades se inter-relacionando num mesmo espaÁo. A vida na<br />
cidade possibilita o surgimento de uma cultura urbana caracterizada pela<br />
desorganizaÁ„o e complexidade social e cultural. Neste ambiente surgem as<br />
iniciativas individualistas e a forte competiÁ„o entre os indivÌduos È quase<br />
inevit·vel. Os laÁos familiares e comunit·rios tornam-se fr·geis. Em uma an·lise<br />
inicial, se observa que na liturgia presente no contexto urbano, h· a presenÁa dos<br />
valores desta sociedade urbana: a fragmentaÁ„o e o individualismo, assim como<br />
a busca de satisfaÁ„o material.<br />
A globalizaÁ„o neoliberal, trouxe implicaÁıes e desafios para as pr·ticas<br />
lit˙rgicas no contexto urbano. O indivÌduo urbano, atravÈs das diferentes<br />
expressıes lit˙rgicas, manifesta a sua relaÁ„o com o sagrado de forma<br />
heterogÍnea. Frente a estas questıes, a proposta desta pesquisa È analisar a<br />
pr·xis lit˙rgica no contexto urbano, e apontar aÁıes para uma pr·xis pastoral<br />
neste espaÁo, observando particularmente a maior favela da Cidade de S„o<br />
Paulo, a Comunidade de HeliÛpolis.<br />
A hipÛtese que orienta esta pesquisa È que a pr·xis pastoral lit˙rgica, no<br />
contexto urbano (tendo como campo de pesquisa a Comunidade de HeliÛpolis),<br />
favorece a organizaÁ„o e a sensibilizaÁ„o do seres humanos para as questıes<br />
sociais presentes em seu contexto histÛrico, e motiva para o exercÌcio da<br />
cidadania, possibilitando assim a superaÁ„o das pr·ticas esvaziadas de reflex„o<br />
polÌtica e social.<br />
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A pesquisa est· estruturada em trÍs capÌtulos. O primeiro trata das<br />
concepÁıes teÛricas sobre a urbanizaÁ„o e a filosofia pr·xis. Aborda a quest„o da<br />
urbanizaÁ„o a partir das concepÁıes de Milton Santos e Manuel Castells, dado<br />
que os dois pesquisadores oferecem uma contribuiÁ„o importante para a<br />
compreens„o do fenÙmeno urbano. Ainda no primeiro capÌtulo se desenvolve<br />
uma pesquisa sobre o desenvolvimento histÛrico do conceito de pr·xis e as<br />
concepÁıes de pr·xis que ir„o nortear a pastoral lit˙rgica. Para tanto, s„o<br />
abordadas as elaboraÁıes propostas por Antonio Gramsci, Feuerbach, Karl Marx<br />
e Casiano Florist·n.<br />
Em sua de pr·xis filosÛfico-polÌtico, Gramsci, amplia a noÁ„o de cidadania,<br />
dando a todos os seres humanos a possibilidade concreta de se tornarem sujeitos<br />
polÌticos capazes de conduzir em comunh„o a democracia, de serem<br />
ìorganizadores de todas as atividades e funÁıes ao desenvolvimento org‚nico de<br />
uma sociedade integral, civil e polÌtica.î 5 Esta concepÁ„o de pr·xis possibilita a<br />
reflex„o e construÁ„o de um projeto de democracia popular e aÁıes de<br />
solidariedade.<br />
Na elaboraÁ„o de Feuerbach, existe uma oposiÁ„o entre religi„o e pr·xis,<br />
visto que a religi„o para ele È somente pr·tica, sua principal contribuiÁ„o È a de<br />
colocar o ser humano como sujeito que transforma e n„o o espÌrito.<br />
Marx, por sua vez compreende a pr·xis como atividade revolucion·ria,<br />
questionadora e inovadora, ou seja, numa atividade ìcrÌtico-pr·ticaî, sendo a<br />
atividade concreta pelas quais os seres humanos se afirmam no mundo,<br />
transformando a realidade objetiva, modificando-se a si mesmos. … uma atividade<br />
que necessita, portanto, de reflex„o, do conhecimento de si, da teoria que remete<br />
‡ aÁ„o e a avalia permanentemente.<br />
Por fim em Florist·n se identifica que os traÁos caracterÌsticos da pr·xis<br />
est„o presentes, quando afirma que pr·xis È atividade humana que se desenvolve<br />
como aÁ„o criadora, reflexiva, transformadora e radical (revolucion·ria).<br />
5 SEMERARO, Giovanni. Gramsci e os novos embates da filosofia da pr·xis. S„o Paulo: IdÈias &<br />
Letras, 2006, p. 192.<br />
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O segundo capÌtulo aborda o campo de pesquisa: o processo histÛrico que<br />
levou ‡ ocupaÁ„o, ‡ resistÍncia e organizaÁ„o da ·rea onde se localiza a<br />
Comunidade de HeliÛpolis. Para tanto se desenvolve uma pesquisa histÛrica<br />
sobre a produÁ„o do espaÁo urbano na cidade de S„o Paulo entre os anos de<br />
1970 atÈ 1990, analisando as relaÁıes da comunidade com o poder p˙blico, as<br />
lutas por habitaÁ„o. Desta forma o capÌtulo aborda a constituiÁ„o da Comunidade<br />
de HeliÛpolis tendo como referencias os impasses e conflitos estabelecidos nas<br />
relaÁıes com as gestıes municipais em momentos histÛricos distintos, que foram<br />
as gestıes municipais dos prefeitos Reynaldo de Barros, M·rio Covas e J‚nio<br />
Quadros, considerando que estes trÍs momentos tiveram uma grande import‚ncia<br />
no processo de ocupaÁ„o, resistÍncia e organizaÁ„o dos moradores. A pesquisa<br />
se limita a estes trÍs momentos por compreender que s„o fundamentais da<br />
estruturaÁ„o da comunidade.<br />
O terceiro aborda a quest„o da pr·xis pastoral lit˙rgica no contexto urbano,<br />
compreendendo que a religi„o, por meio das suas aÁıes, pode contribuir para<br />
motivar as pessoas nas lutas sociais. Esta etapa da pesquisa busca elementos<br />
para uma liturgia que favoreÁa as aÁıes transformadoras, n„o-reformistas,<br />
radicais e libertadoras, ou seja, busca apontar para as pr·xis pastorais lit˙rgicas<br />
no contexto urbano, a partir dos elementos estudados nos capÌtulos anteriores<br />
sobre a urbanizaÁ„o, a pr·xis e a constituiÁ„o da Comunidade de HeliÛpolis.<br />
Para o desenvolvimento deste capÌtulo s„o elaboradas consideraÁıes que<br />
favoreÁam a reflex„o e apontem para uma pr·xis lit˙rgica no contexto urbano.<br />
Para tanto, È proposto um resgate da teologia da esperanÁa elaborada por J¸rgen<br />
Moltmann, como um dos eixos norteadores da pr·xis lit˙rgica, considerando que<br />
para ele, a esperanÁa crist„ se cumpre n„o pela especulaÁ„o mas na pr·xis, em<br />
meio ‡ aÁ„o polÌtica e a revoluÁ„o, sendo uma atividade criativa do ser humano.<br />
Outro aspecto relevante discutido no terceiro capÌtulo È a liturgia, a partir<br />
das questıes das famÌlias lit˙rgicas, da inculturaÁ„o e da pr·xis lit˙rgica,<br />
encerrando com uma reflex„o sobre os desafios para a pr·xis lit˙rgica na<br />
Comunidade de HeliÛpolis.<br />
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16
Os trÍs capÌtulos desenvolvidos se articulam com o objetivo de analisar a<br />
pr·xis pastoral lit˙rgica no contexto urbano, e se orientam pelo mÈtodo histÛrico-<br />
crÌtico.<br />
Conforme comenta Eva Maria Lakatos, o mÈtodo histÛrico:<br />
17<br />
(...) consiste em investigar acontecimentos, processos e<br />
instituiÁıes do passado para verificar a sua influÍncia na<br />
sociedade de hoje, pois as instituiÁıes alcanÁaram sua forma atual<br />
atravÈs de alteraÁıes de suas partes componentes, o longo do<br />
tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada<br />
Època 6 .<br />
Podemos observar, ainda, que o mÈtodo histÛrico-crÌtico, trata da pesquisa<br />
histÛrica e investigaÁ„o do passado a partir da an·lise crÌtica da construÁ„o da<br />
sociedade.<br />
Contribui tambÈm para a compreens„o do mÈtodo histÛrico, o historiador<br />
Michel De Certeau, que afirma que:<br />
(...) a produÁ„o do historiador, portanto, deveria ser considerada<br />
(...) como a relaÁ„o entre um lugar (um recrutamente, um meio,<br />
um ofÌcio, etc.), procedimentos de an·lise (uma disciplina) e a<br />
construÁ„o de um texto (uma literatura). … admitir que ela faz parte<br />
da ìrealidadeî de que trata, e essa realidade pode ser<br />
compreendida ìcomo atividade humanaî, ìcomo pr·ticaî. Nessa<br />
perspectiva, (...) a operaÁ„o histÛrica se refere ‡ combinaÁ„o de<br />
um lugar social, de pr·ticas ìcientÌficasî e de uma escrita. 7<br />
Contudo para Certeau, o pesquisador n„o se contenta em simplesmente<br />
traduzir uma linguagem cultural para outra. Ele afirma tambÈm que ìtodo fato<br />
histÛrico resulta de uma pr·xis, porque ela j· È signo de um ato e, portanto, a<br />
afirmaÁ„o de um sentidoî. 8<br />
Certeau enfatiza que o pesquisador produz seu trabalho a partir do<br />
presente, das inquietaÁıes e preocupaÁıes de sua realidade, fazendo de sua<br />
produÁ„o algo muito particular, que tem um emissor, o prÛprio pesquisador, e um<br />
6<br />
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia CientÌfica. S„o Paulo: Atlas,<br />
1983. p. 79.<br />
7<br />
DE CERTEAU, Michael. A escrita da histÛria. Rio de Janeiro: Forense universit·ria, 1982, p. 65-<br />
80.<br />
8 Idem, p. 41.<br />
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destinat·rio, que pode ser a academia, a sociedade de forma geral ou um grupo<br />
especÌfico. Essa discuss„o implicou numa constataÁ„o vital para ele, n„o se pode<br />
falar de uma verdade, mas de verdades (no plural). 9<br />
… importante ressaltar, ainda, que na Comunidade de HeliÛpolis conta com<br />
a presenÁa da Igreja Metodista, que iniciou suas atividades na Comunidade na<br />
dÈcada de 1980, com o apoio da famÌlia Meca 10 , moradores do HeliÛpolis e<br />
membros da Igreja Metodista no Ipiranga, as atividades desde o inÌcio foram<br />
dirigidas ‡s crianÁas do bairro, sendo a principal aÁ„o na ·rea da educaÁ„o. Irany<br />
TenÛrio de Albuquerque relata assim o inÌcio das atividades em HeliÛpolis:<br />
18<br />
O trabalho no HeliÛpolis comeÁou na dÈcada de 80, com a famÌlia<br />
Luiz Carlos Meca e Djalma Meca. Eles moravam na favela do<br />
HeliÛpolis h· treze anos e desde ent„o frequentavam a Igreja no<br />
Ipiranga. TrÍs anos depois que para l· mudaram perceberam que<br />
as crianÁas precisavam de uma boa formaÁ„o crist„ para que n„o<br />
crescessem influenciadas por aquele meio (sic.). com isso eles<br />
passaram a levar as crianÁas com a autorizaÁ„o dos pais, ‡ igreja<br />
no Ipiranga. Levavam em mÈdia 18 crianÁas. (...). Somente apÛs<br />
cinco anos (...) percebe-se a necessidade de um veÌculo para<br />
buscar as crianÁas na favela, e aluga-se uma perua para fazer o<br />
trajeto 11 .<br />
A organizaÁ„o do Ponto Mission·rio ocorreu no inÌcio de 1991 na Rua<br />
Salvador Pinto, e mais tarde transferido para a Rua Edivaldo Amaral 42-a, e<br />
atualmente no n˙mero 56 da mesma rua, em um local alugado, distante<br />
aproximadamente 7 km da Igreja no Ipiranga.<br />
9 MASSAR O, Leila Maria. Michel de Certeau e a PÛs-Modernidade: ensaio sobre pÛsmodernidade,<br />
HistÛria e impacto acadÍmico. UNICAMP / HistÛria - e-histÛria,<br />
http://www.historiaehistoria.com.br. Acesso em 20/11/2006.<br />
10 A famÌlia È composta por quatro pessoas Sra. Djalma, Sr. JosÈ Meca, Fabiana e Fernando.<br />
Atualmente participam das atividades neste espaÁo mais de 30 famÌlias, com uma participaÁ„o<br />
superior a 100 pessoas atendidas pelas diferentes atividades desenvolvidas, por pastores,<br />
seminaristas e profissionais da educaÁ„o e outras ·reas.<br />
11 ALBUQUERQUE, Irany TenÛrio. Perspectivas para uma pastoral urbana: estudo de caso da<br />
experiÍncia pastoral na favela HeliÛpolis. S„o Bernardo do Campo. Universidade Metodista<br />
(UMESP), 2000, trabalho monogr·fico de conclus„o do curso de bacharel em teologia, p. 42.<br />
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Neste espaÁo s„o realizadas as celebraÁıes e atividades pedagÛgicas com<br />
as crianÁas e os adultos, tais como reforÁo escolar e recreaÁ„o. O espaÁo, por ser<br />
uma iniciativa de uma ìIgreja de miss„o 12 î, leva em suas pr·ticas alguns desafios<br />
frente aos movimentos religiosos emergentes, que se movimentam<br />
administrativamente e teologicamente de forma diversa das denominadas Igrejas<br />
de miss„o. O desafio È o de uma pr·xis lit˙rgica e pastoral que supere o discurso<br />
religioso em voga, com fortes tendÍncias individualistas e proponha aÁıes<br />
comunit·rias, libertadoras e uma fÈ socialmente respons·vel, atendendo e<br />
observando as questıes sociais presentes no contexto da comunidade. No<br />
entanto este trabalho de pesquisa n„o aborda especificamente questıes<br />
relacionas a esta comunidade no que diz respeito ‡ liturgia, n„o obstante se<br />
encontre tambÈm como referencia para as reflexıes que se fazem no decorrer do<br />
trabalho de pesquisa.<br />
12 Protestantismo de miss„o: O mission·rio vindo do exterior realizava no Brasil a atividade<br />
mission·ria, buscando promover a experiÍncia religiosa a partir da sua denominaÁ„o, sendo<br />
apoiado normalmente pelas Sociedades BÌblicas. Dentro dessa perspectiva, podemos citar, a<br />
Igreja Metodista, a Igreja Presbiteriana, a Igreja Batista, e a Igreja Congregacional. ìO atual<br />
protestantismo brasileiro de origem mission·ria ainda È conversionistaî. MENDON«A, Antonio G.<br />
IntroduÁ„o ao protestantismo no Brasil. S„o Paulo, Loyola, 1990, pp. 33.<br />
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19
CAPÕTULO I<br />
CONCEP«’ES TE”RICAS QUE <strong>NO</strong>RTEIAM A PR¡XIS<br />
PASTORAL E A URBANIZA« O<br />
O propÛsito desta primeira etapa da pesquisa sobre a pr·xis no contexto<br />
urbano, È o de analisar as concepÁıes teÛricas que orientam esta pesquisa no<br />
que diz respeito ‡ pr·xis, e as questıes urbanas. Estes pressupostos teÛricos<br />
devem favorecer e fundamentar as hipÛteses que levantamos nesta pesquisa, ou<br />
seja, que a urbanizaÁ„o trouxe implicaÁıes e elementos novos para os diversos<br />
grupos que compıem a sociedade e; que as celebraÁıes (as liturgias)<br />
possibilitam o desenvolvimento da pr·xis neste contexto urbano.<br />
A sociedade atual È, dentre outras questıes, marcada pela ruptura com a<br />
forma de ler e explicar o mundo. As caracterÌsticas fundamentais s„o a<br />
fragmentaÁ„o e o subjetivismo que se desenrolam na vida social urbana. Os<br />
padrıes culturais e religiosos desaparecem surgindo m˙ltiplas expressıes e<br />
manifestaÁıes que tÍm impacto direto sobre o sujeito religioso e suas pr·ticas.<br />
Conforme comenta Ronaldo Sathler-Rosa, ìvivemos um tempo de<br />
impermanÍncias. RelaÁıes afetivas s„o rompidas como se os seres humanos n„o<br />
tivessem capacidade de cuidar das dificuldades prÛprias de qualquer<br />
relacionamento prÛximoî. 13<br />
A pesquisa objetiva compreender a pr·xis e as pr·ticas celebrativas, e<br />
pretende contribuir para favorecer a reflex„o sobre novas pr·xis lit˙rgicas em uma<br />
sociedade marcada por manifestaÁıes culturais e artÌsticas diversificadas como a<br />
brasileira. Desta forma, fica assinalado o objetivo de, neste primeiro capÌtulo,<br />
desenvolver estes apontamentos teÛricos sobre a quest„o urbana e a pr·xis.<br />
13 SATHLER-ROSA, Ronaldo. Cuidado pastoral em tempos de inseguranÁa: uma hermenÍutica<br />
teolÛgico-pastoral. S„o Paulo: Aste, 2004, p. 19.<br />
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20
1.1. A quest„o urbana em Milton Santos e Manuel Castells:<br />
delimitaÁıes e a complexidade do conceito<br />
Ao analisar a quest„o urbana, imediatamente o que se observa È a<br />
complexidade do conceito e a sua extens„o. Disto resulta a necessidade de<br />
delimitar, quanto aos teÛricos, ‡ abrangÍncia dos estudos realizados e apontar a<br />
partir de quais conceitos, a pesquisa inicia sua trajetÛria.<br />
Assim, a pesquisa busca caminhar a partir dos conceitos de urbanizaÁ„o<br />
propostos por Milton Santos e Manuel Castells, por compreender que existem<br />
nestes dois pesquisadores elementos suficientes que permitem sustentar um<br />
estudo e pesquisa sobre a quest„o urbana. Milton Santos desenvolve uma teoria<br />
de grande import‚ncia sobre o desenvolvimento urbano nos paÌses pobres, em<br />
sua obra ìO espaÁo divididoî de 1975, e em Manuel Castells È possÌvel destacar<br />
seu importante papel no desenvolvimento da sociologia urbana, onde descreve<br />
uma significativa import‚ncia para a participaÁ„o dos movimentos sociais na<br />
construÁ„o, por vezes conflitiva, da paisagem urbana e da sociedade.<br />
1.1.1. Milton Santos e a quest„o urbana<br />
A partir de Milton Santos observa-se que a abordagem teÛrica da<br />
urbanizaÁ„o, experimentou ao longo do tempo sÈrios problemas em seu<br />
desenvolvimento, dentre eles: o fato de que os trabalhos realizados nos paÌses<br />
subdesenvolvidos foram feitos por estrategistas pouco preocupados em pesquisar<br />
profundamente a din‚mica espacial urbana destes paÌses e tambÈm porque estes<br />
estudos n„o consideraram, por desconhecimento, as conseq¸Íncias profundas do<br />
perÌodo tecnolÛgico sobre a organizaÁ„o do espaÁo, em especial a partir de<br />
1960 14 .<br />
14 SANTOS, Milton. EspaÁo dividido. S„o Paulo: EDUSP, 2002, p. 20.<br />
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21
Santos aponta para a realidade na qual a urbanizaÁ„o nos paÌses<br />
denominados subdesenvolvidos possui uma particularidade na sua evoluÁ„o em<br />
relaÁ„o aos paises desenvolvidos. Ele afirma que:<br />
22<br />
Essa especificidade aparece claramente na organizaÁ„o da<br />
economia, da sociedade e do espaÁo e, por conseguinte, na<br />
urbanizaÁ„o, que se apresenta como um elemento numa<br />
variedade de processos combinados 15 .<br />
Parte desta complexidade na organizaÁ„o espacial dos paÌses pobres tem<br />
sua origem no fato de que suas economias se organizam para atender interesses<br />
externos e distantes, desta forma Santos afirma que:<br />
Enfim, o espaÁo dos paÌses subdesenvolvidos È marcado pelas<br />
enormes diferenÁas de renda na sociedade, que se exprimem, no<br />
nÌvel regional, por tendÍncia ‡ hierarquizaÁ„o das atividades e, na<br />
escala do lugar, pela coexistÍncia de atividades de mesma<br />
natureza, mas de nÌveis diferentes.<br />
[...]<br />
O comportamento do espaÁo acha-se assim afetado por essas<br />
enormes disparidades de situaÁ„o geogr·fica e individual 16 .<br />
A maioria dos estudos sobre a urbanizaÁ„o se preocupa mais com os<br />
efeitos do que com as suas causas histÛricas, sociolÛgicas e econÙmicas.<br />
Fazendo inclusive que, boa parte destes estudos, fique reduzido ‡s estatÌsticas<br />
matem·ticas, como È o caso do IBGE 17 no Brasil, que concentra o estudo da<br />
geografia ‡s estatÌsticas matem·ticas e tabulaÁıes de dados, que s„o<br />
importantes fontes para o mercado e para a pesquisa em geral. Por isso Santos<br />
afirma que:<br />
O estudo da histÛria dos paÌses subdesenvolvidos permite revelar<br />
uma especificidade de sua evoluÁ„o em relaÁ„o ‡s dos paÌses<br />
desenvolvidos. Essa especificidade aparece claramente na<br />
organizaÁ„o da economia, da sociedade e do espaÁo e, por<br />
conseguinte, na urbanizaÁ„o, que se apresenta como um<br />
15 Idem, p. 19.<br />
16 Idem, p. 21.<br />
17 Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÌstica. Respons·vel por recolher dados estatÌsticos sobre<br />
a populaÁ„o e a din‚mica econÙmica brasileira.<br />
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elemento numa variedade de processos combinados. 18<br />
A partir do estudo da histÛria, constata-se que n„o existem ìpaÌses em<br />
desenvolvimentoî, mas sim paÌses subdesenvolvidos, que participam do sistema<br />
capitalista a partir da periferia, servindo aos interesses dos paÌses do centro<br />
(desenvolvidos). Esta caracterÌstica possui sÈrias implicaÁıes na construÁ„o do<br />
espaÁo geogr·fico dos paÌses subdesenvolvidos, que È marcado por grandes<br />
diferenÁas de renda na sociedade. 19<br />
Visando uma maior compreens„o da organizaÁ„o do espaÁo, Santos<br />
propıe a divis„o do espaÁo geogr·fico em dois circuitos econÙmicos: o circuito<br />
superior e o circuito inferior. 20 Estes dois circuitos est„o interligados, sendo que o<br />
circuito superior faz uso de tecnologia de ponta e capital intensivo enquanto o<br />
circuito inferior faz uso do trabalho intensivo e baixo desenvolvimento<br />
tecnolÛgico 21 . Por isso Santos adverte que a cidade n„o pode ser compreendida<br />
como uma ìm·quinaî ˙nica, mas como uma relaÁ„o entre estes dois circuitos 22 .<br />
Em A urbanizaÁ„o brasileira 23 , Santos, descreve de forma mais especÌfica<br />
a quest„o da urbanizaÁ„o no Brasil. Como ele mesmo descreve, o livro È uma<br />
sÌntese da urbanizaÁ„o brasileira a partir da vis„o de um geÛgrafo,<br />
compreendendo, portanto a urbanizaÁ„o como um processo, forma e conte˙do<br />
muito especÌficos. Assim, o Brasil alcanÁa a urbanizaÁ„o da sociedade e do<br />
espaÁo somente em meados do sÈculo XX, tendo sido primeiramente uma<br />
18<br />
SANTOS, Milton, op.cit., p. 19.<br />
19<br />
Idem, p. 21.<br />
20<br />
ìO circuito inferior È formado de atividade de pequena escala, servindo, principalmente, ‡<br />
populaÁ„o pobre; ao contr·rio do que ocorre no circuito superior, essas atividades est„o<br />
profundamente implantadas dentro da cidade, usufruindo de um relacionamento privilegiado com a<br />
sua regi„o. O circuito superior inclui bancos, comÈrcios de exportaÁ„o e importaÁ„o, ind˙stria<br />
urbana moderna, comÈrcio e serviÁos modernos, bem como comÈrcio atacadista e transportes.<br />
Esses dois ˙ltimos elementos formam os elos que existem que ligam os dois circuitos, o atacadista<br />
operando tambÈm no topo do circuito inferior. O circuito inferior È formado essencialmente de<br />
deferentes tipos de pequeno comÈrcio, e da produÁ„o de bens manufaturados de capital n„o<br />
intensivo, constituÌda em grande parte de artesanato e tambÈm de toda uma gama de serviÁos<br />
n„o modernosî (SANTOS, Milton. Pobreza Urbana. S„o Paulo: Hucitec,1998, p.39).<br />
21<br />
SANTOS, Milton, op.cit., p. 43.<br />
22<br />
Idem, p. 55.<br />
23<br />
SANTOS, Milton. A urbanizaÁ„o brasileira. 5 ed. S„o Paulo: EDUSP, 2005.<br />
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23
urbanizaÁ„o litor‚nea e somente mais tarde se expandindo para o restante do<br />
territÛrio brasileiro 24 .<br />
Logo nos seus primÛrdios a cidade torna-se um pÛlo de pobreza, ou seja:<br />
ìo lugar com mais forÁa e capacidade de atrair e manter gente pobre, ainda que<br />
muitas vezes em condiÁıes subumanas 25 î. Isto deriva do fato de que<br />
paralelamente ao processo de industrializaÁ„o 26 , houve uma saÌda forÁada da<br />
populaÁ„o das regiıes agrÌcolas em direÁ„o ‡ cidade, e esta ind˙stria se<br />
desenvolveu com um n˙mero reduzido de empregos em comparaÁ„o ao grande<br />
contingente populacional que migrava do campo, o que tornou as cidades<br />
brasileiras um grande ìteatro de conflitos crescentesî 27 e complexos, exigindo<br />
que a busca de soluÁıes seja tambÈm bastante abrangente.<br />
Na produÁ„o de Santos existe a clara intenÁ„o de propor uma teoria da<br />
urbanizaÁ„o brasileira, e nisto reside a import‚ncia de sua consider·vel produÁ„o<br />
acadÍmica. Ele propıe essa teoria a partir da periodizaÁ„o e da an·lise histÛrica<br />
e sociolÛgica da sociedade brasileira.<br />
O processo de urbanizaÁ„o 28 no Brasil torna-se mais visÌvel a partir do<br />
sÈculo XVIII, com a transferÍncia da moradia dos grandes fazendeiros para as<br />
cidades, entretanto esse processo È bastante tÌmido, sendo que ìa expans„o da<br />
agricultura comercial e a exploraÁ„o mineral foram a base de um povoamento 29 î.<br />
Este perÌodo È denominado por Santos como processo pretÈrito de criaÁ„o<br />
urbana 30 , o que vai acompanhar todo o processo de urbanizaÁ„o no Brasil.<br />
24 Idem, p. 44.<br />
25 Idem, p. 10.<br />
26 Compreende-se o processo de industrializaÁ„o conforme exposto por Milton Santos, como um<br />
processo social, polÌtico e econÙmico bastante complexo, o que inclui tambÈm a formaÁ„o de um<br />
mercado nacional e o consumo em diversos nÌveis, impulsionando o crescimento urbano e criando<br />
pÛlos de atraÁ„o populacional. Assim n„o È t„o somente a criaÁ„o de ind˙strias em determinados<br />
lugares. (cf. SANTOS, Milton. A urbanizaÁ„o brasileira. 5 ed. S„o Paulo: EDUSP, 2005, p. 30).<br />
27 SANTOS, Milton, op.cit., p. 11.<br />
28 O Brasil experimentou trÍs etapas de organizaÁ„o populacional em seu processo de<br />
urbanizaÁ„o: aglomeraÁ„o (com o aumento dos n˙cleos com mais de 20 mil habitantes), depois<br />
concentraÁ„o (com a multiplicaÁ„o de cidades de tamanho intermedi·rio) e por fim metropolizaÁ„o<br />
(com o surgimento e aumento das cidades milion·rias, como S„o Paulo e Rio de Janeiro).<br />
SANTOS, Milton. A urbanizaÁ„o brasileira. 5 ed. S„o Paulo: EDUSP, 2005, p.77.<br />
29 Idem, p. 22.<br />
30 Idem, ibid.<br />
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24
Mais tarde no sÈculo XIX, j· com a produÁ„o do cafÈ no Estado de S„o<br />
Paulo, este propicia a acumulaÁ„o de capitais necess·rios para a geraÁ„o da<br />
din‚mica industrial que veio logo a seguir, e que foi um novo fator no processo de<br />
urbanizaÁ„o da regi„o sudeste do Brasil, particularmente S„o Paulo.<br />
Um segundo momento apontado por Santos ocorre entre 1940 e 1980, que<br />
È quanto se d· efetivamente uma mudanÁa do quadro populacional brasileiro, e<br />
se consolida definitivamente a urbanizaÁ„o brasileira. Observando que a taxa de<br />
urbanizaÁ„o em 1940 era de 26,35% e em 1980 j· alcanÁava 77%, desta forma, a<br />
populaÁ„o urbana brasileira se multiplica por sete vezes e meia 31 durante este<br />
perÌodo.<br />
O processo n„o foi linear e gradativo durante os anos 1940 a 1980, È<br />
possÌvel notar que entre 1960 e 1980 o crescimento da populaÁ„o urbana teve um<br />
aumento de cerca de cinq¸enta milhıes de novos habitantes, algo parecido ao<br />
total da populaÁ„o brasileira em 1950 32 .<br />
Diante desta quest„o Santos afirma que:<br />
25<br />
Os anos 60 marcam um significativo ponto de inflex„o. Tanto no<br />
decÍnio entre 1940 e 1950, quanto entre 1950 e 1960, o aumento<br />
anual da populaÁ„o urbana era, em n˙meros absolutos, menor<br />
que o da populaÁ„o total do paÌs 33 .<br />
No entanto o crescimento urbano brasileiro n„o representou<br />
necessariamente uma organizaÁ„o espacial em que a igualdade e a justiÁa<br />
sociais fossem referencias marcantes, antes, ìa complexa organizaÁ„o territorial e<br />
urbana do Brasil guarda profundas diferenÁas entre suas regiıes 34 î. A regi„o<br />
sudeste, por exemplo, experimentou um crescimento urbano e um<br />
desenvolvimento das cidades muito mais acentuado que das regiıes norte e<br />
nordeste, È certo que este crescimento foi acompanhado, do que Santos<br />
denominou macrocefalia urbana 35 , gerando nas grandes cidades da regi„o<br />
31 Idem, p. 31.<br />
32 Idem, p. 32.<br />
33 Idem, ibid.<br />
34 Idem, p. 63.<br />
35 Crescimento desordenado das cidades, sem que o mesmo seja acompanhado de polÌticas<br />
p˙blicas que possibilitem a inserÁ„o das populaÁıes aos sistemas de sa˙de, educaÁ„o, habitaÁ„o,<br />
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sudeste espaÁos em que a populaÁ„o passou a conviver com a pobreza crÙnica e<br />
a falta de equipamentos p˙blicos suficientes para atender suas demandas<br />
b·sicas, como creches, hospitais e escolas.<br />
A forte concentraÁ„o industrial no sudeste e de serviÁos na faixa litor‚nea<br />
possibilitou a concentraÁ„o populacional no Brasil, e os grandes vazios<br />
demogr·ficos no interior do paÌs, como no Mapa abaixo, que demonstra a<br />
concentraÁ„o demogr·fica em toda a faixa litor‚nea do territÛrio brasileiro.<br />
Fonte: Mapa da densidade demogr·fica brasileira (2000) ñ IBGE<br />
transporte e outros. Este fenÙmeno est· intimamente relacionado ao processo de organizaÁ„o<br />
econÙmica dos paÌses pobres, que possuem sua economia orientada para atender aos interesses<br />
externos.<br />
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1.1.2. O processo de urbanizaÁ„o: as bases da urbanizaÁ„o brasileira<br />
A urbanizaÁ„o ocorrida em territÛrio brasileiro passou por trÍs momentos<br />
histÛricos distintos em sua organizaÁ„o, o primeiro ocorreu entre 1530 e 1570,<br />
perÌodo em que o maior interesse dos colonizadores foi a exploraÁ„o do pau-<br />
brasil; o segundo perÌodo compreende 1580 a 1640, que s„o os anos de<br />
dominaÁ„o espanhola, neste perÌodo ocorre uma maior urbanizaÁ„o do litoral<br />
norte em direÁ„o ‡ AmazÙnia; e a terceira fase ocorre entre 1650 e 1720, neste<br />
perÌodo cidades como S„o Paulo e Olinda se consolidam e È constituÌdo ao final<br />
uma rede consider·vel de cidades e vilas 36 .<br />
Estes trÍs perÌodos constituÌram o inicio do processo de urbanizaÁ„o no<br />
Brasil. Durante muitos sÈculos o Brasil foi um grande arquipÈlago de cidades, em<br />
que cada uma se desenvolvia segundo uma lÛgica muito particular. As cidades<br />
durante muito tempo n„o desempenharam um papel preponderante na vida<br />
cotidiana e econÙmica do paÌs 37 .<br />
Somente a partir do sÈculo XIX, com a produÁ„o do cafÈ em S„o Paulo,<br />
esse quadro È relativamente alterado, e S„o Paulo emerge como um centro<br />
importante na polarizaÁ„o do paÌs. A produÁ„o de cafÈ no sudeste brasileiro, mais<br />
precisamente no eixo S„o Paulo ñ Rio de Janeiro ñ Minas Gerais, possibilitou um<br />
incremento da industrializaÁ„o na regi„o 38 . A partir da dÈcada de 30, surgem<br />
novas condiÁıes polÌticas e organizacionais que permitem que a industrializaÁ„o<br />
aconteÁa definitivamente em S„o Paulo.<br />
Nas dÈcadas de 1940 e 1950, o processo de industrializaÁ„o se consolida,<br />
este processo È acompanhado por profundas mudanÁas no paradigma de<br />
sociedade e economia, com a formaÁ„o de um mercado nacional, que ativa o<br />
36<br />
SANTOS, Milton, op.cit., p. 40.<br />
37<br />
Idem, p. 63.<br />
38<br />
ARBEX Jr. JosÈ e OLIC, Nelson B. O Brasil em regiıes: sudeste. S„o Paulo: Moderna, 1999, p.<br />
73.<br />
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27
processo de urbanizaÁ„o 39 , e o crescimento demogr·fico. Entre as dÈcadas de<br />
1940 e 1980, ocorre a invers„o entre populaÁ„o urbana e rural no Brasil.<br />
28<br />
PopulaÁ„o Total PopulaÁ„o urbana Õndice de urbanizaÁ„o<br />
1940 41.326.000 10.891.000 26,35<br />
1950 51.944.000 18.783.000 36,16<br />
1960 70.191.000 31.956.000 45,52<br />
1970 93.139.000 52.905.000 56,80<br />
1980 119.099.000 82.013.000 68,86<br />
1991 150.400.000 115.700.000 77,13<br />
Fonte: SANTOS. UrbanizaÁ„o brasileira, p. 29.<br />
A partir da tabela, entre 1960 e 1980 a populaÁ„o urbana experimentou um<br />
enorme crescimento no Brasil, gerando com isso diversos problemas urbanos. No<br />
Brasil, entre 1940 e 1950, o crescimento da populaÁ„o aumentou em 24%, porÈm<br />
o das cidades cresceu em 39%. Em 1950 e 1960, o crescimento da populaÁ„o<br />
total foi de 30%, porÈm o da urbana chegou a 54%40.<br />
1.1.3. A urbanizaÁ„o coorporativa<br />
A organizaÁ„o das cidades no Brasil, apresenta caracterÌsticas muito<br />
semelhantes, e nesta direÁ„o sinaliza Santos quando afirma que:<br />
Com diferenÁas de grau e de intensidade, todas as cidades<br />
brasileiras exibem problem·ticas parecidas. Seu tamanho, tipo de<br />
atividade, regi„o em que se inserem, etc. s„o elementos de<br />
diferenciaÁ„o, mas, em todas elas, problemas como os do<br />
desemprego, da habitaÁ„o, dos transportes, do lazer, da ·gua, dos<br />
esgotos, da educaÁ„o e sa˙de s„o genÈricos e revelam enormes<br />
carÍncias 41 .<br />
Os fatores causadores do caos urbano que se instala nas cidades<br />
brasileiras possuem elementos comuns que s„o geradores desta desordem.<br />
39 SANTOS, Milton. O espaÁo do cidad„o. S„o Paulo: Nobel, ed. 4, 1998, p. 27.<br />
40 SANTOS, Milton. A urbanizaÁ„o brasileira. 5 ed. S„o Paulo: EDUSP, 5 ed., 2005, p. 100.<br />
41 Idem, p. 105.<br />
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Dentre um destes elementos situa-se a urbanizaÁ„o coorporativa, ou seja, um<br />
processo de urbanizaÁ„o inteiramente orientado para atender aos interesses do<br />
mercado e ‡ expans„o capitalista. Compreende-se que ao orientar as polÌticas<br />
p˙blicas 42 , para o atendimento destes interesses o resultado È um processo de<br />
urbanizaÁ„o excludente e que precariza as relaÁıes entre o Estado e o cidad„o,<br />
em que o cidad„o n„o tem participaÁ„o e acesso ao que a cidade produz 43 .<br />
A urbanizaÁ„o coorporativa contribui para a desordem urbana, favorecendo<br />
a proliferaÁ„o dos ìguetosî, cortiÁos e moradias de autoconstruÁ„o, ou seja, a<br />
ausÍncia de planejamento urbano e uma polÌtica urbana voltada para os<br />
interesses dos cidad„os. O planejamento urbano encontra-se voltado para<br />
atender aos interesses dos grandes grupos econÙmicos, com a construÁ„o de<br />
vias para o escoamento da produÁ„o e cess„o de ·reas p˙blicas para a<br />
construÁ„o de empreendimentos industriais.<br />
1.1.4. UrbanizaÁ„o: emergÍncia de uma ìcultura urbanaî<br />
Ao abordar o conceito de urbanizaÁ„o, Manuel Castells faz referencia a<br />
dois sentidos diferentes do termo urbanizaÁ„o: o primeiro faz referencia ‡<br />
concentraÁ„o espacial de uma populaÁ„o em relaÁ„o aos limites espaciais e de<br />
densidade (forma espacial, como no mapa anterior) e o segundo faz referencia ‡<br />
ìdifus„o do sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado ëcultura<br />
urbanaíî (conte˙do cultural), esta segunda tambÈm denominada tendÍncia<br />
culturalista da an·lise da urbanizaÁ„o 44 , ou seja, a cidade n„o se resume aos<br />
seus aspectos fÌsicos, mas tambÈm È marcada por um estilo de vida muito<br />
42 Trata-se de um conjunto de diretrizes garantidas por lei, que possibilitam a promoÁ„o e a<br />
garantia de direitos para o cidad„o. A sociedade civil tem uma participaÁ„o consider·vel na<br />
elaboraÁ„o das polÌticas p˙blicas, tornando o acompanhamento e execuÁ„o das mesmas muito<br />
mais eficientes. ìNo contexto internacional, a doutrina neoliberal passou a ser o fundamento de<br />
polÌticas p˙blicas, configurando-se como ideologia conservadora e hegemÙnica no Ocidente a<br />
partir do final dos anos de 1970 e, sobretudo, durante a dÈcada de 1980, quando foi posta em<br />
pr·tica pelos governos Thatcher, na Gr„-Bretanha, e Reagan, nos Estados Unidos.î (GROS.<br />
Denise B. Revista Brasileira de CiÍncias Sociais, Vol. 19, N 54, Fev. 2004. http://www.scielo.br).<br />
43 SANTOS, Milton, op.cit., p. 105.<br />
44 CASTELLS, Manuel. A quest„o urbana. S„o Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 39.<br />
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29
particular, a vida urbana, tornando este modelo um modo de vida que ultrapassa<br />
os limites fÌsicos da prÛpria cidade 45 .<br />
A partir das consideraÁıes de Castells, observa-se que urbanizaÁ„o e<br />
industrializaÁ„o s„o dois processos que caminham conjuntamente gerando uma<br />
forma prÛpria de organizaÁ„o espacial. Entretanto, Castells menciona que a<br />
relaÁ„o entre o que se denomina forma espacial e conte˙do cultural n„o pode se<br />
constituir num elemento de definiÁ„o da urbanizaÁ„o 46 .<br />
Para fundamentar a necessidade de uma an·lise histÛrica, Castells, propıe<br />
a observaÁ„o das relaÁıes estabelecidas historicamente entre espaÁo e<br />
sociedade, o que em sua vis„o permite a base dos estudos sobre a<br />
urbanizaÁ„o 47 . Desta maneira ele procede a investigaÁ„o sobre as primeiras<br />
aglomeraÁıes sedent·rias na Mesopot‚mia, Egito, China e Õndia na antiguidade;<br />
as cidades imperiais, particularmente Roma, onde ele observa que as cidades<br />
eram locais de gest„o e domÌnio administrativo, e n„o de produÁ„o; a cidade da<br />
Idade MÈdia, que vai se caracterizar pela luta da burguesia comercial em se<br />
libertar do feudalismo, o que da origem a uma organizaÁ„o espacial prÛpria 48 .<br />
Castells tambÈm analisa a urbanizaÁ„o ligada ‡ primeira fase da revoluÁ„o<br />
industrial, que por sua vez est· inserida no sistema de produÁ„o capitalista. Para<br />
Castells, a organizaÁ„o do espaÁo a partir deste momento se alicerÁa sobre duas<br />
caracterÌsticas fundamentais:<br />
30<br />
1.A decomposiÁ„o prÈvia das estruturas sociais agr·rias e a<br />
emigraÁ„o da populaÁ„o para os centros urbanos (...), fornecendo<br />
a forÁa de trabalho essencial ‡ industrializaÁ„o.<br />
2.A passagem de uma economia domÈstica para uma economia<br />
de manufatura, e depois para uma economia de f·brica (...),<br />
concentraÁ„o de m„o-de-obra, criaÁ„o de um mercado e<br />
constituiÁ„o de um meio industrial. 49<br />
45 SANT'ANNA. Maria Josefina Gabriel. A cidade como objeto de estudo: diferentes olhares sobre<br />
o urbano. http://www.comciencia.br/.<br />
46<br />
CASTELLS, Manuel, op.cit., p. 40.<br />
47<br />
Idem, p. 41.<br />
48<br />
Idem, p. 41-44.<br />
49<br />
Idem, p. 45.<br />
