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Pobreza e Patrimônio - Avsi

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<strong>Pobreza</strong> e PatrimônioA Comunidade do Planalto IIEnrico NovaraÉrlia Esteves BenevidesAchilles G. Coelho JúniorPaulo Frederico BulosPrefácio de Vincenzo Petrone


POBREZA E PATRIMÔNIOA COMUNIDADE DO PLANALTO II


POBREZA E PATRIMÔNIOA COMUNIDADE DO PLANALTO IIEnrico NovaraÉrlia Esteves BenevidesAchilles Gonçalves Coelho JúniorPaulo Frederico Bulos


POBREZA E PATRIMÔNIO – A COMUNIDADE DO PLANALTO IIEnrico NovaraÉrlia Esteves BenevidesAchilles Gonçalves Coelho JúniorPaulo Frederico BulosPreparação de textos: Marco Antônio B. Matos (Edição em Português)Luisa Cogo (Edição em Italiano)Revisão: Viviane Lemos de Oliveira BelgaProjeto gráfico e produção gráfica: Juliana Vaz e Derval Braga JúniorImpresso no BrasilISBN: 85-89391-02-7Copyright © – AVSI – 2003Este material, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaçãoescrita do Editor.P739<strong>Pobreza</strong> e patrimônio: a comunidade do Planalto II / EnricoNovara ...[et al.] – Belo Horizonte: AVSI, 2003174 p.; 16 x 23 cm.ISBN 85-89391-02-71.<strong>Pobreza</strong> – Brasil. 2.Bem-estar social – Brasil. I. Novara,Enrico. II. Associação Voluntários para o Serviço Internacional.CDD 339.460981Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do LivroEditado com a colaboração de:Editora AVSIRua Padre Marinho, 37 – 12° andarSanta Efigênia – Telefone: (31) 3241-2100Belo Horizonte – Minas Gerais – BrasilProvinciaAutonoma diTrento


SUMÁRIOPREFÁCIO Vincenzo Petrone .............................................................. 07PREFAZIONE Vincenzo Petrone .............................................................. 11APRESENTAÇÃO .................................................................................. 15CAPÍTULO 1CAPÍTULO 2Pessoa e talentos: o ponto de partida nos programasde redução da pobreza urbanaEnrico Novara, em colaboração com Giorgio CapitanioO impacto com a pobreza urbana .................................... 17Um percurso cognitivo: o encontro entre uma energiahumana e uma presença .......................................... 20Pontos metodológicos: pessoa, partilha das necessidadese encontros humanos operativos .............................. 26Percurso operativo: reforçar o patrimônio .......................... 29Referências bibliográficas ................................................ 32O Planalto II e o projeto de fortalecimento da comunidadeAchilles G. Coelho Jr.Érlia E. BenevidesPaulo F. BulosA comunidade do Planalto II: aspectos históricos .............. 35Ações anteriores ao projeto .............................................. 37A situação inicial dos elementos do patrimônio dacomunidade do Planalto II ...................................... 41Objetivos e resultados .................................................... 46Quadro Lógico ................................................................ 52Fluxograma de atividades ................................................ 55Situação da comunidade do Planalto II após a realizaçãodo projetoObjetivo específico 1


• 7PREFÁCIOA experiência do projeto de fortalecimento da Comunidade do Planalto II- Ipatinga (MG) constitui, ao mesmo tempo, um retrato da vida cotidiana donosso voluntariado e um chamado à reflexão para aqueles que se ocupam dedesenvolvimento humano.Os autores desse belo livro de vida vivida demonstram que, de fato, nãosó é possível, mas também aconselhável, quando se devem estabelecerestratégias de desenvolvimento humano, partir da experiência em campo, dolevantamento das necessidades, casa por casa, família por família, criança porcriança, para entender quais são as políticas de desenvolvimento que são maiseficazes em uma dada realidade, também em termos de custo-benefício.Neste livro, como na experiência de vida que reflete, domina um princípioque pode parecer, mas não é óbvio: a vulnerabilidade das pessoas estádiretamente ligada à desigualdade e para incidir sobre esta equação algunsserviços essenciais devem ser acessíveis às famílias, principalmente aassistência médica de base, a água potável e rede de esgoto, a escola. Coisasconcretas que transformam a vida.Nesse ponto, a filosofia de desenvolvimento dos autores deste libro sedistancia, de maneira acertada, da abordagem setorial que, infelizmente, aindaestá em voga nas instituições internacionais e governamentais. Refiro-me emprimeiro lugar a tantas Organizações Internacionais que pretendem ainda hojeperseguir uma abordagem fragmentada de desenvolvimento, separando emcompartimentos estanques políticas sanitárias e políticas de nutrição, mercadodo trabalho e formação, desnutrição e acesso às fontes de rendas.Dona Efigênia, uma esplêndida figura humana em carne e osso, com 75anos, narrada pelos autores deste belo livro, é a personificação desta "reductioad unum" das estratégias de desenvolvimento. De fato, a brilhante dona Efigênianarra a Enrico como ela enfrenta na vida de todos os dias e com desconcertantegenialidade o problema das inundações no período das chuvas: "Bastava colocaruma passarela sobre o nível das águas e enfiar um outro pedaço de madeira nos


8 •POBREZA E PATRIMÔNIObatentes da porta, de modo que as águas ficavam impedidas de invadirem acasa".Em Veneza, recorda justamente Enrico Novara, não se faz nada dediferente no aspecto técnico. Mas, dona Efigênia explica também que, narealidade, o nível da água não constitui para ela um problema. Ao contrário, aágua alta é parte da solução de uma outra e mais grave condição, típica davelhice, a solidão. Dona Efigênia, mesmo com a água alta, pode contar com seufilho e sua amiga que moram em duas casinhas vizinhas e cuidam dela. Se,como nossos voluntários propunham, fosse transferida para outro lugar teriaencontrado uma casa mais seca, mas teria ficado terrivelmente sozinha.Agora, a pergunta que devemos nos colocar refletindo sobre este episódioé a seguinte: como esta esplêndida história de vida vivida se transforma emmetodologias, em políticas de desenvolvimento?A resposta é difícil e deve necessariamente ser empírica, enquantodepende do contexto regional, da situação do país, do tecido social e, sobretudo,da inteligência e da humildade de quem deve formular e selecionar os programasde cooperação, aceitando o princípio de que, em matéria de desenvolvimentohumano, tudo deve ser sempre rediscutido, reavaliado, adaptado às mudançasdas circunstâncias. Tudo isto com um único e constante objetivo: a centralidadeda pessoa, na sua individualidade e na sua expressão social mais imediata, afamília, com as relações sociais e de solidariedade que surgem dela.Os países da América Latina, em particular o Brasil, depois de tantaimposição ideológica, são o terreno de experimentação mais promissor paraestas políticas de desenvolvimento que partem da pessoa e se medem, pelaeficácia delas, pelo benefício que trazem à pessoa, oferecendo a ela, antes detudo, os serviços que reduzem suas vulnerabilidades. A bolsa escola é um dosinstrumentos de intervenção "super partes" que surgem dessas experiências noterritório e que foram colocados como políticas de desenvolvimento humanotambém por homens muito diferentes dos autores deste livro. Entre eles,Cristovam Buarque, um ideólogo de esquerda e um dos fundadores do partidodos trabalhadores, o PT, hoje no poder no Brasil com o governo Lula.Um instrumento, a bolsa-escola, que mesmo uma organização deinspiração católica como a AVSI não hesita em explorar em todos os aspectosnos próprios programas de desenvolvimento humano.Lendo este livro, perguntamos-nos se não seria lógico e eficaz para osgovernos permitir que o voluntariado administrasse também programas como abolsa escola que hoje, ao invés, no Brasil como em outros lugares, são realizadossobretudo por entidades públicas, com grande gasto de recursos para a própriagestão das estruturas burocráticas.


PREFÁCIO • 9O esforço de reflexão e explicitação metodológica, de que este livro éindicador, permite aos nossos voluntários adquirir um multiplicador debenefícios, transformando uma obra social particular em um momento de debatesobre as estratégias de desenvolvimento, ultrapassando assim o caso humano ea experiência pontual daqueles que recebem e daqueles que dão o melhor de sipara o desenvolvimento e por amor aos outros.Vincenzo PetroneEmbaixada da Itália no Brasil


• 11PREFAZIONEL' esperienza del progetto di rafforzamento della Comunità del Planalto II- Ipatinga (MG) costituisce allo stesso tempo uno spaccato di vita quotidiana delnostro volontariato ed un monito alla riflessione per quanti si occupano disviluppo umano.Gli autori di questo bel libro di vita vissuta dimostrano infatti che non soloè possibile ma è anche consigliabile, quando si devono fissare delle strategie disviluppo umano, partire dall'esperienza sul campo, dalla rilevazione dei bisognicasa per casa, famiglia per famiglia, bambino per bambino, per capire quali sonole politiche di sviluppo che in una data realtà sono più efficaci, anche in terminicosto-beneficio.In questo libro, come nell'esperienza di vita che esso riflette, domina unprincipio che può apparire ovvio ma non lo è: la vulnerabilità delle persone èfunzione diretta della disuguaglianza e per incidere su questa equazione alcuniservizi essenziali devono essere accessibili alle famigle, primi tra tutti l'assistenzamedica di base, l'acqua potabile e le fogne, la scuola. Cose concrete, checambiano la vita.In questo, la filosofia di sviluppo degli autori del libro si distanzia moltocorrettamente dall'approccio settoriale purtroppo ancora in voga nelle istituzioniinternazionali ed in quelle governative. Mi riferisco in primo luogo ai tantiOrganismi Internazionali che pretendono ancora oggi perseguire un approccioparcellizzato allo sviluppo, distinguendo in camere stagne, tra politiche sanitariee politiche nutrizionali, tra mercato del lavoro e formazione, tra denutrizione eaccesso alle fonti di reddito.Dona Efigenia, una splendida figura umana in carne ed ossa di 75 anni,raccontata dagli autori di questo bel libro, è la personificazione di questa"reductio ad unum" delle strategie dello sviluppo. La geniale Dona Efigeniaracconta infatti ad Enrico come lei affronta, nella vita di tutti giorni e condisarmante genialità, il problema delle inondazioni stagionali: "Una passerella di


12 •POBREZA E PATRIMÔNIOlegno sopra il livello delle acque ed un altro pezzo di legno sui battenti dellaporta, cosi da impedire all'acqua di invadere la casa".A Venezia, ci ricorda giustamente Enrico Novara, non si fa nulla di diversosul piano tecnico. Ma Dona Efigenia spiega anche che il livello delle acque perLei in realtà non costituisce un problema. Al contrario l'acqua alta è parte dellasoluzione di un'altra, più grave condizione, tipica della vecchiaia, la solitudine.Dona Efigenia infatti, pur con l'acqua alta può contare, in due casette vicine, susuo figlio e su una amica, che l'accudiscono. Se, come i nostri volontariproponevano, si fosse spostata altrove avrebbe avuto una casa più asciutta masarebbe rimasta terribilmente sola.Ora, la domanda che dobbiamo porci riflettendo su questo episodio, è laseguente: questa splendida storia di vita vissuta, como la si trasforma inmetodologie, in politiche di sviluppo?La risposta è difficile e deve necessariamente essere empirica, in quantodipende dal contesto regionale, dalla situazione del Paese, dal tessuto sociale esoprattutto, dall'intelligenza e dall'umiltà di chi deve formulare e scegliere iprogrammi di cooperazione, accettando il principio che in materia di sviluppoumano tutto deve essere sempre ridiscusso, rivalutato, adattato alle mutatecircostanze. Con un unico, costante obbiettivo, la centralità della persona, nellasua individualità e nella sua espressione sociale più immediata ossia la famiglia,con le relazioni sociali e di solidarietà che da questa scaturiscono.I Paesi dell'America Latina, dopo tante forzature ideologiche, e inparticolare il Brasile, sono il terreno di sperimentazione più promettente perqueste politiche di sviluppo che partono dalla persona e si misurano, per la loroefficacia, sul beneficio che portano alla persona, offrendo ad essa prima di tutto,i servizi che ne riducono le vulnerabilità. La "bolsa escola" (borsa di studioscolastico) è uno degli strumenti di intervento "super partes" che scaturiscono daqueste esperienze sul territorio e che sono stati posti in essere come politiche disviluppo umano, anche da uomini molto diversi dagli autori di questo libro. Tradi essi, Cristovam Buarque, un ideologo di sinistra, uno dei fondatori del Partitodei Lavoratori, il P.T. oggi al potere in Brasile col Governo Lula.Uno strumento, la "bolsa escola", che anche una organizzazione di ispirazionecattolica come l'AVSI non esita a sfruttare a fondo nei propri programmi di sviluppo umano.Ci si domanda, leggendo questo libro, se non sarebbe logico ed efficaceper i Governi, lasciare al volontariato amministrare anche programmi come la"bolsa escola" che invece oggi, in Brasile come altrove, vengono realizzatisoprattutto da enti pubblici, con grande dispendio di risorse per la autoamministrazionedelle strutture burocratiche.


PREFAZIONE • 13Lo sforzo di riflessione ed esplicitazione metologica, di cui questo libro èl'indicatore, permette ai nostri volontari di acquisire un moltiplicatore di benefici,trasformando una singola opera sociale in un momento del dibattito sullestrategie di sviluppo, cosi trascendendo il caso umano e la puntuale esperienzadi coloro che ricevono e di coloro che danno il meglio di se per lo sviluppo enell'amore degli altri.Vincenzo PetroneAmbasciatore d’Italia in Brasile


• 15APRESENTAÇÃOO Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto II – Ipatinga/MGnasceu de uma parceria entre a AVSI (Associação Voluntários para o ServiçoInternacional), CDM (Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana) ePMI (Prefeitura Municipal de Ipatinga) com a intenção de tornar-se um projetopiloto, visando à reprodução da metodologia utilizada em outras áreas de baixarenda do município. O projeto apontava o objetivo de contribuir para a melhoriada condição de vida da população da área de baixa renda da comunidade doPlanalto II em Ipatinga/MG, através de intervenções de desenvolvimento sócioeconômicovoltadas para a redução do grau de pobreza e vulnerabilidade dacomunidade; e através do fortalecimento da capacidade institucional do municípioapoiando o desenvolvimento de políticas e metodologias integradas paraenfrentar a pobreza urbana. A AVSI e PMI contaram com a parceria do Ministerodegli Affari Esteri do Governo da Itália e da Provincia Autonoma di Trento naconcessão de recursos financeiros que possibilitassem o desenvolvimento doprojeto.A presente publicação vem oferecer aos leitores uma visão sistematizadadas atividades ocorridas no desenvolvimento do projeto procurando transmitir ametodologia aplicada nesta experiência de intervenção, explicitando todas asatividades realizadas, resgatando desde o contexto histórico até as ações da fasefinal.No Capítulo 1, apresentamos inicialmente um pouco da experiência sobreo tema da pobreza, que vem sendo adquirida no decorrer dos anos de trabalhoda AVSI e CDM no Brasil. O processo de conhecimento sobre este tema possibilitourealizar um percurso metodológico e operativo para enfrentar tal realidade.No Capítulo 2, recuperamos o contexto histórico no qual surgiu a comunidadedo Planalto II e os trabalhos anteriores entre AVSI, CDM e PMI que abordarama planificação de intervenções para a recuperação de áreas informaisurbanas e a definição de políticas que visavam diminuir a pobreza no município.A partir dos primeiros trabalhos e estudos, conhecemos a realidade inicial dobairro Planalto II e, a partir destes dados, formulamos os objetivos e resultados


16 •POBREZA E PATRIMÔNIOa serem alcançados na comunidade. Destacamos os principais aspectos metodológicosque estavam presentes em toda a elaboração e execução do projeto. Emseguida, apresentamos o Quadro Lógico do Projeto, que propõe uma visão geraldos objetivos e resultados pretendidos, e listamos as atividades realizadas,respeitando cronologicamente as fases de desenvolvimento. O Fluxograma deAtividades praticadas oferece uma visão sintética destas, relacionando-as comos resultados a que atendiam e com produtos originados em cada uma delas.Ainda nesta parte, apresentamos os dados referentes à situação da comunidadedo Planalto II após as intervenções, ilustrando com alguns indicadores quantitativosas principais mudanças identificadas a partir das ações do projeto. Alémdisso, depoimentos de várias pessoas envolvidas no projeto, tanto técnicosquanto moradores da comunidade, contam como as ações repercutiram em suasvidas e na vida da comunidade, confirmando a concretização dos objetivos eresultados pretendidos.Finalmente, no Capítulo 3, discutimos as principais conclusões formuladasa partir da experiência deste presente projeto, integrando-o num horizontede combate à situação de pobreza e explicitando, de forma concreta, possíveis eeficazes maneiras de intervir neste tema.O Anexo 1 traz uma situação detalhada da comunidade antes do início doprojeto, a partir de pesquisas realizadas em conjunto com a PMI. No Anexo 2,descrevemos analiticamente as atividades realizadas, destacando o objetivoespecífico de cada uma delas e sua justificativa; pode-se ter uma visão maisdetalhada, sendo possível seguir uma lógica temporal e estratégica. Incluímostambém algumas observações e ilustrações que consideramos importantes paraa compreensão do processo de intervenção como um todo. No Anexo 3 encontraseuma lista integral dos indicadores de objetivo, indicadores de resultado eindicadores de atividade, elaborada para uma avaliação da eficácia e eficiênciadas ações desenvolvidas pelo projeto. Finalmente, no Anexo 4, apresentamos arepresentação gráfica dos Mapas de Rede Social, inicial e final.O Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto II – Ipatinga/MGteve início no final do ano de 1999, encerrando suas atividades em dezembro de2002. Teremos a oportunidade agora de verificar como foram desenvolvidos eatingidos os objetivos e resultados propostos inicialmente. Chamamos a atençãodo leitor para estar atento não apenas às descrições de atividades técnicas, mas,sobretudo, à atitude metodológica que esteve presente em todas elas, propiciandoque, através do projeto, as reais necessidades das pessoas da comunidadeestivessem sendo enfrentadas com propostas de intervenções claras quelevassem em consideração a integridade da pessoa humana.


• 17CAPÍTULO 1Pessoa e talentos:o ponto de partida nos programasde redução da pobreza urbanaEnrico Novara, em colaboração com Giorgio Capitanio“Não as casas de telhados bonitos, de muros bem feitos,não os canais nem as calçadas fazem as cidades,mas os homens capazes de desfrutarem da oportunidade”.Alceu (poeta grego, século VII A.C.)O Impacto com a pobreza urbanaAlguns anos atrás, assim que cheguei no Brasil para coordenar junto coma Admistração Municipal de Belo Horizonte um programa de requalificaçãourbana de algumas áreas da cidade, defrontei-me com um fato que me ajudou aadentrar no complexo problema da pobreza urbana.Uma das primeiras ações previstas pelo Programa Alvorada 1 foi o planejamentoe a realização de procedimentos para a ampliação do sistema viário e1O Programa Alvorada nasceu a partir de um acordo de cooperação entre o Ministério das Relações Exteriores do GovernoItaliano e várias organizações públicas brasileiras, entre as quais, assumiram um papel fundamental o Governo de Minas,através da Secretaria do Trabalho e Ação Social, e a Prefeitura de Belo Horizonte. O objetivo principal do programa é amelhoria das condições de vida da população que mora nas favelas.3Durante as chuvas no verão (principalmente entre dezembro e janeiro) muitas áreas de favela ficam expostas a um riscoforte de desabamento e de alagamento. No último ano foi registrado um saldo de mais de 40 vítimas dedesmoronamentos em Belo Horizonte.


18 •POBREZA E PATRIMÔNIOintegração dos serviços urbanos na favela Senhor dos Passos 2 . Esta favelarepresenta um típico exemplo de assentamento informal da capital mineira.Espremida em uma área central da cidade, com uma topografia fortementeirregular, é fruto de um processo lento, mas contínuo, de ocupação dos declivesde uma antiga pedreira da qual, inclusive, foi extraído material para a construçãoda cidade. Nesta situação, o alargamento de cada rua acabou sendo conquistadoà base de muita “conversa” e de uma boa dose de “cafezinhos”. Para que as ruasfossem tomando forma, era necessário que os moradores afastassem a fachadade suas casas, ou seja, era preciso retirar uma parte da moradia. Assim, a criatividadefoi utilizada na tentativa de encontrar uma solução que permitisse à casamanter sua funcionalidade, além de tornar claro o benefício coletivo e também obenefício direto para cada família.Uma área específica desta favela nos preocupava de modo particular.Eram cerca de 20 casas construídas em uma vala do terreno, que no período daschuvas eram frequentemente alagadas, já que não havia possibilidade dedrenagem das águas 3 . Além disso, a baixa qualidade das habitações, a altadensidade territorial da zona, o estrangulamento e a precariedade do sistemaviário, tudo isso indicava a necessidade de uma ação significativa no que dizrespeito à reestruturação espacial. Assim, depois de várias discussões com osmoradores, decidiu-se remover as casas e formular uma nova hipótese de distribuiçãoe construção de novas moradias em um espaço urbano que permitissemelhor qualidade de vida.Deste grupo também fazia parte dona Efigênia, senhora de 75 anos quevivia há mais de 40 na área. Por causa da sua idade, havia participado não maisdo que ocasionalmente dos encontros. Dirigi-me, portanto, à sua casa para lheexplicar e comunicar-lhe o que tinha sido decidido; tudo isso com o meucarregado sotaque italiano. Dona Efigênia, ao me receber pacatamente, foi logome explicando que as inundações sazonais não eram, na verdade, um problema


PESSOA E TALENTOS • 19grave, porque já havia encontrado uma solução há tempo. Realmente, bastavacolocar uma passarela sobre o nível das águas e um outro pedaço de madeiranos batentes da porta, de modo que as águas ficavam impedidas de invadirema casa. Colocando, depois, alguns degrauzinhos, tornava-se possível subir dapassarela até à casa. Explicou-me como havia “resolvido” o problema fazendouso de um instrumento que chamava de “porta para água”.Uma solução como esta descrita por dona Efigênia eu já conhecia de umoutro contexto. É usada em grande estilo e oportunamente pela Prefeitura deVeneza quando as águas da laguna invadem a cidade nos dias, assim chamados,de “água alta”. Mas dona Efigênia continua a sua explicação dizendo que aquiloque ela tinha construído durante anos era mais importante do que o problemaobjetivo que devia enfrentar sazonalmente. Realmente morava na habitaçãocentral de um núcleo de três casinhas muito próximas umas das outras eaparentemente erguidas em um único lote. Em uma delas morava o seu filho e,na outra, uma sua amiga querida. Dona Efigênia era a proprietária das casas,mas concedia aos dois moradores a possibilidade de ocupá-las porque, devido àsua idade, precisava do amparo do filho e da amiga, já que esta lhe ajudava afazer “as compras para o lar” e aquele a socorria nos momentos difíceis; comisso, ela havia criado uma unidade “familiar” que não vivia, porém, sob o mesmoteto. Uma solução difícil de se reproduzir em um outro contexto, entretanto DonaEfigênia havia resolvido o problema para a solidão da sua velhice.Aquilo que para nós era uma situação crítica e que, por isso, merecia umamedida tão radical, para dona Efigênia era, ao contrário, um recurso, o principalrecurso que com a sua criatividade e com o seu esforço havia construído ao longoda vida. A nossa ação, propícia para identificar corretamente as necessidadesatravés de um processo de coleta de informações e de análise dos dados 4 ,mesmo querendo melhorar as condições de vida e, portanto, reduzir a situaçãode pobreza, poderia romper irremediavelmente o recurso “família” queconstituía, naquele momento, o principal “patrimônio” de Dona Efigênia.Este foi um primeiro exemplo de uma longa série de casos que, nestes 10anos de trabalho, têm direcionado a opção metodológica da AVSI ao desenvolvervários programas de redução da pobreza nas áreas assim chamadas de “riscosocial”, possibilitando enfrentar problemas como o da infraestrutura, procura porvagas de trabalho e por soluções para a questão da educação infantil.4Uma descrição detalhada dos instrumentos e dos métodos de gestão das informações se encontra ainda em UNCHS(Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by informationtechnology. Nairoby: UNCHS, 2000. p.141-230.


20 •POBREZA E PATRIMÔNIOUm percurso cognitivo: o encontro entre uma energia humana e umapresençaÉ evidente que uma observação global, apaixonada e insistente da realidadesobre a qual se está operando permite definir ações e medidas muito próximasdesta mesma realidade, podemos dizer, da forma mais “realista” possível.Um dos mais jovens cientistas que recebeu o Prêmio Nobel de Medicina,Alexis Carrel, afirma no seu livro “Reflexões sobre a conduta da vida” que “Poucaobservação e muito raciocínio conduzem ao erro. Muita observação e poucoraciocínio conduzem à verdade” (Carrel apud Giussani, 2000, p. 20). Com estafrase, Carrel nos oferece uma síntese potente do método científico. Mas, tambémno caso dos programas de desenvolvimento humano, a forma para interferir narealidade depende do método com o qual se conhece esta realidade e da maneiracomo ela é descrita. Carrel parece realmente nos dizer que somente uma paixãopela realidade concreta, com as formas com que ela se apresenta aos nossosolhos, permite vencer uma leitura dos fatos influenciada por um juízo anterior esuperar, na ação, as divisões ideológicas. Só assim o método é definido peloobjeto e não imaginado, de maneira abstrata, pelo sujeito que realiza a ação 5 .Descrever corretamente o problema da pobreza, isto é, tratar da maneiramais adequada possível a realidade, representa, portanto, o passo decisivo paradefinir os conteúdos dos programas e os mais apropriados instrumentos paranortear a ação.Nestes últimos anos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministériodo Planejamento, dedicou particular atenção ao estudo e ao dimensionamentoda pobreza no Brasil. A pobreza é enfrentada na sua dimensão de rendainsuficiente: “Existe pobreza somente na medida em que existem famílias quevivem com uma renda familiar per capita inferior ao nível mínimo para satisfazeras próprias necessidades elementares (Barros et al, 2000, p. 22-23)” 6 .Portanto, segundo esta primeira afirmação, o pobre é aquele que possuiuma renda tal que não lhe permite adquirir uma quantidade de bens suficientepara satisfazer as suas necessidades primárias. É a definição clássica e bem5Uma atenta descrição do processo cognitivo no âmbito dos programas de redução da pobreza se pode encontrar emSOLYMOS, G.M.B. “Vencendo a desnutrição: abordagem psicológica” Ed. Salus Paulista – São Paulo 2002 p. 17-25. Otexto faz parte da coleção “Vencendo a desnutrição”, de Gisela M.B. Solymos e de A. L. Sawaya, publicado com o apoiodo Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social (BNDES) com o objetivo de divulgar os instrumentos úteispara uma política pública de redução da desnutrição. Os textos daquela coleção são publicados no sitewww.desnutricao.com.br6O texto apresenta um percurso completo dos estudos de natureza econômica dos últimos anos sobre o fenômeno dapobreza no Brasil e de análise das principais tentativas de redução do fenômeno através das políticas e de programaspúblicos.


PESSOA E TALENTOS • 21conhecida da “poverty line”, que acaba exigindo que se faça um cálculo devalores diferentes de “pobreza” em função do contexto econômico regional e,assim, um cálculo de valores diferentes de aquisição de bens alimentícios e deprimeira necessidade. Sem entrar no mérito desta modalidade de cálculo, aceitase,de modo geral, o valor médio e significativo de 1 U$ ao dia per capita. Adefinição de “linha de indigência” depende de uma variação de cálculo de rendaque impõe uma meta de pura sobrevivência. Os números sobre a pobreza noBrasil neste início de novo século são bem conhecidos: 1/3 da população viveabaixo da linha de pobreza, sendo que um pouco menos da metade, emcondições de miseráveis 7 . Mas a linha de pobreza não descreve de maneira aexaurir a real dimensão econômica do problema.O tamanho da pobreza é diretamente proporcional ao número depessoas que vivem em famílias para as quais a renda per capitaencontra-se abaixo da linha de pobreza e à distância da renda percapita de qualquer família pobre em relação à linha de pobreza (Barroset al, 2000, p. 23).Define-se, assim, o “hiato de pobreza”, isto é, o valor econômico queaquela família deve receber para elevar a sua renda acima da linha de pobreza.É possível, deste modo, calcular o débito social do país. Além disso, em umcontexto de grande magnitude do fenômeno, quanto maior é a renda média, ouseja, quanto maior é a distância entre tal valor e a linha de pobreza, pior é adistribuição de renda. Feitas as contas, usando o coeficiente de Gini ou a razãoentre a renda do quintil mais rico da população e o quintil mais pobre, o Brasilacaba sendo um dos países que pior distribui a própria renda.Não se caracteriza, portanto, como um país pobre, mas como um paíscom muitos pobres.A definição de pobreza através dos poucos indicadores econômicos,rapidamente apresentada, permite identificar e localizar facilmente o grupovulnerável, mas não consente descrever as causas e características do fenômeno,a não ser aquela que diz respeito à falta de uma renda adequada. Como consequênciadisso, as políticas de redistribuição de renda, diretas e necessárias,propõem resultados mais ligados ao âmbito da emergência do que à tentativa defavorecer o desenvolvimento da pessoa e da comunidade.Para se evitar que os beneficiários dos programas de renda mínimaretornem à sua condição de pobreza anterior, são necessárias a arti-7“Os resultados revelam que, em 1999, cerca de 14% da população brasileira vivia em famílias com a renda inferior àlinha de indigência e 34%, em famílias com renda inferior à linha de pobreza. Deste modo, cerca de 22 milhões debrasileiros podem ser classificados como indigentes e 53 milhões como pobres.” (Barros et al, 2000, p. 23).


22 •POBREZA E PATRIMÔNIOculação e a integração de outras ações sociais que tenham comoobjetivo a conquista da autonomia (Lavinas, 2002, p. 14).As políticas de redistribuição não podem nem devem ficar à margem daspolíticas sociais, mas devem, evidentemente, ser integradas com a real possibilidadede crescimento da pessoa.A renda mínima, para se tornar poderoso instrumento de combate àpobreza e à desigualdade, deveria estar associada a outras políticas sociais.Uma família pobre que tenha uma renda mínima, mas que moreem um bairro sem saneamento básico, que tenha filhos sem acesso aoensino fundamental, não tenha saúde adequada, não participe de formaefetiva na esfera da política e que esteja submetida à arbitrariedadedas ações policiais continua em um processo de pobreza, desigualdadesocial e até mesmo exclusão (Aguiar e Araújo, 2002, p. 32).Uma segunda forma conhecida de interpretar a realidade da pobreza éaquela que tenta definir a “qualidade de vida” ou de “bem-estar” da populaçãoampliando o leque dos fatores que contribuem para determinar aquelas situações,indo além do fator econômico.Portanto, outras dimensões elementares, tais como a saúde, educação,emprego ou outras mais complexas, como segurança e cultura, podem definiruma melhor ou pior qualidade de vida. Nos últimos anos foram elaborados váriosindicadores de “bem-estar”. Entre os mais usados citamos dois: o Índice deDesenvolvimento Humano (IDH), colocado justamente nos últimos dez anos pelaUnited Nations Development Programme (UNDP) e divulgado a nível mundialpara permitir uma comparação entre as nações, e o Índice de VulnerabilidadeSocial (IVS) que, embora tendo que ser adaptado à situação local, foi elaboradoem várias capitais do Brasil. Ambos são representados por um indicador misto.O primeiro é composto de três variáveis: a longevidade, o nível de instrução e onível econômico de vida, medidos respectivamente pela esperança de vida aonascer, pelo percentual de analfabetismo da população em idade adulta, da taxade escolaridade e, enfim, da renda média per capita. O indicador final, que variaentre 0 (ausência de desenvolvimento) e 1 (desenvolvimento completo), podeclassificar o grupo populacional que é o objeto do estudo nas diferentes categoriasde desenvolvimento (alto, médio e baixo). Mesmo segundo esta análise, oBrasil se mantém como um país desequilibrado. De fato, é a única potência econômicainserida no consistente grupo de nações com desenvolvimento médio 8 .Um exemplo de aplicação do IDH nas políticas de redução da pobreza no Brasilé a concentração de programas setoriais da “Comunidade Solidária” direto em8Em 2001 o Brasil estava classificado no 69º lugar.


PESSOA E TALENTOS • 23grupos homogêneos (redução do analfabetismo, Bolsa-Escola, redução da mortalidadeinfantil, incentivo à formação profissional) nos estados com IDH inferior àmédia nacional, isto é, nos 14 estados brasileiros considerados de baixo desenvolvimentohumano (valor do IDH inferior a 0,5).O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) 9 nasce da combinação de mais de20 variáveis que tendem a medir um leque mais amplo de dimensões: ambiental,cultural, econômica, jurídica e de segurança. Também nestes casos, o índiceserve para definir os grupos majoritariamente vulneráveis em um determinadoterritório e serve igualmente para garantir a concentração de programas locais enacionais como no caso do Programa BH-Cidadania, em Belo Horizonte. 10Assim, embora, sejam diversas as formas de identificar os níveis aceitáveisde qualidade de vida, quase sempre se define o pobre como alguém que nãopossui acesso estável a uma série de serviços que uma comunidade produziu emum determinado contexto regional. Portanto, o pobre é aquele que está excluídoda possibilidade de usufruir das conquistas e dos progressos sócio-econômicosque a sociedade acumulou à medida que foi se articulando.O pobre, dessa forma, vive em uma situação instável, de extrema vulnerabilidade,no contexto social. Vulnerabilidade é, de fato, um conceito mais amploque a simples carência ou necessidade; significa viver sem defesas, em umasituação de insegurança, exposto a riscos, ao desconforto e à tensão.Certamente, esta segunda abordagem do tema reconhece um ponto departida objetivo: a pobreza é um fenômeno multidimensional e dinâmico, e introduz,por isso, um assunto muito mais amplo: aquele dos serviços de utilidadepública. 11 Questões como: qual a natureza do serviço no profit de utilidadepública? Como melhorar a sua qualidade e eficiência? Como avaliá-lo? 12 Quaisdevem ser os relacionamentos entre política pública e a ação dos serviços privadosno profit? Estas questões, mesmo que fascinantes e importantes, acabariam,porém, por nos levar para longe do tema que propomos enfrentar. 13 Mas vale apena lembrar pelo menos dois elementos de interesse para a nossa discussão:¬ para definir a qualidade é necessário definir de maneira inequívoca o padrãoaceitável de um serviço, de modo tal que as iniciativas comunitárias da9Para uma apresentação das modalidades de cálculo do Índice de Vulnerabilidade Social elaborado pela Prefeitura deBelo Horizonte em Colaboração com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais ver: PBH: Planejar BH, Mapade Exclusão Social. Belo Horizonte, n. 8, ago/2000.10Uma apresentação do programa se encontra em FERREIRA & AMARAL, 2001.11Entendemos por “serviços de utilidade pública” o conjunto dos serviços ofertados à pessoa seja no setor público comono setor no profit.12Para os interessados, ver a propósito deste tema em GORI & VITTADINI, 1999.13Está em vigor uma lei nacional de grande importância para a classificação e operosidade das OSCIP – Organização daSociedade Civil de Interesse Público.


