15.04.2013 Views

EDIÇÃO 06 | MARÇO DE 2013 | FASE II - Agulha Revista de Cultura

EDIÇÃO 06 | MARÇO DE 2013 | FASE II - Agulha Revista de Cultura

EDIÇÃO 06 | MARÇO DE 2013 | FASE II - Agulha Revista de Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

qualquer outra coisa. Ele pensa cada força na natureza, inclusive no âmbito humano, como<br />

vonta<strong>de</strong>. Contudo, vale ressaltar que, em termos <strong>de</strong> uma conceituação mais rigorosa, o<br />

conceito <strong>de</strong> força é abstraído do campo em que regem causa e efeito, coligando-se à<br />

representação intuitiva, e diz respeito ao “ser-causa” da causa: “ponto este além do qual<br />

nada é etiologicamente mais explicável e no qual se encontra o pressuposto necessário <strong>de</strong><br />

toda explanação etiológica”. O conceito <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma distinta, é o único que não se<br />

origina do fenômeno. Não advém da mera representação intuitiva. Surge da interiorida<strong>de</strong>, da<br />

imediata consciência do indivíduo mesmo, on<strong>de</strong> este se conhece o mais diretamente,<br />

tangendo sua própria essência, <strong>de</strong>spindo-se <strong>de</strong> todas as formas, inclusive as <strong>de</strong> sujeito e<br />

objeto, já que, nesse âmbito, quem conhece afina-se com o que é conhecido. Se subsumirmos<br />

o conceito <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> ao <strong>de</strong> força, “renunciamos ao único conhecimento imediato que temos<br />

da essência íntima do mundo: fazemos tal conhecimento se dissipar num conceito abstraído<br />

do fenômeno, com o qual nunca po<strong>de</strong>remos ir além <strong>de</strong>ste último”. A vonta<strong>de</strong> qual coisa-emsi<br />

é em absoluto diversa <strong>de</strong> seu fenômeno, totalmente à parte das formas <strong>de</strong>le – mas ela as<br />

penetra conforme se manifesta.<br />

Servindo-se da escolástica, Schopenhauer abarca tempo e espaço na expressão principium<br />

individuationis. “Tempo e espaço são os únicos pelos quais aquilo que é uno e igual<br />

conforme a essência e o conceito aparece como principium individuationis” – fonte <strong>de</strong> várias<br />

reflexões sofisticadas e querelas entre os escolásticos. Já a vonta<strong>de</strong> é una, mas não no<br />

sentido <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado objeto, cuja unida<strong>de</strong> apenas se dá em oposição à<br />

pluralida<strong>de</strong> plausível, muito menos é una qual conceito, cuja unida<strong>de</strong> nasce apenas mediante<br />

a abstração da pluralida<strong>de</strong>. Não se insere na pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coisas que coexistem e se<br />

suce<strong>de</strong>m. Logo, tempo e espaço são <strong>de</strong>terminada extremida<strong>de</strong>, alastrando-se no que<br />

concerne ao plano meramente físico, enquanto a vonta<strong>de</strong> se constitui una enquanto aquilo<br />

que se encontra apartado do tempo e do espaço, externo ao principium individuationis, digase,<br />

da possibilida<strong>de</strong> da pluralida<strong>de</strong>.<br />

No tocante ao fenômeno humano, aos atos do homem, vemos que eles não são livres. O<br />

homem, só a posteriori, pela experiência, percebe, para seu espanto, não ser livre, mas<br />

dominado pela necessida<strong>de</strong>. “Percebe que, apesar <strong>de</strong> todos os propósitos e reflexões, não<br />

muda sua conduta, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início até o fim <strong>de</strong> sua vida tem <strong>de</strong> conduzir o mesmo caráter<br />

por ele próprio execrado e, por assim dizer, <strong>de</strong>sempenhar até o fim o papel que lhe coube”.<br />

Exatamente a essência que em nós segue seus fins sob a luz do conhecimento, na mais sutil<br />

fenomenização, esforça-se <strong>de</strong> modo cego, silencioso, unilateral, invariável. Sob todo o<br />

cosmos, ela é mesma e una. Assim como “os primeiros raios da aurora e os intensos raios do<br />

meio-dia têm o mesmo nome <strong>de</strong> luz do sol, assim também cada um dos aqui mencionados<br />

casos têm <strong>de</strong> levar o nome <strong>de</strong> VONTA<strong>DE</strong>, que <strong>de</strong>signa o ser em si <strong>de</strong> cada coisa no mundo,<br />

sendo o único núcleo dos fenômenos”.<br />

Dos mais tênues aos mais nítidos acontecimentos, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar a relação existente<br />

entre a coisa-em-si e a sua manifestação, noutros termos, trata-se <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o mundo<br />

como vonta<strong>de</strong> e o mundo como representação – a partir <strong>de</strong> Kant; tempo, espaço e<br />

causalida<strong>de</strong>: modos <strong>de</strong> intuição do sujeito ou qualida<strong>de</strong>s do objeto como objeto; para Kant,<br />

fenômeno, isto é, representação. Desse modo, se os objetos <strong>de</strong>spontam em tais formas, não<br />

<strong>de</strong>vem ser fantasmas inócuos. Mas, se possuem significação, então teriam <strong>de</strong> ser<br />

manifestação <strong>de</strong> algo que já não é, como eles próprios, representação, objeto meramente<br />

relativo e diante <strong>de</strong> certo sujeito. Fala-se <strong>de</strong> algo que se dá in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> alguma<br />

condição essencial e <strong>de</strong> formas contrapostas a si. Esse algo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser representação,<br />

ocupa o status <strong>de</strong> coisa-em-si, [...] “aquilo que no fenômeno NÃO é condicionado por tempo,<br />

espaço e causalida<strong>de</strong>, nem é remissível a eles, muito menos explanável a partir <strong>de</strong>les, é<br />

justamente aquilo pelo qual o que aparece, a coisa-em-si, dá sinal <strong>de</strong> si imediatamente”. O<br />

filósofo brasileiro Deyve Redyson, em seu livro Dossiê Schopenhauer, propõe que apesar <strong>de</strong><br />

toda or<strong>de</strong>nação, característica do campo da consciência, <strong>de</strong> toda regularida<strong>de</strong>, que parece<br />

fazer do âmbito da representação o lugar da verda<strong>de</strong>, tudo seria um sonho sem substância<br />

14

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!