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A ind˙stria provoca a urbanizaÁ„o, organiza e domina a paisagem 50<br />
urbana, constituindo novos elementos nas relaÁıes humanas.<br />
Castells aponta que os problemas atuais da urbanizaÁ„o giram em torno de<br />
quatro dados fundamentais, que s„o:<br />
1. O acelerado ritmo de crescimento urbano;<br />
2. O fato de este crescimento ocorrer especialmente nas regiıes denominadas<br />
subdesenvolvidas;<br />
3. O surgimento de novas organizaÁıes urbanas, as grandes metrÛpoles;<br />
4. A relaÁ„o do fenÙmeno urbano com novas formas de articulaÁ„o oriundas do<br />
modo de produÁ„o capitalista 51 .<br />
Desta forma Castells termina por conceituar urbanizaÁ„o como:<br />
31<br />
(...) a constituiÁ„o de formas espaciais especÌficas das sociedades<br />
humanas, caracterizadas pela concentraÁ„o significativa das<br />
atividades e das populaÁıes num espaÁo restrito, bem como ‡<br />
existÍncia e a difus„o de um sistema cultural especÌfico, a cultura<br />
urbana 52 .<br />
A cidade deixa de ser t„o somente uma aglomeraÁ„o de pessoas, numa<br />
complexa relaÁ„o econÙmica, e passa a ser caracterizada tambÈm pelo<br />
surgimento de uma cultura urbana, dentro de um sistema cultural especÌfico.<br />
UrbanizaÁ„o, portanto, significa concentraÁ„o de atividades e a criaÁ„o de uma<br />
cultura especÌfica nesta sociedade, denominada cultura urbana. Refere-se,<br />
portanto, ao processo de concentraÁ„o populacional num espaÁo determinado,<br />
50 O conceito de paisagem È essencial para a geografia, significando muito mais do que afirma o<br />
senso comum como sendo o que a vis„o abarca. A paisagem È marcada pelos elementos<br />
objetivos e concretos e os subjetivos, como a cultura e as relaÁıes humanas. ìA paisagem<br />
geogr·fica È vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma dada ·rea,<br />
È analisada morfologicamente, vendo-se a integraÁ„o das formas entre si e o car·ter org‚nico ou<br />
quase org‚nico delas. O tempo È uma vari·vel fundamental. A paisagem cultural ou geogr·fica<br />
resulta da aÁ„o, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural.î (CORR A, Roberto<br />
Lobato & ROZENDAHL, Zeny (orgs.). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.<br />
p.92-123) Em Milton Santos paisagem È ao mesmo tempo objetos naturais, que n„o s„o obra dos<br />
seres humanos e todos os objetos sociais (SANTOS. Milton. Pensando o espaÁo do homem. S„o<br />
Paulo: Hucitec, 1994, p. 37-40.).<br />
51 CASTELLS, Manuel. op.cit., p. 46.<br />
52 Idem, p. 46.<br />
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em que se constituem aglomeraÁıes internamente interdependentes e<br />
hierarquizadas, denominada rede urbana 53 .<br />
Assim, Castells afirma que:<br />
32<br />
Quando falamos de ìsociedade urbanaî, n„o se trata nunca da<br />
simples constataÁ„o de uma forma espacial. A ìsociedade<br />
urbanaî, no sentido antropolÛgico do termo, quer dizer um certo<br />
sistema de valores, normas e relaÁıes sociais possuindo uma<br />
especificidade histÛrica e uma lÛgica prÛpria de organizaÁ„o e de<br />
transformaÁ„o 54 .<br />
A sociedade urbana possui um sistema de valores, normas e relaÁıes<br />
sociais muito prÛprias, onde as formas associativas se opıem ‡s formas<br />
comunit·rias (rurais). A segmentaÁ„o dos papeis e os rompimentos dos laÁos de<br />
solidariedade marcam as relaÁıes na sociedade urbana 55 .<br />
Considerando os problemas da urbanizaÁ„o, apontados tanto em Milton<br />
Santos como em Manuel Castells, nota-se a necessidade de aprofundar a<br />
quest„o da cidadania, visando elementos que contribuam para a discuss„o sobre<br />
o tema.<br />
1.2. A cidadania (privada) nas cidades brasileiras<br />
Por muitos sÈculos o Brasil foi um paÌs agr·rio, mesmo depois de iniciado o<br />
processo de urbanizaÁ„o, as relaÁıes existentes nas cidades nascentes ainda<br />
eram marcadas por um car·ter fortemente agr·rio na forma dos agrupamentos<br />
familiares.<br />
Viver na cidade e nela trabalhar possui suas peculiaridades, dado que a<br />
urbanizaÁ„o brasileira È bastante recente e ocorreu de modo muito acelerado, atÈ<br />
as dÈcadas de 50-60 o Brasil possuÌa a maior parte de sua populaÁ„o vivendo no<br />
interior do paÌs, que era onde se encontrava a principal fonte de trabalho, a<br />
atividade agrÌcola.<br />
53 Idem, p. 47.<br />
54 Idem, p. 127.<br />
55 Idem, p. 127-128.<br />
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A concentraÁ„o populacional no Brasil ocorre principalmente nas grandes<br />
metrÛpoles, em especial nas duas MetrÛpoles Nacionais (S„o Paulo e Rio de<br />
Janeiro), sendo que o interior do territÛrio brasileiro permanece com algumas<br />
·reas com um grande vazio demogr·fico. Essa situaÁ„o È resultado de uma<br />
polÌtica que privilegiou algumas ·reas do paÌs em detrimento de outras, gerando<br />
um desenvolvimento desigual entre as regiıes brasileiras.<br />
A urbanizaÁ„o se avolumou e a residÍncia dos trabalhadores agrÌcolas È<br />
cada vez mais urbana. Mais do que a separaÁ„o tradicional entre um Brasil<br />
urbano e um Brasil rural, h·, hoje, no paÌs, uma verdadeira distinÁ„o entre um<br />
Brasil urbano (incluindo ·reas agrÌcolas) e um Brasil agrÌcola (incluindo ·reas<br />
urbanas) 56 .<br />
A grande cidade que para muitos surgiu como uma possibilidade de<br />
prosperidade e qualidade de vida tornou-se rapidamente num pÛlo de pobreza e<br />
graves problemas, quanto maior a forÁa de polarizaÁ„o 57 de uma cidade maior<br />
seus problemas e mais complicado a soluÁ„o dos mesmos.<br />
A pobreza na cidade mostra toda a sua dureza, pois a estrutura fÌsica e a<br />
ocupaÁ„o do espaÁo possibilitam ou exigem a concentraÁ„o da misÈria em alguns<br />
pÛlos perifÈricos nos cortiÁos em ·reas centrais. A pobreza possui um modelo<br />
espacial. … perifÈrico em alguns casos (maioria) e central no caso dos cortiÁos.<br />
Uma outra situaÁ„o bastante grave È o fato da cidade n„o ser utilizada por<br />
todos da mesma maneira, atualmente a divis„o n„o È mais rural e urbana, a<br />
diferenÁa n„o se estabelece nesta simplÛria dicotomia (rural e urbano), a quest„o<br />
È muito mais complexa e possui raÌzes socioeconÙmicas, polÌticas e culturais as<br />
mais variadas.<br />
O morador de uma fazenda distante dos grandes centros urbanos pode<br />
conhecer e usufruir os benefÌcios da cidade muito mais que um morador de um<br />
cortiÁo no centro de S„o Paulo, isto se d· pelo fato de que o que realmente faz o<br />
56 SANTOS, Milton. UrbanizaÁ„o brasileira. 4 ed. S„o Paulo: Hucitec, 1998, p. 9.<br />
57 A capacidade de polarizaÁ„o deve ser entendida como a capacidade que uma determinada<br />
regi„o ou cidade possui para atrair pessoas.<br />
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33
uso dos equipamentos urbanos ser maior ou menor n„o È a proximidade fÌsica,<br />
mas sim a quantidade de recursos que a pessoa possui. O domÌnio dos meios de<br />
comunicaÁ„o passa a ser determinante para a cidadania, este controle ocorre<br />
fundamentalmente pela via econÙmica, o que exclui uma parcela significativa da<br />
populaÁ„o.<br />
Para muitas pessoas a rede urbana n„o È real, pois n„o usufruem os<br />
serviÁos por ela prestados (lazer, sa˙de, educaÁ„o). Que vale morar numa favela<br />
no bairro do Morumbi em S„o Paulo (prÛximo da maior universidade da AmÈrica<br />
Latina a USP) e n„o ter acesso digno ‡ educaÁ„o, sa˙de e lazer?<br />
Assim o habitante de uma cidade vive a ang˙stia de saber o que È ter e<br />
n„o poder ter de viver prÛximo do conforto, mas sem experiment·-los.<br />
Outro fator de muita complexidade quando se analisa a quest„o urbana no<br />
Brasil, È a quest„o da cidadania 58 . No Brasil, as elites polÌticas sempre foram<br />
representantes dos interesses econÙmicos subordinados ao grande capital<br />
internacional e a relaÁ„o entre a sociedade civil e o Estado, foram marcadas por<br />
perÌodos de regimes ditatoriais, em grande parte sob influÍncia estrangeira. A<br />
quest„o da cidadania ter· uma feiÁ„o particular porque nos perÌodos de transiÁ„o<br />
para a democracia o problema ir· se concentrar tambÈm na regulamentaÁ„o das<br />
regras de civilidade e cidadania no interior de uma sociedade travestida de<br />
poderes arbitr·rios, autorit·rios 59 .<br />
Ao analisar a quest„o da cidadania no Brasil, L˙cio Kowarick, afirma que:<br />
34<br />
(...) em virtude da condiÁ„o generalizada de subcidadania, a<br />
autoconstruÁ„o de uma percepÁ„o de moralidade e dignidade<br />
tende a se solidificar nos valores e sÌmbolos edificados em torno<br />
58 Evelina Dagnino confere ‡ cidadania um car·ter fundamental na construÁ„o democr·tica o qual<br />
lhe È definido pela luta polÌtica. A perspectiva da formulaÁ„o de uma nova cidadania dos anos<br />
1990 se distingue da vis„o liberal que cunha este termo no sÈculo XVIII e, deste modo, a autora<br />
precisa tais distinÁıes como: 1) noÁ„o de direito a ter direitos que n„o contempla somente o direito<br />
‡ igualdade, mas tambÈm o da diferenÁa; 2) requer sujeitos ativos lutando pelo seu<br />
reconhecimento. Uma estratÈgia dos n„o-cidad„os, dos ìexcluÌdosî. (DAGNI<strong>NO</strong>, Evelina. ìOs<br />
movimentos sociais e a emergÍncia de uma nova noÁ„o de cidadaniaî. In: DAGNI<strong>NO</strong>, E. (org).<br />
Anos 90: polÌtica e sociedade no Brasil. S„o Paulo: Ed. Brasiliense,1994).<br />
59 DAGNI<strong>NO</strong>, Evelina. ìOs movimentos sociais e a emergÍncia de uma nova noÁ„o de cidadaniaî.<br />
In: DAGNI<strong>NO</strong>, E. (org). Anos 90: polÌtica e sociedade no Brasil. S„o Paulo: Ed. Brasiliense, 994, p.<br />
55.<br />
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de projetos individuais: È o primado do cidad„o privado 60 .<br />
O conceito de cidadania privada, em que a pessoa constrÛi sua cidadania a<br />
partir de aÁıes individuais e com toda a precariedade, ou seja, ìaquele que com<br />
seu prÛprio esforÁo e perseveranÁa venceu 61 î. Com uma organizaÁ„o espacial e<br />
urbana que n„o privilegia a cidadania coletiva e n„o proporciona meios eficientes<br />
para o acesso dos indivÌduos aos bens p˙blicos, È que se d· a vida na cidade e<br />
as expressıes prec·rias de cidadania.<br />
35<br />
As condiÁıes existentes nesta ou naquela regi„o determinam essa<br />
desigualdade no valor de cada pessoa, tais distorÁıes<br />
contribuindo para que o homem passe literalmente a valer em<br />
funÁ„o do lugar onde vive. Essas distorÁıes devem ser corrigidas,<br />
em nome da cidadania. 62<br />
As cidades brasileiras s„o desiguais e violentas em suas relaÁıes, a<br />
ocupaÁ„o do espaÁo e os serviÁos oferecidos aos cidad„os s„o desiguais,<br />
transformando os seres humanos em cidad„os de diversas categorias. Diante<br />
destas questıes a Igreja, que olha para o ser humano, n„o somente como<br />
cidad„o, mas tambÈm como homem e mulher que refletem a imagem do Deus<br />
que os criou, possui o grande desafio de resgatar a dignidade deste homem e<br />
desta mulher que se encontram excluÌdo social e economicamente. Este desafio<br />
impıe uma pr·xis pastoral capaz de superar as aÁıes comuns e repetitivas,<br />
buscando a transformaÁ„o da sociedade e a organizaÁ„o popular. A partir da<br />
lÛgica neoliberal, ‡queles que est„o abaixo da linha de pobreza 63<br />
(aproximadamente 53 milhıes de pessoas no Brasil) n„o s„o vistos, pois n„o<br />
consomem, n„o ditam moda, n„o interferem na vida polÌtica, quando n„o est„o<br />
social e politicamente organizados. … para estas pessoas que a pr·xis pastoral<br />
deve (preferencialmente) lanÁar seu olhar, na busca de promover a cidadania e a<br />
humanidade destes homens e mulheres.<br />
60 KOWARICK, L˙cio. Cidade e cidadania: cidad„o e subcidad„o p˙blico. IN: Brasil em Artigos,<br />
ColeÁ„o SEADE bolso, S„o Paulo: FundaÁ„o SEADE, p. 114.<br />
61 Idem, p. 112.<br />
62 SANTOS, Milton, O espaÁo do cidad„o. S„o Paulo: Nobel, ed. 4, 1998, p.112.<br />
63 Esta linha de pobreza baseia-se no consumo de bens e serviÁos. … sugerida para a AmÈrica<br />
Latina e Caribe uma linha de pobreza de 2 dÛlares norte-americanos por dia. Para a Europa do<br />
Leste e rep˙blicas da antiga Uni„o SoviÈtica, tem sido usada uma linha de pobreza de 4 dÛlares<br />
norte-americanos por dia. Para a comparaÁ„o entre paÌses industrializados, tem sido usada uma<br />
linha de pobreza correspondente ‡ dos Estados Unidos, que È de 14,4 dÛlares por pessoa por dia.<br />
(RELAT”RIO DE DESENVOLVIMENTO HUMA<strong>NO</strong> - http://www.undp.org.br).<br />
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A opÁ„o pelos empobrecidos n„o È por mero oportunismo, mas se d· por<br />
que o crist„o percebe que a lÛgica capitalista È extremamente excludente,<br />
marginalizando a pessoa pelo lugar onde se vive. Compreende-se que esta opÁ„o<br />
deva tambÈm se dar a partir do espaÁo que a pessoa ocupa no territÛrio.<br />
O valor do ser humano depende de sua localizaÁ„o no territÛrio, assim:<br />
36<br />
(...) seu valor vai mudando, incessantemente, para melhor ou para<br />
pior, em funÁ„o das diferenÁas de acessibilidade (tempo,<br />
freq¸Íncia, preÁo), independentes de sua prÛpria condiÁ„o.<br />
Pessoas, com as mesmas virtualidades, a mesma formaÁ„o, atÈ<br />
mesmo o mesmo sal·rio tÍm valor diferente segundo o lugar em<br />
que vivem: as oportunidades n„o s„o as mesmas. Por isso a<br />
possibilidade de ser mais ou menos cidad„o depende, em larga<br />
proporÁ„o, do ponto do territÛrio onde se est· 64 .<br />
O que se percebe que cabe tambÈm a Igreja possibilitar e contribuir para<br />
as melhorias dos equipamentos urbanos em seu entorno, possibilitando com isso<br />
a inserÁ„o plena da pessoa na sociedade em que vive.<br />
A opÁ„o pelo empobrecido permanece como objetivo primeiro, e esta<br />
opÁ„o passa necessariamente por uma reforma urbana.<br />
Compreende-se que as cidades, em especial as grandes cidades est„o<br />
numa situaÁ„o caÛtica, com suas ·reas centrais cada vez mais desprotegidas e<br />
abandonadas pelo poder p˙blico.<br />
As pessoas que possuem um maior poder aquisitivo abandonam estas<br />
·reas centrais, e buscam zonas reservadas e protegidas, isoladas do mundo por<br />
muros e cercas elÈtricas, formando o que Comblin denomina ìcidade-paraÌsoî.<br />
Entretanto como ele mesmo afirma, a cidade-paraÌso È uma soluÁ„o acessÌvel<br />
somente a uma pequena minoria, sendo que para uma grande maioria a vida<br />
urbana È um problema crÙnico dentro do sistema econÙmico e da lÛgica<br />
capitalista 65 .<br />
64 SANTOS, Milton, op.cit., p. 81.<br />
65 COMBLIN, JosÈ. Os desafios da cidade no sÈculo XXI. S„o Paulo: Paulus, 2002, p. 29.<br />
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Compreende-se que o ser humano vale por onde mora, que seu valor n„o<br />
reside em sua humanidade t„o somente, mas antes no espaÁo que este ocupa no<br />
territÛrio.<br />
Cabe, portanto, ‡ Igreja, como voz profÈtica, defender os interesses destes<br />
excluÌdos pela lÛgica econÙmica dominante, a globalizaÁ„o neoliberal. …<br />
necess·ria uma ordem econÙmica que atenda aos interesses urbanos, o que se<br />
faz com a organizaÁ„o popular.<br />
A quest„o da cidadania passa necessariamente pela an·lise dos<br />
processos histÛricos de lutas populares que culminaram na ampliaÁ„o dos direitos<br />
das pessoas e na ampliaÁ„o da consciÍncia de que o indivÌduo È portador do<br />
direito ‡ ter direito. Foi assim nas lutas que levaram ‡ DeclaraÁ„o dos direitos<br />
humanos nos Estados Unidos da AmÈrica do Norte e mesmo na RevoluÁ„o<br />
Francesa 66 , onde o princÌpio da legitimidade n„o mais se fundamentou<br />
exclusivamente, nos deveres e sim nos direitos do cidad„o 67 .<br />
Compreendendo a cidadania como resultado das lutas dos povos ao longo<br />
da histÛria, Jo„o Quartim de Moraes, afirma que:<br />
37<br />
A cidadania democr·tica sÛ cria raÌzes num povo ao longo da<br />
experiÍncia coletiva, a aprendizagem do exercÌcio da cidadania È<br />
lenta e muitas vezes turbulenta. Mas insubstituÌvel, tanto no que<br />
se refere ao voto quanto formas superiores da participaÁ„o<br />
democr·tica, como o autogoverno local e as m˙ltiplas formas de<br />
auto-gest„o social. Nisso parece-nos consistir sua forÁa enquanto<br />
valor Ètico-polÌtico: a democracia È uma forma que, embora<br />
suscetÌvel de ser preenchida de m˙ltiplos conte˙dos, È a mais<br />
apropriada para exprimir o interesse coletivo, tal como o entende a<br />
coletividade 68 .<br />
O processo de ampliaÁ„o da consciÍncia cidad„, decorre das atividades<br />
dos indivÌduos em sociedade, sendo conseq¸Íncia do exercÌcio cotidiano das<br />
pr·ticas democr·ticas.<br />
66<br />
MORAES, Maria Ligia Quartim. Dois estudos sobre cidadania. Primeira Vers„o, Campinas:<br />
IFCH/UNICAMP, 2002, p.27.<br />
67<br />
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 30.<br />
68<br />
MORAES, Jo„o Quartim de. A democracia: histÛria e destino de uma idÈia. S„o Paulo: Revista<br />
da OAB / Brasiliense, 1989, p. 35.<br />
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Tomando em consideraÁ„o que a conquista da cidadania se d· dentro de È<br />
um processo de lutas, de avanÁos e refluxos histÛricos, È possÌvel constatar a<br />
ocorrÍncia de diferentes nÌveis de cidadania nos diferentes grupos de paÌses e<br />
sociedades, desta maneira, ìa situaÁ„o concreta de cada sociedade define os<br />
patamares e os limites do exercÌcio da cidadania 69 î.<br />
O exercÌcio da cidadania implica em um indivÌduo autÙnomo, capaz de<br />
enfrentar as tensıes e carÍncias dos centros urbanos encontrando mecanismos<br />
democraticamente estabelecidos, que possibilitem o atendimento das<br />
necessidades b·sicas (trabalho, moradia, sa˙de, educaÁ„o e transporte). A pr·xis<br />
desempenha um papel de fundamental import‚ncia, para o a construÁ„o de uma<br />
cidadania capaz de gerar uma cidade onde haja justiÁa, liberdade e igualdade.<br />
1.3. ConcepÁıes de pr·xis<br />
O conceito de pr·xis evolui e sofreu transformaÁıes, e ganhou contornos<br />
ao longo da histÛria. … necess·rio destacar que na Antiguidade grega, a filosofia<br />
ignorou e atÈ por vezes reprimiu o mundo pr·tico, sendo a atividade pr·tica tida<br />
como indigna de um ser humano livre, visto que todo trabalho braÁal era<br />
destinado aos escravos. O ser humano, na Antig¸idade, se faz a si mesmo se<br />
isentando de toda atividade pr·tica material, separando a teoria, a contemplaÁ„o,<br />
da pr·tica 70 .<br />
Em AristÛteles pr·xis pode ser compreendida como atividade imanente 71 ,<br />
assim pr·xis È trabalho humano distinto da tÈcnica e da arte, que entranha uma<br />
opÁ„o Ètica 72 . Foi ele que mais fez uso da palavra pr·xis entre os autores gregos<br />
antigos, e nem sempre a palavra possuiu em seus textos um sentido claro e<br />
69 MORAES, Maria L. Quartim. op.cit., p.28.<br />
70 V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez. Filosofia da Pr·xis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968, p. 17.<br />
71 Que est· inseparavelmente contido ou implicado na natureza de um ser, ou de um conjunto de<br />
seres, de uma experiÍncia ou de um conceito.<br />
72 FLORIST¡N, Casiano. Teologia de la Pr·xis: teoria y pr·xis de la acciÛn pastoral. Salamanca /<br />
Espanha: Ediciones SÌgueme, 2002, p 174.<br />
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38
unÌvoco. De forma ampla, a palavra pr·xis para ele designava uma atividade Ètica<br />
e polÌtica, diferente da atividade produtiva, entendida como poiÈsis 73 .<br />
Plat„o foi quem separou a pr·tica da teoria, em que a teoria 74 equivale a<br />
contemplaÁ„o e aÌ se associa a contemplaÁ„o das idÈias, a teoria È privilÈgio de<br />
uma minoria de homens livres, enquanto para a maioria basta a pr·xis ou a<br />
participaÁ„o na vida como cidad„o, esta destinada aos homens livres. Ao escravo<br />
esta reservada a poiÈsis 75 (poesia), ou seja, a produÁ„o 76 .<br />
O aprimoramento humano se d· pela negaÁ„o de qualquer atividade<br />
pr·tica material, separando a teoria, a contemplaÁ„o e a pr·tica, assim:<br />
39<br />
Com Plat„o a vida teÛrica, como contemplaÁ„o das essÍncias, isto<br />
È, a vida contemplativa (bios theoretikÛs) adquire uma primazia e<br />
um estatuto metafÌsico que atÈ ent„o n„o tivera. Viver,<br />
propriamente È contemplar (...)<br />
Os homens livres sÛ podem viver ó como filÛsofos ou polÌticos ó<br />
no Ûcio; entregues ‡ contemplaÁ„o ou ‡ aÁ„o polÌtica, isto È, em<br />
contato com as idÈias ou regulando conscientemente (grifo<br />
nosso) os atos dos homens, ,como cidad„os da polis (...) 77<br />
Esta regulamentaÁ„o consciente implica na reflex„o sobre a tomada de<br />
aÁıes, assim, Plat„o reconhece uma pr·xis polÌtica a partir dos princÌpios da<br />
teoria. A idÈia de praxis na sociedade grega escravista corresponde aos<br />
interesses de uma oligarquia dominante, que n„o deseja propriamente a<br />
transformaÁ„o desta sociedade, mas sim a sua manutenÁ„o. Assim a pr·xis neste<br />
perÌodo È vista como uma atividade relacionada ‡ vida da polis, exercida por<br />
homens livres, existe aqui a reflex„o, elemento constante na pr·xis.<br />
Existiam, portanto, no mundo antigo, trÍs atividades humanas b·sicas: a<br />
pr·xis, a poiÈsis e a theoria. Desde ent„o o tema da atividade humana em suas<br />
diferentes formas e em sua relaÁ„o com a reflex„o teÛrica tem ocupado os<br />
filÛsofos e in˙meros debates tÍm sido travados em torno das diferenÁas entre<br />
73<br />
KONDER, Leandro. O futuro da filosofia da pr·xis: o pensamento de Marx no sÈculo XXI. Rio<br />
de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 97.<br />
74<br />
Theoria: 'aÁ„o de observar, examinar; estudo ou conhecimento devido a raciocÌnio especulativo',<br />
pelo lat. theorÏa,ae 'investigaÁ„o filosÛfica (oposiÁ„o ‡ pr·tica).<br />
75<br />
Grego = poÌÈsis, È criaÁ„o; fabricaÁ„o, confecÁ„o.<br />
76<br />
FLORIST¡N, Casiano, op.cit., p. 174.<br />
77<br />
V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez. S., op.cit., p. 17-18.<br />
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teoria e pr·tica / aÁ„o e contemplaÁ„o. A divergÍncia se d· principalmente sobre<br />
a Ínfase que deve ser dada a uma ou outra atividade 78 .<br />
Em momentos de crise (econÙmica, polÌtica ou cultural) este debate fica<br />
ainda mais acirrado e as mudanÁas pr·ticas se aceleram desafiando os seres<br />
humanos a intervir. A It·lia renascentista È um exemplo de como isso ocorreu,<br />
com a reanimaÁ„o da atividade polÌtica e econÙmica urbana os habitantes da<br />
cidade foram obrigados a refletir sobre o convÌvio que se intensificou no espaÁo<br />
urbano, exigindo que os cidad„os refletissem sobre seus problemas urbanos<br />
tendo que buscar caminhos e soluÁıes 79 .<br />
Leandro Konder analisa esta situaÁ„o da It·lia renascentista dizendo que:<br />
40<br />
O aumento do n˙mero de pessoas com as quais cada cidad„o<br />
estava em contato intimava-o, com maior freq¸Íncia a tomar<br />
decisıes, a optar por agir ou n„o agir. E os problemas se<br />
agravavam quando outros n„o sÛ apareciam em grande n˙mero<br />
como se apresentavam unidos em torno de uma mobilizaÁ„o<br />
comum. As multidıes, ao se porem em movimento, conferiam<br />
aÁ„o a uma fisionomia capaz de assustar alguns espÌritos.<br />
MarsÌlio Ficino (...), sustentava no plano filosÛfico, a superioridade<br />
da contemplaÁ„o sobre a aÁ„o, convencido de que era na<br />
contemplaÁ„o que a inteligÍncia humana podia se aproximar da<br />
verdade, isto È de Deus 80 .<br />
Como se observa, a contemplaÁ„o era vista como forma de contenÁ„o das<br />
aÁıes transformadoras exigidas pelas massas. Essa posiÁ„o coexistia e conflitava<br />
com outras, como a de Erasmo de Rotterdam que via com desconfianÁa a<br />
seguranÁa teÛrica que a contemplaÁ„o pode proporcionar, lembrando que o ser<br />
humano precisa saber ousar agir. Por outro lado existia tambÈm a posiÁ„o de<br />
Giordano Bruno que valorizava a aÁ„o a partir da teoria e Leonardo da Vinci que<br />
combinava teoria e aÁ„o, lanÁando m„o de uma met·fora militar para explicar seu<br />
pensamento: ìa ciÍncia È o capit„o, a pr·tica s„o os soldadosî. Outra perspectiva<br />
78 KONDER, Leandro. op.cit., p. 98.<br />
79 Idem, p. 98-99.<br />
80 Idem, ibid.<br />
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era a de Montaigne que afirmava que o ser humano nasceu para agir, mas as<br />
condiÁıes humanas limitam tanta a aÁ„o como a contemplaÁ„o 81 .<br />
O cristianismo continua vivendo a tens„o entre a contemplaÁ„o e o agir,<br />
durante muitos sÈculos foi considerado t„o somente aÁ„o contemplativa, o<br />
trabalho era considerado como castigo 82 . Entretanto È possÌvel verificar a forÁa da<br />
pr·xis presente desde sua gÍnese e que sofreu repressıes ao longo de sua<br />
histÛria.<br />
(agir) 83 .<br />
Os escol·sticos traduzem a palavra pr·xis simplesmente como aÁ„o<br />
1.3.1. Gramsci e a filosofia da pr·xis<br />
A pr·xis È sim uma aÁ„o transformadora, È a relaÁ„o entre teoria e pr·tica,<br />
mas que n„o deve ser confundida com uma pr·tica repetitiva e sem reflex„o.<br />
Trata-se de uma aÁ„o objetiva que supera a critica social teÛrica, apontando<br />
caminhos na histÛria da humanidade para as questıes que envolvem a<br />
sociedade. Pela pr·xis o ser humano constrÛi seu mundo de forma autÙnoma.<br />
ìToda pr·xis È atividade, mas nem toda atividade È pr·xis 84 î, mais adiante<br />
aprofundaremos esta idÈia sobre a atividade que se expressa como pr·xis.<br />
Antonio Gramsci, dedica particular atenÁ„o para a filosofia da pr·xis, em<br />
seu pensamento fica bastante evidente que os oprimidos precisam tomar<br />
consciÍncia, em seguida libertar-se das forÁas que os oprimem, mas que para<br />
isso ocorra È necess·rio organizar-se para tornar-se senhor das prÛprias histÛrias<br />
e este processo n„o vem sen„o pela reflex„o e aÁ„o permanente, assim ìGramsci<br />
apresenta a filosofia da pr·xis como express„o consciente das contradiÁıes<br />
existentes na histÛria e na sociedade 85 î.<br />
81<br />
Idem, p. 100.<br />
82<br />
FLORIST¡N, Casiano, op.cit., p. 174.<br />
83<br />
Idem, ibid.<br />
84<br />
Idem, p. 185.<br />
85<br />
SEMERARO, Giovanni, op.cit., p. 9-10.<br />
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41
s„o:<br />
Para Gramsci a filosofia da pr·xis se resume em trÍs tarefas principais, que<br />
A de ter uma aproximaÁ„o permanente com as classes populares,<br />
buscando compreender suas reais necessidades e possibilitando a formaÁ„o de<br />
quadros no interior destas classes, por meio da educaÁ„o;<br />
Revelar as ideologias que se apresentam travestidas de modernidade;<br />
E por ˙ltimo, a tarefa de buscar sempre o fortalecimento e a renovaÁ„o<br />
diante dos novos questionamentos da histÛria 86 .<br />
Nos cadernos do c·rcere, Gramsci enfatiza a necessidade de manter-se<br />
em contato com o povo, afirmando que a falta de contato direto com a classe<br />
popular acarreta em sÈrias dificuldades para o conhecimento real dos seres<br />
humanos 87 .<br />
42<br />
Para Gramsci, de fato, assim como para Marx, o pensamento È<br />
parte integrante da realidade e existe uma ligaÁ„o insepar·vel<br />
entre o agir e o conhecer. A leitura dos fatos e a compreens„o das<br />
coisas n„o s„o abstraÁıes aleatÛrias e assÈpticas, mas derivam<br />
da trama sociopolÌtica na qual os indivÌduos est„o situados 88 .<br />
Em Gramsci agir e conhecer s„o aÁıes insepar·veis, e toda an·lise dos<br />
fatos, deve necessariamente ser feita a partir dos dados concretos, para tanto È<br />
necess·rio elaborar uma teoria do conhecimento como instrumento de libertaÁ„o<br />
das estruturas que oprimem os homens.<br />
Neste sentido, Gramsci chama a atenÁ„o para a figura dos intelectuais<br />
org‚nicos 89 , destacando como categoria mais tÌpica destes intelectuais a dos<br />
86<br />
Idem, p. 12.<br />
87<br />
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do C·rcere. Vol.1, Rio de Janeiro: CivilizaÁ„o Brasileira, 1999, p.<br />
221-222.<br />
88<br />
SEMERARO, Giovanni, op.cit., p. 17.<br />
89<br />
Gramsci fala sobre a funÁ„o dos intelectuais na sociedade em diferentes classes sociais.<br />
Entretanto o faz diferentemente da filosofia alem„, ele afirma que todas as classes sociais<br />
possuem seus intelectuais, que apontam suas visıes de mundo para as classes que representam.<br />
Desta forma os intelectuais possuem uma funÁ„o org‚nica no processo da reproduÁ„o social, na<br />
medida em que ocupam espaÁos sociais de decis„o pr·tica e teÛricas, tornando-os objeto de<br />
longa an·lise nos Cadernos do C·rcere. Mas a principal funÁ„o destes se encontra na formaÁ„o<br />
de uma nova moral e uma nova cultura, que podem ser entendidas tambÈm como uma contrahegemonia,<br />
j· que o objetivo final das lutas organizativas seria, no seu momento histÛrico, o<br />
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eclesi·sticos 90 . O principal papel destes intelectuais consiste na organizaÁ„o da<br />
classe a que representa, ou seja, seu modo de ser n„o consiste no discurso, que<br />
È motor exterior e passageiro das paixıes, mas num engajamento concreto com a<br />
sociedade, como construtor e motivador permanente das transformaÁıes<br />
sociais 91 .<br />
O nascimento da filosofia da pr·xis est· intimamente ligado ‡ atividade dos<br />
intelectuais org‚nicos, particularmente quando Karl Marx e Engels, em oposiÁ„o<br />
ao idealismo alem„o, passam a participar ativamente nas lutas oper·rias, este<br />
novo intelectual (org‚nico) È ao mesmo tempo cientista, crÌtico e revolucion·rio 92 .<br />
… com a filosofia da pr·xis que os:<br />
43<br />
Novos intelectuais politicamente compromissados com o prÛprio<br />
grupo social para fazer e escrever a histÛria e, por isso, capazes<br />
de refletir sobre o entrelaÁamento da produÁ„o material com<br />
controvertidas pr·ticas da reproduÁ„o simbÛlica 93 .<br />
A exigÍncia que se faz da participaÁ„o dos intelectuais vai alÈm dos<br />
discursos e teorias, a partir da filosofia da pr·xis passou-se a ter a necessidade<br />
de conhecer o funcionamento da sociedade, revelando os mecanismos de<br />
dominaÁ„o que eram atÈ ent„o encobertos pelas ideologias dominantes, deste<br />
modo se d· a participaÁ„o dos intelectuais org‚nicos, pois estes fazem parte de<br />
ìum organismo vivo e em expans„o. Por isso, est„o ao mesmo tempo conectados<br />
ao mundo do trabalho, com organizaÁıes polÌticas e culturais 94 î, e prÛximos ao<br />
seu grupo social. Para Gramsci,<br />
Todo grupo social, ao nascer do terreno origin·rio de uma funÁ„o<br />
essencial no mundo da produÁ„o econÙmica, cria tambÈm,<br />
organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que<br />
conferem homogeneidade e consistÍncia da prÛpria funÁ„o n„o<br />
apenas do campo econÙmico, como tambÈm no social e polÌtico<br />
socialismo. (MARI, Cezar Luiz, O papel educador dos intelectuais.<br />
http://www.ccsa.ufrn.br/ccsa/docente/rodson/ftp/Gramsci.rtf)<br />
90 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do C·rcere. Vol.2, Rio de Janeiro:CivilizaÁ„o Brasileira, 1999,<br />
p.16-17.<br />
91<br />
Idem, p. 17-18.<br />
92<br />
SEMERARO, Giovanni, op.cit., p. 130.<br />
93<br />
Idem, p. 130.<br />
94<br />
Idem, p. 134-135.<br />
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(...) 95 .<br />
… importante salientar que para Gramsci todos os homens s„o intelectuais,<br />
mas que nem todos desempenham esta funÁ„o na sociedade, entretanto n„o se<br />
pode falar na existÍncia de n„o-intelectuais, n„o existindo para ele atividade<br />
humana ìda qual se possa excluir toda intervenÁ„o intelectual, n„o se pode<br />
separar o Homo sapiens do Homo faber 96 î, desta maneira todo ser humano<br />
exerce uma atividade intelectual em algum momento.<br />
Gramsci atribui uma significativa import‚ncia ‡ educaÁ„o neste processo<br />
de formaÁ„o intelectual em seus diversos nÌveis, respeitando, contudo o saber<br />
popular mesmo quando da sua falta de organizaÁ„o e fragmentaÁ„o, sem, no<br />
entanto abandonar a crÌtica e uma formaÁ„o que supere o senso comum, as<br />
crenÁas e preconceitos presentes no grupo 97 . Certamente essa È uma<br />
contribuiÁ„o na elaboraÁ„o de uma pastoral lit˙rgica, que tenha na filosofia da<br />
pr·xis sua fundamentaÁ„o teÛrica.<br />
1.3.2. Feuerbach: a pr·xis abstrata<br />
Ao buscar os fundamentos da pr·xis, observa-se a necessidade de<br />
compreender a concepÁ„o de pr·xis em Ludwig Feuerbach, ou seja, o seu<br />
materialismo, que elaborou uma crÌtica da religi„o que quando se viu aplicada ao<br />
idealismo alem„o de Hegel representou um enorme impacto para a filosofia da<br />
Època. Ao observar a crÌtica ‡ religi„o desenvolvida por Feuerbach em ìA<br />
essÍncia do cristianismoî, È possÌvel destacar que ìDeus n„o existe em si e por<br />
si, isto È, como sujeito, mas sim como objeto que, sem d˙vida È um predicado<br />
humano 98 î. Deus È produto do homem, tornando-se essÍncia idealizada do ser<br />
humano. A religi„o nada mais È do que uma projeÁ„o do homem, e a consciÍncia<br />
que o ser humano tem de Deus, na realidade È a que ele tem de si prÛprio.<br />
95 GRAMSCI, Antonio, op.cit., p. 15.<br />
96 Idem, p. 16-18.<br />
97 SEMERARO, Giovanni, op.cit., p. 18.<br />
98 V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez, op.cit., p. 92.<br />
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44
ìEm Feuerbach o materialismo tem seu fundamento no homem, È um<br />
materialismo que gira em torno do humanismo.î 99 Deus È o ideal que o ser<br />
humano produziu, uma imagem perfeita do homem, em todos os aspectos.<br />
Ao produzir Deus como um objeto religioso seu, o homem o faz de forma<br />
alienada (estranhada), sem consciÍncia que ele È resultado de algo produzido e<br />
idealizado pelo prÛprio homem. Assim se concebe o que Feuerbach denomina<br />
alienaÁ„o religiosa. Desta forma, quando Feuerbach coloca Deus como uma<br />
construÁ„o humana e o homem como sujeito real, ele expıe a raiz antropolÛgica<br />
da religi„o e do idealismo hegeliano, ou seja, que a religi„o transfere a essÍncia<br />
humana para Deus e a filosofia idealista transfere a essÍncia do homem e a<br />
natureza para a IdÈia absoluta. Desta forma a pr·xis somente encontra lugar no<br />
abstrato, pois Deus È o ˙nico ser criador e ativo, transformador efetivamente,<br />
enquanto o homem sÛ È por derivaÁ„o, n„o se vÍ como sujeito ativo da pr·xis.<br />
Aqui se evidencia o fato de que a pr·xis humana È vista pelo homem como<br />
atividade ìdivinaî, quando o È de fato humana, entretanto, como observa<br />
Feuerbach ìO homem È Deus porque o homem È Deus para o homem 100 î.<br />
Para Feuerbach, a caracterÌstica misteriosa da religi„o È a unidade da<br />
essÍncia divina com a humana. Sendo Deus a prÛpria essÍncia humana, mas a<br />
consciÍncia o representa como outro ser, diferente do homem, isto È: o homem<br />
n„o se vÍ no objeto que È seu produto e no qual objetiva sua prÛpria essÍncia:<br />
isto se mostra para ele como alienaÁ„o 101 .<br />
Para Feuerbach, existe uma oposiÁ„o entre religi„o e pr·xis, pois a religi„o<br />
n„o expressa um ponto de vista teÛrico, mas sim pr·tico e utilit·rio, desta forma<br />
ele n„o vÍ uma pr·xis humana propriamente, nem como atividade produtiva, que<br />
transforma a natureza; nem como atividade revolucion·ria no processo das<br />
transformaÁıes sociais; e nem como pr·tica social, pois para ele a pr·tica possui<br />
99 MANIERI, Dagmar. A concepÁ„o de homem em Ludwig Feuerbach. Revista …tica & Filosofia<br />
PolÌtica. Volume 6, N˙mero 2, Novembro/2003. http://www.eticaefilosofia.ufjf.br/<br />
100 V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez., op.cit., p. 93-116.<br />
101 Idem, p. 100.<br />
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45
um sentido reduzido, n„o sendo possÌvel por ela fundamentar um<br />
conhecimento 102 .<br />
Ao sintetizar a concepÁ„o de pr·xis em Feuerbach, Vasquez afirma que ìo<br />
materialismo contemplativo de Feuerbach È incompatÌvel com a verdadeira<br />
filosofia da pr·xisî e que ìsua pr·xis abstrata È a negaÁ„o da verdadeira<br />
pr·xis 103 î.<br />
1.3.3. A concepÁ„o marxista de pr·xis<br />
Em suas idÈias sobre pr·xis, os marxistas se inspiram quase sempre nas<br />
famosas Teses sobre Feuerbach de Karl Marx. 104 A an·lise destas onze teses È<br />
bastante significativa, pois nelas est„o expressos alguns dos princÌpios que<br />
