EDIÇÃO 06 | MARÇO DE 2013 | FASE II - Agulha Revista de Cultura
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EDSON MANZAN CORSI | Da vonta<strong>de</strong> ao<br />
inconsciente: metafísica e metapsicologia<br />
entre Schopenhauer e Freud<br />
No artigo intitulado “As resistências à psicanálise”, Sigmund Freud<br />
apresenta que nossa mente, ante o que é novo, ten<strong>de</strong> a recuar, <strong>de</strong>vido a<br />
um fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazer proveniente do contato com as novida<strong>de</strong>s. A<br />
fonte <strong>de</strong>sse fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazer é a exigência feita à mente por uma<br />
percepção recente e das outras, mais comuns, distinta: “o dispêndio<br />
psíquico que ela exige, a incerteza alçada até à ansiosa expectativa que<br />
ela traz consigo”. Assim, o fato <strong>de</strong>sta prática teorizada, a psicanálise, representar uma<br />
inovação no que concerne ao saber sobre o humano já traria em si <strong>de</strong>terminada razão para<br />
que a ela se resistisse: seu cunho inovador. Além disso, após tecer alguns comentários sobre<br />
as ciências e seus avanços, Freud traz um breve histórico <strong>de</strong> seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento<br />
técnico e teórico, por exemplo, no que concerne à utilização do método catártico e a<br />
<strong>de</strong>corrente invenção da psicanálise mesma, para falar das resistências que a esta apresentou,<br />
<strong>de</strong>ntre outros, o âmbito da medicina.<br />
Em compensação, po<strong>de</strong>r-se-ia supor que a nova teoria teria muito mais probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
encontrar a boa acolhida dos filósofos, <strong>de</strong> vez que estes estavam habituados a situar<br />
conceitos abstratos (ou, como diriam as línguas malévolas, palavras nebulosas) no primeiro<br />
plano <strong>de</strong> suas explicações do universo, e seria impossível que objetassem à extensão da<br />
esfera da psicologia, para a qual a psicanálise havia preparado o caminho.<br />
Todavia, para gran<strong>de</strong> parte do campo filosófico, o funcionamento mental coinci<strong>de</strong> com a<br />
ambiência consciente, apresentando outros fatores que, mesmo parecendo escapar do<br />
domínio consciente, estariam ligados a <strong>de</strong>terminantes orgânicos ou a processos paralelos.<br />
De modo que falar, na esteira da psicanálise, que o que é mental é em si mesmo<br />
inconsciente, para muitos filósofos, torna-se uma contradição em termos. “Suce<strong>de</strong>, então,<br />
que a psicanálise nada <strong>de</strong>riva, senão <strong>de</strong>svantagens, <strong>de</strong> sua posição intermediária entre a<br />
medicina e a filosofia”. Os médicos a teriam no lugar <strong>de</strong> um sistema especulativo e se<br />
recusariam a vê-la como oriunda <strong>de</strong> verificações e experiências atinentes a aspectos<br />
perceptíveis. Já os filósofos, avaliando-a segundo os padrões <strong>de</strong> seus sistemas<br />
“artificialmente construídos”, apontariam que ela se edifica sobre premissas impossíveis,<br />
trazendo crítica concernente a seus conceitos mais gerais – “(que só agora estão em processo<br />
<strong>de</strong> evolução) carecem <strong>de</strong> clareza e precisão”.<br />
Porém, a questão não se afixa somente à esfera intelectual. As explosões <strong>de</strong> indignação,<br />
<strong>de</strong>rrisão e escárnio, <strong>de</strong>sprezando a lógica e o bom gosto, caracterizariam métodos <strong>de</strong><br />
oposição. “Uma reação <strong>de</strong>sse tipo sugere que outras resistências além <strong>de</strong> puramente<br />
intelectuais foram excitadas, e <strong>de</strong>spertadas po<strong>de</strong>rosas forças emocionais”. Aliás, segundo<br />
Freud, muitos aspectos na psicanálise seriam propícios para produzir esse tipo <strong>de</strong> reação<br />
nos homens, <strong>de</strong> efeito sobre as paixões, e não somente no que tange aos cientistas.<br />
Principalmente pela via daquele lugar muito importante na vida mental humana que é<br />
apreendido, em termos freudianos, como os instintos sexuais. Pois “a teoria psicanalítica<br />
sustentou que os sintomas das neuroses constituem satisfações substitutivas <strong>de</strong>formadas <strong>de</strong><br />
forças instintuais sexuais, das quais a satisfação direta foi frustrada por resistências<br />
internas”. Depois, ao se esten<strong>de</strong>r para além do campo clínico, a análise, aplicando-se<br />
igualmente à vida mental estabelecida como “normal”, veio a <strong>de</strong>monstrar que os<br />
componentes sexuais, passíveis <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>sviados <strong>de</strong> seus objetos iniciais e <strong>de</strong>sse modo<br />
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