24 •POBREZA E PATRIMÔNIOsociedade civil possam medir a qualidade do próprio serviço e melhorar aprestação do mesmo;¬ uma forma concreta de garantir o acesso aos serviços é aquela de financiar epromover serviços de utilidade pública voltados à população mais vulnerávelou de criar também as condições econômicas, para que os mais pobrespossam efetivamente ter acessibilidade aos serviços existentes.O Programa Bolsa-Escola, por exemplo, associa elementos de redistribuiçãode renda à garantia de acesso aos serviços.A Bolsa Escola é superior aos programas de renda mínima porqueintegra de forma estratégica a complementação de renda ao acessouniversal à educação, bem como combate a evasão escolar. Osbeneficiários são crianças de famílias muito pobres, que, sem a bolsamensal, evadiriam do sistema escolar, mantendo a mesma baixaescolaridade dos pais e, consequentemente, no futuro, ingressariam nomercado de trabalho, na melhor das hipóteses, nas mesmas condiçõesda maioria de suas famílias. A lógica é elevar o grau de escolaridadedas crianças para aumentar e mesmo equilibrar as oportunidades. ABolsa -Escola consiste em repassar um recurso mensal para as famíliasexcluídas desde que todos os filhos em idade escolar frequentem pelomenos 90% dos dias letivos (Aguiar e Araújo, 2002, p. 34-35).Ao contrário, em um outro programa chamado “Apoio à Distância”, a AVSIcoloca, através de depósito de uma cota mensal, uma família em contato comuma criança ou adolescente que vive em situação de risco social para garantir oseu percurso educativo. O resultado das 4.000 adesões, no Brasil, é destinadotrimestralmente a 30 centros educativos no profit que atendem em várias cidadesbrasileiras as crianças que recebem este sustento. Os fundos são transformadosem benefícios diretos no âmbito da educação. Escolhe-se, deste modo,reforçar os serviços de utilidade pública, os quais são dirigidos unicamente àcomunidade vulnerável.Em ambos os casos, vê-se como o problema da qualidade dos serviços,mais do que o acesso a eles, torna-se um elemento indispensável para reduzirefetivamente as condições de vulnerabilidade das pessoas: este é um elementoque merece particular atenção para não aumentar ainda mais a desigualdadeexistente.Até agora nos limitamos a examinar, de fora, a situação de vida dos maispobres procurando identificar as dimensões das causas do fenômeno. Contudo oexemplo de dona Efigênia (mencionado no início desta apresentação) pode nosajudar a aumentar a nossa percepção da situação de pobreza. A seu modo, dona


PESSOA E TALENTOS • 25Efigênia organizou, sozinha e com poucos recursos, uma resposta às própriasnecessidades. Da maneira como podia, ela colocou à disposição o conjunto de“bens” que possuía para melhorar a sua condição de vida. Vale notar que boaparte destes recursos não são diretamente classificados dentro de uma avaliaçãomonetária: por exemplo, o núcleo familiar e os relacionamentos com amigos ecom a vizinhança foram elementos buscados como forma de responder ao problema;podemos dizer que dona Efigênia jogou inteligentemente com os talentosque havia. Não pôde desenvolver melhor esta sua capacidade e responsabilidadediante da realidade porque as circunstâncias assim não o propiciaram. Portanto,o pobre é aquela pessoa que não tem possibilidade de desenvolver os talentosque recebeu, isto é, não possui o acesso às reais oportunidades que lhepermitiriam desenvolver todas as próprias potencialidades. Pode-se, assim, serdignamente pobre, como no caso de dona Efigênia, e jogar com todas aspossibilidades humanas que se tem para tentar responder à realidade.Podemos, então, colocar-nos uma pergunta: quais os recursos que acomunidade e as pessoas pobres podem colocar em campo para enfrentar aprópria situação de objetiva vulnerabilidade, de objetiva necessidade, de objetivaausência de bens e serviços? Para responder a esta pergunta devemos nosadentrar a um outro método de conhecimento e de ação que não seja somenteo estudo analítico do fenômeno: a partilha das necessidades. A partilha (que éum “condividir”) não elimina a análise, mas implica um metódo mais adequadopor se aproximar da pessoa e por procurar conhecer as suas reais necessidadese potencialidades.Condividir quer dizer acompanhar a pessoa, o seu nível de problemáticae não olhar de fora. Condividir com a pessoa não quer dizerviver a condição dela, recriar em nós a sua condição de vida, mas simser uma companhia que permite assumir e penetrar em sua situação(GIACOMINI et al., 2002, p. 20).A partilha, isto é, o “colocar-se junto para...”, elimina o perigo da “invisibilidade”.O fenômeno do velamento vale também para o conjunto da sociedadeou para determinados grupos. É como se dissessem: o problema existe,mas não me perturba, não move a minha humanidade; pode, portanto, serreduzido, pode tornar-se “invisível”, mesmo se o analiso em todos os seusfatores. De fato, se o objeto não entrar na esfera da minha consciência é comose não existisse. A vida concreta, as necessidades, as angústias, os desejos, astentativas das pessoas que vivem em situação de pobreza, para tornarem-sefatos concretos, elementos de conhecimento e de ação, devem encontrar-se coma energia humana das pessoas e das consciências.O exemplo várias vezes citado coloca em evidência um ponto de partidaestratégico em uma ação de redução da pobreza: favorecer as condições que


26 •POBREZA E PATRIMÔNIOpodem “colocar em movimento” as potencialidades da pessoa nas suas dimensõesindividuais e sociais; em outras palavras, “colocar em campo” aquelesfatores que permitem às pessoas um real desenvolvimento. É necessário, pois,uma atenção para conhecer, valorizar, reforçar e orientar corretamente aquilo quea pessoa construiu.Pontos metodológicos: pessoa, partilha das necessidades e encontroshumanos operativosConsiderando todas essas razões expostas até agora, chamo a atençãopara alguns pontos metodológicos 14 que caracterizam as nossas ações no âmbitoda redução da pobreza e que definiram, portanto, o trabalho em Ipatinga. Emprimeiro lugar, acaba por óbvio dizer que a pessoa é o centro de cada ação.Então, a sua dignidade e o seu desenvolvimento humano são a finalidade últimade cada tipo de intervenção.O desenvolvimento humano de um povo não deriva primeiramente nemdo dinheiro, nem da ajuda material, nem das estruturas técnicas, esim, do amadurecimento da mentalidade e dos costumes. É o homemo protagonista do desenvolvimento, não o dinheiro ou a técnica (JoãoPaulo II, 1990).É a pessoa, de fato, o motor do desenvolvimento, o fator indispensável detodo desenvolvimento possível: a pessoa com as suas necessidades, quefrequentemente se apresentam de maneira parcial e imediata, mas tambémmostrando toda a sua potencialidade, os seus desejos mais profundos, as suastentativas de resposta e os seus dramas já vividos.Cada pessoa, cada comunidade, por mais carente que seja, representauma riqueza e demonstra um grande valor. Para ajudar a desenvolver os própriostalentos e a mover a responsabilidade pessoal é necessário valorizar e reforçaraquilo que as pessoas já construíram, a própria história, as relações existentes,isto é, reafirmar aquele tecido social e aquele conjunto de experiências que constituio seu patrimônio de vida. É um ponto operativo fundamental que nasce deuma abordagem positiva da realidade e que ajuda a pessoa a entender o seu própriovalor, a sua dignidade e, desse modo, a desenvolver uma responsabilidade.14Uma descrição mais detalhada dos elementos de método da ação da AVSI referentes às medidas de redução da pobrezaurbana pode ser encontrada in “Plano de Desenvolvimento Social e Ambiental do Programa Ribeira Azul”. que constitueo documento programático do Plano de Redução da <strong>Pobreza</strong> Urbana na área de Ribeira Azul, em Salvador (BA),financiado pelo Banco Mundial, pelo Governo da Bahia e pelo Ministério das Relações Exteriores do Governo Italiano.Pode-se consultar também Gatti, M.T.: The Role of Non-Governmental Organizations. In: Maffenini, W. Partnershipexperiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83.


PESSOA E TALENTOS • 27Um outro importante momento para o Brasil em preparação à Habitat IIfoi o Encontro Internacional do Recife sobre a <strong>Pobreza</strong> Urbana, em março de1996. As declarações finais rezam assim:Cada um de nós quer ser considerado pelo que é, pelo que tem e peloque pode fazer, e não pelo que lhe falta. O ponto de partida, tanto paraa formulação de políticas como para as intervenções, deve ser o respeitopelas opiniões e pelas ações dos pobres, por suas iniciativas e suaorganização, reconhecendo o valor dos espaços urbanos produzidosinformalmente e das atividades econômicas informais, que geramrenda e ao mesmo tempo atendem a necessidades básicas, tais comohabitação, abastecimento de água, etc (Declaração do Recife, 1996).Esta percepção da realidade não exclui obviamente os problemas de umacomunidade, as suas necessidades expressas ou latentes, não fecha os olhosdiante das condições humanas e sociais, a que acabaria por levar a uma ingenuidadeque não consideraria as vulnerabilidades presentes. Ela impõe, aocontrário, uma aproximação afetiva que permite não parar na necessidadeparcial, mas que, partindo desta, pode chegar a uma leitura em função datotalidade do ser humano. Quando é colocada em jogo a responsabilidade daspessoas, dá-se a descoberta do significado do próprio ser. Toda necessidade,mesmo quando tão somente material ou limitada, remete sempre a um desejoque a supera. Através do método da partilha este desejo pode ser escutado edilatado para outras direções, garantindo um crescimento individual e social.Acolher a tentativa de resposta colocada em ato representa a primeira maneirade ampliar a responsabilidade da pessoa. É dentro de tal experiência de partilhaque pessoa e comunidade vivem um processo educativo da própria responsabilidade,o que as tornam capazes de ter acesso real às oportunidades dedesenvolvimento que a realidade propõe. Isto por terem sido despertados odesejo e a vontade de chegar até elas, identificando com inteligência aquilo quena situação de cada um já se põe como fator e instrumento de ajuda; e valorizandoas políticas e os instrumentos que a mais ampla comunidade pode colocarem campo para acompanhar e ampliar as próprias possibilidades de ação.Uma saída operativa para o desenvolvimento da responsabilidade pessoalé a formação de agremiações espontâneas e organizações. Não existe comunidadena qual não se encontrem grupos mais ou menos constituídos dentro daprópria comunidade ou fora dela que prestam serviços de várias naturezas àspessoas e às famílias. Estes também representam um recurso importante para odesenvolvimento da sociedade; eles nascem, de fato, da livre agregação depessoas e de famílias. Agir em favor do desenvolvimento social significa tambémfavorecer as capacidades de associação das pessoas e grupos, ou seja, reconhecer,valorizar e estimular o constituição de comunidades intermediárias e de umtecido social ricos de participação e de co-responsabilidade. O direito de toda


28 •POBREZA E PATRIMÔNIOpessoa à liberdade de associação e de empreendimento, até mesmo o econômico,revela-se, na experiência, uma força potente de mudança.A subsidiariedade, que tem suas raízes no pensamento de Aristóteles e deSão Tomás, construída inclusive pelo Tratado de Maastricht, da União Européia,é muitas vezes retomada pela Doutrina Social da Igreja Católica:É injusto remeter a uma maior e mais alta sociedade aquilo que asmenores e inferiores comunidades podem fazer... Disso poderia advirum grave dano e um desvirtuamento da reta ordem da sociedade...Pois o objeto natural de qualquer intervenção da sociedade é aquele deajudar de maneira suplementar as assembléias do corpo social e nãodestruí-las ou suplantá-las (Papa Pio XI, 1931).Sobre este aspecto se funda a terceira passagem metodológica do nossoagir em favor do desenvolvimento e, assim, da melhoria das condições de vidaque podem aliviar as situações de pobreza que atormentam uma boa porção dapopulação urbana no Brasil. O êxito do desenvolvimento associativo de reforçodas “comunidades intermediárias” é o surgimento de sujeitos conscientes eautônomos. Nos programas de desenvolvimento é fundamental realizar umaparceria entre tais sujeitos e as entidades envolvidas, colocando em movimentosinergias e significativas quantidades de recursos. Trata-se de partir de umsujeito existente, que envolve nas ações as administrações locais, as forçassociais, as instituições internacionais, numa ação comum, segundo respectivasfunções, para responder às necessidades.É daqui que surge o conceito de parceria: cada ator (comunidade, sociedadecivil, empresas, organismos internacionais, poder público) desenvolve seupróprio papel para um bem comum. Existe uma diversidade nos papéis, na definiçãodas ações, na sua execução e no processo de avaliação dos resultadosalcançados, mas não existe uma separação entre o “pensar” e o “fazer”. Umarelação estreita entre os parceiros faz com que cada um coloque todas as suaspotencialidades em termos de experiências e conhecimentos: uma parceira fortetraz benefícios ao programa em termos de eficiência e sustentabilidade. Portanto,o esforço que deve ser feito para pensar a realização de programas de desenvolvimentoé aquele de envolver as políticas públicas e sensibilizar as administrações,as instituições e governos a colaborarem com os serviços que são ofertados pelasassociações espontâneas, oferecendo a elas, quando possível, apoio e subsídios,respeitando a livre vocação de cada comunidade intermediária.Do mesmo modo que a participação é algo implícito ao projeto de desenvolvimento,a parceria é parte constitutiva da definição e realização das políticas,considerando os papéis e as capacidades de cada ator; ela não vem “depois”. Aparceria consiste em colocar as decisões e, por isso em definir as políticas (e não


PESSOA E TALENTOS • 29somente realizá-las) naquele nível da sociedade, naquele patamar da agregaçãosocial que tem capacidade para construir e realizar formas de respostas aosproblemas.É lícito, então, que as políticas se submetam à experiência, é licito que osresponsáveis pela elaboração das políticas públicas se submetam àquele nível deagregação social capaz de fornecer respostas em forma de experiências.Percurso operativo: reforçar o patrimônioA respeito do estudo comparativo realizado pelo Banco Mundial sobre amodalidade com a qual quatro comunidades pobres, em quatro diferentescontinentes, reagiram à crise econômica dos anos 80, a socióloga Caroline Moser(1996) conclui que, na análise de uma comunidadeé importante identificar não somente as ameaças, mas também aquelascapacidades de adaptação, de aproveitamento das oportunidades ede resistência aos efeitos negativos das mudanças do ambiente externo.Os meios para resistir são os recursos que os indivíduos, as famíliase as comunidades podem colocar em campo para enfrentarem asnecessidades. Portanto, a vulnerabilidade é estritamente vinculada àposse de recursos. Quanto maior são os bens menor é a vulnerabilidadee quanto maior é a corrosão deles, tanto maior é a insegurança (p. 2).Se estendermos a observação de Caroline Moser não somente com basenos bens materiais 15 , mas também se considerarmos o homem na sua incansávelbusca de significado, que o torna capaz de colocar em ação todas as potencialidadese talentos que possui, as considerações finais não mudam, aliás, assumemuma configuração ainda mais completa.Se considerarmos como “patrimônio” o conjunto de recursos palpáveis enão palpáveis que as pessoas possuem pode-se concluir que:P = f (1/V) (1)O patrimônio (P) é inversamente proporcional à situação de vulnerabilidade(V) das comunidades pobres. Assim, para reduzir a vulnerabilidade énecessário reforçar os recursos dos quais a comunidade pode dispor para enfrentaras situações críticas. Podemos até mesmo afirmar que um programa deredução da pobreza deve, como objetivo principal, contribuir para aumentar o15Sobre o conceito de “recursos” ver também: NERI. In: HENRIQUES, 2000. p. 509-517.


30 •POBREZA E PATRIMÔNIOpatrimônio da comunidade. Mesmo uma ação setorial, pensada e desenhadapara reduzir ou eliminar uma situação específica de risco, pode contribuir para amelhoria do patrimônio. O objetivo de uma ação para reduzir a pobreza pode sersintetizado na seguinte formulação:∆P = Po x I (2)A variação do patrimônio (∆P) é dada pela real incidência da ação deprojeto (I), qualquer que seja, sobre o patrimônio inicial (Po) daquela determinadacomunidade. Uma ação positiva em si pode, de verdade, não produzir oimpacto esperado. Somente quando a pessoa está capacitada para colher aoportunidade, isto é, quando o agir incide sobre o patrimônio inicial colocandooem movimento de maneira estável, é possível criar condições para reduzir avulnerabilidade dentro das famílias e das comunidades. Um curso de formaçãoprofissional que não considere o impacto que o contexto sócio-econômico efamiliar gera nos jovens e nas suas identidades não forma alunos para enfrentaremefetivamente o mundo do trabalho; é necessário investir na formaçãohumana destes estudantes e recuperar primeiramente os elementos que ajudama recolocar o significado do trabalho para a vida deles. De modo geral, a açãodeve levar em consideração os recursos existentes (e deve ser, portanto,adequada na sua formulação metodológica e nos seus prazos de realização) paragarantir um real incremento do patrimônio na comunidade. Um sujeito externo(público, privado ou da sociedade civil) que queira contribuir com o desenvolvimentoda comunidade através de uma ação de qualquer natureza (seja esta demelhoria urbana, de construção da rede de energia elétrica, de fomento daprodução de renda) não pode “substituir” a comunidade beneficiada, mas devedesenvolver ações de suporte. A busca dos “fatores positivos”, dos “multiplicadoresde desenvolvimento”, dos sujeitos intermediários eficazes que podemrepresentar um valor agregado à ação específica, deve ser objeto da nossapreocupação desde o momento inicial do projeto.A integração das ações é, então, uma necessidade do projeto, visto que apessoa vive a pobreza como dimensão unitária e não fragmentada em uma sériede necessidades independentes entre elas.A pobreza urbana apresenta um paradoxo para os fins de avaliação ede definição de políticas. Para os pobres, ela é um todo indivisível, umarealidade cotidiana, enquanto por parte das instituições encarregadasde erradicá-la, a pobreza é vista como um problema a ser enfrentadoatravés de uma série de programas, geralmente fragmentados, malcoordenados, e parcialmente eficazes no melhor dos casos. Sem dúvidaalguma, a distância é grande entre a unidade da pobreza, tal como évivenciada pelos pobres, e a diversidade das respostas propostas pelasinstituições (Declaração do Recife, 1996).


PESSOA E TALENTOS • 31Um projeto de redução da pobreza 16 deve, pois, investir naquelas açõesque aumentam o patrimônio seguindo etapas claras:¬ incrementar o patrimônio dos grupos mais vulneráveis;¬ promover fatores que tendem a equilibrar o patrimônio;¬ garantir a sustentabilidade dos benefícios conquistados com a ação doprojeto.O projeto de reforço da comunidade do Planalto II, nasceu desta premissa.O bairro constituiu-se a partir da transferência de cerca de 600 famílias da áreacentral, espaço que a comunidade havia ocupado no processo de construção dacidade de Ipatinga, em Minas Gerais. Na operação de transferência, a prefeiturateve o cuidado de manter unidas as famílias criando um novo bairro não muitolonge da área central. Da preocupação de não terminar o projeto com a construçãodas casas, mas transformá-lo em uma rede real de oportunidade de desenvolvimentoda comunidade, nasceu o encontro entre a Prefeitura de Ipatinga, aComunidade do Bairro Planalto II e a AVSI. O objetivo desta parceria foi garantirreais condições de desenvolvimento através das ações de consolidação e dereforço das comunidades previstos logo depois da relocalização das famílias. 1716Os passos operativos de um programa de redução de pobreza são apresentados em: GATTI & NOVARA. In: MAFFENINI,2003, p. 14.17As principais ações de recolocação das famílias previstas no projeto foram apresentadas em SILVA, J. I. Rosas Guiade Reassentamento Involuntário de População Urbana de Interesse Social. Programa Soma, Belo Horizonte 1999. Nodocumento são apresentadas também as diretrizes gerais do programa de relocalização da comunidade.


32 •POBREZA E PATRIMÔNIOReferências BibliográficasAGUIAR, M.& Araújo C.H. Bolsa escola: educação para enfrentar a pobreza.Brasília: Unesco, 2002. p. 32.BARROS, R. Paes de et al. A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza noBrasil. In: HENRIQUES, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro:Ipea, 2000. p 22-37.FERREIRA, AL.; VELOSO, C & AMARAL T. do. BH Cidadania: o percurso dapolítica social. In: Pensar BH – Política Social, Belo Horizonte, 2001.GATTI, M.T. The Role of Non-Governmental Organizations. In: MAFFENINI, W.Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p.83._______ & NOVARA, E. The Real City. Methods and actions implemented byAVSI to upgrade informal urban áreas. In: MAFFENINI, W. Partnershipexperiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 14.GIACOMINI, M.R.; HAYASHI; M.& PINHEIRO, S. A. O trabalho social em favela:o método da condivisão. In: SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a Desnutrição:abordagem psicológica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 20.GORI, E.& VITTADINI G. Qualità e valutazione nei servizi di pubblica utilità.Milano: Etas, 1999.GIUSSANI, L. O senso religioso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.LAVINAS, L. Programa de garantia de renda mínima e ação coordenada decombate à pobreza. In: AGUIAR, M. & ARAÚJO, C.H. Bolsa Escola: educaçãopara enfrentar a pobreza. Brasilia: Unesco, 2002.MOSER, Caroline O. N. Situaciones criticas: reacción de las familias de cuatrocomunidades urbanas pobres ante de la vulnerabilidad y de la pobreza.Washington D.C: Banco Mundial, 1996.NERI, M. Políticas estruturais de combate à pobreza no Brasil. In: HENRIQUES,R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 509-517.PAULO II, João. Redemptoris Missio, n. 58-59, 7 de dez., 1990.PBH: Planejar BH – Mapa de Exclusão Social, Belo Horizonte, n.8, ago., 2000.PIO XI, Papa. Enciclica Quadragesimo Anno, 15 de maio, 1931.SILVA, J. I. Rosas. Guia de reassentamento involuntário de população urbanade interesse social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999.SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a desnutrição: abordagem psicológica.São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 17-25.


PESSOA E TALENTOS • 33UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlementupgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS,2000. p. 45-139.UNCHS (Habitat). <strong>Pobreza</strong>: um desafio mundial, Declaração do Recife, Recife,1996.URBEL:Urbanização de favelas e prevenção em áreas de risco em BeloHorizonte. In: N. Bonduki Habitat: As práticas bem sucedidas em habitação,meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: StudioNobel, 1996. p.152-155.


• 35CAPÍTULO 2O Planalto II e o projeto defortalecimento da comunidadeAchilles G. Coelho Jr.Érlia E. BenevidesPaulo F. BulosA comunidade do Planalto II: aspectos históricosA cidade Ipatinga, localizada no Vale do Aço, Minas Gerais, a 217 Km deBelo Horizonte, cresceu sob influência marcante da industrialização, sendoatingida pelo fluxo imigratório ocorrido nas cidades brasileiras durante as últimasdécadas. Esse fenômeno provocou o “inchaço” das cidades e o crescimentodesordenado dos centros urbanos, gerando áreas com graves problemas. Essesespaços urbanos foram ocupados de maneira não planejada e tornaram-senúcleos de pobreza cujas características são, dentre outras, o crescente nível deviolência, a falta de serviços básicos de infra-estrutura e a inadequação das edificações.Os seus habitantes geralmente têm insegurança quanto à posse doterreno, possuem baixa escolaridade, dificuldades de inserção no mercado detrabalho, fragilidades em sua saúde, precária participação comunitária, enfim,são assolados por um alto grau de vulnerabilidade. O Planalto II foi formado pormuitas famílias que ocupavam a área central da cidade, algumas desde suafundação e outras a partir do “boom” de crescimento populacional provocadopela implantação da indústria Usiminas, na década de 60. Nesta época, umnúmero elevadíssimo de pessoas e famílias foi atraído pela possibilidade deconseguir um trabalho, ocasionando um aumento desordenado da área centralda cidade. Verificou-se uma rápida passagem de um município com característicase hábitos ainda rurais para uma cultura mais urbana.


36 •POBREZA E PATRIMÔNIOPara enfrentar esta situação, a Prefeitura Municipal de Ipatinga – PMI –vinha realizando um conjunto de Programas de melhorias urbanas. Podemosdestacar o programa de intervenção na área central da cidade, o Programa NovoCentro, financiado pelo PROGRAMA SOMMA, com o objetivo de remover apopulação que ocupava irregularmente a parte baixa da cidade, em especial osresidentes das margens do Ribeirão Ipanema 18 . Tais programas deram origem àconstrução do bairro Planalto II, onde seriam reassentadas as famílias retiradasdesta parte baixa da cidade.A população dessa parte baixa, que viria a ser reassentada no Planalto II,apresentava um conjunto de fatores que tornava seus moradores muito vulneráveis:do ponto de vista físico ocupavam áreas passíveis de alagamentos ao longodo Ribeirão Ipanema, em habitações de baixa qualidade; do ponto de vistasocial, configurava-se uma situação crítica que envolvia prostituição, uso deálcool e drogas, desemprego, baixo nível de escolaridade e condições precáriasde saúde. Os moradores reassentados no Planalto II integravam dois grupos:moradores das áreas que poderiam sofrer com os alagamentos e de áreas quenão corriam este risco, cuja remoção também fazia-se necessária para a reurbanizaçãodo centro da cidade, e inserção de comerciantes daquelas áreas.Evidentemente, existiam, ainda que frágeis, alguns laços entre aqueles que viviamna mesma rua e no mesmo beco, mas o grupo que passou a constituir acomunidade do Planalto II não configurava ainda, em essência, uma comunidade,pois tratavam-se de grupos diferentes, embora, do ponto de vista social, agrande maioria vivesse situações de vulnerabilidade muito semelhantes.Reassentados no Planalto II, num total de 600 moradias, os moradoresforam novamente divididos em dois grupos: o grupo de proprietários (300moradias cujos núcleos familiares detinham a posse de imóveis na área afetadapelo Projeto Novo Centro), e outros 300 domicílios cujas casas foram construídasem regime de mutirão, por aqueles moradores que residiam na área doprojeto, mas que não eram proprietários de imóveis.Do ponto de vista social, os poucos e frágeis laços (provavelmente laçosconstruídos pelas necessidades) que ligavam de alguma forma as pessoas quemoravam mais próximas umas das outras antes da remoção, tornaram-se aindamais frágeis ou foram, em muitos casos, destruídos, dando origem ao isolamentode alguns, e a relações conflitantes em outros casos.18“O projeto Novo Centro, concluído em 1997, foi o maior programa de obras do projeto SOMMA em Minas Gerais e,hoje, é apontado pelo Banco Mundial como referência para empreendimentos semelhantes em toda a América Latina.”O projeto contou com investimentos de US$3 milhões, de uma parceria da Prefeitura com o Bird e o Governo do Estado.(Fonte: http://www.ipatinga.mg.gov.br).


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 37“Acho um absurdo falar em construir duas igrejas, isto aqui é como sefosse apenas um bairro, agora fica estas panelinhas.” (fala de umamoradora do Planalto em encontro de pesquisa qualitativa, criticandooutros moradores que defendiam a criação de uma igreja para umaparte do mutirão e outra para a parte dos proprietários)“Quando mudamos para o Planalto, foi como se tivessem, com umtrator, arrancado todas as casas de minha rua e as recolocado aqui noPlanalto; não mudou ninguém de lugar; só que, hoje, parece queninguém mais se conhece, ninguém mais fala com ninguém...” (fala deum morador do Planalto II em encontro de pesquisa qualitativa, aoafirmar que os relacionamentos que havia entre os moradores de suarua perderam-se após a mudança).“Quando tinha o mutirão todo mundo vinha porque queria ganhar acasa, depois que ganharam, cada um foi para suas casas e é como seninguém mais se conhecesse” (fala de uma moradora do Planalto emencontro de pesquisa qualitativa, comentando o isolamento dos moradoresapós terem recebido suas casas).As famílias que passaram a integrar a comunidade do Planalto II nãoeram, do ponto de vista histórico e sócio-cultural, o que se poderia denominar,de imediato, uma comunidade, embora o Projeto Novo Centro as considerassemassim, em função da ocupação de uma mesma área geográfica. O projeto asdenominava como: a “Comunidade do Planalto II”.Ações anteriores ao projetoEm 1997 foi assinado o primeiro convênio entre a Prefeitura de Ipatinga,AVSI e a CDM, firmando uma cooperação técnica-financeira, que teve sua duraçãoentre os anos de 1997 a 1998 (na 1ª fase), com o escopo de desenvolverdiretrizes para elaboração de um plano de intervenção contra a pobreza urbanana cidade. O processo junto à PMI incluía a capacitação de técnicos para conhecera questão da pobreza, para verificar maneiras de abordar e de intervir nesteproblema existente nas Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) 19 , além deincluir também a elaboração de um projeto de financiamento.Para o cumprimento das metas estabelecidas pelo Convênio, foram realizadasas seguintes atividades:19As Áreas de Especial Interesse Social são caracterizadas por apresentarem-se de forma homogênea e ocupadas poruma população com baixíssima renda familiar, girando entre 0 e 3 salários mínimos.


38 •POBREZA E PATRIMÔNIO1. O Curso de aperfeiçoamento, desenvolvimento e gerenciamento de programaspara a redução da pobreza urbana: o fenômeno da pobreza nas áreas urbanascaracteriza-se por uma multiplicidade de fatores e implicações sócioeconômicas,físico-ambientais, etc. Portanto, para enfrentá-lo é necessárioplanejar cuidadosamente ações multi-setoriais que tenham eficácia a médioe longo prazo. Esta foi a premissa que orientou o Curso de Aperfeiçoamentopara 30 técnicos e gerentes da PMI, advindos de várias secretarias. O cursocapacitou-os para elaborar e gerenciar planos integrados de intervenção decombate à pobreza urbana.2. Diagnóstico e diretrizes de intervenção: de acordo com a metodologia deintervenção, definiu-se que a abordagem da pobreza urbana na cidade seriafeita a partir da análise do patrimônio, procurando identificar a maior oumenor vulnerabilidade das pessoas e da comunidade. A pesquisa foi realizadaem vinte e seis áreas consideradas como Áreas de Especial Interesse Socialque vinham constituindo-se em um desafio para a administração municipal.A PMI vinha priorizando e atendendo gradativamente essa população menosfavorecida através de programas municipais, contudo o trabalho de diagnósticovisava conhecer melhor a realidade daquelas pessoas e integrá-las nacidade como um todo, explicitando as demandas por elas exigidas, queseriam respondidas através da formulação de programas públicos. Os dadose informações foram coletados em campo através de:¬ RETRATO DA COMUNIDADE: Foi realizada uma pesquisa amostral, intitulada“CONVIDA” (Condições de Vida da População), com 850 entrevistas,para a elaboração do diagnóstico da situação de vida das comunidadesdas áreas de especial interesse social da cidade. As informações levantadascompuseram um banco de dados georeferenciado que permitiuvisualizar os problemas que afligem a população e as soluções por elaencontradas;¬ INFORMAÇÕES DOS SERVIÇOS PÚBLICOS: As secretarias de Saúde eEducação forneceram as informações sobre os programas em andamentoe os serviços por elas oferecidos. O sistema GIS (Sistema de InformaçõesGeográficas), por conseguinte, relacionou geograficamente esses serviçose programas para a análise de sua eficiência e eficácia frente às demandasdas comunidades carentes pesquisadas;¬ INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: Formulou-se uma representação geográficade todos os dados coletados utilizando como base cartográfica olevantamento aerofotogamétrico da cidade, e também a divisão administrativados bairros e regionais fornecidos pelo DATASERV (setor de informáticada PMI).Uma vez montado o sistema de informações com base nos produtos,mapas, tabelas e gráficos foi elaborada a análise da pobreza na cidade e o


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 39documento “Retrato da <strong>Pobreza</strong> Urbana de Ipatinga/ Diretrizes para Redução”,contendo o diagnóstico e as diretrizes de intervenção contra a pobreza nas AEISpesquisadas. 203. Projeto de pós-ocupação: O passo seguinte da formação consistiu naconstrução de um projeto piloto para uma intervenção integrada contra apobreza urbana na área escolhida, o Planalto II, servindo de base para amultiplicação do processo nas demais áreas pobres da cidade. A populaçãodo Planalto II foi escolhida como objeto do projeto porque, embora játivessem recebido uma intervenção do ponto de vista urbanístico, com aconstrução das casas, faltava ainda um programa que interviesse nos demaiselementos do patrimônio que ficaram sem uma atenção devida. Resgatandonovamente o conceito de pobreza, a partir da análise do patrimônio, umaintervenção apenas no elemento moradia não ajudava a enfrentar integralmentea situação de pobreza daquelas pessoas. Através da pesquisa quantitativae qualitativa, iniciava-se o primeiro passo de conhecimento juntoàquela comunidade. Todos os dados e informações levantadas, bem como oscontatos com moradores e atores locais, foram fundamentais para entenderos pontos de maior vulnerabilidade daquelas pessoas, no que se refere a seusaspectos materiais, humanos e sociais. O encontro inicial com os moradorestornou possível a compreensão de alguns aspectos: o cotidiano da comunidade,o perfil de moradores e de suas lideranças, os relacionamentos travadosou não e como as pessoas moviam-se frente à sua realidade de vida. Oscontatos por ocasião das pesquisas deixavam prever uma abertura para umtrabalho em conjunto, e mais que isso, alguns chegaram mesmo a expressaro desejo de que o trabalho social desenvolvido junto a eles, como o domutirão de construção das casas, voltasse a acontecer.As diretrizes indicadas passaram a integrar o texto do projeto de pósocupaçãopara o Planalto II, então denominado: Projeto de Fortalecimento daComunidade do Planalto II, encaminhado ao Ministero degli Affari Esteri – MAE,do Governo Italiano, para obtenção de financiamento. Portanto, o projeto visavafortalecer a comunidade beneficiada pelo programa de reassentamento, garantindoa estabilidade do incremento feito em relação ao patrimônio habitat, e odesenvolvimento das demais componentes do patrimônio daquela população,utilizando uma metodologia de intervenção integrada contra a pobreza urbana.Tendo sido aprovado em setembro de 1999, o projeto teve sua implantaçãoneste mesmo ano.20A elaboração do documento “Retrato da <strong>Pobreza</strong> Urbana de Ipatinga/Diretrizes para Redução” contribuiu ainda com aPMI para inscrição no Programa Habitar BID – Programa Viver Melhor; onde os estudos iniciais e os dados foramaproveitados na elaboração do documento a ser apresentado para aprovação do financiamento. O fato de a PMI teriniciado tais estudos no momento da disponibilidade dos recursos pelo BID, fez com que a cidade tenha sido a primeirado Estado a conseguir o financiamento do Habitar Brasil/BID.


Percurso das Ações voltadas à Redução da <strong>Pobreza</strong> Urbana na Cidade de IpatingaCurso sobre Intervençõespara Redução da <strong>Pobreza</strong> Urbanana cidade de IpatingaEstudo da <strong>Pobreza</strong> na Cidade:Etapa de conhecimentoElaboração de diretrizes de planosmunicipais de redução da pobrezaHierarquização de áreas emfunção de critérios para oPrograma Habitar Brasil-BIDInício da Implementaçãodo Projeto¬ Capacitação de técnicos e administradorespara o estudo de formasde abordagens da pobreza urbana.Módulo I: abordou a problemática dapobreza urbana, métodos de intervençãoe as formas de participação dascomunidades. Foram apresentadosestudos de casos brasileiros e do PGU(Programa de Gestão Urbana) do BancoMundial; experiências de microcrédito(Banco do Povo); métodos einstrumentos usados no processo deintegração urbana; experiência daCDM/AVSI em urbanização de favelasem Belo Horizonte - MG e em Salvador -BA. Completando esse primeiro móduloforam apresentados os programas depromoção social, desenvolvidos pelaadministração municipal de Ipatinga,nas áreas de saúde, educação,habitação e meio ambiente.¬ Definição das 26 áreas queintegrariam o estudo sobre apobreza na cidade.¬ Definição de instrumentos adequadosà leitura da pobreza na cidadeconforme a abordagem da pobrezautilizada no estudo.¬ Montagem das equipes pararealizar a coleta de dados.¬ Contato com as comunidades emobilização para as pesquisas.¬ Realização das pesquisas nascomunidades.¬ Elaboração de um projeto piloto deações integradas contra a pobrezae encaminhamento do projeto paraobtenção de financiamento.¬ Tratamento dos dados levantados¬ Definição dos Indicadores a seremavaliados.¬ Geo-Processamento dos dados.¬ Elaboração dos diagnósticos dosdados.¬ Definição das diretrizes deintervenção contra a pobreza nacidade.¬ Assessoria à administraçãoMunicipal para elaboração deinstrumentos de suporte àelaboração de projetos paraintervenção nas áreas pobres daCidade. Tudo isso, a partir dasdiretrizes de intervenção contrapobreza na Cidade:¬ Documento de Hierarquizaçãoda pobreza na cidade.¬ Retomada do percurso de trabalhosobre a pobreza na cidade.¬ Reapresentação do projeto para aequipe da prefeitura.¬ Definição da equipe de gestão e dostécnicos e secretarias paratrabalhar no projeto.¬ Definição das diretrizes metodológicas¬ Assinatura de convênio/ cooperaçãoentre AVSI, CDM e PMI.¬ Contato inicial com a comunidade.¬ Apresentação do projeto à comunidadee atores sociais presentes.¬ Implementação das açõesMódulo II: foi dedicado aos técnicosque utilizariam os instrumentos informáticos.Foram ministradas aulas deBanco de Dados, de Semiologia gráficae de Software: Mapinfow e AUTOCAD.Além das aulas, os técnicos puderamfazer um estágio nas dependências daCDM, trabalhando com os própriosdados coletados em Ipatinga.¬ Estudo de instrumentos paraintervir contra a pobreza existentena cidade (a partir dos elementosdo patrimônio).


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 43A situação inicial dos elementos do patrimônio da comunidade doPlanalto IIDefinida a abordagem com a qual seria analisada a pobreza na cidade, foirealizado um conjunto de estudos sobre a situação de cada fator do patrimôniodas pessoas do bairro Planalto II. As informações que constituem esse retratoinicial da comunidade são relativas ao momento da elaboração do projeto em1997 e a algumas alterações identificadas em 1999, ano em que o mesmocomeçou a ser desenvolvido. Abaixo apresentamos os dados mais relevantespara nosso propósito de discutir o projeto realizado e as mudanças surgidas nacomunidade a partir de tais intervenções. Para uma melhor compreensão dasituação inicial da comunidade, conferir Anexo 1.Capital SocialExistia na comunidade, em 1997, uma capacidade organizativa muitafraca, centrada em uma liderança intitulada “o presidente do Bairro”. Apesar dotítulo, era uma liderança pouco representativa e não conseguia mobilizar eorganizar a comunidade para o enfrentamento dos principais problemas vividospelos moradores. Havia uma carência de serviços urbanos no bairro e uma difícilacessibilidade a alguns serviços públicos nos bairros vizinhos. A pesquisaapontou que em 79% dos domicílios não havia qualquer envolvimento com aAssociação de moradores; 74% declararam que não se envolviam em nenhumtipo de atividade de caráter comunitário. Apesar da pouca representatividade daassociação de moradores, 52% dos domicílios pesquisados, reconheciam que asreivindicações de melhorias para o bairro eram feitas através desta instituiçãocomunitária. Havia na comunidade um nível elevado de fragmentação, uma faltade confiança naquilo que o grupo poderia fazer e uma falta de direção quanto aoquê fazer. Era pequena a vivência de uma experiência de participação, nãoapenas enquanto voto, mas no sentido de ter parte em determinadas decisõesque afetariam suas vidas, seja assumindo responsabilidades e tendo parte nosbenefícios, seja assumindo os prejuízos decorrentes das decisões.Dos recursos físicos reconhecidos pelos moradores como espaço formal dereferência para as atividades comunitárias, apareceu a Casa Social 21 do Planaltocomo o mais representativo, sendo citado por 31% dos domicílios pesquisados.A creche, a casa do presidente do bairro ou de outros membros da associação eas escolas foram citados em conjunto por 34% dos domicílios entrevistados. Apesquisa qualitativa identificou a grande demanda por área de lazer, área de usocoletivo e áreas verdes na comunidade. Reclamavam, ainda, um trabalho de21Casa Social: casa construída na época do mutirão de construção das casas e destinada para atividades sociais (cursos,oficinas, reuniões, etc) junto à comunidade.


