centro universitário senac curso de mestrado, moda, cultura e arte ...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC<br />
CURSO DE MESTRADO, MODA, CULTURA E ARTE<br />
MARIA DE FÁTIMA GRAVE<br />
A MODA-VESTUÁRIO E A ERGONOMIA DO HEMIPLÉGICO<br />
SÃO PAULO<br />
2007
MARIA DE FÁTIMA GRAVE<br />
A MODA-VESTUÁRIO E A ERGONOMIA DO HEMIPLÉGICO<br />
SÃO PAULO<br />
2007<br />
Dissertação apresentada como<br />
requisito para a obtenção do título <strong>de</strong> Mestre<br />
em <strong>moda</strong>, <strong>cultura</strong> e <strong>arte</strong>, sob orientação do<br />
Professor Doutor Luiz Octávio <strong>de</strong> Lima<br />
Camargo.
Catalogação na Fonte<br />
Grave, Maria d Fátima<br />
G781m A Moda-vestuário do Hemiplégico / Grave,Maria <strong>de</strong> Fátima – São<br />
Paulo, 2007.<br />
133 f. : il. color. ; 29 cm<br />
Orientador: Prof. Dr. Luiz Octávio <strong>de</strong> Lima Camargo.<br />
Dissertação Mestrado Curso (Stricto Senso: Moda, Cultura e Arte) Centro<br />
Universitário Senac, Campus Santo Amaro, São Paulo, 2007.<br />
1.a presença <strong>de</strong> mecanismos para vestir-se 2.hemiplegia ou hemiparesia 3.a<br />
mo<strong>de</strong>lagem ergonômica 4.metodologia I. Luiz Octávio <strong>de</strong> Lima Camargo<br />
(orient.) II. Título.<br />
CDD 641
A MODA-VESTUÁRIO E A ERGONOMIA DO<br />
HEMIPLÉGICO.<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima Grave<br />
Esta dissertação foi julgada a<strong>de</strong>quada para a obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em<br />
<strong>moda</strong>, <strong>cultura</strong> e <strong>arte</strong> e aprovada em sua forma final pelo Programa <strong>de</strong> Pós-<br />
Graduação do Centro Universitário SENAC, em 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />
APRESENTADA À COMISSÃO EXAMINADORA<br />
INTEGRADA PELOS PROFESSORES:<br />
___________________________<br />
Professor Luiz Octávio <strong>de</strong> Lima Camargo. Dr.<br />
(Centro Universitário SENAC – Orientador)<br />
___________________________<br />
Professora Ana Lúcia <strong>de</strong> Castro. Dra.<br />
(Centro Universitário SENAC)<br />
___________________________<br />
Professora Suzana <strong>de</strong> Avelar Gomes. Dra.<br />
(Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP)
A Deus e a minha família:<br />
Kuzma, querido marido,<br />
incansável companheiro.<br />
Ao meu filho Caio Henrique, razão<br />
da minha vida.<br />
Aos meus pais, Manoel (in<br />
memoriam) e Maria do Rosário,<br />
pelo amor e carinho sempre<br />
<strong>de</strong>monstrados, em especial nos<br />
momentos difíceis.<br />
A Paulo José Terrezza Licciardi,<br />
a quem <strong>de</strong>dico este estudo.
Agra<strong>de</strong>cimento especial<br />
Por ter estendido a mão,<br />
auxiliado, acolhido e orientado.<br />
Por ter apontando o<br />
caminho e persistido que o<br />
caminhar <strong>de</strong>ve ser com os<br />
próprios pés.<br />
Por não ter ensinado fórmulas,<br />
regras, raciocínios, e sim ter<br />
questionado e <strong>de</strong>spertado para<br />
a realida<strong>de</strong>, fazendo germinar o<br />
saber.<br />
A você Professor Doutor Luiz<br />
Octávio <strong>de</strong> Lima Camargo, o meu<br />
muito obrigado.
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
Agra<strong>de</strong>ço a Deus, pela imensa generosida<strong>de</strong> com que me acolhe nos<br />
momentos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>, e pelos anjos que colocou em meu<br />
caminho.<br />
Aos professores do <strong>curso</strong>, que sempre estiveram presentes,<br />
apoiando e compartilhando conhecimentos.<br />
A direção do Mestrado e a todos os colegas pelo incentivo e apoio,<br />
especialmente a Professora Doutora Cyntia Malaguti que todo o<br />
tempo me ajudou e mostrou-se amiga.<br />
A Fundação Selma, que abriu espaço ao estudo <strong>de</strong> caso e<br />
possibilitou concretização <strong>de</strong>sse trabalho.<br />
A Clínica C.U.R.A.T, em especial ao seu diretor José Carlos Teixeira<br />
do Vale.<br />
Enfim, a todos que direta ou indiretamente me ajudaram nesta etapa<br />
<strong>de</strong> estudos.
(...) a concepção da vida enquanto um tipo <strong>de</strong> estado fetal<br />
permanente do tempo confere ao homem a natureza <strong>de</strong> um ser<br />
em constante mutação ou, ainda mais, em um inacabado e<br />
interminável processo <strong>de</strong> fazer-se, <strong>de</strong> auto <strong>de</strong>finição. Não é<br />
outro sentido da frase <strong>de</strong> Arnald Gehlen quando afirma que<br />
“<strong>de</strong>r Mensch ist ein Màngelwesen” (o homem é um ser<br />
composto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências). Isto implica que a consciência <strong>de</strong><br />
sua própria fragilida<strong>de</strong> obriga a este ser sua permanente recriação<br />
<strong>de</strong> si mesmo, criando para tanto um po<strong>de</strong>roso<br />
instrumento que se prestasse <strong>de</strong> útero <strong>de</strong> suas infindas<br />
gerações (BAITELLO, 1999, p.94)
RESUMO<br />
Como a <strong>moda</strong>-vestuário po<strong>de</strong> contribuir para minorar o <strong>de</strong>sconforto do hemiplégico,<br />
dada sua condição física? Trata-se <strong>de</strong> um duplo problema: primeiro, <strong>de</strong> ergonomia,<br />
pois o hemiplégico ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>senvolver uma atrofia do lado comprometido que, na<br />
maioria das vezes, está paralisado e gera repercussões <strong>de</strong> postura no lado sadio;<br />
segundo, <strong>de</strong> <strong>moda</strong>, visto que não se trata <strong>de</strong> um vestuário com o objetivo apenas <strong>de</strong><br />
abrigá-lo, mas também <strong>de</strong> fazê-lo sentir-se confortável em relação aos padrões<br />
sociais das pessoas com as quais convive. Com a falta <strong>de</strong> estudos que sintetizem e<br />
substanciem um vestuário a<strong>de</strong>quado para este segmento da população, o usuário<br />
não encontra tais peças à venda no mercado - daí a importância <strong>de</strong> pesquisas<br />
<strong>de</strong>talhadas sobre as áreas do corpo do <strong>de</strong>ficiente hemiplégico. Destas preocupações<br />
nasceu este trabalho, baseado em pesquisas já realizadas sobre as características<br />
da postura do <strong>de</strong>ficiente físico hemiplégico. Com base nestas pesquisas e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
estabelecer as <strong>de</strong>finições específicas a respeito <strong>de</strong> sua condição física, caminhar-seá<br />
para a apresentação <strong>de</strong> protótipos ergonomicamente ajustados.<br />
Palavras-chave: ergonomia, <strong>moda</strong>, hemiplegia, conforto.
ABSTRACT<br />
How can fashionable clothing contribute to abating a hemiplegic person’s discomfort<br />
toward their physical condition? It is a matter of a dual concern: firstly, that of<br />
ergonomics since a hemiplegic person tends to present atrophy <strong>de</strong>velopment on their<br />
body affected si<strong>de</strong>, which is usually paralyzed and acts as a postural <strong>de</strong>formities<br />
<strong>de</strong>veloper on the healthy si<strong>de</strong>. Secondly, that related to the fashion question as long<br />
as it is about clothing that not only shelters them but also makes the i<strong>de</strong>ntification<br />
with other people around them possible. Consequently, it is also about making them<br />
feel that they belong. However, because there is a lack of studies that unify and<br />
reinforce adaptable clothing for this population’s niche, wearers have great difficulty<br />
when shopping for clothes that fit them properly. That is why having thorough studies<br />
about the hemiplegic person’s body parts is vital. This study arose from those worries<br />
and it was based on researches that have already been carried out about a<br />
hemiplegic person’s postural characteristics. Based on these researches and after<br />
having the specific physical conditions established, I will then move on to presenting<br />
ergonomically adapted prototypes.<br />
Key words: ergonomics, fashion, hemiplegic, comfort.
LISTA DE FOTOS<br />
Foto 1 - Posicionamento da altura em relação ao ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do<br />
cóccix ................................................................................................ 81<br />
Foto 2 - Paralela da altura sagital baseada na orelha/mamilo ....................... 82<br />
Foto 3 - Medição em contorno da mão sã (direita) ........................................ 83<br />
Foto 4 - Medição em contorno da mão plégica (esquerda) ............................ 83<br />
Foto 5 - Posicionamento para medição da mão plégica ................................ 84<br />
Foto 6 - Medição do braço, baseada no plano frontal, braço são (direito) ..... 85<br />
Foto 7 - Medição do braço baseada no plano frontal, braço plégico<br />
(esquerdo) ......................................................................................... 86<br />
Foto 8 - Medição da altura do tronco e do abdome, plano transversal, perna<br />
sã (direita) ......................................................................................... 88<br />
Foto 9 - Medição da altura do tronco e do abdome, plano transversal, perna<br />
plégica (esquerda) ............................................................................ 89<br />
Foto 10 - Disposição da altura com base no cóccix (ponto gravitacional) ....... 91<br />
Foto 11 - Mo<strong>de</strong>lo tecido segunda pele, antialérgio, frente da calça ................. 101<br />
Foto 12 - Mo<strong>de</strong>lo tecido segunda pele, antialérgico, costas ............................ 102<br />
Foto 13 - Deficiência do corpo e sua assimetria frente .................................... 103<br />
Foto 14 - Deficiência do corpo e sua assimetria costas ...................................<br />
Foto 15 - Tecido <strong>de</strong> algodão, mostrando a simetria frente, fechamento em<br />
104<br />
vélcro ................................................................................................ 105<br />
Foto 16 - Tecido <strong>de</strong> algodão, mostrando a simetria, costas ............................ 106
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1 - Bengala inglesa ........................................................................... 59<br />
Figura 2 - Ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> no sacro e joelho ......................................... 61<br />
Figura 3 - Alavancas eficazes para rotatória ............................................... 68<br />
Figura 4 - Corpo em flexão .......................................................................... 72<br />
Figura 5 - Perna da frente direita sã e perna esquerda plégica ................... 94<br />
Figura 6 - Perna traseira direita sã e perna esquerda plégica ..................... 95<br />
Figura 7 - Componente da p<strong>arte</strong> da frente ................................................... 96<br />
Figura 8 - Frente e costas da camisa .......................................................... 97<br />
Figura 9 - Mo<strong>de</strong>lagem da manga esquerda e direita ................................... 98<br />
Figura 10 - Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da camisa ............................................... 99<br />
Figura 11 - Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da calça .................................................. 100<br />
Figura 12 - Avariação do ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do hemiplégico em marcha ... 108
LISTA DE QUADROS<br />
Quadro 1 - Sinergia <strong>de</strong> flexão estereotipada <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> um<br />
hemiplégico ....................................................................................<br />
Quadro 2 - Sinergia extensora estereotipada do movimento <strong>de</strong> um<br />
hemiplégico ....................................................................................<br />
54<br />
54
SUMÁRIO<br />
FOLHA DE APROVAÇÃO.................................................... Erro! Indicador não <strong>de</strong>finido.<br />
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................3<br />
AGRADECIMENTO ESPECIAL ...........................................................................................4<br />
AGRADECIMENTOS..............................................................................................................5<br />
EPÍGRAFE................................................................................................................................6<br />
RESUMO...................................................................................................................................7<br />
ABSTRACT ..............................................................................................................................8<br />
LISTA DE FOTOS ...................................................................................................................9<br />
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................10<br />
LISTA DE QUADROS ..........................................................................................................11<br />
SUMÁRIO ...............................................................................................................................12<br />
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................15<br />
CAPÍTULO 1 - A PRESENÇA DE MECANISMOS PARA VESTIR-SE.......................21<br />
1.1 O Corpo e o vestuário: ligações e interligações.....................................................24<br />
1.2 O homem <strong>de</strong>finido pela biologia ...............................................................................25<br />
1.3 Uma breve abordagem sobre a história da <strong>moda</strong> .................................................30<br />
CAPÍTULO 2 – HEMIPLEGIA OU HEMIPARESIA........................................................41<br />
2.1 O <strong>de</strong>ficiente físico na atualida<strong>de</strong>...............................................................................42<br />
2.2 Hemiplegia ou Hemiparesia e seu vestuário ..........................................................46<br />
2.3 Fatores que interferem no movimento normal do hemiplégico ...........................49<br />
2.3.1 Distúrbios da sensibilida<strong>de</strong> em vários graus...................................................49<br />
2.3.2 Espasticida<strong>de</strong> .......................................................................................................50<br />
2.3.3 Distúrbio do mecanismo <strong>de</strong> reflexo postural normal......................................51<br />
2.3.4 Perda dos Padrões <strong>de</strong> movimento seletivo.....................................................52<br />
2.4 Medicina física e reabilitação ....................................................................................53<br />
2.5 O normal e o patológico .............................................................................................55<br />
CAPÍTULO 3 - A MODELAGEM E A ERGONOMIA ......................................................58<br />
3.1 Características do tecido ...........................................................................................63<br />
3.1.1 O vestuário e as superfícies têxteis..................................................................64<br />
3.1.2 Tecido plano (biaxial) ..........................................................................................65<br />
3.1.3 Caimento em viés ................................................................................................66<br />
3.1.4 Caimento do tecido com fibras em triaxialida<strong>de</strong>.............................................66
3.1.5 Malha .....................................................................................................................66<br />
3.1.6 Elastano.................................................................................................................67<br />
3.2 Pontos antigravitacionais ...........................................................................................67<br />
3.2.1 Relacionando a gravida<strong>de</strong> do corpo humano com o tecido..........................69<br />
3.3 Movimentos, eixos articulares influem na mo<strong>de</strong>lagem .........................................70<br />
3.3.1 Movimentos do corpo..........................................................................................71<br />
3.3.1.1 Flexão, extensão ..........................................................................................71<br />
3.3.1.2 Movimentos <strong>de</strong> adução e abdução............................................................73<br />
3.3.1.3 Flexão lateral.................................................................................................73<br />
3.3.1.4 Movimento <strong>de</strong> rotação .................................................................................74<br />
3.3.1.5 Movimento <strong>de</strong> inclinação.............................................................................75<br />
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA........................................................................................77<br />
4.1 Estudo <strong>de</strong> caso............................................................................................................78<br />
4.1.1 Biografia mo<strong>de</strong>lo base para esse estudo.........................................................78<br />
4.1.2 Caso clínico ..........................................................................................................80<br />
4.2 Características dos pontos gravitacionais e seus ajustes....................................81<br />
4.2.1 Cálculos matemáticos para angulação ............................................................92<br />
4.2.1.1 Cálculo matemático partindo do cruzamento da nuca com a<br />
transversal...................................................................................................................92<br />
4.2.1.2 Cálculo matemático: camisa.......................................................................92<br />
4.2.1.3 Cálculo matemático: manga esquerda .....................................................93<br />
4.2.1.4 Cálculo matemático: perna esquerda frontal ...........................................93<br />
4.3 Aplicação das técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem....................................................................93<br />
4.3.1 – Calça-frente.......................................................................................................94<br />
4.3.2 – Calça- Traseiro .................................................................................................95<br />
4.3.3 Bolso e Cós - Frente ...........................................................................................96<br />
4.3.4 – Frente e costas da camisa..............................................................................97<br />
4.3.5 – Mo<strong>de</strong>lagem da manga esquerda e direita....................................................98<br />
4.3.6 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da camisa.................................................................99<br />
4.3.7 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da calça ..................................................................100<br />
4.4 Fotos das peças confeccionadas ...........................................................................101<br />
4.4.1 Consi<strong>de</strong>rações relevantes que interferem na mo<strong>de</strong>lagem .........................107<br />
CONCLUSÕES....................................................................................................................110<br />
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................116
ANEXOS ...............................................................................................................................124<br />
Anexo A - Declaração <strong>de</strong> Autorização <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> Imagem e Narrativa...................125<br />
Anexo B - Boletim <strong>de</strong> Ocorrência..................................................................................126<br />
Anexo C – Relatório Médico ..........................................................................................128<br />
Anexo D – Relatório <strong>de</strong> Evolução Terapêutica ...........................................................132<br />
Anexo E – Reportagem Jornal da Tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 22/02/2006...........................................133
INTRODUÇÃO
A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> estudar a <strong>moda</strong>-vestuário e a ergonomia do hemiplégico ocorreu<br />
quando fui procurada para <strong>de</strong>senvolver um vestuário que aten<strong>de</strong>sse às<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um garoto com hidrocefalia. Na ocasião, tentei comprar-lhe<br />
algumas roupas e não encontrei uma só peça que servisse nele, pois sua cabeça<br />
apresentava um grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento elevado e as roupas com <strong>de</strong>cote no<br />
tamanho normal não passariam por ela. Isto fez com que eu mesma confeccionasse<br />
a roupa.<br />
Indignada, comecei a visitar o Centro <strong>de</strong> Reabilitação do Serviço Social da<br />
Indústria - SESI, hospitais e times esportivos compostos por atletas portadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiência física, entrevistando-os e cronometrando o tempo que levavam para se<br />
vestirem.<br />
Aprofundando o trabalho, venho procurando o apoio <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> diversas<br />
áreas: antropólogos, médicos, filósofos e outros especialistas que sustentem e<br />
solidifiquem uma nova visão para a <strong>moda</strong>, a qual <strong>de</strong>ve começar a adotar novas<br />
técnicas <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong> roupas para hemiplégicos que visem integrá-los à<br />
socieda<strong>de</strong>.<br />
Mas, o que é <strong>moda</strong>? Qual sua função? O que as pessoas buscam expressar<br />
sobre si mesmas que possa estar relacionado com a <strong>moda</strong>? Em primeiro lugar, o<br />
vestuário é apenas um campo da <strong>moda</strong>.<br />
Questões como a <strong>moda</strong> e a vestimenta vêm repercutindo nas reflexões <strong>de</strong><br />
autores contemporâneos, os quais afirmam existir uma gran<strong>de</strong> interferência<br />
psicológica e física no indivíduo, quando vestido a<strong>de</strong>quadamente.<br />
Segundo Roselle:<br />
16<br />
A <strong>moda</strong> é a expressão “vestimentar” <strong>de</strong> uma dada população em um<br />
momento preciso <strong>de</strong> sua história, sendo que as codificações que impõem<br />
não constituem mais que formulações momentâneas, e que <strong>de</strong> fato, a<br />
<strong>moda</strong> evolui ao ritmo das transformações técnicas, econômicas e <strong>cultura</strong>is<br />
que se apresentam ao olhar da história (1980 p.12).<br />
As roupas permitem ao usuário estabelecer uma i<strong>de</strong>ntificação com seu meio<br />
e, neste sentido, encontrar roupas que vistam a<strong>de</strong>quadamente o seu tipo físico irá<br />
proporcionar-lhe um sentimento <strong>de</strong> participação e integração.<br />
Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que “andar na <strong>moda</strong>” é uma forma <strong>de</strong> preferência e o fato<br />
<strong>de</strong> uma pessoa “não andar na <strong>moda</strong>” po<strong>de</strong>rá fazer com que esta seja rotulada <strong>de</strong>
antiquada ou até mesmo <strong>de</strong> excêntrica. Mas a <strong>moda</strong> não se refere apenas ao<br />
vestuário <strong>de</strong> acordo com Abbagnano:<br />
17<br />
Na ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna foram <strong>moda</strong> o c<strong>arte</strong>sianismo, o iluminismo, o<br />
newtonismo o darwinismo, o positivismo,o i<strong>de</strong>alismo, o neo-i<strong>de</strong>alismo, o<br />
pragmatismo, etc. - doutrinas que tiveram uma importância <strong>de</strong>cisiva na<br />
historia da <strong>cultura</strong>. Por outro lado, foram <strong>moda</strong> também os movimentos<br />
<strong>cultura</strong>is que <strong>de</strong>ixam pouco ou nenhum rastro. Po<strong>de</strong>-se dizer que a função<br />
da <strong>moda</strong> é a <strong>de</strong> introduzir nas atitu<strong>de</strong>s institucionais <strong>de</strong> um grupo, ou mais<br />
particularmente, em suas crenças, por meio <strong>de</strong> uma rápida comunicação e<br />
assimilação, atitu<strong>de</strong>s ou crenças novas que, sem a <strong>moda</strong>, <strong>de</strong>veriam,<br />
combater por muito tempo para sobreviver e fazer-se valer (1982, p.646).<br />
A <strong>moda</strong> tem, <strong>de</strong>sta forma, muitos braços que interferem na dinâmica social e<br />
<strong>cultura</strong>l. Mas nem sempre esta interferência é vista como positiva. Por exemplo:<br />
Hipócrates (460 a.C.), consi<strong>de</strong>rado o pai da medicina, já apresentava avaliações <strong>de</strong><br />
benefícios e prejuízos ao questionar as roupas e suas influências no corpo e na<br />
socieda<strong>de</strong>. Segundo Rainho, lutas foram travadas contra o vestuário: “A medicina<br />
vestimentária partia em guerra contra os rigores dos botões e dos laços opressores<br />
e <strong>de</strong> todas as ataduras que prejudicavam o fluxo linfático“ (2002, p.113, grifo do<br />
autor).<br />
Kant (apud Abbagnano) interpretou a <strong>moda</strong> como uma forma <strong>de</strong> imitação<br />
baseada na vaida<strong>de</strong>, pois “ninguém quer aparentar menos que os outros mesmo no<br />
que não possui utilida<strong>de</strong> alguma” (1982, p.646).<br />
Este código da <strong>moda</strong>, porém, não é igualmente a<strong>de</strong>quado aos diferentes<br />
segmentos da população. A expressão “ditadura da <strong>moda</strong>” polêmica e questionável,<br />
se aplicada a todo o campo da <strong>moda</strong>, tem muito a dizer sobre as dificulda<strong>de</strong>s que<br />
<strong>de</strong>terminadas tendências <strong>de</strong> vestuário causam em alguns segmentos da população,<br />
que diferem entre si conforme altura, massa corpórea, cor da pele, etc. Todas as<br />
tentativas (não raro cômicas) que são feitas pelas pessoas, sobretudo mulheres, ao<br />
tentar ajustar seu corpo a <strong>de</strong>terminados padrões <strong>de</strong> <strong>moda</strong>-vestuário, que são<br />
próprios apenas para algumas estruturas corpóreas, fazem p<strong>arte</strong> do folclore<br />
cotidiano. Esta ditadura, contudo, é especialmente cruel para com os portadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiência física.<br />
Neste contexto, este estudo busca circunscrever o problema a um<br />
<strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física – o da “hemiplegia ou hemiparesia”, abordando<br />
assuntos que respondam a perguntas tais como: Do que se trata esta <strong>de</strong>ficiência?
