1968
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www.autosport.pt<br />
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Eagle T1G (1966 – 1969)<br />
Bellissimo!<br />
O seu nome oficial é Eagle Mk I – apesar de Dan<br />
Gurney nunca o ter batizado oficialmente. Ficou,<br />
contudo, mais conhecido por Eagle T1G – muito<br />
embora o primeiro chassis construído (101) tivesse na<br />
sua designação ‘de fábrica’ a letra F em vez da G (T1F).<br />
No total, foram construídos quatro chassis do Eagle:<br />
depois do 101, vieram o 102, 103 e 104. Este último,<br />
ficou conhecido como Ti-Mag Car, porque, ao contrário<br />
dos outros três, maioritariamente feitos em alumínio,<br />
integrava uma liga de materiais exóticos, como o<br />
titânio (na maioria dos componentes) e o magnésio<br />
(nos painéis do monocoque). Na verdade, este chassis<br />
nunca correu pois, após ver arder Jo Schlesser num<br />
chassis semelhante da Honda, no GP de França, Gurney<br />
assustou-se e, comparando-o a “um isqueiro Ronson”,<br />
decidiu nunca o usar em competição…<br />
Os outros Eagle feitos por Gurney para as várias<br />
outras competições foram ‘marcados’ como Mk II,<br />
Mk III e Mk IV (Indy); Mk V (Fórmula Atlantic, uma<br />
mera evolução do Mk IV). Houve um Mk VI, que<br />
deveria ter sido o chassis sucessor do Mk I na F1 –<br />
mas, antes dele ter sido feito, a Anglo American<br />
Racers deixou a F1 e o Mk VI foi convertido para a<br />
Indy, onde fez a campanha de 1971, sob outro nome.<br />
Desenhado pelo britânico (!) Len Terry (06/04/1923 –<br />
25/08/2014), ex-Lotus, tinha um chassis em alumínio<br />
e, mais tarde, titânio e a monocoque era em magnésio.<br />
Inicialmente, o carro apareceu nas primeiras provas<br />
com um motor 2.7 de 4 cilindros em linha Coventry-<br />
Climax, apesar do seu projeto ter sido feito a pensar<br />
no 3.0 V12 Weslake, feito perto da sede da equipa e<br />
preparado por Dan Gurney – que foi o principal piloto<br />
da equipa, tendo feito 26 dos 28 GP em que um Eagle<br />
correu. Leve e com uma aerodinâmica aprimorada, o<br />
Eagle T1G/Mk I foi um dos mais belos monolugares de<br />
F1. As suas linhas eram notavelmente<br />
limpas e elegantes, com as<br />
suspensões montadas diretamente<br />
no monocoque. O motor, que era<br />
extremamente rotativo, estava<br />
associado a uma caixa Hewland<br />
manual de cinco velocidades. A sua<br />
potência era, a princípio, de 360 cv,<br />
crescendo até perto dos 400, o que<br />
o equivalia ao Ferrari V12 da época.<br />
Tinha, contudo, um sério problema,<br />
que foi descoberto demasiado tarde<br />
no seu desenvolvimento, para poder<br />
ser corrigido e que causou a maior<br />
parte das desistências em GP: um<br />
erro no desenho do sistema de<br />
recuperação de óleo impedia retirá-lo<br />
do cárter e isso levava a perdas de potência ao fim de<br />
três ou quatro voltas nas corridas (isso sucedeu, por<br />
exemplo, durante o GP da Bélgica de 1967, que Gurney<br />
venceu, mas só depois de ter parado nas boxes para<br />
resolver o problema…).<br />
O primeiro triunfo do Eagle T1G foi na Corrida dos<br />
Campeões de 1967, em Brands Hatch, que nessa<br />
altura abria a época da F1, embora sem pontuar para<br />
o Mundial. Foi com o chassis 102 e a pilotá-lo estava,<br />
claro, Dan Gurney. A derradeira aparição do Eagle T1G<br />
num GP de F1 foi no Canadá, em 1969, com o inefável Al<br />
Pease ao volante de um 101 privado (ver caixa).<br />
GP da Bélgica 1967<br />