44 •POBREZA E PATRIMÔNIOeducação ambiental junto aos moradores, já que as áreas que poderiam ser destinadasa esse fim, ou estavam completamente poluídas e descuidadas, no casodas lagoas, ou com restrição de uso, no caso do campo de futebol do Veneza –que apesar de ter o nome do bairro vizinho, localizava-se dentro do Planalto II.A pesquisa refletiu a posição dos moradores quanto à segurança dentro daprópria comunidade e sobre a oferta de serviços de vigilância e policiamento. Amaioria dos domicílios pesquisados, 62%, afirmaram que a comunidade tinhaproblemas com segurança. Dentre os mais enumerados apareciam: roubos com42,8%; envolvimento com drogas com 16%; mesmo percentual para brigas derua e ainda 6% de violência, estupros e falta serviços de policiamento. Havia porparte de 49% dos domicílios a reclamação de que o bairro contava com este tipode serviço somente esporadicamente. A população da cidade de Ipatingaadotava, diante dos moradores do Planalto II, uma atitude de preconceito sócioeconômicoque, além de os excluir da possibilidade de se inserirem no mercadode trabalho, trazia conseqüências para o desenvolvimento da auto-estima daspessoas, que se percebiam como incapazes e marginalizadas pela sociedade,bem como prejudicava os relacionamentos entre os moradores. Essa desconfiançada população de Ipatinga em relação às pessoas que residiam no PlanaltoII acabou por se transformar em desconfiança entre os próprios membros dacomunidade, o que reforçava a sua fragmentação.A rede de apoio e de serviços à comunidade do Planalto II era poucoextensa nos primeiros anos do assentamento. Os serviços, bastante restritos,localizavam-se no entorno e não havia uma escola que atendesse diretamenteaos residentes do local, nem uma unidade de saúde nas imediações. A crecheconstruída durante o mutirão estava fechada e bastante danificada; a CasaSocial, erguida nesta mesma época, realizava ainda algumas atividades pontuaiscomo cursos, mas não mais com a mesma intensidade da época do mutirão; aAssociação de Moradores, que não tinha uma sede, não apresentava uma grandecapacidade organizativa e nem conseguia atrair outros atores para intervirem nacomunidade.A situação em 1999, ano de início da implementação do projeto, era umpouco diferente. A Casa Social havia sido fechada, e não mais desenvolvia atividadesjunto aos moradores. Por outro lado, a rede de serviços e de apoio à comunidadehavia se ampliado um pouco, embora seus integrantes trabalhassem demaneira isolada sem estabelecerem intercâmbios entre si, apesar de atenderemao mesmo público. Outra característica dessa rede é que muitos prestavam seusserviços sem envolver-se com o desenvolvimento mais global da comunidade. Aconstrução da Escola Municipal Paulo Freire e a reforma da creche, que agoraestava em funcionamento, constituíram os resultados do trabalho da rede. Naárea da saúde, foi construída uma unidade de saúde no bairro Veneza, vizinhoao Planalto II. Com relação aos atores comunitários, havia sido criada uma


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 45associação de moradores de adolescentes, um grupo de agentes de saúde mirim,um grupo de mães da creche e o Grupo de Mulheres Marginalizadas que surgiuna época do mutirão e também voltara a atuar em apoio às mulheres da comunidade.A administração pública fazia-se presente naquele momento com aSecretaria de Educação, de Saúde e da Habitação – esta última realizando omonitoramento da situação habitacional e de ocupação no bairro. Havia aindauma ONG local, a ARCA de Noé, que começava a desenvolver cursos dequalificação profissional para os moradores.Relações FamiliaresEntre os domicílios cujos chefes de família eram casados, prevaleceu em73% a chefia de homens; nos demais, as mulheres assumiam esse papel. O fatode os domicílios apresentarem uma estrutura instável e de muitos seremmantidos e dirigidos por mulheres, havia, especialmente no contexto destacomunidade, um peso ainda maior. Além do baixo nível de escolaridade, poucacapacitação, subempregos e baixos salários, aspectos comuns em áreas deconcentração de pobreza, havia um agravante em relação às mulheres doPlanalto II. Estas, sendo oriundas da zona boêmia e da prostituição da cidade deIpatinga, mesmo mudando para o Planalto II e procurando uma nova ocupação,pelo fato de não terem um marido, continuavam sendo recriminadas ou tinhamgrande dificuldade de conseguir qualquer trabalho. A condição sócio-econômicaera bastante instável: os baixos rendimentos aliados a um número elevado deintegrantes nos domicílios e, pelo contrário, um pequeno número de pessoas quetrabalham para manter o sustento da casa, fazia com que fosse alto o índice dedependência econômica domiciliar.EducaçãoO baixo nível educacional, confirmado pelas pesquisas realizadas juntoaos moradores do Planalto II, evidenciou que nenhuma pessoa da comunidadehavia conseguido chegar até a universidade. Ao segundo grau, somente 5,51%dos moradores tinham tido acesso. A grande maioria, correspondente a 63,98%das pessoas, não ultrapassava o primeiro grau. O índice de analfabetismo erabastante elevado, cerca de 10,5%, concentrados na população com idade acimade 25 anos. Era evidente que os moradores do Planalto II deixavam a escolamuito cedo sem, sequer, concluir o ensino básico. Este fato foi confirmado pelograu de escolaridade dos moradores. Levantamos o número de pessoas comidade entre 07 e 20 anos que já tinham abandonado a escola, na época dapesquisa. O Planalto II apresentava dentre as várias áreas pobres da cidade, umdos maiores índices, cerca de 22%, de pessoas nessa faixa etária. Outro sérioproblema era o atraso escolar, ou seja, o número de alunos que apresentavamdefasagem entre idade e série. O percentual de alunos que apresentava atrasoescolar atingia a casa dos 26%. Ouvindo alguns pais comentarem sobre esses


46 •POBREZA E PATRIMÔNIOindicadores, vários imputavam grande parte dos problemas aos próprios filhosque, segundo eles, seriam desinteressados ou com dificuldades de aprendizagem.Por sua vez, foi amplamente confirmada, por 80% das famílias, a falta departicipação das mesmas na vida escolar dos filhos. Sobre este fato houve umareclamação firme por parte dos educadores. Apenas 20% informaram que interagiamde forma ativa na vida escolar dos filhos, levando-os à escola, ajudandonas tarefas de casa ou participando das atividades pedagógicas. A aproximaçãofamíliaescola foi uma das linhas educativas adotadas ao longo do projeto.Os programas de recuperação de série e educação de jovens e adultos(DESAFIO e MOVA) da prefeitura não eram muito conhecidos pelos moradoresdo Planalto II. Em apenas 24% dos domicílios eles afirmaram conhecê-los,sendo que em apenas 16% houve pessoas que já haviam participado ou queestavam participando do MOVA. Este percentual é o mesmo que o dos alunosque freqüentavam o reforço escolar. O DESAFIO, sendo um programa vinculadoao ensino regular, garantia uma maior participação dos moradores nas escolasonde estudavam. Assim, em 50% dos domicílios havia alunos que participavamdesse programa. Em 1999, no cenário da educação ocorreram alterações. Houvea implantação da Escola Municipal Paulo Freire e dos programas educacionais,Desafio e Mova, que já existiam na cidade e foram estendidos ao bairro.TrabalhoA comunidade do Planalto II apresentava um índice de 32,6% de pessoasque trabalhavam e geravam renda, e 7,1% de pessoas desempregadas. Entreaqueles que se encontravam trabalhando, apenas 15,7% possuíam estabilidade,isto é, trabalhavam com carteira assinada; 32% tinham contrato de trabalhotemporário e 52% desenvolviam atividades esporádicas, sem vínculo formal,carteira ou contratos assinados e sem regularidade na atividade, fato que, alémde impor grande vulnerabilidade aos núcleos familiares destes trabalhadores,contribuía para ocultar as reais taxas de desemprego na comunidade.Além de questões conjunturais que dificultavam o acesso ao mercado detrabalho a qualquer trabalhador, a população em idade ativa do Planalto IIexpunha ainda dois sérios agravantes. O primeiro deles, diz respeito ao nível deescolaridade dos trabalhadores, que era muito baixo. Tomando por base osdesempregados, 72% não ultrapassavam o primeiro grau, sendo que 28% delespossuíam apenas o nível primário de escolarização, e apenas 11% conseguiamchegar até o segundo grau. O segundo aspecto dificultoso é que a força detrabalho do Planalto II era composta em sua maioria por pessoas com pouca ounenhuma qualificação profissional, exercendo, geralmente, ocupações como:faxineiros, zeladores, ajudantes de pedreiros, domésticas, vigias, etc.Foi evidenciada uma baixa pré-disponibilidade dos moradores para empreendimentospróprios. Em termos percentuais, existiam no Planalto II, em 1997,


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 479% de trabalhadores autônomos. Entre os que tinham algum tipo de empresa,observa-se que as condições eram, em sua maioria, muito débeis do ponto devista econômico, gerencial e da estrutura física.SaúdeUma questão relevante em relação a este tema e diretamente ligada aoscuidados com ele, diz respeito à concepção que se tem da saúde e das posturastomadas para garantir sua manutenção. Os dados apresentados mostram quepara a comunidade do Planalto II a saúde era pensada sob o prisma da doença,logo, os cuidados com ela eram relativos à cura de algum incômodo. Para ilustrartal afirmativa, foi constatado na época que a procura pelo sistema de saúdeacontecia, em 81% dos casos, nas situações de emergência. Apenas 17% dosentrevistados afirmaram a procura dos serviços públicos de saúde para prevenção.Outras posturas identificadas pelos moradores foram a automedicação ea medicina alternativa.Quanto ao quadro epidemiológico, as doenças mais freqüentes nosdomicílios, entre os adultos, foram: as doenças respiratórias com 17,5%,seguidas pela hipertensão com 12,5% e depressão com 10%. Entre a populaçãoinfantil, em 32% dos domicílios houve casos de doenças respiratórias (gripes,laringites e faringites), seguidas das parasitoses citadas em 25% e bronquite em21%. Outras doenças como diarréias (em crianças), diabetes, alcoolismo,pneumonia (em adultos) também foram citadas, mas com menores índices deocorrência. Essa discussão sobre as principais incidências de doenças nacomunidade, suas causas e formas para controlar e/ou eliminar o problema,passaram a integrar, quando da implantação do projeto, o trabalho com o grupode moradores e agentes espontâneos de saúde.O acesso aos serviços de saúde era dificultado pela ausência de umaunidade de atendimento na comunidade ou próxima dela. Com isso, a maioriados moradores, 72%, precisava deslocar-se até a Unidade de Saúde do Centro.Os demais, 11% da população, para o tratamento destas doenças, procuravamo Pronto Socorro Municipal; 8%, destinavam-se à Unidade de Saúde Canaã.No cenário da saúde, em 1999, verificou-se que o acesso aos serviços desaúde foi facilitado pela construção da unidade de saúde no bairro Veneza,vizinho ao Planalto II. Apesar de haver agentes espontâneos de saúde no bairro,estes não contavam com uma formação, orientação e instrumentos adequadosque os ajudassem a enfrentar este problema, embora tivessem um grandeinteresse e disponibilidade. Outro recurso identificado no ano da implantação doprojeto foi o grupo de Agentes de Saúde Mirim, criado com o propósito de ajudara comunidade a refletir sobre questões relativas a sua saúde e sobre comoprevenir as doenças.


48 •POBREZA E PATRIMÔNIOHabitat e Meio AmbienteAs casas que foram construídas no bairro Planalto II possuíam infraestruturabásica completa (água, luz e esgoto), e as moradias constituíam opatrimônio mais fortalecido da comunidade naquele momento. Apesar de estarlocalizado em uma bela área, o bairro apresentava, do ponto de vista físicoambiental,alguns pequenos problemas. Localizado como que dentro de umaconcha, fazia-se necessário uma intervenção urbanística para impedir que aságuas das chuvas, que desciam das encostas, chegassem até as casas localizadasmais próximas a elas, oferecendo risco aos moradores e danos às moradias.Esse problema exigiu a construção de canaletas para conduzir a água dasencostas até a parte baixa, desaguando em uma das lagoas existentes no bairro.Esta obra viria a ser o ponto de partida para discussão com os moradores sobreintervenções na comunidade e sua importância, e para verificação de formas deenvolvimento e de preservação da mesma. Esta discussão abriu a portas paraum permanente diálogo ao longo de todo projeto. O segundo aspecto ambientalque merecia atenção era justamente as lagoas. Existiam no bairro três pequenaslagoas muito degradadas e que demandavam um modo de atuar que as requalificassepara que viessem a constituírem-se de fato em um recurso e não em umafonte de problemas, como o surgimento de doenças transmissíveis por viashídricas. Apesar do nível da urbanização, havia em certas partes do bairro algunsfocos de lixo que também exigiam uma ação direta. Por fim, as encostas ao redorde todo bairro necessitavam, em quase toda sua extensão, de intervenções derevegetação para evitar a erosão do solo ou a ocupação irregular destas áreas.Objetivos e ResultadosVisando, como primeiro objetivo, contribuir para a melhoria das condiçõesde vida da comunidade, o projeto não pretendia resolver os problemas apontadosna descrição inicial, uma vez que, além do tempo previsto para a intervenção serinsuficiente, dependia também de todo um contexto ligado ao cenário sóciopolítico-econômiconacional. Contudo, buscávamos favorecer processos quepermitissem à comunidade constituir uma identidade própria, que a ajudasse aassumir uma forma de responsabilidade diante das situações a serem resolvidasgradativamente, através de uma construção empenhada dos seus membros.Também buscávamos facilitar o acesso do bairro aos serviços da cidade (educação,saúde, trabalho, etc), integrando aquela comunidade recém-formada, sobretudoos grupos vulneráveis, ao restante do cenário urbano.Para alcançar este primeiro objetivo, foram definidos os quatro primeirosresultados do projeto: fortalecimento da comunidade; recuperação escolar dosadolescentes e alfabetização de adultos; geração de emprego e renda e integraçãoao mercado de trabalho e, por fim, aumento do acesso aos serviços de saúdebásica e educação ambiental. A definição dos quatro primeiros resultados do


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 49projeto pode ser entendida de forma conjunta, pois se refere aos problemas maisevidentes vivenciados pelos moradores do Planalto II.O segundo objetivo diz respeito à capacitação de pessoal administrativo daprefeitura local e à definição de metodologias e instrumentos adequados paraenfrentar a pobreza com todos os seus determinantes em cada realidade específica.Isto permitiria a continuidade da capacitação realizada no convênio anterior.Neste segundo objetivo, devem ser agregados os resultados já alcançados atravésdo percurso voltado à compreensão do tema pobreza e da intervenção contra oproblema na cidade de Ipatinga ao longo dos trabalhos já realizados. 22 Emboratenha havido intervalos entre a etapa de conhecimento e planejamento de açõescontra a pobreza na cidade e esta fase de intervenção de um projeto piloto integradoa favor do fortalecimento da comunidade, o projeto do Planalto II representaesta seqüência de práticas voltadas à finalidade a que foram propostas.Portanto, o projeto foi estruturado através de seus objetivos, resultados eatividades para alcançar metas em três níveis:1. fortalecer a comunidade como um todo;2. potencializar pessoas que pudessem continuar ajudando a comunidade adesenvolver-se;3. fortalecer grupos específicos que se encontravam em situação de maiorvulnerabilidade.Resultado A: Fortalecimento da identidade da comunidadeA ausência de identidade com o novo espaço e entorno; laços sociaisfrágeis e/ou fragmentados entre moradores; lideranças pouco representativas ecom uma baixa organização comunitária; conflitos sociais; alcoolismo e drogasconstituíram, como já vimos, os principais problemas. Entretanto, contávamoscom recursos presentes na própria comunidade: as pessoas respondiam positivamenteaos chamados à participação e apresentavam um desejo de mudançaexpresso através de pedidos de ajuda à organização da comunidade; já existiauma criatividade e talentos, mesmo que escondidos e isolados em cada moradia.A existência de um conjunto de atores intermediários, já atuando na área, facilitavaa proposta de um trabalho integrado.Desenvolver este resultado implicava em enfrentar com moradores doPlanalto II o tema da identidade em relação ao espaço, ao grupo e a si mesmos(ou a uma identidade pessoal). A identidade em relação ao espaço consistia emtrabalharmos um processo de identificação com o espaço físico, com as casas,22Veja Ponto 2: “Ações Anteriores ao Projeto” deste mesmo capítulo.


50 •POBREZA E PATRIMÔNIOcom os equipamentos e espaços públicos, buscando favorecer um processo deapropriação do bairro. Sentindo o espaço como algo próprio, as atitudes decuidado, preservação e manutenção do bairro estariam contribuindo não apenascom o lugar como habitação deles, mas com o processo de identificação dacomunidade. A identidade em relação ao grupo referese à necessidade de sefortalecerem os laços de solidariedade e está ligada também à capacidade de sereconhecerem como uma comunidade mesmo. Por fim, intervir junto à identidadepessoal significava contribuir com processos que superassem o estigma queos moradores carregavam diante do restante da cidade e que trazia conseqüênciasdiretas tanto para o processo de integração social, quanto para a autoimageme autoconfiança deles mesmos. Este se constituiu em um grande desafio,e orientou metodologicamente o desenvolvimento do percurso de trabalho,apresentando-se em duas frentes, que, na prática, cruzavam-se: uma delas contavacom as pessoas da comunidade e grupos organizados, e a outra, com osatores sociais que atuavam na área.As ações mais concretas como a construção das obras do parque, da praçae do salão comunitário tinham como motivação o aspecto mais fundamental aser trabalhado inicialmente: a redescoberta das capacidades e talentos daspessoas, resgatando a identidade delas e procurando fortalecer a idéia decomunidade. Buscou-se trabalhar para que os laços se mantivessem firmes e onovo espaço de moradia valorizado, tornando fortes a solidariedade e aresponsabilidade pessoal e coletiva.A operacionalização do primeiro resultado pode ser dividida em quatrograndes blocos:a. o encontro com a comunidade;b. a construção de equipamentos de uso coletivo;c. a criação de instâncias de participação e trabalhos conjuntos e do processoformativo dos atores sociais envolvidos;d. as ações integradas aos outros resultados do projeto.Resultado B: Recuperação escolar de adolescentes e alfabetização deadultosDurante o intervalo entre a apresentação do projeto ao financiador e a suaaprovação, muitas demandas educacionais da comunidade foram atendidas,como já estava previsto. Foram implantadas a Escola Municipal Paulo Freire eprogramas educacionais, tais como DESAFIO e MOVA.Com base no cenário da educação no momento da implementação doProjeto, percebeu-se que a situação exigia ainda investimentos mais qualitativos,no sentido de potencializar o processo de ensino/aprendizagem dos alunos doPlanalto II. Segundo professores e diretores das escolas, os alunos continuavam


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 51apresentando problemas psicológicos, de aprendizagem e de comportamento.Definiu-se por uma metodologia de trabalho que mantinha a lógica das intervençõessobre os demais fatores do patrimônio: a intervenção sobre a educaçãoformal deveria atuar no sentido de estimular os alunos, a partir de atividades quepermitissem aos mesmos mostrarem suas capacidades, para, então, influir sobreos demais aspectos.As hipóteses sobre as linhas de intervenção foram as seguintes:¬ em relação aos alunos, acreditamos que a sensibilidade artística, a habilidadeesportiva e a facilidade para o aprendizado prático, aspectos que caracterizavamos alunos do Planalto II, indicavam a possibilidade de desenvolvimentode ações de suporte. Assim, atividades de caráter esportivo, artístico, profissionalizantee outras vinculadas ao projeto poderiam trazer à tona a capacidadede enfrentar os problemas de aprendizado;¬ em relação aos familiares, a hipótese era que a realização de atividades desuporte social às famílias contribuiria para melhorar o processo educacionaldos alunos do Planalto II, visto que seus problemas de aprendizado eramdecorrentes, em sua maioria, das dificuldades sócio-econômicas que enfrentavamem suas famílias. Visávamos oferecer uma atenção aos responsáveispela vida escolar da criança, ajudando-os a identificar aquelas atitudes e cuidadosque eles poderiam dispensar aos filhos, o que favoreceria o compromissoe sucesso escolar destes;¬ em relação aos profissionais das instituições educativas, pretendíamos ajudara olhar e enfrentar as dificuldades comuns que vivenciavam, identificandotanto o problema e suas possíveis causas, quanto as propostas para superá-lo.Além disso, buscávamos-se responder a algumas necessidades da crechesituada no bairro: a ampliação da estrutura física, que possibilitaria um aumentono número de vagas para as crianças e melhores condições de desenvolvimentode atividades pedagógicas, e o treinamento das educadoras através de oficinasde formação que desenvolvessem temas específicos de seu trabalho cotidiano,os quais não eram abordados pelos programas de formação disponíveis pelaprefeitura.Resultado C: Geração de emprego e rendaA filosofia do projeto, que coloca como premissa a recuperação da dignidadee dos valores humanos, neste resultado parecia ainda mais vital, pois aquise tratava de fazer com que as pessoas em idade ativa reencontrassem sua autoconfiançae pudessem acreditar em suas habilidades e capacidades, especialmentepor tratar-se de uma população com baixa escolarização, sem qualificaçãoprofissional, vivendo às margens das indústrias e sem acesso às oportunidadesde emprego. Neste sentido, foi importante o envolvimento de muitos trabalhado-


52 •POBREZA E PATRIMÔNIOres com as demais ações desenvolvidas no projeto, porque descobriram o talentopara cuidar do parque e dos equipamentos coletivos, e serviu, ainda, como motivaçãopara iniciar um percurso ainda mais complexo no qual tornava-se necessárioidentificar habilidades, melhorá-las através de capacitação e colocá-las nomercado através de força de trabalho ou através de produtos e serviços, no casodos empreendedores autônomos.A primeira fase da operacionalização deste resultado do projeto foi dedicadaao conhecimento e ao levantamento de informações para definição dasdiretrizes de geração de renda a serem implementadas. Assim sendo, antes deplanejar as ações procurou-se conhecer e identificar:¬ recursos dos moradores; suas condições de conseguir emprego;¬ instrumentos e programas disponíveis no mercado;¬ oportunidades econômicas do mercado local;¬ pessoas atuantes com as quais pudéssemos estabelecer parcerias.Visando a realização deste resultado do projeto, foram fundamentais paraa melhoria das condições de inserção no mercado de trabalho e da geração derenda, o seguinte tripé de ações:¬ Formação Humana que valorizava e potencializava o saber e a capacidadecriativa de cada pessoa;¬ Capacitação Técnica para dotar os trabalhadores e empreendedores dasmínimas condições exigidas pelo mercado;¬ Articulação de Parcerias para inserir trabalhadores, produtos e serviços nomercado, quebrando assim, as barreiras impostas pelo estigma carregado porserem moradores do Planalto II.Resultado D: Aumento do acesso aos serviços de saúde básica eeducação ambientalDa mesma forma, na área da saúde, o cenário havia se alterado. Umaunidade de saúde havia sido construída, como planejado. Também neste caso,partimos do princípio que a oferta do serviço não se converte automaticamenteno acesso ao mesmo, mas este tem a ver sobretudo com a educação da populaçãopara os cuidados com a saúde. 23 Definimos, então, por uma metodologiacoerente com a lógica que vinha pautando todas as demais linhas de ação do23Em visitas às escolas da localidade, houveram depoimentos de profissionais referindo-se à falta de educação para oscuidados com a saúde verificada em parte da população do Planalto II, utilizando como fator explicativo o não-acessoaos serviços ainda que ofertados com boa qualidade e grande disponibilidade.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 53projeto: conhecer e identificar as demandas, os problemas de saúde enfrentadospela população e os meios disponíveis para enfrentá-los, entendendo se, de fato,o recurso disponibilizado estava sendo acessado por todas as famílias dacomunidade.Considerando a pouca preocupação das pessoas com atividades cotidianasde prevenção e a existência de iniciativas dos atores locais voltadas a ajudaros moradores a pensarem sua própria saúde, foram determinadas três diretrizesde trabalho:¬ a primeira, seria desenvolver com os moradores um percurso educativo quepassasse pela discussão dos problemas de saúde e pela identificação dascausas, propondo-se medidas preventivas quando se tratasse de causas controláveise ajudando na compreensão da rede de serviços de apoio existentee identificando a melhor forma para acessá-la;¬ a segunda diretriz dizia respeito à potencialização do trabalho dos atores quejá vinham realizando atividades na área da saúde na comunidade, como oCentro de Saúde e o Grupo de Agentes de Saúde Mirins;¬ a terceira, seria realizar ações de saúde, também como parte do processo formativo,que permitissem enfrentar alguns problemas vividos pelos moradoresdo bairro.Assim, para se alcançar um “Aumento do Acesso ao Serviço de SaúdeBásica e Educação Ambiental” definiu-se por realizar percursos formativos juntoà comunidade e aos atores sociais que trabalhavam com saúde, com o intuito deque este problema pudesse ser enfrentado por todos. Entendendo que as questõesda saúde tinham que ser pensadas em relação conjunta com vários outrosaspectos como habitação meio ambiente, educação, foram estabelecidas váriasações integradas que tinham ligação direta com estas questões.A outra vertente das ações relativas a este resultado do projeto erareferente à questão ambiental. Levando-se em conta, por um lado os problemasambientais do bairro, mas também a riqueza de recursos existentes, considerandoa necessária e efetiva integração das atividades de educação ambientalàs demais em desenvolvimento no projeto, sobretudo com aquelas ligadas àsaúde e à organização comunitária, decidiu-se que as ações deveriam ajudar naidentificação dos aspectos da configuração ambiental que afetavam a saúdepara, juntamente com os outros atores da comunidade e moradores, buscarsoluções.Portanto, prevaleceu, na definição do percurso para desenvolvimento desteresultado, a seguinte lógica: a identificação de causas dos problemas de saúde;a identificação de respostas da própria comunidade e da rede de apoio; o iníciodo trabalho de fortalecimento das ações dos atores e do intercâmbio entre eles;


54 •POBREZA E PATRIMÔNIOa aproximação entre os serviços de saúde e a população e a realização de atividadespara enfrentar alguns problemas indicados. Na seqüência do projeto,procurou-se aprofundar a capacitação técnica de um grupo de pessoas atuantespara melhorar a forma de atender as necessidades da população. Por sua vez,quanto à questão ambiental, optou-se pela integração transversal das atividadesde educação ambiental às demais em desenvolvimento no projeto, por acreditarseque dessa forma seria possível alcançar resultados mais duradouros no quese refere ao tema.Quadro LógicoO Quadro Lógico “é um instrumento de gestão de cada fase do ciclo doprojeto. Ele é um ‘instrumento mestre’ a partir do qual se elaboram outros comoo calendário de execução e o plano de monitoramento, por exemplo”. 24 Atravésdele apresentamos de forma sintética e lógica os objetivos do projeto, os resultadosque permitiram o cumprimento dos objetivos e as atividades executadascom o fim de atingir cada resultado. Através do Quadro Lógico são visualizadastodas as práticas desenvolvidas, respeitando a cronologia de cada fase.As atividades listadas no Quadro Lógico apresentado seguem uma lógicatemporal. Assim, o projeto foi dividido em três fases: Fase Inicial, Fase de Implementação(subdividida em três momentos: Construção das Obras, Planejamento,Execução) e Fase Final. A Fase Inicial foi caracterizada pela apresentação doprojeto junto aos beneficiários das ações, a comunidade do Planalto II e a PrefeituraMunicipal de Ipatinga (PMI), e pela definição das primeiras ações envolvendotais beneficiários. A Fase de Implementação foi caracterizada pelo iníciodas atividades que já buscam responder aos objetivos e resultados propostos. Emnosso projeto, a “Construção das Obras” configurou-se como um momento significativode inserção na comunidade. Através da edificação de um complexocomunitário, os moradores do bairro foram envolvidos em várias ações deresponsabilização e preservação das obras, permitindo uma participação ativa noato de estruturar os objetivos a serem alcançados. Uma vez envolvida, a comunidade,juntamente com técnicos da PMI e da AVSI/CDM, iniciou o “Planejamento”das atividades que, embora já delineado por um projeto inicial aprovadopor financiadores, necessitava adequar-se aos aspectos mais atuais da realidade,abarcando todos em uma formação-ação, ou melhor, em um planejamento quejá se tornava uma intervenção educativa. Organizadas as ações, o momento da“Execução” foi marcado pela realização das atividades direcionadas a cada setor(ou resultado) do projeto, acontecendo muitas delas simultaneamente. A FaseFinal consistiu na realização de atividades que ajudassem aos moradores a24Manual Gestión Del Ciclo de Proyecto. Comision Europea. Marzo de 2001.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 55apropriarem-se das conseqüências das ações desenvolvidas durante todo oprojeto, fortalecendo junto às lideranças, uma atitude de responsabilidade dianteda comunidade e ajudando-os a se darem conta de que continuar aquelas açõesera apenas uma questão de reconhecer e manter um caminho que estava sendotrilhado há mais de três anos.


ObjetivosObjetivo 1: Melhoria dascondições de vida da populaçãodo Planalto II,reduzindo o grau de pobrezae vulnerabilidadeObjetivo 2: Fortalecimentoda capacidade institucionaldo MunicípioResultadosa. Fortalecimentoda Comunidadeb. Educação:trabalho com osadolescentespara recuperaçãoescolar;alfabetização deadultosc. Geração de Empregoe Renda:integração nomercado detrabalhod. Saúde e EducaçãoAmbiental:aumento doacesso aos serviçosde saúdebásica e educaçãoambientale. Sistematização etransmissão daexperiênciaFase Inicial¬ Entrada na comunidade¬ Preparação do Fórum Comunitário¬ Lançamento das obras¬ Formação de líderes e gestores comunitários¬ Apresentação e definição do projetojunto à Prefeitura Municipal de Ipatinga¬ Planejamento/Monitoramento/Avaliação* Ações integradas de Educação, Saúde e Geração de Emprego e Renda** Ações integradas de Educação e Educação AmbientalQuadro Lógico do ProjetoAtividadesFase de ImplementaçãoConstrução das obras Planejamento Execução¬ Construção do complexocomunitário¬ Discussão da fase deimplantação junto à PMI¬ Constituição de EquipesTemáticas¬ Elaboração do fluxograma deações para o Planalto II¬ Intercâmbio dos principais atores e reflexão sobre a experiência acumuladaOBS.: O desenvolvimento das atividades setoriais relacionadas aos demais resultadosatendem a este resultado específico.¬ Contatos com escolas¬ Identificação de grupos vulneráveis¬ Oficinas sócio-educativas*¬ Realização de cursos de recuperação escolar: supletivo – DESAFIO¬ Realização de cursos de alfabetização de adultos e jovens – MOVA¬ Avaliação da freqüência dos alunos da escola Paulo Freire¬ Reforço da Ação Educativa da Escola de Pais¬ Elaboração de diagnóstico da representação social da escola, segundo os alunos¬ Realização de Concurso de Redação com as Escolas¬ Oficinas de formação das educadoras da Creche Novo Lar¬ Pesquisa de aptidão e mercado¬ Elaboração de diagnóstico e diretrizes de ações de GER¬ Mobilização de empreendedores e candidatos a emprego¬ Assessoria administrativa e sócio-relacional a empreendedores e grupos produtivos¬ Acesso ao crédito¬ Qualificação Profissional¬ Contato com Empresas e encaminhamento para o mercado de trabalho¬ Desenvolvimento das capacidades para enfrentar os problemas de saúde do bairroe implementação de propostas¬ Formação do grupo de Agentes Comunitários de Saúde¬ Campanhas de saúde¬ Formação do Grupo da Terceira Idade¬ Formação para o Grupo de Agentes de Saúde Mirins¬ Caminhada ambiental¬ Trabalho pedagógico com professores e coordenadores das escolas locais**¬ Oficinas de educação ambiental dirigidas aos alunos nas escolas locais**¬ Oficinas de educação ambiental dirigidas a segmentos da comunidade**¬ Realização da Mostra de Educação Ambiental¬ Gincana de educação ambiental e sanitária¬ Difusão da Experiência (Seminário PUC e Curso de Gestão Urbana na Fundação JoãoPinheiro e Banco Mundial)Fase Final¬ Reuniões internas da AVSI/CDMpara sistematização das atividadesrealizadas no Projeto


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 55Fluxograma de AtividadesO Fluxograma de Atividades é um instrumento que tem como objetivoapresentar sistematicamente todas as atividades realizadas pelo projeto, permitindo,sinteticamente, compreender cada uma delas e identificar os produtoscorrespondentes. Pelo Fluxograma de Atividades identifica-se também a quaisresultados e objetivos as atividades respondiam. Abaixo segue um esquema queajuda a entender o Fluxograma que será apresentado posteriormente:


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O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 69Situação da comunidade do Planalto II após a realização do projetoA realidade percebida após as intervenções nos chama a atenção parauma série de mudanças na comunidade que não acabam com o final do projeto,mas permanecem justamente como um sinal de que toda ela foi fortalecida.Descreveremos agora as principais mudanças ocorridas no bairro Planalto II emfunção dos Objetivos e Resultados visados por este trabalho. Apresentaremostambém dados objetivos que ilustram tal mudança, agrupados segundo a lógicado próprio projeto. Estes dados apresentamse na forma de Indicadores deObjetivos (IO), Indicadores de Resultado (IR) e Indicadores de Atividade (IA) queforam construídos durante o projeto para serem avaliados e monitorados. Estesestão apresentados, em forma analítica, no Anexo 3.Objetivo específico 1Melhoria das condições de vida da população do Planalto IIIdentidade ComunitáriaAmpliações e reformas no bairroUm dado que revela o grau de satisfação das pessoas em uma comunidaderefere-se ao número de ampliações e reformas realizadas nas moradias.Este tipo de obra realizada na estrutura das casas mostra que existe um grau desatisfação concreto e razoável com o bairro. Foram investidos recursos financeirosdos próprios moradores, embora se trate de um bairro de pessoas de baixarenda familiar. Isto tornou o investimento significativo, pois falar de uma reformaou ampliação era falar de pessoas que adotaram o bairro como um lugar seu.Significava identificar-se com o espaço na qual moravam e começar a investirnele. Os dados apontam que, ao final de 2002, 45% das casas do bairro foramampliadas e/ou reformadas.Obs.:* consideram-se “Ampliações” o aumento de área construída da edificação, ouseja, cômodos novos: salas, quartos, puxadas, etc.** consideram-se “Reformas” as melhorias das condições e estrutura da edificação:divisão de cômodos, reboco de alvenarias, troca de telhados, etc.*** do total das casas que sofreram modificações nas suas estruturas, 26,5%foram apenas ampliadas, 45,6%, apenas reformadas e 27,9% foramampliadas e reformadas.


