Entrentanto, entendemos que a incursão em um processo de formação continuada só é possívelquando o educador se percebe como ser inacabado e em processo de permanente aprendizado. É precisomanter acesa a chama da humildade, como condição necessária para o reconhecimento de seus limites ede suas possibilidades e de reconhecimento dos limites e possibilidades de seus estudantes.Pois, segundo Freire (1996), o educador que respeita o educando, a sua curiosidade, a sua timideznão utiliza procedimentos inibidores, e isso exige dele o cultivo da humildade e da tolerância. Portanto,o desenvolvimento de uma postura interdisciplinar requer dos seus agentes o reconhecimento de suascompetências e a busca incessante por uma aproximação a outros saberes.Confrontos e possibilidades da InterdisciplinaridadeA reflexão em torno da postura interdisciplinar do educador matemático traz a reboque a necessidadede superação da velha dicotomia teoria/prática. E que por sua vez traz à tona outra problemática:o que ensinar, visto que a interdisciplinaridade pressupõe a aproximação de saberes entre diversasdisciplinas.A resposta a essa indagação passa pela discussão em torno do “currículo”. Nesse sentido, é precisoconhecer as diferentes teorias sobre currículo. Pois, segundo Silva (2004), a questão central que servecomo pano de fundo para qualquer teoria sobre currículo é saber que conhecimento deve ser ensinado.Nesse sentido, o Educador Matemático se depara com a crise de “fronteiras” – quais são os limitese limitações do acercamento aos saberes de “outra(s)” disciplina(s)? Esse, sem dúvida, deve ser o questionamentode vários educadores: até onde avançar sem perder as especificidades de sua disciplina e semnegar a necessidade do encontro com outros saberes?O caminho em busca do encontro com os saberes oriundos de diferentes disciplinas é sem dúvidauma caminhada complexa, mas factível. Ele se dá através do diálogo solidário, que exige dos atores sociaisa permissividade do compartilhamento, a renúncia da supremacia de saberes, a abolição da supervalorizaçãode determinada Ciência e a humildade quanto aos limites e possibilidades desse encontro.E como o Educador Matemático viabiliza esse diálogo?A interdisciplinaridade e a MatemáticaA linguagem é o espaço por excelência da interdisciplinaridade, visto ser um elemento comum a todosas pessoas, ela também é a vida dessas pessoas (FIORIN, 2006). Desta forma a interdisciplinaridadetambém se evidencia na Matemática, visto ser esta uma das linguagens científicas.Nesse sentido, Mayer(1992) afirma que é inquestionável a importância da Matemática como linguagemeterna da Ciência Moderna no desenvolvimento de todos os padrões de crescimento cultural dahumanidade.E, na condição de linguagem, a Matemática possibilita aos seres humanos a categorização do mundo,o estabelecimento de medidas, a avaliação e medida do tempo, o detalhamento dos espaços e lugares,dentre outros aspectos. Portanto, faz-se necessário articulá-la com outras disciplinas, visto não compreendermoso mundo de forma fragmentada, dissociada. O homem vê e entende o mundo a partir de múltiplasconexões e inter-relações que ele estabelece com os diversos conhecimentos e experiências apreendidos.Desta forma, o conhecimento matemático apreendido no espaço educacional deve ser articulado aoutros saberes visando assim uma maior integração dos conteúdos e a ampliação do sentido da aprendizagemdesenvolvida pelos estudantes.Dentre os vários estudos realizados sobre interdisciplinaridade (FAZENDA, 1994; NOGUEI-RA, 2005; BARBOSA, 2004), identificamos três caminhos que viabilizam de maneira sistemática aintegração entre os diferentes saberes – “Pedagogia de Projetos”, “Matemática Contextualizada” e“Modelagem Matemática”.Pesquisa e Prática Pedagógica <strong>VI</strong> 13
Como exemplo de Pedagogia de Projetos podemos resgatar o Projeto Pedagógico “O LIXO”(NOGUEIRA, 2005) tendo como objetivo integrar os diferentes conhecimentos de tal sorte que permitaao aluno desenvolver posturas críticas, reflexivas sobre os problemas do lixo no meio ambiente e principalmenteque ele desenvolva atitudes em relação à problemática em questão. Nesse projeto uma dasatividades realizadas em Ciências foi a reciclagem de papel, em que se tratou dos problemas causados pelolixo, bem como das possibilidades de minimizá-lo.A atividade realizada em Matemática buscou na Ciência os conceitos de reciclagem, demonstrandoo seguinte quadro:PARA O CONSUMO DO PAPEL UTILIZADO POR UMA PESSOA EM UM ANOSÃO NECESSÁRIAS DUAS ÁRVORES.A seguir, foi questionado pelo professor:Quantos anos você tem?Quantas árvores foram utilizadas, até hoje, para produzir o papel que você utilizou em toda sua vida?Quantas árvores já foram utilizadas até hoje, para o consumo de papel de todos alunos de sua sala?Obtidos os resultados, o professor lança um novo questionamentoVocê já percebeu quantas árvores são derrubadas para abastecer o consumo de papel de cada pessoa?O que você pode fazer para diminuir esse número?Pense a respeito e tome uma atitude!(NOGUEIRA, 2005, p.128 )Na Matemática Contextualizada, você encontra muitostemas integradores. E como exemplo de Matemática Contextualizadaapresentou cartazes do Instituto de Matemática Purae Aplicada – IMPA 1 que evidencia uma forma dinâmica esignificativa de integrar diferentes conhecimentos a partir daMatemáticaQUE TEMA INTEGRADOR SUGERE ESTECARTAZ?Em casa, nas escolas, no trabalho, todos precisam de energiaelétrica. Para que ela chegue até nós é feito um levantamentode toda energia ofertada no país, dos custos para transmiti-la edistribuí-la e do nível de necessidades dos consumidores.É a Matemática que permite realizar todos esses cálculose selecionar as propostas de produção das várias usinas e,deste modo, se obter a maior segurança no abastecimento e osmenores preços para os usuários.PENSANDO NISSO, VOCÊ AINDA TEM MEDO DE ESCURO?SE VOCÊ PENSOU NO TEMA “APAGÃO”, PARABÉNS!!!1 Cartazes cedidos pela Divisão de Divulgação e Informação Científica DDIC/IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada www.impa.br14FTC EAD | MAT