Quais as preocupações que se <strong>de</strong>ve ter em mente ao vestir a<strong>de</strong>quadamente este<br />
<strong>de</strong>ficiente?<br />
De qualquer forma, p<strong>arte</strong>-se do entendimento que hemiplegia ou hemiparesia<br />
é a limitação total ou parcial <strong>de</strong> movimentos, coor<strong>de</strong>nação motora, sensibilida<strong>de</strong> e<br />
força, que atinge um lado do corpo. Percebe-se hoje que há um número crescente<br />
<strong>de</strong> pessoas portadoras <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ficiência, principalmente nos gran<strong>de</strong>s <strong>centro</strong>s<br />
urbanos, como <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes vasculares cerebrais, da violência, dos<br />
aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito e <strong>de</strong> trabalho - principalmente na construção civil.<br />
É <strong>de</strong> fundamental importância que o vestuário específico do indivíduo<br />
hemiplégico/hemiparésico apresente características da <strong>moda</strong> que possibilitem a<br />
participação da pessoa em um <strong>de</strong>terminado segmento socio<strong>cultura</strong>l, além <strong>de</strong> não<br />
comprometerem sua saú<strong>de</strong>. Faz-se necessária a apresentação <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />
confecção <strong>de</strong> roupas que atendam sua ergonomia específica e que venham ao<br />
encontro das necessida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>ficiente hemiplégico. Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste<br />
tipo <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> vestuário, é essencial que se conheça muito bem o corpo humano,<br />
pois é nele que se manifestam nossos aspectos orgânicos e é através <strong>de</strong>le que<br />
exteriorizamos nossas características psíquicas e emocionais.<br />
Para tanto, o objetivo <strong>de</strong>ste estudo é apresentar uma técnica <strong>de</strong> confecção da<br />
peças <strong>de</strong> vestuário que permitam, simultaneamente, aten<strong>de</strong>r às expectativas<br />
estéticas do hemiplégico/hemiparésico ergonomicamente falando, <strong>de</strong> acordo com os<br />
seus pontos antigravitacionais e que respondam com equilíbrio e simetria à<br />
motricida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um corpo diferenciado.<br />
Qual a relação corpo-vestuário?<br />
Na visão <strong>de</strong> Castilho:<br />
18<br />
(...) o corpo é um modo <strong>de</strong> presença no mundo, protagonizando vários<br />
papéis nas diferentes interações humanas, o que implica o fato <strong>de</strong><br />
requerer, neste processo, a presença <strong>de</strong> “outro”, um suposto receptor que<br />
processa as ativida<strong>de</strong>s do corpo: a <strong>de</strong> recepção e a <strong>de</strong> leitura daquele que<br />
se apresenta diante <strong>de</strong> seu campo <strong>de</strong> visão. Desse modo, o corpo passa a<br />
ser entendido como um meio <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> um conteúdo articulado, por<br />
meio do qual é possível “dizer” ou “significar”, inclusive, o que a palavra,<br />
muitas vezes, omite ou não consegue expressar por seus re<strong>curso</strong>s<br />
inerentes característicos (2004, p.79).<br />
Para Schil<strong>de</strong>r, os cuidados com as peças do vestuário são muito importantes,<br />
pois o vestuário é tido como uma extensão do corpo: “Qualquer peça <strong>de</strong> roupa
vestida torna-se, imediatamente, p<strong>arte</strong> da imagem corporal e é revestida <strong>de</strong> libido<br />
narcisista” (1994, p.177).<br />
Portanto, po<strong>de</strong>-se dizer que a relação corpo-vestuário é p<strong>arte</strong> integrante da<br />
imagem corporal, trazendo com ela <strong>de</strong>sejo e prazer. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do corpo, o<br />
vestuário formaliza-se e aco<strong>moda</strong>-se à esta superfície, como que criando sua própria<br />
técnica <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência, libertando-se da circunstância física ou psíquica em que o<br />
corpo se encontra e transpondo-se à linguagem do corpo a ponto <strong>de</strong>, após ser<br />
<strong>de</strong>spido, continuar apresentando os traços do usuário. Po<strong>de</strong>-se dizer que, em<br />
contrapartida (como em uma relação côncavo/convexo), o vestuário <strong>de</strong>ixa no corpo<br />
da pessoa <strong>de</strong>terminadas características, ou até mesmo sentimentos, tais como o<br />
prazer ou a repugnância por terem “estado juntos”. Conforme Schil<strong>de</strong>r, “(...) po<strong>de</strong>-se<br />
dizer, inclusive, que as roupas que <strong>de</strong>spimos continuam a fazer p<strong>arte</strong> do nosso<br />
corpo” (1994, p.177).<br />
A cumplicida<strong>de</strong> existente nesta inter-relação corpo/vestuário fica evi<strong>de</strong>nte: as<br />
atitu<strong>de</strong>s do corpo e do vestuário repetem-se, simultaneamente. Desta forma, a<br />
observação do corpo do hemiplégico (<strong>de</strong> sua característica patológica, <strong>de</strong> seu<br />
equilíbrio gravitacional, a mensuração <strong>de</strong> p<strong>arte</strong>s do corpo em planos, levando-se em<br />
consi<strong>de</strong>ração as funções, a coor<strong>de</strong>nação e sensibilida<strong>de</strong>) tem como objetivo oferecer<br />
ao portador <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ficiência física roupas feitas com melhor ergonomia,<br />
favorecendo assim um vestuário a<strong>de</strong>quado e com leitura mais contemporânea.<br />
Neste contexto, este estudo ambiciosamente preten<strong>de</strong> abrir campo para tal<br />
nicho <strong>de</strong> mercado e para uma nova área <strong>de</strong> investigação, que irá gerar um número<br />
cada vez maior <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> pesquisa realizados e, portanto, irá minorar o<br />
problema atual <strong>de</strong> bibliografia disponível, que é praticamente inexistente no país.<br />
Para tanto, este trabalho está organizado em quatro capítulos, sendo que o<br />
primeiro fundamenta-se na filosofia e antropologia e mostrará a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conscientização da socieda<strong>de</strong> para a acessibilida<strong>de</strong> universal e incondicional, bem<br />
como uma breve abordagem da história da <strong>moda</strong>, focando a saú<strong>de</strong> no que diz<br />
respeito ao relacionamento <strong>de</strong>sta com o vestuário / <strong>moda</strong>. Já o segundo capítulo tem<br />
como objetivo mostrar a necessida<strong>de</strong> do portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência ter seus direitos<br />
garantidos, sem discriminação <strong>de</strong> cor, raça, tampouco <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s físicas.<br />
Apresenta-se também neste capítulo, o conceito <strong>de</strong> hemiplegia ou hemiparesia em<br />
sua essência, enfatizando-se a patologia e apontando possíveis causas e seqüelas.<br />
No terceiro capítulo, apresenta-se a mo<strong>de</strong>lagem e a ergonomia, estabelecendo uma<br />
19
elação entre os sentidos <strong>de</strong> ver, ouvir e pensar com motricida<strong>de</strong>. Finalmente, o<br />
quarto capítulo explicita a metodologia utilizada, objetivando-se uma maior<br />
familiarização do pesquisador com o fenômeno investigado ou o alcance <strong>de</strong> uma<br />
nova compreensão sobre técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> roupas para portadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiência física. Destaca-se o estudo <strong>de</strong> caso, com suas seqüelas e aceitações<br />
quanto ao conforto <strong>de</strong> uma peça <strong>de</strong> vestuário e apresentam-se técnicas <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem e fotos com o intuito <strong>de</strong> facilitar o entendimento por p<strong>arte</strong> dos possíveis<br />
usuários. E, para finalizar o trabalho, apresenta-se parecer conclusivo a partir do<br />
resgate do problema e do objetivo proposto.<br />
20
CAPÍTULO 1 - A PRESENÇA DE MECANISMOS PARA VESTIR-SE.<br />
21
22<br />
Comece fazendo o que é necessário, <strong>de</strong>pois o que<br />
é possível, e <strong>de</strong> repente, você estará fazendo o<br />
impossível.<br />
São Francisco <strong>de</strong> Assis.<br />
O homem é um ser único quanto à capacida<strong>de</strong> ilimitada <strong>de</strong> exprimir sua<br />
consciência em relação aos seus dons. Ele po<strong>de</strong> “ser” como e o quê quiser ser e tem<br />
consciência disto, po<strong>de</strong>ndo tanto manter como mudar este seu estado <strong>de</strong> “ser”. Ele<br />
usa seu corpo e sua mente na investigação da natureza e é nesse sentido que se<br />
difere dos animais.<br />
Tomemos como exemplo o beija-flor. O menor da espécie pesa 1,5 gramas e<br />
o maior 13 gramas e é auto-suficiente para voar a 100 quilômetros por hora.<br />
Alimenta-se das flores quando, em um incrível movimento frenético <strong>de</strong> bater asas,<br />
golpeia o ar e, parado, enfia o bico <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las e tira o néctar e os carboidratos.<br />
Alimenta-se também dos insetos, dos quais obtém os sais minerais e proteínas. Se<br />
não encontrar em seu habitat clima e vegetação favoráveis à sua sobrevivência,<br />
corre o risco <strong>de</strong> entrar em extinção.<br />
É neste sentido que Bronowski afirma.<br />
(...) entre a multidão <strong>de</strong> animais que ao nosso redor brinca, voa, escava e<br />
nada, o homem é o único que não está inserido em seu habitat. Sua<br />
imaginação, sua razão, sua sutileza emocional e robustez, representam<br />
condições fundamentais que lhe permitem transformar o meio antes <strong>de</strong><br />
aceitá-lo como tal. E a série <strong>de</strong> invenções através das quais, <strong>de</strong> tempos em<br />
tempos, restitui seu habitat. Este fator é típico da evolução não mais<br />
biológica, mas, sim, <strong>cultura</strong>l (1992, p.20).<br />
Com a evolução da espécie,o homem firmou os pés no solo, posicionou-se<br />
ereto sobre sua coluna cervical, assumiu compromissos, tornando-se capaz <strong>de</strong> caçar<br />
e preparar seus alimentos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver métodos que o protegessem e que lhe<br />
oferecessem mais conforto. Quer seja por comodismo ou por ignorância, esqueceuse<br />
da sua condição <strong>de</strong> primata e da sua essência zoológica <strong>de</strong> quando andou <strong>de</strong><br />
quatro, já que conseguiu atingir o apogeu da evolução. Conquistando direitos e<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (o que ocorre mais facilmente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> padrões préestabelecidos<br />
<strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> física e mental), passou a exibir as condições pelas<br />
quais po<strong>de</strong> ser classificado: são ou <strong>de</strong>ficiente.
Conforme Lyra e Garcia:<br />
23<br />
O corpo é feito <strong>de</strong> uma mistura impossível <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e irrealida<strong>de</strong>. A<br />
realida<strong>de</strong> são os ossos, músculos, sangue, cérebro, neurônios e<br />
hormônios. Carne que respira, pulsa e sangra. Mas este mesmo corpo<br />
chora, ri, ama, luta, comunica-se e produz <strong>arte</strong>, movido por irrealida<strong>de</strong>s. Os<br />
espaços psíquicos e corporais são indissociáveis (2001, p.33).<br />
A <strong>moda</strong> (efêmera satisfaz o <strong>de</strong>sejo do presente , com seu “prêt-à-porter”<br />
buscando um mercado imediatista) cria uma distância entre o corpo e seu verda<strong>de</strong>iro<br />
sentir, pensar, agir e movimentar ao fazer uso <strong>de</strong> uma tecnologia industrializada na<br />
<strong>arte</strong> <strong>de</strong> confeccionar, ou seja, os lados psicológicos, fisiológicos e biomecânicos.<br />
Sob este ponto <strong>de</strong> vista, po<strong>de</strong>-se afirmar que um homem anda pelas ruas como se<br />
fosse um “cabi<strong>de</strong>”, vagueando vestido com algumas das peças que são vendidas<br />
<strong>de</strong>ntre as futilida<strong>de</strong>s apresentadas pelo mercado consumista, que ignoram as<br />
diferenciações que o corpo humano apresenta. Há séculos, o vestuário vem<br />
marcando a história e pesquisadores provam sua importância ao afirmarem que se é<br />
possível i<strong>de</strong>ntificar corpos caracterizados através <strong>de</strong> suas vestes.<br />
Envolvido por roupas, o <strong>de</strong>ficiente físico exerce interativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações e<br />
movimentos que, inversamente ao que ocorre com uma pessoa sã, são expostos<br />
através <strong>de</strong> pensamentos e sentimentos (dada impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se movimentar, um<br />
<strong>de</strong>ficiente físico expressa a dor, por exemplo, através do olhar), fazendo das vestes<br />
uma extensão do seu próprio corpo. Conhecer seu íntimo e i<strong>de</strong>ntificar suas<br />
particularida<strong>de</strong>s fornece dados importantes na atribuição <strong>de</strong> uma nova característica<br />
ao vestuário. Assim, atitu<strong>de</strong>s como conhecer o mecanismo humano, os movimentos<br />
(voluntários ou involuntários), bem como seu comportamento psicológico, são<br />
parâmetros que <strong>de</strong>vem compor uma futura visão do vestuário.<br />
A melhoria no vestuário será garantida ao aumentar-se o grau <strong>de</strong><br />
relacionamento entre o indivíduo e este, levando-se em consi<strong>de</strong>ração o corpo<br />
humano com suas diferenciações e patologias e também se relacionando dados<br />
como toque do tecido, recortes, dobraduras, número <strong>de</strong> costuras, maciez e outros. É<br />
necessário que técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagens <strong>de</strong> confecções sejam criadas com o objetivo<br />
<strong>de</strong> facilitar a vida dos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, explorando os re<strong>curso</strong>s disponíveis<br />
no Brasil, já que o país é rico em qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecidos e a tecnologia utilizada pela<br />
indústria <strong>de</strong> confecção é eficiente.
Este estudo enten<strong>de</strong> o vestuário como sendo um objeto <strong>cultura</strong>l, capaz <strong>de</strong><br />
codificar os diferentes grupos que compõem a estrutura social <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>,<br />
um povo ou uma época da História. Enten<strong>de</strong>-se também que este objeto, a partir da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, pertence ao universo analítico do fenômeno da <strong>moda</strong>.<br />
1.1 - O Corpo e o vestuário: ligações e interligações<br />
O homem, sendo a mais complexa das máquinas, sempre foi objeto <strong>de</strong> muitos<br />
estudos. Em conseqüência, várias áreas <strong>de</strong> especialização vêm se <strong>de</strong>senvolvendo<br />
ao longo dos anos com o objetivo <strong>de</strong> melhor conhecer cada um <strong>de</strong> seus sistemas,<br />
cada órgão, enfim, cada partícula do corpo.<br />
No que se refere ao vestuário, não tem sido diferente. O homem, à mercê do<br />
mo<strong>de</strong>rnismo e do surgimento <strong>de</strong> novas necessida<strong>de</strong>s, precisa <strong>de</strong> informações mais<br />
precisas sobre a anatomia humana para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> vestuário<br />
que ofereçam mais conforto, qualida<strong>de</strong> e funcionalida<strong>de</strong> à sua vida e se tornem,<br />
portanto, uma solução para <strong>de</strong>terminadas situações. Para tanto, ele se volta à<br />
tecnologia e, cada vez mais, estas peças tornam-se objeto <strong>de</strong> atenção e estudo <strong>de</strong><br />
várias ciências, como a biomecânica, a fisiologia e a psicologia, passando a exprimir<br />
uma linguagem tecnológica. Na indústria da confecção, <strong>de</strong>senvolve-se a tecnologia<br />
das fibras, dos tecidos e maquinários. A tecnologia <strong>de</strong>senvolvida para área<br />
esportiva, por exemplo, cria mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>s inteligentes a partir da eficiência da<br />
interação vestuário-saú<strong>de</strong> mental e física, com o propósito <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r às<br />
necessida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> vestuário dos atletas.<br />
Com respeito ao vestuário ergonômico, é necessário que se <strong>de</strong>senvolvam<br />
vestuários específicos, que haja uma conscientização do profissional da <strong>moda</strong> sobre<br />
o fato do po<strong>de</strong>r do vestuário estar além da qualida<strong>de</strong> do produto, indo do conforto à<br />
estética. É preciso que se estabeleça também um canal <strong>de</strong> comunicação e<br />
relacionamento entre os profissionais da área ampliando-se, <strong>de</strong>sta forma, os<br />
conceitos. É sabido que o vestuário envolve-se tanto com a saú<strong>de</strong> mental como<br />
física e po<strong>de</strong> vir a propiciar, sanar ou ainda alimentar toda esta problemática.<br />
E como a roupa se relaciona com seu usuário? Se nos voltarmos à História e<br />
avaliarmos roupas em um museu, ou <strong>de</strong>rmos uma olhada em roupas velhas e<br />
abandonadas, em <strong>de</strong>suso, perceberemos a ligação que ficou estabelecida entre elas<br />
e seu usuário. No caso específico do <strong>de</strong>ficiente físico, como já mencionado, ele faz<br />
24
das vestes uma real extensão (no sentido literal da palavra) do seu próprio corpo e<br />
suas marcas ficam claras.<br />
Köhler ilustra esta idéia com um exemplo:<br />
Já segundo Wilson:<br />
25<br />
(...) Ludovico l, da Baviera, do qual o Museu Nacional possui uma coleção<br />
completa. O próprio rei preservara cuidadosamente todos os trajes,<br />
juntamente com algumas das roupas pertencentes à sua esposa Teresa e,<br />
<strong>de</strong> próprio punho, fez <strong>de</strong>scrições pormenorizadas das mesmas. O rei era<br />
alto e belo, mas magro, como o <strong>de</strong>monstram nas roupas, as quais revelam<br />
uma surpreen<strong>de</strong>nte precisão <strong>de</strong> corte e perfeição <strong>de</strong> feitio (1993, p. 6).<br />
Tem-se uma sensação estranha quando se olha para essas roupas que<br />
tiveram uma relação íntima com seres humanos que há muito tempo foram<br />
para o túmulo, porque o vestuário é uma p<strong>arte</strong> tão próxima <strong>de</strong> nossos “eus”<br />
vivos em movimento que, assim petrificados para serem exibidos em<br />
mausoléus da <strong>cultura</strong>, dão-nos um vislumbre <strong>de</strong> qualquer coisa só<br />
parcialmente entendida, sinistra, ameaçadora; a atrofia do corpo e a<br />
evanescência da vida (1985, p.11).<br />
Percebe-se que as roupas representam um papel <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> um tanto<br />
quanto ambíguo, pois apresentam uma memória congelada da vida cotidiana, que é<br />
<strong>de</strong>monstrada através <strong>de</strong> marcas fixadas nas peças, as quais traduzem os<br />
movimentos, os hábitos e os exageros da vida <strong>de</strong> seu usuário. Desta forma, po<strong>de</strong>-se<br />
afirmar que as roupas atuam como sendo “representantes”, ao mesmo tempo<br />
apresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estabelecer fronteira, pois quando passamos por uma<br />
loja e vemos uma peça em uma vitrina, instala-se em nós o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> compra, como<br />
se ela nos aguardasse para o uso e, então, nos projetamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, fazendo<br />
renascer uma sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfação envolvida por uma máscara perfeccionista,<br />
satisfazendo o “eu”.<br />
1.2 O homem <strong>de</strong>finido pela biologia<br />
Formado por sistemas, o corpo humano é <strong>de</strong>finido quanto à sua anatomia<br />
juntamente com a psicologia. Por maior que seja o número <strong>de</strong> características que ele<br />
compartilhe com outros seres, há sempre uma manifestação individual, única.<br />
A máquina motora do corpo humano é formada por cerca <strong>de</strong> 210 ossos e<br />
mais <strong>de</strong> 600 músculos. Respon<strong>de</strong>ndo a estímulos como uma simples picada <strong>de</strong>
alfinete, o corpo po<strong>de</strong> “gritar” ou sangrar ou ainda adoecer. O sistema nervoso<br />
central se manifesta agindo conforme a lei <strong>de</strong> ação/reação, ou seja, por meio <strong>de</strong><br />
reações aos estímulos. As articulações nos permitem locomover e gesticular, on<strong>de</strong><br />
uma amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alongamento dos músculos e execução <strong>de</strong> movimentos favorece a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equilíbrio durante a locomoção do corpo, qualificando o homem como<br />
um ser bípe<strong>de</strong>. Tendo domínio do corpo, a pessoa apresenta maior ou menor<br />
mobilida<strong>de</strong>.<br />
Ao mensurar-se o corpo, po<strong>de</strong>-se dizer que este se divi<strong>de</strong> em planos: lado<br />
esquerdo e direito; e região anterior, posterior, torácica e abdominal. Apresenta<br />
ainda <strong>centro</strong>s gravitacionais assim como apoios antigravitacionais.<br />
O quadril localiza-se na região abdominal e tem como função principal a<br />
mobilida<strong>de</strong>, executando um movimento amplo e sendo responsável pela origem do<br />
mesmo. O quadril cumpre o papel <strong>de</strong> estabilizador e organizador ao permitir aos<br />
membros inferiores uma angulação necessária para a ação do caminhar, além <strong>de</strong><br />
possibilitar o alongamento, permitindo ao indivíduo sentar-se.<br />
Em uma posição anatomicamente confortável, o homem mantém-se em eixo<br />
ao executar suas tarefas. O ombro localiza-se na região torácica e, em um balanço<br />
semelhante a um pêndulo, possibilita o equilíbrio e proporciona o contato com o<br />
mundo através do ato <strong>de</strong> pegar os alimentos, da gesticulação.<br />
O corpo é o <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. A gravida<strong>de</strong> age sobre o organismo <strong>de</strong> baixo<br />
para cima e a constituição do peso do corpo gera a existência <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> força<br />
única e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, que possibilita que o corpo atue verticalmente para cima e que<br />
haja um estado <strong>de</strong> equilíbrio em qualquer posição que se encontre, ou seja, sentado,<br />
em pé parado, agachado, etc. Desta forma, o homem mostra ter domínio sobre si e<br />
ser soberano em suas ativida<strong>de</strong>s ao manter-se em pé, diante do empuxo na<br />
gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> seu sistema, sem ter que dispor <strong>de</strong> energia.<br />
Toda essa “engenharia” biológica encerra peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> indivíduo para<br />
indivíduo que po<strong>de</strong>m ser visíveis apenas com o uso <strong>de</strong> instrumentos especiais <strong>de</strong><br />
medição e observação. No entanto, estas po<strong>de</strong>m também ser visíveis e expostas,<br />
como ocorre no caso <strong>de</strong> pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física.<br />
Levando-se em consi<strong>de</strong>ração o tema do estudo, o que distingue um indivíduo<br />
<strong>de</strong>ficiente dos <strong>de</strong>mais são seus traços característicos, ou seja, uma pessoa que é<br />
consi<strong>de</strong>rada como sendo fora dos padrões sociais em termos <strong>de</strong> físico e intelecto.<br />
Ao percorrer a história da loucura, Foucault (2005) afirma que, do século XIV ao<br />
26
século XVII, a exclusão <strong>de</strong> um indivíduo da socieda<strong>de</strong> através do seu isolamento<br />
com base nos valores éticos, morais e no mo<strong>de</strong>lo médico da época era uma prática<br />
constante. Retirá-los do convívio social era uma atitu<strong>de</strong> comum, seja enviando-os<br />
em embarcações marítimas para <strong>de</strong>terminados <strong>de</strong>stinos, seja fechando-os em celas<br />
e calabouços, asilos e hospitais.<br />
Já no século XVII, o internamento surge com o objetivo <strong>de</strong> se disciplinar<br />
mendigos e vagabundos e não o <strong>de</strong> curá-los. Acreditava-se, por exemplo, que o<br />
lugar dos loucos era entre os miseráveis, pois eles perturbavam a or<strong>de</strong>m social. O<br />
louco não era dono <strong>de</strong> seu chão, <strong>de</strong> seu pensamento, <strong>de</strong> sua cidadania e nem<br />
tampouco <strong>de</strong> seu comportamento. Em seu livro Doença mental e psicologia,<br />
Foucault afirma:<br />
27<br />
Criam-se (e isto em toda a Europa) estabelecimentos para internação que<br />
não são simplesmente <strong>de</strong>stinados a receber os loucos, mas toda uma série<br />
<strong>de</strong> indivíduos bastantes diferentes uns dos outros, pelo menos segundo<br />
nossos critérios <strong>de</strong> percepção: encerram-se os inválidos pobres, os velhos<br />
na miséria, os mendigos, os <strong>de</strong>sempregados opiniáticos, os portadores <strong>de</strong><br />
doenças venéreas, libertinos <strong>de</strong> toda espécie, pessoas a quem a família ou<br />
o po<strong>de</strong>r real querem evitar um castigo público, pais <strong>de</strong> família dissipadores,<br />
eclesiásticos em infração, em resumo, todos aqueles que, em relação à<br />
or<strong>de</strong>m da razão, da moral e da socieda<strong>de</strong>, dão mostras <strong>de</strong> ´alteração´<br />
(1984, p.78).<br />
Na Europa, a internação <strong>de</strong>stas pessoas foi um movimento bastante forte, um<br />
período <strong>de</strong> segregação e categorização dos indivíduos, internando a loucura pela<br />
mesma razão que se internava a <strong>de</strong>vassidão e a libertinagem. In<strong>de</strong>sejáveis<br />
alienados reuniam-se em grupos distintos e os indivíduos eram excluídos. Entre eles<br />
<strong>de</strong>stacavam-se os indigentes, vagabundos e mendigos, os prisioneiros, as "pessoas<br />
ordinárias", as "mulheres caducas" e "velhas senis ou enfermas" ou "velhas infantis",<br />
as pessoas epiléticas e os "inocentes malformados e disformes, pobres bons”, como<br />
também as “moças incorrigíveis”. A cura era incerta e justificável.<br />
Relata a história que, nos Estados Unidos e na Europa ainda durante o século<br />
XVII, pessoas exploravam <strong>de</strong>formações humanas como meio <strong>de</strong> vida, apresentando<br />
em público fetos sem cabeça e colunas vertebrais <strong>de</strong> crianças abortadas, juntamente<br />
com atrações circenses, em praças, mercados e hospedarias.<br />
A Guerra Civil Americana (1861/1865) e a vitória do Norte trouxeram gran<strong>de</strong><br />
prosperida<strong>de</strong> econômica à região, incentivando a vinda <strong>de</strong> imigrantes oriundos, em
sua maioria, da Europa, em busca <strong>de</strong> uma nova vida. Este fato ocasionou um<br />
crescimento populacional rápido, resultando em uma população com mais <strong>de</strong> 25<br />
milhões <strong>de</strong> norte-americanos concentrados em áreas urbanas no final do século XIX.<br />
E, em conseqüência, surgiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se oferecer alternativas <strong>de</strong> lazer que<br />
fossem mais interessantes, como parques públicos e divertimentos populares com<br />
apresentações <strong>de</strong> espetáculos diferenciados. E a exibição <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiências era entretenimento que causava o maior impacto. Ao custo <strong>de</strong> uma<br />
moeda <strong>de</strong> prata, era possível assistir a exibição <strong>de</strong> pessoas extremamente magras<br />
ou extremamente gordas, pessoas com pele <strong>de</strong> cobra, com cara <strong>de</strong> cão, com a<br />
cabeça pontiaguda e pessoas gigantes. Esta forma <strong>de</strong> distração cativou muita gente<br />
durante muito tempo. Alguns <strong>de</strong>stes portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física eram usados<br />
pelos empresários, mas outros chegaram mesmo a enriquecer às custas da própria<br />
<strong>de</strong>ficiência.<br />
Segundo Naruyama, um dos significados da palavra “freak” é multifacetado,<br />
mas este termo também abre um leque <strong>de</strong> significados específicos que são<br />
utilizados no submundo norte-americano, uma sub<strong>cultura</strong> marcada pelo consumo e<br />
pela inexistência <strong>de</strong> regras pré-estabelecidas. A anormalida<strong>de</strong> difere da<br />
normalida<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> é que, mais <strong>de</strong> meio século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> especulações,<br />
as anormalida<strong>de</strong>s representadas por <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s físicas ainda constituem um tabu.<br />
Fiedler (1999) Apud Naruyama faz referências a esta problemática como sendo um<br />
fato folclórico e cita a história médica, a <strong>cultura</strong> e a socieda<strong>de</strong> como agentes<br />
participativos em tal situação e com ela coniventes durante um bom período. E vai<br />
além: compara a aceitação <strong>de</strong> grupos como hippies, heróis da banda ou mesmo<br />
cantores <strong>de</strong> rock ou jogadores e atletas da nossa <strong>cultura</strong>, ainda hoje tratados com o<br />
maior respeito e importância, “(...) ao fato das pessoas ”normais“ mudarem <strong>de</strong><br />
opinião acerca do que é “normal” assim que entram em contacto com as aberrações.<br />
A sua aparência na esfera “normal” dá vazão a sentimentos <strong>de</strong> medo e <strong>de</strong><br />
repugnância, em que o medo não é causado pelas <strong>de</strong>ficiências em si, sendo assim<br />
p<strong>arte</strong> integral da estrutura social”.<br />
Completa falando que: “(...) quaisquer <strong>de</strong>monstrações da história social,<br />
étnica e física da realida<strong>de</strong> unem-se para favorecer a imagem e que tudo é uma<br />
questão <strong>de</strong> convivência”.<br />
E ainda acrescenta:<br />
28
29<br />
(...) cabe ao homem contemporâneo atenuar traumas interiores coletivos,<br />
alegando que a <strong>de</strong>formação po<strong>de</strong> apresentar-se no subconsciente e que há<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar-se consciência da existência <strong>de</strong> mistérios, que<br />
po<strong>de</strong>m ir além da medicina e que somente um estado <strong>cultura</strong>l elevado trará<br />
a igualda<strong>de</strong>, mesmo nas diferenciações (1999, p.26).<br />
Neste contexto, só a partir do século XIX é que a medicina veio a enten<strong>de</strong>r e<br />
<strong>de</strong>smistificar pessoas com <strong>de</strong>feitos físicos chamados <strong>de</strong> “monstruosos” e a<br />
preocupar-se com elas, passando a <strong>de</strong>dicar-lhes atenção e mais estudos. Antes,<br />
estas pessoas eram consi<strong>de</strong>radas criaturas com excesso ou falta <strong>de</strong> hormônios e,<br />
portanto, sem solução. Foi a partir <strong>de</strong>sta idéia que o estigma do <strong>de</strong>ficiente físico foi<br />
criado: como sendo bruxos, pessoas <strong>de</strong>moníacas. Logo, o fato <strong>de</strong> alguém se<br />
aproximar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ficiente físico era motivo <strong>de</strong> admiração e, quando as pessoas<br />
perceberam que nada <strong>de</strong> ruim acontecia, passaram a ser solidária para com o<br />
<strong>de</strong>ficiente.<br />
Naruyama afirma ainda que o homem “(...) expõe a estrutura psicológica do<br />
homem contemporâneo, que tenta atenuar o trauma interior coletivo” (1999, p.26).<br />
Sendo assim, o homem começa a perceber suas próprias <strong>de</strong>ficiências<br />
(embora ainda que escondidas) quando em contato com o <strong>de</strong>ficiente e nota que elas<br />
também, muitas vezes, são monstruosas.<br />
Darwin (1999) apud Naruyama afirma que:<br />
(...) as espécies surgem e <strong>de</strong>saparecem, seguindo um processo <strong>de</strong> seleção<br />
natural; as alterações na estrutura genética dos seres vivos asseguram a<br />
diversida<strong>de</strong>. Isto significava que somente os mais fortes sobreviveriam<br />
(1999 p.15).<br />
Bataille comenta o problema partindo da questão do <strong>de</strong>srespeito com que a<br />
forma humana é tratada e da capacida<strong>de</strong> do ser humano <strong>de</strong> zombar do seu<br />
semelhante, apresentando diferenciações ao lidar com a monstruosida<strong>de</strong> genética e<br />
a patológica. Consi<strong>de</strong>ra que formar pares matrimoniais com pessoas <strong>de</strong>ficientes<br />
seria mostrar certa <strong>de</strong>mência humana.<br />
(...) se quisermos, <strong>de</strong> forma simbólica o patrimonial, entre outros, como o<br />
pai e a mãe <strong>de</strong> revolta selvagem e apocalíptica, à pretendida continuida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> nossa natureza substituir-se-ia a uma justaposição <strong>de</strong> monstros que iria<br />
gerar-se, incompatíveis (1994, p.34, grifo o autor).