norteiam o pensamento marxista. A dÈcima primeira tese È uma sÌntese deste<br />
pensamento: ìOs filÛsofos limitaram-se atÈ agora a interpretar o mundo de<br />
diferentes modos; do que se trata È de transform·-lo 105 î. A segunda e a oitava<br />
tese expressam com clareza o pensamento de Marx sobre a pr·xis.<br />
II<br />
46<br />
A quest„o de atribuir ao pensamento humano uma verdade<br />
objetiva n„o È quest„o teÛrica, mas pr·tica. … na pr·xis que o<br />
homem deve demonstrar a verdade, isto È, a realidade e a forÁa, o<br />
car·ter terreno de seu pensamento. A disputa a cerca da realidade<br />
ou irrealidade do pensamento<br />
102 Idem, p. 110-114.<br />
103 Idem, p. 115.<br />
104 Teses Ad Feuerbach ó Estas onze teses foram escritas por Marx na primavera de 1845 e<br />
publicadas pela primeira vez por Engels, em 1888, como apÍndice ‡ ediÁ„o em livro da sua obra<br />
Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Alem„ Cl·ssica, Estugarda 1888. Feuerbach havia<br />
demonstrado, em A EssÍncia do Cristianismo, a tese escandalosa para a sociedade da Època,<br />
que a essÍncia da religi„o È a essÍncia do ‚nimo humano, e que a teologia pode ser explicada<br />
pela antropologia. Explica o autor que as representaÁıes e segredos atribuÌdos a um Ser sobrehumano<br />
n„o eram mais do que representaÁıes humanas naturais, e que aquilo que no imagin·rio<br />
pairava no CÈu, pode ser encontrado sem maiores dificuldades no solo da Terra.[...] Feuerbach<br />
inicia A essÍncia do Cristianismo dizendo que o homem difere do animal por ter uma consciÍncia<br />
no sentido estrito, ou seja, sua consciÍncia ìtem por objeto o seu gÍnero, a sua essencialidadeî.<br />
[...] A teoria feuerbachiana causou profunda influÍncia na filosofia do sÈculo XIX. Os primeiros a se<br />
entusiasmarem com ela foram os jovens hegelianos, dentre eles Marx [...] Nas teses sobre<br />
Feuerbach, Marx afirma que o sentimento religioso È um produto social relacionado a uma forma<br />
determinada de sociedade. Para ele, a fonte da deficiÍncia religiosa deveria ser buscada na<br />
deficiÍncia do prÛprio Estado. Esta deficiÍncia deveria ser suprimida com a tomada de consciÍncia<br />
do homem como um ser espÈcie, num coletivismo que mudava o homem individual, abstrato.<br />
(DUCL”S, Miguel. A MaturaÁ„o do pensamento de Marx.<br />
http://www.consciencia.org/contemporanea/marx.html)<br />
105 MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alem„. S„o Paulo: Martin e Claret, 2004, p. 120.<br />
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VIII<br />
47<br />
Qualquer vida social È essencialmente pr·tica. Todos os mistÈrios<br />
que levam ao misticismo encontram sua soluÁ„o racional na pr·xis<br />
humana e na compreens„o dessa pr·xis 106 .<br />
O aporte filosÛfico moderno sobre a pr·xis, corresponde a K. Marx. As<br />
idÈias surgem da pr·xis material, ou seja, pela revoluÁ„o econÙmica e social, pela<br />
transformaÁ„o na raiz. O marxismo afirma que o critÈrio da verdade È a pr·xis da<br />
pessoa humana. A pr·xis È fundamento e fim de toda a teoria. A partir de Marx,<br />
pr·xis passa a ser compreendia como ìpr·tica socialî, atividade humana<br />
transformadora do mundo. Desta forma È ìatividade social conscientemente<br />
dirigida a um fim 107 î, ou seja, a transformaÁ„o social, a criaÁ„o do novo.<br />
A pr·xis n„o È vista como mera atividade da consciÍncia humana, mas<br />
como atividade material do ser humano agindo na histÛria. Para se chegar a uma<br />
concepÁ„o de pr·xis È necess·rio superar o idealismo e a espontaneidade<br />
ingÍnua dos movimentos, buscando uma teoria da pr·xis, neste sentido LÍnin, por<br />
exemplo, afirmou que ìsem teoria revolucion·ria n„o h· movimento revolucion·rio<br />
possÌvel 108 î, sem pr·xis n„o existe transformaÁıes efetivas.<br />
Na atividade cotidiana, os homens comuns, buscando responder ‡s<br />
indagaÁıes que o cercam, e encontrando-se diante de desafios sociais, polÌticos e<br />
econÙmicos, o faz de modo pr·tico 109 , sem o distanciamento necess·rio para se<br />
fazer a reflex„o da pr·xis em si.<br />
O homem comum n„o enfrenta as situaÁıes cotidianas de forma ìpuraî ou<br />
isenta (teÛrica), ele n„o È capaz de abstrair, pois ele se encontra condicionado<br />
historicamente e socialmente a uma dada realidade, o que faz com que suas<br />
aÁıes sejam tidas como pr·ticas.<br />
106 Idem, ibid.<br />
107 Idem, p. 173-191.<br />
108 V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez, op.cit., p. 8.<br />
109 Idem, p. 9.<br />
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Por conseguinte, sua atitude diante da pr·xis j· implica numa consciÍncia<br />
do fato pr·tico, ou seja, certa integraÁ„o numa perspectiva na qual vigoram<br />
determinados princÌpios ideolÛgicos 110 .<br />
… possÌvel identificar a aproximaÁ„o com a pr·xis que o homem comum e<br />
as in˙meras instituiÁıes presentes na sociedade realizam, sem, no entanto, ser<br />
uma atitude que possa ser considerada pr·xis, isso porque sem se desprender do<br />
cotidiano e ascender a um plano reflexivo n„o È possÌvel se ter uma atitude<br />
pr·xis.<br />
V·zquez sedimenta esta idÈia afirmando que:<br />
48<br />
(...) enquanto a consciÍncia comum [gf. nosso] n„o percorre a<br />
dist‚ncia que a separa da consciÍncia reflexiva [gf. nosso], que<br />
tem na filosofia da pr·xis sua mais alta express„o, n„o pode<br />
desenvolver uma verdadeira pr·xis revolucion·ria 111 .<br />
… possÌvel constatar que as aÁıes decorrentes da consciÍncia comum n„o<br />
podem ser consideradas uma atitude advinda da pr·xis. O ser humano pr·tico È<br />
um ser produtivo, que constrÛi de forma alienada 112 um mundo para os outros, o<br />
ser humano pr·tico È meramente um ser produtivo e n„o reflexivo e por sua vez<br />
suas aÁıes n„o s„o transformadoras da realidade nem criadoras do novo.<br />
Assim È possÌvel identificar duas atitudes do ser humano comum, a<br />
primeira È o que V·zquez denomina politicismo ìpr·ticoî, ou seja, uma<br />
concepÁ„o pragm·tica 113 , esvaziando toda a reflex„o polÌtica das aÁıes que s„o<br />
tomadas em nome da pr·tica, com isso abre-se espaÁo para a manutenÁ„o das<br />
forÁas que oprimem o ser humano e possibilita a perpetuaÁ„o das relaÁıes que<br />
impedem as aÁıes transformadoras; a segunda atitude do ser humano pr·tico È o<br />
apoliticismo, isto È, o abandono total da reflex„o polÌtica e o apego ‡s iniciativas<br />
individuais que de igual modo permite que as estruturas sociais que oprimem e<br />
110 Idem, ibid.<br />
111 Idem, p.11.<br />
112 Processo em que o ser humano se afasta de sua real natureza torna-se estranho a si mesmo<br />
na medida em que j· n„o controla sua atividade essencial (o trabalho), pois os objetos que produz<br />
as mercadorias passam a adquirir existÍncia independente do seu poder e antagÙnica aos seus<br />
interesses.<br />
113 nfase do pensamento filosÛfico na aplicaÁ„o das idÈias e nas conseq¸Íncias pr·ticas de<br />
conceitos e conhecimentos; filosofia utilit·ria.<br />
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escravizam o homem permaneÁam na sociedade. Tanto o politicismo como o<br />
apoliticismo, s„o destituÌdos da reflex„o, elemento necess·rio na pr·xis que<br />
transforma de maneira criativa e radical a sociedade.<br />
Tanto a pr·tica sem reflex„o como a falta de uma atitude na sociedade<br />
est„o a serviÁo da legitimaÁ„o e manutenÁ„o de forÁas que detÈm o controle das<br />
sociedades capitalistas e de todos os seus aparatos sociais, polÌticos e<br />
econÙmicos.<br />
ìA pr·xis È, portanto, a revoluÁ„o, ou crÌtica radical que correspondendo a<br />
necessidades radicais, humanas, passa do plano teÛrico ao pr·tico 114 î.<br />
N„o existe a possibilidade de emancipaÁ„o e supress„o das desigualdades<br />
entre as classes sociais, sem atitude pr·xis, isto porque, nem a teoria nem a<br />
pr·tica ou a existÍncia social podem libertar o ser humano.<br />
1.3.4. A pr·xis em Casiano Florist·n<br />
Em Teologia Practica, de Casiano Florist·n, È possÌvel identificar o quanto<br />
sua formulaÁ„o teÛrica sobre a filosofia da pr·xis, vem ao encontro do que foi<br />
constatado atÈ aqui a partir de Marx e Gramsci, ao mesmo tempo em que propıe<br />
elementos prÛprios a partir da reflex„o teolÛgica e pastoral.<br />
Florist·n compreende que nem toda atividade ou aÁ„o humana È pr·xis,<br />
assim, os traÁos caracterÌsticos da pr·xis para ele s„o 115 :<br />
A« O CRIADORA ñ e para isso È necess·rio certo grau de consciÍncia<br />
critica. A pr·xis criadora È inovadora frente ‡s novas realidades.<br />
A« O REFLEXIVA ñ a superaÁ„o da espontaneidade exige um alto grau<br />
de reflex„o. Toda aÁ„o exige a reflex„o permanente e crÌtica com o objetivo de<br />
traÁar objetivos claros.<br />
114 V¡ZQUEZ, Adolfo S·nchez, op.cit., p. 128.<br />
115 FLORIST¡N, Casiano, op.cit., p.180.<br />
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49
A« O LIBERTADORA ñ existe pr·xis na medida em que existe um projeto<br />
de libertaÁ„o. A transformaÁ„o das estruturas sociais È o fim de toda pr·xis, bem<br />
como a aÁ„o para promover a liberdade humana.<br />
A« O RADICAL E N O REFORMISTA ñ a pr·xis tem como objetivo<br />
transformar a organizaÁ„o em direÁ„o ‡ sociedade, transformando as relaÁıes<br />
econÙmicas, polÌticas e sociais. Numa sociedade que se divide em classes este<br />
processo de transformaÁ„o radical, resulta na luta de classes. Disto resulta a<br />
atividade polÌtica que busca a transformaÁ„o social na sua raiz (radicalidade). Na<br />
construÁ„o de uma sociedade nova sinalizada pela liberdade e pela igualdade È<br />
necess·ria uma mudanÁa pela raiz e n„o uma simples reforma.<br />
A pr·xis para Florist·n È atitude que: CRIA, REFLETE, LIBERTA e<br />
TRANSFORMA (NA RAÕZ). N„o possui um car·ter meramente reformista ou de<br />
sustentaÁ„o e legitimaÁ„o da ordem vigente, no sentido teolÛgico È possÌvel<br />
afirmar que a pr·xis possui um car·ter profÈtico muito evidente. Esta sÌntese feita<br />
a partir de Florist·n permite a avaliaÁ„o da pr·xis presente na sociedade, seja ela<br />
proveniente do campo religioso ou n„o.<br />
Florist·n afirma que: ìnem todas as pr·xis s„o legitimas 116 î. Para verificar a<br />
legitimidade de uma pr·xis È necess·rio avaliar e critic·-la a partir de uma<br />
perspectiva ideolÛgica, polÌtica e econÙmica.<br />
Uma observaÁ„o importante a fazer È se a pr·xis em quest„o valoriza o<br />
povo e possibilita a elevaÁ„o da consciÍncia critica e transformadora, neste<br />
sentido È verificar se a pr·xis possui uma dimens„o reflexiva, se faz o caminho<br />
que separa a consciÍncia do homem comum em direÁ„o ‡ consciÍncia reflexiva.<br />
Para Florist·n n„o existe uma pr·xis especÌfica do cristianismo, ou como<br />
algo propriamente evangÈlico, para ele, ìtodos os atos s„o crist„os na medida em<br />
que s„o realmente humanos 117 î. Para sustentar esta idÈia ele aponta trÍs razıes:<br />
116 Idem, p. 182.<br />
117 Idem, p. 194.<br />
As aÁıes e pr·xis possuem valor por seu conte˙do concreto;<br />
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50
executa 118 .<br />
As aÁıes e pr·xis nunca s„o neutras, sempre desejam;<br />
O sentido e o significado das aÁıes sÛ podem residir em quem as<br />
Existe, portanto, a possibilidade de existirem crist„os na aÁ„o e<br />
fundamentados na filosofia da pr·xis, mas n„o h· uma pr·xis crist„ propriamente.<br />
Na eucaristia, somente pela fÈ se pode dizer que È uma pr·xis crist„ (por sinalizar<br />
a necessidade da partilha e da igualdade). Nesta direÁ„o, Florist·n afirma que:<br />
51<br />
Sem d˙vida, em termos histÛricos, pode haver umas<br />
caracterÌsticas prÛprias da pr·xis dos crist„os. Alguns destacam a<br />
fraternidade, o amor aos inimigos, o perd„o, etc. Na realidade, n„o<br />
h· uma pr·xis essencialmente crist„ pelo qual o evangelho tenha<br />
qualquer outro traÁo distinto frente a qualquer outra pr·xis<br />
humana. (Traduzido pelo autor). 119 .<br />
Por outro lado o crist„o n„o aceita uma pr·xis fora da sua fÈ, assim como o<br />
n„o crist„o n„o necessita de fÈ. O autor afirma que em termos histÛricos pode<br />
haver algumas caracterÌsticas prÛprias na pr·xis dos crist„os: a fraternidade; o<br />
amor aos inimigos e o perd„o. N„o h·, portanto, uma pr·xis crist„ distinta de<br />
qualquer outra pr·xis humana.<br />
Para M. Lefevbre existem trÍs nÌveis da pr·tica: a repetitiva; a mimÈtica,<br />
que cria pela imitaÁ„o; e a inovadora, sobretudo na aÁ„o revolucion·ria. O teÛlogo<br />
Clodovis Boff define pr·xis como ìo conjunto de pr·ticas que tendem a<br />
transformaÁ„o da sociedade ou a produÁ„o da histÛriaî compreende-se que a<br />
pr·xis possui, portanto, uma dimens„o polÌtica. Para Florist·n, o binÙmio teoria e<br />
pr·xis se estabelecem mediante a uma relaÁ„o entre um modo de pensar e um<br />
exercÌcio ou aÁ„o. Entre teoria e pr·tica h· uma relaÁ„o dialÈtica e permanente<br />
118 Idem, p. 194-195.<br />
119 Idem, p. 194.<br />
Sin embargo, en tÈrminos histÛricos, puede haber unas caracterÌsticas propias en la praxis de los<br />
cristianos. Algunos seÒalan la fraternidad, el amor a los enemigos, el perdÛn, etc. En realidad, no<br />
hay una praxis esencialmente cristiana por la que el evangelio tenga rasgos distintos frente a<br />
cualquier otra praxis humana.<br />
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din‚mica, por vezes conflitante que deve buscar a superaÁ„o pela sÌntese. Sem<br />
d˙vida h· uma supremacia da pr·xis sobre a teoria 120 .<br />
O homem comum em geral se move com esquemas mentais teÛricos,<br />
coletivos e ambientais, que correspondem ‡ cultura em vigor que em geral È a<br />
dominante. Assim, este homem vive ideologizado e manipulado. A consciÍncia<br />
geral, em certos est·gios e culturas È fatalista e m·gica. O homem pr·tico resiste<br />
a qualquer teoria, sem se dar conta de que se move com algumas teorias alheias<br />
a si mesmo e em geral ultrapassadas, n„o admitindo que ìo melhor remÈdio para<br />
uma pr·tica ruim È uma boa teoria 121 î.<br />
Desta forma, Florist·n compreende a pr·xis, a partir das concepÁıes<br />
marxistas, ou seja, a mudanÁa social e o compromisso aqui chamado de militante,<br />
e em Gramsci como org‚nico, com as transformaÁıes estruturais e uma atitude<br />
critica. … renovaÁ„o do sistema social e emancipaÁ„o pessoal e social 122 .<br />
Florist·n analisa as relaÁıes entre fÈ e pr·xis, compreendendo que o<br />
cristianismo È uma comunidade de narraÁ„o, detentora de uma pr·xis profÈtica,<br />
sendo a memÛria crist„ repleta de ìrecordaÁıes perigosasî, que s„o simbolizadas<br />
nos sacramentos, particularmente na eucaristia, e que se expressam<br />
historicamente. Essa memÛria da justiÁa e do direito em Jesus È em certo sentido<br />
ìsubversiva 123 î e criadora de novos sinais na sociedade e do homem novo.<br />
A pr·xis n„o È mera atividade da consciÍncia humana, mas atividade<br />
material do ser humano agindo na histÛria. Para se chegar a uma concepÁ„o de<br />
pr·xis È necess·rio superar o idealismo e a espontaneidade ingÍnua. Na<br />
atividade cotidiana, os homens comuns, buscando responder ‡s indagaÁıes que<br />
o cercam, e encontrando-se diante de desafios sociais, polÌticos e econÙmicos, o<br />
faz de modo pr·tico 124 , sem o distanciamento necess·rio para se fazer a reflex„o<br />
120 Idem, p. 176-177.<br />
121 Idem, p. 179-180.<br />
122 Idem, p. 181.<br />
123 Idem, p. 184.<br />
124 GIRARDI, Giulio. ìDesenvolvimento Local sustent·vel, poder local alternativo refundaÁ„o da<br />
esperanÁaî. In: Por um mundo diferente: alternativas para o mercado global. PetrÛpolis, RJ:<br />
Vozes, 2003, p. 9.<br />
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52
da pr·xis em si, tornando a possibilidade de transformaÁıes efetivas e superaÁ„o<br />
consciente.<br />
Como observado anteriormente, o homem comum n„o enfrenta as<br />
situaÁıes cotidianas de forma ìpuraî ou isenta, ele n„o È capaz de abstrair, pois<br />
ele se encontra condicionado historicamente e socialmente a uma dada realidade,<br />
o que faz com que suas aÁıes sejam tidas como pr·ticas.<br />
Na construÁ„o de uma sociedade nova sinalizada pela emancipaÁ„o de<br />
todas as pessoas e pela igualdade È necess·ria uma mudanÁa pela raiz e n„o<br />
uma simples reforma que acomoda e encobre os sinais de morte e injustiÁa. O<br />
an˙ncio do evangelho sinaliza esta nova sociedade e alimenta a esperanÁa de<br />
transformaÁ„o social. Nesta direÁ„o a pr·xis pastoral lit˙rgica colabora para dar<br />
uma interpretaÁ„o ‡s novas din‚micas sociais e econÙmicas, possibilitando a<br />
descriÁ„o e an·lise da complexidade imposta pela globalizaÁ„o neoliberal. Para<br />
que haja maior Íxito nesta tarefa, a pastoral lit˙rgica deve buscar fundamentaÁ„o<br />
na pr·xis, como mÈtodo de observaÁ„o, reflex„o, e aÁ„o sobre a realidade.<br />
Ao ter a pr·xis como referencia no fazer lit˙rgico, a interpretaÁ„o dos sinais<br />
oriundos da globalizaÁ„o neoliberal torna-se mais precisas e propositivas,<br />
possibilitando a resistÍncia e a den˙ncia dos aspectos perversos desta<br />
globalizaÁ„o. Por isso È necess·rio conhecer em profundidade o espaÁo em que<br />
a pastoral lit˙rgica ir· se desenvolver, pois sem uma leitura cuidadosa da<br />
realidade, toda construÁ„o tende ‡ abstraÁ„o.<br />
Assim, o segundo capÌtulo desta pesquisa busca compreender os dados da<br />
realidade da Comunidade de HeliÛpolis.<br />
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53
CAPÕTULO II<br />
HELI”POLIS: CAMINHOS DA OCUPA« O<br />
O propÛsito deste capÌtulo È analisar o processo de formaÁ„o da<br />
Comunidade de HeliÛpolis, em S„o Paulo, tida como a maior favela da cidade e<br />
segunda da AmÈrica Latina. Para tanto È necess·rio considerar que os processos<br />
que desencadearam o seu surgimento possuem raÌzes no prÛprio<br />
desenvolvimento da cidade de S„o Paulo, estando assim inserida neste processo<br />
histÛrico. Desta forma o capÌtulo aborda a constituiÁ„o da Comunidade de<br />
HeliÛpolis tendo como referencias os impasses e conflitos estabelecidos nas<br />
relaÁıes com as gestıes municipais em momentos histÛricos distintos, que foram<br />
as gestıes municipais de Reynaldo de Barros, M·rio Covas e J‚nio Quadros,<br />
considerando que estes trÍs momentos tiveram uma grande import‚ncia para a<br />
ocupaÁ„o, resistÍncia e organizaÁ„o dos moradores.<br />
Compreendemos que esta investigaÁ„o se desenvolve a partir das<br />
an·lises histÛricas e sociolÛgicas. Todo tipo de contradiÁ„o e conflito se<br />
estabelece nas cidades. A complexidade do contexto urbano faz muitas vezes<br />
afirmar que existem muitas cidades se inter-relacionando num mesmo espaÁo.<br />
No Brasil, existe uma relaÁ„o muito estreita entre as polÌticas urbanas<br />
(planejamento e gest„o urbana) e o desenvolvimento do capitalismo. Observa-se<br />
que tais polÌticas derivam das determinaÁıes do capital em nÌvel internacional,<br />
que influencia decisivamente tanto no planejamento urbano como na gest„o<br />
urbana 125 .<br />
125 Por planejamento urbano entende-se como uma atividade que remete ao futuro, como busca<br />
de prever a evoluÁ„o do fenÙmeno ou do processo urbano. Enquanto gest„o urbana remete ao<br />
presente, buscando administrar determinadas situaÁıes dentro de uma conjuntura especÌfica,<br />
tendo em vista os recursos e necessidades imediatas.<br />
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54
A Igreja Metodista em HeliÛpolis se constitui no contexto histÛrico de<br />
organizaÁ„o desta comunidade, por isso a relev‚ncia em elaborar<br />
preliminarmente a sua an·lise, neste capÌtulo, na direÁ„o de uma aÁ„o pastoral<br />
lit˙rgica que motive os movimentos populares para a transformaÁ„o social e a<br />
efetiva libertaÁ„o do ser humano.<br />
2.1. S„o Paulo: produÁ„o do espaÁo urbano<br />
S„o in˙meras as possibilidades de an·lises e compreens„o do espaÁo<br />
metropolitano, como analisa Silvana Maria Pintaudi, ìrealizar uma sÌntese sobre<br />
qualquer assunto relacionado com o espaÁo urbano das dimensıes de S„o Paulo<br />
È uma temeridade 126 î. A an·lise a ser feita aqui exige que se faÁa opÁıes de<br />
ordem metodolÛgica e histÛrica, com o objetivo de compreender os caminhos que<br />
levaram ‡ ocupaÁ„o da gleba de HeliÛpolis.<br />
N„o se pode perder de vista o fato de que as mudanÁas no modelo<br />
econÙmico, com o desenvolvimento industrial trouxeram novas caracterÌsticas<br />
para a paisagem urbana em S„o Paulo, que o esgotamento do padr„o perifÈrico<br />
na dÈcada de 1970 somados ao renascimento dos movimentos populares, que<br />
lutavam pela moradia, deram os rumos para que ocorresse a ocupaÁ„o, a<br />
resistÍncia e organizaÁ„o dos moradores de HeliÛpolis.<br />
Desta forma a compreens„o destes trÍs aspectos torna-se necess·ria para<br />
uma an·lise sobre as lutas pela moradia no HeliÛpolis.<br />
2.1.1. AlteraÁıes do paradigma econÙmico<br />
No processo de urbanizaÁ„o no Brasil destaca-se a mobilidade da<br />
populaÁ„o pelo territÛrio, possuindo como fator gerador as desigualdades<br />
econÙmicas e regionais presentes no paÌs. A urbanizaÁ„o da cidade de S„o Paulo<br />
126 PINTAUDI, Silvana Maria. S„o Paulo, do centro aos centros comerciais: uma leitura. In:<br />
CARLOS, Ana Fani A.; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino (orgs). S„o Paulo: Contexto, 2006, p. 213.<br />
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55
se insere no contexto de transferÍncia de recursos do setor agro-exportador para<br />
o setor industrial, uma mudanÁa no paradigma econÙmico, a cidade recebe uma<br />
parcela destes capitais, incentivando a industrializaÁ„o e tornando-se um pÛlo de<br />
atraÁ„o para grandes contingentes populacionais. Ao analisar este processo,<br />
L˙cia BÛgus observa que:<br />
56<br />
De fato, j· a partir dos anos 30, o Estado iniciava uma polÌtica de<br />
transferÍncia de recursos do setor agro-exportador para o setor<br />
industrial, passando tambÈm a regular a relaÁ„o capital-trabalho<br />
(...). o parque industrial nacional, localizado de forma concentrada<br />
no eixo Rio-S„o Paulo, passou a receber contingentes cada vez<br />
maiores de populaÁ„o oriunda do meio rural, onde a<br />
desagregaÁ„o das relaÁıes de trabalho, estabelecidas ‡ Època do<br />
cafÈ, ìempurravamî contingentes de trabalhadores para as ·reas<br />
urbanas 127 .<br />
Neste contexto econÙmico, nota-se a solidificaÁ„o da posiÁ„o hegemÙnica<br />
da cidade de S„o Paulo no ‚mbito nacional, transformando a cidade na mais<br />
importante ·rea de imigraÁ„o de todo o Brasil, j· nos anos 1930 128 . Esta<br />
capacidade de atraÁ„o exercida pela cidade n„o foi acompanhada na mesma<br />
proporÁ„o dos fatores necess·rios para receber este grande contingente que se<br />
deslocava em busca de oportunidades de trabalho e moradia. Desde muito cedo,<br />
houve uma separaÁ„o espacial da populaÁ„o de trabalhadores migrantes de<br />
baixa renda do restante da populaÁ„o. BÛgus argumenta ainda que,<br />
historicamente o que se observa È que:<br />
AtÈ os anos 30, S„o Paulo era uma cidade pouco segregada,<br />
embora com padrıes de segregaÁ„o bastante demarcados. Nesse<br />
sentido, havia uma discriminaÁ„o das ·reas habitadas por<br />
oper·rios em relaÁ„o ‡ localizaÁ„o dos serviÁos e da infraestrutura<br />
urbana. Eram ·reas de v·rzea, prÛximas ‡s f·bricas,<br />
onde havia as piores condiÁıes de serviÁo e transporte 129 .<br />
Desenvolve-se na cidade de S„o Paulo a partir de 1930, com o impulso<br />
da industrializaÁ„o, um processo de ocupaÁ„o do solo que nitidamente separa os<br />
cidad„os a partir da renda e ocupaÁ„o. … necess·rio, no entanto fazer uma<br />
observaÁ„o nesta an·lise, como adverte Milton Santos quando analisa as<br />
127 B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.). A luta pela cidade em S„o<br />
Paulo, S„o Paulo: Cortez, 1992, p. 29-30.<br />
128 Idem, p. 30.<br />
129 Idem, p. 30-31.<br />
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elaÁıes entre classe, renda e lugar. Ele faz uma primeira advertÍncia, quando<br />
nos chama a atenÁ„o para o fato de que primeiramente podem existir exceÁıes<br />
com o surgimento de algumas ·reas empobrecidas no interior de bairros que<br />
contam com boa infra-estrutura e equipamentos urbanos 130 .<br />
Ainda a partir das observaÁıes de Santos, constata-se que o fenÙmeno da<br />
segregaÁ„o espacial È bastante antigo, e que ao passo que h· desenvolvimento<br />
no processo de urbanizaÁ„o estas caracterÌsticas parecem mais claras aos olhos<br />
do observador. Este fenÙmeno È observado em todo o Brasil, mas È algo<br />
essencialmente urbano 131 , a segregaÁ„o espacial.<br />
Duas outras advertÍncias feitas por Santos, sobre as causas espaciais da<br />
pobreza È que ela: primeiramente est· ligada a uma certa organizaÁ„o do espaÁo<br />
que conduz a uma concentraÁ„o de riquezas em poucas m„os e a segunda se<br />
liga a impossibilidade de mobilidade devido ‡ extrema pobreza. No entanto adotar<br />
unicamente a an·lise espacialista tende a nos levar a conclusıes erradas sobre<br />
as causas da pobreza e conseq¸entemente os motivos de sua localizaÁ„o<br />
espacial 132 .<br />
Feitas estas observaÁıes, notamos que S„o Paulo, segregou os cidad„os<br />
que buscavam oportunidades na cidade, principalmente pela concentraÁ„o de<br />
riqueza, gerando bolsıes de pobreza ora nas periferias distantes ora nas<br />
proximidades do centro urbano, mas sempre orientados para atender os<br />
interesses do capital.<br />
As dÈcadas de 1930 e 1940 s„o consideradas chaves na compreens„o da<br />
organizaÁ„o do espaÁo urbano da cidade de S„o Paulo. A partir de 1930 a cidade<br />
se orienta para a expans„o das avenidas, baseando-se na ìpolÌtica de expans„o<br />
rodovi·riaî presente no paÌs. Desta polÌtica decorrem os planos de expans„o<br />
rodovi·ria e a abertura de novas vias 133 . O estado passa a propor tambÈm uma<br />
polÌtica habitacional, a partir das pressıes dos trabalhadores de baixa renda, que<br />
130<br />
SANTOS, Milton. O espaÁo do cidad„o, 4. ed.,S„o Paulo: Nobel, 1998, p.83.<br />
131<br />
Idem, p.84.<br />
132<br />
Idem, p.84-85.<br />
133<br />
B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.), op.cit., p. 32-33.<br />
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57
sentiam no orÁamento o peso habitaÁ„o e desejava obter a casa prÛpria, um bem<br />
considerado essencial para a elevaÁ„o das condiÁıes de vida e estabilidade<br />
social 134 .<br />
O contexto polÌtico deste perÌodo È o do estado getulista (1930-1945), que<br />
possuiu uma polÌtica trabalhista e social bastante singular, reprimindo as<br />
organizaÁıes que se encontravam fora do controle do Estado, e atraindo outras<br />
com propostas difusas 135 , inclusive no tocante ‡s polÌticas habitacionais.<br />
Movido pela press„o popular, em 1937 o Estado propıe a criaÁ„o das<br />
Carteiras Prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensıes (IAPs), uma<br />
tentativa bastante tÌmida de financiamento para a casa prÛpria. Esta iniciativa n„o<br />
ficou isenta do clientelismo e por vezes foi utilizada dentro da lÛgica populista em<br />
vigor. Apesar de insuficiente esta iniciativa gerou um novo padr„o de ocupaÁ„o do<br />
espaÁo na cidade de S„o Paulo, que aliado com a expans„o vi·ria orientou a<br />
ocupaÁ„o para as periferias da cidade, juntamente com a autoconstruÁ„o e a<br />
urbanizaÁ„o espont‚nea 136 .<br />
Conforme afirma J. A. Langenbuch,<br />
58<br />
A suburbanizaÁ„o residencial foi propiciada, em grande parte, pelo<br />
modo como se desenvolvia a cidade. EspeculaÁ„o imobili·ria<br />
exagerada expulsando, por assim dizer, uma parcela da<br />
populaÁ„o funcionalmente urbana para fora da cidade, e<br />
industrializaÁ„o junto ‡s ferrovias tornando vantajosa a fixaÁ„o<br />
residencial de oper·rios junto a estaÁıes externas ‡ cidade. (...) a<br />
suburbanizaÁ„o residencial abrange sobre tudo pessoas de<br />
categoria socioeconÙmica modesta 137 .<br />
Este processo de ocupaÁ„o da periferia, a periferizaÁ„o de S„o Paulo,<br />
torna-se ainda mais efetivo a partir dos anos 1940-50, e È acompanhado da<br />
grande expans„o vi·ria e em parte ferrovi·ria da cidade. Os loteamentos v„o se<br />
estabelecendo ao longo do trajeto das linhas de Ùnibus e trens, formando o que<br />
viriam ser mais tarde os bairros perifÈricos da cidade e parte da regi„o<br />
metropolitana. Este processo foi motivado principalmente pela populaÁ„o<br />
134 Idem, p. 30-31.<br />
135 FAUSTO, Boris. HistÛria do Brasil. S„o Paulo: EDUSP, 2003, p. 335.<br />
136 B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.), op.cit., p. 33.<br />
137 LANGENBUCH, J. A. A estrutura da Grande S„o Paulo. Rio de Janeiro, IBGE, 1971, p 136.<br />
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migrante, que ocupou as periferias de S„o Paulo, encontrando nestas periferias o<br />
final de uma longa trajetÛria na direÁ„o de melhores condiÁıes de vida, trabalho e<br />
renda 138 .<br />
Nota-se neste perÌodo o agravamento das condiÁıes de habitaÁ„o nos<br />
centros urbanos, obrigando os trabalhadores de baixa renda a buscar cada vez<br />
mais o Estado para o atendimento de suas reivindicaÁıes de moradia, que n„o<br />
eram atendidas satisfatoriamente, havendo desta maneira uma soluÁ„o para o<br />
dÈficit habitacional sem a intervenÁ„o e planejamento do Estado: a<br />
autoconstruÁ„o da moradia.<br />
2.1.2. Esgotamento do padr„o perifÈrico<br />
A urbanizaÁ„o da cidade de S„o Paulo ocorre dentro de um processo<br />
impulsionado pelas transformaÁıes econÙmicas dos anos 30 e 40, que orienta as<br />
polÌticas urbanas e de ocupaÁ„o do espaÁo dos anos 50 e 60, consolidando-se<br />
como processo nos anos 70. Podemos afirmar que a expans„o da periferia como<br />
a vemos configurada hoje, isto È, por toda regi„o metropolitana, ocorreu atÈ a<br />
dÈcada de 1970 139 .<br />
A expans„o populacional em direÁ„o ‡s ·reas perifÈricas da cidade,<br />
denominado padr„o perifÈrico, inicia um processo de esgotamento no final da<br />
dÈcada de 1970, e o que se passou a observar foi uma maior concentraÁ„o<br />
populacional nas ·reas centrais da capital. Houve uma maior concentraÁ„o da<br />
populaÁ„o em cortiÁos dos bairros centrais e favelas 140 prÛximas do centro.<br />
Quatro fatores dificultaram a expans„o populacional em direÁ„o ‡ periferia: 1. a<br />
138<br />
B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.), op.cit., p. 35.<br />
139<br />
Idem, p. 35.<br />
140<br />
De acordo com o IBGE, favela È um: ìAglomerado subnormal (favelas e similares) È um<br />
conjunto constituÌdo de no mÌnimo 51 unidades habitacionais, ocupando ou tendo ocupado atÈ<br />
perÌodo recente, terreno de propriedade alheia (p˙blica ou particular) disposta, em geral, de forma<br />
desordenada e densa, bem como carentes, em sua maioria, de serviÁos p˙blicos essenciais.î<br />
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÕSTICA ñ http://www.ibge.gov.br)<br />
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59
promulgaÁ„o da lei Lehman 141 , em 1979, que inibiu os loteamentos clandestinos;<br />
2. a crise econÙmica e perda do poder aquisitivo do trabalhador na dÈcada de<br />
1980; 3. a inflaÁ„o que atingia os preÁos dos materiais de construÁ„o; e 4. a<br />
dificuldade de crÈdito e ausÍncia de polÌticas habitacionais 142 . Com o<br />
esgotamento do padr„o perifÈrico, acelera-se a expans„o das favelas. ìO<br />
encarecimento dos lotes urbanos de um lado, dos transportes de outro, deve ter<br />
pressionado no sentido da favelizaÁ„o 143 î.<br />
Ao mesmo tempo em que o padr„o de expans„o perifÈrico, tende a<br />
diminuir, existem elementos que colaboram para afirmar que ele permanece<br />
ultrapassando inclusive os limites da cidade de S„o Paulo e incorporando<br />
periferias de outras cidades vizinhas, formando grandes ·reas de conurbaÁ„o 144 .<br />
Pode-se ent„o falar de duas ·reas distintas ocupadas pela populaÁ„o de<br />
baixa renda dentro da estrutura urbana: as periferias, onde a segregaÁ„o È mais<br />
evidente e a ausÍncia dos equipamentos p˙blicos se faz notar nitidamente para<br />
esta populaÁ„o; e as ·reas nas proximidades do centro, onde esta populaÁ„o vive<br />
aparentemente menos segregada ao menos fisicamente dos padrıes mÌnimos de<br />
cidadania, mas vivendo em permanente conflito com os interesses imobili·rios<br />
desta regi„o 145 .<br />
141 O Governo Federal, na tentativa de reverter o quadro de deterioraÁ„o urbana criou a lei n .<br />
6.766/79, conhecida tambÈm como lei Lehman.. a lei estabelece os padrıes urbanÌsticos<br />
necess·rios para aprovar a implantaÁ„o do loteamento urbano: drenagem de ·guas pluviais, redes<br />
de abastecimento de ·gua pot·vel e esgotamento sanit·rio, energia elÈtrica p˙blica e domiciliar e<br />
as vias de circulaÁ„o, pavimentadas ou n„o. (INSTITUTO P”LIS, Desenvolvimento urbano,<br />
http://www.polis.org.br/). A Lei Lehman È a conseq¸Íncia negativa do Movimento dos loteamentos<br />
clandestinos MLC em S„o Paulo, e levou ao quase total desaparecimento da modalidade<br />
ìloteamento popularî, por outro lado o movimento inibiu a especulaÁ„o imobili·ria e exploraÁ„o<br />
dos trabalhadores de baixa renda. (GOHN, Maria da GlÛria. HistÛria dos movimentos e lutas<br />
sociais, a construÁ„o da cidadania dos brasileiros. S„o Paulo: Loyola, 2003, p. 113).<br />
142 B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.), op.cit., p. 43.<br />
143 SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena: experiÍncias e lutas dos<br />
trabalhadores da grande S„o Paulo (1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 114.<br />
144 S„o extensas ·reas urbanas, que se formam no encontro das periferias das cidades.<br />
145 B”GUS, Lucia Maria M.; WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.), op.cit., p. 44-47.<br />
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2.1.3. As lutas populares por moradia<br />
As lutas por habitaÁ„o em S„o Paulo, se inserem dentro do contexto de<br />
demandas populares urbanas no Brasil. Na dÈcada de 1970 surgem in˙meros<br />
movimentos populares que possuÌam como pauta de reivindicaÁ„o questıes<br />
relacionadas ao problema da habitaÁ„o, uso do solo, serviÁos e equipamentos<br />
urbanos. Como, por exemplo, o Movimento das pastorais de periferia urbana em<br />
S„o Paulo, organizado pelo ent„o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns. Estas<br />
pastorais foram as primeiras manifestaÁıes de organizaÁ„o e mobilizaÁ„o popular<br />
dos grandes centros urbanos, que trabalham com uma populaÁ„o carente em<br />
plena ditadura militar no Brasil. Outro exemplo È o do Movimento dos<br />
Loteamentos Clandestinos (MLC), na dÈcada de 1970, em S„o Paulo, que surge<br />
como conseq¸Íncia direta da exploraÁ„o imobili·ria levada a cabo nos<br />
loteamentos clandestinos, que vendiam ·reas sem o tÌtulo de posse, e apÛs um<br />
longo financiamento e pagamento dos tributos p˙blicos, os propriet·rios<br />
descobriam a impossibilidade de regularizaÁ„o dos imÛveis 146 .<br />
Ainda na dÈcada de 1970 surge o Movimento das Favelas, em S„o Paulo e<br />
Belo Horizonte, com uma pauta de reivindicaÁıes que incluÌa inicialmente a<br />
implantaÁ„o de sistemas de saneamento b·sico, luz, instalaÁ„o de equipamentos<br />
urbanos, a reurbanizaÁ„o e finalmente a posse da terra. Deste movimento<br />
participam muitos religiosos, que foram respons·veis pela criaÁ„o de uma<br />
pastoral das favelas e pela organizaÁ„o de v·rios congressos. A partir das<br />
pressıes do movimento o Estado passou a negociar com as lideranÁas das<br />
favelas e surgem in˙meros projetos de urbanizaÁ„o, chegando atÈ mesmo a<br />
elaboraÁ„o de leis e regulamentaÁıes para o uso do solo, dentre elas o<br />
pagamento de tarifas diferenciadas e a lei de Direito Real de Uso 147 . Destacando<br />
146 GOHN, Maria da GlÛria. HistÛria dos movimentos e lutas sociais, a construÁ„o da cidadania dos<br />
brasileiros. S„o Paulo: Loyola, 2003, p. 110 - 163.<br />
147 Decreto Lei 271 ñ Art. 7 - ì… instituÌda a concess„o de uso de terrenos p˙blicos ou<br />
particulares, remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real<br />
resol˙vel, para fins especÌficos de urbanizaÁ„o, industrializaÁ„o, edificaÁ„o, cultivo da terra, ou<br />
outra utilizaÁ„o de interesse social.î<br />
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61
que esta lei foi elaborada com a participaÁ„o dos moradores das favelas e foi<br />
