Estudo de caso de cuatro países: Brasil, Argentina, Paraguai ... - FDCL
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<strong>Argentina</strong>: As conseqüências da produção <strong>de</strong> agrocombustíveis<br />
A soja transgênica, o plantio direto e as herbicidas<br />
A expansão da monocultura da soja está <strong>de</strong>struindo duas características históricas da<br />
agricultura argentina: a integração da pecuária e da plantação <strong>de</strong> grãos nas proprieda<strong>de</strong>s<br />
rurais e a aplicação <strong>de</strong> uma rotação diversifi cada das culturas que é indispensável<br />
para o combate <strong>de</strong> pragas e doenças e para a preservação da fertilida<strong>de</strong> do solo. O consultor<br />
Charles Benbrook i<strong>de</strong>ntifi ca três causas dos riscos do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção atual:<br />
“Cada vez mais, os agricultores estão plantando somente uma cultura: a soja. Para<br />
combater as ervas daninhas utilizam somente uma herbicida: o glifosato. E, por último,<br />
eles utilizam um único sistema <strong>de</strong> cultivo: o plantio direto.“ 162 Esta extrema <strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> poucos instrumentos e métodos aumenta a vulnerabilida<strong>de</strong> da agricultura em relação<br />
a riscos ecológicos e econômicos.<br />
Até há pouco tempo, a agricultura era dominada pela rotação das culturas soja, trigo e<br />
milho. Para aten<strong>de</strong>r a procura, porém, muitos agricultores plantam cada vez mais soja.<br />
O plantio direto sem movimentação do solo obriga-os a utilizar cada vez mais herbicidas<br />
e inseticidas. Sendo que, neste sistema, o solo quase não é movimentado, formase<br />
uma camada <strong>de</strong> resíduos da colheita na superfície do solo on<strong>de</strong> insetos e ervas daninhas<br />
po<strong>de</strong>m vingar e danifi car as plantações <strong>de</strong> soja. A propagação <strong>de</strong> ervas daninhas<br />
resistentes a herbicidas exacerba o problema adicionalmente.<br />
Nos anos entre 1996/97 e 2003/04, o consumo da herbicida glifosato (nocivo para a saú<strong>de</strong><br />
e o meio-ambiente) aumentou em 56 vezes na agricultura argentina. Em 1996/97, os<br />
sojicultores ainda utilizavam 800 mil quilogramas <strong>de</strong> glifosato em suas plantações, mas<br />
em 2003/04 já eram aproximadamente 45,9 milhões <strong>de</strong> quilogramas. No mesmo período,<br />
o número médio das aplicações das herbicidas com glifosato por pulverização por<br />
colheita aumentou <strong>de</strong> 1,8 a 2,5.<br />
Além disso, o plantio direto sem movimentação do solo levou a uma compactação do<br />
solo e, por conseqüência, a uma menor retenção <strong>de</strong> nutrientes. A redução da fertilida<strong>de</strong><br />
do solo exige, por sua vez, uma maior utilização <strong>de</strong> fertilizantes que, porém,<br />
não po<strong>de</strong> impedir a diminuição da fertilida<strong>de</strong>. Em 1990, ainda eram utilizadas 300 mil<br />
toneladas <strong>de</strong> fertilizante, mas 15 anos mais tar<strong>de</strong> já eram 2,3 milhões <strong>de</strong> toneladas.<br />
Para o futuro, está previsto um crescimento a 4 milhões <strong>de</strong> toneladas. Isto piora, por<br />
conseqüência, o balanço econômico da soja transgênica. O plantio direto reduz os<br />
custos com mão-<strong>de</strong>-obra e máquinas – os custos com pesticidas e fertilizantes, porém,<br />
crescem.<br />
A ameaça para a segurança alimentar<br />
Benbrook elaborou uma avaliação das terras cultivadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período da expansão<br />
da soja, entre 1996 e 2004. Conforme esta avaliação, 25% da expansão ocorreram em<br />
terras que antes serviam ao cultivo <strong>de</strong> culturas importantes, como trigo, sorgo, milho e<br />
girassol. 7% eram terras em que eram plantadas outras culturas, como arroz, algodão,<br />
cevada ou feijão. 27% da expansão da soja ocorreram em pastagens e 41% ao <strong>de</strong>trimento<br />
<strong>de</strong> fl orestas ou <strong>de</strong> savanas com suas fl orestas dispersas. 163<br />
162 Benbrook, 2005, nota <strong>de</strong> rodapé 146, p. 20.<br />
163 Idb., pp. 24-25.<br />
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