70 •POBREZA E PATRIMÔNIOAMPLIAÇÕES E REFORMAS – AMOSTRAL 2002Categorias Freqüência PorcentagemAmpliação 18 11,9%Reforma 31 20,5%Ampliação e Reforma 19 12,6%Nada 81 53,6%NS/NR 2 1,3%Total 151 100,0%Fonte: pesquisa amostral realizada em Janeiro de 2003 – AVSI/CDMO uso do espaço comumAs obras do complexo comunitário (recuperação das lagoas, construção dapraça, do centro comunitário e ampliação da creche) repercutiram positivamentenos moradores do Planalto II e dos bairros vizinhos que passaram a usufruirmelhor dos espaços. Verifica-se um cuidado com o bem comum através demutirões espontâneos de limpeza e preservação deste equipamento social. Istoreflete uma apropriação das obras por parte da comunidade e o fortalecimentoda identidade em relação ao espaço 25 .O quadro abaixo relaciona os grupos formais e informais e os grupos dapopulação que estão desfrutando sistematicamente dos espaços comuns. Nafaixa mais escura, são representados os espaços públicos que foram construídosou reativados pelas atividades do projeto.25Sobre as Áreas Destinadas a Atividades Comunitárias e aos Espaços Co-Geridos Pelos Grupos, conferir o quadro no Anexo 3.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 71Violência no bairroOs índices de violência do bairro tiveram uma mudança significativa durantea atuação do projeto. Os números cedidos pelo 14º Batalhão da PolíciaMilitar de Ipatinga revelam que houve uma diminuição de 24,82% da criminalidadeno bairro entre os anos de 2001 e 2002. Estes dados confirmam comoas pessoas passaram a se posicionar diante da vida de uma forma diferente e aassumir o bairro e as pessoas como um bem a ser preservado. A diminuição daagressão e da violência é um fator que revela uma dinâmica de integração, depertença, não apenas ao local, mas à comunidade de pessoas.O bairro Planalto não possui mais o estigma de bairro violento e marginalizado.A forma como as pessoas da cidade vêem o bairro estámudando, e as intervenções da polícia militar diminuíram, principalmenteentre os adolescentes (Tenente Coronel Sandro Afonso TeatineSelim de Sales, do 14º Batalhão da polícia militar de Ipatinga).GRUPO 2001 2002 VAR%Crimes contra a Adm. Pública 2 1 -50,00Crimes contra a Incol. Pública 0 1 -Crimes contra a Pessoa 57 49 -14,04Crimes contra o Patrimônio 54 32 -40,74Crimes contra os Costumes 15 12 -20,00Referente a Drogas 9 8 -11,11Total 137 103 -24,82Aumento dos serviços de utilidade públicaUma mudança significativa, que mostra a evolução do processo de integraçãoentre a comunidade e os serviços existentes na cidade, ocorreu na formaçãoda Rede Social de atores que estavam presentes no bairro. A Rede Social deuma comunidade indica o número de atores sociais existentes e envolvidos naconstrução e desenvolvimento desta, a partir de diferentes tipos de vínculosestabelecidos entre si.O mapa da rede social permite visualizar quais relações se estabelecementre rede primária e secundária. Possibilita o reconhecimento dadimensão do contexto relacional para a intervenção social. Permite


72 •POBREZA E PATRIMÔNIOreconhecer a realidade mais ampla em que a pessoa está inserida, semse restringir ao problema apresentado, mostrando uma ou maispessoas em relação recíproca. Facilita o trabalho de abordagem e intervenção,além de permitir à pessoa envolvida perceber suas habilidadese sua capacidade de fazer alianças. O mapa é a representação de ummomento determinado. Diante das modificações da realidade, énecessário datar todos os desenhos e refazê-los no andamento daintervenção. Além disso, é útil levar em conta as distintas maneiras queas pessoas apresentam o que entendem de uma situação. 26No mês de Dezembro de 1999, início do projeto, a Rede Social contavaapenas com 19 atores sociais que estabeleciam entre si um número reduzido derelacionamentos, apenas 30. Na análise realizada no final do projeto, em Dezembrode 2002, verificou-se um crescimento total do número de atores de163,2 % em relação à situação inicial. Tanto o número de atores aumentou (para50), quanto o número de relacionamentos entre eles (identificados em 127). Istosignifica um aumento na quantidade e na intensidade da rede, mostrando,assim, que estas pessoas passaram a realizar mais trocas, o que fortaleceu seuslaços. Foram avaliadas as tipologias de vínculos dos vários relacionamentos entreos grupos e instituições conforme o quadro descrito abaixo:VÍNCULOFazer JuntosEconômicoObrigaçãoAliançaApoio SocialPrestação de ServiçosInformaçãoDESCRIÇÃORelação que se estabelece para desenvolver alguma atividade juntos,seja no planejamento, seja na execução.Relação que se estabelece através da transferência de recursos de umator para outro que desenvolva uma ação.Relação marcada por uma obrigação hierárquica que compromete atrabalhar segundo normas pré-definidas.Relação estabelecida entre atores que desenvolvem a mesma ação, porémexiste uma formalização e normatização quanto às atribuições de cada um.Relação configurada a partir de ajudas pontuais e esporádicas, dentro daqual um ator cede recursos, podendo ser de diferentes tipos, a outro ator.Relação constituída entre pessoas que prestam algum tipo de serviço emtroca de remuneração.Relação constituída entre atores, em que pelo menos um deles oferece informaçõesrelevantes ao outro, fundamentando algum tipo de trabalho.26SOARES, Maria Luiza P. V. Vencendo a desnutrição: abordagem social. São Paulo: Ed. Salus Paulista, 2002 (p. 41).


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 73A partir desta análise, verificamos também que houve um aumento significativonos tipos de vínculo Fazer Juntos e Informação, devido às ações realizadascom a metodologia do projeto e ao crescimento considerável dos gruposligados à Rede Secundária Informal. Estes dados também mostram a melhoriada qualidade dos relacionamentos entre os atores sociais. O fortalecimento daRede Social local assinala a existência de uma relação entre a ação dos atoressociais presentes no Planalto II e a integração do bairro a muitos serviços dacidade dos quais eram excluídos. A presença e o envolvimento de atores (públicose privados) com a comunidade sugere uma identidade que, após formada,passa a ser reconhecida não só pelos seus moradores, mas por pessoas externas.No Anexo 4 encontra-se uma representação das Redes Sociais.IO1.1 – nº de atores sociais e serviços comunitários presentesNº DE ATORES SOCIAIS % VARIAÇÃOREDES Dezembro Dezembro Dezembro 1999/ 1999/1999 2000 2002 2000 2002Rede Secundária de Mercado - - 3 x xRede Secundária do Terceiro Setor 6 7 10 16,7% 66,7%Rede Secundária Formal 10 13 25 30,0% 150,0%Rede Secundária Informal 3 8 12 166,7% 300,0%Total 19 28 50 47,4% 163,2%IO1.2 – Incremento da rede de relacionamentos da comunidadeQuanto ao número de relacionamentos identificados entre instituições egrupos da rede, nos três anos, foram lidos:Nº TOTAL DE RELAÇÕES POR REDE EM CADA ANODez. 1999 Dez. 2000 Dez. 2002Rede Secundária de Mercado - - 8Rede Secundária do Terceiro Setor 6 10 24Rede Secundária Formal 21 54 54Rede Secundária Informal 3 16 41Total 30 80 127


74 •POBREZA E PATRIMÔNIOAinda com relação ao Mapa de Rede no ano de 2002, foi feita uma leituradistinguindo-se os atores sociais que entraram na rede por força de articulações dopróprio projeto – através da AVSI – e daqueles que pertenciam à rede local. Percebemosque os atores anteriores ao projeto permaneceram e mantiveram relacionamentos.Nas tabelas ao lado estão apresentados os comparativos e análises.DISCRIMINAÇÃO DOS ATORES DA REDE EM 2002Redes x Atores Através de Atores da Atoresarticulações rede local TotalRede Secundária de Mercado 2 1 3Rede Secundária do Terceiro Setor 2 8 10Rede Secundária Formal 18 7 25Rede Secundária Informal 0 12 12Totais 22 28 50DISCRIMINAÇÃO DO Nº DE RELACIONAMENTOS DA REDE EM 2002Redes x Relações Dos atores Dos atores Relaçõesarticulados da rede local TotalRede Secundária de Mercado 5 3 8Rede Secundária do Terceiro Setor 6 18 24Rede Secundária Formal 0 41 41Rede Secundária Informal 37 17 54Totais 48 79 127Concluímos, a partir das tabelas acima, que 44% dos atores presentes em2002 entraram na rede através de articulações do projeto, enquanto que 56%eram atores que já existiam na rede local do Bairro Planalto. Quanto aos relacionamentosda rede, 37,8% representava o grupo de atores que entraram na redepor força de articulações, e os outros 62,2% compunha o grupo das relações dosatores da rede local, ou seja, de instituições e grupos que estavam no Planaltoindependente de articulação do projeto. O crescimento tanto do número de atores,quanto do número de relacionamentos daqueles que se integraram pela articulaçãodo projeto, revela a abertura da comunidade a grupos e instituições externas,possibilitando o aumento de serviços urbanos no bairro. Observa-se, assim, quea rede local cresceu, devido aos novos integrantes, e permanece, apesar da finalizaçãodo projeto, o que mostra a capacidade sustentável da rede atual.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 75Dos totais de relações existentes por atores presentes em cada ano verificou-seque:ATORES RELACIONAMENTOS RELAÇÃO/ATOREm 1999 19 30 1,6Em 2000 28 80 2,9Em 2002 50 127 2,5Verificamos no ano de 2000 um aumento significativo do número de relaçõesestabelecidas por cada ator, em média 2,9. Este aumento aconteceu apartir de ações específicas do projeto, que visaram a uma articulação entre osatores e a uma maior comunicação, entre eles, em relação aos serviços prestados.No ano de 2002, verificou-se uma diminuição para 2,5 relacionamentos/ator devido à redução da intervenção direta entre os atores. Percebe-se, portanto,que o índice apresentado em 2002 mostra o índice de estabilidade e sustentabilidadeentre os relacionamentos firmados, que independem das ações do projeto.Os resultados descritos referem-se às ações articuladas pelo projeto, quecontribuíram diretamente na construção destas mudanças. A comunidade desenvolveu,no decorrer dos últimos três anos, uma identidade comum que tornou osmoradores orgulhosos por residirem no bairro Planalto II. As pessoas começarama se envolver com a realidade da comunidade, adotando atitudes construtivas eparticipativas diante dos problemas semelhantes a serem enfrentados. Líderes egestores comunitários foram identificados e formados, passando a organizar e aparticipar de ações do projeto e de outras de iniciativas próprias, construindo soluçõesa partir de recursos presentes no próprio bairro. O número de lideranças dacomunidade aumentou em 52,12% em relação àquelas presentes inicialmente.IR.a1 – nº de lideranças da comunidade* dados coletados em 13/07/2000** dados coletados em 19/12/2002


76 •POBREZA E PATRIMÔNIONo Anexo 3 encontra-se uma descrição dos grupos formados na comunidadee suas tipologias.EscolaridadeNo patrimônio da educação também foi notada uma melhoria significativa.A taxa de analfabetismo caiu para 6,3%, em comparação com os índiceslevantados na situação inicial da comunidade, e está abaixo dos índices deanalfabetismo do Brasil que atingem a marca de 14,7%; o índice do Estado é de13,4%; e da cidade como um todo, 7,51%. Ao final do projeto, 40% dosanalfabetos de 1999 migraram para o grupo de alfabetizados. Em 2002 houveum aumento desse número, em relação ao ano de 1999, que foi de 22,4%.Mesmo considerando que o grupo de analfabetos mais o grupo de alfabetizadosestão dentro da faixa de vulnerabilidade, observa-se uma diminuição desta faixaem 15,7%, devido ao ingresso em um nível de escolaridade de 1º grau. Vale apena destacar que, levando-se em conta o percentual de pessoas que sealfabetizaram e o número de vagas oferecidas pelo MOVA (programa dealfabetização municipal), dentro do bairro, identificamos que muitos alunosalfabetizaram-se através de outros cursos presentes na cidade. Então,concluímos que melhorou o acesso a serviços de educação da cidade pelosmoradores do bairro.Observamos uma alteração em relação ao 1º grau. A porcentagem daspessoas que possuíam apenas este nível de escolaridade incompleto era de 64%,em 1999, e passou para 46,1%, em 2002. Isto significa que 28% dos alunosconcluíram o 1º grau. Em 2002 houve um aumento de 29,1% dos alunos queconseguiram completar o 1º grau. A respeito dos alunos do 2º grau, houve umcrescimento interno de 208% deste grupo. Houve também em 2002, umaelevação de 9,8% no número de pessoas que passaram a estudar, em relação aoano de 1999. O índice de infreqüência escolar, um problema identificado nocontexto educativo do bairro, também caiu. Da amostra de 25 alunos consideradosinfreqüentes que foram acompanhados através de visitas e ações doprojeto, 48% tornaram-se freqüentes.NÃO ESTUDA ESTUDA TOTAL1999 68,6% 31,4% 100,0%2002 65,5% 34,5% 100,0%


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 77GRAU DE ESCOLARIDADECategorias 1999 2002 Fator de MobilidadeInterna %Analfabeto 10,5% 6,3%Alfabetizado 6,7% 8,2% -15,7%Subtotal 17,2% 14,5%1º Grau Completo 5,51% 7,1%1º Grau Incompleto 63,98% 46,1% -23,45%Subtotal 69,49% 53,2%2º Grau Completo 2,54% 8,8%2º Grau Incompleto 2,97% 8,2% +208%Subtotal 5,51% 17%Fonte: pesquisa amostral realizada em Dezembro de 2002 – AVSI/ CDMAinda neste setor, constatamos que atividades de recuperação escolar esupletivo contribuíram com os alunos na superação do atraso escolar, o quemelhorou o índice de freqüência às aulas, diminuiu o número de abandonoescolar e melhorou o desempenho, segundo depoimento das professoras. Foirealizado, com 446 alunos, um diagnóstico que revelou o nível da representaçãosocial da escola, segundo esses alunos, visando conhecer suas principais dificuldadese recursos no que se refere à vida escolar. Este diagnóstico possibilitou oconhecimento da realidade educativa, a partir dos próprios alunos, o que permitiua prática de atividades, como o concurso de redação, que ajudaram a enfrentarmelhor aquelas necessidades identificadas. O concurso de redação “Meubairro cada dia melhor” mobilizou 561 alunos e contribuiu para que estes resgatassemo valor do bairro e se empenhassem na construção das redações. Istomotivou a melhoria no aprendizado da escrita e de outros conteúdos pedagógicosrelevantes.Aos adultos foi oferecido o curso de alfabetização, através do qual 71%dos alunos inscritos concluíram esta etapa escolar. Foram realizadas visitas,orientações e oficinas a 82 famílias de alunos e foi reforçada também a importânciana participação na Escola de Pais.


78 •POBREZA E PATRIMÔNIOA Escola de Pais ofereceu orientações e acompanhamento a 119 pais dealunos, ajudando-os a adotarem atitudes perante seus filhos, que fortalecessemo significado e a importância do estudo para o desenvolvimento.SaúdeEste ano teve um bom acompanhamento da AVSI na escola. Algunsresultados positivos foram: o envolvimento dos pais que antes nãoparticipavam das escolas de pais e a freqüência dos alunos melhoroubastante. Os pais agora confiam mais na escola e têm mais consciênciado que ela representa. Outro aspecto interessante é que os alunos têmvindo para a escola mais arrumados e mais limpos. Também o concursode redação deu um bom incentivo aos alunos para valorizar o bairro,para conscientizá-los e fazê-los perceber as mudanças após a intervençãoda AVSI. A mudança é lenta, mas a união entre Escola, AVSI eoutras ações, ajudou como conjunto. Houve um crescimento cognoscitivoe afetivo dos alunos. Também uma melhoria da escrita e da leitura(Girley. Diretora de Escola).Depois que eu comecei a freqüentar o projeto, aprendi muito e melhoreio relacionamento com o meu filho (Antônia de Fátima Silva. Participanteda Escola de Pais e Integrante do Grupo de Mulheres do Planalto).A partir das orientações da agente comunitária nas visitas e no diálogo,passei a participar mais do trabalho na escola. Aprendi que tenho quepassar um tempo maior com meus filhos, brincar, conversar com eles. Nãofalar dos defeitos e sim elogiá-los. Percebi que meu filho se sentiu maisvalorizado com a minha participação na escola (Eva de Fátima Soares).Quanto ao resultado ligado à saúde e educação ambiental, foram formados14 Agentes Comunitários de Saúde e 25 Agentes de Saúde Mirim, junto à Uni-


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 79dade de Saúde do Veneza, que trabalharam em várias ações de prevenção dedoenças e cuidados com a saúde.Em relação à saúde da criança, houve orientação aos pais sobre a importânciada vacinação, sobre o controle de doenças respiratórias e atitudes decombate à desnutrição. Trabalhou-se a promoção e proteção da saúde da mulhere prevenção ao câncer de colo de útero e de mama e, a respeito da saúde doadulto, houve o desenvolvimento de outras campanhas de saúde visando aoshipertensos e diabéticos. Foram realizadas 4700 visitas domiciliares pelos agentesde saúde, devido às campanhas.VISITASTOTAL DE VISITASCampanha da Gripe – Idosos 600Campanha de Prevenção ao Câncer – Mulheres 600Campanha de Combate à Dengue 600Hipertensos e Diabéticos 300Crianças com doenças respiratórias 400Acompanhamento de idosos 200Gincana de Educação Ambiental 2000Total de visitas de saúde 4700CAMPANHACampanha de Combate à AIDSCampanha Contra a DENGUECampanha da GRIPECampanha de Prevençãoao Câncer – MulheresDESCRIÇÃOCampanha realizada com o GASP para a populaçãoPrevenção e combate à Dengue: todas as casas visitadasCampanha de combate à Gripe para Idosos acima dos 60 anosCampanha para mulheres entre 35 e 49 anosEm relação à saúde e educação ambiental, foram realizadas campanhasde prevenção à dengue e informações foram dadas sobre o cuidado com o lixo,que pode transmitir várias doenças. No início do projeto, houve uma caminhadacom o objetivo de observar pontos do bairro a serem atingidos pelas ações desaúde ambiental. Participaram 44 pessoas de diversos grupos e instituições e,nesta ocasião, foi produzido um mapa falado. A gincana de educação ambientaltrabalhou com os moradores vários temas e ações ligadas aos cuidados com o


80 •POBREZA E PATRIMÔNIOmeio ambiente. Durante a realização de oficinas temáticas, 180 pessoas participaramde pelo menos uma delas. Na gincana, também foram orientadas e acompanhadas424 famílias na lavagem da caixa d’água e de filtros domiciliares, nalimpeza de quintais, nos cuidados com caixa de gordura e esgoto; trabalhou-setambém a conservação da área verde e o uso de plantas medicinais. Tudo isso,pretendendo despertar atitudes preventivas às doenças mais comuns.Antes da capacitação, realizávamos o trabalho na comunidade sem opreparo teórico-prático, sem um planejamento e articulação entre aspolíticas. Hoje é possível passar mais informações, de diversas formas,com o teatro, com o diálogo. Vemos a pessoa não somente enquantoum doente, mas conseguimos ver a relação desta com o ambiente emque vive, sua relação familiar e comunitária, tudo isto influencia emsua saúde (Renildes Maria da Silva. Agente Comunitária de Saúde).O Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto vem contribuircom o trabalho da Unidade de Saúde. Ele se tornou um elo entre a Unidadee a comunidade. Foi possível através dele estabelecer uma relaçãocom o bairro e conhecer a sua história. Construiu-se uma relaçãode amizade e diálogo, garantindo a organização da comunidade parauma melhor qualidade de vida (Norma Suely S. Rodríguez. Gerente daUnidade de Saúde do Veneza).Vale a pena destacar o impacto que teve o grupo da terceira idade, o GrupoUnião, na vida dos seus integrantes. Muitos idosos não saíam de casa e ficavamacamados, apresentando uma atitude depressiva que contribuía para o surgimentode várias doenças. Um total de 69 idosos participou dos encontros dogrupo, desenvolvendo várias atividades como: palestras, exercícios físicos, brincadeiras,oficinas, aulas de dança sênior, caminhadas no Parque Ipanema. Com o


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 81final do projeto, o grupo decidiu continuar a se reunir e se organizar formalmente,definindo um estatuto e comissões internas para organização do grupo.Esse negócio desse projeto está sendo muito bom! O trabalho é bomporque dá saúde, da força pra nós. Nessa reunião está todo mundocom a cara bonita, nessa reunião não dá pra deixar a peteca cair! Minhaidade está vencida não era nem para eu estar aqui nessa reunião,eu tenho 92 anos! (Dona Ana. 92 anos. Integrante do Grupo da União– grupo da terceira idade).Situação ocupacionalA situação ocupacional das pessoas do Planalto II não sofreu mudançassignificativas, no que se refere ao índice de empregados e desempregados.Contudo, verificamos uma mobilidade interna no quadro comparativo da situaçãoocupacional. Um dado que nos chama atenção diz respeito à percentagem de autônomosna situação inicial, em 1999, e no final do projeto: houve um aumentosignificativo de 255% em 2002. A taxa de desemprego está relacionada diretamenteao contexto econômico da cidade e do país, entretanto, surgiu, a partir doprojeto, uma nova possibilidade de trabalho e geração de renda através dos cursosde empreendedores. Aqui temos novamente o exemplo daquilo que dizíamosanteriormente: mesmo impotentes para mudar dados que são conseqüências deum cenário político e econômico nacional, intervimos naquela faixa vulnerável dapopulação que buscava alternativas de geração de renda, mas para as quais faltavao acesso a recursos técnicos e financeiros para tal.COMPARAÇÃO SITUAÇÃO OCUPACIONAL – PESQUISA AMOSTRAL 98/2002Categorias Inicial Final Fator de Mobilidade Interna %Empregado Registrado 15,7% 14,5% -290,0%Empregado sem Carteira 9,8% 3,6%Autônomo 2,0% 7,1% +255,0%Aposentado 5,1% 4,7% -7,8%Total que Gera Renda 32,6% 30,0% -8,0%Afazeres Domésticos 14,1% 7,1% +180,0%Dempregado 7,1% 18,0%Não Trabalha 43,5% 25,2%Outro 2,7% 1,1% -2,8%Não se Aplica 0,0% 18,6%Total que não Gera Renda 67,4% 70,0% +4,0%Total 100,0% 100,0%


82 •POBREZA E PATRIMÔNIOA baixa renda familiar e o desemprego foram enfrentados através decursos de qualificação profissional em várias áreas. Um total de 126 pessoasconcluiu os cursos de qualificação e 77% foram cadastradas em agências deemprego. Este dado é significativo porque muitas delas encontravam-se desempregadase incapacitadas até mesmo de disputar uma vaga de trabalho por nãocontar com uma formação que atendesse às reais necessidades do mercado,além da impossibilidade de se capacitarem através de outros meios. Do total decadastrados, 41,2% foram entrevistados e encaminhados para o mercado detrabalho, e um total de 10% dos encaminhados conseguiu colocação no mercadoformal, dentro dos três primeiros meses após o término do curso. Das pessoasque fizeram os cursos de qualificação profissional e/ou empreendedorismo,45,8% estão trabalhando, e destes, 67,3% estão atuando na área em que sequalificaram.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 83Dentre os cursos e oficinas oferecidas, verificou-se que 87 mulheres dobairro participaram de pelo menos uma delas. Quanto à distribuição das participaçõesem oficinas, observou-se que mais da metade das mulheres, 61%, participaramde mais de uma. Como dissemos, na situação inicial do bairro, muitasmulheres constituíam um grupo vulnerável, devido aos vários motivos já citados,e pelo menos 27% das casas do bairro era chefiada e mantida financeiramentepor elas. O gráfico abaixo demonstra os totais de participação das mulheres portipo de oficina.Nos cursos aprendemos que somos importantes e capazes de chegaraonde queremos. Estou mais confiante (Sidney Rosa Albino. Aluno doCurso de Frentista).Percebemos, no trabalho, que somos capazes; e é buscando estudar,aprender ainda mais e trabalhar com qualidade, que vamos conseguiralcançar o que queremos. Sentimos mais preparados para o mercadode trabalho e com disposição para o trabalho em grupo (Ideir da Conceição.Integrante da Associação de Prestação de Serviços Gerais).Meu problema de antes é que eu queria aprender alguma coisa que eupudesse dizer: essa pode ser a minha profissão, vir a ser a minha profissão.Antes eu era doméstica pura e simples, sem qualificação nenhuma.Com os cursos – eu fiz o curso de costura industrial, inclusive fizo teste e passei para trabalhar em uma fábrica de costura, porém nãoconsegui ficar no emprego pelo fato de estar com um neném. Mas emjaneiro os donos da fábrica disse que eu posso voltar! – É uma portaque tenho aberta, uma chance, uma possibilidade. No tear chileno –eu com as outras mulheres – resolvemos formar um grupo para poderfabricar as peças e buscar formas de vender, de mostrar através de


84 •POBREZA E PATRIMÔNIOfeiras que vamos participar da prefeitura. Estamos por dentro dasreuniões da prefeitura, porque de outra forma agente não teria comosaber das exposições e apresentar os nossos trabalhos. Eu gostei detecer e além de gostar eu preciso. Eu estou nisso com muita vontadeque dê certo. Eu tenho cinco filhos e tudo de bom que eu fizer vairefletir não só em mim, mas neles. Eu quero ter para mim nem que sejauma máquina usada, que possa fabricar para vender e fazer para osmeus filhos. Participar destes cursos significou pra mim mudar a minhavida. Coisas novas, pensar coisas novas: eu nem conhecia o tear chileno!(Elizabete Moreira de Oliveira. Integrante do Grupo de Mulheresdo Planalto).Os cursos de qualificação profissional também possibilitaram a 28% dosformados tornarem-se empreendedores, gerando sua renda, mesmo não conseguindouma vaga no mercado formal de trabalho. As assessorias administrativas,juntamente com o acompanhamento sócio-relacional e cursos voltados diretamenteaos empreendedores, acompanharam várias pessoas, auxiliando na expansãode seus negócios e melhorando a qualidade da produção e da gestão deseus serviços. Alguns empreendedores se organizaram em grupos produtivoscomo o Grupo Tríade, de costura; Grupo de Mulheres do Planalto, com tear chileno;e a Associação de Prestação de Serviços Gerais.Para aqueles empreendedores que buscavam iniciar ou expandir seu negócioe não se enquadravam nas linhas de crédito adotadas pelos bancos (portanto,sem acesso a este serviço) foi firmado um convênio junto ao Banco Popular quepossibilitou a viabilização de créditos em condições especiais. Um total de 94%de pedidos de crédito foi atendido e não foi registrado nenhum caso de inadimplênciaaté o final do projeto.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 85Objetivo específico 2Fortalecimento da capacidade institucional do municípioO segundo objetivo específico consistia em fortalecer a capacidade institucionaldo município na construção de políticas adequadas para enfrentar a situaçãode pobreza da população. No percurso histórico do projeto, a PMI esteve presenteatravés do convênio firmado junto a AVSI/CDM, disponibilizando técnicosde diversas secretarias e envolvendo-os em ações dos diferentes setores. Com oconvênio firmado, abriu-se um espaço de relacionamento direto com técnicos daárea de saúde, educação e outros, que apoiaram as ações do projeto, reaplicandoa experiência e a metodologia adquiridas em outros projetos e contextos.Iniciativas, projetos e programas realizados a partir dametodologia do projeto1. Projeto Mudas BrasilO Projeto Mudas Brasil apresentou como objetivo a implantação de bosquesde espécies nativas em todo o Estado de Minas Gerais, visando o desenvolvimentosustentável e a recuperação do meio ambiente, e a articulação de açõesconjuntas com prefeitos, vereadores, empresários e produtores rurais. O projetofoi realizado pela Prefeitura Municipal de Ipatinga em parceria com o IEF – InstitutoEstadual de Florestas.2. Campanha de Combate à Dengue: “Por uma nova pedagogia decombate à dengue”Realizou-se uma campanha de combate à dengue no Município de Ipatingae foi constituído um Fórum Comunitário na Regional 4 – onde situa-se o


86 •POBREZA E PATRIMÔNIOBairro Planalto – para discutir junto à Escola Municipal Presidente Vargas asformas de combate à dengue. O trabalho foi realizado de forma integrada e coma participação das comissões de saúde e meio ambiente.3. Projeto Prefeito Amigo da CriançaPara que o município pudesse integrar-se na Rede Abrinqu, foi necessárioelaborar dois produtos: um Mapa da Criança e do Adolescente 27 , com alguns indicadores,e um Plano de Ação Estratégica. A opção para desenvolver tanto omapa quanto o plano de ação, foi o resultado estabelecido por um fórum do qualparticiparam setores da administração pública diretamente envolvidos com atendimentoà população infanto-juvenil (saúde, educação, assistência social e afazenda), o Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente, ConselhoTutelar e as entidades de atendimento 28 .4. 1º Congresso Municipal da Juventude – IpatingaCongresso realizado pelo DEAC – Departamento de Atenção à Criança eProgramas Especiais. Toda a preparação do evento baseou-se na metodologia deabordagem do projeto Planalto II.A metodologia foi tão interessante, animadora e estimulante para osadolescentes, que nós pretendemos repetir o congresso no próximo anoe vamos repetir a metodologia, dando uma condição de organizaçãomelhor na aplicação desta – porque foi a primeira vez que a utilizamos-Temos, hoje, uma condição melhor e vamos aplicá-la também no primeirofórum de crianças. (...) Nós percebemos durante este ano umaparticipação da comunidade, principalmente no que diz respeito a umacontinuação no desenvolvimento de atividades recreativas, esportivas eartístico-culturais com a população infanto-juvenil. Isso ficou muito claropara nós no decorrer não somente deste ano, mas também ao longodo ano passado. Outro aspecto bastante relevante foi a preocupação dacomunidade, juntamente com a unidade de saúde, em buscar discutiralguns temas que antes nós não tínhamos solicitação da parte deles.27O Mapa da Criança e do Adolescente 2001 apresenta o Sistema de Acompanhamento e Avaliação do compromissoem dar prioridade às crianças e aos adolescentes. Este sistema vem sendo assumido, junto ao Programa, por prefeiturasde todo o país. Ele fornece, também, instrumentos para que as gestões municipais possam se inserir na Rede PrefeitoAmigo da Criança.Para participar da Rede, os prefeitos e as prefeitas cadastrados deverão preencher o Mapa da Criança e do Adolescente,em conjunto com os diferentes setores da administração pública, a sociedade civil e o Conselho Municipal dos Direitosda Criança e do Adolescente, e encaminhá-lo para que possa ser analisado e aprovado pela Fundação Abrinq, efetivando,assim, o compromisso de realizar o planejamento voltado a esse segmento, em sua gestão. Fonte: Mapa da Criança e doAdolescente 2001, Caderno 1 – Fundação Abrinq.28Fonte: entrevista com Maura Gerbi do DEAC.


O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 87Exemplo: Pediram para conversar sobre políticas públicas e fazer umaexposição sobre o assunto. O que são políticas públicas? Quem realizaas políticas públicas? Em um dado momento – não tenho a história doporquê exatamente eles pediram essa discussão – pareceu-me queesses membros da comunidade, que são mais atuantes, deram-seconta de que a política pública não é simplesmente aquela que édesenvolvida pela prefeitura, pelo poder público, mas que ela pode sertambém a política desenvolvida pelas entidades não governamentais epelas organizações comunitárias de uma maneira geral. Então, nessemomento eles sentiram a necessidade dessa discussão – que foi muitointeressante – a qual envolveu um grupo majoritariamente femininoque estava inserido também dentro do projeto da AVSI (Maura Gerbi.DEAC-PMI).5. Programa Habitar Brasil/BID – Programa Viver MelhorQuase paralelamente ao início do projeto, o Banco Interamericano deDesenvolvimento financiou ao Governo Federal um programa de alcance nacionalchamado “Viver Melhor”. O município de Ipatinga participou apresentando umprograma para outras áreas de risco da cidade. Na fase de elaboração do projetoa ser apresentado para o BID, a PMI contou com os estudos realizados a partirda parceria inicial com a AVSI, quando realizaram a elaboração do documento“Retrato da <strong>Pobreza</strong> Urbana de Ipatinga/ Diretrizes para Redução”. A AVSIcontribuiu com assessorias que permitiram a definição da área a ser beneficiadaa partir dos critérios utilizados pelo BID.O Projeto Integrado do Aglomerado Bethânia, do Programa “ViverMelhor – Habitar Brasil/BID” prevê intervenções físicas, sociais, ambientaise de Regularização Fundiária, e encontra-se em ritmo deexecução. É um projeto de intervenções integradas que está mudandoprincipalmente as áreas de encosta do bairro Bethânia. O trabalho temum peso muito grande no aspecto ambiental e no envolvimento docidadão. Ipatinga foi uma das oito cidades escolhidas no Brasil peloBanco Interamericano de Desenvolvimento, BID, para executar o programa“Habitar Brasil/BID” que vai gerar recursos para urbanização efavelas, que são tecnicamente chamadas de assentamentos subnormais.Dos 128 projetos “Habitar Brasil” em andamento no GovernoFederal, o da cidade de Ipatinga será o primeiro a ser concluído. Serãobeneficiadas cerca de 50 mil pessoas distribuídas em domicílioslocalizados no Aglomerado Bethânia. A região concentra 6 dos 23assentamentos subnormais do município. O programa visa melhorar aqualidade de vida e de moradia da população de cinco assentamentossubnormais desse bairro, um dos mais populosos da cidade, localizadona região das ruas Bonn, Boston, Pusco, Guimarães e Turim. Além de


88 •POBREZA E PATRIMÔNIOações nas áreas social, urbanística, jurídica e econômica, tambémestão previstos a recuperação e o desenvolvimento ambiental do local(Portal do Cidadão Ipatinga. http://www.ipatinga.mg.gov.br).A comunidade recebeu um trabalho social e a forma de identificaçãodas atividades foi muito produtiva, pelo fato de ter uma equipe todosos dias na comunidade acompanhando, participando, envolvendo econscientizando. Nos três anos de presença da AVSI na comunidade,deu para perceber que se atingiu os objetivos. O fato de a comunidadever o que foi prometido sendo concretizado, traz uma credibilidade aotrabalho e isso estimula a comunidade a participar de novas atividades.Isso desenvolve e desencadeia o processo de participação. A partir domomento em que a comunidade é despertada no seu interesse, elapassa a ser um parceiro e multiplicador no processo que é lento, masintenso, como foi no dia-a-dia, estando lá uma equipe direta, tendovárias propostas Tudo isso fez com que nesses três anos realmente seobtivessem grandes resultados. Foi visível. O fato de os moradores saberemque existem pessoas preocupadas com eles, com o desenvolvimentode suas capacidades, além de desejarem transformá-los emcidadãos conscientes é muito bom.” (Núbia – Secretaria Municipal daHabitação).


• 89CAPÍTULO 3Considerações finaisEnrico Novara, em colaboração com Giorgio CapitanioElementos que favoreceram o desenvolvimentodo potencial da comunidadeVimos, ao longo do trabalho, como o Programa “Novo Centro” representauma significativa intervenção de reorganização do espaço urbano. Neste processo,constata-se que muitas cidades brasileiras enfrentam problemas distintos,mas característicos da recuperação das áreas centrais das cidades. Dois dessesproblemas são: restituir à população um espaço de uso coletivo através do qualas pessoas pudessem fortalecer sua identidade e, ao mesmo tempo, garantir melhorescondições de vida para a população que convive em situação de degradaçãofísico-ambiental e social, favorecendo-lhe uma real inclusão na dinâmica dodesenvolvimento urbano e social.O primeiro objetivo geralmente é atingido com um bom desenho urbano euma boa capacidade de gestão pública (pontos, certamente, não tão simplesassim) 29 ; já o segundo, necessita de um elemento a mais: a leitura realística dasdimensões da pobreza e a definição de um método claro de intervenção.Ao atuar na principal área de risco da cidade, pensou-se que o problemateria uma dimensão maior: em um rápido levantamento foram identificadas 20áreas informais que necessitavam de uma intervenção que ultrapassasse a simplesdimensão física.29Uma descrição dos aspectos de gestão urbana do projeto encontra-se in Programa Somma “Relatório de Atividades1993 – 1998”, Belo Horizonte 1998, p. 47-50


90 •POBREZA E PATRIMÔNIOComo conclusão, é interessante anotar aqueles que, segundo o nossoparecer, foram os fatores que permitiram, além do reconhecido mérito por partedos gestores urbanos do município, garantir uma real integração da populaçãoao restante da cidade; estes fatores podem ser considerados indicações paraprojetos similares.Vejamos:Associar a formação à açãoO primeiro fator que vale a pena sublinhar é o fato de ter sido proposto,logo depois do término da intervenção física, um momento de formação sobre otema específico da pobreza urbana. Isso garantiu:¬ a formação de técnicos de diversas “secretarias municipais” para enfrentaremo problema de maneira multidisciplinar;¬ a identificação do problema específico em toda a cidade através da análiseda situação e da definição de tipologias de intervenção e das prioridade;¬ a conscientização de que a pobreza não é um problema para ser relegadoapenas ao âmbito emergencial e assistencial, mas deve ser enfrentado demodo contextual, dentro das políticas de desenvolvimento da cidade;¬ a definição de instrumentos e métodos que responderam não somente àcomunidade do Planalto, mas também aos outros assentamentos informais.Assim, a partir de um problema específico foi possível definir recursosmais gerais. Os técnicos da prefeitura tiveram, assim, a possibilidade de testaraquele aparato funcional no âmbito de um programa de cooperação em umaprimeira área do município.Em 1999, quando o Governo Federal definiu as regras do ProgramaHabitar – BID para recuperar os assentamentos informais, a Prefeitura deIpatinga já se encontrava em condições para enfrentar o desafio. O programa, defato, previa que os municípios interessados tivessem condições técnicassuficientes para colocá-lo em prática e que a administração identificasse as áreasprioritárias para aplicar as medidas. Além da prefeitura já ter tido a possibilidadede acumular experiências nos processos de auto-construção e de mutirão, aformação que lhe foi oferecida e a realização de um plano geral de redução dapobreza deram condições para que ela participasse do programa. O projetointegrado do “Aglomerado do Betânia”, que interessa a cinco áreas informais dacidade, não só foi um dos primeiros a serem aprovados pela comissão deavaliação do Programa Habitar-BID, como também foi um dos primeiros a seremconcluídos. Acabou, portanto, sendo muito útil associar a intervenção a umpercurso específico de formação de técnicos e de monitoramento do projeto.Deste modo, a experiência tornou-se um patrimônio comum da administraçãomunicipal, tanto dos técnicos quanto dos administradores.