resultado de um longo processo de lutas com os donos das ·reas em litÌgio 148 .<br />
Sobre esta quest„o Maria da GlÛria Gohn comenta que:<br />
62<br />
O novo movimento dos favelados surge na dÈcada de 70<br />
estimulado pelos seguintes fatores: apoio da Igreja CatÛlica, que<br />
em 1976/1977 lanÁou programas de Pastorais ‡s favelas em<br />
algumas capitais brasileiras; o ressurgimento da vida associativa<br />
no paÌs, com emergÍncia das lutas urbanas, sindicais e o esboÁo<br />
da rearticulaÁ„o partid·ria; e a formulaÁ„o de novas polÌticas<br />
estatais voltadas n„o mais para a desfavelizaÁ„o mas para a<br />
reurbanizaÁ„o das favelas 149 .<br />
As pressıes populares da dÈcada de 1970 s„o respons·veis por in˙meras<br />
conquistas na polÌtica habitacional para os trabalhadores de baixa renda, e<br />
sinalizam uma mudanÁa nas polÌticas p˙blicas com a criaÁ„o, em 1979, do CNDU<br />
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano), que passa a ter a tarefa de<br />
elaborar planejamentos urbanos mais participativos, para Luiz Eduardo<br />
Wanderley, ìconsolida-se assim uma dada filosofia de aÁ„oî, esta filosofia de<br />
aÁ„o È marcada pela descentralizaÁ„o do planejamento e uma maior participaÁ„o<br />
popular 150 .<br />
Ao analisar este processo Wanderley afirma que:<br />
N„o obstante a natureza tecnicista e de exclus„o social que<br />
marcou os conte˙dos e as pr·ticas da polÌtica urbana desenhada<br />
e executada a nÌvel federal (sic),houve grupos e tÈcnicos, dentro<br />
dos aparelhos estatais, conscientes dos efeitos perversos<br />
engendrados pelos padrıes de urbanizaÁ„o e industrializaÁ„o que<br />
foram se configurando durante o regime militar 151 .<br />
Estes tÈcnicos foram juntamente com os grupos populares organizados os<br />
respons·veis para que houvesse uma participaÁ„o mais efetiva dos setores<br />
sociais na gest„o p˙blica 152 , isso em um ambiente polÌtico que impedia por<br />
diversos mecanismos a participaÁ„o dos mesmos. Dentre os segmentos da<br />
148<br />
GOHN, Maria da GlÛria, op.cit., p. 122.<br />
149<br />
GOHN, Maria da GlÛria. Movimentos sociais e luta pela moradia. S„o Paulo: Loyola, 1991, p.<br />
55.<br />
150<br />
B”GUS, Lucia Maria M. e WANDERLEY, Luiz Eduardo W. (orgs.). A luta pela cidade em S„o<br />
Paulo. S„o Paulo: Cortez, 1992, p. 55.<br />
151 Idem, p. 56<br />
152 Idem, p. 55-56<br />
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sociedade que deram apoio e assessoria aos movimentos por moradia,<br />
contribuindo para a formaÁ„o polÌtica e a pr·xis dos movimentos, destacam-se o<br />
clero catÛlico, algumas grupos protestantes, sindicalistas e profissionais<br />
liberais 153 .<br />
Observando a participaÁ„o destes grupos, Gohn afirma que:<br />
63<br />
A consciÍncia transformadora n„o se constrÛi espontaneamente, a<br />
partir meramente da existÍncia dos problemas. Ela se constrÛi no<br />
prÛprio processo das lutas. E observamos que nos movimentos<br />
sociais populares urbanos h· sempre elementos mais politizados<br />
que organizam as lutas e as mobilizam no cen·rio urbano 154 .<br />
A pr·xis, por assim dizer, dos movimentos que lutam por moradia se deu<br />
no campo de embates cotidianos com o poder p˙blico e privado e no di·logo com<br />
outros setores da sociedade que possuÌam como interesse comum a<br />
transformaÁ„o social, ou seja, justiÁa e o reconhecimento dos grupos oprimidos<br />
por uma lÛgica econÙmica que expropriava as pessoas de viver em condiÁıes<br />
dignas.<br />
Como sugere Luiz Antonio Falcoski 155 , È possÌvel afirmar que desde o<br />
inÌcio da dÈcada de 1970, j· existiam condiÁıes propÌcias para uma efetiva<br />
transformaÁ„o nas polÌticas p˙blicas, em especial sobre processos de<br />
urbanizaÁ„o e expans„o das ·reas perifÈricas urbanas. Tal condiÁ„o decorre<br />
principalmente do papel ativo e din‚mico desempenhado pelos movimentos<br />
populares que exerciam importante press„o na pauta de reivindicaÁıes e na<br />
formulaÁ„o das polÌticas urbanas e dos Planos Diretores.<br />
A dÈcada de 1970 apresenta ainda a absoluta falta de alternativas para a<br />
quest„o da habitaÁ„o, particularmente na cidade de S„o Paulo, com um dÈficit<br />
habitacional insustent·vel, tornando a ocupaÁ„o de terras urbanas, uma medida<br />
necess·ria como forma de solucionar a quest„o. Ao analisar o processo de<br />
ocupaÁ„o urbana, neste perÌodo, Arlete MoysÈs Rodrigues, observa que:<br />
153<br />
GOHN, Maria da GlÛria. Movimentos sociais e luta pela moradia. S„o Paulo: Loyola, 1991, p.<br />
57.<br />
154<br />
Idem, p. 57.<br />
155<br />
FALCOSKI, Luiz Antonio. ìEstatuto da cidade e do urbanismo: espaÁo e processo socialî. In:<br />
BRAGA, Roberto (org.). Estatuto da Cidade: polÌtica urbana e cidadania. Rio Claro/SP: UNESP,<br />
2000, p. 63.<br />
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64<br />
As ocupaÁıes ocorrem em bloco, ou seja, um certo n˙mero de<br />
famÌlias procura juntamente uma ·rea para instalar-se. Esta<br />
ocupaÁ„o da ·rea ocorre no mesmo dia para todo o grupo. As<br />
construÁıes, embora de responsabilidade de cada famÌlia<br />
ocupante, s„o realizadas em verdadeiros ìmutirıesî, em que as<br />
famÌlias que n„o contam com homens, s„o auxiliadas por<br />
outras 156 .<br />
Estes movimentos organizados pela populaÁ„o, obtiveram a assessoria de<br />
in˙meros agentes externos (Igrejas, Sindicatos, Partidos PolÌticos, etc.), que<br />
contribuÌram n„o somente para apropriaÁ„o do espaÁo para a moradia, mas<br />
tambÈm para organizar as pressıes necess·rias para a resistÍncia, regularizaÁ„o<br />
fundi·ria e as mudanÁas nas polÌticas urbanas, que se faziam tambÈm<br />
necess·rias.<br />
Na observaÁ„o de Falcoski, os movimentos sociais e populares urbanos<br />
conduzem as polÌticas urbanas para a superaÁ„o da noÁ„o tecnocr·tica,<br />
incorporando uma nova forma de planejamento urbano, com uma vis„o tÈcnico-<br />
polÌtica, destacando trÍs aspectos principais:<br />
Que o os planos diretores fossem instrumentos de reforma urbana,<br />
garantindo a funÁ„o social da cidade e da propriedade;<br />
Que os planos diretores tivessem um car·ter redistributivo, com um<br />
planejamento descentralizado; e.<br />
Que os planos diretores fossem instrumento de gest„o polÌtica da cidade<br />
com um planejamento participativo 157 .<br />
Em decorrÍncia desta participaÁ„o popular iniciada na dÈcada de 1970, È<br />
elaborada uma Carta de PrincÌpios no II FÛrum Nacional do Movimento Nacional<br />
de Reforma Urbana (MNRU), 1989, apÛs a promulgaÁ„o da constituiÁ„o de 1988,<br />
tida como ìa constituiÁ„o cidad„î, justamente por contemplar v·rias reivindicaÁıes<br />
oriundas dos movimentos populares. Esta carta ir· influenciar, em 1990, a<br />
proposiÁ„o do projeto de lei 5788, que favorece uma maior participaÁ„o no<br />
156 RODRÕGUEZ, Arlete MoisÈs. Moradia nas cidades brasileiras. S„o Paulo: Contexto, 2003, p.<br />
43.<br />
157 FALCOSKI, Luiz Antonio, op.cit.,p. 65.<br />
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planejamento urbano, com uma gest„o solid·ria e participativa, alÈm de apontar<br />
para elementos essenciais para uma efetiva reforma urbana 158 .<br />
Neste contexto as lutas pela moradia se organizam de diferentes modos,<br />
como se pode observar no quadro a seguir proposto por Maria da GlÛria Gohn. A<br />
observaÁ„o deste quadro nos permite notar que as lutas pela moradia em S„o<br />
Paulo se dividiam em diferentes categorias de moradores, que possuÌam lutas e<br />
reivindicaÁıes tambÈm diferentes, mas que contavam com uma base de<br />
assessoria relativamente comum. Estas assessorias contribuÌram, em certa<br />
medida, para a reflex„o necess·ria e o elevado grau de conscientizaÁ„o dos<br />
movimentos, entretanto devemos salientar que estes grupos de acessÛrias<br />
vivenciavam as lutas mais do ponto de vista teÛrico, n„o assumindo,<br />
necessariamente, os embates concretos que se davam no interior dos<br />
movimentos populares, o que levou a um certo distanciamento e independÍncia<br />
destes grupos por diferentes motivos: da Igreja onde os padres ìficaram no meio<br />
do caminho entre a moderna teologia da libertaÁ„o e a igreja tradicionalî; e dos<br />
partidos interessados nos movimentos como massa de manobra 159 .<br />
Assim, o quadro da luta pela moradia popular em S„o Paulo, entre 1976 a<br />
1986, revela a parte da complexidade que envolve a quest„o na cidade de S„o<br />
Paulo. Quando se observa, por exemplo, as diferentes categorias de moradores<br />
na cidade, se nota que existem ao menos 7 categorias diferentes, que por sua vez<br />
vivem situaÁıes tambÈm diversas, que levam a lutas, reivindicaÁıes, formas de<br />
atuaÁ„o e organizaÁ„o, muito particulares em cada grupo.<br />
As assessorias se dividem basicamente em trÍs grupos: 1. movimento de<br />
defesa do favelado, centro acadÍmico 22 de agosto e centro acadÍmico 11 de<br />
agosto, este grupo ir· priorizar a quest„o legal envolvendo os loteamentos<br />
clandestinos na cidade; 2. agentes pastorais e igrejas, funcion·rios da c‚mara<br />
municipal, comiss„o de justiÁa e paz, movimento de defesa do favelado, partidos<br />
polÌticos e sindicatos, a atenÁ„o destes agentes externos ir· recair sobre os<br />
moradores das favelas, conjuntos habitacionais e cortiÁos, e 3. agentes pastorais<br />
158 Idem, ibid.<br />
159 GOHN, Maria da GlÛria. Movimentos sociais e luta pela moradia. S„o Paulo: Loyola, 1991, p.<br />
53-54.<br />
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e igrejas, FASE (FederaÁ„o de Ûrg„os para assistÍncia social e educacional),<br />
arquitetos autÙnomos e INFORMAR.<br />
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66
Luta Por moradia Popular ñ Quadro p. 161<br />
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As lutas por moradia popular na cidade de S„o Paulo, se articularam em<br />
diversas frentes, e tiveram a contribuiÁ„o da igreja, dos partidos polÌticos e alguns<br />
agentes que atuavam no interior dos governos, como È possÌvel notar no quadro<br />
anterior. A organizaÁ„o da luta por moradia teve pelo menos cinco modos<br />
diversos:<br />
Lutas pelo acesso a terra e ‡ habitaÁ„o, que organizaram uma sÈrie de<br />
ocupaÁıes, e que se inspiraram nos Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem<br />
Terra;<br />
Lutas pela posse da terra, que s„o as lutas mais antigas pela regularizaÁ„o<br />
da posse da terra, dentre elas se destacaram o PROMORAR, com o apoio Igreja<br />
e do Partido dos Trabalhadores e o Movimento em defesa dos favelados, com o<br />
apoio da Igreja e da Frente Nacional do Trabalho;<br />
Lutas no ‚mbito dos processos construtivos, que foram aquelas que<br />
giraram em torno da necessidade de construÁ„o de habitaÁıes populares como<br />
forma de sair do aluguel, estas lutas organizaram uma sÈrie de cooperativas de<br />
construÁ„o de ajuda m˙tua e autogest„o, organizaram-se muitos mutirıes de<br />
construÁ„o;<br />
Lutas dos inquilinos, que foram as lutas travadas pelos moradores dos<br />
cortiÁos, que gerou o Movimento dos sem casa;<br />
Lutas dos propriet·rios pobres, que foi a luta daqueles que adquiriram<br />
terrenos das m„os de grileiros e se viram na impossibilidade de legalizar a posse<br />
ou ainda daqueles que adquiriram do poder p˙blico (COHAB e PROMORAR) e<br />
tambÈm n„o obtiveram tÌtulo de posse definitiva 160 .<br />
A complexidade da organizaÁ„o espacial na cidade de S„o Paulo atende ‡<br />
lÛgica da urbanizaÁ„o coorporativa, com uma cidade que vive a contradiÁ„o de<br />
ser espaÁo para humanos, mas que serve aos interesses econÙmicos e<br />
financeiros e n„o a sociedade, È o que Santos denomina de ìespaÁos sem<br />
160 Idem, p. 61-67.<br />
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cidad„os 161 î. A luta pela moradia e os in˙meros choques com os interesses<br />
conflitantes da especulaÁ„o imobili·ria, est· inserida na luta pela conquista da<br />
cidadania.<br />
ApÛs estas consideraÁıes iniciais sobre a organizaÁ„o do espaÁo na<br />
cidade de S„o Paulo e as lutas sociais por moradia, vamos analisar<br />
especificamente a constituiÁ„o da favela de HeliÛpolis, que se insere nas lutas por<br />
moradia e cidadania na cidade. Trata-se da segunda maior favela do Brasil e uma<br />
das maiores da AmÈrica Latina.<br />
2.2. A Comunidade de HeliÛpolis: caracterÌsticas fÌsicas e<br />
humanas<br />
HeliÛpolis esta situada na regi„o Sudeste da cidade de S„o Paulo,<br />
pertencente ‡ subprefeitura do Ipiranga, que possui uma populaÁ„o residente<br />
prÛxima de 300.000 pessoas 162 . A comunidade faz limites com as cidades de S„o<br />
Bernardo do Campo e S„o Caetano do Sul 163 .<br />
Atualmente a ·rea pertence a COHAB (Companhia Metropolitana de<br />
HabitaÁ„o de S„o Paulo), e possui aproximadamente 950.000 metros quadrados<br />
(do tamanho do Parque do Ibirapuera), que s„o divididos em duas ·reas pela<br />
Avenida Almirante Delamare (conforme mapa que segue do complexo HeliÛpolis<br />
ñ S„o Jo„o ClÌmaco, na prÛxima p·gina). A maior possui cerca de 840.000 m 2 e a<br />
menor 110.000 m 2 .<br />
Os trabalhadores residentes em HeliÛpolis s„o em sua grande maioria<br />
assalariados (73,25%), principalmente oper·rios de metal˙rgicas que se<br />
161 SANTOS, Milton. O espaÁo do cidad„o. 4 ed. S„o Paulo: Nobel, 1998, p. 43-44.<br />
162 PMSP / NotÌcias. Prefeito visita HeliÛpolis e anuncia regularizaÁ„o de moradias em toda a<br />
cidade. S„o Paulo, 05/01/2006. http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/<br />
163 LIMA. Carlos Franco. A religi„o popular: uma pesquisa-aÁ„o sobre aspectos da religi„o dos<br />
trabalhadores de HeliÛpolis. S„o Paulo, PUC-SP, 1994. DissertaÁ„o de Mestrado em CiÍncias<br />
Sociais, p.18.<br />
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69
encontram no entorno (S„o Bernardo do Campo, S„o Caetano do Sul e S„o<br />
Paulo). Os trabalhadores autÙnomos (10,56%) s„o constituÌdos por pequenos<br />
comerciantes do bairro e trabalhadores da construÁ„o civil 164 . Destaca-se<br />
inclusive no n˙cleo da Mina um pequeno Shopping Center e o ìMec Favelaî (Cf.:<br />
foto a seguir), uma lanchonete, que de acordo com LaÌs Fonseca (assessora de<br />
comunicaÁ„o da UNAS), faz muito sucesso entre os moradores.<br />
Lanchonete Mec favela<br />
Quanto · origem da populaÁ„o residente em HeliÛpolis, constata-se que a<br />
grande maioria È formada por migrantes, o que constata a observaÁ„o feita por<br />
Eder Sader que afirma que na dÈcada de 1970 aproximadamente 70% da<br />
populaÁ„o economicamente ativa da cidade de S„o Paulo era formada por<br />
pessoas que haviam passado por situaÁ„o de migraÁ„o, e que deste contingente<br />
35% havia chegado em S„o Paulo a menos de 10 anos 165 .<br />
Pela observaÁ„o da tabela a seguir, È possÌvel constatar que a Regi„o<br />
Nordeste È de onde se origina a grande maioria da populaÁ„o de HeliÛpolis.<br />
164 LIMA. Carlos Franco. op.cit., p.18.<br />
165 SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena: experiÍncias e lutas dos<br />
trabalhadores da grande S„o Paulo (1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 88.<br />
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70
Origem da PopulaÁ„o residente em HeliÛpolis<br />
Origem Percentual<br />
Regi„o Nordeste 73%<br />
S„o Paulo 21%<br />
Minas Gerais 3%<br />
Paran· 2,5%<br />
Mato Grosso 0,5%<br />
Fonte: LIMA. Carlos Franco 1994.<br />
O nÌvel de escolarizaÁ„o È baixo entre os moradores de HeliÛpolis, quando<br />
comparados aos dados gerais fornecidos pelo INEP, que aponta, por exemplo,<br />
uma taxa de 28% para a conclus„o da 8 sÈrie enquanto em HeliÛpolis esta taxa È<br />
de 4,5%, como È possÌvel observar na tabela abaixo.<br />
Grau de Escolaridade em HeliÛpolis<br />
Escolaridade Percentual<br />
N„o freq¸entou escola 13%<br />
1 a 4 sÈrie incompleta 35%<br />
5 a 8 sÈrie incompleta 37%<br />
Ensino fundamental completo 4,5%<br />
Ensino mÈdio completo 10 %<br />
Fonte: LIMA. Carlos Franco.<br />
A populaÁ„o residente na Comunidade de HeliÛpolis, se caracteriza como<br />
sendo constituÌdos por migrantes (nordestinos em sua maioria), trabalhadores<br />
assalariados e com um grau de escolaridade abaixo da mÈdia da cidade, o que os<br />
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71
coloca numa situaÁ„o de precariedade tambÈm em suas relaÁıes de trabalho e<br />
renda.<br />
No mapa que segue, do Complexo HeliÛpolis ñ S„o Jo„o ClÌmaco, È<br />
possÌvel notar a falta de planejamento urbano na ocupaÁ„o da ·rea, devido ‡<br />
irregularidade no traÁado das vias p˙blicas. Duas vias p˙blicas s„o fundamentais<br />
para a circulaÁ„o no complexo HeliÛpolis: a Estrada das L·grimas e a Avenida<br />
Almirante Delamare, que faz a ligaÁ„o entre as cidades de S„o Paulo e S„o<br />
Caetano do Sul.<br />
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72
Mapa do Complexo HeliÛpolis - S„o Jo„o ClÌmaco 166 .<br />
166 Mapa adaptado pelo autor. SAMPAIO, Maria Ruth Amaral. HeliÛpolis, o percurso de uma<br />
invas„o. S„o Paulo, FAU/USP, Tese de Livre DocÍncia, 1990, p.142.<br />
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73
afirma que:<br />
Ao se referir ‡ localizaÁ„o da Comunidade de HeliÛpolis Ev‚nio Branquinho<br />
74<br />
HeliÛpolis tem uma localizaÁ„o privilegiada, pois est· a cerca de<br />
dez quilÙmetros do centro da cidade, prÛximo ‡s concentraÁıes<br />
industriais de S„o Caetano do Sul e do inÌcio da Via Anchieta,<br />
contando com v·rios corredores de circulaÁ„o e um entorno com<br />
uma boa infra-estrutura e serviÁos p˙blicos, sobretudo no<br />
Ipiranga 167 .<br />
Destaca-se o fato de que a infra-estrutura de que fala Branquinho se<br />
encontra nos arredores da comunidade, n„o existindo no seu interior<br />
equipamentos p˙blicos como escolas e creches, devido ‡ falta de regularizaÁ„o<br />
da ·rea o que de acordo com as associaÁıes de moradores È um entrave para a<br />
cidadania efetiva de seus moradores.<br />
N„o existe hoje nenhuma contribuiÁ„o por parte do poder p˙blico na<br />
construÁ„o das casas. As construÁıes s„o realizadas t„o somente pela pr·tica<br />
dos moradores, neste aspecto adverte LaÌs Fonseca, assessora de comunicaÁ„o<br />
da UNAS, ìexistem casas em condiÁıes prec·rias de construÁ„o 168 î.<br />
2.2.1. A comunidade de HeliÛpolis: luta por moradia e regularizaÁ„o<br />
fundi·ria<br />
A comunidade de HeliÛpolis se insere de forma muito particular nas lutas<br />
pela moradia na cidade de S„o Paulo, ela surge no contexto das lutas mais gerais<br />
dos trabalhadores de baixa renda e È resultado do descaso do poder p˙blico<br />
aliado ‡ lÛgica da urbanizaÁ„o coorporativa. HeliÛpolis n„o surge como uma<br />
ocupaÁ„o espont‚nea, mas È resultado de uma pr·tica herdada dos governos<br />
autorit·rios, que transferia grandes contingentes populacionais visando atender<br />
167 BRANQUINHO, Ev‚nio dos Santos. Do HigienÛpolis ao HeliÛpolis: fragmentos urbanos de uma<br />
metrÛpole e a sua (crise de) identidade. DissertaÁ„o de Mestrado. S„o Paulo, FFLCH-USP, 2001,<br />
p. 141.<br />
168 Entrevista realizada no dia 03 de outubro de 2006, na sede da UNAS. Rua da Mina, 38.<br />
HeliÛpolis ñ SP<br />
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aos interesses da especulaÁ„o imobili·ria. Assim, o percurso da ocupaÁ„o da<br />
·rea onde hoje se localiza a comunidade de HeliÛpolis deve ser feito<br />
cuidadosamente para que seja possÌvel compreender a comunidade, que ainda<br />
n„o conquistou sua cidadania plena e ainda luta para se tornar um bairro, obter a<br />
regularizaÁ„o fundi·ria 169 e a posse definitiva do solo.<br />
A Comunidade de HeliÛpolis, como È denominada por seus moradores, È<br />
resultado de diferentes fatores, o primeiro deles foi a aÁ„o direta da Prefeitura da<br />
Cidade de S„o Paulo, que entre os anos de 1971/72 , realizou a transferÍncia dos<br />
moradores de outras duas favelas da cidade: a de Vila Prudente e a de Vergueiro.<br />
Ambas para liberar as ·reas para a construÁ„o de obras p˙blicas. Os moradores<br />
destas duas favelas formam o primeiro n˙cleo de moradores de HeliÛpolis, que<br />
foram transferidos para alojamentos provisÛrios, eram aproximadamente 160<br />
famÌlias 170 .<br />
A ·rea onde se localiza HeliÛpolis, pertencia na dÈcada de 1970 ao IAPAS<br />
(Instituto de AdministraÁ„o e PrevidÍncia e AssistÍncia Social), que construiu o<br />
Hospital de HeliÛpolis, inaugurado em abril de 1969. ApÛs sua inauguraÁ„o os<br />
arredores foram sendo ocupados por muitos oper·rios que haviam trabalhado na<br />
construÁ„o do Hospital, o que caracteriza um segundo movimento de ocupaÁ„o<br />
da ·rea. Concomitantemente, iniciava um processo de grilagem da terra 171 , nas<br />
proximidades da Estrada das L·grimas, uma das principais via de acesso da<br />
·rea 172 .<br />
169<br />
As favelas, por se localizarem em ·reas p˙blicas ou privadas sem uso, e por n„o observarem o<br />
que prevÍ a legislaÁ„o urbana (especialmente a Lei federal 6.766, de 1979, que aborda a quest„o<br />
do parcelamento e do uso do solo urbano), necessitam de regularizaÁ„o fundi·ria, para se<br />
adequar ‡ lei. Esta regularizaÁ„o possui v·rios elementos: garantia formal de permanÍncia<br />
(desapropriaÁ„o e distribuiÁ„o de tÌtulos), realizaÁ„o de melhorias na infra-estrutura urbana, etc.<br />
(SOUZA, Marcelo L.; RODRIGUES, Glauco B. Planejamento urbano e ativismos sociais. S„o<br />
Paulo: UNESP, 2004, p. 125)<br />
170<br />
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral. HeliÛpolis, o percurso de uma invas„o. S„o Paulo:FAU/USP,<br />
Tese de Livre DocÍncia, 1990, p. 29.<br />
171<br />
O Termo se refere originalmente ‡ falsificaÁ„o de escrituras de posse onde eram utilizados os<br />
excrementos dos grilos para dar aos papeis a impress„o de antigos. S„o aos mecanismos<br />
utilizados por pessoas ou empresas para venderem terras alheias com a apresentaÁ„o de<br />
documentos de posse forjados. A aÁ„o dos grileiros est· quase sempre associada ‡ violÍncia<br />
como forma de garantia do domÌnio sobre a ·rea por eles controlada.<br />
172<br />
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral, op.cit., p. 30-32.<br />
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75
maneira:<br />
Maria Ruth Amaral de Sampaio descreve este momento da seguinte<br />
76<br />
Quando o IAPAS se deus conta, a ocupaÁ„o da gleba j· era uma<br />
realidade, e a soluÁ„o adotada foi impetrar uma sÈrie de<br />
reintegraÁıes de posse contra os grileiros e demais ocupantes da<br />
gleba.<br />
Data daÌ a organizaÁ„o da populaÁ„o moradora, que nessa<br />
ocasi„o j· estava comeÁando a reivindicar serviÁos de ·gua e<br />
luz 173 .<br />
J· haviam se passado cinco anos, (1977), desde que as famÌlias<br />
deslocadas das favelas de Vila Prudente e Vergueiro tinham chegado ao<br />
HeliÛpolis, e os problemas se avolumavam: a violÍncia dos grileiros, a falta de<br />
saneamento b·sico e de infra-estrutura mÌnima para atender aos moradores d·<br />
origem ‡s organizaÁıes de diversos n˙cleos na comunidade 174 .<br />
2.2.2. HeliÛpolis e o poder p˙blico municipal<br />
Analisando a evoluÁ„o histÛrica da cidade de S„o Paulo, nota-se que as<br />
primeiras favelas surgiram na dÈcada de 1940, de modo muito esparso, nos<br />
bairros da Mooca, Vila Prudente e Lapa. Em 1957 existiam aproximadamente 50<br />
mil pessoas residentes em 141 favelas. Entretanto o fenÙmeno da favelizaÁ„o sÛ<br />
ir· se desenvolver de fato em S„o Paulo a partir da dÈcada de 1970, chegando<br />
em 1973/74 a uma populaÁ„o de 72 mil pessoas residentes em 541 favelas, algo<br />
em torno de 1,1% da populaÁ„o do municÌpio de S„o Paulo. Em 1980, com<br />
dados obtidos junto ‡ Eletropaulo, constata-se que a populaÁ„o residente em<br />
favelas no municÌpio j· alcanÁara 439.721 pessoas, ou seja, 5,2% da populaÁ„o<br />
municipal. TambÈm em 1980, foi realizado pela primeira vez o levantamento de<br />
173 Idem, p. 32.<br />
174 Idem, p. 33.<br />
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dados no Censo Demogr·fico que analisaram a populaÁ„o das favelas como<br />
categoria especÌfica 175 .<br />
Os dados atuais indicam que 11,2% da populaÁ„o da cidade de S„o Paulo<br />
vivem em favelas, s„o 1.200.000 pessoas residindo em aproximadamente 2020<br />
favelas espalhadas pelo municÌpio. Um contingente populacional consider·vel,<br />
ainda mais quando se considera que a taxa de crescimento desta populaÁ„o È<br />
atualmente da ordem de 3% ao ano, tendo sido nos anos 1980-90 a ser de 7% ao<br />
ano 176 .<br />
PopulaÁ„o residentes em<br />
favelas no municÌpio de S„o<br />
Paulo (1957 ñ 2005)<br />
PopulaÁ„o<br />
1.7.3. Ano<br />
1957 50.000<br />
1973 72.000<br />
1980 409.120<br />
1987 812.764<br />
1991 891.673<br />
2000 1.160.590<br />
2005 1.200.000<br />
Fontes: IBGE, PMSP, PRODAM e<br />
secretaria de habitaÁ„o e<br />
desenvolvimento humano<br />
Ao abordar a histÛria de HeliÛpolis È necess·rio observar mais<br />
atentamente como o poder p˙blico se relacionou com a comunidade nos anos<br />
que se seguiram a ocupaÁ„o. O que se ressalva atÈ aqui foi o fato de que seus<br />
habitantes foram ali inseridos sem que houvesse qualquer preocupaÁ„o com a<br />
infra-estrutura e os que vieram posteriormente o fizeram sem nenhum plano de<br />
ocupaÁ„o e urbanizaÁ„o, desta forma em poucos anos se formava a maior favela<br />
175 PASTERNAK. Suzana, EspaÁo e PopulaÁ„o nas Favelas de S„o Paulo. USP/FAU. Trabalho<br />
apresentado no XIII Encontro da AssociaÁ„o Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em<br />
Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.<br />
http://www.abep.nepo.unicamp.br/<br />
176 PMSP. Secretaria de habitaÁ„o e desenvolvimento urbano / PMSP e PRODAM. Base de dados<br />
digital do municÌpio de S„o Paulo. 2000.<br />
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do Estado de S„o Paulo e segunda do Brasil, com a absoluta ausÍncia de um<br />
planejamento urbano.<br />
2.2.3. HeliÛpolis na gest„o Reynaldo de Barros (1979 ñ1983)<br />
Desde o inÌcio do governo o prefeito Reynaldo de Barros sinalizou, em seu<br />
plano de governo que a polÌtica econÙmica conduzida pelos governos estatuais e<br />
federais inviabilizava o desenvolvimento urbano de s„o Paulo, quando incentiva o<br />
processo de descentralizaÁ„o industrial e a diminuiÁ„o da oferta de empregos,<br />
sem conter a migraÁ„o para a cidade. O prefeito advertia da seguinte forma em<br />
seu plano de governo: ìesse processo poder· produzir tensıes sociais de difÌcil<br />
controle 177 î. Chama-nos atenÁ„o o fato de que ao caracterizar a infra-estrutura da<br />
cidade de S„o Paulo no inÌcio dos anos 1980, o mesmo plano de governo<br />
apontava para as carÍncias significativas da cidade, com 50% da cidade sem<br />
iluminaÁ„o p˙blica, uma rede de esgoto que atingia somente 40% dos habitantes<br />
e graves deficiÍncias nos serviÁos p˙blicos essenciais como transportes, limpeza<br />
urbana e comunicaÁıes 178 .<br />
S„o Paulo, experimentava nos anos 1980 suas grandes contradiÁıes, a de<br />
ao mesmo tempo ser uma cidade com um consider·vel grau de desenvolvimento<br />
econÙmico 179 e abrigar sÈrios problemas sociais como a falta de moradia. Soma-<br />
se a isso que os investimentos na melhoria urbana eram feitos principalmente nas<br />
regiıes centrais da cidade e bairros mais valorizados, justamente de onde a<br />
populaÁ„o pobre era expulsa 180 . Este contexto reafirma a idÈia de uma<br />
urbanizaÁ„o coorporativa, em que, por exemplo, a construÁ„o das vias p˙blicas<br />
177 BARROS, Reynaldo E. Plano de governo. PMSP. 1980. In: SAMPAIO, Maria Ruth Amaral.<br />
HeliÛpolis, o percurso de uma invas„o. S„o Paulo: FAU/USP, Tese de Livre DocÍncia, 1990, pp.<br />
44-45.<br />
178 SAMPAIO, Maria Ruth Amaral, op.cit., p. 45.<br />
179 Entre os anos 1979 ñ 1980, o Brasil vivia sÈrios problemas econÙmicos, com taxas de juros e<br />
inflaÁ„o elevadÌssimas. O paÌs passa a contrair uma sÈrie de emprÈstimos agravando ainda mais<br />
a crise e em 1980, tendo Delfin Neto ‡ frente do ministÈrio da fazenda o Brasil passa a viver um<br />
momento de grave estagnaÁ„o econÙmica, que levou ‡ recess„o de 1981 ñ 1983, com PIB<br />
negativo e declÌnio da renda dos trabalhadores como n„o se via desde a crise de 1929.<br />
(FAUSTO. Boris. HistÛria do Brasil. S„o Paulo: EDUSP, 2003, p. 502.)<br />
180 SAMPAIO, Maria Ruth Amaral, op.cit., p. 45-46.<br />
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atendia aos interesses imobili·rios mesmo que para isso moradores tivessem que<br />
ser deslocados ou expulsos da ·rea.<br />
O governo de Reynaldo de Barros, fiel ‡ heranÁa populista de direita de<br />
Ademar de Barros (seu tio), iniciou definindo como prioridade a soluÁ„o dos<br />
problemas de moradia de S„o Paulo, num momento em que a cidade contava<br />
com aproximadamente 400.000 pessoas morando em favelas. Com a finalidade<br />
de executar suas intenÁıes, o prefeito cria por decreto (decreto lei n . 16.100/79)<br />
os Conselhos Comunit·rios, no segundo semestre de 1979, com essa medida a<br />
prefeitura pretendia se aproximar das lideranÁas comunit·rias interlocutoras das<br />
demandas da populaÁ„o, o que na realidade tratava-se de uma tentativa de<br />
cooptaÁ„o das lideranÁas travestida de participaÁ„o popular. TambÈm, ìa<br />
intenÁ„o de atender as classes mais carentes, sem d˙vida fazia parte da<br />
estratÈgia do futuro candidato para chegar Pal·cio dos Bandeirantes 181 î, sede do<br />
governo do Estado de S„o Paulo, os Conselhos Comunit·rios atendiam<br />
certamente estes interesses tambÈm.<br />
Os movimentos sociais em todo o Brasil se fortaleciam, e passavam pela<br />
tentativa de cooptaÁ„o e controle por parte dos governos, houve um grande<br />
aumento dos sindicatos e federaÁıes de trabalhadores, surgem v·rias lideranÁas<br />
combativas influenciadas pelas pastorais criadas pela Igreja CatÛlica, como a<br />
CPT (Comiss„o Pastoral da Terra). Na regi„o metropolitana de S„o Paulo, os<br />
trabalhadores se organizam e h· um fortalecimento da suas lutas, o que abriu o<br />
caminho para as in˙meras greves que se realizaram, em 1979, cerca de 3,2<br />
milhıes de trabalhadores entrou em greve no paÌs e ocorreram mais de vinte<br />
paralisaÁıes de professores 182 .<br />
Reynaldo de Barros, tendo diante do governo municipal as pressıes<br />
populares para atender as reivindicaÁıes dos moradores das favelas, implanta em<br />
setembro 1979 um programa de urbanizaÁ„o de favelas, o PrÛ-Favela, que incluÌa<br />
n„o sÛ a urbanizaÁ„o, com as melhorias de condiÁıes de habitaÁ„o (luz, esgoto,<br />
·gua e limpeza urbana), mas tambÈm o desenvolvimento do trabalho social na<br />
181 Idem, p. 46<br />
182 FAUSTO. Boris, op.cit., p. 499-500.<br />
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·rea. No entanto este programa de urbanizaÁ„o n„o se destinava a todas as<br />
favelas da cidade, ele somente se aplicava onde existissem condiÁıes jurÌdicas,<br />
fÌsicas e sociais permitissem o seu desenvolvimento operacional, o que restringia<br />
um grande n˙mero de ·reas ocupadas pelos trabalhadores de baixa renda. A<br />
regularizaÁ„o da posse e uma definiÁ„o jurÌdica tornavam-se uma necessidade<br />
para que o programa fosse implantado maciÁamente, o que n„o ocorreu, o PrÛ-<br />
Favela atendeu somente 3,4% do total dos moradores de favelas. O PrÛ-Favela<br />
visava muito mais fortalecer o nome de Reynaldo de Barros a candidato a<br />
sucess„o de Paulo Maluf no governo do Estado de S„o Paulo, do que<br />
necessariamente solucionar o problema de moradia na cidade 183 .<br />
A organizaÁ„o popular tendia a crescer na medida em que os problemas<br />
n„o eram resolvidos e tratados com seriedade, aliada as insatisfaÁıes populares<br />
e uma maior intensificaÁ„o das aÁıes das Igrejas, principalmente atravÈs das<br />
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e uma parcela de membros de Igrejas<br />
Protestantes. Esta situaÁ„o levou ‡ organizaÁ„o do I Encontro Nacional Contra a<br />
Carestia e direitos humanos, em 1979. Em agosto do mesmo ano tem inicio as<br />
atividades do Movimento das favelas de S„o Paulo, que reunia 70 favelas da<br />
Regi„o Sul. Deste movimento saem muitas reivindicaÁıes que chegam atÈ a<br />
prefeitura atravÈs de in˙meros atos p˙blicos em frente ‡ prefeitura, a press„o<br />
exercida pelo Movimento das Favelas, leva o Prefeito Reynaldo de Barros a<br />
declarar novamente apoio ao povo mais sofrido, como estratÈgia de neutralizar a<br />
organizaÁ„o popular, como salienta Sampaio:<br />
80<br />
Na gest„o Reynaldo de Barros, falava-se muito em ìparticipaÁ„oî,<br />
mas o termo tinha conotaÁ„o particular. N„o significava tomar<br />
parte no projeto e nem significava opinar, escolher, discutir, poder<br />
alterar, influir no projeto em seu todo ou nas partes 184 .<br />
A real participaÁ„o que a prefeitura propunha tinha o sentido de cooptaÁ„o<br />
das lideranÁas, e se preciso fosse com a troca de favores e ofertas de emprego.<br />
Esta forma de ìparticipaÁ„oî acontecia em todos os programas da prefeitura.<br />
183 SAMPAIO, Maria Ruth Amaral. op.cit., p. 46.<br />
184 Idem, p. 52.<br />
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A Comunidade de HeliÛpolis na gest„o de Reynaldo de Barros, n„o<br />
obstante j· contar com certo grau de organizaÁ„o popular, por meio da Comiss„o<br />
de Moradores, recebeu ainda menos atenÁ„o por parte da prefeitura, por estar<br />
localizada em propriedade do Governo Federal, o IAPAS. A comunidade recebeu<br />
algum auxilio dos programas municipais PrÛ-luz e PrÛ-·gua, que eram as<br />
principais reivindicaÁıes da Comiss„o de Moradores naquele momento. A<br />
instalaÁ„o de redes de ·gua e luz teve inÌcio em 1982. E Em 1983 o IAPAS<br />
conseguiu a reintegraÁ„o da ·rea na justiÁa, causando uma enorme inquietaÁ„o<br />
entre os moradores, o que levou as lideranÁas a uma nova reivindicaÁ„o: a<br />
regularizaÁ„o da posse do solo 185 .<br />
A soluÁ„o proposta na Època foi a doaÁ„o da gleba para a Prefeitura do<br />
MunicÌpio de S„o Paulo, com a finalidade de promover a urbanizaÁ„o da favela e<br />
regularizaÁ„o da propriedade, o que n„o acontece na gest„o de Reynaldo de<br />
Barros e sÛ vem a ser retomada na gest„o seguinte de Mario Covas.<br />
2.2.4. HeliÛpolis na gest„o Mario Covas (1983-1986):<br />
A gest„o Mario Covas inicia com uma polÌtica habitacional com base no<br />
mutir„o por ajuda m˙tua, o que levou ‡ construÁ„o de 430, moradias neste<br />
moldes, durante os quatro anos de mandato. O novo prefeito, manifestou no<br />
documento conhecido como ìCarta de S„o Pauloî, que ele compreendia que os<br />
problemas habitacionais da cidade eram essencialmente uma quest„o de renda, o<br />
que ocasionava um dÈficit de mais de 8 milhıes habitaÁıes, somando-se a esse<br />
fato a corrupÁ„o no Sistema Financeiro de HabitaÁ„o (SFH), que levava o Estado<br />
brasileiro a financiar habitaÁ„o para as classes altas. Covas ent„o defendia que<br />
os recursos p˙blicos deveriam ser empregados exclusivamente para programas<br />
sociais sob responsabilidade da COHAB 186 .<br />
185 Idem, p. 55.<br />
186 Idem, p. 57-59.<br />
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O Plano Habitacional na gest„o M·rio Covas definia como meta a<br />
urbanizaÁ„o de 150 mil lotes, especialmente em ·reas de propriedade p˙blica<br />
(quadro em que se encontrava HeliÛpolis), e previa investimentos p˙blicos e<br />
privados, alÈm da criatividade dos moradores nos mutirıes. O Plano mantinha<br />
elementos da gest„o anterior como a necessidade de condiÁıes jurÌdicas, fÌsicas<br />
e sociais para a realizaÁ„o de projetos de urbanizaÁ„o. Entretanto, avanÁava na<br />
direÁ„o de uma participaÁ„o popular mais eficiente, possibilitando um canal de<br />
di·logo com a populaÁ„o organizada 187 .<br />
HeliÛpolis durante a gest„o de M·rio Covas, ainda convivia com as aÁıes<br />
dos grileiros e a violÍncia gerada por eles para garantir o domÌnio sobre a ·rea,<br />
que possuÌa aproximadamente 1917 moradias de madeira cadastradas e a<br />
contÌnua chegada de novos moradores. A comunidade recebeu uma atenÁ„o, por<br />
parte da prefeitura, que atÈ ent„o n„o havia recebido, com propostas concretas<br />
de soluÁ„o, ainda que parcial, para os problemas habitacionais. A proposta,<br />
finalizada em novembro de 1983 possuÌa quatro etapas: 1. esclarecimento das<br />
questıes jurÌdicas; 2. doaÁ„o da ·rea pelo IAPAS para a Prefeitura de S„o Paulo;<br />
