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Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

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INTRODUÇÃO<br />

Inúmeras dúvidas rondam o tratado <strong>Sobre</strong> o estilo (Peri\ (Ermhnei/aj). A começar<br />

pela própria questão envolvendo sua data e autoria. Durante anos, ela foi alvo <strong>de</strong><br />

incontáveis controvérsias, que ainda hoje não estão <strong>de</strong> todo resolvidas. Ao longo do tempo,<br />

os estudiosos propuseram datas que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o séc. III a.C. ao séc. II d.C., e, quanto a seu<br />

autor, convencionou-se chamá-lo <strong>de</strong> <strong>Demétrio</strong>, <strong>de</strong>vido a indicações presentes em<br />

manuscritos, mas não há nenhuma informação a seu respeito. Contudo, atualmente, os<br />

comentadores ten<strong>de</strong>m a admitir como mais provável que a obra pertença ao século I a.C.,<br />

refletindo, então, concepções dos séculos III e II a.C. 1<br />

E se quase nada é sabido <strong>sobre</strong> seu autor, também muito pouco se sabe <strong>sobre</strong> seu<br />

suposto público – sequer se esse seria constituído <strong>de</strong> leitores ou ouvintes. O certo é que a<br />

obra possui características <strong>de</strong> um manual <strong>de</strong> retórica, o qual, sob marcante influência dos<br />

peripatéticos e do estoicismo, apresenta, com um caráter notadamente didático, conselhos<br />

<strong>de</strong> como compor um discurso. Mas certa também é a presença <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

reflexões críticas <strong>sobre</strong> passagens da literatura grega, o que provocou um fecundo <strong>de</strong>bate,<br />

entre os comentadores, <strong>sobre</strong> se ele seria um manual <strong>de</strong> retórica ou uma obra <strong>de</strong> crítica<br />

literária.<br />

Innes chega a afirmar que, à diferença <strong>de</strong> muitas outras fontes, particularmente em<br />

latim, não haveria nele uma propensão para a oratória. 2 Outro comentador que ten<strong>de</strong> para o<br />

lado da crítica literária é Grube: sem que, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>re a vinculação do tratado à<br />

retórica, em dado momento comenta que <strong>Demétrio</strong> <strong>de</strong>ve ter sido, se não um gênio, pelo<br />

menos um educador com um bom conhecimento da literatura grega, sem ser um filósofo,<br />

nem apenas retórico. Seu interesse seria pela literatura, mais do que pelos processos, casos<br />

ou argumentos ligados aos tribunais. 3 Em outra ocasião, o mesmo autor volta a salientar<br />

que os interesses <strong>de</strong> <strong>Demétrio</strong> são obviamente literários, mais do que estritamente<br />

retóricos, e lembra que os oradores são frequentemente mencionados, mas apenas como<br />

um tipo <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong>ntre vários. A conclusão, então, seria que estaríamos diante <strong>de</strong> um<br />

exemplo <strong>de</strong> crítica literária, da parte <strong>de</strong> um homem treinado em retórica, mas não um mero<br />

1 Cf. Innes, Demetrius. On Style, p. 313.<br />

2 Innes, Demetrius. On Style, p. 312.<br />

3 Grube, The Greek and Roman Critics, p. 119.<br />

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