Mas ainda po<strong>de</strong>mos visualizar o quanto à aparência <strong>de</strong>sproporcional é<br />
<strong>de</strong>primente, aparecendo <strong>de</strong> maneira preconceituosa na exclusão social. Na verda<strong>de</strong>,<br />
isto está fora <strong>de</strong> questão, pois a verda<strong>de</strong> não se encontra somente na aparência,<br />
que po<strong>de</strong> ser enganadora. Atos hediondos praticados por nossos antepassados<br />
ainda continuam nos assombrando como fantasmas, mesmo que seja só em nosso<br />
inconsciente. Apesar <strong>de</strong> existir certa diferença <strong>de</strong> clareza entre as interpretações<br />
presentes em nossa socieda<strong>de</strong>, o ser humano ainda tem dificulda<strong>de</strong>s em aceitar e<br />
se aceitar <strong>de</strong>ntro do mundo on<strong>de</strong> existem tantas <strong>de</strong>sproporções, sejam elas sociais,<br />
raciais, discriminadoras e preconceituosas. A questão dificulta a inclusão das<br />
pessoas na socieda<strong>de</strong>, tirando <strong>de</strong>stas o direito à igualda<strong>de</strong>. Aos olhos do ser<br />
humano, o foco principal é simbolizado pelas formas concretas <strong>de</strong> proporções ou<br />
<strong>de</strong>sproporções, com base na Natureza. Mesmo que tentemos reconhecer o caráter<br />
arbitrário <strong>de</strong> todo o comportamento humano, tal foco continua sendo claramente<br />
perceptível. Na maioria das vezes, ele é expresso através <strong>de</strong> uma manifestação<br />
direta <strong>de</strong> aversão à diferença física por meio da zombaria (que é consi<strong>de</strong>rada como<br />
sendo uma atitu<strong>de</strong> “lógica” e normal <strong>de</strong>ntro dos padrões sociais vigentes) da<br />
aparência física, formatando-se como uma diferenciação <strong>de</strong> interpretações, mas que<br />
ainda continua a existir.<br />
1.3 Uma breve abordagem sobre a história da <strong>moda</strong><br />
A <strong>moda</strong> reflete as mudanças sociais que ocorrem em cada época. Nota-se<br />
nitidamente que, na maioria das socieda<strong>de</strong>s (principalmente na socieda<strong>de</strong><br />
oci<strong>de</strong>ntal), roupas são usadas em função <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada influência socio<strong>cultura</strong>l. No<br />
que tange aos gran<strong>de</strong>s <strong>centro</strong>s urbanos midiatizados, é interessante notar que, com<br />
a intensificação do ritmo <strong>de</strong> vida, a presença cada vez mais marcante <strong>de</strong> práticas<br />
esportivas se torna fator <strong>de</strong>terminante na rotina das pessoas no que se refere à<br />
melhoria do <strong>de</strong>sempenho do indivíduo diante da funcionalida<strong>de</strong> e praticida<strong>de</strong>.<br />
O esporte, tal como a dança, tem como princípio levar o indivíduo a adotar um<br />
novo modo <strong>de</strong> vida que lhe garanta a superação física e mental quando comparada<br />
ao que é tido como normal.<br />
Para tanto, torna-se preciso otimizar a vida do ser humano frente às<br />
dificulda<strong>de</strong>s impostas pelo estilo <strong>de</strong> vida dos dias <strong>de</strong> hoje, aperfeiçoar o<br />
cumprimento <strong>de</strong> tarefas antes realizadas com dificulda<strong>de</strong>. Com o mesmo fim, este<br />
30
trabalho objetiva priorizar a aparência, o conforto e a saú<strong>de</strong> do <strong>de</strong>ficiente físico<br />
hemiplégico.<br />
Nota-se também o uso <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> roupa específico, que venha a garantir<br />
a aceitação por p<strong>arte</strong> do grupo social ao qual se pertence. Tal fato é observado<br />
principalmente entre os adolescentes, pois estes possuem gostos em comum e<br />
buscam vestir-se <strong>de</strong> maneira similar, muitas vezes imitando pessoas que idolatram.<br />
Partindo-se do pressuposto <strong>de</strong> que a todo o momento estamos fazendo uso<br />
<strong>de</strong> certa indumentária, adquirindo hábitos e nos transformando <strong>de</strong> diversas formas<br />
para melhor nos ajustarmos à realida<strong>de</strong>, percebe-se que ao mesmo tempo estamos<br />
produzindo mudanças e respon<strong>de</strong>ndo aos estímulos que nos ro<strong>de</strong>iam.<br />
Através da <strong>moda</strong>, pessoas passam a observar e comparar, avaliando as<br />
diferenças <strong>de</strong> corte, <strong>de</strong> cores e <strong>de</strong> motivos <strong>de</strong> indumentária, apreciando a aparência<br />
uns dos outros. Ela está ligada ao prazer <strong>de</strong> ver e <strong>de</strong> ser visto, <strong>de</strong>senvolve o olhar<br />
crítico e estimula as pessoas a fazerem observações sobre a elegância dos outros, o<br />
que induz a uma completa investigação <strong>de</strong> si mesmo.<br />
Conforme Dorfles:<br />
31<br />
(...) a <strong>moda</strong> não é apenas um dos mais importantes fenômenos sociais – e<br />
econômicos – do nosso tempo; é também um dos padrões mais seguros<br />
para medir as motivações psicológicas, psicanalíticas, socioeconômicas da<br />
humanida<strong>de</strong>. E é também uma das <strong>de</strong>positárias daquele estilo e daquela<br />
maneira que numa <strong>de</strong>terminada época guia e orienta o <strong>de</strong>sign aplicado ao<br />
vestuário, às <strong>de</strong>corações, aos tecidos, aos objectos <strong>de</strong> mobiliário. É<br />
portanto um dos mais sensíveis indicadores daquele peculiar (1979, p.14, grifo do autor).<br />
Nesse sentido, a <strong>moda</strong> é a base para a valorização da aparência e da crítica,<br />
caracterizando os diferentes períodos da história. Como já foi mencionado, percebe-<br />
se ao longo dos tempos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferenciação entre pessoas <strong>de</strong> <strong>cultura</strong>s<br />
diferentes e tal necessida<strong>de</strong> se manifesta através <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> caráter <strong>cultura</strong>l<br />
como infibulação, circuncisão, perfuração, cicatrizes <strong>de</strong>corativas e outras tais como<br />
alterações forçadas <strong>de</strong> p<strong>arte</strong>s do corpo (a <strong>de</strong>formação intencional dos pés das<br />
chinesas é um bom exemplo). A incessante renovação, evolução e involução <strong>de</strong>stas<br />
práticas estão agregadas a cada fato histórico, às revoluções, aos movimentos<br />
artísticos e ao <strong>de</strong>senvolvimento científico ou mesmo à <strong>de</strong>cadência dos costumes.<br />
Quando o indivíduo interfere no seu corpo ao fazer uso <strong>de</strong> formas artificiais,<br />
ele passa a apresentar uma nova naturalida<strong>de</strong> e, em conseqüência, a roupa passa
também por um processo <strong>de</strong> amadurecimento, agregando-se ao corpo e<br />
valorizando-o.<br />
A <strong>moda</strong> remete-se não só à questão da diferenciação <strong>de</strong> valores, quando<br />
tratamos do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e da transformação tanto física como psíquica, mas<br />
também à questão da transformação involuntária. Em todas as épocas, percebe-se<br />
não só a facilida<strong>de</strong> com a qual a <strong>moda</strong> incorpora as diferentes apresentações<br />
voluntárias, mas também uma clara indiferença cruel quando a transformação física<br />
acontece involuntariamente.<br />
Vale mencionar que cada indivíduo apresenta uma plasticida<strong>de</strong> mental, a qual<br />
acontece na voluntarieda<strong>de</strong> da diferenciação e que, nesta analogia, o faz manter<br />
áreas <strong>de</strong> respeito em seu corpo que, por mais que interfira nele, permanecem como<br />
sendo intocáveis. Cabe à <strong>moda</strong> consi<strong>de</strong>rar essa atitu<strong>de</strong> psicológica. Apesar do corpo<br />
do indivíduo ser a primeira coisa <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong> (po<strong>de</strong>ndo ser usado para o<br />
po<strong>de</strong>r, ameaça e diferenciação), ele não tem relação com o caráter mutável da <strong>moda</strong><br />
uma vez que, algumas vezes, a roupa apresenta uma característica <strong>de</strong><br />
funcionalida<strong>de</strong> e, em outras, uma condição anômala <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, po<strong>de</strong>ndo também<br />
apresentar as duas diferenciações.<br />
Na visão <strong>de</strong> Flugel:<br />
32<br />
(...) por meio <strong>de</strong> nossas roupas tentamos satisfazer duas tendências<br />
contraditórias e, portanto, ten<strong>de</strong>mos a consi<strong>de</strong>rá-las <strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> vista<br />
compatíveis: <strong>de</strong> um lado, como meio <strong>de</strong> exibir nossos atrativos; <strong>de</strong> outro <strong>de</strong><br />
ocultar nossa vergonha. (1965. p. 16)<br />
A questão é que a <strong>de</strong>ficiência física, como diferenciação involuntária e <strong>de</strong><br />
âmbito social, precisa apresentar uma amplitu<strong>de</strong> tal no seu aspecto geral que venha<br />
a aten<strong>de</strong>r às todas as necessida<strong>de</strong>s do portador.<br />
A palavra <strong>moda</strong> é abrangente. Encaixa-se no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um<br />
modo <strong>de</strong> ser ou estar <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo ainda significar maneira ou modo<br />
<strong>de</strong> se vestir. Daí porque cuidamos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o título <strong>de</strong>sta dissertação em<br />
distinguirmos <strong>moda</strong> geral e <strong>moda</strong> vestuário. Vestir lembra vestuário, roupas, que são<br />
peças que <strong>de</strong>lineiam o corpo e que apresentam linguagens que articulam um<br />
conjunto <strong>de</strong> elementos autônomos procedidos entre o corpo e a roupa.<br />
Já a questão da <strong>moda</strong> ligada ao status só surgiu com o crescimento das<br />
cida<strong>de</strong>s. Conta-nos a história que a expansão comercial e o emergir da burguesia
favoreceram a criação <strong>de</strong> um grupo que possuía condições financeiras para comprar<br />
roupas que antes eram usadas apenas pelos nobres. Diante <strong>de</strong>ssa crescente<br />
igualda<strong>de</strong> entre as classes sociais, os nobres - irritados - começaram a produzir<br />
mudanças rápidas na vestimenta, pois a roupa era (e ainda é) um espelho que<br />
refletia o status social. Assim, o sistema da <strong>moda</strong> surge no final da Ida<strong>de</strong> Média.<br />
Anteriormente, só se referia ao vestuário como indumentária e as variações ocorriam<br />
em um ritmo lento, não existia o efêmero. Aspectos como proteção, adorno,<br />
hierarquia e pudor eram então levados em conta.<br />
Ao longo do século XIX, a industrialização da produção <strong>de</strong> roupas e tecidos<br />
espalhou-se pelo mundo. A indústria têxtil estabeleceu-se <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva nos<br />
Estados Unidos, França e, posteriormente, na Alemanha e no Japão. Neste período,<br />
a <strong>moda</strong> masculina abandona os elementos <strong>de</strong>corativos e o excesso <strong>de</strong> adornos<br />
(marcantes nos séculos anteriores) e a <strong>moda</strong> feminina apresenta um caráter que vai<br />
além do tom <strong>de</strong> fantasia instaurado pela aristocracia, multiplicando-se em formas,<br />
cores e textura.<br />
De acordo com Hollan<strong>de</strong>r:<br />
33<br />
(...) as modificações dos trajes masculinos aconteciam lentamente e suas<br />
alterações passavam <strong>de</strong>spercebidas nas roupas, resultando na confecção<br />
em proporções maiores, on<strong>de</strong> os alfaiates passaram a registrar medidas<br />
individuais. (...) Para cada cliente, os alfaiates mantinham uma única fita<br />
métrica com seu nome inscrito nela, marcada com indicações <strong>de</strong>notando o<br />
comprimento <strong>de</strong> seu antebraço, o diâmetro <strong>de</strong> seu pescoço, a largura <strong>de</strong><br />
seus ombros ou o que quer fosse necessário para o feitio da roupa. O traje<br />
do cliente era cortado <strong>de</strong> modo apropriado, alterando-se um padrão muito<br />
para coincidir com as indicações da fita individual (1996, p.133).<br />
Em 1820 foi inventada a fita dividida em centímetros que, sendo impessoal e<br />
universal, podia servir na confecção <strong>de</strong> roupas para todos, permitindo, assim, uma<br />
comparação <strong>de</strong> medidas. Esta comparação gerou mo<strong>de</strong>lagens que se padronizaram<br />
<strong>de</strong>ntro da seletiva, aperfeiçoando-se <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r qualquer pessoa <strong>de</strong>ntro do<br />
tipo físico <strong>de</strong>finido pelo estilo neoclássico, exaltando a figura masculina, com<br />
alterações somente no comprimento das peças. As reproduções eram mais rápidas<br />
e eram feitas sem distinção, tornando-se mais complexas. Com peças <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
masculino similar, foi possível estudar-se comparações das medidas com base no<br />
tórax. Ainda <strong>de</strong> acordo com Hollan<strong>de</strong>r:
34<br />
(...) muito provável teriam a mesma largura <strong>de</strong> ombros, um tamanho <strong>de</strong><br />
cintura similar, uma mesma largura <strong>de</strong> ombros, uma distância do meio das<br />
costas entre o pescoço e a cintura semelhante, e medidas iguais para os<br />
braços e as pernas (1996, p.136).<br />
“Estas roupas foram as primeiras roupas prontas para o uso realmente<br />
similares, aquelas usadas nos níveis mais altos da <strong>moda</strong>” (1996, p.137).<br />
Seguindo a mesma lógica, produziam-se as roupas femininas, <strong>de</strong> caráter mais<br />
simples tais como mantos, capas curtas ou longas e saias, enquanto confecções<br />
mais sofisticadas seguiam a individualida<strong>de</strong> e o trabalho <strong>arte</strong>sanal, tratado com<br />
atenção que é o caso da alta costura.<br />
À época, a <strong>moda</strong> obteve a atenção dos veículos <strong>de</strong> comunicação e os<br />
médicos, como principais opositores, apontavam o uso <strong>de</strong> roupas ina<strong>de</strong>quadas ao<br />
corpo como causadoras <strong>de</strong> doenças, <strong>de</strong> alterações na saú<strong>de</strong> (conforme dados<br />
históricos, disponíveis já a partir do século XVIII, assim o indicam).<br />
Segundo Roche apud Rainho:<br />
(...) na França, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII, os médicos vinham <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />
liberda<strong>de</strong> do corpo. Na Encyclopedie, por exemplo, os verbetes<br />
relacionados ao vestuário – redigidos por médicos assim como por Di<strong>de</strong>rot<br />
– já faziam uma análise das conseqüências nefastas advindas do uso <strong>de</strong><br />
algumas vestimentas (2002, p.111).<br />
A atenção <strong>de</strong>dicada às roupas em citações médicas começa a fazer p<strong>arte</strong> da<br />
Socieda<strong>de</strong> Real <strong>de</strong> Medicina. Ainda na visão <strong>de</strong> Rainho:<br />
(...) A Encyclopedie méthodique publicada entre 1787/1794. Neste, um<br />
artigo <strong>de</strong> 1792 proclamava: “Devemos fazer nos nossos modos, costumes<br />
e vestimenta as mesmas mudanças que fazemos atualmente na nossa<br />
Constituição e nas nossas leis” (2002, p.112, grifo do autor).<br />
As implicações da <strong>moda</strong> sem preocupação com danos à saú<strong>de</strong>, diante da<br />
posição econômica e política, chegaram a níveis tão altos <strong>de</strong> questionamento que se<br />
chegou a consi<strong>de</strong>rar que o homem <strong>de</strong>veria andar nu.<br />
Por séculos, vestir-se ou <strong>de</strong>spir-se era uma tarefa difícil <strong>de</strong> ser executada<br />
dada a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças que compunham um mo<strong>de</strong>lo volumoso, confeccionadas<br />
em tecidos pesados, com corte e confecção rústicos. O corpo, sem opção, era
castigado ao ser submetido ao calor e ao frio, sempre exposto às agressões<br />
advindas do contato da pele com o vestuário.<br />
O domínio da <strong>moda</strong> era tão impositivo que, na tentativa <strong>de</strong> aliviar o incômodo<br />
causado pela roupa, homens e mulheres passaram a utilizar roupas brancas <strong>de</strong><br />
musselina molhada tanto nas épocas quentes como nas frias, hábito este que gerou<br />
forte oposição médica.<br />
Afirma Rainho;<br />
35<br />
O hábito <strong>de</strong> molhar as roupas feitas <strong>de</strong> musselina era comum também aos<br />
homens, que, com vestimentas <strong>de</strong>sse tecido, saíam para passear pelas<br />
ruas, tanto no verão como no inverno. Mais uma vez os médicos tentaram<br />
interferir na <strong>moda</strong>, até porque um surto <strong>de</strong> tuberculose acabou por atingir<br />
os habitantes <strong>de</strong> Paris. “Os médicos clamavam por roupas secas, em nome<br />
da sanida<strong>de</strong> e da natureza, talvez os últimos re<strong>curso</strong>s. Poucas pessoas os<br />
ouviram” (2002, p.112).<br />
Foram levantadas várias discussões quanto à maleficência das roupas e<br />
antigos ensinamentos voltaram a serem consi<strong>de</strong>rados, já que a preocupação atingia<br />
até mesmo a gestante e as crianças uma vez que se acreditava que o feto sofria as<br />
conseqüências do vestuário usado pela mãe. Com a prática do uso <strong>de</strong> espartilhos, a<br />
mulher apertava os seios e a cintura, prejudicando a respiração e até mesmo a<br />
digestão dos alimentos. Tal costume foi motivo <strong>de</strong> estudos e gran<strong>de</strong>s discussões<br />
médicas quanto às possíveis <strong>de</strong>ficiências e às seqüelas do uso constante do<br />
espartilho (ao qual as mulheres se submetiam pela vaida<strong>de</strong>). Quanto às roupas das<br />
crianças, estas prejudicavam seu <strong>de</strong>senvolvimento. De acordo com Rainho:<br />
“Reutilizando antigos preceitos <strong>de</strong> Hipócrates, os médicos afirmam que a vestimenta<br />
não era somente uma garantia <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas podia também, como a socieda<strong>de</strong> que<br />
a produzia, causar inúmeras doenças” (2002, p.113).<br />
Instalou-se então uma guerra entre a medicina e o vestuário e, a partir da<br />
Revolução Francesa, ass roupas começaram a serem modificadas, indo ao encontro<br />
das questões médicas.<br />
Já no século XX, as roupas passaram a ser produzidas em massa,<br />
possibilitando tanto aos homens como às mulheres o acesso a roupas baratas. Além<br />
disso, livre dos espartilhos (usados até o final do século XIX), a mulher começou a<br />
usufruir mais liberda<strong>de</strong>.<br />
O fator <strong>de</strong> maior influência nas atitu<strong>de</strong>s e no vestuário mundial <strong>de</strong>ste período<br />
foi resultado das duas guerras mundiais, quando problemas sócio-políticos e
econômicos acarretaram uma mudança generalizada <strong>de</strong> postura na medida em que<br />
as mulheres assumiam tarefas anteriormente dadas como masculinas, fazendo com<br />
que a necessida<strong>de</strong> tanto <strong>de</strong> praticida<strong>de</strong> como <strong>de</strong> economia no dia-dia mudassem<br />
sua forma <strong>de</strong> se vestir. Para esta mulher o vestuário, conseqüentemente, adaptou-se<br />
à nova condição. No entanto, essa praticida<strong>de</strong> não era tão necessária para as<br />
mulheres <strong>de</strong> famílias mais abastadas, tal como afirma Souza:<br />
36<br />
(...) a <strong>moda</strong> tanto po<strong>de</strong> refletir as transformações sociais como opor-se à<br />
elas através <strong>de</strong> inúmeros subterfúgios, todas as vezes que há perigo <strong>de</strong><br />
uma aproximação excessiva entre as classes e os sexos (1993 p. 128).<br />
Entretanto, cabe aqui se fazer uma observação adicional. Além <strong>de</strong>ste fator,<br />
<strong>de</strong>ve-se também levar em consi<strong>de</strong>ração que <strong>de</strong>savenças sociais, <strong>cultura</strong>is e /ou<br />
políticas sempre implicam em uma reavaliação da socieda<strong>de</strong>, gerando o repensar <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong>s e obrigatoriamente a mudança <strong>de</strong> hábitos. Mesmo que estes pensamentos<br />
não sejam tão abrangentes como os que <strong>de</strong>correram das duas gran<strong>de</strong>s guerras, as<br />
alterações são sempre uma repetição <strong>de</strong> falhas que acontecem <strong>de</strong> forma a gerar<br />
diferenciação, apesar das facilida<strong>de</strong>s que o mercado lança mão a fim <strong>de</strong> oferecer<br />
peças <strong>de</strong> vestuário com características diversas e, em alguns casos, com maior foco<br />
na praticida<strong>de</strong>, quer através do tecido ou do <strong>de</strong>sign (vale ressaltar-se, porém, que<br />
nem todas as pessoas têm acesso a este vestuário). Hoje, o processo <strong>de</strong><br />
comunicação é mais rápido, mais abrangente e, portanto, mais influente. Como<br />
exemplo, po<strong>de</strong>mos citar a preocupação mundial com o aquecimento global e sua<br />
conseqüente interferência no vestir-se: tecidos bio<strong>de</strong>gradáveis e multifuncionais, ou<br />
seja, a mesma roupa sofre transformações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo e po<strong>de</strong> ser utilizada tanto para<br />
o tempo frio como para o calor.<br />
Po<strong>de</strong>mos citar ainda e especificamente a Guerra do Vietnã, que durou vinte<br />
anos e trouxe à <strong>cultura</strong> americana uma série <strong>de</strong> conseqüências, causando<br />
mudanças profundas. Dentre as inúmeras conseqüências, po<strong>de</strong>mos aqui <strong>de</strong>stacar o<br />
saldo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> cidadãos americanos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências físicas, fato<br />
este que se tornou motivo <strong>de</strong> estudos e alvo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s somas <strong>de</strong> investimento. O<br />
Estado participou ativamente neste processo com o intuito <strong>de</strong> garantir não só o<br />
sustento dos mutilados pela guerra, mas também seu tratamento médico. Hoje,<br />
encontramos próteses e os mais variados objetos, <strong>de</strong>senvolvidos com tecnologia <strong>de</strong>
primeira linha, para todos os casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências físicas. Entretanto, não contamos<br />
com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> vestuário que sustentem todo este processo.<br />
O uso <strong>de</strong> roupas é um veículo <strong>de</strong> exteriorização do “ser” <strong>de</strong> cada pessoa. Nas<br />
décadas <strong>de</strong> 60 e 70, por exemplo, os hippies transmitiam sua filosofia <strong>de</strong> “Paz e<br />
Amor” através <strong>de</strong> roupas com cores alegres e estampas floridas, <strong>de</strong>monstrando<br />
sensibilida<strong>de</strong>, romantismo, <strong>de</strong>scontração e bom humor.<br />
A forma e as cores evi<strong>de</strong>nciam o modo <strong>de</strong> uma pessoa pensar e viver, seu<br />
estilo, sua etnia e personalida<strong>de</strong>. As cores, especificamente, representam um caráter<br />
psicológico ao expressarem estados <strong>de</strong> humor e sentimentos.<br />
Na visão <strong>de</strong> Wilson, a partir do referencial da psicanálise freudiana, a <strong>moda</strong><br />
i<strong>de</strong>ntifica que:<br />
37<br />
(...) o tempo não existiria, as emoções apaixonadas seriam transformadas<br />
em imagens concretas e os conflitos resolver-se-iam magicamente,<br />
metamorfoseando-se <strong>de</strong> forma simbólica. Além disso, <strong>de</strong> uma perspectiva<br />
psicanalítica, po<strong>de</strong>mos encarar o vestuário da <strong>moda</strong> no mundo oci<strong>de</strong>ntal<br />
como um meio através do qual um eu sempre fragmentário é unificado e<br />
aparenta uma certa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> passa a ser um certo tipo <strong>de</strong><br />
problema da . A <strong>moda</strong> faz transparecer uma tensão entre<br />
a multidão e o individuo, em todas as frases <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
metrópole dos séculos <strong>de</strong>zenove e vinte (1985, p.24).<br />
Já o aspecto estilo é caracterizado pela individualida<strong>de</strong> apesar das influências<br />
exercidas pela mídia. O indivíduo po<strong>de</strong> participar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado grupo ao vestir-se<br />
“a caráter”, o que o liga ao grupo por afinida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo em contrapartida se<br />
diferenciar dos <strong>de</strong>mais com a mesma aceitação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que suas atitu<strong>de</strong>s sejam<br />
coerentes com o meio. Percebe-se, claramente, a constatação do paradigma da<br />
<strong>moda</strong> em respeito à diversida<strong>de</strong> humana, levantando-se a questão da inércia<br />
socio<strong>cultura</strong>l existente em relação ao fato do <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>moda</strong> ter que se<br />
dar conforme características particulares a cada tipo físico.<br />
Durante anos, as roupas foram confeccionadas a partir <strong>de</strong> técnicas e<br />
numerações vinculadas à praticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos do século XIX. Hoje, em <strong>de</strong>trimento<br />
da existência <strong>de</strong> grupos dominantes e da globalização, estas são produzidas em<br />
larga escala, sempre respeitando o mo<strong>de</strong>lo-padrão para aten<strong>de</strong>r cada vez mais o<br />
consumidor, com o corpo estereotipado e <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> acordo com uma tabela<br />
numérica (34; 36; 38; 40; 42; 44; 46 ...).
