06.04.2013 Views

Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

Sobre o Estilo de Demétrio Um olhar crítico sobre a Literatura Grega ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

verifica em dois termos extraídos da obra do poeta: um, da Odisséia, IX, 394: si/ze (chiou);<br />

e o outro, da Ilíada XVI, 161: la/ptontej (lambendo). 133<br />

Mas há ainda um <strong>de</strong>talhe na crítica <strong>de</strong> <strong>Demétrio</strong> a Homero que não <strong>de</strong>ve passar<br />

<strong>de</strong>spercebido. Apesar do tom elogioso com que o poeta é tratado em praticamente toda a<br />

obra, ele não escapa também à censura, e isso ocorre precisamente em duas passagens.<br />

<strong>Um</strong>a <strong>de</strong>las, no parágrafo 83, em que a metáfora da Ilíada, XXI, 388: a)mfi\ d‟ e)sa/lpigcen<br />

me/gaj ou0rano/j (E, ao redor, trombeteou o vasto céu), é tratada como um fator <strong>de</strong><br />

irrelevância mais do que <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, mesmo que empregada para conferir volume ao<br />

enunciado. E a outra, no parágrafo 124, em que se discute a frieza da hipérbole, <strong>de</strong> cujos<br />

exemplos dois são extraídos, justamente, <strong>de</strong> passagens <strong>de</strong> Homero: o primeiro <strong>de</strong>les, da<br />

Ilíada, X, 437: leuko/teroi xio/noj (mais brancos do que neve), criticado pela chamada<br />

proeminência (kaq‟ u(peroxh/n) da hipérbole; e o segundo, da Ilíada, IV, 443: ou)ranw~ |<br />

e)sth/rice ka/rh (a cabeça apoia-se no céu), pela impossibilida<strong>de</strong> da mesma (kata\ to\<br />

a)du/naton).<br />

De qualquer modo, essas duas passagens representam, <strong>de</strong> fato, muito pouco diante<br />

<strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong> tantas citações sempre marcadas pelo tom <strong>de</strong> elogio ao poeta. <strong>Um</strong><br />

elogio que, aliás, como dissemos anteriormente, não se restringe à grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

estilo, mas também se aplica a outros aspectos estilísticos da obra. E um dos melhores<br />

exemplos <strong>de</strong>ssa aplicação encontra-se nas menções a Homero no âmbito do estilo elegante.<br />

No parágrafo 129, por exemplo, a graciosa passagem da Odisseia, VI, 105-108, em<br />

que se compara Nausíca, no jogo com suas companheiras, à <strong>de</strong>usa Ártemis, jogando com<br />

as ninfas, serve para exemplificar os tipos <strong>de</strong> graça chamados nobres e grandiosos (ai9<br />

lego/menai semnai\ xa/ritej kai\ mega/lai), os quais, como se lê no parágrafo prece<strong>de</strong>nte,<br />

constituem uma característica marcante do discurso elegante (o( glafuro\j lo/goj).<br />

Também é oportuno notar que, além da presença <strong>de</strong> assuntos graciosos em seus<br />

versos, Homero é ainda lembrado, no parágrafo 133, pelo acréscimo <strong>de</strong> graça alcançado,<br />

exatamente, pela eficácia do estilo. E para exemplificá-lo, a Odisséia, XIX, 518-519:<br />

w(j d‟ o(/te Pandare/ou kou/rh, xlwrhi+j a)hdw/n,<br />

kalo\n a)ei/dh|sin, e)/aroj ne/on i9stame/noio:<br />

Como quando, menina <strong>de</strong> Pandáreo, um rouxinol do verdor da mata<br />

belamente canta, em uma primavera que acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar.<br />

133 § 94. Acerca <strong>de</strong>sse segundo exemplo, cf. ainda § 219; O primeiro <strong>de</strong>les será retomado em nosso estudo, no<br />

tópico 2.4.1.1 (cf. infra).<br />

46

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!