o valor e a cor
PLáSTICOS - Editora Definição
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EDITORIAL<br />
Baixaria marqueteira<br />
Não é a primeira vez<br />
que a disputa entre<br />
plásticos extrapola<br />
o confronto de<br />
atributos ou preços<br />
para descambar para a<br />
difamação<br />
Bisfenol A (BPA) é um componente do policarbonato (PC) e de resinas epóxi. Desde o<br />
século passado, ele é alvo de pesquisas contestadas sobre os danos à saúde causados por<br />
sua ingestão. Por exemplo, através do aquecimento de mamadeiras de PC, processo que faria<br />
BPA migrar para o alimento destinado à criança. Até o fechamento desta edição, ao menos,<br />
não há notícia de avaliação científica definitiva a endossar as denúncias contra BPA. Apesar<br />
da chuvarada de estudos acadêmicos nos EUA, ou então, de gestos espetaculosos como o<br />
veto do governo canadense à presença de BPA em recipientes de alimentos infantis, o fato<br />
é que o ícone global da regulamentação da saúde pública, a agência norte-americana Food<br />
and Drugs Administration (FDA) mantém passe livre ao material em embalagens alimentícias,<br />
tal como seu êmulo no Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).<br />
As denúncias anti-BPA tiraram o pino da granada da mídia norte-americana. Ela passou<br />
a trombetear não só o surgimento de qualquer pesquisa contra o material, por mais capenga<br />
que seja, como a colocar bem na foto quem aproveita a marola para passar a repudiá-lo de<br />
público. O caldo engrossou quando o hipermercadista Wal-Mart, maior canal de vendas dos<br />
EUA, baniu de suas compras artigos contendo BPA, mesmo sem o respaldo científico.<br />
Na ânsia de ocupar a brecha, as alternativas têm pisoteado a ética no marketing. Pululam<br />
hoje os anúncios de mamadeiras a utilidades domésticas fabricadas com vidro, polipropileno<br />
ou poliéster destacando sua condição de isentas de BPA (BPA free). A baixaria é dupla. Afinal,<br />
não há proibição formal a BPA e, de outro ângulo, lógico que as opções estão livres do<br />
ingrediente, pois dependem tanto dele para serem produzidas quanto o açúcar do sal.<br />
Não é a primeira vez que a disputa entre materiais plásticos extrapola o confronto de<br />
atributos técnicos ou preços para descambar para a difamação. Até hoje ainda são propagandeados,<br />
por exemplo, materiais ou artefatos sem origem na cadeia vinílica sob o infame<br />
rótulo “PVC free”, embora esteja arquiprovado o tendenciosismo e superficialismo das críticas<br />
ambientais e toxicológicas ao polímero. No fundo, quem adere a esse marketing difamatório<br />
demonstra pouca fé nas qualidades intrínsecas do seu produto e dá um tiro no pé da imagem<br />
do plástico como um todo, transmitindo a impressão de um setor de matérias-primas cujos<br />
pontos fracos o público só descobre quando pinta algum con<strong>cor</strong>rente.<br />
<br />
plásticos em revista<br />
Março / 2010