Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Também o epifonema, o qual, segundo palavras <strong>de</strong> <strong>Demétrio</strong>, é uma expressão que,<br />
além <strong>de</strong> adornar, confere máxima grandiosida<strong>de</strong> aos discursos, é apontado como um<br />
recurso corrente na poesia <strong>de</strong> Homero, e, à guisa <strong>de</strong> exemplo, temos a Odisseia, XVI, 288-<br />
294. 129 Aliás, as figuras utilizadas pelo poeta e que se a<strong>de</strong>quam à gran<strong>de</strong>za serão relatadas<br />
em vários pontos da obra, como, por exemplo, no parágrafo 60, em que se comenta o<br />
emprego da antipálage na Odisseia, XII, 73: Oi( <strong>de</strong>_ du/o sko/peloi o( me_n ou)rano_n eu)ru_n<br />
i(ka/nei (Os dois promontórios, um chega ao vasto céu) 130 ; ou ainda, no parágrafo 61, da<br />
epanáfora na Ilíada, II, 271-273: Nireu\j ga/r trei=j nh=aj a)/ge, Nireu\j 0Aglai/+hj ui9o/j,<br />
Nireu/j, o(\j ka/llistoj a)nh\r u9po\ )/Ilion h]lqen (Nireu três naus conduzia, Nireu, filho <strong>de</strong><br />
Aglaia, Nireu,o mais belo homem que veio até Ílion). 131<br />
Até mesmo <strong>de</strong>terminados procedimentos que, a principío, consi<strong>de</strong>raríamos opostos,<br />
são aludidos como fatores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za em Homero; é o caso do emprego das partículas <strong>de</strong><br />
ligação (sun<strong>de</strong>smoi/). Em dado momento, a supressão <strong>de</strong>las, também chamada <strong>de</strong> disjunção<br />
(dia/lusij), é apresentada como um fator <strong>de</strong> elevação do estilo, fenômeno observado nos<br />
mesmos versos da Ilíada (II, 271-273) supracitados, ou, ainda, na Ilíada, XIII, 799: kurta/,<br />
falhrio/wnta (recurvas, que pintam <strong>de</strong> branco com suas espumas), no parágrafo 64.<br />
Porém, no parágrafo 54, o autor afirma que seria, justamente, a sucessão <strong>de</strong> partículas, ou<br />
seja, o excesso <strong>de</strong>las, que promoveria a gran<strong>de</strong>za das cida<strong>de</strong>s beócias nomeadas na Ilíada,<br />
II, 497: Sxoi~non te Skw~lon te polu/knhmo/n t‟ )Etewno/n (E Esqueno, e Escolo, e<br />
montanhosa Esteono).<br />
Mas é oportuno ressaltar que, apesar da evi<strong>de</strong>nte oposição, há algo <strong>de</strong> comum entre<br />
os dois procedimentos: ambos fogem ao uso corrente, isto é, àquilo que é próprio do<br />
costume. E justamente o costume (to\ su/nhqej) é concebido por <strong>Demétrio</strong> como a<strong>de</strong>quado<br />
para questões menores, conforme afirma no parágrafo 60: Pa=n <strong>de</strong>\ to\ su/nhqej<br />
mikroprepe/j, dio\ kai\ a)qau/maston (tudo o que é costumeiro é próprio <strong>de</strong> questões menos<br />
relevantes e, por isso, também nada admirável); passagem que, aliás, prece<strong>de</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento acerca da disjunção acima mencionado. Em outras palavras, o fato <strong>de</strong><br />
escaparem ao uso corriqueiro parece justificar, pelo menos em parte, o emprego <strong>de</strong> ambos<br />
os procedimentos – à primeira vista, opostos – para se atingir a gran<strong>de</strong>za nos versos<br />
supracitados.<br />
129 § 107<br />
130 § 60.<br />
131 § 61.<br />
44