Entretanto, visando-se a praticida<strong>de</strong>, também se <strong>de</strong>sdobrou esta tabela em<br />
tamanhos <strong>de</strong>terminados por letras (P, M, G....) e, conforme a necessida<strong>de</strong> continuou<br />
se alterando, fragmentou-se ainda mais estes valores para melhor aten<strong>de</strong>r às<br />
constantes mudanças impostas pela indústria como: PP, PM, PG. Como<br />
conseqüência e em nome <strong>de</strong> facilitar- se a integração mundial, alimenta-se cada vez<br />
mais o capitalismo, responsabilizando a globalização e esquecendo-se das<br />
diferenças existentes entre as etnias.<br />
Atualmente po<strong>de</strong>mos utilizar o Scanner 3D, equipamento este que favorece a<br />
formatação <strong>de</strong> manequins antropométricamente, <strong>de</strong> forma tridimensional e virtual.<br />
Tecnologia <strong>de</strong> última geração, ela nos auxilia no levantamento <strong>de</strong> medidas da<br />
superfície corporal por meio <strong>de</strong> mapeamento, possibilitando uma leitura<br />
tridimensional do corpo humano.<br />
Este processo é aplicado na obtenção <strong>de</strong> medidas precisas, utilizadas pela<br />
indústria, auxiliando a ergonomia e possibilitando o <strong>de</strong>sign correto <strong>de</strong> um produto <strong>de</strong><br />
segurança para uso do individuo, seu mobiliário e também seu vestuário.<br />
Entretanto, tal processo <strong>de</strong> medição ainda não é utilizado com freqüência pela<br />
indústria <strong>de</strong> confecção, embora possibilite a redução do custo final do produto e<br />
facilite o intercâmbio entre países no que diz respeito a antropometria viável, uma<br />
vez que o custo do equipamento é elevado. No que se refere à utilização do scanner<br />
3D no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos dirigidos ao portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física, é<br />
necessário que o especialista no equipamento saiba distinguir o efeito da medida do<br />
corpo estatuário e em ativida<strong>de</strong>. É preciso que, <strong>de</strong> sua p<strong>arte</strong>, haja não só respeito<br />
como também interação com as relações entre o corpo e seu vestuário,<br />
estabelecendo-se <strong>de</strong>sta forma agrupamentos por tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> acordo<br />
com a motricida<strong>de</strong> e os pontos gravitacionais, bem como o uso <strong>de</strong> sua sensibilida<strong>de</strong><br />
ao relacionar às medidas a<strong>de</strong>quadamente e obter o resultado satisfatório <strong>de</strong>sejado.<br />
A <strong>moda</strong> é um fenômeno que interage, participa e, assim, divi<strong>de</strong> (como<br />
qualquer outra ativida<strong>de</strong>) os veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa. Ela injeta um<br />
sentimento <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> entre aqueles que são diferentes fisicamente ao apresentar<br />
a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer elos que satisfaçam o indivíduo, exercendo ao mesmo<br />
tempo um sentimento <strong>de</strong> participação na massa popular. E mostra ainda ter a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caracterizar qualquer tipo <strong>de</strong> traje como fenômeno popular <strong>de</strong> massa,<br />
beneficiando novas técnicas <strong>de</strong> confecções e novos consumidores.<br />
38
A <strong>moda</strong> tem um caráter mágico, oferecendo a ilusão da beleza e colaborando<br />
na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, criando novos grupos, participando do lado artístico,<br />
ilusório e consciente, sofisticando a aparência.<br />
De acordo com Men<strong>de</strong>s: “A <strong>moda</strong> é uma indicação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> individual,<br />
grupal e sexual. Além disso, sua flui<strong>de</strong>z reflete as mudanças da matriz social.” (2003.<br />
Prefácio XI).<br />
Po<strong>de</strong>mos ainda consi<strong>de</strong>rar que a <strong>moda</strong> remete o individuo ao seu “eu”<br />
formando um paradoxo do mo<strong>de</strong>rno individual e o grupal. O homem, mesmo que se<br />
utilizando artifícios na sustentação <strong>de</strong> sua autonomia <strong>de</strong> individuo mo<strong>de</strong>rno, se<br />
preocupa com a expressão <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do grupo, por medo <strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>struir. Para o portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se incluir neste<br />
sentimento é muito mais <strong>de</strong>sejada, mesmo que inconscientemente, pois sua<br />
capacida<strong>de</strong> física limitada mistura-se ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> participação no todo.<br />
Afirma Wilson:<br />
39<br />
O nosso sentido mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>, como ferida, é também,<br />
paradoxalmente, o que nos torna a todos receosos <strong>de</strong> não sermos capazes<br />
<strong>de</strong> suster a autonomia do “eu”; este medo transforma a idéia do numa ameaça <strong>de</strong> auto-aniquilação. A nossa maneira <strong>de</strong><br />
vestir po<strong>de</strong> apaziguar este medo, estabilizando a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
individual. Ela po<strong>de</strong>rá estabelecer uma ponte para a solidão do , ligando-o ao grupo social.(1985, p.24).<br />
Ainda segundo Wilson: “Vestir à <strong>moda</strong> implica uma pessoa <strong>de</strong>stacar-se e,<br />
simultaneamente, fundir-se na multidão, reivindicar o exclusivo e seguir o rebanho”.<br />
(1985.p.17).<br />
O vestuário não só assegura a comunicação como <strong>de</strong>la participa, favorecendo<br />
a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e seus benefícios para todos, inclusive promovendo valores para o<br />
portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física. Nesta perspectiva, a <strong>moda</strong> é um agente <strong>de</strong> inclusão.<br />
A <strong>moda</strong> não aplicada apropriadamente não passa <strong>de</strong> um meio <strong>de</strong><br />
sobrevivência.<br />
Todo corpo (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua forma) <strong>de</strong>termina seu limite, sua vida -<br />
mesmo que a compartilhando. No caso do portador <strong>de</strong> hemiplegia, a <strong>moda</strong> po<strong>de</strong><br />
colaborar na superação, quando agregada à condição do corpo.<br />
Segundo Cidreira:
(...) o corpo é alvo <strong>de</strong> interferências e está predisposto a manipulações nos<br />
nossos próprios círculos <strong>de</strong> partilha social. Nada mais arraigado em nossa<br />
própria <strong>cultura</strong> do que o “ato <strong>de</strong> vestir” o corpo e, no entanto, sequer damos<br />
muita atenção ao que o vestuário nos impõe e propicia (2005.p.13).<br />
Seu vestuário, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma imperfeição, participa duplamente na<br />
comunicação: primeiramente, preocupado com a massa, comunica-se com o meio<br />
emitindo mensagens <strong>de</strong> contato impessoal, mas que lhe garantem a imediata<br />
impressão no meio em que se encontra. Em segundo lugar, com um contato íntimo,<br />
suas vestes (quase que se apropriando do espaço <strong>de</strong> seu corpo) vêm<br />
impetuosamente comunicar-se, bem ou mal, explorar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência<br />
física da máquina humana, <strong>de</strong>sempenhando o papel <strong>de</strong> ponte entre os dois espaços<br />
distintos mencionados, em plena ativida<strong>de</strong> comunicativa.<br />
A <strong>moda</strong> se profissionalizou e estabeleceu um trabalho respeitado pela<br />
criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionais, havendo ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir todos seus<br />
benefícios, criando uma nova visão que, <strong>de</strong>finitivamente, atenda a todos.<br />
Em um processo <strong>de</strong> comunicação, o vestuário, quando não projetado para o<br />
corpo, dispõe <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiente, po<strong>de</strong>ndo consi<strong>de</strong>rar seus efeitos sem<br />
permeio, afetando - ou não - as resultantes do corpo para o próprio corpo; é a<br />
comunicação retornando para seu criador.<br />
40
CAPÍTULO 2 – HEMIPLEGIA E OU HEMIPARESIA
2.1 O <strong>de</strong>ficiente físico na atualida<strong>de</strong><br />
42<br />
Triste época! É mais fácil <strong>de</strong>sintegrar um átomo do que um preconceito.<br />
Albert Einstein<br />
Deficiências aberrantes são apresentadas na televisão e isto nos choca<br />
duplamente. Primeiro, por ainda estarem presentes na realida<strong>de</strong> da vida<br />
contemporânea e, segundo, por serem utilizadas como instrumento <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> e<br />
audiência, com propósitos econômicos e preocupação com processos educativos.<br />
Em contrapartida, o que se vê em resposta é, primeiramente, uma<br />
revalorização ética e estética da diferença. Dentro <strong>de</strong>ssa revalorização, a diferença<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma aberração e passar a acrescentar algo <strong>de</strong> bom<br />
e <strong>de</strong> belo à socieda<strong>de</strong> humana. Em segundo lugar, estão sendo realizados estudos<br />
avançados que, através <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> células, permitem que se reconheça o<br />
corpo <strong>de</strong> um bebê que está por nascer e que, num futuro talvez não tão remoto,<br />
possibilitem uma intervenção genética reparadora.<br />
De qualquer forma, o caminho atual e correto é o do preconceito negativo.<br />
Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que, paradoxalmente, a revolução industrial, as guerras e<br />
mesmo as catástrofes (cada qual com a sua cota <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficientes) contribuíram <strong>de</strong><br />
forma impositiva e estimularam a realização <strong>de</strong> novos estudos. Mas, ainda hoje (não<br />
obstante a tecnologia e conhecimento científico por nós já alcançados), o homem<br />
assiste à aberração da <strong>de</strong>ficiência causada pelo próprio homem <strong>de</strong> forma indiferente,<br />
até com certo <strong>de</strong>sprezo. Surgem, em gran<strong>de</strong> número, os <strong>de</strong>ficientes das seqüelas da<br />
violência urbana: aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> trânsito; assaltos seguidos <strong>de</strong><br />
seqüestros; as seqüelas do stress ou <strong>de</strong> substâncias químicas; poluição industrial –<br />
e, na verda<strong>de</strong>, todos são consi<strong>de</strong>rados como sendo os novos monstros da<br />
humanida<strong>de</strong>.<br />
Po<strong>de</strong>-se citar o filme “O corcunda <strong>de</strong> Notre Dame”, baseado no romance <strong>de</strong><br />
Victor Hugo (1939), cujo enredo conta a história <strong>de</strong> Quasímodo, um homem forte e<br />
com uma gibosida<strong>de</strong>, que vivia no porão da catedral <strong>de</strong> Notre Dame, em Paris,<br />
durante a Ida<strong>de</strong> Média. Um dia, ele resolve sair da escuridão em que vive e conhece<br />
uma bela jovem, por quem se apaixona. Para conseguir concretizar sua paixão,<br />
enfrenta seu rival, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a jovem publicamente. O filme causa impacto quando<br />
visto pela primeira vez quer pela monstruosida<strong>de</strong> explícita quer pelo humanismo, ao
transformar a figura monstruosa em um ser amoroso e terno, ainda que o espectador<br />
sinta repugnância pela aparência disforme do personagem. No <strong>de</strong>correr do filme, o<br />
sentimento <strong>de</strong> repugnância é <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado e uma emoção positiva para com o ser<br />
diferente (mas com sentimento afetivo, seguido da razão) toma conta do espectador,<br />
que sai do cinema encantado. O sucesso do filme foi tão gran<strong>de</strong> que já foi produzido<br />
várias vezes e até ganhou uma versão infantil, transformando e educando indivíduos<br />
quanto à aceitação das diferenças, contribuindo <strong>de</strong>sta forma para uma nova atitu<strong>de</strong><br />
<strong>cultura</strong>l e social.<br />
Faz-se fundamental enten<strong>de</strong>r a importância da “Declaração Universal dos<br />
Direitos Humanos”, datada <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1948, cuja Assembléia Geral<br />
proclama em seu Artigo 2, Parágrafo I:<br />
43<br />
“Todo o homem tem capacida<strong>de</strong> para gozar os direitos e as liberda<strong>de</strong>s<br />
estabelecidas nesta <strong>de</strong>claração sem distinção <strong>de</strong> qualquer espécie, seja <strong>de</strong><br />
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou <strong>de</strong> outra natureza,<br />
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra<br />
condição”.<br />
Na <strong>de</strong>claração, percebe-se que os valores referentes à saú<strong>de</strong>, habitação, bem<br />
estar, alimentação e vestuário estão pautados em valores igualados e essenciais à<br />
vida do homem. Portanto, ao se manter o homem alimentado, com boas condições<br />
<strong>de</strong> moradia e protegendo seu corpo das intempéries, aten<strong>de</strong>m-se às suas<br />
necessida<strong>de</strong>s fundamentais e assegura-se a saú<strong>de</strong> física e mental do corpo.<br />
A Declaração salienta também em seu Artigo 25, Parágrafo 1:<br />
“Todo homem tem direito a um padrão <strong>de</strong> vida capaz <strong>de</strong> assegurar a si e a<br />
sua família saú<strong>de</strong> e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,<br />
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à<br />
segurança em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, doença, invali<strong>de</strong>z, viuvez, velhice ou<br />
outros casos <strong>de</strong> perda dos meios <strong>de</strong> subsistência em circunstâncias fora <strong>de</strong><br />
seu controle”.<br />
Tendo-se a Declaração como amparo, é necessário que se faça uma<br />
reavaliação <strong>de</strong> toda e qualquer inclusão. Cabe ao vestuário aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />
dos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física ao proporcionar roupas acessíveis sob o ponto<br />
<strong>de</strong> vista técnico e estético. Entretanto, não se busca somente o conforto estético,<br />
mas também permitir um “ver sem ser visto” (um “ver” que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a diferença,
como se verá adiante) à semelhança do que ocorre com os <strong>de</strong>mais seres humanos,<br />
trazendo novas expectativas, que <strong>de</strong>vem ser levadas em consi<strong>de</strong>ração.<br />
Des<strong>de</strong> o final da Ida<strong>de</strong> Média, a socieda<strong>de</strong> tem um relacionamento<br />
complicado com os portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física (conforme se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vários estudos), marcando-os pela exclusão social com base na intolerância, no dó,<br />
<strong>de</strong>scaso, na curiosida<strong>de</strong> - como já mencionado anteriormente na citação <strong>de</strong><br />
Foucault.<br />
Uma estratégia <strong>de</strong> exclusão utilizada durante muito tempo foi a <strong>de</strong><br />
confinarem-se pessoas em construções especialmente <strong>de</strong>stinadas ao isolamento,<br />
que não atendiam às necessida<strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>ficientes em sua i<strong>de</strong>ologia arquitetônica.<br />
Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que, ainda nos dias atuais, encontram-se comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> as<br />
pessoas são segregadas, acreditando que o isolamento beneficia não somente a<br />
elas como também a socieda<strong>de</strong>. Esta questão apresenta uma amplitu<strong>de</strong> que vem<br />
repercutir na questão dos Direitos Humanos. Sabe-se que o maior fator <strong>de</strong> interesse<br />
oficial pela integração dos portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física foi o acontecimento das<br />
duas gran<strong>de</strong>s guerras do século XX, quando se caracterizou um gran<strong>de</strong> avanço no<br />
Movimento pelos Direitos Humanos e um aumento <strong>de</strong> interesse por p<strong>arte</strong> da Ciência.<br />
Sobre as duas gran<strong>de</strong>s guerras, po<strong>de</strong>-se relacionar não só o retorno, mas<br />
também o aumento do número <strong>de</strong> indivíduos fisicamente <strong>de</strong>bilitados, ou <strong>de</strong>ficientes,<br />
às socieda<strong>de</strong>s pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se preencher as lacunas <strong>de</strong>ixadas pelo gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> pessoas mortas. Estes dois fatores, em conjugação, promoveram o<br />
aparecimento <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong> e treinamento específico que<br />
visavam preencher o vazio criado pela falta <strong>de</strong> força (forte) <strong>de</strong> trabalho europeu, ao<br />
mesmo tempo em que reintegravam tais indivíduos à socieda<strong>de</strong>.<br />
44<br />
O homem, motivador <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre com a natureza e o corpo, viu-se à mercê<br />
<strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong> culpas: social, patrióticas, pessoal e passou a reavaliar<br />
seu meio e seu corpo sendo assim busca normas que os proteja <strong>de</strong>les<br />
mesmos. (SANTOS, 1995, p.22).<br />
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela<br />
Organização das Nações Unidas (ONU) em 10 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1948, no Artigo 1º:<br />
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignida<strong>de</strong>s e direitos e, dotados<br />
que são <strong>de</strong> razão e consciência, <strong>de</strong>vem comportar-se fraternalmente uns com os<br />
outros”.
O pós-guerra propiciou uma visão <strong>de</strong> reintegração que, até 1960, apresentava<br />
um caráter paternalista e não atendia às necessida<strong>de</strong>s existentes à época.<br />
Surge então a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar a interpretação do Artigo e oferecer<br />
segurida<strong>de</strong> ao portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física. Foi só em 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1975 que<br />
a ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos das Pessoas Deficientes. Seu<br />
Artigo 3º diz:<br />
45<br />
“As pessoas <strong>de</strong>ficientes têm direito inerente <strong>de</strong> respeito por sua dignida<strong>de</strong><br />
humana. As pessoas <strong>de</strong>ficientes, qualquer que seja a origem, natureza e<br />
gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>ficiências, têm os mesmos direitos fundamentados<br />
que seus concidadãos da mesma ida<strong>de</strong>, o que implica, antes <strong>de</strong> tudo, o<br />
direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong>cente, tão normal e plena quanto<br />
possível”.<br />
Em seu artigo 8º, diz: “As pessoas <strong>de</strong>ficientes têm direito <strong>de</strong> ter suas<br />
necessida<strong>de</strong>s especiais levadas em consi<strong>de</strong>ração em todos os estágios <strong>de</strong><br />
planejamento econômico e social”.<br />
Dentro <strong>de</strong> movimentos comunitários, verifica-se que a preocupação com o<br />
bem-estar do <strong>de</strong>ficiente físico passou a ser um assunto importante não somente no<br />
que se refere ao convívio <strong>de</strong>ste com a socieda<strong>de</strong>, mas também ao fato <strong>de</strong> que é<br />
preciso tornar-lhe mais fácil o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong>ntro da mesma<br />
socieda<strong>de</strong>. Para atingir-se este objetivo, é <strong>de</strong> suma importância que haja espaço<br />
para o <strong>de</strong>ficiente físico em todos os campos profissionais, que sejam criados<br />
ambientes planejados e que haja facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso físico ao lazer. A preocupação<br />
é não segregá-los <strong>de</strong> forma alguma, pelo contrário, é <strong>de</strong> acolhê-los <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
perspectiva que atenda à sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, facilitando-a e agregando conforto<br />
à <strong>moda</strong> e seus benefícios. Ora, se para qualquer pessoa normal realizar uma<br />
ativida<strong>de</strong> com uma roupa que proporcione conforto físico e psicológico é importante,<br />
que dizer então da importância <strong>de</strong> seu benefício ao portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física?<br />
Entretanto, é relevante ressaltar aqui o fato <strong>de</strong> que, no que se refere ao <strong>de</strong>ficiente, a<br />
união <strong>de</strong> todos os fatores fortalece não só a este, mas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva também a<br />
família e, em conseqüência, a socieda<strong>de</strong>.<br />
É por meio da análise da <strong>cultura</strong> social que se i<strong>de</strong>ntifica à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
rever condições e avaliar diferenciações existentes entre os diversos tipos físicos e,<br />
assim, facilitar a formação <strong>de</strong> grupos ou associações que visem estabelecer normas<br />
<strong>de</strong> organização e informação às pessoas. É importante <strong>de</strong>stacar que, quando se
trata <strong>de</strong> pessoas que fogem aos padrões, as diferenciações precisam ser levadas<br />
em conta. Dentro <strong>de</strong>stas aplicações, a Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas<br />
(ABNT) mostra que o homem per<strong>de</strong> o mito <strong>de</strong> “homem-padrão” – um conceito<br />
ilusório que prevaleceu durante muitos séculos. Este passa, então, a garantir a<br />
a<strong>de</strong>quação física (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>ficiência ou incapacida<strong>de</strong>), o acesso físico<br />
aos espaços públicos, que são melhorados, bem como a a<strong>de</strong>quação do próprio<br />
ambiente familiar.<br />
2.2 Hemiplegia e ou Hemiparesia e seu vestuário.<br />
Dada a relevância da hemiplegia, se faz importante enfatizar alguns assuntos.<br />
Do que se trata esta <strong>de</strong>ficiência física? Quais preocupações <strong>de</strong>vem-se ter ao vestir<br />
a<strong>de</strong>quadamente este grupo da população? O vestuário do hemiplégico <strong>de</strong>ve<br />
apresentar características da <strong>moda</strong>, tornando-o participante <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um segmento<br />
socio<strong>cultura</strong>l e não comprometendo sua saú<strong>de</strong>.<br />
O homem, um ser biológico, apresenta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>cultura</strong>l. Em função <strong>de</strong> sua <strong>cultura</strong> e <strong>de</strong> interferências econômicas, sociais ou mesmo<br />
climáticas (quer elas sejam impostas ou não), ele se permite re<strong>de</strong>senhar ou<br />
reconstruir seu próprio corpo a fim <strong>de</strong> se agradar ou mesmo agradar aos outros,<br />
conforme os padrões vigentes.<br />
Na visão <strong>de</strong> Castilho:<br />
46<br />
A imagem que um sujeito cria <strong>de</strong> si mesmo exprime-se, então, em<br />
codificações, em seu modo <strong>de</strong> parecer, <strong>de</strong> mostrar e ser visto. Esse seu<br />
fazer, uma montagem discursiva, resulta na (re) arquitetura anatômica <strong>de</strong><br />
seu corpo e <strong>de</strong> todas as suas <strong>moda</strong>lida<strong>de</strong>s expressivas e narrativas.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que: o homem é um animal que se baseia principalmente no<br />
seu sentido da visão (2004, p.81).<br />
Partindo da idéia que o homem quer “se ver”, ele passa a buscar no vestuário<br />
uma complementação, cercando-se com cuidados que favoreçam sua vida.<br />
Para Flügel: “As roupas servem para cobrir o corpo e, assim, satisfazer o<br />
impulso <strong>de</strong> pudor. Mas ao mesmo tempo realçar a beleza do corpo”. (1965, p.17).<br />
Fica claro que a roupa, além <strong>de</strong> cobrir o corpo, comunica-se <strong>de</strong> forma ampla.<br />
Flügel afirma ainda: “é através das roupas que formamos a primeira impressão.”<br />
(1965, p.11).