CONSIDERAÇÕES FINAIS • 91Favorecer as condições de estabilidade dos assentamentosProgramas de intervenção em áreas informais representam, no contextonacional, verdadeiras possibilidades de iniciar um percurso de redução da pobrezadas comunidades envolvidas. Se a perspectiva da ação não se reduz somenteàs obras de infra-estrutura, é possível identificar os elementos sobre os quaisintervir para incrementar um processo de desenvolvimento humano.No caso do Planalto II, a primeira evidência era a fragilidade dos nexos deconvivência entre as famílias e as pessoas da comunidade. Sabemos que intervirsobre os fatores que possam reforçar o patrimônio quer dizer, antes de tudo, favoreceras condições de estabilidade das famílias, possibilitando a criação e o usodos lugares de encontro e de convivência: praças, parques, igrejas, salas de encontrose reuniões, espaços para a formação profissional. Assim, a construção foi pensadae feita juntamente com as famílias interessadas, com as paróquias e com asassociações presentes. Os resultados, como a redução quase para a metade doíndice de violência contra o patrimônio e o investimento dos próprios moradorespara o aumento e a melhoria das habitações de quase 50% das famílias, comprovamque a população considera o bairro como um lugar onde é possível viver.Reforçar a rede de serviços de utilidade públicaO acesso aos serviços relacionados com a educação para a saúde e parao trabalho, indica a real integração do bairro à cidade como um todo. O significativoaumento de pessoas que entraram para o ensino superior, a redução doanalfabetismo a um percentual abaixo da média da cidade, a ampliação do númerode pessoas que recebe atenção de saúde (grupos de hipertensos, grupos deterceira idade,...) indicam um passo decisivo da comunidade em direção a umasaída da informalidade. Isso aconteceu graças ao efetivo reforço das redes deserviços ofertados pelas comunidades intermediárias, pelas associações de basee pelas entidades públicas.Dirigir a atenção para os grupos mais vulneráveisPara garantir um real acesso aos serviços oferecidos, uma vez melhoradasas condições de identidade do bairro e de integração com o restante da cidade,o projeto ateve-se a dar particular atenção aos grupos mais vulneráveis: crianças,adolescentes com baixa frequência escolar, trabalhadores autônomos e jovensdesempregados.A partilha das necessidades como forma de conhecimento torna possívelcriar soluções adequadas para aqueles grupos que o processo de homologaçãodeixa mais vulneráveis. Também neste caso os resultados são evidentes e verificamosque:


92 •POBREZA E PATRIMÔNIO¬ é possível oferecer aos jovens uma formação profissional específica paragarantir-lhes possibilidades para concorrer no mercado de trabalho, de modoque possam ser inseridos na lista das agências privadas de emprego;¬ é possível fornecer créditos através de agências especializadas, mesmo paraaqueles trabalhadores que não têm como apresentar garantias formais;¬ é possível recuperar a escolaridade e aumentar a frequência escolar retomandoo significado e o valor educativo da família.Partilhando a situação, enfim, é possível criar instrumentos e métodos deação capazes de incidirem sobre a responsabilidade da pessoa diante da própriavida. É este o primeiro passo para ajudar as pessoas a melhorarem a sua condiçãode vida, e isso é válido até para as famílias mais vulneráveis.


POVERTÀ E PATRIMONIO:LA COMUNITÀ DEL PLANALTO IIEnrico NovaraÉrlia EstevesBenevidesAchilles Gonçalves Coelho JúniorPaulo Frederico Bulos


SOMMARIOPREFAZIONE Vincenzo Petrone .............................................................. 11PRESENTAZIONE.................................................................................. 97CAPITOLO 1Persona e Talenti: il punto di partenza nei programmiper la riduzione della povertàEnrico Novara, in collaborazione con Giorgio CapitanioL’impatto con la povertà urbana ...................................... 99Percorso di conoscenza: l’incontro tra un’energia umanae una presenza .................................................... 102Punti metodologici: persona, condivisione delle necessitàe incontri umani operativi ...................................... 107Percorso operativo: rafforzare il patrimonio ...................... 110Riferimenti Bibliografici ................................................ 114CAPITOLO 2Il Planalto II e il Progetto Rafforzamento della ComunitàAchilles G.Coelho Jr.Érlia EstevesPaulo F. BulosLa Comunità del Planalto II: Aspetti Storici .................... 117Azioni anteriori al progetto ............................................ 119La situazione iniziale degli elementi del patrimonio dellaComunità del Planalto II ........................................ 123Obiettivi e Risultati ...................................................... 128Quadro Logico .............................................................. 134Flussogramma delle Attività .......................................... 135Situazione della Comunità del Planalto II dopola realizzazione del Progetto .................................. 149


Obiettivo Specifico 1Miglioramento delle condizioni di vita del Planalto II ........ 149Risultato A : Rafforzamento dell’Identità della ComunitàRisultato B: Recupero Scolastico di Adolescenti eAlfabetizzazione di AdultiRisultato C: Incremento del Lavoro e del RedditoRisultato D: Aumento dell’Accesso ai Servizi Sanitari diBase ed Educazione AmbientaleObiettivo Specifico 2Rafforzamento della capacità istituzionale del Municipio .. 165Risultato E: Sistematizzazione e Trasmissione dell’EsperienzaCAPITOLO 3Considerazioni finaliEnrico Novara, in collaborazione con Giorgio CapitanioElementi che hanno favorito il potenziamento dellacomunità .............................................................. 169ALLEGATI (CD-ROM)ALLEGATO 1 Situazione Iniziale della Comunità del Planalto IIÉrlia EstevesALLEGATO 2 Descrizione delle attività del ProgettoAchilles G.Coelho Jr.Paulo F. BulosALLEGATO 3 Situazione Postprogetto della Comunità del Planalto II –Indicatori di RisultatoAchilles G.Coelho JrPaulo F. BulosALLEGATO 4 Mappe di rete


• 97PRESENTAZIONEIl Progetto di Rafforzamento della Comunità del Planalto II – Ipatinga/MGnacque da una collaborazione tra l’AVSI (Associazione Volontari per il ServizioInternazionale), CDM (Cooperação para o Desenvolvimento da Morada Humana)e PMI (Prefeitura Municipal de Ipatinga) con l’intenzione di diventare un progettopilota, replicando la metodologia utilizzata in altre aree a basso reddito delmunicipio. Il progetto si poneva l’obiettivo di contribuire al miglioramento dellacondizione di vita della popolazione dell’area a basso reddito della comunità delPlanalto II in Ipatinga/MG, mettendo in atto interventi di sviluppo socioeconomicoper ridurre il grado di povertà e vulnerabilità della comunità, rafforzandola capacità istituzionale del municipio e sostenendo lo sviluppo di politiche emetodologie integrate per affrontare la povertà urbana. L’AVSI e PMI si sonoavvalse del contributo del Ministero degli Affari Esteri del Governo Italiano e dellaProvincia Autonoma di Trento, per le risorse finanziarie che hanno reso possibilelo sviluppo del progetto, previsto inizialmente per la durata di 2 anni.La presente pubblicazione offre ai lettori una visione sistematica dellosviluppo del progetto, cercando di trasmettere la metodologia applicatanell’intervento, rendendo esplicite le attività svolte dalle sue battute inizialinell’ambito di un contesto storico specifico fino alla fase finale.Nel Capitolo 1, presentiamo l’esperienza acquisita nel decorrere degli annidi lavoro dell’AVSI e CDM in Brasile, sul tema della povertà. Il processo diconoscenza sul tema della povertà ha reso possibile la realizzazione di unpercorso metodologico e operativo per l’affronto di tale realtà.Nel Capitolo 2, recuperiamo il contesto storico dal quale è sorta la comunitàdel Planalto II e i lavori precedenti di AVSI, CDM e PMI (AmministrazioneComunale di Ipatinga) che hanno affrontato la pianificazione degli interventi peril recupero di aree informali urbane e la definizione di politiche per la diminuzionedella povertà nel municipio. Gli studi iniziali ci hanno permesso di conoscere larealtà del quartiere del Planalto II, a partire dai dati rilevati abbiamo formulatogli obiettivi e i risultati che potevano essere raggiunti nella comunità. Abbiamo


98 •POBREZA E PATRIMÔNIOevidenziato i principali aspetti metodologici presenti in tutta l’elaborazione el’esecuzione del progetto. In seguito, presentiamo il Quadro Logico del Progettoche propone una visione generale degli obiettivi e dei risultati ed elenchiamo leattività svolte, rispettando cronologicamente le fasi di sviluppo del progetto. IlFlussogramma delle Attività offre una visione sintetica di tutte le attivitàrealizzate, rapportandole ai risultati presi in considerazione e ai prodotti scaturitida ognuna di loro. Sempre in questa parte, presentiamo i dati che si riferisconoalla situazione della comunità del Planalto II dopo gli interventi, illustrando, conalcuni indicatori quantitativi, i principali cambiamenti identificati a partire dalleazioni del progetto, e le testimonianze di varie persone coinvolte nel progetto,tecnici e abitanti della comunità, che esplicitano i cambiamenti generati nellavita personale e della comunità, confermando il raggiungimento degli obiettivi edei risultati attesi.Infine, nel Capitolo 3, discutiamo le principali conclusioni formulate apartire dall’esperienza del presente progetto, integrandole in un orizzonte diriduzione della situazione di povertà e rendendo espliciti i modi concreti, possibilied efficaci per intervenire su questo tema.L’Allegato 1 traccia una situazione dettagliata della comunità primadell’inizio del progetto partendo da ricerche realizzate insieme alla PMI.Nell’Allegato 2, descriviamo analiticamente le attività realizzate, evidenziandol’obiettivo specifico di ognuna di loro. In questa parte si trova una visione piúdettagliata delle attività realizzate attraverso il progetto, seguendo una logica ditempo e strategica. Includiamo anche alcune osservazioni e delucidazioni checonsideriamo importanti per la comprensione del processo d’intervento.Nell’Allegato 3 si trova una lista integrale degli indicatori di obiettivo, indicatoridi risultato e indicatori di attività, elaborata per la valutazione dell’efficacia delleazioni sviluppate dal progetto. Infine, nell’Allegato 4 é riprodotta unarapprezentazione grafica delle Mappe di Rete iniziale e finale.Gli allegati presentati nel compact disc e che hanno semplicemente lafunzione di approfondire quanto relatato nel testo mantengono la versioneoriginale in portoghese.Il Progetto di Rafforzamento della Comunità Planalto II – Ipatinga/MGiniziato alla fine del 1999 chiude le sue attività nel dicembre 2002. Presentandocome si è sviluppato e come sono stati raggiunti gli obiettivi e i risultati proposti,richiamiamo l’attenzione del lettore soprattutto all’attitudine metodologicapresente nello svolgere le attività previste; è quest’attitudine che ha favoritol’affronto delle reali necessità delle persone della comunità, mediante proposte diintervento chiare, prendendo in considerazione l’integrità della persona umana.


• 99CAPITOLO 1Persona e Talenti:il punto di partenza in programmidi riduzione della povertà urbanaEnrico Novara, in collaborazione con Giorgio Capitanio“Non le case dai bei tetti, non le pietre di mura bencostruite, non i canali nè le banchine fanno le città,ma gli uomini capaci di sfruttare l’opportunità”Alceo (poeta greco VII secolo A.C.)L’impatto con la povertà urbanaAlcuni anni fa, appena arrivato in Brasile per coordinare insieme allaAmministrazione Municipale di Belo Horizonte un programma di riqualificazioneurbana di alcune aree della città, mi sono imbattuto in un fatto che mi ha aiutatoad introdurmi nel complesso problema della povertà urbana.Una delle prime azioni previste dal programma Alvorada 1 , era lapianificazione e la realizzazione di interventi di ampliamento del sistema viario edi integrazione dei servizi urbani nella favela Senhor dos Passos 2 .1Il programma Alvorada nasce da un accordo di cooperazione tra il Ministero degli Affari Esteri del Governo Italiano evari organismi pubblici brasiliani tra i quali assumono un ruolo fondamentale il “Governo do Estado de Minas Gerais” conla “Secretaria do Trabalho e Ação Social” e la “Prefeitura de Belo Horizonte”. L’obiettivo principale dell’intervento é ilmiglioramento delle condizioni di vita delle popolazioni che abitano le favelas della città. L’operoso partenariato con ilComune ha portato alla definizione di strumenti urbanistici di intervento nelle aree povere e ha rappresentato un primosignificativo elemento della nuova politica abitativa della Capitale. In preparazione della II Conferenza sugli InsediamentiUmani delle Nazioni Unite svoltasi a Istambul nel 1996, la municipalità di Dubai ha promosso, in collaborazione con


100 •POVERTÀ E PATRIMONIOQuesta favela rappresenta un tipico esempio di insediamento informaledella capitale minera. Arroccata in un’area centrale della città dalla topografiafortemente irregolare, è frutto di un processo lento, ma continuo, di occupazionedei declivi di una antica cava di pietre da cui era stato estratto il materiale per lacostruzione della città.In queste situazioni, ogni metro di allargamento della strada va conquistatocon molta “conversa” ed una buona dose di “cafezinhos”, usando creatività perridurre di quel metro il fronte della casa senza perderne la funzionalità, matrovando la soluzione che, oltre all’evidente beneficio collettivo, offra anche unbeneficio diretto per la famiglia soggetta all’intervento.Un’ area di questa favela destava principalmente la nostra preoccupazione.Si trattava di una ventina di case costruite in un avvallamento del terreno che nelperiodo delle piogge veniva regolarmente allagato poichè non vi era possibilità didrenaggio delle acque 3 . Inoltre la bassa qualità costruttiva, l’alta densità territorialedella zona, l’angustia e la precarietà del sistema viario consigliavano un interventospaziale significativo. Così dopo varie discussioni con gli abitanti, si è deciso dirimuovere le case, formulare una nuova ipotesi distributiva e ricostruire nuoveabitazioni in uno spazio urbano che permettesse una miglior qualità di vita.Di questo gruppo faceva parte anche “dona Efigenia”, una signora di 75anni che da oltre 40 viveva in quell’area. A motivo della sua età non avevapartecipato che saltuariamente agli incontri con il gruppo. Mi recai pertanto acasa sua per spiegarle l’idea e comunicarle ciò che era stato deciso; il tutto conil mio pronunciato accento italiano.Dona Efigenia ricevendomi pacatamente mi ha spiegato che le inondazionistagionali non erano di fatto un grave problema, perchè da tempo aveva trovatouna soluzione.UNCHS, un concorso per selezionare 20 Best Practises da presentare alla Conferenza. Il programma Alvorada venneselezionato tra queste prime 20 proposte, essendo inserito l’anno successivo nelle 100 Best Practises che Habitat II hapresentato all’attenzione di esperti e di “policies makers” come possibili soluzioni alle problematiche della gestione degliinsediamenti umani. Contemporaneamente il programma venne selezionato dalla “Secretaria de Politica Urbana doMinisterio do Planejamento” tra i 20 migliori interventi realizzati in Brasile.Per una descrizione succinta del programma si veda: URBEL: Urbanização de favelas e prevenção em àreas de risco emBelo Horizonte. In: N. Bonduki “Habitat”. As praticas bem-sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbananas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996, p.152-155.Mentre per una descrizione metodologica dettagliata si veda UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: aninformal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000, p. 45-139.2Per una descrizione della favela si veda URBEL: Urbanização de favelas e prevenção em areas de risco em BeloHorizonte in N. Bonduki “Habitat”. As praticas bem-sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbana nascidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996. p.155-169.3Durante le piogge estive (principalmente tra dicembre e gennaio) molte aree di favelas sono esposte a forte rischio dismottamento o di allagamento. Solo in quest’ ultimo periodo, vi sono state oltre 40 vittime di smottamenti in BeloHorizonte.


PERSONA E TALENTI • 101Era infatti sufficiente posizionare una passerella sopra il livello delle acqueed infilare un altro pezzo di legno nei battenti della porta così da impedireall’acqua di invadere la casa.Collocati poi alcuni gradini all’interno era possibile accedere dallapassarella alla casa.Mi aveva spiegato come aveva “risolto” il problema facendo uso di unostrumento che chiamava “porta para a agua”.Una soluzione, quella descritta da dona Efigenia, che in verità avevo giàconosciuto in un altro contesto. E’ usata in grande stile e tempestività dalComune di Venezia quando le acque della laguna invadono la città nei giornidella cosidetta “acqua alta”.Ma dona Efigenia continuò la sua spiegazione dicendo che quello che leiaveva costruito durante gli anni era più importante che il problema oggettivo chedoveva affrontare stagionalmente. Infatti abitava la casa centrale di un nucleo ditre casette molto vicine ed apparentemente costruite in un unico lotto. In unaabitava suo figlio, nell’altra una sua cara amica. Dona Efigenia era la proprietariadelle case, ma concedeva all’uno ed all’altra la possibilità di abitarvi perchè ilfiglio l’accudiva, a motivo della sua età, e la sua amica si preoccupava di “farlela spesa”. Aveva, insomma, ricreato una unità “familiare” che non viveva sottolo stesso tetto. Una soluzione difficile da riprodurre in un altro contesto, ma cheaveva risolto il problema della solitudine nella sua vecchiaia.Quella che per noi era una situazione critica e che pertanto meritava unintervento radicale, per dona Efigenia era, al contrario, una risorsa, la principalerisorsa che, con la sua creatività e col suo sforzo, si era costruita nella vita.Il nostro intervento teso ad identificare correttamente le necessità,attraverso un processo di raccolta delle informazioni ed analisi dei dati 4 ,rischiava, per migliorare la condizione della vita e quindi ridurre la situazione dipoverta’, di rompere irrimediabilmente la risorsa “famiglia” che costituiva in quelmomento il principale “patrimonio” di Dona Efigenia.Questo esempio è stato il primo di una lunga serie di casi che in questi 10anni di lavoro hanno indirizzato la scelta metodologica effettuata in variprogrammi di riduzione della povertà in aree cosiddette “a rischio sociale”,affrontando problemi di infrastruttura, di ricerca del lavoro, di educazioneinfantile.4Una descrizione dettagliata degli strumenti e dei metodi di gestione delle informazioni si trova ancora in UNCHS(Habitat) Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by informationtechnology. Nairoby: UNCHS, 2000. p. 141-230.


102 •POVERTÀ E PATRIMONIOPercorso conoscenza: l’incontro tra una energia umana euna presenzaÈ noto che un’osservazione globale, appassionata ed insistente della realtàsu cui operare, permette di definire azioni ed interventi il più possibile prossimialla realtà stessa; potremmo dire il più possibile “realistici”.Uno dei più giovani scienziati che ricevettero il Premio Nobel dellaMedicina, Alexis Carrel, afferma nel suo libro Riflessioni sulla condotta della vitache “Poca osservazione e molto ragionamento conducono all’errore. Moltaosservazione e poco ragionamento conducono alla verità” (Carrel apud Giussani,1997, p. 03). Con questa frase Carrel ci offre una sintesi potente del metodoscientifico; anche nel caso di programmi di sviluppo umano, la forma perintervenire sulla realtà dipende dal metodo con cui la si conosce e la si descrive.Carrel sembra dirci che solo la passione per la realtà concreta, nel modo con cuisi presenta ai nostri occhi, permette di vincere una lettura dei fatti influenzata daun giudizio dato a priori e, superare, nell’azione, divisioni ideologiche. Solo cosìil metodo dell’azione è definito in base all’oggetto dell’intervento e nonimmaginato, in modo astratto, dal soggetto che lo realizza. 5Descrivere correttamente, cioe’ in modo il più possibile aderente allarealtà, il problema della povertà, rappresenta pertanto il passo decisivo perdefinire i contenuti dei programmi e gli strumenti adeguati di intervento.In questi ultimi anni l’ “Instituto de Pesquisa Economica Aplicada” del“Ministerio do Planejamento” ha dedicato particolare attenzione allo studio ed aldimensionamento della povertà in Brasile. La povertà è ivi affrontata nella suadimensione di mancanza di reddito: “Esiste povertà solo nella misura in cuiesistono famiglie che vivono con un reddito familiare “per capita” inferiore allivello minimo per poter soddisfare le proprie necessità elementari” (Barros et al,2000, p. 22-23) 6 . Pertanto, secondo questa prima affermazione, il povero ècolui che possiede un valore di reddito tale da non poter acquistare unaquantità di beni sufficienti per soddisfare le proprie necessità primarie.E’ la definizione classica e ben nota della “poverty line” che conduce acalcolare valori differenti di “povertà” in funzione del contesto economico5Un’ attenta descrizione del processo conoscitivo nell’ambito dei programmi di riduzione della povertà si può trovare inGisela M.B. Solymos “Vencendo a desnutrição: abordagem psicologica” Ed. Salus paulista – São Paulo 2002 p. 17-25.Il testo fa parte della collana “Vencendo a desnutrição” di autoria di Gisela M.B. Solymos e di A.L. Sawaya pubblicatacon il contributo del Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social (BNDES) allo scopo di diffondere strumentiutili alle politiche pubbliche di riduzione della denutrizione. I testi della collana sono pubblicati nel sitowww.desnutricao.com.br.6Il testo presenta un percorso completo degli studi di natura economica degli ultimi anni sul fenomeno della povertà inBrasile e di analisi dei principali tentativi di riduzione del fenomeno attraverso politiche e programmi pubblici.


PERSONA E TALENTI • 103regionale e pertanto del differente valore di acquisizione di beni alimentari e diprimaria necessità. Senza entrare in merito alle modalità di calcolo si accetta ingenere il valore medio e significativo di 1 U$ al giorno “per capita”. La definizionedella linea di indigenza è una variazione del calcolo reddituale imponendo unameta di pura sopravvivenza. I numeri del Brasile all’inizio del nuovo secolo sonoben noti: quasi 1/3 della popolazione vive al di sotto della linea della povertà dicui poco meno della metà in condizioni miserabili 7 . Ma la linea della povertà nondescrive esaurientemente la reale dimensione economica del problema.La magnitudo della povertà è direttamente proporzionale al numerodelle persone che vivono in famiglie il cui reddito per capita si trovasotto la linea della povertà e alla distanza del reddito per capita diciascuna famiglia povera in relazione alla linea di povertà (Barros et al,2000, p. 23).Si definisce così lo “iato di povertà”, cioè il valore economico che quellafamiglia deve ricevere per portare il suo reddito al di sopra della linea di povertà.E’ possibile, in questo modo, calcolare il debito sociale del paese. Inoltre, in uncontesto di grande magnitudo del fenomeno, quanto maggiore è il reddito medioper capita della nazione, cioè quanto maggiore è la distanza di tale valore dallalinea di povertà, peggiore è la distribuzione del reddito. A conti fatti, usando ilcoefficiente di Gini o il rapporto tra il primo e l’ultimo quintile di reddito, il Brasilerisulta essere uno dei paesi che peggio distribuisce il proprio reddito. Non sicaratterizza, pertanto come un paese povero, ma come un paese con tanti poveri.La definizione di povertà attraverso i pochi indicatori economici, rapidamentepresentati in precedenza, permette di identificare e localizzare facilmente ilgruppo vulnerabile, ma non consente di descriverne le cause e le caratteristiche,a non essere la mancanza di un reddito adeguato. Le conseguenti politicheridistributive, dirette e necessarie, risultano più legate all’ambito dell’emergenzache al tentativo di favorire lo sviluppo della persona e della comunità.Per evitare che i beneficiari di reddito minimo dei programmi ritorninoalla loro condizione di povertà precedente, sono necessarie l’articolazionee l’integrazione di altre azioni che abbiamo come obiettivo la conquistadell’autonomia (Lavinas, 2002, p. 14).Le politiche ridistributive non possono e non devono essere esclusedall’ambito delle politiche sociali, ma debbono evidentemente essere integratecon reali possibilità di crescita personale.7“I risultati rivelano che, nel 1999, circa il 14% della popolazione brasiliana vive in famiglie con reddito inferiore allalinea di indigenza e 34% in famiglie con reddito inferiore alla linea della povertà. In questo modo, circa 22 milioni dibrasilani possono essere classificati come indigenti e 53 milioni come poveri” (Barros et al, 2000. p. 23).


104 •POVERTÀ E PATRIMONIOIl reddito minimo, per diventare uno strumento potente di lotta allapovertà e alla disuguaglianza, deve essere associato a altre politichesociali. Una famiglia povera che abbia un reddito minimo, ma che abitiin un quartiere senza fognature, abbia figli che non possono accederealla scuola primaria, non abbia servizi adeguati alla salute, non possapartecipare alla sfera politica in modo protagonista e sia sottomessaall’arbitrarietà delle azioni politiche, continua in un processo di povertà,di disuguaglianza sociale e di esclusione (Aguiar e Araújo, 2002, p. 32).Una seconda forma notoria di interpretare la realtà della povertà è quellache tenta di definire la “qualità di vita” o di “benessere” della popolazione,ampliando il ventaglio dei fattori che contribuiscono a determinarla oltre a quelloeconomico. Altre dimensioni elementari, quali salute, educazione, occupazione,o più complesse, quali sicurezza e cultura, possono definire una migliore opeggiore qualità di vita. Negli ultimi anni sono stati elaborati vari indicatori di“benessere”. Tra i più usati in Brasile citiamo: l’ “Indice de desenvolvimentoHumano” (IDH), messo a punto all’inizio del trascorso decennio dall’UnitedNations Development Programme (UNDP) e diffuso a livello mondiale perpermettere un confronto tra le nazioni, e l’ “Indice de Vulnerabilidade Social”(IVS) elaborato in varie capitali del Brasile, seppur con adattamenti allasituazione locale. Entrambi sono rappresentati da un indicatore misto. Il primo sicompone di tre variabili: la longevità, il livello di istruzione e il livello economicodi vita, misurate rispettivamente dalla speranza di vita alla nascita, dallapercentuale di analfabetismo della popolazione in età adulta e dal tasso discolarizzazione, ed infine dal reddito medio per capita.L’indicatore finale, che varia tra 0 (assenza di sviluppo) ed 1 (sviluppocompleto), può classificare il gruppo di popolazione oggetto di studio nelledifferenti categorie di sviluppo (alto, medio e basso). Anche secondo questaanalisi, il Brasile risulta essere un paese disequilibrato. E’ infatti l’unica potenzaeconomica inserita nel folto gruppo di nazioni con sviluppo medio. 8 Un esempiodi applicazione dell’IDH nelle politiche di riduzione della povertà in Brasile è laconcentrazione di programmi settoriali di “Comunidade Solidaria” diretti a gruppiomogenei (riduzione dell’analfabetismo, “Bolsa Escola”, riduzione della mortalitàinfantile, incentivi alla formazione professionale) negli stati con IDH inferiore allamedia nazionale, cioè nei 14 stati brasiliani considerati a basso sviluppo umano(valore di IDH inferiore a 0,5).L’ “Indice de Vulnerabilidade Social” (IVS) 9 nasce dalla combinazione dioltre 20 variabili che tendono a misurare un ventaglio più ampio di dimensioni:8Nel 2001 il Brasile è classificato al 69º posto.9Per una presentazione delle modalità di calcolo dell’Indice di Vulnerabilidade Social elaborato dal Comune di BeloHorizonte in collaborazione con la Pontificia Universidade Catolica de BH si veda PBH. Planejar BH – Mapa de ExclusãoSocial, n. 8, Belo Horizonte, ago/2000.


PERSONA E TALENTI • 105ambientale, culturale, economica, giuridica e di sicurezza. Anche in questo caso,l’indice serve per definire i gruppi maggiormente vulnerabili in un territorio egarantire la concentrazione di programmi locali e nazionali come nel caso delprogramma BH Cidadania in Belo Horizonte. 10Sebbene siano diverse le forme per identificare i livelli accettabili di qualitàdi vita, quasi sempre si definisce il povero come colui che non ha accesso stabilead una serie di servizi che la comunità umana ha prodotto in un determinatocontesto regionale. Pertanto, il povero è colui che è escluso dalla possibilità difruire delle conquiste e dei progressi socio-economici che la società haraggiunto nel suo articolarsi.Il povero vive quindi una situazione instabile nel contesto sociale, unasituazione di estrema vulnerabilità. Vulnerabilità è infatti un concetto più ampioche la semplice assenza o necessità; significa vivere senza difese, in unasituazione di insicurezza, esposti al rischio, allo scontro ed alla tensione.Certamente questo secondo approccio al tema riconosce un punto dipartenza oggettivo: la povertà è un fenomeno multidimensionale e dinamico; maintroduce anche un tema molto ampio: quello dei servizi di pubblica utilità. 11Domande tipo: qual è la natura dei servizi no profit di pubblica utilità? comemigliorare la qualità e l’efficienza? come valutarli 12 quale deve essere il rapportotra le politiche pubbliche e l’azione dei servizi privati no profit?, anche seaffascinanti ed importanti, ci porterebbero lontano dal tema che stiamoaffrontando. 13 Ma vale la pena ricordare almeno due elementi di interesse per lanostra discussione:¬ per definire la qualità è necessario definire in modo univoco lo standardaccettabile di un servizio, in modo tale che iniziative comunitarie e dellasocietà civile possano misurare la qualità del proprio servizio e migliorarne leprestazioni;¬ una forma concreta per garantire l’accesso ai servizi è quella di finanziare epromuovere servizi di pubblica utilità diretti esplicitamente alla popolazionepiù vulnerabile o creare le condizioni anche economiche perchè i più poveripossano accedere effettivamente ai servizi esistenti.Il programma “Bolsa – Escola”, per esempio, associa elementi diridistribuzione del reddito alla garanzia di accesso ai servizi.10Una presentazione del programma si trova em FERREIRA & AMARAL, 2001.11Intendiamo per “servizi di pubblica utilità”, l’insieme dei servizi offerti alla persona sia nel settore pubblico che nelsettore non profit.12Solo per i curiosi si veda in proposito GORI & VITTADIN, 1999.13Si ricorda che è in vigore una legge nazionale di grande importanza sulla classificazione ed operatività delle OCIP.


106 •POVERTÀ E PATRIMONIOIl programma Bolsa Escola è superiore ai programmi di reddito minimoperchè integra in modo strategico il complementare il reddito conl’accesso universale all’educazione combattendo l’evasione scolastica. Ibeneficiari sono i figli di famiglie molto povere che se non avesseroquesta opportunità manterrebbero la stessa bassa scolarità dei genitorie di conseguenza, in futuro, entrerebbero nel mondo del lavoro, nellamigliore delle ipotesi, nelle stesse condizioni della maggior parte deiloro familiari. La logica è quella di elevare il grado di scolarità deibambini per aumentare o meglio equilibrare le opportunità. La Bolsa –Escola consiste nel passare una risorsa mensile alle famiglie escluse, apatto che tutti i figli in età scolare frequentino almeno il 90% dei giornieffettivi del calendario scolastico (Aguiar e Araújo, 2002, p. 34-35).Al contrario, in un altro programma, chiamato “Sostegno a distanza”, <strong>Avsi</strong>mette in contatto, attraverso il versamento di una quota mensile, una famigliacon un bambino o adolescente che vive in situazione di rischio sociale, pergarantire il suo percorso educativo. I fondi delle 4.000 adesioni, in Brasile,vengono destinati trimestralmente a 30 centri educativi no profit che accolgonoin varie città del paese i bambini che ricevono il sostegno e sono trasformati inbenefici diretti nell’ambito dell’educazione. Si è scelto in questo modo dirafforzare i servizi di pubblica utilità la cui azione è rivolta unicamente allecomunità vulnerabili.Si vede, in entrambi i casi, come il problema della qualità dei servizi, enon solo la possibilità di accedervi, diventa un elemento indispensabile perridurre effettivamente le condizioni di vulnerabilità delle persone: è questo unelemento che merita particolare attenzione per non approfondire maggiormentela disuguaglianza esistente.Fin ora ci siamo limitati ad esaminare dall’esterno la situazione di vita dei piùpoveri cercando di identificare le dimensioni e le cause del fenomeno, mal’esempio di dona Efigenia può aiutarci ad ampliare la nostra percezione dellasituazione di povertà. A modo suo, dona Efigenia, ha organizzato una risposta aisuoi bisogni, da sola e con poche risorse disponibili. Ha messo in gioco quelloche aveva nel modo in cui le era possibile; ha messo a disposizione un insiemedi “beni” che possedeva per migliorare la propria condizione di vita. E` benenotare che buona parte di queste risorse non sono direttamente riconducibili aduna valutazione monetaria: per esempio il nucleo familiare ed i rapporti diamicizia e di vicinato sono divenuti l’elemento portante della sua forma dirisposta. Potremmo dire che dona Efigenia ha intelligentemente giocato i talentiche aveva. Non ha potuto sviluppare maggiormente questa sua capacità eresponsabilità di fronte alla realtà perchè le circostanze non lo hanno permesso.Pertanto il povero è quella persona che non ha la possibilità di sviluppare italenti che ha ricevuto, cioè non ha l’accesso alle reali opportunità che gli


PERSONA E TALENTI • 107consentono di sviluppare tutte le proprie potenzialità.Si può essere infattidignitosamente poveri, come nel caso di dona Efigenia e giocare tutte lepossibilità umane che si hanno per tentare di rispondere alla realtà.Possiamo porci quindi una domanda: quali risorse la comunità e lepersone povere possono mettere in gioco per far fronte alla loro situazione dioggettiva vulnerabilità, di oggettiva necessità, di oggettiva assenza di beni eservizi? Per rispondere a questa domanda dobbiamo introdurci ad un altrometodo di conoscenza e di azione che non sia solo lo studio analitico delfenomeno: la condivisione delle necessità. La condivisione non elimina l’analisi,ma rappresenta il metodo più adeguato per approssimarsi alla persona e perconoscere le sue reali necessità e le sue potenzialità.Condividire vuol dire accompagnare la persona nella problematica cheaffronta e non guardarla dall’esterno. Condividere non vuol dire viverela stessa condizione, ricreare la stessa condizione di vita, ma bensíessere una compagnia che permetta all’altro di portare la propriasituazione e di andarvi a fondo (GIACOMINI et al., 2002, p. 20).La condivisione, cioè il “mettersi insieme per...” elimina il pericolo della“invisibilità”. Il fenomeno del velamento vale infatti anche per la società nel suoinsieme o per determinati gruppi di persone. Il problema esiste ma non midisturba, non muove la mia umanità, può essere ridotto, può diventare“invisibile” anche se lo analizzo in tutti i suoi fattori. Infatti un oggetto esistenteche non entra nella sfera della mia conoscenza è come se non esistesse. La vitaconcreta, le necessità, le angustie, i desideri, i tentativi delle persone che vivonoin situazione di povertà, per diventare fatti concreti, elementi di conoscenza e diazione, devono incontrarsi con l’energia umana della persona e della suacoscienza.L’esempio più volte citato, mette in evidenza un punto di partenza strategicoin una azione di riduzione della povertà: favorire le condizioni che possono“mettere in moto” le potenzialità della persona nella sua dimensione individuale esociale, in altre parole “mettere in gioco” quei fattori che permettono alla personaun reale sviluppo. Bisogna quindi tendere a conoscere, valorizzare, rafforzare edindirizzare correttamente ciò che le persone hanno costruito.Punti di Metodo: persona, condivisione dei bisogni ed incontri umanioperativiÈ possibile a questo punto stabilire alcuni punti di metodo 14 checaratterizzano i nostri interventi nell’ambito della riduzione della povertà e che14Una descrizione più dettagliata degli elementi di metodo dell’azione di <strong>Avsi</strong> negli interventi di riduzione della povertà


108 •POVERTÀ E PATRIMONIOdefiniscono pertanto anche il lavoro di Ipatinga. In primo luogo risulta ovvio chela persona è il centro di ogni azione, la sua dignità e il suo sviluppo umano sonola finalità ultima di ogni tipo di intervento.Lo sviluppo umano di un popolo non deriva primariamente nè daldenaro, nè dagli aiuti materiali, nè dalle strutture tecniche, bensì dallamaturazione della mentalità e dei costumi. E’ l’uomo il protagonistadello sviluppo, non il denaro o la tecnica (Giovanni Paolo II, 1990).E’ la persona infatti il motore dello sviluppo, il fattore indispensabile diogni sviluppo possibile: la persona con i suoi bisogni, che spesso si presentanoin modo parziale ed immediato, ma anche con le sue potenzialità, i suoi desideripiù profondi, i suoi tentativi di risposta ed i drammi già vissuti.Ogni persona, ogni comunità, per quanto carente, rappresenta unaricchezza e presenta un suo patrimonio. Per aiutare a sviluppare i propri talenti,a muovere la responsabilità personale bisogna valorizzare e rafforzare ciò che lepersone hanno costruito, la loro storia, le relazioni esistenti, cioè quel tessutosociale e quell’insieme di esperienze che costituiscono il loro patrimonio di vita.E’ un punto operativo fondamentale, che nasce da un approccio positivo allarealtà che fa capire alla persona il proprio valore, la propria dignità e pertantol’aiuta ad una responsabilità.Un altro momento importante per il Brasile in preparazione allaConferenza Habitat II è stato l’ “Encontro Internacional do Recife sobre a <strong>Pobreza</strong>Urbana” avvenuto nel mese di marzo del 1996. Al punto 4 della dichiarazionefinale si legge:Ogni persona vuol essere considerata per quello che è, per quello cheha e per quello che può fare e non per quello che le manca. Il punto dipartenza, sia per la formulazione delle politiche come per gli interventi,deve essere il rispetto delle opinioni e delle azioni dei poveri, delle loroiniziative e del loro modo di organizzarsi, riconoscendo il valore deglispazi urbani prodotti informalmente e delle attività economicheinformali, che creano reddito e che allo stesso tempo rispondono allenecessità di base come l’abitazione, il rifornimento di acqua ecc(Declaração do Recife, 1996).urbana può incontrarsi in “Plano de Desenvolvimento Social e Ambiental do Programa Ribeira Azul” che costituisce ildocumento programmatico del Piano di Riduzione della Povertà Urbana nell’area di Ribeira Azul in Salvador (BA) la cuirealizzazione è finanziata dalla Banca Mondiale, dal Governo do Estado de Bahia e dal Ministero degli Affari Esteri delGoverno Italiano. È possibile consultare anche GATTI, M. T. The role of non Governamental organizations. In MAFFENINI,W. Parternship experiences against urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83.


