Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
parágrafo seguinte, a evidência será verificada em Homero no emprego das palavras<br />
criadas (ta\ pepoihme/na o)no/mata), as quais trazem consigo a imitação daquilo que<br />
exprimem, e, como exemplo, teríamos o termo la/ptontej (lambendo), da Ilíada, XVI,<br />
161, que reproduz a ação <strong>de</strong> lobos bebendo – embora o autor do PH diga que se trate <strong>de</strong><br />
“cães” (ku/nej) –, ao qual antepor-se-ia também o termo glw/ssh|ssi (línguas), que tornaria<br />
ainda mais evi<strong>de</strong>nte o discurso.<br />
E, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, o poeta também é lembrado pela veemência <strong>de</strong><br />
alguns <strong>de</strong> seus versos. É o que po<strong>de</strong>mos verificar naquele da Ilíada, XII, 208: Trw=ej d‟<br />
e0rri/ghsan, o3pwj i1don ai0o/lon o1fin (Os troianos arrepiaram-se quando viram a serpente<br />
<strong>de</strong> várias cores), citado no parágrafo 255. <strong>Demétrio</strong> chega, inclusive, a propor uma<br />
„solução‟ mais eufônica para o hexâmetro, mas, segundo ele próprio, ela não transmitiria o<br />
terror experimentado pelo poeta e transmitido pela própria serpente, uma vez que, do<br />
verso, seria retirada a cacofonia requerida pelo assunto proposto.<br />
Finalmente, há uma passagem que associa o poeta a esse tipo <strong>de</strong> estilo e que merece<br />
maior atenção. Trata-se do parágrafo 262, em que <strong>Demétrio</strong> aproxima a famosa fala do<br />
Ciclope a Odisseu, presente na Odisseia, IX, 369: Ou]tin e)gw\ pu/maton e)/domai (Ninguém<br />
vou comer por último), do chamado “modo cínico” (o( Kuniko\j tro/poj), <strong>de</strong>scrito nos<br />
parágrafos prece<strong>de</strong>ntes. 135 Ela se relaciona, pois, diretamente com outras duas anteriores,<br />
dos parágrafos 130 e 152, revelando, juntamente com essas, uma visão única no contexto<br />
da crítica literária <strong>de</strong> Homero na Antiguida<strong>de</strong>, razão pela qual também nos parece<br />
imprescindível abordá-las, então, com maiores <strong>de</strong>talhes. Para tanto, um exame também das<br />
outras menções ao episódio parece-nos oportuna na medida em que traz à tona elementos<br />
únicos na construção <strong>de</strong>ssa cena odisseica diante do <strong>olhar</strong> <strong>crítico</strong> <strong>de</strong> <strong>Demétrio</strong>.<br />
2.4.1.1 Horror e humor no canto IX da Odisseia: a leitura crítica do episódio do Ciclope<br />
proposta por <strong>Demétrio</strong><br />
<strong>Um</strong>a análise, ainda que breve, das menções feitas por <strong>Demétrio</strong> ao episódio do<br />
Ciclope no canto IX da Odisseia revela, para além <strong>de</strong> um notório interesse pela passagem<br />
da obra <strong>de</strong> Homero, traços peculiares <strong>de</strong> uma acurada crítica literária. Nessa crítica, como<br />
não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, enfatiza-se o horror da personagem Polifemo, sua aparência e<br />
ações monstruosas. No entanto, menções à famosa fala do Ciclope, nos versos 369 e<br />
135 §259-262.<br />
48