Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
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Assim, a poesia assume uma posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no <strong>de</strong>senvolvimento teórico <strong>de</strong><br />
<strong>Demétrio</strong>, o que, naturalmente, cria um espaço ainda maior para a construção <strong>de</strong> uma<br />
crítica a ela e/ou aos poetas citados. Mais do que isso, essa crítica não apenas é <strong>de</strong>limitada<br />
pela referida relação entre a poesia e a prosa, mas, ao contrário, surge, por vezes, <strong>de</strong>ssa<br />
própria relação, e um dos melhores exemplos disso é a questão métrica e rítmica que<br />
abordaremos mais a frente. 67 Mas antes <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrarmos o campo propriamente <strong>de</strong>ssa<br />
reflexão crítica, algumas questões terminológicas são dignas <strong>de</strong> nota.<br />
2.1 Questões terminológicas acerca da poesia e da prosa no tratado<br />
A poesia é abordada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras linhas do PH, on<strong>de</strong> é apresentada a partir <strong>de</strong><br />
uma distinção da prosa, distinção essa que estará indicada pelos termos poi/hsij e<br />
lo/goj 68 , este segundo encontrando ainda um equivalente na expressão e9rmhnei/a logikh/.<br />
A princípio, po<strong>de</strong>ríamos pensar que, a exemplo do que ocorre nessas linhas, a aplicação do<br />
termo poi/hsij para textos em verso e, por conseguinte, <strong>de</strong> lo/goj para aqueles em prosa<br />
(o mesmo servindo para os <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong>ssas raízes) esten<strong>de</strong>r-se-ia a todo o tratado.<br />
De fato, po<strong>de</strong>mos verificá-la em algumas passagens. No parágrafo 4, por exemplo,<br />
a poesia, então <strong>de</strong>finida pela expressão h( poihtikh/, encontra-se também em contraposição<br />
ao discurso em prosa, <strong>de</strong>finido mais uma vez por lo/goj 69 , e o verso (me/tron) é novamente<br />
mencionado, a partir da relação analógica com os colos, também já <strong>de</strong>scrita naquelas linhas<br />
introdutórias, como um elemento essencialmente poético. Também uma relação similar<br />
ocorre no parágrafo 12, mas, <strong>de</strong>ssa vez, com outros componentes do discurso, os períodos;<br />
e, na ocasião, a contigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes na obra <strong>de</strong> Isócrates, Górgias e Alcidamante é<br />
comparada com a sequência <strong>de</strong> hexâmetros da poesia <strong>de</strong> Homero, ou seja, observa-se a<br />
mesma tendência em consi<strong>de</strong>rar o verso como um item distintivo entre a poi/hsij e a<br />
prosa, esta segunda representada, na passagem, pela oratória (r(htorei/a) <strong>de</strong>sses autores.<br />
É oportuno lembrar que <strong>Demétrio</strong> abre uma possibilida<strong>de</strong> para a construção <strong>de</strong><br />
metros (seja metros inteiros, seja meta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> versos) na prosa, o que traria prazer e graça a<br />
67 Acerca <strong>de</strong>ssa questão, cf. tópico 2.2 (infra).<br />
68 As diferentes acepções para o termo lo/goj no tratado serão ainda discutidas a frente, no capítulo 3 (infra).<br />
Acerca da distinção dos referidos termos, cf. também: Platão, República, III, 390a; Aristóteles, Retórica, III,<br />
2, 7.<br />
69 A expressão h( poihtikh/ é utilizada novamente como sinônimo <strong>de</strong> poesia para <strong>de</strong>finir a obra poética <strong>de</strong><br />
Crates (§ 170).<br />
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