Ao analisarmos a linguagem transmitida pelos movimentos tanto do corpo<br />
como das roupas, se percebe a existência <strong>de</strong> uma interação das avaliações, sendo<br />
então possível distinguir-se um indivíduo do outro visto que ambos apresentam<br />
movimentos. O corpo movimenta-se <strong>de</strong> uma forma direta e equilibra-se,<br />
apresentando uma postura para sustentar-se, enquanto que as roupas movimentam-<br />
se <strong>de</strong> forma indireta, como que copiando o movimento do corpo e, <strong>de</strong>sta forma,<br />
revelam a personalida<strong>de</strong> e o gosto do individuo.<br />
Para Schil<strong>de</strong>r : “(...) as roupas fazem p<strong>arte</strong> do esquema corporal, ganham o<br />
mesmo sentido das p<strong>arte</strong>s do corpo e po<strong>de</strong>m ter o mesmo significado simbólico<br />
<strong>de</strong>stas” (1994, p.177).<br />
Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que as roupas se diferem em relação ao momento <strong>de</strong> uso<br />
e que esta relação apresenta diferenças <strong>de</strong> ocasião, bem como da p<strong>arte</strong> do corpo<br />
que a roupa toca. “(...) Ao mudarmos <strong>de</strong> roupas, mudamos <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>” (1994, p.177).<br />
Diante da inter-relação corpo e vestuário, a cumplicida<strong>de</strong> fica evi<strong>de</strong>nte e as<br />
atitu<strong>de</strong>s repetem-se, simultaneamente. De forma similar, a observação do corpo do<br />
hemiplégico (<strong>de</strong> sua característica patológica, <strong>de</strong> seu equilíbrio gravitacional e<br />
antigravitacional, consi<strong>de</strong>rando-se suas funções <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> p<strong>arte</strong>s distintas e<br />
baseando-se em planos, coor<strong>de</strong>nação e sensibilida<strong>de</strong>) beneficia o corpo<br />
hemiplégico, ou hemiparésico, com roupas ergonômicas. Um vestuário a<strong>de</strong>quado,<br />
com leitura mais contemporânea, sem distinção à visão do espectador, proporciona<br />
ao usuário a união <strong>de</strong> significados a tal ponto que qualquer roupa po<strong>de</strong> alterar seu<br />
humor e mudar sua aparência. Sem a participação da estética e do conforto, a roupa<br />
não a<strong>de</strong>quada contradiz a ação mecânica (voluntária e involuntária) do hemiplégico.<br />
Uma vez que peças <strong>de</strong> roupa especialmente mo<strong>de</strong>ladas para o corpo do<br />
hemiplégico estejam ao seu dispor, a sensação positiva criada ao se vestir uma<br />
roupa que imite a roupa normal passará a fazer p<strong>arte</strong> do seu dia-dia, resultando em<br />
seu bem estar físico e psicológico, fortalecendo também o belo.<br />
Conforme Schidler, “Ao imitar as roupas, modificamos nossa imagem postural,<br />
incorporando a imagem dos outros. Assim, as roupas po<strong>de</strong>m se tornar um meio <strong>de</strong><br />
mudar inteiramente nossa imagem corporal” (1994, p.178).<br />
A capacida<strong>de</strong> do indivíduo <strong>de</strong> se modificar ou <strong>de</strong> se sentir modificado permite-<br />
lhe, <strong>de</strong>ntro da normalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e costumes, mudar sua aparência, sua<br />
percepção e sua imagem, po<strong>de</strong>ndo modificar também sua linguagem corporal.<br />
Schil<strong>de</strong>r afirma: “Uma das razões da transformação e do uso <strong>de</strong> roupas é o <strong>de</strong>sejo<br />
47
<strong>de</strong> superar a rigi<strong>de</strong>z da imagem corporal. Esta po<strong>de</strong> ser transformada através <strong>de</strong><br />
roupas, (...)” (1994, p.179).<br />
Por mais que o indivíduo hemiplégico recorra às modificações como<br />
autoplásticas, ele dificilmente po<strong>de</strong>rá voltar ao padrão <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> física.<br />
Entretanto, fazer uso <strong>de</strong> métodos autoplásticos (como roupas ou jóias a<strong>de</strong>quadas)<br />
irá causar uma melhora na sua aparência. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar suas vestes ao<br />
corpo irá oferecer-lhe condições participativas na socieda<strong>de</strong>, beneficiando-o física e<br />
psicologicamente. O que ocorre aqui é similar ao que acontece na prática da dança<br />
e da ginástica, on<strong>de</strong> existem necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong>correntes da<br />
transformação do corpo e do costume e é preciso usar roupas que facilitem os<br />
movimentos e liberem o corpo à participação dos movimentos.<br />
Entre os anos 384-322 a.C, Aristóteles, encantado pela anatomia, realizou<br />
estudos nesta esta área e sobre a estrutura dos movimentos. Ele foi consi<strong>de</strong>rado o<br />
primeiro biomecânico, preocupando-se com a anatomia dos animais e comparando<br />
seus corpos a um sistema mecânico. Com o uso da mecânica, <strong>de</strong>screveu alavancas<br />
e outros mecanismos do corpo. Consi<strong>de</strong>rando os relevantes estudos da<br />
biomecânica, chegamos a resultantes no que diz respeito ao hemiplégico.<br />
As conseqüências da hemiplegia no adulto são <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> lesões no<br />
sistema nervoso central tais como hemorragias cerebrais, embolias ou tromboses.<br />
Apresenta manifestações clínicas com variações <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong><br />
distribuição da espasticida<strong>de</strong> e do tipo <strong>de</strong> distúrbio sensorial. Mesmo com<br />
varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sintomas, encontramos alguns distúrbios sensoriais e motores com<br />
similarida<strong>de</strong> em gran<strong>de</strong> p<strong>arte</strong> dos pacientes.<br />
Em gran<strong>de</strong>s <strong>centro</strong>s urbanos, é muito comum um indivíduo apresentar um tipo<br />
<strong>de</strong> paralisa causado por stress, por aci<strong>de</strong>ntes no trabalho <strong>de</strong>correntes do <strong>de</strong>scuido<br />
no uso <strong>de</strong> equipamentos e/ou roupas <strong>de</strong> segurança no trabalho, pela violência, por<br />
aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito. Todos estes fatores provocam, com muita freqüência, uma<br />
agressão ao corpo e ocasionam o mau funcionamento do sistema vascular.<br />
48
2.3 Fatores que interferem no movimento normal do hemiplégico<br />
De acordo com Bobath, o hemiplégico apresenta:<br />
1. Distúrbios da sensibilida<strong>de</strong> em vários graus;<br />
2. Espasticida<strong>de</strong>;<br />
3. Um distúrbio do mecanismo <strong>de</strong> reflexo postural normal e;<br />
4. Perda dos padrões <strong>de</strong> movimento seletivo (1978, p.1).<br />
2.3.1 Distúrbios da sensibilida<strong>de</strong> em vários graus.<br />
Os distúrbios da sensibilida<strong>de</strong> em vários graus apresentam recuperações<br />
espontâneas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tratamento no grau <strong>de</strong> envolvimento sensorial. Alguns<br />
apresentam distúrbios maiores ou menores, <strong>de</strong> acordo com os danos motores.<br />
Brain (1956) apud Bobath, <strong>de</strong>finiu que a disfunção sensorial na hemiplegia<br />
apresenta-se:<br />
Bobath ainda afirma que:<br />
49<br />
A apreciação da postura e dos movimentos passivos é muitas vezes<br />
seriamente prejudicada, juntamente com a apreciação do tato superficial e<br />
sua localização correta e a discriminação da dualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas pontas do<br />
compasso. A apreciação do tamanho, forma, aspereza e textura<br />
freqüentemente sofrem alterações. O elemento qualitativo na dor, calor e<br />
frio ainda é reconhecido, porém, em se tratando <strong>de</strong> estímulos térmicos no<br />
meio da escala, o paciente po<strong>de</strong> encontrar dificulda<strong>de</strong> em dizer qual dos<br />
dois é mais quente é mais frio (1978, p.2).<br />
Todos os nossos movimentos são realizados em resposta a estímulos<br />
sensoriais, os quais agem sobre o sistema nervoso central, a partir do<br />
mundo exterior, através <strong>de</strong> exteroceptores, da visão, tato e audição. Os<br />
movimentos são orientados durante o seu <strong>curso</strong> através da visão e por<br />
estímulos sensoriais dos proprioceptores nos músculos, tendões e<br />
articulações (1978, p.2).
2.3.2 Espasticida<strong>de</strong>.<br />
A Espasticida<strong>de</strong> é uma força variável encontrada em todos os pacientes com<br />
hemiplegia, <strong>de</strong>senvolvendo-se <strong>de</strong> forma gradual em um período <strong>de</strong> 12 a 18 meses,<br />
aproximadamente, após a instalação da hemiplegia. Apresenta distribuição <strong>de</strong><br />
espasticida<strong>de</strong> nas p<strong>arte</strong>s afetadas e modificadas com reflexos tônicos.<br />
Em um primeiro estágio, o hemiplégico passa pelo estado da flaci<strong>de</strong>z<br />
muscular, po<strong>de</strong>ndo apresentar movimentos pela espasticida<strong>de</strong> leve a mo<strong>de</strong>rada, já<br />
que esta torna o movimento inoperante e,portanto, impossível.<br />
Segundo Botelho:<br />
50<br />
Nos pacientes hemiplégicos, a espasticida<strong>de</strong> apresenta-se em geral por<br />
lesões corticais e da cápsula interna. Clinicamente, hipertônica predomina<br />
nos músculos antigravitacionais, resultando no padrão flexor do membro<br />
inferior. Sua intensida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser variável <strong>de</strong> acordo com uma série <strong>de</strong><br />
fatores, como variação <strong>de</strong> temperatura, estado <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e dor. A<br />
espasticida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> encobrir a ativida<strong>de</strong> motora voluntária e a força<br />
muscular. Uma das conseqüências da espasticida<strong>de</strong> é a perda da<br />
movimentação seletiva, que afeta principalmente o membro superior.<br />
Depen<strong>de</strong>ndo da intensida<strong>de</strong> da lesão, o paciente hemiplégico não realiza<br />
isoladamente a movimentação <strong>de</strong> mão, punho e cotovelo, em graus<br />
variáveis. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar movimentos seletivos também está<br />
comprometida no membro inferior (1999, p.78).<br />
Neste contexto, enten<strong>de</strong>-se hipertonia como um aumento do estado <strong>de</strong><br />
relativa tensão que o músculo normal <strong>de</strong>ve apresentar em repouso.<br />
Para tanto, Bobath aponta que:<br />
O braço do paciente po<strong>de</strong>-se tornar fixo em flexão e sua perna em<br />
extensão. Se a espasticida<strong>de</strong> for mo<strong>de</strong>rada, po<strong>de</strong> ser possível uma<br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> limitada <strong>de</strong> movimento. Entretanto, os movimentos<br />
são realizados <strong>de</strong>ntro dos padrões totais <strong>de</strong> sinergia <strong>de</strong> reflexos e tônicos,<br />
e um esforço excessivo é utilizado para a realização <strong>de</strong> movimentos<br />
pequenos e eficazes (1978, p.5).<br />
Nos casos <strong>de</strong> hemiplegia, é possível dizer que a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong><br />
ocorra menos no movimento dos pés e pernas, já que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo utilizamos estes<br />
membros para o mesmo fim. Fato que não acontece com as mãos, que apresentam<br />
mais dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> movimento. Existe a inter-relação entre o fato do tato próximo<br />
às áreas do membro inferior plégico estimular a recuperação sensitiva, justamente<br />
pelo ato do ficar em pé e andar.
Bobath afirma ainda que: “Pacientes com uma grave <strong>de</strong>ficiência da<br />
sensibilida<strong>de</strong> não apresentam o ímpeto para movimentar-se freqüentemente, apesar<br />
<strong>de</strong> terem somente uma espasticida<strong>de</strong>” (1978, p.2).<br />
O processo <strong>de</strong> espasticida<strong>de</strong> faz com que alguns músculos apresentem a<br />
predominância <strong>de</strong> força, principalmente nos músculos flexores sobre os extensores<br />
do braço, em uma pessoa normal. No hemiplégico, produz total flexão, adução e<br />
pronação interna no ombro e flexão e pronação do antebraço.<br />
2.3.3 Distúrbio do mecanismo <strong>de</strong> reflexo postural normal<br />
Nos três primeiros anos <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>senvolve-se um mecanismo que promove<br />
o reflexo postural por meio do mecanismo voluntário normal, com respostas motoras<br />
automáticas.<br />
O corpo estabelece posições <strong>de</strong> postura como a cabeça sobre o tronco e, em<br />
equilíbrio, colocam-se os ombros, que funcionam como pêndulos e organizam a<br />
estabilida<strong>de</strong> do corpo sobre os pés.<br />
O homem aos poucos se educa e se capacita à realização <strong>de</strong> movimentos,<br />
engatinha, senta-se e, por volta do quinto mês <strong>de</strong> vida, alguns movimentos são<br />
substituídos ou acrescidos a outros, que são essenciais na construção dos padrões<br />
para a vida adulta.<br />
Percebemos que <strong>de</strong>terminadas reações automáticas se mantêm por toda a<br />
vida como, por exemplo, a extensão dos braços, que protegem o corpo e a face<br />
quando da ocorrência <strong>de</strong> quedas. O homem adquire este sistema <strong>de</strong> proteção a<br />
partir do sexto mês <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
O corpo apresenta <strong>centro</strong>s <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Quando existe um pequeno<br />
<strong>de</strong>slocamento do <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>, a postura ajusta-se, não sendo reconhecida<br />
como movimento, pois a modificação é somente do músculo. A sincronia tônus<br />
muscular e amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento apresentam modificações no <strong>centro</strong> <strong>de</strong><br />
gravida<strong>de</strong>, proporcionando ajustes posturais.<br />
Weiss, Zador, Ra<strong>de</strong>maker apud Bobath afirmam que: “(...) se houver um<br />
<strong>de</strong>slocamento consi<strong>de</strong>rável do <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>, as reações <strong>de</strong> equilíbrio<br />
correspon<strong>de</strong>ntes são movimentos <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> e padrões variáveis” (1978, p. 14).<br />
O corpo apresenta uma proteção contra forças. Bobath, afirma: “Na pessoa<br />
normal, este mecanismo <strong>de</strong> reflexo postural controla o peso <strong>de</strong> um membro durante<br />
51
movimento na direção da gravida<strong>de</strong> ”adaptação postural” contra a gravida<strong>de</strong>” (1978,<br />
p.14).<br />
O hemiplégico per<strong>de</strong> algumas reações posturais no lado afetado. Apren<strong>de</strong> a<br />
movimentar-se tendo em vista a ausência <strong>de</strong> reações. Sendo assim, seu equilíbrio é<br />
compensado pelo lado sadio. As atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> equilíbrio do lado plégico não<br />
respon<strong>de</strong>m na presença <strong>de</strong> espasticida<strong>de</strong>, principalmente associada à sensibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> músculos e articulações.<br />
Bobath consi<strong>de</strong>ra que:<br />
52<br />
O paciente compensa com o lado sadio – ele tateia a procura <strong>de</strong> apoio com<br />
sua mão íntegra, o pé no lado sadio apresenta uma ativida<strong>de</strong> exagerada e<br />
o paciente é relutante em colocar peso sobre sua perna afetada, <strong>de</strong> vez<br />
que ele tem medo <strong>de</strong> cair. Para melhorar o padrão da marcha ele tem que<br />
adquirir reações <strong>de</strong> equilíbrio no lado afetado e costumar-se a apoiar<br />
totalmente o peso sobre a perna afetada (1978, p.16).<br />
O hemiplégico per<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar movimentos como proteção<br />
contra a gravida<strong>de</strong> em seus membros e, portanto, é incapaz <strong>de</strong> impedir o movimento<br />
para baixo do braço, estando sem apoio. Tanto os braços como as pernas po<strong>de</strong>m<br />
ser estendidas quando ajudadas pelo membro sadio.<br />
2.3.4 Perda dos Padrões <strong>de</strong> movimento seletivo.<br />
Na hemiplegia leve, o movimento seletivo e discriminativo são extintos. No<br />
braço e na mão, tal perda fica bem visível visto que o hemiplégico não move o<br />
cotovelo, punho ou <strong>de</strong>dos seletivamente.<br />
Apresenta dificulda<strong>de</strong> no caminhar, uma vez que necessita <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
dorsiflexionar o tornozelo e os <strong>arte</strong>lhos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da perna estar<br />
flexionada ou estendida, com o joelho em flexão, enquanto o quadril está estendido.<br />
Existem reações associadas que são <strong>de</strong>finidas como sendo respostas<br />
automáticas anormais estereotipadas dos membros afetados, resultado <strong>de</strong> uma ação<br />
ocorrida em qualquer p<strong>arte</strong> do corpo, por estimulação reflexa ou voluntária (ex.:<br />
tossir, espirrar, esforço), inibindo a função. Estas reações são comuns quando o<br />
indivíduo se esforça para realizar uma tarefa difícil ou quando está ansioso. Ao<br />
vestir-se, por exemplo, as reações associadas po<strong>de</strong>rão ser observadas no braço e<br />
perna afetadas.
Os indivíduos com hemiplegia do lado direito têm um comportamento lento,<br />
são muito cuidadosos, incertos e inseguros. Logo, ao <strong>de</strong>sempenharem tarefas, são<br />
ansiosos e hesitantes, exigindo freqüentemente “feedback” e apoio. Eles também<br />
ten<strong>de</strong>m a serem realistas na avaliação dos próprios problemas.<br />
A labilida<strong>de</strong> emocional é, geralmente, encontrada nos casos <strong>de</strong> hemiplegia. O<br />
indivíduo apresenta emoções instáveis, sendo capaz <strong>de</strong> inibir a expressão das<br />
emoções espontâneas, que rapidamente alteram o seu comportamento emocional<br />
sem qualquer razão aparente.<br />
2.4 Medicina física e reabilitação<br />
As lesões do sistema nervoso central promovem alterações clínicas na<br />
periferia do corpo e, clinicamente falando, a hipertonia é predominante nos músculos<br />
antigravitacionais, resultando no padrão extensor do membro inferior e flexor do<br />
membro superior.<br />
De acordo com a intensida<strong>de</strong> da lesão, o paciente hemiplégico não realiza<br />
isoladamente a movimentação <strong>de</strong> mão, punho e cotovelo em graus variáveis. A<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar movimentos seletivos também está comprometida no<br />
membro inferior. Todo movimento exige um conjunto <strong>de</strong> mecanismos que atuam em<br />
sinergia e com alterações motoras tornando-se incapazes <strong>de</strong> acontecer.<br />
Um hemiplégico po<strong>de</strong> apresentar padrões anormais <strong>de</strong> movimento ou<br />
sinérgicos <strong>de</strong>vido ao tônus anormal, dificulda<strong>de</strong>s sensoriais e perda das reações <strong>de</strong><br />
equilíbrio. Existem dois tipos <strong>de</strong> padrões anormais (sinergias), chamados <strong>de</strong> padrão<br />
<strong>de</strong> flexão e padrão <strong>de</strong> extensão.<br />
As sinergias estereotipadas <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> um hemiplégico po<strong>de</strong>m ser<br />
observadas no quadro abaixo:<br />
53
Extremida<strong>de</strong> superior<br />
Extremida<strong>de</strong> inferior<br />
Sinergia flexora<br />
Flexão do punho e <strong>de</strong>dos<br />
Flexão do cotovelo<br />
Supinação do antebraço<br />
Rotação externa do ombro<br />
Abdução do ombro<br />
Retracção/ elevação da omoplata<br />
Extensão do <strong>de</strong>do gran<strong>de</strong> do pé<br />
Flexão dorsal e eversão da tíbio-társica<br />
Flexão do joelho<br />
Flexão da anca<br />
Abdução e rotação externa da anca<br />
Quadro 1 - Sinergia <strong>de</strong> flexão estereotipada <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> um hemiplégico.<br />
Fonte: Nobre (2004) – Artigo: Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral (AVC)<br />
Extremida<strong>de</strong> superior<br />
Extremida<strong>de</strong> inferior<br />
Sinergia extensora<br />
Extensão do punho e <strong>de</strong>dos<br />
Extensão do cotovelo<br />
Pronação do antebraço<br />
Rotação interna do ombro<br />
Adução do ombro<br />
Protracção da omoplata<br />
Flexão dos <strong>de</strong>dos<br />
Flexão plantar e inversão da tíbio-társica<br />
Extensão do joelho<br />
Extensão da anca<br />
Adução e rotação interna da anca<br />
Quadro 2 - Sinergia extensora estereotipada <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> um hemiplégico<br />
Fonte: Nobre (2004) – Artigo: Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral (AVC)<br />
54
No que se refere à reabilitação, cabe ao hemiplégico a difícil missão <strong>de</strong><br />
passar por um processo <strong>de</strong> reaprendizagem das coisas do dia a dia, da execução <strong>de</strong><br />
tarefas corriqueiras como escovar os <strong>de</strong>ntes, comer, vestir-se e <strong>de</strong>spir-se.<br />
Para vestir-se, ele precisa sentar-se em uma ca<strong>de</strong>ira firme e separar as<br />
roupas. Suas roupas <strong>de</strong>vem apresentar fechos práticos, serem agradáveis,<br />
confortáveis e com um caimento a<strong>de</strong>quado, que aconchegue seus movimentos com<br />
liberda<strong>de</strong>. Dado que o indivíduo hemiplégico dispõe <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> visão limitado,<br />
todas as peças <strong>de</strong>vem apresentar-se <strong>de</strong> forma or<strong>de</strong>nada à sua colocação, do lado<br />
plégico, para on<strong>de</strong> ele irá virar-se e pegar a peça que vestirá, sempre utilizando a<br />
mão sã. O tempo gasto na realização <strong>de</strong>sta tarefa é, indiscutivelmente, muito maior<br />
do que aquele <strong>de</strong>spendido por uma pessoa comum.<br />
Como cada hemiplégico dispõe <strong>de</strong> mais ou menos dificulda<strong>de</strong> motora, cabe a<br />
um profissional da área da terapia ocupacional educá-lo na execução <strong>de</strong> qualquer<br />
tarefa, visando uma maior comodida<strong>de</strong>.<br />
2.5 O normal e o patológico<br />
A palavra normal é sinônima <strong>de</strong> média, ou conforme <strong>de</strong>finição no Novo<br />
Dicionário Aurélio, aquilo “que é segundo a norma”, o que se enquadra na norma,<br />
patológico o contrário a media universal, portanto é uma alteração do normal.<br />
Na avaliação do individuo com certa <strong>de</strong>ficiência, po<strong>de</strong>mos avaliar <strong>de</strong> duas<br />
formas: é ele normal <strong>de</strong>ntro do grupo que pertence a sua <strong>de</strong>ficiência ou é diante <strong>de</strong><br />
um grupo que não apresenta aparente <strong>de</strong>ficiência? É seu órgão do corpo anormal<br />
diante do grupo que faz p<strong>arte</strong> da sua característica? É este individuo comprometido<br />
patologicamente ou somente p<strong>arte</strong> do seu corpo é comprometido? Da mesma forma<br />
é <strong>de</strong>signado pela socieda<strong>de</strong> “<strong>de</strong>ficiente”.<br />
Estabelecer qualificações aos indivíduos é comprometedor, partindo do<br />
principio <strong>de</strong> não vermos internamente nosso corpo. Uma pessoa é consi<strong>de</strong>rada<br />
<strong>de</strong>ficiente quando um dos órgãos internos do seu corpo apresenta alguma<br />
<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>? Ou somente o órgão? De forma geral, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ramos aquilo que não<br />
vemos ou não nos é permitido perceber. Só consi<strong>de</strong>ramos o individuo com um órgão<br />
interno <strong>de</strong>bilitado quando ele aparentemente o <strong>de</strong>monstra, no caso do sofrimento, da<br />
dor ou mesmo aparência: pálida ou excessivamente avermelhada.<br />
55
O limite entre o normal e patológico é sempre impreciso, pois estabelecer<br />
regras para esta <strong>de</strong>nominação é incoerente não só no que diz respeito à saú<strong>de</strong>, mas<br />
do ponto <strong>de</strong> vista social e na forma <strong>de</strong> viver. O individuo, mesmo apresentando<br />
limitações, tem os mesmos direitos assegurados pela lei embora não lhe seja<br />
permitido interagir no todo. Portanto, fazem-se necessários questionamentos como<br />
os abordados neste estudo “o vestuário do hemiplégico”.<br />
A postura <strong>de</strong> um indivíduo saudável (não afetado neurologicamente) é<br />
<strong>de</strong>terminada pelo uso dos dois hemisférios cerebrais que controlam eletricamente a<br />
função <strong>de</strong> cada pequeno músculo, da base ao topo do corpo, que se inter-relaciona<br />
com os <strong>de</strong>mais até que a postura vertical seja obtida. Assim, constrói-se toda a re<strong>de</strong><br />
muscular necessária para que o individuo vença a gravida<strong>de</strong> e sinta-se confortável e<br />
equilibrado.<br />
No indivíduo com lesões cerebrais, lacunas <strong>de</strong> comando elétrico vão gerar<br />
uma verticalida<strong>de</strong> plena <strong>de</strong> compensações que darão o equilíbrio possível, apesar<br />
<strong>de</strong> distorções altamente específicas e ao mesmo tempo comuns ao hemiplégico.<br />
Os mecanismos que a natureza cria para que as falhas <strong>de</strong> contribuição <strong>de</strong><br />
músculos essenciais para a postura vertical sejam compensadas são extremamente<br />
úteis à vida. O conhecimento neurológico os explica <strong>de</strong> modo analítico e eficaz para<br />
que outras áreas do conhecimento possam reconhecê-los, estudá-los e compensar<br />
aspectos que interferem na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
56
CAPÍTULO 3 - A MODELAGEM E A ERGONOMIA
58<br />
Nunca an<strong>de</strong> pelo caminho traçado, pois ele te<br />
conduz somente até on<strong>de</strong> os outros foram.<br />
Alexan<strong>de</strong>r Grahan Bell<br />
A ergonomia é um conjunto <strong>de</strong> ciências que visa o bem-estar e o conforto do<br />
homem. Ela busca a a<strong>de</strong>quação do homem com o trabalho, ajustando suas<br />
ativida<strong>de</strong>s físicas aos equipamentos, consi<strong>de</strong>rando suas características físicas,<br />
fisiológicas, psicológicas e sociais, levando em conta sexo e ida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>sta forma,<br />
melhorando seu <strong>de</strong>sempenho. Ela avalia a máquina, ajusta equipamentos,<br />
ferramentas, mobiliários e instalações, ambientes, levando em consi<strong>de</strong>ração o nível<br />
<strong>de</strong> ruído, as vibrações, a incidência <strong>de</strong> luz, as cores, os líquidos utilizados e a<br />
emissão <strong>de</strong> gases. Preocupa-se com a organização, os aci<strong>de</strong>ntes e o <strong>de</strong>sempenho<br />
energético disposto ao homem.<br />
Segundo Lida:<br />
Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho,<br />
equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos<br />
<strong>de</strong> anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos<br />
<strong>de</strong>sse relacionamento (2001, p.1).<br />
Diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajustar o homem à sua condição <strong>de</strong> vida,<br />
diferenças <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas para que cada uma <strong>de</strong>las se ajuste ao perfil do<br />
usuário, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> fatores respeitáveis, propiciando leituras que favoreçam sua<br />
característica física no caso do hemiplégico, já <strong>de</strong>scrita no capitulo anterior. O<br />
hemiplégico passa por etapas diferenciadas na vida pós-trauma, ficando por um bom<br />
período na cama, passando em seguida a necessitar <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas e <strong>de</strong><br />
permanentes sessões <strong>de</strong> fisioterapias e, muitas vezes, com utilização <strong>de</strong> bloqueios<br />
químicos. Após este período, começa a utilizar uma bengala Inglesa.