3. ocupaÁ„o da ·rea com loteamentos de interesse social; e 4. elaboraÁ„o de um<br />
projeto habitacional em parceria com a populaÁ„o apÛs discussıes nas<br />
assemblÈias de moradores. Em marÁo de 1984 a ·rea foi ent„o oficialmente<br />
transferida para o Banco Nacional de HabitaÁ„o (BNH), dando condiÁıes para<br />
que a COHAB desse inÌcio ‡s medidas para a urbanizaÁ„o da ·rea 188 . Sampaio<br />
afirma que:<br />
82<br />
… importante ressaltar que as pressıes que a PMSP efetuou junto<br />
ao BNH para transferÍncia da gleba decorreram das pressıes que<br />
ela prÛpria vinha sofrendo, atravÈs da COHAB, da populaÁ„o<br />
moradora de HeliÛpolis. As lideranÁas da favela tambÈm<br />
pressionaram o IAPAS e o BNH, em suas sedes regionais em S„o<br />
Paulo 189 .<br />
Ao mesmo tempo em que esta situaÁ„o significou uma vitÛria dos<br />
moradores, apÛs 14 anos de lutas em HeliÛpolis, ouve tambÈm um grande afluxo<br />
de pessoas e aÁıes dos grileiros, que passaram a ver em HeliÛpolis as condiÁıes<br />
187 Idem, p. 60-61.<br />
188 Idem, p. 63-66.<br />
189 Idem, p. 63.<br />
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para a obtenÁ„o da casa prÛpria e a especulaÁ„o imobili·ria, o que levou a um<br />
processo de novas ocupaÁıes e a aÁ„o da COHAB proibindo novas construÁıes<br />
e instalaÁıes de luz e ·gua na ·rea.<br />
A aÁ„o da Comiss„o de Moradores e das AssociaÁıes existentes nos<br />
diversos n˙cleos foi fundamental antes desta conquista e no perÌodo<br />
subseq¸ente. A Comiss„o de Moradores e as associaÁıes passaram a realizar<br />
diversas reuniıes com o objetivo de continuar pressionando a Prefeitura de S„o<br />
Paulo a proceder ent„o a compra da ·rea e a posterior venda dos lotes para os<br />
moradores. Neste aspecto o Centro Comunit·rio situado na Rua da Mina, 38<br />
(onde hoje esta situada a UNAS ñ Uni„o de N˙cleos, AssociaÁıes e Sociedades<br />
dos Moradores de HeliÛpolis e S„o Jo„o ClÌmaco), teve um papel muito<br />
importante, pois l· foram realizadas as primeiras reuniıes entre os tÈcnicos da<br />
COHAB e os moradores com a finalidade de pensar o projeto de urbanizaÁ„o. Na<br />
organizaÁ„o destas comissıes estavam presentes diferentes grupos ìde fora da<br />
comunidadeî como a Pastoral da Favela, partidos polÌticos (especialmente o<br />
Partido dos trabalhadores ñ PT, na figura da deputada Irm„ Passoni) e o Centro<br />
AcadÍmico XXII de agosto, na figura do advogado JosÈ Mentor 190 , atualmente<br />
tambÈm deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores.<br />
As comissıes de moradores reuniam mais de 100 pessoas dos seguintes<br />
n˙cleos de HeliÛpolis: Mina, Flamengo, Lagoa, Viracopos, S„o Francisco,<br />
Portuguesinha, Imperador, HeliÛpolis, Sacom„ e Pam. As convocaÁıes para<br />
estas reuniıes eram feitas por meio de cartazes distribuÌdos pela comunidade, e<br />
curiosamente possuÌam um formato em que as imagens faziam mais referencia<br />
ao campo do que a cidade. Certamente indicando o que empiricamente se nota<br />
em HeliÛpolis, ou seja, uma grande maioria de migrantes origin·rios do interior do<br />
Brasil.<br />
190 Idem, p. 64-71.<br />
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Cartaz de convocaÁ„o para reuni„o dos moradores de HeliÛpolis 191 .<br />
191 UNAS - Uni„o de N˙cleos, AssociaÁıes e Sociedades dos Moradores de HeliÛpolis e S„o Jo„o<br />
Climaco. Cartaz de convocaÁ„o para Reuni„o das comissıes de moradores do dia 03 de junho de<br />
1984. In: SAMPAIO, Maria Ruth Amaral. op.cit., p.71.<br />
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O papel das comissıes foi de fundamental import‚ncia, na organizaÁ„o<br />
dos moradores, pois o n˙mero de habitaÁıes vinha crescendo rapidamente e as<br />
demandas da populaÁ„o n„o eram atendidas na mesma proporÁ„o pelo poder<br />
p˙blico, entende-se a COHAB, alÈm do fato, como se pode observar pelo cartaz<br />
de convocaÁ„o para a reuni„o, que a Comiss„o de Moradores falava na<br />
linguagem do povo, curiosamente com caracterÌsticas do ìimagin·rio ruralî. DaÌ<br />
resultaram diversos embates entre a Comiss„o de Moradores e a COHAB que<br />
tinham propostas divergentes quanto ao projeto de urbanizaÁ„o. A comiss„o de<br />
moradores exigia que houvesse maior flexibilidade para que as prÛprias famÌlias<br />
construÌssem suas moradias e que a COHAB liberasse a ligaÁ„o de ·gua e luz.<br />
AlÈm disso permanecia a reivindicaÁ„o principal dos moradores,a regularizaÁ„o<br />
da ·rea e a posse definitiva com escritura lavrada. Durante todo o ano de 1984 as<br />
tensıes foram muito grandes, chegando a ponto de a COHAB ameaÁar com<br />
aÁıes judiciais e finalmente resolver construir uma cerca de arame farpado ao<br />
redor da ·rea (aproximadamente 6.900 metros), como forma de conter as<br />
ocupaÁıes, trabalho executado por uma empresa de engenharia e logo em<br />
seguida desfeito por obras da SABESP na regi„o e pela aÁ„o dos moradores 192 .<br />
A Prefeitura Municipal que vinha atÈ ent„o acompanhando os<br />
acontecimentos com certo distanciamento, volta a se envolver diretamente,<br />
quando o ent„o prefeito M·rio Covas, em discurso de inauguraÁ„o de uma praÁa<br />
no bairro do Ipiranga, apÛs pressıes dos moradores de HeliÛpolis, se pronuncia<br />
dizendo que o projeto de urbanizaÁ„o ir· de fato acontecer. Entretanto n„o se<br />
realiza de acordo com as expectativas dos moradores, que desejavam a casa<br />
prÛpria e condiÁıes dignas de habitaÁ„o. N„o alcanÁando assim a condiÁ„o de<br />
moradores de um bairro, com plenos direitos, inclusive o de solicitar a ligaÁ„o de<br />
·gua e luz.<br />
Aparentemente, ficou ent„o para que o prÛximo prefeito, J‚nio Quadros,<br />
buscasse a soluÁ„o dos problemas habitacionais de HeliÛpolis e as demandas<br />
sociais de sua populaÁ„o residente. No entanto, apÛs estes anos de intensa luta e<br />
192 Idem, pp. 72-77.<br />
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organizaÁ„o, a comunidade compreendeu que era necess·rio das um passo na<br />
direÁ„o do fortalecimento e da reflex„o, surge ent„o a UNAS.<br />
2.2.5. HeliÛpolis na gest„o J‚nio Quadros (1986- 1988): a luta pelo<br />
mutir„o<br />
O ano de 1986 inicia com o an˙ncio ao paÌs do Plano Cruzado, em<br />
fevereiro, o ent„o presidente JosÈ Sarney comunica em rede nacional que o<br />
cruzeiro seria substituÌdo por uma nova moeda, o cruzado, a taxa de cambio, e os<br />
aluguÈis congelados por um ano, convocando o povo a travar uma luta contra a<br />
inflaÁ„o e a tornar-se em ìfiscais do Sarney 193 î.<br />
No mesmo ano J‚nio Quadros assume a Prefeitura do MunicÌpio de S„o<br />
Paulo, tendo como prioridades os transportes, grandes obras vi·rias, a limpeza<br />
urbana e o desfavelamento. Esta ˙ltima prioridade foi levada a cabo logo nos<br />
primeiros meses com a retirada da Favela de Cidade Jardim, que foi substituÌda<br />
por um parque, o que deixava evidente a tendÍncia do novo prefeito em retirar as<br />
favelas das regiıes de grande circulaÁ„o ou assentadas em ·reas de alto valor<br />
imobili·rio. TambÈm HeliÛpolis foi atingida pela gest„o de J‚nio Quadros, em seu<br />
objetivo de desfavelamento, o prefeito tentou despejar os moradores, que<br />
organizados em comiss„o geral resistiram chegando a ocupar o escritÛrio da<br />
COHAB, e a partir destes fatos se estabeleceu uma tensa e conflituosa relaÁ„o<br />
com a prefeitura 194 .<br />
Outro aspecto que marcou a gest„o J‚nio Quadros foi a resistÍncia do<br />
prefeito em levar adiante os projetos de mutir„o e ajuda m˙tua, antes o prefeito<br />
optou pela aprovaÁ„o da Lei do Desfavelamento (Lei n . 10.209), que beneficiava<br />
grandes empreiteiras que se comprometiam com a ìdoaÁ„oî de casas em ·reas<br />
193 FAUSTO. Boris, op.cit., p. 522.<br />
194 LIMA. Carlos Franco. A religi„o popular: uma pesquisa-aÁ„o sobre aspectos da religi„o dos<br />
trabalhadores de HeliÛpolis. S„o Paulo, PUC-SP, 1994. DissertaÁ„o de Mestrado em CiÍncias<br />
Sociais, p.17.<br />
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de favela, pois estas recebiam a concess„o de mudanÁa nos Ìndices de<br />
construÁ„o 195 .<br />
… importante destacar que na gest„o J‚nio Quadros, h· uma intensificaÁ„o<br />
da defesa intransigente e truculenta da propriedade privada sem uso, que por<br />
vezes eram ocupadas por sem tetos. Inclusive, em um processo de desocupaÁ„o<br />
violento ocorrido na cidade, ocorre o assassinato de um sem teto, Ad„o Manoel<br />
da Silva, morto pela Guarda Municipal de S„o Paulo, sob o comando de JosÈ<br />
¡vila da Rocha. O que se observa, neste perÌodo È uma enorme repress„o aos<br />
movimentos que lutavam por moradia, com a utilizaÁ„o de forte aparato policial e<br />
in˙meros enfrentamentos violentos 196 .<br />
J‚nio Quadros modifica a forma de atuaÁ„o da COHAB, que passou a<br />
atuar como uma grande empreiteira de obra, chegando a mudar inclusive as<br />
metas de populaÁ„o que deveria ser atendida pelos projetos, passando a atender<br />
pessoas com renda de atÈ dez sal·rios mÌnimos, quando na gest„o anterior o teto<br />
era de cinco sal·rios mÌnimos. O que dava mostras de uma gest„o ainda mais<br />
orientada para atender uma parcela da populaÁ„o, ignorando os graves<br />
problemas de moradia da cidade, especialmente para os trabalhadores de baixa<br />
renda.<br />
Movido pela repulsa pelos projetos de mutir„o, J‚nio Quadros d· inÌcio ao<br />
Plano Preliminar de AÁ„o para o desenvolvimento do Projeto HeliÛpolis. Onde os<br />
moradores e lideranÁas j· temiam as aÁıes do Prefeito, primeiramente por sua<br />
iniciativa unilateral de remoÁ„o de favelas e segundo por sua resistÍncia em<br />
permitir os mutirıes. Mesmo com a proposta do novo projeto habitacional sendo<br />
discutida, a UNAS convocou os moradores para um ato na PraÁa da SÈ, em<br />
agosto de 1986, por entender que uma das metas deste plano era a remoÁ„o de<br />
famÌlias do HeliÛpolis. Novamente as tensıes entre moradores e prefeitura se<br />
195 SAMPAIO, Maria Ruth Amaral, op.cit., p. 88.<br />
196 RODRÕGUEZ, Arlete MoisÈs. Moradia nas cidades brasileiras. S„o Paulo: Contexto, 2003, p.<br />
46.<br />
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acirram, e na ocasi„o a assessoria do advogado da UNAS Dr. JosÈ Mentor foi<br />
necess·ria na formulaÁ„o de propostas para o Projeto 197 .<br />
A UNAS em conson‚ncia com os princÌpios do Movimento Unificado dos<br />
Favelados, continuava ent„o a insistir no Direito Real de Uso, bandeira defendida<br />
desde os anos 70 e que vinha sendo ignorada pelo poder p˙blico.<br />
Em outubro de 1987, n„o obstante a recusa anterior em permitir a<br />
construÁ„o por mutirıes, J‚nio assinou com a Secretaria Especial de AÁ„o<br />
Comunit·ria (SEAC), Ûrg„o do governo federal, um acordo para a construÁ„o de<br />
10 mil casas em regime de mutir„o. Numa aÁ„o que tinha evidentes fins polÌticos.<br />
Parte da verba acabou sendo utilizada para realizar as reformas e melhorias em<br />
mais de 2000 mil casas em HeliÛpolis, atendendo assim projetos anteriores de<br />
urbanizaÁ„o da ·rea. O SEAC, praticamente abandonou a coordenaÁ„o dos<br />
mutirıes, deixando a populaÁ„o sem atendimento tÈcnico suficiente para levar<br />
adiante o projeto, assim, o acompanhamento das atividades de mutir„o acabou<br />
sendo coordenado por Cl·udio Roberto Scheel, um estudante do 5 ano de da<br />
Faculdade de Arquitetura da Universidade de S„o Paulo (FAUUSP), que na<br />
ocasi„o era assessor volunt·rio da UNAS e estava l· para desenvolver seu<br />
projeto de graduaÁ„o 198 .<br />
2.2.6. UNAS: um marco na histÛria da organizaÁ„o popular em<br />
HeliÛpolis<br />
A criaÁ„o da UNAS ñ Uni„o de N˙cleos AssociaÁıes e Sociedades dos<br />
Moradores de HeliÛpolis e S„o Jo„o ClÌmaco ñ È certamente um marco na<br />
histÛria da organizaÁ„o dos moradores da Comunidade de HeliÛpolis. A entidade<br />
surgiu em 1986, com apoio da Pastoral da Igreja CatÛlica e outras entidades da<br />
sociedade civil, tendo como meta a conscientizaÁ„o e a mobilizaÁ„o dos<br />
197 SAMPAIO, Maria Ruth Amaral, op.cit., p. 89-96.<br />
198 Idem, p. 126.<br />
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88
moradores 199 . Ela se forma a partir da uni„o dos diversos n˙cleos, associaÁıes e<br />
sociedades de moradores de HeliÛpolis e S„o Jo„o ClÌmaco, compreendendo que<br />
a unidade na luta pela moradia È um instrumento de fortalecimento para avanÁar<br />
nas conquistas.<br />
Ao analisar o processo histÛrico da criaÁ„o da UNAS, a assessora de<br />
comunicaÁ„o da associaÁ„o, LaÌs Fonseca argumenta que:<br />
89<br />
A organizaÁ„o da UNAS veio como uma exigÍncia das relaÁıes<br />
com empresas e a sociedade civil, pois como movimento de<br />
moradores tornava-se difÌcil a realizaÁ„o de parceiras e projetos<br />
(...).<br />
Quando iniciou a ocupaÁ„o era um movimento de pessoas sem<br />
um entendimento maior dos seus direitos como cidad„os e<br />
pessoas humanas, no movimento, as pessoas tiveram muitos<br />
problemas com os grileiros, neste momento houve um encontro<br />
entre os moradores e a pastoral, que trabalhava com a teologia da<br />
libertaÁ„o, a pastoral sempre esteve junto com o movimento,<br />
filiando, (catequizando) orientando, para que pudessem ter um<br />
entendimento de seus direitos. A pastoral contribui para o<br />
entendimento e uma vis„o mais elevada de conscientizaÁ„o, o que<br />
durou v·rios anos. O movimento nunca foi liderando pela<br />
pastoral 200 .<br />
A UNAS, atualmente mantÈm in˙meros projetos sociais: o Centro de<br />
educaÁ„o Infantil, que atende crianÁas de zero a seis anos, onde a socializaÁ„o È<br />
o principal objetivo e o projeto pedagÛgico trabalha com a oralidade infantil,<br />
administra ainda outras quatro creches em convÍnio com a Prefeitura do<br />
MunicÌpio de S„o Paulo, atendendo cerca de 600 crianÁas em perÌodo integral.<br />
Possui ainda os N˙cleos SÛcios Educativos, que atendem crianÁas de sete<br />
a quatorze anos, com o objetivo de ser um espaÁo de reflex„o crÌtica e de<br />
promoÁ„o da cidadania; o Projeto de Inclus„o Digital, com um tele centro<br />
instalado na comunidade (cf.: foto a seguir), atendendo mais de 2.000 pessoas<br />
por mÍs, em 17 computadores cedidos pela prefeitura; o movimento de<br />
alfabetizaÁ„o de jovens e adultos (MOVA), atendendo 350 pessoas; o movimento<br />
dos sem teto, com atividade que organizam a populaÁ„o em suas aÁıes junto aos<br />
199 REVISTA UNAS HELI”POLIS. UNAS, trajetÛria de lutas e conquistas. S„o Paulo, S/d, p. 5.<br />
200 Entrevista realizada no dia 03 de outubro de 2006, na sede da UNAS. Rua da Mina, 38.<br />
HeliÛpolis ñ SP.<br />
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Ûrg„os p˙blicos; a assistÍncia jurÌdica em parceria com a Procuradoria Geral do<br />
Estado; o projeto Liberdade Assistida, que visa atender jovens em conflito com a<br />
lei entre 12 e 18 anos, com atividades educacionais, culturais e esportivas; a<br />
lavanderia comunit·ria, instalada em parceria com a empresa privada UNILEVER<br />
com o objetivo de diminuir os custos com ·gua e luz dos moradores, espaÁo<br />
tambÈm utilizado para a discuss„o polÌtica sobre a comunidade 201 .<br />
Tele Centro de HeliÛpolis / Sede da UNAS ñ Rua da Mina, 38<br />
Estes projetos e programas n„o chegam a atender 1% dos moradores da<br />
comunidade, pois A Comunidade de HeliÛpolis vive uma grande carÍncia de<br />
recursos e investimentos para atender a totalidade dos moradores, especialmente<br />
as crianÁas e jovens 202 .<br />
A UNAS atua de forma a canalizar os anseios da populaÁ„o de HeliÛpolis,<br />
sendo por voz das reivindicaÁıes dos moradores. No dizer de uma moradora da<br />
201<br />
REVISTA UNAS HELI”POLIS. UNAS, trajetÛria de lutas e conquistas. S„o Paulo, S/d, pp. 6-<br />
12.<br />
202<br />
UNAS O SITE DA COMUNIDADE DE HELI”POLIS. http://www.unas.gov.br . pesquisa<br />
realizada em 27/09/2006.<br />
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90
Comunidade: ìNa UNAS È onde o HeliÛpolis aconteceî, ou seja, a associaÁ„o tem<br />
hoje responsabilidade frente aos moradores de buscar soluÁıes para os<br />
problemas da comunidade.<br />
A Comunidade de HeliÛpolis obteve ao longo das ˙ltimas trÍs dÈcadas<br />
muitas vitÛrias, alcanÁando, por exemplo, a marca de ser a maior favela<br />
urbanizada do paÌs, faltando pouco mais de 2% para a sua urbanizaÁ„o total.<br />
Entretanto, como observa LaÌs Fonseca (assessora de ComunicaÁ„o da UNAS) a<br />
comunidade mantÈm ao menos cinco îbandeiras de lutasî, fundamentais para a<br />
comunidade, como vemos a seguir:<br />
A luta pela moradia e posso da terra, com as regularizaÁıes fundi·rias, que<br />
permanece sendo a principal bandeira de luta, e que enquanto n„o for<br />
definitivamente conquistada n„o ser· deixado de lado. ìa maior bandeira de luta È<br />
a habitaÁ„oî;<br />
A melhoria da qualidade das moradias na comunidade ainda n„o ocorreu,<br />
pois ainda existem barracos de madeira nas margens dos cÛrregos (cf.: fotos a<br />
seguir); InstalaÁ„o de creches e melhoria da qualidade na educaÁ„o. E nesta<br />
direÁ„o a UNAS j· atua em parceria com a Escola Municipal ìCampos Sallesî,<br />
trabalhando com trÍs eixos pedagÛgicos: autonomia, responsabilidade e<br />
solidariedade, sem desvincular a formaÁ„o cidad„ e humana.<br />
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Barracos sendo removidos da Estrada das L·grimas (outubro de 2006)<br />
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92
Barracos de madeira ñ Avenida Almirante (outubro de 2006)<br />
Na ·rea da sa˙de, atua junto ao Hospital de HeliÛpolis, com o objetivo de<br />
agilizar o atendimento, para que as pessoas tenham seus exames feitos num<br />
prazo digno. Existem parcerias com empresas privadas (AMIL), e universidades,<br />
palestras (DST/AIDS), exames gratuitos para detecÁ„o de doenÁas sexualmente.<br />
A UNAS possui ainda como objetivo a comunicaÁ„o, que acontece para<br />
trazer uma maior compreens„o sobre o HeliÛpolis, eliminado os preconceitos.,<br />
buscando assim novos projetos e aÁıes para a comunidade, dando visibilidade<br />
para a comunidade 203 .<br />
Uma das grandes preocupaÁıes da UNAS È a de trazer projetos que n„o<br />
sejam assistencialistas e a formaÁ„o de novas lideranÁas. Nota-se que h· uma<br />
preocupaÁ„o com a formaÁ„o polÌtica, pois todos os projetos tÍm como objetivo o<br />
debate sobre a cidadania, a ecologia e a cultura.<br />
203 Entrevista realizada no dia 03 de outubro de 2006, na sede da UNAS. Rua da Mina, 38.<br />
HeliÛpolis ñ SP.<br />
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Biblioteca mantida pela UNAS em HeliÛpolis ñ Rua da Mina, 52-A (outubro 2006).<br />
A UNAS È atualmente organizada da seguinte forma: Presidente Jo„o<br />
Miranda Neto (metal˙rgico), 1 vice-presidente Delmiro Monteiro Farias<br />
(comerciante), 2 vice-presidente GenÈsia Ferreira da Silva (Educadora);<br />
Secret·rio Geral JosÈ Geraldo de P. Pinto (Educador); 1 Secret·rio Nazareno<br />
Antonio da Silva (Educador Popular); Tesoureira Geral Antonia Cleide Alves<br />
(Contadora); 1 Tesoureiro Manoel Otaviano da Silva (Educador Popular); Diretor<br />
de educaÁ„o, esporte e cultura Francisco Sabino Soares (Serralheiro); Diretor de<br />
comunicaÁ„o Geronino Barbosa de Souza (Cabeleireiro); Diretor de polÌticas e<br />
mobilizaÁ„o social Jo„o IsaÌas (Motorista); Diretora de patrimÙnio Roseli Camargo<br />
(Educadora Popular) 204 .<br />
Atualmente a participaÁ„o da Igreja e das pastorais para a organizaÁ„o dos<br />
moradores em suas reivindicaÁıes e lutas sociais È praticamente inexistente, ao<br />
abordar a quest„o da presenÁa das Igrejas na Comunidade de HeliÛpolis, LaÌs<br />
Fonseca comenta que:<br />
94<br />
Hoje a igreja tem o papel que ela tem que ter mesmo, È uma<br />
aliada, mais no sentido de amizade. Fizeram parte da formaÁ„o<br />
polÌtica no inÌcio do movimento na comunidade. Hoje a pastoral da<br />
204 REVISTA UNAS HELI”POLIS. UNAS, trajetÛria de lutas e conquistas. S„o Paulo, S/d, p. 14.<br />
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95<br />
igreja È uma amiga. Na dÈcada de 70 sim, houve uma atuaÁ„o,<br />
naquele momento a igreja dominante era a igreja catÛlica. Hoje<br />
mesmo a igreja catÛlica tambÈm se modificou 205 .<br />
… correto afirmar que a religi„o demonstrou ser um fator de grande<br />
import‚ncia na caminhada de ocupaÁ„o, resistÍncia e organizaÁ„o da<br />
Comunidade de HeliÛpolis, o que se insere na an·lise feita por J˙lio de Santa<br />
Ana, quando comenta que as grandes mobilizaÁıes populares das dÈcadas de<br />
1970 e 1980, permite mostrar como o religioso È um fator que dinamizou e<br />
motivou os movimentos populares para que assumissem um papel de<br />
protagonistas de suas histÛrias e lutas, visto que os ìpovos que s„o<br />
profundamente religiosos n„o podem deixar de pensar religiosamente,<br />
teologicamente, quando enfrentam opÁıes cruciais relacionadas com seus<br />
respectivos destinos histÛricos 206 î.<br />
No entanto, neste momento histÛrico, com o avanÁo da globalizaÁ„o<br />
neoliberal e todas as suas conseq¸Íncias sociais e polÌticas, que certamente<br />
diminuem todas as formas de solidariedade e organizaÁ„o das lutas comunit·rias,<br />
como afirma Darcy Ribeiro:<br />
O capitalismo quebra todas as formas de solidariedade porque vÍ<br />
nelas resistÍncias ao seu desenvolvimento. As formas de<br />
solidariedade d„o forÁa aos trabalhadores. O capitalismo pretende<br />
reduzir o mais possÌvel a forÁa dos cidad„os para que estejam<br />
mais disponÌveis para as necessidades das empresas. Por isso,<br />
promove a dissoluÁ„o da famÌlia, da vida social dos bairros, das<br />
associaÁıes de todo o tipo 207 .<br />
Considerando que a sociedade atual È, dentre outras questıes, marcada<br />
pela ruptura com a forma de ler e explicar o mundo. As caracterÌsticas<br />
fundamentais s„o a fragmentaÁ„o e o subjetivismo que se desenrolam na vida<br />
social, onde os padrıes desaparecem surgindo m˙ltiplas expressıes e<br />
manifestaÁıes que tÍm impacto direto sobre o sujeito religioso e suas pr·ticas,<br />
como comenta Ronaldo Sathler-Rosa, ìvivemos um tempo de impermanÍncias.<br />
RelaÁıes afetivas s„o rompidas como se os seres humanos n„o tivessem<br />
205<br />
FONSECA, LaÌs. Entrevista realizada no dia 03 de outubro de 2006, na sede da UNAS. Rua da<br />
Mina, 38. HeliÛpolis ñ SP.<br />
206<br />
SANTA ANA, J˙lio. Pelas trilhas do mundo, a caminho do reino. S„o Bernardo do Campo/SP:<br />
Imprensa Metodista, 1984, p. 11.<br />
207<br />
RIBEIRO, Darcy. Povo Brasileiro. S„o Paulo: Companhia das letras, 1998, p. 6.<br />
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capacidade de cuidar das dificuldades prÛprias de qualquer relacionamento<br />
prÛximo 208 î.<br />
Diante destas questıes a Pastoral Urbana È desafiada a superar estes<br />
ìrefluxosî na organizaÁ„o popular e a buscar uma pastoral e uma liturgia que<br />
motive e renove as esperanÁas dos indivÌduos, sendo portadoras de sentido e de<br />
sinais de transformaÁıes nas comunidades, como afirma Geoval Jacinto da Silva:<br />
Vivemos um tempo na AmÈrica Latina onde nossas liturgias necessitam ser<br />
criadora de aÁıes que fortaleÁam as aÁıes das comunidades, n„o s„o possÌveis liturgias<br />
voltadas para o centro da comunidade, o povo precisa sair com alegria e assumir<br />
compromissos e atos de transformaÁıes. Desta forma os desafios para as Igrejas crist„s<br />
como motivadoras de uma liturgia que possibilite o encontro com a graÁa e com a<br />
esperanÁa de um novo tempo que vai chegar. (...) Liturgia È, por tanto, um ponto de<br />
encontro e um ponto de partida! 209 .<br />
Compreende-se, portanto, que a religi„o, por meio das suas aÁıes<br />
lit˙rgicas e pastorais, pode contribuir para o motivar as pessoas em suas lutas<br />
coletivas e individuais. Desta forma o prÛximo capÌtulo tem como objetivo<br />
colaborar para a an·lise e apontamentos para a pr·xis pastoral lit˙rgica no<br />
contexto urbano, observando a Comunidade de HeliÛpolis.<br />
208 SATHLER-ROSA, Ronaldo,op.cit.,p. 19.<br />
209 SILVA, Geoval Jacinto. Liturgia como expresiÛn de alegria, esperanza, gracia y servicio. CLAI,<br />
2004, p. 11. (Texto traduzido do espanhol)<br />
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96
CAPÕTULO III<br />
APONTAMENTOS PARA UMA PR¡XIS PASTORAL<br />
LIT⁄RGICA <strong>NO</strong> <strong>CONTEXTO</strong> URBA<strong>NO</strong><br />
Compreende-se que a religi„o, por meio das suas pr·ticas, pode contribuir<br />
para o motivar as pessoas nas lutas sociais. Assim, esta etapa da pesquisa busca<br />
elementos para uma liturgia que favoreÁa as aÁıes transformadoras, n„o-<br />
reformistas, radicais e libertadoras, ou seja, busca analisar a pr·xis pastoral<br />
lit˙rgica no contexto urbano, a partir da comunidade do HeliÛpolis/SP.<br />
A vida na cidade possibilita o surgimento de uma cultura urbana<br />
caracterizada pela desorganizaÁ„o e complexidade social e cultural. Neste<br />
ambiente surgem as iniciativas individualistas e a forte competiÁ„o entre os<br />
indivÌduos È quase inevit·vel. Os laÁos familiares e comunit·rios tornam-se<br />
fr·geis. Tal situaÁ„o revela a necessidade de se buscar uma liturgia e pastoral,<br />
que motive e renove as esperanÁas dos indivÌduos, sendo portadoras de sentido e<br />
de sinais de transformaÁıes nas comunidades, onde a pastoral lit˙rgica seja<br />
motivadora e criadora de aÁıes comunit·rias210.<br />
Diante disto È necess·rio compreender como a religi„o e as sociedades se<br />
relacionam em diferentes dimensıes, para que se possa pensar uma liturgia<br />
fundamentada na filosofia da pr·xis.<br />
210 Idem, p. 11.<br />
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97
3.1. ConsideraÁıes para a reflex„o sobre a pr·xis pastoral<br />
lit˙rgica<br />
A reflex„o e an·lise sobre a pr·xis pastoral lit˙rgica exigem que se<br />
considerem os aspectos sociolÛgicos, teolÛgicos e pastorais, com o objetivo de<br />
iniciar a compreens„o sobre o tema.<br />
3.1.1. Linguagem e religi„o: a religi„o e o trabalho de organizaÁ„o<br />
popular<br />
Ao analisar o processo de construÁ„o da sociedade, Peter L. Berger,<br />
afirma que a sociedade È um fenÙmeno dialÈtico produzido pelo homem 211 , e a<br />
religi„o ocupa um espaÁo de destaque nesta construÁ„o 212 . A religi„o em todos<br />
os seus aspectos È fornecedora de sentidos e esperanÁas, a linguagem religiosa<br />
se expressa como um destes sentidos. A linguagem religiosa fornece sentido<br />
tanto para a libertaÁ„o como para a alienaÁ„o do homem, tanto para a<br />
organizaÁ„o popular e a resistÍncia ‡ exploraÁ„o como para o conformismo e<br />
acomodaÁ„o. Neste aspecto Pierre Bourdieu, afirma que a religi„o cumpre uma<br />
funÁ„o de conservaÁ„o da ordem social, e conseq¸entemente polÌtica e<br />
econÙmica, legitimando o poder e domesticando os dominados 213 , assim:<br />
98<br />
Em outras palavras, a religi„o contribui para a imposiÁ„o<br />
(dissimulada) dos princÌpios de estruturaÁ„o da percepÁ„o e do<br />
pensamento do mundo e, em particular, do mundo social, na<br />
211<br />
Para Peter Berger este fenÙmeno dialÈtico, consiste em um processo que ocorre em trÍs<br />
momentos ou passos: exteriorizaÁ„o ñ a produÁ„o da sociedade pelo homem; objetivaÁ„o ñ<br />
atividade por meio da qual a sociedade se torna uma realidade.<br />
212<br />
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma sociologia da religi„o. S„o Paulo:<br />
Paulus, 1985, p, 15.<br />
213<br />
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbÛlicas. S„o Paulo:Perspectiva, 2004, p. 32.<br />
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99<br />
medida em que impıe um sistema de pr·ticas e de<br />
representaÁıes cuja estrutura objetivamente fundada em um<br />
princÌpio de divis„o polÌtica apresenta-se como a estrutura naturalsobrenatural<br />
do cosmos 214 .<br />
As pr·ticas exercidas pela religi„o possuem uma linguagem poderosa (as<br />
liturgias s„o expressıes destas pr·ticas), j· que expressam em si elementos que<br />
transcendem o mundo do indivÌduo. Estas pr·ticas tendem a serem manipuladas,<br />
por um grupo restrito de pessoas, que exercem um grande poder, o que Bourdieu<br />
denomina ìcorpo de sacerdotes 215 î, este corpo interpreta o mito, elabora o rito e<br />
os manipula conferindo sentidos a eles.<br />
Bourdieu assinala, ainda, que o desenvolvimento das grandes religiıes<br />
universais est· associado ao processo de urbanizaÁ„o, sendo que o mundo<br />
urbano contribui para a racionalizaÁ„o e moralizaÁ„o da religi„o, que por vez a<br />
religi„o, colabora atravÈs do ìcorpo de sacerdotesî e suas pr·ticas, para o<br />
desenvolvimento da sociedade urbana, consagrando e legitimando a ordem social<br />
em favor de uma determinada classe social, ou seja, a burguesia, que se<br />
beneficia com ìos processos de interiorizaÁ„o e racionalizaÁ„o dos fenÙmenos<br />
religiosos, (...) a transfiguraÁ„o de deuses em poderes Èticos 216 î.<br />
Contudo a relaÁ„o desta inst‚ncia religiosa com o poder polÌtico e<br />
econÙmico, n„o se d· exclusivamente na esfera da legitimaÁ„o e consagraÁ„o da<br />
ordem estabelecida pelas classes dominantes, isso devido ao antagonismo<br />
existente entre o corpo de sacerdotes (tradiÁ„o sacerdotal) e os profetas (tradiÁ„o<br />
214 Idem, p. 32 e 33.<br />
215 Idem, p. 38.<br />
216 Idem, p. 35.<br />
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100<br />
profÈtica 217 ). A tradiÁ„o profÈtica possui uma aptid„o para lidar com as crises que<br />
os sacerdotes n„o possuem. O discurso profÈtico tem maiores chances de surgir<br />
nos perÌodos de crise acirrada 218 , pois os profetas n„o se prendem aos dogmas e<br />
instituiÁıes e esta liberdade lhes permite um discurso, ainda que muitas vezes,<br />
baseado na tradiÁ„o sacerdotal, capaz de mobilizar os grupos e as classes<br />
sociais que reconheÁam sua linguagem. O profeta È quem opera a revoluÁ„o<br />
simbÛlica que a soluÁ„o das crises exige, Bourdieu afirma que: ìenquanto a crise<br />
n„o tiver encontrado seu profeta, os esquemas com os quais se pensa o mundo<br />
invertido continuam sendo produto de um mundo derrubadoî. Ele continua<br />
observando que: ìa revoluÁ„o simbÛlica supıe sempre a revoluÁ„o polÌtica, mas a<br />
revoluÁ„o polÌtica n„o basta por si mesma para produzir a revoluÁ„o simbÛlica<br />
que È necess·ria para dar-lhe uma linguagem adequada 219 î.<br />
Citando Karl Marx, em O dezoito Brum·rio 220 , Bourdieu, aponta para a<br />
necessidade que as sociedades presentes busquem em seu passado os<br />
elementos para fortalecer as suas lutas e existÍncia:<br />
A tradiÁ„o de todas as geraÁıes mortas pesa excessivamente<br />
sobre o cÈrebro dos vivos. E mesmo quando parecem ocupados<br />
em transformar-se, a si mesmos e ‡s coisas, em criar algo<br />
inteiramente novo, È justamente nestas Èpocas de crise<br />
revolucion·ria que evocam com temor os espÌritos do passado,<br />
tomando-lhes de emprÈstimo seus nomes, suas palavras de<br />
ordem, seus costumes, para que possam surgir sobre o novo<br />
217<br />
A exegese bÌblica revela que a tradiÁ„o profÈtica no Antigo Testamento, surge em oposiÁ„o ao<br />
poder estabelecido em Israel e Jud·. Os profetas, muitas vezes pessoas oriundas do povo, se<br />
opunham aos discursos e pr·ticas do poder despÛtico dos que reinavam sobre o povo. Os<br />
profetas possuem uma clara consciÍncia de que cumprem um papel de den˙ncia com as formas<br />
de opress„o, n„o aceitando as estruturas corrompidas e rejeitado as aÁıes legitimadoras de uma<br />
ordem religiosa, polÌtica e econÙmica que sinalizasse a morte.<br />
218<br />
BOURDIEU, Pierre, op.cit., p. 73-74.<br />
219<br />
Idem, p. 77.<br />
220<br />
O Dezoito Brum·rio alia uma l˙cida an·lise de eventos histÛricos ‡ conceituaÁ„o cientÌfica de<br />
conexıes universais, determinando assim a natureza de um fato polÌtico sempre atual: o golpe de<br />
Estado bonapartista. Marx analisa ainda a contraditÛria evoluÁ„o da cultura burguesa, indicando a<br />
perspectiva justa para a avaliaÁ„o do humanismo cl·ssico, fornecendo os critÈrios para uma<br />
an·lise das ideologias do perÌodo da decadÍncia.<br />
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101<br />
palco da histÛria sob um disfarce respeit·vel e com esta<br />
linguagem emprestada 221 .<br />
A soluÁ„o para a crise, (polÌtica, social, etc.) da sociedade necessita do<br />
encontro de um ìprofetaî, como menciona Bourdieu, ìo profeta È quem pode<br />
contribuir para realizar a coincidÍncia da revoluÁ„o consigo prÛpria, operando a<br />
revoluÁ„o simbÛlica que a revoluÁ„o polÌtica requer 222 î. Um exemplo de como o<br />
sÌmbolo e o rito est„o cheios de elementos que tambÈm impulsiona e motiva na<br />
busca por transformaÁıes sociais esta na mÌstica 223 , pr·tica presente em diversos<br />
movimentos sociais e populares, como observa Christine Chaves ao analisar o<br />
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmando que:<br />
M˙ltiplos elementos conjugam-se, desde os ideais modernos de<br />
igualdade, direito e cidadania atÈ os sentidos religiosos da terra,<br />
da solidariedade e da defesa da vida, passando pela crenÁa<br />
polÌtica na import‚ncia da disciplina e da organizaÁ„o e pelos<br />
valores morais de lealdade, firmeza e coragem. Sentimentos e<br />
crenÁas s„o acionados pelo grupo reunido em torno de sÌmbolos<br />
comuns e na aÁ„o conjunta em busca dos mesmos fins. No MST<br />
elabora-se conscientemente a construÁ„o da identidade de semterra<br />
e a reafirmaÁ„o dos ideais e desejos condensados na "luta".<br />
Para alÈm dos sÌmbolos do MST - o timbre, a bandeira, o hino - as<br />
prÛprias aÁıes s„o revestidas daquelas idÈias e crenÁas polÌticas,<br />
morais e religiosas. N„o È incidental que essa elaboraÁ„o m˙ltipla<br />
e multifacetada receba no MST o nome de mÌstica 224 .<br />
221<br />
MARX, K. O 18 Brum·rio e Cartas a Kugelman, 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.<br />
222<br />
BOURDIEU, Pierre, op.cit., p. 78.<br />
223<br />
A mÌstica no MST È quase sempre uma atividade que precede encontros e reuniıes dos<br />
grupos, e tem como finalidade acolher os participantes e dar inÌcio ‡s atividades. A mÌstica È<br />
realizada atravÈs de din‚micas, teatro, canto e danÁa, possuindo um forte car·ter simbÛlico.<br />
Segundo Jo„o Pedro StÈdile, a mÌstica no MST È uma pr·tica social e h· nela uma influÍncia da<br />
Igreja no sentido de ser um fator de unidade, de vivenciar os ideais; porÈm, procura-se que a<br />
mÌstica n„o seja somente uma liturgia propriamente dita. Neste sentido, diz Stedile, a mÌstica deve<br />
fazer parte da vida cotidiana, n„o pode ser um momento ‡ parte, È sentimento canalizado em<br />
direÁ„o a um ideal alcanÁ·vel. Assim, o MST procura "fazer a mÌstica" quando, em cada atividade<br />
do movimento, ressalta o projeto global, traz para o cotidiano o projeto de conquistar o lugar<br />
prometido para todos. [http://www.imaginario.com.br/artigo/a0061_a0090/a0064.shtml]<br />
224<br />
CHAVES, Christine de Alencar Chaves. SÌmbolos de Luta e Identidade no MST. In:<br />
http://www.comciencia.br/reportagens/agraria/agr18.shtml - Data da Pesquisa: 10 de abril de 2005.<br />
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102<br />
A religi„o, tanto expressa elementos de conservaÁ„o como de<br />
transformaÁ„o social como na ìmÌsticaî presente no Movimento dos<br />
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).<br />
O desafio para a pr·xis pastoral lit˙rgica È o de buscar constantemente<br />
elementos que possibilitem a mobilizaÁ„o na direÁ„o de transformaÁıes que<br />
acrescentem dignidade aos seres humanos no seu fazer cotidiano. Isso È possÌvel<br />
quando se compreende de forma pormenorizada a funÁ„o que a linguagem<br />
desempenha na sociedade.<br />
Nota-se que a linguagem È sempre essencial, para a mobilizaÁ„o e o<br />
encantamento dos grupos, ela informa a realidade e o imagin·rio, esclarece e<br />
exorciza os pensamentos, pela linguagem os homens se estabelecem como<br />
humanos. Certamente por isso, no decorrer da histÛria, e em especial no mundo<br />
moderno, a humanidade tem buscado compreender e estabelecer teorias sobre a<br />
linguagem. … necess·rio destacar que por meio da linguagem o ser humano<br />
constrÛi, desenvolve e sintetiza as mais diversas realizaÁıes materiais e<br />