The Special One<br />
Isto, sim: é<br />
(foi…) “The<br />
Special One”:<br />
a primeira e<br />
única vitória no<br />
Campeonato do<br />
Mundo de F1 da<br />
(equipa) Anglo<br />
American Racers, da<br />
(marca) Eagle e do<br />
(motor) Weslake.<br />
Além disso, foi a<br />
quarta e última<br />
vitória de Dan<br />
Gurney na F1 – ele<br />
que teve a sublime<br />
honra de estrear<br />
a Porsche (França<br />
1962), a Brabham<br />
(França 1964) e Eagle entre os<br />
vencedores na F1! Portanto,<br />
vamos ao GP belga.<br />
O primeiro líder, durante a 11<br />
voltas iniciais, foi o autor da<br />
‘pole position’, Jim Clark – que,<br />
com o seu Lotus 49/Ford V8,<br />
manteve em respeito o seu<br />
compatriota, Jackie Stewart<br />
(BRM P83) e o surpreendente<br />
Dan Gurney, com o Eagle, até<br />
entrar nas boxes, onde perdeu<br />
mais de dois minutos, caindo<br />
várias posições. Isso deixou<br />
Stewart confortavelmente na<br />
liderança, ajudado pela entrada<br />
nas boxes de Gurney, por sua<br />
vez a contas com problemas<br />
mecânicos (pressão de óleo),<br />
perdendo 20 segundos.<br />
Porém, a prova belga, onde<br />
o tradicional mau tempo das<br />
Ardenas fez tréguas nesse<br />
dia, estava condenada a ser<br />
recordada pelas eliminações<br />
mecânicas: logo a seguir,<br />
Stewart começou a ter<br />
dificuldades com a caixa de<br />
velocidades, perdendo tempo<br />
volta a pós volta. Apercebendose<br />
disso, Gurney forçou o ritmo,<br />
pulverizando o recorde de Tony<br />
Brooks da volta mais rápida,<br />
que já durava há oito anos (!) e,<br />
a oito voltas do fim, assumiu o<br />
comando, para não mais o largar<br />
– e oferecendo desta forma a<br />
única vitória ao belíssimo Eagle<br />
T1G. Um feito notável, para<br />
um carro com pouco menos de<br />
400 cv e que, mesmo assim,<br />
atingiu na grande reta da meta ,<br />
a velocidade de 316 km/h! Clark<br />
ainda conseguiu terminar em em<br />
6º lugar.<br />
A prova belga ficou marcada<br />
por outro acontecimento, este<br />
dramático: ainda na primeira<br />
volta, Mike Parkes sofreu um<br />
horrível acidente, derrapando no<br />
óleo deixado no local pelo BRM<br />
de Stewart e quebrou ambas as<br />
pernas, o que colocou um ponto<br />
final na sua carreira na F1.<br />
Pódio: 1º Dan Gurney (Eagle<br />
T1G/Weslake V12), 28 v. em<br />
1h40m49,4s; 2º Jackie Stewart<br />
(BRM P83/BRM H16), a 1m03s;<br />
3º Chris Amon (Ferrari 312/67/<br />
Ferrari V12), a 1m40s<br />
Al rima com…<br />
caracol!<br />
A única vez em que um Eagle privado<br />
(sem ser da Anglo American Racers) tomou<br />
parte em GP de F1, foi quando um canadiano<br />
chamado Al Pease decidiu inscrever um T1G/<br />
Mk I ‘101’ nos ‘seus’ GP do Canadá, entre<br />
1967 e 1969. E foi uma anedota…<br />
Em 1967, Pease terminou a corrida, mas não<br />
se classificou, pois recebeu a bandeira de<br />
xadrez com um atraso de… 43 (isso mesmo,<br />
quarenta e três!) voltas para o vencedor,<br />
Jack Brabham. No ano seguinte, problemas<br />
de motor impediram-no de largar e, em<br />
1969, Pease recebeu a duvidosa honra de ser<br />
mandado parar com bandeira preta, por ser<br />
tão lento que era um autêntico perigo e se ter<br />
envolvido, durante a prova, em incidentes<br />
com diversos pilotos, entre eles o líder,<br />
Jackie Stewart, o que provocou a ira de Ken<br />
Tyrrell. Quando parou, tinha percorrido<br />
somente 22 voltas, contra as 46 dos outros<br />
pilotos em pista!