PERSONA E TALENTI • 109Questa percezione della realtà non esclude ovviamente i problemi esistentiin una comunità, le necessità espresse o latenti, non indica un chiudere gli occhidi fronte alle condizioni umane e sociali fino all’estrema ingenuità e parzialità dinon considerare le vulnerabiltà presenti. Impone, al contrario, una vicinanzaaffettiva che permette di non soffermarsi sul bisogno parziale espresso dallepersone, partendo anzi dalla necessità parziale espressa per leggerla in funzionedella totalità dell’essere umano. Mettere in gioco la responsabilità delle personepassa attraverso la riscoperta del significato del proprio essere. Ogni necessità,quand’anche essa fosse solo materiale o limitata, rimanda sempre ad undesiderio che la supera e che, con la vicinanza, può essere ascoltato e dilatatoin altre direzioni per una sua utilizzazione più edificante sul piano della crescitaindividuale e sociale. Accogliere il tentativo di risposta messo in atto rappresentala prima forma di ampliare la responsabilità della persona. E’ in tale esperienzadi condivisione che persona e comunità vivono un processo educativo dellapropria responsabilità che le rende capaci di accedere concretamente alleopportunità di sviluppo che la realtà propone poichè vengono destati il desiderioe la volontà di usufruire di tali opportunità, individuando con intelligenza ciò chenella situazione già si pone come fattore e strumento di aiuto e valorizzando lepolitiche e gli strumenti che la più ampia comunità può mettere in campo peraccompagnare e ampliare le loro possibilità d’azione.Uno sbocco operativo della responsabilità personale è la formazione diaggregazioni spontanee ed organizzate; non vi è comunità nella quale non siincontrino gruppi, più o meno formali, interni alla stessa comunità o esterni cheprestino un servizio di varia natura alle persone ed alle famiglie. Anch’essirappresentano una risorsa importante per lo sviluppo della società che nasceinfatti dalla libera aggregazione delle persone e delle famiglie. Agire sullosviluppo sociale significa anche favorire la capacità associativa, cioè riconoscere,valorizzare e stimolare il costituirsi di comunità intermedie e di un tessuto socialericco di partecipazione e di corresponsabilità. Il diritto di ogni persona alla libertàdi associazione e di intrapresa, anche economica, si rivela, nell’esperienza, unaforza potente di cambiamento.La sussidiarietà che affonda le sue radici nel pensiero di Aristotele e di SanTommaso e che è fatta propria dal trattato di Maastricht dell’Unione Europea, èpiù volte ripresa dalla Dottrina Sociale della Chiesa Cattolica:È ingiusto rimettere ad una maggiore e più alta società quello che dalleminori e inferiori comunità si può fare… Ne deriverebbe un grave dannoed uno sconvolgimento del retto ordine della società… Poichè oggettonaturale di qualsiasi intervento della società stessa è quello di aiutarein maniera suppletiva le assemblee del corpo sociale, non giàdistruggerle ed assorbirle (Papa Pio XI, 1931).


110 •POVERTÀ E PATRIMONIOSu questo aspetto si fonda il terzo passaggio metodologico del nostrooperare a favore dello sviluppo e, quindi, del miglioramento sostenibile dellecondizioni di vita verso un allivio delle condizioni di povertà che attanagliano unabuona fetta della popolazione urbana in Brasile. L’esito dello sviluppo associativoe del rafforzamento delle comunità intermedie è la nascita di soggetti consapevolie autonomi. Nei programmi di sviluppo è fondamentale realizzare unapartnership tra tali soggetti e le rimanenti entità coinvolte, mettendo in motosinergie e significative quantità di risorse. Si tratta di partire da un soggettoesistente che coinvolge nell’azione le amministrazioni locali, le forze sociali, leistituzioni internazionali, nel cooperare, secondo i rispettivi ruoli, per rispondereal bisogno che si incontra.È da qui che sorge il concetto di parternship: ciascun attore (comunità,società civile, imprese, organismi internazionali, potere pubblico) svolge il suoruolo per un bene comune. C’è una diversità di ruoli, una differenziazione nelladefinizione delle azioni e della loro esecuzione, nel processo di valutazione deirisultati raggiunti, ma non esiste una separazione o meglio una divisione tra il“pensare” e il “fare”. Un legame stretto tra i partners porta ciascuno a mettere ingioco tutte le proprie potenzialità in termini di esperienze e conoscenze: unapartnership forte reca benefici e vantaggi al programma in termini di efficacia esostenibilità. Lo sforzo, che deve essere quindi fatto per poter pensare allarealizzazione di programmi di sviluppo, è quello di coinvolgere le politichepubbliche e sensibilizzare amministrazioni, istituzioni e governi a collaborare coni servizi offerti dalle associazioni spontanee, offrendo loro, quando possibile,appoggio e sussidi, nel rispetto della libera vocazione di ogni comunitàintermedia.Nello stesso modo in cui la partecipazione è implicita nel progetto disviluppo, la parternship è un aspetto costitutivo della definizione e realizzazionedelle politiche nel rispetto del ruolo e della capacità di ogni attore, non è unelemento che si “aggiunge dopo”. La parternship consiste nel porre le decisioni,e pertanto la definizione delle politiche (e non solamente la loro realizzazione),in quel livello dell’aggregazione sociale che ha la capacità di costruire e metterein pratica modi di rispondere ai problemi.È necessario, pertanto che le politiche si sottomettano all’esperienza, ènecessario che i responsabili per l’elaborazione delle politiche pubbliche sisottomettano a quel livello di aggregazione sociale capace di fornire risposte sottoforma di esperienze.Percorso operativo: rafforzare il patrimonioTerminando lo studio comparativo, realizzato per la Banca Mondiale, sullemodalità con le quali quattro comunità povere in quattro diversi continenti hanno


PERSONA E TALENTI • 111reagito alla crisi economica degli anni ottanta, la sociologa Caroline Moser(1996) conclude che, nell’analisi di una comunitàè importante “identificare non solo le minacce, ma anche le capacità diadattarsi, di approfittare delle opportunità e di resistere agli effetti negatividei cambiamenti dell’ambiente esterno. I mezzi per resistere sono lerisorse che gli individui, le famiglie e le comunità possono mettere ingioco per far fronte alle necessità, pertanto la vulnerabilità è strettamentevincolata al possesso o non possesso di risorse. Quanto maggiori sono ibeni, minore è la vulnerabilità e quanto maggiore è la loro erosione tantomaggiore è l’insicurezza (p. 2).Se estendiamo l’osservazione della Moser non solo ai beni materiali 15 econsideriamo l’uomo nella sua incessante ricerca di significato che gli fa metterein moto tutte le potenzialità ed i talenti che possiede, la considerazione finale noncambia, anzi assume una configurazione più completa.Chiamando “patrimonio”, l’insieme delle risorse tangibili ed intangibili dicui le persone può disporre si può concludere che:P = f (1/V) (1)il patrimonio è inversamente proporzionale alla situazione di vulnerabilitàdelle comunità povere, quindi per ridurre la vulnerabilità bisogna rafforzare lerisorse di cui la comunità può disporre per far fronte a situazioni critiche.Possiamo anche affermare che un programma di riduzione della povertà deve,come suo obiettivo principale, contribuire all’aumento del patrimonio dellecomunità; anche un’azione settoriale, pensata e disegnata per ridurre o eliminareuna situazione specifica di rischio, contribuisce al miglioramento del patrimonio.L’obiettivo di un intervento di riduzione della povertà può essere sintetizzato nellaseguente formula:∆P = Po x I (2)La variazione del patrimonio (∆P) è data dalla reale incidenza dell’azionedi progetto (I), qualunque essa sia, sul patrimonio iniziale (Po) di quella datacomunità. Un’azione in sè positiva può infatti non produrre l’impatto sperato,solamente quando la persona è in grado di cogliere l’opportunità offerta, cioèquando l’azione incide sul patrimonio iniziale mettendolo in azione in modostabile, è possibile creare le condizioni per ridurre la vulnerabilità all’interno dellefamiglie e della comunità.15Sul concetto di risorse si veda anche NERI In HENRIQUES, 2000. p. 509-517.


112 •POVERTÀ E PATRIMONIOUn corso di formazione professionale, ad esempio, che non consideril’impatto che il contesto socio-economico e familiare genera sui giovani e sullaloro identità, non mette in grado gli alunni di affrontare il mondo del lavoro;occorre investire sulla loro formazione umana, recuperare prima gli elementi cheaiutano a riprendere il significato del lavoro per la loro vita. In termini generalil’azione deve far leva sulle risorse esistenti (e deve essere pertanto adeguata nellasua formulazione metodologica e nei suoi tempi di realizzazione) per garantire unreale incremento del patrimonio delle comunità. Un soggetto esterno (pubblico,privato o della società civile) che voglia contribuire allo sviluppo della comunitàatttraverso un’azione di qualsiasi natura (sia essa di miglioramento urbano, dicostruzione della rete di energia elettrica, di fomento della produzione di reddito),non può “sostituirsi” alla comunità beneficiaria bensì deve svolgere azioni disupporto. La ricerca dei “fattori positivi”, degli “acceleratori di sviluppo”, deisoggetti intermediari efficaci che possono rappresentare un valore aggregatoall’azione specifica, deve preoccuparci fin dall’inizio del progetto.L’integrazione delle azioni è pertanto una necessità del progetto perchè,come si è mostrato, la persona vive la povertà come dimensione unitaria e nonframmentata in una serie di bisogni tra loro indipendenti.La povertà urbana, ai fini della valutazione e della definizione dellepolitiche, mostra un paradosso. Per i poveri è un tutto invisibile, unarealtà quotidiana, mentre le istituzioni che hanno il compito didebellarla la vedono come un problema che deve essere affrontatoattraverso una serie di programmi, generalmente frammentari, pococordinati tra loro e, nel migliore dei casi, parzialmente efficaci. Senzadubbio c’è una grande distanza tra la dimensione della povertà come èvissuta dai poveri e la diversità delle risposte proposte dalle istituzioni(Declaração do Recife, 1996).Un progetto di riduzione della povertà 16 deve quindi investire su quelleazioni che aumentano il patrimonio secondo una scansione chiara:¬ l’incremento del patrimonio dei gruppi più vulnerabili;¬ la promozione dei fattori che tendono ad equilibrare il patrimonio;¬ la garanzia della sostenibilità dei benefici raggiunti con l’azione del progetto.Il progetto di rafforzamento della comunità del Planalto II nasce da questepremesse. La comunità ha origine con il trasferimento di circa 600 famiglie16I passi operativi di un programma di riduzione della povertà sono presenti in GATTI, NOVARA in Gatti Mt, Novara E.“The real city. Methods and actions implemented by <strong>Avsi</strong> to upgrade informal urban areas in MAFFENINI W. Parternshipexperiencesagainst urban poverty F Angeli, Milano 2003, pag 14.


PERSONA E TALENTI • 113dall’area centrale del municipio di Ipatinga in Minas Gerais. Nel processo ditrasferimento, il municipio aveva avuto l’attenzione di mantenere unite le famigliecreando un nuovo quartiere non lontano dall’area centrale che la comunità avevaoccupato col processo di costruzione della stessa città. Dalla preoccupazione dinon terminare il progetto con la costruzione delle case, ma di trasformarel’intervento in una reale opportunità di sviluppo della comunità, nasce l’incontrotra la “Prefeitura de Ipatinga”, la “Comunidade do Bairro Planalto II” e AVSI.L’obiettivo del partenariato è quello di garantire reali condizioni di sviluppoattraverso le azioni di consolidamento e rafforzamento della comunità previstesuccessivamente alla ri-locazione delle famiglie. 1717Le principali azioni di rilocazione delle famiglie previste nel progetto sono presentate in SILVA, J. I. Rosas Guia deReassentamento Involuntario de População Urbana de Interesse Social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999. Neldocumento vengono presentate anche le direttive generali di programmi di rilocazione di comunità.


114 •POVERTÀ E PATRIMONIORiferimenti BibliograficiAGUIAR, M.& Araújo C.H. Bolsa escola: educação para enfrentar a pobreza.Brasília: Unesco, 2002. p. 32.BARROS, R. Paes de et al. A estabilidade inaceitàvel: desigualdade e pobreza noBrasil. In: HENRIQUES, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro:Ipea, 2000. p 22-37.FERREIRA, AL.; VELOSO, C & AMARAL T. do. BH Cidadania: o percurso dapolítica socia. In: Pensar BH – Política Social, Belo Horizonte, 2001.GATTI, M.T. The Role of Non-Governmental Organizations. In: MAFFENINI, W.Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p.83._______ & NOVARA, E. The Real City. Methods and actions implemented byAVSI to upgrade informal urban àreas. In: MAFFENINI, W. Partnershipexperiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 14.GIACOMINI, M.R.; HAYASHI; M.& PINHEIRO, S. A. O trabalho social em favela:o método da condivisão. In: SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo aDesnutrição: abordagem psicologica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 20.GORI, E.& VITTADINI G. Qualità e valutazione nei servizi di pubblica utilità.Milano: Etas, 1999.GIUSSANI, L. Il senso religioso. Milano: Rizzoli, 1997.LAVINAS, L. Programa de garantia de renda mínima e ação coordenada decombate à pobreza. In: AGUIAR, M. & ARAÚJO, C.H. Bolsa Escola: educaçãopara enfrentar a pobreza. Brasília: Unesco, 2002.MOSER, Caroline O. N. Situaciones criticas: reacciòn de las familias de cuatrocomunidades urbanas pobres ante de la vulnerabilidad y de la pobreza.Washington D.C: Banco Mundial, 1996.NERI, M. Políticas estruturais de combate à pobreza no Brasil. In: HENRIQUES,R. Disegualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 509-517.PAULO II, João. Redemptoris Missio, n. 58-59, 7 de dez.,1990.PBH: Planejar BH – Mapa de Exclusão Social, Belo Horizonte, n.8, ago., 2000.PIO XI, Papa. Enciclica Quadragesimo Anno, 15 de maio, 1931.SILVA, J. I. Rosas Guia de reassentamento involuntàrio de população urbana deinteresse social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999.SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a desnutrição: abordagem psicològica.São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 17-25.


PERSONA E TALENTI • 115UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlementupgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS,2000. p. 45-139.UNCHS (Habitat). <strong>Pobreza</strong>: um desafio mundial, Declaração do Recife, Recife,1996.URBEL:Urbanização de favelas e prevenção em àreas de risco em BeloHorizonte. In: N. Bonduki Habitat: As pràticas bem sucedidas em habitação,meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel,1996. p.152-155.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 117CAPITOLO 2Il Planalto II e il Progetto di Rafforzamentodella ComunitàAchilles G. Coelho Jr.Érlia E. BenevidesPaulo F. BulosLa Comunità del Planalto II: Aspetti StoriciLa città di Ipatinga situata nella Valle dell’Aço, nello Stato di Minas Gerais,a 217 km da Belo Horizonte, è cresciuta sotto l’influenza marcantedell’industrializzazione, toccata da un flusso immigratorio avvenuto nelle cittàbrasiliane durante gli ultimi decenni. Questo fenomeno ha provocato il“riempimento” delle città e la crescita disordinata dei centri urbani, generando areecon gravi problemi. Gli spazi urbani furono occupati senza pianificazione e sonopoi diventati nuclei di povertà le cui caratteristiche sono, tra le altre, il crescentelivello di violenza, la mancanza di servizi di base, di infrastrutture e l’inadeguatezzadelle costruzioni. Generalmente, la scolarizzazione è bassa, gli abitanti sono moltoinsicuri rispetto alla proprietà del terreno, hanno difficoltà di inserimento sulmercato del lavoro, hanno una salute cagionevole e la partecipazione alla vita dellacomunità è precaria, insomma sono soggetti altamente vulnerabiliIl Planalto II fu formato da molte famiglie che occupavano l’area centraledella città a partire dalla sua fondazione e da altre che vi si erano insediate apartire dal “boom” della crescita della popolazione provocato dall’installazionedell’industria Usiminas, negli anni 60. In quell’epoca, un grande numero dipersone e famiglie fu attratto dalla possibilità di ottenere un posto di lavoro,provocando cosí una crescita disordinata dell’area centrale della città. Si verificòcosí il rapido passaggio da una città con caratteristiche e costumi ancora ruraliad una cultura piú urbana.


118 •POVERTÀ E PATRIMONIOPer affrontare questa situazione, il Municipio di Ipatinga – PMI – stavarealizzando un insieme di Programmi per migliorare la situazione urbana, traquesti evidenziamo il programma di intervento nell’area centrale della città,“Programa Novo Centro”, finanziato dal PROGRAMA SOMMA, con l’obiettivo dirimuovere l’occupazione irregolare nella parte bassa della città, specialmente lapopolazione residente ai margini del fiume Ipanema 18 . Tali programmi diederoorigine alla costruzione del quartiere Planalto II, destinato alle famiglieprovenienti dalla parte bassa della città.Questa popolazione, stabilitasi nel Planalto II, presentava un insieme difattori che rendeva i suoi abitanti molto vulnerabili: occupavano aree soggette adinondazioni lungo il fiume Ipanema, in abitazioni di bassa qualità la cui rimozioneera necessaria per una nuova urbanizzazione del centro della città; dal punto divista sociale, si configurava una situazione critica che coinvolgeva prostituzione,uso di alcool e droghe, disoccupazione, basso livello di scolarizzazione e precariecondizioni di salute. Evidentemente esistevano, anche se fragili, alcuni legami tragli abitanti che vivevano nella stessa strada, nello stesso vicolo, ma il gruppo checostituí la comunità del Planalto II, ancora non si configurava nella sue essenzacome una comunità, poichè si trattava di gruppi differenti, la maggior parte diloro viveva solo situazioni di vulnerabilità molto simili.Ristabilitisi nel Planalto II, con un totale di 600 abitazioni, gli abitantifurono nuovamente divisi in due gruppi: il gruppo dei proprietari (300 abitazionidi cui i nuclei famigliari possedevano immobili nell’area toccata dal Projeto NovoCentro), e altre 300 abitazioni le cui case furono costruite in un regime dimutirão (n.d.t.: aiuto gratuito che le persone si danno reciprocamente ma di cuiuno solo è il beneficiario), per quegli abitanti che risiedevano nell’area delprogetto, ma che non erano proprietari di immobili.Dal punto di vista sociale, i pochi e fragili lacci (probabilmente costruiti daibisogni) che legavano in qualche modo le persone che abitavano vicine primadella rimozione, diventarono ancora piú fragili o in molti casi furono distruttidando origine all’isolamento in alcuni casi e a relazioni conflittuali in altri casi.Trovo che sia assurdo parlare della costruzione di due chiese, questo ècome se fosse un solo quartiere, ma ora rimangono solo dei gruppetti(parla un’abitante del Planalto in un incontro di ricerca qualitativa,criticando altri abitanti che difendevano la creazione di una chiesa per18“Il progetto Novo Centro, concluso nel 1997, fu il maggior programma delle opere del progetto SOMMA in Minas Geraise oggi é indicato dalla Banca Mondiale come riferimento per progetti simille in America Latina”. Il progetto ha avuto unfinanziamento di US$ 3 milioni con una parternship tra il Bird e il Governo dello Stato. (Fontehttp://www.ipatinga.mg.gov.br).


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 119chi aveva costruito in regime di mutirão e un’altra per la parte deiproprietari).Quando ci trasferimmo nel Planalto, fu come se ci fosse un trattore chesradicava tutte le case della mia via e le ricollocava qui nel Planalto,nessuno ha cambiato posto, ma oggi, sembra che nessuno piú siconosca, nessuno parla piú con nessuno... (parla un abitante delPlanalto II, durante un incontro di ricerca qualitativa, affermando chele relazioni esistenti tra gli abitanti della sua strada si erano perse dopoil trasferimento).Quando c’era il mutirão tutti venivano qui perchè volevano avere unacasa; dopo averla avuta, ognuno è andato a casa sua ed è come se piúnessuno si conoscesse (parla un’abitante del Planalto durante unincontro di ricerca qualitativa, commentando l’isolamento degli abitantidopo aver ricevuto la casa).Le famiglie che integrarono la comunità del Planalto II non erano dal puntodi vista storico e socio-culturale ciò che si potrebbe denominare immediatamenteuna comunità, benchè il Projeto Novo Centro le considerasse in funzionedell’occupazione di una stessa area geografica come “la comunità del Planalto II”.Azioni Anteriori al ProgettoNel 1997 fu firmata la prima convenzione tra il Municipio di Ipatinga,l’AVSI e la CDM, una cooperazione tecnica e finanziaria che si sviluppò tra il1997 e il 1998 (nella 1ª fase), con lo scopo di sviluppare direttive perl’elaborazione di un piano di interventi contro la povertà urbana nella città. Ilprocesso, insieme al Municipio, includeva la qualificazione di tecnici per laconoscenza, l’approccio e gli interventi sulla povertà urbana nelle Aree di SpecialeInteresse Sociale (AEIS) e l’elaborazione di un progetto di finanziamento.Per raggiungere le mete stabilite dalla convenzione furono realizzate leseguenti attività:1. Il Corso di Perfezionamento, Sviluppo e Amministrazione di Programmi per laRiduzione della Povertà Urbana.Il fenomeno della povertà nelle aree urbane è caratterizzato da molteplici fattori eimplicazioni socio-economiche e fisico-ambientali, pertanto per affrontarlo ènecessario pianificare con molta attenzione azioni multisettoriali che abbianoefficacia a medio e lungo termine. Questa fu la premessa che orientò il Corso diPerfezionamento per 30 tecnici e amministratori del Municipio appartenenti avarie segreterie, con il quale furono qualificati a elaborare e amministrare pianiintegrati di intervento per la lotta alla povertà urbana.


120 •POVERTÀ E PATRIMONIO2. Diagnostico e Direttive di Intervento.Secondo la metodologia di intervento si definí che l’approccio alla povertà urbananella città sarebbe stato fatto a partire dall’analisi del patrimonio, cercando diidentificare la vulnerabilità maggiore o minore delle persone e della comunità. Laricerca fu realizzata in ventisei aree considerate come Aree di Speciale InteresseSociale che stavano costituendo una sfida per il Municipio 19 , che dava priorità eaiuto graduale alla popolazione piú bisognosa attraverso programmi comunali. Illavoro di diagnostico era volto a conoscere meglio la realtà di quelle persone, performulare programmi pubblici, integrandoli nella città. I dati e le informazionifurono raccolti sul campo attraverso:¬ RITRATTO DELLA COMUNITÀ: Fu realizzata una ricerca campioneintitolata “CONVIDA” (Condizioni di Vita della Popolazione) con 850interviste per l’elaborazione del diagnostico della situazione di vita dellecomunità delle aree di speciale interesse sociale della città. Leinformazioni raccolte composero la banca dati con riferimenti geograficiche permisero di visualizzare i problemi che affliggevano la popolazione ele soluzioni messe in atto;¬ INFORMAZIONI DEI SERVIZI PUBBLICI: Le segreterie della Sanità edell’Istruzione fornirono le informazioni sui programmi in corso e i servizida loro offerti. Il sistema GIS (Sistema di Informazioni Geografiche) feceuna relazione geografica di quei servizi e programmi per analizzarli nellaloro efficienza e efficacia rispetto alle domande delle comunità carenti sullequali era stata fatta la ricerca;¬ INFORMAZIONI GEOGRAFICHE: Si formulò una rappresentazionegeografica di tutti i dati raccolti utilizzando come base cartografica laraccolta aerofotogrammetrica delle città fornita dalla DATASERV (settore diinformatica della PMI) e dalla sezione amministrativa dei quartieri delleregionali.Una volta completato il sistema di informazioni e basandoci sui prodotti,cartine, tabelle e grafici, elaborammo l’analisi della povertà nella città neldocumento “Ritratto della Povertà Urbana di Ipatinga. Direttive per laRiduzione”, che conteneva il diagnostico e le direttive di intervento contro lapovertà nelle AEIS oggetto della ricerca. 2019Le Aree di Speciale Interesse Sociale sono caratterizzate per la loro forma omogenea e occupate da popolazione conbassissimo reddito famigliare, compreso tra 0 e 3 salari minimi.20L’elaborazione del documento “Ritratto della povertà urbana di Ipatinga. Direttive per la Riduzione” ha contribuito conl’amminstrazione comunale all’iscrizione al Programma Habitat BID – Programma Vivere Meglio; gli studi iniziali e i datisono stati usatii nell’elaborazione del documento che doveva essere presentato per l’approvazione del finanziamento. Ilfatto che la PMI abbia iniziato tali studi nel momento in cui le risorse del BID erano disponibili fece sì che la città fossela prima città dello Stato ad avere il finanziamento del programma Habitar Brasil/BID.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 1213. Progetto di Postoccupazione.Il passo seguente della formazione è consistito nella costruzione di unprogetto pilota per un intervento integrato contro la povertà urbana nell’areaprescelta, il Planalto II, che doveva servire come base per la moltiplicazionedel processo nelle altre aree povere della città. La popolazione del Planalto IIè stata scelta come oggetto del progetto perchè, pur essendo stata oggetto diun intervento dal punto di vista urbanistico, con la costruzione di case, avevala necessità di un programma che intervenisse sugli altri elementi delpatrimonio rimasti senza la dovuta attenzione. Considerando infatti il concettodi povertà a partire dall’analisi del patrimonio, un intervento solo sulleabitazioni non affrontava integralmente la situazione di povertà di quellepersone. Attraverso la ricerca quantitativa e qualitativa, si iniziava il primopasso di conoscenza insieme a quella comunità. Tutti i dati e le informazioniraccolte, cosí come i contatti con gli abitanti e gli attori locali, sono statifondamentali per capire i fattori di maggior vulnerabilità delle persone diquella comunità, nel tratti materiali, umani e sociali. L’incontro iniziale con gliabitanti ha reso possibile la comprensione di alcuni aspetti: il quotidiano dellacomunità, il profilo degli abitanti e dei suoi leader, le relazioni ingarbugliate olineari in seno alla comunità, come le persone si muovevano di fronte allarealtà della loro vita. I contatti, in occasione delle ricerche, lasciavanoprevedere un’apertura per un lavoro da fare insieme, alcuni arrivarono persinoad esprimere l’augurio che il lavoro sociale sviluppato con loro con lacostruzione delle case mutirão si potesse ripetere.Le direttive indicate hanno integrato il testo del progetto dipostoccupazione per il Planalto II, denominato allora Progetto di Rafforzamentodella Comunità del Planalto II, inoltrato al Ministero degli Affari Esteri – MAE,del Governo Italiano, per ottenere il finanziamento. Il progetto si proponeva dirafforzare la comunità beneficiata dal programma di reinsediamento, garantendola stabilità dell’incremento fatto in relazione al patrimonio, all’habitat e allosviluppo delle altre componenti del patrimonio di quella popolazione, utilizzandouna metodologia di intervento integrata contro la povertà urbana. Essendo statoapprovato nel settembre del 1999, il progetto è stato implementato nello stessoanno.


Percorso delle Azioni rivolte alla Riduzione della Povertà Urbana nella Città di IpatingaCorso su come intervenire per laRiduzione della Povertà Urbananella città di IpatingaStudio della Povertà nella Città:Tappa di conosccenzaElaborazione di direttivedi piani municipali di riduzionedella povertàGerarchizzazione di aree infunzione del criteri per ilProgramma Habitar Brasil-BID.Inizio della Implementazionedel Progetto¬ Qualificazione di tecnici eamministratori per studiare formedi approccio della povertà urbana.Modulo I: approccio alla problematicadella povertà urbana, metodi diintervento e le forme di partecipazionedelle comunità. Sono stati presentatistudi di casi brasiliani e del PGU(Programma di Gestione Urbana) dellaBanca Mondiale; esperienze dimicrocredito (Banco do Povo); metodi estrumenti usati nel processo diintegrazione urbana; esperienza dellaCDM/AVSI in urbanizzazione di favelasin Belo Horizonte - MG e in Salvador -BA. Completando il primo modulo sonostati presentati i programmi dipromozione sociale, sviluppati dalMunicipio di Ipatinga, nel campo dellasanità, istruzione, edilizia e ambiente.¬ Definizione delle 26 aree cheavrebbero integrato lo studio sullapovertà nella città.¬ Definizione, conforme alloapproccio della povertà definita, distrumenti adeguati alla lettura dellapovertà nella città.¬ Preparazione delle èquipe perrealizzare la raccolta dei dati.¬ Contatto con le comunità emobilitazione per le ricerche.¬ Realizzazione delle ricerche nellecomunità.¬ Elaborazione di un progetto pilota diazioni integrate contro la povertà eavvio del progetto per ottenere ilfinanziamento.¬ Trattamento dei dati rilevati.¬ Definizione degli indicatori daessere valutare.¬ Geo-Processo dei dati.¬ Elaborazione dei diagnostici deidati.¬ Definizione delle direttive diintervento contro la povertà nellacittà.¬ Assistenza al Municipio perl'elaborazione di strumenti disupporto all'elaborazione di progettiper l'intervento nelle aree poveredella città a partire dalle direttivedi intervento contro la povertà nellaCittà:¬ Documento di Gerarchizzazionedella povertà nella città.¬ Ripresa del percorso di lavoro sullapovertà nella città.¬ Rappresentazione del progetto allaèquipe del Municipio.¬ Definizione della èquipe di gestionee dei tecnici e segreterie perlavorare nel progetto.¬ Definizione delle direttricimetodologiche.¬ Firma di una convenzionecooperazione tra AVSI, CDM e PMI.¬ Contatto iniziale con la comunità.¬ Presentazione del progetto allacomunità e attori sociali presenti.¬ Implementazione delle azioni.Modulo II: è stato dedicato ai tecniciche avrebbero utilizzato gli strumentiinformatici. Sono state date lezionisulla Banca Dati, di Semiologia graficae dei Software: Mapinfow e AUTOCAD.Oltre alle lezioni, i tecnici hanno potutofare uno stage alle dipendenze dellaCDM lavorando con i propri dati rilevatia Ipatinga.¬ Studio di strumenti per intervenirecontro la povertà esistente nellacittà (a partire dagli elementi delpatrimonio).


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 123La situazione Iniziale degli Elementi del Patrimonio della Comunità delPlanalto IIDefinito l’approccio con il quale sarebbe stato analizzata la povertà nellacittà, sono state realizzate varie analisi sulla situazione di ogni fattore delpatrimonio delle persone nel quartiere Planalto II. Le informazioni checostituiscono questo ritratto iniziale della comunità sono relative al momentodell’elaborazione del progetto nel 1997 e ad alcune alterazioni identificate nel1999, anno in cui il progetto iniziò ad essere sviluppato. Presentiamo di seguitoi dati piú rilevanti com il proposito di discutere il progetto realizzato e icambiamenti nella comunità sorti a partire da tali interventi. Per una migliorcomprensione della situazione iniziale della comunità si veda l’allegato 1.Capitale SocialeEsisteva nella comunità, nel 1997, una capacità organizzativa moltodebole, centrata su una leadership chiamata “il presidente del quartiere”;nonostante il nome, era una leadership poco rappresentativa e non riusciva asmuovere ed organizzare la comunità per affrontare i principali problemi vissutidagli abitanti. C’era una carenza di servizi urbani nel quartiere e un difficileaccesso ad alcuni servizi pubblici nei quartieri vicini. La ricerca indicò che nel79% delle famiglie non c’era alcun coinvolgimento con l’Associazione degliabitanti; il 74% ha dichiarato che non era coinvolto in nessun tipo di attività dicarattere comunitario. Nonostante l’esigua rappresentanza dell’associazione degliabitanti, nel 52% delle abitazioni oggetto della ricerca, si riconobbe che lerivendicazioni per il miglioramento del quartiere erano state fatte attraversoquesta istituzione comunitaria. Nella comunità c’era un alto livello diframmentazione, una mancanza di fiducia in quello che il gruppo poteva fare euna mancanza di orientamento rispetto a ciò che si doveva affrontare. Era piccolala vivenza di un’esperienza di partecipazione, non solo rispetto al voto, marispetto al prendere parte di determinate decisioni che influiscono sulla vita, siaassumendo responsabilità e usufruendo dei benefici, sia assumendo leconseguenze delle decisioni.Delle risorse fisiche riconosciute dagli abitanti come spazio formale diriferimento per le attività comunitarie fu nominata la casa sociale 21 nel Planalto,come la piú rappresentativa,citata infatti dal 31% degli abitanti intervistati; la“creche” 22 ; la casa del presidente del quartiere o di altri membri dell’associazionee le scuole sono state citate dal 34% degli intervistati. La ricerca qualitativa ha21Casa Sociale: Casa costruita nell’epoca del mutirão della costruzione delle case e destinate ad attività sociali (corsi,laboratori, riunioni, ecc.) insieme alla comunità.22Creche: corrispondente di Asilo Nido e Scuola Materna.