espirituais, sem as quais as sociedades n„o se formam 225 . Na express„o<br />
marxista, a linguagem È t„o velha como a consciÍncia humana, sendo a<br />
linguagem a consciÍncia pr·tica ou real, ou seja, que existe para as outras<br />
pessoas 226 .<br />
As atividades humanas sempre s„o expressas atravÈs dos signos, e das<br />
diversas formas de narrativa. ìA lÌngua È uma dessas explosıes, sem a qual o<br />
mundo se revela carente de nome, conceito, inteligÍncia, explicaÁ„o, fantasia e<br />
mito 227 î.<br />
As lÌnguas representam cada uma, um modelo e forma de ver o mundo, no<br />
mundo moderno o que se observa È uma quantidade enorme de formas de<br />
225<br />
IANNI, Octavio. LÌngua e Sociedade. Caderno Primeira Vers„o n .84,<br />
Campinas/SP:IFCH/UNICAMP, 1999, p. 9.<br />
226<br />
MARX , Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia Alem„. S„o Paulo: Martin Claret, 2004, p. 30<br />
227 IANNI, Octavio, op.cit., p. 9.<br />
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103<br />
descrever o mundo em todos os seus aspectos. Nesta pluralidade de descriÁıes<br />
do mundo, encontra-se uma riqueza prÛpria da humanidade, e que a massificaÁ„o<br />
e a imposiÁ„o, por meio das pressıes econÙmicas e polÌticas, busca eliminar.<br />
Diante desta quest„o o que se observa È a necessidade de uma pr·xis<br />
pastoral lit˙rgica que se articule com as diferentes formas de linguagem, com o<br />
objetivo de fazer da esperanÁa crist„ um elemento central das aÁıes dos seres<br />
humanos na busca por justiÁa e libertaÁ„o.<br />
3.1.2 Um Mundo sinalizado pela esperanÁa<br />
O teÛlogo J¸rgen Moltmann, com sua capacidade de reflex„o sobre os<br />
problemas do presente e a sua convicÁ„o de que o cristianismo possui algo para<br />
dizer ao mundo atual, contribui para a pastoral urbana, na medida em que sua<br />
produÁ„o acadÍmica, particularmente em seu livro ìTeologia da esperanÁaî,<br />
destaca o tema da esperanÁa como um eixo norteador da pr·xis pastoral. A<br />
teologia da esperanÁa de Moltmann È resultado de seu aprofundamento sobre a<br />
escatologia e a redescoberta de seu car·ter transformador e criativo.<br />
Para Moltmann a esperanÁa crist„ se cumpre n„o pela especulaÁ„o mas<br />
na pr·xis, em meio ‡ aÁ„o polÌtica e a revoluÁ„o, sendo uma atividade criativa. A<br />
sua inspiraÁ„o encontra-se na Filosofia da EsperanÁa de Ernest Bloch 228 .<br />
Moltmann, aplicando ‡ escatolÛgica a categoria de futuro / esperanÁa de Ernest<br />
228 Ernest Bloch pretendia a renovaÁ„o da tradiÁ„o marxista do ponto de vista do humanismo real.<br />
A filosofia de Bloch fundamenta-se na perscrutaÁ„o da realidade (sujeito) para capturar tendÍncias<br />
de futuro (predicado). …, portanto, uma filosofia voltada para o futuro, e justamente por isso,<br />
empenha-se em recuperar algo existente no passado. Ela conhece um futuro que vem a ser a<br />
partir da matÈria, por isso mesmo sÛ se torna conhecido por meio da extrapolaÁ„o de tendÍncias<br />
intrÌnsecas na realidade. Bloch desconfia de uma compreens„o exclusivamente cientÌfica do<br />
marxismo, que vÍ nele apenas uma ciÍncia das contradiÁıes econÙmicas: ele reinvindica o<br />
marxismo como pr·tica humanista e como Ètica renovadora. (M‹NSTER, Arno. Ernest Bloch:<br />
filosofia da pr·xis e utopia concreta. S„o Paulo: UNESP, 1993.<br />
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104<br />
Bloch, desejava uma renovaÁ„o na teologia crist„ e, por sua vez, na pr·xis da<br />
comunidade crist„ 229 .<br />
Moltmann ir· considerar que a esperanÁa crist„, que possibilita a pr·xis,<br />
abandonou a Igreja ‡ medida que o cristianismo se institucionalizou e perdeu seu<br />
car·ter de movimento reivindicando para si as funÁıes do Estado romano, ìa<br />
escatologia foi deixada junto com sua efic·cia mobilizadora e revolucion·ria da<br />
histÛria 230 î. Este abandono da esperanÁa possui conseq¸Íncias nas pr·ticas da<br />
Igreja, como no aparecimento de uma liturgia voltada para a satisfaÁ„o individual<br />
e desprovida de forÁa de mobilizaÁ„o coletiva, pois a esperanÁa È o que move a<br />
fÈ crist„, sendo a escatologia o princÌpio pelo qual se orienta o crist„o 231 .<br />
A esperanÁa, como categoria, possui as condiÁıes de transformaÁ„o e<br />
criaÁ„o do novo como afirma Moltmann:<br />
As afirmaÁıes da esperanÁa est„o necessariamente em<br />
contradiÁ„o com a realidade presente e experiment·vel. Elas n„o<br />
resultam de experiÍncias, mas constituem uma condiÁ„o para que<br />
sejam possÌveis novas experiÍncias 232 .<br />
A esperanÁa crist„ possibilita a mobilizaÁ„o e a pr·xis, pois o futuro È<br />
antecipado por ela, que exige no presente os sinais de justiÁa e igualdade<br />
prometidos para o reino (futuro). Desta forma o sujeito que espera n„o se<br />
conforma com o presente dominado pela exploraÁ„o e por sinais de morte, para<br />
esta pessoa, portadora da esperanÁa crist„, a ressurreiÁ„o È um protesto contra o<br />
sofrimento humano. A fÈ que se desenvolve a partir desta esperanÁa carrega<br />
229<br />
SOUZA, Giovani Pereira de. J¸rgen Moltmann: a teologia da esperanÁa. http://www.biton.com.br/ipbbf/teologiaesperanca.htm<br />
230<br />
MOLTMANN, J¸rgen. Teologia da esperanÁa: estudos sobre os fundamentos e as<br />
conseq¸Íncias de uma escatologia crist„. S„o Paulo: TeolÛgica / Loyola, 2005, pp. 29-30.<br />
231<br />
O abandono da escatologia se faz notar na Ètica do descompromisso social e na passividade<br />
conformista. Conforme salienta JosÈ Rubens L. Jardilino, h· uma vis„o da escatologia pautada por<br />
uma tragÈdia apocalÌptica que faz com que muitos crist„os passem a viver um fim iminente,<br />
,levando-os a viver numa passividade conformada com a tragÈdia social, econÙmica e polÌtica,<br />
portanto sem uma aÁ„o transformadora de sua realidade. (JARDILI<strong>NO</strong>, JosÈ Rubens L. As<br />
religiıes do espÌrito: vis„o histÛrico-teolÛgica do pentecostalismo na dÈcada de 30. Rio de Janeiro,<br />
ISER / CEPE, 1994, p. 86).<br />
232<br />
MOLTMANN, J¸rgen, op.cit., p. 32.<br />
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105<br />
consigo as sementes da pr·xis, ìn„o traz quietude, mas inquietude; n„o traz<br />
paciÍncia, mas impaciÍncia 233 î.<br />
O sujeito que espera em Cristo n„o se silencia diante da realidade de<br />
sofrimento, morte e exploraÁ„o, n„o se contenta com a realidade como um dado<br />
estabelecido e imut·vel, mas a contradiz, a partir da sua pr·xis. Esta fÈ calcada<br />
na esperanÁa incomoda atÈ que se cumpra todas as promessas no presente, cria<br />
portanto as condiÁıes para consciÍncia reflexiva sobre a realidade e, portanto,<br />
para a pr·xis em lugar das pr·ticas repetitivas da consciÍncia comum. Como<br />
afirma Moltmann:<br />
Essa esperanÁa torna a igreja crist„ perpetuamente inquieta em<br />
meio ‡s sociedades humanas, que querem se estabilizar como<br />
cidade permanente. Ela faz da comunidade crist„ uma fonte de<br />
impulsos sempre novos para a realizaÁ„o do direito, da liberdade e<br />
da humanidade, aqui mesmo (...) 234 .<br />
A cidade È espaÁo que cria tambÈm ilusıes e conseq¸entemente o<br />
desespero na pessoa que vÍ a cidade como o lugar onde tudo parece possÌvel,<br />
mas se depara com o desgaste das condiÁıes de vida no mundo urbano 235 . O<br />
desespero do mundo urbano nem sempre apresenta uma ìface desesperadaî, ou<br />
seja, a ausÍncia de qualquer perspectiva, mas pode ter a forma silenciosa da<br />
ren˙ncia, indiferenÁa e apatia. Ao analisar esta quest„o Moltmann assinala que:<br />
Dificilmente existe um comportamento que seja t„o freq¸ente entre<br />
os frutos podres de um cristianismo n„o escatolÛgico,<br />
aburguesado, em um mundo que j· n„o È crist„o, como(...), o<br />
cultivo e manipulaÁ„o l˙dica da esperanÁa que feneceu 236 .<br />
A ausÍncia de conte˙do escatolÛgico no cristianismo urbano, conduz ‡<br />
indiferenÁa e a apatia da sociedade e dos indivÌduos que buscam viver uma<br />
existÍncia sem sofrimentos, alegrias sem dor e comunidades sem conflitos,<br />
contudo, quem vive orientado pela esperanÁa crist„ n„o tem como permanecer<br />
233 Idem, ibid.<br />
234 Idem, p. 37.<br />
235 LIB¬NIO. Jo„o Batista. As lÛgicas da cidade, o impacto sobre a fÈ e sob o impacto da fÈ. S„o<br />
Paulo, Loyola, 2002, p. 38.<br />
236 MOLTMANN, J¸rgen, op.cit., p. 39.<br />
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106<br />
ap·tico, pois se vÍ impulsionado a transformar e a realizar, a entregar-se para<br />
alcanÁar o que foi prometido 237 .<br />
A esperanÁa crist„, como analisa Moltmann, antecipa a possibilidade do<br />
real e move o processo histÛrico, ìsomente a esperanÁa pode ser chamada de<br />
ërealistaí, porque somente ela toma a sÈrio as possibilidades que impregnam tudo<br />
o que È real 238 î.<br />
A maior ameaÁa ‡ esperanÁa crist„, portanto, n„o È a desesperanÁa, mas<br />
a religi„o da passiva aquiescÍncia do presente, que n„o busca o ìpresente<br />
eternoî, isto È, a antecipaÁ„o e a realizaÁ„o da justiÁa do reino de Deus, que<br />
move o presente, pois o crente espera conhecer o que crÍ 239 .<br />
3.1.3 A pr·xis pastoral para o contexto Urbano<br />
A pr·xis pastoral encontra-se diante do desafio de criar uma comunidade<br />
que seja ao mesmo tempo humana e que sinalize concretamente o amor de<br />
Deus 240 .<br />
A pr·xis como atividade material do ser humano, È atividade<br />
transformadora, que visa a eliminaÁ„o das injustiÁas e desigualdades presentes<br />
no contexto da urbanidade. Sem reflex„o n„o existe pr·xis, mas a pr·xis n„o È<br />
t„o somente reflex„o, antes ela se desdobra em uma atitude frente ‡s questıes<br />
histÛricas e sociais que s„o apresentadas aos homens em sociedade.<br />
Para se chegar a uma proposta de pr·xis pastoral para o contexto urbano È<br />
necess·rio antes elaborar a an·lise profunda deste contexto. Assim o que se nota<br />
no contexto urbano È que o ordenamento econÙmico mundial, dita regras para os<br />
237 MOLTMANN, J¸rgen. Paix„o pela vida. S„o Paulo: Aste, 1978, p. 15-17.<br />
238 MOLTMANN, J¸rgen. Teologia da esperanÁa: estudos sobre os fundamentos e as<br />
conseq¸Íncias de uma escatologia crist„. S„o Paulo: TeolÛgica / Loyola, 2005, p. 40.<br />
239 Idem, p. 42-50.<br />
240 SATHLER-ROSA, Ronaldo, op.cit., p. 45.<br />
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espaÁos locais, determinando sua organizaÁ„o e limitando a atuaÁ„o destes<br />
espaÁos. Pierre Bourdieu, analisa essa quest„o da seguinte forma:<br />
O que est· em jogo hoje È a reconquista da democracia contra a<br />
tecnocracia: È preciso acabar com a tirania dos ìespecialistasî,<br />
estilo Banco Mundial ou FMI, que impıem sem discuss„o (gf.<br />
nosso) os veredictos do novo Leviat„, ìos mercados financeirosî, e<br />
que n„o querem negociar, mas ìexplicarî; È preciso romper com a<br />
nova fÈ na inevitabilidade histÛrica que professam os teÛricos do<br />
liberalismo; È preciso inventar as novas formas de um trabalho<br />
polÌtico coletivo capaz de levar em conta necessidades,<br />
principalmente econÙmicas 241 .<br />
Uma quest„o È de fundamental import‚ncia que seja esclarecida: o<br />
mercado, mencionado por Bourdieu, jamais far· tal discuss„o sobre suas<br />
ìverdadesî estabelecidas. Posta esta quest„o È preciso encontrar meios para o<br />
questionamento deste pensamento (˙nico) que È imposto pelo capital ‡s<br />
comunidades locais, gerando, como mencionado, anteriormente uma urbanizaÁ„o<br />
coorporativa.<br />
Segundo Istv·n MÈsz·ros, a globalizaÁ„o imposta ao mundo pelos paÌses<br />
do centro È estruturalmente incompatÌvel com a universalidade 242 , ou seja, com a<br />
possibilidade de um desenvolvimento humano e, de polÌticas p˙blicas, voltadas<br />
para os interesses do cidad„o. O neoliberalismo e seus defensores continuam<br />
afirmando que o caminho capitalista sempre levar· ao desenvolvimento, desde<br />
que sejam evitadas as m·s aÁıes de ìrevolucion·rios criadores de problemas que<br />
tÍm a tendÍncia a se opor ‡quela ordem 243 î, aos interesses do grande capital, que<br />
ignora o ser humano.<br />
A pr·xis pastoral, no contexto urbano necessariamente implica em algum<br />
tipo de ìchoqueî com os interesses do grande capital, interesses expropriam os<br />
homens de suas riquezas e de suas vidas e fazem a opÁ„o permanente por uma<br />
urbanizaÁ„o coorporativa.<br />
241<br />
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos: t·ticas para enfrentar a invas„o neoliberal. Rio Janeiro: Jorge<br />
Zahar Editor, 1998, p. 39.<br />
242<br />
M…SZ¡ROS, Istv·n. O sÈculo XXI: socialismo ou barb·rie? S„o Paulo: Boitempo, 2003, p. 16.<br />
243 Idem, p. 24.<br />
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A pr·xis desafia o ser humano a transformar sua realidade de forma<br />
integral e radical. A pr·xis em momento algum poder· servir como legitimadora de<br />
estruturas que desumanizem e oprimam o ser humano, ao contr·rio ela busca a<br />
transformaÁ„o das realidades que inferiorizam a vida. Pela pr·xis os indivÌduos<br />
s„o desfiados a dar um salto da consciÍncia comum para a consciÍncia reflexiva.<br />
Este salto possibilita a superaÁ„o das pr·ticas assistencialistas, ou seja, das<br />
pr·ticas que n„o contribuem para a eliminaÁ„o e superaÁ„o da realidade que<br />
exclui o ser humano do convÌvio pleno em sociedade e o aliena dos meios de<br />
subsistÍncia. Pr·ticas que n„o geram uma cidadania plena e que alimentam as<br />
estruturas de exploraÁ„o da misÈria urbana.<br />
Diante disso, a pastoral urbana È desafiada em v·rias de suas dimensıes,<br />
a desenvolver uma pr·tica essencialmente mission·ria, ou seja, ìn„o se pode<br />
mais falar de igreja e miss„o, apenas da miss„o da Igreja, sempre considerando<br />
que ela o faz em para Deus e n„o para si 244 î, como liturgia ñ serviÁo.<br />
Deve-se entender que a miss„o de Deus È maior que a miss„o da Igreja,<br />
ou as ìmissıesî das igrejas. Enquanto as denominaÁıes religiosas fizerem<br />
ìmissıesî com o objetivo de implantarem igrejas e para ìsalvar almasî, as igrejas<br />
n„o estar„o participando efetivamente da miss„o de Deus, que È ˙nica, e tem<br />
como finalidade a plenitude da promessa do Reino de Deus ó a vida, a justiÁa e<br />
o amor.<br />
Para que exista uma pr·xis pastoral para o contexto urbano, È importante,<br />
que a vis„o eclesiocÍntrica de miss„o ceda lugar para uma nova concepÁ„o, a de<br />
que existe uma ˙nica miss„o e esta È de Deus t„o somente e n„o das<br />
denominaÁıes religiosas 245 , possibilitando uma noÁ„o de miss„o como busca da<br />
justiÁa e da cidadania, sendo que esta noÁ„o fundamenta-se na interpretaÁ„o<br />
Ètica da salvaÁ„o, ou seja, pelo banimento de todos os sinais de injustiÁa,<br />
ignor‚ncia, fome e misÈria, concentrando-se no Jesus histÛrico 246 , e nas suas<br />
pr·ticas de justiÁa e amor. ìSalvaÁ„o agora significa libertaÁ„o da superstiÁ„o<br />
244<br />
BOSCH, David J. Miss„o transformadora: mudanÁas de paradigmas na Teologia da Miss„o.<br />
S„o Leopoldo: EST / Sinodal, 2002, p.436.<br />
245<br />
Idem, p. 437-438.<br />
246<br />
NoÁ„o que parte da compreens„o da vida terrena de Jesus atÈ o Cristo da fÈ.<br />
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religiosa, preocupaÁ„o com o bem-estar humano e o melhoramento moral da<br />
humanidade 247 î. Pode-se dizer que este novo paradigma soteriolÛgico<br />
proporciona a possibilidade da pr·xis pastoral no interior do cristianismo, haja<br />
vista que salvaÁ„o passa a ser tambÈm material (histÛrica) e social. Promover a<br />
justiÁa era o mesmo que promover a salvaÁ„o.<br />
Assim, afirma David Bosch:<br />
(...) as alegrias e esperanÁas, as tristezas e as ang˙stias das<br />
pessoas de hoje, sobretudo das pobres e de todas as que sofrem,<br />
s„o tambÈm as alegrias e as esperanÁas, as tristezas e as<br />
ang˙stias dos discÌpulos de Cristo 248 .<br />
Esta noÁ„o de salvaÁ„o como justiÁa se baseia no legado profÈtico do<br />
Antigo Testamento. Esta noÁ„o pressupıe a mudanÁa das estruturas injustas, e<br />
que a Igreja possui a responsabilidade de buscar meios de transformaÁ„o destas<br />
estruturas possuÌdas pelo mal. A pr·xis pastoral no contexto urbano, torna-se<br />
uma finalidade da igreja que assume a miss„o de Deus (missio dei), como<br />
objetivo ˙nico de sua existÍncia.<br />
3.1.4 A fÈ: preocupaÁ„o ˙ltima que move o povo<br />
As pr·ticas dos movimentos que lutam por moradia foram tambÈm<br />
orientadas e motivadas pelas pastorais, que deles participaram, o que permite<br />
tambÈm afirmar que a fÈ em suas m˙ltiplas dimensıes È um dos elementos<br />
presentes na motivaÁ„o, inspiraÁ„o e organizaÁ„o dos trabalhadores em luta por<br />
habitaÁ„o. Cabe, no entanto, um questionamento sobre como a fÈ, torna-se um<br />
elemento constituinte da pr·xis. Paul Tillich ao elaborar sua teologia sistem·tica<br />
afirma que:<br />
247 BOSCH, David J., op.cit., p. 473.<br />
248 Idem, p. 479.<br />
Certamente, fÈ como express„o da pessoa toda inclui elementos<br />
emocionais, mas n„o consiste apenas nisso. Ela atrai cada<br />
elemento da theoria bem como da pr·xis para dentro de si mesma<br />
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e de sua abertura ext·tica ‡ PresenÁa Espiritual 249 .<br />
110<br />
Tillich rejeita a noÁ„o popular de fÈ que a reduz a um tipo de sentimento,<br />
afirmando que a fÈ inclui elementos que envolvem todas as dimensıes da vida<br />
humana, incluindo ‡s pr·ticas materiais do ser humano, compreendendo que uma<br />
das caracterÌsticas da fÈ, È justamente o seu car·ter antecipatÛrio, que pode ser<br />
entendido como a esperanÁa que movimenta o sujeito. Para ele a fÈ pode ser<br />
definida tanto como formal como material. A fÈ formal È uma aspiraÁ„o ˙ltima, a<br />
ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî, que ìune um sentido subjetivo a um sentido objetivoî, assim<br />
compreendido pode-se dizer que todo ser humano tem fÈ, pois todos possuem<br />
uma ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî com algo de seu interesse, mesmo que estas<br />
preocupaÁıes sejam totalmente indignas. Em sua dimens„o formal, a fÈ se<br />
encontra em todas as religiıes e culturas, e, portanto, nas aÁıes materiais do ser<br />
humano, que se movimentam movidos pela ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî, que È o que ir·<br />
dar sentido e significado ‡s aÁıes que se expressam individualmente e<br />
coletivamente. Ainda È importante salientar que a fÈ implica em assumir riscos<br />
existenciais, pois ela pode afirmar sÌmbolos equivocados de preocupaÁ„o<br />
˙ltima 250 .<br />
Compreende-se aqui que ìa [religi„o] n„o sÛ È a comunidade do Novo Ser;<br />
ela È tambÈm um grupo sociolÛgico, imerso nos conflitos da existÍncia 251 ".<br />
Para Tillich, a ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî se apresenta tanto na esfera religiosa<br />
como na secular, n„o existindo uma separaÁ„o no cotidiano entre o que seja<br />
secular e sagrado. Inclusive, o secular encontra-se aberto para o impacto do<br />
sagrado, e isso mesmo sem a mediaÁ„o de uma igreja, observamos ainda que<br />
n„o existe movimento secular que n„o possua uma ìpreocupaÁ„o ˙ltima 252 î.<br />
249 TILLICH, Paul. Teologia sistem·tica. 2ed. S„o Leopoldo/ RS: Sinodal, 2000, p. 486.<br />
250 Idem, p. 334-485.<br />
251 Idem, p. 128.<br />
252 Idem, p. 572-573.<br />
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111<br />
Com uma compreens„o de FÈ, que supera a noÁ„o de crenÁa dogm·tica<br />
ou mesmo confianÁa irracional, Tillich afirma que: ìFÈ È estar possuÌdo por aquilo<br />
que nos toca incondicionalmente 253 î, isto È, pela preocupaÁ„o ˙ltima. Assim, a fÈ:<br />
(...) n„o surge como uma funÁ„o ou atitude distinta da pessoa,<br />
mas como uma abertura ext·tica para o incondicionado que<br />
abrange e unifica todas as outras funÁıes da pessoa. Assim a fÈ<br />
n„o poderia ser identificada com o saber, ou o sentir, ou o querer,<br />
por exemplo. AlÈm disso, ela envolve um elemento de paix„o e de<br />
autotranscendÍncia, e esse elemento È o que integra as funÁıes<br />
humanas 254 .<br />
Entretanto, n„o se deve ocultar o fato de que h· crist„os, que movidos por<br />
sua fÈ compreendem que h· uma exigÍncia (Ètica) na direÁ„o de uma verdadeira<br />
transformaÁ„o da sociedade e um compromisso com o seu prÛximo (na histÛria),<br />
particularmente com o pobre. Ao encontro desta argumentaÁ„o, encontramos<br />
J¸rgen Moltmann afirmando que:<br />
N„o quero negar que muitas pessoas encontram em diferentes<br />
fontes coragem e forÁa para viver num mundo de sofrimento. No<br />
que me concerne, confesso que a imagem de Cristo È que me<br />
anima. Sua paix„o pela vida levou-o ao sofrimento na cruz. Nessa<br />
paix„o e dor vejo muito bem a paix„o de Deus que nos d· forÁa<br />
para resistir a morte [...]<br />
Quem vive em comunh„o com este Deus apaixonado n„o pode<br />
permanecer ap·tico 255 .<br />
A partir desta fÈ o povo encontra motivaÁ„o para a libertaÁ„o e È salvo da<br />
autodestruiÁ„o, descobrindo sinais de esperanÁa em meio ‡s lutas, para a<br />
superaÁ„o concreta dos prÛprios sofrimentos na sua histÛria. Moltmann, ao<br />
abordar ainda a tem·tica da fÈ afirma que a religi„o, seja qual for, cria elementos<br />
de comunh„o alÈm dos limites raciais e nacionais e que a verdadeira comunidade<br />
de fÈ nasce da consciÍncia de um espaÁo comum e da reuni„o em torno das lutas<br />
253 Idem, p. 5.<br />
254 CARVALHO, Guilherme V. R. Sobre a DefiniÁ„o de FÈ em Paul Tillich. Correlatio, Revista da<br />
Sociedade Paul Tillich do Brasil e do Grupo de Pesquisa Paul Tillich da UMESP, N˙mero 8, S„o<br />
Bernardo do Campo, outubro de 2005. Em: http://www.metodista.br/correlatio/ .<br />
255 MOLTMANN, Jurgen. Paix„o pela vida. S„o Paulo: ASTE, 1978, p.14-15.<br />
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112<br />
comuns. ìNeste caso a religi„o nada tem de Ûpio, mas È poder de resistÍncia em<br />
face da misÈria 256 î.<br />
Ao observar esta quest„o, J˙lio de Santa Ana, afirma que os ìpovos que<br />
s„o profundamente religiosos n„o podem deixar de pensar religiosamente,<br />
teologicamente, quando enfrentam opÁıes cruciais relacionadas com seus<br />
respectivos destinos histÛricos 257 î. Em toda a AmÈrica Latina È possÌvel<br />
identificar, nas grandes mobilizaÁıes populares, especialmente na dÈcada de<br />
1970, que o elemento religioso È um fator motivador das lutas sociais,<br />
incentivando as pessoas a assumirem o papel de criadores e transformadores na<br />
histÛria, e uma das ferramentas que este povo, com profundas raÌzes religiosas<br />
certamente fizeram uso foi a teologia da libertaÁ„o 258 .<br />
Entendemos que a ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî e o profundo sentimento religioso,<br />
movem o indivÌduo tanto no campo secular como no religioso e o orienta em sua<br />
pr·xis. A realidade motiva e sensibiliza o ser humano, que imbuÌdo desta fÈ<br />
realiza historicamente as transformaÁıes sociais. A pr·xis pastoral de que<br />
falamos aqui, È inspirada por esta fÈ, muito embora como sugira Casiano<br />
Florist·n, n„o se pode assegurar a existÍncia de uma pr·xis propriamente<br />
crist„ 259 , ao mesmo tempo em que todas as pr·ticas s„o crist„s na medida em<br />
que s„o realmente humanas. Isto porque a pr·xis È avaliada por seu conte˙do<br />
concreto, e n„o pelos fins, intenÁıes, motivaÁıes ou mesmo disposiÁ„o de quem<br />
as executa. Tanto o sujeito religioso como os n„o religiosos exercem a atividade<br />
pr·xis, movidos por uma preocupaÁ„o ˙ltima: que pode ser, por exemplo, a<br />
valorizaÁ„o absoluta da vida.<br />
O que se pode dizer È que em certos momentos, no processo das lutas<br />
sociais, existem atividades decorrentes da pr·xis que se relacionam com os<br />
sÌmbolos e tradiÁıes crist„s, como nas lutas por moradia, sa˙de e educaÁ„o na<br />
Comunidade de HeliÛpolis e nas expressıes de fraternidade, liberdade e justiÁa.<br />
256<br />
Idem, p. 37.<br />
257<br />
SANTA ANA, J˙lio de. Pelas trilhas do mundo, a caminho do reino. S„o Bernardo do<br />
Campo/SP: Imprensa Metodista, 1984, p. 11.<br />
258<br />
Idem, p. 16-17.<br />
259<br />
FLORIST¡N, Casiano. TeologÌa pr·ctica, teoria e praxis de la acciÛn pastoral. Salamanca,<br />
Espanha: Ediciones SÌgueme, 2002, p. 194.<br />
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Certamente a fÈ È uma ìportaî de entrada para a pr·xis, um modo de superaÁ„o<br />
das pr·ticas repetitivas para uma consciÍncia reflexiva, que alimenta a esperanÁa<br />
por transformaÁıes radicais na histÛria do povo explorado.<br />
3.1.5 A perda dos centros referenciais na cidade: a privatizaÁ„o da fÈ<br />
O desafio para a pastoral urbana, n„o È a busca pelo desenvolvimento de<br />
uma pr·xis religiosa particular, mas compreender o impacto da perda dos centros<br />
referenciais que ocorre no espaÁo urbano e contribuir no desenvolvimento da<br />
pr·xis neste contexto em articulaÁ„o com o conjunto dos movimentos sociais e<br />
populares presentes na cidade. … importante observar que, um destes<br />
deslocamentos do centro, recai justamente sobre o distanciamento das pr·ticas<br />
religiosas comunit·rias, que como observa Jo„o Batista Lib‚nio, este fenÙmeno<br />
decorre da desmaterializaÁ„o do espaÁo, ou seja, uma fragmentaÁ„o dos centros<br />
de interesse, fazendo com que o mundo urbano se torne pluriespacial, orientado<br />
pelos desejos e opÁıes dos indivÌduos 260 .<br />
Com a fragmentaÁ„o dos centros de referencia, o espaÁo urbano torna-se<br />
tambÈm um espaÁo de aparente liberdade e de muitas ilusıes e fantasias, lugar<br />
das manifestaÁıes individualistas, do prazer como estilo de vida e de in˙meras<br />
tensıes sociais. Soma-se a isso o fato de que no espaÁo urbano, se exacerba a<br />
tendÍncia ‡ exploraÁ„o e ‡ concorrÍncia, desafiando a pastoral na elaboraÁ„o de<br />
aÁıes de solidariedade e colaboraÁ„o como forma de se contrapor ‡ lÛgica da<br />
exclus„o e a cultura do isolamento, que marginaliza e violenta uma parcela da<br />
populaÁ„o da cidade.<br />
No espaÁo urbano, a lÛgica da solidariedade e da colaboraÁ„o È<br />
substituÌda por exploraÁ„o e concorrÍncia entre as pessoas. Neste mesmo<br />
espaÁo, em face da perda dos centros referenciais, ou do aparecimento de muitos<br />
260 LIB¬NIO. Jo„o Batista. As lÛgicas da cidade, o impacto sobre a fÈ e sob o impacto da fÈ. S„o<br />
Paulo: Loyola, 2002, p. 32.<br />
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114<br />
outros, a religi„o, que no passado havia sido um centro significativo, modifica sua<br />
funÁ„o, passando a responder aos anseios e aspiraÁıes dos indivÌduos,<br />
cumprindo um papel compensatÛrio para as in˙meras carÍncias existenciais,<br />
Lib‚nio observa que: ìO indivÌduo est· no centro dessa decis„o. Com isso, a<br />
express„o religiosa tambÈm se individualiza ou se exprime em grupos de<br />
escolha 261 î.<br />
Neste contexto urbano policÍntrico e avesso ao centralismo religioso, a<br />
religi„o perde parte de seu componente comunit·rio, e tende ao individualismo,<br />
transformando cada pessoa como centros v·lidos de sua fÈ religiosa, perdem-se<br />
os referenciais comunit·rios e ocorre o que Lib‚nio denomina privatizaÁ„o da fÈ,<br />
isto È, privatiza-se e individualiza-se a fÈ, fazendo com que a fÈ crist„ perca sua<br />
dimens„o social, impondo-se o ìculto ao Euî, onde cada pessoa constrÛi sua<br />
religi„o de acordo com seus interesses privados e que lhe satisfazem. A<br />
conseq¸Íncia deste processo, de privatizaÁ„o da fÈ, È a perda da dimens„o<br />
social e comunit·ria da fÈ crist„ 262 .<br />
A privatizaÁ„o da fÈ crist„ ter· um impacto decisivo na pr·xis dos sujeitos<br />
religiosos, que abandonam progressivamente as aÁıes que visam a<br />
transformaÁ„o social e a libertaÁ„o humana, voltando-se unicamente para seus<br />
interesses particulares. Este fenÙmeno È reforÁado pelo pensamento ˙nico<br />
neoliberal, que tem um impacto consider·vel sobre a fÈ, que ao se ìprivatizarî,<br />
corre o risco de perder sua forÁa profÈtica e transformadora, acomodando-se<br />
diante do projeto neoliberal que expropria as riquezas humanas. Nesta direÁ„o<br />
argumenta Lib‚nio quando afirma que a fÈ ìtransforma-se mais em religi„o e<br />
menos em fÈ 263 î, ou seja, acomoda-se diante dos desafios Èticos impostos pela<br />
cidade (a fome, a pobreza, a falta de moradia, o desemprego, etc.).<br />
A privatizaÁ„o da fÈ n„o significa o desaparecimento da religi„o, mas sua<br />
acomodaÁ„o diante dos dramas sociais e ausÍncia de uma atitude capaz de<br />
romper com a ordem que legitima a opress„o e exploraÁ„o humana.<br />
261 Idem, p. 54.<br />
262 Idem, p. 56.<br />
263 Idem, p. 61.<br />
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3.1.6 A quest„o da secularizaÁ„o<br />
115<br />
Uma das contribuiÁıes de Max Weber para o estudo da religi„o se d· pelo<br />
fato dele restituir a sua autonomia diante dos processos sociais, ao mesmo tempo<br />
em que os fenÙmenos sociais tambÈm influenciam a religi„o. … importante<br />
lembrar que Weber n„o pode ser visto como um sociÛlogo da religi„o, muito<br />
embora parte consider·vel de sua pesquisa passe pela sociologia da religi„o 264 .<br />
Ao abordar o tema da religi„o È possÌvel observar que o modelo weberiano<br />
busca analisar a influÍncia m˙tua entre religi„o e sociedade. Neste percurso<br />
metodolÛgico se d· a formulaÁ„o do conceito de desencantamento do mundo, isto<br />
È, o fim da magia como forma de explicaÁ„o do mundo 265 , ou da<br />
desmagificaÁ„o 266 . AntÙnio Pierucci observa que o conceito permite uma enorme<br />
manipulaÁ„o metafÛrica, ìcomo se fosse um versoî, e afirma que o conceito de<br />
desencantamento do mundo possui dois sentidos concomitantes na obra de<br />
Weber: desencantamento do mundo pela religi„o e pela ciÍncia, ou seja, em dois<br />
aspectos fundamentais da vida 267 .<br />
O desencantamento do mundo se d· pela racionalizaÁ„o da sociedade<br />
moderna e ganha forÁa com a Ètica puritana que vÍ no trabalho a forma de<br />
realizar a santificaÁ„o e a sinalizaÁ„o do reino de Deus. Este agir racional È<br />
proposto com maior intensidade no cÌrculo protestante com a difus„o de uma<br />
espiritualidade voltada para as questıes do cotidiano, como a vida profissional 268 .<br />
Weber ir· concluir que existe uma afinidade entre o protestantismo<br />
ascÈtico e o espÌrito do capitalismo, que conduziu · formaÁ„o de um tipo de<br />
sociedade mais racional e o surgimento de uma classe de empreendedores, para<br />
264<br />
PIERUCCI, AntÙnio Fl·vio. O desencantamento do mundo. S„o Paulo: Editora 34, 2005, p.15-<br />
16.<br />
265<br />
MARTELLI, Stefano. A religi„o na sociedade pÛs-moderna. S„o Paulo: Paulinas, 1995, p. 77.<br />
266<br />
PIERUCCI, AntÙnio Fl·vio, op.cit., p. 46.<br />
267<br />
Idem, p. 219.<br />
268<br />
MARTELLI, Stefano, op.cit., p. 78.<br />
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116<br />
quem o sucesso profissional e pessoal tornou-se legitimador da sua adoÁ„o, isso<br />
sem a necessidade de uma religi„o. Contudo n„o se pode afirmar que Weber<br />
tenha atribuÌdo ao protestantismo a responsabilidade do desenvolvimento do<br />
capitalismo, mas sim que este foi um efeito n„o intencional ou previsto pelos<br />
reformadores, que hoje inclusive se volta contra aos princÌpios crist„os mais<br />
fundamentais 269 . Estas questıes s„o possÌveis de serem observadas em Weber,<br />
quando afirma que:<br />
Desde que o ascetismo comeÁou a remodelar o mundo e a nele se<br />
desenvolver, os bens materiais foram assumindo uma crescente,<br />
e, finalmente, uma inexor·vel forÁa entre os homens, como nunca<br />
antes na HistÛria. (...) O capitalismo vencedor, apoiado numa base<br />
mec‚nica, n„o carece mais de seu abrigo 270 .<br />
Desta maneira o que se observa È que o capitalismo rompe com qualquer<br />
vinculaÁ„o com a religi„o, que n„o intencionalmente lhe abrigou, pois esta pode<br />
limitar sua ·rea de atuaÁ„o e influÍncia. O capitalismo ent„o se viu livre de seu<br />
abrigo Ètico-religioso tomando a forma das ìpaixıes puramente mundanasî.<br />
Diante da racionalizaÁ„o, que se desdobra em secularizaÁ„o e atÈ a<br />
marginalizaÁ„o da religi„o, Weber vÍ a possibilidade de um renascimento<br />
carism·tico da fÈ religiosa, sem, contudo muito otimismo quanto a este<br />
ressurgimento 271 . Entretanto a partir de outros escritos de Weber, como no texto<br />
ìRejeiÁıes religiosas do mundo e suas direÁıesî, observa-se que o<br />
reencantamento do mundo, n„o se dar· pelo retorno do sagrado, mas por outra<br />
dimens„o cultural, n„o-religiosa e n„o-racional, que pode ser o erotismo, como<br />
assinala Pierucci 272 .<br />
O certo È que existe uma possibilidade de um reencantamento do mundo<br />
em meio a uma sociedade cada vez mais desencantada, e que este se dar· n„o<br />
pela racionalidade, mas pelo sentimento, e a motivaÁ„o das esperanÁas humanas<br />
vinculadas ‡s pr·ticas cotidianas.<br />
269 Idem, p. 76-80.<br />
270 WEBER, Max. A Ètica protestante e o espÌrito do capitalismo. S„o Paulo: Pioneira, 2000, p.<br />
131.<br />
271 MARTELLI, Stefano, op.cit., p. 81.<br />
272 PIERUCCI, AntÙnio Fl·vio, op.cit., p. 219.<br />
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3.2 A igreja no contexto urbano<br />
117<br />
… importante notar aqui que a conseq¸Íncia inevit·vel da urbanizaÁ„o È o<br />
fenÙmeno da secularizaÁ„o da vida, como apontado por Max Weber e a<br />
eliminaÁ„o das formas de solidariedade, como afirma Darcy Ribeiro a seguir:<br />
O capitalismo quebra todas as formas de solidariedade porque vÍ<br />
nelas resistÍncias ao seu desenvolvimento. As formas de<br />
solidariedade d„o forÁa aos trabalhadores. O capitalismo pretende<br />
reduzir o mais possÌvel a forÁa dos cidad„os para que estejam<br />
mais disponÌveis para as necessidades das empresas. Por isso,<br />
promove a dissoluÁ„o da famÌlia, da vida social dos bairros, das<br />
associaÁıes de todo o tipo 273 .<br />
Como se observa, a relaÁ„o entre os habitantes da cidade s„o permeadas<br />
por toda sorte de adversidades que dificultam, quando n„o impendem uma<br />
harmonia e convivÍncia plena entre os cidad„os.<br />
As cidades constituem-se nos agrupamentos mais din‚micos e complexos<br />
que a humanidade produziu. Todos os tipos de contradiÁ„o e conflitos<br />
estabelecem-se nas cidades, e tornam-se quase sempre as soluÁıes muito<br />
complexas. Estas complexidades do contexto urbano nos fazem muitas vezes<br />
afirmar que existem muitas cidades se inter-relacionando num mesmo espaÁo.<br />
A vida na cidade possibilita o surgimento de uma cultura urbana<br />
caracterizada pela desorganizaÁ„o e complexidade social e cultural, como<br />
abordado por Manuel Castells. Neste ambiente surgem as iniciativas<br />
individualistas e a forte competiÁ„o entre os membros da cidade È quase<br />
273 RIBEIRO, Darcy. Povo Brasileiro. S„o Paulo: Companhia das letras, 1998, p. 6<br />
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118<br />
inevit·vel. Os laÁos familiares se tornam fr·geis e a secularizaÁ„o da vida urbana<br />
torna-se uma constante 274 .<br />
No que diz respeito ‡ vida em cidades, observa-se que a secularizaÁ„o È<br />
uma das tendÍncias importantes das sociedades urbano-industriais, ela È na<br />
verdade um processo complexo, pois o Íxodo rural transformou a vida das<br />
pessoas em sua passagem do campo para a cidade. As relaÁıes mudaram,<br />
assim como as necessidades do indivÌduo urbano. Desta forma identifica-se que:<br />
Em relaÁ„o ao Brasil, diversos autores sugeriram que a recente<br />
intensificaÁ„o do seu capitalismo estaria causando um declÌnio<br />
gradual do catolicismo entre a populaÁ„o urbana. Mas se por um<br />
lado se a ades„o e freq¸Íncia ao catolicismo pode estar<br />
diminuindo nas grandes cidades brasileiras, por outro esta<br />
havendo um crescimento impressionante da Umbanda, e do<br />
Pentecostalismo 275 .<br />
N„o somente a Umbanda, o CandomblÈ e as Igrejas Pentecostais tÍm<br />
experimentado um forte crescimento no Brasil, mas tambÈm as religiıes orientais<br />
e os grupos de auto-ajuda 276 .<br />
N„o se observa uma diminuiÁ„o da religiosidade na cidade, mas um<br />
deslocamento, e o surgimento do sujeito religioso, aquele que constrÛi sua<br />
religiosidade de acordo com as suas necessidades mais urgentes, ou seja, surge<br />
um tipo de religiosidade com os elementos tÌpicos da cidade: o individualismo, a<br />
