EDIÇÃO 06 | MARÇO DE 2013 | FASE II - Agulha Revista de Cultura
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efetivida<strong>de</strong> são uma única e mesma coisa. Todo ato verda<strong>de</strong>iro, autêntico, imediato da<br />
vonta<strong>de</strong> é também simultânea e imediatamente ato fenomênico do corpo (...) No entanto, é<br />
totalmente incorreto <strong>de</strong>nominar a dor e o prazer representações, o que <strong>de</strong> modo algum<br />
são, mas afecções imediatas da vonta<strong>de</strong> em seu fenômeno, o corpo, vale dizer, um querer<br />
ou não-querer impositivo e instantâneo sofrido por ele.<br />
O conhecimento <strong>de</strong> minha vonta<strong>de</strong> não se separa do meu conhecimento corporal. Logo, o<br />
corpo é via para o conhecimento daquela – não é possível a representar sem representá-lo.<br />
Como objeto, conforme conheço minha vonta<strong>de</strong> propriamente dita, apreendo-a enquanto<br />
corpo. Trata-se do conhecimento mais imediato. O filósofo brasileiro Roberto Machado<br />
(20<strong>06</strong>), no volume O nascimento do trágico: <strong>de</strong> Schiller a Nietzsche, ressalta que o ponto <strong>de</strong><br />
partida schopenhauriano para formular sua sistematização é que não é <strong>de</strong> fora o movimento<br />
a se realizar para atingir a essência das coisas, a coisa-em-si, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, do interior do<br />
homem. Fala-se mesmo <strong>de</strong> uma ambivalência <strong>de</strong> Schopenhauer em relação à tese kantiana,<br />
no sentido <strong>de</strong> que a representação não seria ultrapassável nas vias do conhecimento<br />
objetivo; permanecer-se-á ao lado externo, sem acesso ao íntimo: o que as coisas são em si e<br />
para si. Pois não somos somente o sujeito que conhece, mas também nos vinculamos à<br />
categoria das coisas a serem conhecidas. Abarcamos a coisa-em-si. Porém, o conhecimento<br />
subjetivo, a experiência interna, não formula um saber acerca do próprio sujeito. Apoiandose<br />
na noção <strong>de</strong> que a consciência <strong>de</strong> nós mesmos traz um elemento cognoscente e outro a<br />
ser conhecido, e <strong>de</strong> que, portanto, o sujeito cognoscente não seria conhecível enquanto<br />
adquire e elabora saber, mas somente se fosse o objeto conhecido <strong>de</strong> outro sujeito<br />
cognoscente, “Schopenhauer conclui que o elemento conhecido na consciência <strong>de</strong> nós<br />
mesmos é a vonta<strong>de</strong>, os impulsos e as modificações da vonta<strong>de</strong>”. De modo que o objeto, a<br />
matéria do tomar consciência internamente seria a vonta<strong>de</strong> – isso fazendo a experiência<br />
interna se relacionar diretamente a um conhecimento sobre o querer. “O ser do fenômeno é<br />
sentido, experimentado, vivido. Se a vonta<strong>de</strong> é conhecida é porque eu a sinto em mim, é<br />
porque tenho uma compreensão íntima, uma experiência interna, uma consciência <strong>de</strong>la em<br />
mim”. Assim, para o filósofo, na <strong>de</strong>scrita circunstância, seria estabelecida uma verda<strong>de</strong><br />
filosófica:<br />
A expressão da mesma po<strong>de</strong> ser dita <strong>de</strong> diversas maneiras: meu corpo e minha vonta<strong>de</strong> são<br />
uma coisa só; ou, o que como representação intuitiva <strong>de</strong>nomino meu corpo, por outro lado<br />
<strong>de</strong>nomino minha vonta<strong>de</strong>, visto que estou consciente <strong>de</strong>le <strong>de</strong> maneira completamente<br />
diferente, não comparável com nenhuma outra; ou, meu corpo é a objetida<strong>de</strong> da minha<br />
vonta<strong>de</strong>; ou, abstraindo-se o fato <strong>de</strong> que meu corpo é minha representação, ele é apenas<br />
minha vonta<strong>de</strong> etc.<br />
Já os outros objetos são diferentes, não abrangendo simultaneamente vonta<strong>de</strong> e<br />
representação, são meras representações, “meros fantasmas”.<br />
Mas, como operaria essa vonta<strong>de</strong>? Como <strong>de</strong>screvê-la? Ora, toda a essência <strong>de</strong> meu querer<br />
não é elucidável por razões, motivos – estes <strong>de</strong>terminam apenas sua fenomenização em<br />
algum lugar temporal. Trata-se da ocasião mediante a qual a vonta<strong>de</strong> se <strong>de</strong>svela. Se a<br />
essência <strong>de</strong> meu querer não é explicável por razões – elas <strong>de</strong>terminam exclusivamente sua<br />
exteriorização em certo ponto temporal, são somente a ocasião na qual, como veremos mais<br />
<strong>de</strong>talhadamente, a própria essência cosmológica permeia os fenômenos. Ao passo que, no<br />
entanto, se alguém se propõe a tentar abstrair seu caráter e perguntar o porquê geral <strong>de</strong><br />
querer isso e não aquilo, nenhuma resposta <strong>de</strong>finitiva é possível. Enfim, apenas o fenômeno<br />
da vonta<strong>de</strong> está submetido ao princípio <strong>de</strong> razão – não ela própria, que é para ser<br />
<strong>de</strong>nominada sem-fundamento.<br />
“Em confirmação <strong>de</strong> tudo isso, recor<strong>de</strong>-se que toda ação sobre o corpo afeta simultânea e<br />
imediatamente a vonta<strong>de</strong> e, nesse sentido, chama-se dor ou prazer, ou, em graus menores,<br />
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