124 •POVERTÀ E PATRIMONIOidentificato una grande domanda per un’area di divertimento, un’area di usocollettivo e aree verdi nella comunità. Chiedevano anche un lavoro di educazioneambientale da svolgere insieme agli abitanti, visto che le aree che potevanoessere destinate a tale scopo erano completamente inquinate e trascurate, nelcaso dei laghi, o con restrizione d’uso, nel caso del campo di calcio del Veneza– che nonostante avesse il nome del quartiere vicino si trovava all’interno delPlanalto II.La ricerca mostrò la posizione della comunità rispetto alla sicurezza degliabitanti all’interno della propria comunità e rispetto all’offerta dei servizi disicurezza e di controllo della polizia. La maggior parte; degli abitanti intervistati,il 62%, affermò che la comunità aveva problemi di sicurezza. Tra i casi piú citati:furti per il 42,8%; coinvolgimento per droghe per il 16%; stessa percentuale perliti di strada e ancora il 6% per violenza, stupri e mancanza di controllo dellapolizia. C’era da parte del 49% degli abitanti la protesta che il quartiereusufruisse soltanto sporadicamente del servizio di polizia.La popolazione di Ipatinga, rispetto agli abitanti del Planalto II, mostravaum preconcetto che oltre ad escludere gli abitanti di questa comunità dallapossibilità di inserimento sul mercato del lavoro, aveva delle conseguenzesull’autostima delle persone che si sentivano incapaci ed emarginate dallasocietà, escluse anche dai rapporti con le persone. Questa sfiducia degli altri neiloro confronti, si trasformava in sfiducia tra loro, rafforzando la frammentazionedella comunità.La rete di appoggio e di servizi della comunità del Planalto II era, nei primianni di insediamento di quella comunità ridotta. I servizi erano localizzati neidintorni del quartiere, non c’era una scuola che servisse direttamente lacomunità e neanche un servizio sanitario di base nelle vicinanze. La creche,costruita durante il mutirão, era chiusa e abbastanza danneggiata, la casasociale, sorta nella stessa epoca, realizzava ancora alcune attività come corsi, manon piú con la stessa intensità dell’epoca del mutirão; l’Associazione degliabitanti, senza sede, non mostrava grande capacità organizzativa nella comunitàe neanche la capacità di chiamare altri attori per intervenirvi.La situazione nel 1999, anno in cui è iniziata l’implementazione delprogetto, si differenziava poco da quella descritta: la casa sociale era chiusa enon sviluppava piú attività sociali per gli abitanti; i servizi sociali e di appoggiosi erano leggermente ampliati, ma lavoravano in modo isolato senza scambi traloro, nonostante servissero gli stessi utenti; molti offrivano i loro servizi ma senzacoinvolgersi con uno sviluppo piú globale della comunità. Era stata costruita lascuola comunale Paulo Freire, la creche era stata ristrutturata e stavafunzionando, era stata costruita un’unità sanitaria nel quartiere Veneza, vicino alPlanalto II. Per quanto riguarda gli attori comunitari era no stati creati


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 125un’associazione di abitanti adolescenti, un gruppo di agenti sanitari di minoreetà, un gruppo di madri della creche e il Gruppo delle Donne Emarginate che,creato all’epoca del mutirão, si era riunito per dare sostegno alle altre donne dellacomunità. L’amministrazione pubblica era rappresentata dalle segreteriedell’Istruzione, della Sanità e dell’Edilizia – quest’ultima stava realizzando unmonitoraggio della situazione delle abitazioni e dell’occupazione nel quartiere.C’era anche una ONG locale, l’ARCA di Noè, che iniziava a organizzare corsi diqualificazione professionale per gli abitanti della comunità.Relazioni familiariNei nuclei familiari, i cui capifamiglia erano sposati, prevaleva nel 73% deicasi l’assunzione della responsabilità da parte degli uomini, negli altri erano ledonne che l’assumevano. Il fatto che le famiglie avessero una struttura instabilee molte fossero mantenute e gestite dalle donne, aveva un peso nel contesto diquesta comunità. Oltre al basso livello di scolarità, alla poca qualificazione, allasottoccupazione e ai salari bassi, fattori comuni nelle aree di concentrazione dellapovertà, c’era un aggravante in relazione alle donne del Planalto II: essendooriunde della zona disgregata e della prostituzione della città di Ipatinga, moltedi loro, anche se trasferitesi nel Planalto II e pur cercando una nuovaoccupazione, per il fatto di non avere un marito, continuavano ad essere trattatecome prostitute e avevano una grande difficoltà a conseguire qualsiasi tipo dilavoro. La condizione socioeconomica era abbastanza instabile: i redditi bassialleati ad un numero elevato di componenti delle famiglie e a un esiguo numerodi persone che lavoravano come sostegno familiare, alzava l’indice di dipendenzaeconomica domiciliare.EducazioneIl basso livello d’istruzione era stato confermato dalle ricerche realizzatecon gli abitanti del Planalto II che avevano evidenziato che nessuna persona dellacomunità era riuscita ad arrivare all’università. Il secondo grado era statoraggiunto soltanto dal 5,51% degli abitanti. La gran parte, corrispondente al63,98% delle persone, non oltrepassava il primo grado. L’indice di analfabetismoera abbastanza elevato, quasi il 10,5%, concentrato nella popolazione in etàsuperiore ai 25 anni. Era evidente che gli abitanti del Planalto II abbandonavanola scuola molto presto senza concludere l’insegnamento primario, fatto questoconfermato dal livello di scolarità degli abitanti. Un altro indice interessanterilevato era il numero delle persone, tra i 7 e i 20 anni, che avevano giàabbandonato la scuola all’epoca della ricerca: il Planalto II presentava all’internodelle varie aree povere della città uno dei maggiori indici, circa il 22% dellepersone in quella fascia d’età. Altro problema serio era il ritardo scolastico, ossiail numero degli alunni che presentavano uno sfasamento tra l’età e la classefrequentata, la percentuale di coloro che presentavano ritardo scolastico


126 •POVERTÀ E PATRIMONIOraggiungeva il 26% degli alunni. Chiedendo ad alcuni genitori di commentarequesti indicatori, vari imputavano gran parte dei problemi ai propri figli che,secondo gli stessi, sarebbero stati disinteressati o con difficoltà diapprendimento; anche la mancanza di partecipazione molto reclamata daglieducatori, era stata ampliamente confermata dall’80% delle famiglie cheavevano detto di non partecipare in alcun modo della vita scolastica dei proprifigli; solo il 20% disse di partecipare attivamente alla vita scolastica dei figli,accompagnandoli a scuola, aiutandoli a eseguire i compiti o partecipando alleattività pedagogiche. L’avvicinamento famiglia-scuola è stata una delle lineeeducative poste come obiettivo durante il corso del progetto.I programmi del Municipio per il recupero di classi e l’istruzione di giovanie adulti (DESAFIO e MOVA) non erano molto conosciuti; solo nel 24% delle case,oggetto di indagine, gli abitanti hanno affermato di conoscerli, nel 16% c’eranopersone che vi avevano già partecipato o che stavano partecipando al MOVA, lamedesima percentuale di alunni che frequentavano il “supletivo”. Essendoquesto un programma vincolato all’insegnamento regolare, garantiva unamaggior partecipazione degli abitanti nelle scuole dove studiavano, cosí nel 50%delle abitazioni c’erano alunni che partecipavano a quel programma. Nel 1999nello scenario dell’istruzione avvennero delle alterazioni: ci fu l’implementazionedella scuola municipale Paulo Freire e i programmi educazionali, Desafio e Mova,furono estesi al quartiere.LavoroLa comunità del Planalto II presentava un indice del 32,6% di persone chelavoravano e il 7,1% di persone disoccupate. Tra quelle che stavano lavorando,solo il 15,7% aveva una stabilità, ossia, lavorava con il libretto di lavoro, il 32%aveva un contratto di lavoro a tempo determinato e il 52% faceva attivitàsporadiche, senza vincoli formali, libretto di lavoro o contratti firmati; questo fattocontribuiva a nascondere il reale tasso di disoccupazione nella comunità, oltre aaumentare la vulnerabilità dei nuclei familiari di questi lavoratori.Oltre alle questioni congiunturali che difficoltavano l’accesso al mercato dellavoro, la popolazione in età attiva del Planalto II presentava due serie aggravanti.La prima riguardava il livello di scolarità dei lavoratori che era molto bassa, il 72%dei disoccupati non oltrepassava il primo grado, il 28% di loro possedeva solo illivello primario di scolarità e solo l’11% era riuscito ad arrivare al secondo grado.Il secondo aspetto che difficoltava era che la forza lavoro del Planalto II eracomposta nella sua maggioranza da lavoratori con poca o nessuna qualificaprofessionale: lavoratori a ore, custodi, manovali, domestici, sorveglianti ecc.Fu evidenziata una bassa predisposizione degli abitanti per un’attività inproprio. In termini di percentuale, esistevano nel Planalto II nel 1997, il 9% di


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 127lavoratori autonomi. Tra quelli che avevano una propria attività, si è osservatoche le condizioni erano molto deboli dal punto di vista economico, gestionale edella struttura fisica.SanitàUna questione di rilievo riguardante la salute concerneva la propriaconcezione di salute e gli atteggiamenti di cura. I dati presentati mostravano chenella comunità del Planalto II la salute era pensata sotto il prisma della malattia,curata come un qualcosa di fastidioso. Fu constatato all’epoca che ci si rivolgevaal sistema sanitario nell’81% dei casi, nelle situazioni di emergenza. Soltanto il17% degli intervistati affermava di ricorrere ai servizi pubblici sanitari per laprevenzione. Altre modalità di cura identificate dagli abitanti erano forme diautomedicazione e di medicina alternativa.Quanto al quadro epidemiologico, le malattie piú frequenti tra gli adultierano malattie respiratorie per il 17,5%, seguite da ipertensione per il 12,5% edepressione per il 10%. Tra la popolazione infantile, nel 32% delle famiglie,c’erano casi di malattie respiratorie (influenze, laringiti e faringiti), seguite daparassitosi citate nel 25% e bronchiti nel 21% delle famiglie. Altre malattie comediarrea per bambini, diabete, alcolismo, polmonite per gli adulti sono state citatema con indici minori. Le discussioni sulle principali malattie nella comunità, leloro cause e le forme per controllare o eliminare il problema, sono entrate a farparte del progetto con il lavoro di un gruppo di abitanti e di agenti volontarisanitari.L’accesso ai servizi sanitari era difficoltoso a causa dell’assenza di un’unitàsanitaria nella comunità o nelle vicinanze, obbligando la maggior parte degliabitanti, (72%), a spostarsi fino all’Unità Sanitaria del Centro. L’11% andava alPronto Soccorso Municipale e l’8% all’Unità Sanitaria Canaã.Nello scenario della situazione sanitaria nel 1999, si verificò che l’accessoai servizi sanitari fu facilitato dalla costruzione dell’unità sanitaria nel quartiereVeneza, vicino al Planalto II. Nonostante ci fossero agenti volontari sanitari nelquartiere, questi non avevano formazione, orientamento e strumenti adeguati cheli aiutassero ad affrontare i problemi sanitari della comunità, anche semostravano grande interesse e disponibilità. Altra risorsa identificata nell’annodell’implementazione del progetto, fu il gruppo di agenti sanitari Mirim, creatocon il proposito di aiutare la comuntà a riflettere sulle questioni relative alla lorosalute e su come prevenire le malattie.Condizioni ambientaliLe case costruite nel quartiere Planalto II possedevano un’infrastrutturabasica completa (acqua, luce, fognature) e costituivano il patrimonio piú forte


128 •POVERTÀ E PATRIMONIOdella comunità in quel momento. Nonostante fosse localizzato un un’area bella,il quartiere presentava dal punto di vista fisico-ambientale alcuni piccoliproblemi: si rendeva necessario un intervento urbanistico per impedire che leacque della pioggia che scendevano dai pendii arrivassero fino alle caselocalizzate nelle vicinanze, creando dei rischi per gli abitanti e danni alleabitazioni. Per questo problema si costruirono dei piccoli canali per condurrel’acqua dai pendii fino alla parte bassa, sfociando in uno dei laghi esistenti nellacomunità. Quest’opera doveva essere, fin dall’inizio del progetto, il punto dipartenza per la discussione con gli abitanti sugli interventi nella comunità, la loroimportanza, le forme di coinvolgimento della comunità e di preservazionedell’ambiente. Questa discussione aprì le porte ad un dialogo permanente con lacomunità durante tutta la durata del progetto.Il secondo aspetto ambientale che meritava attenzione erano i laghi.Esistevano nella comunità tre piccoli laghi molto degradati che richiedevano unintervento di riqualificazione perchè diventassero di fatto una risorsa per lacomunità e non una fonte di problemi come la trasmissione di malattie.Nonostante il livello di urbanizzazione, in alcune parti del quartiere c’erano alcuniluoghi di raccolta di immondizia che richiedevano un intervento. Infine, i pendiiattorno al quartiere avevano bisogno in quasi tutta la loro estensione di interventidi arborizzazione per evitare l’erosione del suolo o l’occupazione irregolare didette aree.Obiettivi e RisultatiCome primo obiettivo il progetto mirava a contribuire al miglioramentodelle condizioni di vita della comunità, senza pretendere di risolvere i problemiindicati nella descrizione iniziale, non solo perchè il tempo previsto dagliinterventi era insufficiente, ma anche perchè dipendevano da un contesto legatoallo scenario nazionale sociopolitico ed economico. Cercammo di favorire deiprocessi che permettessero alla comunità di costituire una propria identità cheavrebbe aiutato ad assumere un atteggiamento responsabile di fronte allesituazioni che dovevano essere risolte gradativamente con il coinvolgimento ditutti. Cercammo inoltre di facilitare l’accesso al quartiere, ai servizi della città(istruzione, sanità, lavoro ecc) integrando quella comunità appena formata, esoprattutto i gruppi vulnerabili, al rimanente scenario urbano.Per raggiungere questo primo obiettivo, sono stati definiti i quattro primirisultati del progetto: Rafforzamento della comunità, Recupero scolare degliAdolescenti e Alfabetizzazione di Adulti, Incremento di Lavoro e Reddito eintegrazione nel Mercato del Lavoro e infine Aumento dell’Accesso ai ServiziSanitari di Base ed Educazione Ambientale. La definizione dei quattro primirisultati del progetto si riferisce ai problemi piú evidenti vissuti dagli abitanti delPlanalto II.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 129Il secondo obiettivo riguarda la qualificazione del personale amministrativodel municipio locale e la definizione della metodologia e degli strumenti adeguatiper affrontare la povertà, entrando negli aspetti specifici. Questo avrebbepermesso la continuità della qualificazione realizzata nella convenzioneprecedente. Nel secondo obiettivo, devono essere aggregati i risultati già raggiuntiattraverso il percorso rivolto alla comprensione della povertà e gli interventicontro la povertà urbana nella città di Ipatinga durante i lavori già realizzati. 23Nonostante ci sia stato un intervallo tra la fase della conoscenza e dellapianificazione di interventi contro la povertà nella città e questa fase di interventopilota di un progetto integrato contro la povertà, il progetto del Planalto IIrappresenta questa sequenza nel percorso rivolto alla riduzione della povertàurbana nella città di Ipatinga.Pertanto, il progetto è stato strutturato nei suoi obiettivi, risultati ed attivitàper raggiungere delle mete a tre livelli:1. Rafforzare la comunità nel suo insieme;2. Rafforzare le persone in grado di continuare ad aiutare lo sviluppo dellacomunità;3. Rafforzare gruppi specifici che si trovavano in una situazione di maggiorevulnerabilità.Risultato A: Rafforzamento dell’Identità della ComunitàL’assenza di identità con il nuovo spazio e i dintorni, i legami sociali fragilie/o frammentari, tra abitanti le leadership poco rappresentative e pocoorganizzate a livello comunitario, i conflitti sociali, l’alcolismo e le droghecostituivano, come abbiamo già visto, i principali problemi della comunità. Nellostesso tempo verificammo risorse presenti nella propria comunità: le personerispondevano positivamente ai momenti collettivi e esprimevano il desiderio dimutare, attraverso richieste di aiuto, l’organizzazione della comunità; giàesistevano creatività e talenti, anche se nascosti ed isolati in ogni abitazione.L’esistenza di un insieme di attori intermediari che già attuavano in quell’areafacilitava la proposta di un lavoro integrato.Per sviluppare questo risultato, era necessario affrontare con gli abitantidel Planalto II il tema dell’identità, in relazione allo spazio, in relazione al gruppoe in relazione a se stessi (o a una identità personale). Per l’identità in relazioneallo spazio si trattava di avviare un processo di identificazione con lo spaziofisico, con le case, con le attrezzature e gli spazi pubblici, cercando di favorire ilprocesso di appropriazione del quartiere. Sentendo lo spazio come qualcosa di23Vedi Punto 2: “Azioni Anteriori al Progetto” di questo stesso capitolo.


130 •POVERTÀ E PATRIMONIOproprio, le attitudini di attenzione, di preservazione e manutenzione del quartiereavrebbero contribuito non solo con l’habitat ma con il processo di integrazionedella comunità.L’identità in relazione al gruppo si riferiva alla necessità di rafforzare ilegami di solidarietà e la capacità di riconoscersi proprio come una comunità.Infine, l’intervenire sull’identità personale significava contribuire con processiche superassero lo stigma che le persone portavano rispetto al resto della città e cheaveva conseguenze dirette sia sul processo di integrazione sociale, sia sull’immaginee sull’autostima degli abitanti. Questa è stata una grande sfida che ha orientatometodologicamente lo sviluppo del percorso di lavoro che è stato fatto su due frontiche in pratica si incrociavano: con le persone della comunità ed i gruppi organizzatie con gli attori sociali che attuavano nell’area.Le azioni piú concrete, come la costruzione di opere come il parco, lapiazza e il salone comunitario, avevano come motivazione l’aspetto piúfondamentale del lavoro inziale con questa comunità: la riscoperta delle propriecapacità e dei talenti, riscattando l’identità delle persone e cercando di rafforzarel’idea della comunità. Si cercò di lavorare per rafforzare i legami con il nuovospazio abitativo e tra gli abitanti, rafforzando la solidarietà e la responsabilitàpersonale e collettiva.L’operazionalizzazione del primo risultato può essere divisa in quattrograndi blocchi:a. L’incontro con la comunità;b. La costruzione di attrezzature di uso collettivo;c. La creazione di istanze di partecipazione e di un lavoro in congiunto e ilprocesso formativo degli attori sociali coinvolti;d. Le azioni integrate ai risultati del progetto.Risultato B: Recupero Scolastico di Adolescenti e Alfabetizzazione diAdultiNell’intervallo tra la presentazione del progetto al finanziatore e la suaapprovazione si era risposto a molte domande della comunità riguardol’istruzione. Erano stati implementati i programmi d’istruzione come DESAFIO eMOVA e la Scuola Municipale Paulo Freire.Sulla base dello scenario dell’istruzione incontrato al momentodell’implementazione del Progetto, la situazione esigeva altri investimenti piúqualitativi, nel senso di potenzializzare il processo di insegnamento/


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 131apprendimento degli alunni del Planalto II. Secondo professori e direttori discuola, gli alunni continuavano a presentare problemi di apprendimento, dicomportamento e problemi psicologici. Definita una metodologia di lavoro chevalorizzasse gli altri fattori del patrimonio, l’intervento sull’educazione formaledoveva essere attuato nel senso di stimolare gli alunni, ma a partire dalle attivitàche permettessero agli stessi di mostrare le loro capacità, per poi influire suglialtri aspetti.Le ipotesi sulle linee di intervento furono le seguenti:¬ Rispetto agli alunni: la sensibilità artistica, l’abilità sportiva e la facilità diapprendimento pratico che caratterizzavano gli alunni del Planalto II eranoindizi di una possibilità di sviluppo di attività di supporto. Attività di caratteresportivo, artistico, professionalizzante e altre vincolate al progetto potevanoportare in superficie le capacità di affrontare i problemi di apprendimento;¬ Rispetto ai familiari: l’ipotesi era che la realizzazione di attività sociali per lefamiglie avrebbe contribuito a migliorare il processo educazionale degli alunnidel Planalto II, visto che i loro problemi di apprendimento sembravano legati,nella maggior parte dei casi, a difficoltà socioeconomiche che affrontavanonelle loro famiglie. Si volevano aiutare i responsabiliad acquisire un’attenzioneper la vita scolastica del bambino, aiutandoli ad identificare quelle attitudinie quelle attenzioni che potevano offrire ai bambini e che avrebbero favoritol’impegno e il successo scolastico dei figli a scuola;¬ Rispetto ai professionali delle istituzioni educative: si trattava di aiutare aguardare e affrontare i problemi comuni che affrontavano, identificando tantoil problema quanto le possibili cause e le proposte di soluzione.Oltre a ciò si cercava di rispondere ad alcuni bisogni della creche situatanel quartiere: l’ampliamento della struttura fisica avrebbe permesso di aumentareil numero di posti per i bambini del quartiere e di offrire migliori condizioni disviluppo alle attività pedagogiche; la preparazione degli educatori attraversolaboratori di formazione che esaminassero temi specifici del lavoro quotidianoche non venivano affrontati dai programmi di formazione della municipalità.Risultato C: Incremento del Lavoro e del RedditoLa filosofia del progetto che poneva come premessa il recupero delladignità e dei valori umani, in questo risultato, sembrava ancor piú vitale, poichèsi trattava di far sì che le persone in età attiva ritrovassero la fiducia in se stessie potessero credere nelle loro abilità e capacità, soprattutto perchè si trattava diuna popolazione con una bassa scolarizzazione, senza qualificazioneprofessionale che viveva ai margini della grande industria e senza accesso aiposti di lavoro. In questo senso il coinvolgimento di molti lavoratori nelle azionisviluppate dal progetto ha permesso di scoprire il talento di badare alle


132 •POVERTÀ E PATRIMONIOattrezzature collettive, come il parco, ed è servito come motivazione per iniziareun percorso ancora più complesso nel quale diventava necessario identificare leabilità, migliorarle attraverso la qualificazione e mettere nel mercato forza lavoroo prodotti e servizi nel caso di imprenditori autonomi.La prima fase dell’operazionalizzazione di questo risultato del progetto èstata dedicata alla conoscenza, alla raccolta di informazioni, per la definizione didirettive di incremento di lavoro e di reddito che dovevano essere implementate.Prima di pianificare le azioni, si cercò di conoscere ed identificare:¬ Le risorse degli abitanti e le loro condizioni per ottenere un lavoro;¬ Gli strumenti e i programmi disponibili sul mercato;¬ Le opportunità economiche del mercato locale;¬ Gli attori presenti con i quali si potesse stabilire una collaborazione.Mirando alla realizzazione di questo risultato del progetto, sono statefondamentali per il miglioramento delle condizioni di inserimento nel mercato edell’incremento del reddito le seguenti azioni:¬ Formazione Umana che valorizzava e potenzializzava il sapere e il potenzialecreativo di ogni persona;¬ Qualificazione Tecnica al fine di dotare i lavoratori e gli imprenditori delle minimecondizioni che il mercato esigeva;¬ Articolazioni di Collaborazione per inserire lavoratori, prodotti e servizi sulmercato, rompendo cosí le barriere imposte dallo stigma che si portavano gliabitanti del Planalto II.Risultato D: Aumento dell’Accesso ai Servizi Sanitari di Base edEducazione AmbientaleAnche nell’area sanitaria, lo scenario era cambiato per la costruzionepianificata di un’unità sanitaria. Anche in questo caso siamo partiti dal principioche l’offerta del servizio non si attua automaticamente con l’accesso allo stesso,ma ha soprattutto a che vedere con l’educazione della popolazione per l’attenzionerivolta alla salute. 24 Si è attuata una metodologia coerente con la logica che stavaregolando tutte le altre linee delle azioni del progetto: conoscere ed identificare ledomande, i problemi di salute affrontati dalla popolazione e le risorse a24Durante le visite alle scuole della località, ci furono testimonianze di professionali dell’educazione che riferirono lamancanza di attenzione verso la salute della popolazione del Planalto II, utilizzando como spiegazione il fatto di non avereaccesso ai servizi sanitari, anche se offerti con una buona qualità e grande disponibilità.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 133disposizione per affrontarli, comprendendo se di fatto la risorsa disponibile fosseaccessibile a tutte le famiglie della comunità.Considerando la poca preoccupazione con le attività quotidiane diprevenzione da parte della popolazione e l’esistenza di iniziative degli attori localirivolte ad aiutare gli abitanti a pensare alla propria salute, si decise di lavoraresu tre direttive:¬ la prima, sviluppando con gli abitanti un percorso educativo che passasseattraverso la discussione dei problemi di salute e l’identificazione delle causee di misure preventive quando si trattasse di cause controllabili, aiutandonella comprensione della rete di servizi di appoggio esistenti e nella migliorforma per accedervi;¬ la seconda direttiva di lavoro era rivolta alla potenzializzazione del lavoro degliattori che erano già coinvolti con la sanità nella comunità, come il Centro diSalute e il Gruppo di Agenti Sanitari Mirins;¬ la terza realizzando azioni sanitarie, come parte del processo formativo, erivolte ad affrontare alcuni problemi di salute vissuti dagli abitanti del quartiere.Pertanto, per raggiungere il risultato di “Aumento dell’Accesso al ServizioSanitario di Base ed Educazione Ambientale”, è stato definito un percorsoformativo insieme alla comunità e agli attori sociali che lavoravano nel camposanitario, con l’intento che il problema della salute potesse essere affrontato datutti. Comprendendo che le questioni di salute dovevano essere pensate inrelazione congiunta con altri aspetti come l’habitat, l’ambiente e l’educazionesono state definite azioni integrate che avevano un legame diretto con la salute.L’altra linea di azioni relative alla realizzazione di questo risultato delprogetto era riferita alla questione ambientale. Considerando i problemiambientali del quartiere, ma anche la ricchezza delle risorse esistenti, lanecessaria ed effettiva integrazione delle attività di educazione ambientale allealtre già in atto nel progetto, soprattutto la sanità e l’organizzazione comunitaria,si defini che le attività dovevano aiutare l’identificazione degli aspetti diconfigurazione ambientale della comunità che interessavano la salute, per poicercare soluzioni insieme agli altri attori e agli abitanti della comunità.Ha prevalso nella definizione del percorso per lo sviluppo di questorisultato la seguente logica: l’identificazione delle cause dei problemi di salute,l’individuazione delle risposte della propria comunità e della rete di appoggio,l’inizio del lavoro di rafforzamento delle azioni degli attori e dell’intercambio traloro, l’avvicinamento dei servizi sanitari della popolazione e la realizzazione diazioni per affrontare alcuni problemi indicati. Nella sequenza del progetto si ècercato di approfondire la qualificazione tecnica di un gruppo di attori permigliorare la qualità della risposta alle necessità della popolazione. Rispetto alla


134 •POVERTÀ E PATRIMONIOquestione ambientale si è optato per l’integrazione trasversale delle attività dieducazione ambientale alle altre attività in sviluppo del progetto, credendo chequesta integrazione avrebbe permesso di raggiungere risultati piú duraturi.Quadro LogicoIl Quadro Logico “è uno strumento di gestione di ogni fase del ciclo delprogetto ed è lo ‘strumento maestro’ a partire dal quale si elaborano altristrumenti, come ad esempio il calendario di esecuzione e il piano dimonitoraggio.” 25 Con questo strumento sono presentati in forma sintetica e logicagli obiettivi del progetto, i risultati che permettono di raggiungere gli obiettivi e leattività eseguite al fine di raggiungere ogni risultato. Attraverso il Quadro Logicosono visualizzate tutte le attività sviluppate nel progetto, rispettando la cronologiadi ogni fase di sviluppo.Le attività elencate nel Quadro Logico che presentiamo seguono una logicatemporale, dividiamo il progetto in tre fasi: Fase Iniziale, Fase di Implementazione(suddivisa in tre momenti: Costruzione di Opere, Pianificazione ed Esecuzione) eFase Finale. La Fase Iniziale è caratterizzata dalla presentazione del progetto aibeneficiari delle azioni, la comunità del Planalto II e il Municipio di Ipatinga (PMI),e dalla definizione delle prime azioni che coinvolgono tali beneficiari. La Fase diImplementazione è caratterizzata dall’inizio delle attività che tentano già dirispondere agli obiettivi e ai risultati proposti. In questo nostro progetto, la“Costruzione di Opere” si è configurata come un momento significativo diinserimento nella comunità, perchè attraverso la costruzione di un complessocomunitario, è stata coinvolta la comunità in varie azioni di responsabilizzazionee preservazione, permettendo una partecipazione attiva nella costruzione degliobiettivi che dovevano essere raggiunti. Una volta coinvolta la comunità, insiemeai tecnici della PMI e ai tecnici dell’AVSI/CDM, è stata iniziata la “Pianificazione”delle attività che, pur già delineate nel progetto iniziale approvato dai finanziatori,aveva bisogno di essere adeguata agli aspetti più attuali della realtà, coinvolgendotutti in una formazione-azione, o meglio in una pianificazione che diventasse giàun intervento educativo. Una volta pianificate le azioni, il momentodell’Esecuzione è stato segnato dalla realizzazione delle attività in ogni settore, orisultato del progetto dal momento che molte accadevano simultaneamente. LaFase Finale è consistita nella realizzazione delle attività che aiutassero gli abitantidella comunità ad appropriarsi delle conseguenze delle azioni sviluppate durantetutto il progetto, rafforzando nelle leadership un’attitudine di responsabilità difronte alla comunità e aiutandolie a rendersi conto che per continuare le azioni chestavano sviluppando era solo questione di riconoscere e mantenere un camminoche era tracciato da piú di tre anni.25Manual Gestión Del Ciclo de Proyecto. Commisione Europea. Marzo 2001.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 135Flussogramma delle AttivitàIl Flussograma delle Attività è uno strumento che si pone l’obiettivo dipresentare sistematicamente tutte le attività realizzate dal progetto, permettendo,sinteticamente, la comprensione di ciascuna e identificandone i prodotticorrispondenti. Dal Flussogramma delle Attività si rileva anche a quale risultatoe a quali obiettivi le attività rispondono. In seguito uno schema che aiuta nellacomprensione del Flussogramma che sarà presentato posteriormente.AQUI, ANTES ENTRA ENCARTE:Quadro Logico del Progetto


Quadro Logico del ProgettoAttivitáObiettiviRisultatiFase InizialeFase di ImplementazioneCostruzione delle opere Pianificazione EsecuzioneFase FinaleObiettivo 1: Miglioramentodella condizione di vitadella popolazione delPlanalto II, riducendo ilgrado di povertá evulnerabilitáa. Rafforzamentodella Comunitáb. Istruzione:recupero scolaredegli adolescentiealfabetizzazionedegli adulti¬ Entrata nella comunitᬠPreparazione del Forum Comunitario¬ Lancio delle opere¬ Formazione di leader e gestori comunitari¬ Costruzione del ComplessoComunitario¬ Costituzione delle ÉquipeTematiche¬ Intercambio dei principali attori e riflessione sull’esperienza accumulataN.B.: Sviluppo delle attivitá settoriali relazionate agli altri risultati che dovrebbero raggiungerequesto risultato specifico.¬ Contatti con scuole¬ Identificazione di gruppi vulnerabili¬ Laboratori socio-educativi*¬ Realizzazioni di corsi di recupero scolastici : “supletivo” – DESAFIO¬ Realizzazione di corsi di alfabetizzazione per adulti e giovani – MOVA¬ Valutazione della frequenza scolastica degli alunni della scuola Paulo Freire¬ Rinforzo dell’Azione Educativa della Scuola per Genitori¬ Elaborazione di diagnostico della rappresentazione sociale della scuola da parte degli alunni¬ Realizzazione di Concorso di Temi con le Scuole¬ Laboratori di Formazione per gli Educatori della Creche Novo Larc. Incremento diimpiego er e d d i t o :integrazione nelmercato dellavoro¬ Ricerca di attitudine e mercato¬ Elaborazione di diagnostico e di direttive di azioni di GER¬ Mobilizzazione di imprenditori e candidati al lavoro¬ Assistenza amministrativa e socio-relazionale a imprenditori e a gruppi produttivi¬ Accesso al credito¬ Qualificazione Professionale¬ Contatto con Imprese e avviamento al mercato del lavorod. Sanitá eEducazioneAmbientale:a u m e n t oall’accesso aiservizi diprevenzionesanitaria eeducazioneambientale¬ Affronto di problemi sanitari del quartiere e implementazione delle proposte¬ Formazione del gruppo di Agenti Comunitari Sanitari¬ Campagne sanitarie¬ Formazione del Gruppo della Terza EtᬠFormazione per il Gruppo di Agenti Sanitari Mirins¬ Camminata ambientale¬ Lavoro pedagogico con professori e coordinatori delle scuole locali **¬ Laboratori di educazione ambientale diretti agli alunni nelle scuole locali **¬ Laboratori di educazione ambientale diretti a segmenti della comunitá**¬ Realizzazione della Mostra Educazione Ambientale¬ Gincana di educazione ambientale e sanitariaObiettivo 2: Rafforzamentodella capacitáistituzionale del Municipioe. Sistematizzazionee trasmissione diesperienza¬ Presentazione e definizione del progettocon la Municipalitá di Ipatinga¬ Pianificazione/Monitoramento/ Valutazione¬ Discussione della fase diimplementazione con la PMI¬ Elaborazione del Flussogrammadi azioni per il Planalto II¬ Diffusione dell’Esperienza (Seminario PUC e Corso di Gestione Urbana nella Fundação JoãoPinheiro e Banco Mundial)¬ Riunioni interne di AVSI/CDM per la sistematizzazionedelle attivitárealizzate nel Progetto* Azioni integrate di Educazione, Salude e Incremento di Impiego e Reddito** Azioni integrate de Educazione e Educazione Ambientale


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IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 149Situazione della comunità del Planalto II dopo la realizzazione delProgettoLa realtà osservata dopo gli interventi ci richiama ad una serie dicambiamenti nella comunità che non finiscono con la fine del progetto, marimangono come un segnale che tutta la comunità si è rafforzata. Descriviamoora i principali cambiamenti avvenuti nella comunità del Planalto II in funzionedegli Obiettivi e dei Risultati previsti dal progetto. Presentiamo anche datiobiettivi che illustrano tali cambiamenti, raggruppati secondo la logica delprogetto. Questi dati si presentano in forma di Indicatori di Obiettivi (IO),Indicatori di Risultato (IR) e Indicatori di Attività (IA) costruiti durante il progettoper la sua valutazione e il monitoraggio e che sono presentati in forma analiticanell’ Allegato 3.Obiettivo Specifico 1Miglioramento delle Condizioni di Vita della Popolazione del Planalto IIIdentità ComunitariaAmpliamento e ristrutturazioni nel quartiereUn dato che rivela il grado di soddisfazione delle persone in una comunitàsi riferisce al numero di ampliamenti e ristrutturazioni realizzati nelle case.Questo dimostra che esiste un grado di soddisfazione concreto e ragionevole arispetto del quartiere che ha motivato un intervento di questo tipo. È chiaro chel’investire risorse finanziarie da parte di persone con basso reddito familiare perristruttare o ampliare case è indicativo, significa che le persone hanno adottatoil quartiere come loro stabile dimora. Indica un immedesimarsi con lo spazio incui vivono e un cominciare a investirvi. I dati indicano che, alla fine del 2002, il45% delle case del quartiere erano state ampliate e/o ristrutturate.N.B.:* si considerano “Ampliamenti” quando è avvenuto un aumento dell’areacostruita, ossia stanze nuove: sale, camere da letto, ecc.** si considerano “Ristrutturazioni” quando sono avvenuti miglioramenti dellecondizioni e della struttura: divisione delle stanze, intonaco , cambio deitetti, ecc.*** del totale delle case in cui sono stati fatti degli interventi nella struttura, il26,5% sono state solo ampliate, il 45,6% sono state solo ristrutturate e nel27,9% sono state fatti ampliamenti e ristrutturazioni.


150 •POVERTÀ E PATRIMONIOAMPLIAMENTI E RISTRUTTURAZIONI – CAMPIONE 2002Categorie Frequenza PercentualeAmpliamento 18 11,9%Ristrutturazioni 31 20,5%Ampliamento e Ristrutturazioni 19 12,6%Nulla 81 53,6%NS/NR 2 1,3%Totale 151 100,0%Fonte: ricerca campione realizzata nel gennaio 2003 – AVSI/ CDML’uso dello spazio comuneLe opere del complesso comunitario (recupero dei laghi, costruzione dellapiazza, costruzione del centro comunitario e ampliamento della creche) si sonoripercosse sugli abitanti del Planalto II e dei quartieri vicini che hanno potutousufruire degli spazi comunitari. C’è più attenzione per il bene comune attraversomutirões spontanei di pulizia e preservazione di questa attrezzatura sociale,questo mostra un’appropriazione delle opere da parte della comunità e ilrafforzamento dell’identità rispetto allo spazio. 26Il quadro che segue, nette in relazione i gruppi formali e informali e igruppi della popolazione che stanno usufruendo sistematicamente degli spazicomuni. Nella fascia piú scura sono rappresentati gli spazi pubblici che furonocostruiti o riattivati con le attività del progetto.26Sulle Aree destinate ad Attività Comunitarie e agli Spazi Co-gestiti dai Gruppi. Vedere il quadro dell’Allegato 3.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 151Violenza nel quartiereGli indici di violenza nel quartiere ebbero dei cambiamenti significatividurante l’attuazione del progetto. Gli indici della violenza comunicati dal 14ºBattaglione della Polizia Militare di Ipatinga rivelano una diminuzione del24,82% della criminalità tra l’anno 2001 e 2002. Questi dati confermano comele persone si siano poste di fronte alla vita in una forma diversa considerando ilquartiere e le persone come un bene da preservare. La diminuzionedell’aggressione e della violenza è un fattore che rivela una dinamica diintegrazione, di appartenenza, non solo nei confronti del luogo ma delle persone.Il quartiere Planalto non possiede piú lo stigma di quartiere violento edemarginato. Il modo in cui le persone della città vedono il quartiere stacambiando, gli interventi della polizia militare sono diminuiti,principalmente tra gli adolescenti (Tenente Colonnello Sandro AfonsoTeatine Selim de Sales, del 14º Battaglione della Polizia militare diIpatinga).GRUPPO 2001 2002 VAR%Crimini contro l’Amm. Pubblica 2 1 -50,00Crimini contro il Patrimonio Pubblico 0 1 -Crimini contro la Persona 57 49 -14,04Crimini contro il Patrimonio 54 32 -40,74Crimini contro i Costumi 15 12 -20,00In riferimento alle droghe 9 8 -11,11Totale 137 103 - 24,82Aumento dei Servizi di Utilità PubblicaUn cambiamento significativo che mostra l’evoluzione del processo diintegrazione tra la comunità e i servizi esistenti nella città accadde nellaformazione della Rete Sociale di attori presente nel quartiere. La Rete Sociale diuna comunità indica il numero di attori sociali presenti e coinvolti nella costruzionee nello sviluppo della comunità, a partire da differenti vincoli che si staliscono.La mappa della rete sociale permette di visualizzare quali relazioni sistabiliscono tra la rete primaria e secondaria, rende possibile laconoscenza della dimensione del contesto relazionale per l’intervento


152 •POVERTÀ E PATRIMONIOsociale, permette di riconoscere la realtà piú ampia in cui la persona èinserita senza restringersi al problema presentato, mostrando una o piúpersone in relazione reciproca, facilita il lavoro di approccio e intervento,oltre a permettere alla persona coinvolta di percepire le sue abilità e lasua capacità di fare alleanze. La mappa è la rappresentazione di undeterminato momento. Di fronte ai cambiamenti della realtà, è necessariorisalire a tutti i disegni e rifarli secondo l’andamento dell’intervento. Oltrea ciò è utile rendersi conto dei modi distinti in cui le persone presentanociò che capiscono di una situazione. 27Nel mese di dicembre del 1999, inizio del progetto, la Rete Sociale eraformata solo da 19 attori sociali che stabilivano tra di loro un numero di rapportiridotti, solo 30.Nell’analisi realizzata alla fine del progetto, nel dicembre del 2002, siverificò una crescita totale del numero di attori del 163,2% rispetto alla situazioneiniziale. Il numero di attori aumentò a 50 e il numero di rapporti tra loro fuidentificato in 127. Questo significa un aumento nella quantità e nell’intensitàdella rete, mostrando cosí che gli attori riuscirono a realizzare piú scambi,rafforzando i loro legami. Furono valutate le tipologie di vincoli dei vari rapportitra i gruppi e le istituzioni secondo quanto descritto nel quadro che segue:VincoloFare InsiemeEconomicoObbligoAlleanzeAppoggioSocialePrestazionedi ServiziInformazioneDescrizioneRelazione che si stabilisce per sviluppare qualche attività insieme sia nellapianificazione sia nell’esecuzione.Relazione che si stabilisce attraverso il trasferimento di risorse da un attoreall’altro che sviluppa un’azione.Relazione segnata da un obbligo gerarchico con l’impegno di lavorarare secondonorme predefinite.Relazione stabilita tra attori che sviluppano la stessa azione, esiste unaformalizzazione e normatizzazione per quanto concerne i compiti di ognuno.Relazione configurata a partire da aiuti puntuali e sporadici, in cui un attorecede risorse, che possono essere di tipo diverso, a un altro attore.Relazione costituitasi tra persone che prestano qualsiasi tipo di servizio incambio di una remunerazione.Relazione costituitasi tra attori in cui perlomeno uno di loro offre informazionirilevanti all’altro per il lavoro.27SOARES, Maria Luiza P. V. Vincendo la denutrizione: approccio sociale. São Paulo: Ed. Salus Paulista, 2002, p. 41.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 153A partire da questa analisi, abbiamo anche verificato che c’è stato unaumento significativo nel tipo di vincolo Fare insieme e Informazione, dovuto alleazioni realizzate con la metodologia del progetto e dovuto alla crescitaconsiderabile dei gruppi legati alla Rete Secondaria Informale. Questi datimostrano anche il miglioramento della qualità delle relazioni tra gli attori sociali.Il rafforzamento della Rete Sociale locale conferma l’esistenza di una realecollaborazione tra gli attori sociali presenti nel Planalto II e l’integrazione delquartiere a molti servizi della città dai quali gli abitanti del Planalto II eranoesclusi. La presenza e il coinvolgimento di attori, pubblici e privati, con lacomunità suggerisce un’identità che, dopo essersi formata, viene riconosciutanon solo dagli abitanti, ma anche da coloro che non risiedono nella comunità.iO1.1 – nº di attori sociali e di servizi comunitari presentiNº DI ATTORI SOCIALI % VARIAZIONERETI Dicembre Dicembre Dicembre 1999/ 1999/1999 2000 2002 2000 2002Rete Secondaria del Mercato - - 3 X XRete Second. del Terzo Settore 6 7 10 16,7% 66,7%Rete Secondaria Formale 10 13 25 30,0% 150,0%Rete Secondaria Informale 3 8 12 166,7% 300,0%Totale 19 28 50 47,4% 163,2%iO1.2 – Incremento della rete di relazioni della comunitàRispetto al numero di relazioni identificate, tra istituzioni e gruppi dellarete nei tre anni sono stati letti:Nº TOTALE DI RELAZIONI PER RETE PER OGNI ANNODicembre 1999 Dicembre 2000 Dicembre 2002Rete Secondaria del Mercado - - 8Rete Secondaria del Terzo Settore 6 10 24Rete Secondaria Formale 21 54 54Rete Secondaria Informale 3 16 41Totale 30 80 127