competiÁ„o e a busca de prosperidade.<br />
Diversas pesquisas e estudos revelam que entre os crist„os n„o existe<br />
relaÁ„o entre o cristianismo e as preocupaÁıes sociais e que muitos n„o<br />
procuram expressar sua fÈ numa aÁ„o social.<br />
A igreja no contexto urbano, tende a mobilizar todo o seu esforÁo para a<br />
conservaÁ„o e quando muito para a expans„o da prÛpria comunidade local. A<br />
274<br />
OLIVEN, Ruben George. Antropologia de grupos urbanos. 5 ed.PetrÛpolis/RJ: Vozes, 2002, p.<br />
32.<br />
275<br />
Idem, p. 42.<br />
276<br />
Neste capÌtulo n„o iremos discutir o crescimento das religiıes e suas causas e conseq¸Íncias<br />
para a sociedade brasileira. O principal objetivo È delinear o crescimento urbano, seus<br />
desdobramentos e conseq¸Íncias para a aÁ„o pastoral na cidade.<br />
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119<br />
aÁ„o da igreja È por assim dizer de manutenÁ„o, uma aÁ„o tÌmida frente ‡<br />
complexidade da vida urbana e moderna.<br />
No dizer de Comblin a igreja,<br />
Teme que o mergulho numa sociedade urbana t„o diversa e<br />
m˙ltipla leve a uma dispers„o dos crist„os. Teme perder o<br />
controle sobre os crist„os que, no agir da cidade, usam uma<br />
linguagem n„o eclesi·stica, formulam objetivos n„o eclesi·sticos,<br />
formam solidariedades com pessoas de outras religiıes. Por isso<br />
prefere manter o agir dos fiÈis dentro do recinto paroquial ou<br />
diocesano 277 .<br />
N„o obstante o fato de Comblin estar se referindo com maior<br />
especificidade ‡ igreja CatÛlica Romana, a afirmaÁ„o serve tambÈm para as<br />
demais igrejas, em especial as protestantes histÛricas, que agem de modo tÌmido<br />
no que tange a sua inserÁ„o nas questıes sociais e em suas relaÁıes com os<br />
movimentos sociais e populares.<br />
Na cidade tudo ganha um grande volume, o bem e o mal presentes nos<br />
seres humanos tornam-se, no espaÁo urbano, muito mais visÌvel. Uma quest„o<br />
que ganha dimensıes assustadoras nas grandes cidades È a grande massa de<br />
trabalhadores desempregados, os excluÌdos do sistema habitacional, educacional,<br />
de sa˙de e do mundo do trabalho.<br />
Este contingente de excluÌdos È, sem d˙vida, resultado de um sistema<br />
econÙmico que privilegia o lucro em detrimento do ser humano. Estes indivÌduos,<br />
s„o aqueles que n„o s„o capazes de entrar e permanecer no mercado como<br />
consumidores, para este grupo de seres humanos, o que existe È uma existÍncia<br />
‡ margem, excluÌda da sociedade e uma cidadania incompleta.<br />
O mercado em sua ‚nsia pelo ac˙mulo do capital deixa ‡ margem os<br />
pobres, na lÛgica capitalista nada È feito para facilitar a vida dos seres humanos,<br />
tudo contribui e deve contribuir para a acumulaÁ„o do capital. O dinheiro torna-se<br />
objeto de culto e veneraÁ„o, a riqueza e o lucro, tornam-se os deuses na cidade,<br />
mas, esta riqueza n„o esta ao alcance de todos e nem mesmo da maioria. Disto<br />
277 COMBLIN, JosÈ. Viver na cidade: pistas para uma pastoral urbana. 2 ed. S„o Paulo, Paulus,<br />
1996, p. 26.<br />
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120<br />
resulta este enorme contingente de excluÌdos que surgem nas cidades. A cidade<br />
torna-se espaÁo onde a exclus„o se concentra de forma muito evidente.<br />
Em meio a toda esta situaÁ„o, em meio a toda esta complexidade que È a<br />
cidade, o que faz a igreja? O que podem fazer os crist„os? Colocar a experiÍncia<br />
da fÈ que produz milagres, no sentido que Hannah Arendt descreve, ou seja,<br />
como a capacidade humana de iniciar algo novo, por meio de uma aÁ„o que<br />
interrompe os processos automatizados 278 . ClÛvis Pinto Castro comenta ainda<br />
que:<br />
A fÈ, nesta perspectiva, torna-se um instrumento apropriado para<br />
inserir os crist„os no espaÁo da pluralidade para ali, mediante a<br />
palavra e a aÁ„o, promoverem os milagres que gestar„o o mundo<br />
novo 279 .<br />
Certamente a cidade È um desafio para a Igreja, isto porque em todo o<br />
tempo de existÍncia a Igreja sempre deu o tom, o rumo das pr·ticas, mas no<br />
espaÁo urbano a Igreja n„o possui o monopÛlio da verdade, sozinha ela n„o È<br />
capaz de dar todas as respostas e solucionar todas as questıes.<br />
JosÈ Comblin chama a atenÁ„o para alguns desafios para a igreja no<br />
contexto urbano. O primeiro desafio, que se impıe ‡ Igreja, È abrir-se para o<br />
di·logo com a sociedade e se envolver com a realidade humana e urbana com<br />
toda a sua complexidade. O segundo desafio È compreender os tempos de vida<br />
comunit·ria, entender que as pessoas possuem pouco e valioso tempo, e que por<br />
isso aquele tempo passado comunitariamente deve ser vivido de forma intensa e<br />
prazerosa, ao mesmo tempo em que desafia a assumir compromissos. O terceiro<br />
desafio, È inserir-se no contexto dos excluÌdos, possuindo um canal de<br />
comunicaÁ„o com este contingente da populaÁ„o, estando presente em todos os<br />
dramas da vida humana, tornando-se ativa na vida polÌtica e na organizaÁ„o da<br />
cidade, sendo sinal e n„o se deixando sinalizar e seduzir pelo mercado 280 .<br />
278 CASTRO, ClÛvis Pinto. Por uma fÈ cidad„: a dimens„o p˙blica da igreja ñ fundamentos para<br />
uma pastoral da cidadania. S„o Paulo: Loyola / UMESP, 2000, p, 110.<br />
279 Idem, ibid.<br />
280 COMBLIN, JosÈ. Os desafios da cidade no sÈculo XXI. S„o Paulo: Paulus, 2002, p. 9.<br />
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121<br />
A cidade deve ser resgatada como um espaÁo de convivÍncia e de<br />
relaÁıes, de exercÌcio da cidadania plena, ela n„o pode ser reduzida a um palco<br />
de enormes desigualdades e injustiÁas sociais. O que mais vale na cidade s„o as<br />
relaÁıes entre os seus habitantes 281 . Mediante essa constataÁ„o, ìa Igreja n„o<br />
pode abandonar a sua vocaÁ„o p˙blica, e perder com isso, sua relev‚ncia<br />
polÌtica 282 î, a pr·xis lit˙rgica, portanto, deve contribuir para o surgimento de aÁıes<br />
promotoras de justiÁa e igualdade.<br />
Entretanto nas grandes cidades, como S„o Paulo, h· cidad„os de diversas<br />
classes, alguns usufruem todo o espaÁo urbano com todos os seus equipamentos<br />
p˙blicos e privados, para muitos seres humanos, o espaÁo territorial e os<br />
benefÌcios da grande cidade s„o extremamente restritos 283 . Esta situaÁ„o exige<br />
por parte da igreja um planejamento e uma estratÈgia de atuaÁ„o que envolve o<br />
estudo e a compreens„o do fenÙmeno urbano. … o que se discute a seguir tendo<br />
a cidade de S„o Paulo como referencia.<br />
3.2.1 Desafios para a pr·xis pastoral: A cidade de S„o Paulo<br />
Como se nota atÈ aqui, a pastoral lit˙rgica, no contexto urbano, encontra<br />
uma sÈrie de desafios para serem superados. A cidade de S„o Paulo È sem<br />
d˙vida um exemplo destes desafios que carecem de superaÁ„o por parte da<br />
pastoral. Por se tratar de uma cidade que experimentou um acelerado<br />
crescimento urbano 284 , a cidade experimenta uma sÈrie de situaÁıes que<br />
transformam a vida de seus habitantes bastante difÌcil, em especial para aqueles<br />
habitantes que carecem de recursos financeiros para usufruÌrem toda a cidade e<br />
seus equipamentos p˙blicos.<br />
A alma do Brasil se encontra em S„o Paulo, a cidade È o coraÁ„o<br />
econÙmico do paÌs 285 . … bastante importante salientar que o desenvolvimento<br />
281<br />
COMBLIN, JosÈ. Viver na cidade: pistas para uma pastoral urbana. 2 ed. S„o Paulo, Paulus,<br />
1996, p. 46.<br />
282<br />
CASTRO, ClÛvis Pinto. Por uma fÈ cidad„: a dimens„o p˙blica da igreja ñ fundamentos para<br />
uma pastoral da cidadania. S„o Paulo: Loyola / UMESP, 2000, p. 110-111.<br />
283<br />
SANTOS, Milton. O espaÁo do cidad„o. 4 ed. S„o Paulo: Nobel, 1998, p. 112.<br />
284<br />
S„o Paulo sofreu uma urbanizaÁ„o acelerada, em especial nos sÈculos XIX e XX.<br />
285<br />
ARBEX JR. JosÈ e OLIC. Nelson Bacic. O Brasil em regiıes: sudeste. S„o Paulo: Moderna,<br />
1999, p. 26.<br />
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122<br />
econÙmico da cidade de S„o Paulo teve como principal causa a atividade<br />
cafeeira, que chegou pelo Vale do ParaÌba, vinda do Rio de Janeiro num processo<br />
extremamente r·pido se espalhando por todo o estado.<br />
O crescimento econÙmico teve origem no sÈculo XIX e se consolida na<br />
primeira metade do sÈculo XX, atraiu um grande contingente populacional para a<br />
cidade de S„o Paulo, causando diversos problemas urbanos, tais como: dÈficit<br />
habitacional, violÍncia e desemprego ou o subemprego. O processo de<br />
favelizaÁ„o È resultado direto deste processo bem como o fenÙmeno da<br />
macrocefalia urbana, o acelerado crescimento urbano sem contar com uma infra-<br />
estrutura adequada.<br />
Os problemas vividos em S„o Paulo s„o de diversas ordens e origens, o<br />
que torna a soluÁ„o destes problemas algo bastante complexo. A violÍncia<br />
urbana, por exemplo, demanda uma sÈrie de recursos p˙blico e privado com a<br />
finalidade de atenuar a quest„o, no entanto o que se observa È um crescente<br />
n˙mero na criminalidade e violÍncia, o que nos leva a questionar se o<br />
planejamento estratÈgico no combate ‡ violÍncia na cidade È o mais correto.<br />
Atualmente a cidade de S„o Paulo, com os 37 municÌpios que compıem a<br />
regi„o metropolitana, possui uma populaÁ„o de aproximadamente 18 milhıes de<br />
habitantes 286 , distribuÌdos por uma ·rea de mais 8.000 km 2 .<br />
A cidade de S„o Paulo ingressa no sÈculo XXI, possuindo mais de 10<br />
milhıes de habitantes 287 . Isto faz com seja o quarto maior aglomerado urbano no<br />
mundo, j· que a sua regi„o metropolitana possui uma populaÁ„o de cerca de 18<br />
milhıes de pessoas. Entretanto, as taxas de crescimento populacional tÍm<br />
decrescido nos ˙ltimos anos. Entre 1991 e 2000, por exemplo, a populaÁ„o<br />
cresceu apenas 1% ao ano, bem abaixo dos 5% verificados entre 1940 e 1970,<br />
perÌodo de intensa industrializaÁ„o e migraÁ„o interna, ou que os 14% verificados<br />
na ˙ltima dÈcada do sÈculo XIX, quando da imigraÁ„o europÈia, sucedida pela<br />
imigraÁ„o japonesa no inÌcio do sÈculo XX.<br />
286 IBGE ñ Instituto brasileiro de geografia e estatÌstica ñ http://www.ibge.gov.br<br />
287 IBGE ñ Instituto brasileiro de geografia e estatÌstica ñ http://www.ibge.gov.br<br />
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123<br />
A populaÁ„o da cidade de S„o Paulo vem crescendo num ritmo inferior ao<br />
verificado na regi„o Metropolitana, no Estado de S„o Paulo e no Brasil como um<br />
todo. PorÈm, cabe lembrar que a populaÁ„o paulistana, no ano 2000, ainda<br />
representava 6,1% da populaÁ„o brasileira, quase 30% da populaÁ„o do Estado<br />
de S„o Paulo e cerca de 60% da populaÁ„o da Regi„o Metropolitana de S„o<br />
Paulo, composta de outros 38 municÌpios.<br />
Conforme a tabela a seguir, que tr·s os dados demogr·ficos da cidade de<br />
S„o Paulo nas ˙ltimas dÈcadas, a populaÁ„o cresceu num ritmo acelerado, com<br />
altas taxas de crescimento, tendo sido o crescimento populacional entre as<br />
dÈcadas de 1960-80 bastante elevado, com aumento populacional absoluto<br />
superior a 4.800.000 habitantes em 20 anos. Lembrando que em 1960 a<br />
populaÁ„o na cidade era de 3.666.701habitantes, passando para 8.493.226 em<br />
1980.<br />
PopulaÁ„o nos Anos de Levantamento Censit·rio<br />
MunicÌpio de S„o Paulo - 1872 a 2000<br />
Anos PopulaÁ„o Taxa de Crescimento(1)<br />
1872 31.385 4,1<br />
1890 64.934 14<br />
1900 239.820 4,5<br />
1920 579.033 4,2<br />
1940 1.326.261 5,2<br />
1950 2.198.096 5,3<br />
1960 3.666.701 4,9<br />
1970 5.924.615 3,7<br />
1980 8.493.226 1,2<br />
1991 9.646.185 0,4<br />
1996 9.839.436 1,5<br />
2000 10.434.252 -<br />
Fontes: IBGE, Censos Demogr·ficos e Prefeitura do MunicÌpio de S„o Paulo<br />
(1) Taxa de Crescimento GeomÈtrico Anual<br />
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124<br />
Fonte: PopulaÁ„o nos Anos de Levantamento Censit·rio - MunicÌpio de S„o Paulo - 1872 a<br />
2000 288<br />
A cidade de S„o Paulo, segundo dados de 1996, representava 13,7% do<br />
PIB nacional e 36% do PIB paulista. Ainda que estes percentuais fossem de<br />
18,9% e 48%, respectivamente, em 1970, o municÌpio de S„o Paulo continua<br />
sendo o pÛlo fundamental de organizaÁ„o de uma imensa rede de serviÁos,<br />
distribuiÁ„o de mercadorias e produÁ„o industrial. Como prova disso, 28% do<br />
produto industrial do paÌs se encontra localizado no municÌpio.<br />
Para Milton Santos, entre 1960 e 1980, o emprego industrial, em S„o<br />
Paulo, cresceu mais que a populaÁ„o ativa, e mesmo que o emprego terci·rio<br />
nesta cidade enorme e populosa (por ele qualificado de operosa e operaria),<br />
embora o prÛprio autor observe a perda de participaÁ„o relativa, desde 1970, do<br />
valor da produÁ„o industrial, tanto do municÌpio de S„o Paulo, quanto da regi„o<br />
metropolitana, no conjunto do estado 289 .<br />
Entre 1996 e 2000, cerca de 20% dos investimentos externos de<br />
multinacionais no Brasil se dirigiram para a Grande S„o Paulo. Em 1997, o PIB<br />
municipal em dÛlares chegava a 76,7 bilhıes de dÛlares, sendo a renda per capita<br />
municipal superior ‡ brasileira.<br />
TOLTAL US$ PER CAPITA US$<br />
Regi„o Metropolitana 147,1 bi 8.758<br />
MunicÌpio de S„o<br />
76,7 bi 7.786<br />
Paulo<br />
(1) Fonte: Emplasa 1997 - Produto<br />
Interno Bruto - Regi„o Metropolitana e<br />
MunicÌpio de S„o Paulo 1997<br />
288 Fonte: IBGE, Censos Demogr·ficos ñ Prefeitura do municÌpio de S„o Paulo.<br />
289 SANTOS, Milton, UrbanizaÁ„o Brasileira. 4 ed. S„o Paulo, Hucitec, 1998, p. 100.<br />
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125<br />
As lutas pelos recursos que est„o sob controle da esfera municipal e<br />
estadual s„o lutas desiguais, a distribuiÁ„o dos recursos p˙blicos n„o se orienta<br />
pela necessidade ou pela justiÁa social, mas quase sempre pela capacidade dos<br />
grupos econÙmicos mais poderosos em fazerem press„o para conseguirem<br />
investimentos nas ·reas nobres da cidade.<br />
A melhoria de infra-estrutura urbana, seguranÁa, arborizaÁ„o de praÁas e<br />
ruas, saneamento b·sico e serviÁos de assistÍncia aos excluÌdos do sistema de<br />
sa˙de e educaÁ„o, n„o ocorrem de forma planejada e articulada entre os poderes<br />
estadual e municipal.<br />
O municÌpio de S„o Paulo possuÌa, ao inÌcio de 2001, cerca de 800 mil<br />
desempregados 290 . No ano 2000, a taxa de desemprego chegou a 16,2%, inferior<br />
ao pico de 1999, de 17,9%, mas bem acima da taxa verificada logo apÛs o Plano<br />
Real, de 12,3%. AlÈm disso, do total de desempregados na cidade de S„o Paulo,<br />
cerca de 70% encontram-se nas ·reas perifÈricas.<br />
Ao mesmo tempo, percebe-se que a taxa de desemprego È<br />
significativamente superior para os indivÌduos de menor escolaridade, de 19,3% 291<br />
para os analfabetos e indivÌduos com 1 grau incompleto e 22,4% para aqueles<br />
que concluÌram o 1 grau completo, para uma mÈdia de 16,6% do municÌpio de<br />
S„o Paulo entre os anos 1997 e 1999.<br />
As razıes que explicam este aumento do desemprego durante os anos<br />
noventa s„o: a combinaÁ„o de polÌticas de abertura e privatizaÁ„o<br />
indiscriminadas, associadas aos juros altos, de um lado, com a inexistÍncia de<br />
polÌticas de desenvolvimento econÙmico e social locais nos ˙ltimos oito anos.<br />
A PCV-98 identificou trÍs tendÍncias que definem o perfil demogr·fico da<br />
Regi„o Metropolitana de S„o Paulo, que s„o as mesmas que tinham sido<br />
observadas para o interior do Estado: reduÁ„o dos nÌveis de fecundidade;<br />
concentraÁ„o da populaÁ„o nas faixas et·rias jovens (onda jovem); e elevaÁ„o da<br />
participaÁ„o dos idosos.<br />
290 Fonte: fundaÁ„o SEADE - http://www.seade.gov.br/.<br />
291 MinistÈrio do Trabalho e emprego - http://www.mte.gov.br/.<br />
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126<br />
Cerca de 35% da populaÁ„o residente na regi„o nasceu fora do Estado de<br />
S„o Paulo, notadamente em estados da Regi„o Nordeste do paÌs. Desse<br />
contingente, 17,2% moravam h· menos de trÍs anos no mesmo municÌpio,<br />
proporÁ„o menor que a registrada no interior do Estado.<br />
Outra informaÁ„o relevante diz respeito ao dimensionamento dos fluxos de<br />
pessoas que trabalhavam em municÌpios diferentes daqueles em que residiam.<br />
Entre os indivÌduos residentes na RMSP que trabalhavam 17,8% o faziam em<br />
municÌpio distinto daquele em que moravam, o que corresponde a um contingente<br />
prÛximo a 1.300.000 pessoas 292 .<br />
Como se pode constatar o perfil dos habitantes da cidade de S„o Paulo<br />
vem se transformando ao longo das ˙ltimas dÈcadas, o que exige uma adaptaÁ„o<br />
e planejamento pastoral visando uma intervenÁ„o mais eficiente da aÁ„o pastoral,<br />
visando o exercÌcio da cidadania, compreendendo que este exercÌcio requer uma<br />
pr·xis pastoral capaz de participar, preferencialmente, das lutas da classe<br />
trabalhadora.<br />
A cidade possui uma din‚mica que pode, ao mesmo tempo, que promover<br />
o desenvolvimento, promover tambÈm elementos de destruiÁ„o e definhamento<br />
de seus espaÁos e instituiÁıes. Disto resulta a necessidade de uma intervenÁ„o<br />
h·bil por parte da igreja visando resgatar desenvolver a pr·xis lit˙rgica em meio<br />
‡s angustias e dilemas em que vivem os habitantes da cidade, buscando as<br />
transformaÁıes sociais, econÙmicas e polÌticas que proporcionem a cidadania.<br />
V·rias s„o as questıes que demandam uma aÁ„o efetiva da Igreja. Ao<br />
ocupar o espaÁo urbano a Igreja È desafiada a inserir-se em todas as camadas e<br />
segmentos da sociedade, a expressar uma verdadeira fÈ cidad„ 293 , ou seja, uma<br />
292 FundaÁ„o Sistema Estadual de An·lise de Dados (SEADE) - http://www.seade.gov.br/.<br />
293 Conforme conceito desenvolvido pelo Professor Dr. ClÛvis Pinto de Castro, compreende-se que<br />
ìas Igrejas podem participar na construÁ„o de cidades mais justas e inclusivas por meio do<br />
exercÌcio de uma fÈ cidad„. O exercÌcio da cidadania vista como mediadora na relaÁ„o entre a<br />
vida p˙blica e privada, È um espaÁo singular para a concretizaÁ„o da fÈ cidad„. A cidadania<br />
requer a fÈ em aÁ„o, que transcende a dimens„o privatizante (sem desprez·-la) e incorpora a<br />
dimens„o p˙blica. A fÈ cidad„ concretiza-se na esfera p˙blica, no mundo da polÌtica. Para tornarse<br />
uma realidade na esfera p˙blica, a fÈ cidad„ pressupıe pastorais (ad intra e ad extra) que<br />
incentivem e possibilitem a vivÍncia de uma espiritualidade que considere a perspectiva polÌtica e<br />
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127<br />
fÈ que se envolve e penetra na din‚mica da cidade. Para tanto È necess·rio o<br />
desenvolvimento de uma pastoral lit˙rgica para o contexto urbano, fundamentada<br />
na pr·xis, como fundamentaÁ„o para a reflex„o, libertaÁ„o e exercÌcio da fÈ<br />
cidad„.<br />
3.2.2 Pastoral lit˙rgica para o contexto urbano<br />
A sociedade urbana, com suas caracterÌsticas plurais, vive os dilemas da<br />
secularizaÁ„o, da apatia religiosa e sem projetos de transformaÁıes sociais e<br />
esperanÁas para o ser humano. Diante disto, se observa a necessidade de refletir<br />
sobre uma pastoral lit˙rgica que atenda ‡s necessidades humanas sendo<br />
instrumento pelo qual o ser humano celebre a vida e encontre motivaÁıes e<br />
esperanÁas em suas lutas cotidianas, encontrando meios para a superaÁ„o da<br />
desesperanÁa e forÁas para criar uma sociedade centrada nos valores de<br />
igualdade e justiÁa.<br />
3.3 Liturgia: serviÁo feito para o povo<br />
O termo liturgia deriva do grego leitourgia (ÎÂÈÙÔıÒ„fl·), e significa ìserviÁo<br />
p˙blicoî. O termo n„o possui origem religiosa, provÈm do meio secular e È<br />
composto de duas palavras: trabalho (ergon) e povo (laÛs). Historicamente a<br />
palavra liturgia se relaciona com o trabalho p˙blico, com as atividades em<br />
benefÌcio da cidade ou do Estado grego. James F. White, afirma que: ìseu sentido<br />
equivalia a pagar imposto, embora a liturgia pudesse implicar tanto serviÁo doado<br />
quanto tributos 294 î. O apÛstolo Paulo, no Livro de Romanos 13.6 295 , fala<br />
articule a experiÍncia da fÈ entre o privado e o p˙blicoî. (ESPA«O CIDADANIA. Instituto Metodista<br />
de Ensino Superior - Ano 2 - N˙mero 15 - Dezembro de 2004.<br />
(www.metodista.br/comunicacao/espcidadania/numero15/feecid.php).<br />
294 WHITE, James F. IntroduÁ„o ao culto crist„o. S„o Leopoldo/RS: IEPG / Sinodal, 1997, p. 20.<br />
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128<br />
literalmente das autoridades romanas como sendo lit˙rgos de Deus<br />
(���������������������e de si prÛprio como um lit˙rgo de Cristo Jesus para os<br />
gentios (��������������������������, em Romanos 15.16 296 . Assim, deve-se<br />
compreender a liturgia como sendo o trabalho e o serviÁo executado na direÁ„o<br />
de outras pessoas, È portanto aÁ„o solid·ria e comunit·ria.<br />
James White, compreende a liturgia como aÁ„o fundamental do sacerdÛcio<br />
universal, È a atitude que qualifica a atividade da Igreja, e expressa de forma<br />
visÌvel a funÁ„o da igreja como serva, nesta direÁ„o ele afirma que:<br />
Denominar ìlit˙rgicoî um ofÌcio È indicar que ele foi concebido de<br />
modo que todas as pessoas que participam do culto tomem parte<br />
ativa na oferta conjunta do seu culto.<br />
O conceito de serviÁo, ent„o È fundamental para entender o<br />
culto 297 .<br />
O termo ìcultoî È outro que se emprega quando se faz referencia ao<br />
serviÁo crist„o. O termo provÈm da palavra latina ìcolereî, que È um termo<br />
agrÌcola que significa ìcultivarî. Este termo expressa com precis„o um outro<br />
sentido do serviÁo crist„o: o car·ter m˙tuo de responsabilidade, a aÁ„o de dar e<br />
receber entre os que participam do ato c˙ltico, assim como o agricultor que cuida<br />
da sua terra ou animais e recebe em troca os frutos da terra, aquele que participa<br />
do culto o faz como ato relacional.<br />
Contudo para uma compreens„o do significado da express„o ìculto<br />
crist„oî, È preciso observar como diferentes tradiÁıes religiosas lidaram com o<br />
conceito.<br />
Paul W. Honn, a partir da tradiÁ„o metodista, observou que o culto crist„o<br />
est· relacionado ‡ histÛria da salvaÁ„o, para Hoon, a vida crist„ È uma vida<br />
lit˙rgica, ou seja de serviÁo em direÁ„o ao prÛximo. Para ele, revelaÁ„o (de<br />
Cristo) e resposta (do ser humano diante da revelaÁ„o de Cristo) s„o as bases do<br />
295 ìPor esta raz„o tambÈm pagais tributo; porque s„o ministros (lit˙rgos) de Deus, para<br />
atenderem a isso mesmo.î (Vers„o: Jo„o Ferreira de Almeira Revista e Atualizada)<br />
296 ìpara que eu seja ministro (lit˙rgo) de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de<br />
anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceit·vel, uma vez santificada<br />
pelo EspÌrito Santo.î (Vers„o: Jo„o Ferreira de Almeira Revista e Atualizada)<br />
297 WHITE, James F., op.cit., p. 20.<br />
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129<br />
culto crist„o, ele compreende o culto, portanto, como di·logo que usa uma<br />
variedade de ritos, emoÁıes, palavras e aÁıes 298 .<br />
A tradiÁ„o luterana, por sua vez, descrita pelo teÛlogo Peter Brunner,<br />
compreende o culto crist„o (em alem„o: Gottesdienst ñ serviÁo de Deus e nosso<br />
serviÁo para Deus), como serviÁo recÌproco entre Deus e os seres humanos. O<br />
culto È compreendido como ìserviÁo de Deus ‡ comunidade e culto como serviÁo<br />
da comunidade perante Deus 299 î.<br />
Na tradiÁ„o reformada, descrita pelo professor Jean-Jaques Von Allmen, o<br />
culto crist„o È tido como a memÛria (recapitulaÁ„o) daquilo que Deus j· fez, e se<br />
relaciona diretamente com a histÛria bÌblica dos eventos salvÌficos de Deus. No<br />
culto a comunidade se capacita a servir, renova a esperanÁa e toma consciÍncia<br />
de si mesma. Para ele, ìo culto crist„o contesta a justiÁa humana e aponta para o<br />
dia em que todas as conquistas e fracassos ser„o julgados, oferecendo, porÈm,<br />
esperanÁa e promessa pela afirmaÁ„o de que, em ˙ltima an·lise, tudo est· nas<br />
m„os de Deus 300 î.<br />
A partir da tradiÁ„o anglo-catÛlica, Evelyn Underhill, destaca que a<br />
caracterÌstica do culto crist„o È a sua express„o profundamente social e org‚nica,<br />
isto È, que n„o existe culto solit·rio e que o mesmo possui um car·ter concreto na<br />
sociedade, em especial quando se observa que Deus se movimenta<br />
permanentemente em direÁ„o do ser humano, sendo a resposta do ser humano<br />
tambÈm executar este movimento na direÁ„o do outro 301 .<br />
A tradiÁ„o ortodoxa, conforme Georg Florovsky, afirma que: ìo culto crist„o<br />
È a resposta dos seres humanos ao chamado divino, aos ëprodÌgiosí de Deus,<br />
culminando no ato redentor de Cristo 302 î. Florovsky enfatiza esta resposta ao<br />
chamado de Deus, compreendendo que a essÍncia do cristianismo È<br />
fundamentalmente comunit·ria.<br />
298 Idem, p. 15.<br />
299 Idem, p. 15-19.<br />
300 Idem, p. 16.<br />
301 UNDERHILL, Evelyn apud WHITE, James F., op.cit., p. 17.<br />
302 FLOROVSKI, Georg apud WHITE, James F., op.cit., p. 17.<br />
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130<br />
Por ˙ltimo na tradiÁ„o catÛlica romana, o culto crist„o pode ser definido de<br />
duas formas que se completam. Primeiro È tido como ìa glorificaÁ„o de Deus e a<br />
santificaÁ„o da humanidade (...) e a glÛria de Deus e a santificaÁ„o e edificaÁ„o<br />
dos fiÈis 303 î, como descrito no motu prÛprio de 1903, do Papa Pio X sobre a<br />
m˙sica sacra no culto e que se repete nas encÌclicas posteriores, que sofre uma<br />
invers„o significativa em 1963 no ConcÌlio Vaticano II, passando a ser<br />
ìsantificaÁ„o do ser humano e glorificaÁ„o de Deus 304 î, observando esta invers„o<br />
de ordem e o debate que se instalou White, afirma que: ìglorificaÁ„o e<br />
santificaÁ„o formam uma unidadeî, pois o ser humano tornado santo glorifica a<br />
Deus, entendendo que a glorificaÁ„o e a santificaÁ„o caracterizam o culto crist„o.<br />
Ainda de acordo com a tradiÁ„o catÛlica romana, o culto crist„o È descrito como<br />
mistÈrio pascal, isto È, a comunidade que compartilha os atos redentores de<br />
Cristo no culto, revive os atos de salvaÁ„o e solidariedade 305 .<br />
A partir destas definiÁıes do culto crist„o nota-se que o traÁo comum que<br />
perpassa È a dimens„o do serviÁo e do di·logo entre o ser humano e Deus. Estas<br />
definiÁıes apontam tambÈm para a possibilidade de novas experiÍncias e pr·ticas<br />
lit˙rgicas como forma das comunidades crist„s sinalizar na histÛria o amor de<br />
Deus. A possibilidade de novas pr·ticas lit˙rgicas crist„s, È reforÁada quando se<br />
analisa o desenvolvimento das famÌlias lit˙rgicas.<br />
3.3.1 FamÌlias lit˙rgicas cl·ssicas<br />
A compreens„o do desenvolvimento histÛrico da liturgia se d· tambÈm pelo<br />
entendimento das famÌlias lit˙rgicas, que apresentam, a partir da cultura de<br />
diferentes povos e lugares, formas prÛprias de expressar o culto crist„o. Contudo,<br />
È necess·rio afirmar que embora os ritos sejam diferentes, È possÌvel notar os<br />
fundamentos do cristianismo em meio ‡ diversidade dos povos, lÌnguas, ritos e<br />
303 PAPA S O PIO X ñ Tra le sollicitudine. sobre a M˙sica Sacra. Roma, 1903.<br />
pesquisa realizada em novembro de 2006.<br />
304 CONSTITUI« O CONCILIAR. SACROSANCTUM CONCILIUM. Sobre a sagrada liturgia.<br />
Roma, 1963. http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council<br />
305 WHITE, James F. op.cit. p. 18.<br />
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131<br />
lugares. White destaca, a partir do catolicismo romano e ortodoxo, sete famÌlias<br />
lit˙rgicas cl·ssicas: 1. famÌlia de Alexandria, 2. famÌlia SÌria Ocidental, 3. famÌlia<br />
ArmÍnia, 4. FamÌlia SÌria Oriental, FamÌlia Bizantina ou de s„o Jo„o CrisÛstomo,<br />
6. famÌlia Romana e 7. famÌlia G·lica 306 . Cada uma destas famÌlias lit˙rgicas<br />
possui suas particularidades e caracterÌsticas.<br />
A famÌlia Alexandrina, tambÈm denominada egÌpcia, possui em seu rito<br />
inicial uma longa enumeraÁ„o das obras de criaÁ„o e redenÁ„o de Deus. Busca<br />
uma forte fundamentaÁ„o no Antigo Testamento. Segue com uma oraÁ„o de<br />
intercess„o, que inclui uma oraÁ„o pela cheia do rio Nilo e por pessoas (vivas e<br />
mortas), essas oraÁıes eram denominadas dÌpticos. O terceiro tempo era<br />
preenchido pelo sanctus (hino que se dava pela repetiÁ„o tripla da palavra<br />
sanctus - ''Sanctus, sanctus, sanctus/dominus Deus sabaoh/benedictus qui venit<br />
in nomine domini...'' Santo, santo, santo/ senhor Deus dos exÈrcitos/ bendito o<br />
que vem em nome do Senhor). Em seguida vem o pÛs-sanctus que inicia com:<br />
ìcheios de verdade, est„o os cÈus e a terraî. Segue-se uma invocaÁ„o ao EspÌrito<br />
Santo (epiclese), a elevaÁ„o dos elementos da eucaristia (oblaÁ„o), uma oraÁ„o<br />
que celebra a paix„o (anamnese), uma nova invocaÁ„o ao EspÌrito Santo e uma<br />
oraÁ„o final que glorifica a grandeza de Deus (doxologia) 307 .<br />
A famÌlia SÌrio Ocidental ou antioquena se caracteriza principalmente pelo<br />
pref·cio que contÈm uma lista de chamada celestial, as oraÁıes de intercess„o<br />
iniciam sempre com a express„o ìlembra Senhorî, e possui uma forma de<br />
linguagem rebuscada, poÈtica e complexa 308 .<br />
A famÌlia ArmÍnia, preserva boa parte dos ritos da famÌlia sÌrio ocidental,<br />
preservando a lÌngua ArmÍnia cl·ssica. O rito armÍnio ir· receber posteriormente<br />
influÍncia bizantina 309 .<br />
A famÌlia SÌrio Oriental possui alguns aspectos controversos, tanto que<br />
acabou se isolando por ser tida como herege. H· uma aparente falta de palavras<br />
306 Idem, p. 26-28.<br />
307 Idem, p. 184-185.<br />
308 Idem, p. 185.<br />
309 ArquidiÛcesis de Monterrey. Secretariado de Pastoral Catequetic. Distintos ritos de la Iglesia<br />
CatÛlica. In: http://www.rosario.org.mx/liturgia/ritos.htm<br />
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132<br />
de instituiÁ„o, o que a tornaria ˙nica entre as liturgias crist„s, e a invocaÁ„o ao<br />
espÌrito Santo vem apÛs as intercessıes 310 .<br />
A famÌlia Bizantina apresenta uma detalhada recitaÁ„o da criaÁ„o, queda e<br />
redenÁ„o logo apÛs o sanctus. O pÛs-sanctus e as intercessıes s„o bastante<br />
curtos. Este rito È o segundo mais usado pela igreja ainda hoje. E de acordo com<br />
Mihail Sabatelli possui como diferenÁas marcantes a lÌngua e a m˙sica.<br />
O Rito Bizantino, do Patriarcado de Constantinopla, difundiu-se em todas<br />
as provÌncias eclesi·sticas dependentes na origem de tal patriarcado (AnatÛlia,<br />
Balc„s, Ucr‚nia, R˙ssia) e, desde o sÈculo XI substituiu os ritos j· existentes nos<br />
patriarcados ortodoxos de Antioquia, Alexandria e JerusalÈm. Em todas estas<br />
regiıes h· grande uniformidade lit˙rgica, embora com pequenas variantes. A<br />
diferenÁa mais sensÌvel È a da lÌngua e, mais ainda, da m˙sica. LÌngua origin·ria<br />
do rito È o grego antigo, mas desde cedo comeÁou a ser usada a lÌngua georgiana<br />
e, nos paÌses eslavos, no sÈculo XI, a lÌngua eslava antiga ou p·leo-eslavo. Mais<br />
tarde foi introduzido o uso da lÌngua romena, ·rabe e outras lÌnguas modernas 311 .<br />
A famÌlia g·lica, esta entre aquelas que se diferenciam do rito romano, se<br />
incluem portanto, entre os ritos ocidentais n„o-romanos. Esta famÌlia se divide em<br />
quatro subgrupos: ambrosiano ou milanÍs, moÁ·rabe (Espanha), cÈltico (Irlanda)<br />
e galicano (FranÁa e Alemanha). A origem desta famÌlia È de difÌcil identificaÁ„o,<br />
mas parece haver uma fundamentaÁ„o no rito romano, e muitos fatores<br />
contribuÌram para as diferenÁas, como as aÁıes nacionalistas dos francos no<br />
sÈculo V e a falta de contato direto com Roma. O rito galicano possui uma grande<br />
variedade de fÛrmulas e expressıes. Inicia com a saudaÁ„o ìO Senhor esta<br />
sempre convoscoî, segue-se com dois c‚nticos, a leitura do Antigo Testamento e<br />
do Novo Testamento com uma explicaÁ„o homilÈtica dos textos, assim termina a<br />
liturgia da palavra. A liturgia do sacrifÌcio inicia com a entrada dos elementos da<br />
eucaristia que s„o colocados sobre o altar, s„o feitas as intercessıes e o rito<br />
termina com um beijo da paz. Em seguida È feita a oraÁ„o eucarÌstica e o pÛs-<br />
sanctus, o p„o È partido e disposto em forma de cruz, o Pai-nosso È recitado pelo<br />
310 WHITE, James F.,op.cit., p. 185.<br />
311 SABATELLI, Mihail (org). A Divina Liturgia no Rito Bizantino-eslavo. In: A Divina Liturgia no Rito<br />
Bizantino-Eslavo - Pequeno Missal Bizantino. http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/<br />
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133<br />
celebrante e pela congregaÁ„o, a comunh„o se recebe no altar, os homens com<br />
as m„os descobertas e a mulheres com a m„os cobertas por um tecido e tomam<br />
do c·lice. Segue-se com uma oraÁ„o apÛs a comunh„o e o rito termina com a<br />
express„o: ìMissa acta est. In pace 312 î.<br />
O rito da famÌlia Romana È dominante no catolicismo romano, chegando a<br />
ser utilizado por cerca de 98% dos catÛlicos. Em princÌpio O rito romano era<br />
celebrado somente na cidade de Roma, somente depois do sÈculo VIII que se<br />
dirigiu para outras partes do ocidente, influenciando outros ritos ocidentais e<br />
sendo tambÈm influenciado (como o rito galicano). A liturgia eucarÌstica se divide<br />
em quatro partes: 1. O ofertÛrio; 2. oraÁ„o de aÁ„o de graÁas com a express„o:<br />
"deu GraÁas" a Seu Pai antes de "abenÁoar", È feito O memorial da Ceia que<br />
precede as palavras da instituiÁ„o: "Tomai... isto È meu Corpo", È feita uma<br />
invocaÁ„o do EspÌrito Santo (epiclÈse); 3. vem ent„o a fraÁ„o do p„o repetindo o<br />
gesto de Jesus, um fragmento do p„o È mergulhado no c·lice; e 4. a<br />
comunh„o 313 .<br />
A partir da an·lise das famÌlias lit˙rgicas cl·ssicas, contata-se que a cultura<br />
È um elemento fundamental no desenvolvimento da liturgia, que ela imprime suas<br />
marcas nas expressıes religiosas e que portanto deve ser compreendida em toda<br />
elaboraÁ„o lit˙rgica.<br />
3.3.2 A inculturaÁ„o lit˙rgica<br />
A partir da an·lise das famÌlias lit˙rgicas se observa a variedade de<br />
expressıes religiosas existentes no mundo antigo, e como estas manifestaÁıes<br />
estavam relacionadas com as caracterÌsticas culturais dos povos que as<br />
elaboraram, por detr·s da rigidez das fÛrmulas e dos ritos existia a cultura local<br />
modelando e imprimindo suas marcas prÛprias. O que pode ser considerado um<br />
traÁo da inculturaÁ„o lit˙rgica, ou seja, o processo pelo qual os elementos<br />
pertencentes a uma cultura local s„o integrados na liturgia, como È descrito por<br />
Anscar J. Chupungco:<br />
312 VALLE. C. Garcia Del. Galicano, rito. Canal social. Ediciones Rialp. In:<br />
. pesquisa realizada em novembro de 2006<br />
313 DULAC, Raymund. QUO PRIMUM TEMPORE: Estudo do padre Raymond Dulac sobre a bula<br />
que promulgou o missal romano. In: http://www.capela.org.br/Missa/dulac1.htm<br />
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134<br />
A integraÁ„o significa que a cultura influencia a maneira de<br />
compor e proferir textos e oraÁıes, executar aÁıes rituais e<br />
expressar a mensagem em formas artÌsticas. IntegraÁ„o pode<br />
significar tambÈm que ritos, sÌmbolos e festas locais, depois de<br />
passarem pela devida crÌtica e reinterpretaÁ„o crist„, tornam-se<br />
parte do culto lit˙rgico de uma igreja local.<br />
Um resultado da inculturaÁ„o È o de que os textos, sÌmbolos,<br />
gestos e festas lit˙rgicos evocam algo da histÛria, das tradiÁıes,<br />
dos padrıes culturais e do espÌrito artÌstico do povo. Podemos<br />
dizer que, se uma liturgia È capaz de evocar a cultura local, isso È<br />
um sinal de que efetivamente ocorreu inculturaÁ„o 314 .<br />
314 CHUPUNGCO, Anscar apud KIRST, Nelson. ìLiturgiaî. IN: SCHNEIDER-HARPPRECHT (org.),<br />
Teologia pr·tica no contexto da AmÈrica Latina. S„o Leopoldo, Sinodal / ASTE, 1998, p.136.<br />
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O objetivo da inculturaÁ„o da liturgia È o de criar uma maneira de<br />
comunicaÁ„o que seja adequada ‡ comunidade local e facilmente assimilada pelo<br />
povo, o que possibilita uma participaÁ„o ativa e consciente no culto, que brota da<br />