Figura 1 – Bengala inglesa<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
Segundo pesquisa realizada por Grave (2004), o corpo na posição ortostática<br />
(ou seja, posição em que o corpo está em pé, com os tornozelos virados em ângulo<br />
<strong>de</strong> 90 graus com referência ao solo, mantendo o corpo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma simetria) <strong>de</strong>ve<br />
sustentar sua massa ao <strong>de</strong>scarregar seu peso no solo.<br />
Dângelo e Fattini (2003) dispõem, <strong>de</strong>ntro da anatomia sistêmica, que o<br />
homem (com suas características conforme a hereditarieda<strong>de</strong>) é dividido em três<br />
categorias, segundo seu biótipo, seguindo <strong>de</strong> planos e subdivisões:<br />
1. Longilíneos: tórax alongado, alto, membros longos, apresenta proeminência<br />
do eixo sobre os <strong>de</strong>mais.<br />
2. Brevilíneo: membros curtos em relação ao tórax que apresenta diâmetro<br />
largo. Estatura baixa, pescoço curto, predominância do eixo transversal,<br />
predomina sua largura.<br />
3. Médio: membros e tórax <strong>de</strong>ntro da normalida<strong>de</strong>. Próximo à harmonia, entre<br />
verticalida<strong>de</strong> e horizontalida<strong>de</strong>.<br />
O Homem, em posição anatômica, é subdividido em planos.<br />
59
1. Plano sagital: é como se uma seta partindo da sagital dividisse o corpo em<br />
lado esquerdo e direito. Este alinhamento obe<strong>de</strong>ce aos pontos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />
do corpo nuca e no cóccix.<br />
2. Plano frontal ou coronal: é como se uma linha dividisse o corpo em p<strong>arte</strong> da<br />
frente e p<strong>arte</strong> das costas, seguindo o alinhamento das orelhas, ombros, lateral<br />
do corpo, meio das pernas, fechando todo o contorno do corpo.<br />
3. Plano Transversal: é como se uma linha dividisse o tronco do abdômen<br />
respeitando o alinhamento <strong>de</strong> movimento do corpo entre a caixa torácica e a<br />
bacia pélvica.<br />
O corpo po<strong>de</strong> ser subdividido em planos e secções, sempre baseado nos três<br />
planos acima mencionados, na medida em que necessitamos representar<br />
particularida<strong>de</strong>s.<br />
O homem tem seu <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> além <strong>de</strong> tantos pontos<br />
antigravitacionais. Eixos articulares e músculos contraídos são suficientes para fazêlo<br />
ficar em posição ereta.<br />
Os pontos se revelam antigravitacionais em qualquer corpo, seguindo as três<br />
leis <strong>de</strong> Newton e propiciando ao homem o movimento. A primeira lei afirma que um<br />
corpo em repouso ten<strong>de</strong> a permanecer em repouso e um corpo em movimento ten<strong>de</strong><br />
a permanecer em movimento com velocida<strong>de</strong> constante (nenhuma alteração na<br />
rapi<strong>de</strong>z ou direção), a menos que sofra a ação <strong>de</strong> força não compensada. Isso é<br />
fundamental para compreen<strong>de</strong>rmos o movimento e equilíbrio.<br />
A segunda lei afirma que a aceleração adquirida por um corpo é diretamente<br />
proporcional à intensida<strong>de</strong> da resultante das forças que atuam sobre o corpo. Ao<br />
mesmo tempo, tal aceleração tem a mesma direção e sentido <strong>de</strong>sta força resultante<br />
e é inversamente proporcional à sua própria força (em relação à gravida<strong>de</strong>).<br />
A terceira lei <strong>de</strong>termina que cada uma das forças atuando sobre um corpo ou<br />
uma p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>ste origina-se <strong>de</strong> outro corpo. Assim, as forças não atuam<br />
isoladamente, mas como um par interativo no lugar on<strong>de</strong> os dois corpos entram em<br />
contato.<br />
Em situação <strong>de</strong> verticalida<strong>de</strong>, estas três leis estão presentes e contraem o<br />
<strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>, o que permite tanto a estabilida<strong>de</strong> estática quanto o<br />
movimento. Músculos que nos tracionam para trás e para os lados <strong>de</strong>vem<br />
harmonizar-se para que nos sustentemos continuamente.<br />
60
O corpo, com os planos cruzados pela horizontalida<strong>de</strong> da bacia pélvica (ou<br />
cintura pélvica) e verticalida<strong>de</strong> (sacro), forma um ponto antigravitacional e equilibrase<br />
sobre os dois pés, sustentando toda a ação. Em pé, a linha <strong>de</strong> força gravitacional<br />
(por intermédio do <strong>centro</strong> <strong>de</strong> massa) cai atrás da articulação do quadril, à frente da<br />
articulação do joelho e à frente da articulação do tornozelo. Nos membros inferiores,<br />
a contração muscular ativada pela força gravitacional visando o equilíbrio, é<br />
necessária apenas nos músculos da barriga da perna (panturrilha).<br />
Figura 2 – Ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> no sacro e joelho.<br />
Fonte: Grave (2004) – A mo<strong>de</strong>lagem sob a ótica da ergonomia.<br />
61
Os ombros conferem aos membros superiores a posição apendicular, agindo<br />
como um pêndulo, respon<strong>de</strong>ndo or<strong>de</strong>ns naturais, em um gingado sincronizado,<br />
atuando como alavanca junto aos membros superiores.<br />
Bobath afirma que, em qualquer condição, o corpo ajusta-se, a<strong>de</strong>quando seu<br />
<strong>centro</strong> às mudanças <strong>de</strong> postura e, sendo assim, sua posição mantém-se com<br />
tendência vertical, mesmo inclinada, sempre como uma proteção à força <strong>de</strong><br />
gravida<strong>de</strong>.<br />
Na pessoa normal, este mecanismo <strong>de</strong> reflexo postural controla o peso <strong>de</strong> um<br />
membro durante movimentos na direção da gravida<strong>de</strong>. Este mecanismo po<strong>de</strong> ser<br />
chamado “adaptação postural contra a gravida<strong>de</strong>”. Beevor (1904) fez as seguintes<br />
observações:<br />
62<br />
Em todo movimento vagaroso e sem resistência que é realizado em<br />
direção à gravida<strong>de</strong>, os músculos que agem na direção do movimento são<br />
relaxados ao passo que seus antagonistas se contraem e suportam os<br />
membros, e se o movimento continuar estes últimos, gradualmente se<br />
relaxam totalmente (1978, p.14).<br />
Os movimentos do corpo, e até mesmo a ausência <strong>de</strong> movimentos, são <strong>de</strong> tal<br />
forma relevantes em qualquer ativida<strong>de</strong>, que Laban (1910) <strong>de</strong>dicou-se a estudar a<br />
relação do corpo e da mente com o movimento. Ele acreditava que o domínio do<br />
movimento era tão importante como o domínio da escrita. Assim, apresentou uma<br />
nova proposta <strong>de</strong> dança que se preocupava com a leveza e a beleza do movimento,<br />
possibilitando ao homem uma auto-suficiência no próprio corpo, afirmando:<br />
(...) um professor diante dos alunos sentados em sua c<strong>arte</strong>ira po<strong>de</strong> através<br />
da compreensão, fazer tanto para ajudar toda classe e cada criança<br />
individualmente como o professor <strong>de</strong> dança ou <strong>de</strong> ginástica cujo interesse<br />
pelo movimento é mais imediato. O docente que ensina matéria do tipo<br />
acadêmico <strong>de</strong>ve apreciar os esforços expressados por meio do movimento,<br />
assim como o professor <strong>de</strong> dança que tem que se dar conta <strong>de</strong> que há um<br />
esforço mental implícito em toda ativida<strong>de</strong>. (1990, p.102).<br />
A simples observação do movimento do corpo não nos permite ver todo o<br />
mecanismo existente por trás <strong>de</strong>le quando da sua geração e que atua para mostrar<br />
sua significância física ou psicológica. Um olhar po<strong>de</strong> falar tanto quanto os<br />
movimentos, uma interpretação <strong>de</strong> sentimentos que implicitamente nos traduz seu<br />
significado, como mágica. Por outro lado, um movimento estritamente físico
acontece com a ajuda <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> glicose <strong>de</strong> açúcar, que fornecem a energia<br />
vital para a circulação do sangue durante um trabalho intenso. Embora não nos seja<br />
permitido efetivamente ver sua atuação, a mesma fonte <strong>de</strong> energia se manifesta<br />
para o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> ambos os papéis. A comunicação (seja com trabalho<br />
muscular seja com trabalho mental) é irrigada por componentes que, junto com o<br />
oxigênio que respiramos, se movimentam <strong>de</strong> forma or<strong>de</strong>nada em processos mais<br />
lentos ou mais rápidos, sem exibirem-se exteriormente. Estes componentes são<br />
necessários para manter vivo um corpo, não permitindo qualquer discriminação, mas<br />
sim uma união, visto que na falta <strong>de</strong> um elemento, o outro <strong>de</strong>ve atuar mais para que<br />
haja a compensação. Agem tal qual a glicose e a gordura que se substituem na<br />
geração <strong>de</strong> energia quando da realização <strong>de</strong> um movimento.<br />
3.1 Características do tecido<br />
Sendo o tecido composto por fibras animal, vegetal ou química, ele sofre - tal<br />
qual qualquer corpo - efeitos da gravida<strong>de</strong>. Sozinho, ele não se sustenta em pé, o<br />
que significa que, ao <strong>de</strong>positá-lo sobre uma superfície, não tem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficar<br />
na vertical (o que ocorre somente com auxílio <strong>de</strong> produtos químicos). Dentro <strong>de</strong> sua<br />
característica natural, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do seu entrelaçamento, mantêm a mesma<br />
reação. Segundo pesquisas realizadas por Grave (2004), capítulo III, o<br />
entrelaçamento das fibras tornarão o tecido mais firme e sua resposta aos<br />
movimentos do corpo po<strong>de</strong> apresentar-se mais ou menos harmônica ao corpo. Na<br />
confecção <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> vestuário, indicar os tecidos apropriados ao mo<strong>de</strong>lo e ao<br />
usuário tornará as vestes mais saudáveis.<br />
O casamento entre os pontos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> dominante do corpo, sua<br />
aco<strong>moda</strong>ção nos movimentos e os pontos <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do tecido (quando em<br />
sintonia) torna o caimento da peça <strong>de</strong> vestuário perfeita. Massa e aceleração<br />
participam <strong>de</strong>ste casamento e apresentam como resposta um vestuário sem torções,<br />
com liberda<strong>de</strong> e sem causar agressões. É a força dominando o mais fraco.<br />
Para um bom resultado na confecção do vestuário, é necessário que haja um<br />
bom conhecimento <strong>de</strong> cada p<strong>arte</strong> do corpo bem como seu comportamento. É preciso<br />
fragmentar a peça para ajustar o ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do tecido, direcioná-lo a<br />
vertical, respeitando os planos anatômicos ou suas paralelas.<br />
63
O corpo e o tecido entram em acordo e as ações <strong>de</strong> motricida<strong>de</strong> permitem<br />
que o corpo seja seu próprio tecelão. Portanto, corpos diferenciados <strong>de</strong>vem<br />
obe<strong>de</strong>cer às suas características, tanto na verticalida<strong>de</strong> como horizontalida<strong>de</strong> e na<br />
tridimensionalida<strong>de</strong>. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da posição do tecido, este a<strong>de</strong>re às formas<br />
<strong>de</strong>terminadas pelo corpo.<br />
O corpo é o cabi<strong>de</strong> tridimensional que dá não somente vida, mas também<br />
alma às roupas. Muitas vezes, a roupa quando vista pendurada em uma arara não<br />
agrada, mas quando vestida no corpo torna-se i<strong>de</strong>al, estabelecendo e mantendo<br />
uma cumplicida<strong>de</strong> que permanecerá viva enquanto estiver em uso.<br />
Dentro da visão ergonômica, a mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r particularida<strong>de</strong>s que<br />
signifiquem melhorias na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do indivíduo, junto às aplicações gerais,<br />
respeitando diferenças entre verticalida<strong>de</strong>, horizontalida<strong>de</strong>, tridimensionalida<strong>de</strong><br />
(corpo) e fibras.<br />
3.1.1 O vestuário e as superfícies têxteis<br />
As superfícies têxteis são utilizadas para elaborar peças <strong>de</strong> vestuário ou<br />
outras finalida<strong>de</strong>s. Os métodos principais para sua obtenção são entrelaçamentos<br />
<strong>de</strong> fibras têxteis e entrelaçamento <strong>de</strong> fios têxteis.<br />
As fibras têxteis são entrelaçadas em todas as direções e a<strong>de</strong>ridas umas às<br />
outras por fusão ou colagem, resultando em tecidos não–tecidos, em geral telas<br />
rígidas com pouca mobilida<strong>de</strong>, utilizadas mais em forros, entretelas, lençóis,<br />
<strong>de</strong>scartáveis e outros.<br />
Os fios têxteis são entrelaçados utilizando-se um processo mais comum,<br />
apresentando duas formas básicas: tecido plano e malha.<br />
As fibras e tecidos influenciam as atitu<strong>de</strong>s do corpo, trabalham entre<br />
verticalida<strong>de</strong>s e horizontalida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>terminando um caimento para o tecido<br />
diferenciando <strong>de</strong>ntro da força da gravida<strong>de</strong>.<br />
Com formações diferenciadas, registra o tipo <strong>de</strong> caimento que, <strong>de</strong> acordo com<br />
princípios agregados ao corpo, <strong>de</strong>terminam o resultado individualizado ao vestuário.<br />
As condições tecnológicas do tecido e das fibras se atualizaram mais que as<br />
técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem.<br />
64
Obrigações específicas da mo<strong>de</strong>lagem passaram a ficar sob a<br />
responsabilida<strong>de</strong> das fibras e fios. A qualida<strong>de</strong> do vestuário é boa <strong>de</strong>vido às fibras,<br />
aos fios e à tecnologia aplicada ao maquinário e não em razão da mo<strong>de</strong>lagem.<br />
Como uma blusa que a<strong>de</strong>re tão bem que nem percebemos a falta <strong>de</strong> altura e<br />
amplitu<strong>de</strong> para que seu vestir aconchegue a articulação do ombro e do braço. Enfim,<br />
vestir como um abraço amigo.<br />
3.1.2 Tecido plano (biaxial)<br />
A característica dos tecidos planos é a or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> dois sistemas <strong>de</strong> fios,<br />
apresentando composições perpendiculares, formando ângulos retos.<br />
O fio em verticalida<strong>de</strong>, na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> paralelos individualizados, aten<strong>de</strong> a um<br />
mesmo comprimento e tensão, <strong>de</strong>nominado urdimento, o qual <strong>de</strong>fine a altura do<br />
tecido.<br />
Já o fio na horizontalida<strong>de</strong>, formando uma disposição em paralelos em uma<br />
mesma largura, cruzando-se, faz com que um segure o outro, passando por baixo ou<br />
por cima, sucessivamente e é o que <strong>de</strong>nominamos trama, a qual <strong>de</strong>fine a largura do<br />
tecido.<br />
O urdimento se une ao plano sagital (corpo) e a trama ao plano transversal.<br />
A união do corpo com o tecido e a ação da gravida<strong>de</strong> resulta na regularida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> caimento.<br />
Como exemplos, po<strong>de</strong>mos citar o caimento da saia reta e o vinco da calça<br />
comprida. Ambos seguem o plano sagital. Quando em movimento, os urdimentos<br />
unem-se às longitudinais do corpo, seguindo e mostrando-se alternadamente no<br />
caminhar, <strong>de</strong>monstrando a estrutura do tecido.<br />
Segundo Gomes:<br />
65<br />
O equilíbrio é o estado no qual as forças, agindo sobre um corpo, se<br />
compensam mutuamente. Ele é seguido, na sua maneira mais simples, por<br />
meio <strong>de</strong> duas forças <strong>de</strong> igual resistência que puxam em direções opostas.<br />
Esta <strong>de</strong>finição física é aplicável também ao equilíbrio visual. O sentido da<br />
visão experimenta equilíbrio quando as forças fisiológicas correspon<strong>de</strong>ntes<br />
no sistema nervoso se distribuem <strong>de</strong> tal modo que se compensam<br />
mutuamente (2003, p.57).
No vestuário, o fio do urdimento e a altura do corpo se combinam,<br />
proporcionam equilíbrio - tanto físico como visual.<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com Gomes: “O equilíbrio, tanto físico como visual, é o<br />
estado <strong>de</strong> distribuição no qual toda ação chegou a uma pausa” (2003, p.57).<br />
Os re<strong>curso</strong>s que facilitam a simetria do vestuário são: planos e fio do<br />
urdimento. Eles favorecem o equilíbrio visual e, no caso do hemiplégico, a<br />
localização do <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>finição do ângulo <strong>de</strong> abertura que<br />
resultarão no equilíbrio bilateral do corpo, melhorando o vestuário do hemiplégico.<br />
3.1.3 Caimento em viés<br />
Determinando outro caimento, os fios urdimento e trama são dispostos na<br />
diagonal sobre o plano sagital (do corpo), apresentado um outro efeito, como se a<br />
ação da gravida<strong>de</strong> escorresse sobre os fios, dando-lhes um aspecto <strong>de</strong> babado e<br />
adaptando-se melhor às curvas do corpo. Tudo aten<strong>de</strong>ndo ao agito propiciado pela<br />
união do movimento e o equilíbrio.<br />
3.1.4 Caimento do tecido com fibras em triaxialida<strong>de</strong><br />
Por apresentar três eixos, o tecido se trava, praticamente resultando em um<br />
único caimento autônomo. Utiliza-se esse tipo <strong>de</strong> tecido para objetos que exijam<br />
mais resistência, tais como forrações e estofados, pois não conseguem a<strong>de</strong>rir ao<br />
corpo humano. Seu caimento é muito firme, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
3.1.5 Malha<br />
Os tecidos em malha apresentam pouca estabilida<strong>de</strong>. Esta característica<br />
po<strong>de</strong> ser melhorada com o dimensionamento a<strong>de</strong>quado da relação do fio versus<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> malha. É um fio com uma sucessão <strong>de</strong> entrelaçamentos, que<br />
apresenta tendência a relaxar com o tempo <strong>de</strong> uso da peça <strong>de</strong> vestuário, isto sob a<br />
exposição freqüente ao corpo em ativida<strong>de</strong>.<br />
66
3.1.6 Elastano<br />
Por apresentar fibra <strong>de</strong> borracha, sua função é a<strong>de</strong>rir ao corpo, on<strong>de</strong> a<br />
homogeneida<strong>de</strong> da massa em relação ao volume corporal não permite que <strong>de</strong>slize.<br />
Mo<strong>de</strong>la-se ao corpo, a<strong>de</strong>rindo a ele.<br />
Os atributos tecnológicos formam os tecidos e influem na aparência, no<br />
<strong>de</strong>sempenho, na segurança e no conforto.<br />
Com relação à aparência, citamos o caimento, textura, cor, retenção do vinco,<br />
não-enrugamento. Quanto ao conforto, há fatores como a absorção <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>,<br />
porosida<strong>de</strong> e permeabilida<strong>de</strong>.<br />
O <strong>de</strong>sempenho se refere a repelência a água, resistência à abrasão,<br />
estabilida<strong>de</strong>, dimensionamento e soli<strong>de</strong>z.<br />
A segurança envolve a flamabilida<strong>de</strong>, isolação, resistência a produtos<br />
químicos e antiestática.<br />
Há ainda outros fatores, como tipo <strong>de</strong> fio, combinação <strong>de</strong> fios, torção e<br />
acabamento do tecido, que po<strong>de</strong>m alterar a ação da gravida<strong>de</strong> sobre ele e,<br />
conseqüentemente, sua estabilida<strong>de</strong>.<br />
3.2 Pontos antigravitacionais<br />
As linhas escuras retas, conforme mostra a figura a seguir, indicam as<br />
alavancas eficazes para rotatórias entre um <strong>centro</strong> articular próximo e na seqüência.<br />
Essa rotatória faz com que os movimentos apresentem-se contemplados,<br />
valorizando o vestuário.<br />
67
Figura 3 – Alavancas eficazes para rotatória<br />
Fonte: Grave (2004) – A mo<strong>de</strong>lagem<br />
sob a ótica da ergonomia.<br />
68
3.2.1 Relacionando a gravida<strong>de</strong> do corpo humano com o tecido<br />
O corpo humano tem domínio sobre a gravida<strong>de</strong>. Com o corpo em<br />
alinhamento, quem suporta todo o peso é a pelve, que o distribui ao solo. O <strong>centro</strong><br />
<strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da cabeça, braços e tronco localiza-se no <strong>centro</strong> do tronco. Ao mudar<br />
<strong>de</strong> posição, no caminhar, o membro <strong>de</strong> apoio suporta o peso do corpo com a ajuda<br />
dos abdutores do quadril, que se equilibra em relação à pelve. Na dinâmica da<br />
marcha, o <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> oscila permanentemente e permite a harmonia. Se os<br />
músculos falharem na sua função, o eixo e o equilíbrio ficam comprometidos,<br />
alterados, levando o vestuário a acompanhá-los.<br />
O tecido apresenta sua massa <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong> estrutura física. Assim<br />
sendo, é energia atuante que po<strong>de</strong> ser mais ou menos ativa <strong>de</strong> acordo com sua<br />
constituição.<br />
O caimento do tecido <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da estabilida<strong>de</strong> do corpo. Para tanto, é<br />
necessário pendurá-lo, para que a ação <strong>de</strong> seus eixos ceda à gravida<strong>de</strong>.<br />
Seu caimento sobre o corpo em movimento acontece em combinação com as<br />
trocas resultantes da aco<strong>moda</strong>ção do corpo e do tecido à lei da gravida<strong>de</strong>. O efeito<br />
final do vestuário se dá por meio da regularida<strong>de</strong> à qual as fibras são dispostas<br />
sobre o eixo antigravitacional (sagital) do corpo.<br />
A variação dos eixos do tecido po<strong>de</strong> torná-lo mais resistente. Em razão do<br />
efeito da gravida<strong>de</strong> no corpo, conjugado à ação antigravitacional (eixo), o caimento<br />
po<strong>de</strong> apresentar-se mais rígido, firme, a exemplo do tecido triaxial. Informações<br />
precisas relativas ao corpo facilitam o trabalho.<br />
Preocupações relativas ao <strong>de</strong>talhamento do corpo passam a serem<br />
estudadas para a atuação das áreas, integrando, melhorando a qualida<strong>de</strong> do<br />
vestuário <strong>de</strong> acordo com sexo, raça, biótipo e ativida<strong>de</strong> física. Po<strong>de</strong>mos ainda<br />
acrescentar o fator <strong>moda</strong>.<br />
Todo o esforço do corpo no tocante a uma ativida<strong>de</strong> merece cuidados no seu<br />
vestuário. Os movimentos do corpo respon<strong>de</strong>m às atitu<strong>de</strong>s que se realizam <strong>de</strong>ntro<br />
do pensamento, do sentimento.<br />
Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que os primeiros movimentos vieram dos antepassados<br />
primitivos, os símios. Trazemos outros movimentos na hereditarieda<strong>de</strong> da família e<br />
ainda movimentos que são ditos, educados ou adquiridos. Realizamos ativida<strong>de</strong>s<br />
como comer quando estamos com fome, beber quando temos se<strong>de</strong>, como qualquer<br />
69
animal. Gesticulamos em <strong>de</strong>terminada situação tal qual nossos avós o faziam,<br />
falamos ou rimos no mesmo tom que nosso pai.<br />
Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver o <strong>de</strong>strianismo ou sinistrismo, mesmo com caracteres<br />
referenciais para um, ou ainda treinar e trabalhar muito bem com ambos.<br />
Dezenas <strong>de</strong> grupos ou tribos diferenciam-se por meio do gingado ao andar,<br />
adquirindo movimentos mais sedutores.<br />
a <strong>cultura</strong>.<br />
O sexo <strong>de</strong>fine preocupações diferenciadas para o vestuário, condizentes com<br />
As características da raça, <strong>de</strong> regiões, a influência sócio-<strong>cultura</strong>l e econômica,<br />
são aspectos importantes na combinação do vestuário.<br />
O biótipo, <strong>de</strong>ntro das suas variações (longilíneos, médio e brevilíneo), é<br />
analisado pela equivalência dos membros, tórax e abdome, <strong>de</strong> forma que o vestuário<br />
aju<strong>de</strong> a amenizar qualquer diferença que o corpo apresente.<br />
A ativida<strong>de</strong> física exige uma a<strong>de</strong>quação da mo<strong>de</strong>lagem para que a roupa<br />
acompanhe e libere os movimentos.<br />
A <strong>moda</strong> po<strong>de</strong> integrar todos os fatores acima mencionados à peça que se<br />
usa, atualizando o indivíduo e propiciando o bem-estar. Ao cuidar do vestuário,<br />
verificamos que o homem tem praticamente dois mundos. Um mundo, que permite<br />
criar seu universo e um segundo, que faz com que ele seja p<strong>arte</strong> <strong>de</strong> um todo. Muitas<br />
vezes, o homem utiliza vestes específicas no seu universo, mas no todo não.<br />
A <strong>moda</strong> <strong>de</strong>ve se apresentar funcional para entoar a vida, <strong>de</strong>ixando o fútil,<br />
aten<strong>de</strong>ndo às exigências da satisfação e das necessida<strong>de</strong>s da vida humana, ou<br />
seja, ela não é apenas funcional, mas, isso servirá para a aceitação social e <strong>cultura</strong>l.<br />
3.3 Movimentos, eixos articulares influem na mo<strong>de</strong>lagem.<br />
As articulações são mecanismos que permitem que os ossos se mantenham<br />
unidos. Existem casos em que os ossos estão próximos e as articulações não ficam<br />
visíveis dadas à existência da cartilagem. Em outros, os ossos são unidos<br />
frouxamente para permitir a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos.<br />
A ação da projeção do plano do <strong>centro</strong> da gravida<strong>de</strong> atua sobre o vestuário,<br />
que respon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> massa.<br />
70
Algumas articulações proporcionam estabilida<strong>de</strong> em uma direção, permitindo<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento na direção oposta. Outros permitem liberda<strong>de</strong> em todas as<br />
direções.<br />
A mo<strong>de</strong>lagem tem função participativa e ativa nos movimentos articulares.<br />
Nos movimentos, alguns músculos encolhem-se 30% da sua medida natural, <strong>de</strong>ntro<br />
da posição anatômica (ou posição zero). Para aten<strong>de</strong>r uma or<strong>de</strong>m na execução <strong>de</strong><br />
um movimento, o cuidado com o cálculo <strong>de</strong>termina a construção da peça, pois ela<br />
trabalhará simultaneamente com o corpo.<br />
Consi<strong>de</strong>rar a ativida<strong>de</strong> (região do corpo), a localização e a consciência do<br />
movimento e ainda relevar ações involuntárias proporcionará qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vestuário<br />
e bem-estar para o usuário.<br />
Algumas articulações oferecem pouco ou nenhum movimento, pois têm os<br />
dois segmentos dos ossos unidos. Mas todo e qualquer movimento é respeitado<br />
pela sincronia das ações, visto que o ato <strong>de</strong> respirar implica na realização <strong>de</strong> uma<br />
série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s internas.<br />
Como as costelas mudam <strong>de</strong> diâmetro <strong>de</strong> acordo com a inspiração e a<br />
expiração, isto é bem <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> acordo com o volume <strong>de</strong> ar que ocupa espaço<br />
<strong>de</strong>ntro da caixa torácica, o mínimo <strong>de</strong>sconforto externo causado pelo vestuário na<br />
movimentação <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> repercutirá no bem-estar. O mesmo ocorre nos casos<br />
<strong>de</strong> hipertensão, quando um vestuário justo e pesado po<strong>de</strong> ocasionar aquecimento e<br />
avermelhamento por excesso <strong>de</strong> circulação na região superior (cabeça e rosto) e<br />
conseqüente frieza na região inferior, acentuando-se nos membros.<br />
3.3.1 Movimentos do corpo<br />
3.3.1.1 Flexão, extensão<br />
Movimentos <strong>de</strong> extensão e flexão mobilizam o corpo. Verificamos que o corpo<br />
no plano frontal (coronal), se pu<strong>de</strong>sse ser dobrado em um <strong>de</strong> seus eixos, o faria<br />
somente para frente ou para trás, não dobraria para os lados, tampouco torceria.<br />
O plano não se dobra, mas o corpo sim, quando se afasta <strong>de</strong>le. Quando se<br />
move para frente e para trás, este plano atua em direção sagital, em um movimento<br />
<strong>de</strong> flexão e extensão, também gerando uma agitação dos órgãos internamente.<br />
71
Figura 4 – Corpo em flexão<br />
Fonte: Grave (2004) – A mo<strong>de</strong>lagem sob a ótica da ergonomia.<br />
