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Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

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2.3 Questão métrica e rítmica na poesia: uma reflexão <strong>sobre</strong> os hexâmetros, trímetros<br />

e coliambos<br />

Conforme salientamos anteriormente, da relação entre a poesia e a prosa <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-<br />

se também uma reflexão crítica acerca da primeira, e o melhor exemplo <strong>de</strong> como a crítica<br />

nasce <strong>de</strong>ssa relação talvez sejam as questões métricas e rítmicas envolvendo, <strong>sobre</strong>tudo, os<br />

hexâmetros, trímetros e coliambos. Tais questões não são, pois, tratadas isoladamente, mas<br />

emergem na medida em que se tomam elementos próprios da poesia em analogia com<br />

aqueles constitutivos do discurso em prosa. 97 Aliás, essa é uma analogia que, como vimos<br />

a respeito das questões terminológicas envolvendo os textos em verso e em prosa, aparece<br />

já indicada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras linhas do PH:<br />

9/Wsper h9 poi/hsij diairei=tai toi=j me/troij, oi[on h2 tri/metroij h2<br />

e9came/troij h2 toi~j a)/lloij, ou(/tw kai\ th\n e9rmhnei/an th\n logikh\n<br />

diairei= kai\ diakri/nei ta\ kalou/mena kw=la, kaqa/per a0napau/onta to\n<br />

le/gonta te kai\ ta\ lego/mena au0ta\ kai\ e0n polloi=j o(/roij o9ri/zonta<br />

to\n lo/gon, e0pei/ toi makro/j a)\n ei)/h kai\ a)/peiroj kai\ a0texnw=j pni/gwn<br />

to\n le/gonta.<br />

Assim como a poesia é dividida em metros (trímetros, hexâmetros, ou<br />

outros), também divi<strong>de</strong>m e repartem estilo em prosa os chamados colos, os<br />

quais impõem pausas tanto para o enunciador quanto para o próprio<br />

enunciado, e <strong>de</strong>terminam os muitos termos do discurso, sem os quais,<br />

longo ele seria, e ilimitado, e, para seu enunciador, simplesmente<br />

sufocante. 98<br />

Ora, a relação analógica entre o termo colo, estrutura mínima da frase 99 , e o verso,<br />

estrutura básica da composição poética 100 , não apenas ocorrerá mais <strong>de</strong> uma vez, como<br />

97<br />

Cf. § 1, 4-6, 12, 42-43, 204-205.<br />

98<br />

§ 1.<br />

99<br />

Como lembra Morpurgo-Tagliabue, para Aristóteles, na prosa oratória a articulação que prevalece é a<br />

sintática, e essa por sua vez concorda com a segmentação rítmica, obe<strong>de</strong>cendo ao uso em certos lugares <strong>de</strong><br />

certos metros (ao início e ao final); o orador <strong>de</strong>veria então saber fazer coincidir ritmo e sintaxe. Na poesia, ao<br />

contrário, o metro constituía uma segmentação fixa e autônoma, intrínseca ao discurso; era o discurso que se<br />

mo<strong>de</strong>lava <strong>sobre</strong> o metro, não o metro <strong>sobre</strong> o discurso (salvo a escolha prévia <strong>de</strong> metros conforme o<br />

argumento). Na poesia, valeria, por conseguinte, o par semântico-métrico, enquanto na prosa, preveleceria<br />

aquele sintático-rítmico. Todavia, com <strong>Demétrio</strong> veríamos uma modificação <strong>de</strong>ssa distinção canônica, que<br />

valeu por toda a Antiguida<strong>de</strong>. Enquanto na poesia prevalece a articulação temporal perceptiva (métrica) em<br />

conjuntos fonéticos (conjuntos temporais unitários, a estrofe, e sua base <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> mínima perceptiva, os<br />

pés), na prosa, por sua vez, o campo é segmentado em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significado, a proposição atômica (o colo):<br />

os segmentos são semânticos, o resultado é semântico, a articulação é semântica. Em outras palavras, a<br />

sintaxe é eclipsada; permanece a diferença entre metro e ritmo, mas não mais aquela entre o par semânticométrico<br />

(na poesia) e sintático-rítmico (na prosa) (Demetrio: <strong>de</strong>llo stile, p. 56-58).<br />

100<br />

Também é oportuno <strong>de</strong>stacar a comparação, proposta mais à frente, entre períodos e hexâmetros; o<br />

emprego <strong>de</strong>stes na poesia <strong>de</strong> Homero é comparado com a contiguida<strong>de</strong> daqueles na oratória <strong>de</strong> Isócrates,<br />

Górgias e Alcidamante (cf. § 12). A falta <strong>de</strong> pausas na composição também é lembrada, em outra passagem,<br />

como um fator <strong>de</strong> frieza, como se fosse uma composição <strong>de</strong> versos contíguos (§ 118).<br />

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