Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

passagens famosas de autores da prosa. 9 Nessa nova fase do aprendizado, então, esses
alunos partiriam para lições mais difíceis, comumente chamadas de declamationes, as
quais teríamos de supor que, no período helenístico do terceiro/segundo século, não se
restringiriam à prática forense e deliberativa, mas também ao discurso epidítico. 10
Sem dúvida, essa parece ter sido, até hoje, a hipótese mais plausível acerca do
público do tratado e a que responde de forma mais razoável a nossa questão inicial. Ou
seja, estamos, sim, diante de um manual do orador, porém em uma fase mais avançada do
aprendizado, isto é, em que não se exclui, de forma alguma, a crítica literária. Ao contrário,
esta não apenas se faz presente, como se torna um importante instrumento para a teoria
retórica, como o próprio Schenkeveld menciona. 11
Ainda que se oponha a Kennedy, ele mesmo admite que, além do caráter instrutivo,
há também passagens tomadas a partir de citações de autores que não apontam para um fim
prático, e sim para um julgamento. 12 Ademais, ele também rebate a asserção de Innes, que
o contesta por ter afirmado que Demétrio teria sido um escritor de um manual de estilística
para futuros oradores (“orators-to-be”). 13 Esta última autora questiona por que haveria
matérias não propriamente de oratória (“non-oratorical”) no caso do estilo grandioso, como
as batalhas navais (§ 75), e tão poucos exemplos da oratória no PH. 14 O autor se defende,
contudo, dizendo que, naquela ocasião, de fato não esclarecera quem seriam esses „futuros
oradores‟, o que, pelo que diz em seu artigo, não só se torna mais nítido, como também a
consequente presença de assuntos não propriamente ligados à oratória fica justificada.
Em conclusão, ainda que a questão não esteja de todo resolvida, mesmo porque a
hipótese de Schenkeveld, embora embasada, não pode ser, em absoluto, comprovada, o
que se pode depreender de toda a discussão é que, se os autores debatem sobre a
possibilidade de o tratado vir a ser, ou não, uma obra de crítica literária, a existência dessa
crítica é inconteste.
Todavia, muito pouco foi explorado no plano de tal crítica e grande parte das
concepções de Demétrio sobre os autores que menciona permanece na sombra. Os
9
Schenkeveld, The Intended Public of Demetrius‟s On Style: The Place of the Treatise in the Hellenistic
Educational System, p. 40.
10
Schenkeveld, The Intended Public of Demetrius‟s On Style: The Place of the Treatise in the Hellenistic
Educational System, p. 47. Para uma percepção mais ampla acerca do ensino literário e a questão da mimese
cf. Bompaire, Lucien Écrivan: Imitation et creation, p. 33-97.
11
Schenkeveld, The Intended Public of Demetrius‟s On Style: The Place of the Treatise in the Hellenistic
Educational System, p. 47. Cf. Classen, Rhetoric and Literary Criticism. Their Nature and their Functions in
Antiquity, p. 527.
12
Schenkeveld, Studies in Demetrius on Style, p. 51.
13
Schenkeveld, Studies in Demetrius on Style, p. 80.
14
Innes, Reviewed work(s): Studies in Demetrius 'On Style' by Dirk Marie Schenkeveld Source, p. 316.
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