Na flexão, o movimento é na direção anterior para a cabeça, pescoço, tronco,<br />
membro superior e quadril. Portanto, a extensão é o movimento na direção oposta à<br />
flexão.<br />
A peça <strong>de</strong>ve resguardar tanto o interior como o exterior do corpo. Desta<br />
forma, o plano transversal anterior acompanha o exterior, com veneração às<br />
ativida<strong>de</strong>s internas e externas, que <strong>de</strong>vem atuar livremente. Para tanto, respeitar a<br />
ação e traduzir a variação da cintura em medidas são cuidados que ajudam a<br />
facilitar o movimento.<br />
72
3.3.1.2 Movimentos <strong>de</strong> adução e abdução<br />
Os eixos se interseccionam e é impossível realizar movimentos em um plano<br />
só. Na adução ou abdução vemos, em princípio, que o eixo sagital se esten<strong>de</strong> até a<br />
horizontal <strong>de</strong> frente para trás e se mantém sobre o plano sagital. Se pu<strong>de</strong>sse dobrar,<br />
dobraria somente para os lados. Como já foi visto, não é possível dobrar o plano,<br />
mas o corpo sim.<br />
Movimentando-se, ocorrem adução e abdução com flexões laterais, on<strong>de</strong><br />
ambos acontecem no plano coronal.<br />
Abdução é o movimento que afasta o corpo do plano coronal. Adução é o<br />
movimento que aproxima corpo do plano mediossagital do corpo para todos os<br />
membros, com exceção do polegar, <strong>de</strong>dos e <strong>arte</strong>lhos. Ambos afastam-se ou<br />
aproximam-se da linha axial.<br />
Conceituando a adução e abdução para a mo<strong>de</strong>lagem, percebe-se que o<br />
movimento <strong>de</strong> abdução é o afastamento do plano sagital. O vestuário sofre<br />
estiramento no plano frontal <strong>de</strong> um lado (direito) e provoca um relaxamento no lado<br />
inverso (esquerdo). Conseqüentemente, o vestuário afasta-se da sua linha <strong>de</strong><br />
equilíbrio. Este é o procedimento natural para a confecção <strong>de</strong> uma peça <strong>de</strong> vestuário<br />
que não tenha manga.<br />
Caso a peça tenha manga, o movimento irá travar na região pouco abaixo da<br />
axila, na direção da musculatura estirada, <strong>de</strong>vido ao peso da cabeça, que traz com<br />
ela o ombro e o braço. Essa ação puxa e força a musculatura, pressiona o vestuário<br />
em toda a extensão da região frontal.<br />
3.3.1.3 Flexão lateral<br />
Usamos o termo flexão lateral quando nos referimos aos movimentos laterais<br />
com a cabeça, pescoço e tronco. Sempre sobre o eixo sagital, o corpo dirige-se para<br />
os lados.<br />
O trabalho da mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a reação das flexões entre o corpo<br />
e o vestuário e ser cuidadosamente observada. Entre as regiões <strong>de</strong> flexões<br />
excessivas, po<strong>de</strong>mos citar como exemplo uma gola que, por envolver o pescoço,<br />
participa <strong>de</strong> movimentos, tanto <strong>de</strong> encolhimento como rotatório.<br />
73
O longo do pescoço e o longo da cabeça atuam em sinergia, mantendo a<br />
estabilida<strong>de</strong> da coluna cervical, formando um ponto fixo para a ação <strong>de</strong> inspiração.<br />
Com tantas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>finir um <strong>de</strong>cote ou gola <strong>de</strong> uma peça é um processo<br />
<strong>de</strong>licado, principalmente se a roupa apresentar manga. É preciso atentar para a<br />
articulação do ombro, o braço e ainda a região torácica. As ativida<strong>de</strong>s da<br />
musculatura trabalham todo o lado convexo, alargam os espaços intercostais; o<br />
conjunto torácico se dilata, na mulher aco<strong>moda</strong> nas mamas.<br />
O vestuário obrigatoriamente reúne um conjunto <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>s e funções.<br />
Mo<strong>de</strong>lar essa “máquina humana” <strong>de</strong>ve ser uma tarefa realizada com precisões<br />
ergonômicas. Sua a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>ve ocorrer sem nenhum atrito.<br />
3.3.1.4 Movimento <strong>de</strong> rotação<br />
A rotação trata do movimento em redor <strong>de</strong> um eixo longitudinal, sempre em<br />
plano transversal, em todas as áreas do corpo com exceção da escápula e da<br />
clavícula. Quando tratamos dos membros, o eixo é anatômico exceto no fêmur, que<br />
possui eixo mecânico. A referência dos membros é a região superior anterior. A<br />
rotação da superfície acontece no plano mediossagital.<br />
Cabeça, pescoço, tórax e pelve rodam em torno <strong>de</strong> um eixo longitudinal na<br />
área mediossagital. A rotação da cabeça é <strong>de</strong>nominada como rotação da face direita<br />
ou esquerda.<br />
As rotações do tórax e pelve divi<strong>de</strong>m-se entre as que seguem o sentido<br />
horário ou anti-horário (referência à transversal e às 12 horas como ponto mediano<br />
anterior). Essa rotação ocorre no sentido horário tendo o lado esquerdo do tórax ou<br />
pelve mais à frente que o direito, e o contrário, na rotação anti-horária.<br />
Essa rotação influi na disposição da mo<strong>de</strong>lagem das peças interferindo no<br />
movimento. Trajes como macacão, vestido ou ainda qualquer vestimenta que<br />
<strong>de</strong>lineie a cintura e utilize pences (pregas que propiciam a aco<strong>moda</strong>ção das<br />
saliências), atuando no contorno do tórax, mamas, cintura e abdome, merecem<br />
atenção especial.<br />
74
3.3.1.5 Movimento <strong>de</strong> inclinação<br />
É a <strong>de</strong>nominação para a ativida<strong>de</strong> exercida pela cabeça, escápula e pelve.<br />
Tanto a cabeça quanto a pelve po<strong>de</strong>m inclinar-se no sentido anterior ou posterior<br />
sobre o eixo frontal (coronal). Quando o movimento <strong>de</strong> inclinação acontece na<br />
cabeça, existe uma flexão, ou seja, um achatamento da coluna cervical, enquanto a<br />
inclinação posterior resulta em extensão.<br />
A pelve apresenta situações opostas - as inclinações posterior e anterior. A<br />
inclinação posterior resulta em achatamento da coluna lombar enquanto que a<br />
anterior resulta na extensão. Po<strong>de</strong>mos caracterizar as inclinações da pelve entre alta<br />
em um lado e baixa em outro lado, movendo-se como uma unida<strong>de</strong>. Suas<br />
inclinações po<strong>de</strong>m ser vistas como sendo anterior, posterior e lateral do plano<br />
transversal, liberando ainda movimentos <strong>de</strong> rotação junto com a inclinação anterior<br />
lateral (mais comum) e posterior.<br />
O trabalho exercido pelo corpo na inclinação da cabeça, disposto pela<br />
mo<strong>de</strong>lagem, <strong>de</strong>ve seguir os mesmos cuidados dispensados ao movimento do<br />
pescoço, acrescido <strong>de</strong> atenção no caso <strong>de</strong> utilização do uso <strong>de</strong> capuz, boné ou<br />
capacete, para que atue na região ao longo da cabeça, a<strong>de</strong>rindo elegantemente.<br />
Os cuidados quanto à inclinação da escápula serão abordados no capítulo<br />
sobre mo<strong>de</strong>lagem para ergonomia do ombro e braço.<br />
Para a pelve, on<strong>de</strong> ocorrem os movimentos <strong>de</strong> rotação, é preciso estar atento<br />
à altura do gancho (no caso <strong>de</strong> macacão ou calça comprida, principalmente). Isso é<br />
fundamental para a liberda<strong>de</strong> na altura, não só do quadril, como também da coxa.<br />
75
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA
77<br />
A força não vem da capacida<strong>de</strong> física, ela vem <strong>de</strong><br />
uma vonta<strong>de</strong> inabalável.<br />
Mahatma Gandhi<br />
Neste capítulo, apresentar-se-á o aporte metodológico utilizado na elaboração<br />
<strong>de</strong>ste trabalho, iniciando-se com uma biografia que embasará o estudo para, em<br />
seguida, apresentar-se as técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem aplicadas na confecção <strong>de</strong> peças<br />
<strong>de</strong> vestuário para um portador <strong>de</strong> hemiplegia.<br />
Todo trabalho científico exige um embasamento teórico e metodológico para<br />
sua sustentação. Neste estudo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica e estudo <strong>de</strong> caso,<br />
que se mostrou ser <strong>de</strong> fundamental importância.<br />
No que se refere à metodologia científica, Pinto nos diz que: “O progresso da<br />
socieda<strong>de</strong>, em gran<strong>de</strong> p<strong>arte</strong>, é conseqüência do <strong>de</strong>senvolvimento da ciência e da<br />
aplicação do método científico, seja na <strong>de</strong>scoberta, no entendimento ou na criação<br />
do conhecimento” (2003, p.101).<br />
Bunge (1980) apud Pinto afirma:<br />
(...) o método científico é universalmente utilizado para todas as ciências e<br />
que as normas e diretrizes da pesquisas foram estabelecidas há séculos.<br />
Para o autor, o método científico é um procedimento explícito, que po<strong>de</strong> ser<br />
repetido, buscando sempre uma indagação material ou conceitual, ou seja,<br />
o caminho para se chegar a algum resultado (2003, p.101).<br />
Dencker e Viá nos dizem que:<br />
Quando trabalhamos com pesquisa partimos <strong>de</strong> uma teoria, <strong>de</strong> uma idéia que<br />
fazemos a respeito dos fatos. Nenhum trabalho <strong>de</strong> pesquisa inicia-se sem que haja<br />
uma teoria que fundamente a ação do pesquisador, mesmo que essa teoria não<br />
apareça explicitamente no trabalho (2001, p.60).<br />
Centrar o estudo unicamente no tratamento físico (incluindo-se informações<br />
da biomecânica com o intuito <strong>de</strong> verificar as relações entre as variáveis) talvez não<br />
contribua <strong>de</strong> forma tão significativa para alcançar os resultados <strong>de</strong>sejados, pois a<br />
pesquisa agrega valores subjetivos.<br />
A pretensão <strong>de</strong>ste trabalho ultrapassa os limites do conforto, entrando em<br />
significâncias do belo.<br />
Este trabalho, <strong>de</strong> caráter exploratório, tem como objetivo criar uma maior<br />
familiarização do pesquisador com o fenômeno investigado, ou ainda, propiciar o
alcance <strong>de</strong> uma nova compreensão sobre técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> roupas para<br />
portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física.<br />
Esse estudo apresenta características pessoais do investigado, partindo <strong>de</strong><br />
seqüelas físicas e psicológicas, aten<strong>de</strong>ndo ao seu meio <strong>cultura</strong>l e econômico.<br />
4.1 Estudo <strong>de</strong> caso<br />
4.1.1 Biografia mo<strong>de</strong>lo base para esse estudo<br />
Paulo José Terrezza Licciardi, nascido em 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1965, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo, formado em Administração <strong>de</strong> Empresa, vaidoso, tinha uma vida social<br />
intensa, gostava <strong>de</strong> viajar e divertir-se e escolhia suas roupas conforme a grife.<br />
Enfim, tinha uma vida normal, como qualquer pessoa <strong>de</strong> classe média ou média-alta.<br />
Entre 1987 e 1995 foi coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> uma escola na zona sul da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Paulo e, em abril <strong>de</strong> 1995, recebeu uma proposta <strong>de</strong> trabalho, irrecusável, para ser o<br />
gerente comercial <strong>de</strong> uma empresa, a qual aceitou prontamente.<br />
As coisas caminhavam maravilhosamente bem. No segundo mês já havia<br />
triplicado o faturamento da empresa e sua remuneração era invejável.<br />
Em função disso, começou a sonhar mais e fazer mais planos: começou a<br />
procurar apartamento, planejava casar-se, mas não sabia que esta tendência <strong>de</strong><br />
prosperida<strong>de</strong> iria logo se inverter! Ele não sabia que tinha um homônimo, um homem<br />
golpista e estelionatário.<br />
Manhã <strong>de</strong> oito <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1995. Paulo estava no escritório, sozinho,<br />
trabalhando, quando foi informado que uma pessoa estava à sua espera na portaria<br />
da empresa. Como era comum receber clientes nos recintos da empresa, achou<br />
que fosse mais um <strong>de</strong>stes casos e foi ao encontro <strong>de</strong>le.<br />
Ao encontrá-lo, um rapaz aparentando uns vinte anos confirmou se ele era<br />
Paulo, <strong>de</strong>sconversou um pouco e, em seguida, apontou um revólver para cabeça <strong>de</strong><br />
Paulo e disse: “Sua hora chegou”! Então disparou a arma várias vezes, acertando a<br />
cabeça, o braço esquerdo e a perna direita <strong>de</strong> Paulo, que foi socorrido meia hora<br />
<strong>de</strong>pois por uma viatura da polícia, levando-o para um pronto-socorro. Paulo estava<br />
então com 26 anos.<br />
Ali começava um longo processo <strong>de</strong> luta pela vida. Foi submetido a uma<br />
neurocirurgia <strong>de</strong> emergência que durou cinco horas.<br />
78
O prognóstico era <strong>de</strong> que não sobreviveria. Teve duas paradas<br />
cardiorrespiratórias e, mesmo a contragosto dos médicos, foi transferido para um<br />
gran<strong>de</strong> hospital, aon<strong>de</strong> chegou em estado <strong>de</strong> coma e com infecção generalizada.<br />
Ficou em coma profundo por <strong>de</strong>z dias e o novo prognóstico era que Paulo ficaria em<br />
estado vegetativo.<br />
No seu aniversário <strong>de</strong> 27 anos, ganhou um presente: começou a sair do<br />
coma, mas estava completamente cego e com o lado esquerdo do corpo paralisado.<br />
Começou então um intenso processo <strong>de</strong> reabilitação e <strong>de</strong> readaptação à nova<br />
realida<strong>de</strong>.<br />
Os prognósticos médicos ainda eram bem ruins! Nunca mais andaria e nem<br />
enxergaria. Após 40 dias, ele voltou para casa em uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas e cego.<br />
Por nunca ter acreditado totalmente nos médicos, Paulo insistiu e continuou<br />
com fisioterapia intensiva e se submeteu à várias cirurgias. Após cinco meses,<br />
contrariando os prognósticos médicos, voltou a enxergar e um mês mais tar<strong>de</strong>, ou<br />
seja, seis meses após o aci<strong>de</strong>nte, recomeçou a andar (embora ainda com seqüelas<br />
motoras e <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>).<br />
Os primeiros dois anos foram <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro luto. Tudo na vida era novo, tudo<br />
teve que ser adaptado e ele iniciou então o processo <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong> sua nova<br />
condição <strong>de</strong> vida. Passou a preocupar-se com os acessos físicos <strong>de</strong>ntro do lar e<br />
acessos urbanos visto que, no Brasil, o <strong>de</strong>ficiente é diferenciado no seu tratamento<br />
social, <strong>cultura</strong>l e econômico. Ganhando salário <strong>de</strong> aposentado por invali<strong>de</strong>z e com a<br />
carreira interrompida, ele procurou se associar à instituições <strong>de</strong> reabilitação on<strong>de</strong>,<br />
além <strong>de</strong> se tratar, também estaria beneficiando outras pessoas com seu próprio<br />
empenho.<br />
Por ser uma pessoa culta, teve mais clareza para enten<strong>de</strong>r pelo o quê as<br />
pessoas do seu convívio estavam passando (assim como elas a ele, no que se<br />
referia à discriminação) e procurava não se <strong>de</strong>ixar perturbar ou abater, sempre<br />
buscando criar novas forças para prosseguir com o tratamento.<br />
Sua readaptação ocorreu <strong>de</strong> forma mais rápida e consistente com o carinho<br />
da família, amigos e profissionais <strong>de</strong> diferentes áreas como médicos, fisioterapeutas<br />
e psicólogos.<br />
Muitas pessoas saíram da vida <strong>de</strong> Paulo, como sua noiva. Em compensação,<br />
outras muito especiais começaram a fazer p<strong>arte</strong> do seu dia-dia, como uma exmo<strong>de</strong>lo<br />
profissional, que dirigia um programa <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los portadores <strong>de</strong><br />
79
<strong>de</strong>ficiência. Paulo fez o <strong>curso</strong> e começou a <strong>de</strong>sfilar junto com outras pessoas <strong>de</strong><br />
visão e cientes do que é responsabilida<strong>de</strong> social.<br />
Conheceu Maria <strong>de</strong> Fátima Grave, estilista e professora universitária que<br />
pesquisa roupas adaptadas para portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. A partir <strong>de</strong>ste momento,<br />
começou a não só participar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfiles, apresentando suas criações como também<br />
a usá-las no dia-dia, pois estas apresentam várias vantagens como permitir vestir-se<br />
e <strong>de</strong>spir-se sozinho e em tempo mais hábil, pois antes <strong>de</strong>morava um tempo enorme<br />
na realização <strong>de</strong>stas ações. Outra vantagem é que os tecidos usados nas roupas<br />
não agri<strong>de</strong>m a pele, evitando assim um aumento da espasticida<strong>de</strong>, ou seja, aumento<br />
do tônus muscular que po<strong>de</strong> causar movimentos involuntários e dificultar os<br />
movimentos normais <strong>de</strong> alguns músculos.<br />
Além <strong>de</strong> facilitar muitas ativida<strong>de</strong>s, as roupas adaptadas são mais<br />
confortáveis e colaboram para que a vida <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência se aproxime<br />
cada vez mais da normalida<strong>de</strong>. Paulo espera que <strong>de</strong>mais profissionais continuem<br />
tendo a sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber que existe um nicho <strong>de</strong> mercado enorme <strong>de</strong><br />
milhões <strong>de</strong> pessoas que também têm sonhos e são consumidores, tanto quanto os<br />
<strong>de</strong>mais.<br />
4.1.2 Caso clínico<br />
Diagnóstico médico: Traumatismo crânio-encefálico (lesões que atingiram a<br />
calota craniana e a parênquima cerebral, produzindo sinais neurológicos, po<strong>de</strong>ndo<br />
apresentar caráter transitório ou não transitório).<br />
Diagnóstico terapêutico: hemiplegia espástica à esquerda.<br />
Não apresenta movimentação ativa com seu membro superior esquerdo, faz<br />
uso <strong>de</strong> bengala para <strong>de</strong>ambular, campo <strong>de</strong> visão esquerdo reduzido.<br />
80
4.2 Características dos pontos gravitacionais e seus ajustes<br />
Foto 1 – Posicionamento da altura em relação<br />
ao ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do cóccix<br />
Fonte: Acervo próprio<br />
A altura do plano sagital apresenta uma abertura com variação <strong>de</strong> 3 a 4<br />
centímetros em direção ao solo. No caso da peça que veste a p<strong>arte</strong> superior do<br />
corpo (como, por exemplo, a camisa), partimos a medição do ponto gravitacional<br />
nuca, em direção ao solo na posterior. Na p<strong>arte</strong> da frente, guia-se pelo nariz em<br />
direção ao umbigo em queda livre. Sua abertura é avaliada com base no cruzamento<br />
gravitacional da região do cóccix com auxilio da transversal que corta o umbigo na<br />
81
egião da frente. Percebemos que a abertura do ângulo é aproximadamente <strong>de</strong> 3,5<br />
graus, acontecendo sempre do lado inverso ao lado plégico, causando um ajuste na<br />
altura do plano frontal sob o braço tanto na frente do corpo como na posterior.<br />
Foto 2 – Paralela da altura sagitalbaseada<br />
na orelha/mamilo.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
82
No caso da peça apresentar recortes laterais, conforme a foto, a altura<br />
orelha/mamilo segue a mesma inclinação que o plano sagital.<br />
Foto 3 – Medição em contorno da mão sã Foto 4 – Medição em contorno da mão direita)<br />
plégica (esquerda). Fonte: Acervo próprio.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
83
Foto 5 – Posicionamento para medição da mão plégica.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
O punho <strong>de</strong> um indivíduo sadio, para fins <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, <strong>de</strong>ve seguir a foto 3,<br />
contornando a mão fechada para maior mobilida<strong>de</strong> do punho. Já a foto 4 <strong>de</strong>screve o<br />
posicionamento natural da mão plégica, respeitando-se a mobilida<strong>de</strong> espástica. Para<br />
executar essa medição é necessário o apoio da mão sadia para manter o<br />
posicionamento natural da mão, conforme foto 5.<br />
84
Foto 6 – Medição do braço baseada no plano frontal, braço são (direito).<br />
Fonte: Acervo próprio<br />
85
Foto 7 – Medição do braço baseada no plano frontal, braço plégico (esquerdo).<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
86
No caso dos braços, a medição é feita com base no cruzamento do ombro<br />
com o plano frontal, on<strong>de</strong> se localiza um ponto gravitacional. Neste sentido, a altura<br />
p<strong>arte</strong> em direção ao metacarpo em queda livre. A diferença acontece somente no<br />
lado plégico, sendo que a variação fica em torno <strong>de</strong> 4 a 6 centímetros, com um<br />
ângulo aproximado <strong>de</strong> 4,8 graus. A preocupação com a rotação da cabeça para o<br />
lado inverso da plegia, o ombro em adução e rotação interna faz com que o <strong>de</strong>cote<br />
apresente uma abertura diferenciada do lado plégico com o lado sadio, para que em<br />
momentos espásticos, apresente liberda<strong>de</strong>.<br />
A cava po<strong>de</strong> utilizar meta<strong>de</strong> da largura das costas como base <strong>de</strong> abertura no<br />
sentido <strong>de</strong> comprimento, enfatizando que o homem tem o ombro largo e no caso do<br />
Paulo, pela rigi<strong>de</strong>z muscular, esta medida fica evi<strong>de</strong>nciada. Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que,<br />
no lado plégico, o comprimento é acrescido <strong>de</strong> meio centímetro e o arco da cava da<br />
frente, na região peitoral, apresenta uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,3 a 0,5 milímetros,<br />
sendo maior que o lado normal, não interferindo nas técnicas comuns <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagens <strong>de</strong> manga. Ao aplicar-se esta técnica, a construção da peça torna-se<br />
harmoniosa.<br />
87
Foto 8 – Medição da altura do tronco e do abdome, plano<br />
transversal perna sã (direita)<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
88
Foto 9 – Medição da altura do tronco e do abdome, plano<br />
transversal perna plégica (esquerda).<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
89
No caso da perna esquerda ou direita, usa-se a paralela do plano sagital<br />
tomando como média o alinhamento da orelha, mamilo, joelho e tornozelo. Partindose<br />
do cruzamento da transversal do umbigo, em direção ao ponto antigravitacional<br />
do tornozelo, dá-se a abertura <strong>de</strong> ângulo. O <strong>de</strong>slocamento do alinhamento na perna<br />
da calça do lado plégico segue o alinhamento baseado na altura do <strong>centro</strong>.<br />
Conforme foto 8, a altura segue num caimento natural, passando pelo joelho em<br />
direção ao 3º metatarso. Na foto 9 percebe-se um <strong>de</strong>svio para o lado direito,<br />
mostrando a preocupação com uma correção, formando um ângulo aproximado <strong>de</strong><br />
2,2 graus.<br />
90
Foto 10 – Disposição da altura com base no cóccix<br />
(ponto gravitacional)<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
91
Num corpo plégico estacionário, fica claro a diferença da inclinação com<br />
formação <strong>de</strong> ângulo baseada no plano sagital (cóccix,) e no plano transversal.<br />
Observa-se que a abertura do ângulo é maior na frente do que na região<br />
posterior. Na maioria dos casos, a p<strong>arte</strong> posterior apresenta angulação que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
ser significativa pela condição <strong>de</strong> proeminência para frente dos membros.<br />
No que diz respeito à boca da calça, segue-se um procedimento comum entre<br />
perna direita e perna esquerda. Com o pé estendido, me<strong>de</strong>-se a largura da<br />
circunferência na altura do calcanhar, resultando a largura mínima usual para uma<br />
calça comprida, mantendo o cuidado da folga, pois o pé plégico sofre momentos<br />
espáticos, <strong>de</strong>vendo-se também levar em consi<strong>de</strong>ração o gosto do usuário.<br />
4.2.1 Cálculos matemáticos para angulação<br />
O ângulo referente à altura (H) e referente à abertura (L), po<strong>de</strong>mos<br />
representar pela seguinte fórmula matemática:<br />
Arco tangente do ângulo Alfa = L/H<br />
Sendo:<br />
α = arc tg L/H<br />
L = abertura da vertical.<br />
H = altura<br />
4.2.1.1 Cálculo matemático partindo do cruzamento da nuca com a transversal:<br />
α = 6cm/1,48m<br />
α = 2,32 graus<br />
4.2.1.2 Cálculo matemático: camisa<br />
α = 4cm/64cm<br />
α = 3,57 graus<br />
92
4.2.1.3 Cálculo matemático: manga esquerda<br />
α = 6cm/72cm<br />
α = 4,76 graus<br />
4.2.1.4 Cálculo matemático: perna esquerda frontal<br />
α = 4cm/1,04m<br />
α = 2,2 graus<br />
4.3 Aplicação das técnicas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem.<br />
Com base na mo<strong>de</strong>lagem comum, aplicam-se técnicas diferenciadas para a<br />
mo<strong>de</strong>lagem do hemiplégico.<br />
93
4.3.1 – Calça-frente<br />
Figura 5 – Perna da frente direita sã e perna esquerda plégica<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
94
4.3.2 – Calça- Traseiro<br />
Figura 6 – Perna traseira direita sã e perna esquerda plégica<br />
Fonte: Acervo próprio<br />
95
4.3.3 Bolso e Cós - Frente<br />
Figura 7 – Componente da p<strong>arte</strong> da frente<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
96
4.3.4 – Frente e costas da camisa<br />
Plano Normal<br />
Plano Alterado - Paulo<br />
Margem <strong>de</strong> abotoamento<br />
Dobra<br />
Frente D<br />
Plano Sagital C<br />
Plano Sagital C<br />
Costas D Costas E<br />
Figura 8 – Frente e costas da camisa<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
FIO RETO<br />
Frente E<br />
Ponto gravitacional<br />
“nuca” dominante<br />
Plégio E<br />
97
4.3.5 – Mo<strong>de</strong>lagem da manga esquerda e direita<br />
Manga Direita<br />
Costas Frente<br />
Frente<br />
Manga Esquerda<br />
Costas<br />
Figura 9 - Mo<strong>de</strong>lagem da manga esquerda e direita<br />
Fonte: Acervo próprio<br />
98
4.3.6 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da camisa<br />
Figura 10 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da camisa<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
99
4.3.7 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da calça<br />
Figura 11 – Visão plana do mo<strong>de</strong>lo da calça<br />
Fonte: Acervo próprio<br />
100
4.4 Fotos das peças confeccionadas<br />
Foto 11 – Mo<strong>de</strong>lo tecido segunda pele antialérgico<br />
frente da calça.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
101
Foto 12 – Mo<strong>de</strong>lo tecido segunda pele antialérgico costas.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
102
Foto 13 – Deficiência do corpo e sua assimetria frente.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
103
Foto 14 – Deficiência do corpo e sua assimetria costas.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
104
Foto 15 – Tecido <strong>de</strong> algodão mostrando a simetria, frente,<br />
fechamento em vélcro.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
105
Foto 16 – Tecido <strong>de</strong> algodão mostrando a simetria, costas.<br />
Fonte: Acervo próprio.<br />
106
4.4.1 Consi<strong>de</strong>rações relevantes que interferem na mo<strong>de</strong>lagem.<br />
107<br />
Diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhamentos, po<strong>de</strong>mos caracterizar o vestuário <strong>de</strong> acordo com as<br />
informações mencionadas e dividi-lo em grupos <strong>de</strong> acordo com a generalida<strong>de</strong> da<br />
hemiplegia e subdividindo em planos.<br />
Como po<strong>de</strong>mos observar na figura abaixo, o <strong>centro</strong> <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> altera-se<br />
para equilíbrio físico e, portanto, seus planos (que no corpo sadio <strong>de</strong>monstra a<br />
bilateralida<strong>de</strong>) se alteram <strong>de</strong> acordo com a seqüela, favorecendo uma nova<br />
<strong>de</strong>finição.<br />
Tornar o caimento e a qualida<strong>de</strong> da confecção bons e eficazes favorece o<br />
corpo e são também características conceituais aplicáveis na indústria da confecção.<br />
Testes feitos na confecção <strong>de</strong> camisas com tecidos inteligentes, <strong>de</strong> última<br />
geração, têm mostrado que a peça tornar-se mais confortável e adapta-se mais à<br />
temperatura do corpo enquanto que, em roupas clássicas, salientam a <strong>de</strong>ficiência.