convicÁ„o de fÈ de cada indivÌduo. Compreende ainda que se for executada de<br />
forma correta, levar· a comunidade a uma compreens„o maior do mistÈrio de<br />
Cristo. A inculturaÁ„o objetiva, portanto, aprofundar a espiritualidade e a<br />
participaÁ„o da comunidade, evitando pr·ticas descontextualizadas e alienantes.<br />
ìSe a inculturaÁ„o n„o levar a tanto, n„o passa de um exercÌcio f˙til 315 î.<br />
O processo de inculturaÁ„o lit˙rgica se d· a partir de dois mÈtodos: as<br />
assimilaÁıes criativas, que foi praticada pelos crist„os gregos e entre os sÈculos I<br />
e IV e o mÈtodo de equivalÍncia din‚mica.<br />
O primeiro mÈtodo de assimilaÁ„o criativa consistiu na incorporaÁ„o<br />
daquilo que existia na cultura (sÌmbolos, lÌngua, ritos religiosos ou n„o). Este<br />
mÈtodo retira o potencial austero da liturgia possibilitando uma interaÁ„o muito<br />
maior entre as pessoas e o ato celebrado 316 .<br />
O segundo mÈtodo È o de equivalÍncia din‚mica. Ele parte daquilo que j·<br />
existe na liturgia crist„, e observa como a cultura pode contribuir no<br />
desenvolvimento de sua estrutura e forma, Nelson Kirst afirma que este mÈtodo<br />
se assemelha a um tipo de ìtraduÁ„oî, substituindo elementos da estrutura<br />
lit˙rgica por algo que tenha maior sentido na cultura do povo, que seja mais<br />
contextualizado e adequado para os objetivos da liturgia. O que se nota È que<br />
este mÈtodo, ìsubstitui elementos da estrutura lit˙rgica por algo que tenha um<br />
significado ou valor igual na cultura do povo 317 î.<br />
A express„o inculturaÁ„o lit˙rgica, pode ent„o ser compreendida, como um<br />
neologismo lit˙rgico, o a idÈia por detr·s do conceito n„o È nova como pr·tica<br />
lit˙rgica, Chupungco, reconhece que o partir do p„o, o batismo, a imposiÁ„o de<br />
m„os e a unÁ„o dos enfermos no Novo Testamento podem ser considerados<br />
315 Idem, 137.<br />
316 Idem, ibid.<br />
317 CHUPUNGCO. Anscar J. Liturgias do Futuro: processos e mÈtodos de inculturaÁ„o. S„o Paulo:<br />
Paulinas, 1991, p. 46.<br />
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como inculturaÁ„o lit˙rgica, pois eram pr·ticas da cultura neo-testament·ria.<br />
Desta forma, se descreve inculturaÁ„o lit˙rgica como um processo que ocorre de<br />
inserÁ„o da estrutura cultural nos ritos e textos do culto, que absorvem a<br />
linguagem, o pensamento e modelos 318 .<br />
Nesta direÁ„o Chupungco, afirma que:<br />
No decorrer dos sÈculos, a liturgia aproveitou elementos materiais<br />
e gestos corporais em uso entre diferentes povos: p„o, vinho,<br />
·gua, Ûleo, incenso, velas, imers„o, imposiÁ„o das m„os,<br />
aspers„o com ·gua, genuflex„o, prostraÁ„o etc. Na liturgia, tais<br />
elementos assumiram o papel de expressar e simbolizar com<br />
ìconaturalidadeî as realidades crist„s. Por isso, os elementos da<br />
cultura e na verdade a prÛpria cultura, enriquecidos pela fÈ e pelo<br />
culto crist„os, evoluÌram em um processo transcultural, sem forÁar<br />
a sua natureza 319 .<br />
Nem todos os aspectos da cultura, podem ser assimilados diretamente<br />
pela liturgia crist„, h· elementos que ficam de fora da inculturaÁ„o lit˙rgica, neste<br />
processo de inculturaÁ„o, È necess·rio considerar a natureza e os objetivos da<br />
liturgia crist„, que tem na pr·xis um de seus fundamentos: comunicar o<br />
evangelho, possibilitar a reflex„o, criar condiÁıes para as transformaÁıes sociais<br />
e desenvolver as pr·ticas comunit·rias e de serviÁo ao povo. Assim, a avaliaÁ„o<br />
da inculturaÁ„o lit˙rgica passa pelo crivo histÛrico, bÌblico e teolÛgico.<br />
3.3.3 Pr·xis lit˙rgica<br />
Como foi visto anteriormente, liturgia È uma express„o de origem grega<br />
(leitourgia; verbo: leittourgein; substantivo pessoal: leitourgÛs), assim provÈm da<br />
composiÁ„o de duas palavras l·Ûs, que quer dizer povo e Èrgon, que significa<br />
obra / serviÁo / aÁ„o. Traduzindo literalmente a palavra liturgia, ela ter· o<br />
significado de ìserviÁo feito para o povoî, ou ìserviÁo diretamente prestado para o<br />
bem comumî. Como quando um grupo de vizinhos e amigos que se re˙nem para<br />
encher uma laje ou construir um cÙmodo em mutir„o em um final de semana, eles<br />
est„o fazendo liturgia, da mesma forma que o sacerdote ao celebrar um serviÁo<br />
318 Idem, p. 37-38.<br />
319 Idem, p. 42.<br />
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na Igreja, tambÈm faz liturgia. Portanto, a pr·xis como È atividade intrÌnseca a<br />
liturgia crist„.<br />
A partir da eclesiologia contempor‚nea, a igreja È vista como sacramento,<br />
sinal e instrumento 320 , portanto, como espaÁo do serviÁo e da aÁ„o profÈtica,<br />
capaz de operar a revoluÁ„o simbÛlica que as transformaÁıes sociais exigem.<br />
Este modelo de igreja encontra-se em contradiÁ„o com uma eclesiologia centrada<br />
na instituiÁ„o e no clericalismo, j· que uma igreja clerical ir· corresponder a uma<br />
liturgia clerical, construÌda sem a participaÁ„o do povo, enquanto a igreja como<br />
sacramento aponta para uma liturgia comunit·ria e participativa. Como se observa<br />
na afirmaÁ„o de Ione Buyst:<br />
… esta Igreja ñ povo de Deus, povo sacerdotal, profÈtico e rÈgio,<br />
Corpo de Cristo no espÌrito Santo ñ que È chamada a celebrar a<br />
liturgia, a ser seu sujeito, ator, agente; a ser ìliturgoî 321 .<br />
A eclesiologia emergente, afirma que a igreja È vista como essencialmente<br />
mission·ria, enviada a servir, dentro de um envolvimento direto com a sociedade,<br />
desta forma, ela È chamada a transpor os muros e a se engajar no trabalho em<br />
prol da justiÁa, da libertaÁ„o e da paz.<br />
O desafio para a pr·xis lit˙rgica È o de possibilitar a criaÁ„o de uma igreja<br />
que È verdadeiramente uma comunidade a serviÁo do povo, ou seja, capaz de<br />
acolher pessoas de fora e sinalizar o amor e a justiÁa em suas pr·ticas cotidianas.<br />
Uma igreja capaz de formar as pessoas para exercer sua vocaÁ„o de serva, que<br />
se transforma em sacramento, sinal e instrumento de Deus na sociedade.<br />
A igreja È o povo de Deus, que se re˙ne para o exercÌcio visÌvel de sua fÈ,<br />
da pr·xis transformadora e libertadora que sinaliza o reino de Deus na sociedade,<br />
todos os crist„os s„o chamados a assumir sua cidadania e a participar da miss„o<br />
de Deus no mundo. Nesta direÁ„o, observa Buyst que:<br />
320<br />
BOSCH, David J. Miss„o transformadora: mudanÁas de paradigmas na Teologia da Miss„o.<br />
S„o Leopoldo, EST / Sinodal, 2002, p.449.<br />
321<br />
BUYST, Ione. O mistÈrio celebrado: memÛria e compromisso I. S„o Paulo: LBT/Siquem<br />
Ediciones, 2002, p. 93.<br />
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Como povo sacerdotal, somos chamados a viver conscientemente<br />
e a expressar publicamente, na liturgia, os laÁos de intimidade, de<br />
fidelidade, que, muitas vezes de forma inconsciente ou difusa,<br />
unem todos os seres humanos e atÈ mesmo toda a realidade<br />
criada, com o sagrado (...) 322 .<br />
Uma pr·xis lit˙rgica resultante da igreja como sacramento, sinal e<br />
instrumento, certamente levar· ‡ reflex„o sobre o papel do crist„o na sociedade,<br />
j· que tal liturgia n„o È elaborada para servir o indivÌduo, em seus interesses<br />
hedonistas, mas a comunidade, e busca ser apoio na jornada do povo de Deus<br />
na busca por sinalizar o mundo com os valores do reino de Deus ñ justiÁa,<br />
igualdade e liberdade.<br />
3.4 Desafios para a pr·xis pastoral lit˙rgica em HeliÛpolis<br />
A comunidade de HeliÛpolis, como foi analisado no primeiro capÌtulo,<br />
surgiu a partir de uma aÁ„o n„o planejada do poder p˙blico municipal da cidade<br />
de S„o Paulo. Na dÈcada de 1970 a comunidade È transferida para uma ·rea<br />
p˙blica, sem condiÁıes apropriadas para a habitaÁ„o. A organizaÁ„o dos<br />
moradores contou nos anos 70-80, com diversos agentes externos, inclusive as<br />
pastorais sociais, que se engajaram na lutas dos moradores de HeliÛpolis por<br />
habitaÁ„o. Neste perÌodo, no Brasil, estavam ocorrendo as lutas pela<br />
redemocratizaÁ„o do paÌs e por uma ordem social marcada pela justiÁa social. No<br />
contexto religioso, a Teologia da LibertaÁ„o, vive seu perÌodo de maturaÁ„o 323 , e<br />
contribui para fortalecer os sonhos e as pr·ticas de muitos crist„os que<br />
participaram das pastorais sociais, tanto no meio catÛlico como protestante.<br />
A partir 1989, com a queda do muro de Berlim e a imposiÁ„o hegemÙnica<br />
da economia de mercado e de uma globalizaÁ„o de cunho neoliberal 324 , h· um<br />
ìrefluxoî das lutas sociais e pastorais, que reivindicavam por justiÁa social. Este<br />
322 Idem, p. 93.<br />
323 RICHARD. Pablo. ForÁa Ètica e espiritual da teologia da libertaÁ„o: no contexto atual da<br />
globalizaÁ„o. S„o Paulo, Paulinas, 2006, p. 21.<br />
324 Idem, p. 21.<br />
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processo atinge tambÈm a igreja e, particularmente, a Teologia da LibertaÁ„o.<br />
ClÛvis Pinto de Castro comenta este fato afirmando que:<br />
A utopia socialista, que alimentava a pr·xis de muitos crist„os,<br />
perdeu seu poder de encanto e seduÁ„o. A prÛpria Teologia da<br />
LibertaÁ„o ainda passa por um processo de reformulaÁ„o na<br />
busca de uma reflex„o teolÛgica que apreenda a complexidade da<br />
modernidade neste final de milÍnio, e que apresente novas<br />
alternativas para a espiritualidade e aÁ„o pastoral dos crist„os nas<br />
diferentes realidades da sociedade brasileira 325 .<br />
As transformaÁıes sociais e polÌticas dos anos 1990 atingiram as<br />
esperanÁas e conseq¸entemente a pr·xis da parcela da igreja envolvida com as<br />
questıes sociais, e a presenÁa das pastorais sociais sofreu uma diminuiÁ„o. Em<br />
certa medida se notou a perda da esperanÁa crist„, e por sua vez da efic·cia<br />
mobilizadora e revolucion·ria das pastorais sociais.<br />
A partir dos anos 1990, movimentos de inspiraÁ„o conservadora e<br />
fundamentalista ganham espaÁo dentro das igrejas (catÛlicas e protestantes), e<br />
anunciam a superaÁ„o da Teologia da LibertaÁ„o, juntamente com as<br />
transformaÁıes no chamado ìsocialismo realî. Com a demoliÁ„o da Teologia da<br />
LibertaÁ„o, comenta Pablo Richard, estes movimentos sepultam a prÛpria<br />
capacidade dos crist„os, ìespecialmente do pobre, de ser sujeito criativo de uma<br />
nova teologia, de um novo modelo de Igreja e sociedade 326 î, e de pr·xis pastoral<br />
lit˙rgica.<br />
Atualmente, na comunidade de HeliÛpolis, apesar da presenÁa de<br />
in˙meras igrejas crist„s, n„o se constata uma participaÁ„o polÌtica e com forÁa de<br />
mobilizaÁ„o por parte das igrejas nas aÁıes dos moradores e organizaÁıes como<br />
a UNAS, que, por sua vez, permanecem em luta pela urbanizaÁ„o, por educaÁ„o<br />
e sa˙de.<br />
A partir destas consideraÁıes: o refluxo das pastorais sociais e a ausÍncia<br />
de aÁıes por parte das igrejas que atuam em HeliÛpolis, nota-se a necessidade<br />
de retomar a pastoral lit˙rgica, fundamentada na pr·xis, como forma de contribuir<br />
325 CASTRO, ClÛvis Pinto. Por uma fÈ cidad„: a dimens„o p˙blica da igreja ñ fundamentos para<br />
uma pastoral da cidadania. S„o Paulo:Loyola / UMESP, 2000, p, 106.<br />
326 RICHARD. Pablo, op.cit., p. 34.<br />
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140<br />
nas lutas dos moradores de HeliÛpolis, sustentando suas esperanÁas e<br />
fortalecendo suas resistÍncias. Neste contexto a pr·xis lit˙rgica, torna-se um<br />
obst·culo para o avanÁo das pr·ticas de exclus„o.<br />
S„o muitos os desafios para uma pr·xis lit˙rgica para a Comunidade de<br />
HeliÛpolis, a comeÁar por recuperar a dimens„o comunit·ria e festiva da liturgia<br />
crist„ e buscar na inculturaÁ„o lit˙rgica ñ na assimilaÁ„o criativa dos elementos<br />
da cultura nordestina ñ meios mais eficientes de comunicar o evangelho. A pr·xis<br />
lit˙rgica neste contexto deve buscar a revoluÁ„o simbÛlica, elemento necess·rio<br />
para motivar as lutas por transformaÁıes sociais e justiÁa.<br />
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3.4.1 Elementos para uma pr·xis pastoral lit˙rgica<br />
141<br />
A pr·xis pastoral lit˙rgica para o contexto da Comunidade do HeliÛpolis se<br />
faz necess·ria a partir da opÁ„o pelos pobres 327 , que ali vivem e constroem seus<br />
sonhos e esperanÁas. A necessidade de uma pr·xis lit˙rgica se faz presente na<br />
comunidade, por que l· residem seres humanos ainda mais silenciados pela<br />
opress„o do capital, excluÌdos do mercado de trabalho e com dificuldades de<br />
tornarem-se sujeitos efetivos da prÛpria histÛria 328 . Essa posiÁ„o ao lado do ser<br />
humano excluÌdo tambÈm È uma opÁ„o contra a racionalidade do mercado que<br />
expropria as riquezas e impede a criatividade humana. Nesta atividade n„o se<br />
separa o homo sapiens do homo faber, j· que n„o existe atividade humana que<br />
prescinda o conhecimento intelectual.<br />
A partir da an·lise do texto ìForÁa Ètica e espiritual da Teologia da<br />
LibertaÁ„oî de Pablo Richard, È possÌvel apontar para o fato de que pr·xis<br />
pastoral lit˙rgica deve priorizar trÍs aspectos fundamentais para o seu<br />
desenvolvimento na comunidade de HeliÛpolis: ìa construÁ„o da esperanÁa, a<br />
criaÁ„o de fundamentos sÛlidos e a formaÁ„o de pessoas 329 î. Outros elementos<br />
que devem constituir esta pr·xis lit˙rgica s„o: a espiritualidade e o profetismo.<br />
Para o desenvolvimento da pr·xis pastoral lit˙rgica, cinco objetivos gerais<br />
podem ser apontados, atÈ aqui, s„o eles: 1. construÁ„o da esperanÁa, como<br />
categoria capaz de mobilizar o ser humano a se afirmar nos laÁos de cooperaÁ„o<br />
e solidariedade; 2. o incentivo ‡ criaÁ„o de alternativas (polÌticas, econÙmicas,<br />
Èticas, espirituais e sociais); 3. a formaÁ„o de quadros de lideranÁa para a<br />
327 ìNo sistema de globalizaÁ„o do mercado, inspirado na ideologia neoliberal, n„o sÛ existe<br />
realidade do empobrecimento, mas tambÈm a da exclus„o. No modelo capitalista, anterior ao<br />
capitalismo selvagem, os pobres contavam como m„o-de-obra ou como consumidores. AlÈm<br />
disso, a pobreza estava ligada normalmente ao sal·rio miser·vel, em um contexto de lutas de<br />
classes entre propriet·rios e meios de produÁ„o e assalariados. No capitalismo tradicional de<br />
bem-estar social procurava-se um desenvolvimento nacional que incluÌssem todos e todas. Nunca<br />
se realizava, mas ninguÈm ficava excluÌdo da planificaÁ„o social de trabalho, terra, sa˙de e<br />
educaÁ„o para todos. Hoje, os pobres s„o majoritariamente excluÌdos: como m„o-de-obra, como<br />
consumidores, como assalariados; s„o excluÌdos atÈ da prÛpria planificaÁ„o capitalista global. Os<br />
pobres simplesmente n„o existem.î (RICHARD. Pablo, op.cit., p. 87).<br />
328 RICHARD. Pablo, op.cit., p. 35.<br />
329 Idem, p. 38.<br />
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142<br />
comunidade; 4. a criaÁ„o de condiÁıes para o di·logo inter-religioso e com os<br />
movimentos sociais e ecumÍnicos; e 5. o desenvolvimento de uma<br />
ìespiritualidade da vida como valor absoluto, contra os valores de pura<br />
produtividade 330 î, uma espiritualidade que considere todas as dimensıes do ser<br />
humano e capaz de compartilhar no lugar de somente acumular e consumir .<br />
Estes objetivos devem possibilitar o desenvolvimento, ainda que lento, de aÁıes<br />
de solidariedade, cidadania e resistÍncia ‡s forÁas que oprimem e escravizam os<br />
seres humanos.<br />
Como se faz uma liturgia capaz de atingir estes objetivos? Que se<br />
transforme, por exemplo, em aÁıes concretas no Ponto Mission·rio do HeliÛpolis?<br />
Primeiramente È necess·rio buscar uma abordagem interdisciplinar da<br />
subjetividade, j· que a subjetividade se configura como caracterÌstica cultural,<br />
cognitiva e emocional do ser humano, e pode ser analisada sob variados<br />
aspectos: sociolÛgicos, filosÛficos, histÛricos e teolÛgicos, todos fundamentais<br />
para o liturgista 331 . Sobre a subjetividade, Luiz Viera afirma que:<br />
A discuss„o sobre a relaÁ„o entre liturgia e subjetividade È<br />
necess·ria e urgente, se concordarmos que a subjetividade È<br />
caracterÌstica das mais evidentes na cultura moderna, devemos<br />
partindo da liturgia, levar a cabo essa discuss„o. A celebraÁ„o<br />
lit˙rgica n„o se d· sem o encontro entre a realidade humana e a<br />
divina. (...) Por isso mesmo a subjetividade humana deve ser<br />
valorizada e considerada 332 .<br />
Valorizar e considerar o processo de subjetivaÁ„o È tambÈm proteger o<br />
indivÌduo das pressıes massificantes da sociedade urbana, desta forma a liturgia<br />
deve acolher o indivÌduo tal como ele È e a partir daÌ buscar atingir os objetivos<br />
propostos anteriormente.<br />
Visando atingir os objetivos gerais para o desenvolvimento da pr·xis<br />
lit˙rgica, nota-se a necessidade de observar algumas aÁıes, tais como: 1. a<br />
330 Idem, p. 48.<br />
331 VIEIRA, Luiz. ìLiturgia e subjetividade: relaÁ„o e conseq¸Ínciaî. In: Liturgia e subjetividade.<br />
Cadernos de Liturgia. S„o Paulo: Paulus,1998, p. 6.<br />
332 Idem, p. 10.<br />
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143<br />
leitura popular da BÌblia, 2. as oraÁıes de aÁ„o de graÁas e intercess„o, 3. a<br />
celebraÁ„o da eucaristia, 4. o uso da m˙sica e 5. a pr·tica dos gestos corporais.<br />
No exercÌcio cotidiano da leitura popular da bÌblia, o ser humano descobre<br />
o sentido da palavra de Deus e reflete sobre a sua prÛpria realidade 333 . Esta aÁ„o<br />
deve proporcionar a reflex„o e a troca de experiÍncias entre o povo. A BÌblia<br />
aparece como um reflexo, um sÌmbolo daquilo que as pessoas vivem na<br />
sociedade urbana. A partir desta leitura È possÌvel fazer o exercÌcio de<br />
interpretaÁ„o e an·lise dos fatos da vida cotidiana e buscar a partir destas<br />
interpretaÁıes o engajamento social e cidad„o. Essa atitude proporciona a<br />
vivÍncia comunit·ria e o despertar de uma consciÍncia crÌtica e cidad„.<br />
A oraÁ„o de aÁ„o de graÁas e louvor, reanima a esperanÁa crist„ e a<br />
alegria do povo que se re˙ne. As expressıes de gratid„o, motivam o povo em<br />
suas lutas cotidianas, pessoais e comunit·rias e d· sentido ‡ vida. A oraÁ„o de<br />
s˙plica e intercess„o, tambÈm deve ser praticada, pois ela lembra o povo que<br />
ainda h· pelo que lutar para que o reino se realize em plenitude, que ìsÛ<br />
poderemos sossegar quando n„o houver mais nenhuma pessoa no mundo<br />
vivendo na misÈria, nas trevas, na solid„o, na injustiÁa 334 î.<br />
A celebraÁ„o da eucaristia, como pr·tica da comensalidade, deve estar<br />
presente na liturgia que se orienta pela filosofia da pr·xis. O ato comunit·rio da<br />
eucaristia reafirma que a vida vence a morte e possibilita a renovaÁ„o da<br />
esperanÁa e do engajamento social e polÌtico de todo o povo que a celebra 335 . A<br />
celebraÁ„o da ceia ensina e move a igreja a colocar em pr·tica o amor e a<br />
solidariedade, ninguÈm come sozinho, compartilhar È o ato central, assim, as<br />
dimensıes da fraternidade e da igualdade est„o sempre presentes na<br />
eucaristia 336 . H· tambÈm a renovaÁ„o do sentido profÈtico, da igreja, que insiste<br />
em uma vis„o de mundo alternativa ao modelo hegemÙnico na sociedade urbana,<br />
excludente e n„o solid·rio.<br />
333 RICHARD. Pablo, op.cit., p. 51-53.<br />
334 BUYST, Ione, op.cit. p. 135.<br />
335 MARASCHIN, Jaci. A beleza da santidade: ensaios de liturgia. S„o Paulo: Aste, 1996, p. 70.<br />
336 FLORIST¡N, Casiano, op.cit., p. 48-49.<br />
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144<br />
O uso da m˙sica e do canto, como elementos integrantes da liturgia, pois<br />
ìa m˙sica pode e muitas vezes efetivamente transmite uma intensidade de<br />
sentimento maior do que se expressaria sem ela 337 î. N„o se pode limitar a m˙sica<br />
· uma funÁ„o decorativa e de preenchimento de espaÁos vazios na liturgia, pois a<br />
m˙sica transcende a racionalidade sendo capaz de atingir o povo em sua<br />
totalidade, a partir dos sentimentos. Ela ainda proporciona um clima de festa e<br />
alegria 338 . Ione Buyst comenta ainda que:<br />
O canto meditado se aloja no coraÁ„o e de l· irradia luz e paz ao<br />
longo do dia, no meio de nossas ocupaÁıes di·rias e, assim, ajuda<br />
a manter a oraÁ„o permanente 339 .<br />
A pr·tica do ìgesto corporalî, que È ao mesmo tempo envolve raz„o e<br />
afeto, sendo uma realidade psÌquica e espiritual. N„o h· aÁ„o humana que n„o<br />
envolva a corporeidade, ì(...) n„o h· outro lugar ou outro meio para fazer<br />
experiÍncia com Deus e nos encontrar com ele, a n„o ser em nossas<br />
experiÍncias corporais 340 .î Assim, danÁar a liturgia, formar cÌrculos, dar-se ‡s<br />
m„os, contribui para criar um corpo celebrante e comunit·rio que È sujeito da<br />
liturgia e experimenta a libertaÁ„o. Como afirma Jaci Maraschin:<br />
No Brasil, tudo È danÁa, jogo e brinquedo: festa do corpo. Tudo È<br />
celebraÁ„o dionisÌaca de alegria e entusiasmo. Tudo termina em<br />
contemplaÁ„o (...) perante o mistÈrio 341 .<br />
Em todas estas aÁıes, a reflex„o e a participaÁ„o ativa da comunidade<br />
devem estar presentes, ao mesmo tempo em que o saber popular È valorizado e<br />
avaliado criticamente. O agir e o conhecer, a leitura dos fatos e a compreens„o<br />
das coisas, comentada por Gramsci 342 , s„o partes integrantes da pr·xis lit˙rgica,<br />
que objetiva uma formaÁ„o que supere o senso comum, as crenÁas e<br />
preconceitos presentes no grupo.<br />
337<br />
WHITE, James F. op.cit., p. 85.<br />
338<br />
BUYST, Ione, op.cit., 147-148.<br />
339<br />
Idem, p. 148.<br />
340<br />
Idem, p. 116-117.<br />
341<br />
MARASCHIN, Jaci. A (im)possibilidade da express„o do sagrado. S„o Paulo, Emblema, 2004,<br />
p. 9.<br />
342 SEMERARO, Giovanni, op.cit., p. 17.<br />
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145<br />
As aÁıes que se relacionam ‡ pr·xis lit˙rgica devem favorecer a reflex„o<br />
necess·ria para a superaÁ„o das pr·ticas repetitivas e a consciÍncia comum,<br />
possibilitando aÁıes transformadoras e criadoras de um novo modelo de<br />
sociedade, no interior da comunidade de HeliÛpolis. Como afirma Richard:<br />
Hoje necessitamos, mais do que nunca, reconstruir a vida e a<br />
esperanÁa, especialmente entre os pobres. A esperanÁa È n„o<br />
somente uma virtude teologal mas tambÈm uma orientaÁ„o<br />
estratÈgica, uma metodologia, um espaÁo onde haja vida para<br />
todos e todas 343 .<br />
A liturgia que se fundamenta na pr·xis È uma alternativa aos modelos<br />
religiosos e lit˙rgicos que buscam a soluÁ„o na fuga para um mundo ilusÛrio e de<br />
submiss„o ‡ uma ordem opressora. Assim, ao desenvolver suas aÁıes e<br />
objetivos, esta pr·xis pastoral lit˙rgica, certamente ter· condiÁıes de colaborar<br />
com a comunidade de HeliÛpolis em suas lutas, e resistÍncia ‡s forÁas que geram<br />
a morte, podendo assim trilhar caminhos de vida, justiÁa e esperanÁa.<br />
343 RICHARD. Pablo, op.cit., 169.<br />
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CONSIDERA«’ES FINAIS<br />
146<br />
ìDe que me adianta viver na cidade se<br />
a felicidade n„o me acompanharî.<br />
(Saudade da minha terra -Goia e Belmonte)<br />
A proposta da pesquisa foi analisar a pr·xis da pastoral lit˙rgica apontando<br />
caminhos para esta atividade no contexto urbano, e como toda an·lise, ela È uma<br />
leitura da realidade, neste caso da realidade da cidade de S„o Paulo, mais<br />
especificamente da Comunidade de HeliÛpolis, ìA cidade do Solî.<br />
Contudo È necess·rio salientar que tanto a Comunidade de HeliÛpolis<br />
como a cidade de S„o Paulo, s„o partes que integram um sistema econÙmico,<br />
cultural e polÌtico complexo e diversificado, um sistema global, que vem gerando<br />
espaÁos de concentraÁ„o de riqueza e exclus„o social, de plena mobilidade<br />
alguns e limitaÁıes no exercÌcio da cidadania para muitos. Neste sistema, o<br />
mercado e a globalizaÁ„o neoliberal despontam como ìdeusesî portadores dos<br />
bens de salvaÁ„o para a humanidade, criando uma sociedade que se apropria da<br />
tecnologia para o bem de poucos indivÌduos e na qual a atividade solid·ria se<br />
revela como um obst·culo dentro do modelo de desenvolvimento imposto pelo<br />
sistema.<br />
A pr·xis como atividade material do ser humano, È aÁ„o transformadora,<br />
que objetiva a supress„o das injustiÁas e desigualdades presentes na sociedade.<br />
Sem reflex„o e leitura cuidadosa da realidade n„o existe atividade pr·xis, mas<br />
n„o basta a reflex„o e an·lise para a pr·xis, antes ela se desdobra em uma<br />
atitude concreta frente ‡s desafios histÛricos que s„o apresentadas aos seres<br />
humanos.<br />
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A globalizaÁ„o neoliberal em todos os seus contornos, seja: econÙmico,<br />
polÌtico, cultural, ou religioso, È um desafio para o ser humano moderno, ela<br />
modelou nas ˙ltimas dÈcadas, uma sociedade nova, centrada em valores que<br />
desafiam a igreja e a humanidade. Ela cresce sem limitaÁıes, forÁando os paÌses<br />
da periferia do capitalismo a abrirem seus mercados aos paÌses centrais,<br />
privatizando suas economias, flexibilizando os direitos trabalhistas e impondo<br />
ajustes econÙmicos por meio de organismos internacionais como o FMI (Fundo<br />
Monet·rio Internacional) e o Banco Mundial, que n„o somente impede o<br />
desenvolvimento destas economias como tambÈm contribui para perpetuar a<br />
exclus„o social, impedindo o investimento em ·reas sociais vitais para a<br />
sobrevivÍncia dos pobres e excluÌdos.<br />
A igreja, n„o pode ignorar a globalizaÁ„o neoliberal imposta ‡ sociedade,<br />
como um elemento que norteia as aÁıes dos indivÌduos, e as mudanÁas culturais<br />
dos diferentes grupos de paÌses. Diante das pressıes para impor o ìpensamento<br />
˙nicoî, fica o desafio constante de buscar na diversidade de pensamentos e<br />
alternativas criativas para a superaÁ„o dos problemas que tocam a humanidade<br />
que vive sob os efeitos deste modelo econÙmico perverso e excludente.<br />
As reflexıes feitas alheias aos processos de decis„o global, talvez<br />
considerem como ˙nica possibilidade a intervenÁ„o t„o somente no nÌvel local e<br />
pontual. … importante notar que n„o se pode ignorar a import‚ncia das aÁıes<br />
locais bem intencionadas, que visam ‡s transformaÁıes polÌticas e econÙmicas e<br />
a inserÁ„o dos pobres. Entretanto, uma reflex„o isenta de crÌtica, e que<br />
desconsidere os efeitos da globalizaÁ„o neoliberal nas localidades, e se conforma<br />
com a inevitabilidade da imposiÁ„o da exploraÁ„o imposta pelo mercado global,<br />
n„o dar· conta de responder ‡ todas indagaÁıes e problemas oriundos da<br />
localidade.<br />
N„o resta duvida que as aÁıes s„o exercidas tambÈm no local, num<br />
determinado contexto cultural, polÌtico e econÙmico, e que necessitam de um<br />
exame dentro do contexto, entretanto tais an·lises precisam dar o salto de uma<br />
consciÍncia comum para uma consciÍncia reflexiva, ou seja, para a pr·xis, que<br />
supera a miopia da an·lise local considerando a relev‚ncia das questıes globais,<br />
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que em ˙ltima inst‚ncia È onde as forÁas econÙmicas agem e as decisıes s„o<br />
efetivamente tomadas afetando a vida de todas os indivÌduos.<br />
Uma pastoral lit˙rgica que busca seus fundamentos na filosofia da pr·xis,<br />
certamente possui aÁıes que s„o locais, dentro de um contexto social especÌfico<br />
e facilmente reconhecido, como a Comunidade de HeliÛpolis. Entretanto tais<br />
aÁıes n„o podem se desvincular de uma reflex„o conjuntural que considere<br />
criteriosamente o sistema de globalizaÁ„o neoliberal, que segue vitimando<br />
homens e mulheres em todo o mundo. Esta aÁ„o tem uma potencialidade de<br />
criar condiÁıes que operem transformaÁıes nas relaÁıes sociais existentes na<br />
Comunidade de HeliÛpolis, que podem vir a contrapor os interesses do sistema<br />
capitalista e do Estado que o avaliza, que passa a ter a funÁ„o quase que<br />
exclusiva de deter e limitar quaisquer intenÁıes que venham frustrar os interesses<br />
dos capitais, e o papel de legitimar as formas de dominaÁ„o impostas pelas<br />
grandes corporaÁıes, ou seja, um Estado operando em favor do capital em<br />
detrimento do cidad„o.<br />
A organizaÁ„o das cidades no Brasil, tambÈm se orienta para atender aos<br />
interesses do capital, o que tem causado o caos e o descaso com as questıes<br />
urbanas mais urgentes como moradia, sa˙de e educaÁ„o. Os fatores causadores<br />
do caos urbano que se instala nas cidades brasileiras possuem elementos<br />
comuns que s„o geradores desta desordem, dentre estes elementos situa-se a<br />
urbanizaÁ„o coorporativa, um processo de urbanizaÁ„o orientado para atender<br />
aos interesses do mercado e ‡ expans„o capitalista. Ao orientar as polÌticas<br />
p˙blicas, para o atendimento destes empreendimentos o resultado È um processo<br />
de urbanizaÁ„o excludente e que precariza as relaÁıes entre o Estado e o<br />
cidad„o, em que o cidad„o n„o tem participaÁ„o e acesso ao que a cidade<br />
produz.<br />
O que se nota È que h· uma deterioraÁ„o deliberada do Estado, com o<br />
objetivo de atender ‡ lÛgica neoliberal ñ de um Estado mÌnimo ñ que por sua vez<br />
leva a uma degradaÁ„o tambÈm dos projetos polÌticos que tenham as<br />
transformaÁıes sociais como eixo norteador. A conseq¸Íncia È a falta de<br />
interesse popular em debater as questıes polÌticas e sociais que afetam o<br />
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cotidiano. Diante desta quest„o, os diversos movimentos sociais possuem<br />
enorme relev‚ncia, como espaÁo de reflex„o e aÁıes de transformaÁ„o social,<br />
resistÍncia e den˙ncia das pr·ticas de exploraÁ„o do ser humano.<br />
A pr·xis pastoral lit˙rgica deve participar da reflex„o e das atividades em<br />
parceria com os movimentos sociais organizados na cidade, que possuem como<br />
objetivos a transformaÁ„o da realidade social e a emancipaÁ„o humana. Em<br />
todos os movimentos sociais, se formam novos sujeitos histÛricos, distintos entre<br />
si, como movimentos urbanos, campesinos, de migraÁ„o, moradia, educaÁ„o,<br />
economia solid·ria, etc. Muitos movimentos sociais surgiram motivados por<br />
diferentes Igrejas e pastorais sociais, e hoje s„o um importante espaÁo de di·logo<br />
e fortalecimento m˙tuo entre a sociedade e a igreja 344 .<br />
Entretanto diante do avanÁo das polÌticas neoliberais, da privatizaÁ„o da fÈ<br />
e da gradativa eliminaÁ„o do car·ter antecipatÛrio da ìpreocupaÁ„o ˙ltimaî, os<br />
movimentos sociais tÍm experimentado perdas e refluxos constantes, o que<br />
acaba gerando a falta de esperanÁa, pela vitÛria que n„o chega, e o desanimo.<br />
Este quadro tem levado in˙meros movimentos sociais a serem cooptados e<br />
seduzidos pelas soluÁıes paliativas oferecidas pelo sistema que n„o s„o capazes<br />
de propor aÁıes efetivas de transformaÁ„o e que colaboram para a manutenÁ„o<br />
da pobreza, da falta de moradia e da fome.<br />
Neste contexto, a pr·xis pastoral lit˙rgica deve insistir na opÁ„o<br />
preferencial pelos pobres e excluÌdos priorizando a pr·xis de libertaÁ„o, a<br />
espiritualidade integral e ‡ atividade profÈtica, estas aÁıes possuem um<br />
importante sentido revolucion·rio, que coloca o ser humano e a natureza no<br />
centro das decisıes, devolvendo-lhes a dignidade e as esperanÁas perdidas.<br />
Compreende-se que a esperanÁa crist„ È uma categoria que deve estar<br />
presente na pr·xis pastoral lit˙rgica, pois ela possibilita a mobilizaÁ„o para as<br />
mudanÁas desejadas, j· que o futuro È antecipado por ela, exigindo no presente<br />
os sinais de justiÁa e igualdade prometidos para o reino (futuro). Como foi<br />
344 Cf. RICHARD, Pablo. ForÁa Ètica da teologia da libertaÁ„o no contexto atual da globalizaÁ„o.<br />
S„o Paulo: Paulinas, 2006, p. 44-46.<br />
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observado, o ser humano portador desta esperanÁa n„o se contenta com o<br />
presente dominado pela exploraÁ„o e por sinais de morte. A fÈ que se desenvolve<br />
a partir desta esperanÁa carrega consigo as sementes da pr·xis, trazendo a<br />
impaciÍncia e a inquietude capazes de transformar o presente.<br />
A pr·xis pastoral lit˙rgica, n„o obstante, se movimente pelo terreno, por<br />
vezes austero, das an·lises conjunturais e da crÌtica ‡s estruturas (apolÌneo), n„o<br />
deve perder a perspectiva de que todo o seu fazer È para o ser humano, È serviÁo<br />
para o povo, em que a arte, a beleza, o companheirismo, a paix„o pela vida<br />
(dionisÌaco), e o an˙ncio da ressurreiÁ„o de Cristo ñ protesto contra o sofrimento<br />
humano ñ s„o elementos fundamentais na constituiÁ„o da pr·xis lit˙rgica.<br />
Desta maneira a pr·xis lit˙rgica alimenta o sonho de materializaÁ„o<br />
objetiva daquilo que se espera e a renovaÁ„o da esperanÁa crist„ torna-se um<br />
dos eixos norteadores da pastoral lit˙rgica, em sua busca para reanimar o povo<br />
para as suas lutas concretas, favorecendo assim, a organizaÁ„o e a<br />
sensibilizaÁ„o do ser humano para as questıes sociais presentes em seu<br />
contexto.<br />
A celebraÁ„o lit˙rgica È o encontro do povo de Deus, que espera a<br />
plenitude do reino, mas provoca sua irrupÁ„o no cotidiano. A cidade com seus<br />
encontros e desencontros por vezes impede o brilho desta esperanÁa na vida de<br />
seus habitantes, n„o È diferente na Cidade do Sol, contudo l· tudo isso se torna<br />
ainda mais perverso pois h· muito pelo que lutar e conquistar, por isso toda a<br />
aÁ„o que vai ao encontro de animar o sonho de emancipaÁ„o destes homens e<br />
mulheres cumpre uma miss„o profÈtica, de an˙ncio da esperanÁa e den˙ncia dos<br />
males. Um povo alegre, inspirado pelo sopro do EspÌrito de Deus, realiza a pr·xis<br />
histÛrica.<br />
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Categoria de moradores<br />
(2) Lutas<br />
(4)<br />
Movimentos e organizaÁıes<br />
ReivindicaÁıes b·sicas<br />
(6) Forma de<br />
atuaÁ„o<br />
(8) Projeto<br />
principal<br />
(10) Assessorias<br />
Moradores de<br />
loteamentos<br />
clandestinos<br />
�<br />
Luta pela<br />
regularizaÁ„o<br />
Movimentos de<br />
moradores de<br />
lotes<br />
clandestinos<br />
Moradores de<br />
praÁas, ruas,<br />
pontes e<br />
viadutos<br />
Quadro Geral<br />
Moradores<br />
de cortiÁos<br />
Moradores de<br />
conjuntos<br />
habitacionais<br />
GOHN, Maria da GlÛria. Movimentos sociais e luta pela moradia, S„o Paulo, Loyola, 1991, p.68.<br />
�<br />
Lutas contra a<br />
repress„o do<br />
abrigo<br />
�<br />
Lutas pela<br />
fiscalizaÁ„o<br />
e locaÁ„o<br />
�<br />
Lutas pela melhoria<br />
de qualidade<br />
(a) Luta Pela Moradia Popular ñ 1976-1986<br />
Moradores<br />
de favelas<br />
�<br />
Luta pela<br />
posse e<br />
urbanizaÁ„o<br />
Moradores<br />
de casa de<br />
aluguel<br />
�<br />
Lutas pelo<br />
controle dos<br />
preÁos<br />
Moradores<br />
de ·reas<br />
invadidas e<br />
·rea prec·ria<br />
�<br />
Luta pelo<br />
acesso ‡<br />
moradia<br />
� � � � � � � �<br />
AssociaÁ„o dos<br />
sofredores de<br />
rua<br />
�<br />
Movimento unificado de<br />
favelas, cortiÁos<br />
e PROMORAR<br />
� �<br />
Registro do imÛvel<br />
Posse coletiva da terra<br />
Movimento de luta das<br />
AssociaÁıes Comunit·rias e<br />
Cooperativas<br />
�<br />
Autocontrole do processo<br />
produtivo dos Conjuntos<br />
habitacionais<br />
� � �<br />
AtravÈs de associaÁ„o de Defesa da<br />
Moradia ñ Movimentos de<br />
Loteamentos Clandestinos ñ<br />
assessoria jurÌdica da Faculdade de<br />
Direito<br />
�<br />
LegislaÁ„o sobre loteamentos<br />
populares<br />
�<br />
Movimento de defesa do favelado ñ<br />
Centro AcadÍmico 22 de agosto ñ<br />
Centro AcadÍmico 11 de agosto<br />
CoordenaÁ„o das Favelas<br />
�<br />
Direito real de uso por 90<br />
anos<br />
�<br />
Agentes pastorais e<br />
Igrejas ñ Func. Da<br />
C‚mara Municipal ñ<br />
Comiss„o de justiÁa e paz<br />
ñ Movimento de Defesa<br />
do Favelado ñ Partidos ñ<br />
Sindicatos<br />
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CoordenaÁ„o das associaÁıes<br />
comunit·rias<br />
�<br />
Cooperativa de ajuda m˙tua e<br />
autogest„o<br />
�<br />
Agentes Pastorais e Igrejas ñ<br />
FASE ñ Arquitetos autÙnomos<br />
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