154 •POVERTÀ E PATRIMONIOSempre in relazione alla Mappa della Rete nell’anno 2002, fu fatta unalettura distinguendo gli attori sociali che entrarono nella rete in forza diarticolazioni del proprio progetto – attraverso l’AVSI – e di coloro cheappartenevano alla rete locale, la permanenza di tali attori e delle relazioni. Nelletabelle che seguono sono presentate comparazioni ed analisi.DESCRIZIONE DEGLI ATTORI DELLA RETE NEL 2002Reti e Attori Mediante Attori della Attori Totalearticolazioni rete localeRete Secondaria del Mercato 2 1 3Rete Secondaria del Terzo Settore 2 8 10Rete Secondaria Formale 18 7 25Rete Secondaria Informale 0 12 12Totali 22 28 50DESCRIZIONE DEL Nº DI RAPPORTI DELLA RETE NEL 2002Reti x Rapporti Degli attori Degli attori Rapporti Totalearticolati locale della reteRete Secondaria del Mercado 5 3 8Rete Second. del Terzo Settore 6 18 24Rete Secondaria Formale 0 41 41Rete Secondaria Informale 37 17 54Totali 48 79 127Si conclude, a partire dalle tabelle sopra indicate, che il 44% degli attoripresenti nel 2002 sono entrati nella rete attraverso articolazioni, mentre il 56%sono attori della rete locale del Quartiere Planalto. Quanto alle relazioni della rete,37,8% rappresenta il gruppo di attori che entrò nella rete in forza di articolazioni,l’altro 62,2% sono le relazioni degli attori della rete locale ossia di istituzioni egruppi che sono nel Planalto indipendenti da articolazioni del progetto. L’aumento,sia del numero di attori che del numero di relazioni di coloro che si sono integratiattraverso l’articolazione del progetto, rivela l’apertura della comunità a gruppi eistituzioni esterne, rendendo possibile l’aumento di servizi della città nel quartiere.Lo stesso aumento, identificato in coloro che si sono integrati alla rete locale,rivela l’aumento della rete locale che permane, nonostante la finalizzazione delprogetto, mostrando cosí la sostenibilità della rete attuale.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 155che:Del totale dei rapporti esistenti per attori presenti ogni anno si è verificatoAttori Relazioni Relazione/AttoreNel 1999 19 30 1,6Nel 2000 28 80 2,9Nel 2002 50 127 2,5Nell’anno 2000 si è verificato un aumento significativo del numero dirapporti stabiliti da ogni attore, in media 2,9. Questo aumento è avvenuto apartire dalle azioni specifiche del progetto che miravano ad un’articolazione tragli attori e a una maggior comunicazione in relazione ai servizi prestati. Nell’anno2002, si è verificata una diminuzione del 2,5 relazioni/attori dovuto alladiminuzione dell’intervento diretto tra gli attori. Si conclude pertanto che l’indicepresentato nel 2002 mostra un tasso di stabilità e sostentabilità tra le relazionistabilite ossia indipendenti dalle azioni del progetto.I risultati descritti si riferiscono alle azioni sviluppate dal progetto chehanno contribuito direttamente a questi cambiamenti. La comunità hasviluppato, nel corso degli ultimi tre anni, un’identità comune inorgogliendosi diessere del quartiere Planalto II. Le persone hanno iniziato a coinvolgersi con larealtà della comunità, adottanto attitudini costruttive e partecipative di fronte aiproblemi comuni. Leader e gestori comunitari sono stati identificati e formati perorganizzare e partecipare alle azioni del progetto e a altre iniziative, costruendosoluzioni a partire da risorse presenti nel proprio quartiere. Il numero dileadership della comunità è aumentato del 52,12% in relazione a quelle presentiinizialmente.IR.a1 – nº de leadership della comunità* dati raccolti nell 13/07/2000 ** dati raccolti nell 19/12/2002


156 •POVERTÀ E PATRIMONIONell’Allegato 3 si trova una descrizione dei gruppi formati nella comunitàe la loro tipologia.Nell’Allegato 4 si trova una rappresentazione delle reti sociali.ScolaritàAnche nel patrimonio dell’educazione è stato notato un miglioramentosignificativo. Il tasso di analfabetismo è caduto del 6,3% comparandolo con gliindici raccolti nella situazione iniziale ed è sotto gli indici di analfabetismo delBrasile, 14,7%; dello Stato 13,4% e della città nella sua globalità, il 7,51%. Allafine del progetto, il 40% degli analfabeti del 99 si è trasformato in un gruppo dialfabetizzati. Nel 2002 c’è stato un aumento del numero di alfabetizzati, inrelazione all’anno 1999, del 22,4%. Considerando il gruppo di analfabeti +alfabetizzati come una fascia vulnerabile, si osserva una diminuzione di questafascia del 15,7%, dovuto all’ingresso ad un livello di scolarità del 1° grado. Valela pena evidenziare che, considerando la percentuale delle persone che si sonoalfabetizzate e il numero di posti offerti dal MOVA (programma dialfabetizzazione municipale) nel quartiere, molte persone si sono alfabetizzateattraverso altri corsi presenti nella città; è migliorato l’accesso ai servizi dieducazione della città per gli abitanti del quartiere.In relazione al 1º grado, si osserva che nel 1999 il 64% delle persone nonaveva completato il 1º grado, nel 2002 l’indice si è abbassato al 46,1%. Ciòsignifica che il 28% degli alunni concluso il 1º grado. Nel 2002 c’è stato unaumento del 29,1% degli alunni che sono riusciti a completare il 1º grado.Rispetto agli alunni del 2º grado, c’è stato un aumento interno del 208% diquesto gruppo. C’è stato nel 2002 un aumento del 9,8% del numero di personeche si sono messe a studiare, rispetto all’anno 1999. Anche l’indice diinfrequenza scolastica, un problema identificato nel contesto educativo delquartiere, si è abbassato. Dal campione di 25 alunni considerati nonfrequentatori e che sono stati accompagnati attraverso visite e azioni delprogetto, il 48% sono diventati frequentatori.NON STUDIA STUDIA TOTALE1999 68,6% 31,4% 100,0%2002 65,5% 34,5% 100,0%


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 157GRADO DI SCOLARITÀCATEGORIE 1999 2002 RATTORE DIMOBILITÀ INTERNA %ANALFABETA 10,5% 6,3% -15,7%ALFABETIZZATO 6,7% 8,2%Subtotale 17,2% 14,5%1º GRADO COMPLETO 5,51% 7,1% - 23,45%1º GRADO INCOMPLETO 63,98% 46,1%Subtotale 69,49% 53,2%2º GRADO COMPLETO 2,54% 8,8% +208%2º GRADO INCOMPLETO 2,97% 8,2%Subtotale 5,51% 17%Fonte: ricerca campione realizzata nel dicembre 2002 AVSI/ CDMNel settore dell’educazione, l’attività di recupero scolastico e il “supletivo”hanno contribuito a far sì che gli alunni superassero il ritardo scolastico,migliorando l’indice di frequenza a scuola, diminuendo l’indice di abbandonoscolare e migliorandone l’impegno, secondo la testimonianza delle insegnanti.Con 446 alunni è stato realizzato un diagnostico della rappresentazione socialeche avevano della scuola, volendo conoscere le principali difficoltà e risorse perciò che si riferisce alla vita scolastica. Questo diagnostico ha reso possibile laconoscenza della realtà educativa, a partire dai propri alunni, e ha permesso larealizzazione di attività, come il concorso di temi, che affrontassero meglio lenecessità identificate. Il concorso di temi “Il mio quartiere ogni giorno migliore”ha mobilitato 561 alunni che hanno riscattato il valore del quartiere e si sonoimpegnati nella composizione di temi, mostrando il miglioramentonell’apprendimento della scrittura e di altri contenuti pedagogici rilevantiattraverso l’interesse per il proprio quartiere.Degli adulti a cui è stato offerto il corso di alfabetizzazione, il 71% deglialunni iscritti ha concluso il processo di alfabetizzazione. Sono state realizzatevisite, orientamenti e laboratori per 82 famiglie di alunni e rafforzata l’importanzadella partecipazione alla Scuola dei Genitori.La Scuola dei Genitori ha offerto orientamento e accompagnamento a 119genitori di alunni, aiutandoli ad adottare un’attitudine nei confronti dei loro figliche rafforzasse il significato e l’importanza dello studio per lo sviluppo.


158 •POVERTÀ E PATRIMONIOSanitàQuest’anno c’è stato un buon accompagnamento dell’AVSI a scuola.Risultati positivi sono stati il coinvolgimento dei genitori che prima nonpartecipavano alla scuola per genitori e la frequenza degli alunni che èmigliorata. I genitori ora hanno piú fiducia nella scuola e hanno unamaggiore coscienza di ciò che la scuola è. Altro aspetto interessante èche gli alunni sono venuti a scuola piú ordinati e piú puliti. Anche ilconcorso di temi ha dato un buon incentivo agli alunni per valorizzare ilquartiere, per coscientizzarli e far loro percepire i cambiamenti delquartiere dopo l’intervento dell’AVSI. Il cambiamento è lento, mal’unione tra la Scuola, l’AVSI e altre azioni ha aiutato molto. C’è stata unacrescita conoscitiva ed affettiva degli alunni e anche un miglioramentodella scrittura e della lettura (Girley, Direttrice della Scuola).Dopo aver iniziato a frequentare il progetto ho imparato molto e homigliorato il rapporto con mio figlio (Antônia de Fàtima Silva,partecipante della Scuola per Genitori e del Gruppo di Donne delPlanalto).A partire dagli orientamenti dell’agente comunitaria nelle visite e neldialogo, ho iniziato a partecipare di piú al lavoro nella scuola. Hoimparato che devo passare piú tempo con i miei figli, giocare,conversare con loro. Non parlare dei difetti, ma elogiarli. Ho percepitoche mio figlio si è sentito piú valorizzato con la mia partecipazione ascuola (Eva de Fàtima Soares).Quanto al risultato legato alla sanità ed educazione ambientale, sono statiformati 14 Agenti Comunitari Sanitari e 25 Agenti Sanitari Mirim, insiemeall’Unità Sanitaria del quartiere Veneza, che hanno lavorato in varie azioni diprevenzione di malattie.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 159Rispetto alla salute dei bambini, i genitori sono stati orientatisull’importanza della vaccinazione, il controllo di malattie respiratorie e leattitudini nella lotta contro la denutrizione. Rispetto alla salute dell’adulto, si èlavorato per la promozione e la protezione della salute della donna: prevenzionedel tumore al collo dell’utero e al seno, sviluppo di altre campagne di salute, inparticolare per ipertesi e diabetici. Per attuare le campagne sanitarie sono staterealizzate, dagli agenti sanitari, 4700 visite domiciliari.VISITETOTALE VISITECampagna Influenza – Anziani 600Campagna di Prevenzione Tumori – Donne 600Campagna di Lotta alla Dengue 600Ipertesi e Diabetici 300Bambini con malattie respiratorie 400Accompagnamento Anziani 200Gincana di Educazione Ambientale 2000Totale delle visite sanitarie 4700CAMPAGNACampagna di Lotta all’AIDSCampagna Contro la DENGUECampagna contro l’InfluenzaCampagna PrevenzioneTumori – DonneDESCRIZIONECampagna per la popolazione realizzata con il GASPPrevenzione e Lotta alla Dengue: visitate tutte le caseCampagna di Lotta contro l’influenza per gli Anziani al disopra dei 60 anniCampagna per la donna tra i 35 e 49 anniRispetto alla sanità e all’educazione ambientale, sono state realizzatecampagne di prevenzione contro la dengue e trasmissione di informazioni per nontrascurare l’immondizia che trasmette varie malattie. All’inizio del progetto, c’èstata una camminata ambientale con l’obiettivo di osservare punti del quartiereche dovevano essere raggiunti dalle azioni di salute ambientale. Vi hannopartecipato 44 persone di diversi gruppi e istituzioni e in questa occasione è statoprodotta una mappa. La gincana di educazione ambientale ha coinvolto gliabitanti in vari temi e azioni legati alle attenzioni all’ambiente. Durante larealizzazione di laboratori tematici, 180 persone hanno partecipato ad almenoun laboratorio di educazione ambientale. Nella gincana sono state anche


160 •POVERTÀ E PATRIMONIOorientate ed accompagnate 424 famiglie nel lavaggio delle casse d’acqua, deifiltri domiciliari, nella pulizia di cortili, nell’attenzion con casse di grasso efognature, conservazione di area verde e uso di piante medicinali mirando adun’attitudine preventiva contro le malattie piú comuni.Prima della qualificazione, realizzavamo il lavoro nella comunità senzala preparazione teorico-pratica, senza pianificazione e articolazione trale politiche. Oggi ci è possibile trasmettere piú informazioni in vari modi,con il teatro, con il dialogo. Vediamo la persona non soltanto come unmalato, ma siamo riusciti a vedere il suo rapporto con l’ambiente in cuivive, la sua relazione famigliare e comunitaria, tutto questo influenza lasua salute (Renildes Maria da Silva, Agente Comunitaria Sanitaria).Il Progetto di Rafforzamento della Comunità del Planalto collabora acon il lavoro dell’Unità Sanitaria. È diventato un anello tra l’Unità e lacomunità, è stato possibile stabilire una relazione con il quartiere econoscere la sua storia, costruire una relazione di amicizia e di dialogo,garantendo l’organizzazione della comunità per una miglior qualità divita (Norma Suely S. Rodríguez, Responsabile dell’Unità Sanitaria delquartiere Veneza).Vale la pena evidenziare l’impatto che ha avuto il gruppo della terza età,Gruppo dell’Unione, sulla vita delle persone partecipanti. Molti anziani nonuscivano di casa e rimanevano a letto, in un’attitudine depressiva che contribuivaal sorgere di varie malattie. Un totale di 69 anziani ha partecipato agli incontridel gruppo sviluppando varie attività come seminari, esercizi fisici, giochi,laboratori, lezioni di danza, camminate nel Parco Ipanema. Alla fine del progetto,il gruppo ha deciso di continuare a riunirsi ed organizzarsi formalmente, con unostatuto definito e commissioni interne per l’organizzazione del gruppo.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 161Questo progetto è molto buono! Il lavoro è bello perchè ci dà salute eforza Nelle riunioni tutti hanno una bella cera e non si può vacillare!Ormai i miei anni sono molti, non dovrei neanche essere qui, io ho 92anni! (Signora Ana, 92 anos, partecipante del Gruppo dell’Unione –gruppo della terza età).Situazione OccupazionaleLa situazione occupazionale delle persone del Planalto II non ha subitovariazioni significative, per quanto si riferisce all’indice di occupati e disoccupati,tuttavia, abbiamo verificato una mobilità interna nel quadro della situazioneoccupazionale a fine progetto. C’è stato un aumento significativo del 255% delnumero di autonomi nel 2002 rispetto al 1999. Il tasso di disoccupazione èrelazionato direttamente al contesto economico della città e del Paese; è sorta, apartire dal progetto, una nuova possibilità di lavoro e di incremento di reddito apartire dai corsi per imprenditori. Abbiamo nuovamente un esempio di ciò chedicevamo anteriormente, anche se impotenti per mutare dati che sonoconseguenze di uno scenario politico ed economico nazionale, siamo intervenuti inquella fascia vulnerabile della popolazione che cercava alternative per l’incrementodel reddito, ma a cui mancava l’accesso a risorse tecnico-finanziarie per ottenerlo.COMPARAZIONE SITUAZIONE OCCUPAZIONALE – RICERCA CAMPIONE 98/2002Categorie Iniziale Finale Fattor di MobilitàInterna %Lavoratori Registrati 15,7% 14,5% -290,0%Lavoratori non Registrati 9,8% 3,6%Autonomi 2,0% 7,1% +255,0%Pensionati 5,1% 4,7% -7,8%Totale di Incremento Reddito 32,6% 30,0% -8,0%Impiegati Domestici 14,1% 7,1% +180,0%Disoccupati 7,1% 18,0%Non Lavorano 43,5% 25,2% -2,8%Altro 2,7% 1,1%Non si Impiega 0,0% 18,6%Totale di chi non Incrementa Reddito 67,4% 70,0% +4,0%Totale 100,0% 100,0%


162 •POVERTÀ E PATRIMONIOIl basso reddito famigliare e la disoccupazione sono stati affrontatiattraverso corsi di qualificazione professionale in vari campi. Un totale di 126persone ha concluso i corsi di qualificazione e 77 si sono iscritti presso agenziedel lavoro. Questo dato è significativo perchè molte persone erano disoccupate enon erano neanche in grado di concorrere per un posto di lavoro perchè nonpossedevano una qualificazione che servisse alle reali necessità del mercato enon avevano la possibilità di qualificarsi. Del totale degli iscritti, il 41,2% è statointervistato ed avviato al mercato del lavoro, il 10% avviato e collocato nelmercato del lavoro formale, entro i primi tre mesi dopo la fine del corso. Dellepersone che hanno frequentato i corsi di qualificazione professionale e/o perimprenditori, il 45,8% sta lavorando, di questi il 67,3% sta lavorando nellapropria area di qualificazione.Nei corsi e nei laboratori offerti, si è verificato che 87 donne del quartierehanno partecipato ad almeno un laboratorio. Rispetto alla distribuzione dellepartecipazioni ai laboratori, si è osservato che piú della metà delle donne, il


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 16361%, ha partecipato a piú di un laboratorio. Come abbiamo detto, nellasituazione iniziale del quartiere, molte donne costituivano un gruppo vulnerabile,dovuto ai motivi già citati, per lo meno nel 27% delle case del quartiere erano icapifamiglia e il sostegno economico. Il grafico che segue mostra i totali dellepartecipazioni delle donne per ogni tipo di laboratorio.Nei corsi abbiamo appreso che siamo importanti e capaci di arrivaredove vogliamo e questo ci dà fiducia (Sidney Rosa Albino, Alunna delCorso di).Nel lavoro abbiamo percepito che siamo capaci ed è, cercando distudiare di apprendere sempre di piú e lavorare con qualità cheriusciremo a raggiungere ciò che desideriamo. Ci sentiamo piú preparatiper il mercato del lavoro e disposti al lavoro in gruppo (Ideir daConceição, Partecipante della Associazione di Prestazione di ServiziGenerali).Il mio problema era che io volevo apprendere qualche cosa per cui dire:questa può essere la mia professione, potrà essere la mia professione.Prima ero una domestica pura e semplice senza nessuna qualificazione.Ho frequentato corsi di cucito industriale, ho fatto anche il test e sonoandata a lavorare in una fabbrica di cucito, ma non sono riuscita amantenere il lavoro per via del mio bambino. Ma a gennaio i proprietaridella fabbrica mi hanno detto che potrò ritornare! È una porta aperta,una chance, una possibilità. Con altre donne abbiamo deciso diformare un gruppo di telaio cileno per poter fabbricare i pezzi e cercaredi venderli, di esporli nelle fiere municipali, perchè diversamente, non


164 •POVERTÀ E PATRIMONIOsapremmo come esporre e presentare i nostri lavori. Mi piace tessere eoltre a piacermi ne ho bisogno. Io ci metto tutta la mia buona volontàe sono sicura che andrà bene. Ho cinque figli e tutto ciò che faccio dibuono si rifletterà non solo su di me, ma anche su di loro. Vorrei avereper me anche solo una macchina usata, per poter cucire vestiti davendere e fare per i miei figli. Partecipare a questi corsi ha significatocambiare la mia vita. Cose nuove, pensare a cose nuove: io nonconoscevo neanche il telaio cileno! (Elizabete Moreira de Oliveira,Partecipante del Gruppo di Donne del Planalto).I corsi di qualificazione professionale hanno anche dato la possibilità al28% di coloro che li hanno frequentati di diventare imprenditori, incrementandoil proprio reddito anche se non hanno ottenuto un posto nel mercato formale dellavoro. L’assistenza amministrativa, l’accompagnamento socio-relazionale e corsirivolti direttamente agli imprenditori, hanno aiutato varie persone ad espandere ipropri affari migliorandone la qualità della produzione e della gestione dei propriservizi. Alcuni imprenditori si sono organizzati in gruppi produttivi come il GruppoTriade di cucito, Gruppo di Donne del Planalto, con il telaio cileno el’Associazione di Prestazione di Servizi Generali.Per quegli imprenditori che cercavano di iniziare o espandere i propri affarie non si inquadravano nelle linee di credito adottate dalle banche, dunque senzaaccesso a questo servizio, è stata firmata una convenzione con il Banco Popularche ha reso possibile l’accesso ai crediti a condizioni speciali. Un totale del 94%delle richieste di credito è stato soddisfatto e non è stato registrato nessun casodi inadempienza.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 165Obiettivo Specifico 2Rafforzamento della Capacità Instituzionale del MunicipioIl secondo obiettivo specifico era quello di rafforzare la capacitàistituzionale del Municipio nella costruzione di politiche adeguate per affrontarela situazione di povertà della popolazione. Nel percorso storico del progetto, ilMunicipio è stato presente attraverso una convenzione firmata com l’AVSI/CDM,mettendo a disposizione tecnici di diverse segreterie e coinvolgendoli in azioni neivari settori. Con la convenzione firmata, si è aperto uno spazio di relazione direttacon tecnici dell’area sanitaria, dell’educazione e altri che hanno appoggiato leazioni del progetto, applicando l’esperienza e la metodologia acquisite in altriprogetti e contesti.Iniziative, Progetti e Programmi Realizzati a Partire dalla Metodologiadel Progetto1. Progetto Mudas BrasilIl Progetto Mudas Brasil ha come obiettivo quello di impiantare boschi dispecie nativa in tutto lo Stato del Minas Gerais, visualizzando lo svilupposostenibile e il recupero dell’ambiente, sviluppando azioni congiunte con sindaci,amministratori, impresari e produttori agricoli. Il progetto è stato realizzato dallaMunicipalità di Ipatinga in collaborazione con IEF – Istituto Statale delle Foreste.2. Campagna di Lotta contro la Dengue: “Per una nuova pedagogia dilotta alla dengue”È stata realizzata una campagna di lotta contro la dengue nel Municipio diIpatinga ed è stato costituito un Forum Comunitario nella Regionale 4 – dov’è


166 •POVERTÀ E PATRIMONIOsituato il quartiere Planalto – per discutere insieme alla Scuola MunicipalePresidente Vargas le forme di lotta contro la dengue. Il lavoro è stato realizzatoin forma integrata e con la partecipazione delle commissioni della sanità edell’ambiente.3. Progetto Sindaco Amico dei BambiniAl fine di poter integrare il Municipio alla Rete Abrinque, è stato necessarioelaborare due prodotti: una Mappa del Bambino e dell’Adolescente 28 con alcuniindicatori e un piano d’Azione Strategica. La possibilità per sviluppare sia la mappasia il piano d’azione è stata quella di stabilire un forum a cui partecipassero settoridell’amministrazione pubblica direttamente coinvolti con il servizio allapopolazione infantile e giovanile (sanità, istruzione, assistenza sociale, finanze), ilConsiglio Municipale dei Diritti del Bambino e dell’Adolescente, il ConsiglioTutelare e gli enti di servizio. *Fonte: intervista con Maura Gerbi do DEAC.4. 1º CONGRESSO MUNICIPALE DELLA GIOVENTÚ – IpatingaCongresso realizzato dal DEAC – Dipartmento di Attenzione al Bambino eProgrammi Speciali, tutta la preparazione dell’evento si è basato sulla metodologiadi approccio del progetto Planalto II.La metodologia è stata così interessante e stimolante per gli adolescentiche noi vogliamo ripetere il congresso il prossimo anno conun’organizzazione migliore nella sua applicazione – perchè era la primavolta che la utilizzavamo – oggi abbiamo una condizione migliore e laapplicheremo anche nel primo forum dei bambini. (...) Abbiamopercepito durante quest’anno una partecipazione della comunitàsoprattutto dando continuità nello sviluppo delle attività ricreative,sportive, artistiche e culturali con la popolazione infantile e giovanile.Altro aspetto abbastanza rilevante è stata la preoccupazione dellacomunità, con l’Unità Sanitaria per discutere alcuni temi. Hanno chiestodi conversare sulle politiche pubbliche: che cosa sono le politichepubbliche? Chi realizza le politiche pubbliche? Ad un certo momento miè sembrrato che questi membri della comunità che sono piú attuanti, sisiano resi conto che la politica pubblica non è semplicemente la politica28La Mappa del Bambino e dell’Adolescente 2001 presenta il Sistema de Acompagnamento e Valutazione dell’impegnodi dare priorità ai bambini e agli Adolescenti. Molti Comuni di tutto il Paese lo stanno accettando insieme al Programma.Fornisce strumenti per far si che le gestioni municipali si possano inserire nella Rete Sindaco Amico dei Bambini.Per partecipare alla Rete, i sindaci iscritti dovranno riempire la Mappa del Bambino e dell’Adolescente insieme ai diversisettori dell’Ammnistrazione pubblica, la società civile e il Consiglio Municipale dei Diritti del Bambino e dell’Adolescenteed avviarla per un’analisi allla Fondazione Abrinque che dovrà poi approvarla, rendendo così effettivo l’impegno direalizzare la pianificazione, rivolta a questo segmento, e la sua gestione. Fonte: Mappa del Bambino e dell’Adolescente2001, Quaderno 1 – Fondazione Abrinq.


IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 167sviluppata dalla municipalità, dal potere pubblico, ma che la politicapubblica può anche essere la politica sviluppata dagli enti nongovernativi e dalle organizzazioni comunitarie in modo generale. In quelmomento hanno sentito la necessità di tale discussione che è statamolto interessante e ha coinvolto un gruppo a maggioranza femminile,coinvolto anche nel progetto dell’ AVSI (Maura Gerbi, DEAC-PMI).5. PROGRAMMA HABITAR BRASIL/BID – Programma Viver MelhorQuasi parallelamente all’inizio del progetto, il “Banco Interamericano deDesenvolvimento” ha finanziato al Governo Federale un programma a livellonazionale chiamato “Viver Melhor”. L’amministrazione comunale di Ipatinga vi hapartecipato presentando un programma per altre aree a rischio della città. In fasedi elaborazione del progetto, da presentare alla BID, il Municipio si è servito deglistudi realizzati com la collaborazione iniziale di l’AVSI quando si realizzòl’elaborazione del documento “Ritratto della Povertà Umana di Ipatinga.Direttive per la Riduzione”. L’AVSI ha partecipato aiutando a definire l’area chedoveva essere beneficiata a partire dai criteri utilizzati dal BID.Il Progetto Integrato dell’Agglomerato Bethânia, del Programma ViverMelhor/Habitar Brasil/Bid prevedeva interventi fisici, sociali, ambientali edi Regolarizzazione Fondiaria e si trova in fase di esecuzione. È unprogetto di interventi integrati che sta cambiando principalmente le areedei pendii del quartiere Bethânia, soprattutto rispetto all’aspettoambientale e al coinvolgimento del cittadino. Ipatinga è stata una delleotto città scelte in Brasile dal Banco Interamericano de Desenvolvimento,BID, per eseguire il programma Habitar Brasil/BID che porterà risorse perl’urbanizzazione delle favelas, tecnicamente chiamate insediamentisubnormali. Dei 128 progetti Habitar Brasil in andamento nel GovernoFederale, Ipatinga sarà il primo ad essere concluso. Saranno beneficiatecirca 50 mila persone distribuite in abitazioni localizzatenell’Agglomerato Bethânia. Nella regione si concentrano sei dei 23insediamenti subnormali del municipio. Il progetto tende a migliorare laqualità di vita e di residenza della popolazione di cinque insediamentisubnormali del quartiere Bethânia, uno dei piú popolati nella città, nellevie Bonn, Boston, Pusco, Guimarães e Turim. Oltre alle azioni in camposociale, urbanistico, giuridico ed economico è previsto il recupero e losviluppo ambientale del luogo (Fonte: Portal do Cidadão Ipatinga.http://www.ipatinga.mg.gov.br).La comunità ha ricevuto un lavoro sociale e la forma di identificazionedelle attività è stata molto produttiva, per il fatto di aver un’èquipe tuttii giorni nella comunità accompagnando, partecipando, coinvolgendo e


168 •POVERTÀ E PATRIMONIOcoscientizzando. Durante i tre anni di presenza dell’AVSI nellacomunità, c’è stata la percezione di aver raggiunto gli obiettivi. Il fattoche la comunità abbia visto che ciò che era stato promesso è statoconcretizzato, dà credibilità al lavoro e ciò risveglia la comunità apartecipare a nuove attività, sviluppa e scatena il processo dipartecipazione. A partire dal momento in cui la comunità è risvegliatanel suo interesse diventa un collaboratore e un moltiplicatore nelprocesso. Il processo è lento, ma essendo intenso, come lo è statoavendo a disposizione un’èquipe con varie proposte, ha fatto si che inquesti tre anni si ottenessero realmente grandi risultati e ciò è visibile.Il fatto che la comunità sappia che esistono persone preoccupate asviluppare la loro capacità e a trasformarsi in cittadini coscienti è moltoimportante (Núbia, Segretaria Municipale all’Edilizia).


• 169CAPITOLO 3Considerazioni finaliEnrico Novara, in collaborazione con Giorgio CapitanioElementi che hanno favorito il potenziamento della comunitàAbbiamo visto come il programma “Novo Centro” rappresenti unsignificativo intervento di riordinamento dello spazio urbano affrontando problemidistinti, ma caratteristici del recupero delle aree centrali di molte città brasiliane:restituire alla cittadinanza uno spazio di uso collettivo e di identità della stessacittà e, contemporaneamente, garantire migliori condizioni di vita allapopolazione che vi risiede in situazione di degrado fisico ambientale e sociale,favorendo una reale inclusione nelle dinamiche di sviluppo urbano e sociale.Il primo obiettivo si raggiunge generalmente con una buon disegno urbanoed una buona capacità di gestione pubblica (cose non certo semplici) 29 , ilsecondo necessita di un elemento in più: la lettura realistica delle dimensionidella povertà e la definizione di un metodo chiaro di intervento.ll porre mano alla principale area di rischio della città ha fatto pensare cheben altro era il problema: in un rapido censimento sono state individuate 20 areeinformali che necessitavano di un intervento che oltrapassava la semplicedimensione fisica.Risulta interessante, come conclusione, annotare quelli che, a nostroavviso, sono stati i fattori che, oltre al riconosciuto merito di gestione urbana dellamunicipalità, hanno permesso al progetto di garantire una reale integrazione dellapopolazione al resto della città.29Una descrizione degli aspetti di gestione urbana del progetto si trova in Programa Somma “Relatorio de Atividades1993 – 1998”, Belo Horizonte 1998, p. 47-50.


170 •POVERTÀ E PATRIMONIOAssociare la formazione all’azioneIl primo fattore che vale la pena sottolineare è il fatto di aver proposto,subito al termine dell’intervento fisico un momento di formazione sul temaspecifico della povertà urbana.Questo ha garantito:¬ la formazione dei tecnici di diverse “secretarias municipais” per affrontare inmodo multidisciplinare il problema;¬ l’affronto specifico del problema attraverso l’analisi della situazione, ladefinizione delle tipologie di intervento e delle priorità in tutta la città;¬ la coscienza che la povertà non è un problema da relegare nell’ambitodell’emergenza e dell’assistenza, ma deve essere affrontato contestualmentealle politiche di sviluppo della città;¬ la definizione di strumenti e metodi che rispondevano non sono alla comunitàdel Planalto, ma anche agli altri insediamenti informali.A partire da un problema specifico è stato possibile definire strumentigenerali di intervento; i tecnici del comune hanno così avuto la possibilità disperimentarli, nell’ambito di un programma di cooperazione, su una prima areadel municipio.Quando nel 1999, il Governo Federale, ha definito le regole del ProgrammaHabitar – BID per il recupero urbanistico di insediamenti informali, la municipalitàdi Ipatinga si trovava pronta per affrontare la sfida. Il programma prevedeva infattiche i municipi interessati avessero una sufficiente capacità tecnica per sviluppareil progetto proposto e che l’amministrazione identificasse le aree prioritarie diintervento.Oltre all’esperienza già accumulata dalla municipalità nei processi autocostruttivie di “mutirão”, la formazione offerta e la realizzazione di un pianogenerale di riduzione della povertà hanno garantito le condizioni per partecipare alprogramma. Il progetto integrato dell’ “Aglomerado Bethania”, che interessa cinquearee informali della città, fu tra i primi ad essere approvato dalla commissione divalutazione del programma Habitar – BID e tra i primi ad essere concluso.E’ risultato, pertanto, utile associare all’intervento un percorso specifico diformazione dei tecnici e di monitoraggio comune del progetto; in questo modol’esperienza realizzata è diventata un patrimonio comune della municipalità,tanto dei tecnici quanto degli amministratori.


CONSIDERAZIONI FINALI • 171Favorire le condizioni di stabilità dell’insediamentoProgrammi di intervento urbano in aree informali rappresentano, nelcontesto nazionale, vere e proprie possibilità di iniziare un percorso di riduzionedella povertà delle comunità coinvolte. Se la visione dell’intervento non si riducesolamente alle opere infrastrutturali è possibile identificare gli elementi sui qualiintervenire per innestare un processo di sviluppo umano.Nel caso del Planalto II la prima evidenza era la fragilità dei nessi diconvivenza tra le famiglie e le persone della comunità. Intervenire sui fattori chepossono rafforzare il patrimonio ha voluto dire anzitutto favorire le condizioni distabilità delle famiglie, favorendo la creazione e l’uso di luoghi di incontro econvivenza: piazza, parco, chiesa, sale di incontro e riunione, spazi per laformazione professionale.La costruzione è stata pensata e realizzata insieme alle famiglieinteressate, alla parrocchia, alle associazioni presenti.I risultati, quali la riduzione della metà dell’indice di violenza contro ilpatrimonio e l`investimento per l’aumento ed il miglioramento delle abitazioni inquasi metà delle famiglie, mostrano che la popolazione considera il quartierecome un luogo dove si può vivere.Rafforzare la rete dei servizi di utilità pubblicaL’accesso ai servizi nell’ambito dell’educazione, della salute e del lavoro,indica la reale integrazione del quartiere con la città, così come il significativoaumento degli utenti della scuola superiore, la riduzione della percentuale dianalfabetismo al di sotto del valore medio della città, l’incremento delle personeche ricevono attenzioni mediche (gruppi che soffrono di ipertesione, gruppi dellaterza età, ...) indicano un deciso passo verso l’uscita dall’informalità dellacomunità.Questo è avvenuto grazie al significativo rafforzamento della rete dei serviziofferti dalle comunità intermediarie, dalle associazioni di base e dalle entitàpubbliche.Dirigere l’attenzione ai gruppi più vulnerabiliUna volta migliorate le condizioni di identità del quartiere e di integrazioneal resto della città, il progetto ha posto particolare attenzione ai gruppi piùvulnerabili, bambini ed adolescenti con basso indice di frequenza scolastica,lavoratori autonomi, giovani disoccupati per garantire un reale accesso ai servizi.


172 •POVERTÀ E PATRIMONIOLa condivisione dei bisogni come forma di conoscenza rende possibilecreare soluzioni adeguate per quei gruppi che il processo di omologazione rendemaggiormente vulnerabili.Anche in questo caso i risultati sono evidenti:¬ è possibile offrire ai giovani una formazione professionale specifica pergarantire loro la possibilità di concorrere nel mercato del lavoro, inserendolinelle liste delle agenzie private di collocamento;¬ è possibile fornire credito attraverso agenzie specializzate, anche a queilavoratori autonomi che non possono presentare garanzie formali;¬ è possibile recuperare la scolarità ed aumentare la frequenza recuperando ilsignificato e il valore educativo della famiglia.Condividendo la situazione è perciò possibile creare strumenti e metodi diintervento capaci di incidere sulla responsabilità della persona di fronte allapropria vita. E’ questo il primo passo per aiutare le famiglie, anche le piùvulnerabili, a migliorare la propria condizione di vita.

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