Figura 12 – A variação do ponto <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do hemiplégico em marcha<br />
Fonte: Grave (2004) – A mo<strong>de</strong>lagem sob a ótica da ergonomia.<br />
108
109<br />
Para obtermos sucesso no trabalho <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem, <strong>de</strong>vemos ler as linhas do<br />
corpo e as linhas do vestuário, a<strong>de</strong>quando-as à sua finalida<strong>de</strong>. Para obtenção <strong>de</strong> um<br />
bom resultado ergonômico, a execução do trabalho requer uma leitura simultânea<br />
entre o corpo e o <strong>de</strong>sign da peça <strong>de</strong> vestuário, matéria-prima e seu objetivo<br />
específico. Em contrapartida, equipamentos utilizados, dimensão <strong>de</strong> pontos,<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> costura e dobraduras, permitirão que o vestuário fique mais ou menos<br />
suave ao toque com o corpo.<br />
Conhecer o plano sagital caracterizará não só o esquerdo e o direito do corpo<br />
(antimeria), mas orientará a ação da articulação, indicando o lado plégico da face<br />
para o caso <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> produção do vestuário. Peças específicas para indivíduos<br />
com esta patologia <strong>de</strong>vem aten<strong>de</strong>r à classificação para uma linha <strong>de</strong> produção em:<br />
1. Vestes respeitando o plano sagital, consi<strong>de</strong>rado pelas faces direita e<br />
esquerda dos hemiplégicos.<br />
2. No plano transversal, dividir o corpo em porções superior (cranial),<br />
inferior (caudal), avaliar as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada porção <strong>de</strong> acordo com<br />
suas funções, dimensões e necessida<strong>de</strong>s a que aten<strong>de</strong>m.<br />
3. O plano Frontal executa seu papel ao dividir o lado anterior do posterior,<br />
facilitando a leitura das p<strong>arte</strong>s côncavas e convexas do corpo e do<br />
vestuário.<br />
Com base na mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> um corpo humano <strong>de</strong>ntro da normalida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>vemos reavaliar e executar alterações nos planos e linhas, dando o equilíbrio à<br />
peça.<br />
Caracterizar-se a <strong>de</strong>scentralização do <strong>centro</strong> gravida<strong>de</strong> através da postura e<br />
do movimento do corpo facilitará a leitura.<br />
A combinação da gravida<strong>de</strong> do corpo com o tecido <strong>de</strong>terminará o caimento e<br />
a naturalida<strong>de</strong> do movimento do vestuário.
CONCLUSÕES
111<br />
Na socieda<strong>de</strong> dos dias <strong>de</strong> hoje, há uma tendência cada vez mais marcante <strong>de</strong><br />
se incluir o indivíduo com <strong>de</strong>ficiência física em todas as áreas sociais e profissionais,<br />
como cidadãos ativos, produtivos e <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> direitos. Em um mundo capitalista e<br />
globalizado, tal fato po<strong>de</strong>rá criar um novo nicho <strong>de</strong> mercado para a indústria da<br />
<strong>moda</strong>. Partindo-se <strong>de</strong>ste fato, este estudo buscou analisar o uso <strong>de</strong> roupas como<br />
forma <strong>de</strong> comunicação não-verbal do corpo anatômico e fisiológico, como uma união<br />
sistêmica <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s orgânicas. O foco principal resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que se faz<br />
necessário, por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> roupas a<strong>de</strong>quadas, não só<br />
proporcionar o bem estar do <strong>de</strong>ficiente físico, mas também aten<strong>de</strong>r às suas<br />
necessida<strong>de</strong>s básicas e diferenciais no que se referem à sua saú<strong>de</strong>. Desta forma,<br />
facilita-se sua participação progressiva na socieda<strong>de</strong>. Para tanto, lança-se mão <strong>de</strong><br />
estudos avançados sobre a anatomia humana, <strong>de</strong> re<strong>curso</strong>s tecnológicos <strong>de</strong> ponta na<br />
evolução dos tecidos, acessórios e aviamentos, que acompanham as novas<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes das ativida<strong>de</strong>s físicas, e <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> confecção.<br />
Ao se <strong>de</strong>screver diversas épocas e civilizações, com suas respectivas<br />
transformações na forma <strong>de</strong> vestir, percebe-se que <strong>de</strong>terminadas preocupações, em<br />
<strong>de</strong>terminadas épocas, praticamente existiam em nome do status e da beleza,<br />
ficando a saú<strong>de</strong> em planos inferiores. Isto, para não se mencionar o plano social ao<br />
qual o <strong>de</strong>ficiente físico sempre foi relegado. Entretanto, ainda hoje e mesmo com a<br />
evolução já alcançada da condição social <strong>de</strong>ste segmento da socieda<strong>de</strong>, é visível a<br />
falta <strong>de</strong> preocupação com a saú<strong>de</strong> do <strong>de</strong>ficiente no que tange à vestimenta. Só se<br />
faz necessário observar, ao se andar pelas ruas, as torções das roupas, as<br />
<strong>de</strong>scentralizações em relação ao eixo do corpo, aos seus movimentos ou mesmo<br />
aos genitais no corpo plégico.<br />
Buscou-se também mostrar o comportamento do indivíduo diante das<br />
diferenças físicas, paralelamente às diferenças das peças, mais valorizadas pelo<br />
<strong>de</strong>sign do que pela qualida<strong>de</strong> que ela oferece ao corpo que a recebe. Diante <strong>de</strong>ste<br />
fato, a única saída disponível ao indivíduo tem sido a <strong>de</strong> se adaptar às suas roupas<br />
e não o inverso, como visto quando discorremos sobre a história da <strong>moda</strong>. A partir<br />
<strong>de</strong> novos estudos, integrando conhecimentos e incluindo-se técnicas <strong>de</strong> composição<br />
do vestuário (enquanto linguagem simbólica e artística), atribuem-se à confecção <strong>de</strong><br />
roupas valores como largura específica para interação dos músculos nas ativida<strong>de</strong>s<br />
com base nas sinergias, conforme pu<strong>de</strong>mos avaliar nos capítulos um e dois.
112<br />
P<strong>arte</strong>-se do pressuposto que o vestuário é um referencial na evolução sócio-<br />
<strong>cultura</strong>l, percebendo-se que várias áreas (tais como a antropologia, sociologia e<br />
filosofia) questionam o procedimento do indivíduo quanto a seu comportamento e<br />
que, consi<strong>de</strong>rado sadio ou não, sofre discriminações.<br />
Consi<strong>de</strong>rar a <strong>moda</strong> como uma forma <strong>de</strong> comunicação rápida levanta questões<br />
relativas à educação. Quando se trata <strong>de</strong> inclusão social, a criação <strong>de</strong> novas<br />
técnicas <strong>de</strong> confecção (que visem melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do indivíduo) implica<br />
em <strong>de</strong>senvolverem-se métodos <strong>de</strong> fixação que favoreçam não só a aceitação, mas<br />
como também a aplicação.<br />
A maior preocupação com a <strong>moda</strong> e o “fashion” <strong>de</strong>ve ser a visão <strong>de</strong> inclusão<br />
como uma regra da socieda<strong>de</strong> em todos os campos. Isto porque a confecção <strong>de</strong><br />
roupas com técnicas <strong>de</strong>talhadas e apropriadas para faixas segmentadas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiência física aten<strong>de</strong> o conhecimento, fortalece o mercado, educa a socieda<strong>de</strong>,<br />
propicia a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e cria novas bibliografias, que hoje são praticamente<br />
inexistentes no mercado.<br />
A preocupação não é somente com o <strong>de</strong>sign, mas com a união <strong>de</strong><br />
conhecimentos profundos da fisiologia e, conseqüentemente, da anatomia no<br />
respeito à patologia, seqüelas e a hereditarieda<strong>de</strong>, fechando-se um elo entre o<br />
psicológico e o físico.<br />
A dificulda<strong>de</strong> em encontrar roupas prontas para o <strong>de</strong>ficiente, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />
seu estilo, é gran<strong>de</strong>, pois o mercado carece <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra qualificada na<br />
confecção <strong>de</strong> tais peças. Acredita-se que não há mercado e que as <strong>de</strong>ficiências<br />
<strong>de</strong>vem ser tratadas isoladamente.<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste estudo, percebe-se que as roupas po<strong>de</strong>m ser direcionadas<br />
a cada tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, respeitando-se suas seqüelas patológicas ou hereditárias.<br />
Agrupando-se conforme ida<strong>de</strong>, sexo, biotipo, planos <strong>de</strong> corpo, características e<br />
necessida<strong>de</strong>s da <strong>de</strong>ficiência, formam-se subgrupos <strong>de</strong> vestimentas, com estudo<br />
direcionado à frente e costas do corpo, esquerdo e direito, p<strong>arte</strong> superior e p<strong>arte</strong><br />
abdominal, respeitando-se os planos estudados pela anatomia em qualquer região<br />
do corpo que necessite ser vestida, trabalhando a topologia e confeccionando-se<br />
agrupamentos <strong>de</strong> peças.<br />
Neste contexto, o consumidor <strong>de</strong>ficiente tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> montar seu<br />
vestuário voltado ao lado que está plégico e sadio, simultaneamente, pois, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>sta patologia, a angulação das alturas das peças está sempre <strong>de</strong>ntro da mesma
variação, facilitando a aplicação da técnica para o mercado. Ele age tal qual<br />
qualquer pessoa que, ao adquirir um traje <strong>de</strong> banho com tamanho menor em cima e<br />
maior em baixo, resolve o problema que consi<strong>de</strong>ramos normais. Fica claro que, no<br />
caso das roupas para o hemiplégico, <strong>de</strong>ntro das técnicas oferecidas normalmente<br />
em lojas especializadas ou não, surge uma nova visão tanto para o mercado como<br />
para o usuário. Quanto à questão da <strong>moda</strong>, a roupa do hemiplégico <strong>de</strong>tém uma<br />
visão diferenciada; temos que cuidar do conforto e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida acima da<br />
tendência da <strong>moda</strong> ou mesmo <strong>moda</strong>. Porém, este vestuário tem por obrigação fazer<br />
a conexão entre ambos, quando <strong>de</strong>talhes da <strong>moda</strong> <strong>de</strong>vem instalar-se na peça <strong>de</strong><br />
forma clara, pois é ele que proporcionará ao hemiplégico a sensação <strong>de</strong> atualida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong> inclusão e participação em seu meio.<br />
113<br />
Diante do estudo <strong>de</strong> caso, percebe-se no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Paulo, no capítulo 4,<br />
a valorização do indivíduo quando tratado como um consumidor normal, com gran<strong>de</strong><br />
potencial <strong>de</strong> compra e tendo suas necessida<strong>de</strong>s atendidas no que diz respeito ao<br />
vestuário. Durante os 5 anos analisando o vestuário <strong>de</strong> Paulo, percebi que ocorrem<br />
algumas alterações em seu físico quando pratica esporte, fisioterapia, ou quando<br />
passa por bloqueios químicos. Seu comportamento muscular fica mais maleável ao<br />
movimento, mas, mesmo assim, seu ponto <strong>de</strong> equilíbrio não se altera, e em algumas<br />
ocasiões <strong>de</strong>monstrou sentir dores causadas pelas picadas da agulha quando<br />
recebia remédios para tratamento, o que <strong>de</strong>ixa a região com mais sensibilida<strong>de</strong> ao<br />
toque das roupas.<br />
Vale ressaltar que embora a indústria têxtil, em franco <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
apresente tecidos <strong>de</strong> última geração, ainda lhe falta uma visão global, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />
aten<strong>de</strong>r à uma fatia do mercado (que é crescente) no que diz respeito às<br />
necessida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>ficiente, visto que o mesmo requer apenas um <strong>de</strong>sign clássico e<br />
confortável para aten<strong>de</strong>r suas necessida<strong>de</strong>s do dia-dia. A tecnologia do maquinário<br />
utilizado para a confecção é mo<strong>de</strong>rna, porém ineficaz no que diz respeito à<br />
montagem <strong>de</strong> peças para o <strong>de</strong>ficiente. Este estudo mostra um cuidado especial com<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> largura e distância entre pontos variáveis, segurida<strong>de</strong> entre as<br />
p<strong>arte</strong>s, maciez nos fios, costuras sem dobraduras ou sobreposições a fim <strong>de</strong> se<br />
evitar possíveis lesões com fissuras profundas, per<strong>de</strong>ndo a pele sua simetria e<br />
aumentando sua falta <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> nas p<strong>arte</strong>s plégicas.<br />
As peças <strong>de</strong> roupas comuns são elaboradas com diversas técnicas <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lagem tais como cálculos centesimais e aplicação geométrica, mas sempre
apoiadas na antropometria, com base nas medições lineares e volumétricas que<br />
permitem garantir uma simetria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo. Para corpos diferenciados,<br />
além dos apoios das técnicas anteriores, <strong>de</strong>vem ser aplicadas variações que<br />
acompanhem as alterações às quais o corpo se expõe, diante da alteração à qual o<br />
corpo se submete para manter-se em pé ou em movimento. Esta mo<strong>de</strong>lagem<br />
seguramente apresenta uma mudança <strong>de</strong> visão quanto à técnica. Primeiramente,<br />
têm-se as impressões <strong>de</strong> que tudo foi traçado <strong>de</strong> modo errado, tal o vício ao<br />
lidarmos com corpos consi<strong>de</strong>rados iguais e normais. Quando um corpo apresenta<br />
eixos diferentes, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que existe uma torção (prejudicando os<br />
movimentos e agredindo a pele) causada pelo uso <strong>de</strong> roupas comuns, situação esta<br />
tão comum que muitas vezes passa <strong>de</strong>spercebida. Em um corpo normal, esta roupa<br />
não apresenta torção. Logo, conclui-se que a técnica consi<strong>de</strong>rada ruim para um<br />
corpo normal é a técnica a<strong>de</strong>quada para um corpo hemiplégico.<br />
114<br />
Quanto aos acessórios e aviamentos, o que o mercado oferece é<br />
praticamente um acaso da <strong>moda</strong>, nada especificamente dirigido ao hemiplégico,<br />
sendo que nem sempre o que se consi<strong>de</strong>ra óbvio é eficaz como, por exemplo, o<br />
caso do velcro: se não for utilizado na medida certa, po<strong>de</strong> causar úlceras e<br />
vermelhões. Quanto à largura das peças, caso estas não respeitem a motricida<strong>de</strong><br />
comum, a espasticida<strong>de</strong> e as sensibilida<strong>de</strong>s causadas pelos remédios, elas po<strong>de</strong>rão<br />
causar alterações <strong>de</strong> pressão <strong>arte</strong>rial e estagnações no indivíduo.<br />
Como resultado <strong>de</strong>ste estudo, <strong>de</strong>staca-se que, na forma mais primitiva da<br />
construção <strong>de</strong> roupas e na mais simples leitura humana (Dângelo e Fanttini,2003),<br />
ler o corpo na sua integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa e consi<strong>de</strong>rar as três leis <strong>de</strong> Newton<br />
(velocida<strong>de</strong>, aceleração e massa) irá proporcionar um resultado coerente, que<br />
aten<strong>de</strong>rá à diferenciação dos corpos. Dentro da mo<strong>de</strong>lagem, cabe aqui a<br />
necessida<strong>de</strong> fundamental <strong>de</strong> se ter noções básicas <strong>de</strong> física, além <strong>de</strong> anatomia,<br />
propiciando ao indivíduo ergonomia que diz respeito àquilo que está mais próximo<br />
<strong>de</strong>le mesmo: o vestuário.<br />
Durante a apresentação das roupas no Reafashion (<strong>de</strong>sfile com portadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ficiência física vestindo roupas especificamente para seu tipo <strong>de</strong> corpo), ficou<br />
claro que a platéia não <strong>de</strong>ficiente fisicamente perturba-se ao ver um <strong>de</strong>ficiente físico<br />
<strong>de</strong>sfilar e que o olhar é muito mais <strong>de</strong> compaixão do que <strong>de</strong> respeito. Já os<br />
portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência presentes na platéia questionaram as peças e sua<br />
a<strong>de</strong>quação às diversas <strong>de</strong>ficiências, <strong>de</strong>ram sua opinião quanto à qualida<strong>de</strong>, o
conforto, os tecidos, os recortes, <strong>de</strong>talhes complementares à estética. Eles<br />
<strong>de</strong>monstraram, claramente, um sentimento <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> do cidadão diante do<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> adquirir uma peça ou mesmo frente a uma vitrine, on<strong>de</strong> sua imagem frente<br />
ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> usar a roupa projeta automaticamente seu corpo <strong>de</strong>ntro da roupa.<br />
115<br />
Por este motivo, foram apresentados dois mo<strong>de</strong>los do mesmo sexo na<br />
passarela: um era portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física e o outro não, sempre <strong>de</strong> sexo<br />
oposto para que não ficasse estabelecido o mesmo parâmetro referencial diante da<br />
apresentação.<br />
Como afirma Koda, curador da exposição Extreme Beauty: The Body<br />
Transformed ( 2001, p.12), no século XX, além <strong>de</strong> Balenciaga, os criadores<br />
japoneses subvertem a relação entre bonito e feio.¹<br />
Com base não só na pesquisa como na convivência, fica evi<strong>de</strong>nte que o<br />
portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física <strong>de</strong>ve ser tratado com igualda<strong>de</strong> e respeito <strong>de</strong>ntro da<br />
socieda<strong>de</strong> e que as preocupações com tudo que o cerca <strong>de</strong>vem ser reavaliadas e<br />
questionadas. Desta forma, iremos conseguir respostas que melhorem a visão da<br />
socieda<strong>de</strong> e, conseqüentemente, criar uma <strong>cultura</strong> <strong>de</strong> reconhecimento da igualda<strong>de</strong>,<br />
sem que haja discriminação <strong>de</strong> qualquer espécie.<br />
1 “Like the work of many artists at the end of the twentieth century, the Japanese <strong>de</strong>signers subvert the relationship of the<br />
beautiful and the ugly.”
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123
ANEXOS<br />
124
125<br />
Anexo A – Declaração <strong>de</strong> Autorização <strong>de</strong><br />
uso <strong>de</strong> Imagem e Narrativa
Anexo B – Boletim <strong>de</strong> Ocorrência<br />
126
ANEXO B – Boletim <strong>de</strong> Ocorrência<br />
127
128<br />
Anexo C – Relatório Médico
129<br />
Anexo C – Relatório Médico
130<br />
Anexo C – Relatório Médico
131<br />
Anexo C – Relatório Médico
132<br />
ANEXO D – Relatório <strong>de</strong> Evolução<br />
Terapêutica
133<br />
ANEXO E – Reportagem Jornal da tar<strong>de</strong>,<br />
Datado <strong>de</strong> 22/02/2006